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Material da Live do dia 08/07/2020 – Hexaflex da ACT

O que seria (In)Flexibilidade Psicológica?

Em ACT o termo “Flexibilidade Psicológica” refere-se ao nível de funcionamento do


ser humano e a compreensão sobre o mesmo. Flexibilidade Psicológica envolve,
também, qualidade de vida e a forma como a pessoa lida com o seu sofrimento,
assim como, de que forma a mesma age diante de eventos (públicos ou encobertos)
avaliados como desagradáveis (Wilson, Strosahl &Hayes, 2012; Saban, 2015;
Saban-Bernauer, 2018).

O quadro de Flexibilidade Psicológica envolve seis processos básicos e centrais,


sendo que estes serão contextos para a produção de qualidade de vida do cliente,
juntamente como das pessoas que lhe são importantes. Os seis processos que
compõem o quando de Flexibilidade Psicológica em ACT envolvem processos como:
Desfusão Cognitiva, Aceitação, Atenção Flexível ou contato com o momento
presente, eu como (parte do) contexto (self como contexto), valores e ações
comprometidas (Wilson, Strosahl &Hayes, 2012; Saban, 2015).

No entanto, quando a pessoa não apresenta tais habilidades ou apresenta algumas,


mas não consegue transitar entre as demais, esta vivencia um quadro de
Inflexibilidade Psicológica. A Inflexibilidade Psicológica, também, pode ser
organizada em um formato hexagonal (imagem 1). Segundo Hayes, os elementos
que configuram o processo e Inflexibilidade Psicológica são: 1) Atenção inflexível –
isto é, uma atenção voltada para um evento passado ou para o planejamento de
algo ou alguma realização; 2) Esquiva experiencial – o que consiste nos
comportamentos, públicos ou privados, que a pessoa emite com o objetivo de
atrasar, suspender ou evitar o contato com eventos avaliados como aversivos; 3)
Fusão cognitiva – quando a pessoa fica sob controle dos seus eventos encobertos
(pensamentos, sentimentos, lembranças, etc.); 4) Conceitualização da noção de
“Self” (Self-conceitual); 5) Inércia, impulsividade ou perseveração nos
comportamentos de fuga/esquiva e; 6) Valores pouco claros ou evitativos (Wilson,
Strosahl &Hayes, 2012; Saban, 2015).
Imagem 1 – Hexágono da Inflexibilidade Psicológica. Tradução e adaptação de
Wilson; Strosahl &Hayes, 2012, p. 62.

Hexágono da Flexibilidade Psicológica ou Hexaflex.

Em oposição aos modelos de Inflexibilidade Psicológica, Hayes e seus colaboradores


desenvolveram o Hexágono da Flexibilidade Psicológica. Trata-se de um diagrama
(imagem 2) que organiza os seis processos que compõem a Habilidade de
Flexibilidade Psicológica. Como descrito anteriormente, o Hexaflex é um modelo
unificado que pode ser utilizado tanto para avaliação do sofrimento do cliente, bem
como instrumento para organizar as intervenções que o terapeuta deverá realizar
no decorrer dos atendimentos com o mesmo. A partir da sistematização e
organização dos comportamentos problemáticos apresentados pelo cliente no
Hexágono da Inflexibilidade Psicológica, o terapeuta irá identificar quais áreas
do Hexaflex serão foco prioritário de intervenção, assim como quais os processos
serão necessários para que tais habilidades sejam desenvolvidas e/ou aprimoradas
(Wilson, Strosahl &Hayes, 2012; Saban, 2015; Dixon & Paliliunas, 2018; Saban-
Bernauer, 2018).
Imagem 2 – Hexágono da Flexibilidade Psicológica. Tradução e adaptação de
Wilson; Strosahl & Hayes, 2012, p. 67.

Não obstante, conforme o conteúdo exibido na imagem 2, observa-se que existem


linhas traçadas (leia-se encontros) entre um vértice (leia-se habilidade ou processo)
e outro que compõem o Hexaflex. Sendo assim, nota-se que as estratégias
utilizadas pelo terapeuta, que tenham como objetivo principal intervir,
especificamente, em um dos processos da Flexibilidade Psicológica, podem ter um
efeito secundário, isto é, a intervenção em outras áreas do Hexaflex, mesmo que
essa não tenha sido a pretensão do terapeuta. Acredito que este aspecto trata-se
de um grande diferencial entre a ACT e algumas outras vertentes terapêuticas que
não estão fundamentadas na ciência da Análise do Comportamento. Através desta
organização é possível identificar, ainda, que as intervenções realizadas pelo
terapeuta estão, totalmente, permeadas, do início ao fim, em uma leitura contextual
funcional, pragmática, ideográfica e monista do comportamento humano. Não
obstante, tal organização possibilita que o processo terapêutico seja fluido, flexível
e que pode e deve ser ajustado ao nível de habilidade do cliente, assim como, ao
quanto este está aberto ao processo de mudança, ao invés de um procedimento
cristalizado, isto é, uma forma de intervenção que deve seguir, categoricamente,
uma estrutura de intervenção (Saban, 2015; Saban-Bernauer, 2018).

As Seis Habilidades do Hexaflex

O Hexaflex pode ser dividido em três colunas sendo que a do meio é compartilhada
entre as outras. No lado esquerdo estão agrupadas as habilidades de Aceitação e
Desfusão. Este lado do Hexaflex é também conhecido como “Núcleo de Abertura,
Atenção e Aceitação”, visto que as habilidades abarcadas neste lado são
responsáveis por intervir na redução da interferência que o processo de literalidade
da linguagem e dos pensamentos possui na vida do cliente (para revisão, ler Murta
& Barbosa, 2014), assim como, ensinar a pessoa a ter um repertório
comportamental mais adaptativo e flexível, ao invés de tentar controlar o seu
sofrimento ou tentar escapar desse. A Habilidade de Aceitação envolve trabalhar
com o cliente para que este perceba que o sofrimento é parte inerente da vida do
ser humano e para que o mesmo perceba seus eventos encobertos como tais se
apresentam; livre de críticas e julgamentos. A Habilidade de Desfusão é
caracterizada pelo processo do cliente de desprender-se da literalidade e enxergar
seus eventos encobertos não como verdade ou imutáveis, mas sim como
comportamentos flexíveis que são evocados a partir das experiencias que o mesmo
irá vivenciar e do seu histórico de aprendizagens. Posto isso, as estratégias que
serão utilizadas para intervir neste Núcleo do Hexaflex buscarão, ainda, fazer com
que o cliente entre em contato com seus eventos encobertos avaliados como
desagradáveis(e.g. pensar, sentir e lembrar) sem necessariamente responder a eles
com tentativas de esquiva (Wilson, Strosahl &Hayes, 2012; Dixon & Paliliunas,
2018; Saban-Bernauer, 2018).

No centro do Hexaflex estão as habilidades de Atenção Flexível, (ou contato com)


Momento Presente e Eu como contexto (Self como contexto). Como o próprio nome
diz, a Habilidade de Atenção Flexível com momento presente tem como
premissa fazer com que o cliente desenvolva uma atenção livre de críticas e crivos
de valores, e que esta esteja voltada para o momento presente, isto é, para as
contingências que estão em vigor no momento ou contexto no qual o cliente está
inserido. Não obstante, a Habilidade de Self como contexto envolve, também, um
processo de consciência, continuado, ao contexto no qual o cliente está inserido,
assim como, a competência do mesmo em diferenciar suas experiências no
momento atual das vivências anteriores (Saban, 2015).

O lado direito do Hexaflex, sendo conhecido, também, como “Núcleo de Ativação


Comportamental ou Comprometimento” é composto pelas habilidades de Valores &
Ações Comprometidas. Enquanto o lado esquerdo enfatiza os processos de
percepção livre de críticas e julgamentos, aceitação e desfusão, o lado direito
enfatiza o desenvolvimento e aprimoramento dos processos de atenção e
modificação de comportamentos. Este lado também prioriza o desenvolvimento de
repertórios comportamentais mais flexíveis e adaptativos. Sendo assim, o terapeuta
buscará identificar os Valores do cliente, a fim de identificar contingências que se
configurem em motivadores para a modificação dos comportamentos problemáticos
apresentados pelo mesmo. Valores aqui, incluem, também, estilos de vida ou
pessoas que são importantes para o cliente. Decorrente da identificação ou
clarificação dos Valores do cliente, o terapeuta irá auxiliá-lo a identificar ou criar
contingências que lhe possibilitem vivenciar tais valores ou que lhe auxiliem a se
aproximar deles, assim como, caminhar em sua direção. Este processo é nomeado
como Ações Comprometidas(Wilson, Strosahl &Hayes, 2012; Saban, 2015;
Saban-Bernauer, 2018).

Fonte: https://www.comportese.com/2019/09/o-que-seria-esse-tal-de-hexaflex-entendendo-o-conceito-
de-flexibilidade-psicologica-em-act

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