Você está na página 1de 18

CAPÍTULO 30

UNIDA
Regulação Acidobásica

A regulação do balanço do íon sódio (Na+). Assim, a precisão com que o H+ é regulado
íon hidrogênio (H+) é, de enfatiza sua importância para as diversas funções celulares.
certa forma, semelhante à
regulação de outros íons no
corpo. Por exemplo, para Ácidos e Bases — Definições e Significados
haver homeostasia, é pre-
ciso que exista o balanço O íon hidrogênio é próton único livre, liberado do átomo
entre a ingestão ou a produção de H+ e a remoção efe- de hidrogênio. Moléculas contendo átomos de hidrogênio
tiva do H+ do corpo. E, assim como é verdadeiro para que podem liberar íons hidrogênio são conhecidas como
outros íons, os rins têm papel importante na regulação da ácidos. Exemplo é o ácido clorídrico (HC1), que se ioniza na
remoção de H+ do corpo. Entretanto, o controle preciso água formando íons hidrogênio (H+) e íons cloreto (Cl-). Da
da concentração de H+ no líquido extracelular envolve mesma maneira, o ácido carbônico (HjCO.^) se ioniza na
muito mais do que a simples eliminação de H+ pelos rins. água formando íons H+ e íons bicarbonato (HC03-).
Existem também diversos mecanismos de tampona- A base é um íon ou uma molécula capaz de receber um
mento acidobásico envolvendo o sangue, as células e os H . Por exemplo, HCOs- é base porque pode se combinar
+

pulmões, que são essenciais para manter as concentra- com H+ para formar H2COr Da mesma maneira, HP04= é
ções normais de H+, tanto no líquido extracelular quanto base porque pode receber um H+ para formar H2P04“. A S
no intracelular. proteínas no corpo também funcionam como bases, pois
Neste capítulo, são discutidos os diversos mecanismos alguns dos aminoácidos que formam as proteínas têm
que contribuem para a regulação da concentração de H+, cargas negativas efetivas que aceitam prontamente íons H+.
com ênfase especial no controle da secreção renal de H+ e A proteína hemoglobina nas hemácias e proteínas de
na reabsorção, produção e excreção renais de íons bicar- outras células do corpo estão entre as bases mais
bonato (HC03“), um dos componentes-chave dos sistemas importantes do corpo.
de controle acidobásico nos líquidos corporais. Os termos base e álcali são com frequência usados como
sinônimos. O álcali é molécula formada pela combinação de
um ou mais dos metais alcalinos — sódio, potássio, lítio etc.
— com íon muito básico como um íon hidroxila (OH"). A
A Concentração do H+ É Precisamente Regulada
porção base dessas moléculas reage rapidamente com H+
A regulação precisa do H+ é essencial, pois as atividades de para removê-lo da solução; elas são, portanto, bases típicas.
quase todos os sistemas de enzimas no corpo são Por razões semelhantes, o termo alcalose refere-se à
influenciadas pela concentração de H+. Portanto, variações remoção excessiva de H+ dos líquidos corporais, em
da concentração de H+ alteram, praticamente, todas as contraste com a adição excessiva de H+, conhecida como
funções celulares e corporais. acidose.
Comparados a outros íons, a concentração de H+ nos
Ácidos e Bases Fortes e Fracos. Um ácido forte é
líquidos corporais mantém-se normalmente em nível baixo.
o que se dissocia rapidamente e libera grandes quantidades
Por exemplo, a concentração de sódio, no líquido
de H+ na solução. Exemplo é o HC1. Ácidos fracos têm
extracelular (142 mEq/L), é de cerca de 3,5 milhões de
menos tendência a dissociar seus íons e, portanto, liberam
vezes maior que a concentração normal de H+, o que
H+ com menos vigor. Exemplo é o H.2C03. A base forte é a
representa, em média, apenas 0,00004 mEq/L. Igualmente
que reage rapidamente com H+ e, portanto, remove-o
importante, a variação normal da concentração de H+ no
prontamente de uma solução. Exemplo típico é o OH-,
líquido extracelular é apenas cerca de um milionésimo
maior que a variação normal da concentração do

401
Unidade V Os Líquidos Corporais e os Rins

que reage com H+ formando água (H20). Base fraca típica é que a pessoa apresente alcalose quando o pH está acima de
o HC03", porque se liga ao H+ com muito menos força do 7,4. O limite mínimo de pH no qual a pessoa pode viver,
que o faz o OH. A maioria dos ácidos e das bases no líquido por poucas horas, está em torno de 6,8, e o limite superior,
extracelular, envolvidos na regulação acidobásica normal, em torno de 8,0.
são ácidos e bases fracos. Os mais importantes que O pH intracelular geralmente é pouco mais baixo do
discutiremos em detalhes são o H CO e HC03“. que o pH do plasma, porque o metabolismo das células
produz ácido, principalmente H2C03. Dependendo do tipo
Concentração Normal de H+e o pH dos Líquidos
de células, estima-se que o pH dos líquidos intracelulares
Corporais e Variações que Ocorrem na Acidose e na
fique entre 6,0 e 7,4. A hipoxia dos tecidos e o fluxo
Alcalose. Como discutido antes, a concentração
sanguíneo deficiente, nesses tecidos, podem causar
plasmática de H+, normalmente, se mantém dentro de
acúmulo de ácido e diminuir o pH intracelular.
limites estreitos, em torno de valor normal de,
O pH da urina varia de 4,5 a 8,0, dependendo do estado
aproximadamente, 0,00004 mEq/L (40 nEq/L). Variações
acidobásico do líquido extracelular. Como discutiremos
normais ficam entre 3 e 5 nEq/L, mas, sob condições
adiante, os rins têm papel essencial na correção de desvios
extremas, a concentração de H+ pode variar de 10 nEq/L
até 160 nEq/L, sem causar morte. da concentração de H+, no líquido extracelular, ao excretar
Como a concentração de H+ normalmente é baixa e já ácidos ou bases com intensidades variáveis.
que esses números pequenos são difíceis de lidar, é Exemplo extremo de líquido corporal ácido é o HC1
costume expressar a concentração de H+ em escala loga- secretado no estômago pelas células oxínticas (parietais) da
rítmica, usando unidades de pH. O pH está relacionado mucosa gástrica, como discutido no Capítulo 64. A
com a concentração real de H+ pela seguinte fórmula concentração de H+ nessas células é cerca de 4 milhões de
(concentração de H+ [H+] expressa em equivalentes por litro): vezes maior do que a concentração de hidrogênio no
sangue, com pH de 0,8. No restante deste capítulo,
PH =l°gj^T| =-l°g[H+] discutiremos a regulação da concentração de H+ do líquido
extracelular.
Por exemplo, a [H+] normal é de 40 nEq/L (0,00000004
Eq/L). Portanto, o pH normal é
pH = -log Defesas Contra Variações da Concentração do
[0,00000004] pH = H+: Tampões, Pulmões e Rins
7,4
Existem três sistemas primários que regulam a
A partir dessa fórmula, é possível concluir que o pH é concentração de H+ nos líquidos corporais, para evitar
relacionado inversamente à concentração de H+; portanto, o acidose ou alcalose: (1) os sistemas-tampão químicos
pH baixo corresponde à concentração de H+ elevada, e o acidobásicos dos líquidos corporais que se combinam,
pH alto corresponde à concentração de H+ baixa. imediatamente, com ácido ou base para evitar alterações
O pH normal do sangue arterial é de 7,4, enquanto o pH excessivas da concentração de H+; (2) o centro respiratório,
do sangue venoso e dos líquidos intersticiais é de cerca de que regula a remoção de CO,2 (e, portanto, de H2C03) do
7,35, devido às quantidades extras de dióxido de carbono
líquido extracelular; e (3) os rins, que podem excretar tanto
(CO.,) liberadas pelos tecidos para formar H.2C03 nesses
urina ácida como alcalina, reajustando a concentração de
líquidos (Tabela 30-1). Sendo o pH normal do sangue
H+ no líquido extracelular para níveis normais, durante a
arterial de 7,4, considera-se que uma pessoa apresente
acidose ou a alcalose.
acidose quando o pH cai abaixo deste valor, e
Quando ocorre uma variação da concentração de H+, os
sistemas-tampão dos líquidos corporais respondem em
fração de segundo para minimizar essas alterações. Os
sistemas-tampão não eliminam ou acrescentam íons H+ ao
Tabela 30-1 pH e Concentração de H+ nos Líquidos Corporais
corpo, mas apenas os mantêm controlados até que o
PH balanço possa ser restabelecido.
Concentração de H+ A segunda linha de defesa, o sistema respiratório, age em
(mEq/L) questão de minutos eliminando o CO., e, portanto, H2C03
Líquido extracelular do corpo.
Sangue arterial 4,0 X 10“5 7,40 As duas primeiras linhas de defesa evitam que a
Sangue venoso 4,5 X 10“ 5
7,35 concentração de H+ se altere muito, até que a resposta mais
lenta da terceira linha de defesa, os rins, consiga eliminar o
Líquido intersticial 4,5 X 10“5 7,35 excesso de ácido ou base do corpo. Embora a resposta dos
rins seja relativamente mais lenta, se comparada com as
Líquido Intracelular 1 X 10~3 a 4 X 10'5 6,0-7,4
outras defesas, durante período de horas a vários dias, eles
Urina 3 X 10“2 a 1 X IO'5 4,5-8,0 são, sem dúvida, os sistemas reguladores acidobásicos mais
potentes.
HCl gástrico 160 0,8

402
Capítulo 30 Regulação Acidobásica

quase completamente, formando HC03“ e Na+, como se


Tamponamento de H+ nos Líquidos

UNIDA
segue:
Corporais
NaHCQ —sr-» Na+ + HCOj
3

Tampão é qualquer substância capaz de se ligar, reversi-


velmente, ao H+. A forma geral da reação de Agora, acoplando todo o sistema, teríamos o seguinte:
tamponamento é:
C0 + HzO (
2 > H C0 < -» H+ + HCOj
2 3

Tampão + H*< H Tampão


Na+
Nesse exemplo, o H+
livre se combina com o tampão
formando um ácido fraco (H tampão) que pode Devido à fraca dissociação de H2C03, a concentração de
permanecer como molécula associada ou se dissociar de H+ é extremamente pequena.
volta para tampão e H+. Quando a concentração de H+ Quando se acrescenta ácido forte, como o HC1, à solu-
aumenta, a reação é forçada para a direita e mais H+ liga-se ção-tampão de bicarbonato, o H+ em excesso, liberado pelo
ao tampão, desde que haja tampão disponível. Por outro ácido (HC1 -» H+ + CT), é tamponado por HC03".
lado, quando a concentração de H+ diminui, a reação tende
para a esquerda e H+ é dissociado do tampão. Dessa forma, t H+ + HCO3- H2CO3 co2 + H2O
as alterações da concentração de H+ são minimizadas.
A importância dos tampões dos líquidos corporais pode Como resultado, mais H2C0o é formado, causando
ser constatada se considerarmos a baixa concentração de aumento da produção de CO,2 e H20. A partir dessas
H+ nos líquidos corporais e as quantidades relativamente reações, pode-se perceber que o H+ do ácido forte HC1
grandes de ácidos produzidas pelo corpo todos os dias. Por reage com HC03~ formando o ácido muito fraco H2C03 que,
exemplo, cerca de 80 miliequivalentes de H+ são ingeridos por sua vez, forma CO,2 e H20.0 C02 em excesso estimula a
ou produzidos a cada dia pelo metabolismo, enquanto a respiração, eliminando CO; do líquido extracelular.
concentração de H+ nos líquidos corporais, normalmente, As reações opostas ocorrem quando é acrescentada à
fica em torno de 0,00004 mEq/L. Sem o tamponamento, a solução-tampão de bicarbonato base forte como o
produção e a ingestão diária de ácidos causariam grandes hidróxido de sódio (NaOH).
variações da concentração de H+ nos líquidos corporais. NaOH + H C0 NaHC0 + HzO
2 3 3

A ação dos tampões acidobásicos talvez possa ser mais


bem explicada considerando-se o sistema-tampão, que é Neste caso, o OH“ do NaOH se combina com H2CO.J
qualitativamente o mais importante do líquido extracelu- formando mais HCCQ. Assim, a base fraca NaHC03
lar — o sistema-tampão do bicarbonato. substitui a base forte NaOH. Ao mesmo tempo, a
concentração de H2C03 diminui (porque reage com NaOH),
fazendo com que mais C02 se combine com HzO, para repor
o H2C03.
Sistema-Tampão do Bicarbonato co2 + H2O ---------> H2CO3 -------- > THCOJ + H+
+ +
O sistema-tampão do bicarbonato consiste em solução NaOH Na
aquosa contendo dois ingredientes: (1) um ácido fraco,
H2C03, e (2) um sal bicarbonato, como o NaHCCQ O H2C03
O resultado efetivo, portanto, é tendência dos níveis de
é formado no corpo pela reação do C02 com C02 no sangue diminuírem, mas a diminuição de CO,2 no
H2O.
anidrase
sangue inibe a respiração e diminui a expiração de C02. O
carbônica aumento de HCO _ que ocorre no sangue é compensado
co2 + H2O < ^ H2CO3
pelo aumento da excreção renal de HC03“.

Essa reação é lenta, e quantidades muito pequenas de Dinâmica Quantitativa do


HjCO ^ são formadas se a enzima anidrase carbônica não Sistema-Tampão de Bicarbonato
estiver presente. Esta enzima é especialmente abundante Todos os ácidos, incluindo o H2C03, são ionizados até certo ponto.
nas paredes dos alvéolos pulmonares, onde o C02 é A partir de considerações do balanço das massas, as concentrações
liberado; a anidrase carbônica está presente, ainda, nas de H+ e HC03 são proporcionais à concentração de H2C03.
células epiteliais dos túbulos renais, onde o CO,2 reage com H C0
2 3 ( -» H++ HCOj
H^O, formando H2C03.
Para qualquer ácido, a concentração do ácido em relação à dos
O H2C03 se ioniza fracamente formando pequenas
seus íons dissociados é definida pela constante de dissociação K*.
quantidades de H+ e HC03~.
H C0 < --- --- H+ + HC0
2 3 3

O segundo componente do sistema, o sal bicarbonato, H + x HC0 3

ocorre predominantemente como bicarbonato de sódio H2CO3


0)
(NaHC03) no líquido extracelular. O NaHC03 se ioniza,

403
Unidade V Os Líquidos Corporais e os Rins

Esta equação indica que, em uma solução de H2C03, a A equação 8 é a equação de Henderson-Hasselbalch e com ela se
quantidade de H+ livre é igual a: pode calcular o pH de uma solução se forem conhecidas as
concentrações molares de HC03_ e o Pco2.
H* = K'xtÍí°3
A partir da equação de Henderson-Hasselbalch, fica claro que
HCOJ (2)
aumento na concentração de HC03" faz com que o pH aumente,
A concentração de H C03 não dissociado não pode ser medida deslocando o balanço acidobásico no sentido da alcalose. Um
na solução, pois se dissocia rapidamente em C02 e H20 OU em H+ e aumento na Pco2 faz com que o pH diminua, deslocando o balanço
HC03“. Entretanto, o C02 dissolvido no sangue é diretamente acidobásico no sentido da acidose.
proporcional à quantidade de H2C03 não dissociado. Portanto, a A equação de Henderson-Hasselbalch, além de definir os
equação 2 pode ser reescrita como: determinantes da regulação do pH normal e do balanço acidobásico
no líquido extracelular, explica o controle fisiológico da composição
H+ = K x CO2 de ácidos e bases do líquido extracelular. Como discutiremos
HCO3 (3)
adiante, a concentração de bicarbonato é regulada, basicamente,
pelos rins, enquanto a Pco2 no líquido extracelular é controlada
A constante de dissociação (K) da equação 3 é de cerca de 1/400
pela intensidade respiratória. Ao aumentar a intensidade
da constante de dissociação (K') da equação 2, porque a razão da
respiratória, os pulmões removem C02 do plasma, e ao diminuir,
proporcionalidade entre H2CO ; e C02 é de 1:400.
elevam a Pco2. A homeostasia acidobásica fisiológica normal resulta
A equação 3 está escrita em termos da quantidade total de C02
dos esforços coordenados de ambos os órgãos, pulmões e rins, e
dissolvida na solução. Entretanto, a maioria dos laboratórios
distúrbios acidobásicos ocorrem quando um ou ambos os
clínicos mede a tensão de C02 no sangue (Pco2), em vez da
mecanismos estão comprometidos, alterando assim a concentração
quantidade real de CO,2. Felizmente, a quantidade de C02 no
de bicarbonato ou a Pco2 no líquido extracelular.
sangue é função linear da Pco., multiplicada pelo coeficiente de
Quando distúrbios do balanço acidobásico resultam de alteração
solubilidade de C02; sob condições fisiológicas, o coeficiente de
primária da concentração de bicarbonato do líquido extracelular,
solubilidade de CO,2 é de 0,03 mmol/ mmHg, à temperatura
são denominados distúrbios acidobásicos meta- bólicos. Portanto, a
corporal. Isso significa que 0,03 mili- mole de H2C03 está presente
acidose causada por diminuição primária da concentração de
no sangue para cada milímetro de mercúrio medido da Pco2.
bicarbonato é denominada acidose meta- bólica, enquanto a
Portanto, a equação 3 pode ser reescrita como:
alcalose causada por aumento primário da concentração de
bicarbonato é denominada alcalose meta- bólica. A acidose
„ (0,03XPCO2) causada por aumento da Pco2 é denominada acidose respiratória,
H+= K x—-------- u- (4) enquanto a alcalose causada por diminuição da Pco2 é denominada
HCO3 alcalose respiratória.
Equação de Henderson-Hasselbalch. Conforme discutido, é Curva de Titulação do Sistema-Tampão do Bicarbonato. A
costume expressar a concentração de H+ em unidades de pH, em Figura 30-1 mostra as variações do pH do líquido extracelular
vez de concentrações reais. Lembre-se de que pH é definido como quando a proporção entre o HC03~ e o CO,2 é alterada no líquido
pH = -log H+. extracelular. Quando as concentrações desses dois componentes
A constante de dissociação pode ser expressa de maneira são iguais, o último termo da equação 8 é o log de 1, que é igual a 0.
semelhante. Portanto, quando os dois componentes do sistema-tampão são
equivalentes, o pH da solução é o mesmo que o pK (6,1) do
pK = -log K sistema-tampão do bicarbonato. Ao se acrescentar base ao sistema,
Portanto, podemos expressar a concentração de H+, na equação parte do CO,2 dissolvido é convertida em HC0 3“, causando
4, em unidades de pH tomando-se o logaritmo negativo daquela aumento da proporção HC03_/C02 e aumentando o pH, como
equação, o que gera: demonstrado na equação de Henderson-Hasselbalch. Ao se
acrescentar ácido, este é tamponado por HC03“, que é então
(0,03 x convertido em C02 dissolvido, diminuindo a proporção HC03“/C02
-log H+ = -log pK - log (5)
Pco2) e diminuindo o pH do líquido extracelular.
HCOJ “A Potência do Tamponamento” É Determinada pela
Assim,
Quantidade e pelas Concentrações Relativas dos
(0,03 x Componentes do Tampão. A partir da curva de titulação na
pH = pK - log (6)
Pco2) Figura 30-1, vários pontos ficam evidentes. Primeiro, o pH do
sistema é o mesmo que o pK quando cada um dos componentes
HCO3
Em vez de trabalhar com logaritmo negativo, podemos mudar o (HC03" e C02) constitui 50% da concentração total do
sinal do logaritmo e inverter o numerador e o denominador no sistema-tampão. Em segundo lugar, o sistema-tampão é mais
último termo, usando a lei dos logaritmos, para gerar: efetivo na parte central da curva, onde o pH está próximo do pK do
HCOí sistema. Isto significa que a variação do pH de qualquer quantidade
pH = pK + l°g (0 03 x pco2) de ácido ou base acrescentada ao sistema é mínima quando o pH
<7 está próximo ao pK do sistema. O sistema-tampão é ainda
> razoavelmente efetivo por 1,0 unidade de pH a mais ou a menos do
Para o sistema-tampão do bicarbonato, o pK é 6,1, e a equação 7 valor de pK que, no caso do sistema-tampão bicarbonato, vai de pH
pode ser reescrita como: de cerca de 5,1 até 7,1 unidades. Ultrapassando esses limites, o
poder de
HCO3
pH = 6,1 + log (8)
0, 03XPCO2

404
Capítulo 30 Regulação Acidobásica

100
tamponamento cai rapidamente. Ainda, quando todo o CQ2 tiver
sido convertido em HC03" ou quando todo o HC03“ tiver sido
convertido em C02, o sistema não terá mais poder de 75
tamponamento.
A concentração absoluta dos tampões é também fator importante
para determinar o poder de tamponamento do sistema. Quando
50
existem concentrações reduzidas dos tampões, apenas pequena
quantidade de ácido ou base acrescentada à solução pode alterar o
25
pH consideravelmente.
o
CL

O Sistema-Tampão Bicarbonato É o Tampão 0


Extra- celular Mais Importante. Observando a curva
de titulação mostrada na Figura 30-1, não podemos esperar
que o sistema-tampão do bicarbonato seja satisfatório, por Figura 30-1 Curva de titulação do sistema-tampão
duas razões: primeiramente, o pH do líquido extracelular é bicarbonato mostrando o pH do líquido extracelular quando as
de aproximadamente 7,4, enquanto o pK do porcentagens do tampão, na forma de HC03“ e C02 (ou H2C03),
estão alteradas.
sistema-tampão bicarbonato é de 6,1. Isto significa que no
sistema- tampão bicarbonato existe cerca de 20 vezes mais
tampão na forma de HCO:3“ do que na forma de C02 O sistema-tampão fosfato tem pK de 6,8, valor próximo
dissolvido. Por esta razão, esse sistema opera na porção da do pH normal de 7,4 nos líquidos corporais; isso permite
curva de tamponamento onde a inclinação é pouco que o sistema opere próximo de seu poder máximo de
íngreme e o poder de tamponamento é deficiente. Em tamponamento. Entretanto, sua concentração no líquido
segundo lugar, as concentrações dos dois elementos do extracelular é baixa, apenas cerca de 8% da concentração do
sistema bicarbonato, CO,2 e HCOQ não são altas. tampão do bicarbonato. Assim, o poder total do sistema-
A despeito dessas características, o sistema-tampão tampão fosfato, no líquido extracelular, é bem menor que o
bicarbonato é o tampão extracelular mais potente no corpo. do sistema-tampão bicarbonato.
Esse paradoxo aparente se deve principalmente ao fato de Em contrapartida ao seu papel quase insignificante
que os dois elementos do sistema-tampão, HC03~ e C02, são como tampão dos líquidos extracelulares, o tampão fosfato é
regulados, respectivamente, pelos rins e pelos pulmões, especialmente importante nos líquidos tubulares dos rins por
como discutiremos adiante. Como resultado dessa duas razões: (1) o fosfato geralmente fica muito
regulação, o pH do líquido extracelular pode ser concentrado nos túbulos, aumentando assim o poder de
controlado precisamente pela intensidade relativa da tamponamento do sistema fosfato e (2) o líquido tubular
remoção e da adição de HC03“ pelos rins, e pela geralmente tem pH consideravelmente menor do que o
intensidade de remoção de C02 pelos pulmões. líquido extracelular, fazendo com que a faixa operacional
do tampão fique próxima do pK (6,8) do sistema.
O sistema-tampão fosfato é também importante no
Sistema-Tampão Fosfato tamponamento do líquido intracelular, porque a concentração
de fosfato nesse líquido é bem maior que no líquido
Embora o sistema-tampão fosfato não seja importante extracelular. Além disso, o pH do líquido intracelular é
como tampão do líquido extracelular, ele tem papel mais baixo que o do líquido extracelular, e portanto mais
importante no tamponamento do líquido tubular renal e próximo do pK do sistema-tampão fosfato comparado com
dos líquidos intracelulares. o do líquido extracelular.
Os principais elementos do sistema-tampão fosfato são
H,PO„" e HPO„=. Ao se acrescentar ácido forte como o HC1
à mistura dessas duas substâncias, o hidrogênio é aceito As Proteínas São Importantes Tampões
pela base HP04=e convertido em H2P04“. Intracelulares
HCl + Na HPO. -> NaH.PO. + NaCl
7

Z 4 Z4 As proteínas estão entre os tampões mais abundantes no


O resultado dessa reação é que o ácido forte, HCl, é corpo devido às suas concentrações elevadas,
substituído por quantidade adicional de ácido fraco, especialmente no interior das células.
NaH2P04, e a queda no pH é minimizada. O pH dessas células, embora ligeiramente mais baixo
Quando base forte, como NaOH, é acrescentada ao que o do líquido extracelular, varia contudo
sistema-tampão, o OH” é tamponado pelo H2P04“, aproximadamente na proporção das alterações do pH
formando quantidades adicionais de HP04= + H20. extracelular. Existe pouca difusão de H+ e HC03~ através da
NaOH + NaH,PCb Na,HPO. + H,0 membrana celular, embora esses íons levem muitas horas
Z4 Z 4 Z para atingir o balanço com o líquido extracelular, exceto
Neste caso, a base forte, NaOH, é trocada por base fraca, pelo balanço rápido que ocorre nas hemácias. O CO;, no
NaH2P04, causando aumento discreto no pH. entanto, pode se difundir rapidamente através de todas

405
Unidade V Os Líquidos Corporais e os Rins

as membranas celulares. Esta difusão dos elementos do A Expiração Pulmonar de COz Contrabalança a
sistema-tampão bicarbonato causa variações no pH do líquido Formação Metabólica de COz
intracelular quando ocorrem alterações no pH extracelular. Por O CO,2 é formado continuamente no corpo pelos processos
esta razão, os sistemas-tampão do interior das células metabólicos intracelulares. Depois de formado, se difunde
ajudam a prevenir mudanças no pH do líquido das células para os líquidos intersticiais e para o sangue, e
extracelular, mas podem levar horas para ficarem efetivos então o fluxo sanguíneo o transporta para os pulmões,
ao máximo. onde se difunde nos alvéolos, sendo transferido para a
Nas hemácias, a hemoglobina (Hb) é tampão atmosfera pela ventilação pulmonar. Cerca de 1,2 mol/L de
importante, como se segue: C02 dissolvido é, normalmente, encontrado nos líquidos
H+ + Hb < > HHb extracelulares, correspondendo à Pco2 de 40 mmHg.
Se a formação metabólica de C02 aumenta, a Pco, do
Aproximadamente 60% a 70% do tamponamento químico
líquido extracelular também aumenta. Em contrapartida,
total dos líquidos corporais se dá no interior das células e, grande
menor intensidade metabólica reduz a Pco2. Se a ventilação
parte, resulta das proteínas intracelulares. Entretanto, exceto no
pulmonar aumenta, CO, é expelido pelos pulmões, e a Pco2
caso das hemácias, a lentidão com que H+ e HC03“ se
no líquido extracelular diminui. Portanto, mudanças na
movem através das membranas celulares retarda, muitas
ventilação pulmonar ou na formação de CO., pelos tecidos
vezes por muitas horas, a capacidade máxima de as
podem alterar a Pco2 do líquido extracelular.
proteínas tamponarem anormalidades acidobásicas
extracelulares. O Aumento da Ventilação Alveolar Diminui a
Além das concentrações elevadas de proteínas nas Concentração de H+ do Líquido Extracelular e
células, outro fator que contribui para seu poder de Aumenta o pH
tamponamento é o fato de os pKs de muitos desses
Se a formação metabólica de C02 permanece constante, o
sistemas de proteínas serem bem próximos ao pH
único fator que afeta a Pco2 no líquido extracelular é a
intracelular.
ventilação alveolar. Quanto maior a ventilação alveolar,
Princípio Isoídrico: Todos os Tampões em uma menor a Pco2; em contrapartida, quanto menor a ventilação
Solução Comum Estão em Balanço com a Mesma alveolar, maior a Pco2. Como discutido, quando a
Concentração de H+ concentração de C02 aumenta, a concentração de H2C03 e a
Estivemos discutindo sistemas-tampão como se operassem concentração de H+ também aumentam, diminuindo assim
individualmente nos líquidos corporais. Entretanto, todos eles o pH do líquido extracelular.
funcionam em conjunto, pois o H+ é comum às reações de todos A Figura 30-2 mostra as mudanças aproximadas do pH
esses sistemas. Portanto, sempre que houver variação da sanguíneo causadas pelo aumento ou pela diminuição da
concentração de H+ no líquido extracelular, o balanço de todos os
ventilação alveolar. Observe que o aumento da ventilação
sistemas-tampão muda ao mesmo tempo. Esse fenômeno é
alveolar para aproximadamente o dobro da normal
denominado princípio isoídrico e é ilustrado pela seguinte
aumenta o pH do líquido extracelular por cerca de 0,23. Se
fórmula:
o pH dos líquidos corporais for de 7,40 com ventilação
HA alveolar normal, duplicar a ventilação aumenta o pH até
H+= K,
3

x----- aproximadamente 7,63. Por outro lado, a redução na


A3
ventilação alveolar para um quarto da normal reduz o pH
Kj, K2 e K3 são as constantes de dissociação dos três respectivos
em 0,45. Ou seja, se o pH for de 7,4 com ventila-
ácidos, HAj, HA2 e HA;, e Aj, A2 e A3 são as concentrações dos íons
negativos livres que constituem as bases dos três sistemas-tampão.
A implicação desse princípio é de que qualquer condição que
altere o balanço de um dos sistemas-tampão também altera o
balanço de todos os outros, porque os sistemas- tampão, na
verdade, tamponam uns aos outros ao trocar H+ entre si.

Regulação Respiratória do Balanço Acidobásico

A segunda linha de defesa contra os distúrbios acidobási-


cos é o controle da concentração de CO,2 no líquido
extracelular pelos pulmões. Aumento da ventilação elimina Ventilação
o CO,2 do líquido extracelular que, por ação das massas, alveolar
reduz a concentração de H+. Em contrapartida, menor (normal = 1)
Figura 30-2 Alteração do pH do líquido extracelular causada
ventilação aumenta o C02, também elevando a concentração por elevação ou queda da ventilação alveolar, expressa em vezes
de H+ no líquido extracelular. 0 normal.

406
Capítulo 30 Regulação Acidobásica

ção alveolar normal, reduzir a ventilação a um quarto da líquido extracelular e reduz a concentração de H+ de volta
normal reduz o pH para 6,95. Como a ventilação alveolar

UNIDA
aos valores normais. Por outro lado, se a concentração de
pode variar de modo acentuado, de tão baixa quanto 0 a tão H+ cai abaixo da normal, o centro respiratório é inibido, a
alta, quanto 15 vezes a normal, pode-se entender facilmente ventilação alveolar diminui, e a concentração de H+
o quanto o pH dos líquidos corporais pode ser alterado aumenta de volta aos valores normais.
pelo sistema respiratório.
Eficiência do Controle Respiratório da
O Aumento da Concentração de H+Estimula +
Concentração de H . O controle respiratório não retorna
a Ventilação Alveolar à concentração de H+ precisamente de volta ao normal,
Não só a ventilação alveolar influencia a concentração de quando um transtorno fora do sistema respiratório altera o
H+ ao alterar a Pco, dos líquidos corporais, como também a pH. Geralmente, o mecanismo respiratório de controle da
concentração de H+ afeta a ventilação alveolar. Assim, a concentração de H+ tem eficiência entre 50% e 75%,
Figura 30-3 mostra que a ventilação alveolar aumenta até correspondendo a ganho de feedback de 1 a 3. Ou seja, se o
quatro a cinco vezes a normal quando o pH cai, do valor pH aumentar subitamente pela adição de ácido do líquido
normal de 7,4, para 7,0. Da mesma forma, quando o pH do extracelular e o pH cair de 7,4 para 7,0, o sistema
plasma aumenta para valores acima de 7,4, isto causa respiratório pode retornar o pH a um valor em torno de 7,2
redução da ventilação alveolar. Como se pode ver no a 7,3. Essa resposta ocorre dentro de 3 a 12 minutos.
gráfico, a variação da ventilação por unidade de pH é bem
maior em níveis reduzidos do pH (correspondendo à Capacidade de Tamponamento do Sistema
concentração elevada de H+), comparada com os níveis Respiratório. A regulação respiratória do balanço acidobásico é
elevados de pH. A razão disso é que quando a ventilação um tipo fisiológico de sistema-tampão porque é ativado
alveolar diminui devido a aumento do pH (menor rapidamente e evita que a concentração de H+ se altere
concentração de H+), a quantidade de oxigênio muito até que a resposta mais lenta dos rins consiga
acrescentada ao sangue e a pressão parcial do oxigênio eliminar a falha do balanço. Em termos gerais, a capacidade
(Po2) no sangue também caem, o que estimula a ventilação. total de tamponamento do sistema respiratório é uma a
Portanto, a compensação respiratória ao aumento do pH duas vezes maior que o poder de tamponamento de todos
não é tão efetiva quanto a resposta à redução do pH. os outros tampões químicos do líquido extracelular
combinados. Ou seja, uma a duas vezes mais ácido ou base
Controle por Feedback da Concentração de H+ pelo
podem ser normalmente tamponados por esse mecanismo
Sistema Respiratório. Como a maior concentração de H+
do que pelos tampões químicos.
estimula a respiração, e já que o aumento da ventilação
alveolar diminui a concentração de H+, o sistema
O Comprometimento da Função Pulmonar Pode
respiratório age como controlador por feedback negativo
Causar Acidose Respiratória. Discutimos até agora o
típico da concentração de H+.
papel do mecanismo respiratório normal como meio de
+
t[H ] -> t Ventilação alveolar tamponar as alterações da concentração de H+. Entretanto,
eí * anormalidades na respiração podem também causar
mudanças na concentração de H+. Por exemplo, o
..................... i Pco2

comprometimento da função pulmonar, como no enfisema


Ou seja, sempre que a concentração de H+ aumenta grave, diminui a capacidade dos pulmões de eliminar C02,
acima do normal, o sistema respiratório é estimulado e a causando acúmulo de CO,2 no líquido extracelular e
ventilação alveolar aumenta, o que diminui a Pco2 no tendência à acidose respiratória. Além disso, a capacidade de
responder à acidose metabólica fica comprometida, pois as
reduções compensatórias da Pco2 que normalmente
ocorreriam por meio de aumento da ventilação estão
prejudicadas. Nessas circunstâncias, os rins representam o
único mecanismo fisiológico remanescente para fazer o pH
retornar ao normal depois de já ter ocorrido o
tamponamento químico inicial no líquido extracelular.

Controle Renal do Balanço Acidobásico

Os rins controlam o balanço acidobásico ao excretar urina


ácida ou básica. A excreção de urina ácida reduz a
quantidade de ácido no líquido extracelular, enquanto a
excreção de urina básica remove base do líquido
extracelular.
Figura 30-3 Efeito do pH sanguíneo sobre a ventilação alveolar. O mecanismo global pelo qual os rins excretam urina
ácida ou básica é o seguinte: grandes quantidades de
407
Unidade V Os Líquidos Corporais e os Rins

HC03“ são filtradas continuamente para os túbulos, e se exceto nas porções finas descendentes e ascendentes da
forem execretadas na urina, removem base do sangue. alça de Henle. A Figura 30-4 resume a reabsorção de HC03~
Ainda, grandes quantidades de H+ são secretadas no lúmen pelo túbulo. Lembre-se que para cada HC03~ reabsorvido,
tubular pelas células epiteliais tubulares, removendo assim um H+ precisa ser secretado.
ácido do sangue. Se for secretado mais H+ do que HC03“, Cerca de 80% a 90% da reabsorção de bicarbonato (e
ocorrerá perda real de ácido do líquido extracelular. Por excreção de H+) ocorre no túbulo proximal, e apenas
outro lado, se for filtrado mais HC03“ do que H+ é pequena quantidade de HC03~ flui para os túbulos distais e
secretado, ocorrerá perda real de base. duetos coletores. No ramo ascendente espesso da alça de
Como discutido, todos os dias o corpo produz cerca de Henle, outros 10% do HC03~ filtrado são reabsor- vidos, e o
80 mEq de ácidos não voláteis, principalmente como restante da reabsorção se dá no túbulo distai e no dueto
resultado do metabolismo das proteínas. Esses ácidos são coletor. Conforme discutido, o mecanismo pelo qual o
chamados não voláteis porque não são H2C03 e, portanto, HC03” é reabsorvido envolve a secreção tubular de H+, mas
não podem ser eliminados pelos pulmões. O mecanismo diferentes segmentos tubulares realizam essa atividade de
primário que remove esses ácidos do corpo é a excreção modos diferentes.
renal. Os rins precisam, ainda, evitar a perda de bicarbo-
nato na urina, tarefa quantitativamente mais importante do O H+ É Secretado por Transporte Ativo Secundário
que a excreção de ácidos não voláteis. Todos os dias, os rins nos Segmentos Tubulares Iniciais
filtram cerca de 4.320 mEq de bicarbonato (180 L/dia X 24 As células epiteliais do túbulo proximal, do segmento
mEq/L); sob condições normais, quase todo esse espesso ascendente da alça Henle e do início do túbulo
bicarbonato é reabsorvido nos túbulos, conservando assim, distai secretam H+ para o líquido tubular pelo contra-
o sistema-tampão primário do líquido extracelular. transporte de sódio-hidrogênio, como mostrado na Figura
Como discutiremos adiante, tanto a reabsorção de 30-5. Essa secreção secundária ativa de H+ é acoplada ao
bicarbonato quanto a excreção de H+ são realizadas pelo transporte de Na+ para a célula, pela proteína trocadora
processo de secreção de H+ pelos túbulos. Como o HC03~ sódio-hidrogênio, e a energia para a secreção do H+ contra
reage com o H+ secretado para formar H2C03 antes de ser seu gradiente de concentração é derivada do gradiente de
reabsorvido, 4.320 mEq de H+ precisam ser secretados a sódio dissipado durante o movimento de Na+ para a célula,
cada dia, apenas para reabsorver o bicarbonato filtrado. a favor do gradiente de concentração. Esse gradiente é
Então, o adicional de 80 mEq de H+ precisam ser secretados estabelecido pela bomba de sódio-potás- sio trifosfato de
para eliminar do corpo os ácidos não voláteis produzidos a adenosina (ATPase) na membrana baso- lateral. Cerca de
cada dia, resultando em total de 4.400 mEq de H+ 95% do bicarbonato é reabsorvido dessa maneira, sendo
secretados para o líquido tubular todos os dias. necessária a secreção, pelos túbulos, de cerca de 4.000 mEq
Quando ocorre redução da concentração de H+ no de H+ a cada dia. Esse mecanismo,
líquido extracelular (alcalose), os rins não conseguem
reabsorver todo o bicarbonato filtrado, aumentando, assim,
a excreção de bicarbonato. Como o HC03“ normalmente 85%
(3.672 mEq/dia)
tampona o hidrogênio no líquido extracelular, essa perda
de bicarbonato significa o mesmo que acrescentar H+ ao
líquido extracelular. Dessa forma, na alcalose, a remoção de
HC03“ eleva a concentração de H+ do líquido extracelular
para os níveis normais.
Na acidose, os rins não excretam HCO,” na urina, mas
reabsorvem todo o HCOs~ filtrado e produzem novo
bicarbonato, que é acrescentado de volta ao líquido
extracelular. Isto reduz a concentração de H+ do líquido
extracelular para os níveis normais.
Assim, os rim regulam a concentração de H+ do líquido
extracelular por três mecanismos fundamentais: (1) secreção de
H\ (2) reabsorção de HCO ~ fdtrado e (3) produção de novo HCO
~. Todos esses processos são realizados pelo mesmo
mecanismo básico, como discutiremos nas próximas seções.

Secreção de H+ e Reabsorção de HC03~


pelos Túbulos Renais
Figura 30-4 Reabsorção de bicarbonato em diferentes segmentos
A secreção de íons hidrogênio e a reabsorção de HC03“ do túbulo renal. São mostradas as porcentagens da carga filtrada de
ocorrem praticamente em todas as partes dos túbulos, HC03” absorvidas pelos diversos segmentos tubulares, bem como o
número de miliequivalentes reabsorvidos por dia sob condições
normais.

408
Capítulo 30 Regulação Acidobásica

entretanto, não estabelece concentração muito elevada de por processo especial, no qual se combina primeiro com H+

UNIDA
H+ no líquido tubular; o líquido tubular só fica muito ácido para formar H2COr Este acaba se convertendo em CO2 e
a partir dos túbulos coletores e duetos coletores. H20, como mostrado na Figura 30-5.
A Figura 30-5 mostra como o processo de secreção de Essa reabsorção do HC03" é iniciada nos túbulos pela
H+ realiza a reabsorção de HC03". O processo secretório reação entre o HC03" filtrado nos glomérulos e o H+
começa quando o C02 se difunde para as células tubulares secretado pelas células tubulares. O H2C03 formado então
ou é formado pelo metabolismo das células epite- liais se dissocia em CO,2 e H20. O CO,2 consegue se difundir
tubulares. Sob a ação da enzima anidrase carbônica, o C02 facilmente pela membrana tubular; portanto, difunde-se
combina-se com H20 para formar H2C03, que se dissocia em instantaneamente para a célula tubular, onde se recom-
HC03" e H+. O H+ é secretado das células para o lúmen bina com H20, por ação da enzima anidrase carbônica,
tubular pelo contratransporte de sódio- hidrogênio. Ou gerando nova molécula de H2C03 dentro das células. Esse
seja, quando um Na+ se move do lúmen do túbulo para o H2C03, por sua vez, se dissocia formando HC03" e H+; o
interior da célula ele se combina, primeiramente, com a HC03" se difunde então através da membrana basolateral
proteína carreadora no bordo luminal da membrana para o líquido intersticial, sendo captado pelo sangue dos
celular; ao mesmo tempo, um H+, no interior das células, capilares peritubulares. O transporte de HC03 através da
combina-se com a proteína carreadora. O Na+ move-se na membrana basolateral é facilitado por dois mecanismos: (1)
célula a favor do gradiente de concentração estabelecido cotransporte Na+-HC03", no túbulo proximal e (2) troca
pela bomba sódio-potássio ATPase na membrana C1“-HC03“ nos últimos segmentos do túbulo proximal, no
basolateral. A energia liberada pela dissipação de parte segmento ascendente espesso da alça de Henle e nos
desse gradiente move o H+ na direção oposta, do interior túbulos e duetos coletores.
da célula para o lúmen tubular. Portanto, o gradiente de Assim, cada vez que um H+ é formado nas células epi- teliais
Na+, através da membrana, provê energia para o transporte tubulares, um HCO~ também é formado e liberado de volta ao
do H+ contragradiente. sangue. O efeito real dessas reações é a “reabsorção” de
O HC03" gerado na célula (quando H2COs é dissociado HCO," nos túbulos, embora o HCO “ que de fato chega ao
em H+ e HCO,), então se move a favor do gradiente através
líquido intersticial não seja o mesmo filtrado nos túbulos. A
da membrana basolateral para o líquido intersticial renal e
reabsorção de HCOs" filtrado não resulta na secreção real
para o sangue capilar peritubular. O resultado efetivo é a
de H+ porque o H+ secretado se combina com o HC03"
reabsorção de um íon HC03" para cada H+ secretado.
filtrado e, assim, não é excretado.

O HC03_ Filtrado É Reabsorvido pela Interação com HC03- É "Titulado" Contra o H+ nos Túbulos. Sob
íons Hidrogênio nos Túbulos condições normais, a secreção tubular de H+ é de cerca de
Os íons bicarbonato não permeiam prontamente as 4.400 mEq/L/dia e a filtração de HC03- é de cerca de 4.320
membranas luminais das células tubulares renais; assim, o mEq/L/dia. Assim, as quantidades desses dois íons que
HC03“ filtrado pelos glomérulos não pode ser reabsorvido entram nos túbulos são quase iguais e se combinam para
diretamente. Em vez disso, o HCO,- é reabsorvido formar CO,2 e H.20. Portanto, diz-se que HC03- e H+
normalmente, “se titulam” nos túbulos.
O processo de titulação não é bem exato, pois
geralmente existe pequeno excesso de H+ nos túbulos a ser
excretado na urina. Esse excesso de H+ eliminado pela
urina (cerca de 80 mEq/L/dia) retira do corpo os ácidos
não voláteis produzidos pelo metabolismo. Como
discutiremos adiante, grande parte do H+ não é excretada
como H+ livre, mas sim em combinação com outros
tampões urinários, especialmente fosfato e amônia.
Quando ocorre excesso de HC03" em relação ao H+ na
urina, como ocorre na alcalose metabólica, o excesso de
HCO,- que não pôde ser reabsorvido permanece portanto
nos túbulos. Posteriormente, o excesso de HCO," é
excretado na urina, o que ajuda a corrigir a alcalose
metabólica.
Na acidose, ocorre excesso de H+ em relação a HCO,",
causando reabsorção completa de bicarbonato; o H+ em
Figura 30-5 Mecanismos celulares da (1) secreção ativa de íons
hidrogênio pelos túbulos renais; (2) reabsorção tubular de íons e o excesso passa para a urina, onde é tamponado nos túbulos
HC03-, por combinação com íons hidrogênio para formar ácido por fosfato e amônia, sendo posteriormente excretado
carbônico, que se dissocia formando dióxido de carbono e água; e como sal. Assim, o mecanismo básico pelo qual os rins
(3) reabsorção do íon sódio em troca dos íons hidrogênio secre- corrigem a acidose ou a alcalose é a titulação incompleta de
tados. Esse padrão de secreção de H+ ocorre no túbulo proximal, no
H+ em relação ao HCOs", levando um ou outro a passar
segmento ascendente espesso da alça de Henle, e no início do
túbulo distai. pela urina e ser removido do líquido extracelular.

409
Unidade V Os Líquidos Corporais e os Rins

Secreção Ativa Primária de H+ nas Células Entretanto, a concentração de H+ pode ser aumentada por
Intercaladas do Final dosTúbulos Distais e até 900 vezes pelos túbulos coletores. Isso diminui o pH do
Coletores líquido tubular para cerca de 4,5, que é o limite mínimo do
Iniciando-se no final dos túbulos distais e prosseguindo pH que pode ser atingido nos rins normais.
pelo restante do sistema tubular, o epitélio tubular secreta
H+ por transporte ativo primário. As características desse
transporte são diferentes das discutidas para os túbulos A Combinação de Excesso de H+com Tampões
proximais, para a alça de Henle e para o início dos túbulos Fosfato e Amônia no Túbulo Gera "Novo" HCCV
distais.
Quando a quantidade de H+ secretado para o líquido
O mecanismo de secreção ativa primária de H+ é
tubular é maior que a quantidade de HCO;" filtrado, apenas
mostrado na Figura 30-6. Ele ocorre na membrana luminal
pequena parte do H+ em excesso pode ser excretada sob a
da célula tubular, onde o H+ é transportado diretamente
forma iônica (H+) na urina. A razão disso é que o pH
por proteína específica, a A TPase transportadora de
mínimo da urina é de cerca de 4,5, correspondendo à
hidrogênio. A energia necessária para bombear o H+ deriva
concentração de H+ de IO-4,5 mEq/L, ou 0,03 mEq/L.
da degradação do ATP em difosfato de adenosina.
Assim, para cada litro de urina formada, um máximo de
A secreção ativa primária de H+ ocorre em tipo especial
apenas 0,03 mEq de H+ pode ser excretado. Para excretar 80
de células, denominadas células intercaladas, no final do
mEq de ácido não volátil, formado pelo metabolismo todos
túbulo distai e nos túbulos coletores. A secreção de íons
os dias, cerca de 2.667 litros de urina teriam de ser
hidrogênio por essas células é feita em duas etapas: (1) o
C02 dissolvido na célula se combina com H20 para formar excretados se todo o H+ permanecesse livre na solução.
H2C03, e (2) o H2C03 então se dissocia em HCO_,“ que é A excreção de grandes quantidades de H+ (às vezes, de
reabsorvido para o sangue mais H+, que é secretado para o até 500 mEq/dia) na urina é feita, basicamente, combi-
lúmen tubular por meio do mecanismo da ATPase nando-se o H+ com tampões no líquido tubular. Os
transportadora de hidrogênio. Para cada H+ secretado, um tampões mais importantes são o tampão fosfato e o tampão
HC03“ é reabsorvido, semelhante ao processo nos túbulos amônia. Existem outros sistemas-tampão fracos, como o do
proximais. A principal diferença é que aqui o H+ se move urato e o do citrato, mas são menos importantes.
pela membrana luminal por bomba ativa de H+, em vez de Quando o H+ é titulado no líquido tubular com HCCQ,
por contratransporte, como ocorre nas partes proximais do isso resulta na reabsorção de um HC03~ para cada H+
néfron. secretado, como discutido anteriormente. Mas, quando
Muito embora a secreção de H+ no túbulo distai ocorre excesso de H+ na urina, ele se combina com outros
posterior e nos túbulos coletores represente apenas 5% do tampões que não o HC03“, resultando na geração de novo
total de H+ secretado, esse mecanismo é importante na HCO,“ que também pode entrar no sangue. Assim, quando
formação de urina muito ácida. Nos túbulos proximais, a ocorre excesso de H+ no líquido extracelular, os rins não só
concentração de H+ pode ser aumentada por apenas cerca reabsorvem todo o HC03~ filtrado, como também geram
de três a quatro vezes, e o pH do líquido tubular só pode HC03", ajudando assim a repor o HCO,” perdido do líquido
ser reduzido até 6,7, embora grandes quantidades de H+ extracelular na acidose. Nas próximas duas seções,
sejam secretadas por esse segmento do néfron. discutiremos os mecanismos pelos quais os tampões fosfato
e amônia contribuem para a geração de novo HC03~.

O Sistema-Tampão Fosfato Transporta o Excesso


Líquido Lúmen de H+ para a Urina e Gera Novo HC03-
intersticial Células tubulares tubular
renal O sistema-tampão fosfato é composto por HP04= e H2P04".
Ambos são concentrados no líquido tubular, porque a água
é normalmente reabsorvida em maior grau que o fosfato
pelos túbulos renais. Portanto, embora o fosfato não seja
tampão de líquido extracelular importante, é muito mais
eficiente como tampão no líquido tubular.
Outro fator que faz do fosfato tampão tubular
importante é o fato de o pK desse sistema ser de cerca de
6,8. Sob condições normais, a urina é ligeiramente ácida, e o
pH da urina fica próximo ao pK do sistema-tampão fosfato.
Portanto, nos túbulos, o sistema-tampão fosfato
normalmente funciona na sua faixa de pH mais efetiva.
A Figura 30-7 mostra a sequência de eventos pelos
Figura 30-6 Secreção ativa primária de H+ através da
quais o H+ é excretado em combinação com o tampão
membrana luminal (apical) das células epiteliais intercaladas dos
túbulos distais e coletores finais. Observe que um HC03” é
absorvido para cada H+ secretado, e um íon cloreto é
passivamente secretado com o H+.

410
Capítulo 30 Regulação Acidobásica

fosfato e o mecanismo pelo qual o novo HC03_ é cada molécula de glutamina é metabolizada em séries de

UNIDA
acrescentado ao sangue. O processo de secreção de H+ nos reações que no final formam dois NH4+ e dois HC03-. O
túbulos é o mesmo descrito antes. Enquanto houver NH4+ é secretado para o lúmen tubular por mecanismo de
excesso de HC03_ no líquido tubular, grande parte do H+ contratransporte em troca de sódio, que é reabsorvido. O
secretado combina-se com HC03". Entretanto, quando todo HC03” é transportado através da membrana basolateral em
o HC03“ tiver sido reabsorvido e não estiver mais conjunto com o Na+ reabsorvido para o líquido inters- ticial,
disponível para combinar-se com H+, qualquer excesso de e é captado pelos capilares peritubulares. Assim, para cada
H+ pode se combinar com HP04= ou outros tampões molécula de glutamina metabolizada no túbulo proximal,
tubulares. Depois que o H+ se combina com HP04= para dois NH4+ são secretados na urina e dois HC03" são
formar H2P04", pode ser excretado como um sal de sódio reabsorvidos no sangue. O HCO;, gerado por este processo,
(NaH2P04), carreando H+ em excesso. constitui novo bicarbonato.
Existe diferença importante entre essa sequência de Nos túbulos coletores, a adição de NH4+ ao líquido
excreção de H+ e a discutida antes. Neste caso, o HCO,- que tubular ocorre por mecanismo diferente (Fig. 30-9). Aqui, o
é gerado na célula tubular e entra no sangue peri- tubular H+ é secretado pela membrana tubular para o lúmen, onde
representa ganho efetivo de HC03- pelo sangue, em vez de se combina com NH3 para formar NH4+ que é então
simplesmente ser reposição do HCO," filtrado. Portanto, excretado. Os duetos coletores são permeáveis ao NH3, que
sempre que um H+ secretado no lúmen tubular se combinar com consegue se difundir facilmente para o lúmen tubular.
tampão que não o HCO.;, o efeito líquido é a adição de novo HCO Entretanto, a membrana luminal dessa parte dos túbulos é
.; ao sangue. Isso demonstra um dos mecanismos pelos quais bem menos permeável ao NH4+; por conseguinte, uma vez
os rins são capazes de recompor as reservas de HC03" do o H+ tenha reagido com NH3 para formar NH4+, o NH4+ fica
líquido extracelular. no lúmen e é eliminado na urina. Para cada NHf excretado,
Sob condições normais, grande parte do fosfato filtrado um novo HCO ; é gerado e adicionado ao sangue.
é reabsorvida e apenas cerca de 30 a 40 mEq/dia ficam
disponíveis para tamponar H+. Portanto, grande parte do
tamponamento do H+ em excesso no líquido tubular A Acidose Crônica Aumenta a Excreção de NH4+.
durante a acidose se dá por meio do sistema- tampão Um dos aspectos mais importantes do sistema-tampão
amônia. amônio-amônia renal é estar sujeito ao controle fisiológico.
O aumento da concentração de H+ no líquido extracelular
Excreção de H+em Excesso e Geração de Novo estimula o metabolismo renal da glutamina e, portanto,
HC03~ pelo Sistema-Tampão Amônia aumenta a formação de NH4+ e novo HC03~ para serem
O segundo sistema-tampão no líquido tubular, ainda mais usados no tamponamento de H+; a queda na concentração
importante em termos quantitativos do que o sistema- de H+ tem o efeito oposto.
tampão fosfato, é composto pela amônia (NHJ e pelo íon Sob condições normais, a quantidade de H+ eliminada
amônio (NH4+). O íon amônio é sintetizado a partir da pelo sistema-tampão amônia é responsável por cerca de
glutamina, que se origina basicamente do metabolismo de 50% do ácido excretado e 50% do novo HC03- gerado pelos
aminoácidos no fígado. A glutamina liberada para os rins é rins. Entretanto, na acidose crônica, a excreção de NH4+ pode
transportada pelas células epiteliais dos túbulos pro- aumentar para até 500 mEq/dia. Portanto,
ximais, do segmento ascendente espesso da alça de Henle e
dos túbulos distais (Fig. 30-8). Uma vez dentro da célula,
Lúmen
l
Líquido Células tubulares
intersticial tubular
proximais
renal

Figura 30-8 Produção e secreção do íon amônio (NH4+) pelas


células tubulares proximais. A glutamina é metabolizada na
célula, gerando NH4+ e bicarbonato. O NH4+ é secretado para o
Figura 30-7 Tamponamento dos H+ secretados pelo fosfato lúmen pela bomba de sódio-NH4+. Para cada molécula de
(NaHP04“) filtrado. Observe que novo íon bicarbonato vai para o glutamina metabolizada, dois NH4+ são produzidos e secretados
sangue para cada NaHP04" que reage com um H+ secretado. e dois HC03~ retornam para o sangue.

411
Unidade V Os Líquidos Corporais e os Rins

pH urinário a 7,4 é igual ao número de miliequivalentes de


l
Líquido Lúmen
intersticial Células tubulares tubular
coletoras H+ adicionado ao líquido tubular que se combinou com o
renal
fosfato e outros tampões orgânicos. A medida do ácido
titulável não inclui o H+ em associação com NH4+, porque o
pK da reação amônio-amônia é 9,2, e a titulação com NaOH
no pH igual a 7,4 não remove H+ de NH4+.
Assim, a excreção efetiva de ácido pelos rins pode ser
avaliada como:
Excreção efetiva de ácido = Excreção de NH4+ +
Ácido urinário titulável - Excreção de HC0 3

A razão de subtrairmos a excreção de bicarbonato é que


a perda de HC03“ é igual à adição de H+ ao sangue. Para
manter o balanço acidobásico, a excreção efetiva de ácido
deve ser igual à produção de ácido não volátil no corpo. Na
Figura 30-9 Tamponamento da secreção do íon hidrogênio acidose, a excreção efetiva de ácido aumenta bastante,
pela amônia (NH3) nos túbulos coletores. A amônia se difunde
do lúmen tubular, onde reage com os íons hidrogênio principalmente por causa da excreção elevada de NH4+,
secretados, formando NH4+ que é então excretado. Para cada removendo assim ácido do sangue. A excreção efetiva de
NH4+ excretado, novo HC03“ é formado nas células tubulares. O ácido também é igual à adição efetiva de HC03“ ao sangue.
novo bicarbonato vai para o sangue. Portanto, na acidose ocorre adição efetiva de HCO.~ de volta ao
sangue enquanto mais NHf e ácido urinário titulável são
excretados.
na acidose crônica, o mecanismo dominante pelo qual o ácido é
Na alcalose, a excreção de ácido titulável e NH4+ cai a
eliminado é a excreção de NHf. Isso também proporciona
zero, enquanto a excreção de HC03“ aumenta. Portanto, na
mecanismo importante para gerar novo bicarbonato
alcalose ocorre excreção efetiva negativa de ácido. Isto significa
durante a acidose crônica.
que ocorre perda efetiva de HC03” no sangue (que é o
mesmo que acrescentar H+ ao sangue) e que nenhum
HC03~ é gerado pelos rins.
Quantificando a Excreção Acidobásica
Renal Regulação da Secreção Tubular Renal de H+
Como discutido antes, a secreção de H+ pelo epitélio
Com base nos princípios discutidos anteriormente,
tubular é necessária tanto para reabsorção de HC03“ como
podemos quantificar a excreção renal efetiva de ácido ou a
para a geração de novo HC03_ associado à formação de
adição ou eliminação efetiva de bicarbonato do sangue da
ácido titulável. Por conseguinte, a secreção de H+ deve ser
seguinte maneira.
cuidadosamente regulada para que os rins realizem de
A excreção de bicarbonato é calculada como débito
urinário multiplicado pela concentração urinária de HC03“. modo eficaz suas funções na homeostasia acidobásica. Sob
Esse número indica quão rapidamente os rins estão condições normais, os túbulos renais devem secretar pelo
removendo HC03~ do sangue (que é o mesmo que menos H+ suficiente para reabsorver quase todo o HC03“
acrescentar H+ ao sangue). Na alcalose, a perda de HCO;_ que é filtrado, e, ainda, H+ suficiente para ser excretado
ajuda a retornar o pH do plasma ao normal. como ácido titulável ou NH4+, o que efetivamente retira do
A quantidade de novo HCO ~ acrescentada ao sangue, a líquido extracelular os ácidos não voláteis produzidos
qualquer momento, é igual à quantidade de H+ secre- tada todos os dias pelo metabolismo.
restante no lúmen tubular com os tampões urinários não Na alcalose, a secreção tubular de H+ é reduzida o
bicarbonato. Como discutido, as fontes primárias de bastante para que ocorra reabsorção mínima de HC03“,
tampões urinários não bicarbonato são NH4+ e fosfato. permitindo que os rins aumentem a excreção de HC03“.
Portanto, a quantidade de HCO,~ acrescentada ao sangue Nessas condições, o ácido titulável e a amônia não são
(e H+ excretado por NH4+) é calculada medindo-se a excretados porque não existe H+ disponível para se
excreção de NH4+ (débito urinário multiplicado pela combinar com tampões não bicarbonato; portanto, não há
concentração urinária de NH4+). novo HC03“ acrescentado à urina na alcalose. Durante a
O restante do tampão não bicarbonato e não NH4+ acidose, a secreção tubular de H+ está aumentada o
excretado na urina é medido determinando-se o valor suficiente para reabsorver todo o HC03~ filtrado com H+
conhecido como ácido titulável. A quantidade de ácido suficiente para excretar grandes quantidades de NH4+ e
titulável na urina é medida titulando-se a urina com base ácido titulável, contribuindo assim com grandes
forte como NaOH no pH de 7,4; o pH do plasma normal e o quantidades de novo HC03~ para o líquido extracelular
pH do filtrado glomerular. Essa titulação inverte os eventos total do corpo. Os estímulos mais importantes para aumentar a
ocorridos no lúmen tubular quando o líquido tubular foi secreção de H+ pelos túbulos na acidose são (1) aumento da Pco2
titulado pelo H+ secretado. Portanto, o número de do líquido extracelular na acidose respiratória e (2)
miliequivalentes de NaOH necessário para retornar o

412
Capítulo 30 Regulação Acidobásica

aumento da concentração do H+, no líquido extracelular cador Na+-H+ no túbulos renais e (2) aumento dos níveis de
(menorpH), na acidose respiratória ou metabólica.

UNIDA
aldosterona que estimulam a secreção de H+ pelas células
As células tubulares respondem diretamente ao intercaladas dos túbulos coletores corticais. Portanto, a
aumento da Pco2 do sangue, como ocorre na acidose depleção do volume do líquido extracelular tende a causar
respiratória com aumento da secreção de H+ da seguinte alcalose devido à excessiva secreção de H+ e de reabsorção
maneira: a Pco; elevada aumenta a Pco2 das células de HC03~.
tubulares, causando o aumento da formação de H+ nessas Variações da concentração plasmática de potássio
células, o que por sua vez estimula a secreção de H+. O podem também influenciar a secreção de H+, com a hipo-
segundo fator que estimula a secreção de H+ é o aumento calemia estimulando e hipercalemia inibindo a secreção de
da concentração de H+ do líquido extracelular (diminuição H+ no túbulo proximal. Redução da concentração
do pH). plasmática de potássio tende a aumentar a concentração de
Fator especial que pode aumentar a secreção de H+, sob H+ nas células tubulares renais, o que por sua vez estimula
algumas condições fisiopatológicas, é a secreção excessiva a secreção de H+ e a reabsorção de HC03~ e leva à alcalose.
de aldosterona. A aldosterona estimula a secreção de H+ A hipercalemia diminui a secreção de H+ e a reabsorção de
pelas células intercaladas do dueto coletor. Por HC03“ e tende a causar acidose.
conseguinte, a secreção excessiva de aldosterona, como
ocorre na síndrome de Conn, pode aumentar a secreção de
H+ no líquido tubular e consequentemente aumentar as
Correção Renal da Acidose — Maior
quantidades de HC03“ adicionado reabsorvido para o
Excreção de H+e Adição de HC03~ ao
sangue. Pacientes com secreção excessiva de aldosterona
Líquido Extracelular
geralmente desenvolvem alcalose.
As células tubulares, em geral, respondem à queda da
Agora que já descrevemos o mecanismo pelo qual os rins
concentração de H+ (alcalose) reduzindo a secreção de H+.
secretam H+ e reabsorvem HC03~, podemos explicar como
A diminuição da secreção de H+ resulta da redução da Pco2
os rins reajustam o pH do líquido extracelular quando
extracelular, como ocorre na alcalose respiratória, ou de
ocorrem anormalidades.
queda da concentração de H+ per se, como ocorre tanto na
Consultando a Equação 8, a Equação de Henderson-
alcalose metabólica quanto na respiratória.
Hasselbalch, podemos ver que a acidose ocorre quando a
A Tabela 30-2 resume os principais fatores que
proporção de HC03~ para CO.; no líquido extracelular
influenciam a secreção de H+ e a reabsorção de HC03~.
Alguns deles não estão diretamente relacionados à diminui, reduzindo assim o pH. Se esta razão diminui
regulação do balanço acidobásico. Por exemplo, a secreção devido a uma queda em HC03~, a acidose é denominada
de H+ é conjugada com a reabsorção de Na+ pelo trocador acidose metabólica. Se o pH cai por causa de um aumento na
de Na+-H+ no túbulo proximal e no ramo ascendente Pco2, a acidose é denominada acidose respiratória.
espesso da alça de Henle. Portanto, os fatores que
estimulam a reabsorção de Na+, tais como a redução do A Acidose Diminui a Proporção de HC03-/H+
volume do líquido extracelular, podem, também, aumentar no Líquido Tubular Renal
secundariamente a secreção de H+. Tanto a acidose respiratória quanto a metabólica causam
A depleção do volume do líquido extracelular estimula uma diminuição na proporção de HCO," para H+ no
a reabsorção de sódio pelos túbulos renais e aumenta a líquido tubular renal. Como consequência, ocorre excesso
secreção de H+ e a reabsorção de HC03~ por múltiplos de H+ nos túbulos renais, causando reabsorção completa de
mecanismos, incluindo (1) aumento dos níveis de angio- HC03” e ainda deixando H+ disponível para combinar-se
tensina II que estimulam diretamente a atividade do tro- com os tampões NH4+ e HP04= na urina. Assim, na acidose,
os rins reabsorvem todo o HC03“ filtrado e contribuem
para a formação de novo HC03“ através da formação de
Tabela 30-2 Fatores Que Aumentam ou Diminuem a Secreção NH4+ e ácido titulável.
de H+ e a Reabsorção de HC03“ pelos Túbulos Renais Na acidose metabólica, ocorre excesso de H+ em relação a HCO
~ no líquido tubular basicamente devido à menor fütração de
Aumentam a Secreção de Diminuem a Secreção de H+ HCOj. A diminuição da filtração de HC03" é causada
H+ e a Reabsorção de e a Reabsorção de HC03- principalmente por uma queda na concentração de HC03“
HC03"
do líquido extracelular.
f Pco2 I Pco2
Na acidose respiratória, o excesso de H+ no líquido
f H+, i HC03- i H+, t HC03- tubular deve-se principalmente ao aumento na Pco2 do
líquido extracelular, que estimula a secreção de H+.
i Volume do líquido t Volume do líquido
extracelular extracelular Como discutimos antes, na acidose crônica,
independentemente de ser metabólica ou respiratória,
f Angiotensina II i Angiotensina II ocorre aumento da produção de NH4+ que contribui ainda
f Aldosterona i Aldosterona mais para a excreção de H+ e adição de novo HC03“ ao
líquido extracelular. Com acidose crônica grave, até 500
Hipocalemia Hipercalemia
mEq/dia

413
Unidade V Os Líquidos Corporais e os Rins

de H+ podem ser excretados na urina, principalmente na A Alcalose Aumenta a Proporção de HC03 /H+
forma de NH4+; isto por sua vez contribui com até 500 no Líquido Tubular Renal
mEq/dia de novo HC03~ que é acrescentado ao sangue. Independentemente de a alcalose ser causada por
Dessa forma, na acidose crônica, a secreção aumentada anormalidades metabólicas ou respiratórias, ela ocorre por
de H+ pelos túbulos ajuda a eliminar o excesso de H+ do aumento da proporção de HC03“ para H+ no líquido
corpo e aumenta a quantidade de HC03“ no líquido tubular renal. O efeito resultante é excesso de HCO/ que
extracelular. Isso aumenta a fração de HC03~ do sistema- não pode ser reabsorvido pelos túbulos e é portanto
tampão bicarbonato que, de acordo com a equação de excretado na urina. Assim, na alcalose, o HCO/ é removido
Henderson-Hasselbalch, aumenta o pH extracelular e do líquido extracelular por excreção renal, o que faz o
contribui para a correção da acidose. Se a acidose for mesmo efeito de se acrescentar H+ ao líquido extracelular.
mediada metabolicamente, a compensação adicional pelos Isso contribui para o retorno da concentração de H+ e do
pulmões causa redução da Pco.2, contribuindo pH ao normal.
adicionalmente para a correção da acidose. A Tabela 30-3 mostra as características gerais da
A Tabela 30-3 resume as características associadas à alcalose respiratória e metabólica. Na alcalose respiratória,
acidose metabólica e à respiratória, bem como da alca- lose ocorre aumento no pH do líquido extracelular e queda da
metabólica e respiratória que serão discutidas na próxima concentração de H+. A causa da alcalose é a diminuição da
seção. Observe que na acidose respiratória ocorre aumento da Pco2plasmática causada por hiperventilação. A redução da Pco2
concentração de H+ (redução do pH) do líquido gera queda da secreção de H+ pelos túbulos renais. A
extracelular e aumento da Pco2, a causa inicial da acidose. A diminuição da secreção de H+ reduz a quantidade de H+ no
resposta compensatória é aumento do HCO' do plasma, causado líquido tubular renal. Consequentemente, não existe H+
pela adição de novo HCO.~ ao líquido extracelular pelos rins. O suficiente para reagir com todo o HC03“ filtrado. Por
aumento do HCO,” compensa o aumento na Pco2, conseguinte, o HCO/ que não reage com o H+ não é
contribuindo assim para o retorno do pH plasmático ao reabsorvido e é excretado na urina, resultando em redução
normal. da concentração plasmática de HCO,“ e correção da
Na acidose metabólica, também ocorre diminuição do pH alcalose. Portanto, a resposta compensatória à redução primária
e aumento da concentração de H+ no líquido extracelular. da Pco^ na alcalose respiratória é a redução na concentração
Entretanto, neste caso, a anormalidade primária é uma plasmática de HCO ; pela maior excreção de HC03~.
diminuição do HCO;3“ plasmático. As compensações Na alcalose metabólica, ocorre aumento do pH plasmático
primárias incluem aumento na taxa de ventilação, que reduz a e redução da concentração de H+. A causa da alcalose
Pco.^ e compensação renal, que, ao acrescentar novo bicarbonato metabólica, entretanto, é o aumento da concentração de HCO ~ no
ao líquido extracelular, contribui para minimizar a queda inicial líquido extracelular. Isso é parcialmente compensado por
na concentração de HCO: extracelular. redução da frequência respiratória, o que aumenta a Pco2 e
contribui para retornar o pH do líquido extracelular ao
normal. Além disso, o aumento da concentração de HC03"
Correção Renal da Alcalose — Diminuição da no líquido extracelular leva a aumento da carga filtrada de
Secreção Tubular de H+ e Aumento da Excreção HCO/, que por sua vez gera excesso de HC03_ em relação
de HC03“ ao H+ secretado no líquido tubular renal. O excesso de
HC03~ no líquido tubular não pode ser reabsorvido porque
As respostas compensatórias à alcalose são basicamente não existe H+ para reagir e então é excretado na urina. Na
opostas às que ocorrem na acidose. Na alcalose, a alcalose metabólica, as compensações primárias são diminuição da
proporção de HCO,” para CO,2 no líquido extracelular ventilação, o que aumenta a Pco^ e maior excreção renal de HCO
aumenta, causando uma elevação no pH (uma queda na ~, que contribui para compensar o aumento inicial da
concentração de H+), conforme evidenciado na equação de concentração de HCO ~ no líquido extracelular.
Henderson-Hasselbalch.

Tabela 30-3 Características dos Distúrbios Acidobásicos Primários

pH H+ Pco2 HCO3-

Normal 7,4 40 mEq/L 40 mmHg 24 mEq/L

Acidose respiratória I t tt t

Alcalose respiratória t ii

Acidose metabólica 1 t i ii

Alcalose metabólica t i t tt
O evento primário está indicado pelas setas duplas (tf ou JT)- Observe que distúrbios acidobásicos respiratórios são iniciados por aumento ou
diminuição na Pco^ enquanto distúrbios metabólicos são iniciados por aumento ou diminuição no HC0 3\

414
Capítulo 30 Regulação Acidobásica

Causas Clínicas dos Distúrbios Acidobásicos tubular renal incluem a insuficiência renal crônica, a secreção

UNIDA
insuficiente de aldosterona (doença de Addison) e diversos
A Acidose Respiratória Resulta de Ventilação distúrbios adquiridos e hereditários que afetam a função tubular,
Diminuída e Pco Aumentada
2
como a síndrome de Fanconi (Cap. 31).
A partir da discussão prévia, fica claro que qualquer fator que Diarréia. A diarréia grave é provavelmente a causa mais
diminua a ventilação pulmonar aumenta também a Pco2 do líquido frequente de acidose metabólica. A causa dessa acidose é a perda de
extracelular, causando aumento da concentração de H2C03 e H+, grandes quantidades de bicarbonato de sódio nas fezes. As
resultando assim em acidose. Quando a acidose é causada por secreções gastrointestinais contêm normalmente grandes
anormalidade na respiração, é denominada acidose respiratória. quantidades de bicarbonato, e a diarréia resulta na perda de HC0 3-
A acidose respiratória pode ser consequência de condições pelo corpo, efeito similar ao de perder grandes quantidades de
patológicas que comprometem os centros respiratórios ou que bicarbonato na urina. Essa forma de acidose metabólica pode ser
diminuem a capacidade de os pulmões eliminarem C0 2. Por particularmente grave e pode levar ao óbito, especialmente em
exemplo, danos ao centro respiratório, no bulbo, podem levar à crianças.
acidose respiratória. Além disso, a obstrução das vias aéreas do Vômito de Conteúdos Intestinais. O vômito do conteúdo
trato respiratório, pneumonia, enfisema ou diminuição da área de gástrico, por si só, causa perda de ácido e tendência à alcalose, já
superfície da membrana pulmonar, bem como qualquer fator que que as secreções gástricas são extremamente ácidas. Entretanto, o
interfira na troca de gases entre o sangue e o ar alveolar, podem vômito de grande quantidade de conteúdo intestinal resulta em
causar acidose respiratória. acidose metabólica, do mesmo modo que a diarréia causa acidose.
Na acidose respiratória, as respostas compensatórias Diabetes Melito. O diabetes melito é causado pela falta de
disponíveis são (1) os tampões dos líquidos corporais e (2) os rins, secreção de insulina pelo pâncreas (diabetes tipo I) ou pela
que necessitam de vários dias para compensar o distúrbio. diminuição da sensibilidade dos tecidos à insulina (diabetes tipo II).
Nos dois casos, como o efeito da insulina é insuficiente, os tecidos
AAlcalose Respiratória Resulta de Ventilação não terão glicose suficiente para o metabolismo. Em vez disso,
Aumentada e Pco Diminuída
2 algumas gorduras são degradadas a ácido acetoacético que é
A alcalose respiratória é causada por ventilação pulmonar utilizado como fonte de energia pelas células, no lugar da glicose.
excessiva. Raramente ocorre por condição fisiopatológica. Todavia, No diabetes melito grave, os níveis sanguíneos de ácido
a psiconeurose ocasionalmente pode aumentar a frequência acetoacético podem aumentar muito, causando acidose metabólica
respiratória (e a ventilação) até grau que leva à alcalose. grave. Em consequência da acidose, grande quantidade de ácido é
Ocorre tipo fisiológico de alcalose respiratória quando a pessoa eliminada na urina, às vezes até 500 mmol/dia.
está em altitude elevada. O ar com oxigênio reduzido estimula a Ingestão de Ácidos. Raramente, grande quantidade de ácidos
respiração, causando perda excessiva de C0 2 e desenvolvimento de é ingerida na alimentação normal. Entretanto, a acidose metabólica
alcalose respiratória branda. Mais uma vez, os principais grave resulta ocasionalmente da ingestão de determinados venenos
mecanismos compensatórios são os tampões químicos dos líquidos ácidos. Alguns deles incluem o acetilsa- licílico (aspirina) e o
corporais e a capacidade dos rins de aumentar a excreção de HC0 3~ metanol (que forma ácido fórmico ao ser metabolizado).
Insuficiência Renal Crônica. Quando a função renal decai
A Acidose Metabólica Resulta de Menor
acentuadamente, ocorre acúmulo dos ânions de ácidos fracos nos
Concentração de HC03‘ no Líquido Extracelular
líquidos corporais que não estão sendo excretados pelos rins. Além
O termo acidose metabólica refere-se a todos os outros tipos de
disso, a redução da filtração glomerular reduz a excreção de fosfatos
acidose, além da causada por excesso de CO, nos líquidos
e de NHQ o que reduz a quantidade de HC0 3~ que retorna aos
corporais. A acidose metabólica pode ter origem em diversas
líquidos corporais. Assim, a insuficiência renal crônica pode estar
causas gerais: (1) deficiência na excreção renal dos ácidos
associada à acidose metabólica grave.
normalmente formados no corpo, (2) formação de quantidades
excessivas de ácidos metabólicos no corpo, (3) adição de ácidos
metabólicos ao corpo por ingestão ou infusão paren- teral e (4)
perda de base pelos líquidos corporais, que tem o mesmo efeito que
acrescentar ácido aos líquidos corporais. Algumas condições
específicas que causam acidose metabólica são as seguintes.
AAlcalose Metabólica Resulta da Maior
Acidose Tubular Renal. Esse tipo de acidose resulta de defeito
Concentração de HCOB no Líquido Extracelular
na secreção renal de H+ ou na reabsorção de HCO ~ ou de ambos.
Quando ocorre excesso de retenção de HC03~ ou de perda de H+
Esses distúrbios são geralmente de dois tipos: (1)
pelo corpo, aparece a alcalose metabólica, que não é condição tão
comprometimento da reabsorção tubular renal de HCOQ causando
comum quanto a acidose metabólica, mas algumas de suas causas
perda de HC03“ na urina ou (2) incapacidade do mecanismo
são descritas a seguir.
secretório de H+ dos túbulos renais em estabelecer a urina ácida
Administração de Diuréticos (Exceto os Inibidores da Ani-
normal, causando excreção de urina alcalina. Nesses casos, menor
drase Carbônica). Todos os diuréticos causam aumento do fluxo
quantidade de ácido titulável e de NH4+ é excretada, de modo que
de líquido pelos túbulos, geralmente aumentando o fluxo nos
ocorre acúmulo efetivo de ácido nos líquidos corporais. Algumas
túbulos distais e coletores. Por conseguinte, ocorre maior reabsorção
causas de acidose
de Na+ nessas partes dos néfrons. Como aí a reabsorção de sódio é
acoplada à secreção de H+, a reabsorção mais intensa de sódio
também leva ao aumento da secreção de H+ e da reabsorção de
bicarbonato. Essas alterações levam ao desenvolvimento de
alcalose, caracterizada por maior concentração de bicarbonato no
líquido extracelular.

415
Unidade V Os Líquidos Corporais e os Rins

Excesso de Aldosterona. Quando grande quantidade de três medidas, em amostra do sangue arterial: pH, concentração
aldosterona é secretada pelas glândulas adrenais, desenvol- ve-se plasmática de bicarbonato e Pco2.
alcalose metabólica branda. Como discutido, a aldosterona O diagnóstico dos distúrbios acidobásicos simples envolve
promove a extensa reabsorção de Na+ nos túbulos distais e várias etapas, como mostrado na Figura 30-10. Examinando-se o
coletores, estimulando também a secreção de H+ pelas células pH, é possível determinar se o distúrbio é acidose ou alcalose. O
intercaladas dos túbulos coletores. Essa maior secreção de H+ leva à pH inferior a 7,4 indica acidose, enquanto o pH acima de 7,4 indica
sua maior excreção pelos rins e portanto à alcalose metabólica. alcalose.
Vômito do Conteúdo Gástrico. O vômito do conteúdo A segunda etapa é medir a Pco2 e a concentração plasmática de
gástrico, por si só, sem haver vômito do conteúdo gastrointestinal HC03“. O valor normal da Pco2 é cerca de 40 mmHg, e de HC03“,
inferior, causa perda do HC1 secretado pela mucosa gástrica. Isso 24 mEq/L. Se o distúrbio tiver sido caracterizado como acidose e a
resulta em perda de ácido do líquido extrace- lular e Pco2 plasmática estiver elevada, deve haver componente
desenvolvimento de alcalose metabólica. Esse tipo de alcalose respiratório na acidose. Após a compensação renal, a concentração
ocorre especialmente em recém-nascidos com obstrução pilórica plasmática de HC03" na acidose respiratória tendería a aumentar
causada por hipertrofia muscular do esfínc- ter pilórico. para valores acima do normal. Portanto, os valores esperados de
Ingestão de Agentes Alcalinos. Causa comum de alcalose acidose respiratória simples seriam pH plasmático reduzido,
metabólica é a ingestão de agentes alcalinos, como bicar- bonato de Pco2 elevada e maior concentração plasmática de HCO ~, após a
sódio, para o tratamento de gastrite ou úlcera péptica. compensação parcial renal.
Na acidose metabólica ocorre também redução do pH
plasmático. Entretanto, com a acidose metabólica, a anormalidade
Tratamento da Acidose ou da Alcalose primária é a queda da concentração plasmática de HCO?~.
Portanto, se pH baixo estiver associado à concentração reduzida
O melhor tratamento para a acidose ou a alcalose é corrigir a
de HC03“, deve haver componente metabó- lico na acidose. Na
condição que causou a anormalidade. É algo muitas vezes difícil
acidose metabólica simples, a Pco2 está reduzida devido à
especialmente em doenças crônicas que causam comprometimento
compensação parcial respiratória em contraste com a acidose
da função pulmonar ou insuficiência renal. Nessas circunstâncias,
respiratória, na qual a Pco2 está elevada. Assim, na acidose
diversos agentes podem ser usados para neutralizar o excesso de
metabólica simples, a expectativa seria encontrarmos pH baixo,
ácido ou base no líquido extracelular.
concentração plasmática de HCO ~ baixa e redução da Pco., após
Para neutralizar o excesso de ácido, grandes quantidades de
a compensação parcial respiratória.
bicarbonato de sódio podem ser ingeridas. O bicar- bonato de sódio
Os procedimentos para categorizar os tipos de alcalose
é absorvido pelo trato gastrointestinal para o sangue e aumenta a
envolvem as mesmas etapas básicas. Primeiro, alcalose implica
fração de HC03~ do sistema- tampão bicarbonato, aumentando o
que ocorre aumento do pH plasmático. Se o aumento do pH
pH. O bicarbonato de sódio pode ainda ser administrado por via
estiver associado à redução da Pco2, deve haver componente
intravenosa, mas, devido aos efeitos fisiológicos potencialmente
respiratório na alcalose. Se o aumento do pH estiver associado ao
perigosos desse tratamento, outras substâncias em geral são usadas
maior HC03“, deve haver componente meta- bólico na alcalose.
em seu lugar, como, por exemplo, o lactato de sódio e o gluconato
Portanto, na alcalose respiratória sim-
de sódio. As porções lactato e gluconato das moléculas são
metabolizadas no corpo, deixando o sódio do líquido extracelular
na forma de bicarbonato de sódio e, assim, aumentando o pH.
Para o tratamento da alcalose, pode-se administrar cloreto de
amônio por via oral. Quando o cloreto de amônio é absorvido pelo
sangue, a porção amônia é convertida pelo fígado em ureia. Essa
reação libera HC1 que prontamente reage com os tampões dos
Amostra de sangue arterial

T
líquidos corporais, alterando a concentração de H+ na direção ácida
(diminuição do pH). O cloreto de amônio pode ser administrado
por via intravenosa, mas o NH4+ é muito tóxico e esse
procedimento pode ser perigoso. Outra substância usada <7,4 >7,4
pH?
ocasionalmente é o monocloridrato de Usina.
f 1

Acidose Alcalose

HCO3 Pco2 HCO3 Pco2


< 24 mEq/Ly y> 40 > 24 mEq/Ly y < 40
mmHg mmHg
Metabólica Respiratória Metabólica Respiratória

TTTT
Compensação Compensação Compensação Compensação
respiratória renal respiratória renal
Medidas Clínicas de Análise dos Distúrbios
Acidobásicos Pco2 HCOg > 24 Pco2 HCO3
< 40 mmHg mEq/L > 40 mmHg < 24 mEq/L
A terapia apropriada dos distúrbios acidobásicos requer o
Figura 30-10 Análise de distúrbios acidobásicos simples. Se as
diagnóstico adequado. Os distúrbios acidobásicos simples,
respostas compensatórias forem muito diferentes das mostradas
descritos antes, podem ser diagnosticados pela análise de na parte inferior da figura, deve-se suspeitar de distúrbio acido-
básico misto.

416
Capítulo 30 Regulação Acidobásica

pies, a expectativa seria encontrarmos pH elevado, Pco2 reduzida valores normais e os desvios na faixa que ainda podem ser

UNIDA
e menor concentração plasmática de HCO ~. Na alcalose considerados normais. As áreas sombreadas do diagrama mostram
metabólica simples, a expectativa seria encontrar pH elevado, os limites de confiança de 95% das compensações normais dos
maior concentração plasmática de HCO ~ e Pco2 elevada. distúrbios metabólicos e respiratórios simples.
Ao usar esse diagrama, deve-se assumir que houve tempo
Distúrbios Acidobásicos Complexos e Uso de suficiente para haver resposta compensatória completa, cerca de 6 a
Nomograma Acidobásico para o Diagnóstico 12 horas, para a compensação ventilatória nos distúrbios
Em alguns casos, os distúrbios acidobásicos não são acompanhados metabólicos primários, e 3 a 5 dias para compensações metabólicas
por respostas compensatórias apropriadas. Quando isso ocorre, a nos distúrbios respiratórios primários. Se um valor estiver dentro
anormalidade é considerada como distúrbio acidobásico misto. Isto da área sombreada, isto sugere que ocorre distúrbio acidobásico
significa que existem duas ou mais causas subjacentes para o simples. Por outro lado, se os valores de pH, bicarbonato ou Pco 2
distúrbio acidobásico. Por exemplo, paciente com pH plasmático estiverem fora da área sombreada, isso sugere que pode haver
baixo seria categorizado como acidótico. Se o distúrbio for mediado distúrbio acidobásico misto.
metabolicamente, seria também acompanhado por concentração É importante levar em conta que valor acidobásico, dentro da
plasmática de HC03“ baixa e, após a compensação respiratória área sombreada, nem sempre significa que existe distúrbio
apropriada, Pco2 baixa. Entretanto, se o pH plasmático baixo e a acidobásico simples. Considerando-se tal reserva, os diagramas
concentração de HC03“ baixa estiverem associados à Pco2 elevada, acidobásicos podem ser usados como modo rápido de determinar o
suspeitaríamos de componente respiratório na aci- dose, bem como tipo específico e a gravidade do distúrbio acidobásico.
componente metabólico. Portanto, esse distúrbio seria categorizado Por exemplo, assumindo-se que o plasma arterial do paciente
como acidose mista. Isso podería ocorrer, por exemplo, em paciente gera os seguintes valores: pH 7,30, concentração plasmática de
acometido por perda aguda de HC03“ pelo trato gastrointestinal, HC03" 12,0 mEq/L, e Pco2 plasmática 25 mmHg, poderiamos ver no
devido à diarréia (acidose metabólica) e ao enfisema (acidose diagrama que isso representa acidose metabólica simples, com
respiratória). compensação respiratória apropriada que reduz a Pco2 do seu
Maneira conveniente de diagnosticar distúrbios acidobásicos é o limite normal de 40 mmHg para 25 mmHg.
uso do nomograma acidobásico, ilustrado na Figura 30-11. Esse Outro exemplo seria o de um paciente com os seguintes valores:
diagrama pode ser usado para determinar o tipo de acidose ou de pH 7,15, concentração plasmática de HC0 3“ 7 mEq/L, e Pco,
alcalose, bem como sua gravidade. Nesse diagrama acidobásico, os plasmática 50 mmHg. Nesse exemplo, o paciente encontra-se em
valores do pH, da concentração de HC0 3_ e da Pco2 se cruzam de acidose e parece haver componente metabólico, porque a
acordo com a equação de Henderson-Hasselbalch. O círculo central concentração plasmática de HC03“
aberto mostra os

Figura 30-11 Nomograma acidobásico mostrando os valores do pH do sangue arterial, concentração de HC03" arterial plasmático e
Pco2. O círculo central aberto mostra os limites aproximados do estado acidobásico em indivíduos normais. As áreas sombreadas no
nomograma mostram os limites aproximados das compensações normais dos distúrbios metabólicos e respiratórios simples. No caso
de valores fora das áreas sombreadas, deve-se suspeitar de distúrbio acidobásico misto. (Adaptada de Cogan MG, Rector FC Jr;
Acid-Base Disorders in the Kidney, 3rd ed. Filadélfia: WB Saunders, 1986.)

417
Unidade V Os Líquidos Corporais e os Rins

Tabela 30-4 Acidose Metabólica Associada a Hiato Aniônico


está inferior ao valor normal de 24 mEq/L. Entretanto, a Plasmático Normal ou Elevado
compensação respiratória que normalmente reduziria a Pco2 está
ausente, e a Pco2 está pouco acima do valor normal de 40 mmHg.
Hiato Aniônico Elevado Hiato Aniônico Normal
Tais eventos são compatíveis com distúrbio acidobásico misto, (Normocloremia) (Hipercloremia)
consistindo em acidose metabólica com componente respiratório.
O diagrama acidobásico serve como modo rápido de avaliar o Diabetes melito (cetoacidose) Diarréia
tipo e a gravidade de distúrbios que podem estar contribuindo para Acidose láctica Acidose tubular renal
o pH, a Pco2 e a concentração plasmática de bicarbonato anormais. Insuficiência renal crônica Inibidores da anidrase
Em âmbito clínico, a história do paciente e outros achados físicos Envenenamento por aspirina carbônica
também proporcionariam pistas importantes das causas e do (ácido acetilsalicílico) Doença de Addison
tratamento dos distúrbios acidobásicos. Envenenamento por metanol
Envenenamento por
O Uso do Hiato Aniônico (Anion Gap) para etilenoglicol Inanição
Diagnosticar Distúrbios Acidobásicos
As concentrações de ânions e cátions no plasma devem ser iguais
para manter a neutralidade elétrica. Portanto, não existe um “hiato
aniônico” real no plasma. Entretanto, somente alguns cátions e
ânions são medidos como rotina no laboratório clínico. O cátion Referências
normalmente medido é o Na+, e os ânions, em geral, são CT e Attmane-Elakeb A, Amlal H, Bichara M: Ammonium carriers in medullary
HC03". O “hiato aniônico” (que é apenas conceito diagnóstico) é a thick ascending limb, Am J Physiot Renal Physiol 280:F1, 2001.
diferença entre os ânions não medidos e os cátions não medidos, e é Alpern RJ: Renal acidification mechanisms. In Brenner BM, ed: The Kidney,
estimado como: ed 6, Philadelphia, 2000, WB Saunders, pp 455-519.
Breton S, Brown D: New insights intothe regulation ofV-ATPase-dependent
Hiato aniônico plasmático = [Na+] - [HCOB~] - proton secretion, Am J Physiol Renal Physiol 292:F1, 2007.
[CE] Decoursey TE: Voltage-gated proton channels and other proton transfer
= 144-24-108= 12 mEq/L pathways, Physiol Rev 83:475,2003.
O hiato aniônico aumentará se os ânions não medidos Fry AC, Karet FE: Inherited renal acidoses, Physiology (Bethesda) 22:202,
2007.
aumentarem ou se os cátions não medidos caírem. Os cátions não
Gennari FJ, Maddox DA: Renal regulation of acid-base homeostasis. In
medidos mais importantes incluem cálcio, magnésio e potássio, e os
Seldin DW, Giebisch G, eds: The Kidney—Physiology and
ânions não medidos mais importantes incluem albumina, fosfato,
Pathophysiology, ed 3, New York, 2000, Raven Press, pp 2015-2054.
sulfato e outros ânions orgânicos. Geralmente, os ânions não Good DW: Ammonium transport by the thick ascending limb of Henle's
medidos excedem os cátions não medidos, e o hiato aniônico vai de loop, Ann Rev Physiol 56:623,1994.
8 a 16 mEq/L. Igarashi I, Sekine T, Inatomi J, et al: Unraveling the molecular pathogenesis
O hiato aniônico plasmático é usado principalmente para of isolated proximal renal tubular acidosis, JAm Soc Nephrol 13:2171,
diagnosticar diferentes causas da acidose metabólica. Na acidose 2002.
metabólica, o HCO. ~ é reduzido. Se a concentração plasmática de Karet FE: Inherited distai renal tubular acidosis, JAm Soc Nephrol 13:2178,
2002.
sódio permanecer inalterada, a concentração de ânions (seja CE ou
Kraut JA, Madias NE: Serum anion gap: its uses and limitations in clinicai
um ânion não medido) deve aumentar para manter a
medicine, Clin JAm Soc Nephrol 2:162,2007.
eletroneutralidade. Se o CE plasmático aumentar em proporção à
Laffey JG, Kavanagh BP: Hypocapnia, N EnglJ Med 347:43,2002.
queda de HC03~ no plasma, o hiato aniônico permanecerá normal. Lemann J Jr, Bushinsky DA, Hamm LL: Bone buffering of acid and base in
Essa ocorrência é geralmente chamada de acidose metabólica humans, Am J Physiol Renal Physiol 285:F811, 2003.
hiperclorêmica. Madias NE, Adrogue HJ: Cross-talk between two organs: how the kidney
Se a queda do HC03” plasmático não estiver acompanhada de responds to disruption of acid-base balance by the lung, Nephron
aumento do CE, deve haver níveis elevados de ânions não medidos Physiol 93:61, 2003.
e portanto aumento do hiato aniônico calculado. A acidose Purkerson JM, Schwartz GJ:The role of carbonic anhydrases in renal
physiology, Kidney Int 71:103, 2007.
metabólica causada por excesso de ácidos não voláteis (além do
Wagner CA, Finberg KE, Breton S, et al: Renal vacuolar H+-ATPase, Physiol
HC1), como o ácido lático ou cetoácidos, está associada a aumento
Rev 84:1263, 2004.
no hiato aniônico plasmático, porque a queda do HC0 3“ não é
Wesson DE, Alpern RJ, Seldin DW: Clinicai syndromes of metabolic alka-
acompanhada por aumento equivalente do CE. Alguns exemplos losis. In Seldin DW, Giebisch G, eds: The Kidney—Physiology and
de acidose metabólica associada a hiato aniônico normal ou elevado Pathophysiology, ed 3, New York, 2000, Raven Press, pp 2055-2072.
estão demonstrados na Tabela 30-4. Ao se calcular o hiato aniônico, White NH: Management of diabetic ketoacidosis, RevEndocrMetab Disord
podem-se delimitar algumas das causas potenciais da acidose 4:343, 2003.
metabólica.

418

Você também pode gostar