António Ferreira .1
a2512@alunos.ipca.pt
Pedro Mota Teixeira, Paula Tavares
Abstract Keywords
A animação facial 3D é um processo minucioso que requer Expressão; Facial;
especial atenção e dedicação por parte de todos os envolvidos. Animação; Investigação.
No caso de personagens humanoides, todos os comportamentos
assemelham-se aos humanos incluindo a face, logo, o estudo
de expressões faciais humanas, torna-se um ponto de partida
indispensável. A animação 2D, enquanto antecessora da animação
3D, merece igual atenção para perceber se transitaram, se foram
adicionados ou completamente remodelados os princípios de
animação de uma linguagem para a outra. O presente artigo visa
expor áreas de estudo, assim como temas, conceitos e metodo-
logias associadas para presentes ou futuros investigadores de
expressões faciais animadas.
1. Instituto Politécnico
do Cávado e do Ave,
Escola Superior de
Tecnologia, Campus
do IPCA - Lugar do
Aldão 4750-810 Vila
Frescainha S. Martinho
BCL, Portugal
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1 . Introdução
A comunicação humana tem como base dois fatores essenciais,
nomeadamente os índices e os sinais. Índices correspondem
a informação comunicada de forma involuntária, ou seja, sem
intenção prévia de comunicar, por parte do emissor, e sinais cor-
respondem precisamente ao oposto, “havendo (…) a intenção ou
o objetivo de que essa informação atinja um ou mais recetores,
direta ou indiretamente, de forma imediata ou
mediatizada” (p. 16) [23].
Sinais são constituídos por signos e símbolos. Signos são “in-
strumentos de comunicação e representação, na medida em que,
com eles, configuramos linguisticamente a realidade e distingui-
mos os objetos entre si” (Saussure cit in [22], p. 23). Dividem-se
em signos verbais (orais e escritos) e não-verbais. Os primeiros
são constituídos por três elementos, nomeadamente “o refer-
ente (a coisa em si), o significante (a imagem acústica ou visual)
e o significado (o conceito, ou seja, o entendimento que se faz)”
(pág. 16) [23]. Por outro lado, os signos não-verbais constam em
sinais de comunicação sem recurso à palavra, como por exemplo,
através de cores, desenhos, sons, ilustrações, fotografias, etc.
Fernando Nogueira Dias [23] refere que a diferença entre signos
e símbolos rege-se, basicamente, pela elevada dependência de
normas sociais e culturais, por parte dos signos, para existir uma
analogia correta entre significado e significante, ao invés dos sím-
bolos onde existe uma perceção imediata a nível global. O autor
destaca ainda que a comunicação não-verbal pode ser “enquad-
rada igualmente em comportamentos simbólicos” (p. 17) [23].
O emissor, com intenção de comunicar, terá de optar por um
código percetível ao recetor [1] [24]. Um código é “um sistema de
significados comum aos membros de uma cultura ou subcultura”
(p. 357) [1] e:
“(…) incorpora signos, mas também regras ou convenções que
determinam como e em que contextos estes signos são usados e
como podem ser combinados de maneira a formar mensagens
mais complexas. A linguagem verbal (nas suas múltiplas vertentes
linguísticas), o morse, os semáforos, a linguagem gestual dos
surdos-mudos, as expressões faciais, o braille... Todos constituem
exemplos (…) de códigos” (p. 357) [1].
Entende-se, então, as expressões faciais como um exemplo
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Uma vez situadas e categorizadas, as expressões faciais, no F.1 Signos Rápidos [3]
âmbito do processo de comunicação, torna-se indispensável dest-
acar as correntes teóricas responsáveis pelo estudo das mesmas.
Neste âmbito existem teorias estruturalistas e funcionalistas. Das
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o seu discurso.
Adaptadores são gestos de necessidade física e surgem sem
qualquer aviso ou deteção prévia, tal como coçar, sentar-se numa
posição mais confortável. Podem ser considerados pistas para o
que realmente a pessoa pensa, revelando o desconforto ou nervos-
ismo perante a situação vigente.
Ilustrativos acompanham e dão ênfase a palavras ou ex-
pressões e criam uma imagem visual que suporta a mensagem
verbal. São efetuados de forma involuntária e existe igualmente
uma elevada variação cultural para a sua interpretação. “Em
algumas culturas asiáticas, um uso extensivo de gestos ilustrativos
é interpretado como fata de inteligência. Em culturas latinas, a
inexistência dos mesmos, indica falta de interesse” (p. 37) [21].
Movimentos da cabeça, dos olhos, das mãos, fazem parte deste
grupo.
As expressões de emoções são gestos faciais que refletem as
mesmas. Existem universais e culturalmente variáveis. Segundo
Adolphs e Gelder [6], as expressões de emoções são os signos faci-
ais que se manifestam mais vezes durante uma interação social,
ao invés de Chovil [cit. in [27] (p. 3)] que “conclui que dificilmente
20% das expressões, em conversações face-a-face, são afeti-
vas”. Existe um fator primordial que diferencia a manifestação
emocional de cultura para cultura, pois em alguns países asiáticos
as pessoas são encorajadas a ocultar ao máximo a sua manifes-
tação emocional e, por outro lado, em países latinos é exatamente
o oposto.
2 . Contexto Histórico
A universalidade de algumas expressões faciais foi um tema
levantado há mais de um século atrás por Charles Darwin, natu-
ralista do séc. XIX. As emoções são algo comum a todos os seres
humanos e a possibilidade de igualdade de manifestação via facial
seria uma forte aposta na corrente ideológica de Darwin.
“Darwin (1872) foi o primeiro a sugerir que [as expressões faciais
de emoções] seriam universais; as suas ideias sobre emoções
eram uma peça central da sua teoria da evolução, o que sugeria
que as emoções e as suas expressões seriam biologicamente ina-
tas e adaptativas evolutivamente” (p. 1) [7].
Noventa anos depois, “as alegações de Darwin foram ressus-
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citadas por Tomkins (1962; 1963)” (p. 1) [7], as quais teriam sido
relativizadas até então pois acreditava-se que cada cultura teria
a sua manifestação facial [7]. Foram nomes como Harré, Heelas
e Lutz que consideravam as diferenças culturais interessantes e
concentravam-se nelas [8].
“(…) Tomkins (1962; 1963), (…) sugeriu que a emoção é a
base da motivação humana e que o reflexo da emoção estava no
rosto (…) [e] realizou o primeiro estudo para demonstrar que as ex-
pressões faciais estão, de forma fiável, associadas a certos estados
emocionais (Tomkins & McCarter, 1964). Mais tarde, Tomkins
recrutou Paul Ekman e Carroll Izard para realizarem o que é con-
hecido hoje como os estudos da universalidade” (p. 1) [7].
Universalistas, dos quais fazem parte “Ekman (1989), Brown
(1991), Shaver, Wu e Schwartz (1992) (…) acreditam que ocorrem
emoções fundamentais em todos os humanos (…) [pois] consid-
eram as semelhanças mais convincentes” (p. 72) [8]. Oatley e Jen-
kins (p. 73) [8] afirmam que o facto de se optar por universalismo
ou relativismo é uma “ideia antiga que já pertence ao passado”,
pois “a ideia de que a mente humana é uma tábula rasa, na qual as
culturas inscrevem qualquer coisa, já não é sustentável”. Desde os
primeiros estudos da universalidade:
“(…) foram mais de 30 os que examinaram reconhecimento de
expressões faciais e têm multiplicado a identificação universal de
emoções no rosto (revisto em Matsumoto, 2001). Além disso, uma
meta-análise de 168 conjuntos de dados, examinando recon-
hecimento de emoções no rosto e outros estímulos não-verbais,
indicaram reconhecimento universal da emoção bem acima dos
níveis esperados (Elfenbein & Ambady, 2002a). E houve mais
de 75 estudos que demonstraram que essas mesmas expressões
faciais são produzidas de forma espontânea quando as emoções
são sentidas (Matsumoto, Keltner, Shiota, Frank & O’Sullivan,
2008) [inclusive em indivíduos invisuais]. Estes resultados são
impressionantes, uma vez que eles foram produzidos por difer-
entes pesquisadores em todo o mundo, em laboratórios difer-
entes, utilizando diferentes metodologias com participantes de
muitas culturas diferentes, mas todos convergindo para o mesmo
conjunto de resultados” (p. 1) [7].
Ekman defende assim uma teoria denominada neuro-cultural
que defende uma “padronização neuronal inata das expressões
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4 . Contexto Expressivo
4.1 . Humano
O estudo de expressões faciais humanas poder-se-á dividir em
três áreas principais de influência na face: Sobrancelhas, olhos
e boca. Ekman e Friesen [3] mencionam que o fator comum das
três é precisamente a capacidade de movimento independente.
Existem outras zonas faciais, mas por consequência da movimen-
tação das sobrancelhas, a alteração da testa poderá ser incluída na
secção das mesmas, assim como as pálpebras incluídas na secção
dos olhos, e o queixo na secção da boca. As bochechas, visto
que estão envolvidas em movimentações da boca e da pálpebra
inferior (secção dos olhos), poderão ser referidas apenas quando
necessário, associadas à área vigente. O nariz como poderá afetar
a secção da boca e dos olhos, e já que raramente há movimentos
altamente notórios no mesmo, poderá ser referido quando tiver
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4.2 . Animado
No âmbito da animação “as pessoas estão [igualmente] habitu-
adas a sentir ligações afetivas com personagens” (p. 1) [13], logo
“se a audiência não se identifica, por alguma razão, com a person-
agem, vai perder o interesse rapidamente” (p. 4) [14], tal como
numa interação social onde os signos transmitidos poderão ser in-
corretamente percecionados ou mal recebidos pelos observadores
[6]. Nesse sentido “os filmes animados e espetáculos televisivos
usam uma série de técnicas para se ligarem emocionalmente às
suas audiências” (p. 1) [13]. As expressões faciais, a banda sonora,
vozes, efeitos sonoros e técnicas cinematográficas, como ilumi-
nação e movimentos de câmara, são alguns desses mesmos meios
de conexão emocional e contágio (p. 1-2) [13].
Portadoras de grande carga emocional, as expressões faciais
animadas são baseadas no comportamento humano mas reforça-
das com movimentos exagerados [13].
“(…) a função dos animadores é única, pois dão vida aos
desenhos criando a ilusão de espírito e vigor. Acentuam gestos
e expressões nos desenhos que refletem a personalidade da per-
sonagem e faz-nos acreditar que os desenhos têm efetivamente
sentimentos e que pensam por eles” (p. 6) [15].
Este novo fator implica uma correta aplicação dos princípios
da animação para conseguir uma credível manifestação expres-
siva via facial, contribuindo assim, pela parte que lhe toca, para o
contágio dos espetadores:
a) Squash (Comprimir) e Stretch (Esticar) – É um método que
permite atribuir a noção de peso e volume à personagem. Muitos
autores referem várias vezes o termo flexibilidade e aconselham
os animadores a não terem medo de esticar e comprimir as perso-
nagens para tornar a animação mais expressiva, já que qualquer
ser vivo ao movimentar-se revela igualmente alterações consid-
eráveis na sua forma.
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F.6 Alegria
F.7 Desprezo
F.8 Medo
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F.9 Nojo
F.10 Raiva
F.11 Surpresa
F.12 Tristeza
Conclusão
Uma boa animação 3D baseia-se em diversos estudos previa-
mente efetuados para animação 2D onde os princípios acabam por
ser uniformes para ambas as linguagens. Toda a dinâmica atribuí-
da à massa corporal das personagens acaba definitivamente por
contagiar os espectadores e o presente artigo permite concluir que
limitar o conhecimento apenas ao aspeto das expressões faciais
em si, acaba por ser insuficiente para uma correta transmissão
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