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O Estrangeiro 9 Ano
O Estrangeiro 9 Ano
No dia seguinte ao enterro de sua mãe, Meursault vai à praia e reencontra uma
antiga colega de trabalho, a ex-datilógrafa do escritório, Marie Cardona.
Passam o dia juntos, vão ao cinema e depois dormem juntos. Ela ao perceber
seu luto, perguntou o tempo em que sua mãe havia falecido. Diante da
resposta recente, surpreende-se:
“Hesitou um pouco, mas não fez comentário. Tive vontade de dizer-lhe que a
culpa não era minha, mas detive-me porque me pareceu já ter dito a mesma
coisa ao meu patrão. Isto nada queria dizer. De qualquer modo, a gente
sempre se sente um pouco culpado.” (CAMUS, 2016, p.26)
“Tanto faz” acaba se tornando uma das expressões mais usadas por
Meursault. Ele a usa quando seu chefe lhe oferece um cargo em Paris: “Disse
que sim, mas que no fundo tanto fazia. Perguntou-me, depois, se eu não
estava interessando em uma mudança de vida. Respondi que nunca se muda
de vida; que, em todo caso, todas se equivaliam” (CAMUS, 2016, p. 45 e 46). E
usa também quando Marie pergunta se ele queria se casar com ela: “À noite,
Marie veio buscar-me e perguntou se eu queria casar-me com ela. Disse que
tanto fazia, mas que se ela queria poderíamos nos casar.” (CAMUS, 2016,
p.46)
Ao ficar frente a frente com o árabe, que se mostrava acuado, Meursault sente-
se desconfortável e irritado por causa do sol.
Por causa deste queimar, que já não conseguia suportar, fiz um movimento
para a frente. Sabia que era estupidez, que não me livraria do sol se desse um
passo. Mas dei um passo, um só passo à frente. E desta vez, sem se levantar,
o árabe tirou a faca, que ele me exibiu ao sol” “Foi então que tudo vacilou. O
mar trouxe um sopro espesso e ardente. Pareceu-me que o céu se abria em
toda a sua extensão, deixando chover fogo. Todo o meu ser se retesou e
crispei a mão sobre o revólver. O gatilho cedeu, toquei o ventre polido da
coronha e foi aí, no barulho ao mesmo tempo seco e ensurdecedor, que tudo
começou. Sacudi o suor e o sol. Compreendi que destruíra o equilíbrio do dia,
o silêncio excepcional de uma praia onde havia sido feliz. Então atirei quatro
vezes ainda num corpo inerte em que as balas se enterravam sem que se
desse por isso. E era como se desse quatro batidas secas na porta da
desgraça” (CAMUS, 2016, p. 60)