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Isabel Leite
Universidade de Évora
Resumo
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Consciência Fonémica
Todos os sistemas de escrita representam a fala através de um conjunto de sinais gráficos que
simbolizam os seus constituintes sonoros (Perfetti et al., 2005). Nos sistemas de escrita alfabéticos, como é o
caso do alfabeto latino que se utiliza para ler e escrever no Português do Brasil, as letras representam a fala
ao nível do fonema (Liberman, 1970). O fonema é a unidade mínima do sistema de uma língua que permite
distinções de significado. Por exemplo, as palavras BOLA e MOLA, diferenciam-se somente pelo “som” inicial
ou, de forma mais precisa, pelo primeiro fonema, respectivamente /b/ e /m/. Vejamos dois outros exemplos:
FÁ e VÁ; FÁ e FÉ. Dois pares de palavras constituídas por uma única sílaba. Em ambos os pares, as palavras
distinguem-se uma da outra também por um único fonema: no primeiro par pelo fonema inicial, pela
consoante, /f/ e /v/; no segundo par pelo fonema final, pela vogal, /a/ e /ɛ/. Esta é a característica distintiva do
alfabeto: um sistema de escrita onde as vogais e as consoantes, as unidades mais elementares da fala que se
combinam para formar sílabas e palavras, são representadas separadamente (e.g., Fowler & Shankweiler, 2016;
Morais, 2009).
No momento em que se inicia a aprendizagem formal da leitura e da escrita a maioria das crian-
ças são já falantes competentes da sua língua, capazes de pronunciar e compreender milhares de pala-
vras. A produção ou compreensão de enunciados linguísticos não exige um conhecimento explícito da
estrutura fonológica da fala, do mesmo modo que não requer um conhecimento explícito das regras de
formação das palavras ou de combinação das palavras em frases. Mas para aprender a ler e a escrever
o leitor aprendiz tem de tomar consciência das unidades que constituem as palavras para perceber o
que os sinais gráficos representam-no caso da escrita alfabética, perceber que as letras representam os
fonemas (e.g., Liberman, Shankweiler, Fischer & Carter, 1974; Morais, 2003). A criança tem também de
aprender as correspondências entre as letras e cada um dos fonemas da sua língua (e.g., Byrne, 2013;
Byrne & Fielding-Barnsley, 1989) e ser capaz de utilizar esse conhecimento na pronúncia das palavras
escritas. A aprendizagem da leitura e da escrita assenta, por isto, no desenvolvimento de habilidades para
lidar conscientemente com os constituintes fonológicos da linguagem oral, consciência fonológica, em
particular no desenvolvimento da capacidade para identificar e manipular os fonemas que constituem as
palavras, consciência fonêmica. O reconhecimento do papel da consciência fonêmica na aprendizagem
da leitura é fundamental para o professor que tem a nobre missão, e responsabilidade, de ensinar a ler
e a escrever. Ajudá-lo-á a definir metas de aprendizagem devidamente escalonadas no tempo, o tipo de
instrução destinado à sua promoção, a sequência de atividades e como devem ser conjugadas com o
ensino do código e o exercício da leitura, a ordem de introdução das correspondências grafema-fonema.
Será ainda útil para a detecção e interpretação das dificuldades das crianças e definição do feedback
corretivo necessário.
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sensibilidade à sílaba e a sensibilidade a esta é, por sua vez, dominada antes de ser alcançada a sensibilidade
ao ataque e à rima (Anthony & Lonigan, 2004; Anthony et al., 2002; Anthony et al., 2003).
A consciência fonêmica é uma forma de consciência fonológica, mas exige um grau mais elevado de
abstração. As vogais, tal como as sílabas, são fáceis de identificar e isolar porque podem ser pronunciadas iso-
ladamente. Repare como sem qualquer dificuldade pronunciamos as vogais da palavras IVO, respectivamente
/i/ e /u/. No ato de fala, as vogais são produzidas através da livre passagem do ar ao longo do trato vocal. O
mesmo não se passa com as consoantes cuja articulação se caracteriza por uma obstrução parcial ou total do
fluxo de ar. Para serem pronunciadas a maioria das consoantes, tal como o próprio nome indica - “com-soan-
te” - necessitam das vogais – das “soantes”. Repare como é impossível pronunciar /d/ sem dizer uma vogal. Na
produção da fala os gestos articulatórios das consoantes combinam-se, e temporariamente sobrepõem-se,
com os das vogais (cf. Caixa de texto). Porque são co-articuladas com as unidades contíguas, as consoantes
não correspondem a segmentos isoláveis e a sua realidade acústica, o seu som, não é constante/invariante
(e.g., Fowler, Studdert-Kennedy, & Shankweiler, 2016; Shankweiler & Fowler, 2019). É por esta razão, e porque
no uso da linguagem não é necessário dirigir a atenção para os procedimentos implicados na sua produção e
compreensão, que a existência do fonema não é evidente e a maioria das crianças em idade pré-escolar falha
em tarefas que exigem, por exemplo, a sua identificação, contagem ou manipulação (e.g., Byrne, 1996, 1998;
Byrne & Fielding-Barnsley, 1989; Liberman et al., 1974). Esta dificuldade na identificação ou manipulação de
unidades fonêmicas contrasta com a facilidade de execução de tarefas de consciência fonológica com unida-
des de maiores dimensões, como por exemplo a sílaba (e.g., Liberman et al., 1974; Leite, 2010).
Caixa I
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Tendo por referência uma perspectiva desenvolvimental, poder-se-ia pensar que a consciência fonêmi-
ca é alcançada naturalmente, correspondendo ao culminar do processo de desenvolvimento das habilidades
metalinguísticas. Se assim fosse, a maior dificuldade das crianças do pré-escolar em tarefas de consciência
fonêmica seria explicada pela idade, pela falta de maturidade. Seria, portanto, lógico só iniciar o ensino da
leitura e da escrita quando a criança começasse a manifestar alguma capacidade para identificar ou mani-
pular fonemas. No entanto, os resultados da investigação científica sobre o que leva ao desenvolvimento da
consciência fonêmica não confirmaram esta hipótese. O fator determinante não é a idade, mas sim a própria
aprendizagem da leitura em um sistema de escrita que representa de forma distinta, i.e. com símbolos gráficos
diferentes, os fonemas da língua.
A primeira evidência neste sentido surgiu há mais de quatro décadas, em um estudo pioneiro de
Morais e colaboradores (1979) com adultos letrados e ex-iletrados portugueses. Os primeiros foram incapa-
zes de realizar operações de subtração e fusão de fonemas, enquanto os segundos, alfabetizados já na idade
adulta e com pouco tempo de instrução, foram bem-sucedidos. Outras investigações vieram confirmar esta
descoberta seminal e mostrar que para se ter a noção de que a fala é constituída por fonemas é, quase sem
exceção, necessário aprender a ler em um sistema de escrita que representa de forma distinta, i.e. com símbo-
los gráficos diferentes, os fonemas da língua. Read, Zhang, Nie e Ding (1986) demonstraram-no ao testarem
dois grupos de letrados chineses, um grupo letrado só em caracteres chineses (um sistema de escrita onde
os caracteres não representam a fala ao nível do fonema) e outro grupo letrado e alfabetizado. Os letrados
não alfabetizados tinham dificuldades na manipulação de fonemas comparáveis às dos iletrados Portugueses.
No mesmo sentido apontaram os resultados de estudos com crianças onde se explorou a relação
entre tarefas de contagem e de manipulação fonêmica, o tempo de instrução da leitura e o método de ensino
da leitura. As crianças que tinham tido mais tempo de instrução de leitura (e.g., Alegria & Morais, 1979) e as
que tinham aprendido a ler através de um método fônico (e.g., Alegria, Pignot & Morais, 1982), um método
que assenta no ensino explícito das correspondências entre as letras e os fonemas (ver capítulo de Vale neste
volume), tiveram desempenhos significativamente melhores em tarefas de consciência fonêmica.
Em suma, a noção de que a fala é composta por uma sequência de unidades elementares, por
fonemas, contrasta com as restantes formas de consciência fonológica. A consciência fonêmica não emerge
naturalmente.
A ideia de que a competência de leitura, avaliada pela precisão e velocidade de pronúncia das
palavras escritas, está fortemente relacionada com capacidades para lidar conscientemente com os
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constituintes fonológicos da linguagem oral está há muito demonstrada (National Institute for Literacy, 2008).
No entanto, o papel das diferentes formas de consciência fonológica na aprendizagem da leitura só
recentemente começou a ficar esclarecido. De um ponto de vista teórico a questão é importante para
compreender os mecanismos que estão implicados na leitura. De um ponto de vista prático, é crucial para se
perceber que instrução é necessária à aprendizagem.
Uma das mais influentes teorias sobre a importância das capacidades fonológicas para a aprendiza-
gem da leitura e da escrita propunha que as crianças apreendem a ler palavras prestando atenção às letras
que correspondem ao ataque e à rima das sílabas (Goswami & Bryant, 1990), uma vez que aquelas que
exibem melhores desempenhos na manipulação destas unidades têm também melhores desempenhos na
leitura (Bradley & Bryant, 1983). A consciência fonêmica era, nesta perspectiva claramente desenvolvimental,
essencialmente entendida como um produto da aprendizagem da leitura; seria uma consequência da atenção
dirigida aos ataques e às rimas que correspondem a um simples fonema (como por exemplo o /p/ e o /a/, na
palavra PÁ). O sucesso na aprendizagem da leitura estaria assim dependente das capacidades de manipula-
ção da fala ao nível do ataque e da rima, devendo, por conseguinte, ser esse o foco da instrução no início da
aprendizagem da leitura.
Uma outra perspectiva defendia que a consciência fonêmica é a capacidade crítica para progredir na
aprendizagem da leitura porque a base do princípio alfabético é precisamente a representação dos fonemas
da língua.
Diversos estudos compararam a associação das diferentes formas de consciência fonológica
(consciência do ataque e da rima vs. consciência fonêmica) com o desempenho e a progressão na leitura.
Fizeram-no i) analisando o grau de associação entre os dois fatores em um dado momento, ii) explorando
a relação longitudinalmente, i.e., avaliando em que medida as diferentes formas de consciência fonológica
avaliadas em um dado momento (T1) eram preditoras do desempenho futuro na leitura (T2), e iii) comparan-
do o desempenho de crianças disléxicas com o de crianças sem dificuldades na leitura nas diferentes medidas
de consciência fonológica. Inúmeras investigações, em diversas línguas (incluindo no Português do Brasil), mos-
traram que a consciência fonêmica tem uma correlação mais elevada e é um preditor mais forte do sucesso
na aprendizagem da leitura (e.g., Cardoso-Martins, 1995; Hatcher & Hulme, 1999; Hulme et al. 2002; Mann &
Foy, 2003). Revelaram também que as crianças com dislexia exibem défcits mais significativos nas tarefas de
consciência fonêmica. Os resultados de estudos de meta-análise (Castles & Coltheart, 2004; Melby-Lervaͦg;
Lyster & Hulme, 2012) confirmaram-no e mostraram ainda que o efeito da consciência da rima não é inde-
pendente do nível de consciência fonêmica. Por outras palavras, quando se comparam os efeitos das dife-
rentes medidas de consciência fonológica é a consciência fonêmica o fator que melhor explica as diferenças
individuais na aprendizagem da leitura e da escrita.
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A hipótese de uma relação causal entre a consciência fonêmica e a aprendizagem da leitura, indiciada
pelos estudos correlacionais e pelas fracas capacidades fonêmicas das crianças disléxicas quando comparadas
com crianças mais novas com o mesmo nível de leitura (e.g., Goswami & Bryant, 1989; Backman, Mamen, &
Ferguson, 1984), é suportada pelos resultados de estudos experimentais. O exercício da consciência fonêmica
acelera o ritmo de aprendizagem da leitura e reduz dificuldades (e.g., Bentin & Leshem, 1993; Hatcher, Hulme,
& Snowling, 2004; Leite, 2010; Lundberg, Frost, & Petersen, 1988; National Reading Panel, 2000).
As implicações pedagógicas destas descobertas são claras. Dado que a noção de que a fala é
constituída por fonemas não emerge naturalmente e que é esta habilidade que tem um efeito direto,
causal, no desenvolvimento da leitura, ela deve ser exercitada desde as etapas mais precoces da aprendizagem.
Como o exercício das habilidades metafonológicas (ao nível da sílaba, do ataque e da rima) não culmina no
desenvolvimento da consciência fonêmica, têm de existir exercícios específicos que levem a criança a
descobrir as unidades mais elementares que compõem as palavras. São esses exercícios que facilitam a apren-
dizagem da leitura (ver adiante exemplos de atividades).
No momento em que se inicia a aprendizagem da leitura, o leitor aprendiz começa por aprender a
decompor a palavra em sequências de fonemas e grafemas, a estabelecer correspondências sistemáticas entre
ortografia e fonologia e a fundir ou integrar as sequências de fonemas de modo a recuperar a pronúncia de
cada palavra escrita. À medida que este mecanismo de decodificação é exercitado e se torna mais eficiente,
ele contribui para o desenvolvimento de um mecanismo de leitura mais eficaz e qualitativamente diferente,
que corresponde à recuperação automática da pronúncia de palavras cuja forma escrita está já memorizada.
A memória da forma escrita das palavras – a sua representação ortográfica – resulta de múltiplas repetições
de decodificação bem-sucedidas (Share, 1995), que fortalecem as ligações entre a ortografia e a fonologia, e
a tornam cada vez mais precisa.
Durante algum tempo pensou-se que os leitores competentes já só acessariam à fonologia da palavra
quando as palavras eram pouco frequentes e regulares (Perfetti & Bell, 1991) mas hoje sabe-se que mesmo
na leitura proficiente há sempre uma ativação das correspondências fonológicas das unidades ortográficas.
O acesso à fonologia é inevitável e efetuado de forma rápida, automática. Por outras palavras, quando lemos
recuperamos de forma automática, mas muito precisa, “os sons” que correspondem à forma escrita das
palavras.
Uma das primeiras evidências foi uma experiência realizada por Van Orden (1987). Nessa experiência
os participantes, leitores, tinham de dizer se uma determinada sequência de letras correspondia ou não a um
nome de uma determinada categoria semântica (por exemplo, se ROSE, ou ROWS ou ROBS era uma flor).
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Os erros foram muito mais frequentes nos itens homófonos (ROWS) do que nos itens semelhantes do ponto
de vista ortográfico (ROBS). Efeitos idênticos foram observados em crianças a aprender a ler (e.g., Booth,
Perfetti & McWhinney, 1999). Isto significa que a natureza fonológica da leitura está presente em todos os
níveis de proficiência desta habilidade. Aprender a ler é precisamente tornar-se capaz de a partir da palavra
escrita recuperar de modo cada vez mais preciso e rápido a sua pronúncia. Num sistema de escrita que
representa os fonemas da língua as habilidades fonêmicas em que assenta a decodificação assumem particular
relevância.
O que Mostra Então a Investigação Empírica Sobre o que é Necessário para a Criança Compreender
que a Fala é Constituída por Fonemas e Aprender Como o Sistema de Escrita as Representa?
Como vimos anteriormente, como a consciência dos fonemas não é necessária ao uso da linguagem,
habitualmente ela só é alcançada com a aprendizagem da leitura em um sistema de escrita que representa a
fala a esse nível. Tal não significa que seja impossível dirigir a atenção para estas unidades da fala sem o con-
tato com a escrita alfabética. Há relatos de crianças e de adultos não familiarizados com a escrita alfabética
e ainda assim com bons desempenhos em testes de consciência fonêmica (e.g., Lundberg, 1991; Mann, 1991).
Alguns destes casos foram encontrados em culturas com tradição de jogos orais que implicam a análise e
manipulação dos fonemas (por exemplo, a troca de posição das consoantes de uma palavra mantendo as
vogais; ver Fowler, Shankweiler, & Studdert-Kennedy, 2016). Outros exemplos são documentados em estudos
experimentais que exploraram o efeito do treino das capacidades de identificação e manipulação fonêmica
sem qualquer instrução do sistema de escrita, onde se verificou que é possível dirigir a atenção para os sons
da fala – em particular para as vogais e as consoantes fricativas – e obter alguns progressos nas capacidades
fonêmicas. Porém a investigação também mostrou que sendo a consciência fonêmica uma condição necessá-
ria para o sucesso na aprendizagem da leitura ela não é, por si só, suficiente.
Byrne e colaboradores (1989, 1990, 1995, 2000) demonstraram-no através de um elegante conjunto
de experiências onde a capacidade e o conhecimento das crianças foram exercitadas e testadas de modo
incremental. Começaram por apresentar e pedir a memorização de pares de palavras escritas que dife-
riam apenas na primeira letra. O equivalente em Português poderia ser PAR e MAR. De seguida apresen-
tavam uma palavra escrita, por exemplo PÁS, e perguntavam à criança se se pronunciaria “pás” ou “más”.
As respostas foram dadas ao acaso.As crianças não conseguiram inferir que tendo PÁS a mesma letra e pronúncia
que PAR no início da palavra, a resposta correta seria “pás” (ver Morais, 2009; Leite, 2010). Mesmo depois de
treinadas a analisar e a identificar os “sons” das palavras continuaram a não ser capazes de inferir a relação
destes com as letras. Só quando tomaram consciência dos fonemas e lhes foram explicitamente ensinadas as
letras correspondentes é que as crianças foram capazes de efetuar a tarefa de identificação da palavra escrita
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com sucesso. Por outras palavras, o exercício isolado, exclusivo, das habilidades de análise e de identificação
de fonemas não tem grande utilidade se não for acompanhado do ensino explícito das correspondências
entre letras e fonemas e da demonstração de como esse conhecimento alfabético é utilizado na leitura e
escrita de palavras. A confirmar as descobertas de Byrne e colaboradores existem hoje inúmeros estudos
experimentais e de meta-análise, rigorosamente controlados (e.g., Bentin & Leshem, 1993; Hatcher, Hulme
& Snowling, 2004; Leite, 2010; Lundberg, Frost & Petersen, 1988; National Reading Panel, 2000; Troia, 1999).
Do mesmo modo, o conhecimento das letras e do seu nome não é, para a maioria das crianças,
suficiente para inferirem o que as letras representam. Mesmo conhecendo a forma e o nome de várias
letras, sem serem capazes de destrinçar as consoantes das vogais as crianças não conseguem utilizar o co-
nhecimento que têm das letras na identificação das palavras escritas (Ball & Blachman, 1991; Leite, 2010).
Quando pronunciamos o nome das letras ou o som correspondente inevitavelmente produzimos uma vogal.
Por exemplo quando um professor demonstra a pronúncia de uma palavra como PAR descreve: o P lê-se /pə/,
o A lê-se /a/ e o R /rə/. Como cada um destes elementos é uma sílaba a criança tem de ter alguma capacida-
de de análise e representação fonêmica para inferir os fonemas correspondentes a cada letra e fundi-los na
pronúncia da palavra. Concluindo, a consciência fonêmica não é suficiente, por si só, para a criança progredir
na leitura, mas é indispensável. O exercício e a demonstração de como as capacidades fonêmicas se aplicam
na leitura e na escrita, explicitando as relações entre os fonemas e grafemas, modelando a fusão de fonemas
sucessivos na pronúncia de sílabas ou a segmentação de uma sílaba nos seus constituintes elementares, tem
efeitos significativos no ritmo de aprendizagem. Os efeitos são observáveis a curto e a longo-prazo, direta-
mente em medidas de precisão e velocidade de leitura e escrita (de palavras e pseudopalavras) e indireta-
mente também em medidas de compreensão da leitura (para uma revisão ver National Reading Panel, 2000).
A consciência fonêmica facilita a aprendizagem das correspondências, da leitura e da escrita e estas,
por seu turno, promovem uma noção dos fonemas da fala progressivamente mais abstrata e precisa, numa
relação de influência recíproca (ver Morais, 2003; Morais, Alegria & Content, 1987). As técnicas de registro e
de imagiologia da atividade cerebral vieram revelar as bases neuronais implicadas na aprendizagem da leitura
e as evidências sustentam a hipótese de reciprocidade entre a aprendizagem da leitura e o desenvolvimen-
to das habilidades metalinguísticas. Quando se aprende a ler há a integração de novos circuitos neuronais
no processamento da fala. Mesmo com muito pouco tempo de instrução tanto os adultos (Dehaene, et al.,
2010) como as crianças (Monzalvo & Dehaene-Lambertz, 2013) quando ouvem palavras ativam a Área da
Forma Visual da Palavra, ou seja a representação escrita dessas palavras. A ativação das regiões implicadas
no processamento da fala, em especial as que estão envolvidas no processamento dos fonemas, aumenta
com a aprendizagem da leitura e a conectividade entre as diferentes regiões implicadas no reconhecimento
da fala e das palavras escritas é reforçada (para uma revisão ver Kolinsky, Morais, Cohen, & Dehaene, 2018).
Por outras palavras, a partir o momento em que nos tornamos leitores deixamos de ser capazes de tratar as
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palavras sem sermos influenciados pelo conhecimento da sua forma escrita e o processamento da estrutura
sonora da palavra é afinado (para uma revisão dos dados de estudos comportamentais ver também Kolinsky,
Pattamadilok, & Morais, 2012).
Em síntese, ao longo de quatro décadas de investigação acumularam-se provas de que a consciência
fonêmica pode ser ensinada e aprendida, demonstrou-se o seu papel crucial na aprendizagem da leitura e per-
cebeu-se como o seu desenvolvimento está relacionado, na esmagadora maioria das vezes, com a exigência
de aprendizagem de um sistema de escrita que obriga à representação mental das consoantes e vogais como
elementos distintos da fala.
A investigação das condições que influenciam o desenvolvimento das capacidades fonêmicas
permite acrescentar a estas outras conclusões relevantes (para uma revisão ver as conclusões do estudo de
meta-análise do National Reading Panel, 2000).
Diversos exercícios podem ser utilizados para levar a criança (ou o adulto iletrado) a individualizar os
“sons” e a categorizá-los de uma forma que leva à descoberta e compreensão de que a fala é constituída por
unidades elementares, por fonemas (identificação, isolamento, segmentação, fusão, subtração, …; ver, neste
capítulo, O que fazer na sala de aula?). Ensinar a criança a reconhecer uma determinada unidade fonêmica
no contexto de diferentes palavras, a analisar os constituintes elementares de uma sílaba, a fundir fonemas
para produzir sílabas e palavras ou a manipular fonemas são formas muito eficazes de levar a criança a
descobrir os constituintes das palavras.
As letras, enquanto símbolos visuais concretos, ajudam o leitor aprendiz a abstrair-se das variações
acústicas resultantes da coarticulação e a realizar a abstração dos fonemas (Foulin, 2005). Por isso, ensinar as
letras correspondentes aos fonemas (a sua forma visual, o seu nome ou som) e utilizá-las para demonstrar a
manipulação a realizar facilita a abstração dos fonemas.
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O ensino das capacidades fonêmicas implica instrução e modelação das atividades e implica sobretudo
uma atenção particular ao desempenho individual dos alunos. Só assim o educador/o professor será capaz
de reparar na evolução de cada aluno, aperceber-se das dificuldades que alguns irão enfrentar, dar o feedback
corretivo necessário e ajustar a instrução, o ritmo e intensidade das atividades às necessidades individuais. A
superioridade dos efeitos do trabalho com pequenos grupos de alunos comparativamente ao efeito do traba-
lho realizado com a turma comprova-o. O fato de os alunos beneficiarem mais com o trabalho em pequeno
grupo do que com o trabalho individual sugere que as crianças podem tirar partido da interação com os co-
legas e destes com o professor. Por outras palavras, ouvir as respostas dos colegas e o feedback do professor
traz, possivelmente, vantagens.
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desenvolver a habilidade de analisar a fala e a tomar consciência dos seus constituintes fonológicos (dos seus
“sons”) mais elementares.
As práticas de ensino que se têm revelado mais eficazes são as que ajudam o leitor aprendiz a
familiarizar-se com a ideia de que as palavras são compostas por “pedacinhos de som”, as sílabas e, em conjun-
to com as letras e com outros índices, nomeadamente a demonstração dos gestos articulatórios, levam-no a
reparar que estas se podem dividir em segmentos mais pequenos, os fonemas. O conhecimento das letras
correspondentes ao fonema a manipular e a aplicação da manipulação dos fonemas à leitura e escrita de pa-
lavras são indispensáveis, pois são os elementos que conferem utilidade à habilidade fonêmica. O ensino deve
ser explícito e sistemático (i.e., do mais simples para o mais complexo), requer tarefas muito estruturadas,
explicadas, modeladas e exemplificadas.
Várias atividades podem ser utilizadas, que se distinguem pelo tipo de operação envolvido na tarefa que é
solicitada:
• Isolamento do fonema – ensina-se a criança a isolar os fonemas de uma palavra
Professor: “Qual é o primeiro som de FFFFOCA?” Repita1 a palavra FOCA, como eu estou a dizer:
FFFFFOCA. Que som dizemos no início? ”
Aluno: “O primeiro som de FOCA é /f/”
Professor: “Muito bem, FFFFOCA começa com o som /f/, que se escreve com esta letra: F
[o Professor mostra ou escreve a letra F]”
• Identidade do fonema - ensina-se a criança a reconhecer um determinado fonema apresentado no con-
texto de diferentes palavras
Professor: “Quais destas palavras começam com o mesmo som: FILA, FATO,VILA2 , FURO?”
Vamos dizer cada uma destas palavras prolongando o som inicial: FFFILA, FFFATO,VVVILA, FFFURO.”
Aluno: “As palavras que começam com o mesmo som são: FILA, FATO e FURO”
Professor: “Certo. FILA, FATO, FURO começam com o mesmo som, o som /ffff/. O som /fff/ escreve-se com a
letra F ”
• Distinção fonêmica – ensina-se a criança a reconhecer qual a palavra de um determinado conjunto tem
um som diferente
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Professor: “Qual destas palavras começa com um som diferente: PATA, BATA, PULA, PELE?”
Aluno: “A palavra que começa com um som diferente é BATA”
• Fusão de fonemas – pronuncia-se um conjunto de “sons” separadamente e ensina-se a criança a fundi-los
para formar uma palavra
Professor: “Que palavra temos se juntarmos o som /vvvvv/ com o som /iiii/?”
Aluno: “Se juntarmos /v/ e /i/ temos VI”
Nota: a demonstração da operação de fusão fonêmica é facilitada quando se utilizam letras; exemplo:
Professor: “A letra V [o professor mostra uma letra móvel ou escreve a letra V] serve para escrever
o som /vvvv/. A letra I [o professor mostra uma letra móvel ou escreve a letra I] serve para escrever
o som /iiii/. Que palavra temos se juntarmos o som /vvvvv/ com o som /iiii/ [o professor junta as duas
letras móveis ou escreve VI]? ”
• Segmentação fonêmica – ensina-se a criança a separar, ou segmentar, e a identificar “os sons” que
constituem uma palavra. Nota: a demonstração da operação de segmentação fonêmica é facilitada
quando se utilizam letras
Professor: “Vamos escrever a palavra VILA. Quantas sílabas tem a palavra VILA.Vamos bater uma
palma por cada sílaba: VI-LA?”
Aluno: “VILA tem duas sílabas.”
Professor: “Muito bem, a palavra VILA tem duas sílabas:VI-LA. Para escrevermos começamos por
escrever a sílaba que pronunciamos primeiro:VI. Que sons tem a sílaba VI. Reparem: /vvvviiii/?”
Aluno: “VI tem os sons /v/ e /i/”
Professor: “Muito bem. Então escrevemos /vvvviiiii/ com as letras:V e I. Como pronunciamos
primeiro /v/ escrevemos primeiro a letra V e só depois a letra I. Já temos VI, agora vamos escrever LA.
Que sons tem a sílaba /la/?”
Aluno: “LA tem os sons /L/ e /ɑ/”
Professor: “Muito bem. Como pronunciamos primeiro /l/ escrevemos primeiro a letra L e só
depois a letra A para escrever o som /ɑ/.”
• Subtrair fonemas – incita-se a representação e manipulação do fonema
Professor: “Como fica a palavra MATO sem o som /m/?”
Aluno: “ATO.”
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Conclusões
Para aprender a ler e a escrever é indispensável o leitor aprendiz perceber a relação entre os símbolos
gráficos do sistema de escrita e as unidades da fala, aprender as correspondências entre os constituin-
tes fonológicos e os ortográficos e ser capaz de utilizar esse conhecimento na identificação e escrita de
palavras. Num sistema de escrita alfabético as letras representam os fonemas, os constituintes fonológicos
mais elementares que introduzem diferenças de significado. Tomar consciência dos fonemas e ser capaz de
os representar mentalmente é dos tipos de consciência fonológica o que exige um grau mais elevado de
abstração, mas é também esta capacidade para representar e lidar mentalmente com os fonemas a chave para
a utilização do código escrito.
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Sem consciência fonêmica o leitor aprendiz (criança ou adulto analfabeto) não compreenderá o que
as letras representam; terá dificuldade a aprender as correspondências entre letras e fonemas e a utilizar
esse conhecimento na pronúncia das palavras escritas. Sem consciência fonêmica a criança (ou o adulto)
tenderá a basear a identificação das sílabas e das palavras na memorização visual de conjuntos de letras e da
repectiva pronúncia, comprometendo a aprendizagem de um mecanismo que permite a leitura de toda e
qualquer palavra, i.e., de palavras conhecidas e de palavras novas.
Ao contrário de outros tipos de consciência fonológica (como a consciência da sílaba, do ataque e da
rima) que podem ser alcançados facilmente, por introspecção, ou através de alguns exemplos, a
consciência fonêmica não se desenvolve, salvo muito raras exceções, espontaneamente. A noção de que a fala
é constituída por fonemas tem de ser ensinada, explícita e sistematicamente.Inúmeras atividades podem ser
utilizadas para promover a consciência fonêmica.As práticas mais eficazes são as que incitam a análise das síla-
bas nos seus constituintes, requerem a sua identificação e formas de manipulação que se aproximam das que
estão implicadas na leitura e escrita (e.g., fusão fonêmica sucessiva e segmentação). O treino da consciência
fonêmica é sobretudo eficaz e útil quando o exercício das habilidades fonêmicas é executado em conjunto
com a relação entre letras e fonemas e no contexto de aprendizagem dos mecanismos de leitura e de escrita.
O ensino deve ser explícito e sistemático, começando pelas unidades fonêmicas mais salientes e
consistentes na ortografia. É, por isto, indispensável que o futuro professor tenha um conhecimento apro-
fundado da língua e do código ortográfico em que vai ensinar a ler e a escrever. Sem este conhecimento, os
professores terão dificuldade em explicar como a escrita representa a fala, selecionar exemplos adequados
para pôr em evidência a estrutura fonêmica da fala, escolher palavras ou partes de palavras cujo contraste
facilita a tomada de consciência do fonema, interpretar os erros das crianças e ajustar o foco da instrução.
Felizmente esse conhecimento sobre o português está disponível, desde logo, neste manual e também
acessível em numerosas outras fontes.
Referências
Alegria, J., & Morais J. (1979). Le développement de l’habileté d’analyse phonétique consciente de la
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Isabel Leite
Recursos Online
• https://ler.pnl2027.gov.pt
LER – Leitura, Escrita, Recursos: Uma plataforma desenvolvida em parceria pelo Plano Nacional de Leitura português
e pelo EDULOG, Think Tank para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo. De acesso gratuito contém textos
de divulgação das principais descobertas científicas relacionadas com a aprendizagem da leitura e da escrita, com a
explicação das suas implicações para a prática pedagógica e exemplos de recursos educativos.
• https://www.readingrockets.org/
Website, em língua inglesa, que agrega diversos conteúdos sobre a aprendizagem da leitura, a sua promoção, estratégias
e atividades. Inclui textos de divulgação do conhecimento científico, exemplos de atividades e vídeos demonstrativos.
• http://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/sealf/curso/5401/informacoes
A Plataforma AVAMEC é um espaço virtual de aprendizagem que permite a concepção, administração e
desenvolvimento de diversos cursos, entre eles um curso de formação de alfabetizadores. A inscrição e participação
online é livre. Tem muitas ideias e vídeos que ajudam a demonstrar como ensinar a ler e a promover as habilidades
específicas necessárias à aprendizagem da leitura, como é o caso da consciência fonêmica.
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