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A Natureza do Ser Humano

 Daniel Conegero

A natureza do ser humano é complexa – embora seja uma unidade. A Bíblia fala
tanto do aspecto material quanto do aspecto imaterial do ser humano. Então o
homem é uma criatura única nesse sentido.

Quando comparamos a natureza do ser humano à natureza dos seres espirituais,


por exemplo, entendemos como a pessoa do homem se distingue na obra da
criação. Anjos e demônios são seres incorpóreos – ainda que extraordinariamente
possam assumir a aparência humana (cf. Gênesis 18:2-19:22). Isso quer dizer que
diferentemente dos homens, eles não possuem uma parte material na constituição
de sua natureza.

Já a natureza do ser humano é constituída por uma parte material e outra imaterial
– embora sempre deva ser vista como uma unidade. Para evitar interpretações
equivocadas, ao invés de falar em “parte material” e “parte imaterial”, talvez seja
melhor falar em “aspecto material” e “aspecto imaterial” da natureza do ser
humano.

O aspecto material da natureza do ser humano evidentemente é o corpo. Mas com


relação ao seu aspecto imaterial, os cristãos têm adotado interpretações distintas
ao longo da História. Isso por que algumas passagens bíblicas falam da alma como
sendo esse aspecto imaterial, outras falam do espírito, e ainda outras falam da alma
e do espírito (cf. 1 Tessalonicenses 5:23; Hebreus 4:12).

O que basicamente tem sido discutido nesse sentido é se o aspecto imaterial da


natureza do ser humano é formado por dois elementos distintos – alma e espírito –,
ou se os vocábulos “alma” e “espírito” são utilizados de forma intercambiável
pelos autores bíblicos para falar do mesmo elemento imaterial da natureza do ser
humano visto de ângulos diferentes.
Quem defende que o aspecto imaterial da natureza do ser humano possui dois
elementos intimamente ligados, mas distintos – alma e espírito –, adotam uma
interpretação conhecida como Tricotomia. Já quem defende que alma e espírito
são apenas designações diferentes para a mesma substância da constituição da
natureza do ser humano, adotam uma interpretação chamada Dicotomia.

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A discussão sobre “alma” e “espírito” na


natureza do ser humano
Como vimos, historicamente os cristãos têm se dividido quanto à conceito bíblico
de alma e espírito. Tanto a visão tricotômica quanto a dicotômica da antropologia
bíblica são realmente muito antigas dentro Cristianismo.

A tricotomia, por exemplo, foi ensinada desde o tempo dos pais da Igreja, e
ganhou projeção principalmente entre os pais alexandrinos. Já a dicotomia é tão
antiga quanto, e durante muitos séculos foi a visão predominante, ou praticamente
única, acerca deste assunto dentro do pensamento cristão – visto que entre os
defensores da tricotomia surgiram ideias completamente injustificáveis
biblicamente e que muitas delas foram identificadas como heresias.
A tricotomia voltou a ganhar popularidade novamente apenas a partir do século 19,
quando alguns teólogos ingleses e alemães começaram a defender essa posição.
Então dentro do estudo teológico, podemos dizer que a dicotomia é a visão mais
tradicional e, até o século 19, a mais amplamente defendida.

No geral, os tricotomistas dizem que a Bíblia indica essa tripla divisão do ser do
homem. Para tanto, eles se apoiam principalmente em dois textos bíblicos: 1
Tessalonicenses 5:13 e Hebreus 4:12. Segundo os tricotomistas, esses textos
validam a alma e o espírito como coisas diferentes. A maioria dos tricotomistas
define a alma como sendo a parte imaterial do homem que forma sua
personalidade; e o espírito a parte através da qual o indivíduo interage em
questões espirituais.
Os dicotomistas, por sua vez, rejeitam essa ideia e defendem que a Bíblia fala da
alma e do espírito como sendo uma única parte imaterial do homem vista por
ângulos diferentes. Isso significa que “alma” e “espírito” são termos empregados
com o mesmo propósito pelos autores bíblicos.
Quanto aos textos que aplicam lado a lado os termos “alma” e “espírito”, como 1
Tessalonicenses 5:13 e Hebreus 4:12, os dicotomistas entendem que neles os
autores bíblicos empregam uma repetição de palavras sinônimas; um tipo de
paralelismo para enfatizar a ideia de totalidade da pessoa do homem. Saiba mais
sobre dicotomia e tricotomia.

O que é importante saber sobre a natureza


do ser humano?
Os tricotomistas e dicotomistas têm em comum a defesa da existência de uma
parte da natureza do ser humano que sobrevive à morte. Nisto as duas posições se
opõem diretamente contra qualquer conceito monista absoluto que afirma que o
homem é uma unidade radical indivisível e, no final, puramente materialista.

Sem dúvida o grande problema a ser evitado sobre isso é a tendência de enxergar
o aspecto material do homem como sendo inferior ao seu aspecto imaterial. Esse
tipo de pensamento não é bíblico e na verdade expressa o antigo pensamento
grego acerca da constituição da natureza do homem. Na filosofia grega a parte
material do homem é algo ruim que enclausura sua parte imaterial. Por isso em
nenhuma parte o pensamento grego considera a ideia da ressurreição do corpo.

Mas a doutrina bíblica apresenta o homem como uma unidade. Isso significa que o
homem não deve ser visto como um ser dividido em várias partes mais ou menos
valiosas. Porém, é verdade que embora seja um ser unitário, essa unidade é
também complexa e composta.

Isso quer dizer que a natureza do ser humano só está completa quando há o seu
aspecto material e seu aspecto imaterial. Por isso que a Bíblia enfoca a doutrina da
ressurreição do corpo. Com a morte, o aspecto imaterial do homem continua
existindo; mas o indivíduo só será completo novamente por ocasião da
ressurreição. A obra da redenção compreende na salvação da pessoa completa do
homem.

Por fim, discutir a coerência ou a incoerência das visões dicotômica e tricotômica


da natureza do ser humano, é um debate de ordem secundária. Há cristãos fieis e
verdadeiros em ambos os lados. O mais importante é entender que a natureza do
ser humano é uma unidade complexa, pois essa é uma verdade fundamental para o
correto entendimento de outras disciplinas teológicas – especialmente a
hamartiologia e a soteriologia que tratam, respectivamente, do impacto do pecado
na inteireza da natureza humana e de sua redenção em Cristo.

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