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CURSO DE PSICOFARMACOLOGIA
(PARA NÃO PSIQUIATRAS)

Dr. Geraldo José Ballone


Dra. Ida Ortolani
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CURSO DE PSICOFARMACOLOGIA
1a. Aula

Introdução
Indicações para Psicofarmacoterapia
A respeito das indicações para o uso da psicofarmacologia, deve ficar entendido que, inicialmente, não
discutiremos aqui as patologias psiquiátricas (os diagnósticos) e suas indicações farmacológicas mas,
sobretudo, que tipo de problemas podem e devem ser objetos da psicofarmacoterapia.
São 4 os parâmetros a serem considerados diante da questão “que tipo de transtorno emocional deve ser
tratado com a psicofarmacoterapia?”.

ETIOLOGIA DO QUADRO

De um modo geral, os medicamentos estão mais indicados, assim como outros tipos de terapia biológica, na
proporção em que predominam, na etiologia, elementos mais constitucionais que ambientais para o
desenvolvimento do quadro emocional.
Já que nunca se pode desatrelar o genótipo do ambiente, ou seja, as disposições pessoais das circunstâncias
ocasionais, na gênese dos transtornos emocionais, a figura ao lado foi idealizada para simbolizar situações
clínicas onde esses dois componentes interagem em proporções diferentes.
Vamos imaginar um retângulo cortado ao meio, de forma a compor 2 triângulos retângulos, um deles
representando os elementos constitucionais e o outro a plêiade dos elementos ambientais. Ao deslizarmos por
essa figura um ponteiro, vamos ver que de acordo com sua posição, estará sobre uma parte em cinza
(constitucional) e outra em branco (ambiental) em proporções bastante variáveis (figura abaixo).
Assim sendo, vamos localizando os quadros emocionais de acordo com a parte da figura que nos interessa,
ora predominando elementos constitucionais, ora ambientais.

Exemplo da conjunção entre a constituição e o ambiente. O ponteiro da esquerda está numa posição onde prevalece o
cinza (constitucional) e o da esquerda prevalece o branco (ambiental).
Algumas doenças emocionais se situam mais à esquerda que outras, dependendo da maior participação constitucional,
entretanto, mesmo assim, sempre haverá "uma ponta" de participação do ambiente, e vice-versa.

A Esquizofrenia, por exemplo, estaria representada pela parte da figura na extrema esquerda, onde se
observa muito maior predomínio de elementos constitucionais do que ambientais, ao contrário da situação
oposta, na parte da figura onde se nota predomínio expressivo de elementos ambientais onde se situaria, por
exemplo, a Reação Aguda ao Estresse.

A psicofarmacoterapia pode ser pensada em qualquer diagnóstico médico de transtorno emocional,


entretanto, será tão mais indicada e tão mais indispensável, quanto mais à esquerda de nossa figura puder ser
situada a etiologia do quadro em apreço.
Entretanto, essa regra simples não significa, automaticamente, sucesso garantido da psicofarmacologia nas
situações onde simplesmente predomina a constitucionalidade. Há casos onde os avanços da farmacologia
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ainda são insuficientes para uma eficácia absoluta; são os casos, por exemplo, das Síndrome Organomentais,
como as Demências, as Oligofrenias, as seqüelas de traumatismos cranianos ou acidentes vasculares. Mas
alguma coisa já começa a despontar nesse sentido, como é o caso da rivastigmina, da tacrina, etc.
Embora, como dissemos, a psicofarmacoterapia possa ser pensada em qualquer diagnóstico médico de
transtorno emocional, ela será tão mais insuficiente quanto mais à direita do espectro se situa a patologia, ou
seja, quanto mais predomínio das circunstâncias ambientais houver na etiologia. Nos casos eminentemente
reativos, portanto, predominantemente ambientais, a psicofarmacologia deve ser subsidiada pela psicoterapia
se houver pretensão de uma resolutividade mais firme e duradoura.
Transtorno do Pânico, por exemplo, reconhecidamente produzido por uma conjunção de fatores ambientais
conflituosos (em maior proporção) com um traço marcantemente ansioso de personalidade (figura abaixo),
resolve-se sintomaticamente e satisfatoriamente com antidepressivos, notadamente com antidepressivos de
capacidade ansiolítica, mas só se resolverá definitivamente se acoplarmos ao tratamento uma terapia
cognitivo-comportamental.

No ponteiro da Síndrome de Down prevalece a constituição, enquanto no Transtorno de Ansiedade prevalece o


ambiente, mas mesmo assim, ambos recebem influência do ambiente e da constituição respectivamente. Portanto, hoje
em dia, a gênese dos transtornos mentais comportam uma origem bio-psico-social; a proporção entre esses elementos é
que varia de patologia para patologia.

CURSO E EVOLUÇÃO DO QUADRO

Ao considerar o curso e a evolução da alteração emocional em apreço estamos, em suma, verificando se a


pessoa ESTÁ doente ou É doente, uma diferença absolutamente imprescindível. Para se construir a história
do curso e evolução do estado emocional atual, é desejável desenharmos a biografia da personalidade e das
emoções do paciente.

Ser emocionalmente problemático proporciona, através dos traços de personalidade, condições para que a
pessoa tenha tendência a desenvolver quadros crônicos e recidivantes.

Algumas questões devem ser esclarecidas nesse aspecto:

1. - Trata-se da primeira vez que o paciente apresenta esse quadro?

Se for a primeira vez, primeiro surto, episódio ou transtorno, há necessidade de verificar se a faixa etária do
paciente é compatível com o início das patologias crônicas, como por exemplo a esquizofrenia e o transtorno
bipolar, ou se foge dessa faixa etária. Se estiver dentro da população etária de risco (dos 20 aos 30 anos para
esquizofrenia e dos 15 aos 35 anos para o bipolar), há maior probabilidade de estarmos diante de um
primeiro episódio de uma patologia que se repetirá quase obrigatoriamente.
Caso seja o primeiro episódio e haja um fator vivencial desencadeante proporcionalmente importante, muito
provavelmente não se trata de uma pessoa doente, mas de alguém que está passando por uma fase ruim.
Portando, é maior a probabilidade de tratar-se, de fato, de um episódio único.

Não sendo episódio único, é bom ter em mente alguns números sugestivos: a probabilidade de um segundo
episódio depressivo é de 35%, de um terceiro é de 65% e de um quarto episódio, 90%. Em relação ao surto
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psicótico esquizofrênico tem-se algo pior, sendo 52% a probabilidade de um segundo surto e de 96% um
terceiro (probabilidade estimada sem tratamento de manutenção).

2. - Há fatores desencadeantes proporcionalmente importantes?

Quanto mais importante for o fator desencadeante, menos atrelado à constituição é a doença. A pessoa que
apresenta depressão, ou transtorno de ajustamento, etc, depois de perder a mãe, terá muito melhor
prognóstico do que aquele que manifesta o mesmo quadro sem perder a mãe.

Em termos de psicofarmacoterapia, embora possa ser indispensável em ambos os casos, ela será mais
insuficiente nos pacientes que necessitam adaptar-se a alguma vivência traumática do que naqueles cujo
estado emocional atual reflete mais um traço de personalidade adoecido que uma resposta à vivências. Para
aqueles que estão reagindo patologicamente às vivências, a psicoterapia (associada) é de fundamental
importância.

Tentando elaborar uma regra didática simples, a grosso modo, poderíamos dizer que a psicoterapia é eficaz
na proporção da influência de elementos vivenciais no curso da doença (quanto mais influentes forem as
vivências, maior eficácia da psicoterapia) e a farmacoterapia é tão mais eficaz quanto menos importantes
forem as vivências na origem do transtorno. Isso não invalida, absolutamente, a associação de ambos
procedimentos nos transtornos emocionais em geral, auferindo-se benefícios da psicoterapia também nos
casos predominantemente constitucionais e da farmacoterapia naqueles predominantemente vivenciais
(Figura abaixo).

Considere o cinza representando a farmacoterapia e o branco a psicoterapia, assim, no traço superior sua maior
extensão é cinza, no inferior é o branco e no traço do meio, são iguais. Isso representa a idéia de utilidade predominante
da farmacoterapia nos transtornos de natureza predominantmente constitucional e de psicoterapia quando predomina a
natureza ambiental.

3. - Como era a personalidade pré-mórbida?

É importante, para qualquer contacto com a psicopatologia clínica, que antes se tenha um contacto com o
tema Desenvolvimento da Personalidade e, principalmente, Transtornos de Personalidade.

O conceito de “personalidade pré-mórbida” é inalienável do entendimento e avaliação do quadro atual. A


pessoa portadora de Transtorno Anancástico (Obsessivo-compulsivo) da Personalidade terá, obviamente,
uma propensão à desenvolver o Transtorno Obsessivo-Compulsivo franco. Da mesma forma ocorre no
Transtorno Ansioso da Personalidade, Histriônico, Esquizóide, Paranóide, etc.
A avaliação dos traços de personalidade e da sensibilidade afetiva pré-mórbida também é importante para
avaliarmos a possibilidade da farmacoterapia. Um paciente que esteja apresentando um quadro Obsessivo-
compulsivo mas, mostra em seus antecedentes pessoais uma sensibilidade afetiva aumentada será, sem
dúvida, beneficiada com o uso de antidepressivos.

Outra pessoa que atravessa um Episódio Depressivo pós-rompimento conjugal, mas sem nenhum
antecedente emocional pessoal ou traço afetivo hipersensível de personalidade, sem dúvida se beneficiará
mais da psicoterapia. Entretanto, em ambos os casos a associação da psico com a farmacoterapia podem ser
mais proveitosas que qualquer das duas isoladamente.

4. - Há antecedentes familiares de mesmo quadro ou de quaisquer transtornos emocionais?


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Existem vários estados psicopatológicos com inegáveis componentes hereditários e familiares. A transmissão
genética diz respeito à probabilidade e não certezas. Assim sendo, a pessoa pode ser portadora de uma
probabilidade maior de desenvolver um transtorno ansioso, ou do humor, histriônico, etc, mas não há certeza
de que terá esses quadros.

Quanto maior o número de antecedentes familiares, maior será a probabilidade do quadro atual ter forte
componente constitucional, e vice-versa. Há uma significativa porcentagem de filhos de um dos pais
esquizofrênicos que desenvolve a doença e, mais marcante ainda, uma expressiva porcentagem quando os
dois pais são esquizofrênicos, mesmo que o filho tenha sido criado por outra família não-esquizofrênica.
Suicídios em membros da família também devem ser investigados, tendo em vista a maior probabilidade
dessa atitude repetir-se em descendentes.

5. - Que intercorrências vivenciais podem ser associadas ao desenvolvimento do quadro mórbido e da


personalidade?

Avaliar a cronologia das vivências traumáticas, as circunstâncias em que ocorreram e a proporcionalidade


entre estas e o estado emocional é importantíssimo para privilegiar as condutas psicoterapêuticas. Verificar
“negligência ou abandono infantil”, institucionalização, orfandade e outras vivências precoces tornam o
quadro mais atrelado à personalidade que experiências recentes.

Aspectos Sócio-Culturais que envolvem o paciente e sua doença


Normalmente, em nosso meio, quanto maior a autonomia sócio-cultural da pessoa, mais emancipada do
sistema estatal de saúde. Vejamos o exemplo da figura ao lado. Com o ponteiro à esquerda vê-se maior
dependência do sistema institucional de saúde e o inverso à direita.

C.1 – Aspectos Sociais

Em relação aos aspectos sociais o que se consideram são as circunstâncias pessoais do paciente e de seu
entorno social. Há situações onde, apesar da indicação para um tratamento predominantemente psicoterápico,
por absoluta falta de suporte institucional ou econômico pessoal, viabiliza-se unicamente o tratamento farma-
cológico.

C.2 – Aspectos Culturais

Os aspectos culturais são, atualmente, aqueles que mais influenciam na adoção do tipo de tratamento (não na
indicação). Alguns conceitos populares, como no quadro ao lado, interferem sobremaneira na adesão ao
tratamento farmacológico.

CONCEITOS CULTURAIS POPULARES

 Problemas emocionais atingem pessoas mentalmente fracas


 Pensamento positivo pode curar tudo
 Sem motivo justo não se têm problemas
 Com amor e carinho tudo se resolve
 Com fé e bons pensamentos, hei de vencer
 Sua vida é melhor que de muita gente
 Isso não existe, a gente é que permite
 Viajar e conhecer pessoas pode curar
 Você não tem nada, só uma estafazinha
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CURSO DE PSICOFARMACOLOGIA
2a. Aula

ANSIOLÍTICOS (Benzodiazepínicos)

Existem medicamentos que capazes de atuar sobre a ansiedade e tensão. Estas drogas foram chamadas de
tranqüilizantes, por tranqüilizar a pessoa estressada, tensa e ansiosa. Atualmente, estes tipos de
medicamentos são denominados de ansiolíticos, ou seja, que "destroem" (lise) a ansiedade.
Quando falamos de ansiolíticos estamos falando, praticamente, dos Benzodiazepínicos. De longe, os
Benzodiazepínicos são as drogas mais usadas em todo o mundo e, talvez por isso, consideradas um problema
da saúde pública nos países mais desenvolvidos.
Os benzodiazepínicos são capazes de estimular no cérebro mecanismos que normalmente equilibram estados
de tensão e ansiedade. Ultimamente as pesquisas têm indicado a existência de receptores específicos para os
Benzodiazepínicos no Sistema Nervoso Central (SNC), sugerindo a existência de substâncias endógenas
(produzidas pelo próprio organismo) muito parecidas com os benzodiazepínicos. Tais substâncias seriam
uma espécie de "benzodiazepínicos naturais", ou mais precisamente, de "ansiolíticos naturais".
Aparentemente o efeito ansiolítico dos Benzodiazepínicos está relacionado com um sistema de
neurotransmissores chamado gabaminérgico do Sistema Límbico. O ácido gama-aminobutírico (GABA) é
um neurotransmissor com função inibitória, capaz de atenuar as reações serotoninérgicas responsáveis pela
ansiedade. Os Benzodiazepínicos seriam, assim, agonistas (simuladores) deste sistema agindo nos receptores
gabaminérgicos.
Assim, quando, devido às tensões do dia-a-dia ou por causas mais sérias, determinadas áreas do cérebro
funcionam exageradamente, resultando num estado de ansiedade, os benzodiazepínicos exercem um efeito
contrário, isto é, inibem os mecanismos que estavam funcionando demais e a pessoa fica mais tranqüila e
menos responsiva aos estímulos externos. Como conseqüência desta ação, os ansiolíticos produzem uma
depressão da atividade do nosso cérebro que se caracteriza por:

1) diminuição de ansiedade;

2) indução de sono;

3) relaxamento muscular;

4) redução do estado de alerta.

É importante notar que os efeitos dos benzodiazepínicos podem ser fortemente aumentados pelo álcool, e a
mistura álcool + benzodiazepínico pode ser prejudicial.
Os Benzodiazepínicos são utilizados nas mais variadas formas de ansiedade e, infelizmente, sua indicação
não tem obedecido, desejavelmente, determinadas regras básicas. Os Benzodiazepínicos são ansiolíticos e
nada mais que isso, não são antineuróticos, antipsicóticos ou antiinsônia, como pode estar pensando muitos
clínicos e pacientes.
A melhor indicação para os Benzodiazepínicos é para os casos onde a ansiedade NÃO faça parte da
personalidade do paciente ou seja, para os casos onde a ansiedade tiver um início bem delimitado no tempo e
uma causa bem definida.
Naturalmente podemos nos valer dos Benzodiazepínicos como coadjuvantes do tratamento psiquiátrico,
quando a causa básica da ansiedade ainda não estiver sendo prontamente resolvida. No caso, por exemplo, de
um paciente deprimido e, conseqüentemente ansioso, os Benzodiazepínicos podem ser úteis enquanto o
tratamento antidepressivo não estiver exercendo o efeito desejável. Trata-se, neste caso, de uma associação
medicamentosa provisória e benéfica ao paciente. Entretanto, com a progressiva melhora do quadro
depressivo não haverá mais razões clínicas para a continuação dos Benzodiazepínicos e/ou ansiolíticos.
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Efeitos Colaterais
Do ponto de vista orgânico, os benzodiazepínicos são bastante seguros, pois são necessárias altas doses (20 a
40 vezes mais altas que as habituais) para trazer efeitos mais graves. Nessas doses pode haver hipotonia
muscular, dificuldade grande para ficar de pé e andar, a hipotensão, perda da consciência (desmaio). Com
doses maiores a pessoa pode entrar em coma e morrer.
O principal efeito colateral dos ansiolíticos benzodiazepínicos é a sedação e sonolência, variável de
indivíduo para indivíduo e de acordo com a dose do medicamento. Um aumento da pressão intra-ocular
teoricamente pode ocorrer mas, na clínica, trata-se de raríssima observação. Os efeitos teratogênicos
(malformações fetais) são ainda objeto de estudo, porém, tendo em vista sua utilização clínica durante
décadas, permite-se uma indicação mais flexível do diazepam durante a gravidez.prática clínica tem
demonstrado que a dependência1 aos Benzodiazepínicos pode acontecer, mas não invariavelmente.
A tendência do paciente em aumentar a dose dos Benzodiazepínicos para obter o mesmo efeito, ou seja, a
tolerância2, parece ser rara. Em relação a isso notamos, no mais das vezes, uma má utilização da droga. Isto
é, em não sendo tratada a causa básica da ansiedade e esta se tornando mais intensa, haverá maior
necessidade da droga. Essa maior necessidade da droga decorrente do aumento da ansiedade não deve, de
forma alguma, ser confundida com o fenômeno da tolerância.aos sintomas de abstinência3 aos
Benzodiazepínicos, embora possa ser possível com alguns deles, o que observamos com mais freqüência é o
retorno dos sintomas psíquicos que promoveram sua indicação por ocasião de sua retirada. Isso pode,
eventualmente, ser confundido com abstinência na expressiva maioria dos casos. Ora, se a situação
psicoemocional que determinou a procura da droga não foi decididamente resolvida, mas apenas protelada,
então, retirando-se o ansiolítico os sintomas voltarão. Isso não pode ser tomado como síndrome de
abstinência.
Em alguns poucos casos, de fato, observamos sintomas de abstinência. Estes ocorrem, predominantemente,
com o Clonazepam e Lorazepam. Quando ocorre a síndrome de abstinência ao benzodiazepínico, esta tem
início cerca de 48 horas após a interrupção da droga e os sintomas correspondem à ansiedade acentuada,
tremores, visão turva, palpitações, confusão mental e hipersensibilidade a estímulos externos.
Antes de confirmar o diagnóstico de síndrome de abstinência convém observar, como alertamos, se tais
sintomas não são os mesmos que anteriormente levaram o paciente a iniciar o tratamento.
Os casos de dependência aos Benzodiazepínicos relatados na literatura ou constatados na clínica se prendem,
na grande maioria das vezes, ao uso muito prolongado e com doses acima das habituais. Há uma tendência
atual em se considerar o fenômeno da dependência ao Benzodiazepínico, até certo ponto, mais dependente de
traços da personalidade do que de alguma característica da droga.
Antes de considerarmos a dependência, pura e simplesmente, devemos ter em mente que, se o
Benzodiazepínico não foi bem indicado e estiver sendo usado como paliativo de uma situação emocional não
resolvida, como atenuante de uma situação vivencial problemática, como corretivo de uma maneira ansiosa
de viver, enfim, como um "tapa-buracos" para alguma circunstância existencial anômala, então a sua
supressão colocará à tona a penúria situacional em que se encontra a pessoa, dando assim a falsa impressão
de dependência ou até de síndrome de abstinência.

SITUAÇÃO LEGAL e BUROCRÁTICA


Na manipulação das famigeradas fórmulas para emagrecer, era comum associarem-se esses
benzodiazepínicos com as drogas que tiram o apetite (Anfetaminas). Essa associação tinha o objetivo de
diminuir a ansiedade e "nervosismo" produzido pelas anfetaminas. Atualmente a legislação não permite mais
essa mistura.
Os atuais problemas de saúde pública, referentes ao abuso dos benzodiazepínicos, podem ser devido ao
abuso nas indicações desses medicamentos. Não se deve pretender que resolvam todos os problemas gerados
1
Necessidade imperiosa, compulsiva às vezes, do uso continuado.
2
Necessidade de se aumentar a quantidade da droga para se obter o mesmo efeito.
3
Ocorrência de sintomas físicos importantes decorrentes da interrupção do uso da droga.
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pela ansiedade cotidiana, pelas tensão da vida diária e para minimizar o mal estar das dificuldades naturais
do dia-a-dia.

Os benzodiazepínicos são controlados pelo Ministério da Saúde, isto é, a farmácia só pode vendê-los
mediante receita especial do médico, chamada de Receita tipo B, em cor azul e padronizada pelo Ministério
da Saúde, a qual fica retida na farmácia para posterior controle das autoridades sanitárias.

ANSIOLÍTICOS BENZODIAZEPÍNICOS DISPONÍVEIS NO BRASIL


Nome Químico Nome Comercial
ALPRAZOLAM Apraz, Frontal, Tranquinal
BROMAZEPAM Brozepax, Deptran, Lexotam, Nervium, Novazepam,
Somalium, Sulpam
BUSPIRONA** Ansienon, Ansitec, Bromopirim , Brozepax, Buspanil, Buspar
CLOBAZAM Frizium, Urbanil
CLONAZEPAM Rivotril
CLORDIAZEPÓXIDO Psicosedim
CLOXAZOLAM* Elum, Olcadil
DIAZEPAM Ansilive, Calmociteno, Diazepam, Diazepan, Kiatriun, Noam,
Somaplus, Valium
LORAZEPAM* Lorium, Lorax, Mesmerin

*- ansiolíticos usados também como hipnóticos devido a grande sonolência e sedação.


**- considerado ansiolítico não-benzodiazepínico

PEQUENO COMENTÁRIO SOBRE ANSIEDADE

Devemos considerar a ansiedade uma ocorrência fisiológica e normal no reino animal. A ansiedade é a
atitude biológica necessária para a adaptação do organismo a uma nova situação. Em medicina, entende-se a
ansiedade como uma ocorrência global, tanto do ponto de vista físico, quanto do ponto de vista emocional.
As primeiras pesquisas médicas sobre a ansiedade estudaram uma constelação de alterações orgânicas
produzidas no organismo diante de uma situação de agressão.

Fisicamente a ansiedade aparece quando o organismo é submetido à uma nova situação, tal como uma
cirurgia ou uma infecção, por exemplo, ou, do ponto de vista psicoemocional, diante de uma situação
entendida como de ameaça. De qualquer forma, trata-se de um organismo submetido a uma situação nova
(física ou psíquica), pela qual ele terá de lutar para adaptar-se, conseqüentemente, sobreviver. Portanto, a
ansiedade é um mecanismo indispensável para a manutenção da adaptação à vida, indispensável pois, à
sobrevivência.

Vejamos, por exemplo, as mudanças acontecidas em nossa performance física quando um cachorro feroz
tenta nos atacar, quando fugimos de um incêndio, quando passamos apuros no trânsito, quando tentam nos
agredir e assim por diante. De frente para o perigo, nosso rendimento físico ampliado pela ansiedade faz
coisas extraordinárias, coisas que normalmente não seríamos capazes de fazer em situações mais calmas. Se
não existisse esse mecanismo para nos colocar em posição de alerta ou alarme, talvez nossa espécie nem
teria sobrevivido às adversidades encontradas pelos nossos ancestrais.

Apesar da ansiedade favorecer a performance e a adaptação, ela faz isso até certo ponto. Até que nosso
organismo atinja um máximo de eficiência. A partir de um ponto excedente a ansiedade, ao invés de
contribuir para a adaptação, concorrerá exatamente para o contrário, ou seja, para a falência da capacidade
adaptativa. Nesse ponto crítico, onde a ansiedade foi tanta que já não favorece a adaptação, ocorre o
esgotamento da capacidade adaptativa. Vejamos a ilustração abaixo, de um gráfico hipotético, onde teríamos
um aumento da adaptação proporcional ao aumento da ansiedade mas só até um ponto máximo, com plena
capacidade adaptativa. A partir desse ponto o desempenho ou adaptação cai vertiginosamente. Aí se
caracteriza o esgotamento.
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Em nossos ancestrais e nos animais, esse mecanismo foi destinado à sobrevivência diante dos perigos
concretos e próprios da luta pela vida, como as ameaças de animais ferozes, guerras tribais, intempéries
climáticas, busca pelo alimento, luta pelo espaço geográfico, etc. No ser humano moderno, apesar dessas
ameaças concretas não mais existirem em sua plenitude, tais como existiram outrora, o equipamento
biológico continuou existindo, persistiu em nossa natureza a capacidade para reagirmos ansiosamente diante
das ameaças.
Com a civilidade do ser humano, outros perigos apareceram e ocuparam o lugar daqueles que estressavam
nossos ancestrais arqueológicos. Hoje em dia tememos a competitividade social, a segurança social, a
competência profissional, a sobrevivência econômica, as perspectivas futuras e uma infinidade de ameaças
abstratas mas reais para nós, enfim, tudo isso passou a significar a mesma ameaça de perigo que na vida
animal ameaçavam nossos ancestrais as questões de sobrevivência.
Se, na antigüidade tais ameaças eram concretas e a pessoa tinha um determinado objeto real à combater
(fugir ou atacar), localizável no tempo e no espaço, hoje em dia esse objeto de perigo vive dentro de nós. As
ameaças vivem, dormem e acordam conosco. Se, em épocas primitivas o coração palpitava, a respiração
ofegava, a pele transpirava diante de um animal feroz a nos atacar, se ficávamos estressados diante da
invasão de uma tribo inimiga, coisas bastante esporádicas, hoje em dia nosso coração bate mais forte diante
do desemprego, dos preços altos, das dificuldades para educação dos filhos, das perspectivas de um futuro
sombrio, dos muitos compromissos econômicos cotidianos e assim por diante. Como se vê, hoje nossa
ansiedade é continuada e crônica. Se a adrenalina antes aumentava só de vez em quando, hoje ela está
aumentada continuadamente.
A ansiedade aparece em nossa vida como um sentimento de apreensão, uma sensação de que algo está para
acontecer, um contínuo estado de alerta e uma pressa em terminar as coisas que ainda nem começamos.
Desse jeito, nosso domingo tem uma apreensão de segunda-feira e a pessoa, antes de dormir, já pensa em
tudo que terá de fazer quando o dia amanhecer. É a corrida para não deixar nada para trás, só nossos
concorrentes. É um estado de alarme contínuo e uma prontidão para o que der e vier. As férias são
completamente tranqüilas e festivas apenas nos primeiros dias mas, logo em seguida, começamos a nos
agitar: ou porque sentimos que não estamos fazendo alguma coisa que deveríamos fazer mas não sabemos
bem o que, ou porque pensamos em tudo aquilo que teremos de fazer quando as férias terminarem.
A natureza foi generosa, oferecendo-nos a atitude da ansiedade ou stress, no sentido de favorecer sempre
nossa adaptação. Porém, não havendo período suficiente para a recuperação desse esforço psíquico, o qual
restabeleceria a saúde, ou ainda, persistindo continuadamente os estímulos de ameaça e que desencadeiam a
ansiedade, nossos recursos para a adaptação acabam por se esgotar. O esgotamento é, como diz o próprio
nome, um estado onde nossas reservas de recursos para a adaptação se acabam.
Há no esgotamento, organicamente, alterações significativas nas glândulas supra-renais (de adrenalina e
cortisona), há dificuldades no controle da pressão arterial, há alterações do ritmo cardíaco, alterações no
sistema imunológico, no controle dos níveis de glicose do sangue, entre muitas outras.
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Psiquicamente a ansiedade crônica ou esgotamento leva à um estado de apatia, desinteresse, desânimo e uma
espécie de pessimismo em relação à vida.

Principais Transtornos Ansiosos – DSM.IV

 Agorafobia
 Fobia Social
 Transtorno Obsessivo-Compulsivo
 Transtorno de Estresse Agudo

 Ataque de Pânico
 Transtorno de Estresse Pós-Traumático

 Transtorno de Pânico
 Transtorno de Ansiedade Generalizada

 Fobia Específica
 Ansiedade Devido a Condição Médica

Ansiedade & Depressão

Muito embora os atuais manuais de classificação de doenças mentais tratem separadamente os quadros
ansiosos dos afetivos, pesquisas e autores têm se preocupado em estabelecer relações entre esses dois estados
psíquicos. Kendell (1974), ao longo de cinco anos de observação constata que o diagnóstico de Depressão
passa para Ansiedade em 2% dos casos e, no sentido contrário, da Ansiedade para a Depressão em 24% dos
casos. Pode-se constatar também que antigos quadros ansiosos costumam evoluir no sentido da Depressão
(Roth e cols. 1972, 1982). Lesse (1982) sustenta ainda a idéia da evolução do estresse para Ansiedade e em
seguida para Depressão.

São conhecidos os expressivos sintomas depressivos em doentes com transtornos ansiosos e parece não se
justificar, simplesmente, falar em Depressão secundária. Fawcet (1983) encontra sintomas depressivos em
65% dos ansiosos e Roth (1972), detecta em grande número de pacientes, simultaneamente irritabilidade,
agorafobia, Ansiedade, culpa e agitação.

O medo, por exemplo, seja de características fóbica ou não, reflete sempre uma grande insegurança e pode
aparecer tanto nos Transtornos de Ansiedade quanto nos Transtornos Afetivos de natureza depressiva.
A associação da Depressão com crises de pânico foi encontrada, inicialmente, em proporções que variam de
64 a 44% dos casos (Clancy e cols. 1979) . Os quadros ansiosos com ou sem Depressão secundária, não
diferem do ponto de vista da idade de instalação, duração, tentativas de suicídio, história familiar, para esses
dois autores.

O estudo de, Stavrakaki e Vargo (1986), onde reavalia-se pesquisas dos últimos 15 anos, sugere três tipos de
abordagem da questão Ansiedade versus Depressão:
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1- Ansiedade e Depressão diferem qualitativamente;

2- Ansiedade e Depressão diferem quantitativamente e;

3- Ansiedade se associa à Depressão.

Ansiedade & Depressão:


Comorbidade, causa ou conseqüência?
Atualmente tem-se enfatizado muito a teoria unitária, pela qual a Ansiedade e a Depressão seriam duas
modalidades sintomáticas da mesma afecção. As atuais escalas internacionais de Hamilton para avaliação de
Depressão e de Ansiedade, não separaram nitidamente os dois tipos de manifestações. Outras escalas
anteriores também mostravam a mesma indiferenciação entre os dois quadros emocionais (Johnstone e cols,
1986, Mendels, 1972).
A tendência unitária Ansiedade-Depressão se reforça ainda na eficácia do tratamento com antidepressivos,
tanto para quadros ansiosos, como é o caso do Pânico, da Fobia Social, do Transtorno Obsessivo-compulsivo
e mesmo da Ansiedade Generalizada, quanto para os casos de Depressão, com ou sem componente ansioso
importante.
O número de autores que não acreditam na Ansiedade e Depressão como sendo a mesma coisa, aos quais nos
juntamos, é expressiva maioria, entretanto, quase todos reconhecem existir alguma coisa em comum nesses
dois fenômenos. Acreditamos, pois, na necessidade quase imperiosa de um substrato afetivo e de carater
depressivo para que a ansiedade se manifeste patologicamente. O mesmo requisito afetivo não se necessita
para a ansiedade normal e fisiológica. Talves seja por isso que os quadros ansiosos respondem tão bem à
terapêutica antidepressiva.

CAUSA OU CONSEQÜÊNCIA?
Saber com certeza se a Ansiedade pode ser uma das causas de Depressão ou se, ao contrário, pode surgir
como conseqüência desta ou, ainda, se uma nova entidade clínica independente se constitui quando ambos
fenômenos coexistem num mesmo paciente tem sido uma questão aberta à pesquisas e reflexões.
Strian e Klicpera (1984) consideram um quadro unitário de Depressão e Ansiedade e Clancy e cols (1978)
constata que o humor depressivo antecede com freqüência ao primeiro ataque de pânico. Há observações do
Transtorno Ansioso aparecer em pessoas com caráter predominantemente depressivo (Lader, 1975),
considerando o paciente ansioso como portador de um tipo de Depressão endógena (Salomon, 1978).
Ansiedade e Depressão são cogitados também como aspectos diferentes do mesmo Transtomo Afetivo por
Downing e Rikels (1974).
O atual Transtorno Depressivo Persistente (Distimia), com ou sem a sintomatologia somática, foi cogitado
como sendo reflexo de sintomas depressivos mais francos e profundos, enquanto os quadros ansiosos seriam
os casos onde o afeto depressivo se manifestaria atipicamente (Gersh e Fowles, 1979).
Mineka (1998) estuda a base cognitiva da Ansiedade e Depressão sob o enfoque da percepção humor-
congruente dos estados ansiosos. De fato, a insegurança típica dos estados ansiosos podem ser melhor
entendida à luz de uma auto-percepção pessimista e de uma representação temerosa da realidade, ambos de
conotação depressiva. Monedero (1973), inclui no capítulo Afetividade, com igual destaque, as reações
vivenciais anormais, Depressão, mania e angústia. Considera a angústia como um temor de algo que vai
acontecer e a Ansiedade como um temor atual, caracterizado pela procura e impaciência apressada. Nota-se o
componente humor-congruente depressivo da Ansiedade.
Há ainda autores que admitem a Depressão como uma complicação freqüente dos transtornos ansiosos ou
que os sintomas ansiosos são comuns nas doenças depressivas primárias (Rodney, 1997). Causa ou
conseqüência? Aceitam o fato de pacientes com Depressão primária apresentarem estados ansiosos graves
(Cunningham, 1997). A maioria dos autores, entretanto, afirma que pacientes com pânico primário, com
pânico complicado pela Depressão, com Depressão Primária complicada por pânico ou com Depressão
Primária, oferecem sérias dificuldades clínicas para se delimitar nitidamente os estados ansiosos e os
depressivos.
12
Uma terceira posição, há tempos cogitada, é a ansiosa-depressiva como unidade nosológica e emancipada,
quer da Ansiedade Generalizada, quer da Depressão Maior (Stavrakaki, 1986). Esta postura unitária, mas
diferente daquela que consiedera Ansiedade e Depressão como faces de uma mesma doença, também era
sustentada por Paykel (1971) e por Downing e Rikels (1974). Schatzberg e cols (1983) diz que os pacientes
com quadros mistos de Ansiedade e Depressão, exigem terapias diferentes dos grupos isolados. Observa que
quando as duas síndromes coexistem, a evolução é mais crônica, a resposta é menor às terapias
convencionais e o prognóstico é pior.

Sonenreich e cols (1991) afirmam que Ansiedade e Depressão combinadas representam um quadro separado,
quantitativa e qualitativamente em muitos aspectos importantes, quer do transtorno ansioso, quer do
transtorno afetivo.

COMPONENTE GENÉTICO

Geneticamente se constata que pacientes com Depressão Maior associada ao pânico tinham, entre os parentes
de primeiro grau, uma percentagem muito aumentada de pessoas com Depressão Maior associada à
transtornos ansiosos (fobias, transtorno de pânico, Ansiedade generalizada) e de pessoas alcoolistas em
comparação com os parentes de portadores de Depressão Maior mas sem distúrbios ansiosos. A presente
observação sugere que a Depressão Maior e o Transtorno do Pânico podem ter em comum uma diátese
subjacente. Entre os pacientes com Depressão Maior e Ansiedade Generalizada aumenta a freqüência de
parentes com Transtorno Ansioso, em comparação com os controles normais. Mas essa relação não acontece
em relação aos pacientes com Depressão Maior sem ansiedade. A mesma coisa no caso da Depressão Maior
associada com fobias (Sonenreich, Corrêa e Estevão, 1991).

Vários estudos são contraditórios no que diz respeito aos estudos genéticos dos depressivos e dos ansiosos.
Parte desses estudos apontam relações fenotípicas entre os casos de Ansiedade e os de Depressão, outros
separam a Ansiedade da Depressão e outros ainda, identificam um subgrupo de Depressão Ansiosa. Para
complicar, alguns desses estudos contestam haver maior número de distúrbios afetivos entre os parentes de
ansiosos do que na população geral (Leckman e cols, 1984).

Segundo Stavrakakis e Vargo, os trabalhos de Koth identificam mais neuróticos nas famílias dos ansiosos,
Valkenburg identifica mais deprimidos nas famílias dos pacientes com transtornos afetivos primários e
Crowe encontra mais Transtornos do Pânico nas famílias de pacientes com neurose ansiosa.

ANTECEDENTES PESSOAIS

Para Raskind e cols (1982), os pacientes com crises de pânico tiveram uma infância vivida em ambiente mais
difícil e, freqüentemente, sofreram mais distúrbios depressivos. Os quadros de Ansiedade de Separação na
Infância aparecem como antecedentes pessoais da Síndrome do Pânico em trabalhos de Klein (1974). Ele
separa tais pacientes daqueles com Ansiedade Generalizada e Antecipatória, sem ataques de pânico.

Confirmando o aspecto contraditório das tentativas em diferenciar ou igualar a Ansiedade à Depressão,


Hoehn-Saric (1982), por sua vez, não constata diferença alguma entre os dois grupos do ponto de vista da
história infantil.

RESPOSTA À TERAPÊUTICA

A posição unitária da Ansiedade e Depressão pode ser defendida pelo fato dos ansiosos respondem muito
bem ao tratamento antidepressivo (Kelly e cols, 1970; Sargant, 1962 in. Kelly). Alguns autores enfatizam o
fato de certos antidepressivos terem melhor efeito do que os benzodiazepínicos nas depressões e nas
ansiedades (Johnstone e cols, 1986) e é clássico o fato das neuroses fóbicas e obsessivas responderem à
terapia antidepressiva.

As obsessões que respondem à terapia antidepressiva são consideradas secundárias a um desequilíbrio tímico
de natureza depressiva (Duhais, 1984). Angst (1974) constata entre a Depressão e a Ansiedade uma forte
identidade. "Pensamento recente favorece a hipótese de que os transtornos depressivos e ansiosos têm
13
origem comum", A sobreposição não se dá apenas nos sintomas depressivos e ansiosos mas, também, através
de um espectro comum de ação dos antidepressivos e ansiolíticos.

Para Stavrakaki e Vargo (1986), a posição unitária entre Ansiedade e Depressão é baseada na superposição
da sintomatologia das duas síndromes, na falta de estabilidade do diagnóstico clínico entre elas, na
similaridade de pacientes ansiosos com os sem Depressão secundária em diversas variáveis, na tendência dos
pacientes com estados ansiosos prolongados para desenvolver sintomas depressivos, no fracasso em se achar
dimensões nitidamente separadas de Ansiedade e Depressão pelas escalas de auto-avaliação e de avaliação e
na falta de respostas específicas ao tratamento medicamentosos.

A constatação do envolvimento dos receptores 5HT, conhecidamente implicados na Depressão, na


sintomatologia da Ansiedade parece ser um importante ponto de partida para a identidade dos dois
fenômenos psíquicos como tendo uma raíz comum (Bromidge e cols, 1998, Kennett e cols, 1997), seja do
ponto de vista etiológico, seja terapêutico.

Apesar de estudos eletroencefalográficos e sonográficos apontarem, na década passada, diferenças entre os


quadros depressivos e ansiosos (Akiskal, 1986), onde a fase REM se instala mais cedo na Depressão que na
Ansiedade, continua havendo uma identidade muito grande entre estes dois estados emocionais no que diz
respeito ao tratamento farmacológico.

O estudo de Kahn e cols (1986), que também separa estados ansiosos de depressivos com base nas escalas de
Hopkins Symptom Checklist, Hamilton, RDC, Escalas Covi, Raskin, reconhece a superioridade dos
antidepressivos aos ansiolíticos tanto no tratamento da Ansiedade, quanto da Depressão. Por outro lado,
apesar dos estados ansiosos responderem signficativamente aos antidepressivos, da mesma forma com que
respondem aos ansiolíticos benzodiazepínicos, estes últimos não se prestam ao tratamento dos estados
depressivos com eficácia (Cunningham LA, 1997). Kuzel (1996) também reconhece a eficácia dos
benzodiazepínicos para o tratamento da Ansiedade Aguda mas recomenda antidepressivos para o tratamento
dos estados ansiosos de longa duração.

CONCLUSÃO

A revisão sobre esse tema acaba sempre contrapondo trabalhos de autores que defendem três tendências
diversas; a unidade dos distúrbios ansiosos e depressivos como sendo o mesmo fenômeno, a dualidade entre
esses dois estados afirmando tratar-se de distúrbios diferentes e as formas mistas como uma entidade
específica com sintomas depressivos e ansiosos.

Tais diferenças são, sem dúvida, decorrentes das diversas maneiras de se conceituar esses estados
emocionais e das diversas metodologias dos trabalhos científicos. As diferenças vão da conceituação
semântica, calcada na multiplicidade de conceitos de Ansiedade e Depressão, até a interpretação
metodológica das observações.

As diferentes pesquisas têm demonstrado não existir até agora uma posição inequívoca para o problema das
relações entre Depressão e Ansiedade. Diante dessa polêmica vamos encontrar sempre circunstâncias onde
estes quadros se associam.

Embora não possamos saber ainda, com certeza, se Ansiedade e Depressão são a mesma doença, ao menos
tem sido consensual o fato dos antidepressivos atuarem satisfatoriamente nos quadros ansiosos tanto quanto
nos depressivos (Feighner, 1996). Ainda que o termo comorbidade de Ansiedade e Depressão satisfaça uma
postura politicamente correta, a pouca diferença de resultados no tratamento desses quadros com
antidepressivos, notadamente os ISRS, aponta para uma satisfatória solução clínica (Rodney e cols, 1997,
Kuzel RJ, 1996).
14

CURSO DE PSICOFARMACOLOGIA
3a. Aula

ANTIDEPRESSIVOS

Os antidepressivos são drogas que aumentam o tônus psíquico melhorando o humor e, conseqüentemente,
melhorando a psicomotricidade de maneira global.

São vários os fatores que contribuem para a etiologia da depressão emocional e, entre eles, destaca-se cada
vez mais a importância da bioquímica cerebral.

Acredita-se que o efeito antidepressivo se dê às custas de um aumento da disponibilidade de


neurotransmissores no SNC, notadamente da serotonina (5-HT), da noradrenalina ou norepinefrima (NE) e
da dopamina (DA). Ao bloquearem receptores 5HT2 (da serotonina) os antidepressivos também funcionam
como antienxaqueca.

O aumento de neurotransmissores na fenda sináptica se dá através do bloqueio da recaptação da NE e da


5HT no neurônio pré-sináptico ou ainda, através da inibição da Monoaminaoxidase (MAO) que é a enzima
responsável pela inativação destes neurotransmissores. Será, portanto, nos sistemas noradrenérgico o
serotoninérgico do Sistema Límbico o local de ação das drogas antidepressivas empregadas na terapia dos
transtornos da afetividade.

Podemos dividir os antidepressivos em 3 grupos:

1 - Antidepressivos Tricíclicos (ADT)

2 – Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina

3 - Antidepressivos Atípicos

4 - Inibidores da Monoaminaoxidase (IMAO)

ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS

O local de ação dos ADT é no Sistema Límbico aumentando a NE e a 5HT na fenda sináptica. Este aumento
da disponibilidade dos neurotransmissores na fenda sináptica é conseguido através da inibição na recaptação
destas aminas pelos receptores pré-sinápticos.

Parece haver também, com o uso prolongado dos ADT, uma diminuição do número de receptores pré-
sinápticos do tipo Alfa-2, cuja estimulação do tipo feedback inibiria a liberação de NE. Desta forma, quanto
menor o número destes receptores, menor seria sua estimulação e, conseqüentemente, mais NE seria liberada
na fenda. Portanto, dois mecanismos relacionados à recaptação; um inibindo diretamente a recaptação e
outro diminuindo o número dos receptores. Importa, em relação à farmacocinética dos ADT, o conhecimento
do período de latência para a obtenção dos resultados terapêuticos. Normalmente estes resultados são obtidos
após um período de 15 dias de utilização da droga e, não raro, podendo chegar até 30 dias. Os ADT são
potentes anticolinérgicos e por esta característica seus efeitos colaterais são explicados. Enquanto os efeitos
terapêuticos exigem um período de latência, o mesmo não acontece com os efeitos colaterais. Estes aparecem
imediatamente após a ingestão da droga e são responsáveis pelo grande número de pacientes que abandonam
o tratamento antes dos resultados desejados. Daí a importância na orientação ao paciente.
15
Ação dos Antidepressivos Tricíclicos (ADT):

Impedem a recaptação de Noradrenalina (NA) e Serotonina (5HT)


Resultado: Aumento dos neurotransmissores na fenda sináptica
NA = neurônio noradrenérgico
5HT = neurônio serotoninérgico

A - EFEITOS COLATERAIS

1 – OFTALMOLÓGICOS

Pode-se observar com certa freqüência alguma dificuldade de acomodação visual dependendo da dose do
ADT, fato que não chega a ser importante a ponto de obrigar uma interrupção no tratamento. Midríase
(dilatação da pupila) também é uma ocorrência que pode ser observada.

2 – GASTRINTESTINAIS

Secura na boca ocorre em quase 100% dos pacientes em doses terapêuticas dos ADT. Embora incômoda,
esse sintoma pode perfeitamente ser suportável e em casos mais severos podemos ter como conseqüência
gengivite e mesmo glossite. Constipação intestinal também acontece em quase 100% das vezes e é resolvido
com a mudança no hábito alimentar ou com a utilização de laxantes.

3 – CARDIOCIRCULATÓRIOS

Os ADT podem provocar, principalmente no início do tratamento, um aumento na reqüência cardíaca, mas
as taquicardias importantes são de ocorrência rara. Embora tenha havido grandes preocupações no passado
em relação ao potencial disrítmico dos ADT, na realidade, hoje se constata que podem ter uma atuação até
antiarrítmica, principalmente quando a arritmia é conseqüência de problemas emocionais. Outro efeito
circulatório que pode molestar o paciente é a ocorrência de hipotensão postural, também perfeitamente
suportável e que não exige mudança na posologia.
16
4 – ENDOCRINOLÓGICO

Alguns trabalhos apontam um aumento nos níveis de prolactina e, paradoxalmente, outros autores
demonstram diminuição e outros ainda, níveis inalterados. A mesma disparidade encontramos em relação aos
trabalhos sobre alterações dos hormônios teroideanos. Em relação ao eixo hipófise-suprarenal também não
há nada conclusivo. A maioria dos autores concorda em que não há alterações neste sistema. Entretanto,
parece ser relevante o aumento nos níveis de hormônio do crescimento com o uso de desipramina, um
metabólito da imipramina.

5 – GENITURINÁRIO

A retenção urinária pode ser observada, principalmente, em pacientes homens e portadores de adenoma de
próstata. Embora deva ser dado mais atenção a estes pacientes, tal ocorrência não é contra-indicação absoluta
ao uso dos ADT. Com muita freqüência encontramos disúria em ambos os sexos. Na esfera sexual podemos
ter uma diminuição da libido, retardamento do orgasmo e mais raramente, anorgasmia (em ambos sexos).
Como freqüentemente na depressão a libido já se encontra diminuída ou até abolida, com a melhora do
quadro afetivo pelos ADT o paciente notar comumente uma melhora desta função, ao contrário do que
poderíamos esperar se considerarmos apenas os efeitos colaterais.

6 - SISTEMA NERVOSO CENTRAL

A sedação inicial e sonolência são encontradas no início do tratamento, diminuindo sensivelmente após os 6
primeiros dias. Em doses terapêuticas a insônia, agitação e aumento da ansiedade não são comuns de se
observar. Em pacientes mais idosos podemos encontrar a chamada "síndrome anticolinérgica central" com
agitação, confusão mental, delírios e alucinações. Daí considerar-se a utilização de doses menores em tais
pacientes. Em pessoas predispostas podem ocorrer convulsões do tipo generalizadas devido ao fato dos ADT
diminuírem o limiar convulsígeno.

7 - ALTERAÇÕES GERAIS

Tremores finos das mãos são observados com certa freqüência e respondem muito bem aos betabloqueadores
(Propranolol). Sudorese excessiva pode também incomodar o paciente mas não necessita cuidado especial. É
comum um ganho de peso e, às vezes, os pacientes referem impulso para comer doce. Apesar disso os
estudos controlados sobre o metabolismo dos glicídios não revelam maiores explicações.

B – INTOXICAÇÃO
Sinais de intoxicação começam a aparecer quando a ingestão de ADT ultrapassa 500 mg/dia, porém, a dose
letal e maior que isso: varia entre 1.800 e 2.500 mg. Na intoxicação por ADT podemos encontrar agitação ou
sedação, midríase, taquicardia, convulsões generalizadas, perda da consciência, depressão respiratória,
arritmia cardíaca, parada cardíaca e morte. Tendo em vista a grande afinidade protéica dos ADT, sua
eliminação por diálise ou diurese é muito difícil. Nos casos de intoxicação está indicado o uso de
anticolenesterásicos (Prostigmina IM ou EV) e medidas de sustentação geral.

C – INDICAÇÕES
Os ADT, em geral, estão indicados para tratamento dos estados depressivos de etiologia diversa: depressão
associada com esquizofrenia e distúrbios de personalidade, síndromes depressivas senis ou pré-senis,
distimia, depressão de natureza reativa, neurótica ou psicopática, síndromes obsessivo-compulsivas, fobias e
ataques de pânico, estados dolorosos crônicos, enurese noturna (a partir dos 5 anos e com prévia exclusão de
causas orgânicas).

A Amitriptilina (Tryptanol®) está mais indicada também para os casos de ansiedade associados com
depressão, Depressão com sinais vegetativos, Dor neurogênica, Anorexia e nos casos de dor crônica grave
(câncer, doenças reumáticas, nevralgia pós-herpética, neuropatia pós-traumática ou diabética).
17
A Maprotilina (Ludiomil®), embora seja descrito pelo fabricante como tetracíclico, não se justifica uma
abordagem em separado dos tricíclicos. Tem melhor indicação na depressão de início tardio (involutiva ou
senil), depressão na menopausa e na depressão por exaustão (esgotamento).

Alguns autores indicam a maprotilina para os casos de Depressão Mascarada (denominação antiga da
Depressão Atípica com Sintomas Somáticos). Também é útil na depressão com ansiedade subjacente, devido
sua capacidade sedativa (como a Amitriptilina).

Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina (ISRS)

O efeito antidepressivo dos ISRS parece ser conseqüência do bloqueio seletivo da recaptação da serotonina
(5-HT). A fluoxetina foi o primeiro representante dessa classe de antidepressivos e ela tem um metabólito
ativo, a norfluoxetina. Esse metabólito é o ISRS que se elimina mais lentamente do organismo.

As doses dos ISRS, seja a fluvoxamina, sertralina, paroxetina, fluoxetina ou outros, devem ser
individualizadas para cada paciente. A incidência de efeitos colaterais anticolinérgicos, antihistamínicos e
alfa-bloqueantes, assim como o risco de soperdosagem é menor nos ISRS que nos chamados antidepressivos
tricíclicos (ADT). Estes últimos, causam mais efeitos colaterais que os ISRS, mais intolerância digestiva (até
21 % dos pacientes podem experimentar náuseas, anorexia, boca seca), sudorese excessiva, temores,
ansiedade, insomnio.

Por outro lado, a fluoxetina tem se associado a alguns casos de acatisia, especialmente quando a dose é muito
alta, e a estimulação de SNC parece maior com a fluoxetina que com outros ISRS. A fluvoxamina também
parece produzir mais intolerância digestiva, sedação e interações farmacológicas que outros ISRS. A
paroxetina origina mais sedação (também a fluvoxamina), efeitos anticolinérgicos e extrapiramidais que
outros ISRS. Tem-se relatado sintomas de abstinência com a supressão brusca do tratamento com a
paroxetina e com a venlafaxima.
Os ISRS estão indicados para o tratamento dos Transtornos Depressivos, Transtorno obsessivo-compulsivo
(TOC), Transtorno do Pânico, Transtornos Fóbico-Ansiosos, neuropatia diabética, dor de cabeça tensional
crônica e Transtornos Alimentares.
Nos casos de Depressão Grave com Sintomas Psicóticos, alguns fabricantes de ISRS não recomendam essas
drogas, como é o caso, por exemplo, da orientação da Nafazodona (Serzone®). Outros, como é o caso da
Paroxetina (Aropax®), já preconizam-na também para Episódios Depressivos maiores ou severos.
Outros, como é o caso do Citalopram (Cipramil®), recomendam a substÂncia para o tratamento das
depressões e do abuso do álcool.

PRECAUÇÕES

A fluoxetina tem ação anorexígena com uma discreta redução do peso corporal durante seu uso. Nos
pacientes sensíveis pode ocorrer rash cutâneo, urticária, incluindo febre, leucocitose e artralgias, edema.
Esses sintomas de hipersensibilidade são extremamente raros.

ANTIDEPRESSIVOS ISRS

Nome Químico Nome Comercial


CITALOPRAM Cipramil, Parmil
FLUOXETINA Daforim, Deprax, Eufor, Fluxene, Nortec, Prozac, Verotina

NEFAZODONA Serzone
PAROXETINA Aropax, Pondera, Cebrilin

SERTRALINA Novativ, Tolrest, Zoloft


Ação dos Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina (ISRS):
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Noradrenalina (NA) e Serotonina (5HT) escassos
Impede recaptação só da serotonina
Resultado = aumenta a disponibilidade de serotonina na fenda sináptica.
NA = neurônio noradrenérgico
5HT = neurônio serotoninérgico

ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS

São os antidepressivos que não se caracterizam como Tricíclicos, como ISRS e nem como Inibidores da
MonoAminaOxidase (IMAOs). Alguns deles aumentam a transmissão noradrenérgica através do
antagonismo de receptores a2 (pré-sinápticos) no Sistema Nervoso Central, ao mesmo tempo em que
modulam a função central da serotonina por interação com os receptores 5-HT2 e 5-HT3, como é o caso da
Mirtazapina. A atividade antagonista nos receptores histaminérgicos H1 da Mirtazapina é responsável por
seus efeitos sedativos, embora esteja praticamente desprovida de atividade anticolinérgica.

ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS

Nome Químico Nome Comercial

AMINEPTINA Survector
FLUVOXAMINA Luvox
MIANSERINA Tolvon
MIRTAZAPINA Remeron
REBOXETINA Prolift
TIANEPTINA Stablon
TRAZODONA Donaren
VENLAFAXINA Efexor
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Outros atípicos são inibidores da recaptação de Serotonina e Norepinefrina, alguns inibindo também, a
recaptação de dopamina. É o caso da Venlafaxina, da Mirtazapina. Algumas dessas drogas também
costumam reduzir a sensibilidade dos receptores beta-adrenérgicos, inclusive após administração aguda, o
que pode sugerir um início de efeito clínico mais rápido.Também estão aqui os inibidores da recaptação da
Norepinefrina (Noradrenalina), como é o caso da Riboxetina.

Alguns atípicos, como é o caso da Tianeptina, embora sejam serotoninérgicos, não inibem a recaptação da
Serotonina no neurônio pré-sináptico mas, induzem sua recaptação pelos neurônios da córtex, do hipocampo
e do sistema límbico.

Amineptina, outro atípico, é uma molécula derivada dos tricíclicos mas seu mecanismo de ação é
essencialmente dopaminérgico, enquanto que os outros antidepressivos tricíclicos são essencialmente
noradrenérgicos e serotoninérgicos. As melhoras sintomáticas poderão ser observadas a partir do 3º ao 5º
dias e sobre o sono REM a partir do 20º dia de tratamento em posologia suficiente.

ANTIDEPRESSIVOS IMAOs

Os chamados antidepressivos Inibidores da Monoamina Oxidase (MAO) promovem o aumento da


disponibilidade da serotonina através da inibição dessa enzima responsável pela degradação desse
neurotransmissor intracelular.

A monoaminoxidase (MAO), é uma enzima envolvida no metabolismo da serotonina e dos


neurotransmissores catecolaminérgicos, tais como adrenalina, noradrenalina e dopamina. Os antidepressivos
IMAOs são inibidores da MAO e, havendo uma redução na atividade MAO, produz-se um aumento da
concentração destes neurotransmissores nos locais de armazenamento, em todo o SNC ou no sistema nervoso
simpático.

Acredita-se que a ação antidepressiva dos IMAOs se correlacione também, e principalmente, com alterações
nas características dos neuroreceptores, alterações essas no número e na sensibilidade desses receptores, mais
até do que com o bloqueio da recaptação sináptica dos neurotransmissores, propriamente dita. Isso explicaria
o atraso de 2 a 4 semanas na resposta terapêutica.

ANTIDEPRESSIVOS IMAOs

Nome Químico Nome Comercial

TRANILCIPROMINA Parnate, Stelapar


MOCLOBEMIDA Aurorix
SELEGILINA Elepril, Jumexil
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INDICAÇÕES PARA OS ANTIDEPRESSIVOS

As indicações para o uso dos antidepressivos vêem, progressivamente, sofrendo ampliação, de acordo com o
melhor entendimento sobre a participação dos elementos emocionais em outros transtornos médicos, além da
própria depressão.
A própria manifestação clínica polimórfica da depressão já recomenda o uso desses medicamentos para os
casos onde essa alteração afetiva se manifesta atipicamente.

Indicações Formais

• Estados Depressivos
• Estados Ansiosos (Pânico...)
• Estados Fóbicos
• Estados Obsessivo-Compulsivos
• Anorexia
• Bulimia

Segundas Indicações

• Estados Hipercinéticos
• Somatizações
• Ejaculação Precoce
• Doenças Psicossomáticas
• Enxaqueca
• Dores neurogênicas

Poderíamos fazer uma analogia didática com o uso dos antialérgicos; não importa se a manifestação da
alergia se dá através de rinite, bronquite, sinusite, urticária, dermatite, etc. Para todos esses casos, tendo
como base da patologia uma reação alérgica, estariam indicados antialérgicos indistintamente.

Hoje nós sabemos que uma série de manifestações emocionais teria uma base depressiva, portanto, objetos
do tratamento com antidepressivos; é o caso, por exemplo, da síndrome do Pânico. Nesses casos o próprio
paciente pode não se sentir clinicamente deprimido mas o afeto depressivo (inseguro e pessimista) estaria na
base da manifestação ansiosa.
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CURSO DE PSICOFARMACOLOGIA
4a. Aula

ANTIPSICÓTICOS

Os antipsicóticos ou neurolépticos são medicamentos inibidores das funções psicomotoras, a qual pode
encontrar-se aumentada em estados, como por exemplo, de excitação e de agitação. Paralelamente eles
atenuam também os distúrbios neuro-psíquicos chamados de psicóticos, tais como os delírios e as
alucinações. São substâncias químicas sintéticas, capazes de atuar seletivamente nas células nervosas que
regulam os processos psíquicos no ser humano e a conduta em animais.
Os neurolépticos são drogas lipossolúveis e, com isso, têm facilitada sua absorção e penetração no Sistema
Nervoso Central. Os antipsicóticos têm sua primeira passagem pelo fígado, portanto, sofrem metabolização
hepática.
A grande maioria dos antipsicóticos possui meia vida longa, entre 20 e 40 horas, e esse conhecimento é
importante na medida em que permite prescrição em uma única tomada diária. Outra conseqüência desta
meia vida longa é o fato de demorar aproximadamente cinco dias para se instalar estado estável da droga no
organismo.
Por causa disso, o uso contínuo dos antipsicóticos resulta num acúmulo progressivo no organismo, até que o
nível se estabilize depois de alguns dias. O equilíbrio ideal seria atingir uma situação onde a quantidade
absorvida seja igual à excretada. Neste momento ocorre chamado de Equilíbrio Plasmático.

MECANISMO DE AÇÃO
Apesar dos neurolépticos tradicionais bloquearem receptores adrenérgicos, serotoninérgicos, colinérgicos e
histaminérgicos, todos eles têm em comum a ação farmacológica de bloquear os receptores dopaminérgicos.
É em relação a estes últimos que os estudos têm demonstrado os efeitos clínicos dos neurolépticos. O
bloqueio dos outros receptores, além dos dopaminérgicos, estaria relacionado mais aos efeitos colaterais da
droga do que aos terapêuticos.

Atualmente, uma das hipóteses mais aceitas como sendo relacionadas na patogenia da esquizofrenia fala de
uma combinação de hiperfunção da dopamina e hipofunção dos glutamatos no sistema neuronal, juntamente
com um envolvimento pouco esclarecido dos receptores da serotonina (5HT2) e um balanço entre esses
receptores com os receptores dopamínicos (D2).
22
Os receptores da dopamina mais conhecidos são o D1 e o D2 (ambos pós-sinápticos), além dos receptores
localizados no corpo do neurônio dopamínico e no terminal pré-sináptico. A atividade terapêutica dos
antipsicóticos parece estar relacionada, principalmente, com o bloqueio da dopamina nos receptores pós-
sinápticos do tipo D2.

Os antipsicóticos tradicionais, tais como a Clorpromazina e o Haloperidol, são eficazes em mais de 80% dos
pacientes com esquizofrenia, atuando predominantemente nos sintomas chamados produtivos ou positivos
(alucinações e delírios) e, em grau muito menor, nos chamados sintomas negativos (apatia, embotamento e
desinteresse).

Duas vias, mesolímbicas e mesocorticais, são as envolvidas nos efeitos terapêuticos dos antipsicóticos. As
vias mesolímbicas e mesocorticais confundem-se anatomicamente e ambas se originam no segmento ventral
do mesencéfalo. A via mesolímbica inerva diversos núcleos subcorticais do Sistema Límbico: amígdala,
núcleo acumbens, tubérculo olfatório e o septo lateral. A via mesocortical tem suas terminações sinápticas
localizadas no córtex frontal, na parte anterior do giro do cíngulo e no córtex temporal medial.

As primeiras suspeitas de que este era o sítio da atuação terapêutica surgiram pela observação da semelhança
sintomatológica entre determinadas patologias dos lobos frontais e temporais com a esquizofrenia, além da
notável importância do sistema límbico nas emoções e na memória.

A dopamina liberada próxima aos capilares da circulação porto-hipofisária chega à hipófise anterior e acaba,
dentre outros efeitos, por aumentar a liberação secundária de prolactina. Mais um efeito colateral indesejável.

A hipotensão, sedação e tontura, efeitos colaterais comuns aos neurolépticos tradicionais, normalmente
acontecem devido à capacidade desses medicamentos bloquearem também os receptores alfa-adrenérgicos.

EFEITOS COLATERAIS

Entre os efeitos colaterais provocados pelos neurolépticos, o mais estudado é o chamado Impregnação
Neuroléptica ou Síndrome Extrapiramidal. Essa situação é o resultado da ação do medicamento na via nigro-
estriatal, onde parece haver um balanço entre as atividades dopaminérgicas e colinérgicas. Desta forma, o
bloqueio dos receptores dopaminérgicos provocará uma supremacia da atividade colinérgica e,
conseqüentemente, uma liberação dos sintomas ditos extra-piramidais. Estes efeitos colaterais, com origem
no Sistema Nervoso Central, podem ser divididos em cinco tipos:
1 - Reação Distônica Aguda

Este sintoma extrapiramidal ocorre com freqüência nas primeiras 48 horas de uso de antipsicóticos, portanto,
é uma das primeiras manifestações de impregnação pelo neuroléptico.
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Clinicamente se observam movimentos espasmódicos da musculatura do pescoço, boca, língua e às vezes um
tipo crise oculógira, quando os olhos são forçadamente desviados para cima. A possibilidade dessa Reação
Distônica deve estar sempre presente nas hipóteses de diagnóstico em pronto-socorros, para diferenciá-la dos
problemas neurológicos circulatórios.

O tratamento desse efeito colateral é feito à base de anticolinérgicos injetáveis intramusculares (Biperideno -
Akineton®, por exemplo), e são sempre eficazes em poucos minutos.

2 - Parkinsonismo Medicamentoso

Esse tipo de impregnação geralmente acontece após a primeira semana de uso dos antipsicóticos.
Clinicamente há tremor de extremidades, hipertonia e rigidez muscular, hipercinesia e fácies inexpressiva. O
tratamento com anticolinérgicos ou antiparkinsonianos é igualmente eficaz.
Para prevenir o aparecimento desses desagradáveis efeitos colaterais muitos autores preconizam o uso
concomitante ao antipsicótico de antiparkinsonianos (Biperideno - Akineton®) por via oral.
Muitas vezes, pode haver desaparecimento de tais problemas após 3 meses de utilização dos neurolépticos,
como se houvesse uma espécie de tolerância ou adaptação ao seu uso. Esse fato favorece uma possível
redução progressiva na dose do antiparkinsoniano que comumente associamos ao antipsicótico no início do
tratamento. Alguns autores preferem utilizar os antiparkinsonianos apenas depois de constatada a existência
de efeitos extrapiramidais, entretanto, em nossa opinião essa não é a melhor prática. Sabendo
antecipadamente da cronicidade do tratamento com neurolépticos e, principalmente, sendo as doses
empregadas um pouco mais incisivas, será quase certa a ocorrência desses efeitos colaterais. Já que o
paciente deverá utilizar esses neurolépticos por muito tempo, é desejável que tenham um bom
relacionamento com eles. Ora, nenhum paciente aceitará de bom grado um medicamento capaz de fazê-lo
sentir-se mal, como é o caso dos efeitos extrapiramidais.

3 – Acatisia

A Acatisia ocorre, geralmente, após o terceiro dia de medicação. Clinicamente é caracterizado por
inquietação psicomotora, desejo incontrolável de movimentar-se e sensação interna de tensão. O paciente
assume uma postura típica de levantar-se a cada instante, andar de um lado para outro e, quando compelido a
permanecer sentado, não para de mexer suas pernas.
A Acatisia não responde bem aos anticolinérgicos como a Ração Distônica Aguda e o Parkinsonismo
Medicamentoso, e o clínico é obrigado a decidir entre a manutenção do tratamento antipsicótico com aquele
medicamento e com aquelas doses e o desconforto da sintomatologia da Acatisia.
Com freqüência é necessária a diminuição da dose ou mudança para outro tipo de antipsicótico. Quando isso
acontece, normalmente deve-se recorrer aos Antipsicóticos Atípicos ou de última geração.

4 - Discinesia Tardia

Como o próprio nome diz, a Discinesia Tardia aparece após o uso crônico de antipsicóticos (geralmente após
2 anos). Clinicamente é caracterizada por movimentos involuntários, principalmente da musculatura oro-
língua-facial, ocorrendo protusão da língua com movimentos de varredura látero-lateral, acompanhados de
movimentos sincrônicos da mandíbula. O tronco, os ombros e os membros também podem apresentar
movimentos discinéticos.
A Discinesia Tardia não responde a nenhum tratamento conhecido, embora emalguns casos possa ser
suprimida com a readministração do antipsicótico ou, paradoxalmente, aumentando-se a dose anteriormente
utilizada. Procedimento questionável do ponto de vista médico.
É importante sublinhar que, embora alguns estudos mostrem uma correlação entre o uso de antipsicóticos e
esta síndrome, ainda não existem provas conclusivas da participação direta destes medicamentos na etiologia
do quadro discinético. Alguns autores afirmam que a Discinesia Tardia é própria de alguns tipos de
esquizofrenia mais deteriorantes.
Tem sido menos freqüente e Discinesia Tardia depois do advento dos Antipsicóticos Atípicos ou de última
geração.
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5 - Síndrome Neuroléptica Maligna

Trata-se de uma forma raríssima de toxicidade provocada pelo antipsicótico. É uma reação adversa
dependente mais do agente agredido que do agente agressor, tal como uma espécie de hipersensibilidade à
droga. Clinicamente se observa um grave distúrbio extrapiramidal acompanhado por intensa hipertermia (de
origem central) e distúrbios autonômicos. Leva a óbito numa proporção de 20 a 30% dos casos. Os
elementos fisiopatológicos desta síndrome são objeto de preocupação de pesquisadores e não há, até o
momento, nenhuma conclusão sobre o assunto, nem se pode garantir, com certeza, ser realmente uma
conseqüência dos neurolépticos.
Além dos efeitos adversos dos neurolépticos tradicionais sobre o Sistema Nervoso Central, são observados
reflexos de sua utilização em nível sistêmico. São seis as principais ocorrências colaterais:

1 - EFEITOS AUTONÔMICOS
Por serem, os antipsicóticos, drogas que desequilibram o sistema dopamina-acetilcolina, em algumas
situações podemos encontrar efeitos colinérgicos, em outros efeitos anticolinérgicos. É o caso da secura da
boca e da pele, constipação intestinal, dificuldade de acomodação visual e, mais raramente, retenção urinária.

2 – CARDIOVASCULARES

Alguns neurolépticos podem produzir alterações eletrocardiográficas, como por exemplo, um aumento do
intervalo PR, diminuição do segmento ST e achatamento de onda T. Estas alterações são benignas e não
costumam ter significado clínico. Das alterações cardiovasculares a mais comum é a hipotensão (postural ou
não) a qual, como dissemos, decorre do bloqueio alfa-adrenérgico proporcionado por essas drogas.
Na maioria das vezes a hipotensão desencadeada pela utilização de neurolépticos tradicionais proporciona
apenas um certo incômodo ao paciente, entretanto, nos casos com comprometimento vascular prévio, como
nas arterioscleroses, poderá precipitar um acidente vascular cerebral isquêmico, isquemia miocárdica aguda
ou traumatismos por quedas.

3 – ENDOCRINOLÓGICOS

A ação dos neurolépticos no sistema túbero-infundibular repercute na hipófise anterior produzindo distúrbios
hormonais. Embora incomum, esses antipsicóticos tradicionais podem produzir amenorréia (parada das
menstruações) e, menos freqüente, galactorréia (secreção de leite) e ginecomastia (aumento da mama).
Todos esses efeitos são decorrentes das alterações na síntese de prolactina, ou seja, da hiperprolactinemia.
Há também referências de alterações nos hormônios gonadotróficos e do crescimento, porém, ainda não há
consenso conclusivo sobre isso.

4 – GASTRINTESTINAIS

Tendo em vista a ação nos mecanismos da acetilcolina, os neurolépticos tradicionais podem ter boa ação
antiemética. A constipação intestinal e boca seca também podem ser observadas durante o tratamento, como
conseqüência dos efeitos anticolinérgicos.

5 – OFTALMOLÓGICOS

Embora raras, duas síndromes oftálmicas podem ser descritas com a utilização dos antipsicóticos
tradicionais. A primeira pode ocorrer com uso da Clorpromazina em altas doses, e é conseqüência do
depósito de pigmentos no cristalino. A segunda, com o uso de altas doses de Tioridazina, causando uma
retinopatia pigmentosa.

6 – DERMATOLÓGICOS

Com uma incidência de 5 a 10% podemos encontrar o aparecimento de um rash cutâneo, foto-sensibilização
e aumento da pigmentação nos pacientes em uso de Clorpromazina.
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TIPOS DE ANTIPSICÓTICOS
Os antipsicóticos podem ser divididos em três grupos:

1. Antipsicóticos Sedativos

2. Antipsicóticos Incisivos

3. Antipsicóticos Atípicos e de última geração

ANTIPSICÓTICOS SEDATIVOS

Os antipsicóticos sedativos são aqueles cujo principal efeito é a sedação, ao contrário dos antipsicóticos
incisivos (como o Haloperidol, p. ex.) cujo efeito principal e a remoção dos chamados sintomas produtivos
(delírios e alucinações). Os antipsicóticos sedativos têm melhor indicação nos casos de agitação psicomotora,
portanto, nem sempre usados exclusivamente na esquizofrenia mas, de preferência, diante dos quadros onde
haja agitação, inquietude, ansiedade muito séria, etc.

Principais Antipsicóticos Sedativos no Brasil


Nome químico Nome comercial
CLORPROMAZINA Amplictil, Clorpromazina
LEVOMEPROMAZINA Levozine, Neozine
TIORIDAZINA Melleril
TRIFLUOPERAZINA Stelazine
AMISULPRIDA Sociam

1.a- INDICAÇÕES
Os antipsicóticos sedativos (neurolépticos) são indicados como:
a) Antipsicótico,
b) Antiemético e
c) Ansiolítico,
Os antipsicóticos sedativos são usados para o tratamento dos distúrbios psicóticos, sendo eficazes na
esquizofrenia e na fase maníaca da doença maníaco-depressiva. Também para o tratamento do controle de
náuseas e vômitos graves em pacientes selecionados. É terapêutica alternativa aos benzodiazepínicos no
tratamento de curto prazo (não mais de 12 semanas) da ansiedade não psicótica. Muitos neuropediatras têm
utilizado dos neurolépticos sedativos para o tratamento de problemas graves de comportamento em crianças
(hiperexcitabilidade).
Como antipsicótico, ele atua bloqueando os receptores pós-sinápticos dopaminérgicos mesolímbicos no
cérebro. A maioria deles (fenotiazinas) também produz um bloqueio alfa-adrenérgico e deprimem a liberação
de hormônios hipotalâmicos e hipofisários.
Ainda assim, o bloqueio dos receptores dopaminérgicos aumenta a liberação de rolactina na hipófise. Como
antiemético (para vômito), eles inibem a zona medular disparadora do vômito, e sua ação ansiolítica pode
ocorrer por redução indireta dos estímulos sobre o Sistema Reticular do talo encefálico. Além disso, os
efeitos de bloqueio alfa-adrenérgico podem ocasionar sedação.

1.b - CONTRA-INDICAÇÕES
Depressão grave do SNC, estados comatosos, doença cardiovascular grave. A relação risco-benefício
deve ser avaliada nas seguintes situações: alcoolismo, angina do peito, discrasias sangüíneas, glaucoma,
disfunção hepática, mal de Parkinson, úlcera péptica, retenção urinária, síndrome de Reye, distúrbios
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convulsivos, vômitos (posto que a ação antiemética pode mascarar os vômitos como sinal de
superdosagem de outras medicações).
ANTIPSICÓTICOS INCISIVOS

O grupo farmacológico ao qual pertencem os antipsicóticos incisivos é das butirofenonas e substâncias a elas
relacionadas. Sua ação antipsicótica deve-se ao bloqueio dos receptores pós-sinápticos dopaminérgicos D2
nos neurônios do SNC (sistema límbico e corpo estriado).

Para produzir a ação antipsicótica, os antipsicóticos incisivos produzem um bloqueio seletivo sobre o SNC,
bloqueio este que se dá por competitividade dos receptores dopaminérgicos pós-sinápticos, no sistema
dopaminérgico mesolímbico, e um aumento do intercâmbio de dopaminas no nível cerebral.

Além dos receptores D2, outros são afetados, o que acaba gerando diferentes efeitos adicionais (bloqueio
muscarínico, bloqueio alfa1 adrenérgico, bloqueio H1 histaminérgico), os quais podem ser terapêuticos ou
adversos.

Principais Antipsicóticos Incisivos no Brasil


Nome químico Nome comercial
FLUFENAZINA Anatensol, Flufenan
HALOPERIDOL Haldol, Haloperidol
PENFLURIDOL Semap
PIMOZIDA Orap
PIPOTIAZINA Piportil, Piportil L4
ZUCLOPENTIXOL Clopixo

2.a – INDICAÇÕES

a) Tratamento de distúrbios psicóticos agudos e crônicos, incluindo-se:

b) Esquizofrenia,

c) Fase maníaca do Transtorno Afetivo Bipolar,

d) Psicose Induzida por Substâncias,

e) Transtorno Delirante Persistente,

f) Nas fases piores e mais desadaptadas dos transtornos Esquizóides, Paranóides e Obsessivo-Compulsivos
da personalidade.

g) Problemas severos de comportamento em crianças como Hiperatividade grave, Síndrome de Gilles de La


Tourette, Autismo infantil

h) Alívio da psicopatologia da demência senil

i) Dor neurogênica crônica.

j) Tratamento coadjuvante do tétano

2.b - CONTRA-INDICAÇÕES
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Depressão do SNC, grave ou tóxica (induzida por fármacos). Mal de Parkinson. A relação risco-
benefício deve ser avaliada em alcoolismo ativo, alergias, epilepsia, disfunção hepática ou renal,
hipertireoidismo ou tireotoxicose, glaucoma e retenção urinária.
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS E DE ÚLTIMA GERAÇÃO

São os antipsicóticos mais recentemente introduzidos no mercado e que não se classificam nem como
Fenotiazínicos (sedativos) e nem como Butirofenonas (incisivos). Esses medicamentos têm se mostrado um
novo e valioso recurso terapêutico nas psicoses refratárias aos antipsicóticos tradicionais, nos casos de
intolerância aos efeitos colaterais extrapiramidais, bem como nas psicoses predominantemente com sintomas
negativos, onde os antipsicóticos tradicionais podem ser ineficazes.

De forma ampla os Antipsicóticos Atípicos são definidos como uma nova classe desses medicamentos que
causam menos efeitos colaterais extrapiramidais, ao menos em doses terapêuticas.

Esses antipsicóticos atípicos costumam ser diferentes dos neurolépticos clássicos. A clozapina (Leponex®),
tem um mecanismo de ação que pode ser devido ao bloqueio seletivo dos receptores dopaminérgicos, tanto
D1 como D2, no sistema límbico. Esse bloqueio seletivo explicaria a ausência de fenômenos extrapiramidais.
Sua notável e rápida ação antipsicótica e antiesquizofrênica, se associa à um leve efeito sobre os níveis de
prolactina. Devido a essa última ação o risco de efeitos adversos como ginecomastia, amenorréia,
galactorréia e impotência são menores.

A olanzapina (Zyprexa®), por sua vez, possui um amplo perfil farmacológico, já que atua sobre vários tipos
de receptores, dopaminérgicos, serotoninérgicos, adrenérgicos e histamínicos. Tem maior capacidade de
união aos receptores da serotonina e, além disso, reduz seletivamente a descarga de neurônios
dopaminérgicos mesolímbicos, com menor efeito sobre as vias estriatais, envolvidas na função motora.

Em relação à risperidona (Risperdal®), seu mecanismo de ação é desconhecido, embora se acredite que sua
atividade seja devida a um bloqueio combinado dos receptores dopaminérgicos D2 e dos receptores
serotoninérgicos S2 (antagonista dopaminérgico-serotoninérgico). Outros efeitos da risperidona podem ser
explicados pelo bloqueio dos receptores alfa 2-adrenérgicos e histaminérgicos H1.

Principais Antipsicóticos Atípicos no Brasil


Nome químico Nome comercial
AMISULPRIDA Socian
CLOZAPINA Leponex
OLANZAPINA Zyprexa
QUETIAPINA Seroquel
RISPERIDONA Risperdal, Zargus, Risperidon
ZUCLOPENTIXOL Clopixol

3.a – INDICAÇÕES

Esquizofrenia e outras psicoses em que os sintomas positivos (delírios, alucinações, pensamento


desordenado, hostilidade e medo) ou os negativos (indiferença afetiva, depressão emocional e social, pobreza
de linguagem) são predominantes.



Fonte: Site PsiqWeb – Psiquiatria Geral (http://www.psiqweb.med.br)

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