INTRODUÇÃO
Leviatã – República ou Estado: “Homem artificial” instituído p ara proteção e
Defesa do homem natural.
Considerações:
- Homem como matéria e artífice;
- Como e por que pactos se institui;
- O que é um Estado cristão;
- O que é o Reino das Trevas.
Parte 1
Do homem
Capítulo I
Das sensações
Capítulo II
Da imaginação
Imaginação: Aquilo que é criado pela imagem da visão, aplicando -se aos
demais sentidos.
Para os gregos: fantasia.
Quando afastamos nossa visão de um objeto apesar de a impressão
Provocada por ele continuar, outros objetos estarem mais presentes faz com
ue a memória dele fique obscurecida. Quanto mais longo tempo transcorrido
Desde a visão ou sensação de um objeto, mais fraca é a imaginação. A
imagem do passado se enfraquece.
Imaginação = memória
Memória de muitas coisas: experiência.
Imaginação simples: quando se imagina uma ou outra coisa específica;
Imaginação composta: quando se imagina duas ou mais coisas
concomitantemente, misturando-as (ex: se imaginar como um herói).
Imaginação dos que dormem: sonho.
“Nossos sonhos são o inverso de nossas imagens no estado de vigília; quando
Estamos despertos, o movimento se inicia num extremo, e, quando dormimos,
Em outro. ”
Pela possível dificuldade de se distinguir sonhos e outras fantasias das visões
e sensações surgem crenças como faunos, ninfas, fadas, fantasmas, gnomos,
bruxas...
Para Hobbes, as escolas deveriam fugir de ensinar isso que conhecem como
tradição. Pensamentos bons: inspirados por Deus; pensamentos maus:
inspirados pelo demônio.
Entendimento: imaginação produzida no homem por meio de palavras e outros
signos voluntários, proveniente da compreensão da vontade, das concepções e
dos pensamentos do homem.
Capitulo III
Da consequência ou serie de imaginações
Discurso mental, sucessão de um pensamento a outro.
Um pensamento posterior não surge tão casualmente quanto parece.
Igualmente a imaginação.
“Todas as fantasias são ações verificadas dentro de nós, relíquias que
operaram em nossa sensação. ”
Esse discurso mental é de duas espécies:
A primeira é desorientada, sem destino e inconstante. Pensamentos dos seres
humanos, sem qualquer preocupação.
A segunda é mais constante, regulada por algum desejo ou finalidade. Pode
ser de dois tipos: um em que procuramos descobrir as causas e os meios que
Produzem um efeito imaginado (comum ao homem e ao animal); o outro em
que imaginando uma coisa qualquer, procuramos determinar os efeitos que
possa causar, isto é, imaginar o que podemos fazer com uma coisa quando a
possuímos (restrita ao homem).
Prudência: presunção do futuro, baseada numa experiência do passado.
Dizer que algo é infinito significa que não somos capazes de conceber seus
Limites.
Capítulo IV
Da linguagem
Uso da linguagem: transformar discurso mental em verbal, ou a série de
pensamentos em série de palavras, com dois objetivos: Imprimir em nossa
memória marcas ou notas; uso, por várias pessoas, de idênticas palavras
para traduzir o que elas concebem ou pensam sobre determinada matéria, e
também o que desejam.
Usos especiais da linguagem:
“Registrar aquilo que, por meditação, achamos ser a causa de todas as coisas,
Presentes ou passadas e, segundo nosso parecer, o que essa coisa pode
Produzir e quais os resultados. Essa é a origem das artes”;
Aconselhar e ensinar uns aos outros;
Dar a conhecer aos outros nossas vontades e propósitos, para que possamos
nos ajudar mutuamente;
Agradar e deleitar a nós mesmos e aos outros, jogando com nossas palavras,
por prazer.
A isso correspondem quatro abusos:
Primeiro: quando os homens registram de maneira equívoca o seu
pensamento, enganando a si próprios;
Capitulo V
Da razão e da ciência
Razão: Consideração das consequências dos nomes gerais ajustados para a
caracterização e a significação de nossos pensamentos.
“A luz da mente humana é constituída por palavras claras e perspicazes, mas
livres e depuradas da ambiguidade mediante definições exatas; a razão é o
passo; o incremento da ciência, o caminho; e o benefício do gênero humano, o
fim. Ao contrário, as metáforas e as palavras sem sentido ou ambíguas são
Como fogos-fátuos; raciocinar tomando-as por base equivale a perambular
Entre absurdos incontáveis; seu fim será o litígio, a sedição e o desdém. ”
Capitulo VI
Da origem interna das moções voluntárias, comumente
chamadas paixões, e das palavras que as expressam
Moções vitais: respiração, digestão. Não precisam da ajuda da imaginação.
Moções voluntárias: andar, falar. Mover um de nossos membros da forma
como foi imaginado por nossa mente.
Hobbes destaca que desejo e amor são a mesma coisa, só que, com desejo,
significamos sempre a ausência do objeto e, com amor, sua presença. Além
disso, segundo ele, o homem denomina bom aquilo que é objeto de algum
desejo seu, e chama de mau o que lhe causa a versão. E conclui que todo
apetite, desejo e amor estão acompanhados por gozo mais ou menos intenso;
o ódio e a aversão, por maior ou menor desagrado e ofensa.
Capitulo VII
Dos fins ou resolução do discurso
Todo discurso tem uma finalidade de anunciar ou renunciar. No discurso
puramente mental, quanto se interrompe o fluxo de pensamentos fica a dúvida
se será ou não será; e se chama opinião.
Já o discurso verbal consiste na conexão das palavras; e se chama conclusão.
Quando o discurso verbal começa:
- Por definição: se chama silogismo;
- Por alguma contemplação: denomina-se opinião;
- Em concernir mais à pessoa do que ao fato: é chamada crença ou fé (nas
palavras do homem, ou na sua verdade).
Capitulo VIII
Das virtudes comumente chamadas intelectuais e de suas
falhas opostas
Virtudes – comparação.
Virtudes intelectuais – aquelas atitudes da mente que os homens apreciam,
valorizam e que gostariam de possuir.
Naturais – adquiridas através da experiência
Adquiridas – razão
Destaca-se o discernimento em um discurso qualquer; caso haja, neste, uma
falha, mesmo existindo uma incrível capacidade de imaginação, será
considerado falta de talento; assim como o discernimento jamais será tão
evidente quando a imaginação for corriqueira.
De acordo com Hobbes a diferenciação de talento dos indivíduos é reflexo das
paixões. Tal distinção deriva em parte, da diferente constituição do corpo, e em
parte das diferenças de educação e costumes.
Capítulo IX
Das diversas matérias do conhecimento
Hobbes indica a existência de duas espécies de conhecimento: o
conhecimento do fato (sensação e memória) e o conhecimento da
consequência de uma afirmação para outra (ciência).
Registro do conhecimento dos fatos é a história que pode ser:
História natural: independe da interferência humana (ex: dos animais, das
plantas);
História civil: refere-se à história das ações voluntárias dos homens
constituídos em Estados.
Capítulo X
Do poder, do valor, da dignidade, da honra e da excelência
Poder: meios de que um homem dispõe para alcançar algum bem evidente.
Poder natural: força, aparência, prudência, habilidade, eloquência, liberalidade
e nobreza extraordinárias.
Poder instrumental: adquiridos por meio dessas faculdades ou sorte, e servem
como instrumentos para alcançar a reputação, riquezas, amigos e os desígnios
de Deus. Maior de todos os poderes: poder do Estado; união de forças (ter
servos, assim como, ter amigos).
Honra: manifestação de valores atribuídos mutuamente. Quanto maior valor
atribuído a um indivíduo, maior a sua honra.
Dignidade: Valor do homem concebido e conferido pelo Estado.
Sinais de honra para com outrem: elogiar a alguém, obedecer, dar grandes
presentes a um homem, dar a tenção, ceder lugar ou passagem ou qualquer
outra comodidade, apreciar, exaltar ou felicitar, falar com alguém com
consideração, crer, confiar, apoiar -se, só licitar conselho ou prestar atenção à
palavra de um homem, concordar com a opinião de alguém, imitar, pedir
conselhos ou utilizá-los em momentos difíceis.
Excelência: poder especial ou capacidade para qual alguém se sobressai.
Capítulo XI
Da diferença de modos
Capitulo XII
Das religiões
Religião é própria do homem.
Primeiro: é da natureza humana perguntar as causas dos acontecimentos.
Segundo: é próprio dos homens considerar que todas as coisas tiveram um
começo e pensar nas causas que determinaram esse começo.
Terceiro: o homem observa com o se produziu um acontecimento e seus
antecedentes e consequências.
A humanidade sempre foi acompanhada por um perpétuo temor na ignorância
das causas. Os deuses foram criados pelo temor humano.
Quanto aos deuses, tudo foi divinizado: o céu, o oceano, os planetas, o fogo, a
terra, os ventos, o homem, os pássaros, crocodilos, vacas, cachorros, cobras.
Além de estarem todos os lugares infestados de espíritos: as planícies, os
bosques, o mar, os rios, as casas. O tempo, à noite, o dia, a paz, a concórdia, o
amor, o ódio, a verdade, a honra, a saúde, a sagacidade, a febre e coisas
semelhantes também foram qualificadas como divindades. Já o infortúnio da
guerra, as enfermidades contagiosas, os terremotos e todas as demais
misérias humanas deviam-se a ira dos deuses, e com isso os legisladores
conseguira que a população considerasse que a causa de seus infortúnios
eram a negligência ou sua desobediência às leis, reduzindo, dessa forma, a
possibilidade de movimentos de rebelião contra os governantes.
Capitulo XIII
Da condição natural do gênero humano no que concerne a sua
felicidade e a sua desgraça
Os homens foram criados igualmente pela natureza em faculdade e espírito,
sendo possível fortalecer-se.
A perspicácia de um indivíduo está ao alcance da sua mão, enquanto a dos
outros está mais distanciada.
Três causas principais de disputa existente na natureza humana:
Competição – os homens são levados a utilizarem de violência para
conseguirem algum benefício.
Desconfiança- os homens são conduzidos a prática da violência para garantir
a sua segurança, para defesa de seus bens.
Glória – os homens são impulsionados a se atacarem para garantir a sua
reputação. Recorrem a violência por motivos insignificantes (elogios de ou
trem, por exemplo).
Quando não existe um poder capaz de unir as pessoas, numa atitude de
respeito, tem-se uma condição de guerra de todos contra todos onde não há as
noções de bem e de mal, de justiça e liberdade que permite aos demais, na
medida em que considerar tal decisão necessária à manutenção da paz e de
sua própria defesa.
Um direito é abandonado mediante a simples renúncia ou por sua transferência
a outrem. Por simples renúncia quando não importa a quem o ato beneficiará;
transferido, quando pretende-se beneficiar determinada pessoa.
Todo homem pratica um ato voluntário esperando alcançar algum benefício,
assim quando um homem transfere ou renuncia a um direito tem a esperança
de ser beneficiado.
O motivo e a finalidade pelo qual se apresenta a transferência e a renúncia do
direito são a certeza da segurança pessoal do homem, quanto a sua vida e aos
meios de preservá-la.
Contrato: designa a transferência MÚTUA de direitos. Sinais do contrato podem
ser reconhecidos por inferência. Um sinal reconhecido por inferência, de
qualquer contrato, geralmente revela a vontade do contratante.
Quando as palavras se referem ao que estão por vir (darei, concederei), por si
só não são suficientes de do ação ou transferência, uma vez que si gnificam
que meu direito ainda não foi transferido, continuando a ser meu. Contudo, se
as palavras se referem ao presente (deu, concedo) ou ao passado (dei,
concedi), são suficientes de doação ou transferência, pois o direito já foi
transferido no ato do negócio.
Nos contratos, o direito não é transmitido apenas quando as palavras estão no
presente ou no passado, mas também quando estão no futuro, visto que, todo
contrato é uma translação de troca mútua.
No contrato, o mérito resulta do próprio poder e da necessidade do contratante.
Na doação, o merecimento é fruto da benevolência do doado.
Os homens ficam livres dos pactos efetuados por dois caminhos: pelo
cumprimento ou sendo perdoados.
Um pacto anterior anula outro posterior.
Sendo a força das palavras muito fraca para obrigar os homens a cumprirem
seus pactos, é possível, pela própria natureza destes, reforça-las de duas
maneiras: por medo das consequências advindas do não cumprimento da
palavra ou por orgulho de não ser necessário faltar a ela.
Capítulo XV
De outras leis naturais
Terceira lei natural: que os homens cumpram os pactos que celebrarem.
Indispensável para que os pactos tenham força e não sejam meras palavras.
A validade dos pactos se dá com a instituição de um poder civil (Estado) que
obrigue aos homens cumpri-los, pois não existe promessa mútua quando não
há garantia de cumprimento por ambas as partes.
Com relação à justiça e injustiça, quando atribuída a ações, indica
conformidade ou compatibilidade entre a razão e determinadas ações.
Justiça: comutativa – igualdade de valor das coisas, objeto do contrato;
distributiva – distribuição de benefícios iguais a pessoas de méritos iguais.
Quarta lei natural: quem recebeu um benefício de outra pessoa, por simples
graça, deve esforçar-se para não dar ao doador motivo razoável de
arrependimento por sua boa vontade. A desobediência a essa lei é chamada
ingratidão. Quinta lei natural: complacência. Significa que cada indivíduo deve
se esforçar para conviver com os outros. Os que respeitam essa lei são
chamados sociáveis, os que desrespeitam são os insociáveis, obstinados,
refratários ç e intratáveis.
Sexta lei natural: perdão, que se mostra como uma garantia de paz.
Sétima lei natural: que nas vinganças, os homens não deem importância à
grandeza do mal passado, mas à grandeza do bem futuro. Proibição de outra
forma de castigos que não sejam aplicados com o intuito da correção do
ofensor ou de exemplo para os outros homens. O descumprimento desta lei dá-
se o nome de crueldade.
Oitava lei natural: nenhum homem, por meio de palavras ou atos, demonstre
ódio ou desprezo pelo outro. A contrariedade a essa lei é chamada de injúria
ou insulto. Nona lei natural: Proposta por Hobbes – indica que cada homem
reconheça os demais como seus iguais por natureza. A partir dessa lei cria-se
outra, que depende desta nona lei, e prega que ao se iniciarem as condições
de paz, ninguém deve pretender reservar apenas para si um direito que não
aceitaria que fosse privilégio de qualquer outro. Quem respeita tal lei é de
nominado modesto e quem a contraria de arrogante.
Um preceito da lei natural que se destaca é o de que se um homem foi e leito
juiz para julgar dois homens, deve trata-los com equidade (justiça
distributiva).
Desta lei deriva uma outra de que a coisas que não podem ser divididas sejam
desfrutadas por todos ou que a coisa seja desfrutada igualitariamente entre
aqueles que a ela tem direito.
É lei natural também que se outorgue salvo -conduto a todos os homens que
servem de mediadores para a paz.
Capítulo XVI
Das pessoas, dos autores e das coisas personificadas
Denomina-se pessoa aquele cujas palavras ou ações são consideradas suas
ou representação das palavras ou ações de outro homem, ou de algum outro
ser ao qual são atribuídas seja como verdade, seja como ficção.
Pessoa natural: as palavras e ações lhe são próprias.
Pessoa artificial ou imaginária: as palavras e ações representam as palavras e
ações de outro homem.
“O FIM ÚLTIMO, causa final e desígnio dos homens (que amam naturalmente a
liberdade e o domínio sobre os outros), ao introduzir aquela restrição sobre si
mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua própria
conservação e com uma vida mais satisfeita. ” (HOBBES, 1997, p.141)
É desta forma que Thomas Hobbes (1588-1679) – Filósofo Britânico do Séc.
XVII – inicia o segundo livro de sua obra O Leviatã – intitulado Do Estado. Para
ele o homem – no estado de natureza - gozava de uma liberdade total, porém,
viviam no que ele chama de “guerra de todos contra todos”, não existindo
sequer qualquer chance de segurança plena. Os homens, seres de desejos, e
sem nenhum poder superior capaz de provocar algum temor, buscavam a
efetivação destes desejos a qualquer custa, já que este era o único objetivo de
viver, mas ficavam a mercê desta situação, correndo o risco de morte a todo
instante. Assim, através do “[...] desejo de sair daquela mísera condição de
guerra que é a consequência necessária (conforme se mostrou) das paixões
naturais dos homens” (HOBBES, 1997, p. 141) e alcançar o desejo primordial –
o desejo de sobrevivência – que surgiu a primeira forma de estado.
Para Hobbes, “[...] as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia,
a piedade, ou, em resumo, fazer aos outros o que queremos que nos façam)”
(HOBBES, 1997, p. 141) não tem validade, já que estas entram em conflito
com as paixões naturais, como o orgulho, a vingança etc. e por isso, não
adiantam de nada se não houver o auxílio da força, e só serão respeitadas por
alguns e quando houver segurança para isso.
A única lei que é respeitada no estado de natureza – e mesmo assim somente
por um certo número de pessoas – é a lei da honra. As pequenas famílias
juntavam-se e procuravam estender seus domínios para se proteger, mas, para
Hobbes, a união de algumas pessoas não adianta, pois ao se deparar em uma
situação de grande conflito – como a guerra – cada um preocupará somente
com seus apetites individuais.
Hobbes vê que para existir a devida segurança, é necessário a criação de um
meio que é capaz de assegurar a segurança dos indivíduos de forma eficiente
e permanente. Assim, surge o estado.
Capítulo XVIII
Dos Direitos Dos Soberanos por instituição.
Hobbes diz que um Estado por instituição é quando uma multidão de homens
concorda e/ou pactua consigo mesmos, quando qualquer homem ou
assembleia destes que no qual a maioria o escolha dando-lhe o direito de
representar a pessoa daqueles, sendo que todos terão que autorizar as
decisões destes homens ou deste homem como a deles para assim serem
protegidos.
O pacto para a criação do estado é o primeiro, ou seja, não existe um pacto
anterior e estes não foram obrigados a criar e/ou participar deste pacto, e da
mesma forma não há como criar um novo pacto após a realização deste,
escolhendo um novo soberano – sem o consentimento do primeiro soberano
instituído no pacto atual. “Mudar” o soberano é um ato de injustiça por parte
daquele que o deseja fazer, e este, não pode questionar o fim que terá após
esta escolha, já que o soberano tem por direito castigar aqueles que se opõe
ao seu poder – em caso de não houver desacordo por parte do soberano, cuja
função é a segurança de seus servos. Para Hobbes, o soberano é o
representante divino e sem ele como mediador não há pacto entre Deus e os
homens.
Não existe pacto por parte do soberano, já que este não é mais uma pessoa
física e sim o próprio estado que governa. Se existisse um pacto, no ato de
tornasse soberano, o pacto seria desfeito, e é por este motivo que não existe
quebra por parte do soberano.
Se a decisão pelo soberano ocorreu por maioria, os que opinaram contra a
escolha deste terão mesmo assim que acatar a decisão da maioria, senão
contrariaram o pacto, pois pelo pacto – nesta situação – vence a escolha da
maioria, tanto pela escolha do soberano pela parte do povo, quanto pela
assembleia de homens.
Por instituição, a escolha do súdito ao eleger dada pessoa ao título de
soberano refletirá nas escolhas deste, sendo assim, o soberano não pode
cometer injurias e injustiças – somente poderá atribuir-lhe culpa a respeito de
iniquidades.
Pois quem faz alguma coisa em virtude da autoridade de um outro não pode
nunca causar injuria àquele em virtude de cuja autoridade está agindo. Por esta
instituição de um Estado, cada indivíduo é autor de tudo quanto o soberano
fizer, por consequência aquele que se queixar de uma injuria feita por seu
soberano estar-se-á queixando daquilo de que ele próprio é autor, portanto não
deve acusar ninguém a não ser a si próprio; e não pode acusar-se a si próprio
de injuria, pois, causar injuria a si próprio é impossível. (HOBBES, 1997, p.147)
O soberano não pode ser morto justamente ou punido pelos seus próprios
súditos, “[...] dado que cada súdito é autor dos atos de seu soberano, cada um
estaria castigando outrem pelos atos cometidos por si mesmo. ” (HOBBES,
1997, p. 147). Visto que como a função do estado é a segurança e a paz, o
soberano se faz juiz para conseguir seu objetivo, destruindo qualquer ameaça
a estas.
O soberano deve ser juiz das opiniões contrarias a paz e a verdade, pois aquilo
que é contra a paz não é verdade. Cabe ao soberano impedir as opiniões – já
que para Hobbes, as opiniões se refletem nas ações – daqueles que são contra
a paz, pois estes ainda permanecem no estado de guerra.
Compete ao soberano prescrever as leis e regras que definem quais as
situações que os súditos podem usufruir ou gozar de determinadas posses,
quero dizer, compete ao soberano como descrito por Hobbes o usufruto da
propriedade sem que aconteça o molestamento por parte dos demais súditos.
Pertence ao poder do soberano a autoridade judicial, que consiste no direito de
ouvir e julgar qualquer controvérsia a respeito das leis, pois se não houver, não
poderá haver proteção e lembrando que cada homem tem por direito natural
defender a sua própria vida.
O soberano tem direito de fazer guerra ou promover a paz com outros estados
quando lhe convir, desde que o soberano assegure a paz de seus súditos.
Lembrando que para Hobbes o poder do soberano está acima de todos os
poderes, e os demais poderes são desígnios do soberano, ou seja, em caso de
guerra, o poder do soberano se encontra acima do poder dos generais.
A escolha dos ministros, funcionários, conselheiros e magistrados é de total
liberdade do soberano, pois este tem por direito utilizar qualquer meio
necessário a alcançar os seus fins – que no qual é assegurar a paz – e para
isso é necessário que os mais próximos sejam de confiança. E da mesma
forma, cabe ao soberano criar leis para assegurar a paz entre os súditos e para
que haja o comprometimento por parte deles, o soberano deve dar títulos
alguns – exercito, milícia, juízes etc. – para que haja esta regulamentação.
O soberano poderá transferir parte de seus poderes para algumas pessoas
para que não haja o sobre carregamento, porém, Hobbes adverte que o ato de
divisão de poder enfraquecerá o poder do soberano, e se isto acontecer, o
soberano poderá sucumbir.
Mas se transferir o comando de milícia será em vão se conversará o poder
judicial, pois as leis não poderão ser executadas. Se alienar o poder de
recolher os impostos, o comando da milícia será em vão, e se renunciar à
regulação das doutrinas os súditos serão levados a rebelião pelo medo aos
espíritos. Se examinarmos cada um dos referidos direitos, imediatamente
veremos que conservar todos os outros menos ele não produzirá nenhum
efeito para a preservação da paz e da justiça, que é um fim em vista do qual
todos os estados são instituídos. (HOBBES, 1997, p.150)
Hobbes acentua que embora o povo una-se para superar o poder do soberano,
estes não conseguirão, pois o soberano é um singelos majores (poder maior
que o do súdito) levando em consideração a individualidade dos súditos, e
embora o soberano seja um universais minores (poder menor que o povo), o
que prevalece sempre é o desejo individual, ou seja, não existe para Hobbes a
ideia de uma união para fins gerais e que cada um luta para proteger seus
desejos e principalmente a sua vida.