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Fichamento “LEVIATÔ

HOBBES, Thomas. Leviatã. 2ª e dição, Editora Martin Claret, 2012.

INTRODUÇÃO
Leviatã – República ou Estado: “Homem artificial” instituído p ara proteção e
Defesa do homem natural.
Considerações:
- Homem como matéria e artífice;
- Como e por que pactos se institui;
- O que é um Estado cristão;
- O que é o Reino das Trevas.

Parte 1
Do homem
Capítulo I
Das sensações

Pensamentos do homem, individualmente: representação de um objeto.


Origem: sensação – meras fantasias originais causadas pelos movimentos de
coisas externas sobre nosso corpo.
Causa das sensações: corpo externo ou objeto que age sobre o órgão
apropriado a cada sentido, direta (e: tato) ou indiretamente (ex: audição).

Capítulo II
Da imaginação

Imaginação: Aquilo que é criado pela imagem da visão, aplicando -se aos
demais sentidos.
Para os gregos: fantasia.
Quando afastamos nossa visão de um objeto apesar de a impressão
Provocada por ele continuar, outros objetos estarem mais presentes faz com
ue a memória dele fique obscurecida. Quanto mais longo tempo transcorrido
Desde a visão ou sensação de um objeto, mais fraca é a imaginação. A
imagem do passado se enfraquece.
Imaginação = memória
Memória de muitas coisas: experiência.
Imaginação simples: quando se imagina uma ou outra coisa específica;
Imaginação composta: quando se imagina duas ou mais coisas
concomitantemente, misturando-as (ex: se imaginar como um herói).
Imaginação dos que dormem: sonho.
“Nossos sonhos são o inverso de nossas imagens no estado de vigília; quando
Estamos despertos, o movimento se inicia num extremo, e, quando dormimos,
Em outro. ”
Pela possível dificuldade de se distinguir sonhos e outras fantasias das visões
e sensações surgem crenças como faunos, ninfas, fadas, fantasmas, gnomos,
bruxas...
Para Hobbes, as escolas deveriam fugir de ensinar isso que conhecem como
tradição. Pensamentos bons: inspirados por Deus; pensamentos maus:
inspirados pelo demônio.
Entendimento: imaginação produzida no homem por meio de palavras e outros
signos voluntários, proveniente da compreensão da vontade, das concepções e
dos pensamentos do homem.

Capitulo III
Da consequência ou serie de imaginações
Discurso mental, sucessão de um pensamento a outro.
Um pensamento posterior não surge tão casualmente quanto parece.
Igualmente a imaginação.
“Todas as fantasias são ações verificadas dentro de nós, relíquias que
operaram em nossa sensação. ”
Esse discurso mental é de duas espécies:
A primeira é desorientada, sem destino e inconstante. Pensamentos dos seres
humanos, sem qualquer preocupação.
A segunda é mais constante, regulada por algum desejo ou finalidade. Pode
ser de dois tipos: um em que procuramos descobrir as causas e os meios que
Produzem um efeito imaginado (comum ao homem e ao animal); o outro em
que imaginando uma coisa qualquer, procuramos determinar os efeitos que
possa causar, isto é, imaginar o que podemos fazer com uma coisa quando a
possuímos (restrita ao homem).
Prudência: presunção do futuro, baseada numa experiência do passado.
Dizer que algo é infinito significa que não somos capazes de conceber seus
Limites.

Capítulo IV
Da linguagem
Uso da linguagem: transformar discurso mental em verbal, ou a série de
pensamentos em série de palavras, com dois objetivos: Imprimir em nossa
memória marcas ou notas; uso, por várias pessoas, de idênticas palavras
para traduzir o que elas concebem ou pensam sobre determinada matéria, e
também o que desejam.
Usos especiais da linguagem:
“Registrar aquilo que, por meditação, achamos ser a causa de todas as coisas,
Presentes ou passadas e, segundo nosso parecer, o que essa coisa pode
Produzir e quais os resultados. Essa é a origem das artes”;
Aconselhar e ensinar uns aos outros;
Dar a conhecer aos outros nossas vontades e propósitos, para que possamos
nos ajudar mutuamente;
Agradar e deleitar a nós mesmos e aos outros, jogando com nossas palavras,
por prazer.
A isso correspondem quatro abusos:
Primeiro: quando os homens registram de maneira equívoca o seu
pensamento, enganando a si próprios;

Segundo: quando usam as palavras de forma metafórica para enganar a os


outros;

Terceiro: quando declaram ser sua vontade aquilo que não é;

Quarto: quando utilizam as palavras para agredir uns aos outros.


Onde não há linguagem, não há também verdade ou falsidade.
Nomes de matéria, nomes abstratos, nomes de imagens, nomes positivos,
nomes negativos.
Os demais não passam de sons: novos, cujo significado ainda não está bem
explicado por definição; a outra é a classe que passa a existir quando criamos
um nome baseado em dois outros.
Os nomes se estabelecem para dar significado a nossas concepções.

Capitulo V
Da razão e da ciência
Razão: Consideração das consequências dos nomes gerais ajustados para a
caracterização e a significação de nossos pensamentos.
“A luz da mente humana é constituída por palavras claras e perspicazes, mas
livres e depuradas da ambiguidade mediante definições exatas; a razão é o
passo; o incremento da ciência, o caminho; e o benefício do gênero humano, o
fim. Ao contrário, as metáforas e as palavras sem sentido ou ambíguas são
Como fogos-fátuos; raciocinar tomando-as por base equivale a perambular
Entre absurdos incontáveis; seu fim será o litígio, a sedição e o desdém. ”

Capitulo VI
Da origem interna das moções voluntárias, comumente
chamadas paixões, e das palavras que as expressam
Moções vitais: respiração, digestão. Não precisam da ajuda da imaginação.
Moções voluntárias: andar, falar. Mover um de nossos membros da forma
como foi imaginado por nossa mente.
Hobbes destaca que desejo e amor são a mesma coisa, só que, com desejo,
significamos sempre a ausência do objeto e, com amor, sua presença. Além
disso, segundo ele, o homem denomina bom aquilo que é objeto de algum
desejo seu, e chama de mau o que lhe causa a versão. E conclui que todo
apetite, desejo e amor estão acompanhados por gozo mais ou menos intenso;
o ódio e a aversão, por maior ou menor desagrado e ofensa.

Capitulo VII
Dos fins ou resolução do discurso
Todo discurso tem uma finalidade de anunciar ou renunciar. No discurso
puramente mental, quanto se interrompe o fluxo de pensamentos fica a dúvida
se será ou não será; e se chama opinião.
Já o discurso verbal consiste na conexão das palavras; e se chama conclusão.
Quando o discurso verbal começa:
- Por definição: se chama silogismo;
- Por alguma contemplação: denomina-se opinião;
- Em concernir mais à pessoa do que ao fato: é chamada crença ou fé (nas
palavras do homem, ou na sua verdade).

Capitulo VIII
Das virtudes comumente chamadas intelectuais e de suas
falhas opostas
Virtudes – comparação.
Virtudes intelectuais – aquelas atitudes da mente que os homens apreciam,
valorizam e que gostariam de possuir.
Naturais – adquiridas através da experiência
Adquiridas – razão
Destaca-se o discernimento em um discurso qualquer; caso haja, neste, uma
falha, mesmo existindo uma incrível capacidade de imaginação, será
considerado falta de talento; assim como o discernimento jamais será tão
evidente quando a imaginação for corriqueira.
De acordo com Hobbes a diferenciação de talento dos indivíduos é reflexo das
paixões. Tal distinção deriva em parte, da diferente constituição do corpo, e em
parte das diferenças de educação e costumes.

Capítulo IX
Das diversas matérias do conhecimento
Hobbes indica a existência de duas espécies de conhecimento: o
conhecimento do fato (sensação e memória) e o conhecimento da
consequência de uma afirmação para outra (ciência).
Registro do conhecimento dos fatos é a história que pode ser:
História natural: independe da interferência humana (ex: dos animais, das
plantas);
História civil: refere-se à história das ações voluntárias dos homens
constituídos em Estados.

Capítulo X
Do poder, do valor, da dignidade, da honra e da excelência
Poder: meios de que um homem dispõe para alcançar algum bem evidente.
Poder natural: força, aparência, prudência, habilidade, eloquência, liberalidade
e nobreza extraordinárias.
Poder instrumental: adquiridos por meio dessas faculdades ou sorte, e servem
como instrumentos para alcançar a reputação, riquezas, amigos e os desígnios
de Deus. Maior de todos os poderes: poder do Estado; união de forças (ter
servos, assim como, ter amigos).
Honra: manifestação de valores atribuídos mutuamente. Quanto maior valor
atribuído a um indivíduo, maior a sua honra.
Dignidade: Valor do homem concebido e conferido pelo Estado.
Sinais de honra para com outrem: elogiar a alguém, obedecer, dar grandes
presentes a um homem, dar a tenção, ceder lugar ou passagem ou qualquer
outra comodidade, apreciar, exaltar ou felicitar, falar com alguém com
consideração, crer, confiar, apoiar -se, só licitar conselho ou prestar atenção à
palavra de um homem, concordar com a opinião de alguém, imitar, pedir
conselhos ou utilizá-los em momentos difíceis.
Excelência: poder especial ou capacidade para qual alguém se sobressai.

Capítulo XI
Da diferença de modos

Refere-se às qualidades que a humanidade precisa ter para poder conviver


pacífica e harmoniosamente.
Inclinação da humanidade ao poder.
Quanto aos diferentes modos de homens, temos: os que desconfiam de sua
própria perspicácia estão, nos tumultos e nas revoltas, mais inclinados à vitória
que aqueles que se; os presunçosos, que deleitam-se em se supor galantes e
tendem à vanglória e não ao empreendimento; os vaidosos, que estão
propensos a lançar-se em empreitadas sem pensar e, com a dificuldade ou o
perigo, a fugir, quando isto se mostra possível; os que têm uma firme opinião
da própria sabedoria em matéria de governo, que estão propensos à ambição.
A curiosidade ou amor ao conhecimento das causas leva um homem a
investigar a causa a partir de seu efeito, e assim por diante até chegar a
conclusão de que existe uma causa primeira, sem outra que a tenha precedido.

Capitulo XII
Das religiões
Religião é própria do homem.
Primeiro: é da natureza humana perguntar as causas dos acontecimentos.
Segundo: é próprio dos homens considerar que todas as coisas tiveram um
começo e pensar nas causas que determinaram esse começo.
Terceiro: o homem observa com o se produziu um acontecimento e seus
antecedentes e consequências.
A humanidade sempre foi acompanhada por um perpétuo temor na ignorância
das causas. Os deuses foram criados pelo temor humano.
Quanto aos deuses, tudo foi divinizado: o céu, o oceano, os planetas, o fogo, a
terra, os ventos, o homem, os pássaros, crocodilos, vacas, cachorros, cobras.
Além de estarem todos os lugares infestados de espíritos: as planícies, os
bosques, o mar, os rios, as casas. O tempo, à noite, o dia, a paz, a concórdia, o
amor, o ódio, a verdade, a honra, a saúde, a sagacidade, a febre e coisas
semelhantes também foram qualificadas como divindades. Já o infortúnio da
guerra, as enfermidades contagiosas, os terremotos e todas as demais
misérias humanas deviam-se a ira dos deuses, e com isso os legisladores
conseguira que a população considerasse que a causa de seus infortúnios
eram a negligência ou sua desobediência às leis, reduzindo, dessa forma, a
possibilidade de movimentos de rebelião contra os governantes.

Capitulo XIII
Da condição natural do gênero humano no que concerne a sua
felicidade e a sua desgraça
Os homens foram criados igualmente pela natureza em faculdade e espírito,
sendo possível fortalecer-se.
A perspicácia de um indivíduo está ao alcance da sua mão, enquanto a dos
outros está mais distanciada.
Três causas principais de disputa existente na natureza humana:
Competição – os homens são levados a utilizarem de violência para
conseguirem algum benefício.
Desconfiança- os homens são conduzidos a prática da violência para garantir
a sua segurança, para defesa de seus bens.
Glória – os homens são impulsionados a se atacarem para garantir a sua
reputação. Recorrem a violência por motivos insignificantes (elogios de ou
trem, por exemplo).
Quando não existe um poder capaz de unir as pessoas, numa atitude de
respeito, tem-se uma condição de guerra de todos contra todos onde não há as
noções de bem e de mal, de justiça e liberdade que permite aos demais, na
medida em que considerar tal decisão necessária à manutenção da paz e de
sua própria defesa.
Um direito é abandonado mediante a simples renúncia ou por sua transferência
a outrem. Por simples renúncia quando não importa a quem o ato beneficiará;
transferido, quando pretende-se beneficiar determinada pessoa.
Todo homem pratica um ato voluntário esperando alcançar algum benefício,
assim quando um homem transfere ou renuncia a um direito tem a esperança
de ser beneficiado.
O motivo e a finalidade pelo qual se apresenta a transferência e a renúncia do
direito são a certeza da segurança pessoal do homem, quanto a sua vida e aos
meios de preservá-la.
Contrato: designa a transferência MÚTUA de direitos. Sinais do contrato podem
ser reconhecidos por inferência. Um sinal reconhecido por inferência, de
qualquer contrato, geralmente revela a vontade do contratante.
Quando as palavras se referem ao que estão por vir (darei, concederei), por si
só não são suficientes de do ação ou transferência, uma vez que si gnificam
que meu direito ainda não foi transferido, continuando a ser meu. Contudo, se
as palavras se referem ao presente (deu, concedo) ou ao passado (dei,
concedi), são suficientes de doação ou transferência, pois o direito já foi
transferido no ato do negócio.
Nos contratos, o direito não é transmitido apenas quando as palavras estão no
presente ou no passado, mas também quando estão no futuro, visto que, todo
contrato é uma translação de troca mútua.
No contrato, o mérito resulta do próprio poder e da necessidade do contratante.
Na doação, o merecimento é fruto da benevolência do doado.
Os homens ficam livres dos pactos efetuados por dois caminhos: pelo
cumprimento ou sendo perdoados.
Um pacto anterior anula outro posterior.
Sendo a força das palavras muito fraca para obrigar os homens a cumprirem
seus pactos, é possível, pela própria natureza destes, reforça-las de duas
maneiras: por medo das consequências advindas do não cumprimento da
palavra ou por orgulho de não ser necessário faltar a ela.

Capítulo XV
De outras leis naturais
Terceira lei natural: que os homens cumpram os pactos que celebrarem.
Indispensável para que os pactos tenham força e não sejam meras palavras.
A validade dos pactos se dá com a instituição de um poder civil (Estado) que
obrigue aos homens cumpri-los, pois não existe promessa mútua quando não
há garantia de cumprimento por ambas as partes.
Com relação à justiça e injustiça, quando atribuída a ações, indica
conformidade ou compatibilidade entre a razão e determinadas ações.
Justiça: comutativa – igualdade de valor das coisas, objeto do contrato;
distributiva – distribuição de benefícios iguais a pessoas de méritos iguais.
Quarta lei natural: quem recebeu um benefício de outra pessoa, por simples
graça, deve esforçar-se para não dar ao doador motivo razoável de
arrependimento por sua boa vontade. A desobediência a essa lei é chamada
ingratidão. Quinta lei natural: complacência. Significa que cada indivíduo deve
se esforçar para conviver com os outros. Os que respeitam essa lei são
chamados sociáveis, os que desrespeitam são os insociáveis, obstinados,
refratários ç e intratáveis.
Sexta lei natural: perdão, que se mostra como uma garantia de paz.
Sétima lei natural: que nas vinganças, os homens não deem importância à
grandeza do mal passado, mas à grandeza do bem futuro. Proibição de outra
forma de castigos que não sejam aplicados com o intuito da correção do
ofensor ou de exemplo para os outros homens. O descumprimento desta lei dá-
se o nome de crueldade.
Oitava lei natural: nenhum homem, por meio de palavras ou atos, demonstre
ódio ou desprezo pelo outro. A contrariedade a essa lei é chamada de injúria
ou insulto. Nona lei natural: Proposta por Hobbes – indica que cada homem
reconheça os demais como seus iguais por natureza. A partir dessa lei cria-se
outra, que depende desta nona lei, e prega que ao se iniciarem as condições
de paz, ninguém deve pretender reservar apenas para si um direito que não
aceitaria que fosse privilégio de qualquer outro. Quem respeita tal lei é de
nominado modesto e quem a contraria de arrogante.
Um preceito da lei natural que se destaca é o de que se um homem foi e leito
juiz para julgar dois homens, deve trata-los com equidade (justiça
distributiva).
Desta lei deriva uma outra de que a coisas que não podem ser divididas sejam
desfrutadas por todos ou que a coisa seja desfrutada igualitariamente entre
aqueles que a ela tem direito.
É lei natural também que se outorgue salvo -conduto a todos os homens que
servem de mediadores para a paz.
Capítulo XVI
Das pessoas, dos autores e das coisas personificadas
Denomina-se pessoa aquele cujas palavras ou ações são consideradas suas
ou representação das palavras ou ações de outro homem, ou de algum outro
ser ao qual são atribuídas seja como verdade, seja como ficção.
Pessoa natural: as palavras e ações lhe são próprias.
Pessoa artificial ou imaginária: as palavras e ações representam as palavras e
ações de outro homem.

Thomas Hobbes: Leviatã – Livro II: Do Estado, Cap. XVII ao


XXI
Capítulo XVII: Das Causas, Geração e Definição de um Estado

“O FIM ÚLTIMO, causa final e desígnio dos homens (que amam naturalmente a
liberdade e o domínio sobre os outros), ao introduzir aquela restrição sobre si
mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua própria
conservação e com uma vida mais satisfeita. ” (HOBBES, 1997, p.141)
É desta forma que Thomas Hobbes (1588-1679) – Filósofo Britânico do Séc.
XVII – inicia o segundo livro de sua obra O Leviatã – intitulado Do Estado. Para
ele o homem – no estado de natureza - gozava de uma liberdade total, porém,
viviam no que ele chama de “guerra de todos contra todos”, não existindo
sequer qualquer chance de segurança plena. Os homens, seres de desejos, e
sem nenhum poder superior capaz de provocar algum temor, buscavam a
efetivação destes desejos a qualquer custa, já que este era o único objetivo de
viver, mas ficavam a mercê desta situação, correndo o risco de morte a todo
instante. Assim, através do “[...] desejo de sair daquela mísera condição de
guerra que é a consequência necessária (conforme se mostrou) das paixões
naturais dos homens” (HOBBES, 1997, p. 141) e alcançar o desejo primordial –
o desejo de sobrevivência – que surgiu a primeira forma de estado.
Para Hobbes, “[...] as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia,
a piedade, ou, em resumo, fazer aos outros o que queremos que nos façam)”
(HOBBES, 1997, p. 141) não tem validade, já que estas entram em conflito
com as paixões naturais, como o orgulho, a vingança etc. e por isso, não
adiantam de nada se não houver o auxílio da força, e só serão respeitadas por
alguns e quando houver segurança para isso. 
A única lei que é respeitada no estado de natureza – e mesmo assim somente
por um certo número de pessoas – é a lei da honra. As pequenas famílias
juntavam-se e procuravam estender seus domínios para se proteger, mas, para
Hobbes, a união de algumas pessoas não adianta, pois ao se deparar em uma
situação de grande conflito – como a guerra – cada um preocupará somente
com seus apetites individuais.
Hobbes vê que para existir a devida segurança, é necessário a criação de um
meio que é capaz de assegurar a segurança dos indivíduos de forma eficiente
e permanente. Assim, surge o estado.

Capítulo XVIII
Dos Direitos Dos Soberanos por instituição.

Hobbes diz que um Estado por instituição é quando uma multidão de homens
concorda e/ou pactua consigo mesmos, quando qualquer homem ou
assembleia destes que no qual a maioria o escolha dando-lhe o direito de
representar a pessoa daqueles, sendo que todos terão que autorizar as
decisões destes homens ou deste homem como a deles para assim serem
protegidos.
O pacto para a criação do estado é o primeiro, ou seja, não existe um pacto
anterior e estes não foram obrigados a criar e/ou participar deste pacto, e da
mesma forma não há como criar um novo pacto após a realização deste,
escolhendo um novo soberano – sem o consentimento do primeiro soberano
instituído no pacto atual. “Mudar” o soberano é um ato de injustiça por parte
daquele que o deseja fazer, e este, não pode questionar o fim que terá após
esta escolha, já que o soberano tem por direito castigar aqueles que se opõe
ao seu poder – em caso de não houver desacordo por parte do soberano, cuja
função é a segurança de seus servos. Para Hobbes, o soberano é o
representante divino e sem ele como mediador não há pacto entre Deus e os
homens.
Não existe pacto por parte do soberano, já que este não é mais uma pessoa
física e sim o próprio estado que governa. Se existisse um pacto, no ato de
tornasse soberano, o pacto seria desfeito, e é por este motivo que não existe
quebra por parte do soberano.
Se a decisão pelo soberano ocorreu por maioria, os que opinaram contra a
escolha deste terão mesmo assim que acatar a decisão da maioria, senão
contrariaram o pacto, pois pelo pacto – nesta situação – vence a escolha da
maioria, tanto pela escolha do soberano pela parte do povo, quanto pela
assembleia de homens.
Por instituição, a escolha do súdito ao eleger dada pessoa ao título de
soberano refletirá nas escolhas deste, sendo assim, o soberano não pode
cometer injurias e injustiças – somente poderá atribuir-lhe culpa a respeito de
iniquidades.
Pois quem faz alguma coisa em virtude da autoridade de um outro não pode
nunca causar injuria àquele em virtude de cuja autoridade está agindo. Por esta
instituição de um Estado, cada indivíduo é autor de tudo quanto o soberano
fizer, por consequência aquele que se queixar de uma injuria feita por seu
soberano estar-se-á queixando daquilo de que ele próprio é autor, portanto não
deve acusar ninguém a não ser a si próprio; e não pode acusar-se a si próprio
de injuria, pois, causar injuria a si próprio é impossível. (HOBBES, 1997, p.147)
O soberano não pode ser morto justamente ou punido pelos seus próprios
súditos, “[...] dado que cada súdito é autor dos atos de seu soberano, cada um
estaria castigando outrem pelos atos cometidos por si mesmo. ” (HOBBES,
1997, p. 147). Visto que como a função do estado é a segurança e a paz, o
soberano se faz juiz para conseguir seu objetivo, destruindo qualquer ameaça
a estas.
O soberano deve ser juiz das opiniões contrarias a paz e a verdade, pois aquilo
que é contra a paz não é verdade. Cabe ao soberano impedir as opiniões – já
que para Hobbes, as opiniões se refletem nas ações – daqueles que são contra
a paz, pois estes ainda permanecem no estado de guerra.
Compete ao soberano prescrever as leis e regras que definem quais as
situações que os súditos podem usufruir ou gozar de determinadas posses,
quero dizer, compete ao soberano como descrito por Hobbes o usufruto da
propriedade sem que aconteça o molestamento por parte dos demais súditos.
Pertence ao poder do soberano a autoridade judicial, que consiste no direito de
ouvir e julgar qualquer controvérsia a respeito das leis, pois se não houver, não
poderá haver proteção e lembrando que cada homem tem por direito natural
defender a sua própria vida.
O soberano tem direito de fazer guerra ou promover a paz com outros estados
quando lhe convir, desde que o soberano assegure a paz de seus súditos.
Lembrando que para Hobbes o poder do soberano está acima de todos os
poderes, e os demais poderes são desígnios do soberano, ou seja, em caso de
guerra, o poder do soberano se encontra acima do poder dos generais.
A escolha dos ministros, funcionários, conselheiros e magistrados é de total
liberdade do soberano, pois este tem por direito utilizar qualquer meio
necessário a alcançar os seus fins – que no qual é assegurar a paz – e para
isso é necessário que os mais próximos sejam de confiança. E da mesma
forma, cabe ao soberano criar leis para assegurar a paz entre os súditos e para
que haja o comprometimento por parte deles, o soberano deve dar títulos
alguns – exercito, milícia, juízes etc. – para que haja esta regulamentação.
O soberano poderá transferir parte de seus poderes para algumas pessoas
para que não haja o sobre carregamento, porém, Hobbes adverte que o ato de
divisão de poder enfraquecerá o poder do soberano, e se isto acontecer, o
soberano poderá sucumbir.
Mas se transferir o comando de milícia será em vão se conversará o poder
judicial, pois as leis não poderão ser executadas. Se alienar o poder de
recolher os impostos, o comando da milícia será em vão, e se renunciar à
regulação das doutrinas os súditos serão levados a rebelião pelo medo aos
espíritos. Se examinarmos cada um dos referidos direitos, imediatamente
veremos que conservar todos os outros menos ele não produzirá nenhum
efeito para a preservação da paz e da justiça, que é um fim em vista do qual
todos os estados são instituídos. (HOBBES, 1997, p.150)
Hobbes acentua que embora o povo una-se para superar o poder do soberano,
estes não conseguirão, pois o soberano é um singelos majores (poder maior
que o do súdito) levando em consideração a individualidade dos súditos, e
embora o soberano seja um universais minores (poder menor que o povo), o
que prevalece sempre é o desejo individual, ou seja, não existe para Hobbes a
ideia de uma união para fins gerais e que cada um luta para proteger seus
desejos e principalmente a sua vida.

Capítulo XIX: Das Diversas Espécies de Governo por


Instituição, e da Sucessão do Poder Soberano.

Hobbes diz que existem três tipos de governo: monarquia, Aristocracia e


Democracia. Monarquia é o governo de uma pessoa como soberano;
Aristocracia é quando existe um grupo pequeno – em relação a democracia –
de pessoas como soberania; e Democracia é quando o povo elege seus
representantes e estes assumem a função de soberano.
Oligarquia e tirania não são tipos de governo no ponto de vista de Hobbes, já
que para ele, estas – assim como a anarquia no caso da democracia – são
apenas maneiras ruins de Anarquia e Monarquia, onde os oligarcas são
aqueles que não governam de forma correta como o tirânico não governa de
forma correta. No caso de anarquia ainda é mais irrelevante, já que anarquia
significa – em Hobbes principalmente – a falta de governo, a não existência de
governo, então jamais poderá ser pensada como tipo de governo.
Hobbes vê a monarquia como a melhor forma de governo possível, pois não
existe divergência nas escolhas da monarquia, pois só ele escolhe e somente
ele governa, diferente nos demais casos onde existem várias pessoas
opinando por um fato. E também não há distinção entre vida de soberano e
vida pessoal, já que o tesouro e o poder passa na Mão de somente um, ao
contrário dos outros governos que existe a distinção entre a vida privada e a
vida de soberano.
Porém, se tratando de sucessão, na monarquia ocorre uma complicação, já
que quando é necessário a sucessão ou substituição de um membro na
aristocracia, os demais aristocratas discutem e decidem qual será o sucessor
ou substituto, e no caso da democracia, o povo vota e elege um novo
representante, diferente do caso da monarquia onde só há um para escolher
quem o suceder. No caso das duas primeiras, quando houver morte
instantânea, por exemplo, não há com que se preocupar, já que ainda existem
outros representantes para governar. Mas no caso da monarquia, se isso
acontecer e não houver representante pré-estabelecido pelo monarca, todos
por natureza têm o direito em assumir o posto, e com isto acarretará o retorno
ao estado de natureza.
Segundo Hobbes, o soberano tende a escolher como sucessor no governo o
seu herdeiro, de preferência o do século masculino, já que para Hobbes o
homem por natureza tem mais dons para governar que a mulher, porém
quando não há herdeiros este tende a escolher o irmão, a Irmã ou então o
parente que lhe é mais próximo, não havendo, um amigo de confiança.

Capítulo XX: Do Domínio Paterno e Despótico


Hobbes aponta que existem dois tios de soberania por aquisição: paterna e
despótica.
A paterna consiste na soberania do pai – ou da mãe – em relação ao filho ou a
filha. Neste caso seria o que chamamos de patriarca e/ou matriarca. Esta forma
de soberania é caracterizada a partir do estado de natureza, onde o pai ou mãe
tem o direito em função de ser aquele que o gerou, porém, se ambos abrirem
mão da criança, esta será súdita daquele ou daquela que o alimentar e criar.
Um caso interessante mostrado por Hobbes para simplificar é o caso das
Amazonas:
Diz-nos a história que as Amazonas faziam com os homens dos países
vizinhos, aos quais recorriam para o efeito, um contrato pelo qual as crianças
do sexo masculino seriam enviadas de volta, e as do sexo feminino ficavam
com elas, o domínio sobre as filhas pertencia a mãe. (HOBBES, 1997, p. 164).
Hobbes diz que se não houver contrato, por natureza o direito a soberania
sobre a criança pertence à mãe, porém se a mãe for submissa ao homem, este
será o soberano, e não só dos filhos, também dos filhos dos filhos e assim
sucessivamente – o mesmo direito também terá a mãe quando for o caso dela.
No caso da soberania por aquisição despótica, o exemplo maior que temos é o
da guerra. Após a guerra, os súditos, por vontade própria, decidirão seguir
aquele que é o vencedor. Este caso é interessante pois Hobbes levanta que o
servo é somente aquele que por vontade própria decidir seguir o soberano, o
escravo não tem papel nenhum a cumprir para com o soberano, já que este
não age de livre vontade. Lembrando que não é a vitória que determina e
confere os direitos ao soberano sobre o vencido e sim o pacto celebrado, é
através do servo que assume o vencedor como tirano, optando pela vida.

Capítulo XXI: Da Liberdade dos Súditos

Liberdade – no primeiro sentido atribuído por Hobbes – significa ausência de


oposição, porém, oposição no sentido dos impedimentos do movimento,
aplicando tanto a criaturas inanimadas e irracionais quanto ao homem. Por este
motivo Hobbes exemplifica dizendo que:
Portanto, quando se diz, por exemplo, que o caminho está livre, não se está
indicando nenhuma liberdade do caminho, e sim daqueles que por ele
caminham sem parar. E quando dizemos que uma doação é livre, não se está
indicando nenhuma liberdade da doação, e sim do doador, que não é obrigado
a fazê-la por lei ou pacto. (HOBBES, 1997, p. 171).
E desta mesma forma, Hobbes diz que quando se fala em livre-arbítrio, não se
fala em liberdade no âmbito da vontade, mas sim uma liberdade do homem, ao
se deparar com a situação, não ter entraves ao fazer aquilo que tem vontade,
desejo ou inclinação a fazer. E por este motivo Hobbes diz que liberdade é
compatível com necessidade e como medo. Necessidade como por exemplo,
as águas necessitam de descer o rio e por medo quando o homem atira objetos
ao mar quando ocorre o risco de seu navio afundar. O que Hobbes quer dizer é
que o homem é livre em tomar decisões em situações que houver
necessidades, e de livre vontade por exemplo, quando este optou pela
soberania, preferindo a segurança quando corria perigo de perder a própria
vida.
Se tratando da liberdade dos súditos, Hobbes diz que existem determinadas
situações onde o soberano não opera sobre os súditos, direitos que não foram
entregues ao soberano no momento do pacto, como exemplo o direito à vida.
Segundo Hobbes, o soberano não tem poder algum sobre o ato do súdito
cometer suicídio e se este ordenar que o súdito o faça este pode recusar já que
não fora previsto no pacto. Um soldado ao fugir do campo de batalha por medo
e não por traição, este o faz por covardia e não por injuria, quando alguém
evita um conflito, o faz por covardia.
Outra forma de liberdade de súditos é quando o soberano não estabelece
determinada regra, então o súdito tem o direito de fazer ou de se omitir.
Se o soberano não cumprir com seu papel de assegurar a paz e a vida de seu
povo, os súditos poderão renunciar a esta soberania, se o súdito for preso por
outro soberano e este soberano oferecer a liberdade em troca de sua
submissão o súdito tem liberdade de o aceitar, pois em primeiro lugar vem a
vida e a segurança. Se o soberano renunciar-se e também os seus herdeiros,
os súditos voltaram ao seu estado de natureza e por fim, se o soberano for
vencido e se tornar súdito do vencedor, seus súditos não terão mais o que
prestar ao seu antigo soberano, e sim com o soberano vencedor, mas se no
caso, o soberano for preso e não submeter-se ao vencedor, então os súditos
deverão sucumbir-se aos magistrados nomeados por seu soberano, pois foram
escolhidos por ele.
Capítulo XXII: Dos sistemas sujeitos, políticos e privados

Para Hobbes sistemas são qualquer número de homens unidos por um


interesse ou um negócio.
Segundo Hobbes a dois tipos de sistemas, regulares e irregulares os regulares
são aqueles onde um homem ou uma assembleia é instituído como
representante de todo conjunto. Todos os outros são irregulares.
Para Hobbes todo sistema político é criado pelo soberano do estado e esse
soberano tem um poder ilimitado e em todos os estados o soberano é o
absoluto representante de todos os seus súditos.
Hobbes afirma que os sistemas privados são criados pelos próprios súditos
entre si e só vão ser legítimos se o estado permitir 
Segundo Hobbes os sistemas irregulares que não tem representante consiste
numa reunião de pessoas e só vai ser legitimo se não tiver nenhum interesse
de prejudica o estado, e o estado têm que ter conhecimento de tudo que foi
estabelecido nessa reunião.
Hobbes afirma que o poder do representante político é sempre limitado, e
quem estabelece seus limites é o soberano. O poder que é concebido aos
representantes de um corpo político, depende dos escritos ou cartas que
recebe do soberano e essas cartas devem ser seladas e autenticadas com os
selos ou outros sinais permanentes da autoridade soberana.
Para Hobbes não é fácil determinar numa carta os limites dos representantes é
preciso que as leis do estado comuns a todos súditos determinem o que é
legitimo o representante fazer. Caso o representante não respeitar as cartas ou
as leis somente ele será culpado. Sé o representante for uma assembleia,
qualquer coisa que a assembleia decrete não permitidas pelas cartas ou pelas
leis será o ato da assembleia
Se o representante contrair alguma dívida somente ele tem a obrigação de
pagar essa dívida. O mesmo acontece com a assembleia somente aqueles que
votarão a favor do empréstimo deve pagar a dívida.
Hobbes afirma que nos corpos políticos todo subordinados e sujeitos podem
protesta contra os decretos da assembleia representativa fazendo que sua
discordância seja registrada ou testemunhada. Caso contrário esse indivíduo
poderia ser obrigado a pagar dívidas contraídas, ou torna-se responsável por
crimes cometidos por outrem. Mas numa assembleia soberana essa liberdade
desaparece, tanto porque quem aí protesta ao mesmo tempo nega a soberania
da assembleia, contrariando os interesses da paz e da defesa do estado.
Os países onde o soberano não reside são chamados de províncias. Província
significa um cargo ou função que aquele a quem pertence à função delega a
um outro, para que este o administre por ele sob sua autoridade. Para Hobbes
jamais deve delegar função governativa a qualquer assembleia residente no
local, mas deve-se enviar para cada colônia um governador que represente o
soberano.
Para Hobbes todos os corpos políticos se qualquer membro se considera
injustiçado pelo próprio corpo o julgamento de sua causa compete ao soberano
e aos que o soberano tenha nomeado como juízes de tais causas
Segundo Hobbes num corpo político para boa administração do tráfico exterior
todos que arriscam seu dinheiro. Portanto em geral precisam se reunir em uma
sociedade onde cada um possa participa dos lucros da venda do que
transporta ou importa a preço que considera adequado.
O fim dessa incorporação para Hobbes é torna maior seu lucro, o que pode ser
feito de duas maneiras por simples compra ou por simples venda.
Deste duplo monopólio uma parte é desvantajosa para o povo do país e a outra
para o estrangeiro. Quando é só um que vende as mercadorias são mais caras,
e quando é só um que compra elas são mais baratas e assim essa corporação
não passa de monopólio, embora fossem altamente proveitosas para o estado.
Hobbes afirma que os corpos privados e regulares e legítimos são aqueles
constituídos sem cartas, tal como são todas as famílias, onde o pai ou senhor
comanda a família inteira. Porque ele tem autoridade sobre seu filho e servo
até onde a lei permite, embora não mais longe que isso, pois nenhum deles é
obrigado a obedecer naquelas ações que a lei proíbe durante o tempo em que
estiverem submetidos ao governo doméstico estão sujeitos a seus país e
senhores, como seus soberanos imediatos sendo o pai e senhor antes da
instituição do estado, soberano absoluto de sua família só perde autoridade
naquilo que a lei do estado lhe tira.

Capítulo XXIII: Dos ministros públicos do poder soberano

Para Hobbes um ministro público é aquele que é encarregado pelo soberano


de qualquer missão, com autoridade no desempenho dessa missão, para
representa o estado.
Dos ministros públicos Hobbes afirma que alguns têm seu cargo a
administração geral, quer de todo domínio, quer de uma parte dele. Neste caso
todos os súditos têm obrigação de obediência às ordenações que faça, assim
como as ordens que dê em nome do rei, desde que não sejam incompatíveis
com o poder do soberano.
Também são ministros os que têm autoridade relativamente à milícia: a
custodia das armas, fortes e portos, o recrutamento pagamento e comando dos
soldados e a provisão de todas as coisas necessárias para a conduta da guerra
tanto em terra como nos mares.
Para Hobbes também são ministros públicos os que têm autoridade para
ensinar, ou para permitir a outros que ensinem ao povo seus deveres para com
o poder soberano, instruindo-o no conhecimento do que é justo ou injusto, a fim
de tornar o povo mais capaz de viver em paz e harmonia e de resistir ao
inimigo comum.
São ministros também aquele que é concebido o poder judicial representando o
poder do soberano e sua sentença é a sentença dele.
Se houver alguma controvérsia entre a parte julgada e o juiz, cabe ao soberano
ouvir a causa e decidi-la ele mesmo ou nomear um juiz com quais ambos
concordem.
São também ministros públicos todos aqueles que receberam do soberano
autorização para proceder à execução de todas as sentenças, para publicar as
ordens do soberano, para reprimir tumultos, para prender e encarregar os
malfeitores e praticar outros atos tendentes a preservação da paz.

Capítulo XXIV: Da nutrição e procriação do estado.

Hobbes afirma que a nutrição de um estado consiste na abundância e na


distribuição dos materiais necessários à vida; em seu acondicionamento e
preparação e, uma vez acondicionados, em sua entrega para o uso público
através de canais adequados.
Segundo Hobbes existem duas matérias que geralmente se chama bens uma é
nativa quando pode ser obtida dentro do território do estado. E a outra é
estrangeira, quando é importada do exterior.
De acordo com Hobbes os bens supérfluos que se obtém no interior deixam de
ser supérfluos, e passam a suprir as necessidades internas, mediante a
importação do que pode ser obtido no exterior, seja através de troca, de justa
guerra ou de trabalho. E já houve estados que, não tendo mais território
suficiente para seus habitantes, conseguiram apesar disso, não apenas
manter, mas até aumentar seu poder, em parte graças a atividade mercantil
entre um lugar e outro, e em parte através da venda de manufaturas cujo
materiais eram trazidos de outros lugares.
O trabalho de um homem também é um bem que pode ser trocado por
benefícios, tal como qualquer outra coisa.
A distribuição dos materiais dessa nutrição e em todas as espécies de estado é
da competência do poder soberano.
De onde podemos concluir segundo Hobbes que a propriedade que um súdito
tem em sua terra consiste no direito de excluir todos os outros súditos do uso
dessas terras, mas não de excluir o soberano, quer este seja uma assembleia
ou um monarca.
Em consequência, qualquer distribuição que o soberano faça em prejuízo
dessa paz e dessa segurança é contraria a vontade de todos e assim essa
distribuição deve, pela vontade de cada um deles ser considerada nula. Mas
isto não é suficiente para autorizar qualquer súdito a pegar em armas contra
seu soberano ou mesmo a acusá-lo de injustiça ou de qualquer modo falar mal
dele. Por que os súditos autorizaram todas as suas ações, e ao atribuírem-lhe
o poder.
Hobbes afirma que compete ao soberano a distribuição das terras do país,
assim como a decisão sobre em que lugares, e com que mercadorias, os
súditos estão autorizados a manter trafico com o estrangeiro. porque se as
pessoas privadas competisse usar nesses assuntos de sua própria discrição
algumas delas seriam levadas pela ânsia do lucro, tanto a fornecer ao inimigo
os meios para prejudica o estado, quanto a prejudicá-los elas mesmas,
importando aquelas coisas, que ao mesmo tempo que agradam aos apetites
dos homens, apesar disso são para eles nocivas ou pelo menos inúteis.
Compete, portanto ao estado, isto é ao soberano, determinar de que maneira
devem fazer-se entre os súditos todas as espécies de contrato (de compra,
venda, troca, empréstimo, arredamento), e mediante que palavras e sinais
esses contratos devem ser considerados validos.
Hobbes entende por acondicionamento a redução de todos os bens que não
são imediatamente consumidos, são reservados para nutrição num momento
posterior a alguma coisa de igual valor, e além disso suficiente portátil para não
atrapalhar o movimento das pessoas de lugar para lugar, a fim de que possa
ter em qualquer lugar toda nutrição que o lugar seja capaz de comportar e isso
não é outra coisa senão o ouro, a prata e o dinheiro.
Graças a essas medidas segundo Hobbes torna-se possível que todos os
bens, tanto os moveis quanto os imóveis, acompanhem qualquer indivíduo a
todo lugar para onde ele se desloque, dentro e fora do lugar de sua residência
habitual. E torna-se possível que os mesmos bens sejam passados de
indivíduo a indivíduo, dentro do estado, e vão circulando a toda volta,
alimentando à medida que passa, todas as partes do estado. A tal ponto que
este acondicionamento é como se fosse a corrente sanguínea de um estado,
pois é de maneira semelhante que o sangue natural é feito dos frutos da terra;
e circulando, vai alimentando pelo caminho todos os membros do corpo do
homem.
E devido ao fato de ouro e prata terem seu valor devido à própria matéria de
que são feitos seu valor não pode ser alterado pelo poder de um estado, nem
pelo de um certo número de estados, pois são a medida comum dos bem e dos
lugares.
Mas aquela moeda, que não tem valor devido ao material de que sim é feita, e
sim devido à cunhagem local, é incapaz de suportar a mudança de ares só
produz efeitos em seu próprio país; e mesmo neste encontra-se sujeita a
mudança das leis, podendo assim ter seu valor diminuído, muitas vezes em
prejuízo dos que a possuem. 

Capítulo XXV: Do conselho

Para Hobbes há uma grande confusão entre os conselhos e as ordens


derivados de maneira imperativa de falar em ambos utilizada e além disso em
muitas outras ocasiões. Porque as palavras faze isto não são apenas as
palavras de quem ordena, mas também as de quem dá um conselho o de
quem exorta. No entanto ao encontra estas frases nos escritos dos homens, e
não se sendo capaz ou não se querendo levar em consideração as
circunstancias, confundem-se às vezes os preceitos dos conselheiros com os
preceitos daqueles que ordenam, e outras vezes o oposto, conforme seja mais
adequado as conclusões que se quer tirar ou as ações que se da aprovação.
Uma ordem segundo Hobbes é quando alguém diz faze isto ou não faça isto.
De onde manifestamente se seque que quem ordena visa com isso seu próprio
benefício, pois a razão de sua ordem e apenas sua própria vontade.
Um conselho segundo Hobbes é quando alguém diz faze isto ou não faça isto,
e deduz suas razões do benefício que acarreta para aquele quem o diz. Torna-
se a partir daqui evidente que aquele que dá conselho pretende apenas (seja
qual for sua intenção oculta) o benefício daquele a quem o dá
Um homem pode ser obrigado a fazer aquilo que lhe ordenam, como quando
fez a promessa de obedecer, mas ninguém pode ser obrigado a fazer aquilo
que lhe aconselham e se caso tiver feito a promessa de segui-lo, o conselho já
adquiriu a natureza de uma ordem.
Outra coisa também faz parte da natureza do conselho: que seja quem for que
o peça não pode, de acordo com a equidade, acusar ou punir quem o der.
Porque pedir conselho a outrem é permitir-lhe que de esse conselho da
maneira que achar melhor.
Hobbes afirma que se um súdito der a outro algum conselho de fazer coisas
contrarias as leis, quer a conselho provenha de, mas intenções ou apenas da
ignorância da lei não é desculpa suficiente, já que todos são obrigados a
informar-se das leis que são sujeitos.
De onde se pode concluir segundo Hobbes em primeiro lugar que a exortação
e a dissuasão têm em vista o bem de quem dá o conselho, não de quem pede
o que é contrário ao dever de um conselheiro; o qual, segundo a definição do
conselho, não devia ter em conta seu próprio benefício e sim de quem
aconselha.
Em segundo lugar, o uso da exortação e da dissuasão só tem cabimento
quando alguém se vai dirigir uma multidão, porque quando o discurso é dirigido
a uma só pessoa está pode interromper o orador, examinando suas razões
com mais rigor do que pode ser feito por uma multidão, que é constituída por
um número demasiado para que seja possível estabelecer uma disputa e um
diálogo com quem se dirige indiferentemente a todos ao mesmo tempo.
Hobbes nos dá exemplos da diferença entre a ordem e o conselho nas formas
de linguagem que a ambos exprimem nas sagradas escrituras. Não tenhais
outros deuses senão eu; não façais para vós mesmos nenhuma imagem
gravada; não pronuncies o nome de Deus em vão; santificai o sábado; honrai
pai e mãe; não mateis; não roubeis etc. são ordens porque a razão pela qual
devemos obedecer-lhe é tirada da vontade de Deus nosso rei a quem temos
obrigação de obedecer.
Mas as palavras vendei tudo o que tiverdes, daí aos pobres e segue são
conselhos, porque a razão pela qual devemos fazê-lo é tirada de nosso próprio
benefício, a saber, que assim ganharemos um tesouro no céu.
Toda experiência do mundo é incapaz de igualar o conselho daquele que
aprendeu ou descobriu a regra. Quando não existe tal regra, aquele que tem
mais experiência no tipo de questão de que se trata será senhor do melhor
julgamento, e será o melhor conselheiro para ter capacidade de dar conselho a
um estado numa questão que diga respeito a um outro estado é necessário ter
conhecimento de todos os acordos e relatos que de lá vem, assim como de
todos os registros de tratados e transações de estados entre dois países.

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