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II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

1. Indicações de ventilação mecânica


invasiva com pressão positiva
Coordenador: SÉRGIO SALDANHA MENNA BARRETO
Relator: NIVALDO FILGUEIRAS
Colaboradores: AÍRTON STINGELLIN CRESPO, ANALUCE GÓES, ARTHUR VIANNA, ADRIANA CARVALHO,
EDUARDO O. FERNANDES, JAIME VERAS, JOSÉ EDUARDO CASTRO, NIVALDO FILGUEIRAS, PAULO ROBERTO A. CARVALHO,
ROSE PLOTINIK, SILVIA REGINA R. VIEIRA
Discutidores: JAMOCYR MOURA MARINHO, ROSÂNGELA MELO

INTRODUÇÃO inferior a 90% ou a PaCO2 superior a 45-50mmHg com


pH inferior a 7,30-7,35 expressam a disfunção respirató-
A ventilação mecânica é um método de suporte para o ria que permite o diagnóstico de insuficiência respiratória
paciente durante uma enfermidade aguda, não constituin- aguda.
do, nunca, uma terapia curativa. O emprego da ventila- O gradiente alvéolo-arterial de oxigênio [P(A-a)O2] e
ção mecânica implica riscos próprios, devendo sua indi- outros indicadores da eficiência das trocas [como a rela-
cação ser prudente e criteriosa e sua aplicação cercada ção PaO2/FIO2] permitem diferenciar os tipos de hipoxe-
por cuidados específicos. mia. Os valores do P(A-a)O2 aumentam com a idade do
paciente e são considerados os indicadores mais sensíveis
DA SUSPEITA CLÍNICA AO DIAGNÓSTICO DE e simples na avaliação do comprometimento da hemato-
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA se. Hipoxemia com gradiente aumentado indica defeito
nas trocas alvéolo-capilares (insuficiência respiratória hi-
A insuficiência respiratória não se caracteriza por ser poxêmica). Hipoxemia com gradiente normal é compatí-
um achado clínico exclusivo. A dispnéia pode ser o princi- vel com hipoxemia por hipoventilação alveolar (insuficiên-
pal sintoma apresentado, cuja intensidade, rapidez de cia respiratória ventilatória).
aparecimento e evolução fornecem dados importantes para Hipoxemia, hipercapnia e gradiente elevado são com-
o diagnóstico e a terapêutica. Outros sinais e sintomas patíveis com o mecanismo combinado de hipoxemia e de
devem ser analisados com cautela. A cianose, considera- insuficiência ventilatória (insuficiência respiratória combi-
da um dos grandes sinais da hipoxemia, tem o seu apare- nada). O cálculo do gradiente é útil na abordagem inicial
cimento dependente da presença de 5g/dL de hemoglo- do paciente com IResA e no seu seguimento pré-oxigeno-
bina reduzida no sangue arterial. Portanto, em caso de terapia. A oferta de concentrações elevadas de oxigênio
anemia, mesmo discreta (hemoglobina = 10g/dL), o grau aumenta paralelamente o gradiente, tornando menos fi-
de hipoxemia grave deverá ser relativamente acentuado dedigna a avaliação de seu resultado, em face de concen-
para que este sinal seja aparente (SaO2 e PaO2 capilar, trações inaladas diferentes.
respectivamente, de 50% e 25mmHg). Sendo assim, a Assim, sob oxigenoterapia, outros indicadores da efi-
cianose, quando presente, constitui um importante sinal ciência da transferência de oxigênio e da evolução dos
de hipoxemia, porém, a sua ausência não exclui a possi-
bilidade de uma situação clínica grave. TABELA 1.1
Apesar desses fatores, na maioria das vezes, o diagnós- Manifestações clínicas
tico de insuficiência respiratória aguda é fácil em virtude
da intensidade dos sinais e sintomas. O quadro clínico pode SNC Agitação, cefaléia, tremores, alucinações, con-
ser alarmante e não deixar dúvidas em relação às condu- vulsões
tas que devem ser assumidas. Outras vezes, porém, ne- RESPIRAÇÃO Amplitude, freqüência, ritmo, padrão, expiração
cessita-se de um alto índice de suspeição e um cuidado prolongada, respiração paradoxal
extremo no acompanhamento destas manifestações clíni- AUSCULTA Roncos, sibilos, estertores, ausência de murmú-
rio vesicular
cas, pois, mesmo na vigência de hipoxemia importante,
elas podem ser mínimas ou até ausentes (Tabela 1.1). APARÊNCIA Sudorese, cianose, puxão traqueal, uso da mus-
culatura acessória
O diagnóstico laboratorial e definitivo da IResA é realiza-
HEMODINÂMICA Taquicardia, bradicardia, arritmia, hipertensão,
do através da gasometria arterial. Aceita-se que a PaO2
hipotensão
inferior a 55-60mmHg e a saturação arterial de oxigênio
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mecanismos responsáveis pela IResA têm sido usados, des- ca, os estados de descompensação devem ser considera-
tacando-se a relação PaO2/FIO2; seu valor normal, em ar dos através de comprometimento do estado mental, hipo-
ambiente (FIO2 = 0,21), é acima de 400 e, sob oxigênio xemia grave e refratária e acidose respiratória progressi-
puro, é superior a 500. Esta relação é útil na quantifica- va, e não apenas pelos valores numéricos estáveis dos
ção da gravidade da lesão pulmonar, na comparação evo- parâmetros acima descritos, que podem ser encontrados
lutiva e na predição dos câmbios na PaO2 se a FIO2 for em condições usuais.
elevada. Valores abaixo de 300 indicam deterioração de Na asma aguda, que habitualmente cursa com hiper-
trocas e, abaixo de 200, sugerem a extrema gravidade do ventilação alveolar e hipocapnia (além de hipoxemia cor-
quadro respiratório. rigível com oxigenoterapia), valores de normalidade nu-
mérica da PaCO2 e do pH são sinônimos de insuficiência
A TOMADA DE DECISÃO ventilatória virtual por falência muscular. Acidose respira-
tória, em crise de asma aguda, é um indicador da extrema
A decisão em iniciar a ventilação mecânica depende do gravidade da crise.
julgamento clínico. Frente a um quadro de insuficiência
respiratória aguda, as indicações incluem a presença de VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA
importantes alterações gasométricas, inadequada respos-
Novos recursos de assistência ventilatória vêm sendo
ta ao tratamento clínico e o excessivo trabalho respirató-
desenvolvidos, como, por exemplo, as técnicas não inva-
rio com evidência de fadiga da musculatura respiratória.
sivas. Estas, como a ventilação não invasiva com pressão
Excetuando-se os casos de falência cardiorrespiratória,
positiva (VNI), vêm ampliando as opções terapêuticas para
proteção de vias aéreas e/ou apnéia, nos quais a indica-
pacientes com insuficiência respiratória aguda. Este tipo
ção de suporte ventilatório é indiscutível, não existem ou-
de ventilação apresenta um papel importante no manejo
tras situações em que a indicação de ventilação mecânica
de pacientes com insuficiência respiratória aguda e crôni-
não mereça uma avaliação crítica pelo médico. Qualquer
ca, eliminando a necessidade de intubação ou traqueosto-
outro critério de indicação do suporte ventilatório não deve
mia e prevenindo alguns problemas decorrentes da venti-
ser considerado absoluto ou infalível. Porém, alguns parâ-
lação invasiva. A VNI está contra-indicada para os casos
metros objetivos podem auxiliar na decisão da indicação
de hipoxemia refratária, queda do estado mental, instabi-
de ventilação mecânica (Tabela 1.2).
lidade hemodinâmica, incapacidade de adaptação às más-
TABELA 1.2 caras nasal ou facial e falência das tentativas anteriores.
Parâmetros auxiliares para indicação de ventilação mecânica
OBJETIVOS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
Parâmetros Normal Indicação de VM
Os principais objetivos a serem atingidos, no processo
inicial da instalação da ventilação e em sua manutenção,
CLÍNICOS
Freqüência Respiratória (ipm)* 12-20 > 35 têm sido alvo de sistematizações consensuais. Os objeti-
CAPACIDADE VENTILATÓRIA
vos fundamentais do suporte ventilatório foram divididos
Volume Corrente (ml/kg) 5-8 <5 em fisiológicos e clínicos.
Capacidade Vital (ml/kg) 65-75 < 10-15
Vol. Exp. Forçado no 1º seg. (ml/kg) 50-60 < 10 A) OBJETIVOS FISIOLÓGICOS
Volume Minuto (L/min) 5-6 > 10
Ventilação Voluntária Máxima (L/min) 120-180 < 20, < 2 x CV 1) Manter ou modificar a troca gasosa pulmonar:
Pressão Inspiratória Máxima (cmH2O) 0(80-120) < –20 a –30 • Ventilação alveolar (PaCO2 e pH). O suporte venti-
Espaço Morto (%) 25-40 > 60 latório tem como objetivo intervir na ventilação alveolar.
GASOMETRIA ARTERIAL Em certas circunstâncias, o objetivo pode ser aumentar a
PaCO2 (mmHg) 35-45 50-55 ventilação alveolar (hiperventilação para reduzir a pres-
PaO 2 (mmHg) (FIO2 = 0,21) > 75 < 50
são intracraniana) ou reduzir a ventilação alveolar de ma-
P(A-a)O2 (FIO2 = 1,0) < 30-60 > 350-450
PaO 2/FIO2 > 350 < 200 neira controlada (hipercapnia permissiva); porém, o obje-
PaO 2/PAO2 0,75 0,15 tivo usualmente adotado é normalizar a ventilação alveo-
Qs’/Qt’ < 7,0 > 20-25 lar.
• Oxigenação arterial (PaO2, SaO2 e CaO2). O objeti-
* Este valor da FR não se aplica em pacientes pediátricos.
vo é atingir e manter valores aceitáveis de oxigenação
arterial (PaO2 > 60mmHg, SaO2 > 90%). A oferta de
AGUDIZAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA CRÔNICA
oxigênio aos tecidos (DO2) deve ser considerada, corrigin-
Em casos de agudização de pneumopatia crônica ou de do fatores como o conteúdo arterial de oxigênio (hemo-
doença neuromuscular com disfunção ventilatória crôni- globina) e o débito cardíaco.
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2) Aumentar o volume pulmonar: CONCLUSÕES


• Insuflação pulmonar inspiratória final. Visa a pre-
venir ou tratar atelectasia. O II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica resu-
• Otimizar a capacidade residual funcional (CRF). Uti- me as recomendações e indicações do suporte ventilató-
lizar a PEEP em situações em que a redução na CRF pode rio do seguinte modo:
ser prejudicial (redução da PaO2, maior injúria pulmonar) 1) Importância da conceituação mais ampla de insufi-
como na SARA e em pós-operatório com dor. ciência respiratória (considerando a oxigenação tecidual)
para que o paciente seja abordado amplamente.
3) Reduzir o trabalho muscular respiratório.
2) Na indicação, considerar a evolução das manifesta-
ções clínicas e da monitoração dos parâmetros fisiológi-
B) OBJETIVOS CLÍNICOS cos.
3) A ventilação mecânica deve ser precoce e essencial-
• Reverter hipoxemia: aumentando a ventilação alveo- mente baseada nas manifestações clínicas do paciente.
lar, aumentando o volume pulmonar, diminuindo o consu- 4) Os parâmetros considerados de maior aplicabilidade
mo de oxigênio e aumentando a oferta de oxigênio. e os indicadores da falência ventilatória são a PaO2, PaCO2,
• Reverter a acidose respiratória aguda P(A-a)O2 e PaO2/FIO2.
• Reduzir o desconforto respiratório 5) Indicações da ventilação mecânica:
• Prevenir ou reverter atelectasias • IResA já estabelecida, decorrente de alterações da
• Reverter fadiga dos músculos respiratórios função pulmonar: da mecânica ventilatória e da troca
• Permitir sedação, anestesia ou uso de bloqueadores gasosa
neuromusculares • Profilática: conseqüente às condições clínicas que
• Reduzir o consumo de oxigênio sistêmico e miocár- podem potencialmente levar à insuficiência respiratória.
dico Exemplo: pós-operatório
• Reduzir a pressão intracraniana • Disfunção em outros órgãos e sistemas. Exemplo:
• Estabilizar a parede torácica choque, hipertensão intracraniana.

2. Métodos essenciais de ventilação mecânica


Coordenador: MARCO AURÉLIO FAGUNDES ÂNGELO
Relator: ROSALVO ABREU
Colaboradores: ARQUIMEDES NASCENTES COELHO SANTOS, BRUNO DO VALLE PINHEIRO, EDUARDO FONSECA SAD,
JOSÉ DE FREITAS TEIXEIRA JÚNIOR, MARCO ANTÔNIO SOARES REIS, MARIA CRISTINA MACHADO PIZZIOLO,
MARIA DA GLORIA RODRIGUES MACHADO, FERNANDO A BOTONI
Discutidor: PAULO ROCHA

CONCEITO • Ventilação mandatória intermitente sincronizada


(SIMV);
Como métodos essenciais de ventilação mecânica de-
• Ventilação com suporte pressórico (PSV);
vemos entender todo e qualquer método de suporte venti-
• Pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP);
latório capaz de prover, com o menor dano e custo possí-
• Associações: SIMV + PSV, PSV + CPAP, SIMV + CPAP.
vel, a melhor ventilação e oxigenação capazes de suprir a
Assim, temos como técnicas essenciais de suporte ven-
demanda do paciente.
tilatório aquelas que têm demonstrado melhorar a condu-
ção das insuficiências respiratórias, principalmente na
MÉTODOS ATUALMENTE ACEITOS SARA, isto é, as técnicas de suporte ventilatório total ou
Os métodos de suporte ventilatório mais praticados na parcial, com respiradores de pressão positiva ciclados a
rotina assistencial e, por isso, considerados convencionais, tempo, pressão, volume ou fluxo, PEEP, CPAP, SIMV, suas
são os seguintes: associações, PCV, VAPSV (ventilação com suporte pressó-
• Ventilação com pressão positiva intermitente, assisti- rico e volume garantido).
da e/ou controlada, ciclada a volume ou pressão (IPPV); Técnicas que ainda não se tornaram convencionais, mas
• Ventilação a pressão controlada (PCV); têm seguidores e indicações, também devem ser conside-
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radas como recursos de suporte ventilatório. Entre elas SARA e, também, para a diminuição do barotrauma em
estão a hipercapnia permissiva, a relação I:E invertida, a asmáticos difíceis de ventilar.
ventilação com jatos de alta freqüência e a ventilação com
Ventilação assisto-controlada
liberação de pressão em vias aéreas.
Nesse modo, o ventilador “percebe” o esforço inspira-
tório do paciente e “responde” oferecendo-lhe um volu-
CICLAGEM DOS VENTILADORES DE PRESSÃO
me corrente predeterminado. Esse esforço inspiratório
POSITIVA deve ser o necessário para vencer o limiar de sensibilida-
São classificados em quatro modalidades de acordo com de da válvula de demanda do ventilador, desencadeando,
término da inspiração. a partir daí, a liberação do volume corrente. Assim, o pa-
Ciclados a tempo ciente “trabalha” para ciclar o respirador e realizar a ins-
A inspiração termina após um tempo inspiratório pre- piração. Na presença de auto-PEEP aumenta-se o trabalho
determinado. A quantidade de gás ofertada e a pressão respiratório proporcional à quantidade de auto-PEEP pre-
de vias aéreas vão variar, a cada respiração, dependendo sente. Um modo controlado de “back-up” de freqüência é
das modificações da mecânica pulmonar. São ventilado- necessário para prevenir hipoventilação.
res também utilizados em domicílio. A ventilação à pres- Ventilação mandatória intermitente (IMV, SIMV)
são controlada (PCV) é diferente neste modo, pois o fluxo Nessa modalidade o grau de suporte ventilatório é de-
desacelerado proporciona uma pressão constante duran- terminado pela freqüência do IMV. A intervalos regulares,
te a inspiração, reduzindo os riscos de barotrauma. Isso o respirador libera um volume previamente determinado.
possibilita aumentar o tempo inspiratório, permitindo in- Fora destes ciclos, o paciente respira espontaneamente
verter a relação I:E. através do circuito do ventilador, portanto, com freqüên-
Ciclados a pressão cia e volume corrente que variarão de acordo com a ne-
A inspiração cessa quando é alcançada a pressão máxi- cessidade e capacidade individuais. A SIMV representa a
ma predeterminada. Os volumes oferecidos variarão de sincronização com o movimento inspiratório; essa modifi-
acordo com as mudanças da mecânica pulmonar. A venti- cação, entretanto, cria a necessidade de uma modalidade
lação-minuto não é garantida. de “disparo”, seja uma válvula de demanda ou um meca-
Ciclados a volume nismo de “flow-by”. Ambas as situações aumentam o tra-
A inspiração termina após se completar um volume cor- balho respiratório. Vantagens do SIMV em relação à venti-
rente predeterminado. lação assisto-controlada:
Ciclados a fluxo • Melhor sincronismo com o ventilador;
A inspiração termina quando determinado fluxo é al- • Menor necessidade de sedação;
cançado. A ventilação por pressão de suporte é um exem- • Menor tendência a alcalose respiratória;
plo. Neste caso, uma pressão predeterminada em via aé- • Menor pressão média de vias aéreas, com redução
rea é aplicada ao paciente, o respirador cicla assim que o dos riscos de barotrauma e comprometimento hemodinâ-
fluxo inspiratório diminui e alcança um percentual prede- mico, especialmente na vigência de PEEP;
terminado de seu valor de pico (normalmente 25%). • Manutenção da resistência muscular possibilitada pela
respiração espontânea.
VENTILAÇÃO CICLADA A VOLUME

Ventilação controlada
VENTILAÇÃO CICLADA A FLUXO

Nessa, o volume-minuto é completamente dependente


(PRESSÃO DE SUPORTE)
da freqüência e do volume corrente do respirador. Ne- Modalidade ciclada a fluxo, em que, uma vez disparada
nhum esforço respiratório do paciente irá contribuir para pela válvula de demanda, uma pressão predeterminada é
o volume-minuto. mantida até que caia o fluxo inspiratório do paciente, ha-
Entre suas indicações estão os pacientes que não con- bitualmente 25% do seu valor máximo. Tende a ser muito
seguem realizar esforço respiratório (traumatismo raqui- confortável, uma vez que o paciente detém o controle sobre
medular, depressão do SNC por drogas, bloqueio neuro- o ciclo respiratório. Pode ser adicionada ao suporte venti-
muscular). A combinação de ventilação controlada e blo- latório total ou parcial (SIMV), vencendo a resistência do
queio neuromuscular possibilita a redução do consumo de tubo e do circuito durante a respiração espontânea.
oxigênio, sendo freqüentemente empregada em pacien- A resistência ao tubo endotraqueal é função do diâme-
tes com SARA. Adicionalmente, esta combinação, espe- tro do tubo e do fluxo inspiratório. Valores superiores a
cialmente quando associada à hipercapnia permissiva, é 10cmH2O podem ser necessários para vencer esta resis-
utilizada para a redução do volutrauma em pacientes com tência, particularmente naqueles tubos de menor calibre
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(7mm ou inferior) ou em pacientes com DPOC. Sua aplica- do-se no peso ideal) é, geralmente, adequado. Ajustes sub-
ção possibilita o aumento do volume corrente e a redução seqüentes devem ser considerados, baseando-se inicial-
da freqüência respiratória. mente na pressão parcial de gás carbônico no sangue ar-
O suporte ventilatório total exige altos valores de pres- terial (PaCO2). Na SARA é recomendado o uso de VT de 5
são de suporte (27 ± 5cmH2O). Valores baixos aumen- a 8ml/kg.
tam o risco de colabamento alveolar. A monitorização A necessidade de ajustar o VT para obter uma determi-
cuidadosa é necessária, uma vez que nem volume corren- nada PaCO2 deve-se às variações na produção do CO2
te ou minuto são garantidos por esta modalidade. A PSV pelo paciente e, principalmente, no volume do espaço
pode ser mal tolerada em pacientes com alta resistência morto. O espaço morto anatômico, durante a ventilação
de vias aéreas. O seu uso em pacientes com DPOC não mecânica, é acrescido dos volumes da cânula traqueal, do
diminui a auto-PEEP, a qual, por aumentar o trabalho res- circuito do respirador e do volume que se perde na disten-
piratório, pode inviabilizar o uso de PSV nestes pacientes. são do circuito. Estes volumes variam entre os diferentes
Assim como ocorre na ventilação A/C e SIMV, pode ocor- circuitos e podem levar à necessidade de ajustes no VT.
rer assincronia durante o uso de PSV na modalidade total Além disso, durante a ventilação mecânica, pode-se au-
de assistência ventilatória. No momento, a PSV não se mentar o espaço morto fisiológico, principalmente com
constitui uma modalidade adequada para a abordagem da grandes volumes correntes, em função da diminuição do
insuficiência respiratória aguda; entretanto, esforços têm retorno venoso e da hiperdistensão alveolar, com com-
sido feitos para contornar estes problemas, para que a pressão de capilares pulmonares.
PSV possa ser utilizada em maior escala no futuro (ventila- Em algumas situações específicas, a normalização da
ção assistida proporcional e PSV com volume garantido). PaCO2 não é o parâmetro para ajustar o volume corren-
te. Em pacientes obstrutivos (asma e DPOC), volumes cor-
PEEP (PRESSÃO POSITIVA rentes menores podem ser necessários para evitar a hi-
AO FINAL DA EXPIRAÇÃO)
perdistensão pulmonar, com conseqüente geração de auto-
PEEP.
Define-se como sendo a manutenção da pressão alveo- Especificamente nos pacientes com DPOC com reten-
lar acima da pressão atmosférica ao final da expiração. ção crônica de CO2, o VT ajustado deve manter os níveis
Ver subcapítulo específico. elevados de CO2 para que não se alterem os mecanismos
de retenção de bicarbonato. A normalização da PaCO2
PARÂMETROS PROGRAMÁVEIS nesses pacientes promoverá a diminuição dos níveis de
bicarbonato, sendo causa de acidose respiratória e dificul-
Concentração de oxigênio no ar inspirado (FIO2)
dade de retirada do suporte ventilatório, quando se tentar
É recomendável que se inicie a ventilação mecânica com o desmame. Dessa forma, deve-se estar atento aos valo-
FIO2 = 1,0, procurando-se reduzir progressivamente este res do pH arterial.
valor a concentrações mais seguras, objetivando uma FIO2 Em pacientes com complacência pulmonar diminuída
< 0,5. O ideal é manter uma FIO2 suficiente para obter (principalmente na SARA), ao ajustar o volume corrente,
uma SaO2 > 90%, sem expor o paciente ao risco de toxi- deve-se evitar a hiperdistensão alveolar. Embora haja con-
cidade pelo oxigênio. Entretanto, em casos graves de SARA, trovérsias, a manutenção da pressão de platô abaixo de
com o objetivo de evitar altas concentrações de oxigênio, 35cmH2O (ou 40cmH2O em pacientes obesos, com asci-
pode ser tolerada uma SaO2 > 85%. te ou distensão abdominal, ou em outras condições de
Freqüência respiratória diminuição da complacência da parede torácica) constitui-
A freqüência respiratória deve ser ajustada de acordo se em medida segura para evitar esta hiperdistensão. Es-
com a PaCO2 e pH desejados, e dependerá do modo de tas particularidades na escolha do volume corrente serão
ventilação escolhido, da taxa metabólica, do nível de ven- discutidas mais detalhadamente neste Consenso.
tilação espontânea e do espaço morto. Em geral, reco-
Fluxo inspiratório
menda-se a freqüência respiratória de 8-12ipm, para a
maioria dos pacientes estáveis. Deve-se ficar atento para A importância da escolha do pico de fluxo inspiratório
o desenvolvimento de auto-PEEP com altas freqüências res- é diferente entre os ciclos assistidos e os ciclos controla-
piratórias, geralmente acima de 20ipm. dos.
Nos ciclos controlados, a escolha do pico de fluxo de-
Volume corrente terminará a velocidade com que o volume corrente será
Na ventilação mecânica volume controlado, o volume ofertado, determinando, conseqüentemente, a relação
corrente (VT) é mantido constante, sendo o fator de cicla- inspiração/expiração para aquela freqüência respiratória,
gem do respirador. Um VT inicial de 10-12ml/kg (basean- e o pico de pressão nas vias aéreas. Sendo assim, para
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um dado ajuste de volume corrente e freqüência respira- superioridade de uma destas ondas de fluxo, desde que
tória, um maior pico de fluxo se correlaciona com o me- ajustadas para o mesmo volume corrente, a mesma rela-
nor tempo inspiratório e maior pico de pressão nas vias ção entre tempo inspiratório e tempo total, e o mesmo
aéreas. Nos ciclos controlados, um pico de fluxo entre 40 fluxo médio.
e 60L/min é, em geral, suficiente, procurando-se manter
a PIP < 40cmH2O. Relação inspiração:expiração – I:E
Durante os ciclos assistidos, na escolha do pico de fluxo
A relação I:E, durante respiração espontânea normal,
inspiratório, deve-se considerar também a demanda ven-
é de 1:1,5 a 1:2 com tempo inspiratório de 0,8 a 1,2
tilatória do paciente. Um fluxo inspiratório insuficiente de-
segundos. Durante a ventilação mecânica, ela dependerá
termina desconforto e maior trabalho respiratório para o
do volume corrente, da freqüência respiratória, do fluxo
paciente, em função da manutenção do esforço inspirató-
inspiratório e da pausa inspiratória.
rio ao longo da inspiração. Em função disto, o pico de
Em pacientes com obstrução do fluxo expiratório e hi-
fluxo inspiratório, nos ciclos controlados, necessitará ser
perinsuflação, recomenda-se uma relação I:E < 1:3 obje-
maior, em geral entre 60 e 90L/min. Outra possibilidade
tivando um aumento no tempo de exalação.
de evitar um maior trabalho respiratório pelo paciente,
Em pacientes hipoxêmicos, relações I:E mais próximas
nos ciclos assistidos, é a combinação de um fluxo de de-
de 1:1 aumentam o tempo de troca alvéolo-capilar, tra-
manda à modalidade volume controlada (VAPSV), confor-
zendo, conseqüentemente, melhora na oxigenação.
me descrito por Bonassa e Amato.
Uma relação I:E > 1:1 pode predispor ao desenvolvi-
Ondas de fluxo mento de auto-PEEP, embora possa melhorar a troca ga-
sosa na hipoxemia refratária. Nos pacientes com síndro-
Os ventiladores, na modalidade volume controlado,
me hipoxêmica grave, podemos chegar a relações I:E =
podem ofertar o fluxo inspiratório em quatro formas (onda
3:1.
de fluxo): quadrada (ou constante), sinusoidal, acelerada e
desacelerada. As ondas de fluxo de padrão acelerado ou
Sensibilidade
sinusoidal são menos utilizadas, não trazendo vantagens
em relação às demais. Entre as duas ondas de fluxo mais A sensibilidade deve ser compreendida como o esforço
freqüentemente usadas, a quadrada e a desacelerada, con- despendido pelo paciente para disparar uma nova inspi-
centram-se os principais estudos. ração assistida pelo ventilador.
Em relação ao fluxo quadrado, o desacelerado apresen- O sistema de disparo por pressão é encontrado na maio-
ta menor pico de pressão nas vias aéreas e melhor distri- ria dos ventiladores, sendo recomendado o valor de –0,5
buição da ventilação (diminuição do espaço morto fisioló- a –2,0cmH2O. O sistema de disparo a fluxo pode ser en-
gico) quando o tempo inspiratório é mais prolongado. Não contrado em ventiladores mais novos, e parece propor-
existem trabalhos que demonstrem, de forma definitiva, a cionar melhor interação com o paciente.

3. Métodos de ventilação mecânica no paciente pediátrico


Coordenadores: JEFFERSON PEDRO PIVA, JOSÉ OLIVA PROENÇA FILHO
Relator: MARIA DE FÁTIMA FREIRE
Colaboradores: NORBERTO ANTÔNIO FREDDII, RENATO SOIBELMAN PROCIANOY,
ROBERTO SAPOLINK, WERTHER BRUNOW DE CARVALHO
Discutidores: ELIANA SENA, THELSO SILVA

INTRODUÇÃO TIPOS DE VENTILAÇÃO

Para definir o método de ventilação mecânica em pe- Ventilação Limitada à Pressão e Ciclada a Tempo
diatria, a tendência atual é observar a inter-relação das Recomenda-se em crianças com peso inferior a 20kg,
variáveis do respirador com a fisiopatologia da doença e usualmente menores de quatro a cinco anos de idade.
com seus possíveis efeitos deletérios. Assim, tem-se ob- Ventilação Limitada a Volume
servado, nos últimos anos, uma tendência em implemen- Neste tipo de ventilação, existe a dificuldade de deter-
tar modalidades menos agressivas de suporte ventilatório. minar o exato volume corrente que o paciente está rece-
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bendo devido ao escape de gás ao redor de cânulas sem pulmonar de origem cardiogênica ou não, nas doenças
balonete, usualmente utilizadas em crianças menores de obstrutivas e naquelas caracterizadas por diminuição da
3 anos. Além disso, há uma escassez de aparelhos de ven- complacência.
tilação mecânica volumétricos adequados para esta faixa Em crianças com idade inferior a 3 anos, tem sido pou-
etária. co utilizada devido à escassez de aparelhos adequados para
A ventilação limitada a volume é também pouco utiliza- esta faixa etária.
da em outras faixas etárias (> 3 anos de idade), devido a É contra-indicada ou não recomendável em crianças com
um maior risco de lesão pulmonar induzida pela ventila- o estímulo respiratório instável.
ção mecânica. A lesão pulmonar induzida pela ventilação Ventilação com Relação Inversa
mecânica está associada, entre outros fatores, aos altos Na faixa etária pediátrica, os estudos prospectivos, ran-
picos de pressão inspiratória positiva que podem ser ge- domizados e controlados não demonstraram diminuição
rados neste tipo de ventilação. da morbidade e da mortalidade com o uso da Relação
Ventilação Não Invasiva Inversa.
Recomenda-se a ventilação não invasiva através do Poderia ser utilizada nas condições caracterizadas por
“prong” nasal (< 20kg) ou máscara nasal (> 20kg) antes diminuição da complacência (SARA), com hipoxemia re-
da intubação e da ventilação mecânica invasiva, nas se- fratária (SaO2 < 85%), apesar do uso de FIO2 > 0,8 e
guintes situações: nas doenças obstrutivas das vias aéreas PEEP > 15cmH2O.
inferiores, nos casos leves a moderados de pacientes com Hipercapnia Permissiva
doenças restritivas, na hipoventilação de origem central, É recomendada na obstrução grave das vias aéreas in-
nas doenças neuromusculares, nos doentes terminais e feriores (asma, bronquiolite), não responsivas ao modo
no desmame da ventilação mecânica invasiva. convencional de ventilação. Recomenda-se, também, nas
Não é recomendada ou é contra-indicada: na instabili- doenças pulmonares com diminuição da complacência
dade hemodinâmica, na criança com risco de aspiração, (SARA) que necessitam PIP > 30 a 35cmH2O e FIO2 > 0,6.
na hemorragia gastrintestinal, no paciente agitado, não É contra-indicada nos pacientes com risco de hiperten-
cooperativo ou com muita secreção nas vias aéreas, na são intracraniana, nas arritmias cardíacas graves e na hi-
hérnia diafragmática e cirurgia abdominal recente. pertensão arterial grave.
Os níveis aceitáveis do pH sanguíneo devem situar-se
MODOS DE VENTILAÇÃO acima de 7,1.
Ventilação Mandatória Intermitente (VMI)
Recomenda-se o sistema VMI de fluxo contínuo para
RECOMENDAÇÕES CLÍNICAS
menores de 3 anos de idade. VENTILAÇÃO NAS DOENÇAS COM DIMINUIÇÃO DA
O sistema de fluxo de demanda, em crianças menores COMPLACÊNCIA (SARA, PNEUMONIAS INTERSTICIAIS)
de 3 anos, não é recomendado. Nesta situação, a pressão
Tipo de ventilação
negativa que o paciente deve gerar para obter o fluxo de
Quando altos picos de pressão inspiratória são neces-
gás, além de aumentar o trabalho respiratório quando
sários para fornecer o volume corrente adequado, reco-
comparado com o sistema de fluxo contínuo, afeta adver-
menda-se a ventilação limitada à pressão.
samente a tolerância ao sistema. Isto é especialmente ver-
dadeiro em recém-nascidos e lactentes pequenos. Modo de ventilação
Com o aparecimento dos novos aparelhos de ventila- Nos casos leves a moderados pode-se utilizar inicialmente
ção mecânica microprocessados, a ventilação sincroniza- a ventilação não invasiva, através de “prong” nasal (RN e
da (VMIS) pode ser utilizada como uma opção para o trata- lactentes) ou máscara nasal (crianças maiores).
mento do paciente pediátrico, especialmente os aciona- A CPAP e a BiPAP, quando utilizadas precocemente, têm,
dos por diferença de fluxo e impedância torácica. muitas vezes, evitado a intubação endotraqueal. No pa-
ciente pediátrico, em relação à BiPAP, faltam trabalhos com-
Ventilação Controlada
provando a eficácia deste modo de ventilação não invasi-
Recomenda-se em crianças com apnéia, choque, em
va. Tanto a CPAP como a BiPAP têm sido utilizadas durante
algumas situações que apresentem grave comprometimen-
o desmame da ventilação mecânica invasiva nestes pa-
to pulmonar e nas doenças que se beneficiam da hiper-
cientes.
ventilação.
Recomenda-se VMI com fluxo contínuo para lactentes e
Ventilação com Suporte de Pressão recém-nascidos, e suporte de pressão para crianças maio-
Recomenda-se durante o “desmame” da ventilação res, como modos de preferência para iniciar a ventilação
mecânica de crianças nas seguintes situações: no edema mecânica.
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S9
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

Recomenda-se a hipercapnia permissiva nos casos re- A maioria dos pacientes pediátricos não se beneficia da
fratários à ventilação convencional, desde que não haja curarização; por esta razão, ela raramente é utilizada nes-
contra-indicações, na tentativa de evitar os efeitos deleté- tas circunstâncias.
rios da ventilação mecânica. Este modo de ventilação po- Nos casos refratários às medidas adotadas, deve-se con-
deria ser indicado quando a Pressão Inspiratória Positiva siderar a possibilidade de colocar o paciente em posição
(PIP) ultrapassasse 35cmH2O e a Pressão Expiratória Fi- prona.
nal Positiva (PEEP) fosse superior a 15cmH2O e saturação
< 85%. PATOLOGIAS OBSTRUTIVAS DAS VIAS AÉREAS
Pressão inspiratória positiva INFERIORES (ASMA, BRONQUIOLITE)
Recomenda-se que a pressão de platô seja menor do Tipo de ventilação
que 35cmH2O e o pico de pressão inspiratória positiva Recomenda-se a ventilação limitada à pressão, para evi-
(PIP) menor do que 40cmH2O no paciente adulto. Na crian- tar altos picos de pressão inspiratória.
ça, por falta de trabalhos adequadamente controlados, Modo de ventilação
ainda não podemos determinar com segurança quais são Pode ser utilizado inicialmente o CPAP nasal, e poste-
estes valores; provavelmente devem ser menores, princi- riormente, nos casos de uma má resposta, a ventilação
palmente em lactentes e recém-nascidos. não invasiva (BiPAP), porém os resultados ainda não são
Volume corrente conclusivos.
Recomenda-se que o volume corrente efetivo seja de 3 Recomenda-se a ventilação invasiva nos casos que não
a 8ml/kg, o suficiente para manter a pressão de platô responderem ao CPAP e a ventilação não invasiva, ou nas
inferior a 30-35cmH2O. crianças com acidose respiratória importante (pH < 7,1),
Tempo inspiratório hipoxemia refratária e instabilidade hemodinâmica (com
intenção de reduzir o trabalho respiratório).
Recomenda-se inicialmente o tempo inspiratório nor-
Recomenda-se a ventilação mandatória intermitente
mal para a idade. Variando de 0,3 segundos (no recém-
com freqüência respiratória baixa, aceitando-se o aumen-
nascido) a 1,2 segundos (no adolescente), com uma rela-
to da PaCO2 (hipercapnia permissiva).
ção I:E normal de 1:2 a 1:3.
Pode-se aumentar o tempo inspiratório até atingir uma Pressão inspiratória positiva
relação I:E igual 4:1 (ventilação com relação invertida) na Recomenda-se que a pressão de platô seja menor do
impossibilidade de manter uma oxigenação adequada pelo que 35cmH2O e o pico de pressão inspiratória (PIP) me-
aumento da PEEP e da FIO2. nor do que 40cmH2O no paciente adulto. Na criança, por
falta de trabalhos, ainda não podemos determinar com
Freqüência da ciclagem
segurança quais são estes valores; provavelmente devem
Recomenda-se que a freqüência da ciclagem seja a mí- ser menores, principalmente em lactentes e recém-nasci-
nima necessária para manter uma ventilação alveolar ade- dos.
quada.
Volume corrente
PEEP Recomenda-se que o volume corrente efetivo seja de 6
Recomenda-se iniciar a PEEP ao redor de 6cmH2O e a 8ml/kg, o suficiente para manter a pressão de platô
aumentar progressivamente, 3cmH2O a cada vez, para abaixo de 30 a 35cmH2O.
manter uma SaO2 acima de 85%, com a menor FIO2 pos-
Tempo inspiratório
sível.
Recomenda-se inicialmente o tempo inspiratório maior
Recomenda-se a monitorização hemodinâmica quando
do que o normal para a idade.
a PEEP for superior a 15cmH2O.
Recomenda-se uma relação I:E de 1/3 a 1/5 para per-
FIO2 mitir um tempo expiratório longo e evitar o aparecimento
Recomenda-se a menor fração de oxigênio inspirada de auto-PEEP.
possível para manter uma SaO2 em torno de 89%, ou, Freqüência de ciclagem
nos casos mais graves, refratários às medidas convencio- Recomenda-se que a freqüência de ciclagem seja baixa,
nais, aceita-se uma SaO2 ao redor de 85%. desde 8 até 24 ventilações mecânicas por minuto, de acor-
Sedação e curarização do com a idade e a gravidade do quadro. O uso da fre-
Recomenda-se avaliar a necessidade de sedação para qüência de ciclagem alta está associado com o apareci-
um maior conforto do paciente e facilitar a ventilação, mento de auto-PEEP.
principalmente quando a hipercapnia permissiva ou a ven- PEEP
tilação com relação invertida forem usadas. Recomenda-se usar PEEP baixa, em torno de 4cmH2O.
S 10 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

4. PEEP (pressão positiva ao final da expiração)


Coordenador: OSVALDO SHIGUEOMI BEPPU
Relator: ANDRÉ GUANAES
Colaboradores: BRUNO DO VALLE PINHEIRO, EDUARDO C. MEYER,
JOSÉ OTÁVIO COSTA AULER JÚNIOR, SÉRGIO PINTO RIBEIRO
Discutidores: MARCONI CHAVES, NIVALDO FIGUEIRAS

POSSÍVEIS BENEFÍCIOS DA PEEP EM DIFERENTES tensão intracraniana, instabilidade hemodinâmica ou


CONDIÇÕES
fístula broncopleural ativa.

A) SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO PEEP NA SARA


(SARA) E LESÃO PULMONAR AGUDA (LPA)
MÉTODOS PARA A ESCOLHA DA PEEP
• Melhora da oxigenação
• Obtenção de uma PaO2 > 60mmHg com uma FIO2
• Diminuição da lesão pulmonar causada pelo ventila-
< 0,6
dor
• Obtenção de shunt < 15%
• Diminuição do espaço-morto
B) DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA
• Curva pressão x volume
(DPOC) • Curva PEEP x complacência
• Diminuição do trabalho ventilatório imposto pela PEEP- • Redução progressiva do valor da PEEP, após recruta-
intrínseca mento máximo, avaliando-se a oximetria de pulso
➤ Recomendamos a realização da curva pressão x
C) ASMA volume (avaliando-se a pressão de abertura pela rela-
ção PEEP x complacência).
• Diminuição da resistência das vias aéreas
• Diminuição do trabalho ventilatório imposto pela PEEP- CURVA PRESSÃO X VOLUME E CURVA PEEP X
intrínseca COMPLACÊNCIA

D) EDEMA AGUDO DE PULMÃO CARDIOGÊNICO Esses métodos de escolha da PEEP na SARA apresentam
algumas dificuldades:
• Diminuição do retorno venoso • Métodos complexos
• Aumento da pressão intra-alveolar • A interpretação dos resultados é, por vezes, difícil
• Diminuição da pressão transmural do ventrículo es- • Importância clínica ainda necessitando de confirma-
querdo, favorecendo seu desempenho ção
• Qual o melhor método de obtenção da curva P x V?
E) PEEP “FISIOLÓGICA” (OU PEEP MÍNIMA APÓS • Estudar a curva P x V na inspiração ou na expiração?
INTUBAÇÃO TRAQUEAL)
TIPOS DE CURVA PRESSÃO X VOLUME E PEEP X
• Impedir o colabamento alveolar em pacientes intuba-
COMPLACÊNCIA
dos. (Valor a ser utilizado: 5cmH2O).
Estática: fluxo zero – pausa inspiratória de pelo menos
EFEITOS INDESEJÁVEIS 2 segundos
Dinâmica: fluxo não-zero – presença de componente
• Diminuição do retorno venoso, podendo comprome- resistivo
ter o débito cardíaco, principalmente em situações de hi- Quase-estática: fluxo inspiratório mínimo
povolemia
• Risco de hiperinsuflação em situações de ajustes ina- MÉTODOS DE ESCOLHA DA PEEP EM CONDIÇÕES
dequados da ventilação
QUASE ESTÁTICAS
• Diminuição da força dos músculos inspiratórios
Obs.: A realização destas manobras deve ser feita com • Superseringa
cuidado, sendo contra-indicadas as situações de hiper- • Volumes aleatórios
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 11
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

• Fluxo contínuo (1 a 10L/min) • Período de utilização da “PEEP-ideal”: benéfico na fase


• Curva PEEP x complacência (ou PEEP crescente, ou precoce da SARA, tem seu valor na fase tardia ainda inter-
método de Suter, porém com volume corrente de 4ml/ rogado.
kg) • Periodicidade das medidas: dependente da monitori-
• Tomografia computadorizada de tórax zação da PaO2/FIO2.
• Avaliando-se a oxigenação (oximetria de pulso) • Há uma possível resposta diferente à PEEP, em rela-
ção à SARA pulmonar ou extrapulmonar, com maior be-
ESCOLHA DA PEEP PELA CURVA PEEP X nefício nesta última.
COMPLACÊNCIA (MÉTODO DE SUTER OU PEEP
CRESCENTE) PEEP NA DPOC
• Sedação e curarização • Objetivo: diminuir o trabalho ventilatório imposto pelo
• Posição supina e aspiração de secreções auto-PEEP
• Verificar a presença de vazamentos no circuito • Valor de PEEP: 85% do auto-PEEP
• Considerar a complacência do circuito quando o vo-
lume é medido na expiração PEEP NO EDEMA AGUDO DE PULMÃO
• Homogeneização do pulmão com utilização de ma-
CARDIOGÊNICO
nobras de recrutamento (exemplo: CPAP de 40cmH2O du-
rante 40 segundos) • Utilizar CPAP
• Ventilação controlada • Níveis de pressão expiratória: máximo de 10cmH2O
• FIO2 = 1; onda de fluxo quadrada, fluxo de 60L/min • Titulação dos níveis:
• Volume corrente: 4ml/kg SaO2
• Pausa inspiratória: 2 seg. Freqüência cardíaca
• Freqüência respiratória: 10rpm Ritmo cardíaco
• Iniciar com PEEP de 5cmH 2O, com incrementos Pressão arterial
2cmH2O, mantendo-a aproximadamente por 10 ciclos Freqüência respiratória
• Pressão de platô máxima: 45cmH2O Utilização de musculatura acessória da respiração
• A PEEP “ideal” será encontrada somando-se 2cmH2O Nível de consciência.
ao valor da PEEP que determinou a melhor complacência
• Monitorizações: SaO2, pressão arterial, freqüência e PEEP NA ASMA
ritmo cardíacos
Obs.: cuidado nas contra-indicações de hipercapnia • Diminuição da resistência das vias aéreas
(monitorização com capnografia) • Diminuição do trabalho ventilatório imposto pelo ven-
tilador
OUTROS PONTOS EM RELAÇÃO À PEEP NA SARA
RISCO:
• As curvas “P x V” e “PEEP x complacência” podem
ser realizadas nas fases inspiratória ou expiratória. Prova- • Piorar a hiperinsuflação pulmonar
velmente, são mais fidedignas na parte expiratória, mas A ventilação mecânica na asma, na maioria das vezes,
os dados de literatura ainda são insuficientes. Recomen- dar-se-á por curtos períodos, estando o paciente, parte
damos sua realização na fase inspiratória. destes períodos, sedado e até mesmo curarizado. Questi-
• Quando não se encontra a PEEP pelos métodos aci- onamos a validade de tentar combater o auto-PEEP para
ma, iniciar com PEEP = 10cmH 2O, incrementos de diminuir o trabalho ventilatório, sob o risco de hiperinsu-
2cmH2O a cada 30 minutos, baseando-se na SaO2 e na flação. Não recomendamos a utilização de PEEP acima de
PaO2/FIO2. 5cmH2O (PEEP mínimo após intubação traqueal).

S 12 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

5. Ventilação mecânica intra e pós-operatória


Coordenador: JOSÉ OTÁVIO COSTA AULER JÚNIOR
Relator: ANDRÉ ARAGÃO
Colaboradores: ANDRÉ BEER JÚNIOR, JOÃO PLÍNIO SOUZA ROCHA, JOEL AVANCINI ROCHA FILHO
Discutidores: PAULA MÁRCIA GOMES, WALDIR MEDRADO, AMADEU MARTINEZ, IVO AMADO, PALMIRENO FERREIRA

INDICAÇÕES DE VENTILAÇÃO MECÂNICA INTRA- CUIDADOS A SEREM OBSERVADOS PRIMARIAMENTE


OPERATÓRIA RELACIONADAS À PRÁTICA DA QUANDO INSTITUÍDA A VENTILAÇÃO MECÂNICA NO
ANESTESIA PERÍODO PERIOPERATÓRIO

A ventilação mecânica é indicada para dar suporte ao


A ventilação mecânica é utilizada extensivamente du-
sistema respiratório nas situações descritas anteriormen-
rante a anestesia para permitir a manutenção da função
te. Portanto, é necessário prevenir a lesão pulmonar com
respiratória durante a intervenção cirúrgica. É essencial
a utilização deste tipo de suporte, que pode ocorrer com a
quando a obtenção da anestesia adequada envolve a ad-
hiperinsuflação (pressão de platô > 35cmH2O) ou com a
ministração de hipnoanalgésicos, hipnóticos ou agentes
administração de elevadas concentrações de oxigênio (FIO2
anestésicos inalatórios em doses suficientemente eleva-
> 0,5) por período prolongado.
das, que interferem no controle central e normal da respi-
ração. Da mesma forma, é imprescindível quando há indi-
cação da administração de agentes bloqueadores neuro- INDICAÇÕES DE VENTILAÇÃO MECÂNICA
musculares para obter um relaxamento muscular que faci- PÓS-OPERATÓRIA
lite o acesso cirúrgico. Também está indicada nos proce-
A mais freqüente exigência de manutenção do suporte
dimentos cirúrgicos que, caracteristicamente, não permi-
ventilatório ao final da cirurgia está relacionada ao efeito
tem manter respiração espontânea (por exemplo: tórax
residual das drogas administradas para a obtenção da anes-
aberto), nas situações cujo decúbito ou posicionamento
tesia – hipnoanalgésicos, hipnóticos, relaxantes muscula-
do paciente são desfavoráveis, ou naquelas em que há
res e anestésicos inalatórios. Estes efeitos residuais dimi-
benefício em manter a hiperventilação pulmonar como as
nuem progressivamente com o passar do tempo ou po-
lesões do sistema nervoso central com aumento da pres-
dem ser antagonizados por drogas específicas. Portanto,
são intracraniana.
neste casos, é previsível que o suporte respiratório pós-
operatório não seja prolongado ou sofisticado. Por outro
lado, existem indicações relacionadas ao porte cirúrgico
OUTRAS INDICAÇÕES DE VENTILAÇÃO funcional do paciente, duração da cirurgia, hipo ou hiper-
termia, condições atuais da função pulmonar, distúrbios
MECÂNICA INTRA-OPERATÓRIA NÃO
metabólicos, sobrecarga volêmica, politransfusão, coagu-
RELACIONADAS À ADMINISTRAÇÃO lopatias e complicações inesperadas durante a cirurgia que
DE ANESTESIA OU ÀS PECULIARIDADES determinam a necessidade de suporte respiratório por
CIRÚRGICAS tempo indeterminado, com grau variável de sofisticação.

Pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva INTERVENÇÃO CIRÚRGICA DE PACIENTES SOB


necessitam de suporte respiratório através de ventilação VENTILAÇÃO MECÂNICA NA UNIDADE DE TERAPIA
mecânica tanto por insuficiência respiratória aguda quan- INTENSIVA
to crônica; podem, também, necessitar da intervenção
cirúrgica. A situação que determinou a indicação do su- Pelo fato dos equipamentos utilizados para anestesia
porte respiratório continua existindo durante o período não fornecerem os mesmos recursos daqueles utilizados
cirúrgico e, portanto, a ventilação pulmonar do paciente nas Unidades de Terapia Intensiva, o suporte respiratório
deve ser mantida com as mesmas características utilizadas que o paciente vinha recebendo na UTI deve ser mantido
na Unidade de Terapia Intensiva. durante o período em que estiver na sala de operações.
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 13
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

Portanto, quando necessário, o ventilador utilizado pelo ATELECTASIA PULMONAR: A MAIS FREQÜENTE
paciente deve ser encaminhado para o centro cirúrgico, e COMPLICAÇÃO PÓS-OPERATÓRIA
a técnica anestésica, nestas circunstâncias, poderá ser
venosa. A presença de atelectasias é a complicação mais fre-
qüente observada no período pós-operatório imediato das
cirurgias que envolvem o andar superior do abdome ou
AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA na videolaparoscopia, sendo que os pacientes necessitam
Informações obtidas pela espirometria podem ser utili- de oxigenoterapia para a manutenção da saturação arte-
zadas para prever o risco de complicações pulmonares no rial de oxigênio em níveis normais. A ventilação mecâni-
período pós-operatório (Quadro 5.1). ca, com adição de pressão positiva ao final da expiração
(PEEP), previne ou diminui a incidência de atelectasias.
Por outro lado, na impossibilidade de utilizar este recur-
so, o volume corrente pode ser aumentado para 12 a
QUADRO 5.1
Relações entre espirometria e riscos 15ml/kg, desde que a pressão de platô seja mantida <
de complicações pós-operatórias 35cm H2O.

Medida Risco moderado Risco elevado


FATORES DE RISCO QUE DEVEM SER OBSERVADOS
CVF < 50% do previsto < 15cc/kg
PARA QUE SE POSSAM PREVER COMPLICAÇÕES
VEF 1 < 2L < 1L
VEF1/CVF < 70% do previsto < 35% do previsto PULMONARES PERIOPERATÓRIAS
FEF25-75% – < 14L/s
VR/CPT > 50% do previsto – Os fatores de risco que determinam maior incidência
DLCO < 50% do previsto – de complicações pulmonares perioperatórias são enume-
VVM < 50% do previsto ou < 50L/min – rados abaixo:
DLCO: – Capacidade de difusão do monóxido de carbono
1) Doença pulmonar preexistente,
VVM: – Ventilação voluntária máxima 2) Cirurgia torácica ou do andar superior do abdome,
3) Tabagismo,
4) Obesidade,
5) Idade superior a 60 anos,
MEDIDAS PRÉ-OPERATÓRIAS QUE MODIFICAM A 6) Anestesia geral prolongada (> 3 horas).
INCIDÊNCIA DE COMPLICAÇÕES PULMONARES
PERIOPERATÓRIAS CONDIÇÕES EM QUE O SUPORTE RESPIRATÓRIO
INTRA-OPERATÓRIO PODE MODIFICAR A MORBIDADE
Os benefícios obtidos quando o paciente abandona o
tabagismo podem ser medidos através do tempo, confor- E MORTALIDADE DO PACIENTE
me o Quadro 5.2. A ventilação positiva com adição de pressão positiva ao
final da expiração (PEEP), nos casos de inalação de fuma-
ça, trauma de tórax, politransfusão e politraumatismo, de
QUADRO 5.2 um modo geral, permite a manutenção adequada da oxi-
Relação entre tempo de abandono
genação do sangue em níveis menores de FIO2 e a dimi-
do tabagismo e benefícios obtidos
nuição de atelectasias, com melhora das condições pós-
Duração Benefícios
operatórias.

12-24 horas Diminuição dos níveis de nicotina e CO MEDIDAS QUE PODEM SER ADOTADAS PELO
48-72 horas Normalização do nível de HbCO e melhora da
ANESTESIOLOGISTA QUE CONTRIBUEM
função ciliar
1-2 semanas Diminuição da produção de secreção EFETIVAMENTE PARA A DIMINUIÇÃO DA MORBIDADE
4-6 semanas Melhora significativa dos testes de função PÓS-OPERATÓRIA EM RELAÇÃO AO SISTEMA
pulmonar
RESPIRATÓRIO
6-8 semanas Normalização da função imunológica e
metabolismo de drogas A colocação de cateter peridural, nos pacientes subme-
8-12 semanas Diminuição da mortalidade pós-operatória tidos a cirurgias de tórax e andar superior do abdome,
geral
permite a realização de analgesia eficiente sem os incon-
S 14 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

venientes da administração venosa de analgésicos – seda- para não prejudicar o reconhecimento imediato dos alar-
ção e depressão respiratória, com melhora evidente da mes sonoros destes aparelhos e dos ventiladores;
função respiratória e do tempo de permanência na Uni- 6) Os limites dos alarmes devem ser conferidos quando
dade de Terapia Intensiva. os aparelhos forem conectados ao paciente, e a alteração
dos limites padronizados só poderá ser concretizada com
a devida autorização do médico responsável pelo atendi-
CRITÉRIOS QUE DEVEM SER OBSERVADOS PELO mento do paciente;
ANESTESIOLOGISTA ANTES DE PROCEDER À 7) Nos procedimentos cirúrgicos que envolvem o an-
EXTUBAÇÃO DO PACIENTE dar superior do abdome, tórax aberto e decúbito que pre-
judica a ventilação de um dos pulmões, deve ser realizado
• Respirar espontaneamente o recrutamento alveolar antes da extubação do paciente;
• Reflexos protetores de vias aéreas presentes 8) Pacientes de risco para complicações pulmonares
• Obedecer a ordens simples transoperatórias, tais como: 1) doença pulmonar preexis-
• Estabilidade hemodinâmica tente; 2) cirurgia com tórax aberto; e 3) obesidade mórbi-
• SpO2 > 90% com FIO2 = 0,21 da devem ser submetidos a teste de função pulmonar para
• Sem manifestações de bloqueio neuromuscular resi- a classificação de risco e a introdução de fisioterapia pré-
dual verificada pelo estimulador de nervo periférico ou operatória quando indicado;
prova de sustentação da cabeça > 5s 9) Alertar os pacientes dos riscos transoperatórios as-
• Força Inspiratória Máxima < –25cmH2O sociados ao tabagismo e esclarecer quanto aos benefícios
• Volume corrente > 7ml/kg da abstinência em relação ao tempo, com a diminuição
• Capacidade vital > 10mL/kg da morbidade pós-operatória geral a partir de 8 semanas;
• Índice de FR/VT < 80 10) Utilizar a pressão positiva ao final da expiração
• Relação PaO2/FIO2 > 200 (PEEP) quando houver alteração da difusão de gases, no
• PaCO2 < 40mmHg período intra-operatório, principalmente nos pacientes
com história de inalação de gases, trauma de tórax, poli-
trauma e ressuscitação volêmica;
RECOMENDAÇÕES 11) Devem constar, no relatório de anestesia, os parâ-
metros de ventilação mecânica utilizados nos pacientes,
1) Posicionamento cirúrgico que prejudique o acesso provenientes da unidade de terapia intensiva, que serão
às vias aéreas deve constituir fator relevante na indicação submetidos a qualquer procedimento sob anestesia;
para a intubação traqueal e para a ventilação assistida ou 12) Devem constar, no relatório de anestesia, os crité-
controlada; rios utilizados para proceder à extubação do paciente ao
2) Os recursos disponíveis para a ventilação pulmonar final da cirurgia;
dos pacientes tratados na Unidade de Terapia Intensiva 13) Para os pacientes de risco, em relação a complica-
devem acompanhar o paciente quando houver indicação ções pulmonares, é necessária a programação de meio
da realização de procedimentos fora destas unidades; adequado à analgesia prolongada, visando a redução da
3) A ventilação intra-operatória com pressão de platô morbidade pós-operatória, dando preferência aos méto-
acima de 35cmH2O e/ou FIO2 acima de 0,5 deve ser dos que não interfiram no controle central da respiração;
justificada no relatório de anestesia; 14) Utilizar métodos para monitorização e prevenção
4) Em virtude da elevada incidência de complicações da hipotermia transoperatória, com especial atenção à
respiratórias na primeira hora do período pós-operató- exposição do paciente na primeira hora, a partir da indu-
rio imediato, recomenda-se o emprego de um sistema de ção da anestesia, e à possibilidade de utilizar a técnica de
alerta onde conste a hora de chegada na unidade, bem pré-aquecimento;
como o emprego de agentes de risco – opióides espinhais, 15) Utilizar sistema de manometria e ventilometria para
bloqueadores neuromusculares, e emprego de antagonis- obtenção de dados objetivos que permitam avaliar as con-
tas farmacológicos para reversão da anestesia, que per- dições de extubação do paciente;
maneça em evidência no leito do paciente até completar 16) Disponibilizar a utilização de ar comprimido nos
o período; equipamentos de anestesia para controle da FIO2;
5) Os indicadores sonoros de pulso e QRS dos monito- 17) Disponibilizar a utilização do sistema de ventilação
res de freqüência cardíaca, utilizados nos cardioscópios e manual com válvula e balão reservatório para fornecimento
oxímetros, não devem ser mantidos em funcionamento de FIO2 = 1,0.

J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 15


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

6. Controle do paciente em ventilação mecânica


Coordenador: CARLOS ROBERTO DE CARVALHO
Relator: AUGUSTO FARIAS
Colaboradores: BRUNO DO VALLE PINHEIRO, CARLOS EDUARDO POMPILHO,
DANIEL DEHEINZELIN, DENISE MEDEIROS, EDUARDO C. MEYER, RONALDO KAIRALLA
Discutidores: CARLOS EDUARDO POMPILHO, LEA FIALKOW, FERNANDO MACHADO, MARIA JOSÉ FIGUEIREDO TORRES

O controle do paciente em ventilação mecânica, ou seja, Lembrando:


a monitorização respiratória à beira do leito, é fundamen- CaO2 = [Hb x SaO2 x 1,36] + [0,0031 x PaO2]
tal para um adequado tratamento do paciente grave ven-
DO2 = CaO2 x DC x 10
tilado artificialmente. Assim, podemos definir monitoriza-
ção como sendo: “o conjunto de métodos que objetiva a Como o paciente em VM está sujeito a mudanças fre-
demonstração das alterações funcionais, de uma maneira qüentes na fração de O2 no ar inspirado, as comparações
idealmente contínua e precoce, assegurando que os obje- da PaO2, para definirmos se o quadro pulmonar está ou
tivos da ventilação mecânica estão sendo atendidos, for- não melhorando, ficam, muitas vezes, difíceis. Dessa for-
necendo parâmetros para o seu reajuste e prevenindo com- ma, no momento, o índice de oxigenação mais aceito é a
plicações”. relação PaO2 corrigida para a FIO2 utilizada. Este é um
índice extremamente simples e de fácil obtenção, que pode
MONITORIZAÇÃO DA TROCA GASOSA ser aplicado em qualquer serviço, dando-nos uma medida
do grau de disfunção pulmonar do nosso paciente. Exem-
A troca gasosa consiste na principal função dos pul- plo: para um indivíduo normal, o limite esperado para a
mões, e sendo a hipoxemia o evento de maior gravidade PaO2 seria 80mmHg (em ar ambiente); assim, a relação
por comprometer diretamente a oferta de O2 aos tecidos, seria cerca de 400. O limite para caracterizarmos uma
a sua monitorização é fundamental. Dessa forma, pode- insuficiência respiratória grave seria uma PaO 2 de
mos dividir a avaliação das trocas gasosas em duas partes: 60mmHg com FIO2 de 0,21. Portanto, uma relação infe-
índices de oxigenação e índices de ventilação. rior a 300 caracterizaria a gravidade da disfunção pulmo-
nar. Esta relação (PaO2/FIO2) foi usada no consenso ame-
A) ÍNDICES DE OXIGENAÇÃO ricano/europeu (1994) para diferenciar situações de le-
são pulmonar aguda (PaO2/FIO2 < 300) da síndrome do
Pressão parcial do oxigênio no sangue arterial
desconforto respiratório agudo (PaO2/FIO2 < 200).
(PaO2)
Esta consiste na medida direta da pressão parcial de O2 Oximetria de pulso
numa amostra de sangue, colhida anaerobicamente, de Consiste na avaliação da percentagem de saturação da
uma artéria periférica. Sua interpretação é imediata. O hemoglobina pelo O2. Este método usa os princípios da
paciente deve ser mantido com uma taxa suficiente para espectrofotometria (absorção de luz num comprimento de
que tenhamos uma saturação adequada da hemoglobina. onda específico) para o fornecimento dos resultados. É
Assim, o ideal seria mantermos uma PaO2 por volta de uma técnica bastante útil e que vem sendo cada vez mais
80mmHg que garanta uma saturação superior a 95%. aplicada, pois não é invasiva, que fornece informações
Em condições clínicas estáveis (ex: homeostase normal, continuamente, cujo preço vem se tornando acessível nos
sem desequilíbrio ácido-básico, etc.), uma PaO2 acima de últimos anos. Tem uma excelente correlação com os re-
60mmHg implica, de acordo com a curva de dissociação sultados obtidos através da gasometria arterial, mesmo
da hemoglobina, uma saturação superior a 91%. De acor- em situações de hipotermia, débito cardíaco baixo e hipo-
do com a mesma curva, fica claro também que não há tensão arterial, desde que o sinal se mantenha adequado.
vantagem nenhuma em trabalharmos com PaO2 acima Em algumas condições como: hiperpigmentação da pele,
de 90 ou 100mmHg. Assim, se a taxa de hemoglobina uso de esmaltes, meta-hemoglobinemia, etc., seu resulta-
for normal, teremos um conteúdo arterial de O2 (CaO2) do deve ser analisado criteriosamente. Porém, em condi-
adequado, pois este corresponde à quantidade real deste ções que levam à queda da saturação, principalmente abai-
gás, que será transportado pelo sangue aos tecidos, atra- xo de 75%, os dados fornecidos podem ser anormalmen-
vés do débito cardíaco (Oferta de O2 aos tecidos = DO2). te mais altos. Assim, considera-se que a acurácia dos oxí-
S 16 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

metros de pulso é ruim abaixo de 80% de saturação. Aci- fase de equilíbrio, platô, que representa a saída do gás
ma de 90% depende do aparelho que está sendo utiliza- alveolar (fase III). O valor de pico atingido, ao final da fase
do; em termos de segurança, a variabilidade das medidas III, é chamado de PetCO2. Este valor representa, com uma
(limites de confiança dos vários sistemas disponíveis) é de, boa aproximação, o CO2 alveolar.
no máximo, 4%. Portanto, podemos acreditar que, se o Normalmente, a diferença entre a PaCO2 e o PetCO2 é
nosso paciente mantiver uma oximetria acima de 95%, mínima (< 4mmHg). Em pacientes portadores de doença
ele deve estar com uma PaO2 acima de 60mmHg. pulmonar que apresentam uma distribuição desigual da
ventilação, a capnografia apresenta um aumento progres-
Outros índices sivo e constante no sinal de CO2, que não atinge um pla-
Podemos, também, avaliar a troca gasosa através de tô. Nestes, o gradiente PaCO2 – PetCO2 aumenta de for-
parâmetros de avaliação da relação entre ventilação al- ma imprevisível 10 a 20mmHg ou mais, fazendo com
veolar e perfusão sanguínea capilar, tais como: a diferen- que a PetCO2 possa não refletir de forma confiável a
ça alvéolo-arterial de O2 [P(A-a)O2] e o shunt intrapulmo- PaCO2.
nar (Qs/Qt). São índices um pouco mais complexos de Para condições clínicas que promovem a retenção de
ser obtidos, mas que trazem importantes informações CO2 (hipoventilação alveolar), a acurácia da medida da
quanto à fisiopatologia da disfunção respiratória. PetCO2 é menor.

B) ÍNDICES DE VENTILAÇÃO
MONITORIZAÇÃO DA MECÂNICA RESPIRATÓRIA
Pressão parcial do gás carbônico no sangue arte-
rial (PaCO2) A utilização, nos ventiladores mecânicos, de telas que
demonstram as curvas de pressão nas vias aéreas (Pva),
Consiste na melhor forma de avaliar a ventilação alveo- fluxo inspiratório (V’) e volume corrente (VT), durante cada
lar, uma vez que a PaCO2 é determinada pelo nível de ciclo respiratório, trouxe um enorme avanço na aplicação
ventilação alveolar (VA) para um dado nível de produção da respiração artificial nas unidades de tratamento inten-
de CO2 (V’CO2), de acordo com a equação: sivo. Com esses dados, os intensivistas podem detectar
V’CO2 = V’A x PaCO2 um mau funcionamento do aparelho, minimizar os riscos
Assim, nota-se uma relação direta entre a produção de de complicações, além de poder avaliar diretamente os
gás carbônico e a PaCO2, e uma relação inversa entre modos utilizados. As medidas da Pva, V’ e VT permitem o
esta e a ventilação alveolar. Portanto, podemos dizer que, cálculo das propriedades fisiológicas básicas do sistema
quando a PaCO2 se eleva, o paciente está hipoventilando respiratório, como complacência, resistência e trabalho
e vice-versa. Como a V’A depende de vários fatores (volu- respiratório, que facilitam a monitorização e o manejo do
me corrente (VT), espaço morto (VD) e freqüência respira- doente grave. Os dados podem ser obtidos através de equa-
tória (fR)), podemos, através da análise desses parâme- ções simples ou podem ser diretamente fornecidos pelo
tros, definir a melhor forma de intervir na ventilação, es- aparelho através de software já acoplado.
tando o paciente em respiração artificial:
V’A = (VT - VD) x fR PROPRIEDADES MECÂNICAS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

As propriedades mecânicas do sistema respiratório são


Capnografia
definidas pela seguinte equação do movimento do siste-
Através de um analisador contínuo de CO2 adaptado à ma respiratório relaxado:
cânula de intubação do paciente, é possível obter o valor
da PCO2 no ar exalado ao final da expiração (PetCO2). É
1
possível, ainda, o registro gráfico da curva de CO2 em Pva = . VT + Rsr . V’ + Isr . V’’
função do tempo (durante todo o ciclo respiratório), cha- Csr
mado capnograma. Este define graficamente as fases do
ciclo. Assim, na inspiração, a concentração de CO2 no ar Onde:
é zero, em seguida, quando o paciente começa a expirar, Pva = pressão nas vias aéreas
inicialmente a taxa de CO2 não se eleva (fase I da curva), Csr = complacência do sistema respiratório
pois o ar que está saindo representa o gás das vias aéreas VT = volume corrente
de condução (parte do espaço morto anatômico). Na se- Rsr = resistência do sistema respiratório
qüência, notamos uma elevação progressiva na concen- V’ = fluxo inspiratório
tração do CO2, representada graficamente por uma ele- Isr = inertância do sistema respiratório
vação do traçado em forma de S (fase II) e, a seguir, uma V” = aceleração
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 17
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

A inertância (análoga da inércia) é a medida da tendên- É importante ressaltar que, para os cálculos da mecâni-
cia do sistema respiratório em resistir a mudanças no flu- ca respiratória, é fundamental, além do paciente estar
xo aéreo. Nas freqüências respiratórias, usualmente al- relaxado (obtido com sedação, curarização ou após perío-
cançadas na ventilação mecânica ou na espontânea, os do de hiperventilação), que as condições de ventilação
efeitos da inertância são desprezíveis. Assim, normalmente sejam mantidas as mesmas em todas as medidas realiza-
não é levada em conta nos cálculos de mecânica. das, para podermos interpretá-las de forma comparativa,
É difícil para os indivíduos relaxarem totalmente a mus- ou seja, comparando a complacência de um determinado
culatura respiratória; sendo assim, o estudo dessas pro- paciente durante dias consecutivos de ventilação artificial.
priedades é bem mais viável em pacientes intubados do Assim, é necessário que se utilize o modo volume assisti-
que em pessoas respirando espontaneamente, pois estes do/controlado com VT fixo e V’’ constante (sugerimos 60L/
podem ser sedados ou mesmo curarizados. min ou 1L/s) e pausa inspiratória de pelo menos 2s.
O sistema respiratório é composto pelo pulmão e pela
COMPLACÊNCIA parede torácica, e estes funcionam como sistemas em série.
Desta forma, a pressão aplicada sobre a via aérea é pri-
Em condições estáticas (paciente relaxado), a pressão meiro transmitida ao pulmão e, depois, somente uma parte
nas vias aéreas é igual à pressão de recolhimento elástico desta é transferida à parede torácica. Assim, a pressão
do sistema respiratório. Assim, complacência (inverso da necessária para distender o sistema respiratório é a soma
elastância) é a medida da variação de volume por unidade das pressões de distensão do pulmão e da parede toráci-
de pressão aplicada, geralmente medida em mL/cmH2O. ca. Portanto:
O valor normal esperado, utilizada a forma de medida
descrita a seguir, é cerca de 80mL/cmH2O. Em pacientes Esr = Ep + Ept
com insuficiência respiratória secundária (afecções que Onde:
infiltram o parênquima pulmonar), normalmente observa- Esr = elastância do sistema respiratório
mos valores inferiores a 50mL/cmH2O. A complacência Ep = elastância do pulmão
estática do sistema respiratório pode ser obtida segundo o Ept = elastância da parede torácica
cálculo apresentado na Figura 6.1. Fica claro que o pulmão e a parede torácica têm dife-
rentes relações pressão x volume (P x V). Desta forma, a
resultante da curva P x V para o sistema respiratório tem
a forma de uma sigmóide, na qual a faixa central corres-
MECÂNICA RESPIRATÓRIA
ponde à região de maior complacência. Esta faixa define
.
Flux o inspiratório (V’) a região onde a ventilação deve ocorrer, pois, abaixo dela,
teremos alvéolos colabados e acima, hiperdistensão pul-
FLUXO monar (Figura 6.2).
TEM PO

Pico de pressão (PPI ) VT


Cst =
PPlat - P EXP
Pres são de platô inspiratório (PP Iat )
PRESSÃO
TRAQUEAL
Pres são expiratória final (PEF )

TEM PO
Volume c orrente (VT)
Resist = P PI -. P Plat
V’
VOLUME

TEM PO

Figura 6.1 – Curvas de fluxo, pressão nas vias aéreas e volume em


função do tempo (modo: volume controlado com fluxo constante –
onda quadrada).

VT Figura 6.2 – Curva PxV estática do sistema respiratório e de seus


Cst,sr =
PPLAT – PEXP componentes (pulmão e caixa torácica)

Onde: RESISTÊNCIA
PPLAT = pressão de platô inspiratório Resistência corresponde à oposição ao fluxo de gases e
PEXP = pressão ao final da expiração (PEEP ou ZEEP) movimento dos tecidos devido a forças de fricção através
S 18 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

do sistema respiratório. A energia gasta é dissipada na cipalmente aqueles com obstrução das vias aéreas ou com
forma de calor dentro do sistema. A resistência, medida unidades alveolares com diferentes constantes de tempo.
em cmH2O/L/s, pode ser calculada segundo a fórmula A maneira mais simples de diagnosticar e quantificar a
descrita abaixo, usando-se onda de fluxo quadrada, sendo auto-PEEP consiste na oclusão da via expiratória do venti-
o valor normal esperado de 4 a 7cmH2O/L/s: lador antes do início de um novo ciclo inspiratório, possi-
bilitando um equilíbrio entre a pressão alveolar e a pres-
PPI – PPLAT são traqueal, e a sua visibilização no manômetro de pres-
Rsr =
V’ são do ventilador. Os aparelhos mais recentes possuem
um dispositivo facilitador desta manobra.
Onde:
PPI = pico de pressão inspiratória
TRABALHO RESPIRATÓRIOS
PPLAT = pressão de platô inspiratório
V’ = fluxo inspiratório O trabalho respiratório (W) é um parâmetro que visa
conceber uma noção “energética” do esforço muscular;
Se não for possível medir diretamente a resistência, po- costuma estar aumentado em pacientes graves sob VM.
demos inferi-la quando avaliarmos conjuntamente as com- As técnicas para a sua medida são geralmente complexas
placências estática (Cst) e dinâmica. A complacência efe- e, por muito tempo, ficaram restritas a laboratórios de
tiva, medida de forma dinâmica (Cdyn), é obtida pela fór- pesquisa. Recentemente, com as novas modalidades ven-
mula: tilatórias e a importância crescente de uma boa interação
VT entre o paciente e o ventilador e, ainda, com o advento
Cdyn = de monitores, à beira do leito, que realizam essas medi-
PPI – PEXP das, o trabalho respiratório passou a ser mais valorizado
na monitorização em UTI.
Uma queda na Cdin indica uma alteração no sistema
Os músculos respiratórios executam trabalho, principal-
respiratório devido a um problema resistivo e/ou paren-
mente, para vencer as seguintes forças:
quimatoso. Se a Cst for aproximadamente normal, a alte-
• forças elásticas – desenvolvem-se nos pulmões e na
ração na Cdyn deve ser secundária a um aumento do com-
parede torácica quando ocorre uma mudança no volume;
ponente de resistência ao movimento dos gases (fluxo
• forças fluxo-resistivas – existentes devido ao fluxo de
aéreo) e/ou dos tecidos.
gás através das vias aéreas;
• forças visco-elásticas – resultantes da adaptação ao
AUTO-PEEP estiramento (“stress”) dos tecidos (pulmão + parede);
Em pessoas normais, no final da expiração, o volume • forças plasto-elásticas dentro dos tecidos do tórax –
pulmonar aproxima-se do volume de relaxamento do sis- resultantes da diferença no recolhimento elástico estático
tema respiratório, ou seja, o volume determinado pelo do pulmão + parede durante a insuflação e a desinsufla-
balanço entre as pressões opostas de recolhimento elásti- ção pulmonar.
co da parede e do pulmão (capacidade residual funcional Dois tipos principais de W devem ser reconhecidos: o
– CRF). Em algumas situações, este volume expiratório trabalho mecânico, no qual uma contração muscular gera
final será maior do que a CRF predita, provocando o au- um gradiente de pressão que promove um deslocamento
mento da pressão de recolhimento elástico do sistema de ar, e a contração isométrica, onde nenhum desloca-
respiratório e, conseqüentemente, da pressão alveolar. Esta mento de ar é obtido, porém ocorre um custo metabólico
alteração é denominada auto-PEEP ou PEEP intrínseca. Em para exercer a força. Assim, fica claro que, em algumas
pacientes submetidos à ventilação mecânica, a presença situações, a avaliação dos gastos energéticos a partir do
de auto-PEEP ocorre devido à presença de colapso das trabalho mecânico pode não ser muito precisa. Isso ocor-
vias aéreas naqueles com limitação do fluxo aéreo, ou, re principalmente em situações de grandes esforços iso-
mais freqüentemente, quando a fR ou o VT estão altos e o métricos. Pouco antes de disparar o respirador, em qual-
tempo expiratório está curto para aquela situação especí- quer modo assistido, o paciente tem que fazer um esforço
fica (auto-PEEP dinâmica). inspiratório até atingir a pressão mínima de abertura da
Como o manômetro de pressão do ventilador não re- válvula inspiratória (nível de sensibilidade ajustado no res-
gistra a auto-PEEP, ao contrário da PEEP externa, ela tam- pirador). Este fato, a ausência de deslocamento de ar ape-
bém é chamada de PEEP oculta. A sua presença pode oca- sar da contração muscular, indica que, se formos calcular
sionar alterações importantes na mecânica ventilatória e o W, até esse momento, ele será nulo, embora um gasto
nas condições hemodinâmicas; assim, o seu monitoramen- de energia tenha ocorrido. Desta forma, uma outra ma-
to é fundamental para o manejo de pacientes críticos, prin- neira de quantificar o trabalho é necessária. Assim, os
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 19
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

dois modos mais utilizados para a quantificação do W à 6) A capnometria acoplada à capnografia é uma técni-
beira do leito são: ca bastante útil, devendo ser aplicada sempre que possí-
• medida do trabalho muscular mecânico: realizado vel, especialmente em pacientes neurológicos ou com hi-
através do cálculo de áreas em diagramas pressão (tra- percapnia. Recomenda-se que se disponha de, ao menos,
queal ou esofágica) x volume, ou seja, pelo produto da um capnógrafo por unidade de serviço.
pressão intratorácica gerada pela contração da muscula- 7) A obtenção dos dados de mecânica respiratória é
tura respiratória (ou por um ventilador mecânico) e pelo extremamente útil; para tanto, é preciso: ventilar em vo-
volume de ar deslocado (VT). A unidade mais usada na lume controlado, com fluxo constante (forma de onda
medida do trabalho muscular mecânico é o joule (J). quadrada) e com pausa inspiratória de pelo menos dois
• medida do produto pressão x tempo: realizado atra- segundos. Assim, é possível a obtenção dos valores de
vés do cálculo de áreas em diagramas pressão (traqueal complacência e resistência do sistema respiratório. Reco-
ou esofágica) x tempo inspiratório. Essa medida, portan- menda-se sua medida em todo paciente sob ventilação
to, não representa diretamente o trabalho realizado, mas mecânica, desde que não se faça indispensável a sedação
é um bom indicativo. adicional, apenas para este fim, no paciente estável, com
perspectiva de descontinuação da ventilação. Nos casos
em que a sedação adicional for imprescindível para estas
RECOMENDAÇÕES PARA UMA ADEQUADA medidas, a situação clínica e a experiência dos assistentes
MONITORIZAÇÃO DE UM PACIENTE SOB devem determinar a propriedade da sua realização, assim
VENTILAÇÃO MECÂNICA como a sua periodicidade.
8) É recomendada a medida da auto-PEEP, principal-
1) Todos os pacientes necessitam de uma contínua mo- mente nos pacientes obstrutivos (resistência de vias aé-
nitorização da oxigenação/saturação, o que é possível atra- reas elevada).
vés da oximetria de pulso. 9) Pela quantidade de informações obtidas com a aná-
2) A gasometria arterial com a medida direta da PaO2 lise das curvas de Pva, VT e V’, sugere-se que se usem
é o método padrão de avaliação da oxigenação sanguí- monitores gráficos acoplados aos ventiladores.
nea. Para sua melhor caracterização, o dado mais simples 10) Todo paciente sob VM deve ser submetido à radio-
e rápido consiste na relação PaO2/FIO2. grafia de tórax diariamente.
3) Número de gasometrias necessárias depende das con- 11) Assim, a ficha de avaliação dos pacientes submeti-
dições de cada paciente e das manipulações no respira- dos à VM deve conter os seguintes dados, quando uma
dor que forem feitas, não existindo qualquer rotina reco- gasometria for colhida, para podermos otimizar ao máxi-
mendada. Entretanto, opina-se que ao menos uma gaso- mo a monitorização dos parâmetros respiratórios:
metria por dia deva ser realizada. • FIO2
4) Quando o paciente estiver sob FIO2 de 1,0, o cálcu- • Freqüência respiratória
lo de outros parâmetros, como P(A-a)O2 e fração shunt • Volume corrente
(Qs/Qt), pode ser útil na avaliação, não sendo, no entan- • Modo ventilatório
to, recomendado como rotina. • Pico de pressão inspiratória
5) Na avaliação da ventilação alveolar, utiliza-se direta- • Pressão de platô
mente a PaCO2, obtida através da gasometria arterial, as- • PEEP e auto-PEEP
sociada aos dados de volume corrente e freqüência respi- • Fluxo inspiratório
ratória (volume minuto – VE). VE1 x (PaCO2)1 = VE2 x • Hemoglobina
(PaCO2)2. • Gasometria

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II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

7. Ventilação mecânica na asma


Coordenadora: CARMEN SILVIA VALENTE BARBAS
Relatora: MARISTELA SESTELO
Colaboradores: RICARDO BORGES MAGALDI, EDUARDO CORRÊA MEYER,
MARIA PAULA RAMOS CARAMEZ, MILTON RODRIGUES JÚNIOR, ANA MARIA CASATI
Discutidora: MARISTELA MACHADO

INTRODUÇÃO valor da PEEP ao redor de 5cmH2O e/ou, então, com o


auxílio do BIPAP, ajustando-se o IPAP para manter uma
A maior parte dos pacientes asmáticos apresenta sinto- ventilação adequada e o conforto do paciente (normal-
mas leves da doença, normalmente controlados com me- mente 10 a 20cmH2O). Esta é uma técnica muito interes-
dicação antiinflamatória via inalatória, associada ao uso sante para a ventilação precoce dos pacientes em crise
de broncodilatador (beta2-agonista) inalatório de deman- asmática, podendo, se bem utilizado e acoplado ao uso de
da. medicação efetiva, evitar a intubação e ventilação mecâ-
Alguns pacientes, no entanto, apresentam sintomas mais nica invasiva destes pacientes. A ventilação mecânica não
acentuados e muitas vezes graves, constituindo a crise as- invasiva, na crise de asma aguda, poderá ser aplicada,
mática. Esta caracteriza-se por uma obstrução ao fluxo porém não existem estudos randomizados e controlados
aéreo ocasionada por broncoespasmo, edema e inflama- a respeito deste assunto. Já nos casos de crise asmática
ção da mucosa brônquica e/ou rolhas de secreção. Dois grave e progressiva onde ocorre a fadiga respiratória com
tipos distintos de pacientes podem apresentar uma crise conseqüente hipercapnia e hipoxemia e a diminuição do
de asma grave, com risco de vida e, muitas vezes, neces- nível de consciência e/ou parada cardiorrespiratória, será
sidade de intubação e ventilação mecânica: necessária a intubação traqueal e o uso de ventilação
1) O paciente portador da asma lábil, o qual apresen- mecânica com pressão positiva para a manutenção das
tará, após uma exposição ao desencadeante, uma cons- condições vitais enquanto o uso da terapêutica broncodi-
trição da musculatura lisa dos brônquios abrupta e inten- latadora e antiinflamatória conseguir reverter a obstrução.
sa, também denominada asma aguda asfixiante.
2) O paciente portador de asma grave, o qual apresen- VENTILAÇÃO MECÂNICA NA CRISE ASMÁTICA
tará uma crise progressiva com pouca resposta a medica-
ção. Nestes pacientes predominam o edema e a inflama- A ventilação mecânica se impõe como recurso neces-
ção da parede das vias aéreas. sário nos casos de asma grave, porém, apresenta alto grau
A indicação de observação numa unidade de terapia de complicações, com mortalidade ao redor de 10-15%,
intensiva e/ou indicação de assistência respiratória para se não utilizada de maneira correta e com monitorização
os pacientes em crise asmática consiste em: adequada. O paciente asmático gravemente obstruido re-
• Piora progressiva da obstrução, apesar de tratamen- quer altas pressões nas vias aéreas para poder ser ade-
to adequado (pico de fluxo expiratório menor que 100L/ quadamente ventilado, tendo possibilidade maior de baro-
min ou não mensurável ou VEF1 menor que 1L), trauma.
• Freqüência respiratória maior que 40 respirações por Para reduzir o número de complicações durante a ven-
minuto; tilação mecânica, deverá ser utilizado um tubo traqueal
• Pulso paradoxal ascendente ou em queda; com “cuff” de baixa pressão e com o maior calibre possí-
• Sensação de exaustão ou incapacidade para falar; vel (cânula número 8, no mínimo) para diminuir a resis-
• Alteração sensorial – confusão mental e sonolência; tência ao fluxo aéreo. Além disso, trabalhos recentes
• Saturação de O2 à oximetria de pulso menor que 90% mostram que estes pacientes devem ser ventilados com
ou PaO2 menor que 60mmHg em ar ambiente; volume corrente baixo (5-8ml/kg), baixa freqüência respi-
• Elevação progressiva da PaCO2 ou presença de aci- ratória (8-12p/min), altos fluxos inspiratórios (100L/min
demia; e, de preferência, fluxos com decaimento exponencial) e
• Sinais de fadiga da musculatura respiratória. tempo expiratório prolongado para evitar o aprisionamen-
Nos casos em que o paciente apresenta uma crise gra- to de ar dentro dos pulmões (“air-trapping”) e a conse-
ve, porém mantém o nível de consciência, poderá ser ten- qüente manutenção da pressão alveolar positiva e supe-
tada a ventilação mecânica não invasiva com o auxílio da rior à das vias aéreas ao final da expiração (auto-PEEP ou
máscara de CPAP (sempre com alto fluxo), mantendo-se o PEEP intrínseca).

J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 21


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

A sedação com benzodiazepínicos e/ou propofol e a • Sedação/bloqueio neuromuscular prolongado: ben-


curarização com brometo de pancuronium ou, ainda, a zodiazepínicos ou barbitúrico; pancurônio ou vecurônio.
infusão contínua de tiopental são necessárias, na maioria
das vezes, no paciente em crise grave para uma melhor B) VENTILAÇÃO MECÂNICA
adaptação deste ao ventilador e para a diminuição dos PEEP intrínseca e hiperinsuflação
riscos de barotrauma nas primeiras horas de ventilação Causados pelo aumento da resistência expiratória em
mecânica. Após a utilização destas medidas, devemos vias aéreas, devido à existência de broncoespasmo, infla-
manter os pacientes somente sedados com benzodiazepí- mação e/ou secreção ou, ainda, devido ao colapso dinâ-
nicos e/ou propofol e utilizar mínimas doses de curare, mico das vias aéreas, principalmente quando se utilizam
somente se necessário. Drogas liberadoras de histamina freqüências respiratórias elevadas.
como morfina e meperidina devem ser evitadas. Os principais problemas relacionados à PEEP intrínseca
Com a hipoventilação destes pacientes pode haver au- são:
mento da PaCO2, aceitando-se valores um pouco mais • Dificuldade de disparo do ventilador nos modos assis-
elevados (entre 40 e 90mmHg). Estas condutas têm redu- tidos: para disparar o ventilador, o paciente necessita fa-
zido significativamente a mortalidade dos pacientes sub- zer um esforço extra como forma de conseguir anular a
metidos à ventilação mecânica. Comparando-se os estu- PEEP intrínseca e negativar primeiro as pressões alveola-
dos realizados sobre ventilação mecânica em pacientes res para, a seguir, obter uma queda de pressão traqueal
com asma grave, durante os últimos anos, observa-se que suficiente para disparar o aparelho.
os autores que usaram a ventilação mecânica convencio- • A PEEP intrínseca tem os prejuízos hemodinâmicos
nal durante 140 episódios obtiveram uma mortalidade de semelhantes à aplicação de uma PEEP externa e aumenta
2% a 22%, enquanto os autores que utilizaram a hiper- o trabalho muscular respiratório nos modos espontâneos.
capnia permissiva em 286 episódios obtiveram mortali- A PEEP intrínseca deve ser sempre monitorizada.
dade de 0% a 4%. Assim, devido à menor mortalidade
apresentada, tem-se recomendado a hipoventilação con- Altas pressões em vias aéreas
trolada ou hipercapnia consentida (hipercapnia permissi- O uso de altos fluxos inspiratórios, como preconizado
va) como método ventilatório de eleição para os pacien- anteriormente, usualmente produz elevados picos de pres-
tes em estado de mal asmático submetidos à ventilação são traqueal. Apesar dos riscos potenciais dessas elevadas
mecânica na tentativa de proteger os pulmões do baro- pressões em vias aéreas, deve-se ter em mente que a hi-
trauma ocasionado pela ventilação mecânica (Tabela 7.1). perinsuflação pulmonar pode ser mais deletéria do que os
elevados picos de pressão traqueal. Muitas vezes, mesmo
PROBLEMAS ENFRENTADOS DURANTE A que o alto fluxo inspiratório aumente as pressões resisti-
vas em vias aéreas, a diminuição da hiperinsuflação resul-
VENTILAÇÃO DE PACIENTES COM CRISE ASMÁTICA E
tante desta manobra pode ser tão evidente que o pico de
SUAS SOLUÇÕES: pressão traqueal pode ser reduzido.
A) INTUBAÇÃO TRAQUEAL Como conduta, deve-se priorizar a diminuição da hi-
perinsuflação pulmonar, mesmo que isto resulte em pe-
Devido à agitação conseqüente à dispnéia intensa, pro- quena elevação do pico de pressão traqueal, e utilizar sem-
vocada pela crise asmática, e pela consciência muitas ve- pre fluxos em rampa decrescente que produzam menores
zes preservada, torna-se difícil a intubação destes pacien- picos de pressão ou, no caso de se dispor do modo venti-
tes. Para facilitação desta, pode-se adotar a seguinte se- latório por pressão de suporte (PSV) ou pressão controla-
qüência: da (PCV), estes devem ser utilizados preferencialmente. As
• Informação e tranqüilização do paciente; relações I:E devem ser < 1:2.
• Monitorização: oximetria de pulso, cardioscópio, pres- Deve-se também lembrar que a pressão de suporte e a
são arterial e capnografia (se possível); pressão controlada não permitem controle do volume cor-
• Decúbito a 30 graus; rente, devendo-se dispor de adequada monitorização do
• Pré-oxigenação (FIO2 alta por 3 a 5 minutos); volume expiratório.
• Sedação rápida e eventual curarização: opióide, ben-
zodiazepínico, pancurônio ou vecurônio; Barotrauma
• Intubação orotraqueal com cânula de calibre adequa- O barotrauma é certamente a maior complicação do
do ≥ 8mm de diâmetro interno e com cuff de alto volume asmático em ventilação mecânica, muitas vezes sendo o
e baixa pressão; responsável pela sua mortalidade.
• Correção da hipotensão: expansão volêmica e moni- Não há a necessidade de normalizar a PCO2 rapida-
torização do auto-PEEP; mente. É preferível tolerar uma PCO2 pouco elevada do
S 22 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

que abusar de excessivas pressões sobre o sistema respi- volume controlado, dever-se-á tomar o cuidado de ligar o
ratório. alarme de limitação de pressão em 50cmH2O e de utilizar
Pode-se administrar bicarbonato de sódio lentamente, o padrão de fluxo inspiratório descendente. A freqüência
de forma a compensar a acidose respiratória, até o con- respiratória deverá ser mantida igual ou menor que 12
trole adequado do broncoespasmo, embora a administra- por minuto, o fluxo inspiratório igual a 5 ou 6 vezes o
ção intempestiva possa aumentar a produção de CO2 e volume minuto para se garantir um tempo expiratório
piorar a hipercarbia. A normalização do pH é muito útil adequado para estes pacientes obstruídos. Normalmente
para diminuir a estimulação do centro respiratório, pois estes parâmetros são adequados para a não ocorrência
consegue diminuir a freqüência respiratória naqueles indi- da auto-PEEP. Para a checagem da não ocorrência da auto-
víduos não curarizados. Quando necessário, deve-se ad- PEEP sempre se deve verificar se o pico de pressão inspi-
ministrar 50mEq, em infusão contínua, a cada 2 horas ratória está se mantendo abaixo de 50cm de H2O, e/ou a
até a normalização do broncoespasmo. pressão de platô abaixo de 35cmH2O, e se a radiografia
A sedação inicial com benzodiazepínicos e/ou tiopen- de tórax não apresenta sinais de hiperinsuflação. Deve-
tal é fundamental para diminuir os riscos de barotrauma e se, também, monitorar a auto-PEEP e tentar mantê-la abai-
melhorar o conforto do paciente, logo após a intubação xo de 15cmH2O, principalmente se as pressões inspirató-
orotraqueal. Pode ser um esforço inútil e perigoso a ten- rias estiverem altas. Com a instituição de um volume cor-
tativa de manter o paciente em ventilação assistida. A rente baixo e fR baixas, a PaCO2 tenderá a subir, mas este
curarização pode ser necessária, sobretudo por permitir fato é somente uma conseqüência da hipoventilação que
que se trabalhe com uma freqüência respiratória mais se faz necessária para a proteção pulmonar. Deve ser fei-
baixa. ta uma tentativa para manter a PaCO 2 entre 40 e
Deve-se iniciar a ventilação mecânica com volume cor- 90mmHg, e o pH acima de 7,2. Se o pH estiver abaixo
rente baixo (≤ 8ml/kg). De preferência, utilizar modos de 7,2, poderá ser infundido bicarbonato de sódio
ventilatórios limitados a pressão. Caso se utilize o modo (NaHCO3) lentamente (Tabela 7.1).

TABELA 7.1
Regulagem do ventilador mecânico na crise de asma aguda

PARÂMETRO VALOR PRECONIZADO

MODO VENTILATÓRIO .......................................... De preferência modos ventilatórios limitados a pressão


VOLUME CORRENTE .............................................. 5-8ml/kg
FREQÜÊNCIA RESPIRATÓRIA ................................. 8-12/min
FLUXO INSPIRATÓRIO ........................................... 5-6 x VM
PICO DE PRESSÃO .................................................. < 50cmH2O
PRESSÃO DE PLATÔ ............................................... < 35cmH2O
PEEP externo ............................................................ de preferência entre 3-5cmH2O
AUTO-PEEP .............................................................. < 15cmH2O
PaCO 2 ...................................................................... > 40 e < 90mmHg
pH ............................................................................ > 7,2
PaO2 ......................................................................... > 80 e < 120mmHg

Sempre que possível, monitorizar a mecânica respira- mento das pressões intratorácicas e da PEEP intrínseca,
tória, principalmente a resistência das vias aéreas do pa- hipovolemia e venoplegia causada pela sedação. Caso o
ciente, para verificar a gravidade e a evolução da crise adequado manejo ventilatório e a infusão de volume não
asmática, assim como o efeito da medicação utilizada. surtam efeito, considerar a possibilidade de pneumotó-
Sempre monitorar os níveis da auto-PEEP para adequar rax.
a ventilação e evitar barotrauma e, se possível, a oxime- 2) Asmático normalmente oxigena adequadamente o
tria de pulso e os níveis de CO2 expirado por capnometria sangue arterial com baixas FIO2. Quando se observar gran-
e ou capnografia. de hipoxemia nos gases arteriais, considerar a possibilida-
de de barotrauma, processo infeccioso associado, colapso
CUIDADOS ADICIONAIS NO PACIENTE ASMÁTICO EM
circulatório pela excessiva pressão intratorácica, ou ainda
VENTILAÇÃO MECÂNICA shunt direito esquerdo intracardíaco.
1) A presença de choque ao início da ventilação mecâ- 3) Elevados valores da PEEP externa podem ser utiliza-
nica é normalmente um somatório de três fatores: au- dos para o controle do broncoespasmo, desde que se dis-
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 23
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

ponha de um aparelho com os recursos da pressão de Após a melhora inicial do paciente, deve-se permitir a
suporte ou da pressão controlada. Deverá ser mantido retomada gradual da ventilação assistida, devendo-se con-
um nível fixo de pressão de suporte ou pressão controla- siderar a manutenção de sedação com benzodiazepínicos
da, monitorado o volume corrente expiratório obtido com para impedir que o paciente retome uma freqüência res-
o aumento da PEEP de 2 em 2cmH2O. Devem-se observar piratória elevada, e aumentar a PEEP intrínseca.
os níveis de volume corrente obtido: se houver um au-
mento do volume corrente é porque está havendo melho- C) DESMAME
ra do quadro clínico, possivelmente por broncodilatação
mecânica conseqüente à PEEP. É importante manter o ní- O desmame do paciente asmático do ventilador mecâ-
vel da PEEP com a qual se obteve o melhor volume corren- nico deve ser iniciado assim que a resistência das vias aé-
te. Se houver diminuição do volume corrente ao se tentar reas atinja taxas razoáveis (menor do que 20cmH2O/L/
aumentar os níveis de PEEP é porque está havendo uma seg., normal: igual 2 a 4cmH2O/L/seg.). Deve ser retira-
hiperinsuflação, devendo-se retornar aos níveis anterio- da a curarização do paciente permitindo-lhe assumir pro-
res. Foi demonstrado ainda que, em alguns pacientes, pode gressivamente o comando da respiração. Devem-se pre-
ser recomendada a utilização da inversão da relação inspi- ferir os modos assistidos de ventilação que possibilitem
ratória/expiratória, principalmente naqueles que necessi- altos fluxos inspiratórios e baixos níveis de trabalho mus-
tarem de nível de PEEP maior que 20cmH2O para obten- cular respiratório como a pressão de suporte. Inicialmen-
ção de broncodilatação. Entretanto, esta manobra só deve te a pressão de suporte deve ser ajustada em níveis sufi-
ser tentada quando se dispuser de uma adequada monito- cientes, geralmente ao redor de 20cmH2O, para manter
ração respiratória e um domínio completo da técnica. um volume corrente e uma freqüência respiratória ade-
quados. Usualmente volume corrente > 350ml e freqüên-
4) Como medidas de exceção, considerar sempre a pos-
cia respiratória menor do que 28/min. É recomendado
sibilidade de ventilação com mistura de gases halogena-
observar se o paciente não está utilizando a musculatura
dos (halotano ou isoflurane) em vista de suas proprieda-
cervical acessória, palpando-se o esternoclidomastóideo.
des broncodilatadoras e anestésicas, ou de ventilação com
A seguir, retira-se progressivamente a sedação e, assim
mistura O2/hélio, capaz de diminuir as pressões resistivas
que o volume corrente e a freqüência respiratória estive-
das vias aéreas.
rem adequados, com níveis de pressão de suporte entre 5
5) Evitar a aspiração freqüente de secreções, uma vez e 7cmH2O (níveis utilizados para ajudar o paciente a res-
que esta costuma desencadear piora do broncoespasmo pirar contra a resistência do tubo orotraqueal e circuito do
em certos pacientes. A aspiração de secreções e as ma- aparelho) e PEEP de 3 a 5cmH2O (para fazer o papel da
nobras fisioterápicas de higiene brônquica devem ser rea- glote) ou então, no tubo T, o paciente poderá ser extuba-
lizadas em pacientes com grande quantidade de secreção do. O paciente asmático deverá ser retirado do ventilador
ou secreção espessa e aderente, as quais podem estar mecânico o mais precocemente possível, ou seja, assim
contribuindo para a obstrução das vias aéreas. que a crise de asma estiver revertida, pois a própria pre-
6) A fibrobroncoscopia e lavado broncoalveolar em cada sença do tubo orotraqueal pode atuar como fator irritante
segmento pulmonar separadamente com alíquotas de 50ml das vias aéreas.
de soro fisiológico morno devem ocorrer, nos pacientes Após a extubação, o paciente deverá ser mantido com
com um grande componente da obstrução das vias aé- máscara de oxigênio e inalação periódica com beta2-ago-
reas, devido a rolhas aderentes de secreção, as quais fo- nista e corticoterapia endovenosa, até o controle adequa-
ram refratárias às manobras de higienização brônquica do do quadro de obstrução (Tabela 7.2).
anteriormente descritas.
TABELA 7.2
7) Deve-se evitar a instilação de água destilada na câ- Desmame do paciente asmático do ventilador mecânico
nula. Utilizar sempre solução fisiológica.
8) Nos casos refratários a todas as medidas descritas FIO 2 menor ou igual a 40%
anteriormente ainda poderá ser tentada a ventilação com PEEP menor ou igual a 5cmH2O
pressão positiva de baixa freqüência (1 a 4 ventilações pH > 7,3 e < 7,6
por minuto), que permite repouso e esvaziamento pulmo- Broncoespasmo controlado
nar adequado em pulmões muito hiperinsuflados, associa- Resistência das vias aéreas menor do que 20cmH2O/L/s
da à circulação extracorpórea veno-venosa com retirada
Retirar curarização e depois a sedação
de CO2, para manter o CO2 em níveis adequados. Assim
Desmame em PSV ou tubo T
que for controlada a crise, a circulação extracorpórea
Manter com máscara de Venturi, inalação com beta2-agonista e corti-
poderá ser retirada e o paciente poderá retornar ao mé-
costeróide endovenoso pós-extubação
todo ventilatório anteriormente descrito.
S 24 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

8. Suporte ventilatório na DPOC


Coordenadores: JOÃO CLÁUDIO SILVA R. EMMERICH, SÉRGIO JEZLER
Relator: ANDRÉ GUANAES
Colaboradores: HÉLIO RIBEIRO DE SIQUEIRA, SÉRGIO ROGÉRIO LOPES VICÊNCIO
Discutidores: CARLOS ROBERTO RIBEIRO DE CARVALHO, PALMIRENO FERREIRA

INDICAÇÕES • Menor necessidade de intubação traqueal e utilização


do suporte ventilatório invasivo.
De forma geral, o paciente com episódio de agudiza- Na prática diária, são utilizadas com maior freqüência a
ção e sinais de insuficiência respiratória aguda (PaO2 < pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) e/ou ven-
55mmHg, PaCO2 > 50mmHg e pH < 7,35) é potencial- tilação com suporte pressórico (PSV), de preferência com
mente candidato a ser internado num serviço de terapia ventilador microprocessado.
intensiva para ser agilizado o tratamento conservador, para Nos pacientes com suspeita de presença de hiperinsu-
serem monitorizadas as suas funções vitais, os seus gases flação dinâmica (auto-PEEP), sugerimos, quando possível,
sanguíneos e, em algumas situações especiais, para ser a utilização de CPAP antes da intubação traqueal.
submetido ao suporte ventilatório não-invasivo (SVNI). Devido à dificuldade de medir rotineiramente a auto-
Todos os pacientes que se apresentam em surto de agu- PEEP em pacientes com respiração espontânea, o valor
dização da DPOC, que não apresentam resposta satisfató- ideal de CPAP que permite a redução da hiperinsuflação
ria às medidas terapêuticas iniciais e não apresentam si- dinâmica é aquele que proporciona a melhor resposta te-
nais clínicos e gasimétricos de necessidade imediata de rapêutica (baseada na redução da dispnéia, fR e acidose
intubação traqueal são potencialmente candidatos a algu- respiratória), com titulação a partir de 3 a 5cmH2O.
ma forma de SVNI, na tentativa de evitar o suporte ventila- A PSV deve ser ajustada em níveis que determinem vo-
tório invasivo (SVI) e suas complicações. lume corrente de 7ml/kg.
As condições ideais para a utilização da SVNI são as de A FIO2 deve ser suficiente para que se mantenha uma
que os pacientes estejam alertas, cooperativos, interati- SaO2 > 95%.
vos, com reflexos protetores e estabilidade hemodinâmica. Devemos considerar como indicador de sucesso do SVNI
A decisão de proceder à intubação traqueal reflete o a melhora do padrão ventilatório, da PaCO2 e da SaO2
insucesso do tratamento conservador, da tentativa de ins- após 45-60 minutos.
tituição do SVNI e um curso clínico de alta gravidade, es- O desmame do SVNI deve ser conduzido de maneira
tando apoiada nos seguintes fatos: cautelosa. Iniciamos pela redução dos níveis de PSV até
a) Diminuição progressiva do nível de consciência com aquele de CPAP, que deverá ser suspenso após um período
perda dos reflexos protetores das vias aéreas, em especial de 120 minutos sem sinais de deterioração clínica. Caso
tossir e expectorar. contrário, devemos retornar aos níveis prévios de pressão
b) Incapacidade de cooperação com o tratamento clás- de suporte, somente reiniciando o processo 24-36 horas
sico. depois.
c) Sinais objetivos de fadiga e exaustão muscular que O SVNI pode também ser utilizado como forma de su-
podem evoluir para uma PCR. porte pós-extubação ou como método auxiliar no proces-
d) Acidemia grave, com pH ≤ 7,25 e PaCO2 muito ele- so de desmame na VMI.
vada, causando arritmias cardíacas, instabilidade hemodi- A ventilação assistida ciclada a volume (VCV) pode ser
nâmica e edema cerebral. utilizada alternativamente com VT de 10ml/kg e taxa de
fluxo inspiratório de 50-60L/min.
APLICAÇÃO DO SUPORTE VENTILATÓRIO Problemas como aerofagia, retenção capnica de vulto,
distensão abdominal, vômitos, broncoaspiração, lesões
1) SUPORTE VENTILATÓRIO NÃO-INVASIVO (SVNI) compressivas de face e inadaptações do paciente são ine-
Nos últimos anos, a maioria dos trabalhos publicados rentes ao método e podem limitar sua utilização.
na literatura mundial tem descrito efeitos benéficos do SVNI Pacientes com instabilidade hemodinâmica (hipotensão
em pacientes com DPOC agudizada, traduzidos por: arterial sistêmica) e arritmias cardíacas potencialmente
• Melhores trocas gasosas; letais não são candidatos ao SVNI.
• Diminuição da sensação da dispnéia; Deve-se enfatizar a importância da seleção criteriosa
• Menor trabalho muscular respiratório; dos pacientes que possam se beneficiar da sua utilização,
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 25
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

que deve ser feita em ambiente onde haja adequada su- 5. FIO2: iniciamos com valor de 1 (100%) e posterior-
pervisão de toda a equipe de saúde. mente mudamos para um compatível com SaO2 ≥ 90% e
Não existe nenhum estudo bem conduzido que compa- PaO2 entre 60 e 100mmHg.
re o desempenho destas técnicas entre si, porém estudos 6. Pressão de pico e de platô: quando usados os mo-
randomizados e controlados já demonstraram as reduções dos limitados por pressão, a medida da Pressão de Platô é
da taxa de mortalidade e do período de hospitalização a recomendada, utilizando valores menores de 35cmH2O.
com o uso de SVNI, quando comparado com o suporte Se usados os modos controlados por volume, a medida da
ventilatório invasivo. pressão de pico também deve ser avaliada.
7. Sensibilidade: a que propicie o menor trabalho e
2) SUPORTE VENTILATÓRIO INVASIVO não provoque a autociclagem do aparelho.
8. Pressão Positiva Expiratória Final (PEEP): a míni-
Considerações gerais ma necessária para atenuar a auto-PEEP.
• A intubação traqueal deve ser feita usando tubo com 9. Sedação: a necessidade deve ser analisada individu-
maior diâmetro possível (8,0-9,5mm), balonete de alto almente e utilizada de acordo com as normas dos consen-
volume e baixa pressão. Deve ser seguida por cuidados sos já existentes.
com a via aérea artificial, como a correta umidificação e o
aquecimento do ar inspirado, controle da insuflação do Fase de Manutenção
balonete e aspiração de secreções em condições assépti-
• Permitir ao paciente que determine a sua própria fre-
cas.
qüência, caso possua estímulo respiratório sem flutuações.
• Deve ser iniciada em modalidade controlada, prefe-
Podemos utilizar a ventilação ciclada a volume com curva
rencialmente limitada por pressão, durante, no mínimo,
de fluxo com desaceleração linear, PSV ou VAPSV.
12 horas para permitir a recuperação da fadiga muscular.
• Utilizar PEEP extrínseca num valor correspondente a
Os modos controlados a volume podem ser usados quan-
85% da auto-PEEP medida, objetivando melhorar a sincro-
do não houver possibilidade de utilização dos modos limi-
nia do paciente com o aparelho e reduzir o trabalho respi-
tados por pressão.
ratório resultante da hiperinsuflação.
• Assim que atingida a estabilidade clínica total, o pa-
ciente pode ser conduzido aos modos assistidos (PSV, VAPSV,
Monitorização
Assistida-Controlada ou Mandatória Intermitente Sincro-
nizada), iniciando o desmame da prótese. • Mensuração dos gases arteriais, bicarbonato e pH.
Oximetria de pulso, em pacientes hemodinamicamente
Parâmetros ventilatórios iniciais estáveis e com boa perfusão, e capnografia, em pacientes
1. Fluxo inspiratório: taxas ≥ 50L/min. Provocam me- selecionados, como formas de mensuração indireta do
lhor distribuição de gases e, ao reduzir o tempo inspirató- PaCO2.
rio, atenuam os efeitos danosos da hiperinsuflação dinâ- • Auto-PEEP deve ser medido rotineiramente.
mica (auto-PEEP). O padrão em desaceleração linear é pre- • Diferença entre PPI e PPLAT pode estimar indireta-
ferido por gerar menores pressões inspiratórias máximas mente a resistência das vias aéreas.
e de platô, quando utilizados os modos controlados a vo- • Monitorização da pressão média de vias aéreas (Pva),
lume. cujo valor normal se situa entre 15 e 25cmH2O.
2. Volume corrente: em torno de 8ml/kg. Adequados • Monitorização rigorosa de eletrólitos séricos, hema-
para a ventilação alveolar e prevenção da hiperdistensão tócrito e balanço hídrico.
pulmonar. Valores menores, em algumas situações, po-
dem ser empregados, tolerando-se também a hipercap- Desmame
nia resultante, que será titulada de acordo com as circuns- • Início: após atendidas as condições de estabilidade
tâncias clínicas e monitorização do pH, que, como regra clínica e as condições hemodinâmicas, funcionais respira-
geral, deve ser mantido acima de 7,20. tórias, gasométricas e eletrolíticas.
3. Freqüência respiratória: iniciamos com valores en- • Opção favorável à utilização do PSV de forma isolada
tre 8-12 ciclos/minuto para prolongar o tempo expirató- ou associada ao CPAP. O desmame com técnica do Tubo
rio e atenuar a auto-PEEP. em T também pode ser usado, visto que ainda não há
4. Relação Tempo Inspiratório/Expiratório: manter re- consenso quanto à superioridade entre as técnicas (ver
lação diminuída, a partir de 1:3. capítulo específico deste Consenso).

S 26 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

9. Papel da enfermagem na assistência


ao paciente em ventilação mecânica
Coordenadoras: ELANE PASSOS, VÂNIA GISLENE CASTILHO
Relatora: ELANE PASSOS
Colaboradoras: ANDRÉA CANUTO, ELVIRA CAVALCANTE DE SOUZA, JACINTA ALVES DA ROCHA, JANE MARY ROSA AZEVEDO,
JUMARA COUTRIN, LOLITA DOPICO, MARGARETH BRITO TRABUCO, SAYONARA DE FÁTIMA F. BARBOSA
Discutidoras: ANA TERESA MENDONÇA NOLÊTO, ELIANA BRITO, KATHIANE SILVA DE ANDRADE,
LÍGIA MÁRCIA CONTRIN MINTO, ROSÂNGELA LOUISETTE CONCEIÇÃO

A ventilação mecânica é uma forma de tratamento ven- mentais das estruturas envolvidas, a fisiologia!de tais es-
tilatório artificial utilizada em unidades de cuidados inten- truturas e as alterações patológicas.
sivos para promover a oxigenação e a ventilação do pa- Entre as principais complicações e intercorrências, des-
ciente portador de insuficiência respiratória de qualquer tacam-se as seguintes:
etiologia, pelo tempo que for necessário para a reversão Diminuição do débito cardíaco – A ventilação mecâni-
do quadro. ca sob pressão positiva aumenta a pressão intratorácica
O uso clínico de ventiladores mecânicos iniciou-se com média e, desta forma, reduz o retorno venoso e a pré-
os ventiladores a pressão negativa. Posteriormente, as di- carga ventricular direita, principalmente com a utilização
ficuldades de ventilar pacientes críticos, a necessidade de da PEEP. A distensão pulmonar, pela ventilação mecânica,
proporcionar um sistema mais seguro e mais flexível na associada ou não à PEEP, também aumenta a resistência
ventilação mecânica, que permitisse, inclusive, uma inter- vascular pulmonar (RVP). Ressalta-se que ambos os efeitos
face maior com o paciente e suas necessidades, levaram diminuem o débito cardíaco, principalmente em pacien-
ao desenvolvimento de aparelhos mais sofisticados, como tes hipovolêmicos.
os aparelhos a pressão positiva. Alcalose respiratória aguda – É uma das ocorrências
A partir de 1980, houve a introdução da nova geração mais comuns. Pode prejudicar a perfusão cerebral, pre-
de ventiladores mecânicos, cujas unidades são controla- dispor à arritmia cardíaca, além de ser razão freqüente
das por microprocessadores. Estas unidades permitem uma para insucesso do desmame. Comumente secundária à
grande diversidade na metodologia do fornecimento de dispnéia, dor ou agitação, a hiperventilação alveolar tam-
gases e proporcionam extensa capacidade de monitoriza- bém pode resultar de uma regulagem inadequada do ven-
ção paciente/equipamento. tilador e pode ser corrigida por ajustes da freqüência res-
A ventilação mecânica é um procedimento usual em piratória, do volume corrente, de acordo com as necessi-
terapia intensiva, e a abordagem adequada dos métodos dades do paciente.
ventilatórios é fundamental para a recuperação de pacien- Elevação da pressão intracraniana – A ventilação com
tes críticos. A utilização de protocolos, visando a manu- pressão positiva na presença de pressão intracraniana (PIC)
tenção do rigor técnico no controle das rotinas relaciona- elevada pode prejudicar o fluxo sanguíneo cerebral,
das à técnica, pode, sem dúvida, atuar na prevenção das principalmente quando se utilizam altos níveis de PEEP,
complicações, na diminuição dos custos e no sucesso do devido à diminuição do retorno venoso do território cere-
desmame. bral e o conseqüente aumento da PIC.
Meteorismo (distensão gástrica maciça) – Pacientes
PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES RELACIONADAS AO USO sob ventilação mecânica, principalmente aqueles com baixa
DE VENTILADORES MECÂNICOS
complacência pulmão-tórax, podem desenvolver disten-
são gasosa gástrica e/ou intestinal. Isto presumivelmente
Apesar dos inúmeros benefícios, a utilização de ventila- ocorre quando o vazamento do gás ao redor do tubo en-
ção mecânica pode acarretar complicações. A instituição dotraqueal ultrapassa a resistência do esfíncter esofágico
de ventilação mecânica em qualquer paciente altera a inferior. Este problema pode ser resolvido ou aliviado pela
mecânica pulmonar e a função respiratória, podendo, além introdução de uma sonda nasogástrica, ou ajustando-se a
de afetar outros órgãos, causar grande morbidade ou pressão do balonete.
mortalidade. Pneumonia – O desenvolvimento da pneumonia asso-
Buscando-se prevenir complicações e acidentes, os pro- ciada à ventilação mecânica requer uma fonte de microor-
fissionais devem conhecer os aspectos anatômicos funda- ganismos infectantes, geralmente os bacilos gram-negati-
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 27
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

vos, e a transmissão destes microorganismos para os hos- piratória do adulto (SARA) reforça a antiga noção de que o
pedeiros. Nos hospedeiros, os microorganismos coloni- barotrauma pode ser mais uma manifestação da doença
zam as vias respiratórias superiores, gastrintestinais supe- do que de seu tratamento, principalmente quando ocorre
riores, ou ambas. Sabe-se que estes microorganismos tardiamente na evolução da síndrome e quando existe sep-
penetram nas vias respiratórias inferiores em conseqüên- se associada.
cia da aspiração de pequenas quantidades de conteúdo
hipofaríngeo. COMPLICAÇÕES RELACIONADAS COM O USO DE
Uma epidemia de pneumonia nosocomial acompanhou TUBOS OROTRAQUEAIS (TOT) OU DE
o surgimento da ventilação mecânica. Constatou-se que
esta situação deveu-se primariamente aos nebulizadores TRAQUEOSTOMIAS (TQT)
contaminados por flora polimicrobiana, e que os bacilos Extubação acidental – Além da má fixação do tubo,
gram-negativos eram geralmente os predominantes. O re- outros fatores que levam à extubação acidental são os
conhecimento do problema, a implementação de rotinas quadros de agitação psicomotora e as mudanças de decú-
de troca e cuidados com os circuitos e nebulizadores, além bito. Verifica-se que os pacientes com intubação orotra-
da adequada desinfecção de alto nível ou esterilização dos queal são os mais propensos à extubação acidental.
mesmos, diminuíram a incidência de tal complicação. Lesões de pele e/ou lábios – Estas ulcerações ocorrem
A maioria dos ventiladores atuais de UTI utiliza umidifi- devido ao modo de fixação do tubo, ao tipo de material
cadores que não aerossolizam bactérias, ao contrário dos utilizado (esparadrapos) e à falta de mobilização da cânula
nebulizadores. Entretanto, os nebulizadores de pequeno em intervalos de tempos regulares.
volume, utilizados para a administração de broncodilata- Lesões traqueais – Estas lesões podem ser provocadas
dores ou outras medicações, podem ser fontes de infec- por fatores como a alta pressão do cuff ou como o tracio-
ção quando não são manuseados, esterilizados ou troca- namento dos TOT ou TQT. Pressões elevadas do balonete
dos adequadamente. levam desde à diminuição de atividade do epitélio ciliado,
O condensado que se acumula no circuito expiratório é isquemia, necrose até a fístulas traqueais.
contaminado por microorganismos das vias respiratórias
do paciente e, se não for manuseado adequadamente, pode EQUIPAMENTOS DE ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA
servir como fonte de infecção nosocomial. Outra impor-
tante fonte de disseminação infecciosa, na unidade de te- Embora a maior parte da assistência de enfermagem
rapia intensiva, são as mãos dos médicos, enfermeiras e esteja centrada no cuidado direto ao paciente, vale ressal-
outras pessoas da equipe de saúde; esta fonte pode ser tar que também é de responsabilidade desta equipe o cui-
bastante reduzida pelo hábito de lavar as mãos e pela uti- dado com os materiais utilizados nos circuitos respirató-
lização adequada de luvas. rios. Este cuidado engloba a desinfecção dos mesmos, pois
Atelectasia – As causas de atelectasia relacionadas à a intubação e a ventilação mecânica aumentam ainda mais
ventilação mecânica estão associadas à intubação seleti- o risco de infecção, por agredirem as defesas de primeira
va, presença de rolhas de secreção no tubo traqueal ou linha do paciente. Seguem, abaixo, as rotinas preconiza-
nas vias aéreas e hipoventilação alveolar. das pelo Centers for Disease Control and Prevention
Barotrauma – As situações como pneumotórax, pneu- (CDC) e as rotinas do Ministério da Saúde para o controle
momediastino e enfisema subcutâneo traduzem a situa- de infecção hospitalar, no que se refere à limpeza, desin-
ção de ar extra-alveolar. A existência de pressões ou de fecção e esterilização destes equipamentos:
volumes correntes muito elevados foi correlacionada ao A) Proceder ao máximo de desmonte do circuito, de
barotrauma nos pacientes em ventilação mecânica. forma que a maioria dos seus componentes possam ser
Fístula broncopleural – O escape broncopleural per- submersos em água e detergente enzimático que permi-
sistente de ar, ou fístula broncopleural (FBP), durante a tam uma limpeza mecânica adequada. Deixar estes mate-
ventilação mecânica, pode ser conseqüente à ruptura al- riais nesta solução para a retirada da matéria orgânica
veolar espontânea ou à laceração direta da pleura visce- existente, de acordo com a indicação do fabricante, inclu-
ral. A colocação de um sistema de sucção conectado ao sive no que diz respeito à troca da solução e ao tempo de
dreno de tórax aumenta o gradiente de pressão através exposição indicado.
do sistema e pode prolongar o vazamento, principalmen- B) Fazer escovação manual, ou através de máquina au-
te se o pulmão não se expandir completamente. tomática de lavar, em central de material, para remover
É desconhecida a freqüência de desenvolvimento de FBP resíduos das superfícies internas e externas das diferentes
como complicação direta da ventilação mecânica. Um partes.
estudo demonstrando a heterogeneidade do padrão de C) Enxaguá-los com água corrente, secá-los com com-
comprometimento pulmonar na síndrome da angústia res- pressa limpa.
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D) Encaminhá-los para processamento de desinfecção Plasma de peróxido de hidrogênio – STERRAD


ou esterilização de acordo com as rotinas da instituição. • É o quarto estado da matéria procedendo à inativa-
ção rápida de microorganismos e remoção de resíduos
Desinfecção de alto nível por meio químico líquido prejudiciais. É indicado para a esterilização de instrumen-
Glutaraldeído a 2%. Indicado para artigos semi-críti- tos sensíveis ao calor e à umidade. O tempo total necessá-
cos e críticos termossensíveis rio para este processo é ligeiramente superior a 1 hora.
• A solução germicida deve ser colocada em recipiente
plástico opaco LIMPEZA DO VENTILADOR
• Os materiais devem ficar totalmente imersos
• O tempo de exposição é de 30 minutos Em relação ao aparelho propriamente dito, este deve
• O enxágüe deve ser com água estéril para prevenir sofrer limpeza diária com água e sabão ou fricção com
contaminação com microorganismos resistentes que exis- álcool a 70% por 30 segundos ou de acordo com a orien-
tem na água tação do fabricante. Devemos também lembrar que a en-
• A secagem dos artigos submetidos ao processo deve fermagem deve estar atenta a qualquer tipo de pane ou
ser realizada com compressa limpa e seca ou ar compri- disfunções do aparelho, visto que estas podem desenvol-
mido ver sérias complicações para o paciente.
• O material deve ser acondicionado em invólucro de
papel grau cirúrgico ou em recipientes limpos, desinfeta- ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM VENTILAÇÃO
dos, secos e fechados. MECÂNICA INVASIVA

Desinfecção por meio físico líquido A equipe de enfermagem, ao prestar assistência ao


• Máquinas automáticas com água quente (sanitizado- paciente sob ventilação mecânica, deve sempre ter pre-
ras) a 60º a 90ºC sente que este é o elemento mais importante na situação
• Indicada para descontaminação e desinfecção de ar- assistencial e que todos os membros da equipe devem tra-
tigos críticos balhar de forma eficiente e integrada. A atuação da enfer-
• Recomendações de uso: magem na ventilação mecânica é intensa, extensa e com-
ü conforme recomendado pelo fabricante; plexa. Na tentativa de propor um eixo norteador da práti-
ü validade do processamento conforme orientação do ca de enfermagem na ventilação mecânica, é importante
fabricante. que a enfermagem saiba relacionar e executar os cuida-
dos descritos abaixo:
Esterilização por meio químico líquido: 1) Vigilância constante
2) Controle de sinais vitais e monitorização cardiovascu-
Glutaraldeído a 2%:
lar
• O processo é o mesmo já descrito anteriormente,
3) Monitorização de trocas gasosas e padrão respirató-
porém o que varia, neste caso, é o tempo de exposição
rio
do material em solução, que passa a ser de 8 a 10 horas,
4) Observação dos sinais neurológicos
dependendo do produto utilizado.
5) Aspiração de secreções pulmonares
Esterilização por meio físico 6) Observação dos sinais de hiperinsuflação
7) Higiene oral, troca de fixação do TOT/TQT, mobiliza-
• Autoclaves ção do TOT
ü Submeter o artigo à máquina esterilizadora; 8) Controle da pressão do balonete
ü Observar e registrar temperatura e pressão; 9) Monitorização do balanço hidroeletrolítico e peso cor-
ü Monitorar tempo de exposição conforme orientação poral
do fabricante, se esterilização por gravidade, por alto vá- 10) Controle nutricional
cuo ou vácuo e vapor. 11) Umidificação e aquecimento do gás inalado
12) Observação do circuito do ventilador
Esterilização por meio químico gasoso 13) Observação dos alarmes do ventilador
Óxido de etileno 14) Nível de sedação do paciente e de bloqueio neuro-
• É o éter mais simples, com alta reatividade, que se muscular
apresenta como gás incolor. 15) Observação do sincronismo entre o paciente e a má-
• Utilizado para esterilização de artigos termossensí- quina
veis (portaria interministerial – Ministério da Saúde e do 16) Orientação de exercícios
Trabalho n-4 Diário Oficial, 31/7/91 Brasília) 17) Preenchimento dos formulários de controle
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 29
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

18) Apoio emocional ao paciente Dentre as alterações relacionadas às conseqüências da


19) Controle de infecção ventilação, poderiam ser citados: a bradicardia associada
20) Desmame ao baixo débito cardíaco (que pode indicar fluxo inade-
quado nas coronárias) e o aumento da freqüência respira-
1) Vigilância constante tória (que pode indicar hipoxemia).
O paciente nunca deve ser deixado sozinho e deve es- A ventilação inadequada ou a presença de hipoxemia
tar localizado de forma a ser visibilizado continuamente, pode desencadear, no paciente, desorientação, hiperten-
pois alterações súbitas podem ocorrer, levando à necessi- são ou hipotensão e arritmias, principalmente taquicardia
dade de ser reavaliada a modalidade respiratória à qual o ou bradicardia repetitivas.
mesmo está sendo submetido. A vigilância contínua inclui A enfermagem deve ser capaz de reconhecer e diferen-
a necessidade de uma observação globalizada, constante ciar os sinais e sintomas de hipoxemia e a manifestação
e rápida, por parte de toda a equipe, observando-se os de angústia respiratória. Na hipoxemia, especialmente em
seguintes aspectos: se tratando de insuficiência aguda, observa-se cianose,
a) Nível de consciência bradicardia e hipotensão arterial; na angustia respirató-
b) Coloração da pele ria, sudorese, taquicardia, hipertensão, agitação e o pa-
c) Grau de distensão de veias das regiões: cervical e su- ciente “compete” com o ventilador.
praclaviculares
d) Padrão respiratório: expansão torácica, simetria, uso 3) Monitorização de trocas gasosas e padrão res-
de musculatura acessória piratório
e) Batimentos de asa de nariz Compete ao enfermeiro:
f) Avaliação abdominal: ausculta, palpação, percussão e • Observar o padrão respiratório do paciente, a expan-
movimentação são e as deformidades na parede torácica, na tentativa de
g) Sinais vitais detectar precocemente situações como pneumotórax, ba-
h) Eliminações: vômitos, diurese, evacuações, drenagens rotrauma, entre outras patologias que diminuem a expan-
por sondas, sudorese sibilidade torácica;
i) Pressão venosa central (PVC) • Observar e controlar dor torácica, pois esta pode pro-
j) Sinais de retenção hídrica vocar hipoventilação e diminuição da expansão pulmo-
k) Circuitos respiratórios: posicionamento, escape de ar, nar, levando à hipóxia.
acotovelamento e tracionamento do circuito • Monitorizar as trocas gasosas através da gasometria
l) Avaliação dos sinais vitais e monitorização cardiovas- arterial e da capnografia e oximetria de pulso
cular • Na capnografia:
§ Monitorizar valores de PetCO2 de 25 a 30mmHg, pois
2) Controle de sinais vitais e monitorização car- valores maiores sugerem insuficiência de troca gasosa
diovascular § Evitar obstrução do capilar do capnógrafo por muco de
Os dados vitais refletem o estado geral do paciente; condensação, pois com isto ocorre tempo de resposta
qualquer anormalidade na ventilação mecânica refletirá mais longo, indicando valores baixos de PCO2
nas suas funções básicas como: freqüência respiratória, § Evitar condensação de vapor de água no circuito do
temperatura, pressão arterial, pulso, pressão intracrania- ventilador para que as leituras não sejam falsamente
na e pressão arterial média, que devem ser periodicamen- elevadas
te controladas pela enfermagem. § Manter o sensor próximo ao tubo orotraqueal
Pacientes sob ventilação mecânica com altas pressões § Calibrar o equipamento de 12 em 12 horas, para maior
terão as pressões intratorácica e intracardíaca elevadas fidedignidade da leitura
durante a inspiração, refletindo, desta forma, na pressão • Na oximetria de pulso:
venosa central (PVC), na pressão arterial pulmonar (PAP) e § Monitorizar constantemente a saturação de oxigênio,
no débito cardíaco (DC). que deve ser mantida igual a (ou maior do que) 95%
Para a verificação da PVC nos pacientes que se encon- § Escolher o local adequado de acordo com o tipo do sen-
tram sob ventilação mecânica, não é necessária a desco- sor (digital ou auricular)
nexão do circuito nem a alteração do ângulo da cabecei- § Manter oximetria fidedigna, observando as condições
ra, pois os parâmetros sofrem mínima alteração nos re- que podem interferir na leitura: sensor em local inade-
sultados, desde que tenha sido usado este critério no mo- quado, luminosidade, movimentação ou tremores do
mento da instalação da coluna da PVC em relação ao pon- paciente, vasoconstrição, hipotermia, uso de esmalte,
to zero. Esta orientação deve ser uniforme para todos os hiperbilirrubinemia, hiperpigmentação da pele do pa-
horários de verificação. ciente, hipotensão.
S 30 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

§ Observar constantemente se o sensor está conectado • Em pacientes neonatais, o tempo da aspiração não
ao paciente deverá ultrapassar dez segundos. A aspiração prolongada
§ Avaliar o grau de perfusão periférica (cianose), descre- causando oclusão do tubo traqueal é uma das causas de
vendo se leve, moderada ou intensa. barotrauma. É preferível fazer aspiração de curta dura-
§ Realizar o rodízio do local do sensor ção, observando-se sempre o nível de saturação pelo oxí-
• Observar sinais vitais, pois taquicardia e taquipnéia metro de pulso. Vale salientar que, quanto mais próximo
são parâmetros indicativos de hipóxia o sensor do oxímetro estiver da área pulmonar, mais fide-
• Proceder à ausculta pulmonar, observando ruídos ad- digna será a leitura.
ventícios. • Os neonatos em uso de pronga nasal deverão ser
• Em razão da não ventilação dos pulmões, a conduta submetidos periodicamente (a cada duas horas) à instila-
de emergência recomendada é a pronta desconexão do ção com soro fisiológico, e logo após, aspiração das nari-
paciente do ventilador e a instalação da ventilação manu- nas, para que as mesmas estejam sempre desobstruídas.
al com ressuscitador, desde que não seja em decorrência Obs.: Existem dois sistemas de aspiração, sendo um
de alteração da complacência pulmonar ou por aumento aberto e outro fechado. No sistema aberto, são utiliza-
na resistência de vias aéreas. das sondas flexíveis, tipo nelaton, ou tubo de PVC sili-
conizado. No sistema fechado, são utilizadas sondas
4) Observação dos sinais neurológicos mais rígidas e longas. Estudos comparando os dois sis-
A evolução de nível de consciência, os sinais oculares temas, apesar do pequeno número de pacientes envol-
como: miose, midríase, fotomotricidade e simetria, o re- vidos até hoje, não demonstram diferença em relação
flexo córneo-palpebral, as respostas neuromusculares aos ao nível de contaminação do cateter e/ou pneumonia.
estímulos dolorosos, os reflexos da tosse e movimentos
respiratórios devem ser constante e criteriosamente ob- 6) Observar sinais de hiperinsuflação
servados. Observar programação do ventilador quanto ao volume
As alterações do nível de consciência, tais como agita- corrente predeterminado. Observar a quantidade de oxi-
ção, inquietação ou depressão, podem ser sinais de hipo- gênio oferecido (FIO2).
ventilação provocada pela retenção de gás carbônico e
diminuição da perfusão cerebral relacionada com o au- 7) Higiene oral, fixação, mobilização do TOT e tro-
mento da pressão intratorácica. ca do TQT
A higiene oral deve ser realizada de 4 em 4 horas com
5) Aspiração de secreções pulmonares solução anti-séptica.
A obstrução das vias aéreas por aumento de secreções A troca do posicionamento e fixação do TOT implicam,
estimula a tosse, gerando pressão intrapulmonar aumen- preferencialmente, a presença de dois profissionais, com
tada, na qual se apoiará a pressão preestabelecida do ven- a finalidade de evitar o risco de extubação acidental ou de
tilador, diminuindo o volume corrente. mobilização do TOT da posição correta, que pode provo-
Portanto, a enfermagem deve: car intubação seletiva.
• Aspirar secreções sempre que necessário, utilizando A troca da fixação faz-se necessária, tendo em vista a
técnica asséptica, acompanhada pela oximetria de pulso, limpeza do mesmo e a prevenção de escara na rima bucal
respeitando o tempo de aspiração, a escolha do calibre da e região auricular. Deve ser feita diariamente e sempre
sonda, a seqüência no ato de aspirar e a oxigenação pré- que necessária.
via a 100%, de acordo com o protocolo de cada serviço. A fixação do TOT deve ser preferencialmente centrali-
• Proceder à ausculta pulmonar antes e após aspira- zada, pois, desta forma, diminui o risco de erosão da co-
ção. missura labial.
• Investigar áreas de resistência ou obstrução do tubo A troca da posição do TOT deve ser feita, no mínimo, a
endotraqueal. cada 12 horas, evitando-se, assim, lesões em língua e lá-
• Caso a obstrução seja devida ao acúmulo de secre- bios.
ções, tentar desobstruir injetando água destilada estéril/ É interessante marcar a altura do TOT ao nível da co-
soro fisiológico de acordo com protocolo do serviço e as- missura labial, reposicionando-o se necessário.
pirar em seguida. Evitar tracionamento do TOT/TQT para que não ocor-
• Observar e registrar: características da secreção: tipo, ram lesões traqueais com a mobilização do balão cuff in-
cor e odor, pois estes elementos são indicativos de infec- suflado.
ção pulmonar ou fístula traqueoesofágica. Evitar manipulação excessiva da cabeça, atentar para
• Secreção espessa em grande quantidade quase sem- reflexo exacerbado da deglutição, tosse e agitação psico-
pre indica má aspiração e má umidificação. motora.
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 31
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

Em caso de TQT, realizar palpação em região cervical e trativo do balanço hídrico do paciente. É comum encon-
torácica, pois, nas primeiras 48 a 72 horas, pode haver trar ganho de peso no paciente em ventilação mecânica.
formação de enfisema subcutâneo, hemorragias e lesões Deve-se estar atento aos níveis de potássio, cálcio, mag-
cervicais pela fixação inadequada. nésio, sódio e fósforo, pois estes eletrólitos influenciam
Não se recomenda a troca periódica do TQT, exceto na diretamente na estabilidade hemodinâmica e na força da
existência de problemas mecânicos que possam interferir musculatura respiratória.
na ventilação.
10) Controle do nível nutricional
Nos pacientes neonatais, o tubo traqueal deverá ser in-
troduzido, sempre que possível, por via nasal, pois isto Como a ingestão nutricional está limitada pela intuba-
facilita a fixação. Esta deverá ser trocada diariamente pelo ção, atenção extra deve ser dada a ela para garantir uma
enfermeiro ou quando se fizer necessário, anotando o nutrição enteral e parenteral adequada. A associação en-
número correspondente do tubo em relação à asa do na- tre o estado nutricional e a função pulmonar está bem
riz e colocando esta numeração de forma visível no leito estabelecida, na medida em que a nutrição inadequada
do paciente. Quando for processada a fixação, deve-se diminui a massa muscular do diafragma, reduzindo o de-
proteger a pele do paciente com tintura de benjoim e co- sempenho da função pulmonar e aumentando os requisi-
locar fita hipoalergênica antes de fixar o tubo com espa- tos de ventilação mecânica.
radrapo comum, pois evita-se, assim, a escarificação da À enfermagem cabe:
pele ao retirá-lo, evitando-se também mais uma porta de • Manter a cabeceira elevada a 45º, se não houver con-
entrada aos microorganismos. O tubo deverá ser ajustado tra-indicação.
confortavelmente dentro da narina, sem que haja pressão • Obedecer rigorosamente aos horários de administra-
excessiva sobre a asa do nariz, para evitar necrose. ção das dietas, garantindo a sua ingestão de forma ade-
quada.
8) Controle de pressão do balonete • Cuidados especiais aos balonetes das cânulas devem
Um dos mais importantes riscos da intubação traqueal ser observados neste momento, certificando-se da insufla-
prolongada é a lesão da laringe e da traquéia. O balonete ção dos mesmos, durante a administração das dietas.
insuflado pode acarretar necrose da mesma ou ainda fís- 11) Umidificação e aquecimento do gás inalado
tula traqueoesofágica. Na tentativa de minimizar esta ocor- Gás seco é altamente prejudicial para as vias aéreas,
rência, algumas medidas podem ser tomadas pela enfer- pois causa ressecamento e inflamação da mucosa.
magem, tais como: Nos ventiladores que usam água, a água dos umidifica-
• Insuflar o balonete com volume de ar suficiente para dores deverá ser trocada diariamente e sempre que for
impedir escape de ar e movimentação do tubo na tra- preciso para manter o nível adequado. É importante res-
quéia. A insuflação do cuff deve ser verificada, no míni- saltar que o nível da água não deve ser complementado e,
mo, a cada 12 horas. Em casos de escape de ar, o balone- sim, ela ser completamente substituída. A água dos venti-
te pode estar danificado ou furado; nestes casos deve ser ladores pode tornar-se um meio de cultura para microor-
providenciada imediatamente a troca do mesmo. ganismos resistentes. A adequação do nível da água no
• Manter e conferir a pressão no interior do balonete, umidificador é necessária para não ocorrer ressecamento
que deve ser inferior a 25mmHg. ou hiper-hidratação das secreções.
• Atentar para sinais e sintomas de extubação inadver- Deve-se estar atento à temperatura de aquecedores e
tida que incluem: vocalização, disparo do alarme de pres- alarmes. A temperatura do vapor úmido, ao chegar à câ-
são baixa, alterações na ausculta respiratória e distensão nula, deve ser em torno de 30 a 32ºC, pois é a tempera-
gástrica. tura fisiológica protetora da mucosa ciliada e de outras
• Atentar continuamente para sinais e sintomas de tubo estruturas.
traqueal mal posicionado que incluem: dispnéia, desvio No caso de utilização de filtros de barreira, a escolha é
da traquéia, agitação, mudanças unilaterais na ausculta, feita com base no peso corporal do paciente e no tipo de
esforço respiratório aumentado, expansão torácica assi- secreção, estando contra-indicados para o caso de secre-
métrica e evidência radiológica da extremidade distal do ção espessa e hipersecreção. Estes filtros devem ser tro-
tubo endotraqueal a menos de 2cm ou a mais de 8cm cados a cada 24 horas e sempre que necessário.
acima da carina.
12) Observação do circuito do ventilador
9) Monitorização do balanço hidroeletrolítico e À enfermagem cabe:
peso corporal • Esvaziar a água condensada no circuito, sempre que
Na tentativa de estabelecer um controle, é importante necessário; ela aumenta a resistência, a PEEP e a contami-
pesar o paciente sempre que possível. O peso é demons- nação.
S 32 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

• Evitar adaptações nos circuitos; elas podem promo- explicada, sempre que possível, a função dos equipamen-
ver o escape aéreo, o que sugere inadequação na quanti- tos de monitorização, do tubo orotraqueal (TOT) e do ven-
dade e no fluxo oferecido ao paciente, causando hipoven- tilador. Isto é extremamente importante, pois os pacien-
tilação. tes mais orientados tendem a ser mais cooperativos, o
• Trocar os circuitos dos ventiladores sempre que ne- que influencia a sua adaptação à ventilação mecânica.
cessário. (Consulte o capítulo de complicações infeccio- Deve ser permitido ao paciente expressar-se, através
sas) de gestos ou da escrita. Para isto, a equipe deve prover
meios alternativos de comunicação, seja com o uso de
13) Observação dos alarmes do ventilador gestos, cartões, ou lápis e papel.
Para uma avaliação e uma conduta adequada, nos ca- O profissional da equipe de enfermagem deve transmi-
sos de disfunção do ventilador, é importante determinar o tir conforto e segurança ao paciente, comunicando-se com
motivo do disparo dos vários alarmes existentes nos ven- ele, mesmo se ele não estiver plenamente consciente.
tiladores mecânicos, bem como conhecer os parâmetros
utilizados. 19) Controle de infecção
O paciente intubado perde suas barreiras naturais de
14) Nível de sedação do paciente e utilização de defesa das vias aéreas superiores. Além disso, a equipe de
bloqueadores neuromusculares saúde, através das suas mãos e do equipamento respira-
Os pacientes em uso de ventilação mecânica geralmen- tório, constitui a maior fonte de contaminação exógena.
te utilizam bloqueadores neuromusculares e sedativos; a Cuidados de enfermagem:
enfermagem deve: • Lavar as mãos
• Observar e controlar o fluxo da droga prescrita • Utilizar corretamente as precauções básicas de bar-
• Avaliar a eficácia da terapêutica implementada (evi- reira
denciada por um sincronismo paciente x ventilador) • Utilizar técnicas corretas de aspiração traqueal
• Atentar para possíveis efeitos colaterais, tais como: • Providenciar esterilização adequada dos circuitos res-
tremores, taquicardia e hipertensão ou hipotensão arte- piratórios
rial. • Proteger a extremidade distal do circuito respiratório
ao desconectar do paciente
15) Observação do sincronismo entre o paciente • Fazer acompanhamento do resultado de culturas.
e a máquina
A falta de sincronismo pode ocorrer em algumas situa- 20) Desmame
ções, como: o paciente ventilado em modo controlado ou Deve ser iniciado quando atendidas as exigências de
assistido sem uma adequada sedação. estabilidade clínica, hemodinâmica, funcional respiratória
Erro de programação de fluxo no aparelho. e gasométrica.
À enfermagem cabe:
16) Orientação de exercícios • Observar o nível de consciência e colaboração do pa-
• Orientar a execução de movimentos no leito; ciente
• Realizar mudança de decúbito, propiciando melhor • Avaliar valores de oxicapnografia e hemogasometria
ventilação alveolar e facilitando as trocas gasosas. • Padrão respiratório
17) Preenchimento de formulários de controle
CUIDADOS NA EXTUBAÇÃO
Anotar, registrar, prescrever são funções importantes
do enfermeiro. No registro devem constar: • Suspender dieta enteral
• Modalidade ventilatória • Manter cabeceira elevada a 45º
• Valores de oxicapnografia • Fazer aspiração na seqüência traqueo-naso-oral an-
• PEEP e auto-PEEP tes da retirada do TOT/TQT
• Número de dias de intubação • Após retirada do TOT/TQT, observar padrão respira-
tório e oximetria de pulso
18) Comunicação e apoio emocional ao paciente • Fazer acompanhamento hemogasométrico
É muito importante que seja estabelecida uma comuni- • Fazer instalação de oxigenoterapia de acordo com
cação efetiva entre a equipe de enfermagem e o pacien- prescrição médica
te. O mesmo deve ser esclarecido quanto a todas as dúvi- • Fazer verificação e registro, de 15 em 15 minutos,
das que possam surgir, inclusive as relacionadas à sua lo- da FR, FC e SaO2 nas duas primeiras horas após a extuba-
calização no tempo e no espaço; além disso, deve ser ção traqueal
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 33
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM VENTILAÇÃO de infecção, considerando-se que a flora domiciliar difere


NÃO INVASIVA
da hospitalar.
Este tipo de ventilação é realizado sem a necessidade
de instituição de intubação endotraqueal, podendo ser por CONCLUSÕES
pressão positiva ou negativa. Aprimorar a prática de enfermagem na atenção a pa-
A aplicação desta técnica utiliza máscaras faciais e bo- cientes em uso de suporte ventilatório é questão que deve
cais específicos. merecer discussões e reflexões entre enfermeiros intensi-
As indicações mais freqüentes envolvem os pacientes vistas, de tal modo que se busque essencialmente definir
portadores de insuficiência respiratória restritiva e DPOC. os fatores envolvidos na melhoria da qualidade da assis-
Os cuidados de enfermagem ainda são incipientes com tência de enfermagem relacionada a este procedimento
relação a esta técnica, destacando-se os seguintes aspec- técnico.
tos: Em nosso meio, a assistência de enfermagem em UTI
• Orientar o paciente quanto ao procedimento que pode só pode ser prestada por enfermeiros e técnicos de enfer-
ser incômodo. magem, cabendo ao enfermeiro, além da execução, a coor-
• Atentar para as lesões de pele devido à fixação da denação e supervisão das atividades de enfermagem.
máscara facial. Tal característica de atuação profissional do enfermeiro
• Observar o escape durante a aplicação do método. exige que ele se prepare adequadamente, de forma a for-
• Acompanhar padrão respiratório e oximetria de pul- talecer sua competência para atuar com mais objetivida-
so. de nas tarefas de observar, refletir, interpretar, decidir,
• Verificar o procedimento de desinfecção e esteriliza- orientar, interagir e avaliar.
ção do equipamento utilizado. Vários estudiosos na área de enfermagem têm direcio-
nado seus estudos na tentativa de compreender o papel
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM VENTILAÇÃO
assistencial do enfermeiro intensivista, dando ênfase à
MECÂNICA DOMICILIAR busca de uma assistência de enfermagem sistematizada e,
A assistência ventilatória pode e deve ser instituída em conseqüentemente, de melhor qualidade. Aliás, a assis-
domicílio nos pacientes com patologias neuromusculares tência de enfermagem sistematizada pode ser vista como
crônicas. Porém, no momento, utilizamos as mesmas ro- um modo de organizar e inter-relacionar as ações de en-
tinas hospitalares com relação aos cuidados de enferma- fermagem, propiciando uma intervenção individualizado
gem nos pacientes e equipamentos. dentro do contexto das necessidades do paciente e não
Na ventilação mecânica domiciliar, o enfermeiro, além como prática prescrita pelo médico. Então, na busca da
das atribuições inerentes aos cuidados específicos, elege e excelência da assistência de enfermagem a pacientes sub-
treina um cuidador (membro da família) para colaborar metidos à ventilação mecânica, além de estudar, questio-
com o tratamento proposto. nar e reavaliar as medidas assistenciais usuais neste pro-
Entendemos que existe a necessidade de formulação de cedimento, deve-se buscar um consenso que indique ca-
rotinas domiciliares próprias, no que se refere ao controle minhos para uma intervenção eficaz e sistematizada.

S 34 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

10. Recursos fisioterápicos em assistência ventilatória


Coordenadora: MARIÂNGELA SEPÚLVEDA
Relator: PAULO HENRIQUE OLIVEIRA
Colaboradores: ANTÔNIO DUARTE, ADA CLARICE GASTALDI, MARIA IGNEZ ZANETTI FELTRIN,
VALÉRIA DE LOURENÇO PASSOS, VERÔNICA FRANCO PEREIRA

INTRODUÇÃO possibilidade de aumento do retorno venoso proporciona-


do pela posição de drenagem, o que pode piorar o extra-
A fisioterapia constitui um recurso terapêutico eficiente vasamento de líquidos para o espaço extravascular. A res-
para tratamento e manejo dos pacientes submetidos à posta é individualizada e, se a SARA decorreu de infecção
assistência ventilatória mecânica artificial (AVMA) e, em es- pulmonar, existe uma tolerância maior em relação ao tra-
pecial, aqueles portadores de complicações provenientes tamento. Considerar condições onde a PEEP tenha signifi-
da restrição prolongada no leito. cativo emprego na manutenção da PaO2, onde a com-
O crescimento desta especialidade expressa-se pelo au- pressão torácica deverá ser mais criteriosa.
mento do número de fisioterapeutas constituindo equipes d) Hipoxemia – A hipoxemia pode ocorrer ou piorar
especializadas com atendimento contínuo e ininterrupto, durante a realização das manobras de higiene brônquica.
que, atualmente, integram as equipes Multidisciplinares Poderá ocorrer uma queda mais acentuada na PO2 quan-
de Terapia Intensiva. Quando bem estruturada e envolvi- do pacientes com acometimento unilateral agudo forem
da com a dinâmica da UTI, a equipe beneficia-se, intensi- posicionados com o pulmão envolvido dependente. Reco-
ficando sua atuação e assumindo mais amplamente os cui- menda-se a suplementação prévia de oxigênio durante a
dados respiratórios dos pacientes em ventilação mecâni- realização das manobras fisioterápicas.
ca, assegurando, assim, a manutenção das vias aéreas, a e) Embolia Pulmonar – A probabilidade do avanço do
elaboração, o acompanhamento e a execução dos proto- trombo pelo sistema pulmonar durante a realização da
colos de assistência ventilatória da UTI. fisioterapia respiratória é muito remota. Se o paciente
possui indicação absoluta para o uso de Fisioterapia De-
INDICAÇÕES sobstrutiva Brônquica e secreção suficiente para necessi-
• Prevenção das complicações geradas por incapaci- tar de manobras de higiene, o risco/beneficio indicará a
dade de manter eficiente remoção das secreções brônqui- realização deste tratamento.
cas, incapacidade de manter o volume pulmonar adequa- f) Hemoptise – Sua causa deverá ser conhecida pre-
do e imobilidade no leito. viamente, antes de iniciarmos o tratamento. É comum a
• Gerenciamento do trabalho respiratório, alternando presença após trauma torácico com contusão pulmonar.
terapeuticamente os limites de sobrecarga e repouso dos Nestes casos, a higiene brônquica não apresenta nenhum
músculos respiratórios risco. Quando presente nos pacientes submetidos à radio-
terapia por neoplasia ou anticoagulados, as manobras de
higiene brônquica estão contra-indicadas.
CUIDADOS ESPECIAIS
g) Osteoporose e fratura de arcos costais – As fratu-
Em algumas situações clínicas deve haver cuidados es- ras de costelas podem ser causadas por trauma ou metás-
peciais, a saber: tase. Nas manobras de higiene brônquica, especial aten-
a) Insuficiência cardíaca – A drenagem postural brôn- ção deverá ser dada à intensidade de aplicação e da força
quica seletiva pode piorar as arritmias Os pacientes com efetiva, para que não ocorra lesão das costelas. A vibro-
insuficiência cardíaca toleram pouco o tratamento, devendo compressão deverá ser evitada.
ser rigorosamente monitorizados. Obs.: Se a fratura se localiza na parede posterior do
b) Hipercapnia – Durante a realização das manobras tórax, o local deverá ser contido por uma das mãos
de higiene brônquica poderá ocorrer a elevação da PaCO2. enquanto a percussão e vibração for realizada lateral-
Nos pacientes em Suporte Ventilatório Parcial poderá ser mente à lesão. Se a fratura estiver localizada lateral-
necessária a adequação dos parâmetros do respirador mente ao tórax, ela deverá ser suportada com uma das
durante as terapias. mãos, já que o tratamento só será realizado posterior-
c) SARA – Alguns pacientes têm um aumento da PaO2 mente.
após a drenagem brônquica, enquanto outros mostram h) Pressão intracraniana – As maiores mudanças na
uma piora da PaO2 e complacência. Deve-se considerar a pressão intracraniana ocorrem quando o paciente é posi-
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 35
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

cionado em decúbito supino e durante a tosse. Na mudan- O tórax deverá ser auscultado não apenas para locali-
ça de supino para Trendelemburg, a alteração é menos zar os segmentos mais comprometidos, mas também para
significativa. a orientação quanto à efetividade do tratamento imposto.
Nos pacientes com hipertensão intracraniana: Os parâmetros do respirador deverão ser verificados e
• Deverão ser evitadas manobras que levem a um au- registrados, em formulário próprio, antes da execução das
mento da pressão intratorácica e conseqüente aumento terapias.
da pressão intracraniana. Deverão ser avaliados e monitorizados os parâmetros
• As aspirações traqueais não deverão ser realizadas referentes à mecânica respiratória e hemogasométricos.
em horários programados e necessitarão de sedação pré- Deverão ser checados os comprimentos de todos os
via. tubos e cateteres antes de realizar a mobilização do pa-
• Deverá ser sempre controlada a pressão de perfusão ciente.
cerebral. O circuito do respirador também deverá ser verificado
• Mudanças de decúbito, quando realizadas, deverão quanto ao acúmulo de água.
necessariamente manter o alinhamento de cabeça em li- O ritmo e a freqüência cardíaca deverão ser observa-
nha mediana. dos, antes do início do tratamento, para distinguir arrit-
Obs.: Quando houver hemorragia cerebral é impor- mias de artefatos.
tante que se avalie bem o risco e o beneficio do trata- As manobras de higiene brônquica devem sempre cul-
mento. Nos pacientes sem a monitorização da PIC de- minar com a eliminação das secreções: ativamente, pelas
verão ser minimizadas as manobras fisioterápicas até técnicas de tosse e expiração forçada, ou passivamente,
que passe a fase aguda. As aspirações traqueais não pela aspiração.
deverão ser realizadas de rotina ou em substituição a
outras técnicas fisioterápicas. TOLERÂNCIA ÀS TERAPIAS
i) HIV e AIDS – Ao realizar as manobras de desobstru- Se sinais de intolerância aparecem precocemente, po-
ção brônquica, o terapeuta deverá posicionar-se atrás do demos afirmar que estes pacientes deverão se beneficiar
paciente para minimizar os riscos de ser exposto às secre- de terapias curtas com intervalos pequenos.
ções durante a tosse ou aspiração, sendo imperioso o uso Arritmias cardíacas podem ser um dos sintomas de in-
de equipamento de proteção individual. tolerância, em que a hipoxemia provocada durante o tra-
j) Cateteres de subclávia e tubos torácicos – Se o pa- tamento pode ser a causa. A percussão raramente inter-
ciente realizou uma toracocentese, passagem de cateter, fere nos marcapassos cardíacos.
reposicionamento ou remoção de tubos torácicos, deve- A hipoxemia é mais freqüentemente causada pela alte-
se aguardar, para iniciar a manipulação, até que o RX de ração da relação ventilação/perfusão e shunt, presente
tórax seja realizado e descarte-se a existência de um pneu- nos pacientes que não eliminam secreções durante a tera-
motórax. Em pneumotórax não drenado estão contra-in- pia.
dicadas técnicas fisioterápicas que incentivem o aumento
da pressão intratorácica. RECURSOS FISIOTERÁPICOS
k) Uso de sonda nasogástrica – Para reduzir as chan-
ces de broncoaspiracão é melhor que sejam realizadas as MANOBRAS DE HIGIENE BRÔNQUICA
terapias imediatamente antes da dieta. Alguns terapeutas Relacionam-se a técnicas como drenagem postural, per-
preferem aspirar o conteúdo gástrico antes de manipular cussão, vibração, compressão, vibro-compressão e as va-
o paciente. Em pacientes com refluxo gastroesofágico não riantes terapêuticas da tosse. São técnicas capazes de re-
se deve realizar drenagem postural em decúbitos horizon- verter rapidamente a hipoxemia causada pela obstrução
tais ou Trendelemburg. das vias aéreas e pelo aumento de secreção.
Até o momento não se conseguiu estabelecer a superi-
PROCEDIMENTOS DURANTE A REALIZAÇÃO DAS oridade de uma manobra sobre a outra isoladamente. Seus
MANOBRAS
efeitos possuem enfoque multifatorial de elevada comple-
xidade, além de aspectos intrínsecos da mecânica, venti-
Há necessidade de conhecimento da clínica do pacien- lação pulmonar e função dos músculos respiratórios.
te submetido à ventilação mecânica, para realizar a opção A eficácia destas manobras não pode ser julgada pelo
pela técnica mais adequada a ser empreendida. O trata- volume de secreção produzido durante a terapia. Em pa-
mento geralmente envolve a utilização de uma combina- cientes gravemente doentes, com insuficiência respirató-
ção de técnicas, que dependerão das restrições clínicas, ria aguda, ocorre melhora na oxigenação, radiológica e
das necessidades do paciente e da habilidade do fisiotera- de complacência pulmonar, com apenas 2ml de secre-
peuta. ções removidas.
S 36 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

TOSSE A indicação dos exercícios respiratórios está na depen-


dência de vários fatores, como colaboração do paciente e
Pode ser voluntária ou reflexa e o aumento da sua efe- condição muscular.
tividade poderá levar à redução da necessidade de aspira- A adequada avaliação muscular será uma determinante
ções traqueais freqüentes. Poderão ser utilizados recursos na carga de trabalho a ser imposta: o paciente precisa de
manuais ou mecânicos: repouso muscular, consegue realizar exercícios ativos ou
• Manuais – ativam reflexamente a tosse por estimula- necessita de exercícios com carga (treinamento).
ção manual da traquéia, vibração sobre certas áreas do A associação de exercícios respiratórios com sistemas
tórax, uso de nebulização ultra-sônica, instilação de líqui- geradores de pressão positiva (CPAP), que causam aumen-
dos através da via aérea artificial, produção de fluxos tur- to da resistência expiratória (EPAP) e variações na posição
bulentos. do corpo, parece ser benéfica.
• Mecânicos – aumentam o volume inspirado, a CRF e
o fluxo expiratório pela utilização de todas as suas variá- TREINAMENTO DE MÚSCULOS RESPIRATÓRIOS
veis de pressão positiva (PEEP, RPPI, AMBU, CPAP), aumen-
to do volume corrente, in-exsufflator, compressão toráci- Tem sido proposto para utilização em pacientes de difí-
ca brusca (manual ou auxiliada pelo VTN), compressão to- cil desmame, cuja única causa de manutenção no ventila-
rácica (ou tosse manualmente assistida) associada a mu- dor mecânico seja fraqueza muscular.
danças nos parâmetros do respirador (aumento do volu- Adotaremos, como sugestão para este consenso, o pro-
me corrente, aumento e diminuição dos níveis de PEEP, tocolo proposto por fisioterapeutas, sendo, de nosso co-
relação I:E invertida). nhecimento, a única citação na literatura nacional:
• Carga: 40% da PImáx
DRENAGEM POSTURAL • Freqüência: três vezes ao dia
• Duração: iniciar com 5 min., progredindo até 20 min.
Podem ser adotadas diferentes posições com o pacien- por sessão
te em ventilação mecânica, variando desde mudanças de • Resistor: carga limiar
decúbito até a utilização da posição sentado fora do leito. Há sugestões de alterações no ventilador, como:
As diferentes posições visam a drenagem de secreções • Imposição de carga através da alteração na sensibili-
brônquicas, através da adoção de posturas específicas, de dade, dificultando a ciclagem
acordo com o comprometimento pulmonar e a melhora • Associação ou não de ventilação mandatória intermi-
das trocas gasosas e da escolha de posturas que propici- tente, com sobrecarga de trabalho nos momentos de res-
em melhor relação V’/Q’. Podem ainda melhorar a fun- piração espontânea
ção muscular e favorecer a resistência à excursão diafrag- • Variações bruscas, programadas, dos níveis de pres-
mática e a diminuição da sensação de dispnéia. são de suporte, utilizando sobrecarga com níveis menores
do que o necessário
TERAPIA DE EXPANSÃO PULMONAR • Utilização de períodos de sobrecarga com ventilação
Aumento ou manutenção do volume pulmonar. É reali- espontânea em tubo em T ou tubo em T associado a au-
zada através da utilização de exercícios respiratórios ati- mento de resistência expiratória.
vos ou associados a equipamentos com pressão positiva,
como CPAP, EPAP, RPPI.
MOBILIZAÇÃO
Poderá ser obtido através de alterações dos parâmetros A freqüente mudança de posições no paciente acama-
do ventilador, como aumento do volume corrente, inver- do objetiva melhorar a perfusão dos tecidos, a ventilação
são da relação insp/exp., variação do nível de PEEP. e remoção de secreções.
Outra grande preocupação é com a manutenção da fun-
EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS ção muscular e circulatória global dos pacientes em venti-
Ensinam o paciente a controlar a respiração, aumentar lação mecânica, que utiliza recursos como exercícios pas-
a coordenação e eficiência dos músculos respiratórios, sivos e ativos globais, até a deambulação no ventilador
mobilizar a caixa torácica e treinar técnicas de relaxamen- mecânico, a fim de mantê-los nas melhores condições pos-
to. síveis, na tentativa de não somar outras complicações e
Realizam-se exercícios na sua forma ativa, com a orien- prejuízos aos diversos sistemas, favorecendo sua tolerân-
tação e o auxílio do paciente na execução. cia às atividades.

J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 37


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

11. Suporte ventilatório na síndrome da


angústia respiratória aguda (SARA)
Coordenadores: MARCELO BRITTO PASSOS AMATO, CARMEN SÍLVIA VALENTE BARBAS
Relatora: MARISTELA MACHADO
Colaboradores: CARLOS ROBERTO RIBEIRO DE CARVALHO, EDUARDO CORRÊA MEYER, BRUNO DO VALLE PINHEIRO,
MARISA D’AGOSTINO DIAS, CARLOS EDUARDO POMPILHO, LEA FIALKOW, JOSÉ LUÍS GOMES DO AMARAL, FLÁVIA R. MACHA-
DO, EDUARDO JOSÉ TROSTER , HELOÍSA BACARRO ROSETI, JOSÉ LUIZ VALIATI, JOSÉ OTÁVIO AULER J ÚNIOR, ROSA
GOLDSTEIN,
SÉRGIO RIBEIRO, SILVIA RIOS, WETHER BRUNOW DE CARVALHO

Discutidores: ANTÔNIO JORGE BARRETO, ANDRÉ GUANAES, so alveolar maciço, indicando que um recrutamento al-
MARCONI CHAVES, ROSEMBERT MAMEDE veolar importante pode ser obtido com o auxílio do PEEP.
A síndrome da angústia respiratória aguda (SARA) ca- O Pflex-inf corresponde ao valor de pressão, onde a tan-
racteriza-se por uma alteração da permeabilidade da mem- gente da curva aumenta de forma súbita, significando que
brana alvéolo-capilar, com extravasamento de plasma para uma grande população de alvéolos é recrutada neste mo-
o interior dos alvéolos e conseqüente formação de edema mento, com conseqüente aumento da complacência pul-
pulmonar não-hidrostático. De acordo com a última reu- monar.
nião de consenso européia-americana, o seu diagnóstico Já na fase tardia da SARA nota-se uma diminuição da
deverá ser feito segundo os seguintes critérios: complacência e da histerese na curva P-V, com ausência
1) Lesão pulmonar aguda, de um Pflex-inf bem definido. Esta mudança traduz a pre-
2) PaO2/FIO2 < 200, sença de um processo fibrótico intenso, com pouco co-
3) Infiltrado pulmonar bilateral à radiografia de tórax, e lapso alveolar, indicando um benefício limitado ou mesmo
4) Pressão capilar pulmonar < 18mmHg e/ou ecocar-
diograma sem sinais de disfunção do ventrículo esquerdo.
Curva P-V
A SARA está associada a variadas etiologias, mas pode-
mos classificá-la, simplificadamente, de acordo com o me- 2.000 FC
canismo de lesão da membrana alvéolo-capilar: Pflex-sup
A) Lesões diretas (via epitelial) ou mais recentemen- 1.500
te denominadas de SARA primária: aspiração, infecção
pulmonar difusa, quase-afogamento, inalação de gases 1.000
tóxicos, contusão pulmonar. Pflex-inf
B) Lesões indiretas (via endotelial) ou mais recente- 500
mente intitulada SARA secundária: síndrome séptica, po- PRESSÃO ( cmH2O)
litrauma, politransfusão, pancreatite, embolia gordurosa, 0
CIVD, intoxicação por drogas, pós-circulação extracorpó- 0 10 20 30 40 50

rea, etc. Plot da curva P-V Pflex da curva P-V F C: Curva obtida com
A gravidade da SARA nos diversos pacientes tem sido tradicional tradicional fluxo contínuo

avaliada através de vários escores de gravidade como APA- Curva pressão x volume pulmonar na fase precoce da SARA
CHE II/III , SAPS I/II, “Lung Injury Score” (ou escore de Mur-
ray), ou ainda, “Ventilator Score”, úteis para estratificar e Figura 11.1 – Curva P-V típica na fase precoce da SARA. Esta curva
comparar grupos de pacientes. Apesar dos relatos iniciais foi obtida através de dois métodos diferentes e sobrepostos na figu-
otimistas dos autores destes escores, temos observado que ra. A curva foi obtida através do uso de um fluxo contínuo de 1L/
min e os pontos esparsos são o resultado de diversos platôs de
o parâmetro mais importante para a definição do prog-
pressões inspiratórias, plotados contra seus volumes correntes cor-
nóstico da SARA, em nosso meio, continua sendo o APA- respondentes.
CHE II. Estudos de análise de mortalidade na SARA mos-
tram índices de mortalidade variando de 36 a 70%, de ausente do uso do PEEP nesta situação (Figura 11.1).
acordo com a série estudada. Por outro lado, podemos também notar um segundo
Nas fases iniciais da doença, comumente observamos ponto de inflexão nas curvas P-V (ponto de inflexão supe-
um aumento da histerese e uma inflexão na parte inspira- rior – Pflex-sup), representando os limites de distensão
tória da curva (ponto de inflexão inferior – Pflex-inf). pulmonar. O Pflex-sup corresponde ao valor de pressão
Ambos os fenômenos sinalizam a presença de um colap-
S 38 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

onde a tangente da curva P-V começa a diminuir signifi- alternativas para a escolha do PEEP: após recrutamento
cativamente, indicando que as propriedades elásticas do máximo, decrescer progressivamente o valor da PEEP a
pulmão não são mais respeitadas, havendo predominân- partir de 25cmH2O, observando-se a oxigenação arterial
cia da hiperdistensão de estruturas e conseqüente dimi- pela oximetria de pulso, deixando no menor valor que
nuição da complacência pulmonar. propicie uma SaO2 > 90%, ou ainda, a técnica da melhor
Assim, baseados numa série grande de evidências (vá- complacência, desde que respeitadas algumas condições:
rios estudos animais, estudos de tomografia computadori- • utilizar volumes correntes de 4ml/kg (o uso de volu-
zada de tórax em pacientes com SARA e estudos de curva mes correntes maiores levará a uma subestimação do va-
P-V estática à beira do leito), a lógica toda aponta para a lor de Pflex-inf).
manutenção de valores de PEEP acima de Pflex-inf na SARA, • certificar-se de que não há vazamentos no circuito.
ventilando-se estes pacientes na área de melhor compla- Observar se o platô de pressão inspiratória se mantém
cência pulmonar, isto é, na estreita faixa entre Pflex-inf e estável (pelo menos 1,5 segundo de platô).
Pflex-sup. A manutenção de pressões nesta pequena fai- • elevar o PEEP de 2 em 2cmH2O e escolher o último
xa nem sempre é fácil, exigindo o uso de volumes corren- valor de PEEP antes da complacência estática começar a cair.
tes pequenos (menores que 6ml/kg), de forma a não ul- • a queda da complacência estática já no “primeiro pas-
trapassar o segundo ponto de inflexão da curva P-V. Esta so” (ao tentar utilizar um PEEP de 2cmH2O) sinaliza duas
estratégia representaria a manutenção dos alvéolos recru- possibilidades: vazamento nas conexões (o mais freqüen-
tados e abertos durante todo o ciclo respiratório, numa te), ou presença de extensa fibrose pulmonar sobrepujan-
condição de máximo “repouso” possível, evitando-se tan- do qualquer recrutamento alveolar (o que realmente signi-
to a hiperdistensão como o colapso alveolar com suas in- fica que o PEEP não deve ser recomendado).
desejáveis forças de “cisalhamento”. 2) Volume corrente de 4 a 7ml/kg nunca ultrapassan-
O emprego desta estratégia ventilatória (“repouso al- do 35cmH2O de pressão de platô. Se a pressão de platô
veolar”) normalmente se acompanha de um aumento dos estiver acima de 35cmH2O, deve-se diminuir o volume
níveis do CO2 no sangue arterial e venoso, uma ocorrên- corrente até 4ml/kg.
cia a que damos o nome de “hipercapnia permissiva”. 3) Freqüência respiratória entre 12 e 20 ciclos/min,
Deve-se lembrar que aumentos da PaCO2 resultam numa evitando-se volume minuto maior do que 7,5L/min (lem-
diminuição da PaO2 somente quando estamos respirando brar que freqüências elevadas também podem potenciali-
em ar ambiente. Assim que a FIO2 aumenta, o efeito des- zar a lesão alveolar).
ta elevação da PaCO2 sobre a PaO2 torna-se menos im- 4) Utilizar modos ventilatórios que “minimizem” a pres-
portante e até desprezível clinicamente. Mais ainda, ape- são nas vias aéreas, como pressão controlada (PCV), pres-
sar da alta PaCO2 desviar a curva de dissociação da hemo- são de suporte (PSV), ventilação com pressão de suporte e
globina para a direita (diminuindo o conteúdo arterial de volume garantido (VAPSV) ou, ainda, volume controlado
oxigênio), este efeito é normalmente “supercompensado” (VCV) com fluxo descendente. Dar preferência à modalidade
por um aumento do tônus simpático e do débito cardíaco, que tiver maior familiaridade e segurança em seu serviço.
observando-se, na verdade, um aumento do transporte de 5) Manter os níveis de PaCO2 entre 40 e 80mmHg,
oxigênio aos tecidos. Observa-se sistematicamente um tentando-se manter agudamente os níveis de pH acima
aumento da pressão venosa central de oxigênio associado de 7,20. Níveis mais baixos de pH podem ser freqüente-
à hipercarbia permissiva. mente tolerados, mas devem ser julgados caso a caso,
conforme os riscos hemodinâmicos. Especial cuidado deve
SUGESTÕES VENTILATÓRIAS PARA OS PACIENTES
ser tomado nas seguintes situações:
PORTADORES DE SARA • história de PCR recente (pelo risco de edema cere-
1) A PEEP deverá ser escolhida através da análise da bral).
relação pressão x volume (PEEP x complacência ou PEEP • condições que favoreçam a presença associada de
crescentes ou decrescentes avaliando-se a oximetria de anóxia cerebral.
pulso) e ajustado em 2cmH2O acima do primeiro ponto • presença de coronariopatias e/ou cardiomiopatias
de inflexão (Pflex-inf); se o ponto de inflexão não for en- (lembrar que o trabalho cardíaco irá aumentar durante a
contrado, deverá ser usado um PEEP “empírico” de, no hipercapnia permissiva, devido à intensa estimulação sim-
mínimo, 10cmH2O e em média 16cmH2O para recruta- pática).
mento alveolar das regiões dependentes dos pulmões. Estas • hipertensão intracraniana (recomendamos a monito-
recomendações são válidas para a fase aguda da SARA rização da PIC nesta condição).
(menos de 1 semana de evolução). Quando se fizer necessário, para a minimização dos
Em lugares que não contarem com a possibilidade de riscos hemodinâmicos da hipercapnia permissiva (lembra-
realização da curva P-V à beira do leito, sugerimos como mos que esta condição é rara no paciente jovem com
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 39
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

SARA), sugerimos: 1 minuto ou mais) para abertura dos alvéolos colabados e


• infusão lenta de bicarbonato de sódio (150mEq no melhora da PaO2. Estas manobras de recrutamento pode-
decorrer de 3 a 6 horas – o que poderia acarretar um rão ser realizadas, porém, são necessários estudos contro-
aumento de apenas 5% na PaCO2), numa tentativa de lados e prospectivos comparando estas diversas técnicas
trabalhar com uma acidose respiratória parcialmente com- para sabermos escolher a melhor opção entre elas.
pensada (como num paciente com hipercarbia crônica), O emprego de NO (óxido nítrico) deve ser visto apenas
minimizando-se os efeitos hemodinâmicos. como uma alternativa atraente para melhorar as trocas
• rápida instalação de hipercapnia permissiva até um gasosas em situações especiais necessitando de alta FIO2.
pH de 7,20, com progressão lenta e gradual a partir de O seu emprego rotineiro requer futuras investigações, uma
então até um pH de 7,0, conforme a tolerância do pa- vez que ainda não se demonstrou qualquer efeito benéfico
ciente. sobre o processo fisiopatológico de base na SARA e nem
6) Se os níveis de PaCO2 estiverem acima de 80mmHg, sobre a sobrevida.
ou naqueles pacientes com contra-indicação relativa para Durante a inversão da relação I:E, lembramos a neces-
os valores altos de CO2 (hipertensão intracraniana, coro- sidade de uma sedação (normalmente com opióides asso-
nariopatia), pode-se tentar a instalação de algum sistema ciados a benzodiazepínicos), tentando-se minimizar as
auxiliar para remoção de CO2 como a insuflação de gás doses de agentes paralisantes.
intratraqueal – tracheal gas insuflation – TGI). O uso des- 8) Se houver necessidade de repouso alveolar absoluto
ta técnica só deverá ser tentado em lugares que tiverem e este não estiver sendo conseguido devido aos valores
“familiaridade” com o método, devido aos riscos de hi- elevados de PaCO2 (SARA grave ou fístula broncopleural
perinsuflação pulmonar e ressecamento de secreções. Ao ativa) e o paciente tiver bom prognóstico, poderá ainda
final deste módulo apresentamos o consenso sobre este ser tentada a instalação da circulação extracorpórea veno-
método alternativo. venosa com remoção de CO2 (ECMO).
7) Se houver necessidade de uma FIO2 acima de 50% 9) Nos casos dos pacientes que necessitarem de venti-
(apesar do valor de PEEP ajustado acima de Pflex-inf), deve- lação com pressão controlada e relação I:E invertida, a
se tentar a inversão da relação I:E (iniciar com 1:1, au- tentativa de desinversão da relação I:E só deverá ter início
mentando progressivamente, se for o caso, para 2:1 ou quando o doente estiver com FIO2 < 50% (sinalizando
3:1), sempre no modo pressão controlada, até atingir uma diminuição do grau de lesão pulmonar). Quando a
oxigenação adequada. Esta manobra só deverá ser reali- relação I:E estiver 1:2 e o paciente estiver tolerando uma
zada com monitorização respiratória (monitorização da FIO2 < 50% com PaO2 > 80mmHg, ele poderá ser colo-
PEEP intrínseca) e hemodinâmica. Tem-se demonstrado cado em ventilação com pressão de suporte, VAPSV ou
que o prolongamento do tempo inspiratório pode levar a SIMV , associada ao emprego de CPAP.
um recrutamento alveolar mais efetivo do que aquele ob- 10) Logo após o paciente ser colocado em ventilação
tido com as modalidades ventilatórias convencionais (mes- com pressão de suporte (ou no SIMV), o PEEP/CPAP deverá
mo quando associadas ao emprego de altos valores de ser elevado em 1-2cmH2O (para não haver uma queda
PEEP), obtendo-se ainda uma redução significativa do es- acentuada da pressão média das vias aéreas) e a pressão
paço morto fisiológico (o que permite comumente uma de suporte poderá ser diminuída gradativamente (no caso
minimização do volume minuto). Entretanto, os riscos ine- do SIMV, a freqüência mandatória poderá ser reduzida gra-
rentes a esta manobra (principalmente hemodinâmicos), dativamente), de acordo com a constante reavaliação clí-
limitam o seu uso a situações de grave dano pulmonar, nica e utilizando-se, como parâmetro principal, a relação
como aquelas sinalizadas pela necessidade de emprego fR/VT (VT em litros) observada enquanto o paciente esti-
de uma FIO2 > 50%. ver ligado ao ventilador. Esta relação (válida apenas para
Como alternativas ao emprego desta técnica, lembrarí- o período espontâneo do SIMV, obviamente) deverá ficar
amos o emprego de técnicas de mudança de decúbito (po- abaixo de 80 durante todo o processo de desmame. Valo-
sição lateral extrema em processos unilaterais, ou posi- res de fR/VT igual ou maiores que 80 implicarão um re-
ção prona ou ventral em processos bilaterais), que devem trocesso dos níveis de pressão de suporte (ou da freqüên-
ser experimentadas antes da inversão da relação I:E ape- cia do SIMV), de preferência voltando-se temporariamente
nas naqueles locais onde a enfermagem estiver muito aten- a um pouco mais que o necessário (3-5cmH2O acima do
ta aos riscos potenciais de desconexão. Além destas téc- mínimo tolerado pelo paciente), de modo a permitir um
nicas, podem ser tentados o aumento dos valores de PEEP repouso muscular até voltar aos mínimos níveis toleráveis.
e/ou, ainda, as manobras de recrutamento alveolar (exem- Outras condições clínicas às quais devemos estar atentos
plo: CPAP de 40cmH2O por 40 segundos ou aumento da para indicar um retrocesso no desmame:
PEEP para 30cmH2O com pressão controlada até a pres- • SaO2 < 90%
são inspiratória máxima de 40 ou 45cmH2O por cerca de • Instabilidade cardiovascular
S 40 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

• Confusão mental e agitação 2cm) da carina.


• Uso de musculatura acessória muito evidente. Na expiração, a TGI remove CO2, sobretudo através da
Lembramos que um certo nível de hipercapnia (até lavagem das vias aéreas proximais. Em outras palavras,
60mmHg) durante o desmame pode ser tolerado, desde reduzindo o espaço morto anatômico. Antecipa-se, por-
que o paciente esteja confortável. tanto, que em condições onde o espaço morto pouco con-
11) Recomendamos enfaticamente a postergação da tribui para o espaço morto total (predominância de espa-
redução do PEEP durante todo o processo de retirada da ço morto alveolar), a efetividade desta técnica é menor.
ventilação mecânica. A estratégia recomendada seria a Ainda que alguns autores tenham usado fluxos de 15L/
de redução inicial dos valores de pressão suporte (ou da min, a maioria dos pesquisadores administrou TGI em flu-
freqüência do SIMV) e, somente após alcançado um valor xos entre 2 e 6L/min.
mínimo (ao redor de 8-10cmH2O de pressão suporte, ou Há poucos sistemas comercialmente disponíveis para
6-8 ventilações mandatórias por minuto, no SIMV – am- TGI. Na maioria das publicações há sistemas artesanais,
bas as situações sendo indicativas de que as propriedades inadequados para emprego clínico rotineiro. Este aspecto
mecânicas do sistema respiratório já estão se normalizan- deve ser salientado, visto ser a associação da TGI com a
do) é que se procederia a uma redução gradual do PEEP ventilação convencional situação complexa, cercada de
(de 2 em 2cmH2O, numa velocidade máxima de retirada potenciais complicações.
de 6cmH2O a cada 24 horas). Embora, à primeira vista, a TGI pareça técnica bastante
Não recomendamos o desmame em tubo T na SARA. simples, a interação desta intervenção com a ventilação
O uso de tubo T nesta situação costuma causar uma gran- convencional oferece aspectos de grande complexidade.
de perda do recrutamento alveolar conseguido durante a De início, à monitorização, existirá divergência entre VT
ventilação mandatória, com conseqüente hipoxemia. inspirado e exalado, o que impede, ou dificulta, a detec-
12) A partir do momento que o paciente alcança um ção de eventuais vazamentos. O volume corrente real será
nível de PEEP ≤ 10cmH2O, não há mais necessidade de superior ao preestabelecido. Este inconveniente pode ser
intervenções ativas para a manutenção de um volume compensado pela redução proporcional do VT ajustado
corrente < 6ml/kg. Normalmente, volumes correntes um no ventilador. Caso tais reajustes não sejam contempla-
pouco mais altos (de 6 a 8ml/kg) podem ser obtidos neste dos, as pressões inspiratórias serão, correspondentemen-
momento, de acordo com o esforço espontâneo do pa- te, maiores.
ciente. Desde que os limites de pressão continuem a ser
O fluxo expiratório da TGI obscurece o diagnóstico de
respeitados, um pequeno aumento do volume corrente
auto-PEEP através da curva de fluxo-tempo. Na realidade,
pode ser agora bem tolerado por um pulmão já em me-
a TGI pode ser vista como PEEP adicional, e esse será um
lhores condições, facilitando o processo de desmame.
dos mecanismos através dos quais ela aumentará a oxige-
13) A monitorização hemodinâmica deverá ser indica-
nação. A ciclagem pelo paciente fica obviamente dificul-
da para todos os pacientes em que se utilizar hipercapnia
tada com a TGI.
permissiva, ou inversão da relação I:E, ou ainda o uso de
PEEP acima de 10cmH2O. Na impossibilidade do cateter,
A FIO2 eleva-se quando, na TGI, for administrado O2
pelo menos uma ecocardiografia deveria ser indicada, puro. É, porém, viável ajustar, para a TGI, a mesma FIO2
analisando-se concomitantemente as variáveis PVC, a fre- adotada para o ventilador.
qüência cardíaca e a pressão venosa de oxigênio extraída Tem-se demonstrado que a TGI resulta em redução da
do cateter de PVC. temperatura das vias aéreas centrais. A umidificação do
fluxo da TGI é dificultada pelas elevadas pressões retrógra-
INSUFLAÇÃO TRAQUEAL DE GÁS das geradas para produzir, nos cateteres intratraqueais,
A insuflação traqueal de gás (TGI) surge na literatura os fluxos usados em TGI.
médica pertinente à assistência respiratória sugerida para Potencialmente efetiva, porém associada a problemas
facilitar a remoção de gás carbônico, melhorar a oxigena- complexos também possivelmente associados a compli-
ção e, eventualmente, reduzir o volume corrente (como cações relevantes, a TGI não pode ser ainda recomendada
tentativa de minimizar o risco de barotrauma). na rotina do tratamento da hipoxemia aguda grave asso-
A TGI pode ocupar ambas as fases do ciclo respiratório ciada a ALI/SARA. Isso não significa que, em caráter ex-
ou uma delas. Ainda na ins- ou expiração, a TGI pode ser cepcional e em investigação clínica, esta alternativa não
realizada apenas em determinados momentos de cada fase. possa ser utilizada nas situações refratárias ao tratamento
A insuflação na fase inspiratória resulta em pressões mais convencional.
elevadas nas vias aéreas. Assim, tem-se preferido aplicar Aguarda-se, portanto, geração de suficiente experiên-
a TGI na fase expiratória. A eficiência é maior quando a cia acumulada a partir de protocolos experimentais, infor-
extremidade do cateter se encontra próxima (cerca de 1 a mações que permitam definir as características dos equi-
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II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

pamentos de TGI e normas para sua utilização.

12. Ventilação mecânica no trauma


Coordenadora: MARISA D’AGOSTINHO DIAS
Relator: SYDNEY AGARENO
Colaboradores: CELSO BERNINI, MARCOS STAVALE

Discutidores: JOSÉ MÁRIO TELES, JUVENAL NASSRI, zação de exames, etc.


MARISTELA MACHADO, PAULO ANDRÉ JESUÍNO, CLÁUDIO • Cuidados especiais com hiperextensão ou mo-
Z OLLINGER vimentos laterais do pescoço durante a intubação
A categoria “Trauma” engloba todos os pacientes víti- enquanto não tiver sido totalmente descartada le-
mas de acidentes (colisões, atropelamentos, quedas, etc.), são cervical. Considerar intubação por via nasal ou com
assim como vítimas de violência interpessoal (feridos por auxílio de fibroscopia – considerar cricotiroidostomia ou
arma de fogo ou arma branca) e os queimados. Este últi- ventilação de alta freqüência através de agulha inserida na
mo grupo pode apresentar problemas respiratórios do tipo cricóide. Lembrar sempre que o paciente com trauma de
SARA que não serão discutidos neste trabalho. Pela sua crânio tem também trauma de coluna até que se prove o
importância e peculiaridade, serão objeto deste consenso contrário. O paciente deve ser mantido com colar cervi-
os grupos: trauma de crânio e trauma de tórax. cal, o que pode dificultar a intubação por via orotraqueal.
VENTILAÇÃO MECÂNICA NO PACIENTE COM • Instalar sempre a ventilação mecânica se o pa-
ciente estiver intubado. Não deixar em ventilação
TRAUMA DE CRÂNIO
espontânea. A finalidade da intubação é a de permitir a
A ventilação mecânica nestes pacientes está diretamente ventilação mecânica. O trauma de crânio provoca muitas
relacionada com a manutenção da vida e o não agrava- vezes distúrbios de ritmo respiratório, podendo causar re-
mento da lesão cerebral, o “segundo trauma”, que é cau- tenção ou queda exagerada de CO2 e, portanto, alcalose,
sado por hipóxia e/ou hipercarbia, ou o “terceiro trau- acidose e/ou hipóxia. É necessária a ventilação mecânica
ma”, que ocorre após a hospitalização, quando, por op- no pós-trauma imediato e nos primeiros dias para que se
ções inadequadas de assistência ventilatória, surgem pi- possam regular os gases sanguíneos.
cos de elevação de PIC agravando o “inchaço” cerebral. • Evitar modos de ventilação que possam pro-
As decisões de assistência ventilatória assumidas desde o duzir elevação da pressão de vias aéreas, se não
momento do atendimento inicial são uma oportunidade houver medida direta da PIC. A elevação da pressão
única para que se evitem seqüelas posteriores. A grande das vias aéreas pode ou não ser transmitida ao sistema
maioria dos traumas de crânio não provoca alterações intracraniano. Havendo a medida direta da PIC pode-se
funcionais pulmonares, mas apenas distúrbios mecânicos avaliar melhor. Uma das indicações, para a medida de
e de consciência. As premissas abaixo servem de guia para PIC, portanto, é em pacientes que, por insuficiência respi-
as tomadas de decisão: ratória, necessitam modos de ventilação específicos. Lem-
• O trauma de crânio é prioritário. Havendo con- brar que o posicionamento no leito (elevação da cabecei-
dutas conflitantes, deve prevalecer aquela que visa ra) é um fator fundamental no controle da PIC.
a proteger as condições do SNC. Estas condutas con- • Não permitir movimentos parasitas ou desa-
flitantes podem surgir quando existem outras lesões além justes ao respirador. Usar sedação prolongada e/
do TCE ou quando o paciente apresenta insuficiência res- ou curarização para manter a ventilação. Discutir
piratória, como em aspiração de vômitos, por exemplo. sempre as drogas com o neurocirurgião. A agitação
• Indicar intubação e assistência ventilatória me- deve ser controlada porque provoca aumento da pressão
cânica precoce (ou imediata) e com liberalidade, intratorácica e dificulta a regulagem do respirador. Pode
exceto se o paciente estiver lúcido e for permane- ser necessária sedação profunda ou até curarização, que
cer sob vigilância. A indicação destas medidas inde- devem ser feitas sempre em comum acordo com o neuro-
pende da função pulmonar. A finalidade é oferecer as logista, pois algumas vezes este pode prescrever algum
melhores condições de proteção do SNC. tipo especial de droga (por exemplo: barbitúrico) com efeito
• Indicar intubação imediata em pacientes com sedativo para baixar a PIC. Lembrar que para alguns pro-
distúrbio de consciência já instalado (Glasgow ≤ cedimentos – aspiração, banho, mudança de decúbito –
10) ou que estejam piorando, ou que necessitarem pode ser necessária uma dose adicional de sedativo.
de sedação por qualquer motivo: agitação, reali- • Minimizar as manobras fisioterápicas, evitan-
S 42 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

do manipulações intensas, até sair da fase aguda e Em vista da alteração de consciência e/ou sedação, o pa-
haver estabilidade da PIC. A maioria das manobras ciente necessita de mais monitorização do que habitual-
fisioterápicas respiratórias pode provocar aumento da mente.
pressão intratorácica e da PIC como conseqüência. Deve- • Traqueostomia precoce se for esperado coma
se reduzir toda manipulação ao mínimo indispensável. ou comprometimento neurológico prolongado. A
• Indicar intubação imediata nos pacientes que longo prazo, a traqueostomia permite mais facilmente
serão transportados para outros hospitais ou para cuidados das vias aéreas do que a intubação. Nos trauma-
outros locais dentro do próprio hospital para exa- tizados de crânio graves, pode-se realizar traqueostomia
mes ou outras providências. já no 5º dia, evitando-se complicações decorrentes de in-
• Normo ou hiperventilação leve (PaCO2 entre tubação prolongada e facilitando-se os cuidados.
30 e 35mmHg) associada a outras medidas de con-
trole da PIC, até que se possa realizar uma tomo- VENTILAÇÃO MECÂNICA NO PACIENTE COM
grafia. A PaO2 deve ser mantida entre 80 e 120 TRAUMA DE TÓRAX
mmHg e a saturação periférica acima de 95% pelo
ajuste de FIO2. A hiperventilação é um eficiente meio Os traumas de tórax fechados podem atingir a parede,
de reduzir a PIC e pode ser medida salvadora para muitos a pleura e os pulmões, com maior ou menor gravidade,
pacientes. Entretanto, pode também provocar hipofluxo enquanto os traumas perfurantes sempre atingem os pul-
cerebral por vasoconstricção. É discutível se a hiperventi- mões. Sempre se instalam alterações mecânicas devido à
lação pode ser aplicada indistintamente para qualquer dor e às lesões de parede. Entretanto, as alterações fun-
paciente devido às variações individuais e aos tipos de cionais são variáveis de acordo com o tipo de lesão, reser-
lesão. O ideal é o emprego de medida direta da PIC e/ou va fisiológica do paciente, idade e outros fatores. Consi-
de tomografias seriadas. De qualquer forma, as variações dera-se que, no trauma de tórax, a assistência ventilatória
de CO2 devem ser feitas gradualmente e nunca se deve mecânica não é desejável e que deve ser aceita como um
permitir sua elevação acima do normal. mal necessário se for inevitável, pois a pressão positiva
• Considerar gastrostomia endoscópica em pa- pode agravar as fístulas broncopleurais e outras perdas de
cientes nos quais se espera coma prolongado. A ar.
nutrição enteral através de sondas nasogástricas pode tra- De modo geral, o trauma de tórax isolado tem evolução
zer várias complicações a longo prazo por refluxo, aspira- favorável, desde que bem conduzido, seguindo-se as pre-
ção etc., podendo causar infecções de vias aéreas e pro- missas abaixo. Entretanto, quando associado a qualquer
blemas esofágicos. A alternativa de gastrostomia por via outro trauma (crânio, abdome ou fraturas), apresenta muito
endoscópica tem se mostrado muito eficiente. maior morbidade e mortalidade. As orientações, em qual-
• Iniciar desmame apenas após o 5º dia, desde quer das duas situações, são as mesmas, visando basica-
que já se tenha ultrapassado o pico do “inchaço” mente impedir que se instalem ou se agravem lesões pul-
cerebral, utilizando a gasometria e a tomografia monares.
como critérios e não o quadro clínico. Logo após o 1) Indicar assistência ventilatória mecânica pelo
trauma, o paciente pode estar prostrado e apático. Sub- grau de alteração funcional. Problemas mecânicos,
metido à VM, pode apresentar grande melhora, passando tais como afundamento de tórax, respiração para-
a movimentar-se muito ou agitando-se. Esta modificação doxal, etc., não obrigam necessariamente a venti-
do quadro deve ser avaliada com cuidado, pois pode ha- lação mecânica. Usar como critério PO2/FIO2 < 300 ou
ver grande piora quando se suspender a ventilação, devi- PaO2 < 60mmHg em ar ambiente ou saturação periférica
do à retenção de CO2 ou progressão do “inchaço” cere- < 90%. Na presença de alguma destas alterações, o pa-
bral. Após o 5º dia a situação geralmente se estabiliza e a ciente necessitará de ventilação artificial por mais de 48
suspensão da ventilação mecânica pode ser feita sem pre- horas. Havendo dúvida, ou no caso de lesões associadas,
judicar o paciente. Quando retornam à respiração espon- é mais seguro iniciar a ventilação mecânica e suspender
tânea, estes pacientes apresentam padrões respiratórios depois do que arriscar o paciente a entrar num quadro de
alterados (bizarros) devido a disautonomias: taquipnéias, SARA.
apnéias periódicas, ventilação unilateral, hemissudorese 2) Preferir intubação orotraqueal. Considerar in-
ou sudorese profusa universal e outros. O acompanha- tubação nasotraqueal se houver suspeita de lesão
mento clínico torna-se difícil, pois a impressão é de extremo cervical, e cricotiroidostomia se houver trauma de
desconforto, parecendo haver insuficiência respiratória. face. Se for realizada cricotiroidostomia, esta deve ser
• Controle radiológico e gasométrico diários; oxí- substituída por traqueostomia convencional num prazo de
metro (e capnógrafo se disponível), nos primeiros 24 a 48 horas.
5 dias, ou até que ocorra estabilização do quadro. 3) Posicionar o paciente (decúbito) levando em
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 43
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

conta as lesões assimétricas – exclusivamente ou 9) Fisioterapia intensa, precoce e específica. A


principalmente unilaterais que causam resistências fisioterapia é importante fator no atendimento aos pa-
diferentes. Este item é de extrema importância para que cientes com trauma de tórax, devendo ser dirigida não só
se tenha êxito no tratamento, pois a distribuição do volu- à parte respiratória, como também à fisioterapia motora
me fornecido às áreas de menor resistência tende a agra- para evitar atrofias musculares e seqüelas articulares, es-
var a situação, piorando as microatelectasias que se for- caras e outras, atuando em conjunto com a equipe de
mam nos locais lesados. Considerar possibilidade de ven- enfermagem.
tilação independente com dois respiradores em casos se- 10) Preferir analgesias locais ou regionais como
lecionados. peridural ou infiltração intercostal. Usar ansiolíti-
4) Em situação de enfisema subcutâneo hiper- cos também se necessário. Lembrar que no trauma de
tensivo e/ou fístula broncopleural de alto débito: tórax existe sempre dor muito intensa e por muitos
empregar volumes correntes baixos, FR alta e téc- dias. Em alguns pacientes, a remoção da dor pode ser
nicas ventilatórias que propiciem uma menor pres- suficiente para melhorar o padrão respiratório e até evi-
são média de vias aéreas (podendo em situações tar a intubação. Nos pacientes que já estão sob ventilação
especiais zerar o valor da PEEP). Tentar manter fora artificial, podem-se usar opiáceos liberalmente. Em fase
do respirador. Discutir possibilidade de cirurgia de desmame é muito útil a analgesia loco-regional.
com cirurgião torácico. No enfisema hipertensivo existe 11) Observar drenos de tórax. Evitar removê-
fuga de ar para o subcutâneo, de tal forma que o paciente los durante a VM. Indicar cirurgia (toracotomia) se
não fica bem ventilado e cria-se uma dificuldade cada vez houver hemorragia contínua. Antes de ser iniciada
maior, pois o ar sob alta pressão no subcutâneo impede a ventilação mecânica em pacientes com muitas fraturas,
expansibilidade torácica. Na fístula de alto débito, a mis- pode-se considerar a possibilidade de colocar dreno de
tura gasosa não se distribui no pulmão e sai pelo ponto de tórax para evitar pneumotórax hipertensivo. Pelo mesmo
menor resistência, impedindo a ventilação. Neste caso raciocínio, evita-se remover os drenos antes da suspensão
pode ser considerada a possibilidade de ventilação inde- da VM, pois os mesmos provocam pequenas erosões da
pendente. pleura que podem romper com a pressão positiva. A saí-
5) Acompanhamento por radiografia de tórax da de sangue pelos drenos deve diminuir rapidamente após
diária até que se estabilize o quadro. Indicar tomo- as primeiras 24 horas. Caso contrário, será provavelmen-
grafia em casos selecionados. Muitas lesões podem te necessária a ligadura cirúrgica de vasos.
se manifestar mais tardiamente depois da internação na 12) Utilizar modos ventilatórios com que a equi-
UTI. Nas imagens obtidas, deve-se estar atento para sinais pe esteja mais familiarizada. Utilizando-se modos
que possam sugerir ruptura de vasos, hérnias diafragmáti- ciclados a volume ou limitados a pressão. Devem-
cas, etc. É importante que se levem em conta os mecanis- se levar em conta que, na maioria das vezes, a insuficiên-
mos de trauma, trajetos de ferimentos, etc. cia respiratória resulta de alterações mecânicas que pro-
vocam atelectasia progressiva nas áreas lesadas. Devem-
6) No aporte nutricional evitar hiperalimentação,
se evitar pressões muito elevadas, pelo risco de barotrau-
principalmente com sobrecarga de hidratos de car-
ma e, simultaneamente, garantir o fornecimento de volu-
bono para reduzir a geração de CO2, dificultando
me corrente suficiente.
o desmame. Assim que se estabilizarem os pacientes,
13) Instalar cateter de Swan-Ganz se houver
deve-se iniciar o aporte nutricional para compensar per-
comprometimento hemodinâmico associado ou se
das energéticas. Principalmente se for empregada NPP,
houver alteração radiológica intensa, associada à
deve-se atentar para o detalhe da fonte calórica com pou-
insuficiência respiratória, em pacientes não res-
ca glicose.
ponsivos a medidas clínicas habituais. Nestas duas
7) Decidir por traqueostomia de acordo com o situações é muito útil a medida direta da pressão de arté-
caso: presença de lesões associadas, gravidade do ria pulmonar e do capilar pulmonar para fazer diagnósti-
trauma, condições técnicas de atendimento na UTI. co, instituir o tratamento e acompanhar os resultados, o
8) Desmame a qualquer momento, de acordo que só é possível com a monitorização pelo Swan-Ganz.
com a função pulmonar. Não existe tempo previsto de 14) Empregar volumes correntes de 8 a 10ml/
ventilação em trauma de tórax após seu início. Mesmo kg, tempo inspiratório mais longo ou pausa inspi-
que persistam alterações mecânicas, como respiração ratória. Empregar PEEP quando indicado. Todas es-
paradoxal e outras, o critério do desmame é funcional. tas medidas em conjunto com o posicionamento adequa-

S 44 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

do do paciente buscam ventilar melhor as áreas atelectasiadas e reduzir o shunt, equivalendo a um “tratamento
mecânico” através do respirador.

13. Complicações da ventilação mecânica


Coordenador: CID MARCOS NASCIMENTO DAVID

Colaboradores: MARISTELA MACHADO, ARTHUR VIANNA plicações. No Quadro 13.1 estão indicadas as complica-
Discutidor: JAMOCYR MOURA MARINHO ções da ventilação mecânica.
A ventilação mecânica é método efetivo e seguro para As complicações podem ser divididas em infecciosas e
melhorar a troca gasosa pulmonar quando aplicada com não infecciosas.
técnica e recursos adequados. Entretanto, o uso de altos
valores de suporte ventilatório mecânico ou métodos não
apropriados pode produzir uma série de riscos, efeitos
COMPLICAÇÕES NÃO INFECCIOSAS DA VENTILAÇÃO

adversos e complicações, que podem lesar os pulmões já MECÂNICA


insuficientes e aumentar a morbidade e a mortalidade.
POLINEUROMIOPATIA APÓS VENTILAÇÃO MECÂNICA DO
Em situações em que haja necessidade de utilizar méto-
PACIENTE GRAVE
dos e/ou parâmetros que possam produzir ou aumentar a
lesão pulmonar, devem ser procuradas alternativas de su- Os agentes bloqueadores neuromusculares não despo-
porte ventilatório para manter a troca gasosa e a oferta larizantes (BNM) são freqüentemente utilizados no ambiente
tissular de oxigênio. da terapia intensiva, com o objetivo de facilitar a ventila-
A utilização correta da ventilação mecânica, por tempo ção mecânica. Infelizmente, estes agentes podem produ-
adequado e o menos invasiva possível, minimiza estas com- zir efeitos adversos. Estudos de casos sugerem a ocorrên-

QUADRO 13.1
Complicações da ventilação mecânica

Intubação traqueal ventilação por pressão positiva


Trauma: lesões labiais, dentárias, nasais, amigdalianas. Con- Aumento da pré-carga e da pós-carga ventricular esquerda
drite da orelha durante o desmame
Paralisia da corda vocal. Intubação seletiva. Extubação não Isquemia da mucosa brônquica
programada Isquemia cerebral (alcalose respiratória acentuada)
Estenose e malacia traqueal. Rotura traqueal Embolia gasosa sistêmica e cerebral
Aspiração. Microaspiração Alterações da distribuição do fluxo sanguíneo pulmonar
Infecciosas Metabólicas
Sinusite. Traqueobronquite. Pneumonia Alcalemia e acidemia. Hipofosfatemia. Retenção de sódio e
água.
Aparelho digestivo Diminuição do fator natriurético atrial e aumento da aldoste-
Distensão gastrintestinal. Hipomotilidade gastrintestinal. rona (pressão positiva)
Disfunção pancreática Aumento da secreção de vasopressina com diminuição do
Lesão aguda da mucosa gástrica. Hemorragia. débito urinário
Redução do fluxo sanguíneo porta
Neurológicos
Compressão do duto biliar intra-hepático
Aumento da pressão intracraniana e diminuição do fluxo
Cardiovasculares sanguíneo cerebral
Diminuição do volume sistólico. Hipotensão arterial Neuromusculares
Diminuição da volemia e edema (PEEP)
Polineuromiopatia. Atrofia muscular
Diminuição da contratilidade por redução do fluxo sanguíneo Diminuição da força de contração diafragmática
coronariano (PEEP) Incoordenação muscular respiratória
Bloqueio de ramo direito. Arritmia cardíaca.
Barotrauma e volutrauma
Aneurisma da veia jugular interna (Spiro et al., 1991)
Aumento do “shunt” direito-esquerdo intracardíaco e em Enfisema intersticial pulmonar
doenças angiomatosas pulmonares Pneumotórax unilateral e bilateral. Pneumomediastino. Pneu-
moperitônio
Aumento da resistência e da pressão arterial pulmonar (volu-
me corrente e/ou PEEP elevadas) Edema pulmonar. SARA
Isquemia miocárdica silenciosa (desmame). Disfunção orgânica múltipla
Redução da pré-carga do ventrículo esquerdo durante a Aumento da pressão ocular

J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 45


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

cia de paralisia prolongada e de miopatia, associada ao vias aéreas pelo ventilador mecânico, da pressão pleural e
uso de BNM. Fatores de risco para estes efeitos adversos do volume alveolar inicial e final. A solução de continuida-
incluem a infusão contínua do BNM, a insuficiência hepáti- de entre o alvéolo e o vaso pode facilitar a passagem de
ca ou renal, o uso concomitante de medicações que pos- bactérias intra-alveolares para a circulação, produzindo
sam aumentar o bloqueio neuromuscular (corticosteróides, translocação bacteriana de origem pulmonar, à semelhança
bloqueadores do canal de cálcio e aminoglicosídeos), as da descrita através da via digestiva.
desordens eletrolíticas e ácido-básicas. As alterações devidas à ventilação mecânica podem ser
A polineuromiopatia do paciente em ventilação mecâ- conseqüentes a:
nica deve ser considerada naqueles com dificuldade de des- Efeitos diretos da pressão hidrostática e da distensão
mame. alveolar;
Na avaliação, ou diagnóstico, incluir problemas de colu- Lesões epiteliais e endoteliais com aumento da permea-
na cervical alta, nervos periféricos, junção neuromuscular bilidade microvascular;
e musculares. Podem ser necessários EMG, estudo da co- Ativação local de mediadores inflamatórios e lesão al-
luna cervical (RM), dosagem da CPK e biópsia muscular. veolar.
Os bloqueadores neuromusculares devem ser utilizados, O determinante do volutrauma parece ser mais o volu-
com extrema cautela e por tempo curto, em pacientes me inspiratório final (distensão alveolar) do que o volume
recebendo concomitantemente corticosteróides. corrente ou a capacidade residual funcional, que depende
A sedação deve ser maximizada antes do início dos BNM da PEEP. Altos volumes correntes com PEEP baixa ou alta
e a paralisia deve ser limitada ao menor período de tem- PEEP com volumes correntes moderados podem produzir
po possível. grande distensão e lesão alveolar. Experimentalmente, al-
Deve ser monitorizado o nível de bloqueio neuromuscu- tos fluxos inspiratórios podem agravar a lesão pulmonar.
lar e evitado o uso em drip de relaxantes musculares. Nos mecanismos de aumento do líquido pulmonar (ede-
ma) durante a ventilação mecânica estão envolvidos vasos
VOLUTRAUMA E BAROTRAUMA
alveolares e extra-alveolares. Nesta fisiopatologia dos va-
sos extra-alveolares está envolvida a pressão transmural
É a lesão pulmonar produzida pela ventilação mecânica conseqüente ao aumento do volume pulmonar (fenôme-
com altas pressões inspiratórias e grandes distensões al- no da interdependência), e o aumento da filtração pelos
veolares. Barotrauma refere-se a lesão pulmonar associa- vasos alveolares seria conseqüente à inativação do surfac-
da à ventilação mecânica com extravasamento de ar al- tante. O fenômeno da interdependência, cujo resultado é
veolar e responsável por enfisema intersticial, pneumo- manter expansão pulmonar mais uniforme nas unidades
mediastino, pneumotórax, pneumoperitônio e enfisema aéreas, depende da arquitetura pulmonar, onde a parede
subcutâneo. Há uma relação entre o barotrauma, a pres- externa de um alvéolo está contida na parede do seu vizi-
são inspiratória máxima (pressão de pico) e a diferença nho, de tal modo que cada estrutura exerce força de tra-
entre a pressão inspiratória máxima e a PEEP. Volutrauma ção e a recebe de estruturas adjacentes. Nos pulmões ex-
indica as lesões pulmonares associadas com repetidas dis- pandidos uniformemente, a pressão de distensão está pró-
tensões e pressurização do tórax, e inclui alterações da xima da transpulmonar, mas a expansão não uniforme
permeabilidade vascular, uma cascata de reações inflama- produz pressões de distensão diferentes e maiores do que
tórias e dano alveolar difuso. a transpulmonar, com estresse regional. Assim, vasos ex-
É importante considerar que a distribuição da ventila- tra-alveolares sofrem uma pressão com sentido intravas-
ção e da perfusão alveolar ocorre sob a influência da pa- cular para extravascular puxando a parede do vaso para
tologia broncopulmonar com importantes variações locais fora, cujas alterações são maiores do que aquelas da pres-
das resistências e complacências e da constante de tempo são pleural.
de enchimento alveolar. Pode ocorrer esgarçamento com Os principais determinantes descritos da lesão pulmo-
“fraturas” do endotélio capilar, do epitélio e da membra- nar são:
na basal, com aumento da permeabilidade microvascular, Pressão média inspiratória;
congestão, exsudação de líquidos, proteínas e sangue para Pressão de pico inspiratória;
o interstício, hemorragia intra-alveolar, formação de mem- Pressão de platô;
brana hialina e espessamento alveolar. Demonstra-se que Volume inspiratório final;
a pressão submetida aos vasos extra-alveolares pode ser PEEP elevada.
muito elevada, lesando-os e permitindo extravasamento Conclui-se que o determinante principal do edema in-
do conteúdo vascular. Da mesma maneira, a pressão em duzido pela ventilação mecânica é a distensão alveolar
alvéolos atelectasiados pode ser muito alta, pois a pressão produzida pelo volume inspiratório final conseqüente ao
a que estão submetidos depende da pressão aplicada nas grande volume corrente, à grande capacidade residual fun-
S 46 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

cional por alta PEEP ou à combinação de valores de volu- teção pulmonar e se não houver contra-indicação (acidose
mes correntes e PEEP moderada. metabólica, lesão encefálica e hipertensão intracraniana,
O uso de PEEP acima (2cmH2O) do ponto inferior de instabilidade hemodinâmica e insuficiência coronariana
inflexão deve ser indicado na SARA como uma estratégia aguda).
de proteção pulmonar. Valores acima do ponto de infle-
PEEP adequada
xão superior devem ser evitados.
PEEP de 2cmH2O acima do ponto inferior de distensão
TOXICIDADE PELO OXIGÊNIO alveolar na SARA (fase inicial).
Os efeitos fisiológicos da oxigenioterapia incluem alte- Fração inspirada de oxigênio – FIO2
rações da fisiologia normal, depressão da respiração, di- Frações inspiradas de oxigênio para manter adequada
minuição da eritropoese, diminuição do débito cardíaco, saturação arterial. Evitar FIO2 > 60% (I).
vasodilatação pulmonar e vasoconstrição sistêmica. Aumentar as variáveis de transporte de oxigênio (he-
Efeitos secundários podem ocorrer, como atelectasia de moglobina e DC) quando a SaO2 estiver baixa.
absorção com altas frações inspiradas de O2, alteração da
formação de surfactante e efeitos citotóxicos e traqueo- Usar métodos assistidos de suporte ventilatório
bronquite. Entre os efeitos tóxicos incluem-se a traqueo- precocemente
bronquite, a SARA e a displasia broncopulmonar. • Redução da invasividade do procedimento e início pre-
A toxicidade pelo oxigênio é descrita principalmente coce da ventilação espontânea
com FIO2 acima de 60%. • Mudança freqüente de decúbito-decúbito prono
• Treinamento adequado da equipe assistencial
ESTRATÉGIAS PARA EVITAR AS COMPLICAÇÕES
ASSOCIADAS À VENTILAÇÃO MECÂNICA
COMPLICAÇÕES INFECCIOSAS DA VENTILAÇÃO
MECÂNICA
Mantenha adequada oxigenação e ventilação, diminuin-
do as repercussões hemodinâmicas deletérias, evitando o As infecções são freqüentes nos pacientes em ventila-
volutrauma, o barotrauma, a toxicidade pelo oxigênio e a ção mecânica. As principais infecções são a sinusite, a
hipóxia tissular. traqueobronquite e a pneumonia.

SINUSITE PARANASAL
RECOMENDAÇÕES
Esta é uma entidade usualmente pouco diagnosticada
• Início precoce da ventilação espontânea
ou “escondida” do paciente grave em ventilação mecâni-
• Usar métodos não invasivos quando indicados
ca, podendo ser a causa de sepse de fonte oculta. Está
• Utilizar os aparelhos e o modo de suporte que aten-
relacionada, na etiopatogenia da pneumonia associada,
dam às necessidades ventilatórias do paciente
com a ventilação mecânica. Pacientes em ventilação me-
• Usar técnicas (estratégias) de proteção pulmonar
cânica têm maior incidência de sinusite maxilar, fato que
se acentua com a intubação nasotraqueal, o tempo da
PARÂMETROS VENTILATÓRIOS
intubação e a presença da sonda nasogástrica.
Para evitar o barotrauma O diagnóstico é realizado pela presença de sinais de
• Evitar pressão de pico acima de 40-45cmH2O (I) infecção sistêmica, fatores de risco, secreção purulenta
• Evitar pressão de platô acima de 30-35cmH2O (I) nasal, velamento e nível hidroaéreo nos seios paranasais
• Evitar pressões acima do ponto superior de inflexão observados ao RX comum e na tomografia computadori-
pela excessiva distensão alveolar zada. A cintilografia dos seios da face pode contribuir para
• Fazer o controle da pressão alveolar e não da PaCO2 o diagnóstico. No paciente intubado e mecanicamente
ventilado, as incidências fronto e mentonaso habitualmente
Para evitar o volutrauma necessárias para o diagnóstico rotineiro das sinusopatias
Evitar grandes volumes correntes não são realizadas devido a dificuldades técnicas. A tomo-
• Rotineiramente usar volume corrente de 8 a 10ml/ grafia computadorizada deve ser realizada nestas situa-
kg ções, permitindo adequado estudo do seio esfenoidal. A
• Na SARA, entre 4 e 7ml por kg de peso ressonância magnética não tem vantagem sobre a tomo-
• Na asma brônquica, entre 5 e 7ml por kg de peso grafia computadorizada.
• Na DPOC, entre 5 e 8ml por kg de peso
Permitir a hipercapnia se os valores de volume e pres-
TRAQUEOBRONQUITE E TRAQUEOBRONQUITE
NECROSANTE
são estiverem além dos indicados como estratégia de pro-
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 47
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

A presença do tubo traqueal, a umidificação inadequa- mydia spp e vírus. Na SARA, os organismos mais freqüen-
da, a presença de material irritante presente na parede tes são o meticilino-resistente Staphylococcus aureus –
do tubo eventualmente reesterilizado e o trauma são fato- MRSA (23%), as bactérias gram-negativas não fermenta-
res causais. O trauma produzido pela aspiração vigorosa doras (21%) e a Enterobacteriaceae (21%). O risco relati-
das secreções traqueais pode lesar a mucosa e facilitar a vo para P. aeruginosa é de 29,9%, aumentado quando o
infecção. Devem-se usar sondas maleáveis e com orifício tempo de ventilação mecânica for superior a 8 dias e hou-
lateral. O diagnostico é realizado pelos sinais locais e sis- ver uso prévio de antibióticos. O H. influenzae pode ser
têmicos de infecção, tais como febre, secreção purulenta o agente da PAVM, mesmo após vários dias de ventilação
ou piossanguinolenta. Ocorre leucocitose com ou sem mecânica, quando não foi usada antibioticoterapia pré-
desvio à esquerda. via. Pacientes imunodeprimidos podem apresentar outros
microorganismos como agentes patogênicos.
PNEUMONIA ASSOCIADA À VENTILAÇÃO MECÂNICA Pode-se classificar a pneumonia associada à ventilação
mecânica em:
(PAVM)
Precoce (< 5 dias)
Pneumonia nosocomial é definida como aquela que Por germes comunitários
ocorre 48 horas ou mais após hospitalização e que não Por germes nosocomiais
estava em período de incubação à admissão hospitalar. A Tardia (≥ 5 dias)
pneumonia associada à ventilação mecânica é uma forma Nas pneumonias precoces, resultantes de aspirações de
de pneumonia hospitalar. Estatísticas internacionais mos- material proveniente das vias aéreas superiores, são agen-
tram que a pneumonia nosocomial ocorre em 5 a 10 ca- tes freqüentes: S. pneumoniae, H. influenzae e gram-
sos em 1.000 internações hospitalares e aumenta de 6 a negativos entéricos. Microbiota mista pode estar presente
20 vezes em pacientes sob ventilação mecânica (20% a (aeróbios e anaeróbios). Staphylococcus aureus é inco-
25%). A pneumonia nosocomial ocorre em 9 a 67% (mé- mum, mas deve ser considerado na pneumonia que com-
dia de 20%) dos pacientes em ventilação mecânica e au- plica infecção por vírus.
menta a mortalidade (36 a 80%, média de 50%) princi- Pacientes hospitalizados fora da UTI, que não se encon-
palmente quando são bacteriêmicas. É ainda mais freqüen- tram em ventilação mecânica e estão colonizados por ger-
te em pacientes com síndrome de angústia respiratória mes nosocomiais, podem desenvolver pneumonia preco-
aguda (SARA), ocorrendo em até 70% dos pacientes que ce por germes nosocomiais. Pacientes imunodeprimidos
evoluem para o óbito, embora não haja relação direta da podem ser considerados um outro grupo à parte em rela-
mortalidade com a pneumonia. ção à classificação e às etiologias mais freqüentes. Estes
A incidência e a mortalidade pela PAVM estão associa- pacientes não serão especificadamente abordados neste
das principalmente à idade > 45 anos, ao uso de corticos- consenso. As pneumonias aspirativas constituem um gru-
teróides, à presença de choque, ao tempo de ventilação po de infecções polimicrobianas onde estão incluídas fre-
mecânica superior a 9 dias, ao antecedente de DPOC, à
imunodepressão e ao uso prévio de antibiótico. A intuba-
QUADRO 13.2
ção traqueal isolada e a associada à ventilação mecânica
Pneumonia associada à ventilação mecânica
aumentam respectivamente a incidência de pneumonia
de 7 e 10 vezes. As pneumonias bacteriêmicas são mais Precoce: < 5 dias
freqüentes quando associadas à ventilação mecânica e Patógenos usuais
necessitam de tratamento adequado e precoce. S. pneumoniae
H. influenzae
Etiologia S. aureus meticilino-sensível
Tardia: ≥ 5 dias
Cerca de 60% das pneumonias nosocomiais são causa- Patógenos usuais*
das por patógenos aeróbios gram-negativos. Os germes Enterobactérias: Enterobacter spp
mais freqüentes são Pseudomonas aeruginosa, Klebsie- E. coli
lla pneumoniae, Enterobacter spp e S. aureus. A pneu- Klebsiella spp
Proteus spp
monia polimicrobiana ocorre em cerca de 1/4 a 1/5 dos
Serratia spp
casos e os fungos em cerca de 11% dos pacientes em Pseudomonas aeruginosa
ventilação mecânica. Outras enterobactérias polirresisten- S. aureus
tes são agentes importantes. Microorganismos causado- Acinetobacter spp
res das denominadas “pneumonias atípicas” são pouco Stenotrophomonas spp
expressivos, mas podem ocorrer raramente (5,7/1.000)
* Outras bactérias conforme controle da comissão de infecção hospitalar local
infecções por Legionella spp, Micoplasma spp, Chla-
S 48 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

qüentemente bactérias anaeróbicas. No Quadro 13.2 es- sença de cavitações orienta para o diagnóstico de pneu-
tão relacionados os agentes mais freqüentes. monia. Através da tomografia computadorizada, observa-
Alguns microorganismos ocorrem em determinadas con- se que são comuns derrames pleurais, usualmente peque-
dições que devem ser consideradas, como as bactérias ana- nos. O derrame pleural pode ser a causa da hipotranspa-
eróbicas nos pacientes submetidos a cirurgia abdominal, rência da radiografia do tórax.
S. aureus nos pacientes em coma, com diabetes melli- Embora o diagnóstico clínico e radiológico de PAVM te-
tus e insuficiência renal e a Legionella spp nos pacientes nha pouca especificidade, a sua presunção seleciona qual
em uso de corticosteróides. Nos pacientes com interna- o paciente que deve ser submetido a avaliação diagnósti-
ção prolongada, usando corticosteróides, com antibioti-
coterapia prévia e doença pulmonar preexistente, o S. QUADRO 13.3
aureus, Legionella spp e a P. aeruginosa devem ser con- Critérios mínimos para diagnóstico de PAVM
siderados.
Febre*
Diagnostico de pneumonia associada à ventilação Secreção purulenta
mecânica Leucocitose ou leucopenia
Infiltrado pulmonar novo ou progressivo ao RX de tórax
A pneumonia associada à ventilação mecânica é causa
importante de sepse no paciente em insuficiência respira- * Pacientes idosos e imunodeprimidos podem não apresentar febre
tória e pode ser difícil distingui-la de outros processos que
afetam o paciente em suporte ventilatório. O diagnóstico
e o tratamento devem ser precoces por causa da alta QUADRO 13.4
Métodos complementares (mínimos) de diagnóstico
mortalidade.

Diagnóstico clínico-radiológico Radiografia do tórax


Oximetria de pulso ou hemogasometria arterial
Os parâmetros utilizados para o diagnóstico clínico da
pneumonia associada à ventilação mecânica são: febre, Hemocultura
presença de infiltrado pulmonar novo ou progressivo, ca- Microbiologia do aspirado traqueal: bacterioscopia (gram, BAAR)
e cultura
racterísticas da secreção traqueobrônquica (volume aumen-
A bacterioscopia deve ser interpretada com cautela e deve ser des-
tado, aumento da viscosidade e aspecto purulento), piora crita a presença de germes intracelulares
funcional pulmonar e leucocitose ou leucopenia com des- Líquido pleural (se houver): punção e microbiologia
vio à esquerda. A infecção pulmonar é a causa mais fre-
qüente de febre com infiltrado pulmonar.
À microscopia da secreção, observam-se piócitos e gran- ca por métodos invasivos. Os critérios de diagnóstico da
de número de germes. Auxiliam no diagnóstico precoce e PAVM estão definidos nos Quadros 13.3 e 13.4.
acurado de pneumonia a presença de germes intracelula-
res (em > 3%-5% das células) e de fibras de elastina (sen-
sibilidade = 52% e especificidade = 85%). QUADRO 13.5
As radiografias do tórax contribuem para o diagnóstico Critérios para o diagnóstico de exclusão de pneumonia
e devem ser realizadas rotineiramente no paciente em
ventilação mecânica. A tomografia computadorizada tem 1. Ausência de infiltrado pulmonar
maior sensibilidade do que as radiografias convencionais 2. Ausência de germes ou de número significativo (ufc/ml de aspi-
na demonstração de pneumonia e lesões com cavitação rado) em método invasivo de diagnóstico (lavado broncoalveo-
do parênquima pulmonar. lar, escovado broncoscópico).
Este parâmetro tem maior relevância quando não foi feita anti-
Os infiltrados pulmonares da PAVM devem ser diferen- bioticoterapia prévia.
ciados principalmente da atelectasia, da embolia pulmo- 3. Outra possibilidade diagnóstica que possa explicar a presença
nar, da aspiração de material gástrico, do edema pulmo- de infiltrados pulmonares e quadro clínico, a princípio, sugesti-
nar cardiogênico e não cardiogênico de várias etiologias. vo de pneumonia.
Também são freqüentes os artefatos. Em pacientes sem 4. Alterações anatomopatológicas sem evidência de pneumonia.
SARA, a atelectasia e a insuficiência cardíaca são as cau-
sas mais freqüentes de infiltrados pulmonares. A velocida-
de de regressão da lesão também deve ser considerada, já Diagnóstico de exclusão de pneumonia
que a melhora acentuada ou a regressão em tempo muito O diagnóstico de exclusão é orientado por critérios apre-
curto demonstram a improbabilidade de ser pneumonia, sentados no Quadro 13.5.
sendo usualmente atelectasia ou edema pulmonar. A pre-
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 49
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

Métodos diagnósticos vo-AT, BBS-blind bronchial sampling, mini-BAL). Na Ta-


Os métodos diagnósticos permitem identificar se o infil- bela 13.1 estão relacionados os métodos de coleta, o ponto
trado pulmonar é ou não pneumônico, a identificação do(s) de corte para diagnóstico (ufc/ml), a sensibilidade e a es-
germe(s) e a sua sensibilidade aos antimicrobianos. pecificidade.
Nos pacientes com pneumonia associada a ventilação
Problemas associados aos métodos de diagnóstico
mecânica tardia, a presença na bacterioscopia de cocos
etiológico
gram-positivos orienta para a presença de S. aureus no
Várias dúvidas envolvem os métodos diagnósticos, como
processo pneumônico.
a sensibilidade e a especificidade de cada método, a valo-
A antibioticoterapia diminui a acurácia das técnicas e
rização do resultado quando a coleta é realizada, durante
dos limites utilizados pelos métodos de diagnóstico quan-
antibioticoterapia.
titativos (contagem de germes/ml). Quando a situação clí-
A indicação de um método invasivo para coleta de ma-
nica permitir, deve ser suspensa a antibioticoterapia du-
terial das vias aéreas inferiores visando diagnóstico do
rante as 48 horas anteriores ao exame e, quando não for
agente etiológico deve considerar os riscos e benefícios e
possível, devem-se suspender as doses dos antimicrobia-
a facilidade de realização de cada método.
nos que antecedem o exame (> 2 horas). De um modo
O aspirado traqueal (AT) tem valor semelhante ao esco-
geral, a pneumonia que se desenvolve durante a antibioti-
vado broncoscópico (PSB) e pode ser realizado facilmente
coterapia deve ser por microorganismos resistentes, de
sem as dificuldades e os riscos da broncoscopia. O mini-
tal modo que a coleta de material não necessita da sus-
BAL, realizado às cegas e com cateter especial, é utilizado
pensão de antimicrobianos.
para coletar material das regiões mais dependentes e in-
Método de coleta de material feriores dos pulmões e tem boa correlação com o PSB.
Quando o objetivo for realizar lavado broncoalveolar dos
São importantes as técnicas de coleta, de armazena-
lobos superiores, indica-se o método broncoscópico.
mento, transporte e processamento do material coletado,
Os métodos de diagnóstico variam na sua sensibilidade,
pois podem modificar os resultados. A coleta de material
especificidade e valor preditivo negativo conforme está
das vias aéreas inferiores para estudo microbiológico pode
demonstrado na Tabela 13.1.
ser feita por métodos invasivos broncoscópicos (PSB, BAL,
A comparação entre métodos de coletas broncoscópi-
P-BAL) e não broncoscópicos (aspirado traqueal quantitati-

TABELA 13.1
Métodos de diagnóstico da pneumonia no paciente na UTI

Método Sensibilidade Especificidade


% %

Cultura do escarro 49 a 80 50 a 58
Aspirado traqueal quantitativo (AT) 67 a 80 60 a 72
≥ 106-5 ufc/ml
Escovado broncoscópico protegido (PSB) 36 a 95 50 a 94
> 103 ufc/ml (42)
Lavado broncoalveolar (BAL) 50 a 89 45 a 87
≥ 104 ufc/ml (100)
Lavado broncoalveolar protegido 88 a 100 100
≥ 104 ufc/ml
Cateter telescópico ocluído 64 a 80 100
(às cegas) ≥ 103 ufc/ml
Mini-BAL 67
≥ 103 ufc/ml
Punção aspirativa pulmonar 25 a 75 79
Percutânea
Biópsia pulmonar 40 45
≥ 103 ufc/g
Hemocultura 27 42

S 50 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

cos e às cegas foi realizada por vários autores. Usando • Arritmia instável
ponto de corte em 103 ufc/ml para PSB e mini-BAL e 104 • PAM < 65
ufc/ml para BBS (coleta brônquica às cegas) e BAL, foi • Plaquetas < 60.000 ou coagulopatia para PSB
observada sensibilidade de 42, 67, 83 e 58% respectiva-
• PIC ↑
mente para estes métodos.
Os trabalhos citados anteriormente sugerem que o as- • Ocorrência de bradicardia nas últimas 24 horas
pirado traqueal quantitativo, AT quantitativo, possa forne- Tratamento empírico
cer boa orientação para o tratamento. Em locais onde a
cultura quantitativa não possa ser realizada, o AT qualitati- Vários esquemas de antimicrobianos podem ser utiliza-
vo pode ser utilizado. Este método, com freqüência, isola dos conforme mostrado na Tabela 13.2. No paciente com
PAVM, a antibioticoterapia correta diminui a mortalidade.
um ou mais germes não implicados na gênese da pneu-
monia. A ausência de uma bactéria no AT é uma forte A orientação terapêutica empírica dependerá do conheci-
evidência de que este agente não seja o causador da pneu- mento da microbiota local e da sua sensibilidade. A anti-
monia, desde que a cultura tenha sido realizada antes do bioticoterapia deve ser feita contra as bactérias mais co-
início da terapia empírica. muns e com antimicrobianos específicos, através do co-
nhecido padrão de sensibilidade e resistência dos germes
A broncoscopia pode apresentar importantes compli-
locais. Após chegarem os resultados das culturas (hemo-
cações em determinadas condições clínicas e deve ser
cultura, secreções das vias aéreas inferiores, liquido pleu-
evitada, com fins de diagnóstico da pneumonia, nas se-
ral), o esquema de antimicrobianos deverá ser acertado.
guintes situações:
Nos processos aspirativos, e quando houver suspeita de
• Relação PaO2/FIO2 < 100 bactérias anaeróbicas, devem ser consideradas drogas ana-
• IAM ≤ 48 horas erobicidas.

TABELA 13.2
Tratamento empírico das pneumonias estabelecido pelo Consenso
Latino-americano de Pneumonia do Paciente Adulto (1998)

PAVM ANTIBIOTICOTERAPIA EMPÍRICA

PRECOCE Cefalosporina de 2ª ou 3ª geração (sem ação anti-Pseudomonas)


Ou
Betalactâmico com inibidor de betalactamase
Ou
Clindamicina + aztreonam
E se alérgico a penicilina
Fluoroquinolona
**** Em pacientes comatosos por TCE é comum (50%)
S. aureus meticilino-sensível.

TARDIA Aminoglicosídeo* ou Ciprofloxacina**


** Verificar sensibilidade local e atentar para os efeitos colaterais
** Dose de 400mg 3 x/dia
+
Penicilina anti-Pseudomonas
Ou
Cefalosporina de 3ª geração anti-Pseudomonas ou de 4ª geração
Ou
carbapenem (meropenem ou imipenem)
Ou
Betalactâmico + inibidor de betalactamase
Ou
Aztreonam***
*** Verificar percentual de resistência a Pseudomonas spp
+
Vancomicina/Teicoplamina****
**** Se houver gram-positivos na secreção

J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 51


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

Descontaminação seletiva (SDD) • Realize a vigilância e determine a evolução, identifi-


Este é um dos aspectos controversos da profilaxia. Os cando e eliminando os problemas potenciais.
autores discutem o benefício e os problemas do seu uso. • É importante conhecer a microbiota e o padrão de
Embora vários estudos demonstrem redução das taxas de sensibilidade das bactérias aos antibióticos.
colonização, ainda não está esclarecido o impacto da des- • Não realize rotineiramente culturas para vigilância de
contaminação seletiva na pneumonia ou na traqueobron- pacientes ou de aparelhos usados na terapia respiratória.
quite e são conflitantes os resultados que indicam redução
Interrupção da transmissão de microorganismos
da mortalidade, do tempo de internação e dos custos hos-
através da sua erradicação dos reservatórios epi-
pitalares. Além destes aspectos, a descontaminação sele-
demiologicamente importantes
tiva pode produzir colonização e infecção por germes
gram-positivos e patógenos multirresistentes, principal- ESTERILIZAÇÃO OU DESINFECÇÃO NA MANUTENÇÃO
mente quando a descontaminação seletiva for feita por DOS EQUIPAMENTOS
tempo mais prolongado.
A descontaminação seletiva envolve a administração de Medidas gerais
antibióticos não absorvíveis para prevenir a colonização e a) Limpe todo equipamento antes da desinfecção ou
a infecção por microorganismos nosocomiais gram-nega- esterilização.
tivos, alguns gram-positivos e fungos, preservando a mi- b) Esterilize ou use alto nível de desinfecção para equi-
crobiota anaeróbica. Antibióticos tópicos isoladamente pamentos que entrem em contato direto ou indireto com
podem diminuir as infecções respiratórias, mas não in- as vias aéreas inferiores.
fluenciam na mortalidade, embora a metanálise recente, c) Use técnica e material corretos.
demonstrada em um protocolo assistencial, que incluía d) Lave bem, seque e armazene o equipamento, tendo
profilaxia antibiótica efetiva (tópica e sistêmica) poderia cuidado de não contaminá-lo durante estes processos.
diminuir a incidência de infecções respiratórias em 65% e e) Use água estéril (não use água destilada e não esté-
a mortalidade de 20%. Entretanto, na prática, o uso da ril) para lavar os equipamentos semicríticos reusáveis usa-
descontaminação seletiva é controverso e não é consen- dos nas vias aéreas que tenham sido desinfetados quimi-
so. camente.
f) Não reutilize material indicado para uso único (des-
Profilaxia da lesão aguda da mucosa gástrica cartáveis).
Vários trabalhos da literatura médica têm resultados con-
Medidas específicas com ventiladores mecânicos,
traditórios. A premissa básica é: o sucralfato associa-se,
circuitos, umidificadores e nebulizadores
com a diminuição da colonização gástrica. Alguns autores
fazem a referência de que o uso do sucralfato está asso- Ventiladores mecânicos
ciado a uma menor incidência de pneumonia tardia, em- • Não esterilize ou desinfete rotineiramente a parte in-
bora esta afirmação seja discutível. Não há diminuição na terna dos ventiladores
incidência de pneumonia precoce (< 4 dias). Circuitos
Não foi demonstrado efeito protetor menor da mucosa • Não troque rotineiramente os circuitos com menos
gástrica do sucralfato em relação aos bloqueadores H2. A de 48 horas de uso no mesmo paciente
dieta enteral contínua aumenta o pH gástrico, e quando • Não há recomendação sobre o tempo máximo para
se utilizam volumes acima de 1.000ml pode-se prescindir a troca de circuito, com uso de auto-umidificador ou umi-
do uso de drogas para evitar a lesão aguda da mucosa dificadores de borbulha
gástrica. A nutrição “enteral” aumenta o pH do estôma- • Esterilize ou use alto nível de desinfecção no empre-
go, diminuindo o efeito protetor do sucralfato. Não deve go destes materiais entre diferentes pacientes
ser utilizado quando a sonda estiver colocada no intestino • Evite, drene e jogue fora qualquer condensado que se
delgado. Drogas que aumentam a motilidade do tubo di- acumule nos circuitos. Não permita que o condensado dos
gestivo, como a metoclopramida e a cisaprida, diminuem circuitos entre nas vias aéreas dos pacientes
a colonização. • Lave as mãos após realizar este procedimento
• Não é recomendado colocar filtro no ramo expirató-
Recomendações para a prevenção da pneumonia rio
nosocomial (CDC) • Não coloque filtros bacterianos entre o reservatório
Educação da equipe multidisciplinar do umidificador e o circuito inspiratório do ventilador
• Eduque a equipe multidisciplinar com métodos para Umidificadores
a prevenção e controle da pneumonia. • Use água estéril para encher o umidificador de bor-
Vigilância bulha
S 52 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

• Não há recomendação para usar sistema de umidifi- Barreiras de precauções


cação fechado, continuamente auto-alimentado • Use luvas para manusear secreções ou objetos conta-
Circuitos com condensadores higroscópicos ou troca- minados de qualquer paciente.
dores de calor • Mude as luvas e lave as mãos após contato com o
• Não há recomendação para o uso preferencial de con- paciente, manusear secreções respiratórias ou objetos con-
densadores-umidificadores ou trocadores de calor em re- taminados de um paciente antes de tocar em outro pa-
lação a umidificadores aquecidos na prevenção de pneu- ciente, objeto ou superfície do ambiente, entrar em con-
monia. tato com o local do corpo que está contaminado e as vias
• A troca de umidificadores-condensadores higroscópi- aéreas ou aparelhos usados no mesmo paciente.
cos deve respeitar as instruções dos fabricantes, ou deve • Use capote se for previsto sujar-se com secreções res-
ser feita se houver contaminação grosseira ou disfunção piratórias e troque o capote após o contato com o pacien-
mecânica pela presença do umidificador. te e antes de tocar em outro paciente.
• Não troque rotineiramente o circuito do ventilador
Cuidados com pacientes traqueotomizados
quando estiver usando, no mesmo paciente, o condensa-
dor-umidificador higroscópico ou o trocador de calor. • Realize a traqueostomia em condições estéreis
• Use condições assépticas para a troca da cânula tra-
Umidificadores de parede
queal. A cânula deve ser estéril ou deve ter sido submetida
• Siga as instruções do fabricante
a alto nível de desinfecção.
• Troque o circuito, os prongs nasais e as máscaras
quando usar em pacientes diferentes
Aspiração de secreções respiratórias
Nebulizadores (on-line no circuito ou manuseados)
• Não há recomendação para usar luvas esterilizadas
• No tratamento do mesmo paciente, desinfete e lave
ao invés das limpas, mas não estéreis, para aspiração de
com água estéril os umidificadores de pequenos volumes.
secreções respiratórias.
• Não use o mesmo nebulizador entre pacientes dife-
• Se usar o sistema de aspiração aberto, use sondas
rentes sem ter feito esterilização ou desinfecção de alto
estéreis.
nível.
• Use líquido estéril para remover secreções retidas.
• Use somente líquidos estéreis para nebulização.
• Para prevenir pneumonia, não há recomendação para
Nebulizadores de grande volume e tendas misturado- preferir o sistema fechado de multiuso ou o sistema aber-
ras to de aspiração.
• Não use umidificadores de grande volume, em ar am- • Não use o mesmo sistema de aspiração em pacientes
biente, que criem aerossóis (por princípio de Venturi, ul- diferentes.
tra-som), a menos que estes possam ser esterilizados ou
desinfetados em alto nível, no mínimo, diariamente e en- Modificando o risco de infecção do paciente
chidos com água estéril Precauções para prevenir pneumonia de origem endó-
• Quando usados em pacientes traqueotomizados, de- gena
vem ser esterilizados ou desinfetados em alto nível, e dia- • Descontinue o suporte nutricional enteral (orogástri-
riamente quando usados no mesmo paciente co, nasogástrico) e remova os equipamentos dos pacien-
• Não há recomendação para a freqüência de troca de tes tão logo as condições clínicas permitam.
tendas e reservatórios quando usados no mesmo paciente
Prevenção da aspiração da nutrição enteral
Outros equipamentos (espirômetros, sensores de oxi- • Elevar a cabeceira do leito de 30-45 graus quando
gênio, etc.) não houver contra-indicação
• Esterilize ou proceda a alto nível de desinfecção quan- • Verificar rotineiramente a posição da sonda de ali-
do usado entre pacientes diferentes mentação
• AMBU e materiais associados a este procedimento de- • Não há recomendação para diâmetros pequenos da
vem ser esterilizados ou submetidos a alto nível de desin- sonda enteral
fecção quando usados entre pacientes diferentes • Verificar se a função gastrintestinal, através da moti-
lidade, medindo o resíduo alimentar, auscultando a peris-
Prevenção da transmissão pessoa a pessoa talse, está normal
Lave as mãos • Não há recomendação para preferencialmente colo-
• Lave as mãos, mesmo que tenha usado luvas, após car a sonda distal ao piloro
contato com secreções, mucosa ou objetos contaminados. Prevenção de aspiração com o uso de tubo traqueal
• Não há recomendação para preferir a via orotraqueal
sobre a nasotraqueal na prevenção de pneumonia
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 53
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

• Não há recomendação em usar tubos traqueais com reposicionamento, assegure-se de que as secreções aci-
lume distal acima do balonete para permitir drenagem de ma do balonete foram aspiradas
secreção acumulada na região subglótica Prevenção da colonização gástrica
• Antes de desinsuflar o balonete para sua remoção ou • Quando usar droga para profilaxia da lesão aguda

do estômago (por estresse), prefira um agente que não aumente o pH gástrico


• Não há recomendação para realizar descontaminação seletiva
• Não há recomendação para acidificar o alimento enteral

14. Desmame
Coordenadora: ROSANE GOLDWASSER

Relator: OCTAVIO MESSEDER nâmicas, como a diminuição do retorno venoso e a dimi-


Colaboradores: JOSÉ LUÍS GOMES DO AMARAL, LUÍS ALE- nuição no débito cardíaco, estão entre algumas das com-
XANDRE BORGES, RAQUEL MORTIZ , MARCELO KALICHSZTEIN plicações que motivam a rápida liberação da ventilação
Discutidores: LEANDRO PÚBLIO, ACÁCIA RESENDE, MARIA artificial.
JOSÉ TORRES, PALMIRENO FERREIRA
A ventilação mecânica, apesar de ser uma intervenção
terapêutica fundamental no paciente com insuficiência
DEFINIÇÕES E CONCEITOS
respiratória aguda, é um procedimento invasivo e não isen-
O processo de transição da ventilação mecânica para a
to de complicações, o que torna oportuno o rápido reco-
ventilação espontânea chama-se desmame. O conceito de
nhecimento da reversibilidade do processo agudo e o re-
transição gradual da ventilação mecânica para a espontâ-
torno à ventilação espontânea. A prática contemporânea
nea está vinculado a técnicas ventilatórias que permitem
leva a questões em que o empirismo se torna inadequado
ao paciente progressiva readaptação à ventilação espon-
e insuficiente, e as decisões clínicas, principalmente nos
tânea em função da redução dos ciclos de ventilação as-
pacientes criticamente enfermos, devem ter uma respos-
sistida do ventilador artificial. Trata-se de um termo que
ta categórica, tal como retirar ou não um paciente do su-
faz analogia ao desmame materno-infantil que é gradual
porte ventilatório artificial e extubá-lo ou não. As respos-
e, por vezes, difícil.
tas para estas questões derivam de estudos populacionais,
Recentes estudos mostraram que, na maioria dos pa-
sendo que os resultados podem ser inconclusivos, contra-
cientes com recuperação do evento agudo que motivou a
ditórios, mas, certamente, nunca definitivos.
ventilação mecânica, o retorno gradual à ventilação es-
O percentual dos pacientes internados em uma unida-
pontânea é desnecessário e pode ser abreviado. Aproxi-
de de terapia intensiva (UTI) submetidos à ventilação me-
madamente 60% a 70% dos pacientes criticamente en-
cânica é bastante elevado. Recente estudo multicêntrico,
fermos e ventilados artificialmente podem ser extubados
internacional, documentou prospectivamente a prevalên-
após breve teste de duas horas de ventilação espontânea.
cia de ventilação mecânica em unidades de terapia inten-
Alguns pacientes submetidos à ventilação mecânica por
siva envolvendo oito países, sendo observado que cerca
broncoespasmo agudo, hiperoxigenação inadvertida, se-
de 40% estavam em ventilação mecânica. Aproximada-
dação exagerada, sobrecarga hídrica ou em pós-operató-
mente, dois terços dos pacientes apresentavam insuficiên-
rio de cirurgias eletivas poderão ser extubados com algu-
cia respiratória aguda como a principal indicação de ven-
ma facilidade. No entanto, um outro grupo de pacientes
tilação mecânica. Cerca de um terço do tempo total de
poderá apresentar dificuldades de liberação da ventilação
ventilação mecânica corresponde à fase de interrupção
mecânica. Este corresponde a um grupo particular de
do modo ventilatório previamente utilizado pelo paciente.
pacientes com reserva funcional cardiorrespiratória preju-
Os riscos relacionados à ventilação mecânica incluem
dicada, ventilação mecânica prolongada, disfunção de múl-
pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM), baro-
tiplos órgãos ou outras doenças debilitantes, como as pa-
trauma e complicações laringotraqueais associadas à intu-
tologias neuromusculares.
bação e/ou a traqueostomia. Estas complicações variam
Para promover uma linguagem comum à transição da
em intensidade de acordo com a doença de base, o tem-
ventilação artificial para a espontânea propõe-se o termo
po de permanência em prótese respiratória e o modo e
desmame. Recomenda-se o termo interrupção da venti-
técnica ventilatória. As repercussões funcionais hemodi-
S 54 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

lação mecânica para aqueles pacientes que tolerarem um • Critérios clínicos


breve período em ventilação espontânea, forem extuba- • Indicadores fisiológicos
dos e que se mantiverem, por um período de 24 horas, Os pacientes que recebem assistência ventilatória e apre-
sem necessidade de retornar para a ventilação mecânica. sentam resolução ou melhora da causa determinante des-
O desmame é difícil nos pacientes que, apesar de subme- ta modalidade terapêutica devem ser diariamente avalia-
tidos a um programa de treinamento, correção dos distúr- dos quanto à possibilidade de interrupção do método. Esta
bios funcionais e utilização de novas técnicas ventilatórias, avaliação deve ser feita uma vez ao dia, por pessoa da
não conseguem se manter em ventilação espontânea. Um equipe multidisciplinar da UTI (fisioterapeuta respiratório,
grupo intermediário engloba os pacientes cujo processo enfermeiro ou médico), habilitado para tal função, com
será gradativo (desmame gradual), seja por não tolera- decisão final médica. Uma revisão sistêmica orgânica,
rem o breve período em ventilação espontânea, ou por baseada em estudos prévios, deve ser realizada. A estabi-
retornarem à ventilação mecânica no período de 24 ho- lização do débito cardíaco, as potenciais conseqüências
ras. Estes pacientes serão direcionados a um novo proce- da disfunção renal como a acidose metabólica e a sobre-
dimento (revisão da causa de falha, programa de reabili- carga hídrica, a normalização de distúrbios eletrolíticos
tação) até que uma nova tentativa de interrupção da ven- como o potássio, fosfato e magnésio séricos são indispen-
tilação mecânica, ou retirada gradual, seja bem sucedida, sáveis para maximizar a força muscular respiratória. O
ou farão parte do grupo cujo desmame é considerado di- pH avaliado na hemogasometria deve ser superior a 7,30
fícil. e inferior a 7,60. É imprescindível ao tratamento a ado-
ção das medidas que possibilitem: a redução da depressão
PROTOCOLOS do sistema nervoso central através da diminuição das do-
As diversas formas de desmame empregadas refletem ses dos fármacos sedativos e analgésicos opióides com
distintos julgamentos clínicos e estilos individualizados. “drive” respiratório adequado, a integridade músculo-es-
Estudos atuais comprovam que este empirismo aplicado quelética através do suporte nutricional, a maximização
para o desmame prolonga o tempo de ventilação mecâni- da função pulmonar incluindo a fisioterapia (Tabela 14.1).
ca, as suas conseqüências fisiopatológicas e o custo hos- É desejável que o paciente se encontre afebril e com ní-
pitalar. A identificação de estratégias para reduzir o tem- veis séricos de hemoglobina adequados para favorecer um
po de ventilação mecânica e restabelecer a autonomia bom transporte de oxigênio. Aos pacientes portadores de
ventilatória torna-se prioritário, apesar de ainda não ter DPOC e cardiopatia crônica que apresentaram insuficiên-
se estabelecido o melhor método. Este protocolo deve cia respiratória aguda recomendam-se níveis de hemoglo-
envolver as seguintes fases: bina sérica maiores ou iguais a 12g/Dl. Deve ser realiza-
1) Pré-desmame, que envolve os critérios clínicos, indi- da a avaliação da mecânica ventilatória através da mensu-
cadores fisiológicos. ração de parâmetros funcionais (Tabela 14.2) com a fina-
2) Processo de desmame, que engloba o método de lidade única de avaliar os índices preditivos, sem que seus
interrupção da ventilação mecânica e a monitorização. valores determinem o processo de desmame. Estes índi-
3) A evolução do desmame, que avalia o sucesso e as ces devem ser avaliados durante os primeiros 2 minutos
causas de insucesso, a mortalidade e avaliação de escore de desconexão da ventilação mecânica, realizados à beira
prognóstico. A utilização de protocolos seria indicada e do leito. Os pacientes em ventilação mecânica por perío-
efetiva. do superior a 48 horas, depois de preencherem os crité-
rios da Tabela 14.1, devem ser submetidos a um curto
PRÉ-DESMAME período de ventilação espontânea (por 2 horas) seguido

TABELA 14.1
Condições para considerar o desmame da ventilação mecânica

PARÂMETROS NÍVEIS REQUERIDOS

1. Evento agudo que motivou a ventilação mecânica Reversibilidade ou controle do processo


2. Presença de drive respiratório SIM
3. Avaliação hemodinâmica Correção ou estabilização do débito cardíaco
4. Drogas vasoativas ou agentes sedativos Com doses mínimas
5. Equilíbrio ácido-básico 7,30 < pH < 7,60
6. Troca gasosa pulmonar PaO2 > 60mmHg com FIO2 ≤ 0,40 e PEEP ≤ 5cm H2O
7. Balanço Hídrico Correção de sobrecarga hídrica
8. Eletrólitos séricos (sódio, potássio, cálcio, fósforo, magnésio) Valores normais
9. Intervenção cirúrgica próxima Não

J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 55


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

por extubação imediata, salvo aqueles que apresentarem porte de oxigênio para os tecidos. Para isto, os níveis sé-
sinais de intolerância. Deve haver um preparo prévio à ricos da hemoglobina e o débito cardíaco devem estar
rápida desconexão do ventilador artificial: o paciente deve adequados. Parece haver um consenso que em pacientes
ser informado quanto ao procedimento que será realizado
TABELA 14.3
e deve ser solicitada a sua colaboração; as vias aéreas Índices fisiológicos para predizer o desmame.
artificiais devem estar pérvias (se necessário, deve-se as- Valores normais e margem aceitável
pirar as secreções com técnica adequada e, se indicado,
utilizar fármacos broncodilatadores sob nebulização). Avaliação Medidas Valores Valores
fisiológica normais aceitáveis
TABELA 14.2
Avaliação de índices preditivos para o desmame
Força CV 65 a 75ml/kg 10 a 15ml/kg
Pimax 115 ± 27cm H2O –30cmH 2O
PARÂMETROS NÍVEIS ACEITÁVEIS
Endurância VVM 50 a 250L/min < 10L/min
Volume Corrente > 5ml/kg P0,1 < 2cm H2O > 6cmH2O*
Freqüência Respiratória ≤ 35ipm Padrão fR < 35ipm
Pressão inspiratória máxima ≤ –25cmH2O Ventilatório VT 300mL
fR/VT < 100 Índices combinados CROP ≥ 13
fR/ VT > 104ipm/L*

Observação – É desejável que o paciente se encontre * Prediz falha do desmame

afebril, com hemoglobina sérica adequada para o trans-


porte de oxigênio; para os pacientes com DPOC agudi- agudos ou graves os níveis de hemoglobinemia devem ser
zados e cardiopatas crônicos agudizados, manter Hb ≥ mantidos acima de 9g/dL, sendo, em alguns casos, indi-
12g/dL. cada a hemotransfusão.
Na Tabela 14.3 estão demonstrados os índices mais co-
mumente utilizados em estudos de avaliação preditiva para
ÍNDICES PREDITIVOS DE SUCESSO NO DESMAME
o desmame.
Nos últimos anos, tem-se desenvolvido um elevado nú- A avaliação da mecânica pulmonar pode ser feita atra-
mero de indicadores fisiológicos preditivos de sucesso no vés da mensuração do volume corrente e da pressão ins-
desmame. Estes indicadores fisiológicos têm grande sen- piratória máxima que definem a força de contração da
sibilidade; no entanto carecem de especificidade para dis- musculatura respiratória, mas não a capacidade de man-
tintas patologias e, por isso, alguns pacientes retornam à tê-la após um longo período, isto é, a endurância. A de-
assistência ventilatória, o que se denomina insucesso no terminação da razão entre a ventilação minuto, produto
desmame. do volume corrente pela freqüência respiratória, pela ven-
Sob uma perspectiva diagnóstica, predizer a evolução tilação voluntária máxima (V’E/VVM) avalia a endurância,
do desmame não é nada mais do que definir sinais e sinto- mas é de difícil execução no paciente em ventilação me-
mas que possam distinguir os pacientes que terão sucesso cânica devido ao grau de colaboração necessária para a
na retirada da assistência ventilatória daqueles que deve- realização da VVM.
rão permanecer mecanicamente ventilados. As manifestações clínicas de fadiga muscular, como a
Como a insuficiência respiratória pode ser uma mani- respiração paradoxal, podem ser indicadas numericamente
festação secundária à disfunção de vários sistemas orgâni- através da observação da freqüência respiratória superior
cos (neurológico, cardiopulmonar), não será surpresa que a 35ipm e do volume corrente inferior a 5ml/kg de peso
as medidas funcionais avaliadoras somente dos compo- corporal, em adultos.
nentes individuais de cada órgão não tenham ainda pro- A função do centro respiratório pode ser medida atra-
vado ser totalmente satisfatórias em garantir decisões quan- vés da pressão de oclusão de vias aéreas nos primeiros
to ao desmame. Por este motivo, não são recomendadas, 100 milissegundos da inspiração (P0.1) e depende da inte-
no Consenso, como determinantes para o desencadea- ração entre os quimiorreceptores centrais e os motoneu-
mento do processo de desmame. rônios periféricos. Apesar de alguns estudos terem identi-
As considerações fisiológicas no desmame são seme- ficado como bastante preditivo do sucesso de desmame,
lhantes, no sentido oposto, às recomendadas para a insti- esta medida requer maior aparato e técnica para sua rea-
tuição da ventilação mecânica. A relação PaO 2 > lização. Além disto, raramente é a depressão do centro
60mmHg, com FIO2 ≤ 0,4, com PEEP ≤ 5cm H2O, repre- respiratório a causa de insucesso no desmame nos pa-
senta um ponto de partida necessário para o desmame, cientes com DPOC.
mas insuficiente para assegurar que o paciente tenha su- Os índices que combinam mais de um dado fisiológico
cesso. Deve haver a integração da oxigenação e o trans- tentam englobar as interdependências de condições clíni-
S 56 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

cas que se associam ao aumento do trabalho respiratório foi útil para selecionar os pacientes prontos para extuba-
relacionado à força e à endurância. A associação dos da- ção. Estes mesmos estudos mostraram uma taxa de rein-
dos referentes à complacência, freqüência respiratória, tubação em torno de 15% a 19% nos pacientes extuba-
oxigenação e pressão (índice de CROP) trouxe a conclusão dos. Este breve período de desconexão também pode ser
de que um ponto de corte maior ou igual a 13 predizia realizado utilizando-se ventilação a pressão de suporte (PSV)
sucesso no desmame. A lógica deste índice está no fato de com um nível pressórico de 7cmH2O. A desconexão da
que, quanto melhor a complacência e maior a força, asso- ventilação mecânica deve ser realizada oferecendo oxigê-
ciadas à adequada troca gasosa e menor freqüência respi- nio suplementar a fim de manter níveis de saturação de
ratória, maior a probabilidade de sustentar a ventilação oxigênio no sangue arterial (SaO2) > 90%. A suplementa-
espontânea indefinidamente. Estes mesmos autores, pos- ção de oxigênio deve ser feita com uma FIO2 até 40%,
teriormente, demonstraram que os pacientes que falha- não devendo ser aumentada durante o processo de desco-
ram no desmame apresentavam um padrão respiratório nexão. Durante este período, o paciente deve ser monito-
característico, observado imediatamente após a descone- rizado de forma contínua quanto às variáveis clínicas, às
xão da ventilação mecânica, que denominaram de índice alterações na troca gasosa e às variáveis hemodinâmicas
de ventilação rápida (f > 30ipm) e superficial (VC < 0,3L). (Tabela 14.4). Caso apresente algum sinal de intolerân-
Para valores superiores a 100ipm/L havia uma associa- cia, o desmame será suspenso e haverá o retorno às con-
ção com falência no desmame em 86% e sucesso em 10% dições ventilatórias prévias. Aqueles pacientes que não
dos pacientes. apresentarem sinais de intolerância deverão ser extuba-
Naturalmente, para ser um bom índice preditivo de des- dos e observados (monitorizados) pelo período de 24 ho-
mame deverá ser facilmente reprodutível, utilizar instru- ras, na UTI (Tabela 14.4). Se após 24 horas permanece-
mentos e técnica simples e ter coerência com a fisiopato- rem com autonomia ventilatória, o processo estará con-
logia da insuficiência respiratória. Este fato é importante cluído, com sucesso. Se neste período necessitarem do
para evitar que certos índices que necessitam de várias retorno à ventilação mecânica, serão considerados como
repetições para determinar boa acurácia causem descon- insucesso.
forto ao paciente e também demandem custos desneces- Os pacientes em desmame (os submetidos à interrup-
sários. Demonstra-se boa reprodutibilidade de parâmetros ção abrupta ou gradual) devem ser monitorizados através
clássicos de desmame quando realizados com técnicas de avaliação clínica periódica, oximetria de pulso, hemo-
corretas à beira do leito, e isto foi especialmente verda- gasometria, radiografia de tórax e capnografia (PaCO2 –
deiro quando avaliados os índices que estimam o padrão Pet CO2).
ventilatório, como o volume corrente e a freqüência respi- O processo da liberação da via aérea artificial, através
ratória. da extubação, deve ser distinto do processo de desmame.
Não é infreqüente o paciente precisar permanecer com o
DESMAME tubo endotraqueal ou ser necessária uma traqueostomia
para a adequada toalete brônquica. A incapacidade de
• Método de interrupção
eliminar a secreção brônquica é uma das mais freqüentes
• Monitorização
causas de retorno à ventilação mecânica e desmame difí-
• Método de desmame gradual
TABELA 14.4
INTERRUPÇÃO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA Sinais de intolerância à desconexão da ventilação mecânica

O desmame da ventilação mecânica pode ser visto de


PARÂMETROS INTOLERÂNCIA
duas maneiras: como um teste diagnóstico da habilidade
do paciente em sustentar a ventilação espontânea sem o Freqüência respiratória > 35ipm
auxílio de um suporte ventilatório artificial ou, alternativa-
SaO2 < 90%
mente, como um processo direcionado para promover a
Freqüência cardíaca >140bpm
reabilitação de músculos respiratórios facilmente fatigá-
Pressão arterial sistólica > 180mmHg e/ou < 90mmHg
veis através da redução progressiva do suporte ventilató-
rio. Sinais e sintomas Agitação, sudorese,
alteração do nível de consciência
A interrupção abrupta da ventilação artificial é a técni-
ca mais comum de desmame. Faz-se permitindo que o
paciente ventile espontaneamente através do tubo endo- cil. Por outro lado, a permanência do tubo traqueal impõe
traqueal conectado a uma peça em forma de “T” com uma resistência às vias aéreas com aumento do trabalho
uma fonte enriquecida de oxigênio. Demonstra-se que um respiratório. Os problemas potenciais em vias aéreas su-
teste de duas horas de ventilação espontânea em tubo T periores são ocasionados por intubação traqueal de longa
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 57
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

permanência como edema da laringe, disfunção epiglóti- çar 7cmH2O. Uma pressão de suporte de 7cmH2O pode
ca, estenose subglótica. promover a compensação da resistência ao fluxo aéreo
Técnicas que podem ser utilizadas na rápida descone- promovido pelo tubo endotraqueal. Alguns estudos mos-
xão da ventilação mecânica: tram uma variação de 3 a 14cmH2O. A velocidade do
a) Tubo em T – Através da conexão do tubo traqueal a desmame poderá ser acelerada se a freqüência respirató-
uma fonte de oxigênio enriquecido. Por tratar-se de um ria não se elevar acima de 35ipm, ou outro sinal de fadiga
sistema avalvular, o trabalho respiratório resume-se ao muscular, quando se deve interromper e reiniciar a partir
imposto pela resistência do tubo traqueal, da ventilação de 24 horas.
minuto (V’E) e do fluxo ventilatório.. Tubos de diâmetro • A interrupção através do tubo em T pode ser reali-
interno maior oferecem menor resistência. A vantagem zada intercalando-se períodos de ventilação assistida com
deste método é a simplicidade e a reprodutibilidade, uma períodos progressivamente maiores de ventilação espon-
vez que não requer ventiladores mecânicos de maior so- tânea através de tubo T. Aos 30 minutos de ventilação
fisticação. Nesta técnica, o desmame está concluído se espontânea e gasometria arterial satisfatória, prolonga-se
após duas horas o paciente não apresentar instabilidade a ventilação espontânea por 2 horas, e assim sucessiva-
clínica e/ou funcional. mente. Se a nova reavaliação (clínica e hemogasométrica)
b) PSV – Implica a colocação de uma pressão de supor- for satisfatória, dá-se por concluído o desmame. Caso con-
te de 7cmH2O que corresponde ao nível de pressão inspi- trário, nova tentativa deverá ser realizada a partir das pró-
ratória considerada satisfatória para compensar o traba- ximas 24 horas. A interrupção pode ser realizada com
lho adicional imposto pelo tubo endotraqueal e pela vál- várias repetições durante o dia ou somente uma vez ao
vula de demanda do ventilador artificial. dia.
• Ventilação mandatória intermitente sincroni-
zada (SIMV) – Também é um modo de desmame gradual.
PARA OS PACIENTES QUE FALHAM NO TESTE INICIAL
Este modo ventilatório intercala ventilações espontâneas
Os pacientes que falharam deverão retornar à ventila- do paciente com períodos de ventilação assisto-controla-
ção mecânica e permanecer por 24 horas em um modo da do ventilador mecânico. O desmame com este método
ventilatório que ofereça conforto, expresso por avaliação é realizado reduzindo-se progressivamente a freqüência
clínica. Neste período serão reavaliadas e tratadas as pos- mandatória do ventilador artificial. Em dois estudos re-
síveis causas de intolerância. A retirada gradual da venti- centes, prospectivos, foi consenso ter sido este o método
lação mecânica poderá seguir os métodos abaixo coloca- menos adequado empregado, pois induzia um maior tem-
dos em discussão: po de ventilação mecânica.
• Ventilação à pressão de suporte (PSV) – Trata- • CPAP/PEEP em associação com os outros mé-
se de um auxílio à ventilação espontânea do paciente atra- todos – A utilização deste método durante o desmame
vés do fornecimento de uma pressão positiva inspiratória promove aumento na capacidade residual funcional e es-
pré-selecionada. O paciente precisa gerar uma pressão tabilização das unidades alveolares. Com isso há a redu-
subatmosférica intratorácica. A pressão positiva, pré-se- ção na diferença alvéolo-arterial de oxigênio e a melhora
lecionada, é fornecida a cada esforço respiratório do pa- da hipoxemia. A aplicação de pressão positiva extrínseca
ciente e mantida em plateau inspiratório, e termina quando facilita o esvaziamento de unidades alveolares, atenuando
um fluxo mínimo inspiratório é alcançado, iniciando-se a a hiperinsuflação pulmonar naqueles pacientes com auto-
expiração, que se dá de uma forma passiva. O paciente PEEP e reduzindo o trabalho muscular respiratório. Todas
controla a freqüência respiratória, mas o volume corrente estas técnicas apresentam pontos favoráveis e desfavorá-
e o fluxo inspiratório são variáveis e dependem do nível veis e são amplamente discutidas em vários estudos.
de pressão de suporte, da complacência e da resistência
do sistema respiratório. As vantagens da ventilação à pres- EVOLUÇÃO DO DESMAME
são de suporte envolvem a diminuição do esforço muscu-
lar respiratório, o aumento no sincronismo paciente-ven- FALHA DO DESMAME

tilador, a diminuição do trabalho respiratório causado pela O principal distúrbio fisiológico existente na insuficiên-
resistência imposta pelo tubo endotraqueal e menor pre- cia respiratória parece ser o desequilíbrio entre a carga
disposição à fadiga diafragmática. Nesta forma de desma- imposta ao sistema respiratório e a habilidade em respon-
me gradual, a pressão de suporte é inicialmente ajustada der a esta demanda. A musculatura respiratória deve ven-
para que o ventilador forneça todo o volume corrente cer uma carga resistiva e elástica imposta pela presença
desejado (Pmax). Progressivamente, esta pressão de su- do tubo endotraqueal, pela doença existente em peque-
porte vai sendo reduzida (2 a 4cmH2O, a cada 2 horas), nas vias aéreas que englobam os bronquíolos de calibre
transferindo o trabalho gradual para o paciente até alcan- inferior a 3mm de diâmetro e que podem contribuir com
S 58 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

até 80% do valor total da resistência das vias aéreas nos ções objetivas, coletadas em inúmeros pacientes, às vezes
pacientes portadores de enfisema pulmonar. A estas alte- superando a experiência clínica de um profissional.
rações descritas associam-se os distúrbios eletrolíticos per- Os sistemas de avaliação prognóstica se baseiam na hi-
sistentes, as infecções não controladas, a insuficiência car- pótese de que a evolução de uma doença aguda é em
díaca, a desnutrição, colaborando para a falência da bom- parte relacionada ao grau de distúrbios nos sistemas fisio-
ba ventilatória e para o desenvolvimento de acidose respi- lógicos orgânicos e o risco imposto por estas anormalida-
ratória. Estas situações podem ter efeitos bastante deleté- des poderia ser estimado através dos desvios do padrão
rios como: grave arritmia cardíaca, hipertensão pulmo- fisiológico normal.
nar, distúrbios eletrolíticos, alterações neurológicas e morte. Como a insuficiência respiratória é uma resposta à in-
Finalmente, a falha no desmame também pode estar as- tegração do sistema cardiopulmonar, não é muito surpreen-
sociada à insegurança, medo e ansiedade do paciente. dente que as medidas que avaliem somente dados refe-
rentes à função pulmonar não sejam capazes de guiar
DESMAME DIFÍCIL decisões de desmame. Talvez mais importante que os da-
Se o paciente, durante o processo de desmame, apre- dos funcionais respiratórios, nos pacientes com falência
sentar sinais de falência respiratória, deve retornar à ven- respiratória, sejam as condições não-ventilatórias que re-
tilação mecânica para que possa estar assegurado um presentam a reserva fisiológica do paciente (doença car-
período de descanso da musculatu-
ra respiratória. Durante este perío-
do, considerações especiais devem O PACIENTE ESTÁ PRONTO PARA O DESMAME?
PROTOCOLO (I)
ser dadas às causas da falha, com a AVALIAÇÃO DIÁRIA (I)

participação de toda a equipe multi-


REVERSÃO OU CONTROLE DO EVENTO AGUDO (I)
disciplinar (médicos, fisioterapeutas, ESTABILIDADE HEMODINÂMICA
7,30 < PH < 7,60
enfermeiros, nutricionistas, psicólo- PaO > 60mmHg COM FIO < 0,4 E PEEP ≤ 5cmH O
2 2 2
SEM OU MÍNIMOS AGENTES SEDATIVOS E DROGAS VASOATIVAS
gos, etc.). Deve ser elaborado um SEM INTERVENÇÃO CIRÚRGICA PRÓXIMA
programa de reabilitação com espe-
ciais considerações aos pacientes pul- SIM > 48 HORAS DE VENTILAÇÃO MECÂNICA? NÃO

monares restritivos, obstrutivos ou os


com doença neuromuscular. E, final- TESTE DE AUTONOMIA
POR 2 HORAS ( I )
mente, deve ser feita uma reavalia- TT OU PSV = 7CMH O 2

ção do estado nutricional (tanto des-


nutrição como o excesso de oferta MONITORIZAÇÃO CONTÍNUA (2 horas) NÃO INTERRUPÇÃO DA VENTILAÇÃO
HÁ SINAIS DE INTOLERÂNCIA? MECÂNICA
nutricional), assim como discutir a for-
fR > 35
ma de manutenção do interesse do SaO < 90% 2
FC > 140 BPM
paciente e sua família no processo PArtSist > 180mmHg OU < 90mmHg SIM
AGITAÇÃO, SUDORESE, REDUÇÃO
de reabilitação. DO NÍVEL DE CONSCIENCIA

ÍNDICES DE AVALIAÇÃO DESCANSO MUSCULAR EM VENTILAÇÃO


MECÂNICA POR 24 HORAS
REAVALIAÇÃO CLÍNICA
PROGNÓSTICA CORREÇÃO DOS DISTÚRBIOS FUNCIONAIS
TRAÇAR NOVA ESTRATÉGIA
A dificuldade em avaliar a gravi-
dade de uma doença na UTI e corre- DESMAME GRADUAL
(SELECIONAR UM MODO)
lacioná-la com a evolução do pacien- TT 1X /DIA PSV SIMV TT PROGRESSIVO
te explica o surgimento dos escores ( II A ) ( II A) ( II B ) ( II A)

prognósticos. O sistema APACHE foi (COM OU SEM CPAP/ PEEP DE 5CMH2O)


o primeiro a ser validado. A necessi-
dade de simplificação resultou no sur-
gimento do SAPS e na modificação NÃO SUCESSO? SIM

do primeiro para APACHE II, ambos


atualmente validados.
O papel dos escores prognósticos DESMAME DIFÍCIL
PLANEJAMENTO DE MANOBRAS ESPECIAIS
AUTONOMIA VENTILATÓRIA
POR 24 HORAS
tem ganhado cada vez maior popu- REABILITAÇÃO (I)

laridade e aplicabilidade em terapia


intensiva. Eles fornecem informa- Figura 14.1 – Algoritmo para o desmame da ventilação mecânica

J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 59


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

diovascular, distúrbios eletrolíticos, estado nutricional). de intervenções terapêuticas apropriadas (correção de im-
A utilização de um escore prognóstico, nos pacientes pedimentos funcionais e psicológicos) para reassumir a
em ventilação mecânica, realizada no dia de ingresso do autonomia ventilatória;
paciente na UTI, tem a finalidade única de comparar as Desmame difícil – Planejamento apropriado para cui-
práticas ventilatórias nas diversas unidades de tratamento dados da retirada da ventilação mecânica por período pro-
intensivo para o controle de pacientes em ensaios clínicos longado.
de novas técnicas em desmame e a melhora nos mecanis-
Elaboração de protocolos para o desmame (em to-
mos de controle de qualidade.
dos os níveis)
SINOPSE • Avaliação diária quanto às condições para conside-
rar o desmame (Tabela 14.1)
Definições
Desmame – Processo de transição da ventilação mecâ- • Prova de autonomia ventilatória por 2 horas (tubo T
nica para a ventilação espontânea; ou PSV = 7cmH2O)
Interrupção – Rápida transição à ventilação espontâ- • Monitorização contínua durante o período de prova
nea, e autonomia ventilatória por 24 horas; de autonomia: clínica e hemogasométrica (pulsoximetria)
Desmame gradual – Processo que envolve a instituição • Descanso muscular respiratório por 24 horas, se hou-

ve falha na prova de 2 horas por fadiga muscular respiratória;


• Desmame gradual: PSV, tubo em T, SIMV, CPAP/PEEP adjuvante aos métodos
• Desmame difícil: Planejamento de manobras especiais; integração da equipe multidisciplinar; reabilitação.

15. Suporte ventilatório não-invasivo com pressão positiva


e suporte ventilatório mecânico domiciliar
Coordenadores: ANTÔNIO DUARTE, GUILHERME SCHETTINO, PAULO HENRIQUE OLIVEIRA

Relator: PAULO HENRIQUE OLIVEIRA higiene brônquica.


Colaboradores: VERÔNICA FRANCO PEREIRA, ADA CLARICE Considerando as características de abrangência deste
GASTALDI, ESPERIDIÃO AQUIM, ROSANE GOLDWASSER consenso, abordaremos, exclusivamente, os tópicos rela-
Discutidores: ISABEL ALMEIDA, MARCONI CHAVES cionados à VPP.

DEFINIÇÕES VENTILAÇÃO COM PRESSÃO POSITIVA


Suporte ventilatório não-invasivo (VNI) é a técnica de Para aplicação desta técnica faz-se necessário um ven-
ventilação na qual uma máscara, ou dispositivo semelhan- tilador de pressão positiva conectado a uma interface para
te, funciona como interface paciente/ventilador, em subs- direcionar o ar através das vias aéreas superiores até os
tituição às próteses endotraqueais. Tem como principais pulmões.
objetivos fornecer adequada troca gasosa e reduzir o tra- As interfaces disponíveis em nosso meio são:
balho da respiração. Máscaras faciais e nasais
A VNI diminui a necessidade de intubação e suas com- Bocais
plicações associadas (ex.: pneumonias), e em situações Ortodônticas
específicas (ex.: DPOC agudizado) é capaz de reduzir a mor- Máscaras nasais e faciais são mais comuns e de ampla
talidade. Assim, acreditamos que SVNI deva ser parte inte- aceitação em nosso meio. Têm sua utilidade direcionada
grante da abordagem terapêutica inicial em pacientes com para o ambiente de terapia intensiva e hospitalar, no tra-
insuficiência respiratória aguda. tamento da Insuficiência Respiratória Aguda (IResA) ou Crô-
VNI inclui o uso de ventilação com pressão positiva (VPP),
nica Agudizada. As interfaces nasais são preferidas pela
ventilação com pressão negativa (VPN), leito cinésico (Ro- maioria dos pacientes que requerem uso prolongado (crô-
cking Bed), cinta pneumática (Pneumobelt), marca-pas- nicos).
so diafragmático (Diaphragm Pacing), respiração glosso-
faríngea e métodos não-invasivos usados na terapia de
S 60 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

APLICAÇÃO NA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA • Distúrbios da deglutição


HIPERCÁPNICA COMPLICAÇÕES
• Agudização da DPOC • Necrose facial
• Asma • Distensão abdominal
• Doenças neuromusculares • Aspiração do conteúdo gástrico
• Alterações da caixa torácica • Hipoxemia transitória
• Pós-extubação • Ressecamento nasal, oral e de conjuntiva
• Agudização da fibrose cística • Barotrauma
• Pacientes terminais que recusam a intubação
MODOS DE VENTILAÇÃO
HIPOXÊMICA
• Limitado a Volume (A/C)
• Edema pulmonar cardiogênico • Limitado a Pressão (PSV, PCV e BIPAP)
• Lesão pulmonar aguda • CPAP
• Insuficiência respiratória pós-operatória
• Insuficiência respiratória pós-broncoscopia Considerar as seguintes condições
• Pacientes terminais que recusam intubação • Dispositivos antiasfixia
• Risco de reinalação (circuitos únicos)
DESMAME • Necessidade de umidificação
• Retirada precoce da prótese traqueal • Dispositivo de alívio de pressão
• Interferência de vazamentos no adequado funciona-
APLICAÇÃO NA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA CRÔNICA mento do modo
• Doenças neuromusculares
• Distúrbios respiratórios do sono MONITORIZAÇÃO
• Alterações de caixa torácica • Oximetria de pulso
• Pacientes em programa de transplante pulmonar • Sinais vitais
• DPOC • Hemogasimetria arterial
• Mecânica respiratória
CONTRA-INDICAÇÕES
Absolutas ESTRATÉGIA INICIAL DE USO
• Instabilidade hemodinâmica e arritmias • Escolher um ventilador que atenda às necessidades
• Angina instável do paciente
• Necessidade de intubação para proteger vias aéreas. • Escolher uma interface adequada
Alto risco de aspiração (ex.: pacientes susceptíveis a vô- • Explicar a técnica e suas vantagens ao paciente
mitos e que apresentarem importante distensão abdominal) • Fixar manualmente a máscara quando do início do
• Trauma de face método, mantendo o ventilador em modo assistido
• Pneumotórax não tratado • Ajustar pressão (habitualmente < 25cmH2O de Ppi-
Relativas co) e/ou volume corrente (habitualmente 8 – 10ml/kg)
• História recente de infarto do miocárdio • Ajuste da PEEP. Menor PEEP que possibilite: SaO2 >
• Paciente não cooperativo 92% e FIO2 < 60% (habitualmente < 10 – 15cmH2O). Na
• Pós-operatório do trato digestivo alto DPOC 85% da auto-PEEP (quando não disponível a medida
• Obesidade mórbida da auto-PEEP usar PEEP de 5 a 8cmH2O). PEEP mínima de
• Má adaptação à máscara 5cmH2O
• Necessidade de sedação • Fixar a máscara de forma confortável ao paciente,
• Necessidade de elevada FIO2 permitindo, se necessário, vazamentos que não compro-
Considerar as seguintes condições metam a eficácia do modo utilizado.
• Fratura facial • Ajustar alarmes (pressão inspiratória mínima e má-
• Limitação de movimentos nas articulações tempo- xima, PEEP mínima, mínimo volume corrente e mínimo
romandibulares volume minuto)
• Tubos nasogástricos • Reavaliação constante na primeira hora
• Pêlos faciais (barba e bigodes) • Utilizar o maior tempo possível, principalmente nas
• Escape aéreo primeiras 24h.
• Inadequado pico de fluxo na tosse (< 3L/s)
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 61
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

FALÊNCIA DA VNI 1) Incapacidade para sustentar ou manter de forma com-


Considera-se como falência da VNI a presença dos se- pleta o desmame do suporte ventilatório
guintes parâmetros: 2) Progressão da patologia de base necessitando de in-
Necessidade de FIO2 > 60% cremento e manutenção do suporte ventilatório contínuo
• Queda do pH e/ou aumento da PaCO2 Condições que estabelecem estes critérios são eviden-
• Elevação da freqüência respiratória ou persistência ciadas por patologias como: doenças neuromusculares,
de FR maior ou igual a 35 síndrome de hipoventilação alveolar crônica, doenças ven-
• Diminuição de consciência ou agitação tilatórias primárias, doenças obstrutivas e distúrbios car-
• Instabilidade hemodinâmica díacos.
• Arritmias graves
• Isquemia miocárdica CONTRA-INDICAÇÕES
• Distensão abdominal
a) Presença de instabilidade fisiológica, necessitando de
• Intolerância à máscara
SVMD, nas condições em que são necessários cuidados de
difícil manipulação no ambiente domiciliar como:
ESTRATÉGIA DE RETIRADA • FIO2 requerida > 0,4
Considerando a possibilidade de uso intermitente da VNI, • PEEP > 10cmH2O
observa-se a condição respiratória do paciente durante o b) Necessidade de monitorização contínua invasiva em
tempo livre do ventilador (período no qual o paciente per- pacientes adultos e pediátricos
manece sem o suporte ventilatório não invasivo) para ava- c) Inadequadas condições do ambiente domiciliar (am-
liar a necessidade de persistência da VNI. biente insalubre, inadequada fonte de eletricidade ou ins-
tabilidade elétrica, etc.)
Observação – Considerar aspectos socioeconômicos.
PROCEDIMENTO
Aplicação do Suporte Ventilatório Mecânico Domiciliar COMPLICAÇÕES
(SVMD) e todos os cuidados inerentes à manutenção da Deterioração ou mudança aguda no estado clínico do
interface paciente/ventilador, específico do ambiente do- paciente submetido a SVMD, que pode levar à morte ou
miciliar. internação hospitalar, sendo apresentada das seguintes
formas:
DEFINIÇÃO a) Clínica – Hipocapnia, alcalose respiratória, hiper-
capnia, acidose respiratória, hipoxemia, barotrauma, ins-
Suporte Ventilatório Mecânico pode ser definido como
tabilidade hemodinâmica, erosão traqueal, infecção respi-
sistema de suporte de vida, necessário à manutenção da
ratória, broncoespasmo grave, exacerbação da doença de
função ventilatória. A dependência do ventilador está re-
base ou evolução do seu curso natural e hipersecreção
lacionada ao desequilíbrio entre a capacidade ventilatória
brônquica.
e a demanda necessária a sua sustentação. O paciente
b) Equipamento – Falha no respirador, má adaptação
eletivo ao Suporte Ventilatório Mecânico Domiciliar re-
à interface máquina/paciente, sistema inadequado de umi-
quer cuidados básicos para manutenção de longos perío-
dificação dos gases inspirados, desconexão acidental e ma-
dos de suporte ventilatório continuado, nos quais é sub-
nipulação inadequada do respirador.
metido a um regime de ventilação pulmonar com pressão
c) Psicológicos – Depressão, ansiedade, desestrutura-
positiva.
ção psicológica familiar e sua interação com a equipe de
cuidados ventilatórios.
OBJETIVOS PRINCIPAIS DO SVMD
• Melhorar a qualidade de vida APLICAÇÃO
• Reduzir a morbidade
• Promover uma melhora da relação custo/efetivida- A) EQUIPAMENTO
de no manuseio de pacientes crônicos • Ventilador – A escolha está baseada nas necessida-
des clínicas do paciente e nos recursos oferecidos pelo
INDICAÇÕES respirador. Portátil, limitado a volume ou pressão, com
Pacientes requerendo longo período de suporte ventila- modos de suporte ventilatório total e parcial incorpora-
tório, evidenciados por: dos.
• Sistemas de umidificação – São essenciais para a
S 62 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

manutenção do SVMD, os quais são determinados de acor- seguintes dados, rotineiramente:


do com as necessidades clínicas dos pacientes, e devem • Avaliação física – freqüência ventilatória, freqüên-
ser apropriados à melhora do clearance mucociliar cia cardíaca, excursão torácica, diaforese, pressão arte-
• Monitorização – Deve ser mantida de maneira não rial, temperatura corporal, coloração da pele, característi-
invasiva ou invasiva, de acordo com a complexidade da cas macroscópicas da secreção brônquica e avaliação da
patologia de base e de acordo com seu desdobramento via aérea artificial
• Sistemas de corrente elétrica alternada ou contí- • Respirador – pressão de pico, volume corrente ins-
nua – Para sustentação ou manutenção do funcionamen- piratório e expiratório, freqüência respiratória, FIO2, ní-
to do respirador vel da PEEP, complacência dinâmica, apropriada umidifi-
• Alarmes – A monitorização de pressão baixa ou pres- cação dos gases inspirados
são elevada, volume corrente mínimo e volume minuto • Equipamentos – Apropriada configuração do cir-
mínimo nas vias aéreas deve ser rigorosamente executa- cuito do respirador, funcionamento dos alarmes, nível da
da bateria, interna ou externa.
• Acessórios para ventilação de urgência ou inter-
corrências – Bolsas de ressuscitação, máscaras faciais, C) EMPREGO
cânulas de traqueostomia e TOT, equipamento para aspi-
A utilização da SVMD é ditada pelas necessidades fisio-
ração traqueal (gerador de sucção, sondas de aspiração),
lógicas do paciente, podendo ser prescrita de forma con-
laringoscópio e suplemento de oxigênio
tínua ou intermitente.
Modo de escolha para iniciar ou manter os pacientes
SVMD, bem como a programação do respirador e suas
variantes, são definidos de acordo com as necessidades
D) CONTROLE DE INFECÇÃO

fisiológicas do paciente (ver capítulos correspondentes Todos os profissionais envolvidos diretamente nos cui-
neste Consenso). dados dos pacientes em SVMD são potenciais transmisso-
res de infecções crônicas e agudas, devendo ser seguidas
as seguintes orientações:
B) MONITORIZAÇÃO
• Cuidado com a lavagem das mãos e uso de barrei-
A freqüência da monitorização é determinada pelo pla- ras de proteção quando apropriadas.
no de cuidados, individualizado e baseado nas condições • Sistema continuado de ventilação no ambiente em
clínicas de cada paciente. Devem ser monitorizados os que se encontra o paciente
• Máxima proteção do paciente, dos familiares e da

equipe de saúde com relação à exposição a situações de potencial transmissão ou contaminação


• Uso de procedimentos estéreis, para aspiração de secreções traqueais, bem como a desinfecção e a esterilização
dos equipamentos

16. Acesso e manutenção das vias aéreas


Coordenadoras: ANA LÚCIA MONTEIRO OLIVEIRA, ELAINE APARECIDA FÉLIX FORTIS

Relator: AMADEU MARTINEZ SILVOSO eventos respiratórios adversos durante o acesso às vias
Colaboradores: ANDRÉ ARAGÃO, ANDRÉ BEER, ANDRÉ aéreas: ventilação inadequada (38%), intubação esofágica
GUANAES, HÉLIO S. QUEIROZ FILHO, MAURÍCIO BARRETTO (18%) e intubação difícil (17%). Em função destas evidên-
Discutidor: PAULO M. ROCHA cias, algoritmos têm sido criados e incentivados como ins-
trumentos educacionais, com o intuito de aprimorar o
INTRODUÇÃO aprendizado de profissionais da área médica. O objetivo é
A manutenção da permeabilidade das vias aéreas visa único: reduzir a ocorrência de incidentes relacionados à
fundamentalmente evitar a morbidade e a mortalidade de manipulação das vias aéreas, melhorando a assistência ao
pacientes agudamente enfermos. Independente da forma paciente.
de comprometimento sistêmico, as condutas básicas de Apresentaremos a seguir as recomendações para ava-
manutenção da homeostase orgânica devem priorizar a liação de vias aéreas, equipamentos utilizados no acesso e
adequação da oxigenação e da ventilação. manutenção das vias aéreas, indicações e observações
Três mecanismos são os principais responsáveis por relevantes.

J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 63


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

AVALIAÇÃO DA VIA AÉREA É importante considerar manobras simples de desobs-


trução, antes de pensar em aplicar alguma manobra de
A avaliação deve ser realizada sempre que possível, pois instrumentação na via aérea. A suplementação de oxigê-
a falha na identificação de uma via aérea potencialmente nio por cateter nasal e a máscara de Venturi são recursos
difícil pode levar a situações em que não se pode nem simples que podem ser utilizados quando o padrão venti-
intubar, nem ventilar, um paciente. latório for aceitável, porém há necessidade de enriqueci-
A utilização de escalas auxilia a detecção da via aérea mento da sua fração inspirada para manter uma adequa-
difícil. A escala de Mallampati (Figura 17.1) baseia-se no da oxigenação. Técnicas definitivas de manutenção das
grau de visibilização das estruturas da orofaringe, susten- vias aéreas devem ser implementadas quando estes recur-
tando que a dificuldade de intubação está relacionada à sos falharem na adequação da ventilação e/ou oxigena-
ção.
Todo o material básico de acesso à via aérea, bem como
recursos alternativos para o caso de via aérea difícil, de-
vem estar prontamente disponíveis nas unidades de tera-
pia intensiva, unidades de emergência e salas de cirurgia.
Nas salas de parto, além de material para a assistência da
mãe, deve haver o material específico para a assistência
ao recém-nascido, com a presença, também, de um pe-
diatra treinado em reanimação nesta faixa etária de pa-
I II III IV cientes.
Classificamos como material básico aquele que é obri-
Figura 17.1 – Escala de Mallampati
gatório e como material alternativo aquele que é desejá-
vel.
largura da base da língua. Outro método simples, prático, Observação – Os aspectos relativos à oxigenioterapia
não invasivo, e com boa correlação com o grau de visibi- (suplementação de O2) não foram incluídos neste con-
lização das cordas vocais à laringoscopia, é a escala de texto devido à sua inclusão na próxima edição do Con-
Cormack (Figura 17.2). senso.
• Recomendação – Aplicar a escala de Mallampati
na avaliação pré-operatória de todos os pacientes e, quan- A) EQUIPAMENTOS UTILIZADOS EM SITUAÇÕES
do possível, nos pacientes internados nas unidades de te- SEM INTUBAÇÃO TRAQUEAL:
rapia intensiva. Registrar no prontuário a classificação de
Mallampati na qual se enquadram. Naqueles pacientes MÁSCARA FACIAL – (MATERIAL BÁSICO)

Indicações:
• Pré-oxigenação do paciente antes das manobras de
Grau I – Grau II – Grau III – Grau IV – acesso à via aérea
Visibiliza- Visibilização Visibilização Visibilização
ção de toda somente da somente da somente do
• Assistência ventilatória inicial de ressuscitação car-
a abertura comissura epiglote palato mole diopulmonar
laríngea posterior • Assistência ventilatória na anestesia inalatória em
procedimentos de curta duração
Limitações:
• Pacientes com estômago cheio
• Doenças ou situações que retardem o esvaziamento
Figura 17.2 – Grau de visibilização da laringe à laringoscopia é gástrico
avaliado pela escala de Cormack & Lehane
• Traumatismos extensos de face
Observações:
que foram intubados em algum momento durante a sua 1. Deve ser utilizada associada a sistema respiratório
internação hospitalar, deve ser registrada, também em com bolsa, com ou sem válvula, com o objetivo de ventilar
prontuário, a graduação da visibilização das cordas vocais o paciente não intubado ou que será intubado. A bolsa
na laringoscopia (Escala de Cormack). deve possuir reservatório e ser conectada a uma fonte de
oxigênio.
UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO MANEJO DAS 2. Deve ser dada preferência ao uso de máscaras trans-
VIAS AÉREAS
parentes.
3. Na possibilidade de estômago cheio, a manobra de
S 64 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

compressão da cricóide (manobra de Sellick) deve ser apli- • Não protege a via aérea da aspiração em caso de
cada durante a ventilação sob máscara e a intubação tra- regurgitação
queal (IT) deve ser feita o mais rápido possível. A manobra • Inadequada para pacientes com complacência pul-
deve ser realizada por uma pessoa, que deverá se encar- monar diminuída
regar apenas disto. • Inadequada para uso durante ventilação controlada
com pressões inspiratórias mais altas do que 20cmH2O.
MÁSCARA LARÍNGEA – (MATERIAL BÁSICO)

Indicações: B) EQUIPAMENTOS UTILIZADOS EM SITUAÇÕES


• Em pacientes com intubação difícil, podendo ser uti- COM INTUBAÇÃO TRAQUEAL:
lizada como primeira manobra de manutenção da via aé-
LARINGOSCÓPIOS – (MATERIAL BÁSICO)
rea, enquanto se planeja a intubação traqueal
• Intubação traqueal às cegas através do tubo da ML Indicação:
• Intubação traqueal por fibrobroncoscopia utilizando- • Intubação oro ou nasotraqueal
a como guia Limitação:
• Situações de emergência, nas quais não se tem aces- • Situações de dificuldade no manejo da via aérea
so à via aérea, devido à situação física do paciente (pa- Observações:
cientes acidentados, presos dentro de veículos, por exem- 1. Laringoscópios convencionais fazem parte do mate-
plo). rial básico de acesso à via aérea, devendo ser regularmen-
• Manutenção da via aérea durante a realização de te testados.
traqueostomia ou cricotireoidostomia 2. Lâminas de laringoscópio devem estar disponíveis
• Procedimentos diagnósticos ou cirúrgicos sob anes- em mais de um tamanho, do tipo reta e curva, no mate-
tesia, de curta ou média duração rial básico de manejo da via aérea.
Limitações: 3. Se possível, o laringoscópio de Bullard deve fazer
• Doenças ou situações de obstrução supraglótica parte do material de acesso às vias aéreas para os casos
• Não protege a via aérea contra aspiração em caso de intubação difícil.
de regurgitação 4. Preferir as lâminas retas nos pacientes com menos
• Pacientes com estômago cheio ou em situações em de 1 ano de idade.
que haja retardamento do esvaziamento gástrico
TUBOS ENDOTRAQUEAIS – (MATERIAL BÁSICO)
• Situações de baixa complacência pulmonar ou re-
sistência aumentada da via aérea Indicação:
• Inadequada para o uso de ventilação controlada com • Intubação oro ou nasotraqueal
pressões inspiratórias maiores do que 20cmH2O Limitações:
• Situações de dificuldade do manejo da via aérea
CÂNULAS ORO E NASOFARÍNGEAS – (MATERIAL • Lesões associadas à introdução, mau posicionamen-
to, ou permanência prolongada do mesmo
BÁSICO)
Observações:
Indicação: 1. Devem estar disponíveis em mais de um tamanho
• Desobstrução de vias aéreas superiores, no pacien- no material básico de acesso à via aérea. Quando houver
te em ventilação espontânea, ou durante a ventilação com perspectiva de uso prolongado deve ser dada preferência
sistema bolsa-máscara-oxigênio. Dentre as cânulas naso- ao menor número.
faríngeas deve se dar preferência àquelas que possuem 2. Devem ser utilizados tubos descartáveis e transpa-
entrada lateral para oxigênio. rentes.
3. Devem se utilizados tubos com balonetes de alta com-
CÂNULA OROFARÍNGEA COM BALONETE (CUFFED placência e baixa pressão.
OROPHARYNGEAL AIRWAY – COPA) – (MATERIAL 4. Evitar o uso de tubos com balonete em crianças com
ALTERNATIVO) idade inferior a 6 anos.
5. Monitorizar a pressão de insuflação do balonete logo
Indicação: após a intubação traqueal e, pelo menos, a cada 12 ho-
• Manutenção de via aérea de pacientes submetidos a ras, nos pacientes na unidade de terapia intensiva. É re-
anestesia geral, quando a IT não é necessária. comendado que a mesma fique abaixo de 20mmHg.
Limitações:
• Não substitui o tubo endotraqueal. COMBITUBE – (MATERIAL ALTERNATIVO)

J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 65


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

Indicação: 3. EQUIPAMENTOS AUXILIARES NO MANEJO DAS


• Em casos de intubação difícil, podendo ser utilizado VIAS AÉREAS
como manobra inicial de manutenção da via aérea en-
quanto se planeja a intubação traqueal. GUIA AUXILIAR DA INTUBAÇÃO – (MATERIAL BÁSICO)
Limitações: Indicação:
• Não pode ser utilizado em pacientes com reflexo de • Ajuste da curvatura do tubo endotraqueal, facilitan-
vômito intacto do a intubação traqueal
• Não pode ser usado em pacientes com menos de Limitação:
16 anos ou com altura < 1,5m. • Possibilidade de lesão da via aérea
• Não previne a aspiração pulmonar em caso de re- Observações:
gurgitação de conteúdo gástrico, embora seja mais segu- 1. A extremidade distal do guia auxiliar da intubação
ro quanto a isso quando comparado com a máscara facial não deve ultrapassar a extremidade distal do tubo endo-
e laríngea. traqueal.
2. Guia auxiliar da intubação deve ser retirado imedia-
TUBOS DE TRAQUEOSTOMIA
tamente após o tubo traqueal ultrapassar as cordas vo-
Utilizar preferencialmente tubos descartáveis com balo- cais.
netes de alta complacência e baixa pressão. (Vide manejo 3. Deve ser lubrificado antes de sua introdução no tubo
cirúrgico das vias aéreas) traqueal para facilitar sua retirada.
4. Deve estar incluído no material de acesso às vias
TUBOS ENDOBRÔNQUICOS DE DUPLO LUME –
aéreas.
(MATERIAL ALTERNATIVO)
Indicações: ESTILETE COM LUZ – (MATERIAL ALTERNATIVO)
• Necessidade de ventilação monopulmonar em cirur-
gias torácicas Indicações:
• Necessidade de ventilação de ambos os pulmões de • Intubação traqueal sem visão direta, sendo uma al-
forma independente ternativa às técnicas convencionais em casos de via aérea
• Isolamento de um pulmão para evitar inundação ou difícil.
contaminação • Intubação traqueal em patologias da coluna cervical
• Hemorragia maciça pulmonar que limitam a mobilização do pescoço e o posicionamen-
• Fístula brônquica ou broncopleural cutânea to da cabeça.
• Abertura cirúrgica de via aérea Limitação:
• Cisto ou bolha pulmonar gigante unilateral • Falha na identificação da anatomia, pela presença
• Ruptura da árvore traqueobrônquica de anomalias anatômicas, por quantidade excessiva de
• Proteinose pulmonar alveolar tecido subcutâneo, ou por luz ambiental exagerada, assim
Limitação: como em pacientes pouco cooperativos que se movimen-
• Lesões associadas à introdução, mau posicionamento tam ou tossem.
ou permanência prolongada do mesmo
Observações: PINÇA DE MAGILL – (MATERIAL BÁSICO)
1. Devem estar disponíveis em mais de um tamanho
Indicação:
no material de acesso à via aérea. Deve haver disponibili-
• Facilitar a introdução do tubo endotraqueal entre as
dade de tubos para o lado esquerdo e direito.
cordas vocais
2. Dar preferência a tubos descartáveis e transparentes.
Limitação:
FIBROBRONCOSCÓPIO – (MATERIAL ALTERNATIVO) • Possibilidade de ruptura do balonete do tubo traqueal
Indicações:
• Em situações de dificuldade no manejo da via aérea. ESTILETE PARA TROCA DE TUBO TRAQUEAL –
• Inserção e adequado posicionamento de tubos de (MATERIAL ALTERNATIVO)
duplo lume
Indicações:
Limitações:
• Extubação da via aérea difícil para nova intubação
• Alto custo
traqueal
• Necessidade de experiência com o seu uso. Deve-se
• Administração de O2 pós-extubação
estimular o treinamento de anestesiologistas e intensivis-
• Ventilação a jato, nos casos de insuficiência ventila-
tas no uso do fibrobroncoscópio.
tória pós-extubação
S 66 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

• Guia para reintubação A) VENTILAÇÃO COM SISTEMA MÁSCARA FACIAL-BOLSA


RESERVATÓRIO-OXIGÊNIO (VER ANTERIORMENTE)
PÊRA AUTO INFLÁVEL (SIB = SELF INFLATING BULB)
B) MÁSCARA LARÍNGEA (VER ANTERIORMENTE)
– (MATERIAL ALTERNATIVO)
C) COMBITUBE (VER ANTERIORMENTE)
Indicações:
• Confirmação da intubação D) VENTILAÇÃO TRANSTRAQUEAL A JATO
• Determinação da localização de tubo esôfago-tra-
queal • Recurso alternativo quando a ventilação sob másca-
Limitação: ra e a intubação traqueal não forem possíveis, e outras
• Pode falhar em situações de alteração importante técnicas menos invasivas já comentadas falharem ou não
na resistência das vias aéreas ou complacência pulmonar. estiverem disponíveis.
Observação: • Não deve ser mantida por um tempo superior a 45
• Deve, se possível, ser incluído no material de acesso minutos.
à via aérea, como um recurso a mais para a identificação • Deve ser realizada com material específico para isso,
da localização adequada do tubo traqueal. sem adaptações ou improvisações.
• Não deve ser indicada nos casos de perda da integri-
dade da porção inferior da traquéia ou árvore brônquica.
TÉCNICAS DE OBTENÇÃO E MANUTENÇÃO DA VIA
AÉREA
MANEJO CIRÚRGICO DAS VIAS AÉREAS
A) INTUBAÇÃO TRAQUEAL
A) CRICOTIREOIDOTOMIA
Indicações
• Necessidade de patência da via aérea 1. Deve ser realizada nos casos em que houver neces-
• Para segurança da via aérea em pacientes com ris- sidade de acesso rápido à via aérea, não sendo possível a
co de aspiração pulmonar de conteúdo gástrico realização da intubação traqueal, e quando outras técni-
• Necessidade de suporte ventilatório invasivo cas alternativas conservadoras não forem efetivas ou não
estiverem disponíveis.
B) INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL (IOT) OU INTUBAÇÃO 2. Deve ser indicada como recurso inicial no caso de
NASOTRAQUEAL (INT) insuficiência respiratória devida à obstrução supraglótica
da via aérea.
1. Devem ser utilizados tubos menores para a INT. 3. Deve preferencialmente ser realizada com material
2. Deve ser preferida a INT às cegas em todo paciente disponível em kits específicos para isso.
com alterações anatômicas que impeçam uma adequada 4. Contra-indicada em crianças com idade inferior a 6
laringoscopia direta, ou quando se desejar evitar a mani- anos.
pulação da coluna cervical.
3. Devem ser respeitadas as seguintes contra-indica-
ções para a INT: fratura de base de crânio ou nariz, epista-
B) TRAQUEOSTOMIA
xe, coagulopatia, desvio acentuado do septo nasal, poli- 1. Deve ser indicada quando houver necessidade de ma-
pose nasal. nutenção de via aérea por tempo prolongado.
4. Em pacientes na unidade de terapia intensiva, deve 2. Deve ser realizada em caráter eletivo e com todos
ser evitada a permanência de um tubo nasotraqueal por os rigores da técnica.
mais de 48 horas. 3. Não houve consenso quanto ao momento ideal para
5. Deve ser estimulado o emprego das técnicas de in- realização da traqueostomia no paciente na unidade de
tubação traqueal com o paciente acordado em caso de terapia intensiva em ventilação mecânica. Em relação a
estômago cheio ou, ainda, naquelas situações de via aé- isto devem ser considerados: condição clínica do pacien-
rea difícil prevista ou conhecida. te, tempo de intubação traqueal, grau de dependência e
6. A técnica retrógrada é uma alternativa para a intu- previsão de uso de ventilação mecânica.
bação traqueal em casos de via aérea difícil, quando ou-
tras técnicas, já comentadas, falharem ou não estiverem
MÉTODOS DE CONFIRMAÇÃO DA LOCALIZAÇÃO E
disponíveis, devendo preferencialmente ser realizada com
kit de material apropriado para isso. ALTURA DO TUBO TRAQUEAL

A) QUANTO À LOCALIZAÇÃO
TÉCNICAS ALTERNATIVAS E PROVISÓRIAS DE
MANEJO DA VIA AÉREA
J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000 S 67
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica

1. Basear-se inicialmente em aspectos clínicos como: paciente pediátrico.


visibilização da passagem do tubo entre as cordas vocais,
ausculta de ruídos respiratórios, ausência de ruídos venti- CONTROLE DO DESCONFORTO
latórios no epigástrio, movimento simétrico do tórax du-
rante a ventilação, ausência de distensão do abdome com Os agentes farmacológicos possuem papel importante
a ventilação, melhora de uma hipoxemia porventura exis- no manejo da via aérea, sendo indicados para facilitar e
tente com a instituição da ventilação, presença de con- diminuir o desconforto nas manobras de obtenção da
densação de ar no tubo durante a expiração. mesma, atenuar os efeitos fisiopatológicos e sedar e pro-
2. Métodos auxiliares devem ser empregados quando mover analgesia de pacientes que necessitam ser manti-
disponíveis: detecção do CO2 exalado pela capnografia e dos intubados e/ou sob ventilação artificial. Várias classes
capnometria, fibrobroncoscopia, pêra auto-insuflável. de drogas podem ser utilizadas, como anestésicos locais,
hipnóticos, analgésicos, benzodiazepínicos, relaxantes
B) QUANTO À ALTURA musculares, drogas cárdio e vasoativas, e suas doses de-
vem ser tituladas pelo efeito.
1. Considerar inicialmente a visibilização de movimen- Observação – Incluir o controle do desconforto do
tos e a ausculta de ruídos respiratórios, de forma simétri- paciente no manejo da via aérea e durante o uso de
ca em ambos os hemitórax. prótese ventilatória como módulo adicional na próxi-
2. Nas unidades de terapia intensiva, o RX de tórax deve ma revisão.
mostrar o tubo acima da carina traqueal.
3. Utilizar uma marca da altura correta no tubo, para o MANEJO DO PACIENTE COM VIA AÉREA DIFÍCIL
1. Via aérea difícil: situação na qual um profissional
treinado para o ato apresenta dificuldade para ventilar o
VA DIFÍCIL paciente sob máscara, realizar intubação traqueal ou am-
bas. Ver algoritmo anexo (Figura 17.3).
2. Para o emprego das técnicas alternativas propostas
devem ser levadas em conta a disponibilidade do material
RECONHECIDA NÃO
*** RECONHECIDA específico e a experiência do profissional com o método.
***

PREPARO ANESTESIA VIAAAÉREA


ADEQUADO /SEDAÇÃO CIRÚRGICA

IMPOSSÍVEL TÉCNICAS
EMERGÊNCIA ALTERNATIVAS
TÉCNICAS VENTILAR SOB MF
ALTERNATIVAS

IT

SUCESSO VA SIM-SEM
CIRÚRGICA EMERGÊNCIA

IT IT CONFIRMAR

FALHA SUCESSO

VENTILAÇÃO VA
SOB MF CIRÚRGICA

*** PACIENTE NÃO COOPERATIVO

Figura 17.3 – Algoritmo para manejo do paciente com via áerea difícil

S 68 J Pneumol 26(Supl 2) – maio de 2000

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