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SuMARI0
PARTE I
CRIME MILITAR

TItuJo Li nico
Crime Militar

1. Direito Penal Especial e Comum ...................................................................... 33


2. Direito Romano ................................................................................................. 39
3. Direito Brasileiro ...............................................................................................40
4. Crime Militar. Definiçao ..................................................................................... 42
5. Crime Militar em Tempo de Guerra ...................................................................45
6. Crime contra a Seguranca Externa do Pals ......................................................45
7. Crime Militar. Critérios Determinadores ............................................................4(3
8. Crime Militar. Critério Ratione Legis .................................................................50
9. Supremo Tribunal Federal. Conceito do Crime Militar...................................... 53
10. Crime Propriamente e Impropriamente Militar ..................................................65
11. Crime Propriamente Militar. Conceito ...............................................................67
12. Crime lmpropriamente Militar............................................................................72
13. Militar. Conceito ................................................................................................82
14. Militar da Reserva e Relormado .......................................................................85
15. Superior. Militar. Ultimo Posto. 1PM. Conselho.................................................86
16. Assemelhado .... '.., ................................................................................ 88
17. OArt.92 d0CPM ...............................................................................................91
18. Agente Militar....................................................................................................96
19. Sujeitos Ativo e Passivo Militares .....................................................................9 6
20. Local Sob Administração Militar...................................................................... 100
21. Militar Em Serviço. Em Razão de Funcão, etc................................................ 10 1
22. Policial Militar. Bombeiro Militar. Em Serviço .................................................. 10(3
23. Patrimônio sob Administracão Militar e Ordem Administrativa
Militar.............................................................................................................. 1Ot
24. Crimes Dolosos contra a Vida. VItima Civil ............................................... ......11
25. Agente Civil ............................................................................................... .... ii
26. Patrimônio Sob Administracäo Militar ....................................................... .....
27. Ordem Administrativa Militar .................................................................. ... ..... 11(1
28. Local Sob Administraçäo Militar ............................................................. ... ...... .11 /
29. Formatura. Prontidão. Vigilância, eEtc. ................................................. ... ...... 11
30. Funçao de Natureza Militar .................................................................... ... ...... 1111
10 Célio Lobão Direito Penal Militar -

Serviço de Vigilância, Garantia e Preservaçao da Ordem..............................124 Objetividade JurIdica ................................................................................ ... ..... I Sb
Penas Acessórias. Militar................................................................................125 Sujeito do Delito ...............................................................................................i 55
Açao Penal.......................................................................................................126 Elementos Objetivos ................................................................................. ....... .1 55
Crime Militar. Quadro SinOptico ...................................................................... 127 Elemento Subjetivo ................................................................................... ....... .1 s@
ConsumacaoeTentativa .......................................................................... ....... .155
PARTE II Legislacao Anterior ..........................................................................................1 ss
CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES EM TEMPO DE PAZ. .............. 133 Capitulo V
TItulo I Concerto para Motim e Revolta ....................................................................I
Crimes Contra a Autoridade Militar .................................................................. 133 63. Consideraçöes Gerais......................................................................................156
64. Crime Militar..................................................................................................... 157
Noçôes Gerais..................................................................................................133 65. Objetividade Juridica........................................................................................ 157
66. Sujeitos do Delito ............................................................................................. 157
CapItulo I 67. Elementos Objetivos......................................................................................... 157
Motime Revolta ..............................................................................................134 68. Elemento Subjetivo........................................................................................... 159
69. Consumaçào e Tentativa.................................................................................. 159
36. Consideraçoes Gerais...................................................................................... 135 70. lsençaodePena .............................................................................................. 159
37. Crime Militar ..................................................................................................... 139 71. Legislação Anterior .......................................................................................... 160
38. Objetividade JurIdica ........................................................................................ 139
39. Sujeitos do Delito .............................................................................................140 CapItulo VI
40. Elementos Objetivos......................................................................................... 140
41. Elemento Subjetivo........................................................................................... 145 Violéncia contra Superior............................................................................... 160
42. Consumaçao e Tentativa..................................................................................145
43. Forma Qualificada............................................................................................146 72. Consideracöes Gerais...................................................................................... 161
44. Livramento Condicional....................................................................................149 73. Crime Militar.....................................................................................................161
45. Legislacao Anterior .......................................................................................... 149 74. Objetividade Juridica........................................................................................161
75. Sujeitos do Delito .............................................................................................161
CapItuto H 76. Elementos Objetivos.........................................................................................161
Violência Praticada por Crupo Armado .......................................................149 77. Elemento Subjetivo...........................................................................................169
78. Forma Qualificada............................................................................................169
46. Consideraçoes Gerais..................................................................................149 79. Consumacao e Tentativa.................................................................................. 171
.... 80. Erro Quanto a Pessoa. Erro de Execuçao Desconhecimento da
47. Crime Militar .....................................................................................................
......150
48. Objetividade JurIdica ........................................................................................ 150 Condiçãode Superior.......................................................................................171
49. Sujeitos do Delito .............................................................................................150 81. Militar da Reserva ou Reformado..................................................................... 174
50. Elementos Objetivos.........................................................................................150 82. Liberdade Proviria, Suspensao Condicional da Pena e Livra-
51. Elemento Subjetivo...........................................................................................152 menloCondicional............................................................................................ 174
52. Consumaçao e Tentativa..................................................................................152 83. Legilaçâo Anterior ............................................................................................ 175
53. Legislaçao Anterior ..........................................................................................152
CapItuto VU
CapIlulo Ill Resultado Culposo da \Tiolência .................................................................... 175
ConcursoMaterial ..........................................................................................153 84. Resultado Culposo da Violéncia ...................................................................... 1/s
54. Concurso Material ............................................................................................153
CapItulo VIII
Desrespeito a Superior .................................................................................... 175
CapItulo lv
Omissão Diante do Motim e da Revolta........................................................154 Consideraçôes Gerais ................................................................................... ... ic
Crime Militar .................................................................................................. ... in
55. Consideraçoes Gerais......................................................................................154 Objetividade Juridica ..................................................................................... ... 1r fi
56. Crime Militar ......................................................................................................154 Sujeitos do Delito ........................................................................................... in
12 Cello Lobão Direito Penal Militar

Elemento Objetivo............................................................................................176 125.Consumacão e Tentativa .................................................................................. 195


Elemento Subjetivo...........................................................................................178 126.Liberdade ProvisOria e Sursis ..........................................................................195
Forma Qualiticada ............................................................................................ 178 Legislação Anterior ..........................................................................................195
Consumaçao e Tentativa..................................................................................179
Liberdade ProvisOria e Suspensão Condicional da Pena................................180 CapItulo XII
Desrespeito e Outros Delitos ...........................................................................180 PublicaçãoIlIcita ............................................................................................. 195
Desrespeito e Desacato...................................................................................180
Desrespeito e lnsubordinaçao .......................................................................... 180 ConsideracOes Gerais.................. 19
Desrespeito e Resistência ................................................................................ 181 129.Crime Militar................................. 19€
Legislação Anterior ..........................................................................................181 130. Objetividade JurIdica.................... 19€
131.Sujeitos do Delito ......................... 196
Elementos Objetivos..................... 19€
CapItulo IX Elemento Subjetivo....................... 198
Desacatoa Superior ........................................................................................181 134.Consumaç5o e Tentativa.............. 198
135.Liberdade Provisória ................... 198
Consideraçoes Gerais......................................................................................181 136.Legislaç5o Anterior ...................... 198
100.Crime Militar.....................................................................................................182
101.Objetividade Juridica ........................................................................................ 182 CapItulo XUI
102. Sujeitos do Delito .............................................................................................182 Usurpacão ........................................................................................................ I 98
103.Elementos Objetivos.........................................................................................182
104. Elemento Subjetivo...........................................................................................184 137.Noc6es Gerais.................................................................................................. 198
105.Consumaç5o e Tentativa..................................................................................184
106.Forma Qualificada............................................................................................185 CapItulo XIV
107.Suspensao Condicional da Pena .....................................................................185 Assuncão Ilegal de Comando .........................................................................199
108. Legislação Anterior ..........................................................................................185
138.Considerac6es Gerais...................................................................................... 199
CapItulo X 139.Crime Militar..................................................................................................... 199
140.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 199
Despojarnento de Uniforme ............................................................................ 185
141.Sujeitos do Delito .............................................................................................200
109.Consideraç6es Gerais......................................................................................185 142.Elementos Objetivos.........................................................................................200
110.Crime Miljtar ..................................................................................................... 186 143.Elemento Subjetivo........................................................................................... 202
144.Consumaç5o e Tentativa..................................................................................202
11 1.Objetividade Juridica ........................................................................................ 186 145. Legislacão Anterior ..........................................................................................203
112.Sujeitos do Delito .............................................................................................186
113.Elemento Objetivo............................................................................................186 CapItulo XV
114.Elemento Subjetivo...........................................................................................187 Conservacão 1Ieg1 de Comando .................................................................... 293
1 15.Consumacao e Tentativa..................................................................................187
116.Forma Quahficada ............................................................................................ 187
146.Considerac6es Gerais......................................................................................203
Liberdade ProvisOria e Suspensao Condicional da Pena................................188 147.Crime Militar .....................................................................................................204
Legislaçao Anterior ..........................................................................................188 148.Objetividade JurIdica ........................................................................................204
149. Sujeitos do Delito .............................................................................................20 4
CapItulo XI 150.Elementos Objetivos .........................................................................................204
Insubordinação ................................................................................................ 188 151.Elemento Subjetivo ...........................................................................................20€
152.Consumacâo e Tentativa ..................................................................................20€
1 19.Consideraçoes Gerais......................................................................................188 153. Legislacão Anterior ..........................................................................................20(
120.Crime Militar.....................................................................................................189
121.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 189 Capitulo XVI
Sujeitos do Delito .............................................................................................189 Excesso OU Abuso de Autoridade
Elementos Objetivos.........................................................................................189
Elemento Subjetivo...........................................................................................195 154.Noc6es Gerais
14 Cello Lobão Direito Penal Militar
15

('apItulo XVII CapItulo XXI


sIovin1entaç5o Ilegal de Tropa e Ação Militar............................................207
Rigor Excessivo na Puniçao de Subordinado ...............................................21 H
155.Consideraç6es Gerais......................................................................................207
156.Crime Militar.....................................................................................................207 189.Consideraç6es Gerais......................................................................................219
190.Crime Militar .....................................................................................................219
157.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 207 191.Objetividade Juridica........................................................................................219
158.Sujeitos do Delito .............................................................................................208
192.Sujeitos do Delito .............................................................................................220
159.Elementos Objetivos.........................................................................................208
Elementos Objetivos.........................................................................................220
160 Elemento Subjetivo...........................................................................................209 Elemento Subjetivo...........................................................................................221
161.Forma Qualificada............................................................................................209 Consurnaçao e Tentativa..................................................................................221
162.Consumaçao e Tentativa..................................................................................210 Legislaçao Anterior ..........................................................................................221
163.Legislaçao anterior...........................................................................................210
CapItulo XXII
CapItulo XVIII
'io1ência contra Inferior................................................................................221
Violação de Território Estrangeiro ...............................................................211
197.Consideraçoes Gerais..........
164.Consideraçoes Gerais......................................................................................211 221
198.Crime Militar.........................
165.Crime Militar.....................................................................................................211 222
199. Objetividade JurIdica.............
222
166.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 211 200.Sujeitos do Delito .................
167. Sujeitos do Delito .............................................................................................211 222
201.Elementos objetivos ..............
168.Elemeritos objetivos .........................................................................................212 222
202. Etemento subjetivo................
169.Elemento Subjetivo...........................................................................................212 224
203.Consumacao e Tentativa....... 224
170.Consumaçao e Tentativa..................................................................................212 204. Forma Quatificada.................
224
171 . Legislação Anterior ..........................................................................................212 205.Legislaçao Anterior ...............
224
CapItulo XIX CapItulo XX 111
Uso Ilegal de Uniforme de Posto Superior....................................................212
()knder Inferior Mcdiante Ato Aviltante ..................................................... 224
172.Consideraç6es Gerais......................................................................................213 206.Consideraç6es Gerais......................................................................................
173.Crime Militar.....................................................................................................213 207.Crime Militar .....................................................................................................225
174.Objetividade Juridica........................................................................................213 208.Objetividade Juridica ........................................................................................225
175.Sujeitos do Delito .............................................................................................214 209.Sujeitos do Delito .............................................................................................225
176.Elementos Objetivos.........................................................................................214 210. Elementos Objetivos.........................................................................................225
77.Elemento Subjetivo...........................................................................................216 225
21 1.Elemento Subjetivo ...........................................................................................226
178.Consumaçao e Tentativa..................................................................................216 212. Consumacao e Tentiva..................................................................................
179,Legislaç5o Anterior ..........................................................................................216 213.Forma Qualificada ............................................................................................226
214. Liberdade Provjsórja ........................................................................................226
CapItulo XX 215. Legislaçao Anterior ..........................................................................................226
226
llLIisico Militar Abusiva............................................................................216
TItuJo H
3O.Consideraç6es Gerais......................................................................................217 Crimes Contra o Serviço Militar e o Dever Militar..........................................227
bt1, (rirne Militar.....................................................................................................
217
t> Ohjtividade JurIdica ........................................................................................217 216. Noçöes Gerais..................................................................................................227
113 lijoitOs do Delito .............................................................................................217
llmwntosObjetivos.........................................................................................217 CapItulo I
IIi IflOtitC) Subjetivo...........................................................................................218 Descrção ...........................................................................................................
U Cii .(iiii;içao e Tentativa ..................................................................................218 22C
0/ I hi idiuli, Provisária ........................................................................................
218 217.Considerac6es Gerals......................................................................................220
CDt . I iç Ji liçu) Anterior ..........................................................................................
216 218.Crime Militar.....................................................................................................?2)
16 Célio Lobão Direito Penal Militar 17

219. Objetividade JurIdica .229 253.Sujeitos do Delito .............................................................................................249


220.Sujeitos do Delito .............................................................................................229 254. Elernentos Objetivos.........................................................................................249
221.Elementos Objetivos.........................................................................................230 255.Elemento Subjetivo...........................................................................................251
222.Menorde l8Anos ............................................................................................235 256. Consumaçao e Tentativa..................................................................................251
223. Elemento Subjetivo...........................................................................................235 257.Atenuantes e Agravante Especial ....................................................................251
224.Consumac5o e Tentativa..................................................................................235 258.A Lei n9 9.764, de 18.12.98 ..............................................................................253
225. Forma Qualificada............................................................................................236 259.Suspens5o Condicional da Pena.....................................................................256
226.Liberdade ProvisOria e Suspensão Condicional da Pena................................236 260. Legislaçao Anterior ..........................................................................................256
227. Processo Penal Militar. Procedimento Especial...............................................236
228. Legislaçao Anterior ..........................................................................................236 CapItulo VI
229.Jurisprudência ..................................................................................................236
230. Sumulas do STM..............................................................................................237 Concerto para Desercão .................................................................................. 256
CapItulo H 261.Consideraç6es Gerais......................................................................................256
Desercão após Ausência Autorizada..............................................................237 262.Crime Militar.....................................................................................................256
263. Objetividade JurIdica ........................................................................................257
231.Consideracöes Gerais......................................................................................238 264.Sujeitos do Delito .............................................................................................257
232.Crime Militar.....................................................................................................238 265.Elementos Objetivos .........................................................................................257
233. Objetividade Juridica........................................................................................238 266. Elemento Subjetivo...........................................................................................258
234.Sujeitos do Delito .............................................................................................239 267. Consumaçao e Tentativa..................................................................................259
235.Elementos Objetivos.........................................................................................239 268. Processo Penal Militar. Procedimento no Concerto para Deserçao ................259
236.Elemento Subjetivo...........................................................................................242 269.Suspens5o Condicional da Pena .....................................................................259
237.Consumação e Tentativa..................................................................................242 270. Legislaçao Anterior ..........................................................................................259
238.Suspensão Condicional da Peria .....................................................................242
239. Legislacão Anterior ..........................................................................................242 CapItulo VII
CapItulo Ill Deserção após Evasão ou Fuga ......................................................................260
Criar ou Simular Incapacidade .....................................................................242
271.Consideraçoes Gerais......................................................................................260
240.Corisiderac6es Gerais......................................................................................242 272.Crime Militar .....................................................................................................261
241 Crime Militar.....................................................................................................243 273.Objetividade Juridica........................................................................................262
242.Objetividade JurIdica ........................................................................................244 274.Sujeitos do Delito .............................................................................................262
243.Elemeritos Objetivos.........................................................................................244 Elementos Objetivos.........................................................................................262
244. Elemento Subjetivo...........................................................................................245 Elemento Subjelivo ........................................................................................... 263
245. Consumação e Tentativa..................................................................................245 Consumaçâo e Tentativa..................................................................................263
Processo Penal Militar. Procedimento Preparatório .........................................245 Liberdade Provisória'e Suspensão Condicional da Pena................................263
Legislaçao Anterior ..........................................................................................246 Legislaçâo Anterior ..........................................................................................263

CapItulo IV CapItulo VIII


Atcnuantee Agrav ante Especiais ..................................................................246 Favorecirnento a Desertor ..............................................................................2(i3
248.Atenuante Especial ..........................................................................................246 280.Consideraç6es Gerais......................................................................................264
249.Agravante Especial ..........................................................................................247 281.Crime Militar..................................................................................................... 264
Objetividade JurIdica ........................................................................................264
CapItulo V Sujeitos do Delito ............................................................................................. 264
Deserçiioirnediata ........................................................................................... 248 284.Elementos Objetivos .........................................................................................264
285.Elemento Subjetivo ........................................................................................... 2G;
250. Consideraçoes Gerais......................................................................................249 286. Consumaçäo e Tentativa ..................................................................................2(i6
251.Crime Militar.....................................................................................................249 287.Exclusão de Pena.............................................................................................
252.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 249 288.Legislaç5o Anterior .......................................................................................
MEN-

Cello Lobão
Direito Penal Militar
19

(iipffluik ) IX
319.Sujeitos do Delito .............................. .......278
Omassiju de Ofcial ..........................................................................................267 . osjetvos.........................................................................................278
321.Elemento Subjetivo...........................................................................................
RI oraç öes Gerais 279
oflSI( 267 322.Corisumacao e Tentativa..................................................................................
279
267 323 lipo Qualificado
291 ObetrndadeJuridica 279
267 324 Leg:slaçao Anterior
292.Sujeito do Delito ...............................................................................................267 280
293.Elementos Objetivos.........................................................................................267 Capitulo XIV
294.Elemento Subjetivo...........................................................................................268 Ineficiencia de Força .......................................................................................280
295.Consumaç5o e Tentativa..................................................................................268
296. Legislação Anterior ..........................................................................................268 325.Consideraç6es Gerais ......................................................................................
326.Crime Militar .....................................................................................................
..............280
281
Capitulo X 327. Objetividade JurIdica ........................................................................................281
A1rndono de Posto e Outros Crirn€s im Serico 268 328. Sujeitos do Delito .............................................................................................
281
329 Elementos Objetivos
281
297. Noçôes Gerais.................................................................................................. 268 330. Elernento Subjetivo...........................................................................................
...........282
331.Con5umaçao e Tentativa..................................................................................282
CapItulo XI 332. Legislacâo Anterior ..........................................................................................
282
Abandonode Posto..........................................................................................269 CapItulo XV
Omissio do Comandante para Evitar Danos ...............................................
298.Consideraç6es Gerais......................................................................................269 282
299.Crime Militar.....................................................................................................270
300.Objetividade JurIdica ........................................................................................270 333.Consideracöes Gerais......................................................................................282
334.Crime Militar .....................................................................................................
301.Sujeitos do Delito .............................................................................................270 283
302. Elementos Objetivos .........................................................................................270 335.ObjetividadeJuridjca ........................................................................................ 283
336. Sujeitos do Delito .............................................................................................
303. Elemento Subjetivo ...........................................................................................274 283
337.Elementos Objetivos.........................................................................................
304.Consumaç5o e Tentativa ..................................................................................275 ..283
338. Elemento Subjetivo ...........................................................................................
305.1-egislacao Anterior ..........................................................................................275 284
339. Consumacao e Tentativa.................................................................................. 284
340. Modalidade Culposa.........................................................................................
Capitulo XII 285
341.Legislaç5o Anterior ..........................................................................................
Descumprirnento de Missão ...........................................................................275 285
CapItulo XVI
306. ConsideraçOes Gerais......................................................................................275
307.Crime Militar .....................................................................................................276 Omissão do Comandante diante de Sinistro.................................................285
308.Objetividade JurIdica ........................................................................................276
309.Sujeitos do Delito .............................................................................................276 342.Consideraçoes Gerais......................................................................................
285
343.Crime Militar .....................................................................................................
310. Elementos Objetivos .........................................................................................276 285
311 .Elemento Subjetivo ...........................................................................................277 344.Objetividade JurIdica ........................................................................................285
345.Sujeitos do Delito .............................................................................................286
312. Consumaçao e Tentativa ..................................................................................277 346.Elementos Objetivos.........................................................................................
313. Forma Qualificada ............................................................................................277 286
347.Elemento Subjetivo...........................................................................................
314.Modalidade Culposa .........................................................................................277 288
348.Corisumaçao e Tentativa..................................................................................
315.Legislaç5o Anterior ..........................................................................................277 288
349.Modalidade Culposa.........................................................................................
288
350. Legislacao Anterior ..........................................................................................288
Capitulo XIII
Retencão de I)ocunicntos ................................................................................277 CapItulo XVI!
Oniissão de Comandante em face de Naufrigio ..........................................
316.Consideraç6es Gerais......................................................................................278
317.Crime Militar .....................................................................................................278
351.Consideraç6es Gerais...................................................................................
318.Objetividade Juridica........................................................................................278 352.Crime Militar..................
.1

fl
Célio Lobão Direito Penal Militar 21

353,Objotividade Juridica........................................................................................289 TItuio I


154,Sujeitos do Delito .............................................................................................289 Crimes Contra o Serviço Militar ......................................................................... .103
155,Elementos Objetivos.........................................................................................289
Elemento Subjetivo...........................................................................................290 384. NoçOes Gerais..................................................................................................303
Consumação e Teritativa .................................................................................. 290
Logislaçao Anterior ..........................................................................................291
Capitulo I
Insubmissão.....................................................................................................304
(apItulo XVIII
385.Consideraç6es Gerais......................................................................................304
Iinhraguezem Servico .................................................................................. 291 386.Crime Militar.....................................................................................................306
387.Objetividade JurIdica ........................................................................................307
59. Consideraçoes Gerais............................. 291 Sujeitos do Delito .............................................................................................307
60.Crime militar............................................ 292 Elementos Objetivos.........................................................................................307
61.Objetividade Jurfdica ............................... 292 390.Elemento Subjetivo........................................................................................... 312
62.Sujeitos do Delito .................................... 292 391.Consumaçao e Tentativa..................................................................................312
63. Elementos Objetivos................................ 292 392. Pena Cominada e Menagem ............................................................................313
64.Elemento Subjetivo.................................. 293 393. Suspensào Condicional da Pena ..................................................................... 313
Consumacao e Tentativa......................... 294 394. Legislaçao Anterior ..........................................................................................314
Legislaçao anterior.................................. 294
CapItulo II
CapItulo XIX Criar ou Simutar Incapacidade FIsica .......................................................... 314
I)ormir em Serviço..........................................................................................294 395. Consideraçoes Gerais......................................................................................314
396.Crime Militar.....................................................................................................314
67.Considerac6es Gerais......................................................................................294 397.Objetividade Juridica ........................................................................................314
68.Crime Militar .....................................................................................................296 398.Sujeitos do Delito .............................................................................................314
69.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 296 399. Elementos Objetivos.........................................................................................314
70.Sujeitos do Delito .............................................................................................296 400. Elemento Subjetivo...........................................................................................315
71.Elementos Objetivos.........................................................................................296 401 .Consumaçao e Tentativa..................................................................................316
72.Elemento Subjetivo ........................................................................................... 297 402.Suspensão Condicional da Pena .....................................................................316
73.Consumac5o e Tentativa .................................................................................. 298 403. Legistaçao Anterior ..........................................................................................316
14.Legislaçao Anterior ..........................................................................................298
Capitulo HI
CapItulo XX Substituiçiode Cons ocado.............................................................................316
ComércioIlIcito ............................................................................................... 298 404.Consideraç6es Gerais .....................................................................................316
405.Crime Militar ............................................................................................. ........ 316
75.Consideraç6es Gerais........ 406.Objetividade JurIdica ........................................................................................317
76.Crime Militar....................... 407.Sujeitos do Delito .............................................................................................317
77.Objetividade JurIdica.......... 408.Elementos Objetivos.........................................................................................317
78.Sujeitos do Delito ............... 409 . Elemento Subjetivo...........................................................................................318
79. Elementos Objetivos........... 410.Consumaçáo e Tentativa..................................................................................318
00. Elemento Subjetivo............. 411.Suspensão Condicional da Pena .....................................................................318
HI ,Consumação e Tentativa.... 412.Legislação Anterior ..........................................................................................318
92.1 .ogislaçao Anterior ............
Capitulo IV
it ii: III Favorecirnento a Cons ocado
U I I iS I r.i PR()PRIAMENTE MILITARES ..........................................303 413.Consideraç6es Gerais......................................................................................
414.Crirne Militar ....................................................................................................
Wi .I 'rul iminares .....................................................................................................303

a
22 Célio Lobão Direito Penal Militar 23

415.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 320 Elementos Objetivos.........................................................................................331


416.Sujeitos do Delito .............................................................................................320 Elemento Subjetivo...........................................................................................332
417.Elementos Objetivos.........................................................................................320 Consumacao e Tentativa..................................................................................333
Escusa AbsolutOria ........................................................................................... 321 Legislacao anterior...........................................................................................333
Elemento Subjetivo...........................................................................................322
420.Consumac.o e Tentativa..................................................................................322 CapItulo IV
421.Legislação Anterior ..........................................................................................322 Violência contra Militar em Serviço .............................................................333
TItulo II 451.Consideraç6es Gerais......................................................................................333
Crimes contra a Autoridade Militar ou Disciplina Militar .............................. 322 452.Crime Militar.....................................................................................................333
453.Objetividade Juridica........................................................................................334
422.Consideraç6es Gerais......................................................................................322 454. Sujeitos do Delito .............................................................................................334
423.Justica Militar Estadual. Sujeito Ativo Militar. Civil...........................................323 455.Elementos Objetivos.........................................................................................334
456. Elemento Subjetivo...........................................................................................336
CapItuto I 457.Consumaç5o e Tentativa..................................................................................336
Aliciação........................................................................................................... 324 458. Forma Qualificada............................................................................................336
459.Suspensão Condicional da Pena e Livramento Condicional............................336
424.Considerac6es Gerais......................................................................................324 460. Legislaçao Anterior ..........................................................................................336
425.Crime Militar.....................................................................................................325
426. Objetividade JurIdica ........................................................................................325 CapItulo V
427. Sujeitos do Delito .............................................................................................326 Resuitado Culposo da Violência ....................................................................336
428.Elementos Objetivos......................................................................................... 326
429.Elemento Subjetivo ...........................................................................................326 461.Consideraç6es Gerais......................................................................................337
430. Consumacao e Tentativa..................................................................................326
431.Suspensão Condicional da Pena e Livramento Condicional da
Pena.................................................................................................................327
CapItulo VI
432.1-egislação anterior...........................................................................................327 Oposiçao a Ordem da Sentinela ..................................................................... 337

CapItulo II 462.Consideraç6es Gerais......................................................................................338


463.Crime Militar.....................................................................................................338
Incitamento......................................................................................................327
464.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 338
433. Consideraçoes Gerais......................................................................................327 Sujeitos do Delito .............................................................................................338
434.Crime Militar.....................................................................................................327 Elementos Objetivos.........................................................................................339
435.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 327 Elemento Subjetivo...........................................................................................340
436.Sujeitos do Delito .............................................................................................328 468.Consumac5o e Tenttiva .................................................................................. 340
Elementos Objetivos.........................................................................................328 Liberdade Provisória .........................................................................................340
Elemento Subjetivo...........................................................................................329 Legislaçao Anterior ..........................................................................................340
439.Consumacâo e Tentativa..................................................................................329
440.lncitamento por Meio de Impressos .................................................................329 CapItulo VII
441.Suspensao Condicional da Pena e Livramento Condicional............................330 Promover reunião de militares
442.Legislac5o Anterior ..........................................................................................330
471.Consideraç6es Gerais ...................................................................................... 3'll
Capitulo III 472.Crime Militar.....................................................................................................341
Apologia............................................................................................................330 473. Objetividade JurIdica ........................................................................................ 341
474.Sujeitos do Delito .............................................................................................341
443.Consideraçöes Gerais......................................................................................331 475.Elementos Objetivos .......................................................................................... 34 I
444.Crime Militar.....................................................................................................331 476.Elemento Subjetivo ...........................................................................................
445. Objetividade Juridica ........................................................................................ 331 477.Consumac5o e Tentativa ..................................................................................
446,Sujeitos do Delito .............................................................................................331 478.Legislação Anterior ..................................................................................'I'll
Cello Lobão Direito Penal Militar
24

Capitulo XII
Capitulo VIII Fuga de Preso Por Culpa
LJso IlIcito de Uniforme...................................................................................344
509.Considerac6es Gerais......................................................................................
479.Consideraç6es Gerais......................................................................................344 510.Crime Militar..................................................................................................... 361
480.Crime Militar.....................................................................................................344 51 1.Objetividade Juridica........................................................................................ 361
481 .Objetividade JurIdica ........................................................................................345 512.Sujeitos do Delito ............................................................................................. 361
482.Sujeitos do delito..............................................................................................345 513.Elenientos Objetivos.........................................................................................361
483. ElementoS Objetivos.........................................................................................345 514. Elemento Subjetivo...........................................................................................362
515.Consumação e Tentativa.................................................................................. 362
484.Militar da Reserva ou Reformado.....................................................................348
516. Legislação Anterior .......................................................................................... 363
485.Elemento Subjetivo...........................................................................................349
486.Consumacão e Tentativa..................................................................................349
Capitulo XIII
487. Legislacão Anterior ..........................................................................................349 Evasãode Preso...............................................................................................363
Capitulo IX 517.Consideraç6eS Gerais...................................................................................... 363
ResisOncia ........................................................................................................349 518.Crime Militar.....................................................................................................363
519.Objetividade JurIdica ........................................................................................363
520. Sujeitos do Delito ............................................................................................. 364
488.Considerac5O Gerais........................................................................................350 521.Elementos Objetivos.........................................................................................364
489.Crime Militar.....................................................................................................350 Elemento Subjetivo...........................................................................................366
490.Objetividade JurIdica ........................................................................................350 Consumação e Tentativa..................................................................................366
491 .Sujeitos do Delito .............................................................................................350 Concurso Material ............................................................................................366
492.Elementos Objetivos.........................................................................................350 525.Evas5o e Desercao ..........................................................................................366
493.Elementos Subjetivos.......................................................................................353 526. Legislação anterior...........................................................................................367
494.Consumação e Tentativa..................................................................................353
495.Forma Qualificada e Concurso Material...........................................................353 Capitulo XIV
496. Liberdade Provisória ........................................................................................354 Arrebathmentode Preso.................................................................................367
497.Legislac5o anterior...........................................................................................354
527.Consideraces Gerais......................................................................................367
Capitulo X 528.Crime Militar.....................................................................................................367
Fuga, Evasão, Arrebatamento e Amotinamento de Presos.........................354 529. Objetividade JurIdica ........................................................................................367
530. Sujeitos do Delito .............................................................................................367
531 .Elementos Objetivos.........................................................................................367
498.Noç6es Gerais..................................................................................................354
532.Elemento Subjetivo ...........................................................................................368
533.ConsunlaQ5o e Tentativa ..................................................................................368
Capitulo XI 534.Legislac5o Anterior ..........................................................................................368
Fuga de Preso .............................................. . ....................................................356
Capitulo XV
499.Considerac6es Gerais......................................................................................357
Amotinamentode Presos .................................................................................368
500.Crime Militar.....................................................................................................357 535.Consideraç6es Gerais......................................................................................369
501.Objetividade JurIdica ........................................................................................357
536.Crime Militar.....................................................................................................369
502.Sujeitos do Delito .............................................................................................357 537.Objetividade JurIdica ........................................................................................369
503.Elementos Objetivos.........................................................................................357 538.SujeitoS do Delito .............................................................................................369
504.Elemento Subjetivo...........................................................................................359 539.Elementos Objetivos ......................................................................................... 3(39
505.Consumac5o e Tentativa..................................................................................359 540.Elemento Subjetivo ........................................................................................... 3/1
506. Forma Qualificada............................................................................................359 541.ConsumaQ5o eTentativa ................................................................................... /1
507.Liberdade Provisória ........................................................................................360 542.Legislação Anterior ............................................................................ .... ........... 3/ I
508. Legislacão Anterior ..........................................................................................360
26 COlio Lobäo Direito Penal Militar 27

Capitulo XVI 575.Consumaç5o e Tentativa..................................................................................383


Desacato a Militar em Função de Natureza Militar....................................371 576. Legislaçao Anterior ..........................................................................................383

543.Consideraç6es Gerais ...................................................................................... 372


CapItulo XX
544.Crime Militar ..................................................................................................... 372
545.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 372 Homossexualismo ............................................................................................383
546.Sujeitos do Delito ............................................................................................. 372
547. Elemento Objetivo ............................................................................................ 373 577.Consideraç6es Gerais...................................................................................... 384
548.Elemento Subjetivo........................................................................................... 374 578.Crime Militar ..................................................................................................... 384
549.Consumaç5o e Tentativa.................................................................................. 375 Objetividade Juridica ........................................................................................ 384
550. Legislaçao Anterior .......................................................................................... 375 Sujeitos do Delito ............................................................................................. 384
581.Elementos Ob.jetivos......................................................................................... 384
CapItulo XVII Elemento Subjetivo..................................................................... ..... ... .......... .... 386
IngressoClandestino ....................................................................................... .375 Consumaçao e Tentativa........................................................... .. ..................... 386
584.Suspensão Condicional da Pena e Liberdade Provisória ......... . ...................... 386
551.Consideraçoes Gerais ...................................................................................... 375 585.Legislacao Anterior .......................................................................................... 386
552.Crime Militar ..................................................................................................... 375
Objetividade JurIdica ........................................................................................ 376
Sujeitos do Delito ............................................................................................. 376
Capitulo XXI
555.Elementos objetivos ......................................................................................... 376 Recusa de Função na Justiça Militar. Insubordinaçao ...............................386
556.Elemento Subjetivo...........................................................................................377
Consumacão e Tentativa.................................................................................. 377 586.Consideraç6es Gerais......................................................................................387
Liberdade ProvisOria ........................................................................................ 378
Legislaçao Anterior .......................................................................................... 378
TItulo HI
CapItulo XVIII Ofensa as Forças Armadas. Dano a Bens Milutares. Crimes
Ultraje a SImbolo Nacional ............................................................................378 dePerigo Comum .................................................................................................389

560.Corisideraçöes Gerais...................................................................................... 378 CapItulo I


561.Crime Militar ..................................................................................................... 379 Ofensa as Forças Armadas ............................................................................. .389
562.Objetividade JurIdica ........................................................................................379
Sujeitos do Delito ............................................................................................. 379
Elementos Objetivos......................................................................................... 379 587.Consideraç6es Gerais......................................................................................389
588.Crime Militar .............. . ..................................................................................... 390
565.Elemento Subjetivo........................................................................................... 380
566.Consumaçao e Tentativa................... . .............................................................. 381 589.Objetividade JurIdica ...7................................................................................... 390
Liberdade Provisória ........................................................................................ 361 590. Sujeitos do Delito ............................................................................................. 391
Legislaçao anterior ............................................................................................ 381 591.Elementos Objetivos......................................................................................... 391
592. Elemento Subjetivo...........................................................................................391
CapItuto XIX 593.Consumaçao e Tentativa..................................................................................392
594.Tipo Qualificado...............................................................................................392
Desafiopara Due!o ..........................................................................................381
595. Exclusão de Antijuridicidade ............................................................................392
596. Legislaçao Anterior ..............................................................................................
569.Considerac6es Gerais...................................................................................... 381
570.Crime Militar ..................................................................................................... 382
571.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 382 CapItulo II
572.Sujeitos do Delito ............................................................................................. 382 DoDano ............................................................................................................
573.Elementos Objetivos......................................................................................... 382
574.Elemento Subjetivo........................................................................................... 383
597.Noç6es Gerais
28 Cello Lobäo Direito Penal Militar 29

CapItulo III CapItulo VII


Dano em Material ou Apareihamento de Guerra........................................394 DanoCulposo ................................................................................................... 404
598.Consideraç6es Gerais .......................................................................................394
599.Crime Militar ..................................................................................................... 394 632.Considerac6es Gerais ......................................................................................405
600.Objetividade JurIdica ........................................................................................ 394 633.0 Art. 262, c.c. o Art. 266 .................................................................................406
601.Sujeitos do Delito ............................................................................................. 394 634.Art. 263, c.c. o Art. 266.....................................................................................407
Elementos Objetivos......................................................................................... 395
635.Art. 264, C.C. o Art. 266.....................................................................................407
Elemento Subjetivo........................................................................................... 396
604.Consumaçao e Tentativa.................................................................................. 396 636.Art. 265, c.c. o Art. 266.....................................................................................407
605. Legislacao Anterior .......................................................................................... 396 637. Resultado Lesão Corporal ou Morte ................................................................407

CapItulo IV
Danoem Navio de Guerra..............................................................................396 CapItulo VIII
Crimesde Perigo ............................................................................................. 408
606.Consideraç6es Gerais .................................. 397
607.Crime Militar ................................................. 397
397 638.Considerac6es Gerais ......................................................................................408
608.Objetividade Jurfdica ....................................
609.Sujeito do Delito ........................................... 397
610. Elemento Objetivo ........................................ 397
Captulo IX
611.Hemento Subjetivo....................................... 398
612.Consumacao e Tentativa.............................. 398 Arremessode Projétil .....................................................................................409
Forma Qualificada ........................................ 398
Legislacao Anterior ...................................... 399 639. Consideracoes Gerais ...................................................................................... 409
640.Crime Militar .....................................................................................................409
CapItulo V
Dano em Aparelhamento e Instalaçes .........................................................399 641.Objetividade Juridica ........................................................................................409
642.Sujeitos do Delito ............................................................................................. 409
615.Consideraç6es Gerais .................. 400 643. Elementos Objetivos......................................................................................... 409
616.Crime Militar ................................. 400 644.Elemento Subjetivo........................................................................................... 410
617.Objetividade JurIdica .................... 400 645.Consumaç5o e Tentativa.................................................................................. 410
618.Sujeitos do Delito ......................... 400
400 646.Forma Qualificada ............................................................................................ 410
Elementos Objetivos.....................
Elemento Subjetivo....................... 402 647. Legislaçäo Anterior .......................................................................................... 411
621 .Consumacao e Tentativa.............. 402
Forma Qualificada ........................ 402
APENDICE....................................................................................... 413
Legislaçao Anterior ...................... 402

CapItulo VI BIBLIOGRAFIA ................................................................................ 433


Consuncão e Extravio de CombustIvel .......................................................... 402

624.Consideraç6es Gerais .................... 403


625.Crime Militar ................................... 403
626.Objetividade JurIdica ...................... 403
627. Sujeitos do Delito ........................... 403
628.Elementos Objetivos ....................... 403
629.Elemento Subjetivo......................... 404
630.Consurnacào e Tentativa................ 404
631 .Legislacao anterior ......................... 404
PARTEI

CRIME MILITAR

I
PARTE I
CRIME MILITAR
TITULO UNIco
Crime Militar
1. Direito Penal Especial e Cornum - A doutrina divide o Direito Pe-
nal em especial e cornum e, dentre as diversas correntes que procuram extre-
ma-los, destaca-se aquela liderada, no Brasil, por Frederico Marques e segui-
da, alérn de outros, por Darnásio de Jesus, segundo o qual o "critério para essa
divcrsificação está no órgão encarregado de aplicar o Direito objetivo. Como
escreve José Frederico Marques, Direito comum e Direito especial, dentro do
nosso sistema politico, são categorias que se diversificarn ern razão do órgão
que deve aplicá-los jurisdicionairnente. Este é o melhor CntCrio para unla dis-
tincão precisa, pelo menos no que tange ao Direito Penal: se a norma objet iva
somente se aplica por meio de órgãos especiais constitucionalmente previstos,
tal norma agendi tern caráter especial; se a sua aplicaçäo não demanda juris-
dicoes próprias, mas se realiza pela justiça comum, sua qualificacão scra a
de norma penal comurn".'
Prosseguindo, acrescenta que, no "Brasil, o Direito Penal Militar pode
ser indicado como Direito Penal especial, pois a sua aplicacão se realiza por
meio dajustiça Penal militar".2
Jorge Alberto Roniiro, dentro dessa orientação, sustenta:

"esse caráter especial the advém ainda de, em nosso pals, a Constituição Fe-
deral atribuir com exciusividade aos Orgãos da justica castrense, que es-
pecialmente prevê (art. 122), o processo e o julgamento dos crimes militares
definidos em tel (arts. 124 e 125, § 4)..•3

Noronha, na mesma linha: "A nosso ver, o melhor criterlo que exlre:n:i
o Direito Penal cornurn dos outros é o da consideracao do órgäo quc OS deve
aplicar jurisdicionalmente".4

- Damásio de Jesus, Dir. Pen., v. 1, p. 8.


'Damàsio de Jesus, Dir. Pen., V. 1, p. 8.
Jorge Alberto Ronieiro, Curse Dir. Pen. Mil., p. 5, Saraiva, 1994.
'Magalhães Noronha, Dir. Pen., v.1, p. 12.
Cello Lobao Direito Penal Militar 35

Nessa distincão se apóiam os seguidores da doutrina processualista, a sual Penal Militar, a exemplo do Direito Penal especial, resulta nao soniente
ser estudada mais adiante e que, segundo o professor Magalhes da Rocha, da especialidade do órgão jurisdicional e sim, principalmente, do bern jurIdico
"iião oferece critério aceitável cientificamente, tendo em vista a separacão objeto da tutela penal.
nItida dos conceitos de tipos de ilIcitos e dejurisdiç5o".5 Conio afirma o próprio Frederico Marques. "o Direito Processual (civil
Classificar o Direito Penal especial cm funcao do órgão judiciário en- ou penal) tern por objeto nuclear e principal, a jurisdição, isto é, a funcão que
carregado de aplicar o Direito objetivo demonstra evidente confusão entre Estado exerce para resolver urn litIgio ou lide. Para exercer a jurisdicao pe-
Direito Penal especial e Direito Processual Penal especial, talvez em razão de nal, o •juiz aplica o Direito Penal, que é assim o instrurnento de que se vale
existir.igualmente, Direito Processual Penal comum c Direito Processual Pe- para dar solucão ao litIgio penal. Dianic disso, dtivida nao pode haver de que o
nal especial, que se diversificarn porquc 0 "prirneiro é aquele que Sc aplica a Direito Penal tern objeto próprio e o Direito Processual Penal, igualmente. 0
todos os sujeitos, regulamentado pela legislacão geral. enquanto que 0 Se- prirneiro conceitua e estrutura juridicamente o crime e estabelece a sancho a
gundo resulta de uma legislação especial, intuitu persone ou ratione mate- que dá lugar a prática de ato delituoso; o segundo regula o exercIcio da juris-
nw, tendo urna esfera de aplicação I imiiada".6 dição, para a resolução da lide. Crime, sançao penal e a respectiva ligação, cis
Dc forma precisa, distingue Romeu de Canipos Barros: objeto do Direito Penal; .iurisdicão, processo e resolução da lide penal, cis o
objeto do Direito Processual Penal". 10
"o processo penal especial se contrapOe ao processo penal comum, apresen- Portanto, se têni objeto próprio, - urn trata do "crime, sançao penal e a
tando modificaçöes na estrutura do procedimento ou em razào do órgão judi- respectiva ligaçao", o outro, da "jurisdiçhio, processo e reso]ucao da lide pe-
ciário encarregado do julgamento, ou, ainda, em funçao da tutela juridica de
direito material; e, finalmente, tendo em consideração a própria situacao sub- nal", - corno é possIvel incluir-se no ciltirno a classificaçao do primeiro corno
jetiva dos sujeitos processuais".7 Direito Penal especial? Coino diz Magalhaes da Rocha, já citado, "a separação
nItida dos conceitos de tipos de ilIcitos e de jurisdição" torna inaccithvel a
Eselarece, ainda, o mesmo autor que "o ordenarnento processual vigo- mencionada corrente doutrinria.
raiite apresenta, corn dislinção cm caracterIsticas próprias, tendo em vista o Em face do direito positivo brasileiro, a classificaçhio proposta C insus-
bern jurIdico tutelado pelo direito material e a especialidade do órgAo jurisdi- tcntável. Tornando-se corno exemplo a Lei n° 1.802, deS dejaneiro de 1953,
cional perante o qual se desenvolve o processo, o direito processual penal editada sob a egide da Constituiçäo de 1946, na qual os delitos nela previstos
militar c o direito processual penal eleitoral. Ambos são regulados per legisla- contra a vida, a incolumidade e a liherdade das autoridades das Forças Anna-
ção especial e aplicados per uma justica tambérn especial".8 das, dos cornandantes de unidades militares federais e estaduais (art. 6°, h, c.c.
Finalmente conclui que "a especialidade do processo pode não levar em art. 42), a constituiçao e manutenção de milIcias ou organizacOes de tipo
conta a especialidade da Justica. Assirn, numa outra divisão, varnos encontrar militar, pelos partidos, associacöcs, organizacoes de tipo militar (art. 24, c.c. o
norrnas de processo reguladas nas charnadas leis extravagantes, estabcieccndo art. 42), a posse, a guarda, a irnportacao, etc., de camera aerofotográfica, scm
proceclimentos especiais para determinadas infracOes penais, mas que são licença da autoridade corrietente (art. 28, c.c. o art. 42), cram processados c
aplicadas pclajustica cornum".9 julgados pela Justiça Militar, enquanto os dcmais, na grande rnaioria delitos
Logo, se a justiça especial nao serve de critCrio Cnico e dcterrninante do especiais, situavam-se sob a jurisdiçao da justiça comuin. Portanto, cletcriniva-
processo penal especial porque, corno virnos, na justica cornum pode, igual- dos crimes cornuns julgados pela justiça especial e infracoes penais espcci:Iis
mente, trarnitar processo penal especial, corn muito mais razão não serve para julgadas pela justiça conmni!
extrernar o Direito Penal cornurn do Direito Penal especial, mesmo porque. 0 mesmo pode ser dito corn rclacao ao roubo, sequestro. inccndio (:10.
como acentua o dcstacado processualista, a especialização do Direito Proces- 28 do DL n° 898/69), alCrn de outros, que não adquiiram a qualidade de no'
ma penal especial, embora, em conformidade corn o Ato Institucional n0 2, dc
1965, e, posteriorniente, o art. 122, §12 da Constituição de 1967. sna F('l(',
Revista do STM, n2 1, p. 203.
Romeu de Campos Barros, S/sterna Proc. Pen. Bras., v. 1, p. 9, flQ 10. são dernandassejurisdição especial — Justiça Miiitar— c nan comuiii.
Romeu de Campos Barros, S/sterna Proc. Pen. Bras., v. 2, p. 206, n 1.183.
Romeu Campos Barros, Sistema Proc. Pen. Bras, v. 2. p. 207, n 1187.
Romeu Campos Barros, S/sterna Proc. Pen., v. 2, p. 208, n° 1189. IC
Frederco Marquns. Tial. Dir. Proc. Pen., v. 1. p. 34.
36 Célio Lobão Direito Penal Militar 37

0 Direito Penal Militar frances, no estIgio atual, serve para demonstrar co) ou natural (mulher, mae, ascendente, descendente). Assirn, são crimes
especiais os funcionais, ou puramente militares, o crime falimentar próprio, a
a falta de consistência da doutrina supra mencionada. Ccrca de quinze anos parede (greve), o auto-aborto, o infanticIdio, o crime do art. 302, o abandono
atrás, a Franca extinguiu a Justiça Militar em scu terriiório, mas a preservou de famIlia".12
junto as tropas acantonadas em outro pals. 0 crime militar corneudo por mili-
tar frances no exterior é julgado pelo drgAo da Jusliça cast reuse que funciona 0 saudosojurista Heleno Fragoso, seguindo Hungria, ensina de maneira
junto a unidade militar onde serve o autor do delito. No eutanto, Sc nessa tropa concisa:
não houver órgão da justica especia]izada ou se o crime for praticado em ter-
ritório frances, o militar fica sujeito a jurisdicão comum brancesa. direito penal comum é o que se aplica a todos os süditos indistintarnente.
Especial é o que se aplica apenas a uma classe ou categoria em que se
E o que dispöem os arts. 3 e 5 do COdigo de Just iça Militar frances em acham. Perante nossa legislação, é Direito Penal especial o Direito Penal Mi-
vigor: 13
litar".

"Art. 3. En temps de paix, des tribunaux peuvent être établis aux 0 magistério de João Mendes de Almeida JiInior, sempre atual, assim
armées lorsque celles-ci stationnent ou opèrent hors du territoire de Ia distingue o crime comum do crime militar (especial), que denornina delito
République. Art. 5. Lorsquun tribunal na pas été établi auprês dune force próprio:
armée qui stationne ou opère hors du territoire de la République, les affaires
relevant de Ia justice militaire sont portées devant Ia juridiction de droit
commun compétente". "0 termo comum tern como correlativo oposto o termo próprio. Assim, delictum
commune, de/ictum proprium - eram expressöes usadas pelos clássicos como
correlativos opostos. Os crimes distinguern-se, como qualquer ente, quer por
Em conformidade corn a correntc doutriniria acima citada, a mesma in- seus elementos essenciais, constitutivos da sua espécie, quer por condiçöes
fracão prevista no ('ódigo de Justica Militar frances é especial (militar) ou particulares, constitutivas da sua individualidade: aquebes elementos são co-
muns a todos os crimes da mesma espécie, ao passo que estas condiçOes
cornurn. se, no p meiro caso, for praticada por militar servindo no exterior, em
não são comuns a todos e, alias, são práprias de uma certa classe. Todo o
unidade junto a qual funciona óreäo da justica castrense, e, no segundo caso, crime supoe urn ente humano, uma intenção dobosa, urn fato punivel, mas ha
se não houvcr órgão dcssa mesma justica especializada, na tropa onde o mili- crimes que, além desses elementos essenciais, comuns, são caracterizados
tar serve ou se o delito for cometido no território francCs. Conclulmos, por- por atributos prOprios do agente, atributos que os distinguem e individualizam.
Assirn, por exemplo, ... os crimes de deserção, indisciplina e outros puramente
tanto, que o critério do órgão encarregado da aplicacão do direito objetivo não militares não são crimes comuns; são próprios da classe militar, por isso que o
se presta para identificar o Direito Penal especial. homem, sem a qualidade de militar, não pode cornet6-bos".14
Bern meihor o ensinamento de Esmeraldino Bandeira:
Nessa linha de raciocInio, Augier et Le Poittevin:
"Crime comum ou de direito comum é o que consiste na viotação dos
deveres gerais impostos pela lei penal a todos os indivIduos indistintamente. "Une infractiQn peut, en second lieu, être spéciale, parce quelle
Crime especial é o que resulta da infração de certos deveres impostos pela suppose Ia violation de devoirs qui ne sont imposes qua une catégorie de
referida Iei a determinadas pessoas em virtude de uma situação, de urn cargo personnes a raison de leur état ou de leur situation. En ce sens, toute
ou de uma profissão; deveres que assim existern para uns e não existem para infraction prévue, soit par le Code penal, soit par une loi applicable a tous les
outros".11 citoyens, constitue une infraction ordinaire; les infractions spéciales sont cellos
qui sont prévues par un corps de lois applicables a une categoric ch
personnes déterminées".
Dentro dessa orientaço, expöe Nelson Hunria:
Prosseguindo, conclui: "C'est ainsi qu'il convient de distingucr l'
"Crimes comuns e especiais (ou prOprios ... ): comuns SO os que podem infractions ordinaires, les crimes et délits militaires".15
ser praticados por qualquer pessoa; especiais os que pressupöem no agente
uma particular qualidade ou condicao pessoal, que pode ser de cunho social
12
(ex.: funcionário piblico, militar, comerciante, ernpregador, empregado, médi- Nelson Hungria, Comentários, V. it.II, p. 53-4.
Heleno Fragoso, Liçoes Dir. Pen., Parte Especial, p. 5.
14
João Mendes de Almeida JUnior, 0 Proc. Grim. Bias.. p. 79.
15
Esmeraldino Bandeira, Dir. Just. Proc. Mi!., v. 1, p. 17. Augier et Le Poittevin, Or. Pen. Mi!., p. 24.
38 Cello Lobão Direito Penal Militar - :Jf)

Ruy Barbosa, diante do direito positivo da época, ensinava que "preci- norma penal, pois esse mesmo órgão especial, como ficou dito antcriormente,
sar a disposicao, em que se ha de averbar urn delito, é declarar o Codigo, Co. já aplicou norma penal comurn, e podemos dizer que continua a faze-b, no
mum ou militar, por onde sejulgará. E declarar o Cddigo é determinar o foro; conhecer, por exemplo, do hornicIdio de militar contra militar ou de civil CO II
porquanto tiem lei militar k executa najurisdiçao ordinária, neni lei ordinária tra militar em serviço ou em local sob administraçäo militar. Nesses e em ou
na jurisdiçao militar".' 6 tros casos, a norma penal é comurn; apenas a ocorrência de determinadas cir-
Logo, segundo o jurista emérito, somente apds declarar o Código, após cunstancias, como sujeitos ativo e passivo militares, local do crime, época (10
classificar o delito como militar, C que se efetiva a segunda operação, ou seja, crime, hem jurIdico ofendido, subtraern sua aplicaço da justica comum. inse-
a aplicaço da norma objetiva "por meio de órgãos especiais constitucional- rinclo-a na justica especial, scm, contudo, transfonmi-la em norma penal espe-
mente previstos", e nio a operaçao contrária, a de conhecer do órgo especial cial.
para depois classificar o crime como militar ou comum! 0 Direito Penal Militar é especial não so porque se aplica a uma classe
Chegamos, portanto, a conclusao de que o critério do órgao encarregado ou categoria de indivIduos, - como afirma Heleno Fragoso -, como tambCm,
da aplicaçao do direito positivo nao se presta para distinguir o Direito Penal pela natureza do bern jurIdico tutelado.
especial do comum. Como assinala Romeu Campos Barros, hi crimes es- Dessa forma. o Dircito Penal Militar, como lei penal especial, aplica-se,
peciais que so processados e julgaclos na justica comuni, P°' dcterminaçao predominantemente ao militar. embora, como acentua Venditti, iiao SC pOSSa
expressa da lei. A reciproca C verdadeira, excepcionalmente o delito comum falar do carOter de personalidade dessa lei, porquanto. excepcionalrncnte, apli-
pode inscrir-se na jurisdicao da justica especial, como aconteceu corn deter- ca-se ao civil, DOS casos em que OS objetos da tutela penal sào hens e interes-
minados crimes previstos no DL n 898/69, na Lei n 1.802/53 e ocorre no ses das instituiçöes militares relacionados corn sua ciestinaçao constitucional e
Codigo Penal Militar. legal, como o serviço militar, no crime de substituição de convocados por
No direito frances, conforme demonstrarnos acima, compete a justiça outrem, a autoridade militar, no crime de uso indevido de uniforme por civil.
comurn julgar o crime militar cometido por militar em território frances ou em For outro lado, apesar de julgados por 'Crgios especiais constitucio-
unidade junto a qual no funciona a justiça castrense e essa circunstância nto naimente previstos", determinados crimes previstos no Código Penal Militar.
transforma a norma penal especial em cornurn. que recebc.m a classificaçiio de militar em raziio de circui1stncias expressas
Numa fi)rmulacao mais moderna, Venditti, citado por Jimenez y Jime- em lei (art. 9u, IT e III), no se especializam, continualn como crimes COITIUIIS
nez, cxpöc o que se entende por lei especial: aplicados pela justica especializada.
2. Direito Romano - Os doutrinadores, dentre esses Pietro Vico, siio
"a) Ley especial es la no contenida en el COdigo penal comün al unnimes em afirmar que o perlodo moderno do Direito Penal Militar conic-
que, aportando sus particularismos, complementa. Esa vida separada
generalmente se justifica por razones formales, de mera técnica legislativa. çou corn a Revolução Francesa (1789),18 porCm o crime militar não era desco-
b) Ley penal especial es también Ia que se aplica predominantemente a un nhecido do Direito Romano, onde a vio1açio do dever militar alcançou noçan
determinado cIrculo de personas dotadas de un status singular. La jurIdica perfeita e ciexlfica, o que se explica porque Rorna conquistou o
especialidad no se basa siempre en Ia condición de militar que tenga el mundo corn o vigor da disciplina militar.19 No Digesto, Livro XLIX, Tuiulo
sujeto del delito sino en Ia naturaleza de los bienes jurIdicamente XVI. L. 2. \rem expresso 0 conceito de delito militar prCprio (delito proprt-
protegidos. Por eso no se puede hablar del carácter de personalidad de
estas leyes que alguna vez incriminan civiles. c) Ley penal especial en niente mihtar), que era cometido pelo militar nessa qualidacic (Pro j,rh,,i, nil-
cuanto que constituye una "especie" dentro do Ia ley general, con unos litare est (leliciurn, quod quis Ulj nu/es ac//nit let). Aind2l na rnesma L. 2. sc
elementos especializantes que, de no existir, dejarian sin j7ustificar Ia gundo Esmeraidino Bandcira, consta que OS delitos do militar on sao proplios
excepciOn y darIan lugar a que se aplicase solo Ia ley general". ou comuns: C clal 0 processo on C proprio ou cOiflUfli (Mi/ID//n dc/ida • v l'
athnissa, aut propria SUflt, ciut CWfl cwleris coininunia: uiide ci persecsiliu
Em nosso pals, a lei penal militar é aplicada por órgão especial consti- auto pro fflW, chit CO/fl/flu/US es!). Finalmente, a L. 6 define COi11() mi I ilar h)(111
tucionalmente previsto, enibora essa circunstãncia, por Si SC, no especialize a delito cornetido contrariamente ao que exige a disciplina. tat coino () ci imc dc

16
In Esmeraldino l3andeira, Dir. Just. e Proc. Mu., v.1, p. 112. Pietro Vico, Dir/ito Penafe Mi//tare, p. 51.
17
Jimenez y Jimenez, Introd. Der. Pen. Mi!., p. 40. Pietro Vico, Dir. Pcn. Mi!., p. S.
40 Célio Lobão Direito Penal Militar ___i

para o estado de guerra, e bern assirn os cometidos por militares em territOrio


negligência, de contumcia ou de desIdia (O,nne delictum est militis, quad
nimigo ou de aliados, ocupados pelo exército nacional, sendo aplicadas as
aliter; quain disciplina cominunis exigit, coin/nit! i/ui; vein/i segnitiae crimen, penas do COdigo Criminal nos crimes meramente civis. Eis al crimes mera-
vel cOfltuiflaciae, vel desidiae). mente civis cometidos por militares e convertidos crimes militares. Por outro
Ainda Vico, segundo Carlos Colombo, observa que a L. 6, diversamente lado sujeitou também paisanos ao loro e a justiça militar em casos excepcio-
da L 2, não se refere ao delito cornuni comclido polo militar e sim a outras nais".23
hipdteses de deveres militares próprios dos militares, distintos das normas
Observa Esmeraldino Bandeira que a provisão de 20 de outubro de
gerais da disciplina comurn, deveres essesimpostos exciusivamente aos miii-
tares, que so eles tern e, portanto, sornenle eles podern violar, "cornetiendo los 1834 é urn dos mais antigos documentos que procura extremar o crime militar
respectivos delitos asI: cobardIa, deserciOn, scdici6ii, violaciOn de consignas, do comurn, dele constando "quo, enquanto não houver lei expilcita, se extre-
mulilaciOn, etcetera, todos cilos delitos exclusivarnciitc niilitares".2° mern os crimes militares dos crimes civis. reputando-se crimes meramente
militares todos os declarados nas leis militares, e que sO podern ser cometidos
Continuando. Carlos Colombo acrescelita quo Milazzo idcntifica.na L.
6, de re mi/han, as infraçOes exciusivamelite militares, indicadas pelas pelos cidadãos alistados nos corpos militares do Exército .....
prcssoes segnitia, contumacia e desk/ia. A pnlneira compreende a tentativa de
suicIdio e a niuti1aço corn o propOsito dcliheiido do suhirair-se miiicia. a PauIa Pcssoa, por sua vcz, enumcra as delitos que a citada Provisão de
cohardia e a deserço.. A contumácja consislo na loctisa do ohediCncia, na 1834 fixou definitivamente coma militares:
insubordinaçiio, no motirn, na revolta e na \iolaçio do sotiha. Como dcsIdia
"os que violam a santidade e religiosa observância do juramento prestado pe-
entencle-se a ausência, sern o propósito (IC dsoiiar, o ahandono do posto, do los que assentam praca; os que ofendem a subordinacão e boa disciplina do
scrviço e a violaçäo de senha.21 Segundo o mesiut) Colombo, Vico lamenta exército e da armada; os que alteram a ordem püblica e economia militar, em
quo a noçäo romana do crime militar, no duplo aspeclo do lcsao objetivamente tempo de guerra ou de paz; o excesso ou abuso da autoridade em ocasião do
militar (L. 2) e de leso exciusivarncnte niiliiai (1.. 6), loiilt se perdido corn o servico, ou influência de emprego militar, não excetuados por Lei, que posit-
tempo, reaparecendo corn a rcvoiuco frauccsii, iruhora (IC lorina imperfeita. vamente prive o delinquente do foro militar".25
-
3. Djrejto Brasjleji-o Enuncia 0 Ministro lose lIii.ino, em voto prote-
Ocorre quc, antes desse docurnento legal, vigorava em Portugal o Re-
rido no Acórdäo n 406:
gulamento de 1763, conhecido corno Artigos de Guerra do Conde de Lieppe,
"durante o periodo da regéncia entendia-se por crimes puramente militares que vigorou no Brasil, juntamente corn legislação csparsa em grande niimcro
aqueles que eram cometidos por militares o olonsivos das leis militares. Não de alvarás, provisOes, decretos, leis, regularnentos, avisos, etc. Corn a RepO-
era militar todo o crime cometido por militares, mas somente os que importa- blica, foi editado o COdigo Penal para a Armada, pelo Decreto n 18, de 7 de
yam violação dos deveres quo incumbern aos indivIduos alistados no exército marco de 1891, inandado aplicar ao ExCrcito pela Lei n° 612, de 29 de setern-
ou na armada. Que tal era a inteligéncia daquola expressão da lei bern o mos-
tra a provisão de 20 de outubro de 1834, a qual reputa crimes meramente mi- bro de 1899, Ic osta que deu Iegitiniidade ao diploma repressivo castrense,
litares todos os declarados nas leis militares e quo so podem ser cometidos cuja constitucionalidade cracontestada por haver sido instituldo por decreto e
pelos cidadäos alistados nos corpos militares do exOrcito e armada. ..". näo por lei.
Os Aiieos de Guerra, no entanto, nao conccituavanl a delito militar.
Prosseguindo em scu voto, José I liino aceniva que a lei de 18 de se- que ja era objoto do OutIas nonnas legais, COIfl() o Regimento dos Governado-
tembro de 1851 foi a prirneira a anipliai () couceito do crime militar sob urn res das Armas. do 1 dc junho de 1678: o Alvará de 21 (IC outubro do 1763: os
duplo ponto de vista: Artigos de Guerra aprovados pela Rcsolução do Conseiho do Almirantado do
12 de juiho (Ic 1763 e aprovado pelo Alvará de 25 de abril de 1800; os i\1varis
"Por urn lado, no art. 7, considerou militares todos os crimes cometidos de 12 de setembro do 1800, de 20 de dezembro de 1808 e de 21 de feverciro
por militares nas provIncias em quo o Governo mandasse observar as leis

20 In João Mendes de Almeida JUnior, Proc. Cr/rn. Bras., V. 2, P. 86.


Carlos Colombo, ElDer. Pen. Mu. yla Discipl., P 114-15.
21
Carlos Colombo, ElDer. Pen. Mil. yla Discip/., p. 115. : Esmeraldino Bandeira, Dir. Just. Proc. Mi!., v.1 ,p.20.
72
n I Joo Mendes do Almeida JUnior, Proc. Corn. Bras., v.2, p. 84-5. Paula Pessoa, Cod. Proc. Corn. de Prim. Inst. rio ftnpOrio do Brasil, p. 21.
42
Célio Lobão Direito Penal Militar 43

de 1816; a Circular de 16 dejunho de 1813; o Codigo Criminal de 1830 (art. caso do ataque a sentinela, que tanto pode ofender as instituiçOes militares
62,b); o Código de Processo Criminal de 1832 (art. 82); a Provisão de 20 de
em seu meio de açao (12 grupo), quanto violar a lei, acarretando danos ao ser-
outubro de 1834; a Lei de 18 de setembro de 1851. Segundo a legislaçao vi- viço militar (22 grupo). Esmeraldino Bandeira estranha a não inclusäo, no
gente no perfodo colonial, a jurisdiçao militar constitula-se em privilégio da terceiro grupo, dos crimes objetivamente militares cometidos por civis, em
classe dos militares, privilégio esse abolido pela Constituição de 1824 (art. tempo de paz.29
179, n9 17), que a convcrtcu em jurisdiçao especial.
Ainda o mestre do Direito Penal castrense oferece definicao para 0 cri-
Ao lado da leislaçao penal militar extravagante, o Código Penal da me propriamente militar, quc, segundo ele. "sao os que consistem nas infra-
Armada de 1897 vigorou ate 1944, quando foi editado novo diploma penal
cöes espccIficas e funcionais da profissao do soldado". Continuando, esc]a-
caslrense. o CodRo lk'iml Militar de 1944 (Dec.-lei n 2 6227, de 24 de janeiro rece: "para formular essa definiçio fizemos funcionar o critério ratioime
de 1944), seguindo-se a atual Código Penal Militar (Dec.-lei n 1.001, de 21 inaleriae, caracterizando o delito militar pela violação do dever funcional".
de outubro de 1969).
Finaliza enfatizando: "essa C a iinica espdcie de delito que deveria ser consi-
0 crime Militar alcançou nIvcl Constitucional corn a Lei Fundamental derada militar".'°
republicana de 1891 (art. 77). Seguiram-se a de 1934 (art. 84). a de 1937 (art. Quanto ao crime imprdpria ou acidentalmente militar, o autor classifica
111), a de 1946 (art. 108), a (Ic 1967, eincndada em 1969 (art. 129). e, finaL- corno infracao de canIter misto, definindo-o Como "aqueie que, pela condicao
mente, a atual, de 5 de ou( u bra ilc 1988 (art. 124). militar do culpado ou pela espCcic militar do fato, ou pela natureza militar do
4. Crime Militar. Definiçiio - Segundo ( 'iys6lito de Gusmio, a defini- local ou, finalmente, pela anonnalidade do tempo em que C praticado acarreta
çäo romana de crimes própria e improprlalilente militarcs "& certarnente, a dano a economia, ao serviço ou a disciplina das forças annadas".31
mais aceitável; poucas diferenças fazem no fundo as del'iniçOcs dadas hodier- Jorge Alberto Romeiro, mais recentemente, escreve que a noniia cons-
namente, dos crimes propriamente militares". Prosseguindo, cxpoe que "o titucional (art. 124) "manteve 0 inico critério existente em nosso direito, des-
grupo especIfico dos crimes propriamente militares C constituIdo por infraçOes de a Constituiçao de 1946 (art. 108) para a conceituaçao dos crimes militares:
que prejudicam os alicerces hásicos e cspecimcos da ordem e disciplina mili- denominado critCrio ratione legis". Mais adianic acentua que "crime militar
tar, que esquecem e apagani, corn 0 seu implenmento, urn COfl junto de obriga- C o que a lei define como taF'.32 Em seguida, tece consideraçoes a respeito do
cöes e deveres especIficos do militar, que so coma tal a pode i n fri ngi r.2 ó crime de insubmissäo e, para justificar sua inclusäo dentre os crimes propria-
No que se refere aos crimes improprialnenle niilitares, que denomina mente militares, formula, segundo diz, "nova teoria para conceituar os crimes
mistos, defende sua exclusäo da categoria de crilimes militares, sustentando propriamente militares, corn base no direito da açiio penal". Sua "nova teoria"
que, nesses casos, o agente militar deve ter apenas a penalidade agravada, pois vem expressa na seguinte frase: "Crime propriamente militar seria aquele cuja
näo ofendem especificamente a disciplina, a hierarquia, a ordem ou adminis- açao penal so pode ser proposta contra rnilitar".33 Voltaremos ao assunto, ao
traço militar.27 tratarnios do crime propriamente militar.
Clóvis Beviláqua divide os crimes mililai'cs em três grupos: crimes es- Os doutrinadores sempre se clepararam corn a dificuldade para definir o
senciaimentc militares; crimes militares por corn prccnsão normal da funçäo crime militar, e os que s&tledicam a essa tarefa o conceituam em conformida-
militar; crimes acidentalmente militares. No primeiro grupo OS "que ofendem de corn o direito posilivo dos respectivos paIses. Dal a advertência de Vico,
a própria institwçäo militar nas suas condiçoes (IC ida e nos seus meios de segundo o qual a lei penal militar nao dcvc corner definiç5o cientIfica do en--
aço'. No segundo. as "violaçoes da Ici, tcriIm(I() diretamente interesses sociais me niilitar, nao so por ser incornpatIvel corn o firn pratico da ici. coma Iain
confiados a adrninistraçao militar ou qUC acarretam danos ao serviço". Final- bern per gerar perplexidade na interpretaçao. 34
mente o terceiro. "os crimes perpctrados. cm tempo de guerra. por paisanos Segundo Carlos Colombo, professor de Direito Penal da Universidatle
temporariamente agregados as forcas regulares em operaçoes;' de Buenos Aires, o ordenamento jimrIdico-penal encontra-se na presença
A classificaçao sofreu crIticas, prmncipalmente porque determinados de-
litos podem ajustar-se, perfeitamente, as duas priniciras classificaçoes, corno C- ' Esmeraldino Bandeira, Dir., Just. e Proc. Mi!., v.1, p. 24.
40 Esmeraldino, Dir., Just. eProc. Mi!., v.1, p.30-i.
2.
Crysótito de Gusmão, Dir. Pen. Mi!., p. 43-5. Esmeraldino Bandeira, Dir. Just. e Proc. Mi!., v.1, p. 31.
27
Crysotito do Gusmão, Dir. Pen. Mi!., p. 48-9. Jorge Alberto Romeiro, Curso, p. 66.
28
In Esmeraldino, Dir., Just. e Proc. Mi!., v.1, p. 23. ' Jorge Alberto Ronero, Curse, p. 73.
Pe1ro Vico, Diritto Penalo Mifitare, p. 116.
44 Cétio Lobäo Direito Penal Militar 45

três tipos de beiis ou interesses a tutelar: os que tern entidade exciusivarnente pecto particular da disciplina, da hierarquia, da proteciio a autoridade militar e
militar; os que tern entidade militar e comurn e os que so tern entidade co- ao servico militar.
mum. Corn outra formulaçao, expoe que o ato do sujeito ativo (seja militar ou As ofensas definidas na lei repressiva castrense que dizem respeito a
nio) pode comprometer urn bern ou urn interesse que é so militar, ou que, ao destinaçio constitucional, as atribuicöes legais das instituiçöes militares, Ii
mesmo tempo, é militar e cornum, ou. lnalrnente, que em nada afeta ao meio autoridade militar, ao serviço militar, tern, como agentes, tanto o civil quanto o
militar (infracoes comuns)."
militar, enquanto as que atingern a disciplina e a hierarquia tern como dcsti-
Vico diverge da doutrina de Colombo, expondo que urn interesse mili-
natário sornente o militar.
tar pode ser igualmente lesionado por pessoa estranha as forcas arinadas, mas,
Crime Militar em Tempo de Guerra - Este livro não trata do crime
nesse caso, a circunstância do direito ol'endido poderá apenas agravar o crime,
militar em tempo de guerra. Primeiro, porque so bastante remotas as possi-
scm, no entanto, mudar sua Indole, porque, fa]tando a qualidade de militar do bilidades, em face do atual panorama rnundial, para que venha 0 Brasil a se
agente, inexiste vio1aço de urn dever da profissão militar. 0 autor italiano enipenhar em urna guelTa. Segundo. porque, se essa remota possibilidade
acrescenta que a essCncia objetiva do delito militar compOe-se de dois ele- tornar-se realidade, de iniediato serão editadas leis que se ajustem a nova
mentos: a qualidade militar do culpado e a qualidade militar do fato. A quali- situaco, como aconteccu nos anos quarenta, durante a 2 Guerra Mundial.
dade militar C o pressuposto dos deveres militares; sern ela. aigurnas violaçocs quando 0 ditador da época chegou a impor norma penal coin cfciio retroati-
seriam inconcehIveis, como a deserão. 6 vo (art. 67 do Dl. n° 4.766/42: "Esta lei retroagira, em rcIaco aos crimes
Como se ye, Carlos Colombo ciege o bern ou o interesse tutelado, inde- contra a segurança externa, a data da ruptura de relacoes diplomIticas coin a
pendentcmente da condicio do agente militar ou civil, corno fundamento do Alemanha, a ltália e o Japo").
crime essencialmente militar, incluindo, neste, as infraçoes exciusivas do mi- Crime contra a Seguranca Externa do Pals - No Codigo Penal da
litar que constitucm subespCcie do delito essencialmente militar, porque so- Armada eram previstos os crimes contra a Pátria, enquanto o diploma repres-
mente podern ser cometidas pelo militar. sivo castrense de 1944 tratava dos crimes contra a segurança externa do Pals
Nessa doutrina, o penalista argentino assenta sua dcfiniçao de crime es- (arts. 118 a 129).
sencialmente militar, corno sendo "todo acto que lesiona tin hien 0 Un interés 0 atual, coin supressão de artigos e algumas altcraçocs, transcreve, no
directamente vinculado a Ia existencia de ]as instituciones armadas o a su CapItulo I do TItulo II (arts. 136 a 148), quase todos Os dispositivos do código
disciplina, 0 a sus fines y medios de realización, conminado corn una sanción anterior. Seus autores, na exposicão de motivos, justificam a inclusão coin o
por Ia icy o los reglarncnros".37 argurnento de que, coin re1aço aos crimes contra a seguranca externa do pals,
Prosseguindo, o próprio Colombo expoe que essa é a conceituação do praticados por civil, "não interfere essa classificaçäo coin a legislaçao especial
delito essencialmente militar, fundada no bern ou no interesse juridicarnente de seguranca, pois, no Projeto, so se configurarn os delitos que, alCrn de feri-
tutelado, válida tanto para o sujeito niilitar, quanto para o infrator civil, sern rem a segurança externa, tern natureza jurIdica de crimes militares".
prejuIzo das denorninadas infracoes exciusivas do militar, isto ë, as que, em- Acontece que não idenW'icarnos "natureza jurldica de crimes militares"
bora sendo essencialmente militares, so o militar pode cometer, porque cons- em nenhum dos delitos dos arts. 141, 142, 144, 145 e 148. Todos des, corn
tituem, alCrn da iesio de urn bern ou interesse militar, a violaço de urn dever excecio do art. 148, säo crimes contra a seguranca externa do pals, praticados
militar que, por esse Inotivo, sornente pode vincular o rnilitar.38 por civil e, igualmente, por militar. Quanto no art. 148 ("sobrevoar local decla-
Nessa linha de raciocInio, cm ficc do direito positivo brasileiro, o crime rado interdito"), no constitui infraçiio penal, resolvendo-se no ambito da Ic-
militar é a infraçao penal prevista na lei penal niilitar que lesiona bells ou inte- gis1aco cspccIfica que trata da aviaço civil.
resses vinculados a dcstinaço constitucional das instituiçCes militares, as suns Os arts. 136, 137, 138, 139 e 140 atentarn contra a segurança externa,
atrihuiçoes legais, ao scu funcionaniento, a sua própria existência, e no as- tendo militar coino agente. As infraçOes aos arts. 143, 146 e 147 referem-se a
espionagern militar, cometidas por militar e por civil.
Os crimes definidos nos trCs ifltimos artigos acirna citados so OS UflICOS
Carlos Colombo, El Derecho, p. 6.
In Carlos Colombo, El Derecho, p. 124.
que poderiani tgurar no diploma penal castrensc. Quanto aos demais, corn
' Carlos Colombo, El Derecho, p. 128. excecäo do art. 148, (ILle deveria ser suprimido. os restantes ajustani-se mellior
Carlos Colombo, El Derecho, p. 123. Ii lei que define os crimes contra a seguranca externa do Estado. A cinjx'ln
46 — Cello Lobão Direito Penal Militar 4/

cia para processar e julgar esse delitos foi retirada da Justica Militar, pela A diversidacie de conceituaçäo adotada pela legislaço dos diversos pal-
Constituiçao em vigor, que, no entanto, nao a substituiu por outro orgao judi-
ses e a excessiva ampliaçao do delito castrense, militarizando determjnadas
ciarlo. Dessa forma, acompetencia passou paraa Justica cornurn e nao pam a
infraçoes penais comuns e incluindo o civil ao lado do militar, coino SUJCUO
Justica 1-ederal, por nao se tratar de crime politico, como ocorre corn o crime
ativo de crimes militares especIficos, ohrigou doutrinadores a estabelecereiri
contra a- segurança mterna. . - . . .
. . . atraves uOS tempos, critenos classificatorios do crime militar a tim de extre-
E born lembrar que algurnas das tiguras delituosas acima constam da -
1 . . ma-jo u() delito coniurn. Essa, alias, tot a tendencia que emcrgiu nos anos
Let n- 7.170/83 (dehne OS crimes contra a se(urança do Estado), que revogou . - . . . . ..
o . . . . . trinta. ate os prirnordios dos aiios cinquenta, quando invertcu-se o nroccsso
a lci n- 6.620/78. cujos dispositivos foram comeiitados em nosso hvro Crimes .. . .
COJII1Y1 a Segurança do Estw/o.39
corn os atuats diplomas castrenses restrinindo a elenco das infraçöcs penais
castrenses aos crimes propnamente mibtares
Por cntcndeniios que nao se trata de delito imlitar, deixam os de co- Ca- . .
nientar OS arts. 136 a 148 do Códieo Penal Militar. Em face do direito positivo brasileiro, impOe-se a estudo dos critérios
7. Crime Militar. Critérios Determinadores - Corrente doutrimiria classificatorios do crime militar, sancionados pela doutrina. So des: proces-
suilist 1 1 LIt/One IflLLk I jac lationc pci soiiae / atwnc tact ralione U inno/ Is
(JliC iecebeu aceitaçao (IC alguns adores, princtpahncnte itahanos e fraiicescs,
ratione /e'is.
classilka o crime pi opnarnunte mi it ir conto delito politico. Nesse sentido
Pat i os scuidorcs do criteria proccssulist na linhi da Lonccpç 10 dc
C h is in cE Faustin cit ido por C rs solito de Guniao
direito penal especial accita por Frederico Marques, a delito militar diversifi-
UnS (os delitos propriamente militares) são de ordem poiltica, são aqueles ca-se do comum, em raziio do órgäo incunibido da aplicaçâo jurisdicional das
que atentam contra a disciplina do exército, aqueles que infringem 0 dever ml- flarrnas coercitivas castrenses. Logo, segundo esse criteria é crime militar'todo
litar; os outros (os delitos comuns) pertencem a ordem moral: são delitos co- aquele que se situa sob a jurisdiçao da Justica Militar. Conforme menciona-
muns que tomam um carater misto em razão da qualidade dos acusados e das
mos acima, o professor Magalhaes da Rocha, discordando dessa orientara
pessoas que eles lesam; tais sao os delitos cometidos de militar a militar e os -. ciue . - - . - . . .
roubos nas casernas.4° expoe nba olerece criterio aceitavel cientificamente, tendo em vista a
separaço nitida dos conceitos de tipos de ilIcitos e de juriscliçao'.44
Vico acolheu essa dontrina. acresceitlando qiie a Ici penal militar teni Corn efeito, 0 orgao do Poder Judiciário, COfliUfli ou especial, acolbe a
por objeto a protecao das lorças armadas que, indubitavelmente, tern origem. norma de direito material que the cahe aplicar por deterrninaçao constitucio-
caráter e fim politico, constituindo-se itutna neccssidadc inerente ao Poder nal, norma essa que ja se encontra classificada pelo direito penal, coma co-
Executivo, encontrando-se sob o comando (10 ehefe (JO Fsiado que é urna ins- mum ou especial, em funço de bens e interesses juridicarnente tutelados ou
tituiçao polftica.4' de urna classe ou categoria de indivIduos. Por outro lado, coma dernonstranios
0 autor italiano Gactano Sucato, aJ)reseiita versao moderna da corrente antenonnenre. a Justiça Militar ja julgou crimes comuns e contra a segurança
doutrinth-ia. sustentando que a infraçño LS leis penais militares lesiona urn externa e interna do Estados quais que, no entanto, nAo se transmudaram em
suprerno interesse politico do Estado, logo deve ser considerada coma uma crime militar. Portanto, a critério processualista não oferece roteiro seguro
espécie de delito politico.' 2 Essa doutrina nao receheu aceitaçiio de tratadistas pam determrnaça do crime militar.
mais esciarecidos, coma Vittorio Veiii ro, qtie ic elta o caniter de crime politi- Qmo aos critérios ratio/ic /flateiiae e ratio/ic personae Esmeraldi no
co, do delito militar, argumcntando que, nele. mo se mi. presente "Un ataque a Bandeira registra que. ariginariarnente. cram adotados mi classilicaçao do
Ia vicla dcl Estado en su esencia unitaria ( inicridad dcl pueblo v del territorio. conic militar. "pareceticlo filiar-se a prirneiro no Dircito Romano prinluivo e o
independencia y honor dcl Estado. paz exterior, eel':' segiuido ao Direito Gerninico inicial. A preferência de urn sobre o outro dos
refericlos critCrios asscntava na razo polItica de que cm Roma o cidadao .51)
COlic Lobäo, Sugestoes Literárias, Rio, 1982 breleva ao soldado, no passo que na Gcrrnânia o soldado sobranceava no cliP:,
In CrysOlito de Gusrnão, Dir. Pen. Mi!., p. 434. dao. Corn a instltuiçao dos exercitos permanentes e corn a dcseii vol viinciiti tl,i
Hetro Vico, Dir. Pen. Mi!., p. 106.
In Jimenez y Jimenez, Introd. Der. Pen. Mi!., p. 35.
In Jimonez y Jimenez, Introd. Ocr. Pen. Mi!., p. 36. ' Roy. doSTM. n' 1. p.?C3

I
Ii
CéhoLobão Direito Penal Militar 49
48

disciplina e do direito especial das forças armadas, os dois critérios se articula- propriamente militar, das infracoes especIficas e funcionais da profissão do
soldado, chega-se a conclusäo do que o Direito Penal castrense imperial aten-
ram para a caracterizacão do crime militar".45
dia, no dizer de Esmeraldino Bandeira, a dupla ocorrência da qualidade militar
Ainda Esmeraldino Bandeira informa que parte do direito pátrio imperi-
ratione no ato e no agente.
al adotou o critério ratione personae, enquanto outra parte acolheu o Alias, é o que ocorre, na atualidade, no Direito Penal Militar italiano,
18 de
materiae. Assim, a Resoluçao de 13 de outubro de 1858, a Lei n 631 de como noticia Scandurra, na conferência proferida em 7 de abril de 1994, em
128 de 27 de marco de 1867
setembro de 1851 e, posteriormente, o Aviso n Ancara, Turquia. Esclarece o Procurador Gcral Militar da Corte de Apelação
inclinavam-se pelo primeiro deles, ou seja, o ratione personae. 4 '6 enquanto 0
n u 261 de 3 de dezembro do de Roma que os delitos suhrnctidos a jurisdiciio penal militar em tempo de paz
Código do Processo Criminal do lnipério (Lei
8u estäo suhordinados ao "double concept do la subjetivité et de l'objectivité
1841), no art. ("JuIzos Militarcs, que conhinuam a conhecer do crimes pu-
("crimes militaires commis par des personnos appartenant aux Forces
ramentc militares"), seguia o critério ratione ,nateriae.
Arrnées")"5°
Em face dessa dualidadc, Pinto Pessoa acentua que "o crime militar
, No critério ratione personae, o sujeito ativo é sempre militar, sem levar
deve ser classificado: ratione ,nateriae e ratione personae"," enquanto Esme-
fl2 56 de 28 de agosto de 1884 e a em consideraçao o sujeito passivo, o objeto da tutela penal, o tempo e o lugar
raldino Bandeira, tendo em vista o Aviso
Di- do crime. Portanto, atende, exciusivarnente, a condicão do militar do agente.
Resoluço do 5 de marco do 1887, registia quo, "na atualidade de flOSSO
ratione male- Na legislaçao do Brasil lmperio, como ficou dito acirna, o Aviso 128, do 27 de
reito nio pode haver mais dtivida sobre a proterencia do critériO
marco do 1867. "acentuava precisamente a escoiha e prefcrência do rcferido
riae".48 critério. doutrinando que a jurisdico militar torn por base a qualidade da pes-
() predoruInlo (10 cIil(rio ratione ,,u,teriae. rcsultante da conjugaçAo) do
soa e, so por excecao, a circunstncia e a natureza do delito".51 No entanto,
raliotze personae c do ralione imiaterine, dccorreu, segundo Esmeraldino Ban- esse entendirnento subordinava-se it necessidade do os ilIcitos oncontrarem-se
deira, do art. 77 da ('onsliluiçiio (IC 24 do Feverciro de 1891, segundo o qual "declarados nas leis militares", como constava da resoluço imperial de 13 de
"os militares de terra e mar tcro foro especial nos delitos militares", o que
outubro do 1858, 2 logo a conjugaçäo do militar, no fato e no agente, motivan-
invoca a natureza (10 crime (delito militar) e a qualidade do agente (militar do do a correta interpretação de Paula Pessoa do que "o crime militar deve ser
terra e mar), consagrando, dessa forma, o cntério ratione mnateriae, no qual "é
class ificado: ratione inateriae e ratione personae".
necessário o concurso simultinco de duas condicöes: ser o delinqüente mi-
0 critério ratione personae era adotado na Franca, quando teve inIcio a
litar e o crime militar por sua natureza ou por alguma razäo especial", isto
Primeira Guerra Mundial. Segundo Augier et Le Poittevin, "la competence des
a fuso dos critérios ratione maleriae e ratione personae, resultante do
conseils do guorro a actuellemont pour base, non la nature de l'infraction, mais
enunciado do que os militares (ratione personae), nos delitos militares
la qualitC de l'inculpC ......C'est Ic méme tribunal quite jugera, quand ii aura
(ratione ,nateriae), terão foro especial, ou seja, serão processados e julga- enfreint ces deux natures do lois; mais les peines seront diverses, scion Ia
dos pela Justiça Militar, demonstrando, assirn, inequivocarnente, a prefe-
diversité méme des délits. t'infraction a la loi do droit commun sera punio do
rência polo referido critério ratione mate riae.49
la peine de droit comrnun, Ia pénalite spCciale réprimera le manquomcnt a la
Em nosso entcndimcnto, 0 critério ratione materiae sempre receheu a
loi exccptionnelle".53
prcfcrência da lcgis1aço imperial e da republicana, principalniente desia i.ilti-
Atualmonte, ainda C adotado pela Franca, nos tribunais militares que
ma, durantc pouco mais de quatro décadas. Corn efeito. se considerariflos iso-
funcionam jun10 as tropas estacionadas fora do território frances, confonne
ladamente a Resoiução de 1858, a Lei 631 do 18 de setembro do 1851 e o
dispöe o art. 59 do COdigo do Justiça Militar em vigor. -
Aviso 128 do 27 de marco de 1867, pode-se afirmar que esses dispositivos No critério ratione loci, assume relevancia o lugar do crime. E indife-
logais adotararn o critério ratiolme personae, inas, se atentarflloS I)ara o fato de rente a qualidade do agente, militar ou civil. Tern a preferCncia da legislaçao
que o direito positivo do Irnpério, corn raras exceçOes. tratava apcnas do crime
50
Giuseppe Scandurra, in Revue de Droit Militaire et de Droll de la Guerre, n5 XXXIV, 1 a 4, p
Esmeraldino Bandeira, Dir. Just. Proc. Mi!.,v. 1, p. 25. 375, 1995.
46 Esmeraldino Bandeira, Dir. Just. Proc. Mi!., v. 1 p. 29. Esmeraldino Bandeira, Curso Dir. Pen. Mi!., v. 1, p. 21.
41
Pinto Pessoa, Cod. Proc. Crim., p. 20, n2 50. 52
InPaula Pessoa, COd. Proc. COrn., p. 208.
Esmeraldino Bandeira, Dir. Just. Proc. Mi!., v. 1, p. 29. Augier et Le Poittevin, Droit Penal Miitaire, p. 25.
Esmeraldino Bandeira, Dir. Just. Proc. Mi!., p. 29.
50 Célio Lobão If Direito Penal Militar 611

de tempo de guerra, servindo (IC exemplo oart. 65, IV, do Dl. 4.766/42, edila- Como näo podia deixar de acontecer, o COdigo Penal Militar em vigor,
do durante a V Guerra Mundial: seguindo o de 1944,
e em obediêncja ao mandamento constitucional da Opoca,
que continua inalterado na atual Lei Major (art. 124: "crimes militares defini-
"Art. 69. Alérn dos crimes previstos, em lei, consideram-se da compe- dos ern lei"), adotou o criténo ratione legis, ou critério objetivo, na classifica-
téncia da justiça militar, qualquer que seja o agente: IV - os crimes contra a Ii- ção do crime militar, sern, no entanto, dispensar outros critérios que, subordi-
berdade, contra a incolumidade pUblica, contra a paz püblica ou contra o pa- nados no ratione legis, constituem elementos de caracterizaçao do tipo penal
trimônio punidos pelo COdigo Penal corn pena de reclusão, quando praticados
em zona declarada de operacOes militares". impropriarnente militar corn definição idêntica no Cddigo Penal Militar e no
coniu iii.
8. Crime Militar. Critério Ratione Legis - 0 critério ralione legis (.) critdrio ratione legis, ou critério objetivo, corolário do principio
(critdrio objetivo) sempre esteve prescntc no processo evolutivo do crime mi- nulluin crimea sine lege, sempre teve presença marcante no processo evoluti-
litar, no Brasil, embora sern a autonornia posteriorniente adquirida. Corn efei- vo no direito penal militar brasileiro, extremando o delito militar da infraçäo
to, inseria-se no ratione inaleriae (crimes militares cometidos por militares) penal conium, mas somente alcançou rcconhecimento doutrinãrio e posicão
que partia de tim requisito objetivo (a tipificaçäo do delito), Como ensma Joao niarcante em nosso direito positivo, corn o Cddigo Penal Militar de 1944. Na
Mendes, ao ressaltar que a Provisâo de 20 de outubro de 1834 reputava "cri- doutrina c na legislaçäo imperial e republicana anterior, o destaque rnaior era
dispensado ao critério ratione lnateriae, o que Se explica pela predorninãncia
mes meramente militares todos os dec/arados nas leis militares e que so p0-
quase absoluta do crime propriamente militar na legislaçao penal castrense da
dern ser cometidos pelos cidadãos ali.stados nos corpos militares do exdrcito c
dpoca.
armada..." (os destaques so nossos).
Conforme afirmamos acima, a Lei Fundamental de 1946 consagrou o
Não é diferente a opinio de Esmeraldino Bandeira, ao referir-se a cita- critério ratione legis expressarnente, no art. 108: "A Justiça Militar compete
da Provisão de 1834, expondo que, enquanto nao houver lei expressa extre- processar e julgar, nos crimes militares definidos em lei, os militares e as
mando o crime militar do crime civil, essa distinçäo scrá determinada pelas
pessoas que Ihes são asserneihadas". Essa rcdaçao vem repetida no art. 129 da
leis militares que definem o delito castrense, excluindo-o, dessa forma, (10
Constituição de 1967 e no art. 129 da Ernenda Constitucional de 1969.
crime comum.55 No mesmo diapasao, Paula Pessoa enumera as infracöes
A Constituiçao de 5 de outubro de 1988 tornou mais acentuada a prefe-
penais que a norma, isto é, a mencionada Provisão de 1834, define como rência pelo citado critdrio, ao remarcar a compctência da Justiça Militar para
mu itares.56
'processar e julgar os crimes militares definidos em lei" (art. 124), deixando,
0 critdrio ratione legis recebeu autorizacao constitucional no diploma assim, de mencionar os sujeitos do delito. Entretanto, essa norma constitucio-
de 1934, ao permitir a extensilo do foro castrense ao civil. Entretanto, ingrcs- nal não operou rupturas corn o passado, como afirma o acdrdão do Supremo
sou definitivamente no direito positivo brasileiro atravds do COdigo Penal Tribunal Federal, no RE 12 1.124, que comentaremos mais adiante. Deu conti-
Militar de 1944, substituindo, definitivaniente, o critdrio ratione materiae, nuidade a preferência pelo critéro ratione legis. Ao omitir os agentes do de-
certamente pelo espaço bastante significativo que o crime impropriamente lito - rnilitar e civil - a Lei Maio? transferiu ao legislador ordinário a cornpc-
militar passou a ocupar nesse diploma repressivo castrense. A ampliaço do tência para manter ou näo a sujeição do civil a jurisdição castrense, nos casos
elenco dessa espdcic de delito militar obrigou o legislador a socorrcr-sc do especificados em lei.
critério ratione legis, capaz de atender as duas rnodalidadcs de infraçio Ern conformidade corn o critério ratione legis, ou critério objetivo, cri-
penal militar: crime propriamente e irnpropriarnCfltc rnilitarcs. me militar é aquele definido em lei, portanto o previsto no Código Penal Mi-
Diga-se, de passagem, que a autorizacao constitucional pani suhstituicño litar, corn alendimento aos requisitos expressos nesse mesino diploma penal.
de urn critério por outro não era ncgada pela Constituicao republicana de 1891 compreendendo OS crimes propriamente e OS impropriarnente militares. Estes
("delitos militares"), mas somente a de 1946 referiu-se, expressarnente, a tipifica- (Iltimos, cm sua grande maioria, delitos coniuns que o legislador classifica
çiio dessa espécie de infracão: "crimes militares definidos em lei" (art. 108). corno mulitar, em razão do bern ou interesse juridicarnente protegido. Conse-
qüentenicnte, inexistindo previsão na lei reprcssiva castrense ou desatendidos
OS requisitos classificatOrios, a infração penal não se militariza. Por exeniplo,
Joflu Mondes, Proc. Crim. Bras., V. 2, p. 84-5.
Esruoraldino Bandeira, Dir. Just. Proc. Mi!., v. 1, p. 20. o ahuso de autoridade, niesmo conietido por militar no cxercIcio (IL' ltinçau do
° Paula Pessoa, Cod. Proc. Grim. de Prim. Inst. do /mpOrio do Brasil, p. 21. cargo militar, crime coiimuiu. por falta (IC previsao no diploiiia I)chl;Il c;isf; ('I)
52 Célio Lobão
Direito Penal Militar
53

se (Lei 4.898, de 9.12.65. HC n 58.381, RTJ 102/535; HC n 66.708. RTJ


126/1 020). 0 homicIdio cornetido pelo civil contra militar (crime dcfinido no Näo C correta a afirmaçao constante do voto proferido no RE if
art. 205 do CPM) será crime comuin, se a vftima no estiver em servico de 121 .124, segundo o qual o constituinte orientou-se "de modo diverso, ao 'Jig-
natureza militar OU o delito ocorrer fora de local sob administraçao militar. por sobre a cornpctência penal da Justiça Militar dos Estados-rnernbros Esta,
Carlos Maximiliano, ao comentar a Constituiçäo de 1946, expöe que a sim, foi definjda ratione personae,
posto que sO se concretiza quando os deli-
Carta Magna, ao adotar o critério ratione legis, atribuiu "amplo arbftrio ao tos militares hajam sido comctidos por policiais militares e bombeiros milita-
legislador ordimlrio; o quc dc define como delito militar cairá na esfera da res. (CF. art. 125. § 4O)'6()
aço dos pretórios militares'.57 No concordamos corn o ponto de vista do Não ha o que falar em critCrio ratione personae,
cujo entendjmento foi
festejado jurista. Segundo ensinamento de Pontes de Miranda, o legislador exposto anteriormente, no que diz respeito a
competência da Justiça Militar
ordjnárjo, ao editar a lei, deve manter-se dentro dos limites cstabelecidos pelo estadual estabelecida nos nioldes atuals, pela Emenda Constitucioriaj 0' 7/77.
"sistema jurIdico anterior a cia e suscetIvel de receber outras leis, como regras 0 critério determimiador do crime militar é o ratione legis, C
o critCrio objctivo
suas" 58e no proceder, dizemos nos, como se cstivesse criando novo sistema A interpretaço das nonilas COnstitucioziais, no que diz respeito a auto-
jurIdico a parte, editando legislaçao penal militar absorvente do Código Penal na do delito castrense C simples: o art. 124 da Lei Fundamental delegou ao
que, dessa forma, deixaria de ser a lei penal funciarnemal. legislador ordimirio a cornpetência para estender ott näo o foro rnilitar federal
A delegaçao recebida da Lei Maior näo autoriza os desmandos do Có- ao civil: o art. 125, § 4°. da Lei Maior, ao eontrarjo. vcdou a extensäo, limitan-
digo Penal Militar, verdadeiro diploma penal paralelo ao COdigo Penal no que do a jurisdiçao penal mulitar estadual, exciusivarnente aos mtegrantes das
se refere aos crimes improprianiente militares, como se existisse no pals uma corporaçoes rnilitares estaduais, Poilcia Militar e Corpo de Bomnbeiros Milita-
sociedade a parte, tutelada pela lei repressiva castrense, conteniplando delitos res.
que nenhuma idcntidade guardam corn o ohjet.o da tutela penal militar (a pro- No cntanto, da mesma forma como aeontece corn os integrantes das
tcçao das instituicöes militares), como é o caso do abandono de incapaz (art. Forças Arrnadas, esse foro especial sornente alcança o policial militar e o
212 do CPM e art. 133 do CP), da violacao de correspondência privada (art. hombeiro militar. nas infraçoes tipificadas na lei penal militar, partindo, dessa
227 (10 CPM e art. 151 do Cl?), (los crimes contra a Jusliça Militar. além de forma. de urn requisito ohjctivo: a tipificaçio do delito.
oil tros. 9. Supremo Tribunal Federal. Conceito do Crime Militar - 0 acOr-
Carlos Colombo, penalista argentino, atento as tentativas de ampliar a (lao proferido no RE n°
121.124-Rj, da 1Turma, ingressou na arida região da
mihtarizaçao dos delitos comuns, aponta o absurdo de Sc converter em crime conceituaçao do crime militar, scm, no entanto, fornecer esclarceimentos Ca-
militar, figuras que Ihe sao cornplctamnte alheias, corno o ahandono de pes- pazcs de tornar mais accssIvel a niatCria por demais contravertida.
soas, a vioiaço de domicIlio, o envcnenamento ou adulteraçio de águas potá- Afirma o acórdäo que a atual Constituiçao operou "propositada ruptura
veis, etc. Essa tcndência, que se acentuou no mundo, nos anos 30 e 40, c, no corn a orientaço invarive1 desde 1891, onde se partia de urn critCrio ratione
Brasil, nos anos 40 ate o infcio dos anos 80, vcm sofrendo reacao cm contrI- personae e, sobretudo, dcsde 1934, no que interessa, invariável ate 88. Agora,
rio, após a segunda guerra e a derruhada do muro de Bedim, sImbolo de mais 0
que donmina C urn critério objetivo: o crime militar, definido em lei".
urn regime ditatorial rctrógrado.
Em consonThcja corn esse Cnunciado, proclamna a ementa do acOrdão:
Como lei especial subsidiIria da lei penal comum. o Codigo Penal Mi-
litar deve situar-se ffl)S unites da perrnissao concedida pela Constituiço. Ii- Ao passo que a Constituiçao de 1967 (art. 129 e seus parágrafos)
mitando-se a tutelar as Forcas Armadas. a Polfcia Militar c o Corpo de Born- partia de urn requlsito subjetivo, ligado a condiçäo
do agente (militar ou asse-
heiros Mi litares, conio instituiçöes militares constitucionairnenre criaclas. as melbado), para a def;niçào da competéncia da Justiça Militar,
de 1988 (art. 124) adota a tipificaç a Carta PoiItica
primeiras, para defesa da Pátria, para garantia dos poderes constituldos, da lei ao do delito, como critério objtivo da atri-
buiçao da rnesrna cornpeténcja'. 61
c da ordern, enquanto as duas tiltimas para preservar a ordem pliblica e cxcr-
cilar atividades de defesa civil.
Em primeiro lugar, causa espCcje o acOrdão refenr-se a assemellia(lo.
J)Orquanto, ha mais de rneio sCcuIo, deixou de existir, no direito militar, ('.SiI
Carlos Maximiliano, Coment. Const. Bras.. v. 2, p. 394.
Carlos Maximiliano, Coment. Const. de 1948, V. 1.p. 213.
Carlos Colombo, Der. Pen. Mi!., p. 24. RTJ 1321924.
Hr.! 13 2/ 917 e923.

n
Dfreito Penal Militar 55
54 Célio Lobão I

classc intermediria entre militar e civil. Durante a ditadura getuliana, o art. 62 Trata-se, portanto do criténio ratione personae, do sistema subjctivo,
do l)ec.-lei nu 4.766, de 1u de outubro de 1942, definia o assemeihado: "Con- que, segundo Vico, é fundado na qualidade de militar do culpado ou do ofen-
dido e carece de fundamento jurldico, constituindo-se em privilégio do militar.
sidera-se assetnelhado o funcionário ou cxtranumerário do MinistCrio da Guer-
No Brasil, corn exceção do tempo de guerra ou de comoçâo interna,
ia, da Marinha, ou da Aeronáutica, submetido a preceito de disciplina militar,
cm virtude de lei ou regulamento". Essa norma vem repetida nos diplomas como a citada Lei nci 631, de 1851, a Iegislacão imperial, de maneira predorni-
penais castrense de 1944 (art. 8) e de 1969 (art. 21), mas sorncnle 110 Código nante, consagrava o critéro ratione inateriae e urn ou outro dispositivo que
Penal Militar de 1944 justificava-se a inclusão, o que niio acontece corn o de aparentemente adotava 0 critCnio ratione personae, subordinava-se a exigCncia
de que o delito fosse militar "por sua natureza ou par alguma razão especial",
1969, quando já completava mais de duas dCcada a ext inçlio dessa entidade,
no que resulta o cnitério ratione mate riae.
no Direito brasileiro.
Corn a RepOblica, será que a Constituição de 1891 (art. 77), ao enunciar
A ementa e os votos da Turma nao espeiham a realidade das normas
que "as militares terão foro especial nos delitos militares", partia.de "urn crité-
constitucionais pretCritas, no que diz respeito a conccituaçao do crime militar.
Vejamos. Segundo o critCrio ratione personae, crime militar C a prati- rio ratione personae", como afirma a acórdão? Evidentemente não. Os crimes
militares que sujeitavam as militares ao foro especial eram aqueles tipificados
cado pelo militar, independente (IC outra circunslucia, sendo suficiente a no COdigo Penal da Armada, como acontece atualmente corn oCOdigo Penal
condiçao de militar do sujcito ativo pam que o delito receha a classificaço de Militar. Portanto, cram "os crimes militares definidos em lei", como enuncia a
militar. Goza da preferência do legislador. 11i tellipt) de guel-ra. de comoção art. 124 da atual Constituicão, apenas coin a difercnça de que o sujeito ativo
interna ou em circunstãncias excepciollais, cOIfl() acoiiteceu no lmpeno, corn a de tais delitos, corn raras exceçöcs, era, exclusivarncnte, a militar, identifican-
Lei n 631 de 18 de setembro (Ic 1851 ao cousRierar "Illilitares todos os en- do o critério ratione inateriae.
nies cometidos por militares nas provilicias ciii que 0 govciiio inandar obser- Lembra Pontes de Miranda que, na vigência da Constituiçäo de 1891,
var as leis para o estado de guerra e hell) assilil os comet idos por militares em "a jurisprudCncia do Supremo Tribunal Federal firmara que a sO qualidade de
territOno inimigo ou aliado ocupado pelo exCicito" (os giifos Sa() do texto).62 militar e o fato de ter sido praticado por militar contra outro nãO caracterizarn
Era adotado na Franca, quando ecloditi I 'mild ma Guerra Mundial: "Ia o delito militar". Acentua a junista major que "o antigo Supremo Tribunal
competence des conseils de guerre a act uci lenient pour hase, non Ia nature de Militar entendeu que, devido ao elernento interpretativo da 22 parte do art. 84
I' infraction, inais Ia qualite dc l'incuIpY'.' Posteriorinente. durante a guerra da Constituicäo de 1934 (i'erhis "nos casos expressos em lei"), correspondente
de lihertacao da Argelia, a formula ioi repel ida jia ( )rdeiiança n 62-718, de 30 ao art. 111, 2 parte, de 1937 (verbis "nos casos definidos em lei"), e ao art.
de junho de 1962, que criou tril)unais das lomças armadas no pals do conti- 108 de 1946 e ao art. 129 de 1967 (verhis "definidos em lei"), não existe con-
nente africano, corn a competência para aprediar "les infractions de toute ceito constitucional, ziern conceito a priori que a Constituição haja adotado,
nature commises par les membres des forces arilices I rançaises .. queues que para a definição do que seja delito militar".64
soient les circonstances de leur commission' (art. I , 3) (Os grifos não são do Segundo o mestre, a então Supremo Tribunal Militar, scm se afastar da
texto). orientação supra, interpretando a 1a parte do art. 111 da Constituição de 1937
Ainda a Franca nos oferece exemplo mais recente, precisamcnte no art. (Os militares e as pessoas a des assemeihadas terão foro especial nos delitos
59 do COdigo de Justiça Militar, atualinente em vigor, segundo o qual as tn- militares), expunha:
bunais militares que funcionam junto 'ts tropas estacionadas fora do territOrio
frances conhecem das infraçoes de toda nature/a comelidas par militares fran- "para que houvesse o foro especial bastaria que se tratasse de acusado miii-
tar. ....... e houvesse a lei penal militar incluIdo o delito como crime militar.
ceses integrantes dessas tropas. A redaçao (10 art. 59 C a seguinte: Vale dizer: o conceito de crime militar seria dado pela lei penal militar, com
plerla Iiberdadetécnica".65
"Hors du territoire de la Répubtique cit sous reserve des engagements
internationaux, les tribunaux aux armées connaissent des infractions de toute Trata-se, portanto, do criteria objetivo solidificado desde a Constituição
nature commises par les membres des forces armées ou les personnes a Ia de 1891, embora não identificado, como registra a orientacao firme do então
suite de I'armée en vertu d'une autorisation".

62
Vieira, in Macedo Soares, COd. Pen. Mi!., p. 15.
João "PonIes de Miranda, Coment. a Const. de 1967, I. IV, p. 238-40.
' Augier et Le Pottevin, Dir. Pen. Mu., p. 25.
65
PonIes de Miranda, Cornent. a Const. de 1967, t. IV, p. 240.
56 Cello Lobão Direito Penal Militar 57

Supremo Tribunal Militar, seguida em dccisöes posteriores pelo Superior Tri- Conclui-se que a referência ao sujeito do delito ("personnes appartenant
bunal Militar. aux Forces Armées"), como deixa claro o conferencista, de forma alguma si-
Bastante elucidativos os comentlrios de Barbalho ao art. 77 da Carta de gnifica adoçao do critério ratione personae. Trata-se do critério ratione mate-
1891: "Para os crimes previs(os pr/a Iei ,nilitar uma jurisdiçao especial deve riae ("ancrée au double concept de la subjetivité et de l'objetivité) acoihido
existir, nao como privilégio dos indivIduos que os praticam, mas atenta a natu- pela primeira Constituiço republicana brasileira e substituIdo pelo critCrio
reza desses crimes e a neccssidade, a bern da disciplina, de uma repressäo ratione legis, a partir da Carta de 1934.
pronta e firme, corn formas suniirias" (os grifos não säo do texto), 6 o que A inclusão ou exclusäo, no preceito constitucional pátrio, do agente do
invoca a natureza do crime (delito militar) e a qualidade do agente (militar de delito militar, nada tern corn a preferência deste ou daquele critério determina-
terra e mar), no dizer de Esnieraldino l3andeira, consagrando, dessa forma, 0 dor do crime militar. 0 que existe d uma opcäo da Lei Fundamental de especi-
critério ratione ,nateriae e nao o "critcrio pessoal" (ratione personae) "de ficar, em sede constitucional ou infraconstitucional, conforme o caso, o sujeito
demarcaçäo da Justica Militar" que o acórdão identificou como orientacao ativo da infracäo penal militar. Diante dessas duas altemativas, a Constituicao,
invariável desde 1891. ainda em vigor, corn meihor técnica. optou por ornitir-se quanto ao agente do
Se tal critério predominasse mi norma constitucional, a advertência de delito castrense, deferindo ao legislador ordinlrio a atrihuiçao de incluir Oti
Barbalho de que "esse foro, rcflita-sc, não é propriamente para os crimes dos não o civil corno sujeito ativo do crime militar da cornpetência da Justica Mi-
militares, sim para os crimes militares ... o foro especial é so para o crime que litar federal. Portanto, o art. 124 da Constituição suprimiu norma de compe-
ele pratica como soldado, Ut nzi/es, na frase do jurisconsulto romano,67 essa tência processual penal da jurisdiçao especial militar federal, que havia sido
advertência, repetimos, nio estaria em consonância corn o dispositivo comen- alcada a nIvel constitucional pelos diplomas anteriorcs.
tado porque, segundo o critOrio ratione personae, a justiça especial julga, Quanto ao art. 125, § 4, da Constituiçao de 1988, que diz respeito a
predominanternente, os crimes dos militares e não os crimes militares. competência da Justica Militar estadual, o acOrdão da Corte Suprema, retro
Ao enunciar norma processual penal militar de competência, relativa ao citado, afirma que o constituinte orientou-se "de rnodo diverso, ao dispor so-
sujeito do delito, a Constituiço de 1967 (conlo as de 34, 37 c 46), em abso- bre a competência penal da Justiça Militar dos Estados-membros. Esta, sirn,
luto, partia "de urn requisito sub jetivo, ligado a condicao do agente (militar ou foi definida ratione personce, posto que sO se concretiza quando os delitos
assemelhado) para a cicfinicão da cornpetência da Justiça Militar".68 militares hajarn sido cometidos por pohciais-militares e bombeiros militares
Como se nao bas(assc a sdlida doutrina e jurisprudência patria, merece (CF, art. 125, § 42)711
citacao a conferencia jI referida de Giuseppe Scandura, proferida em Ancara 0 equlvoco é evidente. Definir a competência da Justica castrense esta-
por ocasiäo do 802 anivcrsirio da Corte de Cassaço Militar turca. Referindo-se dual pelo critério ratione personce, importa cm considerar militar, todo delito
a Justiça Militar italiana, em sua atualidade, o Procurador Geral Militar da Corte cometido pelo militar estadual. Por outro lado, se a assertiva relaciona-se corn
Militar de Apelacao de Roma, depois de citar o art. 103 da Constituiçao de seu a classificacao do crime especial, corno sendo o crime que so pode ser pratica-
do por uma classe de pssoas, no caso o militar estadual, ainda assim é ma
pals, indica os trihunais niilitares como Orgãos jurisdicionais que "en temps de
ceiuivel, pelo distanciamento da conccituação do crime especial que não pres-
paix ils ont la juridiction sculerncnt pour les crimes militaires commis par des
dude da espécie do bern jurIdico tutelado.
personnes appartcnanl aux Forces Arrnées".
E precipitada qualquer afirmaçao categOrica, scm conhecer os acontc-
Prosseguindo, esclarece que "le juge penal militaire se presente done en
ciinentos que aritecederam o surgimento do § 42, do art. 125. Antes, poreni. C
temps de paix comme appartenant a une jurudiction circonscrite, c'est-à-dire,
conveniente salientar que o constituinte de 88 nao trouxe inovacao, 110 (JtlC (Il/
ancrée au double concept de la sub jetivitC et de l'objetivitd ("crimes militaires
respeito ao dispositivo citado. Seguiu a trilha da Emcnda Constitucional n
commis par des personnes appartenant aux Forces Arrn6es").69
7/77, adotando, corn algumas alteraçOcs e desdobramento em dois parigraft)s
(§ § 3 e 4), a norma expressa na referida alInea d do § 12 do afl. 144, da (itl
66
Barbalho, Constituiçao Federal Brasileira, p. 343. da Imenda Constitucional n2 7/77.
67
Barbalho, Const., p. 343.
68
Ac. cit., RTJ132/917.
69
Giuseppe Scandura, Revue, vol. XXXIV, n 1 a 4, p. 375. 11
111.1132/924
Celia Lobão Direito Penal Militar

Passamos aos motivos da Emenda 7/77. No 1111CR) do anos 60, durante a Esse ponto de vista era por nOs defendido desde 1975:
vigência da Constituicao de 1946, o Suprenio Tribunal Federal editou a Sii-
mula 297, corn o enunciado seguinte: "Por outro lado, os civis também não podem ser processados o JLtJAI
dos pelas Justiças Militares estaduais porque a Constituição náo ropotiu im
Secao VII, que trata dos Tribunals e JuIzes Estaduais (art. 144), a norma ox
"Oficiais e praças das milIcias dos Estados no exercicio de funcao poli- pressa no art. 12O.72
cial civil, nao são considerados militares para efeitos penais, sendo compe-
tente a Justiça cornum para julgar os crimes cornetidos por ou contra eles".
No Supremo Tribunal Federal, entretanto, a maté.ria niio era pacIfica. A
V Turma, em reiteradas decisöes, submetia o civil Ii Justica Militar estadii;il,
As reaçöes contra a Stirnula nao se fizerarn csperar e aumentarain sigrii-
enquanto a V Turma tinha entendimento diverso.
ficativamente em 1977, culminando corn a ediçao da Ernenda Constitucional
0 argumento usado pela 2-"Turma consta do CJ ne 6.295:
n° 7/77, que alterou a redaçao da alInea d, § 1, do art. 144, da Emenda Cons-
titucional n2 1, de 1969. Assim passou a vigorar a ailnea: "so a Justica Militar 0 competente para processar e julgar crimes militares, nan
havendo, pois, em razão da matOria, distincão de jurisdicôes, e sendo esdru
"d) justiça militar estadual, constitulda em prirneira instãncia pelos Con- xulo que, em razão da pessoa, haja a cisão de processos, para que a Justica
selhos de Justiça, e, em segunda, pelo prOprio Tribunal de Justica, corn corn- Comum julgue o civil por crime militar, aplicando a COdigo Penal e a Código
petência para processar e julgar, nos crimes militares, os integrantes das poll- Penal Militar; ademais, jurisdição constitucional, em razão da pessoa, se pror-
cias militares". roga, como tern esta Corte entendido, em inumeräveis casos, quanta a sua ju-
risdicao criminal e a do Tribunal Federal de Recursos em razão de prerrogati-
va da funcao".73
Esse histórico vem confirmado no voto proferido no CJ n9 6.295, datado
de 14 dejunho de 1981:
0 fundamento da deciso não nos parece sólido. Nos processos da ins-
tica Militar estadual em que hO acusados civil e militar, a separacão resulla
"é sabido que a razão de ser da nova redaçao do texto constitucional em cau-
sa foi, apenas, afastar a aplicaçao da Slimula 297 desta Corte, e não estabe- da falta de jurisdicao da Justica castrense para conhecer dos crimes milita-
lecer urn sistema dIspare - sem nenhurna razão de ser - do previsto no § i res praticados pelo civil, o que não se confunde corn a prorrogação da corn-
do art. 129 da mesma Constituicao".71 petência em razâo de prerrogativa de funcao. Na primeira, a matCria é de
jurisdição, na segunda 0 de competencia. Esta pode prorrogar-se, aquela
Ao lado da divergência em torno da Si.irnula 297, assumia maior rele- nunca Sc prorroga.
vância a que dizia respeito a competência da Justiça Militar estadual para pro- Note-se que distinguimos jurisdição de competência, "usando aqucla
cessar e julgar o civil. Alias, esse era o objeto .do CJ u 6.295, no qual a Corte para designar a poder de julgar atribuldo em conjunto a uma detcrrninada
Suprema, acertadaniente, decidiu pela incompetência da Justica Militar esta- espécie de orgãos judic,jOrios, enquanto que a riltima determinaria esse poder
dual para julgar o civil, determinando a separação de processos, corn a remes- dentre OS juIzes e tribunais de urn mesmo tipo, nas re]acöes recIprocas".74
sa a Justiça comuin, do feito relativo ao paisano. Portanto, jurisdição designa "espécies diferentes de juizes e tribunais, c
0 então Tribunal Federal de Recursos tinha posiçäo firme e corrcta, ex- que o codigo usa das expressöes "jurisdiçao especial" "jurisdição comum",
c]uindo o civil do ârnbito da jurisdição da Justica Militar estadual, chcgando a "jurisdiçao inilitar" e "jurisdição do juIzo de menores", no art. 78. us. 11 c IV,
sumular a matéria, precisamcnte na SCmula n9 30: c no art. 79"."5
Ainda Frederico Marques inforina que "pode ser prorrogada a jurisdicio
"Conexos os crimes praticados por policial militar e por civil, ou acusa- de urn juiz corapetente para outro não competente, na mesma causa, ou por
dos estes coma co-autores pela mesma infracao compete a Justica Militar es-
tadual processar e julgar a policial militar pelo crime militar (CPM, art. 99) e a
/2
Justica Comum, a civil". Cello LobSo, Dir. Pen. Mi!., p. 9.
' RTJ1O2/507
Frederico rAarques, Pa CompefOncia, p. 38
RTJ1O2/507 Frederico IVarques, Pa Competéncia, p. 39.
60 Cello Lobão Direito Penal Militar III

conexäo e continência (CPP, arts. 73-83), ou por vontade de uma das partes julgado na Justica comum pelas vias de fato (art. 21 da Lei de ('ol1Ir:vrI;çOI'N)
(CPP, art. 73). Explica, porém, Joäo Mendes que "não ha propriamente, nestes ou pela lesão corporal ou rnorte, se for alcançado urn desses rcsultados.
casos, prorrogacão de jurisdicao: quem não tern jurisdicao por investidura Ainda como exemplo, aventamos mais duas hipótescs: militar f&*uil
oficiaL.. não pode ser juiz. Neste casos, as partes se submetem a urn juiz que mata, em co-autoria com civil, outro militar federal, que não esti em serviço,
tern jurisdiçao, mas não tern competência, em vez de se submeterem a outro nern no interior de estabelecimento militar. 0 militar responde pelo homicIdio,
que tern, não so jurisdicao, mas também compet8ncia".76 na Justica Militar federal (art. 9, II, a), enquanto o civil é processado e julga
Näo é diferente o ensinarnento de Evandro Lins: do na Justiça comum, separando-se os processos. 0 militar estadual maLt co-
lega de farda em conjunto corn militar federal. 0 primeiro responde na Just iça
"Quando ha pluralidade de autores e coincidéncia de jurisdicöes diver- Militar e o segundo, na Justica comum.
sas (comum e militar) permite-se a separacao do julgamento dos autores pelo Nenhuma perplexidade. Normas de direito processual penal, relativas i
priric(pio da especlafldade, dada a?luralidade jurisdicional adotada na estrutu-
ração do nosso Poder Judiciário".7 conexão e a continência no se sobrepöem a excepcionalidade da sujeico do
paisanoà justica especializada, a falta de jurisdicao do Juiz castrense federal
Corn efeito, ern conformidade corn a Lei Fundamental, a jurisdicão da para processar e julgar 0 civil, quando o delito não é militar, ou do Juiz Militar
Justiça Militar estadual é restrita ao crime militar cometido pelo militar esta- estadual, em qualquer caso.
dual, não alcancando, de forrna alguma o paisano, em qualquer circunstância, No século passado, a Corte Suprema, corn muita propriedade, não dci-
mesmo nos casos de conexão ou continência. xava diivida quanto a essa matCria. E o que se lê no voto do Ministro José
Nenhum reparo na separacäo de processos, decorrente da reparticao de Hygino, proferido em 1893, segundo o qual em face da Lei de 3 de dezembro
jurisdIcao operada pela Lei Major. A norma constitucional, ao declarar que de 1841, ficou resolvida "a importante questão de saber qual o foro compe-
compete a .Justiça Militar estadual processar e julgar os policiais militares e tente no caso de se acharem envolvidos no mesmo delito paisanos e militares",
bombeiros militares, nos crimes militares definidos em lei, evidentemente sujeitando "os paisanos ao foro civil e os militares ao foro militar".78
exclui o civil dajurisdiçäo da Justica especializada estadual, que, dessa forma, Merece relembrar que o Pleno da Corte Suprema, em 12 de novembro
sO conhece dos crimes militares cornetidos por militar estadual. de 1975, antes, portanto, da Emenda n2 7/77, no RHC fl9 53.801-Ri, por rnaio-
A subrnissão do civil a justica especializada, subtraindo-o de seu juiz na de votos, inclinou-se pela incornpetência da Justiça Militar estadual para
legal, resulta de disposiçäo expressa da lei, mediante autorizacao constitucio- processar e julgar o civil, corn o fundamento seguinte:
nat, concedida a Justiça Militar federal e não autorizada para a Justiça castren-
"As PolIcias Militares não constituem "instituiçôes militares" no sentido
se estadual. A diferenca e de clareza meridiana. A Constituição delimitou a do art. 129, § 12 da Constituicão, pelo que não podem ser submetidos as Jus-
jurisdicao da Justiça Militar estadual, restringindo-a, exciusivamente, aos cri- ticas Militares estaduais, civis que pratiquem crimes contra elas ou seus mem-
mes militares praticados por militar estadual, vedando, dessa forma, a amplia- bros. Reexame do tema e reiteracão da jurisprudência do Supremo Tribunal
ção dessa jurIsdicao especializada, pelo legislador ordinário, para alcancar o Federal".79
civil.
Cotno consequência, se o civil realiza determinada aço tipificada no Essa decisâo, no entanto, nâo pacificou a jurisprudência da Corte Su-
COdigo Penal Militar, contra as instituicoes militares estaduais, responde na prema, permanecendo a corrente que rejeitava a separaco de processos na co-
Justiça cornurn, desde que sun conduta se ajuste a algum tipo da lei penal co- autoria. Finalmente, após reiterados pronunciamentos da mesma Corte, acre-
mum. Por exemplo, a vIolência contra policial militar, oficial de dia, praticada ditamos que, finalmente, consolidou-se a correta orientacâo. Como exemplos,
por militar e civil, em conjunto. 0 integrante da corporacão estadual castrense o RHC n 57.624,de 15.02.80, e 0CC n2 3.998, de 01.07.80. Mais eloquentes,
responde na Justiça Militar estadual, pelo crime do art. 158 (violência contra OS CJ n9 6.535-RS e HC n2 69.662, de 25.08.92, este tiltimo da 0 Turma. E a
militar de servico) do COdIgo Penal Militar, enquanto o civil será processado e seguinte a Ernenta do CC n 6.53 5:

' In Frederlco Marques, Traf. Dir. Proc. Pen., v, 1, p.228. In JoSo Mendes Junior, Proc. Cr/rn. Bras., v. 2, p. 85.
70
RTJ361225 RTJ79/56
62 Cello Lobão Direito Penal Militar GM

"Ainda que presente a continOncia processual subjetiva em evento em pois integrava 0 cnténO ratione rnateriae que nao prescmde da dcl lliiç:u l'lal
que se envolveram policiais militares e policial civil, no pIano da autoria, com-
do crime militar: crime militar cometido exciusivamente por ulililar.
pete a Jurisdiçao Castrense o julgamento dos primeiros, e a Jurisdicao Co-
mum o julgamento do ültimo. Aplicacao do art. 79, I, do CPP".80 Basta a leitura do pOrtico do COdigo Penal da Armada do 7 ik Jn:iIçn dc
1891:
0 HC n 69.662, que se refere a crime praticado em co-autoria por civis
e policiais militares, está vazado nos seguintes termos: "Art. 12. Nenhum indivIduo ao serviço da marinha do guerra podora
punido por fato que näo tenha sido anteriormente qualificado crime, nern coin
penas que não estejam previamente estabelecidas".
"Competência. Concurso entre a jurisdiçao comum e a militar: inadmis-
sibilidade de prorrogação (C. Pr. Penal, art. 79, I): separaçao obrigatória. A
norma do art. 79, I, C. Pr. Penal - que constitui derivaçao necessária da de- Anota Macedo Soares:
marcaçao constitucional exaustiva de Orbita jurisdicional da Justica Militar -
impede a prorrogaçao de sua competência, seja para julgar militar por crime "Nullum crimen, nu/la pcena sine loge. NinguOm será sentenclado so
comum, conexo a crime militar, seja, em funcao da continëncia, para julgar ci- nâo pela autoridade competente, em virtude de lei anterior e na forma por ela
vis acusados de co-autoria com militar no mesmo fato, que, a um tempo, con- regulada. Const. Fed., art. 72 § 15..83
figure crime comum dos primeiros e crime militar, em relaçao ao ültimo".81
1.ogo, requisito objetivo. na tipificacao do crime militar, no vetusto Cd-
Bern mais preciso e rigorosamente correto, o HC n2 70.604 - SP: (ligo Penal da Armada.
Abordando singelamente o processo evolutivo do crime militar, a
"A Justica Militar estadual não dispöe de competéncia penal para pro- ('onstituicao republicana de 1891, ao transformar em foro especial o entio
cessar e julgar civil que tenha sido denunciado pela prática de crime contra a loro privilegiado dos militares, acolheu o critdrio ratione inateriae (art. 77:
Pollcia Militar do Estado. Qualquer tentativa do submeter os réus civis a pro- "Os militares de terra e mar tcrão foro especial nos delitos militares"). Se-
cedimentos penais-persecutórios instaurados perante órgãos da Justiça Militar
guiu-se a Constituiçäo de 1934, repetindo, no art. 84, a norma anterior.
estadual representa, no contexto do nosso sistema jurIdico, clara violação ao
principio constitucional do juiz natural (CF, art. 52, LIII). A Constituiçao Fede- acrescida de 2 parte ("Este foro poderal ser estendido aos civis, nos casos
ral, ao definir a competéncia penal da Justica Militar dos Estados-membros, expressos em lei, para a repressao de crimes contra a segurança extcrna do
delimitou o âmbito de incidéncia do seu exercIclo, impondo, para efeito do sua pais ou contra as instituicoes militares"), legitimando, assim, decisOcs ante-
configuração, o concurso necessário de dois requisitos: um, do ordem objetiva riores da Justica castrense, proferidas ao arrepio da norma constitucional ao
(a prática de crime militar definido em lei) e outro, do Indole subjetiva (a quali-
licação do agente como policial militar ou como bombeiro militar). A compe- sujci tar o civil it referida justiça.
tência constitucional da Justiça Militar estadual, portanto, sendo de direito es- A formula foi repetida pela Carta de 1937, instituidora do histriônico e
trito, estende-se, tão-somente, aos integrantes da Pollcia Militar ou dos Cor- retrogrado estado novo getuliano, do que se aproveitou o Cddigo Penal Militar
pos do Bombeiros Militares que hajam cometido delito do natureza militar.82 do 1944, para incluir o cvi1 corno agente de considerável nOniero do delitos
itlipropriamente militares.
Como se ye, de forma clara e irrctorqUIvel, o constituinte de 88 não "se A excessiva militarizaçao dos crimes cornuns. aliada a inclusão do civil
orientou, no entanto, de modo diverso, ao dispor sobre a competCncia da Justiça conio sujeito ativo dos delitos inipropriamente militarcs, praticarnente em
Militar dos Estados-membros", porquanto limitou-se a copiar norma anterior if.',ualdade de condiçöes corn o militar, tornou dcfinitivarnente inadequada a
originária da Emenda Constitucional n 7/77, segundo a qual a Justiça especiali- classificaçäo dessa espécie de crime pelo critério ratione inateria', inipondo-se
zada estadual so conhece de crime militar cometido por militar estadual. sLi:i suhstituicão pelo ratione legis (critdrio objetivo, corn exciusividade), o
Como ficou dernonstrado, o critério objetivo identificado pelo acOrdäo, (liga-se do passagem, não era vedado pela Lei Fundamental do 1891.
na atual Constituicao, nunca foi estranho ao Direito Penal Militar brasileiro. A Constituição de 1946, e a Carta do 1967 corn a Ernenda do 1969. in-
oriiam duas importantes niodificaçöes. A prirneira autorizava o legislador
80
nidiinirio a ampliar a competência da Justiça Militar federal, it fim de alcancar
DJde 12.04.85, p. 4.931.
81
F?TJ1441293.
82
Ac. de 10.05.94, l8 Turma, unânime. Macedo Soares, Cod. Pen. Mi!., p. 2.
64 - - Direito Penal Militar 65
- Cello Lobão

a repressäo aos crimes contra a seguranca externa praticados por civil. A Se- que a infraço penal receba a classificaçao do delito militar e, como conse-
gunda substituiu a faculdade concedida ao legislador ordinário pela taxativa quência, seu autor, civil OU militar, seja processado e julgado pela Justica Mi-
determinaçao de sujeitar o civil a Justica Militar federal, nos crimes contra a litar federal ou o sujeito ativo militar estadual responda na Justiça Militar es-
segurança do Estado e nos crimes contra as instituiçoes militares ("esse foro tadual.
especial estender-se-á aos civi s"). 10. Crime Propriamente e Improprianiente Militar - A doutrina e a
Finalmente, a Constituiço ainda em vigor, omite os sujeitos do delito e jurisprudéncia, insistenternente, proclarnavani a distinçao entre essas duas
refere-se aos "crimes militares definidos em lei", tal como vinha expresso nas espCcies de crime militar, scm cncontrar ceo na legis]açao pátria. Finalmente.
Carias de 46, de 67 e Enierida de 69 e que corresponde aos "delitos militares" a atual Constituiçäo adotou, no art. 5, LXI, a suinina c/ivisio do crime militar:
dos arts. 77,84 e Ill dos diplomas de 1891, 1934 e 1937, respectivarnente. Ao crime propriamente militar e crime impropriamente militar.
ornitir o sujeito do delito militar, a Lei Fundamental deixou a critério do legislador Alérn de irnpor essa distincao ao dircito material, a norma constitucio-
ordinário estcnder ou não o foro especial ao civil, ao passo que manteve, a nIvei nal produz efeitos na lei adjetiva castrenses na medida em ciuc veda a autori-
constitucional, o rnilitar estadual e o federal, como sujeito ativo tinico do crime dade militar decretar, no curso do inquerito, a prisio prc)visória do autor de
militar da competência da Justiça Militar estadual e federal, respectivarnente. crime Jnlpropriamcnte militar. I- xtrapolando os Iirnitcs da legislação repressiva
Corn efeito. a norma constitucional que se refere a competência da Justiça Mi- castrense. os efeitos dessa divisüo projctarn-se na lei penal extravagante que
litar federal, tern corno cicstinauirio o militar, embora scm vedar a extensäo define como ahuso de autoridade a prisao realizada em desohcdiencia i proi-
dcsse foro ao civil, pelo legislador ordinário. biço citada e, tanihérn, no Cddigo Penal, que não considera, para efeito de
A Justica Militar estadual alcancou nIvel de órgio judiciario constitucio- reinciclência, os crimes propriarnente militares (art. 64. II, do CP).
nal corn a Lei 1-unclamental de 1946 (art. 124, XII). que, no entanto, flO se referia Conforme assinalamos anteriomiente, Rorna jd conhecia o crime pro-
a seus lirnites jurisdicionais, o que somente ocorreu corn a F.rnencia n 7/77, várias priamente militar, expresso na L. 2, D. 49-1 6: "propriwn inilitare esi delictuin,
vezes referida, cuja finalidade, como ficou dito. era a de afastar a incidência da quad quis titi miles ad.'nitiii". Essa espécie do delito "dizia respeito a vida rnilitar,
Simniula 297 da Corte Suprerna, mas foi alrn, restringindo os lirnites jurisdiclo- considerada no conjunto da qualidade funcional do agente, da materialidade es-
nais da Justica castrense estadual aos crimes militares cornetidos, iinica e cx- pecial da infração e da natureza peculiar do objeto daniuicado. quo devia ser 0
clusivamente, por militares estaduais. A Constituiço de 1988 (art. 125, § 4) serviço, a disciplina, a administraçao oti a economia militar".
transcreveu, corn altcraçoes irrelevantes, ncssc particular, a alInea J, § 1, art. 0 impropriamente militar surgiu da necessiclade da pernianencia das Ic-
144, da Ernenda Constitucional n 1, do 1969, corn a redaçäo dada pela giöes em armas, para seguranca do Roma e domInio dos povos conquistados e
Emenda Constitucional n 7/77. consistia no "delito que no afeta irnediatamente o dever, a disciplina ou a
ConseqUentemcntc, o exarne dos textos constitucionais näo autoriza a obediência militar"."
conclusao de que so "partia de urn requisito sub jetivo, ligado a condicao do Na doutrina, na jurisprudCncia e no direito brasileiro, não havia unifor-
agente (militar ou assernelhado), para dcfinição da cornpctência da Justiça midade na denominação das duas espécies de crime militar, como, alias, ainda
Ivlilitar".84 0 direito penal militar brasileiro adotou. scmpre, "a tipificaçao do hoje ocorre, embora scm a oxtensäo de antanho. Crime puramente militar era a
delito corno critdrio objetivo da atribuiçäo da competência da Justiça Militar. expressao usada pelo Código Criminal de 1 830 (art. 308, § 2: "Os crimes
Repetirnos: basta Icr o art. 1 do vetusto COdigo Penal da Aniiada. puramente militares, os quais serão punidos na fonrua clas leis respectivas').
Na cleterminação da cornpetência da Justica Militar, d indispensIvel a assim corno pelo Codigo de Processo Criminal de 29 de novembro de 1832,
tipificação do fato delituoso na lei penal militar (ciesdo os artigos de Guerra de reformado pela Lei n c 261 do 3 de dezernhro de 1841 (art. 82)e pelo COdigo
1763 ate o atual Codigo Penal Militar). Sc essa tipificaço corresponde ao Penal de 1890 (art. 6, b: 'os crimes puramente militares, como tais doclarados
crime propriamente inilitar, o agente C sempre c exciusivarnente militar. No nas icis respectivas").
crime impropriamente militar, igualmente tipificado na lei rcpressiva castren- Crime meramente militar constava da Provisão de 20 de outubro iii
se, é necessfria a ocorrncia de urn plus, tarnbCrn previsto em lei (art. 9) para 1834, do Curso de Direito Penal Militar de Thornaz Alves, da Resoluçño de 5

RTJ132/917 Esmeraldino Bandeira, Dir., Just. Proc. Mi!., v. 1, p. 267.


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de rnaio de 1887 e era aceito por Souza Martins. No parecer de Guimarães constava no art. 57, § 2°: "Para o efeito da reincidência, não se considenun u
Natal encontram-se as locucoes cssencialmente e acidentalmente militares, crimes puramente militares oii politicos".
enquanto Clóvis Beviláqua, em seu Esboço do Código Penal para a Annada, 0 art. 614, III, do Código de Processo Penal Militar, que trala da sus-
dividia o delito militar em três categorias corn as dcnominaçoes de crimes pensão condicional da pena, utiliza a dcnominacão "crime próprio". Segundo
essencialmente e acidentalmente militares e, ainda, crimes militares por corn- determinados autores, seria subclasse do crime militar, ou seja, o crinie em
preensao normal da função militar. que 6 exigida a qualidade de militar do agente, por se tratar de infracão penal
A disparidade da nomenclatura deve ser creditada a orientaçao dos di- própria de quern exercc a função do cargo militar, portanto. crime propria-
versos tratadistas de dar cunho pessoal a seus comentirios e, mais recente- mente militar.
mnte. ao desconhecimento da matéria, por parte de autores de decretos-leis e Atualmente, a Constituição de 1988 consagrou a denominação critin'
de projetos de lei. A realidade, porém, é que as expressöes, purwnenre, inera- propriamente militar, retornando as origens do Direito Penal Militar. 0 delito
mente, essencialmente, exciusivainente militar, são sinônimas de crime pro- definido na Ici penal castrense que não se ajusta a essa classificaçao denomi-
priamente militar, dcnominação essa que recebeu acolhida na Lei Major (art. na-se cIime impropriamente militar.
5°, LXI). Quanto as expressöes acidentalmente e crime inisto, são sinonirnos 11. Crime Propriamente Militar. Conceito - Crime propriamente mi-
de crime impropriamente militar. Atualinente, as dcnoininacoes de crime pro- litar. corno acdntua Esmeraldino Bandeira, receheu dcfinição precisa no 1)1-
priamente militar e de crime impropriamente militar tern obtido major aceita- reitc) Romano e consistia naquele "que so o soldado pode cometer". porque
ção na doutrina e nos tribunais. "dizia particularmncnte respeito a vida militar, considcrada no conjunto da
Os doutrinadores brasileiros não desconheciam as duas espécies de qualidade funcional do agente, da materialidade especial da infracao e da na-
crime militar. Esmeraldino Bandeira identificou a primeira delas no art. 77 da tureza peculiar do objeto danificado, que devia ser o serviço, a clisciplina, a
Constituicao de 24 de fevereiro de 1891, acrescentando que "o texto invoca a administraçao ou a econornia militar",8° é o que deflui do Digesto, Liv. XLIX,
TItulo XVI, L. 2: Dc re inilitare. ... Propriuin inilitari est delictuin quad quis
natureza do delito além da qualidade do delinquente" e, a "exigência constitu-
uti miles admnittit.
cional da dupla ocorrCncia da qualidade militar no delinquentc e no delito est
Ratificando csse ponto de vista, o mesmo Esmeraldino Bandeira reafir-
a demonstrar que, corn estatuir o critério referido, visava a Constituição a es-
ma que "crimes propriamente militares SaO OS que consistem nas infracoes
pécie de crimes denorninada própria ou essencialmente militar".86
especIficas e funcionais da profissão do soldado", enquanto o crime impropri-
Ainda o mesmo autor utiliza as denominaçOes crimes propriamente e amente militar é "aquele que pela condiçao militar do culpado, ou pela espécie
impropriamente militares.57 militar do fato, ou pela natureza militar do local ou, finalmente, pela anorma-
Referindo-se ao Decreto Legislativo n° 3.351, de 3 de outubro de 1917, lidade do tempo em que é praticado, acarreta dana a economia, ao servico ou a
que adotou as denorninacoes de crimes propriamente militares e de crimes disciplina das forças armadas".9°
impropriamente militares, accntua Esmeraldino que o primeiro deles "é a dni- Em outro trecho çle sua obra, torna bern clara sua posicão relativarneme
ca espécie de delito que devia ser considerada militar", enquanto o outro, que a matéria:
também intitula de acidentalmente militar, foi introduzido por legislaçöes
posteriores e que são "infracoes de caráter misto - comuns em sua natureza "Entre nós é usual e corrente a divisão de tais crimes em própria ou pu-
mas cometidas por soldaclos; ou militares em sua objetividade e praticadas por ramente militares; e em imprOpria ou acidentalmente militares... Os primeiros
supöem, a urn tempo, qualidade militar no ato e caráter militar no agente. São
paisanos' ' .88 as crimes que, conforme 0 ensinamento de certa doutrina, constituem urn resi-
A Lei n° 7.209/84, que altcrou a redacao do art. 64, 11, do Codigo Penal, duo de infraçaes irredutIveis ao direito comum. Os segundos são crimes intrin-
inenciona "crimes militares próprios", enquanto no diploma repressivo de secamente comuns, mas que se tornam militares já pelo caréter militar do
1969 (Dec.-lei 1.004, de 21 de outubro de 1969), que nunca chegou a vigorar, agente, já pela natureza militar do local, jé pela anorrnalidade da época ou do
tempo em que são cornetidos".91

Esmeraldino Bandeira, Dir., Just., Proc. Mu., v. 1, p. 29. U9


Esmeraldino Bandeira, Dir., Just., Proc. Mi!., v. 1, p. 26.
' Esmeraldino Bandeira, Dir. Just. Proc. MI!., v. 1, p.51-2.
UI
Esmeraldino Bandeira, Dir., Just., Proc. Mu., v. 1, p. 31.
Esmeraldino Bandeira, Dir. Just., Proc. Mi!., V. 1, p. 30-2 e 51. Esmeraldino Bandeira, Dir. Just., Proc. Mi!., V. 1, p. 19e 20.
68 Célio Lobão Direito Penal Militar 011

0 ensinamento do doutnnador major do Direito Penal Militar na cida- derna Merece relembrar Crysólito de Gusmão, para quem "a tendncia in t-
dela impenetrável do direito repressivo castrense, apesar de octogenário, con-
tinua intacto. Seus livros são fontes de conhecimento para quem deseja meihor
S e verdadeira é a que propugna que sO possam ser considerados criiucs
militares aqueles que sO pelo militar podem ser cometidos, constituirido, as-
conhecer esse ramo do Direito Penal brasileiro. sirn, uma infracao especIfica, pura, funcional ou de serviço".98
Corn as denominaçöes de essencialmente e acidentalmente, os crimes Essa tendência defendida por outros juristas nacionais e estrange iros
propriamente e impropriamente militares são perfeitamente extremados no
nao recebeu aceitaçao de respeitãvel parcela dos legisladores, ate a metadc
parecer do então Procurador da Repüblica e posterionnente Ministro Guima-
deste século. Corn o firn da segunda guerra mundial, voltou a ganhar adeptos.
rães Natal: passando a ser adotada em paIses europeus, ao mesmo tempo que ressuriu,
'Essencialmente SO os que, de sua natureza militar, tern por agente corn major força, a pregacão dos que defendem a extinção da Justica Militar, o
urn militar; acidentalmente militar os que de natureza cornum, praticados por que não tern encontrado eco nas remanescentes ditaduras de esquerda e de
militares, assumem o caráter de militares pelas circunstâncias especiais do direita e, igualmente, em paIses democráticos, principalmente os que mantêrn
tempo ou lugar em que são cometidos, pelo dano que, dadas circunstãncias, tropas militares acantonadas em outros palses ou que enfrentam lutas internas
causam a administracão, a hierarquia, ou a discipliria militar, como o crime
praticado por militar, dentro do quartei, suas dependéncias, etc".92 corn grupos paramilitares.
Corno ressaltamos acima, Jorge Alberto Rorneiro, para justificar a in-
Em conformidade corn a conceituação acirna, o Supremo Tribunal Fe- clusão da insubmissão na categoria de crime propriamente militar, forrnulou o
deral, em acdrdão datado de 30 de rnaio de 1925, decidiu que o "crime pro- que denominou de "nova doutrina", segundo a qua! "crime propriamente mi-
priamente militar é o que so por militares pode ser cornetido, isto e, o que litar seria aquele cuja ação penal so pode ser proposta contra rnilitar".99 Cons-
constitui uma infração especIfica e funcional da profissão do soldado".93 tituindo-se em variacão não muito fe!iz da doutrina processualista, a "nova
Nesse mesmo sentido, Edmundo Lins: "essencialmente ou propriamente mili- doutrina" nao se sustenta em confronto corn o elenco de crimes definidos no
tares, isto é, os que sO pelos soldados podem ser cometidos, por consistircm Código Penal Militar cuja acão penal sO pode ser proposta contra militar, mas
em infraçao especIfica e funcional da profissão militar, de sorte que nunca que, de forma alguma, se ajustam ao conceito de crime propriamente militar.
podem ser crimes cornuns".94 São eles: ahandono de pessoas (art. 212); violacão de correspondência
Não é difercnte o ensinarnento de Chassagne-Belmin, "les infractions (art. 227, § 1°, 2, corn a ressalva do § 42); divulgacao de conteOdo de docu-
que seuls peuvent commettre les militaires, en raison des obligations mento particular e violaçao de recato (arts. 228 e 229, corn a ressalva do art.
particulières qui leur incombent en cette qualite".95 Jimenez y Jimenez tam- 231); corrupção de menores (art. 234); de!itos equiparados ao estelionato (art.
bém destaca os delitos, que denomina de exciusiva ou propriamente militares, 251, § 1, I a IV, corn a ressalva do § 22); recusa de exercer funcao na Justiça
"en los que el militar quebranta un debcr inherente a la profesión de las Militar (art. 340). Poderiam, ainda, ser citados o abuso de funcão em servico
armas", distinguindo-os "de los que, tambidn afectantes al servicio y a los postal e telegrdfico (art. 227, § 32, apesar de não incluIdo na ressalva do § 42),
intereses dcl Ejército, pueden tener como sujeto activo directo a los civiles".96 fuga de preso na modalidde culposa (art. 179), além de outros. A enumeração
Anteriormente, em artigo sobre a Justica Militar brasileira, o jurista es- dispensa maiores comentários.
panhol expöe que, em nossa legislacão, os crimes propriamente militares Como crime propriarnente militar entende-se a infracao penal, prevista
"presuponen, sirnultáncamente, la condiciOn militar del sujeto activo y el no COdigo Penal Militar, especIfica e funcional do ocupante do cargo militar.
carácter militar de la acciOn u omisiOn constitutiva de una inmedita ofensa que lesiona bens ou interesses das instituiçöes militares, no aspecto particular
al deher, a Ia disciplina y a la jerarquIa, valores fundanientales para las da disciplina, da hierarquia, do servico e do dever militar.
Fuerzas Arinadas".97 E convenientc ressaltar que o crime propriamente militar pode ser co-
metido no exercIcio da funcão do cargo militar ou bra dde. Por exemplo, no
Frederico Marques, Da Competência, p. 140. abuso de requisicão militar (art. 173) o militar pratica o delito em funç&x en-
In VirgIllo Carvaiho, COd. Pen. Mi!., Bras., p. 21. quanto que, na violência contra superior (art. 157), o agente e o ofendido '-
° In Homero Prates, COd. Just. Mi!., p. 8.
In CrysOlito de Gusmäo, Dir. Pen. Mu., p. 43.
° Jimenez y Jimenez, In/rod. Der. Pen. Mi!., p. 44. 98
Crysólito de Gusmão, Dir. Pen. Mi!., p. 41.
°' Jirnonoz y Jimenz, Rev. Espan. Der. Mi/i, Separata, n9 33/34, p. 93. 99 Jorge Alberto, Romeiro, Curso, p. 73.
70 Cello Lobão Direito Penal Militar ri

dem ou nao estar em serviço e fora do local sob administracao militar, no mo- eram somente os que importavam em lesão ao servico, a discipiina riiililai,
mento do crime. esse motivo, restritos ao militar. Por outro iado, não correspondc a realida Ic
Determinada corrente doutrinária, corn destaque para Carlos Colombo, afirmativa de que no Brasil não e exigida a qualidade militar do agciiI i'
identifica subespécie do crime propriamente militar, que consiste nas infra- caracterizaçäo do crime propriamente militar, porquanto desde os prini(nt 1cs
çöes penais exciusivas do militar, pois somente ele pode cornetcr, constituin- do direito penal castrense brasileiro, a condição de militar, no crime prop 'i
do-se na violaçao de urn dever militar que, por esse motivo, somente pode rnente militar, sempre foi exigida pela lei e sancionada pela doutrina e pcia
vincular o militar 100• Esse mesmo penalista acrescenta que, a exemplo do jurisprudência.
ordenarnento penal onde existern delitos cornuns e próprios, assini também no Para nao nos alongarmos, Nelson Hungria ao referir-se no Dec.-lei I
ordenamento penal militar hi delitos qUe sio prOprios e outros que não o sao, 394 de 28 de abril de 1938, que tratava da extradicão, expöe cjue "puranicntc
segundo a qualidade de militar seja oh no elemento constitutivo da infraco militares são crimes prOprios dos militares, isto é, que sO por estes podeni st.'r
propriamente militar. Segundo ele. delitos militares próprios "son pucs solo praticados"°3. João Mendes ensina que os crimes purarnente militares (qu(,
aquéllos que exigerl Ia calidad dcl niiiitar en ci sujeto activo, como elemento corresponde aos propriamente militares) "sao prOprios da ciasse militar, pot
constitutivo''°1 do tipo. isso que o hornem, sern a qualidade de militar, não pode cometê-Jos ". Nesse
Essa corrente doutrirniria earece de i-eieviIncia diante do direito pItrio, mesmo sentido, o acOrdão do Suprerno Tribunal Federal, datado de 192.
ernbora encontre aceitacao de urn niincro rcstrito de autores brasileiros. No iguairnente citado, segundo o qual "crime propriamente militar é o que sO por
COdigo Penal Militar, a qualidade militar do agente, no crime propriamente 1114
militares pode ser cometido".
militar, sempre integra 0 tipo, quer explicita, quer implicitaniente, e ncsta Dando continuidade a essa tradição, a Lei Fundamental ainda em vigor,
Liltinla hipótese, essa qualidade vern indicada nos vocábulos coinandanie, apesar das rnutilaçoes acertadas ou nao, exigc a qualidade de militar do agente
oficial, suhordinado, inferiot; superior, coinando. No despojamento de uni- do crime propriamente militar. Realmente, ao autorizar a prisão scm flagrante
forme (art. 162) e no ahandono de posto (art. 195) a qualidade de militar do delito e scm ordcm de autoridade judiciaria, no crime propriamente militar,
sujeito ativo vern impilcita na descricão tIpica, pois o uniforme referido d o da evidentemente a norma expressa no art. 5, Lxi, da Constituição dirige-se ao
instituicao militar federal ou estadual, enquanto posto e lugar de servico dizem militar e somente a dc, cujo recoihirnento ao estabelecimento prisional cas-
respeito as funçoes do cargo militar. Consequentemente, no direito brasileiro, trense, no caso da prática do delito acinia rcferido, pode ser determinado pela
os denominados crimes militares próprios confundem-se corn os crimes pro- autoridade da polIcia judiciária militar. A excepcionalidade da sujeicão do
priamente militares. civil a jurisdição penal militar, obviamente não comporta essa restrição a SU
A subespécie supra mencionada decorre do entendirnento de aiguns liberdade individual. Sua prisão somente pode ocorrer cin flagrante delito on
autores de que o civil pode figurar como sujeito ativo do crime propriamente por decisão judicial.
militar. Dentre esses, destaca-se Carlos Colombo, para quern a definicão fun- Dessa forma, além da lei ordiriária, da doutrina e da jurisprudência, a
dada no hem ou interesse tutelados, é "válida tanto para ci caso en que ci Constituiçao, categoricamente, sO admite o militar corno sujeito ativo do crime
sujeto activo sea militar corno para Ia hipOtesis de que ci infractor sea civil". propriamente militar e não igualmente o civil, como equivocadamente afinna
Romeiro, por sua vez, argumenta que a doutrina de Vico "considera corno Romeiro. Se o paisano, corno autor ou co-autor, pratica qualquer ato que se
crimes propriarnente militares os definidos corn exciusividade pela lei penal ajusta a descrição tIpica dessa espécie de delito militar, sua conduta carece de
militar scm correspondentes na lei penal comum" e prossegue afirmando que relevância penal, ressalvada a hipOtese de encontrar definiçao em disposiiin
essa doutrina não exige, "no BrasiL para a caracterizacao do crime propria- clue trata do crime impropriarnente militar ou do crime cornum.
mente niiiitar, a qualidacle militar do agente".'°2 Nunca 0 dernais repetir: o civil não responde pelo delito propriamucale
Quanto a rcmissao a Vico, Romeiro näo atentou para 0 fato de que. para militar. Por exemplo, se realiza as condutas descritas como mourn, revolt a.
o penalista italiano, os delitos definidos corn exciusividade na lei penal militar etc., somente será penairnente responsabilizado, repetimos, Sc os atos pr! K' a-
dos estiverem tipificados em outra norma da lei penal cornum ou se encotir,
Carlos Colombo, Derecho, p. 123.

j
Carlos Colombo, El Derecho, p. 25. Nelson Hungria, Comentários. v. 1, Tome I, p. 186.
' Jorge Alberto Romeiro, Curse, p. 71. In Virgullo Carvaiho, Cod. Pen. MU., Bras., p. 31.
72
Cello Lobão Direito Penal Militar 73

rem definiço em dispositivo da lei penal castrense que define o crime impro-
priamente militar. Como registramos anteriorrnente, o mestre do Direito Penal Mi lit
acentua que as "duas espécies de crimes, ate entâo equidistantes e paraiclas,
Ensina Heleno Fragoso, "quando as circunstãncias de caráter pessoal
passam a constituir elementos do tipo, comunjcam-se aos co-autores, segundo foram-se movendo e aproximando de modo a se tocarem em certos pontos.
DaI surgiram os chamados delitos acidentais ou impropriamente militares, qiie
dispoe o art. 26 do Código Penal. No crime de peculato, por exemplo, a con-
tanta perturbacão tern trazido a lei e ao processo militar".'°8
diçâo de funciomSrio ptiblico deixa de ser circunstãncia, para tornar-se ele-
menlo constitutivo do crime. Em consequência, o extraneus que participa do Esse fenômeno foi motivado pela necessidade de exércitos permancntes
para assegurar as conquistas romanas em terras longInquas, e, posteriornieiuc,
delito praticará tambérn o peculato, porque a condiçäo pessoal elementar se
cOfllunica".'05 pela transforrnaco das forças armadas em instituiço permanente, para defesa
do pals, para conquista e manutenção do dominio sobre os povos subjugados
Enquanto no peculato existe uma valoraçio da conduta delituosa em
ou aliados coercitivamente.
decorrncia do bern jurIdico tutelado, scm alteraço do juiz natural, no crime
proprianiente militar a incomunicabiljdade das circunstjincias de caráter pes- No decorrer dos tempos, a sucessão de guerras, pnncipalmente na Eu-
soal decorre da impossihilidade de o agenic civil ofender o bern jurIdico tute- ropa, obrigararn os paIses a manter exCrcitos em condicoes de empenhar-se cot
confronto corn as forças armadas de outros palscs, resultando na arnpliaçao do
lado pelas normas penais especiais dcfinidoras do crime propriarnente mulitar,
que tern o militar coino destinauirio exciusivo e o submete a jurisdiçao especi- conceito de crime militar e, como conseqüência, no maior alcance da conipe-
alizada que somente alcança o civil em circunstâncias especialIssimas. tCncia das cones castrenses. como ft5rmula capaz de tornar cClere a prestacño
Corn efeito, a excepcionalidade da sujeiçao do civil a Justiça Militar. jurisdicional, na repressão dessa espécie de delitos e, dessa forma, dispensai
subtraindo-o de seu juiz natural, de seu juiz legal (art. 52, LIII, da Constituj- major protecäo as instituicoes rnulitares a fim de manter a disciplina, fator
ciio), realiza-se nos estreitos limites estabelecidos pela Constituiçao, com a indispensável para aumentar a eficiência das forças armadas.
qual o legislador ordimirio deve guardar conformidade. Essa permissao nio Como resultado dessa ampliacao, ditada por interesses de poiftica inter-
na ou externa, OS crimes impropriamente militares ganharam espaço nos cddi-
autoriza que o civil ingresse na classe de sujeito ativo dos crimes próprios da
gos penais castrcnses corn a militarizaçäo dos delitos cornuns que, dessa for-
profisso do militar. da condiçao de militar do agente. Nos crimes propria-
mente militares, a lei protege a disciplina, a hierarquia, o dever militar, que ma, forarn inseridos najurisdiçao especializada indcpcndentemente do agente,
somente podern scr ofendidos pelo militar e nunca, em hipótese algurna, pelo civil ou militar. No entanto, essa arnpliacao nunca foi pacificamente aceita.
Esmeraldino Bandeira, antes do tCrmino da segunda dCcada deste sé-
civil. ConseqUentemente, ao crime propriarnente militar nao se aplica o dis-
posto no art. 53, § 12, V parte, do Código Penal Militar ("não se comunicam, cub, registrava:
outrossim, as condiçöcs ou circunstiincias de caráter pessoal, salvo quando
"A categoria dos crimes impropriamente militares, consagrada embora
elernentares do crime".).
no direito positivo e defendida por numerosos escritores, é, corn razäo, impug.
12. Crime Impropriamente Militar - Em Roma, como nos lembra nada por certa pa,te dos crirninalistas rnodernos, pelo fato de amptiar a paisa-
Esmeraldjno Bandeira, existiarn duas espécies de infraçaes penais cometidas nos e a soldados na vida civil deveres especialissimos da organizaçäo militar
pelo soldado: o delito propriamente militar e o delito de direito comum. A e por irivestir corn princIpio da jurisdição cornurn, que é patrirnOnio de todas as
sociedades livres".109
prirneira "C a que dizia particularmente respeito ii vida militar, considerada no
conjunto da qualidade funcional do agcnte, da materialidade especial da infra-
Interessante aconipanhar a evolucao da competencia da Justica Militni'
çao e da natureza peculiar do objeto"°6 da tutela penal. A segunda espécic era
"a das infraçOes que o soldado comete COniO sim pies particular, como homeni, nos Estados Unidos descrita pelo major John Thornock, do Corpo de Audito-
WI civis; crimes ou delitos que atentam contra a ordem social cornum e não res de Guerra daquele pals, durante determinada época. Segundo o autor, as
fontes prirneiras do Direito Penal Militar norte-aniericano. como nao poderia
particularmente contra a ordem especial militar".'°7
deixar de acontecer, encontram-se no direito inglês, onde, ames de I il
guns reis ingleses aplicararn a lei militar em tempo de paz, contranaiido is
Heleno Fragoso, Liçoes Dir. Pen., Parte Geral, p. 266.
Esmeraldino Bandeira, Dir., Just., Proc. Mi!., v. 1, p. 26.
100
'° Esmeraldjno Bandeira, Dir. Just., Proc. Mi!., v. 1, p. 27. Esmeraldino Bandeira, Dir., Just., Proc. Mi!., v. 1, p. 27.
09
Esmeratdino Bandeira, Dir. Just. Proc. Mi!., v. 1 P. 51.

A
74 Cello Lobão Direito Penal Militar

prescriçöes da lei penal comum. Nesse ano de 1628, o Parlamento dirigiu ao norte-americanas, que tornaram a cornpetência militar sobre crimes cotiitin
rei Carlos I a Peticão de Direitos, transformada em Estatuto do Reino, que, virtualmente completa, no qual "a exigência de entrega de criniinosos niilita
dentre outras proposiçöes, deferia aos tribunais civis o julgamento de militares res a autoridade civil passou a ser permissIvel em vez de ohrigatória'. Vill
por crimes praticados no território do reino, reconhecendo, dessa forma, a processojulgado nos anos 70, a Suprema Corte forte-americana decidiu quc
ilegalidade do julgamento por cortes marciais. Essa orientaço foi mantida estupro cometido por urn soldado numa area militar tinha "relaçIo como ser-
pelo Codigo Penal Militar de 1765, considerado traduçäo literal da legislacao vico", logo deveria ser julgado pelo tribunal militar. Dessa fonna, o requisilo
penal militar romana, e que serviu de base aos cddigos penais castrenses das de relaçAo corn o serviço passou a determinar se o crime comum deve ou no
colônias americanas. ser conhecido pelas cortes rnarciais.
No que se refere ao julgarnento do civil, a cornpetCncia dos trihunais
primeiro código colonial norte-americano de justica militar foi edita-
militares ficou restrita ao tempo de guerra, como decidiu o Tribunal Militar dc
do em 5 de abril de 1755, pelo Congresso Provisório de Massachusetts Bay,
logo seguido por outras colônias. A 30 (Ic julho de 1775, o II Congresso Con- Recurso, de 1970, ao afirmar que a corte militar no podia julgar civil quc
tinental adotou o primeiro Código de Justiça Militar, aplicávcl a todas as colô- acompanhava as forcas armadas no Vietname porquc "a guerra ainda nu Ii--
nias, scndo Jorge Washington urn dos membros da cornisso redatora. Esse nha sido declarada". Concluindo, o autor esclarece que a "relaço corn o sci-
diploma legal era cópia do código inglês e do de Massachusetts. Seguiram-se viço" passa a ser fator determinante da competência da justica militar, no que
Codigo de 1776, revisto em 1806 e a lei federal (10 Servico Militar que, em- se refere ao crime comum cometido pelo militar, perrnanecendo a distinção dc
hora nào tratasse de rcvisio da lei repressiva casirense, continha cláusula que tempo de paz e de guerra, para os crimes praticados por civil, "acompanhando
permitia 0 julgamento, por cortes rnarciais, de significativos nineros de deli- as Forcas Armadas no campo, em tempo de guerra"."('
tos civis cometidos por militares em tempo de guerra, tal como o de insurrei- Quanto ao direito brasileiro, no que diz respeito aos crimes impropria-
ço ou de rebeliäo, ampliacao essa ditada pela necessidade de estender a juris- mente militares, desde a época da colônia ate os tempos atuais, sempre fol
diçao militar aos Estados rebeldes. pautado por divergências. Homero Prates accntua que a legislaco colonial.
código de 1874 unificou a lei militar ento existente e fnanteve 0 jul- contrariando os doutrinadores, "conceituava crimes que, em doutrina, nunca
gamento, em tempo de guerra, de vrios delitos cornuns cometidos por milita- forarn reputados puramente militares. Julgava-se no foro militar tanto os cri-
res. Em 1916, operou-se a prirneira reviso completa da lei militar e, pela pri- mes própna, quanto os impropriarnente militares, como taiS previstos nos arti-
meira vez na história, o homicIdio e o estupro cometidos por militar em tempo gos de guerra ".°'
de paz podiam ser julgados por corte marcial, desde que ocorrido fora do ter- Corn efeito, nos denominados Artigos de Guerra de 1763, constavam
ritório norte-americano. Outros delitos cornuns passaram para a justica militar, crimes comuns, corno o de "ferir o scu camarada a traição, ou o matar" (art.
scm exigência quanto ao local do crime. As modificacoes posteriores mantiveram 81)) e, também, furto, "violCncias para extorquir dinheiro", "roubar a seu cama-
inalterada a competência das cortes rnarciais. rada, ou corneter furts corn efração" (art. 18), todos des tcndo o militar coino
Durante a Segunda Guerra Mundia], como afirma o major Thornock, "a agente e sujeitos as cortes castrenses.
competência militar sobre crimes militares consolidou-se, se por nenhuma Thomaz Alves, anteriormente a Provisão de 1834, inclufa entre os cri-
outra razo, cm virt.ude da magnitude e complexidade do nosso Exército na mes meramente militares "todo crime cometido por militar, previsto na lezis-
12,
Segunda Guerra Mundial. 0 volume de casos niilitares era vultoso tanto den- Jacio militar"' Nesse sentido, a Resoluçäo de 13 de outubro de 1858 qic,
tro dos Estados Unidos como no exterior. 0 resultado foi que OS fundamentos em conformidade corn a Lei 631 de 18 de seternhro de 1851 (considcravi
da competncia expressos em 1916 inslituIrarn-se firrnernente corn rndltiplos militar os crimes nela especificados, cometidos em tempo de guerra), "man(;i
p receden tes". va sujeitar ao foro militar todos OS crimes de militares contra os SCLIS carnal;
Em 1948, o Congresso aprovou urna lei, conhecida como o Código das".
Penal Militar de 1948, que realizou substanciais modificacoes na parte
processual, mas manteve a cornpetência das cortes niarciais sobre os crimes
John Thornock, Julgamentos MilitareS de Crimes Civis, Military Review, OC7.'71, ). 110 0
110

cornuns. Finalmente, em 1950 foi aprovado pelo Congresso o Codigo Uj)i- Homero Prates, Cod. Just. Mi!., p.82.
2
fornic de Justiça Militar, 0 primeiro estatuto cinico para as Forças Arinadas in Esmeraidino Bandeira, Dir. Just. Proc. Mi!., p. 20.
w 77
Direito Penal Militar
76 Cello Lobão

petência aos delitos especificados no art. V da refenida lei, todos des relaui's
Não era diferente a Resolucão de 12 de janeiro de 1867, na qual os pra-
a guerra externa.'16 certo que a Constituici
ças em serviço ativo estavam sujeitos ao foro militar não so pelos crimes que Corn a Repdblica nao cessou a divergência. E
corneterem dentro dos quartéis, "mas também por aqueles que, embora come- "OS militares de terra c
de 24 de fevereirO de 1891, em seu art. 77 estatuIa que
tidos fora, afetem os Estados, aos preceitos da disciplina, ou a outras praças do mar tcrão foro especial nos delitos militares", portanto, segundo Esmeraldl no
exército e armada, visto que a jurisdico militar baseia-se principalmente na Bandeira, "visava a Constituicäo a espécie de crimes denominada própria ou
C
qualidade das pessoas, e apenas por excecio, nas circunstâncias do lugar ou essencialmente militar". ou seja. a dupla qualidade militar no delinqUente
da natureza do delito".'13 no delito".''' impediu que o mili tar
Enquanto isso, o art. 82 (10 COdigo do Proccsso Criminal do lmpério. de Esse rnandarneflto constitucional, no entaflto, 1)O
1841, portanto anterior a Resoluçäo de 1854. a ResoIuço de 1858 e a Lei (IC continuaSSe a ser processado e julgado por crime comum cornettdlo) contra
Constiluicão, foi editada a i n 631, dc
1851 (que não dcrrogou normas do COdigo Criminal), estatuIa que os JuIzes outro militar. Alias, posteriormeote a
militares continuam a conhcccr de crimes purarnente militares c rematava no 17 de setembro de 1891, que considerava militar "todos os crimes cornetidos
art. 171: "Art. 171. A acusaco dos empregados p(Iblicos rião privilegiados por militares nas provIflciaS em que o Governo mandar observar as leis para o
sera feita perante o Jun cornpcterite. Excetuam-se: 12. Os militares que por estado de guerra". Corn fundamcfltO nessa lei, o cntão Suprerno Tribunal Mi-
crimes do emprego militar sero julgados 110 JuIzo de seu foro". litar. em meados de 1894, proccssoU c julgou soldado de caa1aria por horni-
Mcreccrn mençao OS seguintes dispositivos legais e decisao judicial do cIdio, porque, "embora de naturcza civil, é considerado inilitar pelo art. 7. art.
118
século passado: o Aviso n9 216 tIc 3 de agosto de 1855, dcclarando qUc devia 12 da lei n. 631, de 17 de setembro de 1851 termos do COdigo Penal da Ar-
entrar cm Consciho de (3uerra urn soldado "que resistira a urna ordern de pri- Crysólito de Gusmão acentua que, I1OS
mada de 1891, "é crime toda ação, ou omissäo, contrOria ao dever marItinlO ou
säo, dada militarmente, e ferira a urn seu carnarada, por serem crimes milita-
militar, prevista por este Codigo e serO punida corn as penas nele estaheleci-
res"; a Rcsolucao imperial fundada na decisão do Conseiho de Estado de 13
como consequência, "encara corno crime militar toda infraçãO
as
de outubro de 1858 que "declarou pertenccr ao foro militar o conhecimento de das" (art. 52);
disposiceS do snesmO COdigo, mas se-rn, no entanto, fazer, ao menos, como
todos os crimes dcclarados nas leis militares. e que sO podem ser cornetidos
acontece corn os Cods. espanhol e portuguêS, urna diferenciacão dos crimes
pelos cidadãos alistados I1OS corpos do exércilo: donde concluiu que o crime
especificatnente militares dos demais; todos estão sujeitos ao mesmo esla-
de homicfdio que perpetrou uma praca do exército na pessoa do seu camarada,
deve ser julgado no foro militar'; a sentença dejuiz criminal que decidiu pela lao".''9No voto do Ministro ArrochelaS Galvao, do então Supremo Tribunal
compctência do "foro militar para julgar o crime de ferimentos graves, come- Militar, consta que, durante o estado de guerra "é licito ampliar ao esurauho"
tido por soldado em urn paisano, dentro do quarte1"!' (ao civil) "a junisdicão militar e, isso meslflo, somente nos casos especifica-
Além dos crimes impropriarnente militares previstos I1OS Artigos de 32120 do COdigo Penal da Armada.
mente enumerados nas alIneas a ef do §
Guerra, supra rnencionados, outros vinham contemplados flOS arts. 13 e 18 Apesar de afirmàcão supra, Esmeraldiflo Bandeira comenta que a doit-
desse mesmo diploma, submetendo o civil as cortes marciais. Esse delitos trina exposta no acOrdao de 21 dejunho de 1912 do Supremo Tribunal Fcdeial
cram o de "ladrão de estrada" (art. 1.8) e de penetrar em fontaleza, "senão pelas "nao esgota, entretanto, o assuntO per ter deixado de fora de suns previsOc c
portas e lugares ordinrios sob pena de morte" (art. 13). de urn crime obleli \i-
de seus ensinarnefltos o caso da pratica por paisaflos
NAo logramos encontrar cornentario OU decisão judicial relativa as nor- Ainda o mesmo autor atirnia clue, segundo o COdigo
Iii
mente rnilitar". c
mas acima, ao coritrano. Macedo Soares registra que a Lei 631 de 18 de se- Armada. "essajurisdicao" (militar)"também se estende aos civis em tempoI
tembro de 1851 fixou a competência da Justiça Militar para processar e julgar
civis sornente no caso de euerra extcrna. 115 o que vem ratificado pelo voto do V. 2, P. 88.
Ministro José Hygino, do Suprerno Tribunal Federal, que restringe essa corn- In Joäo Mendes de Alrneida JUnior, 0 Proc. Cnm. Bras.,
., vol. 1, p. 30.
Esmeraldiflo Bandeira. Dir., Just. Proc. Mil
118 Macedo Soares, Cod. Pen. Mi!., p.15.
9Crys6litOdeGusm30. Dir. Pen. Mu., p.54. v. 1, p. 33.
" Macedo Soares, COd. Pen. Mi!., p. 12. 12' Esmeraldino Bandeira. Dir., Just. Proc. Mi!.,
v. 1. p. 22-3.
Pinto Pessoa, COd. Proc. Grim. de Prim., p. 21, nE 54 e p. 208. n2 1175 e 1176. 21 Esmeraldno Bandeira, Dir., Just. Proc. Mi!.,
' Macedo Soares, COd. Pen. Mi!., p. 7.
78 - Cëlio Lobão I)iroito Penal Militar
79

paz",'22 assertiva essa merecedora de reparo por parte de (iusrnão, para quem vIncia penal, resolvendo-se no mbito da responsahilidade civil e. no caso de
§3 do Reg.
"so em tempo de guerra c pelos delitos especificados no art. 32 militar, também disciplinarmcnte.
Proc. Mu., é que o civil poderA ser sujeito aos tribunais militares". 3 Apesar da reaçäo contra a Justiça Militar, de ordem doutrinária ou mo-
Esse tultimo ponto de vista tern como alicerce o voto vencedor. proferido tivada por intcresses politicos nao devidarnente confessados, apesar da supres-
pelo Ministro José Hygino, do Supremo Tribunal Federal, no Acdrdonc 406 sao da Justiça Militar em alguns palses europeus, a verdade 0 que a inclusão
de 9 de agosto de 1893, segundo o qual a Le.i de 18 de setembro de 1851, ao do civil corno sujeito ativo do crime militar ainda não foi definitivajnente ba-
ampliar 0 conceito de crime militar. sujeitou o civil a justica militar nos delitos rrida de algurnas legislaçoes c, principalmente, da doutrina. Assirn. Venditti.
especificados no art. 1, cornetidos durante guerra externa. t24 na obra publicacla em 1985 (II Diritto Penale Militare nel sistenia penalc
No entanto, corn a edicao do Cddigo Penal da Armada em 1891 e sua italiano), destaca que a iei penal aplica-se predorninantemente a urn deter-
aplicaçäo ao Exrcito, cm 1 899 ficou estabelecido que o civil ficaria su}elto a ininado cIrcuio de pessoas dotadas de urn status singular. A espccialidade
jurisdiçio militar, "se o crime não for pievisto pelo cOdigo penal comum' (art. não se baseia sempre no condiçao dc militar do sujeito do dclito e sini, tarn-
3c, paragrafo dnico do COdi(,o Penal da Armada), embora a aplicacão desse
hOrn, na natureza dos hens juridicarnente protegidos. Conclui afirrnando que.
disposilivo não fosse tranqiiila nos Tribunais e no se pacificasse na doutrir)a.
por esse motivo. não se pode tilar do carniter de personalidade dessas leis que
rnesmo porque a prinleira Constituição da Rep0h1ica. a exemplo da Carta ilgurnas vezes incrirninam Os civis. 125
Magna imperial. continuava sujeitando apenas o militar a jurlsd!icao militar
A Constituiçã() hiasileira, como ressaltamos anteriorinente, referc-se ao
(Art. 77 Os militares de terra e mar terão form especial nos delitos mililares.).
crime propriamente militar (art. 5'* LXI), impondo, dessa fornia, ao legislador
Sornente a Constituição de 13 de juiho de 1934 concedeu aval a orien-
ordinnlrio, a distinçäm entre as duas espOcics de crime militar, reclarnada pela
tacao jurisprudencial, expressa em significativo nOmero de julgados, de sub-
doutrina e ate então ignorada pelos diplomas penal e processual que, durante o
meter o civil a Justiça Militar, nas infracOes penais previstas no Código Penal
IrnpOrio e inicio da Repiihlica. reconheciarn apenas o crime propriarnente mi-
da Armada. E o que se lê no art. 84 da citada Lei Major:
litar sob a dcnominação de crime purarnenic mu meramente militar (arts. 8 e
"Os militares e as pessoas que Ihes são assemelhadas terão foro es- 324 do COd. Proc. Crim.,). de crime militar próprio (art. 64. II (Ic) COd. Pen.).
pecial nos delitos militares. Este loro poderá ser estendido aos civis, flOS Ca- embora dererminada Iegislaçao extravagane, algurnas corrcntes doutrinárias e
SOS expressos em lei, para a repressão de crimes contra a seguranca externa dccisOes dos Tribunais, adotassem e distinguissern as duos espOcies de crime
do pals ou contra as instituiçôes militares'. militar.
0 crime irnpropriarnente militar, que também recebia a denorninaçao de
Firrnou-se a legislacao e ajurisprudência no sentido da sujeição do civil
acidentalmejite militar, vern dcfinido no Parecer do entâo Procurador da Re-
A Justiça Militar, nos crimes impropriamente militares, crimes esses que sofre- pdblica, Guimaräes Natal, corno "Os que de naturcza comurn, praticados por
ram excessiva e inconstitucional amp]iaçao no diploma repreSsivo castrense
militar, assurnem o carnItr de militares pelas circunstãncias especiais de tem-
em vigor, que procurou ajustar-se ao Cddigo Penal comum de 1969 (Dec.-lei
po ou lugar em que são cometidos, pclo dano quc, dadas certas circunstâncjas.
n 1004/69), que nunca vigorou. Corn efeito, o atual Codigo Penal Militar causam a administraçao, a hicrarquia ou a disciplina militar. corno 0
rnilitarizou infracöes penais cuja repressão interessa a sociedade corno urn crime
praticadlo por militar dentro dos quar6is'.12
todo e nio as instituiçöes militarcs, corno é o caso do ahandono de menores.
Segundo Esmeraldino Bandeira. corno "crime improprialnente militar
poluicão dc aguas. etc., além de eleger, corno crime. condutas ate então estra-
nhas no nosso sisterna penal. Dentre essas, nao pode deixar de ser citaclo o pode definir-se - aquelc quc pela condiçao do rnilitar do culpado, OU pela es-
dano culposo que, sornente depois de cerca de 20 arms. o Supremo Tribunal pOcie militar do fato, on pela natureza militar do local ou, finalmente, pela
Federal restrimriu ao agente militar. No eutanto. desde rnuito tempo. na pn- anoniialidade do tempo em cjue é praticado. acarreta dano it ecomOmia. ao ser-
viço ou a disciplina das forças aniiaclas". :7
nieira instância da Justiça Militar, essa ocorrência era considerada scm rele-

'22 - In Jimenez yJirnenez, /ntroduçäo, p. 40.


In Crysófflo de Gusrnão. Dir, Pen. )VIil., P 262.
13
CrysOlito de Gusmão, Dir. Pen. Mu., p. 267. '26
2,
In Frederico Marques. Da Competéncia, p. 140.
In ,.Ioão Mendes de Almeida JUnior, 0 Proc. Crim. Bras.. v. 2, p. 86. Esmeralciino, Dir., Just., Proc. Mu.. vol. i. p. 31.

11
80 Cello Lobão Direito Penal Militar

Em conformidade corn direito material brasileiro, crime impropriamente


garantia e preservaço da ordem ptiblica, administrativa ou judiciária c olci i:
militar é a infracao penal prevista no Código Penal Militar que, näo sendo
ao patnmônio sob administraçao militar e a ordem administrativa mnilatar.
"espccIfica e funcional da profissäo do soldado", lesiona bens ou interesses
Portanto, os incisos I e H, combinados corn o inciso ifi, todos do art. 9.
militares relacionados corn a destinacao constitucional e legal das instituiçöes
Os requisitos referidos podern integrar a descriçäo tIpica ou, sendo c-
castrenses.
tranhos ao tipo, necessário que se façam presentes, por ocasio do cornetl-
A definiçäo estabelece urn divisor entre a infracão penal comum e a mili-
mento do ilIcito. Por exemplo, no desacato a militar (art. 299), integra o tipo u
tar. Por exemplo, o crime de abuso de função em servico postal (art. 227, § Y. do
exercIcio de função de natureza militar. No homicIdio (art. 205), as circuns-
CPM), praticado por civil cm estabelecirnento militar, contra militar, ou fora dde, tncias de sujeitos ativo e passivo militares, de local sob administraçâo militar
contra militar em serviço, nio é crime militar, apcsar da ressalva do § 4 do mes- ou de militar em serviço, classificatdrias do crime impropriamente militar,
mo artigo. Nenhum bern ou interesse militar foi lesionado e sirn do militar, na estranhas no tipo, mas devem se fazer presente no momento do ato ilIcito.
condicao de cidado. 0 delito encontra reprimenda adequada no art. 151, § 3, Dentre os crimes impropriamente militares definidos de forma idênti-
do Codigo Penal. Outros mais poderiarn ser relacionados, como o crime contra ca no Cddigo Penal Militar e na lei penal comum, comentaremos somente
a honra (arts. 214 a 217 do CPM), praticado por civil contra militar, violaçao os que, em nosso entendiniento, apresentam rclação mais estreita corn a
de correspondêiicia (art. 227 do CPM), violacao de domicIlio (art. 226 do atividade militar. Seguirnos essa orientaçâo porque, tanto nos que estho
CPM), mesmo cometido por militar contra militar, sendo que o Supremo Tri- sendo comentados, quanto nos restantes, assume relevancia major o estudo
bunal Federal já considerou o ilitimo como crime comurn. dos requisitos que classificam corno militar os crimes corn igual definiço
Como instituiçöes militares entendem-se as Forcas Arrnadas, no âmbito na lei penal comum e na lei penal castrense, requisitos esses constantes dos
federal, a Policia Militar e o Corpo de Bombeiros Militarcs, no âmbito das incisos e alIneas do art. 9.
respectivas unidades federativas. Os crimes impropriamente militares corn igual defmniço no Cddigo Pe-
Segundo verernos adiante, o Codigo Penal Militar distingue três espécies nal Militar e no Codigo Penal comum SO os seguintes: homicIdio (arts. 205 a
de crimes impropriamente militares: os previstos exciusivamente no diploma 207); lesão corporal e rixa (arts. 209 a 211); periclitaçao da vida e da sade
repressivo castrense; os definidos de forma diversa na lei penal comum; os coin (arts. 212 e 213); crimes contra a honra (arts. 214 a 218, 220 e 221); crimes
igual definicao no Código Penal Militar e no Código Penal. Entretanto, a contra a liberdade (arts. 222 e 223, 225 a 231); crimes sexuais (arts. 232 a
competëncia da Justica Militar para apreciar essas infraçoes relaciona-se corn 234, 236 e 237); furto (art, 240); roubo e extorsão (arts. 242 a 247); apropria-
a condicão do sujeito ativo do delito, militar on civil. ção indébita (arts. 248 a 250); estelionato e outras fraudes (arts. 251 a 253);
No caso de sujeito ativo militar, e suficiente que os crimes não previstos receptaço (arts. 254 a 256); usurpaçäo (arts. 257 e 258); dano (arts. 259 a
na lei penal comum ou nela definidos de modo diverso (inc. I) estejam tipifi- 261); usura (art. 267); crimes contra a incolumidade ptiblica (arts. 268 a 275,
cados na Pane Especial do Código Penal Militar, sem violação da perrnisso 277 e 278); crimes contraos meios de transporte e comunicaçäo (arts. 282 a
constitucional de tutelar as instituiçoes militares. No delito corn definicão 285 e 287 a 289); crimes contra a sailde (arts. 290 a 297);crimes contra a ad-
igual nos diplomas especial c comum (inc. IT), tornam-se necessários os requi- rninistração militar (arts. 303 a 310 e 313 a 339); crimes contra a administra-
çäo da Justiça Militar (arts. 341 a 354).
sitos de agente e ofendido militares, de local do crime sob a adrninistração
militar, de militar cm serviço ou em coinissäo de natureza militar, da ofensa ao Em alguns delitos acirna relacionados, e näo so poucos, pode-se ques-
patrimônio sob administração militar e a ordern adininistrativa militar. tionar a igualdade nos dois diplomas repressivos; isto porque, confornie já
afirmamos mais de urna vez, OS autores do Decreto-lei que instituiu o Código
No caso do agente civil, os crimes de que trata o Código Penal Militar,
Penal Militar comportaram-se como se estivessem elaborando urn dip1omi
"quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou ucla no previs-
penal para uma sociedade autônorna, inserida no Estado brasileiro. Evidente-
tos" (inc. I) e os corn igual definicao no diploma rcpressivo castrense e no
mente, urn grande desserviço para a missAo relevante do Direito Penal Militar.
Codigo Penal (inc. IT), sornente serao delitos rni]itares se presentes os requisi-
Dentro dessa ótica distorcida, transcreveram os artigos da lei conium.
tos de ofendido militar em local sob administracao militar, de ofendido militar
corn o acréscimo de local sob administraçao militar, funçao militar, estahcic-
cin funçao de natureza militar ou no desempenho de servico de vigilância,
cimento militar, administraçio militar, etc., numa tentativa inconstitucional dc
82 Cello Lobão Direito Penal Militar

retirar esses delitos da órbita da Justica comum, onde ficam meihor situados, Acontece que, atravCs dos tempos, o quadro do funcionalisnio do Io ki I
pelo gravame major para a sociedade brasileira, como urn todo. Dentre outros, cutivo foi inchando pelo completo desrespeito as sucessivas Cons1itiiiçtt (ii
citamos: abandono de pessoas (art. 212); maus-tratos (art. 213); abuso de pes- exigiam o ingresso no serviço pi.Iblico por meio de concurso pdhlico. I )iau Ii
soa (art. 252); aposicâo, supressio ou alteracao de marca de gado (art. 258); da inflaçao mascarada e da que se projeta como inevitável, corno rcstj hado 1k
crimes de perigo comum (arts. 268 a 275 e 277); difusäo de doença ou praga uma polItica econôrnica que prioriza interesses estrangeiros, tomou-se iiupern:t
(art. 278); crimes contra os meios de transporte e de comunicaçäo (art. 282 e a necessidade de conceder reajuste salarial aos militares.
285); atentado contra abastecimento de Sgua, luz, força, etc. (art. 287); inter- Igual reajuste concedido aos servidores piIblicos (como, alias, foi COIl
rupção nos rneios de cornunicação (art. 288); crimes contra a saIde (art. 290 a cedido a uma parcela menor) iria onerar o erário pCblico, bastante combaiiJt
297). corn os gastos do Governo Federal.
Como se ye, alcanca enorme gama de ilIcitos que vai desde o abandono Daf, a nova redaçao dos arts. 42 e 142, § 32, da Constituição:
de pessoas ate alteracao de marca de gado de propriedade privada, extrapolando a
permisso constitucional, sern falar de outras iriconstitucionalidades fla- "Art. 42. Os membros das Policias Militares e Corpos de Bombeiros Mi-
grantes, como acontece corn o desacato a servidor pCblico civil (art. 300), litares, instituiçOes organizadas corn base na hierarquia e disciplina, são mili-
tares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
abandono de cargo pblico civil (art. 330), usurpaçäo de funçao piThlica civil Art. 142, § 32• Os rnernbros das Forças Armadas são denorninados mi-
(art. 335). litares
13. Militar. Conceito - Rompendo orientacao que vein da Constituição
de 1934, a atual Carta Magna (art. 124) iiiio mais se refere aos sujeitos do O exposto acirna serve para demonstrar que não ocorreu qualquer modi-
delito militar, deferindo ao legislador ordinário, no caso o Codigo Penal Mili- ficacao relativamente a competência da Justiça Militar federal e estadual, no
tar, a competência para definir os agente do crime militar: civil e militar ou que diz respeito ao policial militar e ao hombeiro militar, respectivarnente,
somente este ültimo. comojá se ensaiou interpretar. Os iritegrantes da Policia Militar e do Corpo de
Sendo o militar o destinatário pnrneiro da lei penal militar, C indispen- Bombeiros, nos termos do art. 42, supra transcrito, cram e continuarn sendo
sável que se conheca quem assim pode ser considerado, para efeito da aplica- militares cstaduais, processados e julgados pela Justiça Militar estadual, nos
çäo da lei repressiva castrense. 0 Direito Penal Militar näo se socorreu do crimes militares (art. 125, § 4) definidos no Cddigo Penal castrense.
dircito administrativo para definir o militar. 0 conceito de militar vern expres- Os integrantes das Forças Armadas, referidos no art. 22 do Cddigo Pe-
so no art. 22 do Codigo Penal Militar: nal Militar, so e exclusivarnente des, são militares para efeito de aplicacao da
lei penal castrense pela Justiça Militar federal, o que exclui o militar estadual.
"E considerada militar, para efeito da aplicaçao deste Código, qualquer Quando da elaboraçao de outro COdigo Penal Militar mais modemo e
pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada as forcas arma- voltado a realidade hrisileira, torna-se imperiosa a inclusão de dispositivo,
das para nelas servir em posto, graduação, ou sujeiçäo a disciplina militar".
definindo o militar estdua1, para efeito da aplicaçao da lei penal castrense
pela Justica Militar estadual, sugerindo-se redação idCntica a do art. 22:
Embora o policial militar e o hombeiro militar figurem igualmente
como destinatários da lei repressiva castrense, e apesar da exclusividade da
"E considerado militar, para efeito da aplicaçao deste Código pela Jus-
Uniio em legislar cm malCria penal, o art. 22 não faz qualquer referCiicia aos tiça Militar do Estado, do Distrito Federal e dos TerritOrios, qualquer pessoa
intcgrantes da PolIcia Militar e do Corpo de Bombeiros Militares. incorporada a PolIcia Militar ou ao Corpo de Bombeiros Militares, para ne:es
Quanto a Constituicao atual, o art. 42 considerava servidor pCblico mi- servir em posto, graduaçao, ou sujeição a disciplina militar".
litar federal, o integrante das Forças Armadas, e servidor piiblico militar das
Unidades Federativas, os integrantes das respectivas PolIcias Militares e Cor- 0 militar federal ou estadual brasileiro. em rnissão no estrangeiro.
pus de Bombeiros. mesmo integrando força militar da ONU, está sujcito As leis penais rnilitarcs,
Ucorre que o art. 37, X, da Carta aiiida em vigor estahelecia que "a re- como se tivesse praticado o crime em tenitOrio nacional, ressalvadas disposi-
'js:to geral da remuneração dos servidores pdblicos, scm distinção de Indices çöes em contrário de convençöes ou tratados. Decorre do disposto no art. 7 th
entrc servidores piThlicos civis e militares, far-se-a sempre na mesma data". CCdigo Penal Militar. Se praticar crime comuin scrã julgado pela Justica Ci)-
CélioLobão Direito Penal Militar 114
84

14. Militar da Reserva e Reformado - Como ficou duo, o iiuIiat dii


mum brasileira (art. 79, II, b, do CP), corn igual ressalva de convençöes OU
reserva e 0 reformado são equiparados ao civil, para efeito dc deluiiçui Ic
tratados. Nada mais logico, porquanto o governo brasileiro não deve admitir
que o militar brasileiro, integrante de força multinacional, fique sujeito a ju- crime militar. Além de não se enquadrarem no conceito de militar, conlid, lao
art. 22, a mencão expressa nas alIneas b, ce d do inciso lie do incisu Ill (ii
risdicão penal estrangeira.
Portanto, como militar, entende-se quem se encontra incorporado as litar da reserva, ou reformado), demonstra, inequivocarnente, essa equpii
ção.
Forcas Armadas, a PolIcia Militar e ao Corpo de Bombeiros Militares, mesmo
afastado temporariamente do serviço ativo, per licenca para tratarnento de Corno se nAo hastasse, o Cddigo de Processo Penal Militar dispic, u
saide, licenca especial, frias, licenca para tratar de intercsse particular. etc. panigrafo imnico do art. 82, que o foro militar se estenderá, por exccçio, a
civil e ao militar da reserva e reformado nos crimes contra as instituiçöes mi
Enfim, 0 que interessa é 0 vInculo a instituição militar, que desaparcce corn a
litare.s. Por outro lado, o militar da reserva, quando convocado para 0 scrVic()
exclusão do serviço ativo, por transfcrência para a reserva rernunerada. por
ativo, equipara-se ao militar, 0 que se explica porque, corn a convocaçao, ii
reforma, dernissio ou outros previstos no Estatuto dos Militar.
corpora-se, conforme 0 caso, as Forcas Armadas, Poilcia Militar ou ao Corpo
Consequcnternente. ao mencionarmOS militar estarnos nos referindo aos
de Bombeiros Militar.
integrantes das Forças Armadas, da Policia Militar c do Corpo de Bombeiros
Mercce estudo a norma contida no art. 13 do Codigo Penal militar, em
Ivlilitares, sern esquecermos que Os pnnleirOs säO assim considerados para
face do acima exposto. Coni efeito, dispOc o art. 13:
efeito da aplicacão da lei penal castrense, pela Jusuca Militar federal, e os
outros dois, para efeito da apliCaca() da lei penal castrense, pela Justiça Militar
militar da reserva, ou reformado, conserva as responsabitidades
estadual. prerrogativas do posto ou graduaçao, para o efeito da aplicação da lei penal
Para que nio permaneca qualquer dcIvida, vejamos abaixo quem d con- militar, quando pratica ou contra ele é praticado crime militar".
siderado ou no militar para efeito da aplicacAo da lei penal castrense, pela
Justica Militar federal e pela Justica Militar estadual; Batendo na mesnia tecla, da mesma foniia corno sempre fizemos em
I - militar federal, integrante das Forças Armadas: militar, para efcito da relaçäo ao assemelhado, scm alcancar pleno sucesso, o militar da reserva e o
aplicaçäo da lei penal militar pela Justiça Militar federal. Para esse fim, so- reformado, para efeito de conceituacäo do delito castrense, são considerados
mdnte ele, exciusivamente ele é considerado militar; civis, pois näo estilo incluIdos na definiçäo de militar. Dcssa forma, as prerro-
II - militar federal na inatividade (na reserva ou reformado): equiparado gativas a que se refere o art. 13, supra, Sac) as de receber tratamento cornpatf-
a civil para efeito da aplicacäo da lei penal militar pela Justiça Militar federal, vel corn o posto ou a graduação, na qualidade de indiciados ou acusados -
ressalvados os crimes cometidos antes de passar para a inatividade; como, por exemplo, o recoihimento do graduado a prisão adequada a sua gra-
ifi - militar estadual, integrante da PolIcia Militar e do Corpo de Born- duacao, o direito do oficial a priso especial - e a de ter, como encarregado do
bciros Militares: equiparado a civil para efeito da aplicacão da lei penal militar inquérito, militar de pdto igual OU superior, bern como a de ser processado c
pela Justica Militar federal; julgado por Conseiho formado por oficiais de posto igual ou superior.
IV - policial militar ou bombeiro militar na inatividade (na reserva ou Tern ocorrido ddvidas, nas corporacöes militares estaduais, sobre queni
reformado): equiparado a civil para efeito da aplicaço da lei penal militar pela pode ser encarregado de inquérito ou fazer parte de Conselho Especial, quan-
Justiça Militar federal; do o acusado d coronel da reserva ou forniado, mais antigo. Nas Forcas Anna-
V - militar estadual. integrante da Poilcia Militar e do Corpo de Born- das, o prohiemna dificilrncntc vai alérn da presidência (10 inquérito.
beiros Militares: militar para efeito da aplicacao da lei penal militar pela Justi- Em conforniidadc corn art. 23 da Lei Orgnica da Justiça Militar (Lci n'
ça Militar estadual, cuja competência rcstringe-se. .soniente, a conhecer dos 8.457/92), o Conseiho Especial é constituIdo por militares de posto superini
crimes militares cornetidos pelo militar estadual cm atividade; ao do acusado, ou de major antigilidade. se do mesmo posto. A relaçao k
VI - militar estadual na inatividade (na reserva ou reformado): equipa- antiguidade resulta da contagem do tempo de servico no mncsrno posto. Con
rado a civil para efeito da aplicacão da lei penal militar pela Justica Militar passagem do militar para a inatividade. esse tempo deixa de existir, cxi,',iia
estadual, ressalvados os crimes cometidos antes de passar para a inatividade; do-se a relacao de antiguidade decorrente do tempo de serviço.
86 Cello Lobão Direito Penal Militar 87

Como conseqUência, o Conseiho Especial para processar e julgar coro- Dispöe o Estatuto dos Militares que a antiguidade em cada posto ou
nel na inatividade pode ser composto por oficiais do mesmo posto, indepen- graduaçao d contada "a partir da data da assinatura do ato da respectiva pro-
dente do tempo de servico do acusado e dos integrantes do Conselho. 0 mes- mocäo, nomeaçao, declaraçao ou incorporação, salvo quando estiver taxativa-
mo pode ser dito em relaçäo ao encarregado do inquérito, qualquer coronel da mente fixada outra data". A contagem da antiguidade prevalece para o militar
ativa está legitimado para presidir inquérito: em que figure coronel na inativi- em situaçäo de atividade, dela está excluIdo o militar da reserva e o reforma-
dade. Näo é diferente nas Forcas Armadas: qualquer oficial pode presidir o do, que nao mais integram os quadros das Forças Armadas, da PolIcia Militar
inquérito ou fazer parte de Conseiho em quc figure, respectivamente, como e do Corpo de Bombeiros Militares. Corno jri ficou dito, nao ha como cogitar
indiciado ou acusado, oficial de igual posto, se nao houver na circunscricão de relaçäo de antiguidade entre militar da ativa e da reserva ou reformado.
judiciiria outros de rnaior posto. Da mesma forrna, qualquer oficial-general da Priiicipalmente a PolIcia Militar ou o Corpo de Bombeiros, tern sido
ativa pode presidir inquérito, tendo como indiciado oficial-general da reserva objeto de dcIvida, nem sempre superada satisfatoriarnente, sobre quem recai
ou reformado do mesmo posto. a nomeaço para encarregado de inquérito ou concorre para sorteio do
Reexaminaremos a mat&ia no item seguinte, sob o prisma da relacao de Conseiho, quando o crime militar é imputado a militar mais amigo e do
suhordinaco hierárquica, decorrente do exercIcio de funçao. ciltirno posto.
15. Superior. Militar. Ultimo Posto. 1PM. Conseiho - Superior é o Nas Forças Armadas o prohiema surge, apenas, na norneação do encar-
militar ciue em relacäo a outro ocupa grau mais clevado na hierarquia militar regado do inquérito, na hipótese de indiciado oficial-general mais amigo e do
ou, em virtude de função, exerce autoridade sobre outro de igual p05W ou ultimo posto. Quanto ao julgamemo. a competência é do Superior Tribunal
graduação (art. 24 do CPM). Registre-se que a conceituaço comporta a se- Militar, o ciue afasta qualquer dcivida.
guinte distincao: a primeira parte aplica-se indistintarnente a militares da Tern pertinência corn a matéria a decisão da 0 Turma do Tribunal Re-
mesma ou de corporacoes diversas, enquanto a segunda parte ("em virtude de gional da l Regio, proferida no HC n° 16. 1 64-2/RO:
função, exerce autoridade sobre outro de igual posto ou graduaçiio") exige que
o militar exerca autoridade direta, sobre outro de igual posto, em razo da 0 delegado de polIcia, ao presidir inquérito para apuração de ilfcito
funçao. 0 tenente-coronel cornandante de urn bata1ho não exerce autoridade penal, atua como Orgão de polIcia judiciâria, estando, portanto, infenso as
normas administrativas que regulam a disciplina e hierarquia da PolIcia Fede-
sobre outro oficial de igual posto que iiio integra a mesma unidade militar. ral. Assim, inexiste impedimento legal a designaçao de autoridade policial fun-
E oportuno lembrar que, para efeito de aplicacâo da lei penal mnilitar, cionalmente subordinada aos investigandosara apuração de eventuais deli-
não existe relaçäo de subordinacao hierárquica entre militares das Forcas Ar- tos de natureza penal por estes cometidos".1 °
madas e da PolIcia Militar ou do Corpo de Bombeiros, ressalvada a hipótese
de integrarem, legalmente, forca conjunta, para cumprimento de missão espe- 0 mesmno pode ser dito em relação ao militar. Na falta de oficial de
cIfica, quando o comando é exercido pelo militar federal. Inaior antiguidade, a investidura do militar na funcao de polIcia judiciána ou
0 Código de Justica Militar argentino, no art. 877, no diverge do art. de Juiz do Conseiho Especial confcre ao oficial, embora do mesmo, posto e
24 de nosso diploma repressivo castrense: inenor antiguidade, condicäo para presidir o inquérito ou funcionar conio juiz
do Conselho, respectivamente, porquanto afasta o confronto de antiguidade
"al militar que tenga con respecto de otro grado más elevado, o autoridade en tilt FC militares do mesmo posto.
virtud del cargo que desempena como titular o por sucesión del mando". Sc o acirna exposto aplica-se ao militar da ativa, C0fl1 muito mnais razio,
podc ser aplicado ao que se encontra na inatividade. Sc nao quisernios COflSI-
Nesse mesmo sentido a Iicio de Manzini: Liar a superioridade hienirquica do militar da ativa em relaçäo ao da reserva
ni reformado de igual posto.
"Sotto Ia denominazione di superiore sintende II militare delI'esercito o
della marina piü elevato in grado, o quello che, indipendentemente dal grado, Ainda no que se refere ao coronel (militar estadual) em alividade, do
ê investito del comando. I requisiti di codesta nozione sono pertanto: qualità iii iwo posto C mais antigo denirc seus pares, lembrarnos que superior é. lam-
militare del superiore; superiorità in grado, o in comando'. 28 I urn, "u militar que, em virtude de funçio. exerce autoridade sobre outro de

I?I
Vincenzo Manzini, Diritto PenaleMilitare, p. 154. A Consi. na Visão dos Tribunais - TRF 10 Regino, v. 2, p. 971.

I
88 Cello Lobão Direito Penal Militar

igual posto". Logo, se o coronel mais antigo é afastado de qualquer funcao, os mento Disciplinar daquela Arma os submete as penalidades do referido R
que exercem função na unidade a qual o indiciado ou acusado encontra-se gularnento, "mas exciusivamente, nos casos de guerra, emergência, prontidau
vinculado, adquirem a condicao de superior hierarquico. Urn deles pode ser e manobra. Nos demais casos, nao ha como cogitar-se tambCm ali de asscnw
nomeado encarregado do inquérito e OS demais concorrem ao sorteio para ihado (STM, R. Crim. n° 3.371-DF, em 11-5-1951, e TJGB (extinto), RCriin.
composiçäo do Conseiho Especial. 3.371, DJGB, de7 dez 195l)".1 '
o acima exposto aplica-se, igualmente, ao indiciado oficial-general do Lamentável que o autor näo atentasse para a inconstitucionalidadc do
iultimo posto e mais amigo. Corn seu afastarnento da funçao, perde a condicao Regularnento citado. 0 que tern o servidor civil da Uniao, integrante dos qua-
de superior hierárquico dos demais que exercem função na respectiva AnTla. dros do entäo Ministério da Aeronáutica corn emergência, prontidão e maim-
Urn deles tern qualidadc para prcsidir o inquérito policial militar. bra de unidade dessa corporacao? Qual a lei que submete esses servidores
16. Assemelhaclo - 0 art. 9L do Código Penal Militar, nas alIneas dos piiblicos civis as penalidades citadas? A autoridade militar da Acronáutica quc
incs. 11 e III, refere-se a assemelhado, enquanlo o art. 21 considera assemelha- seguir a orientaçao do livro, ccrtarnente respondera por crime de abuso de
do o servidor dos MinistCrios militares, submetido a preceito de disciplina autoridade.
militar, em virtude de lei ou regulamcnto. Quanto aos "demais casos", é citaçao, scm indicaçio da lonte, do mcii
Ocorre que, ao ser cditado o diploma Pelthl castrense, em. 1969, ha qua- Iivro Direito Penal Militar (pág. 27, nota 37), onde vern transcrita a ementa do
sc três décadas niio mais exist ia qualqticr servidor de Ministério militar sujeito Rec. Critn. n 3.371, do STM, coin o leor seguinte:
A disciplina militar. Ncuhuina ci -- c someute a lei - os sujeitava a disciplina
"Os funcionérios civis do Ministério da Aeronáutica deixaram de ser
militar. A atual Constituicio, ao deixar de mcilcionar OS sujcitos ativos do
considerados assemeihados, para efeitos da tel penal militar, por não Ihes se-
crime militar, obviamcntc dcixou de referir-se a assemelhado, embora autores rem mais extensivas as disposicOes do Regulamento Disciptinar, na parte re-
do ramo do direito penal e julgadores continuern a falar sobre o que não mais lativa a penas disciplinares".
existe: o assemelhado.
Ncsse equlvoco incorreu o eminente constitucionalista Pinto Ferreira, No rodapé indiquci a fonte, ou seja, o DiCrio de Justica do cntao Estado
ao cornentar o art. 124 da atual Carta Magna: da Guanabara, de 07.12.51, pág. 4716, o que se explica porque o Superior
Tribunal Militar, ainda sediado no referido Estado, publicava suas decisöes no
"assemelhado é o indivIduo que, não possuindo estado nem qualidade militar, Diário Oficial daquela unidade federativa. Não ha, portanto, nenhum acórdao
exerce junto as Forças Armadas uma certa funçao, especIfica e disciplinada do Tribunal de Justiça do Estado da Guanabara.
em lei ou regulamento, tendo ou não um posto ou graduaçao no sistema da
hierarquia militar, porém sujeito a subordinação, disciplina e jurisdiçao militar. 0 próprio Supremo Tribunal Federal continua claudicante no que diz
Como pessoas assemelhadas podem ser mencionadas: medico, dentista, en- respeito ao assemelhado, decidindo contrariarnente a disposiciio expressa da
fermeiro, farmacêutico, veterinário, intendente e quaisquer outros funcionários 132 e no RECr. n° 1.440 - RJ (DJ de
lei, como ocorreu no RECr. n° 1.411 - SF
e servidores dos Ministérios do Exército, da Marinha e da Aeron6utica".130 30.03.84, pág. 4.586). consta do prirneiro: "a condicao de asserneihado, de-
corrente do exercIcio de cargo efetivo, ou não, de Ministério Militar...". Mais
A enumeraçao consta do livro de Macedo Soares. De Ia para cá muita recentemente, na ementa do RE n° 121.124, vem expresso: "Ao que a Consti-
coisa mudou. Medico, dentista, enfermeiro veterinário, intendente, integram tuiçao de 1967 (art. 129 e seiis paragrafos) partia de urn requisito subjetivo,
hoje os quadros das Forças Armadas como militares e näo como assemeiha- •,,133
ligado a condicão do agente (militar ou assemelhado) Mais urna vez
dos. Quanto a "quaisquer outros funcioiiirios e servidores dos Ministério do repetimos: desde 1947, portanto, mais de meio século, da condiçao de servidor
Exército, da Marinha e da Aeronáutica", sao servidores póblicos civis da Uni- péblico, efetivo ou não, de MinistCrio Militar, não decorre condicao de asse-
ão (arts. 39 a 41 e 61, II, a e c, da Constituiçao), como OS que integram OS melhado. Se tal não acontecesse, a atual Carta Magna teria colocado ponto
quadros de pessoal dos Ministérios civis. final nessa entidade verdadeiramente fantasmagórica.
Jorge Alberto Romeiro, por sua vcz, considera como assemelhado os
servidores civis do Ministério da Aeronáutica, nos casos em que o Regula- 12
Jorge Alberto Ronleiro, Curso, p. 30.
22
DJde 21.1 2.79. p. 9.661.
' Pinto Ferreira, Coment. Const. Bras., v. 4, p. 531. RTJ1321917.
90
Direito Penal Militar III

No direito castrense antigo cxistia o assemelhado, como nos informa militar é de natureza contratual, que nao se coaduna corn a disciplina tinlilcu,
Macedo Soares ao comentar o Código Penal da Armada, de 1891: que tern como fundarnento os regulamentos disciplinares da Marinha, 1141

e Aeronáutica. 0 Superior Tribunal Militar manteve a decisão recorrida, (.sela


"assemeihados são todos aquetes que, não sendo combatentes, fazem parte recendo que "aquele denunciado não está sujeito a disciplina militar, dada a
do exército e da armada, sujeitos as leis militares, gozando dos direitos, van-
sua clara condicâo de contratado pela CLT".137
tagens e prerrogativas dos militares, tais são os que fazem parte das classes
anexas ... inválidos e asilados, os reformados e os oficiais honorários, quando Em nosso livro Direito Penal Militar afirmamos que, a partir do cita-
em serviço militar, etc".1 34 do Decreto n2 23.203/47, deixou de existir a sujeicão do funcionrio piihlicu
civil iii disciplina militar, não podendo, dessa forma, permanecer na condiçio
Portanto, assemelhado é quem se assemeiha, se aproxinia, quem, na de assemelhado. Essa orientacao foi ratificada pela lei, precisamente a Lci n
forma da legislaçao imperial e no inIclo (Ia Reptiblica, iião sendo combatente, 1711, de 28 de outubro de 1952, estatuto dos servidores pimlicos da União,
não usando farda, nem tenclo poSto ou gradwiçio gozava de direitos, vanta- hoje revogado.
gens e prerrogativa do militar. Corno cusina I()ntCs de Miranda, "a natureza 0 § 1 2 do art. l e o n2 6 do art. 16, ambos do Regulamento Disciplinar
das funçoes não importa - o que importa 6 a subordinaçao, a disciplina" e não da Aeronáutica, que considerarn assemelhados os servidores civis da U'niäo.
existe qualquer servidor de Minist&io Militar, inclusive da Aeromiutica. su- afrontarn a lei e a Constituicao. No caso de guerra, legislacao própria regula-
bordinado aos regulamentos militares e sim us normas clisciplinares constantes mentara a situacao do civil, servidor piblico OU não, que presta servico junto
da ]egislaçao própria dos servidores pimilcos civis da Vniao. as Forcas Armadas. For outro lado, cmcrgência, proiitidio ou manobras de
Nesse sentido, parecer da Procuradoria (icral da Justiça Militar, na Ap. unidades da Aeronáutica não produzem qualquer efeito na relação entrc a
n2 34. 156:135 repartiçao militar e o servidor civil da União que ucla exerce suas funçoes.
Concluindo, fazernos votos para que o Supremo Tribunal Federal, ao
"Sabido é que o Decreto n2 23.203, do 18/6/47 (art. 12), revogou a all- apreciar feito em que se alegue a condiçao de assemelhado do servidor piiblico
nea b do Decreto n2 23/42 (Regulamento Disciplinar do Exército), de modo a civil que serve em repartição militar, examine a legislaçäo brasilcira e dccida
excluir o conceito de assemelhado da legislaçao militar, e, conseqüentemente, de acordo corn o que cia contém, a fim de que possamos dar fim a nossa pre-
não sujeitando mais os funcionários pUblicos civis da Uniäo a disciplina militar, gacäo de quase três décadas.
mas sim ao seu respectivo Estatuto".
17. 0 Art. 92 do CPM - 0 art. 92 do Codigo Penal Militar que trata do
Não e diferente o acórdão do Superior Tribunal Militar no Rec. Crim. crime militar tern a redaçao seguinte:
N2 3.371:
"Art. 92 Considerarn-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata este Codigo, quando definidos de modo di-
"Os funcionários do Ministérjo da Aeronáutjca deixaram de ser conside- verso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente,
rados assemeihados, para os efeitos da lei penal militar, por não the serem salvo disposiçäo especi".
mais extensivos as disposiçaes do Regulamento Disciplinar na parte relativa II - os crimes previstos neste Codigo, embora tambdm o sejam corn
as penas disciplinares".136 igual definicao na lei penal comum, quando praticados:
por militar em situação de atividade, contra militar na mesma situa-
Quando Juiz-Audjtor da Auditoria da Ii C.J.M. tivernos oportunidade cão;
por militar em situacão de atividade, em tugar sujeito a administraçao
de rejeitar dentincia contra motonista servidor de Ministéno Militar, denuncia- militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
do corno assemelhado pelo homicIdio culposo de militar. Em nosso despacho por militar em serviço ou atuando em razão da funcão, em comissäo
sustentamos: "o motorista não podcnI ser considerado assemelhado porque de natureza militar, ou em formatura, ainda que bra do lugar sujeito a admi-
não está submctido a disciplina militar. Sua re]ação corn o estabelecimentc nistração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
por militar durante o perlodo de manobras ou exercicio, contra militar
134
da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
Macedo Soares, Cod. Per,. Mi!., p. 5.
:36
DJde 28.06.67, p. 195.
DJ de 07.12.51, p4.716. 137
IRec. Crm. n2 4.633.
92 Céflo Lobào 93
Direito Penal Militar

e) por militar em situacão de atividade contra o patrimônio sob admi-


nistraçao militar, ou a ordem administrativa militar. Retomando a primeira fase de Vico, o penalista italiano classifica como
Ill - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por crime exclusivamente militar, os não previstos na lei penal comuin, como,
civil, contra as instituiçöes militares, considerando-se como tais não So os iilis, vem expresso no art. 37 do Código Penal Militar italiano:
compreendidos no inciso I, como as do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob administracao militar, ou contra a ordem ad- "E reato esclusivamente militare quello costituito da un fatto che, nei
ministrativa militar; suoi elementi materiali costitutivi, non è, in tutto o in parte, pre'.eduto come
b) em lugar sujeito a administração militar contra militar em situaçao de reato dalla legge penale camune".
atividade, ou contra funcionârio de Ministério militar ou da Justica Militar, no
exercicio de funcão inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante a perIoda de prontidäo, vigi- Esse dispositivo serviu de fonte do inciso I do art. 6 do COdigo Penal
lância, observacao, exploraçao, exercIcio, acampamento, acantonamento ou Militar de 1944 e de hI transpiantado para o atual diploma repressivo castren-
manobras; se, inserido no inciso I do art. 92, artigo este que classifica o crime militar da
d) ainda que fora do lugar sujeito a administração militar, contra militar
na funcao de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, ga- seguinte forma:
rantia e preservacao da ordem püblica, administrativa ou judiciária, quando le- I - crimes previstos no Codigo Penal e definidos de modo diverso na lei
galmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinaçao legal p()al cornurn (inc. 1, V parte);
superior. II - crimes definidos no Codigo Penal Militar e näo previstos na lei pe-
Parágrafo ünico - Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos
contra a vida e cometidos contra civil, serão da competéncia da Justiça co- irni cornurn (inc. 1, V parte);
mum". 111 - crimes corn igual definicio no Cddigo Penal Militar c na lei penal
iomum (incs. II e III).
Corn excecao do parágrafo ünico, acrescentado pela Lei n 9.299/96, as Na classificacäo, sobressai o cntcrio ratione legis, a critOrlo objetivo,
demais dispositivo transcrevem, corn alteracöes irisignificantes, o art. 6 2 do ou seja, tanto o crime propriarnente quanto a impropriamente militar, necessa-
diploma castrense de 1944, que, por sua vez, teve como fonte inspiradora, o ilamente, devern estar definidos no Código Penal Militar, corn obscrvancia
Codigo Penal Militar italiano. dos limites deferidos ao legislador ordinário pela Lci Major, ou seja, a tutela
Segundo Vico, constituem matéria da lei penal militar: I. os delitos ex- das instituiçöes militares federais OU estaduais. Par excrnplo, o crime de abuso
clusivamente militares não previstos na lei cornum; U. as infraçöes penais do de autoridade e o de tortura, cornetidos por militar, quaisqucr que scjam as
direito comurn que passam a integrar a lei penal militar corn observância de dois circunstncias, seräo crimes comuns, pela ausência de prcvisiio na Id penal
sistemas: a) o subjetivo, fundado na qualidade de militar do culpado ou do ofen- castrense. 0 legislador ordinário entendeu que esses delitos, mesmo cometidos
dido; b) o objetivo, fundado na qualidade do fato. Segundo o mesmo autor, a pClO militar em serviço, não atentarn contra as instituiçoes militares fcderais
primeiro desses sistemas carece de fundamento juridico, constituindo-se privilé- mi cstaduais.
gios de militares, enquanto o objetivo responde corn toda exatidiio ao fundamento A 11parte do inciso l,trata de crimes impropriamente militares, defini-
jurIdico do direito penal militar, ou seja, so é infracao militar o fato que essen- dos de modo diverso no Codigo Penal Militar e no Codigo Penal, isto é, de
cialmente importe em lesão ao servico ou a disciplina militar.138 liguras delituosas cuja descricäo tIpica näo so idênticas nos dais diplomas
Posteriormente, Vico sustentou que a qualidade de militar, por si so, it•pressivos citados. Por exemplo: incitarnento (art. 155 do CPM e art. 286 do
implica num interesse militar e no existem atos do militar, mesmo de SUa ('I'); apologia (art. 156 do CPM e art. 287 do CP); amotinainento de prcsos
vida privada que não se vinculem a urn interesse militar e, como consequên- tit. 182 do CPM e art. 354 do CP); ato obsceno (art. 239 do CPM c art. 233
cia, todos os delitos comuns cornetidos pelo militar deveriam, por esse moti- CP); escrito ou objeto obsceno (art. 234 do CPM e art. 234 do Cl'); desa-
vos, ser considerados militares.'39 Esse entendimento de Vico, como näo po- cal) a militar (art. 299 do CPM e art. 331do CP); desobediência (art. 301 do
deria deixar de acontecer, foi alvo de severas crIticas de Carlos Colombo.'4° ('I'M cart. 330 do CP); falsificacao de documento (art. 311 do CPM e art. 297
do (P); falsidade ideoldgica (art. 312 do CPM e art. 299 do CP), etc.
In Carlos Colombo, El Derecho, p. 22-3.
A 2g parte do inciso I compreende os crimes propriamente militares e,
139 In Carlos Colombo, El Derecho, p. 23. tambOm, as impropriamente militares sem definiçäo na lei penal comurn. Säo
140 CarIos Colombo, El Derecho, p. 24.
impropriamente militar: aliciacão (art. 154); violência contra militar em servi-
94 Cello Lobäo Direito Penal Militar 95

ço (art. 158); ultraje a sImbolo nacional (art. 161), oposico a sentinela (art. Quanto ao militar, indiscutIvel sua condicão de sujeito ativo dos delitos
164, fato tIpico diverso do art. 329 do CP); promover reuniio ilIcita (art. 165); propriamente militares. No que diz respeito aos impropriamente militares a
publicaçäo ilIcita (art. 166); uso ilIcito de uniforme (art. 172); insubmissäo que se refere o inciso I, as disposicOes em contrCrio vêm expressas na própria
(art. 183); criar ou simular incapacidade (art. 184); substituir convocado (art. descricão tIpica da infracao penal. Por exemplo, na insubmissão, a condick
185); comércio ilIcito (art. 204); ofensa as Forcas Armadas (art. 219); desafio de civil do agente integra o tipo, o que exclui o militar como sujeito ativo des-
para duelo (art. 224); homossexualismo (art. 235); dano em apareihamento se delito; no ultraje a sIrnbolo nacional (art. 161), não sendo praticado diante
militar, navios e outros bens militares (arts. 262 a 265); expor a perigo apare- de tropa ou em lugar sujeito a administração militar, não ha crime militar.
ihamento militar (art. 276); recusa de funçio na Justiça Militar (art. 340). Os crimes corn igual definição na lei penal comum e no Código Penal
Ha outras figuras delituosas que não ingressaram no sistema jurIdico- Militar (incs. II e 111) são, todos eles, impropriamente militares Essa classe de
penal brasileiro, como é o caso do Iurt() de uso (art. 241) e do dano culposo (art. delitos militares, sofreu, no atual diploma repressivo castrense, ampliação
266), tendo o Supremo Tribunal Federal, em boa hora, restringido este Citimo ao absurda e inconstitucional, inserindo, como diz Carlos Colombo, ja citado.
agente militar. 0 TItulo VIII (arts. 340 a 354), que trata dos crimes contra a admi- "figuras que le son tan ajenas, como ci abandono de personas, ci rapto, la
mstracao da Justiça, é juconstitucional porque escapa da competência da Justiça supresiOn y suposición del estado civil, Ia violación de domicilio, el
Militar a tutela de orgao do Po(Ier .Judiciano. A competencia constitucional é da envenamiento o adulteración de aguas potables, etc., etc.,' ° e que vêm expres-
Jusiiça Fedcral, no caso da Justiça Militar federal, e da Justiça comum, no caso da sas nos arts. 212 (abandono de pessoas), 226 (violacão de domicflio), 293
Justiça Militar estadual. Quanto a recusa de o militar cxercer funcão na admi- (cnvenenamento de Cgua potável), 294 (poiuicao de agua potCvel), além da
nistracao da Justica Militar (art. 340), ajusta-se a descricao tfpica do art. 163 violaçao de corresponclência privada (art. 227 do CPM), divulgação de segre-
(insubordinacão). do privado (art. 228 do CPM), etc.
Nos termos do inciso 1, o militar ou o civil C sujeito ativo dos crimes de Observe-se que alguns crimes, igualmente definidos na lei penal co-
que trata o Cddigo Penal Militar, definidos de modo diverso na lei penal co- mum e na castrense, sofreram acréscirno para evitar a igualdade entre os mes-
mum, ou nela não previstos, salvo disposicão especial. mos delitos, constantes dos dois diplomas repressivos. Por exemplo, no aban-
A ressalva do final do inciso 1, no que diz respeito ao civil, refere-se aos dono de pessoa (completamente desnecessCrio na lei penal militar), foi acres-
crimes propriamente militares (2il porte do inciso I), dos quais o civil nunca C cida a expressäo "o militar", para conferir definiçao diversa do art. 133 do
sujeito ativo, e aos impropriamente militares (V e 2 partes do inciso 1) que Código Penal.
não se ajustam aos requisitos das alIneas do inciso 111 porque, nessas hipóte- Corno ficou dito, os incisos II e Ill tratam dos crimes definidos no Có-
ses, o civil não ingressa como sujeito ativo da relacäo jurIdico-penal, como. digo Penal que foram recepcionados pelo Código Penal Militar e transmuda-
alias, acontece corn os delitos de que trata o inciso II (crimes corn igual defini- dos em crimes impropriamente militares, mediante a incidência de circunstn-
ção na lei penal comum e na castrense), que não se ajustam as circunstâncias cias especIficas, expresas nas alIneas dos incisos II e In, embora algurnas
do inciso IH. dessas circunstâncias venharn repetidas na descrição tIpica de alguns delitos.
Para exemplificar, a insubmissão (art. 183) e o USO indevido de unifor- No entanto, todas elas dizem respeito a condição do agente e do ofendido, ao
me militar (art. 172), delitos não previstos na lei penal comum. são crimes local do crime, ao bern material OU imaterial ofendidos. Corno exemplo das
impropriarnente militares (inc. I, 24 parte) praticados por civil porque atendem circunstâncias que integram o tipo: ahuso de pessoas (art. 252 - local do crime
ao requisito do alInca a do inciso 111 (crime contra a orciem administrativa sob administração militar), distribuir escrito ou objeto ohsceno (art. 239 -
militar). Por outro lado, o dano comeido por civil em material OU apareiha- local do crime sob adniinistração militar), etc.
mento de guerra OU de utilidade militar, recoihidos a depósito de entidade Ha, ainda. outras, em normas complementares ou explicativas: inviola-
privada ou püblica civil, não pertcnccntes as Forcas Armadas (art. 262), nao C bilidade de correspondência (art. 227, §§ V e 2, c.c. o § 4: agente e ofcndi(k
crime militar porque não atenta contra o patrimonjo sob administração militar. miiitarcs), divulgação de segrcdo e violaçao de recato (arts. 228 e 229, c.e. art.
oem contra a ordem administrativa militar, iião atendendo, dessa forma, a
qualquer urn dos requisitos expressos nas alIneas do inciso flL Carlos Colonibo, El Derecho, p. 24.
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231: agente e ofendido militares), etc. Obviamente, esses complementos ou licença, em momento de lazer no interior do estabelecimeiito militar ou fora
explicaçoes eram perfeitamente dispensaveis; mesmo sem eles haveria mci- dele, no interior de seu lar, encontra-se em situacao de atividade, no serviço
ativo, mas não no exercfcio de função do cargo militar.
dência da alInea a do inciso 11; caso contrário, tais fatos delituosos não ingres-
Militar no servico ativo, na ativa, em situacão de atividade, tern como
sariam no elenco dos crimes militares, como, alias, ocorre corn o § 32 do art.
oposto militar na inatividade, na reserva, reformado.
227 (abuso na funcao postal ou telegrafica), no qual, apesar da exclusão feita
Logo, é militar o crime cometido por militar (da ativa) contra outro mi-
pelo. 42 (salvo o disposto no parágrafo anterior), o crime somente será
litar (da ativa), mesrno não estando em serviço. A afirinativa näo comporta
militar na hipótese de agente militar e sujeito passivo igualmente militar ou
dtivida encontrada em acdrdäos. Resulta da alInea a, inciso II, art. 92, corn a
instituiço militar (inc. III, a e c). definicAo do art. 22, tudo do Código Penal Militar. Por exemplo, d militar o
Os requisitos classificatórios do crime impropriamente militar, expres- crime definido no Código Penal Militar praticado contra outro militar, estando
SOS fl05 incisos II e Ill, referern-se, rcspectivamente, ao agente militar e civil,
ambos de licenca, recoihidos ao leito de hospital, scm saber a coridiçiio de
impondo-se a separação do crime impropriamente militar praticado pelo mili- militar do outro.
tar e aquele perpetrado pelo civil, como faremos a seguir, iniciando-se pelo Não deve ser considcrada a decisão do então Tribunal Federal de Re-
agente militar. cursos, segundo a qual compete a Justiça comum processar e julgar o atrope-
18. Agente Militar - No caso de agente militar. os delitos corn igual lamento corn morte de militar por outro militar. pois "o autor e vItima não
definiçäo no Código Penal Militar e na lei penal comum (inc. II) so crimes exerciamn atividade especIfica, não ha clefinir-se a conipctência da Justica Mi-
militares, se atendidos os requisitos seguintes: litar apenas corn base na letra "a" do inciso
I - ofendido igualmente militar (aim, a, I); Certamente a decisão da V Secão do então Tribunal Federal de Recur-
II - local do crime sob administração militar, contra civil (alIn. h, II); sos referia-se a alInea a, inciso II de outra legislacão que não a brasileira. Corn
HI - sujeito ativo em serviço, isto é, no efetivo exercIcio da funcao do efeito, diante da clareza meridiana da alInea a do inciso H do art. 92 do COdigo
cargo militar, no momento do crime, contra civil (alms. c e d, II); Penal Militar, o crime é militar, se o sujeito ativo e ofendido são militares,
TV - bern sob administraçio militar (alIn. e, 12 parte, II); independente de outra circunsUincia. Mesmo que a condicao de militar seja
V - ofensa a ordem administrativa militar (alIn. e, 2 parte, II). desconhecida dos sujeitos do delito, o crime é militar. Se o militar atropela
19. Sujeitos Ativo e Passivo Militares - E militar o delito cometido outro militar, desconhecendo essa condição da vItima, responde na Justica
por militar contra militar (alIn. a, II), independentemente da circunstncia do Militar pelo delito cometido. Essa é a lei brasileira.
lugar do crime, da condição de servico ou outra qualquer, podendo os sujeitos Corn a incorporacão de muiheres as Forças Armadas, a PolIcia Militar e
ativo e passivo pertencerern a mesma DU a Arma diversa. Assim também, no ao Corpo de Bombeiros Militares, surge o problema relativo a cornpetencia da
âmbito da Justiça Militar estadual, os sujeitos ativo e passivo podem ser so Justiça Militar para conhecer do delito cometido por urn cOnjuge ou compa-
policiais militares, so bombeiros militares ou integrantes das duas corpora- nhciro, contra outro. Se,a ocorrência diz respeito a vida em comurn, permane-
cöes. cendo nos limites da relação conjugal ou de companheiros, scm reflexos na
A alInea a, inciso H, refere-se a militar em situacao de atividade, quali- disciplina e na hierarquia militar, permanecera no ãmbito da jurisdiçao en-
ficaçao desnecessOria e que tern se prestado a equIvocos, embora injustifica- mum. Tern pertinência corn a matéria a decisão da Corte Suprema, segundo a
dos. Realmente, se o COdigo declara no art. 22 quern é considerado militar qual a adrninisrração militar "não interfere na privacidade do lar conjugal,
para efeito de aplicação da lei penal castrense, deveria usar. apenas, o vocá- maxime no relacionamento do casal".'13 E qucstão a ser decidida pelo juiz
bulo militar. dispcnsando a qualificacao. Aceitável, para evitar dth'idas, a refe- diante do fato concreto.
rência a militar na inatividade, constantc do inciso Ill do art. 92• 0 que se entende por miiitarja ficou exposto anteriormente. No entanto
Reafirmamos: militar em situaçao de atividade é o incorporado as For- nunca é dernais repetir, diante de afirmaçöcs errOneas na doutrina c em algu-
ças Armadas, a PoiIcia Militar, ao Corpo de Bombeiros. para neles servir em mas decisöes: militar, perante a Justica Militar federal. 6, Onica e exciusiva-
posto. graduaçao ou sujeicão a disciplina militar (conf. art. 22 do CPM).
142
Militar em situação de atividade, no serviço ativo, na ativa, pode ou não 143
CC
n2 6.897, DJ de 15.06.86, p. 8.058.
encontrar-se em serviço ou em funcao de natureza militar. 0 militar em férias, HC n 58.883-RJ, 12 lurma do STF, DJde 09.10.81, p. 10.055.
Iqr

98 Céiio Lobão Direito Penal Militar gg

mente, quem se encontra incorporado as Forcas Armadas. Militar perante a Trilhando pelo mesmo caminho equivocado, a 3 Secäo do Superior
Justica Militar estadual é, tao somente, quem integra a PolIcia Militar e o Cor- Tribunal de Justiça, no CC 2.607/SP, decidiu que "compete a Justica Militar
p0 de Bombeiros Militar. processar e julgar soldados do Exército e da Poilcia Militar Estadual acusados
Escapam da competência da Justica Militar federal as infraçoes defini- da prática de infracoes penais militares."47
das nas leis repressivas castrenses cornetidas pelo policial militar e pelo bom- Em sentido contrário e corretamente, a IA Secão do então Tribunal Fe-
beiro militar, porque não são considerados militares perante esse órgão deral de Recursos reconheceu a ocorrência de crime comum na agressäo co-
judiciário federal. Da mesma forma, o integrante das Forças Armadas não é metida por soldado do Exército contra oficial da PolIcia Militar, mesmo estan-
militar para efeito da aplicação da lei penal militar pela Justiça Militar es- do este em servico.145
tadual. 0 militar que, nos termos da Constituição, se encontra sujeito a Os preceitos constitucionais e legais não comportarn dévidas. A Cons-
Justica Militar federal é, exciusivarnente, o integrante das Forcas Armadas, é o tituição de 1946 dispunha que a "Justica Militar compete processar e .julgar,
militar definido no art. 22 do Cddigo Penal Militar. nos crimes militares definidos cm lei, os niilitares ..." (art. 108, caput), poclen-
Nesse particular, os Tribunais Superiores e o Supremo Tribunal Federal do esse foro especial estender-se "aos civis, 1)05 casos CXSSOS em lei, para a
ainda näo se pacificararn na correta aplicaçiio da Constituiçäo e da lei. Ha repressão de crimes contra a segurança externa do pals ou as instituiçöes mi-
decisöcs deferindo a Justiça Militar federal a competencia para conhecer dos
litares" (§ IQ). Essa norma vem repetida na Carta de 1967 (art. 122) e na
crimes praticados por policial contra inerante das Forças Armadas e deste
Emenda Constitucional de 1969 (art. 129). No que resta da atual Constituição,
contra aquele. 0 então Tribunal Federal de Rccursos considerou crime militar
consta que compete a Justica Militar processar e julgar os crimes militares
o conflito entre militares do Exército e da PolIcia Militar e julgou a Justica
definidos em lei.
Militar federal competente para julgamento do processo. 144 Em outro acórdão
consta da ementa: "compete a Justica Militar Federal processar e julgar solda- Portanto, nas constituicoes anteriores era prevista a competência cons-
do do Exército acusado de crime contra Poilcia Militar estadual". 145 titucional da Justiça Militar federal para processar e julgar militar e civil, nos
0 Supremo Tribunal Federal não ficou isento do equlvoco, ao reconhe- crimes militares. A atual Lei Major, ao tratar dos órgãos da Justiça Militar
cer a cornpetência da Justica Militar Federal para processar e julgar "agressão federal, deixou a critério do legislador ordinario dizer quem é autor do crime
praticada por soldado da Pollcia Militar do Distrito Federal contra cabo do militar, o civil e o militar on somente este iltimo. 0 militar que se encontrava
Exército, fora de estahelecimento militar e quando ambos não estavam a servi- e se encontra sujeito a Justiça Militar federal, nos crimes militares, é quem se
ço", proclarnando na ementa: "crime praticado por militar da ativa contra mi- ajusta a definição do art. 22, somente ele.
litar da ativa".'46 0 policial militar e o bombeiro militar não se incluem no conceito de
Em outra decisão, a Corte Suprema, corn apoio da Procuradoria Geral militar do art. 22. Logo, como sujeitá-lo ?i Justica castrense federal, scm atro-
da Repüblica, desconsiderou, de forrna rnais ampla, a norma constitucional. pelar a Constituicao? Por outro lado, o integrante das Forcas Armadas não é
Corn efeito, no HC n2 56.980, a 24 Turma do Supremo Tribunal decidiu pela considerado militar perante a Justiça Militar estadual.
competência da Justica Militar estadual no crime cometido por integrante da Nos delitos cometidb€ por policial militar on bombeiro militar de uma
PolIcia Militar contra patrulha das Forcas Armadas, e foi rnais longe: estendeu Unidade Federativa, contra outro, de Unidade Federativa diversa, os Tribunais
a decisão ao co-réu civil para submctê-lo a essa mesma justica especializada. tern reconhecido a ocorrência de crime militar (incidência da alInea a, do mci-
Consta do parecer da Procuradoria Geral: "a competência prevalente da Justi- so II), deferindo a competCncia ao drgão da Justica Militar do Estado de on-
ça Militar do Estado devera estender-se para alcancar tambérn o co-autor ci- gem do sujeito ativo do delito.
vil". Ora, nao se trata de competência prevalente e sirn de jurisdicao. A juris- Dentro dessa onientacao, outro qualquer crime militar cometido pelo
dição penal militar estadual não alcançava na época (1979), como não alcanca policial militar em territOrio de Unidade federativa que não aquela a qual pe
na atualidade, a conduta delituosa do civil. A matéria era de Direito Constitu- tence sua corporacao, a jurispn.idencia prevalente dos Trihunais tern conside
cional (Em. Const. 7/77) e não de Direito Processual Penal. rado competente a Justica Militar de Estado de origem do militar, embor;i
existarn decisöes divergentes.
144
CJ n4 725-RS, Ac. de 03.12.70.
l45
CC
n6 5.174, DJde 03.11.83, p. 17039. " A Const. na Visäo dos Tribunals, TRT da 12 Regiao, V. 2, p. 124.
146
HC n9 50.037, RTJ 63/364. CC n 4.235, DJ de 09.04.81, p. 3.091.
100 Célio Lobão Direito Penal Militar 101

A l Turma do ento Tribunal Federal de Recursos julgou competente a Sendo o ofendido pessoa jurIdica privada ou püblica civil, o crime serã
Justiça Militar do Estado de origem do policial militar, "nao obstante o delito comum. Já tivemos oportunidade de decidir que no ha crime militar e sni
tenha sido cometido em outro Estado".149 Nesse mesmo sentido, acórdão do comum, no furto de bens da Presidência da Reptiblica, cometido por miIitu a
Supremo Tribunal Federal. 150 Em decisio isolada, o então Tribunal Federal de disposição daquela reparticao civil.
Recursos, no CC n 5.697, decidiu pela competncia da Justica Militar do Ternos, na alInea b, o critério ratione loci, acrescido da condico Je
Estado do local do crime, embora o agcnte, policial militar, pertencesse a cor- militar do agente e de civil do ofendido, subordinado, no entanto, ao critério
poracao de outro Estado.'5 '
ratione legis sempre presente na conceituaçäo do delito militar. Por esse mcii-
No que se refere ao militar da rcscrva ou reformado, corno já ficou dito, vo, mesmo corn o ateridimento desses requisitos, indispensável a previsäo no
é considerado civil para efeito de conceit uacao do crime militar, ressalvando-se
Cddigo Penal Militar. Por exemplo, o ahorto (art. 125 e 126 do CP) realizado
a hipótese da convocaçAo do militar da rcscrva para o serviço ativo (art. 82, 1, b,
por medico militar em hospital militar, é delito comum porque essa figura
do CPPM), quando, entao, é considerado militar, para efeito da aplicaçao da lei
delituosa nib integra o elenco da lei repressiva castrense.
rcpressiva castrense.
0 mesmo aCc)fltCce corn o homicIdio doloso perpetrado por militar con-
A alInea a refere-se, ainda, a asselilcihado. Conforme esciarecemos,
tra civil em local sob administraçao militar, suprimido da cornpetência da
exaustivarnente, essa classe de civis scIlleliIantes a militares desapareceu ha
Justiça Militar, em decorréncia do parágrafo ilnico, acrescido ao art. 90, pela
mais de meio século do dircilo brasilcirn, apesar do comodismo de alguns ciuc
se recusam a retletir sobre os textos legais Iclativos ii niatéria. Lei n0 9.299/96, apesar da indiscutIvel inconstitucionalidade.
Local sob adrninistraçilo militar é o que pertence ao patrimônio das For-
Para meihor comprcensäo dos ciuc illiciam a aprendizagem desse ramo
cas Armadas, da PolIcia Militar e do Corpo de Bombeiros Militares ou encon-
do Direito Penal, relacionarcmos ahai XU os casos em que, atendidas as cir-
tra-se sob a administraçio dessas instituicöes militares, por disposicao legal ou
cunstâncias da alInea a, o delito, coin igual dciinicao nos Codigos Penal Mi-
litar C comum, c1assifca-se COI1R) c011Ie ilrplopriamentc militar: ordern igualmente legal de autoridade competente. 0 local referido pode ser
- sujeitos ativo c passivo inililares (art. 22), isto d, integrantes das For- imdvel ou rnóvel, comb veIculo, embarcaçao, aeronave, etc.
cas Armadas: crime militar da c iipciciicia cia Justica Militar federal; A residência do militar nao atende a esse requisito, mesmo que se en-
II.— sU ciIOS ativo c passivo mu flares estaduais, isto d, policial militar e contre em local sob a adrninistraçiio militar. A jurisprudCncia firrnou-se em
bornbeiro militar: crime mulilar da corlipetencia da Justica Militar estadual (art. contormidade corn a orientaçio expressa na seguintc dccisio do Superior Tri-
125, § 4, da Cons1ituiçio); bunal Militar: "constitui crime cornum o praticado por militar contra civil, em
Ill - sujeito ativo C passivo policial militar c bombeiro militar de corpo- casa particular, situada em vila residencial, embora em zona sob a administra-
raçöes pertencentes a unidadcs ledem'ativas diversas: crime militar da compe- çio militar. A administraçao militar nio penetra no interior das casas cedidas a
tncia da Justica Militar da unidacie fcdcrativa de origem da corporaçäo do oficiais e pracas, interferindo nas suas rclaçoes civis e de suas famIlias."152
sujeito ativo (orientacão jurisprudenc Ia!); Outras decisöes podem ser citadas:
VI - sujeito ativo inlegrante das F'orças Armadas e sujeito passivo poli- "Embora onilitar tenha matado sua muiher no interior da casa em que
cial militar ou bombeiro militar: crime cornurn; ambos residiani, situada em zona sob a administração militar, a Justiça Co.
V - sujeito ativo policial iiiulutar ou bombeiro militar e sujeito passivo mum é a competente para julgar o crime, porque a aludida administração não
integrante das Forcas Armadas: crime comum. interfere na privacidade do lar conjugal, máxime no relacionamento do casai
20. Local Sob Administração Militar - Nos termos da alInea b do in- do qual resultou o uxoricIdio';153 "Nio se inscreve no imbito do art. 92 - II - b
do COdigo Penal Militar o crime praticado por militar contra sua muiher no In'
ciso H, silo requisitos do crime mulitar; local do crime sob administraçiio mili- conjugal, ainda que situado este em area sob administraçio militar".154
tar: sujcito ativo militar c sujeito passivo civil. lndispcnsável o atendirnento
dos três rcquisitos para a rni1itarizaço do delito corn igual definicio na lei 21. Militar em Serviço. Atividade em Razão de FLlnção, etc. - Os re-
penal cornum. quisitos do crime militar, expressos nas alIneas c c c/ do inciso 11, são os se

149 0C n5 4.282, DJ de 03.12.81, p. 12337. 52


150 Ap. n° 33.756, DJ. da Guanabara, de 21.10.64, p. 509.
HG n9 55.903, DJ de 19.05.78, p. 3465. i53
151 HG n9 58.853-RJ, 1° Turrna do STF, DJ de 09.10.81, p. 10055.
DJde 13.9.84, p. 14793.
54 CJ n° 6.556-PR, Trib. Pleno, STF, DJ de 07.02.84, p. 934.
102 Direito Penal Militar 1O
Cello Lobão

guintes: militar em serviço, militar atuando em razão da funçao, em comissão tivos expressos na lei. Dessa forma, continua no servico ativo o militar legaL-
de natureza militar, em formatura, em perlodo de manobras ou exercIcio. mente dispensado do exercIcio das funcoes de seu cargo militar, da eferiva
Militar em servico é o que se encontra exercendo funçao do cargo mili- prestacão do serviço militar, por exemplo, em fCrias, trânsito, dispensa conce-
tar, permanente ou temporário, decorrente de lei, decreto, regulamento, ato, dida por superior, em licenca para tratamento da própria saiide ou de farnilia-
portaria, instrucão, ordem verbal ou escrita de autoridade militar competente. res, para contrair ndpcias, por luto, etc. 0 militar recoihido ao leito, por mod-
Pode ser funçao de natureza militar ou outro serviço executado pelo militar vo de doenca, continua em situacão de atividade, ate que seja exciuIdo do
nessa qualidade. serviço ativo por incapacidade fisica.
A ordem, deve ter suporte legal, caso contrário não ocorre a condiço de Igualmente em serviço ativo, porCm afastado do exercIcio da funcao do
militar em serviço. Já tivernos oportunidade de decidir que o militar encarre- cargo militar, é o caso do militar agregado por bayer tornado posse em cargo
gado pclo cornandante de apurar furto (IC gado de particular nao Sc encontra ou funçao piiblica temporria, não cletiva (art. 142, § 3, da Constituição, corn
cm servico, o que é diferente se o gado perteiicesse a administraco militar. a redação da Emenda n 18). Nessa hipótese, o crime por dc praticado contra
Nessa ditima hipdtese, o agente estaria em serviço, embora nao se encorfirasse civil, no exercIcio da funçäo civil, é comum, porquanto o serviço nao C militar.
em funçao de natureza militar. no atenclendo aos requisitos das alIneas do inciso 11 do art. V.
Conio serviço, entendeni-se OS destinados a limpeza e a higiene das Ao abandonar o posto, o militar, evidcnternente permanece em ativida-
instalaçoes militares, aos abastecimcnto de gêneros ahmcnticios e de seu pre- de, rnas não em servico, mas nao no cxercIcio da funco do cargo militar e, se
paro, a conservaçao de irndvcis, de material bélico, conservacao e ulilizaçao cornete crime, o faz como militar, sern estar em servico. Como exeinpio, a
dos meios de transporte militar, dos locais destinados ao esportes, a diversão. ocorrência envolvendo integrantes de uma patrulha que, afastando-se do rotei-
indispensáveis para sanidade mental da tropa, aliviando-a das tensöes resul- ro estabelecido, dirigiram-se a urn bar, onde cometeram crime. 0 Superior
tantes dos exercIcios, dos treinamentos e da prOpria rigidez da disciplina mi- Tribunal Militar, acertaclamente, entendeu que os militares não estavam em
flQ
litar. Serviço alcança, igualmente, funço de natureza militar, que constitui serviço e considerou o fato delituoso como crime comurn (Rec. Crim.
requisito da alInea d do inciso III. Esta é a espécie, da qual aquele é 0 gênero. 3.715). Embora em atividade, no serviço ativo, os militares no estavam em
Militar em servico não se confunde corn militar em situacao de ativida- serviçO.
de, na ativa OU no servico ativo. 0 militar em servico exerce função de seu 0 militar inativo contrapoe-se ao da ativa, e cornprecndc o da reserva
cargo militar, incluindo-se formatura, manobra, exercIcio, comissao de nature- remunerada ou reformado. Ambos no se incluem dentre os militares, para
za militar. Obviamente, so o militar em situação de atividade exerce funcao do efeito da aplicaçao da lei penal militar, em conformidade corn o art. 22 do
cargo militar, embora nem sempre esteja no exercIcio dessa funcao. CPM e o Estatuto dos Militares, supracitados.
Militar em situaçäo de atividade, na ativa, no servico ativo C o militar Merece menção 0 caso do militar das Forcas Armadas que, sem estar
incorporado as Forças Armadas ou as instituicöes militarcs estaduais, para em serviço, uniformizado ou não, comete crime, ao interferir numa ocorrência
nelas servir em posto, graduaço, ou sujeicao a disciplina militar (conf. o art. de caráter policial fora do estabelecimento militar. Segundo Jorge CCsar de
22 do CPM). 0 Estatuto dos Militares relaciona, como militar da ativa, o de Assis C o que "convencionamos chamar de crime militar em razäo do dever
carreira, o incorporado as Forças Armadas para prestaçao de scrviço militar, o juridico de agir" e o "embasamento legal desta tese são os arts. 301 do CPP e
da reserva, quando convocado. reincluIdo, designado ou mobilizado, o aluno 243 do CPPM".155
de Orgão de forrnaçio de militar da ativa ou da reserva, o mobilizado para o Essa matéria remonta ao antigo COdigo de Justica Militar, que. no art.
serviço ativo, em tempo de guerra. A condicão de militar da ativa, do policial 146, continha disposição idêntica ao do art. 243 do COdigo de Proccsso Penal
militar e do bombeiro militar resulta do art. 42 da Constituiçao, de normas Militar. Ainda na vigência do diploma anterior, decidiu o Superior Trihuiial
contidas na Constituiçao da Unidadc Federativa e da lcgislacao federal e esta- Militar. na Ap. n 3.904, que o "Cddigo de Justiça Militar iinpOe a todo niiliutr
dual. o dever de prender quem estiver praticaiido crime".' 6
Logo, a condicão de militar cm situaçao de atividade, na ativa ou no
ser'ico ativo, inicia-se corn a incorporaçao e deixa de existir corn a passagem 155
Jorge de Assis, Corrent. ao COd. Pon. Mit., p. 38.
do militar para a inatividade ou sua exclusão da instituiçao militar, pelos mo- ' DJ/GB, de 14.08.68, p. 231.
104 CélioLobão
Direito Penal Militar 105

Ocorre que, em conformidade corn o art. 72 do diploma processual pe- Esse requisito integra o tipo de alguns delitos, na concusso (art. 305),
nal castrense, os militares indicados nas alIneas a a h e os referidos nos §§ 12 e no desvio (art. 307), na corrupção passiva (art. 308). No peculato (art. 303), a
22 do mesmo artigo exercem a polIcia judiciária militar, enquanto o art. 243 do
referência é em razão do cargo e na participacão ilIcita em contrato (art. 310),
Codigo de Processo Penal Militar (os militares deverão prender quem for in- em razão do ofIcio - estes dois éltimos mais amplo do que a funcao. Acontece
subinisso ou desertor ou seja encontrado em flagrante delito) confere a esses que, tratando-se de crime corn igual definição na lei penal comum e na militar,
mesmos militares a polIcia administrativa ou preventiva. a classificaçao como delito castrense nao decorre sornente da tipicidade da lei
Entretanto, a polIcia judiciiria e a administrativa exercidas pelo militar penal castrense e sim da circunstância de ofensa ao patrimônio sob adminis-
das Forças Annadas restringem-se as infraçoes penais militares e não, igual- tração militar ou a ordem administrativa militar, conforme o caso.
mente, as cornuns. Nesta iIltima hipótese, age como qualquer cidado, autori- Considerando os estreitos limites impostos pelo caráter subsidiario da
zado pelo art. 301 do Cádigo de Proccsso Penal e não pelo art. 243 do CPPM. Ici penal castrense, a atuacao em razäo da funço exige quc o militar federal,
c o delito por dc cornetido será comum. No entanto, tratando-se de crime mi- ao comcter o delito, exerca funçäo militar, encontre-se em scrvico, scm a ii-
litar, tern legitimidade para prender, em flagrante, o militar, em especial, e, mitacao da natureza militar da função.
tambérn. o civil. Tratando-se de delito cornurn, age como qualquer do povo Concluindo, atcnde ao requisito da alInea c. ora examinado, o crime
(art. 301 do CPP). iraticado por policial, ao interferir nurna situação de flagrãncia ou, prcventi-
mesmo, no entanto, no acontece corn o policial militar, ao intervir vamente, para cvitar a prática de crime cornurn Cu militar, scm estar em servi-
nurna situaçao de flagrancia ou, preventivarnente, para evitar a prática de cri- ço e, ate mesmo, em traje civil. Na prisäo efetuada em conformidade corn o
me, mesmo sern estar em servico. Nesse caso, nao ha corno negar a condico disposto no citado art. 243 do Codigo de Processo Penal Militar, o militar
de serviço, que decorre do disposto no art. 301 do Cddigo de Processo Penal federal (somente no crime militar) e o estadual agem no exercfcio de funcão
(as aut.oridades policiais e seus agentes devero prender quern quer que seja de polIcia administrativa militar confcrida por lei, isto é, em serviço.
encontrado em flagrante delito) e do art. 144 da Constituiçao, segundo o qual As alIneas c e d relacionarn, ainda, como requisitos do crime militar, a
a seguranca pib1ica, como dever do Estado "e exercida para preservaço da l)articipacao do sujeito ativo militar em comisso de natureza militar, em for-
ordem piThlica e da incolumidade das pcssoas e do patrirnônio", através da inatura, manobra ou exercfcio. A enumcraçäo é perfeitarnente dispensável,
polIcia militar (o bombeiro militar, no que diz respeito a scgurança pdblica, quando se sabe que esses requisitos estão compreendidos na expressão "mili-
atua de forma diversa da polIcia militar), além de outras entidades civis. tar em serviço" (alin. c).
Mesmo fora do horário de trahaiho, scm estar no exercfcio das funçoes 0 exercfcio de comissão de natureza militar foi alegada pela defesa de
de seu cargo e em traje civil ou nao, o policial militar responde na Justica Mi- uticial da Marinha, acusado de hornicIdio de uma muiher, num hotel, nos Es-
litar estadual pelo crime definido na lei penal castrense cometido quando do lados Unidos. A alegacão foi repelida pelo Supremo Tribunal Federal, cons-
atendirncnto de ocorrência que se afigura como infraçao a lei penal comum ou, tando do acórdão:
ate mesmo, militar. Encontra respaldo no atuar "em razão da funço" (inc.11).
"Pretendida natureza militar do crime, por estar o réu em cornissão de
Nesse sentido, acórdão do Supremo Tribunal Federal: "Se o Policial natureza militar, como integrante de tripulação de contratorpedeiro. Crime 00-
Militar que interfere em ocorrência policial, cumprindo normas e deveres pro- metido quando a réu não se achava exercendo qualquer atividade relacionada
fissionais, se envolver em circunstâncias delituosas, esta é considerada do corn o serviço ou corn a comissão do natureza militar. Cornpetência da Justca
natureza militar, ainda que o niiliciano esteja de folga, cm trajes civis e faça comum".158
uso de anna própria".''
A cxpressäo "durante o perIodo de manobras ou exercfcio" inclicam
atuar em razao da funçao, incluldo na alInea c, pela Lei n° 9.299. de
kntativa de ampliar o alcance da lei penal militar. AlCm do mais. C incahIvel,
07.08.96. é o segundo requisito classificatdrio do crime militar, constante da
ibsurda e incoiistitucional a pretensao de incluir como requisito do crime mi-
referida ailnea.
hiar, o perlodo de manobra, Cu de exercfcio, embora o militar dc.les nao paiti-

157 In Jorge César de Assis, Cornent., p. 39. IS


HC n2 50.721-GB, DJde 13.04.73, p. 2391.
106 107
Cello Lobão Direito Penal Militar

cipe ou, participando, näo exerça essas atividades militares, no momento do Nesse sentido, pronunciamento da P Tutma do Supremo Tribunal Fe-
crime. Colocando o enunciado em seus devidos termos, se o militar, no mo- deral, no HC n°69.571-PB, datado de 25.08.92:
mento do crime, participa efetivamente de fonnatura, manobra ou exercfcio
militar, o delito classifica-se como militar porque cometido por militar em "Justiça Militar Estadual: competëncia: crime militar praticado por poli-
serviço, em funçao de natureza militar. cial militar, ainda que em tunçäo de policiamento civil: superaçao da Stimula
0 conceito de formatura abrange os desfiles militares, os treinarnentos 297, desde a inovaçäo da EC 7/77 (of. RHC 56.049, Alckmin, RTJ 87/47), que
a Constituiçao manteve".159
para eses desfiles, etc. Manobra compreende qualquer movirnentaçao da uni-
dade militar, destinada ao treinamento, a ocupar posiçöes, durante estado de
0 parecer da Procuradoria Geral da Rep6hlica, no qual foi calcada a de-
sItio, de defesa, perturbaçäo de ordem pblica, etc. ExercIcio é atividade des-
ciso unSnime do Tribunal Pleno, ressalta que iiio mais subsiste o enunciado
tinada ao preparo fIsico do militar, ao treinarnento militar da tropa, incluindo a
da Siimula 297, diante do disposto na alInea d do § 12 do art. 144 da Emenda
utilizaçao de apareihamento bélico, etc.
Constitucional 07 e, nos termos do preceito constitucional, compete a Justiça
Ao expor que, "por periodo de manobra ou exercIcio deve ser entendido
Militar "processar c julgar, nos crimes militares definidos em lei, os integran-
como o do tempo real da manobra ou exercIcio", (Jorge Alberto Romeiro.
tes das polIcias militares".
Curso, pág. 80) Romeiro dá a emender que é militar o crime praticaclo pelo
Prosseguindo, a Procuradoria argurnenta que, diferentcrnente do enun-
militar, durante o mencionado perIodo, mesnio que nâo esteja participando da
ciado da Sinula supracitada, a Emenda "fez importante inovaçio, a respe.ito
manobra. Não tern procedência, carece de fundamentojuridico.
da matéria, ao estabelecer uma nova regra de cornpetencia para os crimes o-
A natureza militar da comissão exige que seja própria de integrante de
metidos por integrantes das poilcias militares", no mais exigindo o exercIcio
instituiçäo militar e que o agente, como resulta da decisão do Supremo Tribu-
de funçao militar, contentando-se "corn o ser integrante das polIcias milita-
nal Federal, acima citada, exerça, efetivamente, a comissão de natureza mili-
tar, no momento do crime. res". Em complemento ao parecer, expOe o Ministro Relator que "a Justiça
22. Policial Militar. Bombeiro Militar. Em Serviço — Militar teve sua competência alargada corn relaçao aos integrantes da PolIcia
Diivida existia, Militar e, nao, aos civis que pratiquem crimes contra policiais militares. Os
e acredjtarnos desfeita, sobre o que se entende por policial em serviço, no
civis continuaräo a ser julgados pela Justica Comum, como tern decidido este.
momento do crime militar.
Tribunal".'60
A Constituiçao de 1946 (art. 124, XlE) e a Emenda de 1969 (art. 144, §
1°, d) mencionavam os órgos da Justiça Militar Estadual, sern contudo, refe- 0 HC n° 56.049, citado no HC n° 69.571, supra, tern a ementa seguinte:
rir-se a competência desses órgãos, ensejando decisöes contraditórias, algu-
"Habeas corpus. Competéncia. Poilcia Militar do Estado. Nos termos do
mas delas sujeitando o civil a justiça castrense estadual. Corn a Emenda art. 144, § 1, d, da Constituiçao Federal, corn a redação dada pela Emenda
Constitucional n° 7/77, a aimnea d, § l, art. 144 do diploma de 69 passou a Constitucional n2 7 de ,13 de abril de 1977, a Justiça Militar estadual é corn-
viger corn a redaço seguinte: petente para processar "e julgar os integrantes das polIcias militares, nos cri-
mes militares definidos em lei. Crime cometido por policiais militares no polici-
arnento ostensivo do trànsito - Competéncia da Justiça Militar. Proposta de
" 12 A lei poderé criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça: d)
Justica Militar Estadual (...), corn competéncia para processar e julgar, nos reformulaçäo da SUmula 297 acolhida".161
crimes militares definidos em lei, os integrantes das polIcias militares".
E o seguinte o enunciado da SImula 297:
Corno a citada Emenda tinha por finaliclacle afastar a incidncja da Si.i-
"Oflciais e praças das milicias no exercIcio de funcao policial civil não
inula 297, a jurisprudência da Cone Suprerna inclinou-se, no seritido de con- são considerados militares para efeitos penais, sendo competente a Justiça
siderar militar. OS delitos cornetidos pelo policial militar, no excrcIcio de fun- Comum para julgar os crimes cometidos pôr ou contra eles".
çao policial civil. Portanto, deixou de ser exiido o exercIcio de funço militar
e sini que o policial militar e a bonibeiro militar encontrem-se em serviço, HTJ 144/283.
inclusive o de policiarnento ostensivo c de trusito. HTJ87148-50-51.
!?TJ87147.

L
low
101)
108 Direito Penal Militar
CélioLobão

Outro acórdão merece ser trazido a colaçao. E o proferido no RI: ii'


Dentre os acórdãos que serviram de fundamento a Sdmula 297, os pro-
feridos nos Cis n - 2.623, 2.698 e 2.735 ratificam o parecer da Procuradoria 135.195, corn a ementa seguinte:
Geral da Repiiblica, considerando crime comum o praticado pelo policial mi-
"Crime militar cometido por policial militar da ativa, em servico de patru-
litar em "funçoes civis", "em funçao e sob chefia civil", ou "servindo no poli-
Ihamento, contra civil (artigos 99, 11 , c, e 210 do Cadigo Penal Militar).§ E cornpe
49 do art.
ciamento ostensivo da cidade". tente, para o julgamento, a Justica Militar estadual, de acordo corn o
Ao pronunciar-se no RHC n 56.049, supramencionado, sustenta a Pro- 125 da Constituição Federal".
curadoria Geral da RepiIblica que "a expresso "definidos em lei" da parte
final do art. 144, § 1, d, da Constituiçäo so pode estar empregada corn o si- A hipdtcse era de policial militar que. dirigindo viatura da corporaçao,
gnificado de "tipificados" em lei. Assim, se o policial integrante da PolIcia atropelou civil, causando-ihe lesöes corporais. 67
Militar, em uma daquelas situaçoes previstas no COdigo Penal Militar, art. 99, Esciarecendo a questao, policial militar em serviço significa no exercI-
comete crime tipificado no Cddigo Penal Militar, nio se pode cogitar de crime cio das funcocs do cargo de policial militar, conferidas por lei, decreto. regu-
comum, ainda que o fato eseja igualrnente tipificado no COdigo Penal co- lamento, instrução, ordem verbal ou escrita da autoridade militar competente.
*Io
nluIn - policial militar no policiamento civil ou de trünSito, obviamente, dncontra-
Por firn, coriclui que houve ampliaçao da competência da Justiça Mili- Sc em serviço, assirn corno o bombeiro militar empcnhado em dcbe]ar incên-
tar, que nao mais ficou sujeita a Iimitaçäo imposta pela SOniula 297, do "exer- dio, em operacão de socorro a vItimas de sinistros, etc. Inclucrn-se, também, as
cIcio de funcao militar ao passo que esta" (a Emenda Constitucional 1V 7) "se atribuiçöes relacionadas corn a segurança, funcionarnento, manutenção dos
contenta corn o ser integrante das polIcias militares".'63 bens sob administraçäo policial militar.
Divergindo dessa orientaçao, o Superior Tribunal de Justiça, ratificando Reportamo-noS ao que ficou exposto, quando tratamos do conceito do
enunciado de sua Stmula 6, entendeu que "compete a Justiça Comum Esta- crime militar no Supremo Tribunal Federal.
dual processar e julgar o policial militar que, em serviço de patrulhamento na Dtvida existe se é considerado militar o exercIcio da funçao de delega-
conduçao de viatura pertcncente a respectiva corporaçao, causa ]esäo corporal do de polIcia exercida por policial militar - muito cornum no interior de al-
em civil".
guns Estados - a de guarda de presidio, a de condutor de preso, a de motorista
A decisâo foi reforniada pelo Supremo Tribunal Federal:
de autoridadc civil. além de outras da mesma espécie.
No primeiro caso acirna, a V Turma do Supremo Tribunal Federal, no
"Crime militar cometido por policial da ativa, em serviço de patruiha-
mento, contra civil (artigos 99, 1 1, c, e 210 do COdigo Penal Militar). E compe- RECr. N 92.793-SC, decidiu pela competência da Justiça comum para julgar
tente, para o julgamento, a Justiça Militar estadual, de acordo corn o § 42 do policial militar que praticou crime na função de delegado da polIcia civil.'
art. 125 da Constituiçao Federal".164 Correta a decisäo da Corte Suprema, porquanto o policial militar afastou-se do
exercIcio do cargo militar para exercer funçao de natureza civil. 0 mesmo
0 parecer da Procuradoria Geral, no acdrdão acima, transcreve ementas pode ser dito em relaça' ao integrante das Forças Armadas, no exercIcio de
de outros acórdãos do Supremo Tribunal Federal, dentro dessa orientação:
outra funcao civil qualquer.
A situaço do policial militar como guarda de presidio é a rnesrna do
"Habeas corpus. Policial Militar que, no mornento da conduta incrimi-
nada, estava a serviço de sua corporação em atividade de policiamento osten- delegado de polIcia acirna referida. Diferente, se for incumbido da seguranca
sivo, patenteando-se a natureza militar do delito. Competência da Justiça Mi- externa do cstahc!ecimento prisional ou recehe ordem legal para repriinir
litar, Precedentes do STF.16° "Habeas corpus. Competéncia. Justiça Militar. amotinarneflt() ou rebelião de presos.
Delito praticado por policial militar no exercicio de policiamento civil. Compe- 23. Patrirnônio sob Adniinistração Militar e Ordem Adrninistrativa
tência da Justiça Militar".166
Militar - Os requisitos do delito militar. cxpresso na alInea e do inciso Ii. so
patrimOnio sob administracAo militar e a ordern administrativa militar.
162
RTJ87/50.
162
RTJ87/50.
164
RE n2 135.195- 161., unârlime, Ac. de 06.08.91.
65
HC n (36.204-SF - DJde 3.6.88, p. 13607. ' RTJ 137/909.
165
HG n2 65.385 - DJde 23.10.87, p. 23156. DJ.de 18.12.81, p.12.941.
110 CélioLobão Direito Penal Militar 111

Na primeira das modalidades supra, a lei nao exige bern pertencente ao VI, da Constituição); como tal não se confunde corn a ordem administrativa
patrimônio militar, sendo suticiente que esteja, legalmente, sob essa adminis- militar. Como conseqüência, näo pode ser objeto da tutela da Justica Militar.
tração, pot determinaçao de autoridade competente, inclusive de urn dos três 24. Crimes Dolosos contra a Vida. VItima Civil - Inovacao introduzi-
Poderes da Repi.iblica. da pela Lei n° 9.299, de 7 de agosto de 1996, acrescentando paragrafo imnico
Por outro lado, patrimônio sob administração militar ni'io se confunde ao art. 92: "Parágrafo iinico - Os crimes de que trata este artigo, quando dolo-
corn aquele pertencente a entidade privada, embora composta de militares e sos contra a vida e cometidos contra civil, serào da competência da justica
funcionando em local sob administraçao militar, como decidiu, na Ap. n comum".
33093, o Superior Tribunal Militar: 0 Superior Tribunal de Justiça, em acórdão proferido no CC. n° 17.665,
sustenta que a norma é de "contetIdo material. Não lei processual penal". E
não cabe a Justiça Militar conhecer de fato que atenta contra o patrimônio de pros se g u e
uma sociedade civil, ainda que composta de militares e tenha seus servicos de
beneficéncia instalados em local sujeito a administraçao militar". 69 "quando a lei determinar que a delito deixarâ de ser julgado pela Justica Mili-
tar, lógico, desqualifica-o da natureza anterior. Vale dizer, deixou de ser crime
No que diz rcspeito a ordem administrativa militar, segundo decidiu o militar para ingressar na regra geral - crime comum".
Supremo Tribunal Federal. são infraçOcs que atingem a organização, existCri-
cia e finalidade das Forças Armadas, bern corno 0 prestIgio moral da adminis- 0 enunciado do acdrdão dernonstra inequIvoca adoção da doutrina pro-
traçAo rnilitar.17° Refere-se a atividade da instituição militar na consccução de cessualista: crime militar é aquele julgado pela Justica Militar. A contrario
senso, se a crime não éjulgado pela Justica Militar, é coinuni.
suas finalidades legais e constitucionajs e, adotando a ensinamento de Manzi-
No inhcio deste livro demonstramos a ausência de suporte cientIfico
ni, diz respeito ao normal funcionamento, ao prestIgio, decoro funcional e
dessa doutrina, cujos alicerces não encontrain apoio no direito pasitivo brasi-
respeito devido a instituição militar.171
leiro. Passando a questão praposta: a art. 124 da Constituição preceitua que
Coma cxernplos de delitos contra a ordem administrativa militar: a ex- compete a Justica Militar processar e julgar os crimes militares definidos em
CCSS() de exação (art. 306 do CPM); prevaricaçao (art. 319 do CPM); extravio
lei. Quais silo esses crimes? São os que se encontram tipificados no Codiga
de livro oficial (art. 320 do CPM), falsidade (art. 311 do CPM, cf. HC n Penal Mililar, corn atendirnento aos requisitos das alIneas dos incisos do art.
49.293, RTJ 64/586), corrupção passiva (art. 308) e ativa (art. 309), alérn de
92, e, dcntre esses, as crimes dolosos contra a vida praticados par militar con-
outros.
tra civil.
Scm nenhuma razão Romeiro, ao expor que "os crimes contra a ordern Para nãa alongar a discussão da matéria, recorremos a recente decisäo
administrativa militar são os elencados nos TItulos VII e VIII que tratam, res- da Suprema Carte. 0 Supremo Tribunal Federal, no RE n° 121.124, acentua
pectivamente, dos crimes contra a adrninistração militar e dos crimes contra a que, em conformidade corn a atual Constituiçäo, "a tipificacao de delito mili-
administraçao da Justiça Militar.172 Primeiro, além dos crimes contra a admi- tar em sentido impróprio ha de adequar-se a elementos e circunstâncias que
nistração militar (arts. 298 a 339), outras infraçOes penais tipificadas no Códi- justifiqueni essa definição auráve1 em funçao dos valores e bens penalmente
go Penal Militar atentam contra a ordem administrativa militar, como promo- tutelados pela legislacao penal militar".
vet ou facilitar fuga de preso (art. 178), desohediCncja (art. .01), insubmissäo Em continuação, remarca de forma precisa:
(art. 183), substituir convocado (art. 185), favorecimento a insubmisso e a
de.sertor (arts. 186 c 193), crc . Segundo, crimes contra a aclrninistraçao da Jits- "E a crime militar, comissivel par agente militar ou civil, sO existe quan-
do a autor procede e atua nas circunstâncias referidas no art. 99 do COdigo
rica Militar não ofcndem a ordem administrativa militar. A ningudm é lIcito Penal Militar".173
desconhecer que a Justiça Militar d urn dos órgâo do Poder Judiciaho (art. 92,
Ora, os crimes dolosos contra civil se moldern, perfeitamente, a ele-
'69 tnentos e circunstãncias justificadoras da definição de crime militar, em raziio
UC
DJde 07.08.63, p. 674.
HG n6 39.412, RTJ24139.
'' In Magalhaes Noronha, Dir. Pen. v. 4, p. 219.
172
Jorge Alberto Romeiro, Curso, p. 82. ' RTJ1321924.
112
qw
CélioLobão
Direito Penal Militar 113

do interesse da administração castrense de incluI-los no elenco dos crimes


25. Agente Civil - Rompendo uma orientaçao que vem da Constituição
militares, quando cometidos por militar em servico ou no interior do estabele-
cimento militar. Logo, se o fato delituoso ajusta-se a descricão tIpica do art. de 1934, a atual Carta Magna (art. 124) não mais se refere aos sujeitos do
205 e a ele se agregam as circunstãncias de local sob administraço militar ou delito militar, defenndo ao legislador ordináno, no caso do Código Penal Mi-
de agente militar em servico, o crime classifica-se como militar. litar, a competência para incluir ou não o civil como agente do crime militar.
0 parágrafo iInico do art. 92, de conteiido processual penal militar, ao Diante da permissão, o Codigo Penal Militar enumera, no inciso 111, os CaSOS
proclamar, na regiäo árida da inconstitucionalidade, que compete a Justiça em que o civil ingressa como sujeito ativo do crime impropriamente militar.
comum processar e julgar os crimes militares dolosos contra a vida praticados Essa perrnissão, no entanto, não se estende ii Justiça Militar estadual.
por militar contra civil, evidentemente, violentou as normas cxprcssas nos arts. Corn efeito, a norma processual penal militar, expressa no art. 125, § 42, da
124 e 125, § 42, da Constituiçao. Inconstitucionalidade cristalina. Constituição, limitou a competência da Justiça Militar estadual para processar
Ao crime doloso contra a vida acrescenta-se, a descriço tIpica, urn plus e julgar, exclusivamente. o policial militar e o bombeiro militar, nos crimes
militares definidos no Código Penal Militar.
que, na espécie, é local do crime sob adrninistraçao militar ou a condiço de
Diante da lirnitação constitucional irnposta a Justica castrense estadual,
militar em scrvico, do sujeito ativo. Se o fato delituoso se amolda a descricao
sempre que fizermos mncncão a civil, corno sujeito ativo do delito militar, es-
tIpica e atende aos requisitos das ailneas b e C do inciso H do art. 9, eviden-
tarnos nos referindo as infraçOes contra as Forcas Arinadas, portanto ao crime
temente o crime é militar e esse crime, nos termos dos arts. 124 e 125, § 49, da
rnilitar da competCncia da Justiça Militar federal.
Constituiçao, é da compctência da Justica Militar federal e estadual, respecti-
0 inciso HI menciona, ao lado do civil, o militar da reserva e o reforma-
vamente, sendo defeso a legislaçao ordinária, sem atropelar a Lei Maior, trans-
do, que são civis, para efeito da aplicacao do Código Penal castrense, pois näo
ferir esse delito da competência da Justica castrense, para a cornurn - incons- estao incorporados as Forcas Armadas, a PolIcia Militar e ao Corpo de Born-
titucionalidade flagrante, repetimos, que os Tribunais se recusam a reconhe- beiros Militares. Como excecão, o militar da reserva, convocado para o serviço
cer. ativo, adquire a condicao de militar.
Recapitulemos, para que nao reste dth'ida: a) a Constituicao enuncia A alInea b inclui corno ofendido o assenielhado, o funcionirio de Mi-
que compete a Justica Militar federal e estadual julgar os crimes inilitares nistério militar e da Justiça Militar, no exercIcio de funçao inerente aos seus
definidos em lei (art. 124 e art. 125, § 42); b) OS crimes dolosos contra vida cargos. Quanto ao asserneihado, hS mais de meio século não cxiste essa cmi-
cometidos contra civil, por militar, em local sob administracao militar, ou em dade no direito brasileiro, embora legisladores, julgadores e doutrinadores,
serviço é crime militar (art. 205, c.c. o art. 99, II, h a d); c) a lei ordinária não ignorando a legislação pátria, continuern insistindo em mencioná-lo, num
pode suprimir a competência da Justiça Militar para processar e julgar os de- desserviço ao estudo do Direito Penal Militar brasileiro.
litos militares definidos em lei, inclusive os crimes dolosos contra a vida pra- Quanto ao servidor piblico civil botado em repartição militar e o da
ticados por militar contra civil, nas circunstâncias expressas nas alIneas h a d Justica Militar, a inconstitucionalidade é flagrante. Segundo a atual Constitui-
do inciso II do art. 92 cão (art. 109, IV) e a Ernenda Constitucional de 1969 (art. 125, IV), sob cuja
A lei n2 9.299/96 nao retirou os crimes dolosos contra a vida da cate- dgide foi editado o COdigo Penal Militar, compete a Justiça Federal conhecer
goria de crime militar; corno consequéncia, nao podern ser julgados pela dos crimes praticados contra servidor p6b1ico federal, no exercIcio da funçao
Justiça comurn, sern violaçao da Lei Fundamental. Se não houvesse 0 açO- de seu cargo. Logo, nesse particularo inciso Ill ji nasceu inconstitucional.
daniento de fazer-se urna lei para dar satisfação as organizaçöes não gover- Corno estainos tratando de inconsmucionalidadc, é o que acontece corn
namentais, para satisfazer interesses cleitoreiros, a redacao do parigrafo o art. 82, 11 do Cddigo de Processo Penal Militar, sujeitando ao foro militar,
ünico seria outra: "Não se consideram militares, os crimes dolosos contra a "nos crimes funcionais contra a adrninistraçao militar ou contra a adininistra-
vida, cometidos nas circunstncias das alIneas b, c. e d do inciso 11". Nessa ção da Justiça Militar, os jufzes-auditores, os mnembros do Ministério Priblico,
hipótese, a lei (leclara (e pode faze-b) que esses delitos deixarn de ser mi- os advogados de ofIcio e os funcionth'ios da Justiça Militar".
litares. Dessa mancira, as int'raçOes penais escapam da cornpetência da Os juIzes-auditores são processados e julgados pebo Tbunal Regional
Justiça militar, sem inconstitucionalidade. Federal (art. 108, 1, a, da Constituição); o juiz-auditor corregedor, pelo Supe-
rior Tribunal de Justica (por aplicação do art. 105, 1. a, e ressalva do art. 108,
114 Cello Lobão Direito Penal Militar 115

I, da Constituicäo); os membros do Ministério Piiblico, conforme o caso, pelo se, teria combinado a norma constitucional corn o inciso I, a (refere-se a asse-
Superior Tribunal de Justiça (art. 105, 1, a, da Constituicao) ou pelo Tribunal melhado), e não corn o inciso H (refere-se a funciomirio da Justica Militar),
Regional Federal (art. 108, 1, a, da Constituicao) e os servidores da Justiça ambos do art. 82, do CPPM. Nem no tempo do lmpério funcionário da Justiça
Militar, pelo juiz federal (art. 109, TV, da Constituicao). Militar era considerado assemeihado! A sujeiçäo desse servidor a justiça cas-
E bern verdade que o Supremo Tribunal Federal, em julgamento datado trense, como ressaltamos acima, agride a Lei Fundamental em vigor a época,
de 23.11.73, reconheceu a competência da Justica Militar para processar e como acontece corn a atual.
julgar servidor dessa justica especializada, por haver, mediante pagamento, Realmente, o serventurio da Justica Militar era e continua sendo fun-
fornecido certidOes negativas a candidatos a cargos eletivos e a cargos ptIbli- cionário pOblico civil federal do Poder Judiciirio e, nos crimes praticados
cos. no excrcIcio do cargo ou em razão dde, não estava neni está sujeito a Justi-
A decisão, secundada pelo parecer da Procuradoria Geral, violou fla- ça Militar. 0 acórdäo violou a Constituicao, ignorando a princípio do juiz
grantemente a Constituiçao da época. como agrediria a atual, sendo oportuno natural, do juiz legal, já consagrado na Carta Magna do lmpório, no n II do
destacar o engano cometido pelo citado pareccr, em matéria processual penal, art. 179: "Ninguém será sentenciado senilo pela autoridade conipetente, por
ao sustentar o não conhccirnento da alcgaçäo de incompetencia da Justiça virtude de lei anterior, e na forma por cia prescrit.a".
Militar para o processo, porque "so no recurso feita". Retornando ao agente civil. silo militares os crimes de que tratam OS 10-
Ocorre que o objeto da questão era a falta de jurisdiçao do juiz militar cisos I e II, quando praticados por civil, desde que atendidas as circuristiliicias
perante o qual o réu estava sendo processado e essa matOria pode ser alegada do inciso III seguintes:
em qualquer fase do processo, inclusive em recurso de habeas corpus, poden- patrirnonio sob administraçäo militar (alIn. a);
do a Corte Suprema reconhecê-la de ofIcio, como conetamente decidiu o Su- ordem administrativa militar (aim, a);
premo Tribunal Federal, em outro acórdào ao declarar que "é nenhuma a sen- lugar sob administraçao militar contra militar (alIn. b);
tenca proferida pela Justica Militar Estadual, a falta dejurisdição "'fl militar em funcao de natureza militar (aiIns. c e d);
Retornando ao caso do servidor da Justica Militar, o voto do Relator do militar em serviço de vigilância, garantia e preservacão (Ia ordern,
acdrdão unânime da 21Turma, proclama: quando legalmente requisitado para esse firn, ou em obediência a ordein legal
superior (alin. d).
"A competência da Justiga Militar para processar o paciente, ora recor- 26. Patrimônio sob Administração Militar - A primeira parte da all-
rente, tenho por irrecusável, frente aos termos do art. 129, caput, da Constitui- nea a do inciso 111, acima referida, classifica como militar a crime cornetido
ção, em combinaçao corn o art. 82, II, do COdigo de Processo Penal Militar, e
308, § i, do COdigo Penal Militar".175
pelo civil contra o patrimônio sob administracao militar. Conforme afirmamos
anteriormente, a lei no exige patrimOnio pertencente a administracao militar,
Ocorre que o art. 129, caput, da Constituiçâo da ópoca, dispunha que "a satisfazendo-se, apenas, corn o fato de o patrimônio encontrar-se legalmente
Justica Militar compete processar e julgar, nos crimes militares definidos em sob essa administração.
A anna privativa de militar, apesar de adquirida na unidade militar, não
lei, as militares e as pessoas que ihes são assemeihadas".. Como a servidor da
se inclui dentre as bens sob adrninistracão militar, como decidiu o Superior
Justica Militar não era e não é militar nem assemeihado, agride a Constituiçäo
Tribunal Militar:
a julgamento desse servidor, pela justica especializada, como igualmente viola
a Lei Fundamental o art. 82, IT, acirna citado. que trata da sujeico ao foro
"Arma comprada pelo Ministério da Marinha e vendida a oficiais da Ma-
militar do funcionário da Justica Militar. rinha para a defesa pessoal. Sua apropriação por parte de terceiros, nao
A tItulo de curiosidade, o acórdão socorreu-se da Constituiço para constitui crime militar".176
classificar o servidor da justica castrense corno assenielhado, mas, ao descer a
nIvel infraconstitucional, abandonou essa classificaçao porque, se a mantives- Coin muito mais razão, "a material ou aparelhamento de guerra ou de
utilidade militar, ainda que em construcão ou fabricacao, ou em efeiios reco-
114
HC n2 61 .662-SP - DJ de 08.02.80, p. 603.
RTJ 69/696. 17 Ap. n33.289, DJ/GB, de 23.10.63, p. 971.
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Ihidos a depósitos" não pertencentes as Forças Armadas (art. 262 do CPM). grafo Unico do art. 124 da Constituiçao Federal, o art. 99, 111,"a", do COdigo
Não integram o patrimônjo militar, nem estäo sob essa administração. 0 fato Penal Militar, e o art. 11, § i, da Lel n9 4.375, de 17.8.1964.180
de tratar-se de bern de uso privativo das Forças Armadas nao atende ao requi-
sito legal. A lei exige que se trate de bern legalmente sob administraçao mili- Em complernento, leiarn-se os comentários a alInea. e, 2A parte, do mci-
tar. so IT.
27. Ordem Admjnjstratjva Militar - 28. Local sob Administraçao Militar - 0 local do delito sob adrninis-
A ordem administratjva militar é
o requisito do crime militar, expresso na alInea a do inciso 111. tracao militar, acrescido do ofendido militar. 6 o requisito do crime militar,
Crime contra a ordem administrativa militar é o que atinge a organiza- constante da ailnea h do inciso III. Como acontece no requisito anterior, ncstc
ção, a existência, a finalidade das Forças Armadas e seu prestIgio moral.' 7 não é exigido que o local integre o patrimônio militar, sendo suficiente que se
Nesse mesino sentjdo, o RE n 121.124-RJ, ao considerar crime contra a or- encontre legalmente sob essa administração.
Trata-se do critério ratione loci, acrescido da condiçao de niilitar do
dem administratjva militar, a cornipço ativa praticada por civil contra niilitar
(RTJ 132/9 17). 0 então Tribunal Federal de Recursos. por sua ofendido, subordinado, no entanto, ao critério ratione legis, que. conforme
vez, dccidiu
ressaltamos anteriormenie, preside a classificação do ciime militar.
que "configura crime militar contra a ordem adrninistrativa militar pretender
Portanto, em conformidade coni a alInca 1,, inciso III, é militar o crime
valer-se da organização militar. invocanclo condição falsa de militar, para oh-
definido no Código Penal Militar, comericlo por civil, em local sob adminis-
ter vantagein pessoal ou em favor de sua famflia. Competência da Justica Nli-
litar".178 0 Superior Tribunal Militar entendcu que não "pratica crime militar tracao rnilitar. A a]Inea h refere-se, ainda, a funcionririo de Ministério Militar,
como ofendido. IndiscutIvei a inconstitucionalidade, conforme vem exposto
quem cobra, indevidamente, quantia para fornecimento de docurnento não retro. E rnais urna tentativa inconstitucional e absurda de pretender ampliar o
militar, embora feito para fins militares"179
alcance do crime militar, algumas vezes bern sucedida, como aconteccu no
São crimes contra a ordem adrnjnjstratjva militar cometidos pelo civil,
crime praticado por servidor da Justiça Militar, objeto de comentririos anteno-
além dos que serão objeto de comentários na Parte II deste livro: ato obsceno res.
(art. 238); distribuir objeto obsceno (art. 239); corrupção ativa (art. 309); par- Ao deferir ao iegislador ordinririo a competência para definir o crime
ticipação ilIcita (art. 310), se iião houver dano ao patrinjônjo militar, porque, militar, a Constituicao não ihe conferiu "a franquia de criar, arbitrariamente,
nessa hipótese, o crime 6 contra o patrimônio; falsificação de documento mi- figuras de infração penal militar, estranhas ao que se possa conceitualmente
litar (art. 31 1); falsidade ideologica (art. 312); certidão ou atestado falso (art. admitir como tal".18 ' A circunstância da funçao pclblica exercida em repartiçäo
314), se não houver dano ao patrimônio militar; uso de documento falso (art. militar, não transforma em militar o crime cometido pelo servidor pCblico civil
315); supressäo de documento (art.316); uso de documento alheio (art. 317); ou contra dc, ainda que se encontre em exercIcio da funçao ou em razão deJa.
falsa identidade (art. 318); vioiacão de correspondêncja (art. 325); obstáculo a A ici penal castrense tutela as instituiçöes militares, o que não pode ser
hasta pCblica (art. 328); abuso de confiança (art. 332, caput); patrocInio iiIcito estendido a servidor piThlico civil, mesmo no exercIcio de funcao em reparti-
(art. 334), se não houver dano ao patrimônio militar; trifico de influência (art. cão militar e muito menos a srvidor do Poder Judiciário. A competência 6 da
336), se não houver dano ao patrimônio militar; subtração ou inutilização de Justica Federal.
livro (art. 337); inutiiizaçao de edital oii sinai oficial (art: 338). Em conformidade corn a alInea h do inciso III, 6 militar o crime defini-
A 11 Turma do Suprerno Tribunal Federal, em acórdão unãnime no FTC do no Codigo Penal Militar cometido em local sob administraçiio militar, por
n 73.602, decidiu: civil exclusivamcnte contra rnilitar,
0 local sob administração militar ingressa como cleinento do tipo, nos
"Caracteriza-se, em tese, como crime militar o de concussão, quando crimes de desacato a servidor pi.iblico civil (art. 300) c (IC revelaçAo de segrcdo
praticado por funcionário püblico municipal, agindo na qualidade do Secretário (art. 230). Mais una tentatia de militarizar, indevidamcnte, o crime cornum.
do Junta de Serviço Militar, em face do que conjugadamente dispOem o pará-
Quer seja praticado em local sob aciministraçio militar ou rião, a revelaçao de
117
HC n9 39.412, RTJ24/ 59.
176
179
CC n2.508-CE, Pleno, rnaioria, DJde 05.11.75, p. 8150. ° Ement., vol. 0186501, p.p 161.
Ap. n6 31.350, DJde 06.12.61, p. 766. 61
RE 121.124.
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segredo de quem tern ciência em razão de função ou profissão, ocasionando "... não e qualquer serviço, exercido por militar, que qualifica o ato praticado
por civil como crime militar; d necessmirio que a vItima esteja, efetivamente.
dano a outrem (art. 230), não é crime militar, pois escapa do objeto da tutela
exercendo serviço de natureza militar, tab como o define a Constituicao da
da lei penal castrense o segredo de particulares. Poder-se-ia admitir a ocorrên-
cia de crime militar, se o agente e ofendido fossem militares. Quanto ao desa- Repilbbica, art. 91, pois so, então, o delito terá atentado contra as instituiçöes
a parte final do
cato a servidor pciblico civil (art. 300), o crime nao é igualmente militar, corno militares".182 0 art. 91 era da EC. n 1, de 1969, ecorresponde
art. 142 da atuab Constituicao)
foi esclarecido retro.
Como se ye, a Corte Suprema restringe o conceito de função de nature-
Formatura. Prontidão. Vigilãncia, etc. - A ailnea c enumera mi- za militar, assim corno acontece no HC n 68.928, da 2 Turma do mesmo
litar em formatura ou durante o perlodo de prontidio, vigilância, observação, Tribunal, clue, reforinando decisão do Superior Tribunal Militar, reconhece a
exploracão, exercIcio, acampamento, acantoflalfleflt() ou manobras. lgar trCs agentes da
incompetencia da Justiça Militar federal para processar e ju
Voltanios a criticar o propósito dos autores do decreio-Iei de. incansa- PolIcia Federal e urn Auditor-Geral da Fazenda, que teriam ameaçado e desa-
velmente, procurarem ampliar o conceito do crime militar. Ao faze-b, ingrcs- catado integrarites do GnipamentO de PolIcia Naval da Capitnia dos Portos,
sam no campo da inconsutucionalidade, afroritando a Lci Major. Corn efeito. a impedindo a inspeco do barco a motor utilizado pebos acusados.
permissäo concedida ao legislador ordinario nibo o o autoriza a d COfllO
0 acórdão da Corte castrense no foi unanime. 0 tinico voto vencido,
delito rnilitar conciutas que näo guardarn qualquer identiclade corn o bern jurI- acompanhando a oricntacao do RCr. n 1.395. expOe que, "sabidamente. alimis,
dico tutelado, ou seja, as instituiçöes militares. funçöes dc natureza militar que qualifiquem o ato praticado por civil ConlO
0 crime praticado por civil contra militar nao recebe a classificacão de crime militar, necessariamflCflte hão de ser desempenhadaS por militares. Ja-
militar, pela circunstância iinica de haver sido cornetido durante o perIodo de mais por civis".''
prontidao, vigilncia, observação, exploracão, cxercIcio, acampamento, acan- Na esteira do voto vencido, sustenta a Procuradoria Geral da Repciblica.
tonamento ou manobra, e dos quais o sujeito passivo deles não participa por "sendo o policiamento naval atnibuição, não obstante privativa da Marinha de
qualquer motivo. Nessa hipótese, nenhuma ofensa existe ao objeto da tutela da Guerra, de Indole subsidiária, por força de lei, no d possivcl, per sua Indole,
lei penal castrense. caracterizar essa atividade como função de natureza militar. Seu excrcIcio
Mantendo-se dentro dos limites da constitucionalidade, os requisitos a pode ser cometido, tainbém, a servidores não militares da Marinha de Guer-
serem considerados so formatura, prontidäo, vigilincia, observaço, explora- ,
ra
cao, exercIcio, acampamento, acantonamefltO 01.1. manobra, dos quais o militar 0 parecer do Ministério Pühlico Federal foi adotado peba 2 Turma e
encontra-se participando, efetivarnente, no momento do crime. Todos des transcrito na enienta do acórdão: "Sendo o pobiciamento naval atribuiçao, não
dizem respeito a preparacao da tropa, para cumprimento da destinação cons- obstante privativa da Marinha de Guerra, de caráter subsidiário, por forca de
titucional, e as atribuiçoes legais, incluindo-se a prontidão que é uma situaçäo lei, não é possivel, por sua Indole, caractcrizar essa atividade como funçäo de
de alerta, durante o estado de defesa, de sItio (arts. 136 e 137 da Constituicao), natureza militar, podend,o seu exercIcio ser cornetido, tambCm, a servidores
ou em situaçöes especiais de calamidade, sinistro de grandes proporçöes, co- não militares da Marinha e Guerra". 5
moção interna, visita de chefe de governo estrangeiro, etc. No entanto, essa orientaçao nao encontra unanimidade na Corte Supre-
No desempenho dessas atividades, o militar encontra-se em serviço, OU ma neni na Procuradoria Geral da Repéblica, como vem dernonstrado no
meihor, em funcao de natureza militar, contemplada na alInea 1, tornando-se acdrdão proferido no RE n' 121.124, cuja ação penal tinha corno objeto o
desnccessária a enumcracão da alInea c. larnentável naufrágio do Bateau Mouche, no Rio de Janeiro. de grande reper-
Função de Natureza Militar —Nos termos da a]Inca d, 1 parte, do cusao nacional. A espécie era de corrupçao ativa praticada per civil, corn 0
inciso III. combinado corn o iiiciso H, classifica-se como militar o crime corn firn de obter do sargento encarregado do policiarnento naval, a liberacão cia
igual definicão na lei penal comum e na lei penal militar, quando praticado
por civil contra militar no exercIcio de funco de natureza militar.
182
RTJ 120/554.
A norma penal exige que o militar excrça funço de natureza militar. 183
RTJ 138/575.
cxcluindo outro scrviço que náo se ajuste ao conceito da referida funcão. Nes- I4
RTJ 138/578.
se sentido o voto do Relator do RCr. n 1.395, do Supremo Tribunal Federal: '' RTJ 138!570.
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lancha que estaria conduzindo passageiros acima de sua capacidade. 0 Tribu- ral nio reconhecem a natureza militar da funçao de polIcia naval, por se tratar
nal de Justiça do Rio de Janeiro e a V Turma do Supremo Tribunal Federal de atribuiço de Indole subsidiária, e tambérn porque pode ser exercida par
entenderam, acertadarnente, que o crime era militar. servidores näo militares do Ministério da Marinha.
0 parecer da Procuradoria Geral da RepiIblica, aceito pela Turma, es- Nada mais irrea]. Essa linha divisória não tern aiicerce suficiente para
clarece que não "cabe, aqui, o argumento do recorrente de que a funco exer- sustentar-se. A distinçäo entre atribuiçoes principais e secundánas, a primeira
cida pelos sargentos da Marinha faz-se própria, exciusivamente da Poilcia de origem constitucional e a segunda de fonte legal, no trazem corno conse-
Federal", pois o "preceito inserto no art. 144, § l, da Constituicão Federal, qUência o reconhecimento de que sornente as primeiras Sac) de natureza mili-
que estabelece as atribuiçoes da PolIcia Federal, corn pertinência a cia sujeita tar, mesmo porque a própria norma constitucional (art. 142) coloca em posiçäo
o controle da vigilância marItirna, aérea e de fronteiras porque nestas situacöes de igualdade as atribuicoes principais (defesa da Pátria e garantia dos poderes
está-se sempre a considerar o território nacional, e nao parte própria de unida- constitucionais) e as secundirias (garantia da ici e da ordern).
de federada, quando ento o controle policial deslocar-se-ia a esfera estadual. Se a Constituiçao n5o distingue, se a lei igualmente nao estabclece dis-
Mas isso nada tern a ver corn a fiscalizaçiio que pracas da Marinha, no ârnbito tinçao, é defeso ao intérprete faze-Jo.
inerentes as suas funcoes de vigilncia na Capitania dos Portos, desernpenharn A assertiva de que ndo é atrihuicao militar a que pode ser exercida,
sobre o controle de embarcaçoes e trajetos que cumprem".'86 igualmente. por civil, nao est6 em consonncia corn a realidade atual clas cor-
Segundo o voto do Relator, a espécie é de crime contra "as instituiçöes poraçöes militares. A sofisticaçibo cada vez rnaior dos equipamentos bélicos
militares, cuja protecao é urn dos objetivos ldgicos, naturais da tutcia penal obriga as forcas armadas a contar corn a colaboração de cientistas e técnicos
militar, nela inscrevendo-se o crime contra a administracao naval, de que ora civis, para treinarnento de militares, para rnanutençao e, aigumas vezes, opera-
se cuida. (art. 309 e paragrafo ünico do CPM) . lR7 çibo de tais equiparnentos. Na linha do raciocInio exposto, chegarlamos ao
Ao adrnitir a ocorrência de crime de corrupção ativa, obviarnentc a absurdo de verificar se a exercIcio desta ou daquela atribuição pode "ser cc-
Turma aceitou a tese da Procuradoria Geral da Repiiblica de que o militar mctido, tambéin. a servidores näo militares" para, então, determinar se a fun-
encontrava-se no exercIcio de funcao de natureza militar. ção é ou não de natureza militar.
Corn efeito, a descriçao tIpica do art. 309 (corrupcao ativa) cxige o ato A destinacão constitucional das Forcas Annadas nao veda ao Iegisiador
funcional e, na espécie sub exwnine, esse ato era de polIcia naval, era funçiio
ordi nário conferir-ihe determinadas atribuicoes, próprias de corporação milita-
de natureza militar, como consta do parecer da Procuradoria. Se assim não
rizada. E o que acontece corn o policiarncnto naval, adrco c de fronteira, "no
fosse, isto ó, se no se tratasse de funçao de natureza militar, o crime seria
ãrnbito inerente as suas funçoes de vigilância" que "desempenham sobre a
comum, como sustenta a defesa, expondo, na linha do raciocInio do acórdão
controle de embarcacoes e trajetos que cumprem",189 bern corno sobre o con-
anterior, que "a administracao do .transporte sobre a água, ainda quando exer-
cida pela Marinha corno decorrência de sua especialidade, 6 atividade piiblica trole de aeronaves e de outros transportes tenestres especIficos.
e nao necessariarnente militar". Essa tese foi contestada, corn propriedade, No inIcio dos anos 60, 0 Exército foi incumbido de reprmir o contra-
pelo ilustre Desembargador do Tribunal a quo, Adoiphino Ribeiro, ressaitan- bando de café na fronteirae essa atividade recebeu o reconhecimento dos Tn-
do que "o sujeito passivo, no caso, estava legalmente investido no exercIcio da bunais como função de natureza militar, resultando na condcnacäo, pela Justi-
funçao de poilcia naval, não atuando motuproprio mas por determinacao legal ça Militar, de civis que cometeram delitos contra militares, no desempenho
superior", ' no exercIcio de funcão de natureza militar atrihuIda por ici no dessa missão. Na atualidade, a Aeronáutica, par deterrninacao legal, opera a
integrante da corporação castrense. a Marinha de Guerra. base de lancamcnto de foguetes, na cidade de Alcântara, Maranhão, onde mi-
0 voto vcncido no habeas corpus impetrado perante a Superior Tribu- litares realizarn atividades, juntarnerite corn civis, que, no futuro, poderão en-
nal Militar, mencionado no HC n 68.928, supracitado, o parecer da Procura- carregar-se da operação completa da base. Será que as funcoes desscs milita-
doria Geral da Repüblica e a acordao da 2-Turma do Supremo Tribunal Fede- res não são consideradas de natureza militar, par serem executadas igualmente
par civis?
RTJ 132/921.
RT,i 132/922.
RTJ132/921.
HTJ 132/919.

rl
122
Cello Lobâo Direito Penal Militar

No ha, igualmente, corno deixar de reconhecer a natureza militar da


rnissäo atnbuIda aos integrantes das Forças Armadas de cuidar da segurança defesa da lei e da ordem, no dizer de José Alfonso da Silva, do qual se socot.-
reu o acórdão proferido no mais uma vez mencionado HC n° 68.928.'°
de personalidades estrangeiras que participaram, no Rio de Janeiro, de con-
gresso relacionado corn a ecologia. No e No entanto, ninguém vai sustentar que, por falta de previsão espccItica
o caso de garantia da lei e da ordem,
que não estavarn arneaçadas, e sirn de segurança pessoal dos congressistas. no art. 142 da Constituiçao, essas funçoes não tern natureza militar. Coni
Função, segundo Hely Lop. s Meirelles, e a "atribuiçao ou o conjunto de efeito, as funçoes referidas revestern-se de natureza militar, em decorréncia
atribuiçoes que a Adminisiraçao confere a cada categoria profissional."° dos dispositivos legais autorizadores do emprego das corporaçoes militares,
Portanto, a funçiio de natureza militar é o conjunto de atribuiçoes conferidas, nas missöes supra mencionadas e em outras, desde que nib afrontem a Cons-
por disposiçao legal ou por tituiçäo.
deterrninacao de autorjdade compctente, ao militar
federal ou ao militar estadual, na condição de integrante de corporação mdita- A natureza militar da funçao, conferida por lei, caracteriza-se pelo em-
rizada. Essa arribuiçao não se restringe, como entende o Relator do HC prego da instituição militar, em rnissao especificada em lei, missão essa que,
68.928, a atividacle bélica contra "agressécs estrangeiras em caso de guerra n
diante da realidade do momento da ediçao do preceito legal, apresenta-se
extema e, por outro lado, defesa das instituiçocs deniocthticas", mas também, como necessaria sua execuçao pelas Forças Armadas ou pela PolIcia Militar.
as dcnoniinadas "atribuiçoes suhsidiirias, cnn-c elas o excrcicjo da policm embora acontecimentos subsequcntes dispensem o uso da forca armada, subs-
naval"9 ' e outras tantas. tituindo-a por servidores civis.
Trata-se de interpretaçao excessivarnente restritiva do papel das forças Convém não esquecer que a função de natureza militar decorrente de lei
armadas através dos tempos e no rnundo atual. InconcehIvel admitir-se as encontra respaldo constitucional, precisarnente no § 1° do art. 142, e na Lei
Complernentar n° 69/91, autorizadores de missöes relativas
nossas Forças Armadas enclausuradas nos estabelecimentos militares, cinpe- a marinha mer-
nhadas, tinica e exclusivarnente, a preparaçao bélica de seus integrantes, para came, a aviação civil e de outras naturezas, a integrar tropas da ONU, corn
repelir remota invasao de hipotetico inimigo ou aguardando a ocorrência de observncia dos princIpios constitucionais, em geral, e, em particular, dos
fatos graves que ponham em perigo os poderes constituIdos, a lei e a ordem. princIpios fundarnentais expressos nos arts. 1° a 42 da Constituiçao, respeitan-
Ao contrário, as Forças Armadas integrain-se na estrutura da adminis- do, ainda, os direitos e garantias consagrados flOS arts. 5° a 17 da Lei Major.
traçao pb1ica e a elas São Função militar constitui atribuiçao do cargo militar. Funçao de natureza
conferidas, por lei, atribuiçoes para consecuço de
fim de interesse da coletjvjdade 192 militar C atribuiçao especIfica conferida por lei ao militar, como integrante das
Nessas atribuicoes inclui-se a polIcia na-
val, aérea e a de fronteira, a segurança de personal jdades estrangeiras, ativida- Forças Armadas, exercitadas corn as caracterIsticas prOprias de instituiçAo
des pertinentes a prestação do serviço militar, alérn de outras, que podem ser militar, sobrelevando-se o poder legal conferido a autoridade militar, a hierar-
exercidas, igualmente, por civil. quia, a disciplina.
Como se näo bastassem os argumentos expendidos, fatos concretos es- Portanto, a funçao de natureza militar distingue-se de outro serviço do
tao a demonstrar a inconsistêncja do entendirnento expresso no jC citado HC qual C incumbiclo o militar, serviço esse que não é próprio de integrante de
n 68.928. Corn efeito, não ha como negar natureza militar a funçao de polIcia organizaçao militar, conquahto seja indispensavel ao funcionamento, a manu-
naval, realizada na costa brasileira pela Marinha de Guerra, para coibir ativi- tenção, a própria existCncia da corporaçéo castrense. Assim sendo, encontra-se
dades ilegais de embarcaçao estrangeira ou brasileira. 0 mesmo pode ser dito em serviço, o militar que realiza a limpeza, a manutençao do estabelecimento
em relaçao as tropas brasileiras a serviço da ONU em pals estrangeiro, assim
militar, a aquisição de gCneros alimentIcios e de outros hens, preparo de refej-
como pode ocorrer o envio de unidades militares brasileiras, para mantcr a cöcs. rccuperação e rnanutenção dos nieios de transportes militares, alérn de
segurança em território disputado por dois ou mais paIses. outras atribuiçoes dessa espCcie.
Nos exemplos supra, não se trata de missäo de "defesa da Pátria, e a ga- A distinção entre função de natureza militar e serviço assume relevância
rantia dos poderes constituldos", nern da missão subsidiárja e eventual (In porque somente a prn1eira ingressa como requisito suficiente para classificar
como militar a delito praticado pelo civil contra inilitar, em conformidade coni
'99
He!y Lopes Meirejtes, Dir. Adrn. Bras., P. 361, 17. ed. a aimnea d, l parte, do inciso ill, c.c. o inciso IT, 2 parte. - do art. 9°. Real-
RTJ 13 8/577-578.
' José Cretela Junior, in Enciclop. Saraiva, v.38, p. 511.
RTJ138/577.
124 Cello Lobão
Direito Penal Militar 125

mente, nao é militar o delito cometido pelo civil contra militar em servico que 14 Os dirigentes da Société, preocupados corn a violência de grupos terroristas
não se ajusta ao conceito de funcao de natureza militar, nem ao de serviço de em alguns palses da Europa, nos anos 70 e 80, resolveram consultar seus as•
vigilância, garantia e preservacão da ordem. sociados do niundo inteiro, sobre essa matéria. Antes da devolução de todos os
Nesse sentido, o acórdão do Supremo Tribunal Federal que nao consi- questionários, a Revista da entidade apressou-se em publicar a sIntese das
derou como funcão de natureza militar o servico de policiamento de trânsito, respostas enviadas pela Belgica, Canada, Dinamarca, Franca, Holanda, Ingla.
executado por militares do ExCrcito, prdximo ao Palácio Duque de Caxias, no
terra, SuIça e Sudcia.
Rio,'94 o que se aplica aos militares de outras armas nessa mesma função.
Os associados dos paIses citados defendiarn o emprego das Forcas Ar-
31. Serviço de Vigilância, Garantia e Preservação da Ordem - A madas na manutenção da ordem, que era identificada como salvaguarda dos
alinea d, 111, refere-se ainda ao militar no desempenho de serviço de vigilncia, interesses do Estado e da autoridade legal, preservação das instituicöes e do
garantia e preservacão da ordem ptIblica, administrativa OU judiciária, quando Estado de Direito, garantia da aplicacão da lei, manutencão da ordem consti-
legalmente requisitado para esse fim, ou em obediência a determinação legal tucional c dos direitos fundamentais.'95
superior. A resposta que enviamos a SociCté n5o divergia do acima exposto,
Logo, é militar o crime praticado por civil cOntra militar no exercIcio mesmo porque defendemos o emprego das Forças Armadas (Exército, Man-
dessas funcoes. No entanto, indispensávcl que, no momento do crime, o niili- nha e Acronáutica), em colijunto corn a PolIcia Militar, para implantar o Esta-
tar encontre-se, efetivamente, no dcscmpenho de uma dessas missöes. poiS SC do de Direito, nas favelas do Rio, de São Paulo e, se for o caso, de outros Es-
estiver de folga, dispensado do servico, etc., o crime é comum. tados, onde a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valo-
A especie é de atribuicoes conferidas pela lei penal militar, em confor- res sociais do trabaiho e da livre iniciativa (art. 1', I a IV, da Constituicäo)
midade corn a permissão constitucional, expressa na pane final do caput do subordinam-se a urn poder paralelo aos da União, sustentado por organizacöes
art. 142 da Constituicao, segundo a qual, as Forças Armadas destinam-se "a paramilitares, dotadas de armamento de guerra.
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei Em nosso entendimento, a diferenca entre o terronismo europeu e o cri-
e da ordem". Por conseguinte, são atribuiçöcs de Indole subsidiária, que po- me organizado no Rio e São Paulo é o grau de violência, pois aqui, ainda não
dem ser exercidas por servidores civis e, apesar disso, a Constituicão as classi- tiveram necessidade de prornover cxplosäo nas cidades. La os poderes consti-
fica como funçäo de natureza militar. tuIdos, corn a força da lei, fizeram valer sua autoridade, como aconteceu na
Registre-se que, para sua validade, a requisição deve espccificar a mis- Itália, que conseguiu banir o seqiicstro, enquanto, aqui, a situaçäo permanece
são, o limite no espaco e no tempo de seu cumprirnento, cabendo a autoridade scm autoridade capaz de restabelcccr o impdrio da lei.
militar estabelecer o efetivo da tropa, o equipamento a ser utilizado e, em al-
32. Penas Acessórias. Militar - 0 Codigo Penal Militar, no art. 98,
guns casos, a oportunidade do início da missão. Outras normas constarão de trata das penas acessórias a scrern impostas ao militar, no que diz respeito a
lei complementar, as quais, segundo o parágrafo dnico do citado art. 142, re- sua vinculaçäo a organizaçao militar: perda de posto e patente; indignidade
gulamentarão o emprego das Forcas Armadas.
para o oficialato; incompatibilidade corn o oficialato; exclusão das Forças
Além das requisiçöes dos poderes constitucionais, flOS tennos do dis- Armadas (incs. I a IV)
posto na parte final da alInea d, do inciso HI, o desempenho de servico de
Nos tennos do art. 99, a perda de posto e patente e de condecoraçoes re-
vigilância, garantia e preservação da ordem pi.iblica podem ser determinados, sulta da condenaçao a pena privativa de liberdade por tempo superior a dois
no caso de calarnidade, grave cmcrgência, sinistro, etc. No entanto, essa ordem, anos. Em conforniidade corn o art. 100. fica sujeito a declaração de indignida-
deve ter suporte legal, no âmbito da cornpetência da autoridade militar, caso de para o oficialato o militar condenado, qualquer que seja a pena pela prática
contrário configura-se abuso de autoridade.
dos seguintes crimes definidos no Codigo Penal Militar: traição (arts. 355 a
0 emprego das Forças Armadas, na manutencao da ordem ptlblica, foi 361); cobardia (arts. 363 a 365); espionagem (arts. 143, 144, § l, 146 e 366);
objeto de consulta, através de questionário enviado pela Société Internationale
ultraje a sImbolo nacional (art. 161); homossexualismo (art. 235); furto (art.
de Droit Penal Militaire et Droit de In Guerre, sediada em Bruxelas, Belgica. 240); roubo (art. 242); extorsão (art. 243); extorsão mediante seqüestro (art.

HO r 2 75.154. 190
In COIio Lobão, R9v. Sup. Trib. Mi!., v. 10, n2 1, p. 243.
126 CélioLobão Direito Penal Militar 127

244); chantagem (art. 245); estelionato (art. 251); abuso de pessoa (art. 252); EntretantO, a Constituicao em vigor, no art. 52, LIX, instituiu, sem exce-
peculato (art. 303); peculato mediante erro de outrem (art. 304); falsificaçao cao, a ação penal privada nos crimes de acäo ptihlica, se esta não For intentada
de documento (art. 311); falsidade ideologica (art. 312). no prazo legal, isto é, no prazo de 5 dias, SC o acusado estiver preso, e de If
0 art. 101 trata da declaracao de incompatibilidade corn o oficialato, do dias, se estiver solto (art. 79 do CPPM). 0 prazo pode ser prorrogado pelo
militar condenado pelos crimes de entendirnento corn pals estrangeiro para Juiz, a requerimeflto do MinistOrio PtIblico, ao dobro ou, em caso excepcional
empenhar o Brasil a neutralidade ou a guerra (art. 140) e entendimento para ao triplo, sendo que essa Oltirna prorrogaçäo somente é admitida se a réu não
gerar conflito corn pals estrangeiro (art. 141). estiver preso (art. 79, § 12 do CPPM).
Entretanto, no que diz respeito ao militar federal, os incisos VT e Vi! do Outra alteracão impOSta pela L.ei Fundamental refere-se a acão penal
art. 142, § 32, da Constituicao, corn a redação da Emenda Constitucional n9 8, nos crimes de desercão. Os desertores do Exrcito, da l'olIcia Miliiar e do
dispoem: Corpo de BombeiroS eranI julgados pelos Conselho de Jusiiça dos respectivas
corporaçoes, scm partiCipacaO do Minislério POblico, de Advogado e do Juiz
"VI - a oficial sO perderá o posto e a patente se for julgado indigno do togado.
oficialato ou corn ele incompatIvel, por decisão de tribunal militar de caráter Como a art. 129, L. do Carta Magna (lispoc que e fuI)çao institucional do
permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra. Ministerio Pib1ico "prornover, privalivafllCflte, a aço penal piIb]ica, no farina
VII - a oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liber-
dade superior a dais anos, par sentença transitada em julgado, será submeti- do Ici", a l.ci 112 8.236/9 1 introduiiu altcraçöes no Código de Processo Penal
do ao julgamento previsto no inciso anterior". Militar. adequandOO a Lei Maior. Dessa forma, a acao penal, nos crimes de
insubmissäo e de clesercäo de prnç, corn ou sern graduação, e de praça espe-
cial, passou a ser proposta par dcmIncia do órgão de acusação (arts. 464, § 22.
Dessa forma, a perda de posto e patente seth declarada pelo Superior e 457, §§ 3 e 42 do CPPM) sendo a réu processado e julgado pelo Conselho
Tribunal Militar e emana de sentença constitutiva positiva.196 Essa garantia
não foi igualmente concedida ao graduado, como acontece corn o policial mi- Permanente de Justica.
litar e o bombeiro militar.
34. Crime Militar. Quadro Sinóptico - Para melhor compreensilo.
Quanto ao militar estadual, nos termos do art. 125, § 42, e art. 42, § 1 oferecemos, ahaixo, quadro sinOptico do crime militar:
da Constituiçao, este iiltimo corn a redaçao da Ernenda n° 8, compete ao Tri-
bunal Militar estadual, onde houver, ou ao Tribunal de Justica, decidir "sobrc
a perda do posto e da patente dos oficiais, e da graduacão das pracas". A apli- I - Crime militar. Divisão. Agentes
cacao desse dispositivo ensejou interpretaçoes equivocadas, ao estender a
Crime militar.'
garantia constitucional a pracas de pré, sern graduaçäo. proprlameflte militar (inc. I, V parte);
Orientacao correta do ROMS n2 5.538: • impropriameflte inilitar (incs. I, V e V partes, II e III).

"Soldado da Poilcia Militar - Condenacão - Pena acessOria de exclu- Crime propriameflte militar
são - Presidio comum - CF, art. 125, § 42_ Não incidència. A garantia cons-
titucional que condiciona a perda de posto ou da graduação de policiais milita- (Justica Militar federal):
res a prévia submissão a procedimento prOprio perante o Tribunal de Justiça . agente militar. somente.
ou Tribunal de Justica Militar somente beneficia Oficiais e Graduados, não se
aplicando as chamadas praças de pré (soldado) .. .1197 Crime irnproprialflelite militar
(Justiça Militar federal):
33. Acão Penal - 0 Codigo Penal Militar, no art. 121, e o Código de agente militar.
Processo Penal, no art. 29, estabelcccrn que a acão penal é piblica e sornente agente civil.
pode ser promovida mediante denOncia do Ministério Pi.iblico.
Crime propria/flente e impropriamente Militar
(Justiça Militar estadual):
Conf. Pinto Ferreira, Cornentários., v. 2, p. 430.
,97
Jorge César de Assis, p. 189. . agdllte militar estadual, somente.

ri
129
Direito Penal Militar
128 Cello Lobão

merito ou manobras (em funçi'io de natureza militar) (inc. HI,


Crime impropriamente militar: c, c.c. o inciso H);
definido de modo diverso na lei penal comum (inc. 1,12 parte). contra militar em funcio de natureza militar (inc. 111, d, c.c. o
nao previsto na lei penal comurn (inc. 1, 2A parte);
inciso II);
corn igual definição na lei penal comum e na lei penal militar contra militar em serviço de vigiluincia, gararitia e preservaco
(incs. IT e Ill); da ordem pCblica, administrativa ou judiciária (inc. Ill, d, c.c.
o inciso II).
Crime definido de modo diverso na lei penal
comum ou nela não previsto:
Ohservaçöes:
agente militar (inc. I); 0 crime propriamente militar (2 parte do inciso I do art. 9) tern so-
agente civil (inc. III c.c. o inciso I) (Justica Militar federal, coiçao integra o tipo, explIcit.a ou
mente o militar comb sujeito ativo c essancl
somente).
implicitalTleflte.
0 crime irnpropriarflCllte militar compreendc: crime nao previsto na
Crime coin igual definicao na lei
penal comum e na lei penal inthiar: lei penal comum (inc. I. 22 parte): crime definido de modo diverso na lei penal
comum e no Código Penal Militar (inc. I. l parte); crime corn igual definição
agente militar (inc. II);
agente civil (inc. Ill, c.c. o inciso H) (Justica Militar federal, no Código Penal Militar e no Cádigo Penal (incs. II e
0 crime corn igual dcfiuiçãu no Codigo Penal Militar e no Código
somente).
Penal classifica-se como crime militar, mediante a incidência dos requisitos
expressos nas alIneas do inciso ii (agente militar) e nas alIneas do inciso HI
II - Requisitos do Crime Militar:
(agente civil)
Agente inilitar: Embora desnecessánio, rcpetiOSifl corno militar entende-se militar, da
contra militar da ativa (inc. II, a); ativa, da Marinha, Exército ott Acrombutica, para efeito da aplicacão da lei
em local sob adrninistraçäo militar, contra civil (inc. II, b); penal militar pela Justiça Federal: e da PolIcia Militar e Corpo de Bombeiros
em serviço, contra civil (inc. II, C); Militares, para efeito da aplicacão da lei penal militar, pela Justiça Militar
em funçao militar, contra civil (atuando em razão da funcao) estadual.
(inc. TI, c); 0 militar da reserva e o reformado são civis, para efeito da aplicação
em comissão de natureza militar, contra civil (inc. II, c); da lei penal militar, pela Justiça Militar federal. 0 militar estadual da reserva
em formatura, manobra, exercIcio militar (em funciio de natu- ou reformado somente responde no foro castrense da Unidade Federativa pe-
reza militar), contra civil (inc. II, c e d); los crimes cometidos quando se encontrava na ativa.
contra o patrimônio sob administracão militar (inc. II, e); 0 civil não pratica crime militar da cornpetência da Justiça Militar
contra a ordern administrativa militar (inc.1I, e). estadual, por disposicão expressa da Constituiciio. Responde na Justiça co-
mum, se os atos praticados encontrarem definicão na lei penal comum.
Agente civil:
contra patrirnönio sob adrninistraçäo militar (inc. HI, a, c.c. o
inciso H);
contra a ordem administrativa militar (inc. III, a, c.c. 0 inciso
H);
contra militar, em lugar sob adrninistracão;
militar (inc. III, b, c.c. o inciso H):
contra militar em formatura, de prontido, vigilância, observa-
çãü, exploracao, exercIcio militar, acamparnento, acantona-
CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES
EM TEMPO DE PAZ
PARTE II
CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES
EM TEMPO DE PAz

TrruLo I
Crimes Contra a Autoridade Militar
ou Disciplina Militar

' 35. Noçöes Gerais - Os oito capItulos do TItulo 11 do Codigo Penal


Militar relacionam os delitos que atentam contra a autoridade ou disciplina
militar. Uns são propriarnente militares, enquanto outros, impropriarneflte
militares.
São propriamente militares:

01 - motim e revolta (art.149);


02 - violência praticada por grupo armado (art. 150);
03 - ornissão diante do motim ou da revolta (art. 151);
04 - concerto para motim e revolta (art. 152);
05 - violência contra superior (art. 157);
06— desrespeito auperior (art. 160);
07 - resultado culposo da violência (art. 159);
08 - desacato a superior (art. 298);
09 - despojamento de uniforme (art. 162);
10— insubordinacão (art. 163);
ii - publicação ilfcita (art. 166);
12— assuncão ilegal de comando (art. 167);
13 - conservacäo ilegal de comando (art. 168);
14 - movimentacão ilegal de tropa (art. 169);
15 - violação de território estrangeiro (art. 170);
16— uso ilegal de uniforme de posto superior (art. 171);
17 - requisicäo militar abusiva (art. 173);
18 - rigorexcessivO na puiiicão de subordinado (art. 174):
V
134 CélioLobão Direito Penal Militar 135

19 — violência contra inferior (art. 175); II - recusando obediência a superior, quando estejarn
20 - ofender inferior mediante ato aviltante (art. 176). agindo sem ordem ou praticando violência;
III — assentindo em recusa conjunta de obediência, ouem
0 "desacato a superior" (item 7, supra) no figura entre Os crimes con- resistênCia ou violência, em conium, contra superior;
tra a autoridade OU disciplina militar porque os autores da lei penal castrense
IV - acupando quartel, fortaleza, arsenal, fdbrica ou esla-
de 1944, ao copiarern o Codigo Penal, no perceberam a diferenca entre desa-
beleciinento militar, ou dependência de qualquer deles, hangw;
cato a servidor piIblico, praticado pelo exiraneus, e o cometido por militar
aeródronio ou aeronave, navio ou vialura nulitar, ou utilizando-.ce
contra o superior hierarquico, que atenta, acirna de tudo. contra a disciplina
militar. SenS cornentado em seguida ao item "desrespeito a superior'. de qua!quer daqueles locais ou mews de Ira fl.SJ)Orte, para açao
Nas transcricOes dos dispositivos penais, ornitirnos a palavra "asscrnc- militar, ou praticci c/c vwiencia, eni desobec/iência a orcicin superi-
Ihado". Chega a ser irritante OS fizzedores de decretos-]ei, e ate julgadores. ()r OU eni deiriinento da ordem ou do disciplina militar.'
ignorarem ciue a lcgislação pitria suprimiu essa entidadc hi mais de mejo Pena - recluscio, de (Jtu1il'() Ci 0/tO altOS, (.0/fl ciuinenlo tie
sCculo. E o norto-vjvo do munclo jurIdico-penal militar brasileiro. urn !erço para OS cabeças.
Ao empregarmos 0 vocabulo "militar', quer como agente, quer como I'ardgrafo tin/CO. Se os ctgentes esta yam arnwdos:
olendido, estarnos nos referindo ao integrante das Forcas Armadas, ao policial Pena - reclusJo, (/e oito a vinte (lflOS, corn ciuineflto de 111)1
militar e ao bombeiro militar, em serviço ativo, em atividade. A condiçao de terço para os cabeças.
militar federal, do integrante das Forças Armadas, vern expressa no § 3,
acrescido ao art. 142 da Constituiçao, pela Emenda Constitucional n2 18, de 5 36. Consideracöes Gerais - 0 Codigo Penal Militar classifica a revolta
de fevereiro de 1998. A condiçao de militar estadual do policial militar e do e o motim como crimes contra a autoridade ou disciplina militar. Ambos são
bomhciro militar consta do art. 42, capur, da Constituiçao, corn a redaco da crimes propriamente militares; logo, so podem ser praticados por militar, por-
Emenda Constitucional n' 18, citada. UC pressupöem a condição militar do sujeito ativo e o cardter militar da ação
Portanto, o militar federal C sujeito ativo do crime militar da competên- ou omissão.198
cia da Justica Militar federal, enquanto o policial militar ou o bombeiro militar 0 civil nao ingressa na relacao jurIdico-penal, nem mesmo como co-
C agente do crime militar da competéncia da Justiça Militar estadual. Nos de- autor. Os atos por ele praticados poderão encontrar definição na lei penal co-
litos militares da competência da Justica castrense federal, o policial militar e mum ou em dispositivo do diploma castrense que define o crime impropria-
o bombeiro militar siio equiparados ao civil. Quanto a Justiça Militar estadual, mente militar.
esta näo tern competência para processar e julgar o integrante das Forças Ar- No COdigo Penal da Armada (art. 93), o motim e a revolta eram consi-
madas nem o civil. derados sinônimos, embora os doutrinadores os distinguissem, influenci ados
Além dos delitos acirna especificados e que serao comentados, ha oil- por autores italianos, entre des, Oscar Plo, segundo o qual "ii reato di rivolta
tros capItulos tratando das seguintes matCrias: concurso material nos crimes de essenzialmente consiste nella ribellione di un certo numero di militari
motim, revolta e violência praticada por grupo armado (art. 153); resultado all'autoritd dci loro superiori con gravitã di circostanze". "L'arnrnutinarnento C
culposo da violCncia (art. 159); usurpaçäo (nocoes gerais); excesso ou abuso anch'esso una specie di ribellione di un certo numero di militari all'autnrità
de autoridade (noçCes gerais). del superiori, ma in condizionc meno gravi dcl caso di rivolta".
Seguindo essa orientaçAo, João \1ieira expöc:
CAP±TULO I
Motim e Revolta "[ ...] a revolta consiste essencialmente na rebelião, ou no levantamenlO
de urn certo nürnero de militares contra a autoridade ou seus superiores, corn
Art. 149. Reun ireni-se ini/itares:
I - agmdo Co/lila a ordeni recebida c/c superior, 011 lie- Conf. Jiménez y Jirnénez, Normas Vigentes na Justiça Militar Brasfle:ra, Separata da H&'.
Espanc!a de DerechoMi/itar, n 33/34, p. 93, Dez., 1978.
gando-se a culn/) ri-la; in Esmeraidiro Bandeira, Dir. Just. Proc. Mi!., v. 1, p. 391.
136 I3
Cello Lobäo Direito Penal Militar

gravidade de circunstâncias. 0 motim ou amotinamento é também uma espé- arrnado e tomar da "arma" arbitraniamente) pode ou não ingressar na descrião
cie de rebelião de urn certo ncimero de militares contra a autoridade ou seus
superiores, mas em condiçoes menos graves do que as da revolta". 200 tIpica, como assinala deciso do Supremo Tribunal Militar italiano:

"Gil aspetti svariati che Ia rivolta puô assumere Si riducono a due


SIlvio Martins Teixeira, urn dos autores do Código Penal Militar de fondarnentabi, caratterizzati dabl'essere commessa rispettivamente, con le arm i
1944, adotou a circunstância de os agentes encontrareni-se armados como o senza le armi".203
elemento diferenciador dos dois delitos, ao dissertar que é preciso que se yen-
fique se os niilitares estao ou no arrnados, pois nisso consistc a difcrença Comentando o Codigo italiano, Manzini distingue a revolta armada da
estabelecjda entre a revolta e o mourn.20 '
revolta näo-arinada e do amotinamento. A revolta armada " si verifica quando
Essa trilha foi seguida pelo autores do atual diploma castrense. quc,
quatro o p4i militari, esscndo sotto Ic armi, si rifiutano di obbedire alla prima
igualmente, scm muita técnica, intitularam "revolta" a modalidade agravada
intirnazione dci supeniori", a revolta não armada, "presupponendosi che i
do motim e da revolta, pela circunstância de OS agcntes encontrarern-se aima-
colpevoli nel mornento del reato non si trovassero muniti d'armi come per
dos no mornento dos crimes. A confuso, iniciada no diploma anterior, teve
servizio arrnato"e "consiste nel rifiuto simultaneo di obbedire aIl'ordine di Un
origem na scguintc frase de Esrneraldiiio Bandeira: "() fato de no se acharern
armados os delinqiientcs é, por exemplo.. 0 que na lei italiana faz decair Ia superiorc ingiugcnte ai militari di cessare clagli eccessi o dalie violenzc, che si
rivolta no aln)nuluzamenjo'. 02 presuppone stiano cornettcndo per una causa qualsiasi, e di disperdcrsi o di
Como se ye, o tratadista piti-io referia-se ao Direito italiano, mas os au- rientrare nell 'ordine". 0 amotinarnento "si distingue dalla rivolta armada.
tores do Código de 1944, sein niaiores indagaçocs, elegcram a anna portada penchè Del delitto in esarne si presuppone che i colpevoli non si trovino sotto
pelos agentes como elemento diferenciador das duas condutas ilIcitas, embora le armi, nè le abbiano prese arbitratiarnente; e dalia rivolta non armata, perchè
essa circunstância, na realidade, no distinga a revolta do motim no diploma Del caso nostro, a differenza dell'altro, i colpevoli non devono aver
italiano. Corn efcito. o art. 175 do Código Penal Militar italiano assirn define o comrnessso eccessi o violenze, e perchè ii loro numero necessario e sufficiente
motim: e di quattro e non di otto".201
Portanto, no Direito italiano, que serviu de fonte da lei penal Militar
"[ ... ] sono puniti con Ia reclusione militare da sei mesi a tre anni i brasileira, a anna não constitui elemento diferenciador dos dois delitos, mes-
militari, che, riuniti in numero di quattro o piü: 12 — riufiutano, ornettono o mo porque, como ficou claro, numa das modalidades da revolta, os agcntes
ritardano di obbedire a un ordine di un lorc, superiore; 22 - persistono nel
presentare, a voce o per iscritto, una domanda, un exposto o un reclamo". podem ou näo estar armados. Na realidade, o que distingue o motim da revolta
é a inaior gravidade desta em relacão aquele, como já proclamavarn nossos
0 conceito de revolta vern expresso no art. 174 do Código peninsular: autores antigos.
in
Assim é no Codigo italiano; assim devenia ser no Código Penal Militar,
"Sono puniti corn Ia reclusione militare da tre a quindici anni I militari, cujo art. 149 e incisos 1rarn calcados nos arts. 174 e 175 do diploma. 0 mo-
che, riuniti in numero di quattro o piü: 19 - mentre sono in servizio armato, tim encontra perfeita definicäo nos incisos I, IT, V panic, e III; enquanto a re-
rifiutano, omettono o ritardano di obbedire a un ordine di un loro superiore; 22
- prendono arbitrariamente le armi e rifiutano, ornettono e ritardano di volta, bern niais grave do que o motim, vein conceituada nos incisos IT, 2
obbedire alI'ordine di depone, intimato da un bra superiore; 3 - parte (praticando violCncia), e IV, todos do art. 149. A condico de agentes
abbandonandosi a acessi o ad atti violenti, rifiutano, omettono a ritardano di armados (parágrafo tinico) quaiifica os crimes de motim e de revolta. No en-
obbedire abla intimazione di disperdersi a di nientrare nell'ordine, fatta da un tanto, os autores do decreto-lei, ec1uivocadarnente, dcnorninam mourn os deli-
bra superiore".
tos dos incisos 1, 11, HI e IV, e revolta a modalidade qualificada de agentcs
A diferença marcante entre as duas figuras delituosas d a maior gravi- armados.
dade da revolta em relação ao motim. Na revolta, o elemento arma (servico A coniparaçio corn o Direito italiano poderia ser dispensada, diante dos
ensinamentos de nossos doutrinadorcs que nio deixam dtivtda quanto ao late
In Macedo Soares, Cod. Pen. Mit., p. 147, nota 167.
" Sibvio M. Teixeira, Novo COd. Pen. Mi!., do Bras/I, p. 254.
Esmeraldino Bandeira, Dir. Just. Proc. Mu., v. 1, p. 393. in Saverio.Mabizia, Cod. Pen. Mi!., P. 124.
204
Manzini. £r. Pen. Mi!., p. 168-9.
138
Cello Lobão Direito Penal Militar 139

de o parágrafo Cnico contemplar a modalidade qualificada dos delitos dos Dessa forma, considerando a major gravidade da revolta em relacäo ao
incisos I a IV.
motim, os dois delitos estão dcfinidos nos seguintes incisos do art. 149: mo-
Rcalmente. Expöe Roberto Lyra que "as circunstâncias seriam elemen- tim, incisos I, II, 1a parte, e III; revolta, incisos II, 2 parte, e IV.
tos de caráter secundário e extraordinário (pessoais, materiajs ou psIquicos) 0 motim, em suas diversas modalidades, consiste em dois ou mais mi-
estranhos aos elementos constitutivo, de carãter principal e ordinrio". E pros- litares, em conjunto:
segue: "Toda circunstância pressupoe, necessariamente, o fato que constitni o
crime simples, em todos Os seus clementos".-°5 A condiçño de agente armado
agirem contra a ordem do superior ou negarem-se a cumpri-la (inc. 1);
é elemento de caráter material e pressupOe os delitos dos incisos I a IV, em recusarcm obediência ao superior, quando estiverem agindo scm or-
toda sua intesridade.
dciii (inc. II, 1a parte);
Para Magalhaes Noronha. circunstãlicia " é tudo que modifica uin fato assentirem em recusa con junta de obediCncia ao superior ou em re-
em seu conceito, scm Ihe alterar a esséncia. Sendo o crime urn fato, é indubi- sistêricia ou violCncia contra superior (inc. Iii).
távcl que apresente peculiaridades que o alierern. Assim d que o mesmo crime,
v. g.. o furto, pode ser praticado Corn particularidades que Ihe dão outra feiçao. A revolta, em seus diversos aspectos, consiste em dois ou mais milita-
suhtrair coisa de valor nifnirno e subtrair nióvel mediante escalacla. Vê-se, res, em conjunto:
pois, que circunstâncjas são elementos que se agregam ao delito scm altera-lo rccusarem obediCncia ao superior. quando estiverem praticando vio-
substancialmente. mas produzindo efeitos e conseqüCncias relevantes". 206 lência (inc. II, 2' parte);
Não menos eloquente a exposição de I)amásio de Jesus: "Qualificado- ocuparem os bens móveis e imóveis relacionados no preceito legal ou
ras são circunstãncias legais especiais ou especIiicas previstas na Parte Espe- os utilizarern para acão militar ou prãtica de violência (inc. IV).
cial do CP que, agregadas a figura tIpica fundamental, tern funçao de aumen-
A distinçäo não tern rclevância prática, pois a pena cominada aos dois
tar a pena". Prosseguindo, distingue a causa de aumento de pena na descriçao delitos é a mesnia. A tItulo de colaboração, quando da atualizaçao do diploma
dos crimes, da qualificadora propriarnente dita:
penal castrense, as duas figuras delituosas devem ser definidas em dispositi-
vos diversos, sancionando-se o motim de forma menos grave, em relacao ii
"Podemos dizer que as qualificadoras podem ser entendidas em senti-
revolta, c mantendo-se a modalidade qualificada dos agentes armados.
do amplo e em sentido estrito. Em sentido amplo, abrangem as causas de au-
mento de pena previstas na Parte Especial do OP e as qualificadoras propria- Crime Militar - 0 motim e a revolta classificam-se como crimes
mente ditas; em sentido estrito, abrangem as qualificadoras propriamente di- propriamente militares, por se tratar de infração penal especIfica e funcional
tas, em face das quais o preceito secundário da norma incriminadora prevé o do ocupante de cargo militar. Crime não prcvisto na lei penal cornum (inc. I,
mmnimo e o máximo da agravação". 22 parte do art. 9).

Cotno exemplo, cita o art. 121, § 20, do Código Penal, segundo o qual Objetividade JurIdica —O bern jurIdico tutelado é a disciplina mi-
"o Cddigo determina a agravaçäo da pena em face de qualificadoras, comi- litar, urn dos principais alicerces das instituiçOes militares, que estabelece urn
nando a pena de 12 a 30 anos de reclusão (menciona o niinimo e o m6xi- liame entre os diversos componentes da organizacão militar, sob a forma de
mo)".207 coordenação, quando se trata de militares do mesmo grau hierrquico e, prin-
As liçöes dos eminentes penalistas dispensam conientários c nAo dci- cipalnicnte, de subordinação. quc tern no ápice a autoridadc suprenia do Pre-
xam a menor divida de que a condição de agentes armados contcrnplada no sidente da Repib1ica, tratando-se das Forças Armadas, e do Governador do
parágrafo tInico, corn o rnInirno e o mixinio de pena, constitui, no dizer de Estado, tratando-se das instituiçöes militares cstaduais.
Damásio, qualificadora propriamente dita e nao crime autônomo de revolta. 0 preceito sancionador protege, ainda, a autoridade militar, representa-
da pelo superior hicrárquico, diante do perigo resultante da rcalização das
condutas definidas como motim e revolta, quc podern conduzir a dcsagregaco
Roberto Lyra, Comenrários, vol. 2, p. 265.
2.- das instituiçöes militares, corn o desapareciniento do poder coercitivo legal.
Magalhaes Noronha, Dir. Pen., v. 1, p. 316.
2C7
Damasco de Jesus, Dir. Pen., v. 1, p. 557. cxercido pelo superior.
140 Direito Penal Militar 14.1
Cello Lobão

Sujeitos do Delito - São sujeitos ativos do delito dois ou mais mi- Carlos Colombo, comentando o Código argentino, faz natar que Os
litares, condição essa dos agentes integrante do tipo. Crime plurissubjetivo, agentes devem ser exclusivarncntc rnilitares.210 Nesse mesrno sentido Augier
211
pois a descriçao tIpica exige a participaçao de dois ou mais militares. Sujeito et Le Poittevin . 0 mesmo acontece Corn o nosso Código, isto é, pelo menos
passivo, as instituiçöes militares, no aspecto particular da disciplina e da auto- dois militares devem participar dos atos ilIcitos.
ridade militar. 0 elemento comum ao motini e a revolta é reunir-se, C agrupar-se. Uma
Elementos Objetivos - As açöes incriminadas nas diversas modali- vez concretizada essa conduta inicial, os agentes prossegueirl no i/er cri,ninis,
dades do motim e da revolta, que serio examinadas abaixo, tern como ele- praticando os atos descritos nos incisos I a IV.
mento comum a reunio, que consiste 110 ajuntamento, na proximidade de No inciso I. os agentes reunidos agCfll em sentido contrário a ordem re-
militares. corn ou sern acerto prévio, no momento da prtica dos atos constan- cebida ou negarn-se a cumpri-la, sendo desnecessario externar a desohcdiCncia
Ics da descricao tIpica. A reunião aumenta 0 poder de intimidação dos agentes por meio de palavras. gestos OU (30110 qualqucr. Corno se percehe, a prinieira
agrupados, dando major agressividade ao violento, coragem ao covarde, ousa- modalidade é comissiva. COffi 0 agir contranarnente a ordem do superior; a
dia ao indisciplinado e dcciso ao indcciso. segunda, é omissiva. corn a incrcia dos agentes contrapondo-se ?t deterrninação
Como acontecia no arltigc) Codio da Armada e existe no COdio espa- do superior. Nessa espécic, inclui-se retardar o cumprirncnto da ordem do
nhol e no frances em vigor (art. 442). o Cbdigo Penal Militar não inclui o con- superior hierárquico, Conio. alms. consta do COdigo italiano.
certo prévio como elementar dos crimes (IC motini e do revolta. E 0 que vem Para a configuraçao do delito é indispensavel a ordem, scguida da ação
expresso em acordao do Superior Tribunal Militar: contraria a cIa ou da riegat Va cm obedecC-la, caso contrario, não hI mourn nas
rnodalidadcs expressas no nciso I. I)af a necessidade de se comprovar a or-
"[ ... J tampouco se ha que perquirir, coma condição indispensãvel, a dem, seu conteódo, e se dcixou do ser cumprida, ou se os rnilitares agiram de
concerto prévia, pals a motim, coma a configura a lei, pode resultar da reu- forma contrária a ela. Por oulro lado, não ingressa na descrição tIpica a repeti-
nião, do ajuntamento eventual ........208
cäo da ordem, sendo suficiente tuna ünica vez e que seja ouvida pelos agentes.
0 Código Militar italiano prcvC it diminuiçao da pena, se OS militares cedorn a
Na vigência do Código da Armada, Crysólilo de Gusmão criticava o di-
primeira intirnação, apbs a recusa. lnaplicãvel no Direito brasileiro.
ploina legal por não prever agravamento de pena quando houvesse concerto
próvio209. SensIveis a essa crItica, os autores (10 Código de 1944 elegeram 0 conceito do ordem é o mais amplo possivel, mas não inclui as contra-
0
concerto corno delito autônomo, no ciue fbi seguido pelo atual (art. 152). Logo, rias a lei, aos regulamentos niil,larcs c as que näo dizern respeito ao excrcIcio
responde pelo concerto quem dde participou, mesmo que 0 motim ou a re- do cargo militar. Por excmplo, a desobediCncia coletiva a ordem para assistir a
determinada seSsãO cincinatogr/ilica não C crime, ressalvada a hipótese de
volta não se concretize, ou, concretizando-se, o agente não corneta o delito-
fim. Por outro lado, se o militar toma partc (10 concerto e do motim ou da re- tratar-se de matéria pertineiite iI preparaçaO militar da tropa ou integrada em
volta, o primeiro delito será absorvido pelo subseqUente. solenidade militar. 0 niesmo 1)0(10 ser dito em relação ao comparecirnento a
ccrirnônia religiosa, semcsquecel' que essa ordem pode constituir-se em viola-
0 motim e a revolta São crimes pliirissubjetivos, exigindo a efetiva par-
ticipaçao de dois ou mais militares nos abs descritos na definiçao legal. 0 cão da liberdade decrenca, gurantida pela Constituição (art. 5, VI).
A participaçO de cada urn dos agentes reunidos, cvidentcrnente, não é
Codigo Penal Militar do 1944 fixava o ntimero rnInimo de agentes em quatro
militares, como acontece corn as legislaçOcs italiana, francesa, argentina e uniforine. Uns se destacarn liclil agressividade, outros se conduzem de rnanei-
cspanhola. 0 atual diploma. afastando-se (lessa orientaço, seguiu o Codigo mais discreta, o que nio descaracteriza a reuniào, servindo. apenas, para ra
alcmão do 1872, revisto em 1926 ( graduaçäo da pena,conio dccidiu o Superior Trihuital Militar:
103 e 104), e menciona niititares, o quo
importa na participaçäo de dois ou mais sujeitos ativos. Dessa forma, autnen-
"[...] nãa ha considerar a participaçãa efetiva
de cada urn dos agentes, a não
tou, substancialinente, o rigor da lei, coiisiderando-se a gravidade da sanção
ser para Ihes graduar a pena, de acorda corn a art. 57 e dentra dos lirnites
corninada. Dc lege fèrenda. melhor se ajusta, a espécie. 0 niImero de quatro,
prescritos no art. 130" (Ap. n o 35.007, Ement. do STM, abril de 1966. Os arti-
para o motirn e, de seis. para a revolia.

Ap. r 9 35.007, Ement. Do STM, abril do 1966. 2 Caries Coloibo, EiDer. Pen.. p.310.
2Q
Crysólito de Gusmao, 0/relic Penal Militar, p. 63. Augier et LePoitteiri, Dr. Pen. Mi!., 2.1, p. 647.
142 Cello Lobão Direito Penal Militar 143

gos mencionados são do COdigo de 1944 e correspondem, respectivamente, da: dois ou mais militares, separadarncntc e scm ajuste prévio, praticam vio.
aos arts. 69 e 149 do CPM em vigor).
lência contra superior, incorrendo nas penas do art. 157 do Código Penal Mi-
litar, cujo lirnite miximo é de dois aims de detenção; mas, se concordarem rm
Na espécie de motim e de revolta previstas, respectivamente, na P parte
prática em conjunto dessa merna violência, rnesmo sem reaiizá-la, a pena será
do inciso 11 e na 22 parte do mesmo inciso, a ordem é posterior as condutas
de 4 a 8 anos de reciusão, corn acrescimo para os cabecas (!).
descritas. Os agentes encontrarn-se agindo sem ordern (motim) ou praticando
Corno vem expresso no inciso Ill, dois ou mais militares concordarn
violência (revolta) e recusarn obediência a ordern do superior hierárquico de,
praticar recusa conjunta de ohcdiência, ou resistência fIsica ou, ainda, violên-
obviamcnte, cessarcm a desordem ou a vioiência. Sern a ordern do superior,
cia, em cornurn, contra superior hierarcjuico. Se os agentes chegarn as t1tinias
seguida de recusa de obediência, não hi revolta nern motim. 0 delito é outro.
consequencias, realizando o urn do ajuste, ocorrerá a delito de motim ou re-
Agir scm ordern significa qua1cucr comportamento diferente daquele
que o mililar deve ter em p6b1ico ou cm lugar sob administraçio militar, como volta, se os atos praucados encoilirarein definiçiio nos incs. 1, II e IV. A infra-
perturhar a tranqui!idadc desses locais por meio de algazarras, correrias, gri- çao ao inciso III seth absorvida pelo delito-fim.
Los, etc., ahrangcndo o excesso do Direito iialmno, assirn definido pelo Tribu- O conceito de superior vein exprcsso no art. 24 do Código Penal Militar
nal Suprerno Militar daquele pals: e consiste na supenonclade de p0510 ou de graduaçao do militar em relaclio a
outro. ou quando o militar, ciii decorrencia de funçao do cargo, exerce autori-
.[J gil eccessi nel reato di rivolta sono constituiti da tutti atti di intensa dade sobre outro do mesmo p0510 ou graduaçao.
indisciplina, che, poriendosi fuori, deli'ordine regoiamentare, concretano ura Em conforrnidadc coin o disposto no inciso IV, dois ou mais militares
pressione morale coiletiva sulla voiontà e sulia autorità dei superiori".212
reunidos realizam uma das condutas delituosas seguintes: a) ocupam quartel,
fortaleza, fbrica, estabeiccirnento militar, hangar, aeroporto, aeronave, navio,
Violência é a forca fisica ciue o agente faz atuar sobre coisas ou pessoas,
viatura militar; b) utilizam OS hens móveis e irnOveis citados para ação militar
corn utilização do proprio corpo ou de instrumentos. A violência contra a coisa
ou prática de violência contra a pcssoa ou a coisa.
admitida. como consta de acórclão datado de 30 de junho de 1915, do Supe-
rior Tribunal Militar.21 Se da violência resuita lesão corporal, morte ou dano a 0 quartel, a fortalcza (atualmente scm utilidade), e a viatura, neces-
coisa, aplica-se, em concurso, a pena do resultado alcançado. sariamente. são militares, conio acontece, igualmente, corn o estabeleci-
For outro lado, se os militares obedecem a ordern do superior, inexistinI menLo, que compreende qualqucr iinóvel militar, mesmo que nele não
delito, respondendo os agentes, individualmente. pelos atos anteriormente exista construção, COfllO campo de treinamento, de teste de armamentos,
praticados, disciplinar ou penalmente, Se, nesta ditima hipótese, encontrarern pista de pouso, etc. Hangar, acroporto, aeronave e navio são civis ou milita-
definicao em outra norma penal militar ou comum. res. A ocupação pode ser total on parcial e concretiza-se no mornento em
A espécie prevista no inciso Ill era estranha ao Código de 1944 e sua que OS agentes exercern o poder ilIcito sobre a viatura ou a aeronave, OU so-
inclusão teve por finalidade alcancar detcrrninadas condutas anteriores aos bre parte ou totalidade dos dcmais hens relacionados no inciso, substituindo a
atos preparatórios, corno esciarece urn dos autores do decreto-lei que instituiu autoridade militar ou civil on a direção do bern privado.
diploma castrense: "o motim pode existir não so nesses casos, como no sirn- Na segunda modalidade do inciso IV, a descriço tIpica exige ação mi-
pies assentimento em recusa conjunta de ohediência contra o superior [ ... }". 214 litar ou a priitica de violOncia, ambas corn utilização dos bens acima referidos.
0 preceito legal contenta-se corn a concordncia pura e simples, desti- Acão militar é movimentaçao l )Il)ria de organização bOlica, corn armamento
tulda de outra qualquer atividade, equiparando, aos amotinados ou aos revol- Militar, como pistola, fuzil, met ralhadora, cassetetes. alérn de outros, exclujii-
tosos, OS agentes que asscntirern em futura desobediOncia, em resistência Cu do-se a anna nnpropna. Portanto, na ação militar, deixa de incidir o parágrafo
em violência conjunta contra superior, sem, entretanto, realizarem o fim do Onico, porque o arnlamento intcgra o tipo na moclalidade simples dessa espé-
ajuSte. Injustificável a figura Ilpica, que pode criar situação no mInirno absur- cie de revolta, näo podenclo, por esse motivo, qualificar o crime. Da mesma
forma, se OS agentes portarem anna impropria, inexistith aco militar, podcndo
In Saveria Mahzia, Cod. Pen. Mi!. p. 124. fato ajustar-se a descriçao [Ipica do inciso 11, combinado corn o paragrafo
213
214
In E. Bandeira, Dir. Just. Proc. Mi!., p. 394. UI)icO.
Rev. Inform. Legislativa. n2 27, p.103.
144 CéUoLobäo Direito Penal Militar 146

A acão militar assume a forma de deslocamento pelo interior do esta- estaräo em servico quando do cometimento do delito. Como conseqUência,
belecimento militar ou fora dele, de ocupação total ou parcial de imóvel, mi- respondern na Justiça comum pelo resultado, corn separaçäo de processo, sal-
litar ou não, de intimidacao, agressão a pessoas, confinando-as na ma, em vo se ocorrer ofensa a militar, a bern sob administração militar ou a ofensa a
edifIcios ou outros locais, corn disparos para o ar, reprimindo a populacão civil tenha ocorrido em local igualmcnte sob administracão militar.
civil, ou parte dela, ou determinado grupo de indivIduos, ocupando imóvel Reportamo-nos aos conientlrios ao art. 150 em complemento da expo-
piIblico, como ocorreu nos anos 50, no Rio de Janeiro, quando tropa armada siçio supra.
ocupou militannente delegacia de polIcia para libertar companheiro preso. Elemento Subjetivo - 0 elemento subjetivo é a vontade de dois ou
Enfim, uma série de condutas semeihantes a operação bélica, na qual é indis-
mais militares reunidos orientada no sentido de concretizar as condutas tipifi-
pensivel o porte de anna militar.
cadas como motim ou revolta, descritas nos incisos 1, 11 e IV.
Considerando-se a pluralidade de agentes, merece exame determinadas No inciso HI, 0 elemefflo sub jctivo consiste, pura e sirnplesmente, na
situaçãcs, quando do cometimcnt.o dos delitos ora estudados: a) nas hipóteses
concordância, de dois ou mais militares reunidos, em recusar obediência, em
dos incisos I c II, nao cometem os cimcs de motim ou de revolta os militares
praticar resistênçia on violcucia contra superior. Scm mais nada.
que, ao contrário dos demais, obedecem a ordem do superior; h) no caso do
Na forma qualificada. o dolo do rnotim e da revolta é acrcscido da von-
inciso III, não silo igualmente responsahilizados os que, participando das con-
tadc de portar arma no moinerito da realizacao dos ilIcitos mencionados, em-
versaçöes, não concordam em praticar a desobediência, a resistência ou a vio-
hora sern o desIgnio de utiJizI-la.
Iência; c) no inciso IV, respondem pela revolta, cmbora sua conduta seja con-
Consumaçiio c Teiitativa - Os delitos de motirn e revolta, nas di-
siderada para efeito de dosagem de pena, os militares que, cmbora sem parti-
cipacio efetiva nos atos ilIcitos, permanecem jun10 aos ciue ocuparn os bens versas modalidadcs dos incisos I a IV do art. 149, tern os seguintes momentos
citados, ou praticam a ação militar ou a violência. consumativos:
a da V parte do inciso 1, no momento cm que dois ou mais militares
A parte final do inciso IV -"em desobediência a ordem superior ou em
reunidos praticar) pelo menos urn ato contrrio a ordem rccebida do superior;
detrimento da ordem, ou da disciplina militar"- é perfcitamente dispensável.
a da 2 parte (10 inciso 1, no instante em que dois ou mais militares
Minuciosidade prdpria de alguns artigos do Cddigo, fruto da inseguranca,
confundindo, em vez de facilitar o entendimento da norma penal castrense. A reunidos exteriorizani, de (jualquer forma, a recusa em cumprir a ordem do
ocupacão mencionada, corn utilizaçao dos bens descritos, cm acao militar ou superior, inclusive pela iniobilidade ou pelo silCncio, após a ordem recebida;
prática de violência, sernpre acarretam danos a ordem, a disciplina militar e, a do inciso II, quando dois ou mais militares reunidos, agindo scm
evidentemente, pela gravidade da ilicitude, são sempre cornetidos em desobe- ordem ou praticando violCncia, realizam pelo menos urn ato de continuidade
diência a ordem superior, expilcita ou implIcita. da conduta anterior depois de receberem ordem do superior de cessarem a
For absurdo, não é possIvel interpretar o preceito no sentido de que SO- conduta incritninada;
mente haverá crime se a ocupacio, a violência ou a ação militar realiza-se em a do inciso lii, no momento em que dois ou mais militares reunidos
contrariedade a ordem do superior. Rcalmentc, os atos ilIcitos mencionados concordam na recusa, em conjunto, de obediência ao superior, ou na prática de
são praticados apesar de dcterminaçao explIcita em sentido contrrio do supe- resistência ou de violCncia contra superior;
rior hierrquico ou ordem irnplIcita constante (IC preceitos legais pertinentes, a da 1 parte do inciso IV, no momento em que dois ou mais militares
emanados de autondade hierarquicamentc superior. Alérn do mais, a ocupacao reunidos, suprimindo a autoridade do comandante militar, do chefe da reparti-
dos bens mencionados ou sua utilizacäo para acio militar ou prática de vio- ção ptlhlica civil ou do dinigente da entidade privada, exercem o poder ilIcito,
lência são sempre cornetidos em detrimento da ordem ou da disciplina militar. total ou parcial, sebre a entidade piiblica ou privada;
Näo se deve esquecer que, ao realizareni as condutas descritas nos arts. a da 22 parte do inciso IV, no momento em que dois ou mais militares
149, 150, 152, qualquer que seja a circunstilncia. os militares iiao Sc encontra- reunidos praticam pelo rnciios urn ato prdprio de acio militar ou pelo menos
I
rão em servico. Sc, por exemplo, estivereni em missio de patruiha ou outra urn ato de violCncja Contra pessoas ou coisas, corn utilizacão dos bens descri-
qualquer e utilizam a viatura para prtica de violência ou açäo militar, não tos no dispositivo legal.
w

146 CélioLobão Direito Penal Militar 147

Não é juridicamente possIvel a tentativa nos crimes dos incisos I, II e iegge vietato ii porto, in modo assotuto, ovvero senza giustificato rnotivo. Sono
111, porque: ou ha desobediência a ordem (incs. I e II), ou existe o ajuste (inc. assimilate alle armi le materie esplondenti e i gas asfissianti o accecanti".215
lii), e o crime se consuma OU os agentes obedecem a ordem ou näo alcançam o
ajuste, mesmo por motivos alheios a sua vontade, e nao haverá revolta ou mo- Para Juan Ernulio Coquibtis, arma C todo instrumento, ofensivo ou de.-
tim, respondendo, os agentes, pelos atos praticados que encontrarern definicão fensivo, utilizado para atacar ou Sc defender, 216enquanto Soler, por sua vez,
em outro preceito sancionador on por infracão disciplinar. considera arma uma "expresiOn genCrica que comprende no solamente los
No inciso IV, é possIvcl a tentativa, desde que a ocupacäo dos bens re- instrumentos que tCcnicamcnte puede liarnar-se asI, sino todo objeto capaz de
aumentar ci poder ofensivo del hombre. No es necesario, pues, que se trate de
lacionados ou sua utilizaçäo para a violëncia 011 aço militar näo se concretize,
un objeto duro, prdprio para golpear o herir; ci que arroja un lIquido
por motivos alheios a vontade dos militares, que tudo fizerarn para alcancar
inflarnaclo comete agresion. L() uilico que requiere Ia icy es que alga se emplee
esse objetivo.
corno arnia. En consecuencia, Jo decisivo es siempre Ia forma en que ci objeto
43. Forma Qualificada - Como demonstranios, os autores do decreto-
se empica, multiplicando his fuerzas. El puño cerrado no es un arma; pero Ia
lei que editou o Cddigo Penal Militar, equivocadamente, denorninam de re-
nianopla silo es". 7
volta a circunstância de os agentes encontrarein-se armados, quando, na ver-
Corn esse ponto de vista, a Cuiinara Criminal e Correcional de Buenos
dade, essa circunstância qualifica o motirn ou a revolta. Aircs qualificou como arnia qualquer objeto capaz de aurnentar o poder ofen-
A qualificadora ("revolta", corno consia erradarnente do Código) não sivo do hornern.2°' 0 Juiz de lnstruçao do Tribunal do Sena, Jean Marquiset,
exige a utilizacao das armas, sendo suficiente que os militares as conduzarn em artigo puhiicado no Repertório de l)ireito Criminal Dalloz, ao tratar do
iias rnaos, no coidre, na bainha, metida no cinto ou de outras formas, desde assunto, refere-se ao usa de pedras como arma, dando a orientação da juris-
que visIveis. Justifica-se o agravarnento da pena, porque a arma exerce major prudCncia e da doutrina francesa sobre o assunto:
poder de intirnidacão, aumenta o temor da populaco em geral, dos indivIduos
contra os quais é dirigido o ato ilIcito ou dos que tern o dever legal de repriinir "A 'egard des pierres Ia jurisprudence et la doctrine sont devisOes. La
os amotinados ou revoltosos, embora a lei nao exija a ocorrCncia da intimida- Cour de cassation les considére comme des instruments contondants, et, par
suite, leur attribue Ia qualification d'armes, indépendamment de 'usage qui
çao, do temor. peut en être fait [ ... ] Les auteurs au contraire, rangent les pierres parmi les
A agravante aplica-se a todos OS militares, mesmo aqueles que não por- objets qui ne prennent Ia qualité darmes qu'autant qu'ii en a été fait emptoi
tam arma, podendo, no entanto, o julgador, na dosagem da pena, levar em pour tuer, blesser ou frapper".
consideracao a conduta de cada agente, independcntemente da circunstãncia
de estar ou não armado. Nesse sentido, o acórdão do Superior Tribunal Mili- Prosseguindo, acrescenta que essa ültima opinião é mais jurIdica e se
ajusta "a i'esprit de Ia I01".219 Manzini inclui a pedra e outros instrumentos no
tar, na Ap. n2 35.007: "näo ha considerar-se a participacào efetiva de cada urn
dos agentes, a não ser para Ihes graduar a pena". conceito de arma imprOpria: "Nel concetto di armi improprie si possono far
Se as armas forem usadas, os sujeitos ativos responderão, em concurso, rientrare tutte e soltanto le cose aventi ]a natura e la potcnziaiità indicate daila
legge (es. pietre, bastoni, bottiglie, gaveue, scarpe, eec.).22°
pelos resultados alcancados, tais como, danos a coisa, lesão corporal ou morte,
Ern face do Direito brasileiro, entendernos que pedra e pedaços de pau
assim tambérn pelos prejuIzos porventura ocasionados ao armamento. Os en-
incluern-se entre as arnias irnpróprias, considerando-se a capacidade de au-
nies rcsultantes da conduta inicial soinente serão militares Sc atenderern aos
nlcutar o poderofensivo, do intimidaçAo dos agentes c de causar dano a pessoa
requisitos do inciso H do art. 9u Abordaremos a Inatéria nos coinentários ao
e a coisa. Esmeraldino Bandeira, ao comentar a art. 93, §2, do COdigo da
art. 153.
Segundo entendimento de Pietro Vico, considera-se COflIC) arma as pro- 2'
216
Aristides Manassero, I/Cod. Pen. Mi!., V. 1, p. 138.
prias dos militares, o que discorda Manassero, ao expor: Juan E. Coquibüs, Cod. Just. MiL, p. 368.
217
in Carios Coiornbo, El ter. Pen. Mu., p. 279.
in Carlos CoIo2ibo, El per. Pen. Mil., p. 280.
"[...]queue da sparo, e tutte Ic aitre, Ia cul destinazione naturaie è n Répert Dr. Crirn . et Roc. Pen., t. I, p. 146.
22
loffesa aila persona; 2) tutti gil strumenti, atti ad offendere, del quail 6 daUa Manzini, Diritto Penale Mi/itare, p. 183.
148 CélioLobão Direito Penal Militar
149

Armada, que se referia a uso de armas, afirma que no ye "motivos para se Para demonstrar, mais uma vez, como os crimes de motim e de revolta
excluir de entre os elementos constitutivos do crime discutido o uso de armas merecem melhor reformulaçao na lei penal militar, note-se a diferença entre a
ofensivas de natureza insidiosa, segundo a tdcnica de Carrara, como a faca, o pena na forma qualificada de dncolitrarem-se os agentes armados, que C de
punhal, o estoque, o revolver, etc".22 ' oito a vinte anos de recluso, e a (10 delito de acäo militar, na qual näo se apli.
Na modalidade qualificada do motim e da revolta, a condiço de agen- ca a qualificadora, cuja pena d de quatro a oito anos de reclusiio, apesar de os
tes armados no se restringe ao armamento prOprio dos militares, compreen- agentes encontrarem-se igualmente armados, o que C mais grave, corn anna-
dendo qualquer instrumento que seja capaz de aumentar o poder ofensivo dos rnento de guerra.
militares, de ocasionar morte ou lesOes graves, abrangendo as armas próprias e Livramento Condicional - Nos termos do art. 97 do Código Penal
as impróprias, como pau, faca, pedra, foice, as denominadas bomba molotov, Militar, combinado corn o art. 642, paragrafo dnico do Código de Processo
etc. Penal Militar, somente Sc concede livraniento condicional ao condenado pela
Quanto ao mirnero de militares armados, segundo Marcel Rousselet et pnitica dos crimes do niotim c de revolta, apOs o curnpnrncnto de dois terços
Maurice Patin, se alguns agentes portarn armas escondidas ou menos de trCs da pena, corn atendiniento 00 disposto no art. 89, II e 111 e §* V e 2u do Cddi-
conduzern-nas de forma ostensiva. nLo se configura a agravante. go Penal/militar.
No Direito brasileiro, se forem dois e apenas urn deles portar a anna. o Legislaçao Anterior -- Art. 15 dos Artigos de Guerra; art. 93 do
delito nio se qualifica; o que não acontece corn o porte de anna de, pelo me- Código Penal da Annada; art. 130 do COdigo Penal Militar de 1944.
nos, dois militares, c1qucr que seja o ndmero de amotinados ou revoltosos.
Entretanto, corno dizem Marcel Rousselet et Maurice Patin, é questao de fato CAPITULO II
a ser examinada pelo julgador. Violéncia Praticada por Grupo Armado
Merece, ainda, citacao os esciarecimentos de Marcel Rigaux et Paul-
Em. Trousse: Art. 150. 1?eunire,n-se dois ou mais rnilitare.v, corn ar-
marnento 0(1 nwterial blice de prop riedade militar, pratican-
"[ ... ] pour tomber sous le coup des dispositions étudiées, la bande dolt
être armée. C'est Ia bande qui doit être armde et non pas nécessairement do violência a pessoa ou a (0i.VO /)liblica ott particular em lu-
chaque individu qui en fait partie. De ce quelques individus ne sont pas gar sujeito ou não a adrniiiisiraçao militar:
porteurs d'armes, ou ne peut dire que Ia bande nest pas armée, ni faire
dchapper a Ia repression ces individus non armés. Questions de fait". 3 Pena - reclusao, de qua/re a oito anos.

Na modalidade de desobediência a ordern do superior (incs. I e II), se os Consideraçöes Gerais - Fn1 vez de "orgariização de grupo para a
agentes armados obedecem a ordem, não ha como cogitar-se de agravante, prática de vioiCncia", como consui do Código, inclinamo-nos pela denomina-
pois não houve consumaco do delito, embora possa ocorrer o crime do art. çäo de "violência praticada por grtipo annado".
150 (violência praticada por grupo armado). For outro lado, se os agentes re- Se cornpararmos os elonienlos objetivos expressos no art. 150 corn OS
cebeni ordem para entrar em forma e se dispersarn em correrias, apesar do do art. 149, incisos c parigrafo unico, constalamos a inexistência de diferen-
armados, configura-se o motirn simples sern a agravante da anna, pela inexis- ças significantes, o que nao auloriza o aciescimo do mais urn artigo no diplo-
tCncia do dolo no porte de anna corn o fim do aurnentar a potencialidade do ma penal castreuse.
ilIcito. Coni efeito, a identidatle dos clernentos laticos do motirn e revolta corn
Corn ficou exposto, a modalidade qualificada näo se aplica a ação mili- os do delito do art. I() é bastante significativa, corno veremos a seguir:
tar (inc. IV), porque o USO de annamento militar integra a descrição tIpica
dessa espCeie de revolta (motim, segundo o COdigo). reuniäo de dois ou mais militares (art. 150); reuniio de militares
(dois ou mais) (art. 149, caput);
221
Esmeraldino Bandeira, Dir.. Just. e Proc. Mi!., v. 1, p. 395. militares con armarnerito ou material bClico, ambos de propriedade
222
Marcel Rousselet et Maurice Patin, Dr. Pen. Special, p. 141. militar (art. 150); militares annados (art. 149, parágrafo tnico);
213
Marcel Rigaux et Paul-Em. Trousse, Les Crimes el/es Del/Is du Cod. Penal. t. 1, p. 515.
Direito Penal Militar 151
150 CélioLobão

A reuniäo aumenta a agressividade do violento, dá coragem no covarde,


militares praticando violência contra a pessoa ou a coisa, piiblica ou
ousadia ao indisciplinado, decisiio ao indeciso e aumenta o poder de intimid-
privada (art. 150); militares praticando violência (que pode ser contra pessoa
ção.
ou coisa, pdblica ou privada) (art. 149, II e IV); Violência d a força fIsica que o sujeito faz atuar sobre pessoas ou coi-
militares praticando violência em lugar sujeito ou não a administra- sas, corn utilizaçao do próprio corpo, de seus membros, ou de instrumentos. A
ção militar (art. 150); prática de violCncia, que pode ser em local sujeito ou violencia não importa, necessariamente, em lesäo corporal, morte ou da vItni
não a administraçao militar (art. 149, II, 2 parte). dano ao bern.
A tipicidade se satisfaz apenas corn o porte do armamento ou de material
Alérn dessa identidacle, as sançOes cominadas aos delitos dos arts. 149 e bélico, não exigindo sua utilizaçio. Sc ocorrer o uso, os agentes respondem pelo
150 são as mesmas, ou seja, quatro a 0110 aims de reclusão, excecão fcita a resultado - morte, lesão on dano. 0 porte de anmi e a vio]ência sac) elementos do
qualificadora em que a pena alcanca oito a \'ime anos de reclusão. tipo; logo, ocorrcndo violência scm acnles armados ou havcndo agentes armados
Merecem destaque as difercnças seguintcs: se os militares armados uti- scin violência, incxiste o crime do art. 150.
lizarn os hcns móveis ou irndveis especificados no do inciso IV, para a pratica Observe-se que nao é exiida a violência cometida em conjunto contra a
de violência, o crime é o inciso IV combinado corn o parãgrafo dnico do art. mesrna pessoa oii coisa. Urn pode praticar vio1ncia contra determinada pes-
149. Se, no entanto, a violência contra a pessoa e coisa é corneuda corn arma- soa, outio contra a COISa, C urn lerceiro contra outras pessoas. 0 importanle é a
mento ou outro material bélico, scm utiiizaçao dos hens relacionados no inciso proximidade dos agentes, nurn recinto mais ou menos amplo.
IV (inc. II), o delito é 0 flIS0 do art. 150. Apesar de o conceito de material hélico englobar armamento, essa ülti-
0 crime é plurissubjetivo, exigindo a participacäo de, pelo menos, dois ma expressão vem empregacla corn a finalidade de incluir outras espécies de
militares. armas, como as irnpróprias, tais como: pau, facas, revolver de uso pessoal do
Crime Militar - Classifica-se como crime propriamente militar por militar, pedaco de fcrro, etc., CIUC não são material bélico.
se tratar de infracao penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar. Material bdlico 0 o que recehe essa classificação nas Forças Armadas,
Crime näo previsto na Iei penal cornum (inc. 1, 2 parte, do art. 9). como metraihadora, pistola, revolver, fuzil, baioneta, foguete, etc. A PolIcia
Militar e o Corpo de Boniheiros Militares, em princIpio, não dispöem desse
Objetividade JurIdica - 0 objeto da tutela penal é a disciplina mi-
espécie de material. Dissemos "cm princIpio" porque policiais militares do
litar diante do perigo decorrente da reunião de militares armados, praticando
Rio e de São Paulo utilizarn arniarnento classificado como material bélico no
violência contra pessoas c coisas, em pdhlico ou em local sob administração
enfrentamento a traficantes, na guerrilha urbana já instalada, apesar de nao
militar. Ha, igualmente, ofensa a ordem administrativa militar, no particular
reconhecida oficialmente.
aspecto da preservacão do material bélico e sua perrnanência na esfera de vi- Ratificando o acima exposto, não é exigida a utilização do armamento
gi1ncia da autoridade castrense. ou do material bélico napnItica de violência, sendo suficiente que os agentes
Sujeitos do Delito - Sujcito ativo, dois ou mais militares. Essa con- os conduzam na mao, no coldrc, mctidos na cintura, pendurados no ombro,
diçäo do agente integra o tipo. Sujeito passivo, as instituicöes militares. dentro de veIculo, ou de outra lornia qualquer, desde que visIveis.
Ekmentos Objetivos - A ação incrirninada é praticar violncia a 0 dispositivo legal menciona vio]ência contra pessoa on coisa, pdblica
pessoa OU a coisa. Divergindo da orientacão seguida, ao deflnir o motim e a re- ou particular, que não implica lcsao corporal. morte ou dano. Se sobrevieremn
volta, o Codigo fixou em dois o rniinero rnInimo de militares. Considerando-se a csses resultados, Os agentes respondcni em conforrnidade corn o disposto no
gravidade das sancöes, csse mimero deveria ser aurnentado pam oito. art. 153, que será comentado a seguir. Qualquer a espOcie de lesao ou a exten-
Como ocorre nos delitos anteriores, indispensávcl o ajuntarnento, a são do dano satisfaz a descricão Iipica.
proximidade, dos agentes, no rnomcnto da pratica dos atos incriminados. A A cxpressio "em lugar sujcito ou não i adrninist.racão militar", contida
reunião dos militares pode 011 não ser precedida de acordo prévio, 0 JflCSfl)O no ici, é dispensávcl. Scm essa relcréncia. a Ici penal alcançaria, da rncsni:i
acontece corn a violência, pode surgir espontanearncntc, scm qualquer mo- forina, OS atos delituosos descritos no norma penal, indepcndentcrnente do
two ou ajustc anterior. local do crime.

fl
152 Célio Lobão Direito Penal Militar 153

Os bens que suportarn a violência são particulares ou piblicos. Os pri- CAPITULO III

meiros abrangem bens de pessoa jurIdica privada e de pessoa fIsica. Os bens Concurso Material
piiblicos são os da União, do Estado e do MunicIpio, inclusive os que inte-
gram o patrimônio militar. Art. 153. As penas dos arts. 149 e 150 são aplicáveis sen-i
Decidindo conflito de jurisdicão, o entAo Tribunal Federal de Recursos prejuIza das correspondenies a violéncia.
proferiu a decisão seguinte:
Concurso Material - Em conformidade corn o disposto no art. 153,
lnvasão de Delegacia Policial par militares armados, que imobilizaram, as penas cominadas nos arts. 149 c ISO são aplicadas em concurso material
sob ameaca, as funcionários policiais e agrediram o seu titular. Armas utiliza- corn as do resultado lesibo corporal, morte ou dano, se esses resultados forem
das no incidente de propriedade particular. 0 fato de Os militares terem per-
alcançados.
petrado as desatinos descritos nos autos em grupo e fardados, por si so, não
serve de suporte a caracterização de delito de natureza militar. Conflito co- Entendemos a dificuldade, no caso concreto, da ocorrência dos resulta-
nhecido, declarada a competéncia do Juizo de Direito de Canoas".22 ' dos referidos na reuniäo, corn o lini niencionado no inciso Ill do art. 149. Igual
dificuldade depararnos na simples negativa em cumprir a ordem do superior
Discordamos do entendirnento da Cone Superior de iustiça. A conduta (inc. I do art. 149).
dos militares encontra tipicidade no art. 150: dois ou rnais militares; corn ar- 0 Código Penal Militar e a Cádigo Penal ora distingueni lesão corporal
mamdnto, que inclui a de propriedade privada; praticando violëncia contra o e homicfdio, da violência, wa ciiipregm esses termos como sinônimos. Scm
titular da delegacia. A condiçao de militar resultou do uso da farda. Sc estives- di.Ivida algurna, a lesão corporal e a morte decorrem de violência, entretanto, a
sem cm trajes civis, teriam agido como cidadäos comuns e nao na qualidade conceito jurIdico-penal da violencia não se confunde corn a dos crimes contra
de militar. Os agentes deveriam responder na Justiça cornurn, corn separaçao a pessoa.
de processos, pela ameaca e, se ocorreu, pela lesão corporal. Realmente, em alguns arligos dos dois diplomas repressivos citados, a
Reportamo-nos aos comentários dos crimes de motim c de revolta no violência vern perfeitarnente destacada dos crimes contra a pessoa, como
que se aplica o disposto no art. 150. acontece corn o art. 322 do Código Penal e os arts. 157, §§ 32 c 4, 158,
Elemento Subjetivo - A vontade livre e consciente de dois ou mais e 3, e 159 do Codigo Penal Militar. Os dispositivos do diploma penal castren-
se mencionarn exprcssanicnte a lesão corporal e a morte, qualificando o crime
militares, orientada no sentido de praticarem, em conjunto, violência it pessoa
ou a coisa, portando armamento ou material bélico. de violência.
Sabendo-se que a vioh?ncia é a forca fIsica que a agente faz atuar sobre
Consumacão e Tentativa - Consurna-se no momento da prática de
a pessoa ou a coisa, ocasionando on não dano a coisa ou a integridade fIsica de
ato de violência a pessoa ou a coisa, estando os militares reunidos e conduzin-
outrem, qual a pena a ser aplicada, nos tcmios do art. 153, se não resultar Ic-
do armamento ou material bélico.
sao, morte ou dano a coisa? Como aplicar as penas correspondentes a violên-
A tentativa é possIvel, quando Os militares reunidos e portando arma ou
cia, se a violência integra a lipo c, em razão dela, a agente é apenado em con-
outro material bélico, deixam de concretizar a violncia par motivos alheios a formidade corn a art. 150 e os incisos lie IV do art. 149'?
sua vontade, embora a tentativa possa configurar-se outro delito, como o do Se os militares estiverem cm serviço ou em função de natureza militar,
iflCiSo II (agindo sem ordern) do art. 149, combinado corn o parágrafo iinico do
desaparece essa condição no niomento da pratica dos crimes de motirn, de
mesmo artigo. revolta e o do ait 150.
Legislação Anterior - N,5o ha previsão nos diplomas castrenses Corno conscqUência, o resultado da violência sornente e delito militar se
anteriores. Trata-se, em ultima análise, de repetição das figuras delituosas do atendidos os requisitos seguintcs: oIndido igualmente militar (alIn. a, IT, art.
art. 149, corn alteraçöes que nao autorizam o acréscirno de mais urn artigo. 9) local do crinie sob adininistração militar e vItima civil (alIn. b, II); ofensa
Teve origem no art. 137 do anteprojcto do Codigo Penal Militar em vigor. a bens sob administração militar (alIn. e, V parte, II. art. 9). Na ausência des-
ses requisitos, os agentes respondeni na Justiça comurn pelo resultado da vio-
224 CC n2 2.703-RS, Trib. Pleno, unânime, DJ de 26.08.76. lëncia.
154 Cdlio Lobâo Direito Penal Militar 155

Por outro lado, se no decorrer da prática dos delito dos arts. 149 ou 150 Objctividade JurIdica - A lei tutela a disciplina militar, que no
o civil lesiona ou mata o militar revoltoso ou amotinado, o crime é comum, pode tolerar omissão no cumprimento do dever legal, diante de ttos grae-
ressalvada a hipótese de o fato ocorrer em local sob administracao militar mente ofensivos a disciplina, iii hierarquia, a organização militar e a própnia
(alIn. h, III). existência das instituiçöes militares.
Se o crime contra a pessoa ou a coisa nâo for militar, haverá separaço Sujeito do Delito Sujeito ativo, integrante do tipo, o militar. 0 ci-
de processos, permanecendo os relativos aos crimes dos arts. 149 e 150 na vil näo se inclui entre os agenics do crime, mesmo em co-autoria, por se tratar
Justiça Militar, encaminhando-se, a Justiça comum, os referentes ao delito de de crime propriamente militar. Sujeito passivo, as instituicöes militares.
homicIdio, de lesäo corporal ou de dano doloso. Elenientos Objetivos - Duas sio as condutas incriminadas: a de
Os resultados lesao corporal e morte so punidos amdiante a constata- deixar de cornunicar e a de onhitir-se no uso de rneios disponIveis.
ço de dolo OU de culpa. 0 delito comum de dano e exciusivarnente doloso. Na primeira, o mililar tern conhecimento dos atos preparatórios do de-
enquanto o crime militar de dano (hens sob administraçio militar) é doloso ou lito e não os coniunica no superior. Na segunda, encontra-se presente no inn-
culposo nos casos enurnerados nos arts. 262 c 264, combinados corn o art. memo irnediatarnente afflenor i consumacio do niotim ou da revolta e nan usa
266. do Código Penal Militar.
dos meios disponIveis para impcdi-los.
As duas espécies sio ornissivas. 0 agente ornite-se em comunicar no
CAPITULO IV superior a preparacao do iitottin on da revolta de que teve conhecirnento, ou
Omissão Diante do Motim e da Revolta deixa de praticar atos destinados a impedir o motim ou a revolta.
A lei irnpöe ao rnilitar o dever de participar, ao superior hierárquico, a
Art. 151. Deixar o inilisar de levar ao conheciinenro do preparaçäo dos atos ilIcitos referidos dos quais teve conhecimento, OU de im-
superior o motim ou revolta de cuja preparação teve notIcia, ou, pedi-los, estando presente no mornento anterior a sua concretizaçao. A comu-
estando presente 00 ato crirninoso, nao usar de todos OS meios nicacäo deve ser feita tao Jogo seja possIvel, não isentando de responsabilida-
ao seu alcance para iinpedi-lo: de a injustificada participacio tardia, embora anterior aos delitos em prepara-
Pena - reciusão, de três a cinco anos. çao. Não socorre o militar o fato de que, embora serodiamente, ainda restou
tempo suficiente para evitar a consumacao do delito, porque atende a descri-
çao tIpica apenas a omissao, independenteniente de outra circunstância, inclu-
Consideraçöes Gerais - No verbete do Código, o delito recebe a
sive a de nao ter ocorrido o niotim ou a revolta.
denominacao, de crime de "omissão de lealdade". Parece-nos que o fato não
se ajusta a essa denominaçao e sim a de omissão no cumprimento do dever A participacao feita a superior sem condicao de tomar qualquer provi-
militar do comunicar, ao superior hierárquico, a prcparaçao do motirn e da dência configura a infraçio penal. Por exemplo, o soldado ou graduado comu-
revolta dos quais teve noticia. Simplificando, intitulamos o delito de omissäo nica ao oficial alnioxarift, embora possa faze-lo a outro superior que dispoe de
diante do motim e da revolta. meios para reprimir os criminosos. Se o destinatário da comunicaçäo também
Sc omite, incursionia tias sançoes do mesmo artigo.
0 Código italiano prevê a omisso, em face da revolta, do motim e de
outros delitos: "il militare che per timore di un pericolo o altro inescusahie Na segunda rnodalidade do delito, o militar encontra-se presente no
motivo, non usa ogni mezzo possibiJe per impedire Ia esecuzione di alcuno dci momento anterior a consumaçâo do motim ou da revolta e omite-se em usar
reati contro Ia fedeltà o Ia difesa militarc, o di rivolta o di ammutinamento, che todos os nneios a seu alcance para impedi-los. Por exemplo, deixa de acionar o
si commette in sua presenza..." (art. 138). 0 argentino refere-se ao oficial quc alarme, de vedar uma passageni, de clamar pela guarda, de nao liberar arma-
"presenciare un motIn y no empleare todos los medios a su alcance para nientopara a guarda a fin) de intirnidar os revoltosos ou os arnotinados, etc.
conterlo y dorninarlo". (art. 692). Utilizando-se o agente do determinados meios que acredita suficientes.
Crime Militar - Crime propriarnente militar por se tratar de infra- corn a rejeiçiio deoutros mais cficazes, caso não consigua irnpeclir o motim OU
çLio penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar. Crime não pre- a revolta, näo ha crime, embora sua conduta possa ser apreciada discipJinar-
visto na lei penal comum (inc. 1, 2 partc, do art. 9Q) inente.
156 Cello Lobão
Direito Penal Militar 157

A omissäo no uso de meios para impedir o motim ou a revolta pode ser


"[... tampouco se ha que perquirir, como condiçäo indispensavel, o con-
indireta, na qual o agente, dolosamente, pratica atos ineficazes para impedir os certo prévio, pois o motim, como o contigura a lei, pode resultar da reunião, do
delitos citados. Iniciado o motim ou a revolta, nao ha como cogitar-se em in- ajuntamento eventual [ ... ],225
fracao ao art. 151, podendo a conduta do sujeito ativo ajustar a outro preceito
sancionador, caso se omita nas providências cabIveis para reprimir os arnoti- Na vigência do Codig o da Armada, Crysólito de Gusmäo criticava o di-
nados ou revoltoso. -
ploma legal por não prever agravamcnto de pena quando houvesse concerto
226
-
60. Elemento Subjetivo 0 elemento subjetivo é a vontade Jivre e previo. SensIveis a essa crIlica, OS autores do Codigo de 1944, copiando o
art. 178 do Código Penal Militar italiano, elegeram o concerto como delito
consciente de deixar de comunicar a prcparação dos delitos mencionados no
autônomo, o que foi seguido pclo aWal diploma castrense. 0 art. 178 do Cddi-
preceito legal ou a de deixar de usar os meios ao alcance do agente para iinpe-
go ita]iano tern a redacão seguinte:
dir o motim ou a revolta. A utilizaçao culposa de nieios ineficazes nâo consti-
tui crime, resolvendo-se disciplinarmente. "Accordo a fine di commettere rivolta o ammutinarnento. Quando
-
61. Consumaçao e Tentativa 0 delito de deixar de comunicar ao su- quattro 0 piü militari si accordano a fine di commettere alcuno del reati di
penor 0 motim ou a revolta em preparaço consuma-se nomomento em que o rivolta o ammutinamento preveduti dagli articoli precedenti, coloro che
partecipano allaccordo sono puniti, se II reato non è commesso, con Ia pena
agente, tendo oportunidade de cornunicar ao superior. deixa de faz e-b . A se- stabilita per II reato stesso, diminuita da un terzo alla metâ".
gunda modalidade do crime do art. 150 consuma-se no momento em que o
militar no utiliza os meios de que dispCe para impedir o motim ou a revolta, Referindo-se ao (IisJ)osiliv() acima transcrito, Ciardi assinala que o
embora tendo condiçoes para faze-b. As duas espécies no comportam tenta- acordo para cometer OS crimes de revolta ou de motim constitui fato gravIssi-
tiva. mo que cria perigo iminenic c ataca seriamente o ordenaniento militar, basea-
-
62. Legislação Anterior Art. 131 do CPM de 1944. do essencialmente na discIjIlirla.
-
Crime Militar Classifica-se como crime propriamente militar por
CAPiTULO V se tratar de infracbio penal cspecihca e funcional do ocupante de cargo militar.
Concerto para Motim e Revolta Crime não previsto na lei penal coinum (inc. 1, 2" parte, do art. 92)•
-
Objetividade .JurIdici Objeto da tutela penal é a disciplina miii-
Art. 152. Concertarem-se militares para a prática do cri- tar, a hierarquia, diante do perigo decorrente da rea1izaco da conduta descrita
no preceito penal. A lei protege, ainda, a autoridade militar, diminuIda em sen
me previsto no art. 149:
poder coercitivo legal, em face do ajuste de militares para a pratica de crimes
Pena - reciusão, de três a cinco anos. da gravidade do motim ou da revolta.
Parágrafo rnico. E isenlo de pena aquele que, antes da -
Sujeitos do Delito Sujeito ativo, integrante do tipo, o militar em
execução do crime e quando era ainda possIvel evitar-ihe as ndmero de dois ou mais. Crime plurissubjetivo. Se o civil toma parte do con-
conseqiiências, denuncia o ajuste de que participou. certo, responderá pebos atos praticados, se encontrarern definicao em outro
dispositivo da lei penal militar OU da lei penal comum, porque o concerto,
-
63. Consideraçöes Gerais 0 preceito norrnativo refere-se a concerto como crime propriamente militar. consiste na violaciio do dever de disciplina
ao qual 0 civil não se encontra vinculado. Sujeito passivo, as instituiçöes mi-
em vez de conspiraço, como vem expresso no tItulo do delito. Apesar da si-
litares.
nonImia, preferimos a denominaçao de concerto, como consta do texto da lei.
Conforme assinalamos ao tratar do motim e da revolta, o Codigo nao
-
67. Elementos Objetivos 0 ni.Icleo do tipo é concertar, que significa
concordar, ajustar, pactuar, combinar a prática dos crimes previstos nos mci-
incluiu o concerto prévio como ebernentar dos crimes de motim e revolta,
sos I a IV do art. 149.
como acontecia no antigo Codigo da Armada, no Código espanhol e no fran-
cCs de 1982 (art. 442). Assim se pronunciou sobre a matéria o Superior Tribu-
225
nal Militar: Ap. n2 35.007, Ernent. do STM, abril de 1966.
226
Crysólito de Gus nião, Dir. Pen. Mi!., p. 63.
158 Cello Lobão Direito Penal Militar 159

0 crime é de ajuste, de acordo, de comunhäo de vontades, corn o fim de ratórios que a lei, em ma hora, elegeu como crime, e, como tal, dispensa a
corneter os crimes de motim e de revolta, nas diversas modalidades expressas realizacão do fim perseguido pelos agentes, que serão penalizados se, por
nos incisos I a IV do art. 149. 0 tipo näo exige reunio dos agentes: o concerto qualquer motivo, não sobrevierein o motim ou a revolta.
pode resultar da concordãncia de dois ou mais militares separados, isto é, da Por outro lado, concretizando-se o motim ou a revolta, os que dele
conversa corn urn ou mais militares, que aceitam realizar o motim ou a revolta. participararn, e, também do concerto, respondem apenas pelo motirn oa
0 que importa 6 a concordância, 6 a cornunhão de vontades, o acerto para pela revolta.
realizaçio do motim ou da revolta. Näo se confunde corn conversa, externando Elemento Subjetivo - A vontade livre e consciente orientada no
insatisfaçäo, discordância, e sirn a deterrninaçao para realizar o ato ilIcito. sentido do concerto, do ajusic. corn o firn especIfico de realizar os tipos des-
embora scm fixação de dia, hora ou local. critos nos incisos I a IV do art. 149.
Note-se a dificuldade da tipificação do concerto para a pratica do delito Consumacão e Tentativa - Consuma-se o delito no mornento em
do inciso III, porque os agentes tcrio de ajuslar que, no futuro, iro reunir-se que dois OU mais militares concordarn em praticar 0 motirn ou a revolta, nao Sc
para asscntir "em recusa conjunta de ohediência. on cm resistência ou violên- exigindo a concretizaçao do delito ajustado. A tentativa nao 6 juridicarnente
cia, em comurn, contra superior'!
possIvel. Inexistindo acordo, mesmo por morivos alheios a vontade dos agen-
A norma penal exigc que o concerto tenha por finalidade o motim ou a
tes. resolve-se no mbito disciplinar, caso não encontrc definiçâo em outro
revolta, a serern acordados por dois ou mais militares, corn a participaçio de
preceito sancionador.
dois. pelo menos. No diploma de 1944, a exemplo do COdigo italiano. a nii-
mero mInirno de agentes era de quatro. Isencão de Pena - 0 Cddigo isenta de pena o agente que participa
Sc o propOsito do acordo é a desobedincia, ao superior, pelos militares do concerto e denuncia o ajuste antes da execuçäo dos delitos combinados e
em separado OU apenas por urn dos participanics, inexistc o delito. quando ainda era possIvcl evitar-ihe as conscqUências.
Ao concerto nao se ajusta o conceito de ato de execução, e sim o de ato Corn ficou dito aciina, a figura delituosa do art. 152 constitui-se em
preparatório do motirn e da revolta, que o legislador houvc por bern eleger atos prcparatorios do niotim e da revolta, enquanto o paragrafo ilnico refe-
como crime, seguindo o Direito italiano. re-se ao moincnto anterior it execução do crime, isto é, anterior a consuma-
0 saudoso mestre Heleno Fragoso expunha que a "distinção entre atos ção do delito proposto. Logo, em conformidade corn o disposto no parágra-
prcparatOrios e atos de execuço constitui difIcil problerna, tenclo sido formu- fo ünico, após cometer o crime de concerto (realizar atos preparatórios do
ladas a proposito diversas teorias". Prosscguindo, csclarece de forma precisa: motirn ou da revolta), o militar arrepende-se e comunica o ajuste, mesmo
posteriormente aos atos de execucão, após iniciar o ataque ao bern jurIdico
"Tendo em vista o sistema de nossa lei, prevalece na doutrina urn crité- tutelado, mas anteriormente a consurnaçäo e ainda quando era possIvel
rio objetivo de distinçao, sendo irrelevante, em princIpio, 0 pIano delituoso do evitar-ihes as conseqtiências.
agerite. Materialmente constitui ato de execução aquele que inicia o ataque ao
bern jurIdico tutelado; formalmente, tat ato distingue-se pelo inIcio de realiza- Como se ye, a concssão do benefIcio suhordina-se it cornunicacao an-
cäo da acao tipica prevista pela Iei. Ato preparatório é a que possibilita, mas tenor a consumacão do iflotini ou da revolta, em tempo hábil, capaz de possi-
não constitui, ainda, a execuçào. Não basta, portanto, a revelaçao do propó- bilitar it autoridade evitar-lhe as consequências. Por outro lado, a consumacao
sito de corneter o crime nem a prática de atos inequivocos dirigidos a açao in-
criminada que ainda nao correspondam a seu inicio".227 do delito. a omissâo da autoridade ou a ineficScia dos meios adotados não
impedem a isenco da pena. 0 que importa 6 a dentincia quando era possIvel
Portanto, seguindo o ensinamento de Fragoso, o ajuste de militares para evitar as consequéncia do delito ajustado.
a prática de motirn ou de revolta, sern thivida alguma, nao constitui inIcio de Se o niilitar cornunicou o concerto a autoridade competente, mas, dadas
ataque ao bern jurIdico tutelado no art. 149. 0 concerto possibilita, mas iiäo as circunstthicias de tempo, tugar, de deficiência da unidade, não foi possIvel
constitui, a execução, pois se satisfaz corn a simples concordância de dois on cvitar as conseqiiências danosas do delito ajustado, ou a autoridade se ornitiu
mais militares de cometerern urn dos delitos do art. 149. Logo, Sao atos prepa- nas providências cabIveis, a isençâo 6 aplicdvel. 0 mesmo acontece se, apOs a
comunicaçao, o mourn ou a revolta nao se concretiLarn porquc os militares
22t
Helena Fragoso, LiçOes, Parte Geral, p. 248.
tiveram conhecimerto da delacao, pela desistência ou outro motivo qualquer.
160 Célio Lobão Direito Penal Militar 161

A especie do paragrafo ünico e de escusa absolutória que, segundo en- I Pena - reclusão, de lrêS a nave anos.
sinamento de Heleno Fragoso, e condicao negativa de punibilidade do crime. e
§ 22 Se a violência praticada corn arma, a pena é au-
Prossegue o ilustre professor: men tada de urn terço.
"Subsiste aqui a ilicitude, ocorrendo apenas causas pessoais de exclu-
§ .3 Se da violencut resulia iesao corporal, aplica-se, aléirz
são da pena. [...] Em tais casos, o fato não perde o seu caráter delituoso, de-
da pena da violência, (1 do crime contra a pessoa.
clarando-se,orém, a isençao de pena por motivos de oportunidade ou polIti- 4-° Se da violência resulta inorte:
ca criminal Pena - reclu.vuo, (IC doze a trinta anos.
§ 52 A pena e auineniada da sexta parte, se o crime ocorre
Esciarece Darnásio de Jesus, referindo-se as escusas absolutórias:
enz serviço.
"Distinguem-se das causas excludentes da antijuridicidade e da culpa- A violência contra superior é crime pro-
72. Consideraçöes (erais
bilidade. As excludentes da ilicitude excluem o crime; as excludentes da cul-
pnarncnte inilitar, cnquanlo a vinkncia contra militar em scrviço (art. 158) é
pabilidade excluem a censurabilidade da conduta do sujeito, isentando-o de
pena. As escusas absolutérias, entretanto, deixam Integros o crime e a culpa- jpb0piiu1'u1te inilitar. Quantn violiicia contra militar cm serviço, esta será
bilidade. 0 fato permanece tipico e antijuridico; o sujeito, culpável. Contudo, incluIda na Pane Ill. que Irala dos clinics imprOpnamente militares.
por razöes de utilidade pUblica, fica isento de pena. Como ensinava Jiménez No Cddigo Penal da Anntda. a viol3ncia contra superior era uma das
de AsUa, nas excludentes da ilicitude não ha crime; nas causas de inculpabili- modalidades da insuhordinaç:to. portanto, distinta do hornicIdio e das lesöes
dade não ha delinquente; nas escusas absolutOrias não ha pena'
corporais, corno expöe Macedo Snares:

Na espécie comentada, permanece o fato tIpico e antijurIdico, o sujeito "0 elemento constitutivo dessa espécie do crime de insubordinaçao é a
culpavel, porém isento de pena; logo, escusa absolutória. Considerando que os agressao ao superior, distinguindo-se assim das ofensas fisicas e do homici-
crimes do art. 149 acarretam graves lesöes a disciplina, a hierarquia, e deses- dio previstos nos arts. 150 c 152" (0 art. 150 e 152 do COdigo da Armada tra-
tam do homicidio e da lesäo corporal, respectivamente).23°
tabilizam a estrutura da corporação militar - corn reilexos na unidade onde
servem Os infratores e nas demais organizaçöes militares, pondo em perigo a
73. Crime Militar ('orno ficou dito, violência contra superior (art.
própria existência das instituicöes castrenses —,o legislador houve por bern
157) é crime propriamcnte iiiilitar por se tratar de infraçäo penal especIfica e
isentar de pena quem, apOs haver cometido o crime de concerto, comunica a
funcional do ocupante de cargo inilitar. Crime não previsto na lei penal co-
preparaçao do motirn ou da revolta.
I' mum (inc. 1, 2 4 parte, do an.
Embora dispensável a observaçao, a escusa absolutória 6 pessoal, dela
.Jurídica - Objeto da tutela penal é a disciplina cas-
não se aproveitando os co-autores, ainda que não se concretize o delito firn.
trense, princIpio basilar da organizacãO militar, diante do perigo decorrente
71. Legislaçao Anterior - Art. 132 do CPM de 1944.
das condutas descritas no precelio legal, que atingem a rclação de subordina-
cao, de hierarquia, pondo em risco o princIpio de autoridade, indispensével
CAPITULO VI
para que as instituiçöes rnilitarcs realizem sua destinacäo constitucional e
Violência contra Superior
legal.
75. Sujeitos do Delito --'rrataiido-se de crime propriamente militar, so-
Art. 157. Pralicar violência contra superior: rnente o militar pode ser sujeito ativo. Sujeito passivo, as instituiçöes milita-
Pena - detençao, de tiês ineses a dois anos. res; e ofendido, o superior hicr:inqiiico.
§jC
Se a superior é coniandanie da unidade a que perten- 76. Elementos Objetivos Violência consiste na forca fIsica que o agente
cc o agente, ou oficial-general: faz atuar sobre o superior liierarquico ou, na modalidade qualificada. contra seu
comandante ou ofici al-general. corn utilizaçao do próprio corpo (vis corporalis)
228
Heleno Fragoso, Liçöes, Pane Geral, p. 223-4.
229
Damásio de Jesus, Dir. Pen., v. 1 p. 651. Macedo Soares, COd. Pen. Mi!.. p. 152.
162 Cello Lobão Direito Penal Militar 1€3

ou exercitada por meio de instrumento (vis physica) impelido por outro instru- vias de fato (toiher os movimentos da vItima, amarrá-la, aniordaça-la, encerri-
mento, pelo ar expirado dos pulmöes, pelos membros ou outra parte do corpo Ia), isto é, violência fIsica scm dano a integridade corporal. Se ocorre morte (la-
humano. A motivação da violência é elemento estranho ao tipo. trocInio) ou lesão corporal grave, o rouho passa a ser qualificado, corn pena au.tô-
Para concretizaçao da violência é suficiente que o corpo do superior hi- noma exasperada (§ 32 do art. I ),,.2.11
erárquico seja tocado, embora sem ocasionar lesão ou morte, porque, se hou- 0 mesmo autor, no dntaino, ao cornentar o art. 161, § 12, 11, combinadu
ver uma ou outra, o crime se qualifica. A violência exterioriza-se, ainda, corn o corn o § 22 do mesmo artigo do COdigo Penal (esbuiho possessório qualifica-
fato de o sujeito ativo imobilizar o superior, irnpedindo-o de locornover-se do), não exclui a lesäo corporal leve do conceito de violéncia: "Viol&icia-
contra sua vontade, mesmo porque, conforme esclarece Soler, "violencia sobre fi cumpre insistir, quer dizer a enipregada sobre o corpo da vItima (vis corpora-
la persona quiere. evidentemente, decir, violencia fisica.231 us), resultando lesão corporal on hom1cIdi0".2 31,
No atual Código de Justiça Militar frances (Lei n2 82-621, de 21 deju- Darnãsio de Jesus, relcriitdo-se ao estupro qualificado pelo resultado
iho de 1982), nos arts. 450 a 452, vias de fato c violéncia são empregadas (art. 213, combinado corn o art. 223, ambos do CP), expoe que a vioiência
corno sinônirnos, enquanto o art. 456 refere-se somente a violência. Essa smo- referida no art. 213 "pocic ser tIsica (vis cibsoluta ou vis corpora/is)' e, "na
nImia, no entanto. não é aceita na doutrina. como expöe Saint-Laurens, da
primeira hipOtese, ha o eniprcgo de !orca material sobre a própria vfiinia, re-
Corte de Apelação de Bastia: duzindo-a a impossibilidade de resistir no ataque sexual".23 ' Prosseguc cscla-
Violences et voies de fait sont souvent confondues dans le langage recendo que o estupro e o aten (ado vic)Iento no pudor "são os crimes contra os
courant et même ces expressions sont simultanément insérées, comme costumes praticados coni violCncia, cm virtude da qual pode advir o rcsultado
équivalentes, dans les decisions de justice. Cependant chacune d'elles répond qualificador", c afirma que as "lcsöes corporais leves e as vias de fato não
A une notion distincte. La violence implique un acte materiel de brutalité sur qualificam o crime contra OS costumes, visto que SãO consideradas elementa-
une personne, par exemple, le fait de Ia jeter a terre en bousculant, de la tirer
par les cheveux ou de Ia ligoter. Cette confusion est sans consequence res",238 isto C, integrarn a violC'ncia.
pratique puisque les vois de fait et les violences sont prévues et réprimées par Quando trata da iii jciria real (art. 140, § 2, do CP), o mesmo tratadista
es mêmes dispositions p6nales".232 estabelece a seguinte distinção:

No Direito penal militar italiano, a denominação vias de fato foi subs- "Por violéncia se entende a lesão corporal, tentada ou consumada, em
titulda por insubordinacão corn violência (art. 186), corn a concordância de qualquer de suas formas, love, grave, ou gravIssima (CP, art. 129). Por vias
Manassero, segundo o qual, "La fonnula 'violeoza', viene ad eliminare de fato, dove-se entender todo comportamento agressivo dirigido a outrern,
l'antiquata ed impropria locuzione 'vie di fatto', di cui all'art. 124 c.p.es. 1869, desde que dele não resulte lesão corporal. Quando o sujeito comete injCria
real enipregando vias do fato, estas são absorvidas pelo delito de maior gravi-
che, come è noto, ha dato luogo in pratica alle Inaggiori incertezze".233 dade. Quando, porém, a injCria e cometida por intermédio do lesão corporal, o
Ao substituir vias de fato por violência, o Cddigo italiano adotou defi- sujeito responde por dois crimes em concurso material: injCria real e Iesão
nição jurfdica diferente da filológica, merecendo aplausos de Ciardi que, corporal".239
igualmente, considerava a expressão vias de fatoantiquada e impr6pria.234
No Direito e na doutrina brasileiros, violCucia ora abrange lesão corpo- Para Magalhães Noronha, "em toda sua amplitude, compreende a vio-
ral leve e vias de fato, ora alcanca lesäo corporal grave, gravIssima e o horni- lência qualquer ofensa fIsica no indivIduo, indo desde a contravencão de vms
cIdio. Segundo Nelson Hungria, "violCncia fIsica a pessoa (vis in personain) é de fato ate o homicIdio. Conseqiienternente, são violCncia o empurrão, a be-
a vis corpore i/law, o emprego de força sobre o corpo da vItirna. Em face do fetada, a esputacão, etc., e o ferimento leve, o grave e o hornicIdio".24°
Código penal (pelo cotejo entre o capul e o § 31' do art. 157), o rouho, no sen
tipo fundamental, exige a ocorrCncia de lesão corporal de natureza leve, ou
Nelson Hungria, Co!nentár!o, V. 7, p. 54.
' Nelson Hungria, Comentários, v. 7, p.93.
231
In Colombo, El Der. Pen. Mu., p. 286, nota 410. 27
Damásio de Jesus, Dir. Pen., v. 3, p. 97.
'' In Rep. Dr. Crim. DalJoz, T. II, p. 970, n2 9. 28
DamásiodeJesus, Dir. Pen. V. 3, p. 139-40.
239
234
Manassero, I Cod. Pen. Mi!., v. 2, p. 244-5.
240
Damásio de Jesus, Dir. Pen. v.2, p. 246-7.
G. Ciardi, II Nuovi Cod. Pen. Mi!., p. 273. Magalhaes I'Joronha, Dir. Pen., v. 4, p. 289.
S

164 CélioLobão Direito Penal Militar 165

Portanto, conforrne Nelson Hungria, violncia significa o emprego da


forca fIsica sobre o corpo da vItima, "sern dano a integridade corporal", e tam-
hem "a empregada sobre o corpo da vItima (vis corporalis), resultando lesão
t Näo é diferente o entendiinento expresso na sentença de 12 de novern
bro de 1948, da Câmara de Apeiação Criminal e Correciona! de Buenos Aires,
citada por AsiIa, segundo a qual o conceito de violência "no implica la
corporal ou homicIdio". De acordo corn Damásio de Jesus, a violência corn- producción de un daflo en ci cuerpo o en Ia salud", podendo "haber violencia
preende "lesöes corporais leves e as vias de fato", e dela pode advir o resulta- sin lesion . -
do qualificador, lesão de natureza grave e homicIdio. Finalmente, Magalhes São exemplos de violência: arrancar distintivo, botão, bolso ou outra
Noronha inclui no conceito de violncia toda e qualquer forca fIsica que o parte do fardamento ou do traje civil, dar tapa na "cobertura", lançando-a ao
agente faz atuar sobre outrem, indo desde a violência siricto sensu ate o horni- chão, ou simplesmente desiocando-a, assim como empurrar o superior corn o
cIdio. Logo, segundo os autores citados, violência e vias de fato, Iesão corporal corpo ou corn urn objeto, segurar-Ihe o braço, bater-Ihe corn a mao ou corn
leve, grave e gravissima, homicIdio e tambCrn a forca fisica atuando sobre qualquer objeto ou "coscienicriieiitc e volontariamente trattiene per un hraccio
outrern, scm dano a integridade fIsica. ii superiore 243
0 conceito de violëncia, corn essa amplitude, não C pacIfico, tanto as- Não se ajusta ao nosso ColicciR) de violência a decisão do Tribunal Militar
sim que o Codigo Penal Militar italiano, corno ficou clito acirna, ofcrece defi- italiano, que considerou violCucia cuspir sobre o superior, 4 podendo configurar-
nicão de violência abrangendo os resultados acima. ao lado de outra sern tais se desrespeito oii mesmo dcsacalo, contonne as circunstfincias do ato.
resultados: a insubordinação coin violência (art. 186 ). A prinleira modalidade Como decidiu a colic castrcnse italiana, violêrcia cornprcendc 'ic
\?em expressa no art. 43, assini redigido: percosse", isto C, "ogni ofiessa lisica che non leda l'integrità personale e non
produca una malattia, ma solianto sia idonea ad arrecadare una sensazione di
"Agli effetti della legge penale militare, sotto la denorninaziorie di dolore".245 Mesmo scm a sciisaçio de dor, haverá violência, pois tambCm
violenza si comprendono lornicidio, ancorchè tentado o preterintenzionale, le compreende "i maltrattaiiienii", que pode scr "tutti gli atti che investendo
lesioni personali, le percosse, I maltrattamenti, e qualsiasi tentativo di materialmente Ia persona dcl superiore, anche senza lederne l'integrità fisi-
offendere corn arrni". ca".246
A espécie niio alcança a violencia moral nem aquela praticacla contra a
0 Cddigo Penal Militar brasilciro, divergindo do diploma italiano, ora in- coisa, por exemplo, atingir u veiculo no interior do qual se encontra o superior.
clui os crimes contra a pessoa no conceito de violência, ora define a violência Por outro lado, constitui violência niinistrar substâncias qufmicas afetando o
como entidade autônoma e distinta da lcsäo corporal e do homicIdio. Entretanto, organismo humano, expor ñ radiaço, etc.
ao tratar da violência contra superior (arts. 157 a 159) e contra inferior (art. 175), Quando a acao do suhoidivado tiver por finalidade escapar das mãos do
distingue, perfeitamente, a violência do homicIdio e da lesão corporal leve, grave superior, que procura obrigi-lo a cumprir determinada ordem, inexiste vio1n-
e gravIssima. cia, pela ausência do clenienlo sub jetivo. Por exemplo, se o agente usa a forca
Dessa forma, no delito de violência contra superior, a ação incrirninada para evitar que seja recoihido i cadeia ou conduzido ao quartel em veIculo
é a força fIsica que o agente faz atuar sobre o corpo do superior sem ocasio- militar, näo ha violência contra superior, pela ausência de dolo, porquanto a
nar-Ihe lesão de qualquer natureza ou morte, porque se sobrevicrein esses vontade do agente orienta-se no scntido de evitar seu recoihimento ou sua
resultados, o crime qualifica-se. condução, e no a prática de vioJncia. Scm d.i'ida alguma, o militar responde
Seguindo onentacao correta, decidiu o Superior Tribunal Militar: por dcsobediCncia ou outro crime, e por lesöes corporais, se for o caso.
Outro aspecto a scr abordado, no que se refere a violência, C o constante
"A sirnples violência contra superior, embora não cause qualquer lesão da decisao da Coric de Cassaçño irancesa, citacla por Marcel Rousselet et
ou dano material, constitui crime de violéncia, pelo art. 136 do COdigo Penal Maurice Patin, segundo a qual os abs materiais, de modo a impressionar vi-
Militar. Assim não era pelo antigo código, de sorte que o novo dispositivo não
se aplica aos fatos anteriores a vigência do atual cádigo" (o acórdäo refere-se
ao art. 136 do CPM de 1944, que corresponde ao art. 157 do atual).241 27 Jirn6nez de AsOa, Traf. Do,. Pen,T. Ill, p.565.
" In Saverio Malizia, Cod. Pen. Mo., p. 132.
In Saverio Malizia, Cod. Pen. Mi!., p. 132.
215
4
AcOrdão do Trib. Viii. italiano, in S. Malizia, Cod, Pen. Mi!., p. 32.
24. In Silvio Teixeira, Novo Cod. Pen. Mi!., p. 303. 246
Ac. do Trib. Mu. italiano, in S. Malizia, Cod. Pen. Mi!., p. 32.

.k
e

166 Célio Lobão Direito Penal Militar 167

vamente, como apontar urn fuzil, são considerados violência.247 Essa orienta- A condiçao de superior de urn militar em relação a outro decorre do
ção não é nova, como se pode ver em Augier et Le Poittevin: posto ou da graduacão e da funcio do cargo em razão da qual autoridade é
exercida, estando urn c outro no tuesmo posto ou graduacao (art. 24 do
"II est evident toutefois que des menaces pourraient être considérées CPM)). A superioridadc hicnirquica, cm razão de posto ou graduacão, existe
comme des violences, si elles étaient accompagnes de gestes ou dactes entre militares das diferenles corporaçñcs das Forcas Arrnadas e entre policial
destinées a faire croire a leurs rdalisation immediate [•,},248
militar e bombeiro militar da mcsuia Unidade Federativa.
Decisöes dos tribunals 16 adrnitido subordinaçäo hierárquica entre
Não divergem os acórdãos de 1911, 1912 e 1926, citados no Repertoire
militares estaduais de diferetites Unidades Federativas. o que pode ser aceito
de 1953:
em face da conceituação do mniliIir estadual, expressa no art. 42 da Constitui-
"[ ... ] Ia simple exhibition dune arme suffit pour constituer le délit de cäo, corn a redação da Emcndt (otistitucional n 18. Nessa hipdtese, conio
violences ou voies de fait, lorsque les circonstance qui ont accompagné cette ficou registrado anteriormdilto. cuimipetencia d da Justiça Militar da Unidade
exhibition lui ont donné un caractére menaçant de nature a causer une vive Federativa de origem do sujCIIu alivo.
impression sur autrui[ ... ]. La simple exhibition dune arme suffit pour constituer Se o agente desconhccc 1 (111:Ilidade do ofendido (inc. 1, art. 47), ou se a
le délit de violences et voies de tail".249 ;ircssão (inc. 11, art. 47), deixa de incidir o
violCncia é praticada em repu
art. 157. A agressão referida comprecnde a fIsica c a moral. Fsta i.iltirna ji
Nessc sentido, o disposto no art. 659 do Código de Justica Militar ar-
obteve sanção jurisprudcnciiI di ( uric Superior castrense, que incluiu, ainda,
gentino e no art. 324 do diploma castrcnse espanhol.
a conduta do superior incumn pit ivel corn a diferença imposta pela hierarquia.
As diversas foniias de violência do Direito frances, evidentemente, não
por cxernplo, tratar o subordimiulu pot' apelido, 51 provocá-1o, 52 desafiá-lo para
tern acoihida no Direito brasileiro, merecenclo citacäo a correta decisão do
desforço pessoal, "se a acao icsulta de tratamento nAo condigno da parte do
Superior Tribunal Militar, no acórdão proferido na Ap. n c 30.221, de 10 de
novembro de 1958: "ViolCncia. Tentativa. Não se caracteriza o agarrar o su- superior", 3 out, equiparando-se ao inferior, corn dc se entrega a lihacocs al-
hordinado urn tinteiro corn possIvel intenção de arrernessá-lo. 0 fato constitui coólicas e delas vão a vms de at
0 Codigo penal castrei)se espanhol sanciona corn pena do Código co-
desrespeito [...]". A decisão não foi unâninic, corn voto vencido que näo se
ajusta a Iegislação brasileira: mum a violência praticada pelo suhordinado contra superior em repulsa a
ofensa em sua honra de marido OU (IC pai e surpreendido o culpado em ha-
"{ ... } o crime de violéncia contra superior se consuma com a prática de grante delito (art. 322). Fsclarecc A)arcdn Roldán: "en tales momentos no
ato violento, ainda que não seja a vItima atingida, pois que, ocorrendo les5o,, existen categonas ni respelos que guardar a nadie; no hay más que dos
responderá o agente pelo resultado de sua acão, sem prejuIzo da aplicaçâo hombres frente a frente, mm olensor y otro ofendido en lo más sagrado de sit
da pena pela violéncia". honra privada, y el Ejército no puedc sentir quebrantada Ia disciplina por la
suerte que ocorra un supenoi' que se ha despojado a si miesmo de su caráter de
Ncm mesmo tentativa houve na espécie mencionada. Como acentua tal".255 0 Código argentino de 11895 estabelecia isenção de pena, caso as vias
Manzini," on bisogna confondere Ia seniplice minaccia con ii tentativo di vie de fato fossern motivadas por otensas ahonra do subordinado.256
di fatto, perchè diverso, nei due casi è l'elcrnento morale e materiale del No diploma militar italimimu, ligura a atenuante de o crime ter sido prari-
fatto".2° cado em estado de ira determninada por ato injusto do superior (art. 194), ad-
Para concluir, diremos que somenle liii violCncia se o corpo do superior, vertindo 0 Tribunal Militar penimistilar que erronca Ia motivazione che
os acessOrios do fardamento OU do traje civil, a vestimenta, forem atingidos giustifica ii diniego della circustanza attenuante della provocazione dcl
pelo próprio agente ou por instrulnento por dc impulsionado. Não inc]ui so-
prar sobre a cabeça. Pode configurar-se desrespeito.
' Ap. n 33.052-SIM, DJ/G8 do 07.08.63, p. 671.
247
'Ap. n2 16.267-STM.dO 26.07.48.
Marcel Rousselet et Maurice Patin, Dr. Pen. Special., p. 139. "3
Ap. n2 67 32.369-STM, DJ/Q13 do 01.08.62. p. 685.
246 Augier et Le Poittevin, Dr. Pen. Mi!., t. II, p. 527. 254 Ap. n 31.229, STMde 12.07.61, p. 413.
249 Rep. Dr. Crim. et de Procéd. Pen., t. I, p.146, n. 5 e 149, n. 56. 255
In Carlos Colornbo. El Der, Pen. Mi!., p. 285.
250 216
In A. Manassero, 11 Cod. Pen. Mi!., v. 2, p. 247. In Carlos Colornbo, El Der. Pen. Mi!., p. 285.
168
Célio Lobão Direito Penal Militar 169

supenore at reato d'insubordinazjone con l'afferrnazione che debba in ogni No Direito brasileiro, o onus da prova relaciona-se corn as circunstânci-
rnodo essere tutelato it prestigio del superiore in grado nell'interesse della as do fato. Estando a ofendido fardado, cabe ao agente provar que desconhecia
disciplina. L'affermazione, infatti, è priva di senso, perchè iluporterebbe, se a condição de superior ou de inilitar tins condiçOes expressas na qualificadora.
esatta, l'inapplicabilità in qualsiasi caso della disposizione del codice militare Se, ao contrário, a superior ostenla traje civil, cabe ao orgão de acusação pro-
che contempla l'attenuante anzidetta".257 var o conhecimento da qualidade do militar ofendido. No entanto, 6 questão
No desconhecjrnento da qualidade de inferior (inc. I), não se faz pre- de fato a ser decidida pelo julgador.
sente o elemento sub jetivo, neni na espécie do inciso H, corn a amplitude da Elemento Subjetivo - C) elernento subjetivo consiste na vontade Ii-
interpretaçao das cortes castrenses, estri ausente o objeto da tutela penal, isto é, vre e consciente de praticar violência contra superior hierárquico ou, na forma
a disciplina militar, no aspecto da relaço entre superior e suhordinado. qualificada, contra oficial-gencral e cornandante da unidade a que pertence o
Corn efeito, não hi conio falar em intcrcsse da disciplina na manuten- agcnte, tendo este conhecimcnlo da condicao do ofendido.
ção do prestIgio do posto, da funço ou da !zraduaçao, pois o ato ilIcito nao Forma Qualilicada -- Fstão previstas formas qualificadas, cm razão
tern mais corno destinatirio o superior hienirquico que Sc despojou dessa con- da qualidade especial da vItinrn, do instrumento do crime, do resultado do ato
dico pela conduta contrãria a que deve ter cm relaçao aos que Ihes so suhor- (lelituOS() e de detcrminadas circuiistincias no momenta do delito.
din ados. A prirncira. expressa no § JL', refere-se ao grau hierarquico (oficial-
Entrctanto, no se ajusta a noniia expressa no citado inciso II a oposiço general) do superior ou i lullça() que dc exerce (comandante da unidade a que
a aço mais vigorosa do superior destinada a obrigar o suhordinado a agir de pertence o agente). A let I)tIl militar dispensa especial protecao para quem
ocupa a grau mais elevado na hicrarquia militar c integra os órgãos de direção
determinado modo, em situaçäo de cmergência, de perigo, bern corno, "Fuso
no ãrnbito da organização iuiilitar. Igual prOteca() é estcndida ao comandante,
da parte del supenore di mezzi coercitivi allo scopo di condun-e l'inferiore
cuja função assume relevante importãncia na rnanutenção da disciplina, da
all'obedienza e at rispetto del prestigio del grado".255
ordem, da preparacão da trupa, aldrn da rcsponsabilidade pela segurança da
0 Tribunal Supremo Militar italiano, em decisão de 7 de dezembro de unidade militar. A protecão di lei alcanca o comandante de grande unidade.
1954, decidiu:
CO() a exércita ou a eSqua(lra, on tie pcquena, conio a patrulha.
0 oficial-general e, ohvianiente, a comandante da unidade são superio-
"[ ... ] in tema de insubordjnazione con violenza coniessa
da militare res ao agente em grau hierarquico e em razão de funçãa (art. 24). Corn efeito.
ubriaco, è necessario accertare se lagente abbia avuto coscienza di trovarsi di
tronte a superiori, non essendo sufficiente Ia volontarietà deIl'ubriachezza per trata-se de violência contra superior e as circunstância agravariteS especiais.
inferirse che tale riconoscimento siasi verificato".259 coma acentua Magalhães Noronha, "são elementos que se agregarn ao delito
scm alterá-lo substancialniente, nias produzindo efeitos e conseqUências rele-
Decisäo da corte castrense espanhola datada de 18 de dezembro de vantes".26'
1891 esclarece que, embora a superior n?Io ostcnte divisas, não se pode admi-
tir desconhecesse o inferior essa qualidade do ofendido. tendo em vista o ca-
S1 0 delito 6 de violOncia contra superior e a ele se agrega a condição de
militar, no posto de oficial-geiteral ou de comandante da unidade a que per-
rater de que se rcvestiu a fato. 260 tence o sujeito ativo, resuitaiRk) no substancial agravamento da pena. Nenhu-
ma di.ivida quanta a relaçao de superior e subordinado ent.re oficiais-gcnerais,
Realmente, as palavras usadas pe]o agente, ou outras circunstncjas de quer em razãa do posto oc111mdo no generalato, quer decorrente de função. Par
fato podern demonstrar que a qualidade de superior näo era desconhecida do
exeniplo, a tencnte-brigadniro é superior hierarquico do major-brigadeiro, do
agressor. A prova de que 0 Sujeito ativ() conhecia a qualidade de superior, no
general de divisão, do coiilra-ainiirante. 0 almirante de esquadra, no cargo de
Direito esparihol, cabe no acusado, cnquant() que no Direito argentina o onus é Ministro da Maririha ou anita equivalente, após a irnplantacão cia Miriisténo
do acusador.
da Defesa. é superior hicrarqu;co dos militares da Marinha de igual pasta,
embora não a seja do oIicinI-citerai do mesmo posto do Exército ou da Man-
18
In Saverio Malizia, Cod. Pen. P4/I., p. 141. nha.
' Ac. do Trib. Mu. italiano, in Saverio Malizia, Cod, Pen. Mi!., p. 142.
29Hn S. Malizia, Cod. Pen. Mi!., P. 131.
260
In Carlos Colombo ElDer. Pen. Mu., p. 227. 260
Magalhaes Norontia, Dir. Pen., v. 1, p. 316.
170 -. - 171
CeIo Lobao Direito Penal Militar

Continuando o exemplo, o coronel do Corpo de Bombeiros é superior sIvel se, por exemplo, o primeiro ou o segundo säo recérn chegados a wii-
hierárquico do tenente-coronel da PolIcia Militar, da mesma ou de outra Uni- dade ou o inferior foi recentemente incorporado e ainda nao conhece o co-
dade Federativa. Por outro lado, o coronel comandante da PolIcia Militar ou mandante. 0 onus da prova, é do acusado, se alega desconhecimento da
do Corpo de Bombeiros é superior dos dernais coronéis de igual posto da res- condicão do ofendido.
pectiva corporaçao, mas não dos militares do mesmo posto da outra instituiçao Embora o Codigo tenha sua aplicaçao na Justica Militar estadual, diante
militar do mesmo ou de outra Unidade da Federaço. da vedação constitucional de as tinidadcs Federativas legislarern sobre maté-
A segunda forrna qualificada (§ 22) contempla a violência praticada corn na penal, o diploma repressivo cast reuse ignora a Poilcia Militar e o Corpo de
arma, que compreende, confonne expomos acima, 0 USC) de qualquer instru- Bombeiros. Quando da elahuraçio ole outro Codigo, sugere-se a inclusão, no §
mento que, no dizer de Soler, seja capaz de aurnentar o poder ofensivo dos l, da violência contra coronel policial militar ou hombeiro militar praticada
sujcitos ativos. abrangendo as armas próprias e as impróprias. como pau, pe- pelo militar estadual.
dra, etc., devendo o agente utiliz-la, e näo apenas encontrar-se arrnado. por- Consumação e Tentaliva - Consuma-se no rnonlento em que o su-
que se dela näo fizer uso, o crime näo se qualifica. perior hierárquico (na modal idak quali licada: oficial-gencral ou comandarite)
A violêncja e, ainda. qualificada se resulia em leso corporal ou morte é atingido pela força fIsica quc o sujeito ativo faz atuar sobre o ofendido. Os
(§§ 3 e 41). No resultado icsão corporal, leve, grave ou gravissiina. resultados lesâo corporal, murle ui siniplesmente dor no sac) exigidos para a
0 acusado
rcsponde pelo concurso material, e no homicIdio. a lei fixa a pena de doze a consuniacãO da violncia cotil ía superior. Os dois primeiroS qualificam o de-
trinta anos de reclusão, a mesma cominada ao hornicIdio qualificado. Tanto o 1 ito.
homicIdio quanto a lesão corporal acima tratados sâo dolosos; Sc forcm culpo- Existe tentativa quatido o agente nao consegue atingir o ofendido por
sos, incide o art. 159 a ser comentado em seguida. No Direito italiano, como motivos alheios a sua voiiiadc. Nesse sentido, decidiu o Superior Tribunal
ficou expresso, o hornicIdio e a lesão corporal grave e gravIssima ingres- Militar: "o crime de violêucia contra superior admite teiitativa", porquanto o
sam como elernentar do crime de violência contra superior, em sua forma soldado foi "detido a meiu caniinho por interferência de terceiros e por isso
inais grave. no se consumou a violencia . 0 Ministénio Piihlico, recorrendo da decisão,
A iu]tirna modalidade qualificada ( 5) refere-se a práiica do crime em sustentou que "no crime tic viulencia contra superior, a tentativa se equipara
61
serviço, isto é, no rnomento em que o superior e o subordinado, ou somente ao crime consumado".2 A asscrliva nao se ajusta ao Direito brasileiro.
urn deles, estâo no exercIcio de funçao do cargo militar, não exigIvcl funçäo 0 Direito italiano nao diverge do brasileiro nesse particular, como in-
de natureza militar. forma o acórdo do Tribunal Militar italiano, de 20 de fevereiro de 1945:
"Non commmette insuhordinazione corn violenza ii militare che lanci una
0 agente deve ter conhecirnento de que o ofendido encontra-se em ser-
viço, o que é evidente se, por exemplo, o superior estiver portando acessórios bottiglia contro un superiore, senza colpirlo[...1".263
For outro lado, se o agente fica apenas na intenção, inexistirá tentativa,
indicativos dessa condiçao ou fardamento prdprio. Não é exigido que o ato
como consta da ementa do acórdo profenido na já mencionada Ap.
ilIcito tenha relaçao corn o serviço, e sim que os sujeitos do delito, ou somente
urn deles, estejam em serviço. 30.221:"Viol8ncia, Tentailva. Nrio se caracteriza o agarrar o subordinado uin
tinteiro, corn possIvel intcnçio de arremessá-lo. 0 fato constitui desrespeito".
Aqui tambérn tern aplicaçäo o disposto nos incisos I e IT do art. 47, corn
Como diz Manzini, "01) bisogna confondere la simplice minaccia con ii
os cornentários acima. Se o agente desconhece a condiçio de oficial-general e tentativo divie di fatto), perchè diverso, nei due casi è l'elernento morale e
de comandante da unidade a que pertence, embora tenha conhecimento de que
mateniaie del iatto".264
se trata de superior, o delito é de violência simples. No ato cornetido em repul-
sa a agrcsso fisica OU moral, inexiste crime de violência contra os superiores Erro Quanto a Pcssoa. Erro de Exccuco. Desconhecimento da
Concliçiio de Superior - Nesic item. exanlinarenlos as hip6ieses em que o agente
niencionados respondcndo o agente pelos atos prancados, caso encontrern
pratica violência contra mililar, desconhecendo que Sc trata de superior, hierár-
deflniço em outra norma penal castrense.
Reconhecemos a dificuldade, no caso Concreto, de o agente saber que se
27
trata de superior e descoithecer a condiçao de oficial-gencral. No caso de co- In DJ-GBde 16.08.61, p.485.
2C3
In Saverio MIizia, Cod Pen. Mi!. di Pace e di Guerra, p. 132.
rnandante da unidade a que pertence o subordinado, essa possibilidade é pos- In A. Manasseto, II Cod. Pen. Mu., v. 2, p. 247.
172
Célio LnhAn Direito Penal Militar 173

quico, ou atinge outro militar pensando tratar-se de superior ou, ao pretender quem suporta a violência, o sujeito responde como se tivesse cometido o crime
praticar violência contra superior, ofende outro militar que se encontra ao lado contra a pessoa visada, sendo responsabilizado pelos atos praticados contra o
de quem era visado pelo criminoso. superior (por exemplo, lesão corporal), se esses atos forem punidos, na lei
Se o sujeito pratica violência contra outro militar, desconhecendo a penal militar, a tItulo de culpa. Se o agente, ao pretender praticar violéncia
qualidade de superior, inexistc crime de violência contra superior, como ficou contra superior, atinge este e terceira pessoa que se encontra proxima a vitima,
acima exposto, em conforrnidade corn o art. 47, II. 0 desconhecimento. usan- responderá pela violência contra superior e pelos atos cometidos contra o ter-
do a expressäo de AnIbal Bruno, degrada o tipo,2 na ausência do elemento ceiro, se forern punidos a titulo do culpa em outro dispositivo penal militar ou
subjetivo do tipo, no que re.sulta a nio-incidência do art. 157. Nesse caso, a comum.
sujeito responde pelos atos praticados. se encontrarcm delmniçao em outro Se a terceira pessoa é civil c o delito ocorre fora de local sob adrninis-
dispositivo do Código Penal Militar. No cntanto, se durante o i/er ci- im in is a tracão militar ou o agente iiao se cncontra em scrvico, essas circunstncias
qualidade da vItima vem a ser conhecida c o militar prosscgue na conduta rellelern-se nos limites jurisdicionais do JuIzo Militar. A Justiça niilitar co-
delituosa. configura-se 0 crime de viohncia contra superior.
nheceri dos atos praticados contra o militar e a Justiça cornurn. as cometidos
Sc o ataque dirigido contra superior, o agente, por erro de representa-
contra o civil, dolosa OU culposaniente. confonne 0 caso. corn separacao de
ção, atinge outro superior, supondo tratar-se (IC queni pretendia ofcnder, o
processos, desde que tais atos cncontrcrn dcfiniçao na lei penal cornurn.
sujeito ativo responde pela violência contra superior, pois a lei penal tutela 0
Superior hicr2irquico. c não cspecificanientc aqucle visado pelo suhordinado. Embora nao se Irate do violência contra superior. rnercce citacao o dcci-
Sc. no entanto, o militar atinge outro militar (IC grau hicrárquico igual ou infe- dido pela 2 Cilmara Criminal do Rio de Janciro, na qual militar estadual dis-
rior. responde como se tivesse atingido o superior hicriirquico, pois deve-se tcr parou anna do fogo contra desafeto civil, atingindo-o, e, por erro, tarnbémn a
"em coma no as condiçoes e qualidades da vItirna, mas as da outra pessoa, outro militar estadual. A Cilmara entcndeu que não houve crime militar, por-
para configuraço, qualificaço ou exclusão do crime" (art. 37 do CPM). E se que "na hipOtese de erro sobre a pessoa, não se consideram as condicOes e
a vItima efetiva for civil? 0 agente serti responsahilizado como se tivCsse pra- qualidade da pessoa por erro atingida, e sim as da pessoa visada".
ticado o delito contra o superior, a vItinia virtual, que recebe a proteçäo da lei Tudo o que ficou exposto sobre o erro quanto a pessoa, erro de cxc-
sancionadora. cucão e desconhecimento da condiço de superior, aplica-se, igualmente, as
No erro na execução (aherratjo ic/us), p0(1cm ocorrer as situaçöes so- formas qualificadas pela qualidade especial do ofondido. Se o agente tern
guintes: a) o agente deseja praticar violCncia contra superior e atinge outro conhecimento de que se trata de superior, mas desconhece a qualidade do
militar que está ao lado do superior; b) o sujeito dirige sen ataque contra outro oficial-general ou de comandante da unidade a que pertence o agente o que
militar, porém atinge o superior hierárquico que está ao lado do militar visado; é difIcil ocorrer, configura-se a violência simples. Se o ataque é dirigido
c) num e noutro caso acima, ambos Säo atingidos. Segundo Anibal Bruno,
contra esses mesmos militares, mas, por erro do representacão, o agente
se trata propriarnente de erro no sentido de falta de representação dos atinge outro militar, rponderá pela violência qualificada. No entanto,
fatos no espIrito do agerite ou de reprcsentação nao conforme corn a realidade.
sendo outro superior o destinatário do ato ilIcito, mas, por erro de repre-
mas de erro no uso dos meios, e geralmeme, de imperIcia na execuçäo. Não é
0 niomento psicolósico da açio que vai ser viciado, mas a fase executiva, que sentação, é atingido oficial-general ou comandante da unidade, o agente
responde pela violência simples e pelo crime contra a vItima real, caso o
não vai colTesponder exatamente ao cluerido pelo autor".266
delito seja punido a tItulo de culpa.
Na hipótcse em que terceira pessoa. superior ou no. sofre a violência,
porém 0 destinauirio é superior hierãrquico. 0 sujeito responde pela violência Na aberratia ictus, se o oficial-general ou o comandante da unidade é o
contra superior e tamhémn pelos atos praticados contra a terceira pessoa, se tais destinatirio da violncia o ofende-se outro superior, ciue esLI ao lado do mnilimar
abs forem punidos a título de culpa em oLitro dispositivo da lei penal castren- visado, scm a qualidade especial dcstc 61timo, ocorre a violência civalificada.
Se 00 cornurn. Sc o ataque é dirigido contra terceira pessoa, mas o superior é Na violência dirigida contra superior scm a qualidade especial citada, e ating-
do o oficial-general ou o comandantc, que se encontra ao lado do destinatirio
25 Anibai Bruno, Dir. Pen., t. 2., p. 120. do ato ihcito, 0 cnine e de violencia simples. Sc ambos são atingidos, a qu ali-
Anibal Bruno, Dir. Pen. t. 2., p. 124. ficação do crime depende de quem o agente pretendia atingir. respondendo,
174
Cello Lohn Direito Penal Militar 175

em qualquer das trés hipóteses acima citadas, pelos atos praticados contra a Ao condenado pelo mesmo delito nao se concede suspensäo condicio-
vItima efetiva, desde que tais atos sejam punidos a tItulo de culpa. nal da pena (art. 88, II, a, do Codigo Penal Militar e art. 617, II, a, do CPPM).
81. Militar da Reserva ou Reformado - Do estudo do crime militar, 0 livramento condicional somente será concedido apOs o cumprimento de
no inIcio deste livro resultou demonstrado que o militar da reserva ou refor- dois tercos da pena, como dispöe o art. 642, parágrafo cInico, do Código de
niado não é considerado militar (art. 22 do CPM), para efeito da aplicaçao da Processo Penal Militar, combinado corn o art. 97 do Codigo Penal Militar e
lei penal militar. atendidas as exigências do art. 89, II, Ill e §§ I Q e 2Q do Código Penal Militar.
Para que näo se renovem dtividas surgidas em determinada época, princi- Legisiacão Anterior - Art. 96, §§ 12, 22 e 39, do Cod. Pen. da Ar-
palmente quando o ofendido era oficial-general, trataremos do crime de violência mada; arts. 136. §§ 12 a 59, do CPM de 1944.
contra superior hierárquico da reserva ou refonnado.
Sulvio Martins Teixeira considera violCncia simples (art. 157, cajm!) a CAPITULO VII
praticada contra oficial-gencral da reserva. sem. no entanto, justificar esse Resultado Culposo da Violência
entendimento. Em prirneiro lugar, corno flcou dito. nos termos do art. 22 do
Código Penal Militar. so é mulitan para efeito da aplicaçao do previsto nesse Art. 159. Quando da violencia resulta niorte ott iesao cor-
diploma legal, quem CStiver incorporaclo as Forças Armadas, ou seja, queni poral e a.v circunstâncias evidenciarn que o agenle nile quis o
estiver nelas servindo. o que no ocorre corn o militar da reserva ou reforma-. resultado item as.vuimu 0 risco de procluzi-lo, a pena do crime
do, que Sc encontra excluIdo do serviço ativo, no mais integrando contra a pessoa é diminulda da metade.
Os quadros
das Forças Armadas, assirn corno Os da PolIcia Militar ou do Corpo de Born-
beiros Militar. Resultado Cuiposo da Violência - Se Os resuitados leso corporal e
Como dissemos, no inIcio deste Iivro, o art. 13 do Codigo Penal Militar morte, qualificadores do delito do art. 157, isto é, da violéncia contra superior,
("0 militar da reserva ou reformado conserva as responsabilidades e prerroga- forern imputados a tItulo de culpa, haverá concurso material corn diminuicão da
tivas do posto OU graduaçAo para o efeito da aplicaço da lei penal militar, metade da pena do crime contra a pessoa.
quando pratica ou contra ele é praticado crime militar".) nao modifica a condi- Segundo Heleno Fragoso, é imprescindIvel que o evento morte ou lesão
çäo desses militares, iiern altera o que vem exposto no art. 9, Ill, do Código nao tenha sido querido, iiem mesmo eventualmente, pelo agente,267 ocorrendo
dolo em relacão a conduta inicial (violência contra superior) e culpa em rela-
Penal Militar. Como conscqUência, a violência praticada contra militar da
çibo ao resultado morte ou lesäo corporal.
reserva ou reformado, qualquer que seja seu posto ou graduação, nAo difere,
no que diz reSpeito a tipicidade penal, daquela perpetrada contra civil. No entanto, adverte Darnásio de Jesus que "o resultado qualificador é
ligado ao delito-base pelo nexo de causalidade objetiva, no prescindindo da
Na violência contra superior, a lei penal tutela a autoridade e a discipli- relacao subjetiva (ilnputatio juris). Dessa forma, se o resultado decorrer de
na militar que, segundo Ciardi, serve de base ao ordenarnento militar. Como o caso fortuito ou forca mtior, haverá solucao de continuidade da imputatio
militar da reserva e o reformado não mais integram a estrutura disciplinar da facti. pelo que o agente so responderá pelo primeiro crime (primum delic-
instituiço militar, dela se afastando para retornar a vida civil, no atinamos tu,n)".268
corno a violência contra ele praticada possa causar leso a disciplina militar,
tanto mais que a rclaçâo hierrquica de superior e suhordinado no mais existe CAPiTULO VIII
entre militar da ativa e militar da reserva. para efeito da aplicaço da lei penal Desrespeito a Superior
militar.
82. Liberdacle Provisória, Suspcnso Condicional da Pena e Livra- Art. 160. Devre.vpeitar superior diante de outro militar:
mento Condicional - 0 indiciado ou o acusado da prática de crime de violén- Rena - detençilo, de lrês nieses a urn aim, .rc o ftzto nao
cia contra superior, em conformiciade corn o disposto no art. 270, panigrafo constiti.n crime niais gra ''e.
iinico, b. do Código de Processo Penal .Militar. não tern direito ao henefIcio da
liberdade provisOria. 267
Heleno Fragoso, LiçOes, Pane Especial, v. 1, p. 1 45-6.
236 Damásio, Dir. Pen. v. 2, p. 156.
176 CélioLobão Direito Penal Militar 177

Paragrafo ánico. Se o fato é praticado contra o coman- A condiçäo de superior de urn militar em relaçao a outro decorre do
dante da unidade a que pertence a agente, oficial-general, posto ou da graduaco e da Iiinço do cargo militar em razo da qual o militar
oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena é aunientada da exerce autoridade sobre outro (10 mesmo posto ou graduaco (art. 24 do
CPM)). A superioridade hicrirquica decorrente de posto ou de graduacão
me tade.
existe entre militares das difereiitcs corporacöes das Forças Armadas e entre
policial militar c bombeiro militar.
Consideracöes Gerais - No Código Penal da Amiada existia so-
Ha decisöes dos tribunais adrnitindo subordinacao hierárquica entre
mente o crime de desacato, que compreendia também o desrespeito; como
militares estaduais de diferenics unidades federativas, o que pode ser aceito
expunha Macedo Soares, "o desacato é a falta de respeito e de subordina-
em face da conceituação do inilitar estadual expressa no art. 42 da Constitui-
ço".269 No Código castrense de 1944, as duas figuras delituosas se extrerna-
çao, corn a redaçao da Emenda Constitucional n2 18. Nessa hipótese, corno
ram, recebendo definicao em dispositivos penais diversos, mas o desrespeito
ficou registrado anteriormente, a conipetencia é da Justiça Militar da unidade
deveria scr praticado diante de tropa ou de suhordinado do ofendido. No atual
federativa de orige.rn do suicilo alivo.
Código Penal Militar, esse requisito foi dispensado, sendo suficiente que o
A superioridade hienlictuica entre oficiats-generais decorre do posto no
fato ocorra na prcscnca de outro militar. independenternente do grau hierr-
generalato 011 da funçao. Por excinplo, o general de exército, no cargo de Mi-
quico. nistro do Exército ou outro equi valentc, quando for criado o Ministério da
Crime Militar - Classifica-se corno crime propriamente niilitar, poi- Defesa, é superior hierIrqiiico dos demais generais de igual posto da mesma
se tratar de infracao penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar. Arma. Entre OS rnilitarcs cstaduais, o coronci cornandante da PolIcia Militar ou
Crime não previsto na ici penal cornum (inc. 1, 2 parte. do art. 9C)• do Corpo de Bombeiros Militar é superior hierárquico dos demais coronéis
Objetividade JurIdica - Objeto da tutcia penal é a disciplina, au- das respectivas corporacOcs iii iii tares.
cerce basilar da instituição hierarquizada, e a autoridade militar, cujo poder Tratando-se de corporaçoes di versas, a superioridade hierárquica decor-
coercitivo legal restaria abalado diante da falta de respeito do subordinado re, exclusivarnente, da diversidade de posto ou graduação, e no, também, de
para corn o superior na presença de outro militar. funcao. Dessa forma, como ji foi dito, o almirante de esquadra, no exercIcio
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, sornente o militar, por se tratar da mais elevada funçao (Ic sua Arma, não é superior hierárquico dos oficiais
de crime propriamente militar, sern esquecermos que essa qualidade integra generais do diltimo posto das dernais Armas, assim corno o coronel coman-
o tipo. Sujeito passivo, as instituicöcs mililares e o ofendido superior hie- dante de determinada unidade militar não é superior hierárquico dos demais
rárquico. coronéis que näo sirvam na mesma unidade.
Elementos Objetivos - A conduta incriminada consiste em desres- Como acontece corn a violência contra superior, no desrespeito desapa-
peitar, o que significa faltar corn consideração, corn respeito, corn acatamento, rece a condicao de suprior hicrcSrquico, se o ato é praticado em repulsa a
incompatIveis corn a posição hierarquica de subordinado e superior, estabele- agressão fIsica ou moral ôu se 0 agente desconhece a condiçao de superior, do
cida pela estrutura organizacional das Forças Armadas, da PolIcia Militar e do ofendido.
Corpo de Bombeiros Militar. A lei exige a presenca de outro militar, em condiçoes de ouvir as pala-
Trata-se de conduta que, no rncio social, é considerada corno falta de vras desrespeitosas ou perceber o desrespeito exteriorizado de outro modo,
educacao e, no servico piblico civil, enseja punicão disciplinar. Na sociedade embora, necessariamerite, nio tcnha ouvido as palavras, nem percebido a outra
hierarquizada militar, o legislador honve por bern incluir no elenco dos crimes forma de desrespeito. sendo suficiente, reperinios, que tenha condicão de ouvir
militares a falta de respeito, de consideraçiio do siihordinado para corn o supe- ou perceber. 0 grau hierarquico da terceira pcssoa nao conta, podendo ser
rior hierárquico, ampliando, dessa forma, a protecao a disciplina militar. igual, inferior ou superior ao do agente ou ao do ofendido.
A descriçao tIpica exige: a) superior hierarquico do ofendido; h) diante No desrespeito por intcnnédio de transrnissao pelo radio ou outro rncio
de outro militar; c) desrespeito a superior. de emiSSa() de voz ou de imagern. é indispensavel o direcionarnento para o
local em que a voz seja ouvida ott a inlagein seja vista pelo ofendido e por
169 outro inilitar.
Macedo Soares, Dir. Pen, Mu., p. 154.
178 CélioLobão Direito Penal Militar 179

desrespeito objetiva-se por meio de palavras, gritos, gestos, imitacão Portanto, o parágrafo inico qualifica o crime de desrespeito, scm, no en-
de vozes de animais, desenhos, escrtos, rufdos, enfim, qualquer manifestação tanto, alterar seus elementos tIpicos, aurnentando apenas a sancão cominada ao
externa capaz de transmitir o ato desrespeitoso. Segundo decisão do Tribunal delito base. Como conseqüência, o oficial-general, o oficial de dia, de servico ou
Militar italiano, o animus jocandi não exclui o dolo, a vontade deliberada de de quarto e, evidentemente, o comandante da unidade são, necessariamente, supe-
ofender o superior hierarquico: "Lo animus iocandi non elimina ii dolo, perchè riores hierárquicos do sujeito ativo. Logo, superior hierarquico do ofendido nao
ii rapporto gerarchico vieta gli scherzi che infrangono, in ogni caso, ii comete, contra este, crime de desrespeito, pela ausência de tipicidade. A conduta
prestigio del superiore".27° será apreciada no âmbito disciplinar, caso não encontre definicao em outra norma
For outro lado, o Superior Tribunal Militar decidiu que näo comete des- da lei penal castrense.
respeito, "o militar que profere a esmo uma cxpressão de dcsabafo e protesto A primeira funcão protegida pela norma expressa no parágrafo iinico é a
ao venficar que seu superior agia de modo contrário ao que consigo estabeic- do comandante da unidade a qual pertence o agente. Comandante é quem che-
cera. Ausência de dolo caracterizador do crime".271 fia urna unidade militar, não se incluindo no conceito o chefe de repartição
Aqui surge o mesmo problcma do militar da reserva ou refonnado. Ainda militar, embora não faça difcrcnca, pois se ajusta a agravante de militar em
que a oconCncia se concrctizc cm local sob administracão militar ou estando o serviço. 0 militar designado para niissão temporaria junto a unidade, apesar
agcnte cm serviço, incxistirá desrespeito. Repetimos, o militar da reserva ou re- do subordinado a autoridade do comandante, não pratica desrespeito contra
fonnado não integra a estrutura disciplinar das instituiçöcs militares, desapare- comandante, c sirn contra militar em servico. A unidade pode ser do grande ou
cendo a relação hierárquica entre superior e subordinado. Os atos contra des de pcqucno porte, como o exé.rcito, a esquadra, a divisão, a brigada, a csqua-
praticados resolvem-se no Ambito disciplinar ou no penal; nesta iiltima hipótese, drilha do aviöes de combate, o navio, a lancha, o carro de combate, o avião
se encontrar definicao em outro dispositivo da lei penal cornum ou militar. militar, o destacamento da PolIcia Militar, etc.
desrespeito é crime subsidiário; logo, se o fato constitui delito mais Qualifica o delito o desrespeito cometido contra oficial-general, inclu-
grave, por exemplo, desacato (art. 298 do CPM), insubordinacao (art. 163), indo-se, entre os agentes, também o oficial-general de menor ou do igual pos-
to. Na segunda hipótese, a superioridade hierãrquica decorre de função.
etc., a incidência do art. 160 cede lugar a do dispositivo que penaliza mais
Qualifica-se, ainda, o desrespeito cornetido contra militar, na função de
gravemente a conduta delituosa do agente.
oficial de dia, do quarto ou de serviço. As duas primeiras são do natureza mi-
90. Elemento Subjetivo - 0 elemcnto subjetivo é a vontade orientada
litar especIfica, que merece destaque da lei, por se tratar de funcoes de role-
no sentido de desrespeitar o superior em presenca de outro militar.
vimncia na manutencão da disciplina e da segurança da unidade militar. Como
91. Forma Qualificada - Nos termos do parágrafo ünico,-qualifica o
oficial de servico, entende-se o ocupante da funcao de natureza militar e a de
crime o desrespeito praticado contra comandante da unidade a que pertence o
outra espécie, como a chefia de reparticão militar, chefe de oficina de manu-
agente, oficial-general, oficial de dia, de servico ou de quarto. tencão de viaturas militares, etc.
Segundo Damásio de Jesus, "qualificadoras são circunstâncias legais
A lei não especifica posto, e sim função de oficial de dia, de quarto ou
especiais ou especIficas previstas na Parte Especial do CP que, agregadas a do servico. Logo, o aspirante a oficial e o guarda-marinha designado para uma
figura fundamental, tern funcao de aurnentar a pena".272 dessas funcOes atendem a cxigCncia legal.
Magalhães Noronha ensina que "circunstiIncia é tudo que modifica urn A qualidade especial dos ofendidos dove ser conhecida do agente; caso
fato em seu conceito, scm Ihe alterar a essência. Sendo o crime urn fato, é indu- contririo, o delito não se qualifica, embora seja difIcil deterininar esse desconhe-
biuivel que apresente peculiaridades que o alterem". Prossegue, expondo "que cimento, considerando-se quo a farda identifica o militar como oficial-general e os
circunstãncias são elernentos que se agregam ao delito scm alierá-lo substarlcial- accssOdos indicain a qualidade do militar em serviço, scm esqueccnnos a cir-
mente, mas produzindo efeitos e conseqüCncias relevantes".2 '3 cunstflncia do local do crime, principalmente se se tratar dos militares aDS servi-
cos cspecificados. Por outro lado, ate prova robusta em conirário, o agente deve
27)
n Saverio Malizia, Cod. Pen. Mi!. di Pace e di Guerra, p. 135. conhecer o comandante da unidade onde serve.
27
Ap. n5 35.630, Ementa. do STM, out.1966. 92. Consuniação e Tentativa - 0 momento consumativo é aqucle em
272
Damäsio de Jesus, Dir. Pen. v. 1, P. 556.
273
Magalhaes Noronha, Dir. Pen., v. 1, p. 316. que o subordinado exterioriza, diante de outro militar, o desrespeito ao superi-
180 Célio Lobão Direito Pena' Militar 181

or; e, na forma qualificada, ao oficial-general, oficial de dia, de serviço ou de (elemento subjetivo) de desrespcitar o superior. Consumou-se o crime de de-
quarto. 0 delito não comporta tentativa, mesmo no caso de escrito, desenho, sobediência (art. 301 do CPM), corn o soldado deixando de cumprir ordem
impresso, etc., em que o sujeito, por motivos alheios a sua vontade, näo con- legal de autoridade militar.
segue mostrá-los ao superior diante de outro militar. Desrespeito e Resistência - Decisöes do Superior Tribunal Militar
Liberdade Provisória e Suspensão Condicional da Pena - Ao in- consideravam "o desrespeito a superior como elemento integrante do crime de
diciado e ao acusado pela prática do crime de desrespeito a superior, não é resistência a prisäo".277 Nio tern fundamento. As descriçOes tIpica dos dois
concedida a liberdade provisória, como dispöe o art. 270, parágrafo inico, delitos nao se confundem. A falia de considcraço nâo é elernentar da resis-
alInea b, do Cddigo de Processo Penal Militar. 0 condenado por esse mesmo tência, que se consubstancia na oposicao ao ato legal da autoridade militar,
delito näo tern direito ao benefIcio da suspensio condicional da pena, confor- mediante ameaça ou violência. Sc as duas condutas referidas forem acornpa-
me o disposto nos arts. 617, 11, b. do Código de Processo Penal Militar, e 88, nhadas da falta de respeito, de acatanlento ao superior, o agente responderá,
11, a e b, do Cddigo Penal Militar. em concurso, pela resistência e pelo desrespeito.
Desrespeito c Outros Delitos - Durante algurn tempo, decisocs das Legislacão Anterior - Art. 72 dos Artigos de Guerra; art. 97 do
cortes castrenses confundiarn desrespeito corn desacato e corn insubordinaçio. CPA art. 139 do CPM de I 944.
Para evitar tais confusöes, farernos, ahaixo, a distinção entre as figuras delituosas
citadas, i nclui ndo, ainda. a resistência. CAPITULO IX
Desrespeito e Desacato - 0 desrespeito é o minor do qua] o desa- Desacato a Superior
cato é o major. Enquanto que no prirneiro o subordinado falta corn o respeito,
a consideraçao devida ao superior, no desacato (art. 298) dc o ofende moral- Art. 298. 1)e.racatar .cuperiw;, ofèndendo-ihe a dignidade
mente, corn propósito de diminuir sua autoridade, como decidiu o Superior ou a decoro, ou procurando deprimnir-Ihe a autoridade:
Tribunal Militar: "comete o crime de desacato, e não o de simples desrespeito Pena - reclusao, ate quatm anOs, se 0 frito não constitul
a superior, o rnarinheiro que o ofende corn palavras de baixo calão".27' Em crime mais grave.
sentido diverso, contrariando a lei, deciso da Corte Superior castrensc, na
ParágmJ ilnico. A pena é agravada, se a superior é oficial-
Apelacao n 35.121GB,272 considerando desrespeito a superior "exprcssöes
de baixo calao proferidas contra os ditos superiores". Expressöes de baixo general ou coniandante da unidade a que pertence a agente.
calAo, em princIpio, constituern desacato e não desrespeito.
Desrespeito e Insubordinacão - Embora os elementos tIpicos dos Consideraçöes Gerais - 0 Codigo Penal Militar inclui o desacato
dois delitos sejarn distintos, alguns acórdãos do Superior Tribunal Militar entre os crimes contra a administracäo militar. Indiscutivelmente, classificacäo
confundem desrespeito corn insubordinação, estabelecendo a major ou menor errônea. Não é possIvel incluir o desacato a superior entre os delitos atentató-
gravidade do ato ilIcito como elemento diferenciador das duas infraçoes pe- rios a administracão militar, enquanto que o desrespeito, urn minor em relacao
nais. lncabIvel a confusão: desrespeito é falta de consideracão, de respeito; ao desacato, recebe a classificação de crime contra a autoridade ou a disciplina
insubordinaço é recusa de obediência a ordem do superior sobre assunto de militar, como se a ofensa a dignidade, a que deprime a autoridade do superior,
serviço ou relativamente a dever imposto por lei, regularnento ou instrução. nao atentasse, priucipalmente, contra a disciplina, a hierarquia e a autoridade
Na Ap. n 33.702,276 dccidiu o Superior Tribunal Militar que "o soldado militar.
que se recusa a cumprir a ordern de se recolber ao xadrez não comete o crime A classificação equivocada vem do Código de 1944, cujos autores
de insubordinaçio, nias sim o de desrespeito". Não ocorreu neii urna coisa copiaram o Códio Penal conium, scm atentarem para a diferenca entre
nem a outra, porque nio se tratava (IC assunto de servico ou de dever imposto desacato a superior (art. 298 do CPM) e desacato a funciomIrio pdblico
em lei, regulamento ou nstruçao, assiin comb nao se fazia prcsente a vontade civil praticado por particular (art. 331 do CI'); diferenca essa rnarcantc rios
eleinentos objetivos e sub jetivos do tipo.
Ap. ri5 33.599, DJde 16.10.63, p. 913.
275
DJ/GB de 28.04.71, p. 334.
DJ/GB, de 30.09.63, p. 479. 2 '7 Ap. n33.191, DJiSBde 16.10.63, p.913.
182 Célio Lobão Direito Penal Militar 183

A lei considera, no desacato, a disciplina, a subordinacão hierarquica video, desenho, etc., desde que exibidos ao superior, pelo ofendido. Por
entre ofensor e ofendido, tutelando-as contra o ato ilIcito praticado pelo su- exemplo, fotomontagem corn o rosto do superior, encimando urn vestido de
bordinado. muiher ou com cornos sobre a cabcça.
Por considerar a classificaçäo errônea, comentaremos o desacato a su- desacato a superior pode, ainda, assumir a forma de violência, se re-
perior no local correto, ou seja, juntamente corn os delitos contra a disciplina vestida de caráter ultrajante, como, por exemplo, se o subordinado imobiliza o
ou a autoridade militar, e nesta Parte II, por se tratar de crime propriamente superior, tira-ihe a roupa e aplica-Ihe umas palmadas - presente o dolo de
militar. ofender, de ultrajar, e não o de praticar violência. A violência é absorvida pelo
Crime Militar - Classifica-se como crime propriamente militar desacato.
por se tratar de infracao penal especIfica e funcional do ocupante de cargo legislador castrense houve por bern penalizar o desacato, diante dos
pnnCipioS norteadores da disciplina militar, para a qual essa atitude é incom-
militar. Crime não previsto na lei penal comum (art. 9, I, 2 parte do art. 9).
patIvel corn a relação de suhordinação entre superior e subordinado hierárqui-
Objetividade JurIdica - A lei tutela a autoridade, a disciplina e a
co. A circunstãncia de o superior sentir-se ou iiao ofendido é irrelevante.
hierarquia militar, diante do grave perigo representado pela conduta do subor-
Segundo Damisio (IC Jesus, "é indispensivel que o fato seja cometido
dinado, ultrajando o superior hierárquico, cuja autoridade ficaria dirninuIda
na prcsenca do sujeito passivo. Se na ausência, o crime a ser considerado é a
diante dos subordinados e também de seiis pares.
injüria qualificada".279 Nesse mesmo sentido, Heleno Fragoso: "os tribunais
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar subordinado hierr-
tn1 afirmado que a presenca do ofendido é condição indispensável (RT
quico do ofendido. A condicão de militar do agente decorre da classificação
49 1/323)". Adverte o ilustre penalista:
do crime como propriamente militar, alérn de vir irnplIcita na descricao tfpica
do artigo, ao mencionar a condição de superior do ofendido. Sujeito passivo, "Para que se possa afirmar a presenca do funcionário, deve ele encori-
as instituicoes militares e o ofendido superior hierárquico. trar-se no local onde a ofensa é praticada. Segundo a opinião dominante, não
Elementos Objetivos - A ação incrirninada é desacatar, que con- se exige que o ofendido veja o ofensor, nem que perceba o ato ofensivo, bas.
tando que Ihe fosse possIvel tomar conhecimento, diretamente, do fato".
siste na falta de acatamento, no menosprezo, no ultraje, no insulto, na ofensa
moral praticada contra superior hierárquico, atingindo-o em sua dignidade,
Acrescenta que "não pode o crime ser praticado por escrito nem por te-
respeitabilidade, decoro, decência, honra e pundonor.
legrama ou telefone".28° Quanto a possihilidade da prática do desacato por
Desacato a superior, segundo Nelson Hungria, é "qualquer palavra ou
escrito, esta é possIvel, desde que o agente escreva palavras ultrajantes dirigi-
ato que redunde em vexame, humilhacao, gestos obscenos, gritos agudos,
das ao superior.
etc".278 Compreende, também, a conduta do agente orientada no sentido de 0 desacato não se confunde com o desrespeito. No primeiro, está pre-
deprimir, debilitar, enfraquecer a autoridade do superior, mesmo que esse fim sente o insulto, a ofensa moral, o ultraje; enquanto que, no segundo, está a
não seja alcancado. falta de respeito, de consideracão, que, na lei penal cornum, carece de re!evân-
Não se ajustam ao desacato o vexame, o desprestIgio, a irreverência, a cia, recebendo reprimenda de caráter social, por situar-se nos limites da gros-
falta de acatamento, as vias de fato e a agressäo fIsica citadas por Nelson seria, da falta de educação.
Hungria, porque as duas iiltirnas constituem violência contra superior, en- Embora no desrespeito e no desacato o agente procure deprimir a auto-
quanto que os quatro prirneiros são crimes de desrespeito, desde que não se ridade do superior, esic .i1tirno delito assume rnaior gravidade, atingindo o
revistam de insulto, de ofensa moral, quando, então, configura-se, mesmo, 0 ofendido em sua dignidade de homem, de militar e, também, de superior hie-
desacato. rárquico. A distinção entre as duas figuras delituosas ganha nitidez no acórdão
0 desacato exterioriza-se por palavras, gestos, arneaças, vias de fato, do Superior Tribunal Militar, profcrido na Ap. n 33.599: "comete o crime de
agressao, escritos, impressos, enfim, qualquer rneio idôneo capaz de ultra jar o desacato, c não o de simpics desrespeito a superior, omarinhciro que oferide.
superior. Pode efetivar-se por meio de fotografia, fita cinematografica ou de

Dir. Pen., v.4, p.191, Saraiva, 1994.


278
In Heleno Fragoso, Liçâes, Parte Especial, v. 3, p. 470. 28 ) Heleno Fragoso, Liçoes, Parte Especial, p. 471, 3. ed.
184
CélbLobão Direito Penal Militar 185

corn palavröes de baixo calão o oficial de serviço a bordo do navio em que soco na direçao da vItima, sendo seu hraco desviado por terceiro, ha tambéni
serve". Por exemplo, o subordinado que qualifica o superior de"miniatura" de delito consumado' .28 ' Nessa hipótese, Iii tentativa de violência contra superior,
gente ou de "espanador da lua", aludindo a sua estatura, pratica o crime de caso a agressão, como mencionarnos acima, não assuma o caráter ultrajante -
desrespeito; no entanto, chamar o superior de covarde, aludindo a sua condi- como, por exemplo, o de ser impcdido de atingir o rosto do superior corn uni
ço de militar, configura-se o crime de desacato. chicote, o que caracteriza desacato. Enlrn, cabe ao juiz, no caso concreto, decidir
Como superior, entende-se o militar que, em relação a outro, ocupa se houve ou não desacato, embora descartando sempre a tentativa.
posto ou graduaçäo mais elevada na escala hierárquica, ou o militar que. em Forma Qualificada - Qualifica o crime a qualidade de oficial-
decorrência de função do cargo militar, exerce autoridade sobre outro de general ou de comandante da unidade a que pertence o agente. Ambos são
mesmo posto ou graduaçao (conf. art. 24). superiores hierárquicos do sujeito ativo, em razão do posto ou da função.
A relaçao de superioridade hierárquica decorrente de posto ou de gra- Entendem-se como unidades militares as grandes, como 0 exército e a es-
duaçao existe entre militares das diferentes corporaçöes das Forças Armadas e quadra, e as pequenas. corno a companhia, o grupamento. etc. Como aeon-
entre policial militar e bombeiro militar da rncsma Unidade Federativa; apesar tece no desrespeito, é indispensável a vinculação do agente a unidade da
disso, M decisöes que admitem essa relação entre militares estaduais de dife- ival 0 ofendido é comandante.
rentes IJniclades Fedcrativas, o que pode ser adniitido em face da conceituaço 0 oficial-general de menor posto, conforme esciarecenios ao comentar o
do militar estadual expressa no art. 42 da Constituiçäo. corn a redaço da crime de desrespeito, ingressa corno sujeilo ativo do desacato a oficial-gencral
Emenda Constjtucjonal n2 18. de grail hierarquico superior, em razão do posto ocupado no generalato, ou da
Como acontece na violência contra superior, no desacato dcixa de exis- funcão exercida pelo ofendido. Repetindo o exemplo antcriorrnente citado, o
tir a qualidade de superior do ofendido, quando o ato é cometido em repulsa a general de Exército, exercendo a mais alta funcao de sua Arma, é superior
agressão fIsica e moral ou quando o agente desconhece essa condiço do ou- hierárquico dos oficiais-gcnerais de igual posto da mesma Arma. No flmbito
tro. Reportamo-nos aos comentários do art. 160. das corporaçöes militares cstaduais, o coronel comandante da PolIcia Militar
0 crime de desacato e subsidiário, deixando de incidir o art. 298 se o ou do Corpo de Bombeiros é superior em relação aos dernais niilitarcs de igual
fato constituir crime mais grave. posto, das respectivas corporaçOes.
Suspensão Condicional da Pena - Ao sentenciado pelo crime de
Elemento Subjetivo - A vontade livre e consciente de desacatar,
desacato a superior niio se concede o henefIcio da suspensão condicional da
de ultrajar o superior, tendo conhecirnento dessa condiçio do ofendido.
pena, em conformidade corn o disposto no art. 617, II, a, do CPPM,
Consumação e Tentativa - Consuma-se no momento em que o
Legislacão Anterior - Art. 225 do CPM de 1944.
desacato é cometido na presença do superior. A consumaçao concretiza-se
mesmo que o ofendido não perceba a ofensa, sendo suficiente a possibilidade 11 CAPITULO X
de tomar conhecimento diretamente.
Despojamento de Uniforme
No admite tentativa, tendo toda razo Damásio de Jesus ao expor que
flão convencem os exemplos de crime tentado, mencionado por alguns auto-
Art. 162. Despojar-se de uniforine, condecoracao militar,
res, "como o arremesso de imundice corn erro de alvo, tentativa de agressão
, insignia ou distintivo, por nienosprezo ou viiipêndio:
fIsica, etc". Corn efeito, inexiste tentativa. mas existe crime consumado, no
Pena - deienção, de seis meses a uin ano.
primeiro exemplo; enquanto que, no segundo, se a tentativa de agresso assu-
me a forma de ofensa moral. consurna-se o crime. Parcigrafo tin ico. A pena é aumentada da metade, se o
No exemplo da fotografia, do desenho ou do escrito, se não chegarn ao fato épraiicado diante da tropa, ou em ptiblico.
conhecimento do superior, mesmo por motivos alheios a vontade do agente.
inexiste o crime de desacato, resolvendo-se no ârnhito disciplinar, caso não Consideraçöes Gerais - 0 uniforme serve como identificação do
encontre definiço em outro dispositivo penal militar. Militar, quer se encontre no interior da unidade militar, quer fora dela. Conio
Por outro lado, entendernos que não se ajusta a lei penal militar o
exemplo do crime consumado, referido pelo mesmo autor: "o sujeito dá urn 2M
Dam ásio de Jesus. Dir. Pen., v. 4, p. 193.
PW
186 Cello Lobão Direito Penal Militar 187

acentua Macedo Soares, "na vida militar, o uniforme, as insignias, as condeco- Uniformes são aqueles instituIdos pcla legislacão militar em vigor e
raçöes dão direito a certas prenogativas, conferem certos direitos que a disci- destinados ao uso privativo dos militares das Forcas Armadas, da Po]Icia Mi-
plina e a subordinaçao garantem. Assim, o direito as continências, a obediên- litar e dos Bombeiros Militares. As condecoraçöes, como vem expresso na lei.
cia e o respeito ao oficial, ao superior hierárquico, são devidos ao militar que somente as militares, v. g., as instituIdas por organizacöes castrenses para
se dá a conhecer pelo seu uniforme, pelas suas insignias, etc".282 agraciar o militar pelos servicos prestados em tempo de paz ou de guerra, pclo
Realmente, como sinai caracterIstico e externo da condicão de militar, tempo de permanência no servico ativo, ou por outro motivo.
do posto ou da graduação, o uniforme confere, a quem o usa, direitos especffi- Insignia e distintivo sao os do posto, graduacão, especializacão em cur-
cos no meio militar e mesmo na sociedade civil, diante da qual se apresenta sos militares e tambérn os que indicam a unidade militar onde serve ou serviu
revestido da autoridade concedida pela lei ao integrante das Forcas Armadas, o agente, inclusive as internacionais as quais integrou em razão de compro-
da PolIcia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar. misso assumido pelo governo brasileiro. Incluem-se como distintivos OS ala-
Crime Militar - Classifica-se como crime propriamente militar mares usados pelo ajudanle de ordem, por integrantes do Estado-Maior da
por se tratar de infraçao penal especIfica e funcional do ocupante de cargo corporaçao, etc.
militar. Crime nao previsto na lei penal cornum (art. 9, I, 2 parte do art. 9). Se a insignia ou o distintivo referem-se a reparticão civil onde o militar
Objetividade .JurIdica - A lei tutela a disciplina militar, exposta a presta servico, embora na qualidade de militar, niio ha crime. 0 mesrno aeon-
grave perigo em razão da conduta do agente, quando este demonstra repulsa tece corn a condecoraçiio concedida por instituição social, esportiva, cultural,
ao uniforme que o identifica como militar, assini como a insignia, ao distintivo recreativa, dirigida por militar, como os cluhes militares.
e a condecoraçao. Carece de relcvãncia penal despojar-se, o militar, de uniforme de posto
Sujeitos do Delito - Sendo crime propriamente militar, somente ou graduacão superior ao scu, ou de uniforme, distintivo ou insIgnia a que não
pode ser cometido por militar qualidade essa (10 agente irnplIcita na descriçao tern direito. Corn efeito, o despojamento tern como pressuposto a legalidade
da conduta incriminada e, principalmente, no objeto da tutela penal. Real- do uso do uniforme, (10 distintivo, da insIgnia, o quc nao acontece quando o
mente, a lei repressiva castrense somente protege 0 uniforine, a insignia, 0 uso se revestc de ilicitude, por ser de posto OU graduacão superior ou inferior
distintivo e condecoração militares, nunca a de inslituição particular ou mes- ou de corporação diversa a qual pertence o sujeito ativo (militar do Exército
mo ptiblica civil, como a guarda municipal. usa farda da Aeromlutica, etc.). Nessa hipótese, o crime é de uso ilicito de
Embora a condecoraçao militar possa ser concedida a civil, evidente- uniforme (art. 171 ou art. 172).
mente este não se inclui como agente do delito, porquanto a lei penal tutela a Elemento Subjetivo - Elemento subjetivo e a vontade orientada
disciplina militar, a qual o civil näo se encontra suhordinado. Sujeito passivo, no sentido de vilipendiar, de desprezar o uniforme, a condecoração, a insignia
as instituiçöes militares. e o distintivo, qualquer que seja a motivacão do ato ilIcito.
Elementos Objetivos - Como ficou expresso acirna, a conduta in- Consumacão e Tentativa - Consuma-se o delito no momento em
criminada e despojar-se, que significa retirar corn desprezo, de forma despre- que o agente retira a insIgnia, o distintivo ou uma peça do fardamento, pelo
zIvel, o uniforme, a condecoraçao, a insignia e o distintivo. menos, corn menosprezo, corn vilipêndio. A tentativa existe se o agente é
irnpedido de realizar o despojamento.
0 despojamento devc assumir a forma de ofensa, de inji.iria, de avilta-
mento, de nojo, de desconsideraçao, de desprezo, de menoscabo a farda. a Forma Qualificada - Qualifica o crime, determinando o aumento
condecoraçao, a insignia OU ao distintivo militar, independentemente do local da pena, SC o fato é praticado em prcsenca da tropa ou em pi.Iblico. Por tropa
entcnde-se a urndade militar, por menor clue seja, por exernplo, a tripulacäo de
do crime. Como exeinplo, tirar uniforme do corpo, rasgando-o, ou demons-
urn avião, de urn tanque de guerra, de urna lancha militar, a patruiha, etc.
trando nojo na maneira de seguth-Io. dcixando-o cair ao solo, pisando-o ou
A qualificadora do despojamento ern pih]ico comprccnde o lugar aberlo
usando-o como pano de limpeza. 0 mesmo pode ser dito em relaçao a conde-
coração, a insignia ou ao distintivo. ao piihlico e o lugar exposto ao ptiblico. Portanto, qualifica o delito o despo-
jamento realizado em local "livre e continuarnente acessivel a urn ntimero
indeterniinado de pessoas", naquele "que permite o accsso de qualqucr pcs-
282
Macedo Soares, Cod. Pen. MO., p. 178. soa, desde que obedeca a certas condiçoes de pagarnento, horário, etc"., estan-
188 189
Cello Lobão Direito Penal Militar

do o lugar aberto ao pb1ico no momento do fato e, tainbém, no local que, Segundo CrysOlito de Gusmão, insubordinacão consiste no "ato pelo
"sem ser püblico nem aberto ao piiblico, permite que urn ndmero indetermina- qual o militar quebra os lacos de sujeição e obediência hierárquica e discipli-
do de pessoas vejam o que nele se passa. em virtude de condiçoes em que se nar, quer não obedecendo as ordens emanadas, por qualquer meio, de seus
situa ou pelas circunstâncias em que o fato se desenrola (janelas abertas, superiores, quer ofendendo fIsica ou moralmente, por vias de fato ou ultra-
etc.)".283
jes.
Fragoso esciarece, ainda, que, ernbora "o lugar seja pi.blico, não havenS A definição é extensa porque, no antigo Cddigo da Armada, a violência
crime se se demonstrar a impossibilidade de ser o ato observado por alguem. E contra superior e o desacato também eram considerados insubordinação. Abs-
o que ocorrerá se o ato for praticado em lugar scm iluminaçäo e de acesso traindo-se esse aspecto, discordamos da quebra de laços de sujeição, dando a
difIcil ou raramente frequentado".284 entender que, praticando o del ito, o agente fica livre da sujeição e obediência
Do exposto, resulta que flão Sc exige que outras pessoas presenciem o hierárquicas, o que demonstra influência de autores franceses.
ato ilIcito, bastando que ocorra em lugar aberto ao péblico, em local que per- Em conformidade Corn o Código Penal Militar, insubordinaçäo consiste
mita seja visto por ntImero indetcnninado de pessoas. no fato de o militar negar-se a obedecer ordem do superior hierdrquico, relati-
Liberdade Provisória e Suspenso Condicional da Pena - No va a serviço ou dever imposto em lei, regulamento ou instrução.
crime de despojamento de unifonne, condecoraçao, insIgnia c distiruivo. não Crime Militar - Classifica-se como crime propriamente militar
se concede liberdade provisória ao indiciaclo e ao acusado (art. 270, panigrafo por se tratar de infracäo penal especIfica e funcional do ocupante de cargo
Cnico, b, do CPPM) e o beneticio da suspensão condicional da pena não al- 9, 1, 22 parte do art. 9°).
militar. Crime não previsto na lei penal comum (art.
cança os condenados por esse delito (art. 88, II, h, do CPM e 617. 11, b. do
CPPM). Objetividade JurIdica - Segundo Manzini, o objeto da tuteia
penal é o interesse relativo a subordinaçäo, ao respeito devido pelo inferior
Legislação Anterior - Art. 78, parágrafo tlnico, do CPA; art. 140,
parágrafo iinico, do CPM de 1944. a seu superior.286
0 objeto da tutela do Código Penal Militar é o interesse relativo a auto-
CAPiTULO XI
ridade e a disciplina sob o aspecto da obediência as ordens emanadas do supe-
rior hierdrquico, em face do dever militar imposto em lei, regulamento ou
Insu bord inacão
instrução.
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo somente o militar, condiçao essa
Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre as-
implIcita na descrição tIpica, ao referir-se a ordem do superior, o que exclui o
sunto ou rnatéria de serviço, ou relarivarnente a dever imposto civil, mesmo na qualidade de co-autor. Sujeito passivo, as instituicöes milita-
em lei, regulamento ou instrução:
res.
Pena - detençao, de urn a dois anos, se o fato nao consti- A insubordinação não exige pluralidade de agentes, porque se a recusa
tui crime rnais grave. de obediência for praticada por dois ou mais militares reunidos, configura-se o
motim, na modalidade do iflCiSO I do art. 149.
Consideraçöes Gerais - No CapItulo V, TItulo II. o Código Penal
Elementos Objetivos - Na insuhordinacão, o nticleo do tipo e re-
Militar trata da insubordinação (art. 163), da oposição as ordens da sentinela cusar-se, é negar-se a curnprir ordem do superior.
(art. 164), da reunião ilicita (art. 165) e da publicaçao ilicita (art. 166). Segundo Augier et Le Poittevin, nao ha necessidade de exteriorizar a
Dentre esses, são crimes propriamente militares a insubordinaçao e a recusa, sendo suficiente deixar de executar a ordem recehida. Portanto, ma-
publicaçao ilIcita. A oposição as ordens da sentinela (art. 164) e a reunido
ceitável o enunciado do acórdão proferido na Ap. n° 32.180, do Superior Tri-
ilIcita são inipropriamente militares. Por esse motivo, serão cornentados na bunal Militar, segundo o qual a insuhordinacão caracteriza-se pela "maior
Parte ill deste livro.
gravidade do ato da recusa'. A orientação correta vein expressa na Ap. n°
283
Heleno Fragoso, Liçoes, Parte Especial, V. 3, p. 80. 261
284 Crysôlito de Gusmão, Dir. Pen. Mil., p. 64.
Heleno Fragoso, Licoes, Parte Especial, v. 3, p. 80. 266
Manzini, Dir. Pen. Mu., p. 158.
190 Cello Lobão Direito Penal Militar 191

31.879, do mesmo Tribunal: "pratica crime de insubordinaçao o militar que se cias do quartel não pode ser estendido a oficial, ao graduado, ao guarda-
recusa simplesmente a cumprir ordem de serviço que é dada pelo superior".2 S7 marinha, aspirante a oficial, ao cadete, ao aluno da Escola e do ColCgio Naval,
A recusa consiste em manifestaçao de vontade que se exterioriza sob as ao aluno de centro de formacao de sargento, ressalvada situacao de emergên-
formas mais variadas, por meio de palavra, gesto, imobilidade, agir de forma cia, de calamidade, de sinistro, etc.
contrária a ordem recebida, mesmo simulando sua execucão ou, também, exe- Assim, também, quando deterrninada instrucao destina-se a atender a
cutando-a, deliberadamcnte, de maneira ineficaz. deficiências de parcela especIfica do contingente, não alcança quem, compro-
Como consta da descrição tIpica, a ordem versa sobre assunto ou maté- vadarnente, não se encontra na situaçao dos destinatários da instrucao, como
na de servico ou relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou instru- ocorreu na Ap. n° 33.424, na qual o Superior Tribunal Militar manteve senten-
ção. Em vez de assunto ou matéria de scrviço, meihor seria ordem relativa a ça absolutOria de prirneira inst(incia quc reconheceu inexistência de crime no
servico ou dever imposto em lei, regulamento ou instruçäo, conforme defini- fato de o soldado ter-se recusado a coinparecer a aula de alfabetizaçao porque
çãø retro. A ordem pode ser escrita ou verbal, dada diretamente pelo superior já era alfabctizado.29° Corn cicilo, a iIIS1111ç50 dcstii)ava-se aOS que cram anal-
ou por interposta pessoa, sendo, no entanto, indispensável seu conhecimento fabetos, não sendo 0 CSO 1k) (lcnul)cia(lo, (JUL', scrub alfabctizado, estava cx-
pelo subordinado. Determinadas circunstâncias relacionadas corn a espécie da cluIdo do dever imposto pela inst rnçao.
ordem OU sua execução admitem pedido de confirrnaçao pelo subordinado, Rejeitando a orientacao de a re-
desde que tal solicitaçäo não sirva de pretexto para retardar ou deixar de cum- cusa em cuinprir ordem de prisao ruin in p na I usnhond naçu). por não so
prir a ordem. ajustar a descricao tIpica (10 art. 163. Nño se tiata dc assLirilo on inatéria do
Serviços SO os atribuIdos ao militar, no exercIcio de funcao de seu car- servico, nem dever imposto em lei. regulameirto on Inst rnçau. l'ode ocorrer
go, compreendendo näo SO os de natureza militar, COJTiO tainbém OS que, em- desohediência (art. 301).
bora sem essa caractenistica, são indispensáveis ao funcionamento da institui- 0 Superior Tribunal Militar, em acórdão proferido tnt Ap. n° 30.724,
ção militar, como o preparo de refeiçoes, limpeza das dependências do aquar- entendeu inexistir insubordinaçao por niio estar "provada a ncctisa. mas apenas
telamento ou do local onde se encontra estacionada a unidade militar, manu- o retardainento, no cumprimento da ordem, e . á tendo silk) 0 acusado punido
tençao de apareihos, dos meios de transporte, do fardamento, calçado, além de pela sua conduta indisciplinada".29 ' 0 enunciado da ementa, l)1lIo e simples,
outros. Abrange Os que se encontram previstos em lei, regularnento. instniçäo não afasta a insubordinaçao, que também so configura corn o nciardamento do
e determinação do Superior hierárquico. cumpnimento da ordem, salvo se a demora d motivada por cumprimento de
dever legal, como no caso do oficial-tesoureiro que informou a scu superior a
Como acentua CrysOlito de Gusmão:
impossibilidade de cumprir a ordem que ihe foi dada enquanto nao chegasse o
"[ ...] entende-se por ordem relativa a serviço aquela que diz respeito ao militar designado para receber a documentacao da tesouraria.
exercIcio de uma funçao decorrente da própria profissão, de suas necessida- Nesse sentido, decisão do Tribunal Supremo Militar italiano, datada do
des permanentes ou ocasionais".288 28 de abril de 1942:

Não é diferente o entendimento de Augier et Le Poittevin: "[ ...] manca il dolo quando l'inferiore, disobbedendo, faccia presente at
superiore una ragione continente di servizio che, a suo avviso, gli impedisce
di eseguire l'ordine ricevuto". 2
"[ ...} expression ordre de service dolt donc être entendu dans le sens le
plus gOnéral et le plus large, et elle être appliquOe a toute espèce de devoir
commaridé par un sup6rieur".289 Dccidiu a Superior Tribunal Militar que "a solicitacao do superior ao
seu substituto para que 0 substituisse no cornarrdo constitui urna ordem legal e
Casos ha em que a espécie de serviço não diz respeito ao militar de de- irrecusavel, mormente em se tratando do situaçao anormal, durante prontidao
terminado grau hierrquico; por exemplo: o serviço de lirnpeza das dependên- rigorosa, e a recusa a essa solicitação consfitui insubordinaçao".293

299
DJ/GBde2O.11.63. p. 1040.
DJ/GB de 21.03.62, p. 656. 29
DJ/GB de 08.02.61, p. 79.
288
289
Crysólito de Gusmão, Dir. Pen. Mi!., P. 68. 292
Saverlo. Malizia, Cod. Pen. Mi!., p. 122.
Augier et Le Poittevin, Droit. Pen. Mi!., t. II, p. 658. 293
Açäo Ordinária n8 29, DJ de 10.02.71, p. 71.
192 CélioLobão Direito Penal Militar 193

"[ ... ] e Ilcito, porérn, representar corn reveréncia acerca da ordern rece-
Discordamos da "solicitaçäo", pois a lei exige "ordem do superior". Se bida, quando houver motivo para discretamente duvidar-se de sua legalidade
houve ordem, configurou-se a insubordinaçao, mas se o superior apenas soli- ou quando da sua execucão que se deva, prudentemente, recear grave mal;
citou, no houve crime, resolvendo-se disciplinarmente. devendo-se, não obstante, curnpri-la, se o superior insistir".
A ordem por interposta pessoa, ainda que do mesmo grau hierárquico
do agente, não descaracteriza o crime, como assinala Saverio Malizia, Crysólito de Gusmibo era coritririo a esse sistema, acrescentando que "a
"L'ordine deve provenire dal superiore, ma non ha influenza ii modo transformaçibo do militar nurn eleinento purarnente automtico e mecãnico so
dell'intimazione all'inferiore, che puo essere oltre a quello ordinario pode ser compreendida nas eras passadas, no regime de rnonarquias absolu-
dell'intimazione fatta diretamente dal superiore anche quello dell'intimazione tas".299 Nesse sentido, dccidiu a Cone de Cassação italiana:
a mezzo di altro militare, sia pure di grado uguale a quello dell'intimato".294
No entanto, como hcou dito, e possIvcl retardar o cumprimento, a fim "[ ...] neii'ordinarnento mihtare non è consacrato U principio delia
de obter confirrnaçao da ordem, diante de divida relevante. obbedienza cieca; onde I'obbedienza agli ordini del superiore, anche nei
rapporti tra i mihtare, trova un iimite nelia iegge penaie".30°
Saverio Malizia cita decisão do Tribunal Militar italiano, segundo a
qual, o fato de o superior encontrar-se em trajes civis nio isenta o subordina-
0 cádigo suiço pune a subordinado que tern conhecirnento de que a or-
do, tanto mais que o superior se identificou corno t'11.295 Não é diferente, no
dcm destina-se it pritica de dclito e a curnpre.' °'
Direito brasilciro, apenas sendo exigido. neste, além da identificaço, que a
A ordern ilegal ou. embora legal, mas estranha ao scrviço, nibo irnpibe o
ordem refira-se a scrvico, a dever imposto em Iei, regularnento ou instruçao.
devcr de ohediência. Calilo csclarece Manzini:
Doutrinariarnente, discute-se a licitude ou ilicitude da recusa, quando se
trata de ordem ilegal do superior. Uns defendem o principio da obcdiência "Un iimite ai dovere d'obbedienza del subordinate sia ha, come guà
cega, como Henri Clerc, para o qual a inobservância desse sistema faz perigar vendommo (n. 42, Ii bis), neila manifesta iliegitimità defl'ordine, nei quaie case
a coesão da organização militar e a disciplina.296 si ha non solo ii diritto, ma H dovere di non obbdire (art. 37, n.1 e 2 es.). Ii
N5o é diferente o parecer do procurador-geral da Corte de Cassacao dovere di obbedienza non sussiste neppute, per quanto dicernmo sub I,
francesa, citado por Augier et Le Poittevin: quando i'ordine sia completamente estraneo al servizio o aHa disciphna
mihtare".302
"[ ...] des qu'un militaire a reçu un ordre dun de ses supérieurs, H dolt
j Prosseguindo, o aulor esciarece que a evidente ilegalidade e nao a sirn-
'executer passivement, sans restriction et sans discussion. L'ordre peut ètre
mal donné, ii peut être injuste: peu importe; [ ... ] ii dolt obéir immédiatement". pies irregularidade exime o dever de obcdiência.303 Corn o que concordarnos.
Logo, havcndo apenas irregularidade, a ordem deve ser cumprida, ainda que
Mais adiante, o mesmo parecer acentua que o subordinado nao pode essa irregularidade seja apontada pelo subordinado e o superior insista em seu
formular "la reclamation qu'après s'être soumis a l'ordre contre lequel on cumprimento.
r6clame".297 No Código Penal Militar vern expresso, no art. 38, § 2°: "Se a ordern do
0 Codigo chileno parece aceitar, também, o sistema da obediência cega, superior tern por objeto a prática de ato manifestamente criminoso, ou ha cx-
prescrevendo que, se a exccuçao da ordern resulta em grave mal ou tiver, noto- cesso nos atos ou na forrna de execucibo, C punIvel tambCrn o inferior". Por-
riamente, por finalidade a prdtica de delito, o inferior poderá suspender seu tanto, o Direito brasileiro nito consagra o princIpio da obediência cega. poden-
cumprimento ou niodific-la, dando coma ao superior. Se este insistir na or- do o subordinado deixar de cumprir a ordern destinada a pritica de ato mani-
dem, dcverd cumpri-la e reclarnar postcriormente.298 Disposição idêntica en- festamente crirninoso; caso contrário. responde juntamente corn o autor da
contramos no Codigo Penal da Armada de 1891. precisamente no art. 95: ordem.

214
idern, ibidern, p. 121. Dir. Pen. MU., p. 72.
300
295 idern, ibidern, p. 121. Ciardi, IlNuovi Co. Pen. Mu., p. 130.
296
Caries Coiornbo, ElDer. Pen. Mi!., p. 176. Caries Coiombo, El Der. Pen. Mi!., p. 175.
02
297
Augier et Le Poittevin, Droll Pen. Mu., t. H, p. 658. Manzini, Dir. Pen. Mu., p. 160.
296
Caries Colombo, ElDer. Pen. Mit., p. 180. Manzini, Dir. Pen. Mil., p. 160.

Al
1W
194 Célio Lobão Direito Penal Militar 195

Por outro lado, ha circunstâncias de caráter pessoal, de rnomento e local alguns paIses. No Brasil, o problerna encontra-se superado corn o disposto no
do fato que impedern a avaliaçäo, pelo subordinado, da legalidade da ordem, art. 143, § 11, da Constituicao:
ou, ate mesmo, da ilicitude do ato (p. ex. a prisão ilegal de urn cidadäo). Nes-
sas hipóteses, o inferior hierarquico nao responde juntamente corn o superior, "As Forças Armadas compete, na forma da tel, atribuir servico alter-
em conformidade corn o disposto nos arts. 36 (erro de fato) e 38, h (obediência nativo aos que, em tempo de paz, apás alistados, alegarem imperativo de
ccnsciència, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de
hierárquica), do Codigo Penal Militar, embora no o isente do excesso come-
convicção filosólica ou politica, para se eximirem de atividades de caráter
tido (art. 38, § 22, 2 parte). essencialmente militar".
Finalmente, embora despida de ilicitude, a recusa de obediência a or-
dem sem suporte legal (lei, regularnento ou instrucäo) não importa em insu- 4 0 crime de insubordinaçao é residual, deixando de incidir o art. 163 se
bordinação, sendo o agente passivel de sançiio disciplinar. o fato constitui crime mais grave, por exemplo, motim.
Alguns anos atrás, corn alguma frequencia, os tribunais de palses da Elemento Subjetivo - 0 elemento subjetivo é o dolo de desohe-
America Latina e da ltália apreciavam casos de insubordinaçiio motivada por decer ordern de superior, tendo conhecimento de que se trata de servico cm de
seguidores de determinada seita religiosa que se recusavarn a prcstar jura- dever imposto em Iei, regulamento ou instrucão.
mento a bandeira. 0 Conselho Superior das Forcas Armadas argentinas, em Consumação c Tentativa - Crime instantanco, consulnaiR() se no
dccisão de 27 de junho de 1952, citada por Carlos Colonibo, condenou solda- mornento em que o agente recusa-se a ohcdcccr ordern legal de superior lije-
do que se recusou a prestar jurarnento a bandeira por impedi-lo suas convic- rárquico. A noço de recusa exclui a figura uridica da Iculativa,
cöes religiosas304. Liberdade Provisória e SUrSiS 0 iii(licia(l() e o acusado l)(la
No Brasil, o Superior Tribunal Militar considerou crime de insubordi- pratica do crime de insubordinaçao nido tern (i ircilu ib I iberdade pr soria
nação a recusa em prestar juramento a bandeira,305 corn o que concordarnos, (art. 270, parágrafo ünico, b, do CPPM). Ao condenado por esse THCSIIR)
porque o militar se recusou a cumprir ordern de superior relativa a dever im- crime nibo se estende o benefIcio da suspensibo condicional da pcna (art. 88,
posto em Jei. Caso idCntico foi submetido ao Tribunal Supremo Militar italia- 11, a, do CPM e art. 617, II, a, do CPPM).
no, que assirn decidiu: Legisiação Anterior - Art. l dos Artigos de Guerra; arts. 94 c 95
doCPA; art. 141 doCPMde 1944.
"lobbiezione di conscienza, adotta dat militare per esimersi
daIl'obbedienza agli ordini ricevuti, non concreta uno dei diritti inviolabili
CAPITULO XII
dell'uomo, riconosciuti o garantiti dalla Costituzione: essa contrasta con le
leggi vigenti che sanciscono l'obbligatorieta del servizio militare, che è Publicacão IlIcita
preparazione fisica e espirituale necessaria aila difesa della Patria, prociamata
dalla Costituzione sacro dovere del cittadino. Anche se motivato da obbiezione Art. 166. Publicar o militar ou assemeihado, sem licenca,
di conscienza, coristituisce pertanto disobbedienza ii rifiuto di raggiungere le
destinaziorie di servizio, di indossare l'uniforme militare, di partecipare aile ato ou documentoo, oficial, ou criticar publicamente ato de seu
instruzioni, di sfiiare in parata, di prestare giuramento etc. Non puô in tali casi superior ou assunto atinente a disciplina militar, ou a quaiquer
applicarsi 'attenuante dei motivi di particolare valore morale e sociale, poichè resoluçao do Governo.
l'obbiezione di coscienza è en fuzione di una morale individualistica
contrastante con la morale generale. Inoltre, in caso di ripetuti rifiuti, vanno Pena - detençao, de dais ineses a urn ano, se a Jto näo
applicate le norme sul reato continuato, in relazione alla unicità del disegno constitui crime niais grave.
criminoso".306
Consideracöes Gerais - Duos infracoes penais vérn contempladas
A Société Internationale de Droit Militaire et Drok de la Guerre tern de- no dispositivo penal. Urna consiste em publicar, sem autorizacäo, ato ou do-
hatido a questao, indicando solucao satisfatdria, que vem sendo adotada em cumento oficial. A outra C criticar ato do superior ou assunto atinente a disci-
plina militar. 0 documento oficial e os atos, evidenternente, dizern respeito as
CarIes Colombo, ElDer. Pen. Mi!. p. 160. insutuiçocs militares; caso contrário, o militar age corno cidadão, responden-
Ap. n9 28.482, Ement. do STM, dez./1957.
Saverlo Malizia, Cod. Pen. Mu., p. 1.23. do, nessa qualidade, pela sua conduta, inclusive disciplinarniente.
196 Cello Lobão
Direito Penal Militar 197

Resolucäo governamental, meihor dizendo, ato administrativo, segundo


Hely Lopes Meireles, "e toda manifestaçao unilateral de vontade da Adminis- Documento é qualquer objeto hábil para transmitir uma idéia, urn pen-
tracäo Piib1ica, que, agindo nessa qualidade, tenha por fim irnediato adquirir, samento, por meio de escrita, desenho, ntmero, figura geometrica, fita de vi-
resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obri- deo, disquete de computador, etc. Ato, no caso, é a declaracao, verbal ou es-
gaçöes aos administrados ou a si pr6pria".307 crita, de autoridade militar, relativa a assunto atinente as instituicöes militares.
Justifica-se porque, no ãmbito federal, as Forças Armadas encontram-se Segundo SIlvio Martins Teixeira, "se já houve publicaçâo oficial, nao
sob "autoridade suprema do Presidente da Repi:iblica (art. 142 da Constitui- ha crime na divulgação, salvo se esta é feita acintosamente pelo militar".308 0
cäo), e no âmbito estadual, a PolIcia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar comentário não se ajusta a norma comentada. 0 "acintosamente" näo ingressa
suhordinarn-se aos governadores das respectivas Unidades Federativas, como corno elemento do tipo e nern a originalidade do ato ou documento, pois a lei
dispOern o art. 144, § 6, da Lei Fundamental, e a Constituiçao estadual. se satisfaz, tão-sornente, corn a publicaçäo scm a devida autorizacão da autori-
A referência a assemeihado, constante do preceito legal, deve ser des- dade militar coinpetente.
considerada, pela ausência de suporte fctico. Chega a ser irritante a indife- A publicidade concrctiza-se por meio de periódicos, panfletos, volantes,
renca (los "fazedores" de Icis. relativarnente a legislaçao pátria que vigora hzi transmissäo por computaclor, aparclho de som ou irnagern, etc., independeri-
mais de meio seculo. temente de anterior publicaciio, mesmo porque a lei considcra violacao a dis-
Crime Militar - Classifica-se como crime propriamente militar, ciplina, a subordinaçao hierarquica, a publicidade (10 ato ou do docurnento
por se tratar de infraçao penal especIfica e funcional do ocupante de cargo scm liccnca de autoridade inilitar conipctcnte. Sc a autoridade nao tern corn-
militar. Seguindo essa orieniação, o Supremo Tribunal Federal, no HC n petência, responde quem deu a ordem c quern pub]icou, se tinha conhecimento
75.676, entcndeu que o militar da reserva e o reforinado não corneteni crime de que o militar nâo podia autorizar a publicação.
militar de publicaçAo ilIcita. Crime não previsto na lei penal cornurn (art. 9, I. Criticar importa em ernitir couccitos favornIveis ou nao, por meio de lin-
2 parte). guagem oral ou escrita. A norma nienciona criticar publicamente, o que im-
Objetividade JurIdica - 0 preccito legal tutela a disciplina militar porta na prática do ato cm lugar piTiblico, cm lugar aherto ao piblico ou em
diante da conduta do agente corn potenciahdade suficiente para atuar de forma lugar exposto ao pi.Tiblico, sendo irrelevante saber se chegou ou no ao conhe-
cimento de outrem, hasta que se realize de forma a ser percehida por determi-
negativa na estrutura hierrquica da corporaço castrense, alérn de ocasionar o
descrédito da instituição militar. Incluern-se na proteçao legal a autoridade nado ntirncro de pcssoas.
militar e o chefe do governo federal ou estadual, contorme 0 caso, em face do 0 objeto da crItica é ato de superior hierárquico, relacionado corn a dis-
ciplina militar e resoluçao governarnental. 0 ato deve emanar de superior hic-
desprestIgio a que ficariam sujeitos, na coletividade civil e militar, corn a crIti-
ca em püblico de seus atos, numa clara violação ao princIpio da suhordinaço rárquico, no exercIcio de funcao militar, nao se considerando a diversidade de
hierárquica. corporaçiio do superior e do subordinado Por exernplo, superior hierárquico da
Sujeitos do Delito - Corno vern expresso nìa descriçao tIpica, e por Marinha e agente da Aeronáutica ou sujeito ativo hombeiro militar e superior
policial militar.
se tratar de crime propriamente militar, sujeito ativo, somente o militar, o que
A crItica pode, ainda, referir-se a assunto atinente a disciplina militar,
exclui o civil, mesmo na qualidade de co-autor. Sujeito passivo, as instituiçöes
inilitares. não so os constantes da legislação, coma também aqueles emanados do supe-
rior hierárquico, no exercIcio de funcao do cargo militar. Entretanto, näo in-
Elementos Objetivos - As condutas incriminadas so "publicar" e
gressa na esfera penal militar a exposicao escrita contendo apreciaco crItica e
"criticar publicarnente". 0 primeiro importa cm tornar publico, divulgar, pro-
séria sobre a disciplina militar cnn geral, e näo, especificamente, a das institui-
palar. tornar conhecido o ato ou o documento, por meio de qualquer forma de
cöcs castrenses brasileiras.
divulgaçao da palavra escrita ou oral. 0 carther sigiloso ou secreto do ato ou
Como ficou dito, a conduta incriminada é criticar; logo, a descrição ii-
do clocurnento é elemento estranho ao tipo, mas. confonne seu conteiIdo, pode
pica não exclui a crItica favornIvel, mesmo porque a lei protege a disciplina
contigurar crime Contra a segiiranca do Estado, mesmo porque o delito de
publicaçao ilIcita é residual. castrense da conduta do agente que expöc cm pühlico rnatéria de consumo
intemo da corporaco militar.
107
Hely Lopes Meireles, Dir. Adm. Bras., p. 133.
308
Silvio M. Teixeira, Novo Cod. Pen. Mi!., p. 231.
Direito Penal Militar 199
198 CélioLobão

Outra modalidade do delito diz respeito a qualquer resoluco - inde- 168); uso ilegal de uniforme por militar (art. 171); uso ilegal de unifornie por
pendentemente da matéria nela contida - do Presidente da Repiiblica (näo qualquer pessoa (art. 172). 0 iIltimo dos delitos acima 6 impropriamente mi-
também de Ministro de Estado), no que se refere as Forcas Armadas, e de litar. Por esse motivo, seth comentado na Parte 111 deste livro.
governador (no também de secretário de Estado), relativamente a Poilcia Merece ressaltar que a descriçäo tIpica dos dois tiltimos delitos não se
Militar e ao Corpo de Bombeiros. Essa conduta ilIcita atinge a disciplina e a identifica corn a usurpacâo. 0 uso ilIcito de uniforrne, pelo civil, ineihor se
autoridade militar, considerando-se que o Presidente da Repéblica exerce o ajusta a falsa identidade e, pelo militar assume major relevãncia a ofensa
comando supremo das Forças Armadas (arts. 84, XIII, e 142 da Constituiçio) disciplina militar, relegando, para plano secundário, a identificaçao como mi-
e o goveniador do Estado o comando da PolIcia Militar e do Corpo de Born- litar de posto ou graduacão superior.
beiros (art. 144, § 6, da Lei Fundamental e dispositivo da Constituicao esta- Como dissernos acima. o crime do art. 172 é impropriarnente militar, o
dual). que nâo acontece quando o sujeito ativo é mnilitar. Por esse motivo, o art. 171
crime de publicaço ilIcita é residual, deixando de incidir o art. 166 deveria englohar o uso illcito de uniforme, distintivo ou insignia pelo militar,
se o fato constitui crime mais grave, por cxcrnplo, revelaçao de segrcdo (art. indepcndentemente de grau hierárquico, superior, inferior, e ate do mesmo
144 do CPM) ou crime contra a segurança do Estado. grail, no caso de uniforrnc dc outra Arma on de outra unidade (Ia mesma cor-
Elernento Sub,jetivo - 0 tipo subjctivo é a vontade livre C Consci- poraçäo.
cntc dirigida para reahzaçao das condutas descritas no preceito normativo.
Consumação e Tentativa - Ocorre a consumacüo no moniento cm CAPiTULO XIV
que se concretiza a publicaçao OU a crItica em pdblico, independentemene do Assuncão Ilegal de Comando
conhecimento por outras pessoas, sendo suficiente a possibilidade desse co-
nhecirnento. Art. 167. Assunur a militar, sen ordem ou autorizaçãO,
A tentativa é possIvel, desde que a publicidade deixe de realizar-se por salvo se em grave emergência, qualquer cornando, ou a dire çãü
motivos alheios a vontade do agente, por exemplo, o documento é intercepta- de estabelecimento militar:
do antes de sair do local onde foi imnpresso, a emissâo de voz chega ao local Pena - reclu.sao, de dais a quatro anos, se o fato não
desejado completamente i ncornprecnsIvel, seni percepço de qualquer pal avra
constitui crime mais grave.
ernitida.
Liberdade Provisória - Ao indiciado ou acusado do crime de pu-
138. Consideraçöes Gerais - 0 Codigo Penal contempla o crime de
blicaço ilIcita, não se concede liberdade provisória, como vem expresso no
usurpação do exercIcio da funçao ptiblica (art. 328), cujo agente é qualquer
art. 270, parágrafo tinico, h, do CPPM.
pessoa, o que no se identifica corn a descnçäo tIpica do dispositivo da Jei
Legislacão Anterior - Art. 144 do CPM de 1944.
penal castrense ora conientada, que tern como sujeito ativo somente o militar.
Aqui, a norma penal tern em vista funcoes especIficas do cargo militar, tendo
CAPITULO XIII
militar como sujeito ativo iInico do delito. A usurpaçäo cometida por civil
Usurpação
encontra definicão no art. 328 do Código Penal, se nao constituir crime mais
grave.
Noçöes Gerais - 0 Código da Armada previa, nos arts. 108 a 114,
Os crimes de usurpacão, excesso ou ahuso de autoridade, o qite foi mantido Crime Militar - Classifica-se como crime propriamente niilitar,
por se tratar de infração penal especIfica e funcional do ocupante de cargo
pelo diploma penal castrense de 1944 (arts. 145 a 153) e adotaclo pelo atual.
militar. Crime näo previsto na lei penal comurn (art. 9, 1, 2 parte).
No Cddigo italiano, corn exceciio da violência contra inferior, classifi-
cada corno crime contra a disciplina, os demais estiio incluidos tios crimes Objetividade JurIdica - A Ici penal castrense tutela a disciplina c
contra o serviço militar. autoridade militares, protegendo-as da conduta do militar que assume cornan-
0 Cddigo Penal Militar classifica como usurpacao OS delitos seguirites: do ou chefia de estabelecirnento castrense scm a investidura legal nesses car-
assunçäo ilcgal de comando (art. 167); conservação ilegal de comnando (art. gos. A ofensa a disciplina ó cvi dente, pois o militar age fora da cadeia hiermii-
200 Cello Lobão 201
Direito Penal Militar

quica a qual se encontra subordinado, atuando por conta propna, ao investir-se ção, por graduado da PolIcia Militar. A assunção dessas chefias resolve-se no
ilicitamente nos cargos especificados. âmbito disciplinar, se não encontra definição em outro preceito da lei penal
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, unicamente o militar, e passivo,
comum.
as instituicOes militares. Criticou-se a exclusäo, no Codigo de 1944, do vocábulo indevida,nente,
Elementos Objetivos - 0 ato incriminado é assumir, que importa constante do anteprojeto, argunieiitando-se que a supressão determinava a
na prática de atos próprios de quem o exerce, o comando de unidade militar ou configuracão do delito na hipótese de o militar assumir, scm autorização, o
direçao de estabelecimento militar, não sendo exigIvel qualquer formalidade comando de tropa para debelar uma revolta. SIlvio Martins Teixeira conside-
ou declaraçao por parte do agente. 0 conceito de comando deve ser amplo, rava a crItica improcedente, acrescentando que a "palavra indevidainente foi
como esclarecem Ciardi e Manassero: suprimida por supérflua", expondo que, na hipótese formulada pela crItica,
nio h6 usurpaçio porque o oficial cunipriu urn dever inerente ao posto. °
"La Relazione deua comissione Reale riferibile sia alle persone che alle
cose e quindi comprende non soltanto II corpo, Ia nave, la fortezza, mia SensIvel as crIticas c ii explicação de Martins Teixeira, o Anteprojeto do
qualsiasi posto di servizio o servizio in genere non esclusivi ii servizi Código atual assim definia essa modalidade de usurpaçio: "assumir o militar,
amministrativi".309 scm ordem 00 autorizacão. Salvo SC Cifi cumprimelito do dever, qualquer co-
mando, ou a direção de estabelecimento militar". No texto do COdigo a ex-
Estatuto dos Militares define COnlalido como "a soma de autoridade, pressio "salvo se em cumprirnento dodever" foi suhstituIda por salvo se em
deveres e responsabilidades de que o militar investido legalmente quando grave emergêflcia.
conduz hornens ou dirige urna organizaçäo militar. 0 comando d vinculado ao Entendemos que grave ernergéncia alcança major amplitude do que
grau hierárquico e constitui unia prerrogativa impessoal, em cujo exercIcio o cumprimento do dever. Corn efeito, se urn graduado OU urn praca assurne o
militar se define e se caracteriza como chefe" (art. 34. caput). comando nurna situaçäo de sinistro, em face da ornissão do comandante e de
Como comando, para efeito da lei penal militar, entende-se o de grande oficiais superiores presentes, flO 0 t'az em cumprirnento do dever, que era do
e o de pequena unidade, como a patrulha, o velculo de combate, o avio. a cornandante e dos oficiais, e sim como integrante da corporaciio, movido pelo
lancha, etc. propósito de evitar o sinistro ou diminuir as conseqüências do sinistro, procu-
comando confere a seu titular rcspeiuivcl soma de poder sobre as pes- rando evitar danos rnateriais e pessoais,
soas, que Ihe devern subordinação hierárquica, tendo a sua disposição equi- Nos termos do preceito legal, o militar que n.o se encontra investido le-
pamentos militares, cuja util izacao subordi na-sc a rIgidos preceitos constitucio- galniente na função de coinandante ou na direção de estabelecirnento militar
nais e legais pertinentes. Por essa razão, a investidura do militar no comando da pode assumi-los, legalmentc, por autorizacão ou ordem da autoridade rnilitar
unidade militar obedece a rigorosa observãncia da lei, como o ato de nomea- superior competente ou, em grave emergência, scm ordem ou autorizacao.
çao emanado de autoridade competente, a posse, etc. Durante sinistro ou ameaça de sinistro, a investidura do militar nas fun-
InadmissIvel que, sem o atendiniento das exigências legais, o militar çöes referidas dispensa 'qualquer formalidade, podendo ocorrer mediante or-
ocupe comando de unidade militar, ressalvados os casos de emergência, de dem de autoridade militar competente ou scm autorização ou ordem. A gravi-
calarnidade, de ausência ou omisso do comandante, capaz de justificar a as- dade da ocorrência é aferida durante os acontecimentos e n5o em momenta
suncão do comando, independenternente de alo prévio ou de ordem superior. posterior, na tranqi.iilidade dos gabinetes, nem na frieza das peças processuais.
A proteçäo da lei penal estendc-se, igualmente, a direço de estabeleci- Na assunção ilIcita, carcce de rclevância perquirir se o exercIcio ilegal
rflento militar, corno chefia de rcpartiço militar, hospital, escola, sede de cir- do comando acarretou prejuIZO real, concreto ou bcncficiou a adrninistracio
cunscrição ou dejunta de serviço militar. Por näo se enquadrar no conceito de militar A norma sancionadora se satisfaz coin o fato de o militar näo se cn-
estabeiccirnento militar, permanece fora da protecao penal a chefia de reparti- contrar legalmente investido no comando ou a inocorrência de situaço de
çiio burocrática militar, que nao se ajusta no conceito de estahelecirnento mi- emergência autorizadora da investidura no comando da unidade ou na chefia
litar, inclusive a Delegacia de PolIcia, cxcrcida. em alguns Estados da Federa- do cstahelccirncflto militar, scm autorizaçibo legal. Rca]mcnte, conforruc a

31.19
A. Manassero, I/Cod. Pen. Mil., v. 2, p. 91 eG. Ciardi, II Nuovi Cod. Pen. Mi!., p. 210.
° Silvio Teixeira, Novo Cod. Pen. Mu., p. 283.
LA
202 Direito Penal Militar - 203
Chr I hn

liçao de Nelson Hungria, a administraçao militar nao transige da prerrogativa "Para o summaturn opus, não basta arrogar-se ou atribuir-se a lunçãD
pub é preciso exercé-la efetivamente ou seja, praticar algum ato de ofIcio,
legal de "que ihe sejam reservadas, irrestritamente, a escolha e a investidura
daqueles a quem são confiados".31 ' Os comandos de suas unidades ou a dire- coma se fosse a legitimo funcionário. A simples jactãncia rião é penalmente
II ilIcita, salvo se contribui para urn fingimento, pois em tal caso serã reconheci-
ção das repartiçöes militares. vel urna contravenção [......
0 delito de assunçâo ilIcita de comando é subsidiáno, deixando de mci-
dir o art. 167, se o fato constitui crime mais grave. Corn efeito, a assunção ilIcita de comando ou de direçao de estabeleci-
-
Elemento Subjetivo 0 elemento subjetivo é o dolo de assumir mento militar consuma-se corn a pnitica de ato próprio de quem exerce uma
comando ou direção de estabelecimento castrense, tendo o militar plena cons- dessas funcoes. rnesmo scm lorar a execução do ato. Se por motivos alheios a
ciência de que não se encontra legairnente investido na função ou que nâo sua vontade, a agente ncnhurn ato pratica, não ha como falar em inicio de
ocorre situacão de grave ernergência, autorizadora da assunção do comando ou execução, não ha como identificar-se a tentativa
direçao. Por outro ]ado, se a agente expede ato escrito ou verbal, inerente as fun-
-
Consumação e Tentativa Consurna-se o delito no momenta da coes referidas, mas, no primeiro caso. a papel e interceptado, e, no segundo, e
prática de ato próprio de quern exerce comando de unidade militar ou che.fla i
norado. ou em ambos. não conseguc lograr sua e.xecucão. niio existe tentati-
de estabelecimento militar ou, coma ensina Heleno Fragoso, referindo-se a Z7
1

va e sirn delito consuniado. pois 0 iiiililtr pr icou ato próprio de cluem exerce
função priblica, quando o agente "pratica ato de ofIcio. que a cia corresponde.
tais funçoes.
Corno diz Manzini. V. 505. a conceito de usurpação implica urna arhitraria Legislacão Anterior - Art. 108 do CPA; art. 145 do CPM de
lnvasao e, pois, a falta de urna norma jurIdica ou de urn ato de autoridade
cornpetente, que legitirne 0 fato". Prosseguindo, esciarece que "d indispciisi- 1944.
'el que o agente pratique algum ato de ofIcio correspondente a funço que CAPfTULO XV
usurpa.312
Conservação Ilegal de Comando
A tentativa näo é possIvei. Ou o agente pratica ato prdprio de comando
ou de dirigerite do estabelecimento militar, ou deixa de praticá-lo, embora par
motivos alheios a sua vontade e nao ha crime nern tentativa. Dal nossa discor- Art. 168. Conservar coinando ou fun çãü iegitilflwflente Os..
d5ncia de Darnásio, ao referir-se a usurpação de funcao ptiblica, quando escia- suinida, de pois de receber ordern de seu superior para deixd-Ios
rece que a tentativa é admissIvel se "a sujeito, dizendo-se funcionário püblico, ou transn2iti-IOS a outreni:
já na repartição, é impedido de realizar ato de alicia inerente a funçâo alega- Pena: detenção, de urn a três nieses.
da". (Damásio de Jesus, Dir. Pen., 0 vol.. p. 178). Nesse sentido, Magalhães
Noronha: -
Consideracöes Gerais A conservacão de comando difere do de-
lito de assunçäo, porque, no primeira, a agente encontra-se legalmente no
"E configurâvel a tentativa; urna vez que se exige o efetivo exercIcio, comando ou no exercIciô de outra funcãa militar e se recusa a deixá-los, de-
podendo, então, a agente praticar atos inequivocos, sem lograr, entretanto, a
execução do ato de oficio".313 pois de substituldo, enquanto, no segundo, o militar apossa-se do comando au
da direção de estabelecimento militar, scm investidura legal.
Esmeraldino Bandeira sustenta que a permanência no comando. aléni
Nosso ponto de vista encontra apoio na expianação do próprio Damisio,
do limite fixado em lei ou em deterrninacãa de superior competente, não
quando diz: se a agente "somente alega que d titular de uma funço póblica.
mas no realiza nenhum ato a cia inerente. não h delito, podendo ocorrer a constitui usurpaçao, mais sim abuso. corn a discordância317
de Macedo Soares.
cantravençao do art. 45 da lei cspecial". Apoiamo-nas, ainda. em Nelson para (111cm essa a caracterIstica da uSUrpaçaO':
Hungria: Realmente, não ha abusa mais sirn usurpaçãa. poiCluc no abuso 0 agente
ultrapassa a limnite legairnente pennitido ao praticar ato de alicia, enquanto iii

311
Neison Hungria, Cement. Cod. Pen., v. 9, p. 409.
Helena Fragoso, LicOes, V. 4, p. 455 Nelson Hungria, Ccri'entárioS, v. 9, p. 410.
M. Noronha, Dir. Pen., V. 4, p. 315 Esmeraldino Bandeira, Curso, p. 294.
Damásio de Jesus, Dir. Pen., v. 4, p. 178. 317
Macedo Scares, Cod. Pen. Mi!., p. 170.
204
V Direito Penal Militar 205
Célio Lobão

usurpacâo o militar pratica ato de comando ou de outra funco, após haver A especificação de que a funcão tenha sido "legitimamente assumida'
sido legalmente destituIdo. vinha expressa no art. 110 do Código Penal da Armada, permanecendo no
Comentando a usurpação, o excesso ou o abuso de autoridade militar, demais diplomas penais castrenses, embora mereca supressão, porque a lega-
distingue Macedo Soares quando o delito d da competência do foro militar ou !idade da investidura é pressuposto do crime. Realmente, se ha i!egalidade,
do comum: inexiste investidura; o agente nio ocupou comando nern funçào e, corno con-
sequência, no retém o que nunca ocupou. A assuncão ilicita pode resultar no
"A Provisão de 24 de outubro de 1834 considerava na quarta categoria crime de usurpacào, o que inviabiliza o delito do art. 168.
dos crimes meramente militares o excesso ou abuso de autoridade, em ocasião Ordem do superior entende-se como aquela expedida, verbalmente ou
do serviço, ou influència de emprego militar, não excetuado por lei, que prive o por escrito, pela autoridade competcute, exigindo-se, como ficou dito acima,
delinquente do foro militar. Nesta exceçao, acrescenta Titara, (Aud. Braz., v. I, que a ordern chegue ao conheciniento do sujeito, através de comunicaco es-
p. 86), em a Ultima e quarta espécie, compreende-se aquele que arrogar-se o
crita ou verbal. de puhlicaco cm boletim mi outro órgiio oficial. A autoddade
comando militar ilegitimarnente, ou conservá-lo contra ordern do governo, ou
superior legitimo; ou coriservar reunida a tropa, depois de saber que a lei, o cornpctente pode ser militar ou o Presidente da Repiiblica, tratando-se (las
governo, ou qualquer autoridade competente tern ordenado. que largue aquele Forças Armadas, ou o Governador do Estado, tratando-se da Poilcia Militar ou
e que separe esta: art. 141 do COd. Criminal. Se porém urn tal procedimento do Corpo de Bombeiros.
for acompanhado de circunstâncias queo qualifiquem de sediçâo, responderá A ordem dcvc collIer dcterniinaç?io expressa para 0 militar deixar o co-
no foro militar (art. 109 das Reformas).' 8
inando ou outra funçio ou transnhili-l() a militar indicado. A ausëncia a soleni-
dade de tranSmiSSãO do colnand() ou da funçao, da qual o agente foi destituldo,
Crime Militar - Classifica-se conlo crime propriamente militar resolve-se disciplinarmenle on pode configurar-se insuhordinacão ou desobe-
por se tratar de infraço penal especIfica e funcional do ocupante de cargo diência, nio se confuiidindo corn o ilIcito do art. 168.
militar. Crime näo previsto na lei penal comum (art. 912 , I, 2 parte, do art. 9). Cargo püblico, seul)(l() He]y Lopes Meirelles, "é o lugar instituldo na
Objetividade .Jurfdica - A lei penal militar tutela a disciplina e a organizaço do serviço ptihlico, corn denominacão própria, atrihuiçOes e res-
autoridade militar, diante do perigo decorrente da conduta do agentc de per- ponsabilidades espccIficas c estipndio correspondente, para ser provido e
manecer no comando de unidade ou no exercIcio de funçäo do qual foi legal- exercido por urn titular, na Forma estabelecida em lei. Função é a atribuico ou
mente destituldo. A lei penal tern. ainda, em vista o interesse da adrninistração o conjunto de atribuiçOcs quc a Administração confere a cada categoria profis-
militar de que o comando de suas unidades ou outra funçäo militar seja exer- sional ou cornete individualnicute a detenninados servidores para execução de
cido pelo militar legal mente investido. serviços eventuais. Todo cargo tern funcao, mas pode haver função scm cargo.
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar e somente ele, por se As funçöes do cargo sio definitivas; as funcöes autônomas säo, por Indole,
tratar de crime propriarnente militar. Sujeito passivo, as instituicoes militares. provisórias, dada a transitoriedade do serviço que visam a atender. Daf por
Elementos Objetivos - 0 nécleo do tipo ó conservar, que se efeti- que as funçöes permanen(cs da Administração dcvem ser desempenhadas
va corn a permanência do militar no comando ou na funçao, exteriorizando-se pelos titulares de cargos.....
a permanência corn a prática de ato próprio de comando ou de outra funcao do 0 comando, cua1qucr que scja, é função privativa de quem ocupa cargo
qual foi !egalmente destituldo. militar e constitui-se no con unto de atrihuiçOes espccIficas, conferidas ao
Na conservaço ilIcita de comando ou de outra funçao, o militar encon- ocuparite do cargo militar. que a exerce por dctcrminado lapso de tempo, de
tra-se investido legairnente e recusa-se a deix.I-lo ou a transrniti-Io, depois de acordo corn o intcresse da administraçio militar.
tomar conhecimento do ato legal de sua destiruiçio. Carece de relevância p- Pam evitar contusao (los que pretendem dar elasticidade ao crime ruili-
clilirir se ocorre.0 ou nño prejuIzo a administraçio militar ou se houve benefIcio tar. no autorizada consti tucional menle. regisuanloS que a funç?io, objeto da
corn as medidas tomadas pelo agenre. This fatos podcriio influir no quantum tute]a penal mi!itar, é iinica e exclusivamente a militar, aquela exercida pek
da condenaço. ocupailte do cargo militar, e nao a Funçio civil cxcrcida pelo servidor civil en

° Macedo Soares, Dir. Pen. MU., p. 169. Hely Lopes Meireles, Dir. Adni Bras., alualizado. p.361, 17 ed.
206
Cello Lobâo Direito Penal Militar 207

repartição p6b1ica militar, por excmplo, em junta de serviço militar. Tais fun- CAPiTULO XVII
çöes so objeto da tutela da lei penal comum e näo da lei penal castrense, Movimentação Ilegal de Tropa e Acão Militar
tanto mais que o crime do art. 168 encontra-se no capItulo que trata da usurpa-
çäo, do excesso e do abuso de autoridade cometidos por militar. Art. 169. Determinar o comandante, sem ordein superior e
Elemento Subjetivo - Elernento subjetivo é o dolo de conservar o
fora dos casos em que essa ordem se dispensa, movilnento de
comando ou a funçao, tendo conhecirnento de que foi legalmente destituIdo ou tropa ou ação militar:
substituldo.
Consurnaçao e Tcntativa - Consuma-se o delito no momento em
Pena - reciusue, de três a cinco anos.
que o militar pratica ato propno de quern exerce o cornando ou a funçao, de- Parágrafr unico. Se o movimenro da tropa ou ação militar
pois de ter conhecimento de sua destituiçao. A exemplo do crime anterior, ao é em territorio estrangeiro DU contra forca, navio ou aeronave
qual nos reportamos, a tentativa no é juridicamente possIvel. C/c paiv estrangeiro:
153. Legislaçao Anterior - Art. 110 do CPA; art.146 do CPM de Pena - reclusao, (Ic qucitro a oito an Os, se o fato não
1944. constitui crinie mais gra ic.

CAPiTULO XVI 155. Consideraçöes Gerais - Ao cornentar o art. 147 do Código de


Excesso ou Abuso de Autoridade 1944, transcrito no art. 169 do atual diploma, Silvio Martins Teixeira cxpöe
que "esle dispositivo, no Codigo Penal Militar (Ic 1891, fazia parte da alInea
154. Noçöes Gerais - Os delitos descritos DOS arts. 169, 170, 173, 174. Ill do art. 111". 0 engano é evideiite. Apenas parte do parágrafo ünico do art.
175 e 176 foram classificados pelo Código Penal Militar como excesso ou
147 (atual parágrafo ilnico do art. 169) originou-se do mencionado inciso 3u
abuso de autoridade. do art. Ill do Código Penal da Armada.
Segundo Giulio Battaglini, abuso "é o uso que ultrapassa os lirnites irn- 0 art. 147 do Codigo de 1944 aproxirna-se muito mais do art. 115 do
postos pelo Direito, o uso ilcgItimo do poder inerente ao cargo ou a funço". 320 Codigo Penal Militar italiano, corno veremos da comparação dos arts. 111 do
Expöe Damásio de Jesus que "nao se trata de abuso de autoridade, mas Código Penal da Armada, art. 147 do Cádigo de 1944 (transcrito no art. 169
de abuso de poder. Em face de nossa legislaçao penal, não se confunde o abu- do atual Codigo) cart. 115 do Código italiano:
so de poder corn o de autoridade. 0 abuso é o uso fora dos limites correspon-
dentes a todo poder ou autoridade, o seu exercIcio excessivo e ilegItimo. Na Art. 111. Todo comandante de forca ou navio que: 3e entrar jurisdicio-
hipótese de abuso de autoridade, cuida-se de seu uso ilegItimo no ârnbito de nalmente em águas ou território estrangeiro, sem autorização legitima.
re/a çoes privadas; na de abuso de poder, o agente deve possuir cargo ou ofI-
Art. 147. Determinar o comandante, sem ordem superior e fora dos ca-
cio pb1ico". (os grifos são do texto).32 ' SOS em que essa se dipensa, movimento de tropa, ou acão militar; Paregrafo
Darnásio esciarece, ainda, que abuso 6 o exercIcio excessivo da autori- Onico - Se o movimento da tropa ou acao militar e em território estrangeiro ou
dade; logo, o excesso se confunde corn o abuso. Realmente, tanto no abuso, contra força, navio ou aeronave de pals estrangeiro.
quanto no excesso, o a.gentc ultrapassa os limites da autoridade conferida por
Art. 115. II comandante, che, senza speciale incarico o autorizzazione,
lei. Nesse mesmo sentido ji se pronunciava Macedo Soares, na vigência do
ovver senza necessità, ordina un movimento di torze militari, é punito con Ia
Código da Armada: "todo CXCCSSO 6 ahuso de poder e vice-versa".322 reclusione militare da uno a sette anni.
Portanto. pelos esciarecirnentos de Damasio. DOS crimes dos arts. 169,
170. 173 a 176. ha abuso (IC poder e não de autoridade. pois. em todos, o
Crime Militar - Classifica-se como crime propriarnente militar
agente exerce cargo pühlico militar. por Sc tratar de infraçao penal espccffica e funcional do ocupante de cargo
militar. Crime não prcvisto na lei penal comum (art. 9. 1. 2 parte).
'° Giuto E3attaglini, Dir. Pen., V. 2, p. 472. 0bjetiidade ,JurIclica - A lei penal militar tutela a disciplina
" Damásio de Jesus, Dir. Pen., v. 4, P. 308. castrense, em face do perigo representado pela conduta do agente, ao tomar a
22
Dir. Pen. Mu., p.168.
iniciativa de ordenar, ilegairnente, movimento de tropa ou acao militar. A lei
208 Célio Lobão Direito Penal Militar 209

protege, ainda, a autoridade militar, pelo uso que dela faz o comandante ao Na ação militar, urn ntimero significativo de militares, corn annarnento
determinar, ao arrepio da lei, o movimento de tropa ou a acio militar. próprio da instituicão castrense, percorre a via ptlblica, o interior da unidade
Na modalidade qualificada, o bern jurIdico tutelado é a seguranca cx- militar, corn ocupação ou no de bens particulares ou piiblicos, civis ou milita-
tema do pals, cuja relevncia se sobrepöe a disciplina, diante do perigo de res, näo sendo exigida a utilizaçäo do armamento, nem resultado danoso as
represália contra nosso pals, sem esquecennos as repercussoes negativas na pessoas ou as coisas.
coletividade mundial, decorrentes da violacão do território de outra nação. Como exemplo de acão militar, podemos citar o ataque a uma delegacia
Seria mais adequado transformar a modalidade qualificada em delito autôno- de poilcia, no Rio de Janeiro, nos anos cinquenta, por militares armados sob o
mo e inclui-lo dentre os crimes contra a seguranca externa. comando de urn oficial, a fim de vingar a priso e maus-tratos de companheiro
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, sornente o militar, na condicao de farda. Nessa hipcitese, a determinaco do superior hierárquico, que inclusi-
especial de comandante de unidade, o que exclui o civil, mesmo como co- ve comandou o ataquc, chegou as ültirnas consequCncias.
autor. Sujeito passivo, as instituicöes militares. Alcançando o firn desejado, o comandante e os agentes responderão na
Elementos Objetivos - A lei define como crime determinar o co- Justica comum pelo resultado danoso ii pcssoa ou A coisa, salvo se cometidos
mandante a rnovimentaçao da tropa sob seu comando oil acão militar. Cornan- contra militar ou em local sob administraclIo militar. Haverá, então, separaço
dante é o militar investido cm função de chefia de unidade militar. de grande de processos, permanecendo na Jusliça Militar o fcito relativo ao crime de
ou pcqucno porte, exercendo autoridade sobre OS deniais militares qc a inte- aco militar, remetendo-se a Justiça comum o processo do delito comum.
gram. Tropa é o conj unto de militares que constitucm uma unidade, variando o No ingressa na ilicitude a ordem para formatura, dcsfile, etc., ou açâo
mimero de componentes. For exemplo, a companhia, o batalho, o peloto, a militar em local apropriado, destinada ao treinamento dos militares, a de-
patruiha, a tripulaço de uma lancha ou de aeronave de grande porte, etc. nlonstraçâo do preparo da tropa, nem OS casos previstos em lei, para manuten-
A descrição tlpica deixa muito a desejar, quando faz depender da au- çäo da ordern, para atendirnento a sinistro, calarniclade, grave emcrgCncia, etc.
sência de ordem superior a ilicitude da conduta do comandante Na realidade, a Sc, no entanto, o treinarnento, o deslile, servirem de pretexto para movimenta-
ilicitude da ordem de movimentacao da tropa ou de acâo militar decoaTe de çio ou para acão militar ilIcita, conligura-se o delito.
inobservimncia de norrnas legais pertinentes e não da ausência de ordern de Conforme consta do arligo, configura-se o delito corn a determinaçäo do
superior, por major que seja o grau hienIrquico. comandante para rnovimentacio de tropa ou de açio militar, scm ordern supe-
Corn efeito, as Forcas Armadas, a Poilcia Militar e o Corpo de Bombei- rior e fora dos casos em que essa se dispensa. No entanto, o que se deve con-
ros Militar tern sua destinacão constitucional especIfica, realizada corn obser- siderar é a licitude da ordem, nuni caso c noutro, sendo oportuno destacar que
vncia das normas legais que a regulamenta. Logo, o descumprimento dos grau hierárquico do superior, por malor que seja, no legaliza a ordem illcita.
preceitos constitucionais ou legais pertinentes sujeita o autor da ordern e quem autor e os executores da ordem, excetuando-se os que no tern condicocs de
a cumpre as sançoes da norma penal ora comentada, se o fato não constitui saber a finalidade da misslio c, como conseqUência, de entender o caráter ill-
crime rnais grave. Aplica-se, igualmente, aos casos em que a movirnentaçao ou cito da movirnentaçäo ou da açño militar. Entretanto, todos os que dela parti-
acäo militar dispensa ordern superior. cipam, scm qualquer excecäo, respondem, na Justiça Militar ou comum, con
A conduta tIpica consiste em determinar o movirnento da tropa ou a forme o caso, pelo excesso praticado, corno dispöe o art. 38, § 2 do Codigo
acio militar, sendo indifcrente o cumprirncnto ou nAo da ordern. Porranto, a Penal Militar.
norma penal se satisfaz corn a ordem pura e simples, scm qualquer consc- Elernento Subjetivo - A vontade livre e consciente. orientada no
qUCnci a. Sentid() de (ICtCrfl)jflaf a ilIcita inovimentaçao de tropa ou açio militar, corn ou
A rnovirnentacao ilicita de tropa consiste no deslocarncnto dc niiiitares scm ordem de superior hierirciuico.
em local sob administraçio castrense ou fora dde, scm outras consequencias Forma Qualificada -o paragrafo unico contcinpla a modalidade
ou finalidadcs, como a de intimidar as autoridades militares ou civis, OS Pode- qualificada, na qual a orcicin desti na-se a realizar niovirnentacio da tropa e da
res da Repiiblica, o Governo estadual, a coleuvidade, dernonstrar lidcrança no acao niilitar cm territorio cstrangeiro ou contra força, navio ou aeronave de
meio militar, etc. outro pals.
210 CélioLobão Direito Penal Militar 211

Como o ato ilIcito dirige-se contra Estado estrangeiro, podendo acarre- CAPiTULO XVIII
tar sérias conseqüências no Ambito internacional, afetando as relacöes corn Violação de Território Estrangeiro
outra nação, seria meihor classificado como crime contra a seguranca extema
do Brasil, que se constitui em bern de major relevância, sobrepondo-se ao Art. 170. Ordenar arbitrariamente, o comandante de for-
objeto da tutela penal do delito base ora comentado.
ça, navio, aeronave ou engenho de guerra motomecanizado a
Silvio Martins Teixeira, urn dos autores do decreto-lei que resultou no
Codigo Penal Militar de 1944, ao comentar o paragrafo imnico do art. 147, que entrada de conwndados seus em águas ou território estrangeiro,
corresponde ao paragrafo iinico do art. 169 do diploma atual, reconhece que ou sobrevod-los:
"o comandante pratica atos de beligerncia, scm estar para isso autorizado".323 Pena - suspensão (10 exercIcio do posto, de uin a t,ês
Logo, o lugar próprio para o parágrafo ünico, depois de receber sua autono- anos, ou reforni.a.
mia, é o tItulo relativo aos crimes contra a seguranca externa do pals.
0 deslocamento ilIcito consiste na rnovimentaçao, pura e simples, da 164. Consideraçöes Gerais - 0 Codigo classifica o delito como exces-
tropa, em território estrangeiro, não servindo de justificativa o treinamento da
unidade militar, a perscguiçiio de militar foragido ou outro motivo qualquer.
P so ou abuso de autoridade, embora a classificaço correta, como acontece corn
o panigrafo i.inico do artigo precedente, é de crime contra a segurança externa
Na acão militar, a ordem destina-se a que a tropa penetre em território estran- do pals, bern jurIdico serianicute arneaçado em decorrência da ordem para
geiro, corn arinamento militar. corn caracterlstica de operação bólica.
violaço das águas tctoriais, do cspaco aéreo e do tcrritório de outro pals,
Infringe, ainda, o parágrafo iinico do art. 169, a ordern para rnovimcnta-
independente das relacoes diploinaticas existcntes entre o Brasil e a outra
cao ou ação militar contra forca, navio ou aeronave de outro pals, não sendo
naçao.
necessárjo confronto nem violência, sendo suficiente a ordeni, mesmo scm seu
Crime Militar - Classifica-se como crime propriarnente militar
cumprirnento. Força é o agruparnento de militares, em nümero significativo,
portando armas militares, por exemplo, a patruiha armada, rnotorizada ou não. por se tratar de infracao penal especifica e funcional do ocupante de cargo
Como navio, para efeito da qualificadora, considera-se a embarcacao militar militar. Crime não previsto na lei penal comum (art. 92, J, 2il parte).
de grande porte, militar ou civil. Da mesma forrna, a aeronave é de proprieda- Objetividade JurIdica - Como dissemos acima, o bern jurldico de
de privada ou püblica, militar ou nio. major relevância, scm dtivida alguma, é a seguranca externa do pals, mas o
Nenhuma autoridade militar tern cornpetência para determinar o rnovi- Codigo inseriu a infraco penal dentre os crimes contra a disciplina ou a auto-
mento da tropa ou acao militar em território estrangeiro. Somente o Presidente ridade militar. Dentro dessa otica errônea e limitada, diremos que o bern jurl-
da Repiiblica pode faz8-Io, assim mesmo corn observncia das normas cons- dico tutelado é a disciplina militar, em face do perigo a seguranca do Brasil,
titucionais pertinentes, caso contnirio, a exemplo da autoridade militar, res- decorrente do ato illcito do comandante, consubstanciado na ordeni para que
ponderá pelos seus atos. seus subordinados penetrni cm 6guas territoriais, espaço adreo ou território
A norma é subsidiária, deixando de incidir se o fato constitui crime de outro pals. A ofensa alcanca igualmente a autoridade militar, pelo uso con-
mais grave, por exemplo, delito contra a seguranca externa do Pals. trário a lei do poder conferido ao comandante.
Consurnacao e Tentativa - 0 delito consuma-se no mornento em Sujeitos do Delito - Stijeito ativo, sornente o militar, por se tratar
que a ordern do comandante para o niovimento da tropa ou acäo inilitar chega de crime propriamente militar, considerando-se que essa qualidade do agente
ao conhecimento dos comandados, independentemente de seu curnprimento. integra o tipo, no referir-se a comandante.
A tentativa é possIvcl, quando a ordem verbal ou por escrito não chega Sue jt BH , conic pessoa jurIdica de direito interna-
ao conhecirnento dos destinatrios, por motivos alheios a vontade do agenle. cional, inns como o Código o classificou como crime contra a disciplina c a
Legislação anterior - Art. ill, HI, do CPA; art. 147 do Código autoridade militares, o sujeito passivo säo as instituiçoes militares, que téni
de 1944. interesse juridicarnente protegido de que Os engenhos bélicos referidos e OS
integrantes das corporacöcs militares nan sejam utilizados em operacães ilIci-
323 Silvio Teixeira, Novo COd. Pen. Mu., p. 285. tas contra palses estrangeiros.
Direito Penal Militar 213
212 CélioLobâo

Elementos objetivos - 0 nücleo do tipo é ordenar que a forca, o Pena - detençao, de seis meses a urn ano, se a fato nao
navio, a aeronave ou o velculo de guerra, sob o comando do sujeito ativo, pe- constitui crime inais grave.
netre no território, nas águas territoriais e no espaco aéreo de pals estrangeiro.
Comandante é o militar investido em funcão especlfica de direção de Consideracôes Gerais - No antigo Codigo da Armada o delito rc-
unidade militar, de grande ou pequeno porte, exercendo autoridade sobre os cebia a classificacao de crime de "uso indevido de condecoracoes, insignias e
demais militares que a integrarn. Forca é urn conjunto de militares, portando distintivo", definido no art. 115: "todo indivlduo ao serviço da Marinha de
annas militares, por exemplo, a patruiha, o tanque de guerra, a lancha corn Guerra que usar de uniformes, insignias condecoracocs ou tltulos a que nao
tripulacão armada, o aviio de combate. etc. Como navio, nos termos do art. 7, tenha direito".
Os autores do Código de 1944 fundiram a denominação corn a defini-
§ 3, do Código Penal Militar. considera-se toda embarcação sob comando
çäo e o art. 149, que Eratava desse delito, ficou assirn redigido: "usar o militar,
militar, embora sern utilizacäo bélica, como acontece corn a aeronave, que
indevidarnente, unifoniie, distintivo ou insignia de posto ou graduaço supe-
compreende qualqucr avio sob comandando militar, mesrno scm armamento.
rior". 0 Código atual acrescentou a palavra asserneihado e manteve a mes-
Engenho motornecanizado é o utilizado em operaçöes bélicas, como
ma dcl ifliçao.
tanque, velculo de transporte, terrestre. niarItimo OU anflbio, corn ou seni ar-
O diploma castrcnse em vigor trata no art. 171 do uso illcito de unifor-
marnento, o que exclui o automóvel de represcntação do comandante, o carni-
me, distintivo ou insIgnia de posto ou graduaco superior, e, no art. 172, do
nhão de transporte de alirnentos. etc. uso do fardamento e acessórios citados por quem não tern dircito. Portanto,
0 delito configura-se corn a ordem destinada a que os comandados do esta iiltima norma penal alcanca tanto o civil que, evidenternente, não tern
agente realizern os atos descritos no dispositivo penal. Dcsnecessário que a direito ao uso do uniforme, distintivo ou insIgnia militar, quanto o militar que
ordern venha a ser cumprida ou qualquer reação por parte do governo estran- usa farda, distintivo ou insIgnia de posto ou graduacão inferior ou, sendo do
geiro. mesmo grau hierárquico, não tern direito ao uso.
A sanção corninada não se compatibiliza corn a gravidade do ato ilfcito, Seria tccnicamente correto que o art. 171 tratasse do uso ilIcito de qual-
capaz de trazer sérias conscqüências para os interesses da polItica externa do quer uniforme, pelo militar, independentemente de posto ou graduacao, dci-
Brasil, mesmo que o agente não alcance o fim colimado, ciuc é penetrar em xando o art. 172 para o civil exclusivamente. 0 equlvoco do Codigo nos obri-
território de outro pals. Realmente, a suspensão do exercicio do posto, de urn a ga a cornentar, separadamente, as duas rnodalidades do delito de usa ilegal de
três anos ou reforma, são penas excessivarnente amenas para a relevância do uniforme, pelo militar, definidas flOS dois dispositivos penais.
bem jurIdico posto em perigo. A respeito de assemeihado, remetemos ao que foi exaustivarnente cx-
Elemento Subjetivo - Consiste no dolo de ordenar aos comanda- pasta. Registramos, apenas, a inexistência de classe que se assemelhe a militar
dos que penetrem, ilegalmente, em território de outro pals. corn direito a farda, distintivo ou insignia, inferior, superior ou igual a militar,
Consumação e Tentativa - Consuma-se o delito, no momento em mesmo porque, não rnais existe a espécie de servidor "parecido" corn militar.
que a ordem do cornandante chega ao conhecirnento dos subordinados, não Crime Militar - Classifica-se coma crime propriamente militar
sendo exigido seu curnprimento. A tentativa e juridicarnente possIvel, Se, por por se tratar de infracäo penal especIfica e funcional do ocupante de cargo
motivos alheios a vontade do agente, a ordem, verbal ou por cscrito, não al- militar. Crime não previsto na Iei penal cornum (art. 91-', 1, 24 parte).
canca os destinatrios. 0 uso de uniforme de posto ou graduacão inferior ou do mesmo posto
Legislacão Anterior - Art. 148 do CPM de 1944. ou graduacão, ao qual o rnilitar näo tern dircito (art. 172) é propriamente miii-
tar, embora a errônea separação da inatdria nos obrigue a cornentã-io junta-
CAPITULO XIX menie Coln os CflIfleS impropriarnente rnilitares, porque refere-se, cambérn, ao
Uso Ilegal de Uniforme de Posto Superior delito de uso de unifornic militar por civil.
Objetividade Jurldica - 0 objeto da tutela penal é a disciplina, a
Art. 17.1. Usar a militar ou assemeihado, indevidamenie, hierarquia e a autoridade militares, diante da conduta do agente, ostentando
uniforme, distintivo ou ins fgnia de posto ou graduaçao superior: uniforme, distintivo ou insIgnia de posto ou graduacäo superior.
214 CëlioLobão Direito Penal Militar 215

0 militar que se apresenta corn uniforme e outros indicativos de grau uso de uniforme, distintivo ou insignia de posto ou graduacao supe-
hierárquico superior, investe-se ilicitamente da autoridade que Ihe confere o rior de uma Arma, por militar integrante de outra Arma, atende a descriçao
posto ou a graduacao, corn direito a continência, a obediência, ocasionando tipica do crime ora comentado. 0 mesmo acontece quando o policial militar
ofensa a disciplina, a hierarquia. 0 ilIcito viola, também, o princIpio de repar- usa o uniforme, distintivo ou insignia de posto superior do bombeiro militar e
tição do poder, conferido por lei a autoridade militar e exercido em razão do vice versa.
posto, da graduacao ou da funçao. 0 policial militar ou o bombeiro militar que usa a farda ou os acessórios
Lembra Macedo Soares:
citados, da corporação de outra Unidade da Federacão, cornete o crime do art.
171, se forem de posto ou graduação superior, ou do art. 172, se forem de
"Na vida militar, o uniforme, as insignias, as condecoracoes däo direito
a certas prerrogativas, conferem certos direitos que a discipUna e a subordina- posto ou graduacão igual ou inferior. Justifica-se porque a Constituição trata
cao garantem. Assim, o direito as continéncias, a obediência e respeito ao of i- as instituiçöes militares estaduais como organismo cinico. E o que se depreen-
cial, ao superior hierárquico, são devidos ao militar que dá-se a conhecer pelo de do disposto no art. 144, §§ 5u e 6, da Lei Magna. E a onentaçäo jurispru-
seu uniforme, pelas suas insignias, etc'.324
dencial aceita para efeito da apIicacmo da lei penal castrense, tanto assim que
se classifica corno militar o crime cometido por policial ou bombeiro militar
Finalmente, a lei penal militar tern em coma o interesse da administra-
ção militar de que o uniforme, o distintivo ou insIgnia, indicadores do posto de urn Estado contra o de outra Unidade Federativa.
ou da graduação, sejarn privativos dos militares que, em conformidade corn a 0 USO pelo policial militar on pelo bombeiro militar de uniforme, dis-
legislaçao pertinente, ocupam o posto ou a graduacao correspondente. tintivo ou insignia das Forças Armadas, de posto superior, inferior ou igual,
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar e somente dc, por se configura o crime do art. 172. No caso contrário, isto C, uso pelo integrante das
tratar de crime propriarnente militar, tanto mais que a qualidade do agente Forças Arniadas, das peças refericlas, pertencentes a Policia Militar ou ao Cor-
consta da descriçao tIpica. Conforrne ficou dito acima, o uso de uniforme pelo 0 de Bombeiro Militar, resolve-se disciplinarmente, scm prejuIzo da possivel
civil configura-se crime do art. 172 do Código Penal Militar. apreciacão, pela Justica comurn, da conduta do militar federal.
0 militar da reserva tern o mesmo tratarnento do civil, porque, nos ter- Realmente, escapa da competcncia da Justiça Militar federal a tutela de
mos do art. 22 da lei penal castrense, nao é militar para firn de conceituacão uniforine, distintivo ou insIgnia das instituiçöes militares estaduais, enquanto
do crime militar. Logo, se pratica os atos descritos no preceito penal, incidc a Justiça Militar estadual n5o tern competência para processar e julgar quem
nas penas do art. 172 do Codigo Penal Militar. näo é integrante da l'olIcia Militar ou do Corpo de Bombeiros Militar (art.
Sujeito passivo, as instituicöes militares. 125, § 4, da Constituicibo).
Elementos Objetivos - 0 rnicleo do tipo é usar, que consiste em Uniforme, distintivo e insignias são os de uso privalivo das Forças Ar-
vestir, trajar o uniforme, embora sem o rigor das normas regularnentares, por madas, da PolIcia Militar e Bombeiro Militar, instituIdos pela legislaçao espe-
exemplo, a parte superior sem estar devidamente abotoada, uso de cinto ou de citica das instituicoes militares estaduais e federais, respectivamente.
sapato não regulamentares, etc.
0 Cddigo não se refcre ao uso em piiblico, mas C indispensável que,
Não e igualmente exigida a aposicão do distintivo ou da insignia em
pelo menos, uma pessoa veja o agente fardado, pessoalmente ou através de
conformidade corn as normas pertinentes, sendo suficiente que se encontre
fotografia ou outro rneio de gravacibo de imagem. Se o uso não ultrapassa a
sobre o uniforme, em local visIvel. Embora a lei penal não estaheleça qualquer
restricão, se os acessórios citados forem usados sobre vestirnenta civil, me- intimidade familiar ou de reduzido nCmero de amigos Intimos, inexiste crime,
xiste delito pela ausência de condiçöes facticas para produzir o resultado. Nem pela ausência do e]emento sub jetivo. Diferente se, nessa mesma circunstância,
civil nem o militar ira imaginar que se trata de militar do posto ou graduação militar deixa-se fotografar e a fotografia chega ao conhecimento de terceira
do distintivo ou da insIgnia ostentados. tanto mais clue, na atualidade, é co- pessoa, militar ou nao.
mum o USO. como adorno, de replica de distintivo C de insignia militares No Codigo de Justica Militar frances, 0 USO em pChlico integra a descri-
nacionais e estrangeiros. cão tIpica, corno se IC no art. 438: "Est puni d'un emprisonnement de deux ans
tout iniliaire, tout individu emharquC qui porte publiquement des decorations,
32
Macedo Soares, Cod. Pen. Mi!., p. 178.
médailles, insignes, uniformes ou costumes francais, sans en avoir le droit".
V Direito Penal Militar 217
216 Cello Lobão

Comentando esse dispositivo legal, esciarece Claude Devise, Conse- Pena - detençao, de uin a dois anos.
Iheiro da Corte de Apelacao de Paris:
Consideraçöes Gerais - Na espécie, o militar tern direito a proce-
est nëcessaire que le port illegal alt été public. La 101 na pas précisé
"II
les conditions de Ia publicité. Le législateur a voulu réprimer le port illegal, non der a requisicão militar e o faz excedendo o poder legal que lhe é conferido,
seulement dans un lieu public au sens juridique du mot, mais aussi dans tout ou recusa-se a cumprir as normas pertinentes a matéria.
endroit oil se trouvent réunies plusieurs personnes".325
Crime Militar - Classifica-se como crime propriamente militar
0 crime é de mera conduta, satisfazendo-se a norma penal corn o sim- por se tratar de infracão penal especIfica e funcional do ocupante de cargo
pies uso do uniforme e accssórios indicados, desde que chegue ao conheci- militar. Crime não previsto na lei penal comum (art. 9, I, V parte).
mento de uma peSSoa, pelo menos. Irrelevante o móvel do crime, como obter Objetividade JurIdica - A disciplina militar é objeto da tutela pe-
hens matcriais, receher homenagens, inipressionar pessoas, simples ostenta- nal, em face da conduta do militar em requisitar bens, além dos poderes que
ção, etc. Entretanto, não se deve esquccer o clemento subjetivo do tipo. Ihe são conferidos ou deixar de cumprir OS deveres impostos em lei, relativos i
A norma penal expressa no art. 171 é siihsidiiria, aplicando-se somente requisicão. Corn cfeito, esscs abs ilIcitos sao nocivos a disciplina da tropa.
se o fato não constitw elementar de crime mais grave. diante do inevitãvel questionamdntO da atitude do militar entre seus pares e
Elemento Subjetivo - A vontade livre e consciente de usar uni-
subordinados.
forme, distintivo ou insignia de posto ou graduaço superiores, sendo irrele-
0 fato atcnta, iguairnente, contra a autoridade militar pelo uso ilIcito do
vante o clolo direcionado no sentido de obtencâo de urn fim determinaclo.
poder conferido por lei.
Consumacao e Tentativa - Consuma-se no momento em que o
uso do uniforme, do distintivo ou da insignia chega ao conhecimento de, pelo Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar, no exercIcio de co-
menos, uma pessoa, mesmo através de fotografia ou outro meio de gravaco mando ou de outra função castrense que Ihe confira a atribuiçao de proceder a
de imagem. requisição militar em tempo de paz, em circunstâncias especialIssirnas.
Pela ausência de dolo, inexiste crime no uso das peças acima indicadas Sujeitopassivo imediato, as instituicOcs militares, e mediato ou ofendi-
para representaçao teatral, cinematográfica, televisão. etc. No direito frances do: quem sofreu a requisicão ilIcita, podendo ser pessoa fIsica ou juridica de
também nâo hd crime, desde que "le film ou la pièce ne porte pas atteinte a Ia direito pübiico ou privado.
dignité ou au prestige de Ia fonction dont est usurpé le costume.326 A exigência Elementos Objetivos - 0 niIcleo do tipo é abusar, é usar mal, é
do direito frances é estranha ao nosso: o atentado a dignidade ou ao prestIgio
exceder o direito conferido por lei de proceder a requisição ou, ainda, recusar
do militar poderá constituir outra infrac?io penal militar ou comum.
o cuinprimento de formalidades impostas por lei, como a de foniecer recibo e
A tentativa não é juridicamente possIvel. Se o agente é impedido, mes-
mo contra sua vOntade, de vestir o uniforme ou de apor o distintivo ou a insIg- reiação dos bens requisitados.
nia, não ha crime. Conforme exposto acima o delito tern como pressuposto o direito de o
Legislação Anterior - Art. 115 do CPA; art. 149 do CPM de militar proceder as requisicöes, e o faz ultrapassando os limites das necessida-
1944 des ou deixando de cumprir as determinaçCes legais pertinentes. Como a lei
nAo especifica, o objeto da requisiçAo pode ser beiis OU serviços.
CAPITULO XX 0 Codigo Penal comum de 1890 considerava como "ordens ou requisi-
Requisição Militar Abusiva
cOes ilegais as que emanam de autoridade incompetente, as que são destituI-
das das solenidades externas neccssárias para sua validade, ou são manifesta-
Art. 173. Abusar do direito de requisiçao militar, exce-
mente contrária as leis" (art. 229). 0 Rcgularnento para Requisiçöes Militares
dendo os poderes conferidos ou recusando cumprir dever im-
(Dec. nC 17.859, de 21.07.27) estahelecia que o abuso de requisiçöes consistia
posto em lei:
na recusa de dar recibo legal de fornecimento ou serviço, na requisição de
coisas e servicOs supCrfluos. Gomes Carneiro cita legislação anterior ao Códi-
225

26
In Répert. Droit Crimin., Dalloz, t. II, p. 946, n2 23. go, pela qual o militar seria punido por estelionato se nao tivesse qualidadc
Claude Devise, in Répert. Droit Crim., Dalloz, t. II, p. 946.
218 Cello Lobão Direito Penal Militar 219

para requisitar.327 0 Código italiano prevê a requisiçâo arbitrária, sern autori- Pena - suspensao do exercIcio do posto, por dois a seLs
zaçäo legal, e o abuso de requisiçäo (arts. 133 e 134). meses, se ofato não cons 11111! crime mais grave.
A recuisição de bens desnecessirios e os que não guardam qualquer
relação corn a missão da qual o sujeito ativo é encarregado, como jóias, obras
Consideraçöes Gerais Crime de abuso de poder, denominado
de arte, moeda corrente, etc. configura-se crime militar ou comum, de peculato
pelo Codigo de excesso ou ahuso de autoridade. 0 superior tern o direito, coa-
(art. 303 do CPM), concussão (art. 305 do CPM), estelionato (art. 251), roubo
ferido por lei, de punir o subordinado ciue estiver transgredindo as normas
(art. 242 do CPM) ou outro, dependendo da forma como ocorreu a pseudo
requisição. disciplinares e, ao exercitar esse direilo, se ultrapassa os limites permitidos por
Segundo Ciardi, o delito é próprio de tempo de guerra, mas näo se cx- lei, infringe a norma exprcssa no art. 174.
clui a hipótese da requisição em determinadas circunstâncias, em tempo de A Lei Maior proclania que as Forças Armadas são orgaruizadas corn
paz,32 por exemplo, em situação de emergência, ou durante a estado de defesa base na hierarquia e na disciplina, nurn encadearnento que tern em seu ápice o
ou de sItio (arts. 136 e 137 da Constituiçio). Presidente da Repiblica (art. 142 da ('onstituicão). Não é diferente a organi-
Elemento Subjetivo - 0 elemento sub jetivo é a vornade orientada zação da Polfcia Militar c o ('orpo de l3ornhciros Militar, que subordinarn-se
no sentido de exceder o dircito de requisitar, tendo consciência do excesso aos Governadores da respectivas tinidades Federativas.
praticado, ou de recusar-se a cumprir as formalidades legais, relativas a requi- A disciplina militar, sustcnUiculo maior da hierarquia, constitui urn sis-
sicao. tema rIgido de relacionanieiito cOlic OS integrantes da organizacao castrense,
Consumação e Tentativa - Consuma-se no momenta em que os corn a finalidade precfpua de zelar pela manutenção deste segmento hierarqui-
bens em excesso passam para a esfera de vigilância do agente, ou no mornento
zado da estrutura social do istis.
em que, logo apds a militar apoderar-se dos bens, deixa de fornecer recibo
Para cumprimeflt() da tksiinação constitucional e legal das Forcas Ar-
circunstanciado ou de cumprir outra formalidade estabelecida em lei, regula-
madas, que é, principalniciile. a defesa da Pátria, e da Poilcia Militar e Corpo
mento, instrucao ou outro instrurnento legal. Em situaçöes cspeciais admit.e-se
de Bombeiros, que Sac) organisinos da seguranca péblica, iinpöe-se rIgida ob-
a demora no cumprimento dessas exigências, desde que não acarrete dano de
qualquer espécie ao fomecedor dos bens. servncia das normas disciplinares inscritas em seus regulamentos, caso con-
A tentativa é juridicamente possIvel se o agente, por motivos alheios a trário a autoridade do superior hicrirquico fica sujeita a contestacão, a que é
sua vontade, não leva as bens excedentes ou o recibo e elaborado e entregue incabfvel no seio de organizaçio que deve encontrar-se pronta a obedecer a
por 'outro militar. ordem do comando para enlrentamento dos que pOem em periga a segurança
Liberdade Provisória - Ao indiciado ou acusado pela prática do extema do pals, dos que alentam contra a ordem p6b1ica e, igualmente, na
crime de requisição militar abusiva não será concedido o benefIcio de liberda- execução de atividade de de fesa civil além de outras decorrentes de compra-
de provisOria, como dispOe a art. 270, parágrafo tinico, b, do Código de Pro- missos internacionais.
ccsso Penal Militar. Ao exercitar o poder legal de punir o subordinado que transgride as re-
Legislaçao Anterior - Art. 112 do CPA; art. 150 do CPM de gulamentos militares, o superior hicn'irquico deve faze-lo corn estrita obser-
1944. vância das normas pertineliles, carccendo de licitude a punição além dos ii-
mites permitidos, corn excesso no rigor da punicão, no usa de palavras, no ato
CAPITULO XXI
ou através de escrito ofensivo.
Rigor Excessivo na Punição de Subordinado
Crime Militar - ('lassifica-se como crime propriamente militar
Art. 174. Exceder afaculdade de punir o subordinado, fa- por se tratar de infração l)eflitl especílica e funcional do ocuparite de cargo
90, 1, 2a parte).
zendo-o corn rigor nJo perinitido, ott ofendendo-o por pa/a vra, militar. Crime não previsto iia ci penal cornum (art.
ato ou escrito: Objetividade •Jnridica 0 objeto da tutela penal é a disciplina
militar. alicerce basilar da inst1tu1ç50 militar, diante da ameaça resultante da
327
In S. Teixeira, Novo Cod. Pen. MIL , p. 290. conduta do superior hicrirquico ciii aplicar punição ao subordinado, ultrapas-
328
Ciardi, II Nuovo Cod. Pen. MIL , p. 228. sando as lirnites estabelccidos HOS regulamentos disciplinares. A lei protege,
220 Célio Lobão Direito Penal Militar 221

também, a autoridade militar, em face do sério nsco de sofrer abalo moral, 0 crime é residual, deixando de incidir o art. 174, se o fato no constitui
principalmente diante dos subordinados. crime mais grave, por exemplo, violência contra inferior (art. 175).
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo somente o militar que, em de- Elemento Subjetivo - 0 elemento subjetivo é a vontade livre e
corrência de posto, graduação ou funcao, exerce autoridade sobre outro mili- consciente de punir o subordinado corn rigor nâo autorizado em lei ou de
tar. Sujeito passivo, as instituicöes militares; e ofendido, o subordinado. puni-lo mediante ofensa.
Elementos Objetivos - A conduta incriminada é exceder a facul- Consumação e Tentativa - Consuma-se o delito no momento em
dade de punir o subordinado. 0 excesso objetiva-se corn a punicao revestida que o subordinado sofre o rigor da punicão ou toma conhecimento da ofensa.
de rigor não permitido na legislacão, no regularnento, nas instrucöes niilitares. A tentativa 6 possIvel, desde que o fato ilIcito deixe de ocorrer por motivos
A lei acrescenta, ainda, a punicäo acoinpanhada de ofensa verbal, escrita ou
alheios a vontade do agente. Por exemplo, outro militar o impede da prática do
por meio de ato.
excesso ou o encarregado do cutnprimento da punicao deixa do cumpri-la na
Na primeira modalidade, o ato do superior reveste-se de rigor nio auto-
forma determinada pelo sujeito ativo.
rizado nas norinas regularnentares, corno deixar o subordinado preso, sem
Na segunda modalidacle, it ofensa por meio de palavra ou de ato não
água ou alimento, sern agasalho em regiOcs frias, colocá-lo em pnsäo scm
admite a tentativa, o que niio acontece corn it ofensa por escrito, em que é ad-
condiçöcs de higiene ou em local inadequado para recolhimc.nto de prcso dis-
missIvel essa possihilidade, como no caso da pub1icaço em boletim, recoihi-
ciplinar, enfim, qualquer outra forma de punir corn excesso, corn crucldadc.
Na segunda, a punicão efet.i va-se por meio da palavra escrita ou oral, (IC do antes de sua distribuiçäo.
ato, isto e, de rnanifestaçao corpórea, gesto, etc., ofensivo ao subordinado, Legislacão Anterior - Art. 113 do CPA; art. 151 do CPM de
atingindo-o em sua honra comum, "que diz respeito ao cidadäo como pessoa 1944.
humana, independentemente da qualidade de suas atividades",329 e em sua
honra especial ou profissional, "que se relaciona corn a atividade particular de CAPITULO XXII
cada urn",33° no caso presente, a de militar. Violéncia contra Inferior
A ofensa deve ocorrer no mornento da punição, imediatamente anterior
ou posterior a ela. Caso o lapso de tempo entre urna e outra seja relativamenle Art. 175. Praticar violência contra inferior:
longo, o delito poderá ser outro que nao o do art. 174, como a injdria (art. Pena - detencao, de três meses a urn ano.
216). Parágrafo inico. Se da violência resulta lesão corporal ou
Nâo se ajusta ao delito comentado a afirmativa de Macedo Soares, ao morte é tanibém aplicada a pena do crime contra a pessoa,
referir-se ao art. 113 do Codigo Penal da Armada, corn dispositivo idêntico, atendendo-se, quando for o caso, ao disposto no art. 159.
segundo a qual excede a faculdade de punir "o oficial que para corrigir o sol-
dado o esbofeteasse".33' No exemplo, o crime é de violência contra inferior Consideraçöes Gerais - Segundo o Codigo, crime de excesso ou
(art. 175 do CPM) e, no diploma cornentado por Macedo, é de vias de fato abuso de autoridade cometido pelo militar, superior hierárquico do ofendido.
contra inferior (art.! 14).
Como vimos anteriormente, trata-se, na realidade, de crime de abuso de poder.
0 agente do delito, como foi dito, 6 o militar que, em razäo de posto, 0 Codigo Penal da Armada previa o delito como vias de fato, que, se-
graduaçäo ou funcão, excrce autoridade sobre outro militar, näo se exigindo a
gundo Macedo Soares, consistia em "abuso de poder (de autoridade), porque
condiçao de comandante do sujeito ativo. A subordinacao pode ni!o ser direta,
praticar vias de fato quer dizer ofender fisicamente produzindo lesOes, das
como o cornandante da esquadra, em relaçio ao marinheiro de navio de guerra
cluais pode resultar a inorte (§ 1), ofensas fIsicas graves (art. 152, §§ i e
do menor porte, pois o que conta ó a atribuiç!o legal do superior para punir o
ou ofensas tsicas leves (art. 152),,332
subordinado.
A denominação vias de fato foi substituIda por violência, da qual resulta
ou não 1eso corporal ou morte.
329
Damásio, Dir. Pen., v. 2, p. 216.
° Damásio, Dir. Pen., p. 216.
331
Macedo Soares, Dir. Pen. Mi!., p. 136. 132
Macedo Soares, Cod. Pen. Mi!., p. 176.
w
222 Celia Lobão Direito Penal Militar 223

Reportamo-nos aos comentSrios ao crime de violência contra superior, circostanza che chi lo riveste indossi la divisa. Risponde pertanto di abuso di
no que for aplicável a violência contra inferior hierárquico. autorità ii superiore che, essendo in abito civile, usa violenza contro I'inferiore
Crime Militar - Classifica-se como crime propriamente militar in divisa, in quanto egli non ignora ii vincolo gerarchico che lo lega al militare
por se tratar de infraco penal especIfica e funcional do ocupante de cargo offeso".333
militar. Crime nao previsto na lei penal comum (art. 9, I, 2a parte) Ainda do mesmo tribunal, decisão datada de 9 de marco de 1943, que
Objetividade JurIdica - A lei tutela a disciplina militar, alicerce nao considerou a declaracão do oficial de haver se despojado do posto, ao
basilar da instituicao militar, diante da conduta do superior hierárquico prati- praticar violência contra inferior, acreditando nao ter cometido a delito por
cando vio]ência contra o subordinado, a quem deve impor sua autoridade corn haver renunciado a qualidade de superior.334
observãncia dos princIpios que regern a disciplina militar c regularn as rela- Em face do direito penal militar brasileiro, C perfeitarnente cahlvel a de-
cöes entre superior e inferior hierárquico. cisäo do tribunal italiano. Na espCcie, o elemento subjetivo se faz presente.
A autoridade impOc-se pela ascendência, pelo tratarnento cncrgico, po- isto C, a vontade orientada no scntido de praticar violencia contra inferior e
rem justo, corn o respeito devido a pessoa hurnana, scm resvalar na violência niio a de pretender igualar-se ao subordinado por meio de urn artiflcio ignora-
porque, nesta, nivelam-se superior e subordinado, tanto assirn que o Código do pela lei penal militar. 0 militar nio pode renunciar, mornentaneameilte, ao
suprirne do tipo a qualidade de superior, quando o subordinado pratica deter- posto, para investir fisicamente contra o subordinado. A perda dessa qualida-
minados delitos, ao sofrer violência do superior (art. 47. 11). de, no mornento do crime, so ocone nos CaSOS expressos na lei penal (art. 47. 1
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar que ocupa grau hierár- e II do CPM) e sornente neles.
quico superior ao do ofendido, em razAo de posto, graduaço ou funcao. Su- Corno acontece no primeiro acordao supra citado, é irrelevante a fato de
jeito passivo, as instituiçöcs militares e, ofendido, a militar subordinado ao superior, de o subordinado ou de ambos, encontrarem-se em trajes civis,
sujeito ativo. desde que a condicão do ofendido seja do conheciinento do sujeito ativo.
Elementos objetivos - 0 ato incrirninado C praticar violCncia, que Nos termos do art. 47, incs. I e II, o desconhecirnento da qualidade de
consiste na força fIsica que a agente faz atuar sobre o corpo do subordinado inferior (inc. I) ou a prática do ato em repulsa a agressão (inc. II) suprirne do
hienirquico, corn utilizacao do próprio corpo (vis corporalis) ou cxercitada por tipo a condição de subordinado da vItima. Dessa forma, a conduta do agente
meio de instrumento (visphysica) impulsionado por outro instnimcnto, pelo ar não mais se ajusta a descricao tIpica do artigo que deixa de incidir, respon-
expirado dos pulmöes, pelos membros ou outra parte do corpo humano. A dendo o superior pelos atos praticados, se encontrarem definiçao em outro
motivaçao do ato ilIcito C elemento estranho a tipicidade. dispositivo da lei penal militar
Para concretizar a violência C suficiente que o corpo do subordinado Assim coma ocorre na violência contra superior, a agressão moral prati-
seja tocado, mesmo scm ocasionar lesao ou morte porque, se esses resultados cada contra o superior ou a conduta incompatIvel corn a condicäo de subordi-
forem alcançados, o crime qualifica-se. Constitui, ainda, violência o fato de o nado hierárquico, suprime, igualmente, do tipo, a condicao de inferior, dci-
superior imobilizar o subordinado, impedindo-o de locornover-se ou obrigan- xando de existir violência contra inferior, respondendo o agente, igualmente,
do-o a fazer algo contra sua vontade. pelos atos praticados, se encontrarern definiçao em outro dispositivo da lei
Oportuno lembrar a discriminante especIfica, expressa no parágrafo penal militar. Essa a interpretacao extensiva das cortes castrenses ao inciso II
iinico do art. 41, segundo a qual não ha crime quando, na iminéncia de perigo do art. 47.
ou grave calamidade, a cornandante de unidade militar, terrestre, aCrca, marl- Justifica-se o disposto nos incs. I e H e na orientacao jurisprudencial
tima, fluvial ou lacustre. "compete os suhalternos, por meios violentos, a cxc- citados. Na hipótese do desconhecirnento da qualidade de inferior (inc. I), pela
cutar serviços ou manobras urgcntes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar ausência do elemento subjetivo. e nos dernais casos pela ausência do objeto da
desnirno, o terror, a desordern, a rendição, a revolta ou 0 saque.' utela penal, isto é, a disciplina militar, 110 aspecto da relaç.'io entre superior e
Inferior hicrarquico e a militar que se encontra sob a autoridade de ou- subordinado.
tro militar. em razao de posto, graduaço ou funcao militar. Bern oportuna a
deciso do Tribunal Suprerno Militar italiano, segundo a qua] "Ia qualit2I di
In S. Malizia, Cod. Pen. Mu., p. 142-3.
superiore C inerente alla persona e l'esercizio del grado non é subordinato aIJa 331
In S. Malizia, Cod. Pen. MIL , p. 143.
Direito Penal Militar 225
224 Cello Lobão

Elemento subjetivo - 0 elemento subjetivo é a vontade livre e Pena - detenção, de seis meses a dais ailos.
consciente do sujeito ativo, orientada para a pratica de violência contra o su- Parágrafo imnico. Aplica-se o disposto no parágrafo imnico
bordinado, tendo consciência de que se trata de inferior hierárquico. Na mo- do artigo anterior.
dalidade qualificada, o dolo deve se fazer presente na obtenção do resultado
lcsão corporal ou morte dolosa. Na espécie culposa (art. 175, c.c. o art. 159), Consideraçôes Gerais - Crime de abuso de poder, denominado
ha dolo no delito principal e culpa no resultado. pelo Código de excesso ou abuso de autoridadc. Consiste na ofensa a inferior,
Consumação e Tentativa - Consuma-se o delito no mornento em mediante ato de violência aviltante. Na realidade, trata-se da violência contra
que o corpo, a vestimenta ou a "cobertura" do subordinado é atingido pelo ato inferior, qualificada pela forma aviltante como se realiza o ato ilIcito, portanto,
violento. A tentativa e possIvel se a violência nao alcança o subordinado, por qualificadora que o Codigo houve por bern conceder autonomia. Sc ocorre
motivos alheios a vontade do sujeito ativo. apenas a violência, destituida de ato aviltante, incide o art. 175 (violência
Forma Qualificada - 0 paragrafo inico prevê o resultado lesäo contra inferior).
corporal ou morte dolosa ou culposa. Crime Militar - Classifica-se corno crime propnarnente militar
Odispositivo penal, corn boa técnica, näo confunde violência corn 1eso
por se tratar de infração penal especIfica e funcional do ocupante de cargo
corporal e homicidio. Na espdcic. concretizada a violência através da vis cor-
militar. Crime näo previsto na lei penal comum (art. 9°, 1, 2a parte).
pora/is ou da vis phvsica, o agcnte alcanca o resultado lesão corporal ou morte
Objetividade .Jurldica - 0 objeto da tutela penal é a ciisciplina
dolosa, aplicando-se a pena do crime contra a pessoa, sem prejuIzo da sanção
cominada ao crime de violência contra inferior. militar, alicerce basilar da instituição militar, diante da ameaça ao bern juridi-
No entanto, se o resultado d culposo, corno vern expresso no parágrafo co protegido, resultante da conduta do superior hierirquico em ofender o su-
dnico, combinado corn o art. 159 (quando da violência resulta morte ou lesão bordinado mediante ato de violência aviltante. 0 principio de autoridade sofre
corporal e as circunstâncias evidenciarn que o agente näo quis o resultado nem sério desgaste, principalmente pela forma corno se realiza a violência, inacei-
assurniu o risco de produzi-lo), a pena do crime contra a pessoa é diminuIda tável para quern tern o dever legal de fazer obedecer as normas dos regula-
de metade. mentos militares, relativas a disciplina e as relaçoes entre superior e inferior
No Cddigo Penal Militar italiano não ha previso do resultado homicI- h ierárquico.
dio e lesöes corporais culposos. Por esse rnotivo, é aplicada a lei penal co- Sujeitos do Delito - Sujeito ativo o militar, na condiçao de superi-
mum, como se lê na seguinte decisäo do tribunal militar daquele pals: or hierárquico do ofendido. Sujeito passivo as instituicOes militares e ofendido
omilitar, subordinado hicrárquico do agente.
"II reato di violenza del superiore militare verso inferiore, mediante Elementos Objetivos - Ofender é o ndcleo do tipo, ofensa essa
omicidio per eccesso colposo, non è previsto dai codici penali militare.
que se materializa mediante ato de violência aviltante, pela sua natureza ou
Pertanto, ocorre, in tal caso, far richiamo al codice penale comune, rivestendo
ii fatto I caratteri deII'omicidio colposo per eccesso. (T.S.M., 2 febbraio pelo meio empregado. A,violência já foi objeto de cornentarios anteriores, :w
195 (lual nos reportamos. lnfe?ior e o militar que se encontra sob a autondade tie
tiutro militar, em razão do posto, graduacão ou função militar.
Legislação Anterior - Art. 114 do CPA; art. 153 do CPM tie Ato aviltante é o que humilha, ofende a dignidade, o decoro, sit tiapuln 11

1944 ttiendido em condição de infcrioridade, de menor valia. diantc (Ic (Hillu',


ales que lhe são superiores, inferiores ou de igual nIvel hicrarquico.
CAPITULO XXIII
Ofender Inferior Mediante Ato Aviltante
nierito resultante de ato inerente a própria natureza da violência e uttiele ri u
I iie it violencia realiza-se de maneira a aviltar. a humilhar
0

umo aplicar tapas no rosin, nas nádegas, cuspir no rosto, p1mil its ttti'llia..
Art. 176. Ofènder inferior, mediante ala de violência que,
por sua natureza OU pelo rneio empregado, se considere avil- t'lc
0 ato aviltante pelo meio empregado consislC C111 emimel'i vtlln ii
tante:
tittu humilhaçao, corn desonra do ofendido, como ictiral sum IttUtt, liaitl
desjndo em local onde não possa abrigar-se, i vista l lullis, I)('IIIIIII h 'It
335 In Saverio Malizia, Cod. Pen. Mi!. di Pace e di Guerra, p. 142.
226 Cello Lobão Direito Penal Militar 227

pes, etc. Enfim, a lei refere-se a violência cometida de forma a atingir o subor-
dinado em sua honra especial de militar e de pessoa humana, sendo irrelevante TITULO II
que o ofendido considere-se ou não aviltado, nem que o ato tenha sido come- Crimes Contra o Servico Militar
tido corn animus jocandi ou outra motivaçao.
e o Dever Militar
Na espécie, o agente nao se socorre do disposto no art. 47, II (a açâo é
praticada em repulsa a agressão), porque o plus do art. 176, ora comentado,
nâo se compatibiliza corn a repulsa a agressão e sim corn a vingança pela Nocöes Gerais - Os CapItulos que integram o TItulo ifi do Código
agressao. Penal Militar tratam dos crimes contra o servico militar e contra o dever mili-
tar. Dentre esses, alguns Sao propriamente e outros irnpropriameflte militares.
Por outro lado, se a condicio de subordinado é desconhecida (inc. I, art.
47), o sujeito é responsabilizado pclos atos praticados, se encontrarem defini- São crimes propriamcntc militares contra 0 serviço militar:
ção em outro dispositivo da lei penal militar (p. cx., crime contra a honra) ou I - desercào (art. 187);
na Iei penal cornurn (p. cx., abuso de poder), conforme o caso. Nenhurna rele- Ii - deserção apds ausência autorizada (art. 1 88);
vância tern, na caracterizaçao do crime, 0 lato de urn deles on ambos encontra- HI - criar ou simular incapacidade (art. 188, IV;
rem-se em trajes civis on de ocoi'rer loia de local sob administracao militar ou IV - deserço irnediala (art. 190);
de não relacionar-se corn a funçio ou o cargo mi litar. E suficiente a qualidade V - conserto pam descrçao (art. 191);
de subordinado e a de superior, conhecida por esle tiltirno. VI - deserçao após cvasio ou fuga (art. 192);
Elemento Subjetivo - A vontade consciente, orientada no sentido VII - omissão de oficial (art . 194).
de ofender inferior hierarquico, de forma aviltante, por meio de ato de violên-
cia, tendo ciência de clue se trata de subordinado hierrquico. São crimes propriamente militares contra o dever militar:
Consurnação e Tentativa - Consuma-se no momcnto em que o I - abandono de posto (art. 195);
subordinado é atingido pelo ato violento c aviltante. A tentativa é possIvel II - descumprirnento de missão (art. 196);
desde que, por motivos alheios a vontade do agente, o ofendido não é atingido. III— retenção de docuniento (art. 197);
Entretanto, se o subordinado sofre a violência, mas o superior não consegue IV - ineficiência de força (art. 198);
alcancar o fim almejado, que é o avihamento, por motivos alheios a sua von- V - omissão de cornandante para evitar danos (art. 199);
tade, consuma-se o crime de violência contra inferior (art. 175) e não tentativa VI - omissão de cornandante diante de sinistro (art. 200);
do crime do art. 176. VH - omissão cornandantc em face de sinistro (art. 201);
Forma Qualificada - 0 parágrafo tinico manda observar o dis- Vifi - embriaguez em servico (art. 202);
posto no parágrafo tinico do artigo anterior, que trata de duas espécies do re- IX - dormir em serviço (art. 203);
sultado da violência. Na primeira, se resulta lesão corporal ou morte dolosa, X - comdrcio ilIcito (art. 204).
aplica-se, em concurso material, a sanção cominada ao crime contra a pessoa.
Na segunda, se as circunstâncias evidenciam que o agente nao quis o resultado São crimes impropriamdute niilitares contra o serviço militar:
morte ou lesão corporal nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena do crime I - insubmissão (art. 183);
contra a pessoa é diminufda da metade, corno dispöe o art. 159, combinado II - criar ou simular incapacidade fIsica (art. 1 84);
corn os parágrafos inicos dos arts. 176 e 175. III - substituição de con vocado (art. 185);
Liberdade Provisória - Em confonriidade corn o disposto no art. IV - favorecimento a convocado (art. 186);
270, partigrafo 6nico, b, do Codigo de Processo Penal Militar, não tern direito V - favoreciniento a desertor (art. 193).
ao bencfIcio de liberdade provisória o indiciado ou acusado pelo crime de
violência mcdiante ato aviltante. Neste TItulo trataremos, apenas, dos crimes propriamente militares
Legisiação Anterior - Art. 113 do CPA; art. 153 do CPM de acima relacionados, corn exceção do favorecimento a desertor que, apesar de
1944. ser crime irnpropriamcnte militar, acharnos por bern incluI-Io nestes cornenli
228 Célio Lobão Direito Penal Militar 229

rios para não distanciá-lo da desercao, facilitando o acompanhamento da maté- evoluiu e fixou-se no ato de incorporaçäo que passou a constituir-se no Iaco
na. que liga o militar as forcas armadas Corno conseqUCncia, a deserçao recebeu
Três sao as modalidades da desercäo contemplada no diploma repressi- nova roupagem corn a instrução ministerial de 24 de abril de 1934, modificada
vo castrense. Na primeira, a conduta incriminada e ausentar-se, scm autoriza- pela instrucâo de 11 de abril de 1939: "l'infraction commise par Ic militaire
ção, da unidade ou do lugar onde serve, passando o militar, desde logo, a con- régulierement incorporé qui, sans droit, rompt le lien qui l'attache a
dicäo de ausente, sujeitando-se a sancäo disciplinar, e, caso no retome no 1'armée".339
prazo de oito dias, configura-se a deserçao. Na segunda, o militar encontra-se Em conforrnidade corn o direito italiano, assim define Manzini:
ausente legalmente e deixa de apresentar-se após o término do prazo de afas-
tainento autorizado. Na terceira, o militar não se apresenta no momento da Ia diserzione consiste nel tatto del militare (iscritto, arruolato) che
partida OU do deslocamento da unidade onde serve. Ao deixar de apresentar-se arbitrariamente interrompe o non assume H servizio militare, in determinate
após o afastarnento autorizado, o militar passa a condiço de ausente, sujei- circostanze o per un tempo superiore al massimo tollerato dalla legge,
tando-se a sancäo disciplinar e, se permanece ausente, consurna-se a deserço. abbandonando a non ragiungendo II suo corpo o Ia sua nave". (Vincenzo
Manzini, Diritto Penale Militare, 2 ed., p. 204).
Entretanto, se o militar no Sc apresenta no rnornento da partida ou desloca-
memo da unidade em que serve, consuma-se a deserçao de imediato.
Segundo o Código Penal Militar brasileiro, a deserçao consisle no fato
de o militar ausentar-se, scm autorizaçao, da unidade em que serve ou do local
CAPITULO I
onde deveria permanecer, por tempo superior a oito dias, ou, estando legal-
Deserção
mente ausente, deixa de aprcsdntar-se, nesse mesmo prazo, depois de cessado
motivo do afastarnento e, ainda, ndo se faz presente no momento da partida
Art. 187. Auseniar-se a militar, sern Iicenca, da unidade
ou do deslocamerito da unidade cm que serve.
em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por niais de
A extensa definiço inclui as trCs modalidades de deserço já expostas,
oito dias: a de ausentar-se, scm autorizaçao, da unidade onde serve OU do local onde
Pena - detençao, de seis meses a dais anos; se oficial, a deve permanecer, a de nao se apresentar apds afastarnento autorizado e no
rena é agravada. momento da partida ou do deslocarnento da unidade em que serve.
Crime de mera conduta e permanente, ensejando, por este tltirno moti-
217. Consideraçöes Gerais - No Direito Romano havia diferenca entre vo, a priso do desertor em flagrante.
emansor ou ausente e o desertor. Segundo Jouin, 0 primeiro era quem, tendo Crime Militar - Classifica-se corno crime militar em decorrência
se ausentado, regressava voluntariamente, enquanto o desertor era conduzido a do disposto no inciso 1, 2 parte, do art. 9' do Codigo Penal Militar (crime não
força.336 No caso de emansor, deveria ser examinada a causa da ausência, previsto na lei penal comum). Crime propriamente militar por se tratar de in-
"porque se ausentou, onde esteve, o que fez; e perdoa-se a moléstia, a afeicao fração penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar
aos parentes e aos afins; a perseguição de urn escravo fugido ou outra qual- Objetividade JurIdica - Objeto da tutela penal ó o servico mi-
quer causa seineihante; e inocentar-se-á o recruta por ignorar as regras da dis- litar diante da conduta do militar que o abandona, apesar do dever legal de
cip1ina". 7
cumpri-lo ate sua desvinculaçibo na forma estabelecida em lei. A norma
Os doutrinadores definem a desercão de acordo corn a legislacao dos penal tern, ainda. em vista o interesse da instituição castrense era contar
respectivos palses. Diante do direito frances, Augier et Le Poittevin a concei- corn a efetivo estabelecido em lei, a que n5o acontece, se ficar a critdrio do
tuam como o fato de o militar romper, ilegalinente. 0 laço que 0 liga ao serviço
militar ausentar-se da corporacäo, em desacordo corn o preceito legal que
do Estado.338 Tal definicao sofre influência do sistema contratual da prestaçao
trata da ccssaciio do serviço militar.
do servico militar. Posterionnente, a ligaçao entre o militar e 0 servico militar
Sujeitos do Delito —Agente do delito: sornente o militar legal-
mente incorporado as Forças Armadas, a PolIcia Militar e ao Corpo de Born-
E. Bandeira, Curso Dir. Pen. Mi!., p. 358.
E. Bandeira, Curso Dir. Pen. Mi!., p. 367.
336
Augier et Le Poittevin, Dr. Pen. Mi!., t. 2., p. 450. In Claude Devise, in Rep. Dalloz, t. I, p. 707.
230 Cello Lobão Direito Penal Militar 231

beiros Militar, por se tratar, como ficou dito, de crime propriamente militar. cada, embora ilegal e demorada, não integra a deserçao. Tendo recebido nolI-
Sujeito passivo, as instituiçöes militares. cia de se achar seu pai gravemente enfermo, o soldado se ausentou do quartel
221. Elementos Objetivos - 0 niIcleo do tipo é ausentar-se, é afastar-se, para ir em seu auxflio, com a iflteflçao de voltar, antes de oito dias, mas che-
sem autorizaçäo, por mais de oito dias, da unidade em quer serve ou do local gando a casa encontrou seu pai agonizante e teve de permanecer corn sua fa-
onde deve permanecer, em serviço. mflia que se achava em situaçao de angüstia e miséria, excedendo, por isso, o
A descriçao tIpica nao se refere somente ao militar que se encontra no referido prazo de oito dias. Justifica-se, neste caso, a ausência; nao houve de-
, 341
interior do estabelecimento militar, em serviço ou não, ou do local onde deve sercao
permanecer e dele se ausenta, no mais retornando. Alcanca, igualmente, Segundo Vico, por motivo justificado "deve intendersi un legitimo
aquele que se encontra afastado mornentaneamente e nao mais retorna a uni- impedimento, che abbia posto ii nii]itare nella condizione di non poter
dade. Por excmplo, o militar que se recoihe a sua residência no fini de semana, raggiungere ii corpo",342 enquanto o Tribunal Supremo Militar italiano escia-
que está de folga fora da unidade, e no ret orna. rece: "II giusto motivo, che eselude l'antigiuridicità dcl fatto nei delitti di
A expressio lugar onde deve permanecer não se restringe, necessaria- assenza dal servizio, deve, in ogni caso, consistere in un impedirnento
mente, a estahelecimento castrense: pode ser urn lugarejo, nina pequena cida- og2etivo".34
de, urn posto a margern do rio, do mar, acroporto de pequeno porte, delegacia Como vein expresso na Ici penal militar, o crime de deserção sornente
da capitania dos portos, etc., o que nao exciul a vinculação do militar a deter- se tipifica se o militar se ausenta da unidade em ciiie serve ou do lugar em que
minada unidade castrense. A ausência do lugar onde deve permanecer, aléni deve permanecer, por perIodo superior a oito dias, perlodo esse denommado
da condiçäo de ausente c posteriormente de desertor, podc configurar, ainda, prazo de graça. 0 prazo de graça é o divisor entre o ausente (emansor do di-
conforrne o caso, o crime de abandono de lugar (IC serviço (art. 195), descum- reito romano) e o desertor. Antes do transcurso desse prazo nio he desercão,
primento de missäo (art. 196), insubordinaco (art. 163). näo ha desertor, mas ausente, condição essa que sujeita 0 militar apenas a
0 exercfcio do cargo de delegado dc polfcia, pelo integrantc da Poilcia sanção disciplinar. A figura do desertor surge no momcnto irnediatamentc
Militar, em localidades do interior de alguns Estados, não atende ao requisito após o oitavo dia de ausCncia do militar.
de lugar de servico, por se tratar de funçio de natureza civil, de poilcia civil, Nesse sentido, Augier et Le Poittevin:
como tern entendido os Tribunais. Somente havcrá deserçâo se o militar não se
apresenta a unidade a qual continua vinculado, no prazo de oito dias, contados "Le militaire n'est pas déclaré déserteur par ce seul fait qu'il s'absente
a partir da data da exoneraçao QU da demissio do cargo de delegado de polIcia, Uégalement de son corps ou ne le rejoint pas, a la date fixée pour le retour a
Ia suite d'un voyage, dune permission ou dun congé. Le C.M. lui accorde un
se não for fixado prazo para apresentacao. délal, it nest pas déserteur et encourt seulement une peine discipIinaire".'44
Consurna-se a desercao corn a ausência do militar por mais de oito dias,
sem licenca do superior hierárquico compelente para conceder a autorizaçao. Conta-se o prazo de graca dia a dia e näo hora a hora, como entendiani
Se o superior não tiver essa atribuiçâo, mas, daclas as circunstâncias que cer- os tribunais italianos, que, segundo Manassero, após a sentença de 15 de no-
cam o fato, o subordinado acredita na legalidade da dispensa, não se configura vembro de 1938 do Tribunal Supremo Militar, mudaram de orientacäo, pas-
o crime de deserçAo, caso a ausCncia não ultrapasse oito dias apOs o término sando a adotar a contagem do tempo dia a dia: "la massima che, nella ipotesi
da licenca irregularrnente concedida ou apds o militar ter conhecimento da normale di diserzione, ii computo dei termini deve effettuarsi a giorni,
irregularidade da licença. esciudendosi nel computo stesso ii (lies a quo".34'
Oportuno lembrar que a jurisprudCncia tern admitido a inexistência de Em decisao, mais recente, de 12 de janeiro de 1951, assim se pronunciou a
crime, se houverjusto mOtivo para 0 alastamento por tempo superior ao fixado corte castrense da ltdlia:
em lei, como vein expresso nas seguinles decisöcs do Superior Tribunal Mili-
tar: "... não obstante as siias caracterIsticas de crime formal, nao seria lIciio
In Silvio Teixeira, Wove COd. Pen. MU., p. 345.
341
negar-se que a deserçao pode coniportar justificativa".34° "A ausência justifi- 42
in Manassero, i/Cod. Pen. Mi!., v. 2, p. 175.
InS. Malizia, Cod. Pen. MU., p. 95.
Augier et Le Poittevin, or. PUn. MI!., t. 2, p. 464.
° DJ/GBde 09.10.63, p. 884. " A. Manassero, 11 Cod. Pen. Mi!., v. 2, p. 173.
232 Célio Lobão Direito Penal Militar

"II dies a quo delI'assenza non dove essere computado nel periodo di
belecimento militar, determinará, compulsoriamente, as nceessrias diligên-
assenza considerato nel reato di diserzione, si che Ia decorrenza delI'assenza
va calcolata con inizio dat giorno successivo a quello nel quale cade ii suo cias para a 1oca1izaço e retorno do ausente a sua unidade, mesino sot) rrisao,
momento iniziale. E indifferente in quale ora del giorno cade detto momento, se assim 0 exigirern as circunstâncias"..
perche l'esclusione del dies a quo lo riguarda per intero, e cioè dat primo Reiteradas decisöes do Superior Tribunal Militar n5o rcconheciaiti nuli-
minuto delI'ora successiva alla mezzanotte sino alla nuova mezzanotte".3 6 dade, se tais diligências não fossem tomadas, ate que o Supreino Tribunal
Federal, no HC n° 57.404, decidiu:
Não é diferente o entendimento de Claude Devise, Conseiheiro da Corte
de Apelaçao de Paris: "Somente se con suma quando a autoridade competente cumpro o
disposto no art. 456, § 22, do CPPM, determinando todas as diligências of i-
"Ce délai est décompté par jours et non par heures; ii commence a cazes para Iocalizacibo e retorno do ausente, o que não ocorreu em relacao
courir a partir de 'expiration du jour oU 'absence a été constatée: ainsi le ao paciente".350
militaire, ayant été porte manquant aux appels du ler. mars, le détai part du 2
mars a 0 heure et Ia desertion sara consommée to 7 mars a 24 h".347 A espCcie era de conhecido irhitro de futebol, sargento da PolIcia Miii-
tar de So Paulo, condenado por crime de deserçibo. por haver se ausentado de
Portanto, em face do Cddigo Penal Militar brasileiro, a contagern (10 sua unidade por tempo superior a oito dias, para funcionar como arbitro de
prazo de graça inicia-se a zero hora do dia seguinte ao da verificaçao da au- futebol, em outro Estado.
sência, independente da hora em que o militar ausentou-se. 0 oitavo dia C Segundo a Procuradoria Geral da RepihIica. o n5o cumprirnento da
conrado por inteiro, isto C, o prazo so se esgota as 24 horas do oitavo dia de "dcterminação cornpulsória", DU seja, a diligëncia determinada no citado art.
ausência. Por exemplo, se a ausência ocorre no dia 04, as 08 horas (ou 10, 17, 456, § 2°, do CPPM impedia a consurnação do delito. De acordo corn o Rela-
ou outra hora qualquer), o prazo de graça irlicia-se a zero hora do dia 05 e tern tor, "nibo se limita, pois, o dispositivo processual em exame a determinar pro-
seu termo final as 24 horas do dia 12, consurnando-se a deserçao no rnornento vidéncias meramente formais para localizacibo do presuniido desertor", e pros-
imediatamente após zero hora do dia 13. segue. "daI a ênfase que o dispositivo processual sob exame empresta a reali-
Nesse sentido, decisilo do Tribunal militar italiano: zação de diligências eficazes no sentido da local izaçibo do ausente, ao ponto de
declarar serem essas diligências compuls6rias".35 '
'II dies a quo delI'assenza non dove essere computado nel periodo di
Ocorre que o citado art. 456, § 2°, encerrava recomendaçao própria de
essenza considerato nel reato di diserzione, si che Ia decorrenza delI'assenza
va calcolata con inizio dat giorno successivo a quello nel quale cade ii suo manual de instrução militar, destinada a evitar que o soldado, mal iniciado na
momento iniziale. E indifferente in quale ora del giorno cade detto momento, vida militar, ficasse sujeito a condenação per crime de desercäo. A inobser-
perchè l'esclusione del dies a quo lo riguarda per intero, e cioè dat primo vância do enfático dispositivo, que nada tinha de processual, poderia acarretar
minuto deII'ora successiva alla mezanotte sino alla nuova mezzanotte".348 consequências disciplinares ou penais para o cornandante, mas nunca inserir
discrirninante especIfica na deserçibo.
A propósito, o Superior Tribunal Militar, na Apelaçäo n° 34.800, deci- Se, como dizia o Parecer do Procuradoria Geral, o sargento-árhitro de
diu pela nao consumação do crime de desercao porque o militar apresentou-se futebol foi escalado para o serviço. "inopinadamente", e "no tinha conheci-
no oitavo dia de ausência, tiao sendo de cogitar-se a hora dessa apresenta-
mento do dia a quo de sua ausência", talvez seria o caso de nulidade do con-
ção.349 Realmente, o delito sO estaria configurado no inIcio do nono dia.
dcnaçäo pela inexistência do delito, pois o militar desconhecia que deveria
0 art. 456, § 2°, do Código de Processo Penal Militar, corn a redação do
estar presente na Unidacle em determinado momento.
Lei n° 4.984 de 18 de maio de 1966, estabelecia que, durante o prazo de graca,
Correto o entendirnento do Superior Tribunal Militar. expresso na Ap.
"0 coniandante da subunidacle ou seu correspondente, em se tratando de esta-
n° 40.842 e. tambCm, na Siirnula n° 2. segundo a qua! "no constitui nu!idade
processual a ornissão ou ineficiência no curnprirneflt() da ciiIigncia para loca-
In Saverio Malizia, I/Cod. Pen, Mi!., p. 92.
Répert. Dalloz, Dr. Crim. et Proc. Pen., t. I, p. 708.
In S. Malizia, Cod. Pen. Mi!., p. 92. RTJ9911042.
DJ/GB do 26.01.69, p. 43. ' R7'J90/1044.
qw
234 235
Célio Lobao Direito Penal Militar

lizaçao e retorno do militar ausente a sua Unidade...". A exigência de que se Logo, o cidadäo matriculado e incorporado em Orgão de forrnaçao de
esgotem todos os meios disponfveis para localizaçao do desertor xiiio ingressa reserva adquire a condiçäo de militar e, como consequência, pratica o crime de.
como elcmento do tipo. Infelizmente a Corte castrense recuou de seu entendi- deserçao. Aquele que, embora matriculado, não é incorporado, como o aluno
mento, adotando a incorreta inlerpretaçao do Supremo Tribunal Federal, tanto do Tiro de Guerra, näo adquire a condiçao de militar, portanto, nao comete o
assim que, na sessão administrativa de 8 de marco de 1995, cancelou a Sd- delito de deserção e, caso se ausente da instituiçao na qua] se encontra main-
mula n2 2. culado, poderd concorrer a incorporação na pnmeira classe a ser convocada.
No entanto, a matéria encontra-se superada, pois a Lei n2 8.236. de 20 0 que deve ser levado em consideração não é se se trata de organizaçäo
de setembro de 199, suprimiu a exigéncia impropria para o diploma processu- militar da ativa ou órgão de formacão de reserva; o que importa, o que tern
al penal. Que seja inserida em manual de instrução militar! relevância para a ici penal militar é o fato da incorporaçao do convocado na
Outro aspecto da deserçao refere-se i situação do cidadäo que presta organização da ativa ou no Organ de formação de reserva. Sintetizando: Se 0
serviço militar em orgao de formaçiio da reserva. Em decisöcs recentes. o Su- convocado concorre a incorpOracâo e nao comnparece, é considerado insubmis-
prenio Tribunal Federal absolveu aluno de Tiro de Guerra do crime de insub- so; se incorporado, se ausenta por tempo superior a oito dias, comete o delito
flHSSio porque, em sIntese, o art. 183 "apiica-se apenas aos convocados para
de descrçao.
de servn
iojm x n ta. Z52 Voltaremos a tratar da matéria, ao comentaniios o crime de insubmis-
Sc o convocado que vcrn a ser matriculado cm órgão de formaçao de re- san.
serva nan pratica crime de insuhrnissão, não cornete.igualmente. o delito de Menor de 18 Anos - l)ispOe a Lei de Serviço Militar (Lei n
deserço. A afirniativa catcgdrica. certarnente,riio Se ajusta a legislaçao que 4.375, de 17.08.64) que a classe convocada para o serviço inilitar serd consti-
trata da prestaçäo do serviço militar. tulda dos brasileiros que completarern 19 anos entre I de janciro a 31 de de-
A descrçao consisie, em sIntese, na ausência do militar, sem licença. da zembro do ann em que deverão ser incorporados em organizacão militar da
umdade em que serve. por tempo superior a oito dias. Como militar, segundo ativa ou mat riculados cm órgãos de forrnação de oficiais da reserva (art. 17).
o art. 22 do Cddigo Penal Militar, várias vezes citado, entende-se qualquer Segundo o art. 5, § 2 do inesmo diploma, seth permiticla a prestaçao do ser-
pessoa "incorporada as forças armadas, para nelas servir em posto, graduaçao, vico militar corno voluntano, a partir dos 17 anos de idacle (art. 5, § 2w).
ou sujeiçao a disciplina militar".
Ocorre que o art. 228 da Constituição, coinpletamente divorciaclo da re-
O cidadão matriculado em Orgao de formaçao de reserva é incorporado alidade do mundo atual e da orientação seguida por pafses isentos de cobran-
as Forças Armadas? Quem nos responde é a legislaçao que trata da prestaçäo
ças de "ONGs", dispöe: "São penalmente inimputaveis os menores dc dezoito
do serviço militar.
anos, sujeitos as normas da legislacão especial". Corno conscqUncia, n vo-
Nos termos do art. 20 da Lei n2 4.375/64 (Lei do Serviço Militar), a in- luntário menor de 18 anos que realiza a conduta tipihcada como dcscrçäo nan
corporaçao é o ato de inclusão do convocado ou voluntário em organizaçäo responde por esse delito.
militar da ativa das Forças Arniadas, podendo ocorrer, lambdrn, a "incorpora- Enquanto não for editada Ici tratando espccificamcn(e da inaldria, o mi-
ção flOS Organs de Formaçao de Reserva existentes na Guarniçao Militar" (art.
litar menor de 18 anos ficara isento de processo e sujeiln, apenas, as nonnas
22, § 1, da Lei n2 4.375/64).
previstas nos regulamentos disciplinares, nan sendo possivel a ap]icaçao das
Os dois artigos acima sao secundados pelo n 21 do art. Y (incorpora- medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolcscentc, pela condicao de
çao ë o "ato de inclusao do convocado OU voluntário em organização da ativa,
militar do agente, sujeito a disciplina castrense e nño as iiorrnas do Juizado
bern como em certos orgaos de formaçao de reserva".) do Decreto i-
especial.
57.654/66 (Regularnento da Lei do Scrviço Militar) e pelo art. 22, § 1. da Lei
Elemento Suljetivo - 0 elernento sub jctivo é a vontade livre e
ii 4.375/64. segundo o qua], os brasileiros matriculacios em escolas de ensiuo consciente do militar de ausentar-se. aléni do prazo previsto cm iei, da unidade
superior "serao considerados corn prioridade para matrIcula ou incorporaçio onde serve ou do loca] onde cieve permanecer na prcstaçao de serviço militar.
nos Orgaos de Formação de Reservas ...
Consumação e Tentativa - Consuma-se a desercão no momento
imediatarnente apOs zero hora do nono dia de auséncia. A tentativa não d juri-
RHC n 77,271, 77.272, 77.290, 77.293. dicamente possivel. Se o militar se aprcsenta, mesmo sob coação. antes de
w
236 237
Cello LnhAn Direito Penal Militar

esgotado o prazo de graça, a deserçao não se consuma. Por outro lado, se for
impedido de retornar a unidade, por meio de coação fIsica irresistIvel, inexisti-
rá crime em razão do disposto no art. 40 do Codigo Penal Militar.
4 Na exiSténcia de duas deserçöes nos autos, 6 nula a sentenca que apena
o réu em uma, aplicando como agravante a outra. 0 Tribunal, a unanirnidade
de votos, resolveu anular o processo, a partir do despacho que nomeou defen-
Forma Qualificada - A nomia penal prevé o agravamento da sor do acusado, desrncmbrando-se o processo, urn para cada deserção. (Ap. n
pena, se o agente 6 oficial, o que se justifica, considerando-se a ofensa major 41.290, DJde 14.02.77)
ao bern jurIdico tutelado, em razão do posto do sujeito ativo, cuja conduta Termo de deserçäo lavrado depois da aprcseiitaçiio do infrator. Não se
reflete-se de forma negativa dentre seus subordinados. Nesse caso, a sanção é acolhe a argüicão de nulidade suscitada pela P.G.J.M, sob o argumcnto de que
agravada de urn quinto a urn terço, como dispOe o art. 73 do CPM ("Quando a a deserçäo so se configura apOs a lavratura do Termo de l)cserção. (Ap. n
lei detennina a agravaçao ou atenuação da pena scm mencionar o quanluin, 39.724)
deve o juiz fixá-lo entre urn quinto e urn terço, guardados os limites da pena Stimulas do STM:
corn inada ao crime"). W 3. NAo constituCrn exciudente dc culpahilidade, nos crimes die deser-
Liberdade Provisória e Suspensio Condicional da Pena - 0 in- cão e insuhrnisso, alegaçöes de ordem particular ou familiar ciesacornparihada
diciado ou acusado por crime de deserçäo no tern direito ao henefIcio da Ii- de provas. OBS.: Stiniula desnccesstiria, pois a exciudente de culpahilidade die
berdade provisOria, como dispöe o art. 270. panigrafo (nico, h. do CPPM. quaiquer crime é inaceitável, se deSacompanhadla de provas.
Assirn tainbérn IIiiO é henefjcjado corn a suspensiio condicional da pena. em N 7. 0 desertor scm estabilidade e o insuhrnisso que. por apresentaçãO
conformidade corn o art. 88. II, a. do Có(1igo Penal Militar c art. 617, II. a, do voluntiiria ou em razão de captura, forcm julgados em inspeco de satide, para
Código dc Processo Penal Militar. fins de reinclusão ou incorporacão, incapazes para o Serviço Militar, podem
Processo Penal Militar. Procedimento Especial - 0 Código de ser isentos do processo, apOs 0 pronuflCiarnent() do representante do Ministé-
Processo Penal Militar adotou procedimento especial no julgamento do crime rio Ptiblico Militar.
de dcserço, visando dar major ccleridade a prcstacojurisdiciona1 Havia trés N 10. Não se concede liberdade provisória a preso por descrção antes
especies de procedimentos especiais: a) para o crime de deserçao de praças do de decorrido o prazo previsto no art. 453 do CPM.
Exército. da PolIcia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar ,- h) para o delito N 12. A praca scm estahilidade não pode ser denunciada por deserçäo
deserção de praça da Marinha e da Aeronáutica; c) para o crime de deserçâo scm ter readquirido o status de militar, condicäo de procedihilidade para a
de oficiais da Marinha, Exército, Acronáutjca, PolIcia Militar e Corpo de perseculio crirninis, atravtis da reinclusão. Para o praca esttivel, a condição de
Bornbeiros. procedibilidade é a reversão ao serviço ativo.
Corn a alteraçAo introduzida pela Lei nC 8.236, de 20.09.91, os proce-
dimentos foram reduzidos a dois, urn para os crimes de deserçao de praças da CAPiTULO II
Marinha, do Exdrcjto, da Aeronáutjca, da Poilcia Militar e do Corpo de Born- Deserçãq após Ausência Autorizada
beiros Militar, outro para deserçao de oficiais das instituiçöes militares fede-
rais e estaduajs acima citadas. Todos os feitos São, agora, julgados no JuIzo Art. 188. Na niesnia pena incorre o militar que:
Militar, corn a propositura da açäo penal, mediante dentincia do Ministério I - não se apresenta no lugar de.s'ignado, den tro de oito
Piiblico. dias, JIndo o prazo de lrânsilO ott ferias;
Legislação Anterior - Art. 14 dos Artigos de Guerra: art. 117 do II - deixa c/c se apresentar a autoridade conipetente. den-
(:PA; art. 163 do CPM de 1944. icc do prazo de oito dias. con tados daquele eat que lerminaa ott é
Jurisprudência - Algumas decisOes relativas ao crime de deser- cassada a Iicença ou agregaçao ott ciii que é declarado a estcido
çiio merccern citação:
de sItiO ou de guerra;
0 desertor julgado incapaz temporariamente riio fica isdnto de proces-.
so, dcvendo ser julgado, corn urgéncia, de acordo corn a ata de inspeção de III - ten do camp ado a pena, deixa de .e apresenial den-
satide junta aos autos. (Ap. JI 33.392, W. de 20.10.63, p. 1034) iiv do prazo de oito dias;
238 Célio Lobão
w Direito Penal Militar 239

IV- consegue exclusão do serviço ativo ou situacao de Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, sorneilte o militar, por se tratar
inatividade, criando ou simulando incapacidade. de crime propriamente militar e pcla condiçao (10 agente, integrando o tipo.
Sujeito passivo, as instituicöcs mi I itares.
Consideraçoes Gerais —o inciso IV, acima transcrito, trata do Elementos Objetivos - Segundo decorre dos incs. I a III, o militar
crime de simulação de incapacidade e não de deserço. Por esse motivo será permanece ausente da unidade onde serve oii (10 lugar onde presta serviço, por
estudado em separado, no capitulo seguinte. motivo de trânsito, fCrias, Iiccnça, agregacio, cm cumprilnento de pena, de-
0 Codigo denominou os fatos delituosos descritos no art, 188 de casos pois de decorridos oito dias, contados da data cm quc cessou 0 niotivo do
assimilados, embora nao se trate de similitude e sim da modalidade de deser- afastamento legal.
ção, na qual o militar encontra-se legalmente afastado da efetiva prestaço de
0 inciso H acrescenta, ainda, a iiao aprcscntaço após oilo dias da dc-
servico e deixa de se apresentar no prazo de oito dias, após haver cessado a
claração do estado de sftio (arts. 21, V, 137 a 139 da Coiistituiçio) on de guer-
ausência autorizada.
ra (art. 21, 11, e 84, XIX, da Constituicao). Perfeitanicute disic savel o acres-
A espécie prevista nos incisos do art. 188 teria sido motivada por düvi-
cirno referente a declaracao de guerra. Primeiro, o art. 188 encoiilra-sc no Li-
das, alias infundadas, na vigência do Código anterior, se ocorria ou não deser-
vro 11, o Codigo Penal Militar, que trata dos crimes militares em leuijiu de pai..
çiio, quando a ausência relacionava-se corn determinados fatos, como o de näo
Segundo, no caso de declaracao de guerra, o que é improvavel 110 I11()lue!1t()
ser recoihido a prisão.
atual, leis especiais scrilo eclitadas, tratando, inclusive da aprcseiilaçio lnle(lIata
Corno a situação do militar, antes de consurnado o delito, a estranha a
de militares ausentes e de reservistas.
tipicidade da deseräo, nenhurna diferenca existe se o militar deixa de apre-
sentar-se apds férias. licenca, cumprimento de pena, por ter se evadido da Diante da especialidade da nornia expressa no inciso 11, decretado 0 es-
priso ou, simplesmente, por ter se ausentaclo e não retornado a sua unidade. tado de sItio ou de guerra, no caso de militar ausente, inicia-se a contagcni do
Em todas as hipótese do art. 188, corn exceco da prevista no inciso IV, o prazo de graça, seni considerar os dias anteriores de ausência, consuinando-se
militar permanece ausente da mesma forma corno acontcce corn o disposto no a desercão a partir de zero bora do nono dia, a contar da data da decretaçflo do
art. 187, onde nao ha qualquer referência sobre a situaçao do militar, antes de estado de sItio. A lei näo se aplica ao estado de defesa (art. 136 e segs., da
passar a condico de desertor. Constituicio). Entretanto, a autoridade militar da regiao abrangida pelo estado
Em vez de casos assimilados, como vem expresso no Cocligo Penal Mi- de defesa pode cancelar o afastamento (exceto licença para tratarnento da pro-
litar, preferimos denominar deserçao após ausência autorizada, aos fatos deli- pria satide), dos militares que servern na regiâo.
tuosos definidos nos incisos I a III, embora, como já dissemos, as descriçoes Mesmo sem as especificacoes dos incisos I a HI do art. 188, ora co-
tIpicas nâo divergem da deserço definida no art. 187. mentado, a ausência nas circunstncias citadas atende a exigência da descricao
Delito de mera conduta e permanente, o que enseja a prisäo em fla- tipica do art. 187, que se satisfaz corn a näo apresentaçao, pura e simples, no
grante do sujeito ativo. prazo de oito dias, tanto do militar que se encontra ausente ilegalmente,
Crime Militar - Classifica-se como crime militar em decorrência quanto do que não se apresenta, nesse mesmo prazo, depois do tCrmino de
do disposto no inciso I, 2 parte, do art. 9 do Codigo Penal Militar (crime no afastamento legalmente autorizado.
previsto na lei penal comum). Crime propriamente militar por se tratar de in- A diferença entre a modalidade de deserçao expressa nos incs. I a IH do art.
fraçao penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar
188 e a do art. 187 en de que, na prirneira, como dissemos anterionnente, o crime
Objetividade jurIdica - Tal como acontece na desercao do art. se consuma corn a não apresentacao no prazo de graca, contado da data em que
187, o objeto da tutela penal é o serviço militar diante da conduta do militar cessou o afastamento autorizado, No art. 187, o militar interrompe a prestacão do
que o abandona, apesar do dever legal de cumpri-lo ate sun desvinculação na servico militar. ausentanclo-se da unidade onde serve. iniciando-se, de imediato, a
forma estabelecida em lei. A nonna penal tern, ainda, cm. vista o interesse da contagem do prazo de graca que antcccde a dcserçiio.
instituiçao castrense em contar corn o efetivo estabelecido em lei, o que não
acontcce, se ficar a critCrio do militar, ausentar-se da corporaçäo, em desacor- Sao os seguintes os afastamentos legalmente autorizados, exprcssos na
do corn o preceito legal que trata da ccssacão do serviço militar. lei: trânsito, fCrias, licenca, agregaçao e cumprirnento de pena. No caso de
declaraçao de estado de sItio ou de guerra, a ausência pode ser ou não lIcita.

4
240
Célio Lobao Direito Penal Militar 241

A enumeração, no entanto, näo é exaustiva: outros afastamentos legais consta do acórdão prolatado na Ap. n 41.050, exisle a lkuça rrgulamcn-
não mencionados na lei penal podem ocorrer, por exemplo, para contrair niip- tar, concedida "diariamente aos que näo estejam de serviço, pain cjlw l)0SSaII1,
cias, por motivo de luto, em missão fora da sede da unidade, dispensa de corn- depois do expediente normal, ausentar-se do navio ou repalIlçnu, tt';'.,essaiido
parecimento a unidade após determinados serviços, alérn de outros. Em todos
antes do início do expediente seguinte...".
eles, após o transcurso do tempo de afastamento autorizado ou de seu cance- Os afastamentos mencionados e outros constantes (IC repiilniiwulo, in•
lamento, se o militar permanece ausente por tempo superior a oito dias, será trução OU os concedidos pelo superior hierárquico, na qualidatk dr lIlielltC
considerado desertor, o que demonstra a dispensabilidade do dispositivo ora da organizacão militar, cuja estrutura e funcionamento difcrciii tin i:iiltçau
comentado. Nessas hipótese, incide o art. 187, embora nAo haja difercnça, pois péblica civil, em razão das condiçoes de serviço, revestem-se de Ic:iI lali r u
a sancão cominacla é a mesma do art. 188. não comparecirnento do militar, após haver cessado o perIodo tie iiit In
Trnsito é o lapso de tempo concedido ao militar, para se desiocar da autorizada, enseja a contagem do prazo de graca.
unidade em que serve para outra onde iri servir. Férias é o afastamento do No afastarnento por motivo de trnsito, fCrias, licenca, agrcgacao, tilill
serviço concedido ao militar, para descanso, apOs urn ano de exercIcio nas pnmento de pena (inc. I a 111), o prazo de graca tern seu tcrmo inicial a zvw
funçoes do cargo militar. Licença consiste na "autorizaçao para afastarnento hora do dia seguinte àquele em quc se exaure o afastamento legalmenic auto
total do scrviço, em caráter ternporirio, concedida ao militar, ohcdecidas as rizado e o termo final as vinte e quatro horas do oitavo dia. Por exeniplo, u
disposiçoes legais e rcgulainentares" (art. 67 do Estatuto dos Militares). As afastarnento legal tern seu tCnhlino no dia 04, o prazo de graca inicia-se it zero
licenças são: especial; para tratar de inieressc particular; para trataniento da hora do dia 05 e tcrmina as 24 horas do dia 12, consurnando-se a deserção no
saüde de pessoa da famulia e da própria saiide. momento irnediato após zero hora dia 13.
A agregaçao, nos casos previstos no Estatuto dos Militares. "é a situa- Declarado o estado de sItio ou de gucrra, cessa o afastamento legal e, se
ção na qual o militar da ativa deixa de ocupar vaga na escala hierrquica de o militar encontra-se ausente ilegalmente, os dias de ausência são despreza-
scu Corpo, Quadro, Arma ou Servico, nela perrnanccendo sern niirnero" (art. dos, iniciando-se, num caso ou noutro, a contagem do prazo de graca no dia
80 do Estatuto dos Militares) e cessa pela reversão, que "é o ato pelo qual o seguinte a declaração do estado de sItio ou de guerra. Repetindo o exemplo
militar agregado retorna ao respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, tao supra, declarado o estado de sitio ou de guerra no dia 04, nesse dia cessa o
logo cesse o motivo que determinou sun agregação" (art. 86 do Estatuto dos afastamento legairnente autorizado, iniciando-se a zero hora do dia 05 a con-
Militares). tagem do prazo de graça, desprezando-se os dias de ausência anteriores, no
afastarnento ilIcito. 0 termo final do prazo de graca e as 24 horas do dia 12,
As licencas especial e para tratar de interesse particular podem ser inter-
consumando-se a desercão no momento iinediato após zero hora do dia 13.
rompidas, no caso de mobilizaçao, de estado de guerra, de decretaçao de esta-
Na deserção definida no art. 188, o nücleo do tipo C deixar de apresen-
do de sItio ou de defesa, para cumprirnento de pena rcstritiva de liberdade,
tar-se, depois de decorridos oito dias a contar da data em que cessou a ausên-
para cumpnmento de punição disciplinar, para responder a processo criminal
cia legalmente autorizada ou a partir da declaração do estado de sftio, de defe-
ou se for indiciado em inquérito policial militar (art.70 do Estatuto dos Milita-
res). sa ou de guerra.
E oportuno lembrar que pode ocorrer dificuldade na apresentacão do
Corn exceção da licença para tratarnento da própria satide. que cessa ausente, em decorrência de dcficiência de meios de transporte, em razão de
corn a Iiberaçao pelo serviço medico, as deniais podem, ainda, ser interrompi-
moléstia, do inundacão ou outro fator igualmente relevante. Nessa hipótese,
das a pcdido do militar. 0 cumprirnento de pena, referido no inciso III, resuita nao ha desercäo, se o militar, logo que for possIvei, comunicar o impedimento
de condenaçao imposta pela Justiça Militar ou pela Justiça comum. a seu superior, ou se apresentar em outra unidade da mesma ou de outra Anna,
As ausências não mencionadas no Código, rnas previstas no Estatuto ou perantc qualquer autoridade civil, inclusive policial, a fun de que seja pro-
dos Militares, são as seguintes, corn a respcctiva duraçao: nüpcias, 8 dias; luto. videnciada a dcvida cornunicação.
8 dias; instalação, ate 10 dias; trãnsito, ate 30 dias, quc podem ser prorroga-
dos, excepcionalmente, pela autoridade militar cornpetente. Na Marinha, conio
DJde 07.06.76, p. 4116.

f
242 Célio Lobâo Direito Penal Militar 243

No caso de local em que o militar deve permanecer em servico, se não é Não se trata de mais uma modalidade de deserçio c sun (Ic tiutra figura
exigida a apresentacio pessoal a unidade a qual se encontra vinculado, ao delituosa, como acontece na iegislaci'io francesa, onde vein IncvIti ti crime de
término do afastarnento autorizado, basta a comunicacão do retomo por qual- mutilação voluntdria, no art. 418 do Código de Justiça Militai, ctit%i a rcdação
quer meio de comunicaçio. A falta de comunicação importa na ausência ilIcita dada pela Lei n2 92-1336, de 16 de dezembro de 1992, que citiroti ciii vigor a
e inIcio de contagem do prazo de graça. 11 de marco de 1994: "Tout militaire convaincu de s'êtrc rendu vuuitlaircincul
Elemento Subjetivo - A vontade livre e consciente do militar de impropre au service, soit d'une manière temporaire, Soil d'uiic tiiaiii'rc
perrnanecer ausente, por tempo superior a oito dias, apos haver cessado o mo- perrnancnte, dans le but de se soustraite a ses obligations iiiiliiiircs, esi
tivo do afastamento legalmente autorizado ou da declaraçäo do estado de SItio puni...,,
ou de guerra. Jl no Codigo Penal Militar da Alemanlia de 1872, revisto cm
Consumação e Tentativa - Consuma-se a deserção corn o sim- constava o crime de auto-mutilaçao e sirnulaçao de defeitos ffsicos, que cull
pies decorrer do tempo, no momento imediatarnente após zero hora do nono sistia cm se fazer "incapaz, OU se deixar, por outrern, inva1idar". 4 No (tligu
dia de ausência, contados da data em que cessou o motivo do afastamento Penal Militar italiano, o delito vern contemplado em capliulo autônomo, liii
legal ou da deciaracão do estado de sItio ou de guerra. A tentativa é juridica- granclo o TItulo II que trata dos crime contra o serviço militar. Precisamneitte
mente impossivel: ou o agente deixa de aprcscntar-se e consuma-se o crime, no CapItulo IV: "l)ella mutilazione e della simuiazione d'infermità" (arts. 157
ou apresenta-se. mesmo sob coaçäo, e incxiste deserção. a 163).
Suspensão Condicionai da Pena - C) condenado peio crime de A mutilação voiuntiria nio era prevista no Código Penal da Armada;
deserçao após ausência autorizada näo tem direito ao benefIcro da SuSpensao vejo do Codigo italiano, rnas os autores do diploma penal castrense de 1944 e
condicional da pena, como dispöern o art. 88, 11, a, do CPM e art. 617. 11, a, do do atual, como virnos, tomaram carninho diverso, colocando-a no elenco dos
CPPM. 0 art. 270, § ünico, b, do CPPM, ao mencionar especificamente o art. crimes de deserção. Essa deformidade não passou scm crIticas, contestadas
187, autoriza a concessao da liberdade provisOria ao indiciado ou acusado por SIlvio Martins Teixeira, urn dos autores do C6digo de 1944: "hrI desercao
pelo crime de desercão irnprópria (art. 188). embora vede a concessio dessc porque existe a recusa em prestar o servico militar, depois de se achar incorpo-
bcnefIcio ao agente do delito da deserçao do art. 187. DifIcil explicar 0 rnotivo rado".35
da desigualdade de tratamento, pois ambos são desercao. Certamente o autor tinha em mente o art. 159 do Codigo italiano, que
Legislação Anterior - Art. 14 dos Artigos de Guerra; art. 117, 1, clege como crime o fato de o militar, por meio de simulação de enfennidade,
21 e 61 do CPA; art. 164 do CPM de 1944. subtrair-se ao serviço militar, quando, na realidade, o inciso IV do art. 188 tern
sua origem no art. 157 do diploma citado, corn a ementa seguinte: "Procurata
III
CAPiTULO
inferrnità a fine di sottrarsi permanentemente all'obligo del servizio militare".
Ocorre que, na deserção, a prestacão do serviço militar é interrompida
Criar ou Simular Incapacidade
temporariamente, ate a apresentacão esponthnea ou coercitiva do militar, e no
delito de criar ou simular incapacidade, o agente passa a situação de inativida-
Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que: de, corn exclusão do servico militar ativo, subtraindo-se, pennanentemente,
IV - consegue exclusao do serviço ativo ou siluação de "all'obligo del servizio militare". Alérn do mais, os elernentos subjetivos dos
inatividade, criando 011 simulando incapacidade. tipos são diversos: no prirneiro, a vontade onentada no sentido de interrornper
a prestacao do scrviço militar; no segundo, a de obter excluso definitiva dos
Consideraçöes Gerais -o lc.gislaclor equiparou a desercao o into quadros da instituiço niihtar.
de 0 militar conseguir exclusao do SCrviçO ativo ou situação de inatividade. Crime Militar - Classifica-se como crime militar, em dceorrcncia
criando ou sirnulando incapacidade. Essa conduta ilIcita era conhecida em do disposto no inciso I, 2 pane, do art. 9c do Cddigo Penal Militar (crime no
Rorna, durante o dcclInio do lmpdrio, quando os pais cortavam o polegar dos
filhos, incapacitando-os para os combates corn as arnias da época, espada, Raul Machado, Cod, Pen. Mi!. daAlernanha, tradução.
lança, escudo, etc. 5 SiIvioTeixeira, Novo COd. Pen. Mi!., p.318.
244 Cello Lobão Direito Penal Militar 245

previsto na lei penal comum). Crime propriamente militar por se tratar de in- Merece citaçäo o decidido pelo Tribunal Militar de Cassacão de Paris, em
fracao penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar. 12 de abni de 1945, confirmando sentenca condenatOria, pelo crime de mutilr.ção
Objetividade JurIdica - 0 objeto da tutela penal é o serviço mi- voluntária de militar que permaneceu em greve de fome durante quinze dias,
litar, diante da conduta do militar, que obtém, fraudulentamente, a exclusäo do resultando em sua internacäo no Hospital MarItimo de Rochefort.357 No Direito
serviço ativo. 0 preceito penal tern ainda em vista o relevante interesse da brasileiro, a incidCncia do inciso IV ocone se da greve de fonie resultar molCstia
administração castrense de contar corn a integridade de scu efetivo e de que a que incapacite 0 militar para o servico ativo.
exclusão do serviço ativo somente se proceda mediante observância dos dis- Eleniento Subjetivo - A vontade orientada no sentido de criar ou
positivos legais pertinentes. simular incapacidade, presente o fim de obter exclusão do scrvico ativo ou
Segundo Manzini o objeto da tutela penal é o interesse pdblico-militar situacão de inatividade.
de impedir que o cidadão válido e em serviço militar se subtraia da obrigacão Consumação e Tentativa - Consuma-se o delito no rnomenlo cm
militar, mediante mutilação ou sirnulacao de causa patológica, que o torna que a incapacidade simulada ou criada alcanca sua finalidade, a cxclusao do
incapaz para o servico rnilitar.356 serviço ativo on a situação de inatividade.
Elernentos Objetivos - A conduta incriminada C criar ou simular Diverso da descrciio, o crime é instantâneo e não permanente-, a coristi-
incapacidade, corn o firn de conseguir cxclusão do serviço ativo ou de passar macan nan se protrai no tempo. Ensina Darnisio de Jesus:
para a inatividade.
A exclusão do servico ativo refere-se ao cidadão que presta scrviço mi- crime permanente se caracteriza pela circunstância de a consuma-
litar tcmporario, enquanto passar a inatividade refere-se ao militar que presta çäo poder cessar por vontade do agente. A situacao antijuridica perdura ate
quando queira o sujeito, explica José Frederico Marques'.358
servico em caráter permanente. No entanto, hi caso em que o militar temporá-
rio passa a condiçao de inatividade. A distinco carece de relcvância juridico-
No crime de criar ou siniular incapacidade, a consumaçao ocorre no
penal, pois o que importa é o fato de o militar ser excluIdo do serviço ativo,
momcnto em que o agente alcança a meta optata, ou seja, a exclusao do servi-
mediante a fraude descrita na norma penal.
ço ativo ou situação de inatividade. A continuidadc dessa situacao constitui
Como se ye, na espécie, o legislador acrcscenta a descrição tIpica o fim
de agir ilicitarnentc, que é a exclusäo do serviço ativo ou situaçao de inativi- proveitc) do crime, da mesma forma Corno o indivIduo que, através de simula-
dade. São elernentos subjetivos, cuja ausência cnseja a atipicidade do fato, ção de incapacidade, logra rcceber pensão mensal de pretenso agrcssor.
como informa Damásio de Jesus. Sc o agente arrependido confessa a ilicitude, ou se a fraude C descoberta
Duas são as condutas contempladas no dispositivo penal, a de criar e a posteriormente ao ato de exclusão, independentemente do tempo decorrido, a
de simular. consumação já se completou no momdnto da exclusão do servico ativo, sendo
Na primeira, o agente, por qualcuer meio empregado, torna-se incapaz irrelevante o retorno do agente para as fileiras da unidade militar.
para o serviço ativo. Pode ser a rnutilacão de parte do corpo, criar deficiência A tentativa C juridicamente possIvel na simulaçao de incapacidade,
ternporária ou definitiva de membro, de órgão, de rntisculo, da ossatura, a quando o militar não conse'gue a exclusão do serviço ativo, por motivos alhei-
ingestão de substância que ocasione dano a saUde, irreversIvel ou nao, incapa- os a sua vontade. Por exemplo, a junta médica constata a fraude, antes de con-
citando o agente para o servico militar. siderar o agente incapaz para o serviço ativo.
Na segunda, existe apenas sirnulação. 0 sujeito ativo permanece hIgido, Consurna-se o delito de criar incapacidade se, apesar de descoberta a
mas apresenta quadro patológico de incapacidade sirnulada, obtida por inges- fraude no exarne de saCde, o militar não tern condiçoes fIsicas de pernianecer
tao, absorcao, de suhstncia ou outro meio qualquer, levando a junta rnédica a no serviço ativo, decorrente do ato ilIcito. Nessa hipótese, a tcntativa é possi-
cons iderá-lo incapaz para o serviço ativo. 'el se a incapacidade não exclui o agcnte do serviço ativo.
A exclusão deve ser definitiva. Caso a junta mCdica entenda que a inca- Processo Penal Militar. Procedimento Preparatório - Apesar
pacidade é temporana, negando a exclusão do serviço ativo ou a inatividade, de o Cddigo haver equiparado a mutilaçao voluntaria a desercâo, nan ha la-
podera configurar-se ou tro delito.
Répert. Method. Jurisp. Miht., p. 284.
Mazini, Dir. Pen. Milit., p. 265. ° Damésio de Jesus, Dir. Pen., v. 1, p. 182.
246 Cello Lobão Direito Penal Militar 247

vratura de termo de deserção, como recomenda o art. 451 do Codigo de Pro- corn o mesmo thimero de dias. Como virnos, o primeiro tern seu termo inicial
cesso Penal Militar, mesmo que tenha decorrido algurn tempo, após a exclusäo no dia seguinte aquele em que se cornprova a ausência do desertor, enquanto o
do militar. segundo inicia sua contagem a partir do dia seguinte ao da consurnação da
Instaura-se o inquérito policial militar para apuracão dos fatos, corn deserçao.
realizacao de perIcia, prosseguindo-se corn a coiheita de elementos sufici- Para meihor compreensão, adotarnos o mesmo exemplo utilizado na de-
entes para propositura da acao penal, se for o caso. sercão: o militar ausentou-se no dia 4; prazo de graça iniciado no dia 5; termo
Não se trata de crime permanente, que autoriza a prisão em flagrante do final do prazo de graça, as 24 horas do dia 12; deserçao consumada logo após
sujeito ativo. A existência do delito deve ser demonstrada através de inquérito, zero hora do dia 13. 0 prazo de 8 dias para que o desertor se apresente e goze
instruIdo, necessari amen te, corn pericia. do benefIcio da reducao da metade da pena inicia-se no dia 14 e termina a 21.
247. Legislacão Anterior - Art. 164, IV do CPM de 1944. Se não ha apresentacão, prossegue a contagem do prazo ate o 60 dia, conta-
dos dia a dia e não mês a mês, quando se escoa o lapso de tempo concessivo
CAPITULO IV do heneflcio de redução de urn terco da pena.
Atenuante e Agravante Especiais 249. Agravante Especial - A legislacão conteinpla o agravarnento da
pena, de urn tcrco, se a deserção ocorre cm unidade estacionada na fronteira
Art. 189. Nos crimes dos arts. 187 e 188, ns. 1. II e HI. ou em pals estrangeiro.
I - se o agenle se apresenta voluntariamenle dentro em A primeira justifica-se, nao pela necessidade de proteger nosso territó-
rio contra os paises vizinhos, seguindo uma polItica de origern externa que
oito dias após a consumação do crime, a pena é diminu Ida de
irnperou, desde nossa independência e consistia em alimentar a animosidade
metade; e de urn terço, se de mais de oito dias ate sessenla;
entire os palses da Aniérica Latina, evitando uma ação conjunta em defesa dos
II - se a deserçao ocorre em unidade esiacionada em
interesses comuns.
fronteira ou pals estrangeiro, a pena é agravada de urn terco. A agravante decorre da necessidade de maior rigidez na disciplina dos
militares que servem em unidades de fronteira, mantendo-os ern condiçOcs de
248. Atenuante Especial - A lei contempla corn atenuaçao da pena, o reprimir, corn o rigor necessãrio, contrabandistas, traficantes e oulros entomb
fato de o desertor apresentar-se em deterrninado prazo, depois de consurnada a
SOS que atuam na região fronteirica.
deserçao. Corno se ye, a norma ora comentada exclui a rnutilacao voluntária A segunda agravante refere-se a deserçao ocorrida em pals esliatieiro,
(inc. IV, art. 188), o que reforça nossO ponto de vista de que não se trata do impondo-se pela necessidade da segurança da tropa em missimo externa, da
crime de desercao. manutenção da disciplina e da integridade do efetivo acantona(lc) no exterior,
Considerando a relevância do bern jurIdico tutelado - o servico militar bern como o interesse de preservar a imagem das Forcas Armadas, da I'olicia
-, o legislador houve por bern recompensar o sujeito ativo que, após interrom-
Militar e, se for o caso, do Corpo de Bornbeiros, em servico tuna do pals, prin-
per a prestacao do serviço militar numa atitude impensada, arrepende-se e
cipalmente em missão da ONU, como tern ocorrido meeenleineimlc. ra prevista
retorna a unidade onde serve. As atenuaçoes da pena são as seguintes:
como circunsthncia agravante no Codigo Penal da Anmn;ida (art. M. 11 )•
Entende-se como descrcäo em unidade estacoolal 1:1 n:i lionteira 00 pals
I - apresentacao vo1unt6ria dentro de oito dias após a consurnação da
estrangciro. aque]a cometida por militar que serve nminia ((U noutra unidade.
deserção, diminuiço da metade da pena;
independcntc do local em quc o agente lassotl it coiidiçio de desertor. Por
II - apresentacão voluntária após oito dias ate sessenta, dirninuiçäo de
xemplo, militar que serve em unidade esiacionada mm Ironteira ou em pats
urn terco da pena. estrangeiro, viaja para o interior do l3rasil cin gozo de férias e não retorna
A apresentação deve resultar de ato de vontade do desertor e não sob
sua unidade, no prazo de oito dias após o ténumno das fCrias. Consurna-se a
coacao, nem por haver sido capturado. Evidenternente, o prazo de oito dias
dcserçâo na modaliclade agravada do inciso II do art. 189.
constante do inciso 1 acima transcrito não se confunde corn o prazo de graca,
248 Cello Lobäo Direito Penal Militar 249

1
CAPfTULO v 250. Consideraçöes Gerais — Na ementa do artigo consta desercao es-
Deserção Imediata pecial, embora nao atinemos o que de especial existe na figura delituosa.
Adotamos a denominaçâo de desercao imediata, que meihor se ajusta a descri-
Art. 190. Deixar o militar de apresentar-se no momento da çao tIpica, pois a consumacão do delito e imediata, corn a ausência pura e
partida do navio ou aeronave, de que e tripulante, ou da partida simples do militar, no instante da partida ou do deslocamento de sua unidade.
ou do deslocamento da unidade ouforca em que serve: 0 Código italiano, que serviu de modelo para os dois ditimos diplomas
Pena — detençao, ate três meses, se após a partida ou penais militares brasileiro, adota a denominação descrçao imediata (art. 149).
deslocamento, se apresentar, dentro em vinte e quatro horas, Segundo Aristides Monassero, a figura delituosa teve origem no cOdigo penal
autoridade militar do lugar ou, na falta desta, a autoridade po- militar maritirno italiano de 1869, certamente em face da necessidade de re-
prirnir, coni severidade, o militar integrante da tripulaçao do navio de guerra
licial, para ser cornunicada a apresentação a comanclo militar
que nao se apresenta no rnomento da partida.
da regiJo, distrito oil zona.
Uma das modalidades de deserço, no Cddigo Penal da Armada, era
§ I Se a apresentação se der dentro de prazo superior a a de. "scm causa justificada, comunicada incontinenti. näo se achar a hor-
vinle e quatro horas e nao excedente a cinco dias: do, ou no lugar onde sua presença se tome necessria em razo do serviço.
Pena - deiençJo, de dois a oito meses. no momento de partir o navio. ou forca, para viagem ou comissão ordena-
§ 2 Se superior a cinco dias e nJo excedente a dez dias: da". (art. 117, 4).
Pena - derencão, de três meses a urn ano. Crime de niera conduta e penflanente, sujeitando o desertor a priso em
§ 32 Se se trata de oficial, a pena e agravada. fl agrante.
Crime Militar - Classifica-se como crime militar em dccorrência
Lel n2 9.764, de 17.12.98: do disposto no inciso 1, 2 parte, do art. 9 do Cddigo Penal Militar (crime nao
previsto na Ici penal comum). Crime propriamente militar por se Iratar de in-
Art. 12 0 art. 190 do Decreto-Lei n2 1.001. de 21 de outubro de 1969 - fracao penal especffica e funcional do ocupante de cargo militar.
Codigo Penal Militar, passa a vigorar corn a seguintc redaçAo: Objetividade JurIdica —0 objeto da tutela penal é o serviço miii-
"Deserçao especial" tar, ao qual o militar nao pode furtar-se na condição de membro da tripulacao
"Art. 190. Deixar o militar de apresentar-se no momento da partida do do navio ou da aeronave e de integrante da unidade ou forca. Deve ainda ser
navio ou aeronave, de que C tripulante, ou do deslocamento da unidade ou for- considerado o relevante interesse da administraçâo militar de que suas unida-
ça em que serve:" (NR) des, em cumprimento de missäo, contem corn seu efetivo completo. AlCm do
Pena — detenção, ate três meses, se apds a partida ou deslocamento se mais, a lei protege a disciplina castrense diantc da conduta omissiva do agen-
apresentar, dentro de vinte e quatro horas, a autoridade militar do lugar, ou, na
te, em deixar de cumprir os devcres impostos pelo exercIcio do cargo militar.
falta desta, a autoridade policial, para ser comunicada a apresentacao ao CC-
mando militar competente". (NR) Sujeitos do Delito — Sujeito ativo, somente o militar. Sujeito pas-
sivo, as instituicöes militares.
(...)
§ 2 Se superior a cinco dias e não excedente a oito dias:" (NR) Elementos Objetivos - A conduta incriminada C deixar de apre-
( ... ) sentar-se no momento da partida do navio ou cia aeronave ou da partida on do
§ 2 A Se superior a oito dias: deslocamento da unidade oii força em que serve o agente. 0 militar deve en-
Pena — detcnção, de seis rneses a dois anos'. contrar-se pronto para seguir corn a unidade a qual está inr.egrado, aprescntari-
do-se no local e hora cstahelccidos para a partida on deslocamento, caso con-
"Aumento de pena" trrio resporde pelo crime do art. 190. Se estiver presente, mas sem farda-
§ 3C A pena C aurnentada de urn terço, se se tratar de sargcnto, subte- mento e accssórios estahelecidos para missäo, impedindo sua partida, respon-
nente ou suboficial, e de metade. se oficial" (NR) (transcriçäo ipsis lizieris: de por outro delito (p. cx., insubordinaço), mas não pela deserço irnediat(l.
Didrio Oficial de 18.12.98)
w
250 Cello Lobão Direito Penal Militar 251

dispositivo legal refere-se a tripulante do navio e da aeronave e a mi- A lei distingue partida de navio e aeronave, de partida e deslocamento
litar que serve na unidade ou forca, incluindo-se, dentre este dltimo, o tripu- de unidade e forca, embora scm re!evãiicia quanta It pena cominada. Partida
lante de carro de combate, de velculo Iancador de mfsseis, de transporte de encerra a idéia de dirigir-se para local distante, cahendo ao juiz, no caso con-
tropa, alCm de outros de uso militar. creto, determinar o atendirnento nu nao (lesse elemento fatico da descriçao
crime existe independentemente da vinculaçao permanente ou even- tIpica. Por exemplo, no constitui partida it niovilnentaçao do navio do Arse-
tual do agente a unidade. Pode integrar seu efetivo ou ter sido designado ex- nal de Marinha para a liha do Governador, ou do aviao que segue do Aero-
clusivamente para a viagem ou para o deslocamento, prestando servico de porto do Galeão para a Base Aérea de Santa Cruz, no do Fstado do Rio. Dife-
outra espécie, que näo o de natureza militar, por exemplo, encanegado da rente será se o destino for Santos, Cumbica, Recife, etc.
a1imentaç5o, da manutdnção e abastecimento de veIculos militares, etc. Tratando-se de unidade ou forca diferente de navio on aviao, a preccito
Em qualquer circunstância, indispensável o conhecimento do dia, da legal refcre-se a partida ou deslocamento. Partida, coma licon (lila, encerra a
hora e do local da partida ou do deslocamento e no caso da vinculaçao even- idéia de dirigir-se a local distante, d ir crnbora, enquanto deslocamento é reti-
tual, da designação pela autoridade competente, caso contririo inexistiri o rar-se do local em que se encontra para urn sItio mais ou mcnos alastado. 0
delito. deslocarnento da unidade ou forca, da avenida Brasil para a liha do Governa-
Decidiu o Superior Tribunal Militar que pratica o crime de deserço dor, ou da Base Aérea de Santa Cruz para Niterói atende ao requisito legal.
(art. 187) e no o de desercao imediata (art. 190), o militar que se encontra Navio vem definido no Codigo Penal castrense corno toda enibarcaçio
ausente, sern autorizaçäo, no momento da partida do navio do qual era tripu- sob comando militar (art. 72, § 32, do CPM), o que inclui as de pequeno l)orle,
lante.39 Portanto, flOS termos do acórdão, quando da partida, o agente jS se corno a lancha, inclusive aquela sob adrninistraçäo da PolIcia Militar ou do
encontrava na condiçao de ausente, afastado ilegalmente da unidade, no que Corpo de Bombeiros.
resulta na incidência do art. 187 e no do art. 190. Corn efeito, o que caracteri- A lei menciona aeronave, que compreende avião, planador, baMo.
za a modalidade da deserçao imediata, como acontece corn o art. 188, é a Ic- Corno unidade entende-se a corporaciio militar, de grande, media ou pequeno
galidade do afastamento, antes de passar a condiçao de desertor ou de ausente, porte. 0 batalhão, a esquadrilha de aviocs de combate, a navio de guerra, urn
respectivarnente. conjunto de carros de combate, a companhia, säo unidades militares e também
se ajustarn no conceito de forca, enquanto a patrulha constitui-se em uma for-
Se o militar se retira de sua unidade, sem autorizaçio, no mesmo dia da
ça. Enfini, a distinçäo não tern grande importância. Para configuração do de-
partida ou deslocamento, o crime é de deserçäo imediata, mas se a ausência
lito e indiferente que se trate de unidade ou de forca.
ocorre no dia anterior ao da partida ou deslocamento, quando o militar já pas-
sou a condiço de ausente, incide o art. 187, sem, no entanto, esquecer o ele- Elemento Subjetivo - 0 elernento subjetivo é a vontade Iivre e
mento subjetivo do tipo, isto e, a vontade orientada no sentido de näo partir ou consciente de no se apresentar no momento da partida do navio ou da aero-
nave, do qual é tripulante, ou a de nao se apresentar no momento da partida ou
não se deslocar corn a unidade. E born lembrar que a desercao imediata tanto
do deslocamento da unidade ou forca em que serve.
pode ocorrer no inIcio da viagem, quanto em paradas intermedith-ias.
Consumacão e Tentativa - Consuma-se o delito corn a ausência
0 desconhecimento da movimentação carece de relevância, se o militar
do sujeito ativo no momento da partida do navio ou da aeronave ou da partida
estava obrigado a permanecer na unidade, em serviço ou não. Se o desconhe-
ou deslocamento da unidade ou forca.
cimento decorre de ausência autorizada, inexiste crime.
A tentativa é juridicamente impassIve!: ou o militar não se apresenta no
Não comete a delito de deserçao imediata, a militar faltoso que viaja na
momento da partida ou do deslocamento e a crime se consuma, ou, aprescn-
qualidade de passageiro ou no desempenho de rnissão diversa daquela da uni-
tando-se, rnesmo contra sua vontade. por exemplo, carregado por seus compa-
dade corn a qual se desloca e a qual no esti integrado. Esta iiltirna hipótese
nheiros ou sob coaco do superior, o delito deixa de consurnar-se.
pode configurar-se crime de descumprimento de missäo (art. 196), de insu-
bordinaçao (art. 163). Atenuantes e Agravante Especial - Tal coino acontece corn a de-
sercäo do art. 187 e a do art. 188, incs. I a III, na desercäo imediata a legisla-
dor estabelece gradaco da pena, acenando corn sanço menos grave, no mili-
Ap. n2 41.006, de 25.11.75. tar faltoso que se arrepende e retoma ou se apresenta a outra autondade militar
252 Celia Lobào Direito Penal Militar 253

ou civil a fim de que seja comunicada sua vontade de reintegrar-se a sua uni- "Inegavelmente, a caso revela lacuna legislativa e esta não enseja a
dade. aplicação analOgica de outro preceito em detrimento do acusado. Não discuti-
Os benefIcios são mais amplos do que os concedidos as outras modali- mos a objeto, em si, do art. 190, ou seja, a preservacão do bern jurIdico, que C
0 serviço militar. 0 que somos forçados a reconhecer C que a ordem jurIdica
dades de deserção, o que sejustifica, se considerarmos que na deserçao imediata pertinente a espCcie não contempla, para a ausência de apresentacão no pra-
nao ha prazo de graça. zo assinado e dilação superior a dez dias, qualquer pena".
Não está prevista a hipótese em que ocorre o retorno sob coacäo, sob
prisão, contra a vontade do desertor. Seguindo a orientação do Supremo Tri- Parece-nos que a orientação correta é do acórdäo da Corte Suprema.
bunal Federal, expressa no HC n2 70.440, o desertor fica isento de pena. Vol- Como afirma a Relator, ocorreu lacuna legislativa, coma, alias, acontece
taremos ao tema mais adiante. quando o desertor retorna a unidade sob coacao, inclusive sob prisão, par-
Se o desertor se apresenta ate 24 horas depois da partida ou do deslo- quanto o preceito legal näo indica, igualmente, a sancao cominada.
camento, a pena varia de trinta dias (art. 58 do CPM) a três meses de deten- Poder-se-ia alegar que a norma expressa no art. 190 é especial em rela-
ção. Se a apresentacao ocone após 24 horas e não excede cinco dias, a pena é ção a norma geral do art. 187. Entrelanto, segundo Basileu Garcia corn apoio
de dois a oito meses de detcnçio (§ l); se superior a cinco e no excede a dez em Grispigni, "duas disposiçöes Sc acliam em relacäo de geral para especial,
dias, a sancão passa para três meses a urn ano de detenção (§ 22). quando Os requisitos do tipo geral cs15o contidos todos no especial".36° Ora, as
A apresentaçao pode efetivar-se pci-ante qualquer autoridade militar, da elernentos tIpicos do art. 187 (auscntar-se o militar da unidade em que Serve ... )
mesma ou de outra Arma, e, na falta. a autoridade policial do local onde se não cstão contidos na descrição tIpica do art. 190 (deixar o militar de apre-
consumou a desercao ou onde se encontra o desertor. Os motivos decrrninan- sentar-se no momento da partida . ..). Portanto, não hA norma especial, em rela-
tes da concessão do bcncfIcio autorizam a amphacao da forma pcla qual o ção a norma geral e sim duas modalidades distintas de deserção.
desertor manifesta sua vontade de retornar a unidade. Dessa forma, embora a A deserção se consuma no instante da partida ou do deslocamento;
lei nao especifique, na falta de autoridade policial ou militar C válida a apre- logo, a partir desse momento inicia-se a contagem do prazo de 24 horas, con-
sentação perante outra qualquer autoridade civil, por exemplo, prefeiro, juiz, tados hora a hora, para que se ef'ctive a apresentacão do desertor e este obte-
promotor, agente da receita estadual, servidor pilblico federal ou estadual, etc. nha a reduçao da pena. Par exemplo, se a partida ou o deslocamento ocorreu
A autoridade militar ou civil comunicará a quern de direito, infonnando dia e as 9 horas da manhã, moniento cse em que se consuma a deserção, o militar
hora da apresentaçäo. tern ate as 9 horas da man115 do dia seguinte para apresentar-se e obter a redu-
Ao estabelecer a gradação da pena, o art. 190 näo indica, expressamen- ção da pena.
te, a sancão cominada ao desertor que se apresenta ou é capturado após o Os prazos dos §§ i c 2, no cntanto, são contados dia a dia, iniciando-se a
dia (§ 2), contados da data da consumacão da deserçao. 0 Superior Tribunal zero hora do dia seguinte ao da pail ida ou do deslocamento. Por exemplo, a parti-
Militar, anteriormente, aplicava as penas do art. 187 (seis meses a dois anos), da ocorreu as 9 horas (as 12, 16, 20, ou outra hora qualquer) do dia 5, o segundo
conforme consta da Sümula n2 1 (desciassifica-se para o art. 187, do Codigo prazo (5 dias) é contado dia a dia, iniciando-se a zero hora do dia 6 e chegando a
Penal Militar, a desercao especial prevista no art. 190, do mesmo diploma seu termo final as 24 horas do dia ID. Permanecendo ausente o desertor, a prazo
legal, quando o infrator se apresenta ou C capturado depois de decorridos mais de 10 dias continua a fluir, findando-se as 24 horas do dia 15. Como se ye, as
de dez dias da pratica do ato delituoso, não se configurando afronta ao art. prazos de 5 e de 10 dias sao contados a partir da desercao, desprezando-se o dia
437, a, do Codigo de Processo Penal Militar). do inicio (o dia da deserçao) c incluindo-se o tiltimo dia.
Posteriormente, o Superior Tribunal Militar voltou atrás, absolvendo o 258. A Lei n2 9.764, de 18.12.98 - Os originais deste livro já estavam
réu pela incxistência de pena coniinada para o delito, certarnente em deconên- prontos quando entrou em vigor a Lci n2 9.764, de 18 de dezembro de 1998.
cia da decisão unânirne da 2 Turma do Supremo Tribunal Federal, proferida Na redacao do dispositivo penal loi seguida a orientação da Lei Complementar
no HC n2 70.440-9, de 28 de agosto de 1993 (Emcntário 1.730). que absol- n2 95, de 26 de fevereiro, editada em decorrência do disposto no parágrafo
veu o desertor porque o art. 190 "não estabelece pena para a hipótese de a énico do art. 56 ("Lei complemcntar disporá sabre elaboração, redacäo, altera-
apresentação tardia ultrapassar o perIodo rnaximo de dez dias".
Afirma o Relator: 360
Basileu Garcia, InstituiçOes, V. I. t. II, p. 508.
254 Cello Lobão Direito Penal Militar 255

ção e consolidaçao das leis") da Constituiçäo casuIstica, minuciosa e deta- "a tipicidade constitul uma garantia liberal; relevante é o papel da descricao
ihista, de 1988. das condutas p univeis para q ue os cidadãos saibarn quais as acoes q ue p0-
dem praticar sem sujeiçao a preceitos sancionadores".3 '
0 art. 12 da referida Lei Complementar, talvez redigido por encarrega-
do de arquivo, sabe-se Ia de onde, que zela para manter intocada a numeração
Acrescenta Nelson Hungria, por sua vez, que a "foiite imnica do Direito
das pastas de seu fichário, dispOe, nas alIneas a e b, do inciso ifi, as seguintes 362
Penal é a norma legal. No ha direito vagando fora da lei.,
"pérolas" de elaboraçao de leis:
Ora, a lei que existe 6 a que foi sancionada e publicada. Segundo ensi-
não poderá ser modificada a numeração dos dispositivos alterados; namento de Pinto Ferreira, "sancäo, é, no sistema constitucioiiil patrio, Urn ato
no acréscimo de dispositivo novos entre preceitos legais em vigor. 6 essencial ao nascimento da lei, que so se efetiva pela sariçio ou pelo veto re-
vedada, mesmo quando recomendávcl, qualqucr renurneraçäo, devendo ser jeitado pelo Poder Legislativo, na forma prevista na Constituição". M'
utilizado o mesmo nümero do dispositivo imediatamente anterior, scguido do Ruy Barbosa. citado pelo mesmo autor, adverte quo "os atos do Poder
letras mai6sculas, em ordem alfabética, tantas quantas forem suficientes para Legislativo, ou do Exccutivo, que criem, cxtiflgafll ou suspendain ohrigacöes
identificar os acréscirnos; ou direitos, para os cidadilos. no tern existCncia legal, senan no niuluenlo dc
6 vedado o aproveitamento do nürncro de dispositivo revogado, de- sua puhlicacio em diante".364 Citando Pietro Virga, acrescenla 0 ifl:siilo Pinto
vendo a lei alterada manter essa indicaçao, seguida da exprcssio "revogado"; Ferreira: "A publicaco 6, destarte, o ato mediante o qual a Ici . leva(ia ac)
I
o dispositivo que sofrer modificaçio de redaco deverá ser identifi- conhccimento de seus destinanIrios. E urn requisito de elcIcia da icc
cado, ao scu final, corn as letras NR maiüsculas, entre par6nteses. A lei que foi sancionada, a lei que tern existncia legal, a lei qtie tern
Verdadeiro primor!!! eficácia e, por isso, a "dcscrico das condutas punIveis" sio as da lei SaUCIO-
nada e publicada, a que se cncontra acirna transcrita. As lacunas ucla existen-
Imaginernos corno ficaria a Parte Geral do COdigo Penal. alterada pela i
tes não podem ser preenchidas pelo artigo revogado, poiS "Iia() ha direito Va-
Lei 7.209/84! Cheia de "revogados" e de NRs, sigla esta que pode servir para
gando fora da lei", e do "ponto de vista de sua apiicacio pcl jujz, pode ines-
identificar "nota da redaçao", "nota do rodapé", "não revisto", "no registra-
mo dizer-se que a lei penal não tern lacunas. Se estas existem ... so unia lei
do", "näo redigido", e não sei o que mais. A lei penal "ao descrever o delito,
penal (sem efeito retroativo) pode preenchê-las".
dove restringir-se a uma definico meramente objetiva, precisa e pormenoriza- Portanto, em conformidade corn o art. 190, na frma pela qual passou a
da" (Damásio de Jesus, Dir. Pen., 12 vol., p. 251), sem acréscimos de sigia
vigorar, corn a Lei n° 9.764/98, a sanção corn inada a deserço imediata é a
destitulda de qualquer signi ticaçäo, sem o omamento grotesco de tantas aspas
seguinte:
e pontilhados.
1 - e o desertor se apresenta dentro do 24 horas apOs a partida ou des-
Seguindo a "sábia" orientaçao "complementar" foi elaborada a Lei locamento, a pena e de 30 dias (art. 58 do CPM) a 3 meses;
n° 9.764/98, cuja finalidade era suprir a "lacuna legislativa" apontada pela ii - se a apresentaçäoocorre apds 24 horas ate 8 dias, fica isento de
Corte Suprema. Como vim os na transcrição no inIcio deste capItulo, a pena, pela ausCncia do previsão legal;
emenda nao foi meihor do que o texto alterado. Ill - se permanece ausente por tempo superior a oito dias, a sancão co-
Corn efeito, o art. 12, como rnanda a meihor técnica legislativa, em vez minada 6 de 6 moses a 2 anos.
do declarar que o art. 190 passa a vigorar corn tais e tais modificaçoes, declara Na hipOtese do preenchirnento this lacunas do atual art. 190, o prazo de
que o referido dispositivo "passa a vigorar corn a seguinte redação". Portanto, 24 horas e contado hora a hora. 0 de $ dias inicia a zero hora do clia seguinte
O art. 190, corno vinha rcdigido no Cddigo Penal Militar, foi substituIdo pelo ao da desercao, tendo scu lérmi 110 Its 24 horas do oitavo dia. Continuando scm
art. 190 da nova lei, tal corno foi sancionada e publicada no Diário Oficial.
Ocorre que nesse dispositivo não consta o § 1°, que, dessa fomm, foi revoga- DamasiodeJesus, Dir. Pen.,v. 1,p. 251.
, 362
do. Assirn também, o § 22 NR (sic) (ausCncia superior a cinco dias e não exce- Comentárcos, v. 1., t. I, p. 13.
363
Cornerctários, V. 3, p. 66.
dente a oito dias) no tern pena corninada. 36
In Pinto Ferreira, Comentários, v. 3, p. 345.
Expoe Damásio de Jesus que Pinto Ferreira, Comentários, V. 3, p. 344.
Nelson 1-lungria, Comenfários, V. 1, t. I, p. 13.
Direito Penal Militar 257
256 Célio Lobão

se apresentar, a partir de zero hora do nono dia chega ao termo final o benefI- previsto na lei penal comum). Crime propriamente militar, por se tratar de
cio concedido, ficando o desertor sujeito a sancão de 6 meses a 2 anos, a infracão penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar.
mesma do art. 187. 263. Objetividade JurIdica - A lei tutela a segurança da unidade cas-
3 do art. 190, em vigor, contempla agravante especial, aumentan- trense, o servico e a disciplina castrenses, diante do perigo decorrente da con-
§
do, de urn terco, a pena do desertor sargento, subtenente ou suboficial e, da duta ilIcita de militares que ajustarn ahandonar, em conjunto, as fileiras da
metade, do desertor oficial. unidade onde prestam serviço militar, ou concretizam 0 propósito que impul-
art. 190, ora revogado, já se ressentia de outra omissão, que näo foi sionou o ajuste.
cogitada pelo malsinado art. 190 em vigor. Trata-se do retorno do desertor 264. Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, sornente 0 militar, por se tratar
mediante prisão ou outra forma contrária a sua vontade. No havia e no ha de crime propriamente militar. 0 civil não figura nem mesmo na qualidade de
previsão, o que não "enseja a ap]icacao analogica de outro preceito em detri- co-autor. Caso participe do ajuste, juntamente corn os militares, 00 os auxilie
mento do acusado", porquanto "a ordem jurIdica pertinente a espécie flaO na deserção, seriS responsabilizado penalmente, se os atos praticados encontra-
contempla, para a ausência de apresentacao", a conduçao coercitiva. rem clefinicao em outro dispositivo da lei penal militar ou da lei penal coniurn.
259. Suspensão Condicional da Pena - 0 condenado pelo crime de Sujeito paSSiVO, as instituiçöes militares.
deserço imediata nan goza do benefIcio da suspensão condicional da pena, 265. Elementos Objetivos - A conduta incriminada d concertar, ajus-
como dispöem os arts. 88, 11, a, do CPM e 617, II, a. do CPPM. tar, a descrçAo em conjunto. 0 concerto significa a conjugação de vontades,
Legislação Anterior - Art. 117, 4, do CPA; art. 165 do CPM de para alcançar o firn expresso na lci, configurando-se no momento da concor-
1944. dncia de dois militares, pelo menos. Os que recusam, embora presentes a
reuniäo ou tendo conhecirnento do fato. rcsponderäo disciplinarrnentc ou por
CAPITULO VI
outro delito que nao o de concerto.
Concerto para Deserção
0 legislador, atento a gravidade do crime e ao perigo a que ficaria ox-
posla a disciplina militar c a própna institUiçaO militar, antecipa-se, elegcndo
Art. 191. Concertarein-se militares para a prática da de-
como crime o ajuste para deserção em conjunto, scm aguardar a concretizacao
serção:
do urn colimado pelos agentes, a deserçao coletiva. 0 carátcr intirnidatório do
I - se a deserçao nao chega a consuinar-se: preceito sancionador inibe, principalmente, o militar convidado ou o parlici-
Pena - detençao, de trés meses a urn ano; pante da reunião, evitando a aceitaçäo da proposta.
11— se consumada a desercão: Como ficou dito, a lei nao exige que os agentes alcancem o fim do con-
Pena - reclusão, de dois a quatro anos. certo, a desercäo, embora esse propósito, essa finalidade, deva estar presente
no acordo; caso contrárip, o fato pennanece estranho a descriçao tipica do
Consideraçoes Gerais - Atento ao perigo a que flea exposta a delito. Portanto, se o ajuste tiver outra finalidade, por exemplo, fugir do quar-
disciplina, a própria segurança da unidade militar, corn a desercao de militares tel para participar de evento festivo, mesmo por tempo superior a oito dias, OS
em conjunto, o legislador ampliou a acao repressiva da lei penal castrense para militares que ultrapassarn o prazo de graça respondern por deserção (art. 187),
alcancar quern participa dos atos preparatorios e dos ajustes para a pratica c näo desercäo mediante concerto.
A sancäo cominada para a descrcao mediante concerto - reclusão ck
coletiva do crime de dcsercao. 0 delito, em sua modalidade simples (apenas
concerto), é de mera conduta, enquanto que o concerto seg uido de desercao é
dois a quatro anos - justifica-se pela gravidade do ilIcito, gravidado essa quo
permanente, o que enseja a prisao em flagrante de quern participou do con-
se apóia na pluralidade do agentes, aginclo em conjunto, o quo ocasiona lesio
certo e chegou as ltimas consequências, desertando.
major ao bern jurIdico tutclado.
Esse delito já era contemplado nos Artigos de Guerra, art. 14: "Todo
aquele que desertar, ou que entrar em conspiracäo de desercao..." Ao mencionar militares, 0 Código não fixou o niimero miflirno do l)Lr11
cipantes; logo é indispensavel que dois militares, pelo merios, part icpoiii th)
Crime Militar - Classifica-se como crime militar em decorrência
do disposto no inciso I, 2 parte, do art. 92 do Codigo Penal Militar (crime não ajuste e da deserção. Caso somente urn deserte, apesar da pluialiddo tic
258 Cello Lobão Direito Penal Militar
W
4
T
259

agentes no concerto, o desertor responde, em concurso, pelo concerto (art. 191, 1) em dois. ApOs a conjugacão de vontade para concertarem a deserçäo coletiva,
e pela desercão simples (art. 187), enquanto que os demais, somente pelo os agentes prosseguem no processo volitivo, agora dirigido para a prética da
4,
concerto. deserção em conjunto, que se efetiva.
0 Código de Justica Militar frances em vigor exige a participacao de Consumacão e Tentativa - Consuma-se o delito de concerto para
mais de dois agentes, como se lê no art. 400: "Est réputee desertion avec desercao no momento em que se forma o consenso, a concordância de dois
complot toute desertion effectuée de concert par plus de deux indiviclus". No militares, pelo menos, para a pratica de desercao em conjunto.
argentino, o niimero é de quatro (art. 725), enquanto que o italiano, onde o 0 concerto seguido de desercao consuma-se no momento em que, após
concerto para desercão no é delito autônomo, e sim circunstncia agravante o ajuste, concretiza-se a deserçao de dois ou mais militares, isto é, no mo-
da deserçao, exige três ou mais militares (art. 150). mento em que a ausência dos militares ultrapassa o prazo de graça (oito dias).
Apreciando a matCria, assirn se pronunciou o Tribunal Militar italiano, Os militares capturados ou que se apresentam antes desse mornento consuma-
em acórdo de 23 de marco de 1948: tivo não cornetern crime de desercao mediante concerto, c sim, apenas, o de
concerto, se dde participaram. Por outro lado, deixa de consurnar-se a deser-
"Laggravante del previo accordo, nel delitto di diserzione non cao mediante concerto se todos os ausentes se apresentam ou são capturados,
presuppone necessariamente una lunga e minuziosa preparazione ma si ou somente urn permanece como desertor.
verifica quando sussiste Ia preventiva concorrenza della votontà di tre o piü A tentativa é juridicarnente impossIvel. Ao concertarern, pactuarem,
personne per I'attuazione collettiva dellidentico fatto dell'abbandono del
servizio, in concorso con la comune coscienza di infrangere, con ii fatto ajustarern, os militares cornetem o crime do inciso 1. Sc näo houver acordo ou
colettivo, lo stesso vincolo della presenza alle armi".367 se os militares desistirem do concerto, não ha crime, nem tentativa. Se apds o
concerto näo logram alcançar a deserção por motivos alheios a sua vontade,
Oportuno registrar que o delito somente se consuma no momento em por exeniplo, por haverern sido capturados antes do prazo de graca, conflgura-se
que os militares ausentcs ultrapassarn o prazo de graca, porque, antes desse somente o crime de concerto (inc. 1).
prazo, não hi como falar em desercao. Dessa fomia, somente incorrem nas Processo Penal Militar. Procedimento no Concerto para De-
penas da descrção mediante concerto OS militares (dois ou mais) que permanc- sercão - 0 procedimento nos crimes (IC concerto para desercao e dcscrção
cern ausentes por tempo superior a oito dias. mediante concerto é ordinário, previsto tios arts. 384 e ss do Codigo de Pro-
Embora participando do concerto, os que se apresentam ou são captura- cesso Penal Militar. No entanto, se houvcr deserção, é indispensável a lavratu-
dos antes de transcorrido o prazo de graca respondem tão-somente pelo con- ra do termo de desercão, que instruirá o inquCrito policial militar.
certo para desercao (art. 191, 1). Na hipdtese de apresentação ou captura de A impossibilidade da adocão do procedimento especial resulta da ne-
todos, menos urn, antes do término do prazo de graça, nao ha deserção medi- cessidade de apuracäo da rcsponsabilidade dos que, desertando ou nAo, path-
ante concerto. 0 que permanece ausente comete crime do desercao (art. 187) e ciparam do crime meio, o concerto, tornando-se, dessa forma, indispensável o
de concerto. procedimento ordinário. Ncssc sent ido decidiu o Superior Tribunal Militar: "o
delito definido no art. 167, 1, do CPM, por ser de forma ordinária, deve ser
I)urante o tempo de nossa judicatura, não tivemos notIcia de desercao
processado e julgado pelos Conseihos que funcionam nas Auditorias" (Ap. n c
mediante concerto, no momento da partida do navio ou aeronave e no mo-
33.167, acórdão de 03.12.62 —0 atligo citado é do CPM de 1944, que cones-
mento da partida ou deslocarnento de unidade OU forca. Entretanto, essa hipó-
ponde ao art. 191, I, do CPM em vigor).
tese näo pode ser descartada. Se tal acontecer, iricide o art. 191, inciso I (con-
Suspensão Condicional da Pena - Dispöem o art. 88, II, a, do
certo para dcsercão), ou inciso 11 (se consumada a desercao).
CPM e o art. 617, 11, a, do CPPM. quc não se aplica a suspensão condicional
266. Elemento Subjetivo - 0 cicrncnto subjetivo é a vontade consci-
da penal ao condenado por crime de desercão. Corno conscq(iCncia, esse bcnc-
ente de dois ou mais rnilitares, orientada no sentido de ajustarern a deserção
fIcio pode ser concedido aos scntcnciados pelo crime de concerto para deser-
coletiva. No concerto seguido de deserção, o elernento subjetivo se desdobra çäo e vedado aos condenados pela dcserção mediante concerto.
Legislação Anterior - Art. 14 dos Artigos de Guerra; art. 167 do
In Saverio Malizia, Cod. Pen. Mi!.. págs. 100-1. CPM de. I944.
260 Cello Lobao Direito Penal Militar 261

CAPITULO VII Finalmente conclui que "o tipo ao descrever a conduta, necessariameti-
Deserção após Evasão ou Fuga te, encerra o elemento subjetivo".37°
Conseqüentemente, o art. 187, ao descrever a conduta, encerra o dc-
Art. 192. Evadir-se o militar do poder da escolta, ou de mento subjetivo, qual seja, a vontade do militar, orientada subjetivarnente no
recinto de derencJo ou de prisão, ou fugir em seguida a prática sentido de modificaço do mundo exterior, qual seja, o de interromper a pres-
de crime para evitar prisão, permanecendo ausente por mais de tacao do serviço militar, näo importando o motivo, se para escapar da prisäo,
oito dias: se para evitar ser preso.
Evidente o engano na afirmativa de que inexiste deserco porque a au-
Pena — deiençao, de seis meses a dois anos.
sência do militar tinha como objetivo tinico interrorn per o sofnmento do casti-
go. Segundo esse raciocInio, n5o lid deserção quando o militar se afasta corn o
271. Consideraçöes Gerais — Trata-se do crime de deserciio que ga-
propósito de livrar-se do rigor dos exercicios fIsicos, da disciplina militar.
nhou autonornia corn o Código Penal Militar de 1944,
porque, na vigência do 0 serviço militar inicia-se corn a incorporaçibo nas fileiras da Forcas
Codigo Penal da Armada, o Supremo Tribunal Federal e a ['rocuradoria-Geral Armadas, da PolIcia Militar ou do Corpo de Bombeiros Militar, e sornente
da Reptiblica eniendiarn inexistir dcscrcao quando o militar fugia da prisio. ternhina nos casos previstos em ici. A efetiva prestaço desse serviço 00 0
0 entao Supremo Tribunal Militar tinha poiito de vista contrSrio, mas efetivo exercfcio das funçöes do cargo militar podem sofrcr interrupçöes pelos
passou a obedecer a orientaço da Cone Suprema, expressa em acórdo profe- motivos expressos em ici (luto, gala, Iicença para tratamento de satide, etc.) ou
rido em 1929: de forma ilegal, mediante ausência ilIcita (desercao), QU decorrente de prisão
disciplinar, de prisibo provistiria decorrente de sentença condenatória.
"A deserção, sem causa justificada, exige, para sua integração, o pro- Ao fugir da prisilo, o militar passa a condição de ausente, e a ausência
pósito, em quem se ausenta, do abandono do serviço militar a que estava le-
gal ou contratualmente obrigado. Tais serviços não presta o detento, enquanto por tempo superior a oito dias opera a transformaqao do ausente em desertor.
durar sua prisao e, assim, 0 seu afastamento do crcere [ ... ] não basta para A internipciio do serviço militar, ate então lIcita em razibo do recolhirncrito a
demonstrar aquela intenção, quando o objetivo ünico de semeihante ato tiver prisão, corn a fuga e consequente ausêiicia, transrnuda-se cm ilIcito adminis-
sido a procura da liberdade para interromper o sofrimento do castigo".368 trativo (disciplinar) c, esgotando-se o prazo de oito dias, assume o carater de
ilIcito penal (desercao), modificação essa do mundo exterior determinada
Outro acórdao de 27 de janeiro de 1927 segue a mesma trilha, em con- subjetivamente pela conduta do agente, cuja vontade se orienta no sentido de
sonância corn o parecer do Procurador-Geral da RepiIblica. escapar da prisäo e, igualmente, de interromper ilicitamente a prestacibo do
Anteriormente, o entAo Supremo Tribunal Militar já havia se pronunciado serviço militar, de abandonar o cargo militar. Sua conduta é opço inseparável
no sentido de que "o fato que Constitui desercão no é a fuga do presidio mi- da vontade consciente de interromper, ilicitarnente, a prestacibo do serviço
litar... e sirn a ausência, e essa ficou abundantemente provada".369 militar, a permanência no exercIcio do cargo militar.
A orientacao correta, scm thivida alguma, era a da Corte castrense, quer 0 Codigo Penal da Armada considerava como desertor o militar que
na época acima citada, quer no atual estagio do Dircito Penal. Vejamos. Ensi- não se apresentasse logo depois "de ter cumprido sentença condcnatória"
na Cernicchiaro que o "tipo, modernamentc, a fim de concretizar a idéia, pre- (art. 117,6).
cisa ser entendido corno expressiio de conduta. Logicamente, conduta na sua Crime de mera conduta e permanente, ensejando a prisão em flagrante
integralidadc". Prosseguindo, esciarece que "conduta é comportamento, C do desertor.
atividade do homem. Corno ser raciocinante, em tudo que faz, manifesta von- 272. Crime Militar - Classifica-se como crime rnilitar, cm decorrência
tade. Orienta subjetivarnente a rnoditicação do mundo exterior. 0 tipo é con- do disposto no inciso I, 2 parte, do art. 9 do Ctidigo Penal Militar (crime não
duta. Conduta, scndo opcao, a inseparável do elemento subjetivo". previsto na lei penal comum). Crime propriamente militar, por se tratar de
infraçibo penal especifica e funcional do ocupante de cargo militar.
368
In Silvio Martins Teixeira, Novo COd. Pen. Mu., p. 323.
In Silvio leixeira, Novo COd. Pen. Mi!., p. 322. 7'70 Luiz Vicente Cernicchiaro, Tipo de Culpabilidade, Jornal do Magistrado, juiho de 1996, n6 37.
262 2.63
Céio Lobão Direito Penal Militar

Objetividade JurIdica - A lei tutela o serviço militar e a discipli- Elemento Subjetivo - 0 elemento subjetivo C a mesrno da dcscr-
na castrense, ambos sujeitos ao perigo que representa a conduta ilIcita do mi- çao, porque, aqui, a delito C igualrnente de deserção; logo, a vontade livrc e
litar que abandona as tileiras da unidade onde presta o serviço militar. A nor- consciente de interromper a efetiva prestaçibo do serviço militar, de abandonar
ma penal tern ainda em vista o interesse da instituição castrense em contar o cargo militar, ausentando-se da unidade onde serve ou do local onde deve
corn o efetivo estabelecido em lei, o que nao acontece se ficar a criteria do permanecer no exercIcio de função militar, além do prazo previsto em lei.
militar ausentar-se da corporação, em desacordo corn o preceito legal que trata Portanto, a militar tern consciência de que, ao evadir-se por qualquer dos ma-
da cessacao do serviço militar. tivos citados e outros não mencionados, e permanecendo ausente por mais de
Sujeitos do Delito - Somente o militar pode ser sujeito ativo. oito dias, pratica a crime de desercão.
Como ficou exposto ao tratannos da deserção, "o juIzo de reprovabilidade é ConsumacãO e Tentativa - Consuma-Se a desercão no momenta
exciusivo a pessoa descrita no tipo", no caso. o militar e somente ele. Sujeito imediatameflte seguinte aquele em que se esgota a prazo de oito dias, sern a
passivo, as instituiçoes militares. apresentacibo cspontânea ou coercitiva do militar fugitivo.
Elernentos Objetivos - A açao incriminada, coma pode parecer a A tentativa C juridicamente impassive1. Se a militar retorna no oltavo
primeira vista, niio é fugir, n5o é evadir-se, e sirn desertar, que consiste em dia, voluntariarnetlte ou coercitivameilte, por bayer sido capturado ou por on-
perrnanecer ausente por tempo superior a oito dias. contados do dia seguinte iso motivo qualquer, inexiste deserção; ou nOo se apreseflta, e se conSurn011 a
àquele em que ocorre a fuga. Realmente, se antes do decurso desse prazo (pra- deserção.
zo de graça) o militar regressa por vontade própria on coercitivamente não h Libcrdade Provisória e Suspensão Condicional da Pena - 0 in-
crime de deserção. diciado ou acusado por crime de deserção após evasão on fuga não tern direito
Pelo descrito no dispositivo penal, o militar, ao evadir-se, encontra-se ao benefIcio da liberdade provisória, segundo a disposto no art. 270, paragrafo
nas circunstncias seguintes: sob detenção, sob prisão provisória ou definitiva, menciona expressamente o art. 192. Não entendernoS
Cnico, h, do CPPM, CIUC
em poder de escolta, após a prática de crime. A detencao referida C aquela porque a distinção da lei processual penal castrense, vedando a concessibo
irnposta disciplinarmente. Em poder de escolta ou recoihido a prisOo, pressu- desse benefIcio nos crimes dos arts. 187 e 192, enquanto que o mantCrn para
poe a condiçäo de preso disciplinarmente, por decisOo judicial, por determina- as modalidades de desercão dos arts. 188 e 191, II, esta Citirna de rnaior gravi-
cão da autoridade militar no crime propriarnente militar (art. 52, LXI, da dade.
Constituiçao). Finalmente, após a prática de crime, o agente foge para furtar-se Nos termos do art. 88, II, a, do CPM e art. 617, 11, a, do CPPM, não se
da açOo da autoridade militar ou civil. A prisao judicial decorre de prisão pro- suspende condicionalmente a pena ao condenado pelo crime de deserção após
visória ou de sentença condenatOria imposta pela Justiça Militar ou pela Justi- evasão ou fuga.
ça comum. Legislacão Anterior - Art. 117, 62, do CPA; art. 168 do CPM de
E born lembrar que a evasão, corno antecedente da desercao, pode re- 1944.
sultar no crime de fuga de preso, respondendo a militar pela fuga e pela deser-
çao, se este delito se consumar. CAP1TULO VIII
Como acontece na desercao do art. 187, são irrelevantes as motivos de- Favorecimento a Desertor
terminantes da ausência e posterior deserção. 0 que ingressa corno elemento
do tipo e a ausência do militar por tempo superior a oito dias. Art. 193. Dar asilo a desertor, ott toma-lo a seu sertiço,
Em todas as hipóteses relacionadas no art. 192, consurna-se a deserçOo oil properCioflal'-l/le ott facilitar-/he ti'ansporte ou meie c/C
corn a ausência do militar por prazo superior a oito dias, prazo esse que tern ocultaçao. sabendo Oil tendo l'UZa() para saber que co,neteu
como termo inicial a zero hora do dia seguinte àquele em que ficou constatacia qualquer dos crimes previstoS neSte CapItulO.'
a ausência motivada pela evasão ou pela fuga. 0 prazo de graca, coma men- Pena - detenção, de quatro ineses a urn aflo.
cionado nos comentários anteriores, tern seu termo final as 24 horas do
Parágrafo tnico. Se o favorecedor e ascenderite. descen-
oitavo dia, consumando-se a deserção no momento irnediatamente apds a iseflto de pen a.
zero hora do nono dia. c/cute, CofljUgE? 011 irrnão (/0 crinunoso, fica
264 265
Célio Lobo Direito Penal Militar

280. Consideraçoes Gerais - 0 delito d de favorecirnento pessoal, igual- é tornar fácil 'o meio de o desertor se escoiider, se subirair dos autoridades
Indite definido no art. 350 do Codigo Penal Militar: "Auxiliar a subtrair-se a ação militares.
da autoridade autor de crime militar a que é cominada pena de morte ou reclu- Não C exigido que o favorecimento tenha relação dircia coin a atuaciio
são: Pena - detençao, ate seis meses. § l Sc ao crime 6 cominada pena de das autoridades militares para capturar o desertor; a lei se satistaz coin () lavo-
qiR' o
detençäo ou impedimento ou refon-na: Pena - detenção, ate três meses. § 2 Se recimento, puro e simples, nas modalidades expressas no artig).
tat pelos
quem presta o auxilio 6 ascendcnte, descendente, cônjuge ou irmão do crimi- favorecido não esteja sendo procurado, nem seja reconhecido cOIiI()
noso, fica isento da pena". Como a pena corninada a deserçao 6 de detenção, o militares do local oxide se encontra.
favorecirnento a desertor atende ao disposto no § l do art. 350, cuja sancâo C A formula "tendo razão para saber", guarda identidade coin a
do (uII'o
muito mais branda que a do art. 193. "devendo saber", do art. 174, e "dever saber", do art. 130, ambos
Penal. os quais segundo Nelson Hungria, são indicalivoS, o prinieiio, cle tiolo.
Acontece que o Cddigo Penal Militar classifica o tavorecimento pessoal
0 contra-SenSO Cc utnit "I
COmo Cflrne Contra a administração da Justiça Militar C OS dispositivos que poi5 "nao quer significar que o art. 174 admita i ii
v gãN
Iratam desse deliro São inconstitucional, porquc escapa da Competência da cuiposa, e o segundo, da culpa stricto sencu.
do-se aos art;. 180, § P. e 130, alCni de outroS, acresceflta que "clever sticl'
Justiça Castrense a tuicla de Criião do Poder Judici:ino.
ou "clever presurilir' são enunciadores cia culpa em sentido estrito, e prossccn(
Por esse motivo e por se tratar de norma especial. oart. 193 afasta a in- esclarccendo que a expressãO C infeliz e desnecessaria, pois o crone C cnn
cidncia da norma geral (10 art. 350.
nenteniente doloso on. na "operacao que devia saber niinosa, age pclo nienos
Como dissernos no inieio deste TItulo III. 0 tavorecinento a desertor C 72
corn (lolo eventuai"
crime inlpropriamc.nte militar. No entanto, resolvemos estudá-lo juntainente .tesus: "A expressão sabendo indica plena cons-
Esciarece 1)amasio do
corn os crimes propriamentc militares, para nao separã-lo da dcserção. a qual ciência do sujeito ativo do que a operaçao C ruinosa; a expressão 'devendo
Sc refere, evitando dificultat- o estudo da rnatCna cm conjunto.
saber indica dCvida sohrc o proveito da operaçao. Assim. 0 tipo. na riltinia
Enquanto durar 0 asilo, a prcstaçao de servico, a ocultaçao. ou duranic o figura, admite o dolo direto e o eventual. Direto quando o aiente sabe ciuc a
transporte. 0 crime ó permanente, ensejando a prisao em liagraute. operação C ruinOSa eventual quando, em face de determina(ioS fatos, devia
art. 130 do
(:rime Militar - Classjfica-se como crime militar cm lace do (us- saber da possihiliclade de prejuIzo".' No entanto, ao cornentar 0
posto no art. 9, I, 2 parte (crime não previsto na lei penal comurn), se o COdigo Penal, o Inesmo autor, a excrnplo de Nelson Hungria, conlO acentw'I
agente C militar. e art. 9, I, 2 parte, C.C. 0 inciso Ill, a, 2 parte (crime não afirma que o "dub de perigo está na expressão 'sabe que esta
Noronha.
previsto na lei penal cornurn contra a ordern administrativa militar), sendo contarninado'. A culpa se encontra na expressiio deve saber que está contarni-
7.1
civil o agente. Crime impropriarnente militar. nado".3
Objetividade Jurcdica - 0 objeto da tuicla jurIdica 6 o servico FicamoS corn Magalhães Noronha, na prirneira citação. Coin efeito, a
"C infeiiz e desnecessária, pois o crime C
militar a que estão obrigados OS cidadäos brasileiros. Ha interesse da adminis- expresSãO tendo razao para salier
eminentemente doloso". Realinente, o agente realiza os atos descritos na nor-
tração militar de que essa obrigatoriedade constitucional e legal não seja frus- 0
tada pela acão de terceiros, favorecendo os que interrompem ilicitamente a ma penal, tendo consciCncia plena de que OS pratica corn o fim de proteger
desertor. Corno diz Ccrnicchiaro, "o tipo ao descrever a conduta, necessaria-
prestação do serviço militar, qucr temporãrio, quer perrnanente.
monte, encerra o elemento subjetivo". Logo, o sujeito ativo. necessariarnente,
Sujeitos do Delito - Sujcito ativo, o civil ou 0 militar. Sueito pas-
ao dar asilo, tomar a sen scrviço. propOrcionrlr transporte ou nieio de oculta-
Sivo. a administraçao militar. o faz corn o firn especIfico de favorecer
çao, cleve tcr consciencia plcu:t (IC (Ue
Elementos 0betivos - As condutas incriminadas são: dar asilo,
o militar desertor.
tornar a scu serviço. proporcionar ou facilitar transpone ou meio de oculiacão.
Dar asilo C conceder abrigo ao desertor. Toniar a scu serviço illiporta
N. Hurigria. CornentárioS, v. 7, p. 271.
em dar trahaiho, perniane-ntc on tcniporario. proporcoriando mews (IC subsis- 2 Noronha, Dir. Pen., v.2, P. '140-1.
tncia ao desertor. Proporcionar ou facilitar Iransporte siinifica transporiar. Danâstc, Dir. Pen., v.2 p. 469.
Noronha, Dir. Pen. v.2, p. 441.
conseguir, tornar fxicil a locomoção do desertor. Nlcio de ocultação C conceder. Damãsio Dir. Pen., v.2, p. 166.
266 267
Direito Penal Militar __________

Mesmo que o cidado tenha obngaço legal de exigir prova de quitaço soluçio ate que seja atualizada a lei penal castrense, em conformidade corn as
do serviço militar a pessoa que torna a seu serviço, essa circunstância, por si atuais relaçöes de famIlia, algumas jA aceitas pelo COdigo Civil.
so, näo é suficiente para configurar o delito, pela ausência do elernento subje- LegisIaço Anterior - Art. 120, in fine, do CPA; art. 169 do CPM
tivo.
de 1944.
Elemento Subjetivo - Como ficou claro, o delito é punIvel em de-
corrência de dolo. 0 agente tern consciência plena de que favorece o desertor. CAPITULO IX
utilizando OS meios descritos no preceito legal. Omissão de Oficial
Nesse sentido, o comentário de Pierre Hugueney, professor da Faculdade
de Dircito de Dijon, sobre o crime de ocultaçao de desertor, previsto no art. 203 Art. 194. Deixar o oficial de proceder contra desertor, sa-
bendo, OU devendo saber en con Ira r-Se entre OS seas comanda-
do anterior COdigo de Justiça Militar frances e no art. 415, do atual:

"Pour qu'il y ait délit, H faut que le compflce ait agi sciemment, c'est-à-dire dos.
sachant qu'iI avait affaire a un déserteur et dans la pensée de le soustraire aux Pena - de!ençao, de seis ineses a urn ano.
poursuites.376
Considcraçöes Gerais - Crime de fa'orecirnento pessoal. que
Consurnação e Tentativa - 0 momenito COnsuniativo 6 aquele em exigc concliçao especial do sujeito ativo, oficial na função de comandarit.e. o
que o agentc concede o asilo. toma o desertor a seu selviço, proporciona ou que prcssupöe a qualidade de Militar do agente. Da mesma lorma que o delito
facilita 0 transporte ou o meio de oculiaçao. A consurnaçäo protrai-se no tem-
anterior, diante da inconstitucionalidade do art. 350, e por se tratar de norma
po, enquanto durar o asilo, a ocultaçao ou 0 transporte. especial. o art. 194 afasta a inicidência da norma geral expressa no referido
A tentativa nào é juridicamente possIvel. Se não ha favoreciniento por art. 350. Crime de mcra conduta.
motios alheios a vontadc do agente, inexjste crime. Por outro lado, se apesar Crime Militar - Crime propriamente militar, por constituir-se em
do favorecimento, o desertor vem a ser capturado, consumou-se o delito, que infraçao especIfica e funcional da profissao do soldado. Classifica-se corno
prescinde do resultado da protcçao.
delito militar em decorrência do disposto no art. 92 .1 2 parte, (10 CPM (crime
Exclusão de Pena - No parágrafo Onico, vem prevista a causa
não previsto na lei penal comurn).
pessoal de exc]usão de pena, beneficjando o ascendente, descendente; cOnjuge Objetividade JurIdica - A lei tutela a disciplina militar, em face
OU irmo do desertor. Como acontece no COdigo Penal comurn. a lei penal
do perigo a que está sujeita, diante da conduta do comandante, ao deixar de
militar não fixa o grau de parentesco para os ascendentes e descendentes, logo, tomar as providncias cabIveis contra o militar que praticou o crime de deser-
qualquer que seja o grau, atende a exciudente, por exemplo, o avO favorecen-
do o neto. cáo.
Sujeito do Delito - Sujeito ativo, somente o militar, na condicao
Magalhaes Noronha, comernando o § 2g do art. 348 do Cridigo Penal,
especial de oficial no comando de unidade militar. Sujeito passivo, as institui-
afirma que a "enumeraçao do § 22 é taxativa: trata-se de exceçäo a norma esta-
belecida e por 1SSO SO compreende os casos mencionados. Exclui-se, por Con- çoes militares.
Elementos Objetivos - 0 niicleo do tipo é deixar de proceder. 0
seguinte, o parentesco por afinidade ou por adoço".377
que significa deixar de tornar as providCnci(Is indicadas em lei, como a de
Damisio de Jesus, defendendo o porno de vista de Noronha, ofercce
soluçao para OS casos dos aims. (los adotados e, tanibém, da compariheira, prender em tiagrante o desertor que se cncofltra entre seus comandados. Real-
qual seja, 0 da absolviçao "por inexigibilida(le de conduta diversa. excludente mente. tratando-se de desertor. qualquer fl)ilitar, e. principalmente o comandante,
tern o dever legal de prend3-lo, scguiido-se as providências especificadas na
(Ia cu1pahilidade".3 DnI111jsj() de Jesus, Dir. Pcii.. 42 vol., p. 275). Correra a
lei processual penal militar.
0 desertor nao se contunde corn o ausentC, logo. tratando-se desse tilti-
mo. 0 crime pocle ser outro que nao o do art. 194. 0
1-77
Répert. Oroit Crimin. DaIIoz, t. I, p. 711. delito C omissivo: o age.ntc
-78
Magalhäes Noronha, Dir. Pen., v.4, p. 413.
Magalhaes Noronha, Dir. Pen., V.4, p. 413. se ornite, quando deveria agir.

I
268 Direito Penal Militar 269
Célio Lobão

A descriçao tIpica exige condição especial do sujeito ativo, a de oficial Os delitos SO Os seguintes: abandono de posto, de lugar de serviço oi
comandante da unidade que, evidentemente, tern conhecimento de que o de- de serviço (art. 195); descumprimento de missao (art. 196); retcnção de docu-
sertor encontra-se entre seus comandados, corno homiziado, reincorporado mentos (197); ineficiência de forca (art. 198); omissão do comandante para
fraudulentamepte, etc. Como comandante, entende-se o de unidade de pe- evitar danos (art. 199); omissão do comandante no salvarnento dos comanda-
queno e de grande porte. A descriço tIpica näo exige que o favorecido dos (art. 200); ornissão de socorro a navio, aeronaves ou náufragos (art. 201);
pertença ao efetivo da unidade, basta sua presença entre os cornandados do ernhriaguez em serviço (art. 202); donnir em serviço (art. 203). Os delitos dos
sujeito ativo. arts. 198, 199, 200 e 201 dizeni respeito a atuaçäo do comandante, sendo que
Elemento Subjetivo - 0 delito é punido em decorrência de dolo. Os trCs ültimos referem-se a sinistro, envolvendo Os comandados, os bens mi-
exciusivamente; logo, rejeitamos 0 eSClarecirncr)to de SIIvio Teixeira, segundo litares sob sua responsahilidade e terceiros em situaçäo de perigo. 0 comércio
o qual. "por se tratar de omissAo culposa ou dolosa. de urn dever militar, ficou ilIcito (art. 240) constitui crime contra 0 dever militar, não relacionando-se
rcstrita a crirninalidade do ato para 0 oficial'. corn o servico de natureza militar e outros servicoS.
A refcrência a omissão cuiposa deve-se, certamente, a cxpressao dei'en-
Jo sober, que equivale a tendo razao de saber do art. 193. Corno dissemos no CAPITULO XI
conientrio anteor, ao qual 110S reportamos. a expressao dei'endo saber "é Abandono de Posto
iiifeliz e cicsnecessária, pois o crime 6 eminenternente doloso". Rcalmentc. )
agente realiza Os atos descritos na norma penal, icndo consciência plena (IC Art. 195. Aban.donai; seni orclein superior, a posto ott lu-
CIUC Os pratica corn o firn de proteger o desertor. gar de serviço que ihe tenha sido designado, ou a serViço que
Portanto, o elernento subjetivo é a vontade livre e consciente do oficial.
ihe cunipria, antes de terinina-lo:
comandante da unidade, em deixar de tornar providências indicadas na lei. Pena - derençao, de três ineses a urn ano.
contra o desertor que sahe encontrar-se entre seus comandados.
Consumaçao e Tentativa - 0 delito se consuma-se no momento
Consideracöes c;erais - No século passado, na Franca, sob a égi-
em que 0 oficial, tendo conhccimenio da prcsença do desertor, deixa de pren-
de do Código Penal Militar de 1857, decisöes de conseihos de guerra inclina-
dê-lo ou de tomar outras providências cahIvcis. Admite-se o retardamento nas yam-se a interpretar de forma bern restrita a noção de posto, que seria o posto
provclências, diante da düvida, enquanto o agente apura se o militar é real-
de guarda ou posto de polIcia.
mente desertor, ou em face de outras circunstncjas do mornento.
Corn o inIcio da guerra de 1991, houve necessidade de ampliar essa no-
A tentativa é juridicarnente impossIvel; ou o agente toma as providncias
ção, o que se concretizou corn a circular de 10 de agosto de 1915: "convient
cahIvcis, mcsmo scm lograr prender o clesertor, ou deixa de tomá-las, ou, am-
d'entendre dans son sens le plus large le mot poste, qui signifie l'endroit oi Ic
da, as toma de forina inadequada. dolosamente, para evitar a prisao do deser-
militaire doit être present pour l'accomplissement de son devoir ou de son
tor. No primeiro caso, inexiste crime: nos dois ültirnos, concretiza-se a infra-
çao ao art. 194. service".
Finalmente, o Código de 1928 definiu o posto como "l'endroit oü le
LegisJaço Anterior - Art. 170 do CPM de 1944.
militaire s'est rendu ou se trouve, sur l'ordre de ses chefs pour
l'accomplissement de sa rnission". 8° Essa orientaçäo passou a ser seguida,
CAPiTULO X
como se pode ler no art. 468 do atual Código de Justica Militar: "Par poste, ii
Abandono de Posto
e Outros Crimes em Serviço faut entendre l'endroit oi Ic militaire doit se trouver a un moment donné pour
l'accornplissernent de Ia mission reçue de ses chefs". (art. 468). Não difere
Noçôes Gerais - 0 CapItulo H do Código Penal Militar (arts. 195 substancialmente da dcfiniço olerecida por Manzini: "Posto è ii luogo dove ii
a 203) trata de crimes contra o dever militar, relacionados corn serviço de na- militare deve rimancre per l'adcmpimento dcl suo servizio qualunquc questo
tureza militar e outros serviços scm essa caracterIstica, porém necessários para sia (guardia, eec.)".38 '
nlanutençäo c funcionamento da unidade militar (conf. art. 195, in fine).

179
° cont. Pierre Hugueney, in Répert. Droit Crim. DalIoz, t. I. p. B.
SiJvio Teixoira, Novo Cod. Pen. Mi!., p. 325. 381
Mancini, Dir. Pen. Mi!., p. 138.
270 CIio Lobão Direito Penal Militar 271

0 crime de abandono de posto é de mera conduta e instantâneo, coma No anteprojeto do Codigo Penal Militar de 1944 existia dispositivo se-
acentua Mazini: meihante, que foi exciuldo do texto definitivo: "não se considera abandono de
posto a afastamento a distãncia que permita o exercIcio do dever de vigilância
"II reati di abbandono di posto, a differenza della diserzione, hanno
carattere istantaneo, e non permanente, perchè a lesione giuridica si ou o cumpnmento de ordem". Acompanhando a tendência de nossas cortes
esaurisce nel momento in cui il militare abbandona il suo posto", 2 castrenses, cabe ao juiz, no caso concreto, decidir se, apesar do afastamento, 0
militar mantém o local sob vigilncia.
Crime Militar - Classifica-se coma crime militar em decorrêncja Par outro lado, M determinadas situaçOes em que a orentacao supra
do disposto no inciso 1, 2a parte, do art. V do Codigo Penal Militar (crime näo não merece acoihida. Ocorre quando ha necessidade de vigilância rigorosa,
previsto na iei penal comurn). Crime propriarnente militar por se tratar de in- que não dispensa a presenca do militar no posto ou no local designado. E a
fração penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar. caso da vigilncia de depósito de armarnento, de combustIvel, de explosivo,
Objetividade JurIdica - A ici penal militar tutela a dever militar,
etc., quando o afastamento do posto, par mais breve que seja, par menor que
a segurança e a regularidade do funcionamento das instituiçoes militares, diante
seja o lapso de tempo ou o espaco fIsico, impossibilita pronta reacäo contra
do perigo decorrente da ausência do militar. do posto, do lugar de serviço ou
investida de delinquentes. direcionada para esses locais.
da execuço do sei'iço cia qual foi ncumhido.
0 tempo de afastamento do posto ou do local de scrviço tern sido objeto
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, somente a militar, exigida a
de controvérsia. Augier et Le Poittevin citarn circular do Ministro da Guerra
condiço especial de encontrar-se no pasta, no lugar de serviço, ou na execu-
frances, segundo a dual no e possIvcl admitir-se que a retorno mais ou menos
çio de determinado serviço. Sujeito passivo, as instituiçöes militares.
rápido possa assegurar a impunidade do dclinquente.381 Pierre Hugueney, par
Eiementos Objetivos - A açAo incriminada é abandonar, d afastar-
sua vez, afirma que, sob influências das circulares ministeriais, flrmou-se a
Se, definitiva ou temporariaxnente, sem ordem superior, do pasta ou lugar de
convicção de que "I'abandon est consommé des l'instant oü le militaire quitte
scrviço que Ihe foi designado e, ainda, ahancionar a serviço que Ihe cumpria
son paste queue que soit Ia durée de l'absence, que Ic militaire soit ou non
animé de l'esprit de retour,, 385
executar, am es de terrniná-lo.
As figuras delituosas expressas na norma penal integralizam-se, respec-
Nesse mesmo sentido, acórdo de tribunal militar italiano: "Non ha
tivamente, quando a agente, scm ordem superior, retira-se do posto ou do lu- f
rilevanza sul dolo dell'abbandono di posto il proposito di ritomare a
gar de serviço que ihe foi designado, ou quando interrompe a serviço, ames de . "
noccupare il posto dopo un periodo di assenza, pth o meno lunga . 386 iNao e
-
concluI-lo.
Quanta ao afastamento temporário do posto ou do lugar de servico, a ju- diferente a doutrinária francesa mais recente:
risprudência de nossas cortes castrenses tern se orientado no sentido de esta-
belecer a vigiIncia ao posto ou ao local de serviço, corno critério determina- "l'abandon est consommé des l'instant ob le militaire quitte son poste,
quelle que soit Ia durée de 'absence, que le militaire soit ou non animé de
dor da ocorrCncia do delito. Essa orientaçAo sofreu influência de autores ita- I'esprit de retour". 7
lianos, como Vico e Manassero, principalmente este ditimo que expöe:
Em face do direito brasileiro a orientacão é idêntica: o crime consuma-se
"Non si nega che il reato possa sussistere anche in talli casi, ma
soltanto quando il militare siasi posto in condizione di non potere continuare no momenta em que o militar se afasta do posto, deixando-o sem vigilncia,
efficaceniente il suo servizio".383 indepenclentemente do tempo dc duração da ausência.
A conduta do militar clue se ausenta do posto, deixando omw em seu
Nesse sentido, a art. 7 10 do Cócligo de Justiça Militar argentina: lugar, foi objeto de apreciaçio cia Superior Tribunal Militar, que decidiu pelo
'se considera el abandono del servicio, par otra parte, quando el que halla abandono do posto, ou do ]ugar de scrviço, coma vem enunciado no acórdão
prestàndo-to no se encuentra en su pusto a una distancia que impossibilite proferido na Ap. nu 33.614:
ejercer Ia devida vigilancia o cumplir Ordenes referentes al servicio que deve
prestar".
Augier et Le Poittevin, Dr. Pen. Mi!., I. II, p. 368.
362 Répert. Dr. Crim. Dalloz, t. I, p. 8.
Mazini, Corn. COd. Pen. Mi!., p. 225. Saverio Malizia, COd. Pen. Mil., p.74.
In Manassero, ICod. Pen. Mi!., p. 163, Milão, 1947. 3P7
Pierre Hugueney, Répert. Dr. Cnn. Dalloz, t. I, p.8.

ri
272 Cello Lobão Direito Penal Militar 273

"Basta que o militar se afaste do posto, sem poder dar exato desempe- em serviço, o militar que é encontrado donnindo, em local afastado de scu
nho ao serviço, para que o crime se configure. A substituiçao por outro militar posto.394
nao exclui a criminalidade do fato, como é assente na doutrina e na jurispru-
dência, pois a lesão ao serviço subsiste".388 Posto, segundo Augier et Le Poittevin, é o local onde o militar deve estar
presente no curnpnmento de seu dever e de seu servico.395 enquanto Manzini
Outra decisão da mesma Corte merece citacão: "Abandonar o posto de define: "Posto è ii luogo dove ii militare deve rimanere per I'adempimento dcl
Comandante da Guarda, passando-o ao respectivo Cabo, scm ordem superior, suo servizio qualunque questo sia (guardia, ecc).396
integraliza o crime previsto no art. 171 do CPM" (art. 171 do CPM de 1944, Entendemos como posto, o local fixo ou móvel, onde o militar exerce
195)389 Em sentido contrário, clecisão anterior da mesma Corte cas- funçao especIfica, gerairnente de vigilãncia, de controle de passagem de pes-
atual art.
trcnse: soas ou de veIcu]os, de seguranca do estabelecimento militar, do acampa-
memo ou de outros beris móveis ou imóveis sob administração militar. 0
"Comete o crime de abandono de posto o militar que nele está a pedido posto pode ser ocupado pelo sentinela ou por outro militar corn atribuicao
do Oficial escalado e se afasta. Existe crime cuando o posto é assumido por diferemc do sentinela, como a de controlar, apenas, o trânsito de pessoas, de
direito ou de fato, com a aparéncia de direito.30 coisas, de velculos, em determinado sItio.
Lugar de servico, que nio se confunde corn posto, é o local rnais oti
Em nosso entendimento o abandono foi praticaclo, tanto pelo ohcial que menos amplo, onde o militar permanece no exercfcio de função militar especI-
se fez substituir, scm ordem da autoridadc militar competente, quanto pelo fica. Enquanto o posto, fixo ou rnóvcl, tern lirnites mais restritos, o lugar de
substituto. E o ensinamcnto de Manzini, que considera como co-autor do cri- servico pode abranger todo o etahelecirnento militar, o acampamento, o navio
me o militar substituto que permanece no posto, mesmo scm ahandoná-lo. e ate rnesmo uma cidade ou uma região. Por exemplo, o comandante da guar-
Outras decisöes podern ser citadas: da não exercc sua funcao nurn posto, como vern mencionado na Ap. n 33.126,
acirna citada. e sim no lugar de scrvico, que compreende as dependências
"o simples fato de bayer o militar sido preso nurn botequim, embora nas
internas e externas do estabelecimento militar, onde se fizer necessária sua
proximidades do quartel, demonstra haver abaridonado o posto'.392
"Não se pode ter o réu como incurso no crime do art. 171 do Códio vigilfincia. 0 mesmo pode ser dito em relaço ao oficial de dia, oficial de
Penal Militar, abandonando serviço ou posto, quando o fez não corn a simples quarto, etc.
intenção de abandonar servico ou posto, mas de praticar outro crime, deven- A distinçao tern relevãncia para evitar equIvocos. Por exemplo, a senti-
do-se ter tal fato como agravante, apenas se tal ocorrer 7 .393 nela que tern posto móvel em urn dos flancos do quartel, do navio, desloca-se
ao longo desse tianco, mas se for encontrada, por exemplo, na cantina do esta-
lnaceitável a orientação do segundo acórdão. Ao deixar o posto ou local belecimento militar ou, como aconteceu no acórdio citado, em urn bar, mesmo
de servico, o agente tinha consciência da ilicitude de seu ato, tinha consciência próximo ao posto, terd praticado o crime de abandono de posto. Como ficou
de que, assim procedendo, praticava o crime de abandono de posto ou de lugar dito, o militar na funçao de comandante da guarda, de oficial de dia, de quarto,
de serviço. Sua conduta foi ditada pela vontade de interromper, ilicitamente, o ou outra amSioga, rnovilnenta-se pelas dependências da unidade militar e ate
serviço do qual estava encarregado, carecendo de relevância o motivo do pelas partes extenias do prédio, do navio, do acampamento, para inspeçäo,
abandono, seja o de praticar outro crime, seja o de se divertir, ou outro qual- vigi1ncia, etc., sem que ocorra abandono do lugar de serviço.
quer. 0 militar encarregado da Junta de Alistamento, em localidade no interior
Pela peculiaridade, citamos decisão do Tribunal Supremo Militar italia- do pals, tern como lugar de serviço os limites da localidade, onde pode movi-
no, segundo o qual comete o crime de abandono de posto e não o de dormir mentar-se sern infringir 0 preccito sancionador, 0 que näo acontece caso Sc
ausente da sede da Junta, scm ordeni superior. Outro exemplo de abandono de
lugar de serviço C o militar de prontido ou incluIdo na escala de scrviço que,
DJJGB de 06.05.64, p. 209.
389 Ap. n2 33.126, DJ/GB de 14.08.63, p. 693.
390
In SiIvio Teixeira, Novo Cod. Pen. Mil., p. 346.
391
Manzini, Dir. Pen. Mi!., p. 139. Manassero, I/Cod/cl, v. 2, p. 104.
392 Ap.n0 33.208, DJ/GBde 16.10.63, p.915. Aug ler et Le Poittevin, Dr. Pen. MI!., I. II, p. 366.
Art. 171 do CPM de 1944, atual art. 195. DJ/GBde 18.07.63, p. 634. Manzini, Dir. Pen. Mi., p. 138.
Celia Lobão Direito Penal Militar
274

antes de terminá-lo. 0 retorna decorrenle de ;)O)CeSO) liii tiulenur ne


tendo liberdade de deslocar-se pelo interior do estabelecimento militar, atento
nhunaa alteracão produz na realização da condut:i IIIIR:i, i' '.i tttiiipletou.
ao chamamento do superior, ausenta-se do estabelecimento militar sem autori-
Se o sujeito deixa o serviço antes de concluf-lo, ;u tdI II ii It IIU Vet l('tIiiiiuL(k),
zacäo.
0 dispositivo legal menciona abandono do serviço antes de terrnin-lo, inexiste crime, por ausência de dolo.
Segundo decisão do Tribunal Militar italiano, "I elet I'iilt eit du.ico
logo pressupöe o inIcio de execuçäo do serviço e interrupção em seu prosse-
del reato di abbandono di posto è costituito dal dolo jt'tiet itt t, viii i, ilallu
guimento, antes de concluI-lo. Se ocorre antes do início do serviço, o crime trliiu clii
volontà dell'allontanamento, si che la sua sussislenia ituit
pode ser de abandono de local de serviço e, se houver recusa em executá-lo, o particolan moventi che sono giuridicamente ininfluenti sub tIuI"
delito e de insubordinação (art. 163 do CPM). 0 abandono deve resultar de- Consumação e Tentativa - Os mamcntos cuiisiiiiiiii I\o ,.Utt ie.
monstrado e não se confunde corn a interrupcão para alimentar-se, satisfazer seguintes: do abandono de posto, no momenta em que o ageitte '' tlii.it lu
necessidade fisiológica ou descanso, principalmente no serviço que requer posto onde deve perrnanecer, deixando-o scm vigilância; do :ihmithim , Ili , lii
major csforço fIsico. gar de serviço, no momenta em que o militar ultrapassa as lucid, d1i
Corno serviço compreende-se o que diz respeiro ao exercIcio da funcão onde deve permanecer em serviço; do abandono do scrviço, no iii uceulu ciii
do cargo militar e que vem estabelccido em Ici, em instrução, em regulaniento que o sujeito ativo interrompe a serviço, scm motivo justificado. anw ,, tie let
niini-lo.
Cu por determinacäo de superior hierárquico, incluindo-se, como tal, aqucle
A tentativa niio é juridicaniente possIvel. Ou houve abandono dij ti
indispensavel as condiçöes de habitahilidade do estabclecimcilto militar, da do lugar de scrviço e do serviço. c o crime consurnou-se, ou não ocorreut Ahon
subsistência da tropa, como preparo de alimento, limpeza das dependências
dono e inexiste o delito. Caso o militar retorne espontaneamente ou SC ii 01111
externas ou internas do imóvel, manutencão de veIculos, de armarnento, enfirn
pelido a faze-b, a crimejá se consumau.
tudo o que se refere ao funcionamento da unidade militar. Legislação Anterior - Art. 124 do CPA; art. 171 do CPM tie
Convém lembrar a compatibilidade entre o serviço e o posto ou a 1944.
graduacão militar. Ressalvadas situaçöcs anormais ou de erncrgência, como
sinistro, calamidade, etc., o oficial, o sargento, o suhoficial não são incurn- CAPiTULO XII

bidos da limpeza das dependências do quarrel, do preparo de alimentaçäo,


DescumprimentO de Missäo
etc. Na linha desse raciocInio, decidiu o Superior Tribunal Militar: "sern se Art. 196. Deixar o militar de desempenhar a missão que
saber qual o serviço abandonado, não se configura a infracäo do art. 171 do CPM lhefoi confiada:
(art. 171 do CPM de 1944, atual art. 195 do Codigo em vigor). Alias, a peca Pena - detenção de seis meses a dois aizos, se a fato nao
acusatória deve conter essa especificação, caso contrário impöe-se sua rejeição constitui crime mais grave.
por inépcia. I Se e.oficial o agente, a pena é auinentada de urn
Bastante estreita a diferença entre abandono de lugar de servico e de- terço.
serçäo, em certas circunstãncias, como a do militar que exerce funcao militar § 22 Se a agente exercia fun ção de comando, a pena é au-
especIfica em localidade afastada, fora do estabelecimento militar, como o men tada de me tade.
encarregado da Junta de Alistarnento, a agente da Capitania dos Portos, etc. § 3 Se a abstenção é culposa:
Ao retirar-se de sua sede, evidentemente a sujeito ativo abandona a lugar de Pena - detenção, de três me.res a urn ano.
serViço, ao mesmo tempo que inicia a contagern do denominado prazo de gra-
ça anterior a consurnaçao do crime de deserção. Ocorrendo o retorno antes de Consideraçöes Gerais - Crime instantneo. omissivo próprio e,
completar esse prazo, o crime é somcnte de abandono de lugar de ser\iço, se, tambérn, residual porque somente incidirá a art. 196, se o fato nãa se ajustar a
posteriormente, a militar responde pelos dais delitos, deserçäo e abandono de tipicidade de crime mais grave, por exemplo, a de insubardinaçäa (art. 163 do
CPM).
lugar de serviço.
303. Elernento Subjetivo - 0 delito é punido em decorrëncia de dolo: a
vontade consciente de abandonar a posto, a lugar de serviço, ou o serviço Saverio Malizia, Cod. Pen. Mit, p. 75-6.

'A
276 Cello Lobão Direito Penal Militar 277

No COdigo Penal da Armada, o crime tinha como agente o comandante a dever imposto em lei, o crime é de insubordinaçao, mas se apenas deixa de
de forca ou navio que "deixar de desempenhar a comissäo, ou serviço, de que curnprir determinada misso, o delito é mesmo de descumprimento de misão.
houver sido encarregado". Igualmente nao se confunde corn o abandono de serviço antes de tcrini-
Crime Militar - Classifica-se como crime militar em decorrência na-b (art. 195), porque este refere-se a qualcuer servico em geral, enquanto o
do disposto no inciso I, V parte, do art. 9 do Código Penal Militar (crime nao art. 196 diz respeito a servico especifico (missibo) desempenhado por quem
previsto na lei penal comum). Crime propriamente militar por se tratar de in- ocupa cargo militar.
fracao penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar. Elemento Subjetivo —0 crime é punido cm decorréncia de doio, a
Objetividade JurIdica - A lei penal castrense tutela o dever mili- vontade consciente, orientada no sentido do dcscumprimento de missão, da
tar e a regularidade do funcionamento das instituiçöes militares, diante da qual for incumbido.
omissão do militar em deixar de desempenhar a misso que Ihe foi confiada. Consumacao e Tentativa - Consuma-se 110 inornento em que ul-
Sujeitos do Delito - Sujcito ativo, exclusivarnente o militar. trapassa o limite temporal do início da missibo, scm quo seja iniciada, ou no
integrando o tipo essa condico do agente. Sujeito passivo, as instituiçoes momcnto em que o militar a interrompe, scm fliOtiVO justilicado.
militares. A tentativa não é juridicarnente possIvel: ou o agenle desenipenlia a
Elementos Objetivos - A conduta incrirninada é deixar de desem- missao e não hi crime, ou deixa do cumpri-la e 0 delito se consu ma.
penhar missão, da qual o agente for incumbido. Forma Qualificada - Duas formas qualificadas v3rn conteinpla-
A espécie trata do rnissao prdpria de ocupante do cargo inilitar, decor- das nos §§ l e 2, em razão da condiçibo do militar. Sc oficial, a pena d au-
rente de lei, decreto, rcgularnento, instruçao, ordem verbal ou escrita de supe- mentada de urn lerço e, se exerce função de comando, o aumento é da mciadc.
rior hierfirquico competente. Na missio é exigida a coinpatibilidade corn o Como cornanclo entendem-se os de unidade de pequeno ou do grande porte. A
posto, corn a graduaçio ou a condicao de praça do sujeito ativo. Não atende a lei nao cxigc a qualidade de oficial do comandanic; logo, tanto pode ser oficial
tipicidade designar 0 praca para uma missao que se encontra alérn do nIvel de quani.o graduado, como o sargento no comando do patruiha, de lancha, etc.
sua preparaçio militar. Modalidade Culposa - Se o sujeito ativo deixa do desempenhar a
Não deve ser esquecido o rcquisito da lcgalidade da rnissão, que inclui rnissäo por culpa, em sua trIplice inodalidade - negligéncia, imperIcia ou irn-
competência da autoridade militar que a ordenou. A ordem deve ser clara e prudCncia -, responde pebo crime culposo. A pcna coniinada é de três meses a
precisa, estabelecendo local, meios, equipamentos, o tempo para scu cumpri- urn ano, que entendernos excessiva, se considerarmos que é a mesma para o
mento, so possIvel, etc. ahandono de posto.
Como exeniplo de deixar de desempenhar missäo, podeinos imaginar Legislação Anterior - Art. 128, l, do CPA; art. 172 do CPM de
duas situaçöes: militar incumbido de proceder a reconhecimento em local 1944
destinado a rcalização de manobra da unidade ou designado para obter infor-
macao sobre preco, qualidade e condiçöes de fornecirnento de produtos ali- CAPiTULO XIII
mentfcjos necessários ao abastecimento da unidade. Retenção de Documentos
Nas duas hipóteses mencionadas, configura-se o delito se o militar näo
se dirige ao local onde deve proceder ao rcconhecimento ou obter a informa- Art. 197. Deixar 0 oficial de restitui,; por ocasido da pas-
çäo ou, lá chegando, n5io ±1 inIcio ao cumprimento da rnissão ou, iniciando-a, sagein de fun ção, 00 cuando ihe é exigido, objelo, piano, carta,
interronipe ames de concluI-la. 0 adiarnento do início da missão on sua inter- cifra, código art documento que the haja sido confiado:
rupçao, scm autonzacao legal, atencic a tipicidado do art. 196. Peiia - .vuspen.rao (/0 everCIcIo do /)0St0, de ties a seis me-
0 descumpriincnto de missão distirigue-se da insuhordinaçao porquc. ses, se ofato n0o constitul crime niais grai;e
nesta, o agente recusa obcdiência a ordem (IC) superior, enquanto naquela 0
Para grate tin ico. Se 0 objeto, piano, cciria, cifra, codigo,
militar é incumbido de rnissão dctemiinada c deixa de cumpri-la, anics ou
OU docuinento eiit'olre ou constitul segredo ie/aIi 10 a segura/iça
:ipos seti inIcio. Portanto, se o sujeito, cxphcita ou implicitamentc, recusa-se a
l2(lCiOflaI.
:)bcdecer ordem relacionada corn assunto, matdria de serviço ou relativamenie
Direito Penal Militar 279
278 Cello Lobão
Em conformidade cam a descriçao tIpica, a ohtiaçau lil ck o ol tHai
Pena - detencao, de três meses a urn ano, se o fato não restituir ocorre nos seguintes casos: ao deixar a fuiicfio; ao Rc'ItrI nnlctn It;;il
constitui crime mais grave. para restituir, mesmo permanecendo na funcäo.
A recusa em restituir assume a forma omissiva, CDIII U ay('tilr m, Ultillili
Consideraçöes Gerais - Crime instantâneo, omissivo próprio e do nas providências destinadas a concretizar a restituiçao. iti
residual porque o dispositivo legal somente incide se o fato näo se ajustar a quando a sujeito extema seu propósito de permanecer na pt, tlos t)Im',
tipicidade de crime mais grave, por exemplo, o de supressão de documento do meio de declaraçao escrita ou verbal, ou por ato, como trwspuruilw. Ilaill
interesse da seguranca extema do pals (art. 145 do CPM). local diferente onde devem permanecer.
0 parágrafo Onico trata como qualificadora, o que, na realidade, é delito Sea agente tern düvida relevante quanta ao militar a qucm kv
autônomo, cujo lugar prOprio C o Tltulo I do Livro I do Código Penal Militar rir os bens ou sobre a competência do militar que exige a devoluçu, ihiI
ou a lei de seguranca do Estado. retardar a entrega, enquanto solicita esciarecimentos ao superior hiraitiuui
Crime Militar - Classifica-se coma crime militar cm decorrCncia que tenha atribuição para dirimir a ddvida.
do disposto no inciso I, 2 parte, do art. 9 do Cddigo Penal Militar (crime não No entanto, a solicitaço de esclareciinento a ser feita no mcnor CSl)It)
previsto na lei penal conium). Crime propriamente militar por se tratar de in- de tempo possIvel, não serve de pretexto para justificar a recusa de reslIttiiçto
fracao penal cspecIfica e funcional do ocupante de cargo militar. ou para rctardá-la. For outro lado, a necessiclade de preservar a segurança tl
Objetividade JurIdica - A lei tutela a dever militar e o interesse dcterminados bens autoriza a razoável dernora na restituição.
da adrninistracao castrense de que os bens citados, que dizem respeito ao fun- Irrelevantes, na caracterizaçäo do delito, os motivos da recusa, assim
cionarnento das instituicoes militates e a sua prdpria segurança, nao pennane- corno se ocorreu ou no algum dana. A lei satisfaz-se corn o perigo presumido
cam na posse de militar, destituIdo da funçao que legitima essa posse. a que estão sujeitos os bens relacionados.
Na espCcie do parágrafo iThico, a objeto da tutela é o interesse do Esta- Elemento Subjetivo - 0 elemento subjctivo é a vontade orientada
do de que os citados bens, relativos a sua seguranca externa, nao permaneçam no sentido de deixar de restituir os bens mencioriados, tendo obrigaço legal
em poder de militar sern legitimidade para conlinuar na posse desses bens. de faze-b, em decorrCncia de ordem legal do superior hierárquico ou por ha-
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar na condicão especial ver deixado a funcão. A modalidade culposa nAo ingressa na esfera penal;
de oficial, destituldo de funcao que legitimava a posse dos bens citados, ex- resolve-se no Cmbito disciplinar.
cluindo, dessa forma, outro militar que não tenha essa qualidade. For exemplo, Consumação e Tentativa - Consuma-se a delito no momenta em
o aspirante a oficial, o suboficial na função de oficial de dia, de guarda, etc., que a agente, tendo obrigaçao legal de restituir, deixa de faze-b. Obrigaçibo
não preenchem a requisito legal, resolvendo-se no âmbito disciplinar, se o fato essa decorrente de passagem da funcao ou de ordem legal de superior hierár-
nao encontrar definiçao em outra norma penal. Sujeito passivo, as instituiçoes quico.
militares. A tentativa nao é juridicamente posslvel: ou concretiza-se a restituiçibo,
Elementos Objetivos - A conduta ilfcita C deixar de restituir os mesmo por motivos alheios a vontade do agente, - e inexiste o delito, - ou no
bens relacionados. A obrigacao de restituir surge quando a militar deixa a se realiza e a crime consumou-se. Sc a oficial deixa de restituir, mas se arrc-
funcão que legitima a posse ou quando recebe ordem de superior hierrquico pende e restitui, a delitoja Sc consumau.
competente para devolver OS bens mcncionados. Tipo Qualiflcado - Se a objeto, piano, carta, cifra, cddigo ou do-
A lei enurnera objeto, piano, carta. cifra, cddigo ou docurnento, este rl- cumento dizeni respeita a segurança do Estado ou constituem segredo relativo
timo, qualquer objcto hbil para transmitir idCia, pensamento, por mcio de a essa seguranca, o crime qualifica-se.
escrita, desenho, registro de computadores, nümeros, figuras geornétricas, etc. Coma ficou dito acima, não se trata de modalidade qualificada do crime
A posse dos bens resulta do exercIcia de funço militar ou porque forarn con- de retençao de docurnentos e sim delito autdnomo contra a segurança extema
fiados ao agente, por determinaco legal de superior hierirquico, independente do pals, pebo perigo que a fato representa para essa segurança. Ficaria hem
de funçio. melhor na lei que trata dessa espécie de delito. A forma qualificada é igual-

ri
Direito Penal Militar 281
280 CélioLobão

mente residual, deixando de incidir, se o fato nao constitui crime mais grave, para ser chamada a serviço de entrar imediatamente em aç5o". 398 Nesse senti-
por exemplo, espionagem. do o Esboço do Codigo Penal para a Armada Brasileira, de Clóvis Beviláqua:
Legislacão Anterior - Art. 173 do CPM de 1944. "deixar de manter a forca sob seu comando, no estado de maior eficiência, em
relacäo aos meios de que puder dispor".
CAPITULO XIV Crime de mera conduta e omissivo.
Ineficiência de Força Crime Militar - Classifica-se como crime militar em decorréncia
do disposto no inciso 1, V parte, do art. 99 do Codigo Penal Militar (crime não
Art. 198. Deixar o comandante de manter a forca sob seu previsto na lei penal cornum). Crime propriamente militar por se tratar de in-
comando em estado de eficiência: fração penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar.
Objetividade JurIdica - 0 objeto da tutela da lei penal militar é o
Pena - suspensão do exercIcio do p0510, de três meses a dever militar, legalmente imposto a quem excrce comando, de manter a força
uin ano. em condiçoes de atender ao charnarnento consutucional e legal, no âmhito das
atrihuiçöes que Ihe são conferidas. A norma penal tern, ainda, como objeto da
Considcraçöes Gerais - As instituiçoes militares, federais e esta- tutela, as instituicöes militares, prcscrvando-as do perigo de transformarern-se
duais, devem manter-se em estado de eficiência, em condiçOes de cuinprir as
em corporacOes ineficientes.
destinacoes constitucioriais C legais respectivas, quando se fizcr necessirio,
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o oficial, na condição especial
scm prévio aviso. de comandante de unidade militar, de grande ou de pequeno porte. A qualida-
Nos termos do art. 142 da Constituiçäo, as Forcas Armadas, sob a auto- de de oficial resulta da pena cominada, suspensão do exercicio do posto. Des-
ridadc suprema do Presidente da RepiThlica. "destinam-se a defesa da Pitria, a sa forma, não se inclui o graduado na funcao de comando. Sujcito passivo, as
garantia dos poderes constituIdos e, por iniciativa de qualquer destes, da lei c instituicöcs militares.
da ordem". 0 § V defere a legislaçao infraconstitucional estabeiccer normas Elementos Objetivos - A conduta punIvel consiste em deixar o
gerais sobre organizaçAo, preparo e emprego das Forças Armadas. comandante de manter a forca sob seu comando em estado de eficiência, omi-
Em conforinidade corn o disposto no art. 144, V. da Carta Magna, a Po- tindo-se no treinamento, na manutenção dos equipamentos e demais providên-
lIcia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar, em conjunto corn outros órgãos, cias indispensáveis para manutenção da eficiência da força.
destinam-se a "preservaçäo da ordem piiblica e da incolumidade das pcssoas e A força referida no preceito legal é a unidade militar de grande ou de
do patrimônio". Pelo § S do citado art. 144 da Lei Maior cabe, singularmente, pequeno porte, como a companhia, o batalhão, o regimcnto, o exército, o navio
a Policia Militar "a poilcia ostensiva e a preservacão da ordern püblica", en- de guerra, a esquadra, o avião de guerra, o grupamento aéreo, o destacamento
quanto ao Corpo de Bombeiros Militar, "além das atribuiçoes definidas em lei, sediado em local isolado do interior do pals, etc.
incumbe a execucäo de atividades de defesa civil". Estado de ineficiência deve ser entendido em sentido amplo, como falta
Outras atribuiçOes podem ser conferidas as Forças Armadas, a Poilcia de viatura, de armamento, de manutençäo do material utilizado pelos milita-
Militar e ao Corpo de Bombeiros, pela Iegislaçao ordinária, desde que não res, as pessimas condiçöes de higiene, de alimentação, a falta de motivação da
contrarie as normas expressas na Constituicao. tropa, de preparo profissional, a dissolução da disciplina, a péssima apresenta-
For esse motivo, a lei penal militar houve por bern incluir no elenco dos cao em exercicios, desfiles, etc. Evidenternente, não hI crime no despreparo
crimes propriamente militares a ornissao do comandante em manter a unidade decorrente da falta de equipamentos solicitados pelo comandante e nat) aten-
militar, de pequeno ou de grande porte, sob seu cornando, em condiçOes de dida pelos superiores hierárquicos, que, nesse caso, respondeni pelo crime ora
atender aos reclamos de sua destinação constitucional e legal.
comentado.
No antigo Codigo Penal da Armada, o estado de eficiência se relaciona-
va corn OS meios de que o comandante podia dispor, mantendo "sempre a for-
3911
ça disciplinada, ativa, corn os recursos de quc dispuser, na ocasião, pronta Macedo Soares, Dir. Pen. Mi!., p. 197.
282 Direito Penal Militar - 283
Cello Lobão

Para configuraçao do delito, é suficiente que o estado de ineficiência Crime Militar - Classifica-se como crime mililar, cm (Iccorrencia
seja evidente, seja perceptive!, scm necessidade de que se aguarde sua corn- do disposto no inciso I, 2 parte, do art. 92 do Codigo Penal Miliar (clinic não
provaçäo, diante de fato concreto. previsto na lei penal comum). Crime propriamente militar por Sc iralar de iii-
Elemento Subjetivo - 0 crime é punIvel, exciusivamente em de- fracão penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar.
corrência de dolo: a vontade consciente do oficial comandante em omitir-se na Objetividade JurIdica - 0 objeto da tutela penal é o dcvcr iudiiai
manutenço da unidade sob seu comando em estado de eficiência. Se o fato e as instituiçöes militares, no que diz respeito a estrita observiincia das iiuniias
decorre de culpa, por exemplo, negligência, imperIcia, resolve-se no âmbito relacionadas corn a relevante funçao de comando, no aspecto pai'iieiilar 1:1
disciplinar, caso nao encontre definiçao em outro dispositivo penal militar. A preservacão dos bens móveis e imóveis destinados ao cumprimento da dcsti
modalidade culposa era prevista no Esboço do Cddigo Penal Militar de Clóvis nacäo constitucional e legal dessas instituiçöes.
Beviláqua.
Sujeitos do Dclito - Sujeito ativo, o militar, na condiçi'io parikiilai
Consumaçao e Tentativa - Consuma-se o delito no momento em
de comandante de graride ou de pequena unidade militar. Sujeito passivo, as
que a unidade atinge o estado de incficiência.
instituiçöes militares.
0 momento consumativo não se confunde corn o da constatação da me-
ficiência da tropa. Este tilurno pode ocorrer quando o militar niio mais exerce Elementos Objetivos - A aço incriminada é deixar de emprcar
comando da unidade, o que não impede, obviarnente, sua responsahilidade os meios disponIveis para evitar perda, destruição, inutilizaço dos bcns rela-
penal. A constataçäo é prova da existência da ilicitude. cionados na lei. Se apesar de sua diligência, o comandante nido consegue cvi-
A tentativa é possIvel, desde que o agente tudo faca para atingir seu tar as conseqüências do sinistro, inexistirá o crime do art. 199, sendo oportuno
objetivo, porém näo o alcanca por motivos alheios a sua vontade; por exem- lembrar que os meios ernpregados podem parecer insuficientes para quem os
plo, o subalterno realiza treinamento, contrariando ordem do superior. examina na reconstituiçibo histdrica das peças do processo, afastado no tempo
Legislação Anterior - Art. 128, § 22, do CPA; art. 174 do CPM e no espaco da emocão dos acontecimentos.
de 1944. crime é de dano porque a lei penal militar exige o resultado danoso
da omissão do agente. Logo, embora nada fazendo para evitar esse resultado,
CAPITIJLO XV se ele não advérn, o delito não se consuma, resolvendo-se no ãmbito discipli-
Omissão do Comandante para Evitar Danos nar, caso não encontre definicão em outro dispositivo penal.
Na enumeraçibo, os autores do decreto-lei certamente levaram em consi-
Art. 199. Deixar o comandante de empregar todos os deracäo o elevado custo dos bens. Ocorre que o desenvolvimento tecnológico
meios ao seu alcance para evitar perda, destruiçao ou inutili- fez surgir outros instrumentos e materiais, de valor igualmente significativo,
zação de instalaçoes militares, navio, aeronave ou engenho de utilizados pelas Forças Armadas, tais como mIsseis, lançadores de foguetes.
guerra motornecanizado em perigo: radares, aparelhos para observação noturria, etc., que recebem igualmente
Pena - reclusão, de dois a Qito anos. protecibo penal, pois estão incluIdos no conceito de instalaçöes militares ou
Parágrafo tnico. Se a abstencao é culposa: engenho de guerra motomecanizado.
Pena - detenção, de três meses a urn ano. 0 delito é omissivo, o agente se omite na utilizaçao dos meios a seu al-
cance para evitar a perda, a destruição ou a inutilizacão. Ao mencionar co-
Consideraçöes Gerais - 0 Código Penal da Armada previa o cri- mandante, sem referência explIcita ou implIcita a oficial, a descriçäo tfpica
me de o comandante de forca ou navio "deixar de tomar ern ocasião de incêii- alcanca o graduado no comando de patrullia. carro de combate, lancha, etc.
dio, naufrágio, encalhc. colisão, ou outro perigo igual, as providências adc- 0 militar investido na funcão de comando é responisável pelos bens ad-
quadas as circunstâncias para salvar o navio OU evitar a sua perda total" (art. 127. (juiridos coin o dinheiro do contrihuinte, hens esses quc Ihe são confiados para
2). Vinha incluIdo no CapItulo que tratava da inohservância do dever militar quc seus comandados tenham condiçOcs de atender a destinação legal e cons-
marItimo, o que se explica porque a Marinha era a destinatária exclusiva do tiiucionaJ das instituicöes militares federais e estaduais.
Código. Posterionriente foi estendido ao Exército.
285
284 Célio Lobão Direito Penal Militar

Numa situacao de sinistro, o comandante deve esgotar todos os meios bens relacionados. A tentativa e juridicarnente possIvel, quando, apesar da
disponIveis a seu alcance para evitar perda, destruicao ou inutilizacao dos ornissão dolosa do comandante, o resultado danoso näo sobrevêm por motivos
bens que se encontram sob sua responsabilidade ou, pelo menos, minorar as alheios a sua vontade (p. ex., por atuação de outro militar).
consequências do sinistro. Modalidade Culposa - 0 parágrafo ünico contempla a abstenção
Considera-se como perda a privacao do bern, por haver sido danificado, culposa. 0 agente age corn imperIcia, negligência ou irnprudência e ocasiona a
desaparecido, ou encontrar-se em local sem condiçoes de recuperacao. A des- perda, destruição ou inutilização dos bens.
truição pode ser total ou parcial, sern possibilidade de recuperação do que foi Na omissão culposa, a pena é atenuada, na espécie e no quantum, pas-
destruIdo. A inutilização torna o bern imprestável, parcial ou totalmente, em- sando para detençao, de três meses a urn ano.
born corn possibilidade de recuperacäo, que, urna vez realizada, näo clesca- Legislação Anterior - Art. 127, 22, do CPA; art. 175 do CPM de
racteriza a infracao penal. Se não for possIvel a recuperação, por qualquer 1944.
motivo, configura-se a destruicao, o que nao tern relevincia, pois a sanco é a
mesma para os dois fatos delituosos. CAPiTULO XVI
lnstalacao militar é o local destinado a acoiher, definitiva ou proviso- Omissão do Comandante diante de Sinistro
riamente, os integrantes da corporaçao e equipamentos, assirn coino quar-
tel, estaleiro e porto militares, abrigo, instalacocs de radar, acarnpamcnto, Art. 200. Deixar o comandante, ein ocasião de incêndio,
depósito de armamento, hangar ou pista de pouso militar; enfim, qualquer naujrdgio, encaihe, colisão, ou outro perigo semeihante, de to-
irnóvel utilizado pelas instituiçöes militares para suas atividades, mesmo pro- nwr todas as providências adequadas para salvar os seus co-
visoriamente mnandados e minorar as conseqUências do sinistro, nao sendo o
Navio, conforme vem expresso no art. 7, § 32, do Código Penal Militar, áltimo a sair de bordo ou a deixar a aeronave ou o quartel ou
é "toda embarcacao sob comando militar". Aeronave abrange aviäo, hclicópte- sede militar sob seu coniando:
ro, planador, balão, de propriedade militar ou legalmente sob comando militar. Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Engenho de guerra motornecanizado é nome generico de velculo de combate,
Paragrafo InicO. Se a ahstenção é culposa:
corn ou sem arrnamento, como lanchas de desembarque de tropa, tanque, etc.
Pena - detenção, de seis ineses a dois anos.
No caso da Policia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, alérn de
avião ou helicóptero sob comando militar, os bens tutelados são as instalacoes
dessas duas corporacOes, e, também, a embarcação por elas utilizadas, exclu- Consideraçôes Gerais - For ocasião de sinistro, o comandante da
unidade deve agir como lIder daqueles que dirige e dos quais exige obediência
indo-se a viatura lançadora de jato de água ou de bombas de gas Iacrimogeni-
co que nao se ajustam ao conceito de engenho de guerra motomecanizado, quase irrestrita, não se dixando levar ao sabor dos acontecimentos e sirn do-
mesmo porque as duas corporacOes citadas não dispöem dessa espécie de minando a situacão, evitando pânico e procurando diminuir, ao mmnimo possI-
engenho. vel, as conseqüências do sinistro entre seus subordinados.
Como se lê na descricao tIpica, os bens mencionados encontrarn-se em Crime Militar - Classifica-se como crime militar em decorrência
perigo, indicando a ocorrência de sinistro de qualquer natureza ou dimensâo, do disposto no inciso 1, 21 parte, do art. 91 do Código Penal Militar (crime näo
previsto na lei penal comum). Crime propriamente militar por se tratar de in-
ocasionado por ação humana, forca da natureza, defeito no fabrico, na monta-
gem, na construcao do bern, por acidente, etc. fracão penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar.
Elemento Subjetivo - 0 elemento subjetivo é a vontade do agen- Objetividade JurIdica - A norma penal tutela o dever militar, a
integridade fIsica dos militares sob o comando do sujeito ativo e os bens sob
te, orientada no sentido de omitir-se na utilizacão dos meios a seu alcance para
sua responsabilidade, no aspecto particular da preservacão da vida, da integri-
evitar perda, destruicão ou inutilizacäo dos bens referidos.
dade dos comandados e da protecão dos bens móveis e imóveis sob adminis-
Consumacão e Tentativa - 0 momento consumativo é aquele em
que se concretiza a perda, a destruiçao ou a inutilizacão, mesmo parcial, dos traçao militar.
I,
286 Célio Lobão Direito Penal Militar 287

Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, exclusivamente o militar inves- no local, o que chega em meio a ocorrência e ate aquele que, estando nas pro-
tido na funcão de comandante de unidade militar, de grande ou de pequeno ximidade, não acorre para salvar seus comandados ou diminuir as conseqüên-
porte. Sujeito passivo, as instituiçöes militares. cias do sinistro.
Elementos Objetivos - A conduta incriminada é deixar 0 coman- Entretanto, a conduta do sujeito ativo deve ser examinada em face das
dante de tomar as providências adequadas para salvar seus comandados e circunstncias que se ihe apresentam durante o desenrolar do sinistro, levan-
minorar as conseqüências materiais e pessoais do sinistro. do-se em consideraçao os rneios disponIveis, o local da ocorrência e demais
Cddigo relaciona incêndio, naufrágio, encaihe, colisão ou outro pen-. fatores. Por exemplo, a aeronave que se projeta em direcao ao solo, quase
go semeihante e ainda recomenda que o comandante não seja o iIltimo "a sair sempre nio oferece outra altemativa, senão a de saltar de paraquedas, não
de bordo ou a deixar a aeronave ou o quartel ou sede militar sob seu cornan- havendo tempo para providências iclênticas àquelas tomadas durante o naufr-
do". Parece-nos que o vocábulo sinistro alcançaria as calamidades menciona- gio, pois o navio, na rnaioria das vezes, não submerge de imediato. Sc a avaria
das e outras, dispensando a relaçao constante do preceito legal. permite que o apareiho pernianeça no ar, embora precariarnente, cahe ao co-
comandante tern o dever legal, indecIinvel, de usar de sua autorida- mandante orientar seus subordinados para ahandonar a aeronave, evitando
de e liderança para, em ocasiäo de sinistro, evitar o pânico, diligenciando para pilnico.
salvar seus comandados. para minorar-Ihes o sofriniento e minirnizar os danos Cahe ao julgador, no caso concreto, analisar o comportamcnto do co-
nos bens sob sua responsabilidade. E born lembrar que, apesar do erninciado, rnandante e fonnar sua convicço, a firn de saber se realizou ou nào a conduta
sujeito ativo no está liberado de providências idêniicas, quanto aos milita- ilpica. A obrigaçäo de tornar as providências especificadas na lei nao se res-
res que näo Ihe säo subordinados, pois, nessa hipótese, sua conduta, certa- tringe ao sinistro ocorrido no navio, na aeronave, no quartel, e sim em qual-
mente, encontra definicão em outro dispositivo da lei penal militar ou cornurn. quer estabelecimento sob adrninistracão militar que se encontra abrangido
A recomendação de que "seja o ültirno a sair de bordo ou a deixar a ae- pela expressäo sede militar.
ronave, o quartel ou a sede militar" delineia-se como advertência ao coman- No entanto, se o estabelecimento militar n5o se ajusta ao conceito de
dante, no sentido de que, ocorrendo o sinistro, não deve colocar-se a salvo, quartel ou de sede militar, como o local onde a uniclade encontra-se em trei-
deixando seus subordinados entregues a própria sorte. namento, acampada, estacionada. em deslocarnento. ainda assim ha o clever
Cabe-Ihe, como ficou dito, diligenciar para salvar os comandados ou legal de salvar os comandados, de minorar as conseqüências do sinistro, pois
minorar-ihes os sofrimentos ou para dirninuir as conseqUências materiais do se ajusta a "outro perigo semeihante".
sinistro, retirando-se, quando sua permanência é dispensável ou importa em
0 conceito de navio ji foi repetido mais de urna vez: "toda embarcacao
sacrifIcio inthil da própria vida. Já passou o tempo em que o comandante per-
sob comando militar" (art. 7, § 31). Aeronave compreende helicóptero, dirigI-
manecia a bordo, impavidamente em seu posto de comando, submergindo corn
vel, planador, etc. Quartel consiste em urn ou mais edifIcios onde se alojani
navio, para nao enfrentar a desonra de haver perdido sua embarcaçao.
militares, integrantes de unia ou mais unidades militares. Sede militar é o
militar que atinge a posicao de comandante significa investimento
imóvel onde se encontra a chefia da unidade militar, de grande ou pequeno
da Naçao. Por esse motivo e por razöes humanitárias, não deve sacrificar-se
porte, por exemplo, a prCdio do comando da Regiao Militar, da Zona Aérea,
inutilmente, sendo de grande utilidade na defesa do pals e na preparação
do comando da Esquadra, o quartcl, a unidade isolada, corn o respectivo co-
profissional de outros militares. Se sua presença no navio, na aeronave ou
no estabelecimento militar näo se torna necessth-ia, porque nada mais pode ser mando.
feito em favor dos comandados ou evitar dano maior aos bens, deve retirar-se, Coinandante C quern cxerce essa funcão de dircito, pela investidura rca-
evitando sacriflcio inthil. lizada coin as solenidades expressas em lei, ou de fato, quando a militar assu-
Não é exigida a qualidade de oficial, do comandante: tanto pode ser ofi- me o comando em situacao de cmcrgência. A obngaçao legal, decorrente do
cial-general, cornandante de exército, de esquadra, de zona aérea, quanto o preceito ora comentado, obriga tanto o cornandante de direito, quanro o de
graduado, no comando de patruiha, de carro de coinbate ou de outro meio de fato, pois o militar que exerce o comando no niomento do sinistro, tern obriga-
transporte militar. A reprirnenda penal alcanca o cornandante que se encontra ço idêntica ao comandante de direio.
'V
288 Cello Lobão Direito Penal Militar 289

Os resultados 1eso corporal ou morte säo estranhos a tipicidade do de- recusa do socorro sem causa justificada, não podia dcixar de ser classificada
lito comentado. Se ocorrem tais resultados, o agente responde, em concurso entre os crimes de inobservância do dever militar marItimo".399
material, pelos crimes contra a pessoa, em decorrência de dolo ou de culpa, A tradição permaneceu forte, influenciando o Codigo atual, que não
conforme o caso. conseguiu se apartar do vclho do COdigo da Armada onde vinha expresso o
Elemento Subjetivo - 0 tipo subjetivo consiste na vontade dirigi- atendimento ao navio "que implorar auxflio, estando em perigo" e repetiu essa
da no sentido de omitir-se nas providências adequadas para salvar os coman- formula, corn redação modificada: "que hajarn pedido socorro.
dados e minorar as conseqUências materiais e pessoais do sinistro. A espécie e de crime de omissão de socorro cometido por oficial, na
funçao de comandante de navio ou de outra unidade militar, terrestre, aérea,
Consumacão e Tentativa - Consuma-se o delito no momento em
fluvial ou lacustre. Crime de mera conduta, pois a Ici incrirnina o comporta-
que o agente deixa de tomar as providências adequadas para salvar seus co-
mento do sujeito, antecipando a consuniação scm aguardar o resultado danoso.
mandados e minorar as conseqUências do sinistro, tendo condicoes de faze-b.
Mais urna vez a especificacão carente de técnica näo estende a proteçäo
Modalidade Cuposa - 0 parágrafo iinico do artigo contempla a penal aos meios de transportes militares terrestres, embora o resultado da
modalidade culposa, na qual ocomandante se abstém, por negligência, impru- omisso encontre definiço em outro dispositivo da Iei repressiva castreflSc.
dCncia ou imperIcia, das providCncias adequadas para impedir o resultado Crime Militar - Classifica-se corno crime militar em decorrncia
danoso. A sanção imposta é reduzida na espécie c no quantum: seis meses a do clisposto no inciso I. 2 parte, do art. 9 do COdigo Penal Militar (crimc n;io
dois anos de detenço. previstO na lei penal comurn). Crime proprianlente militar por se tiatal tie an
Legislacão Anterior - Art. 122 do CPA; art. 176 do CPM de fraçao penal cspecIfica c funcional do ocupante de cargo militar.
1944. Objetividade JurIdica - 0 objeto da tutela jurRlica 0 tlevea le;il
imposto ao militar, na funcäo de comando, de prestar soco' to a iaaaa Ii >11

CAPITULO XVII vItirnas de acidente aéreo.


Omissão de Comandante em face de Naufrágio Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o oliei;al na iatlti,i itt
mandante. A qualidade de oficial, do agcnte, vein inaplatat:a aii
Art. 201. Deixar o coniandante de socorrer, semjusta cau- da, ciue d suspensão do posto.
Sujeito passivo, as instituiçöcs militates. ( ) s imamil i;ts t . tImmaaas Jo
sa, navio de guerra ou mercante, nacional ou estrangeiro, ou
acidente aéreo, que sofreram lesOcs corporals t'mm mnoite rail i:a/:to cia toittitila
aeronave, em perigo, ou náufragos que hajam pedido socorro: onissiva do agente, ingrcssam comb saijealt' lmssl\'o mat r laçao piirtdicti l)iud,
Pena - suspensão do exercIcio do posto, de urn a três anos decorrente do crime contra a pcsso:m
ou reforma. Elementos Objetivos A cumulmala a urn am mamn1a é a olUiSSa() de so-
corro a náufragos, a flilViO de gIRria on it itallie mmmcioiial ou cstraflgeirO, e a
Consideracöes Gerais - Essa figura delituosa tern sua origem na aeronave em perigo.
legislação pertinente a Marinha de Guerra, no século passado. Macedo Soares A recusa somente se justilica, COUlO imilornia a descriço tIpica, se houver
enfatizava: "Os socorros e auxulio a navios em perigo sao urn dever de huma- justa causa, "achando-se, por Cxemn1)k), I) flVl() que o solicita" (socorro) "em situ-
nidade e urn ponto de honra para os homens do mar". acao ou lugar onde acarrelalia a pcmcia do outlo se dde se aproximasse",400 diarite
de perigo de explosäo, mar agilado, proximidade de rochedos, etc. Não é dife-
Prosseguindo, cita Oliveira Freitas, segundo o qual "todas as marinhas,
rente corn o acidente aérco, t.ivaiido o perigo cininente de expboso pode im-
já pelos rncios de que dispöem os navios de guerra, já pelo cavalheirismo que
caracteriza o seu pessoal, tern como ponto de honra a prestacao de serviços pedir a prestaca() de socorro.
A inadequada eXprcSSa() "que hajaFfl pedido socorro no concede imu-
desta natureza e so conservar-se-do meros espectadores quando loucura for nidade ao comandante que deixa de prestar socorro, scm esse pedido. Corn on
obrar contrariamente".
Conclui o autor, "o dever de socorrer nao se limita aos navios de nacao
Macedo Soares, Cod. Pen. MO., P. 195-6.
amiga; estende-se aos inimigos que imploram auxulio, estando em perigo. A Macedo Soares, Cod. Pen. MO., p. 196

A
291
290 - CélioLobäo Dret0 PenaI Militar
Milit

scm pedido de socorro, o cornandante não está autorizado a ornitir-se no auxI- aeronave e as vft.imas do sinistro. A tentativa näo C possIvel: ou o agente age
ho aos náufragos, tao logo tenha conhecirnento da ocorrência. no sentido de prestar o socorro, ou se omite e consuma-se o crime.
No Codigo Penal da Armada (art. 127, 12), a protecao restringia-se a Legislação Anterior - Art. 127, 1, do CPA; art. 177 do CPM de
navio, pois ainda näo existia aeronave, incluIda no art. 177 do Codigo de 1944.
1944, dispositivo esse originario do citado art. 127, l, passando para o art. 201
da atual lei penal castrense, que, por sua vcz, já deveria ter incluldo outros CAPITULO XVIII
rneios de transporte, alérn da embarcacão e da aeronave. Embriaguez em Servico
De modo geral, somente se socorre a aeronave no solo, mas não se pode
excluir a hipótese do socorro através de radio, de sinais luminosos, capazes de Art. 202. Embriagar-se a militar, quando em serviço, ou
indicar o rumo certo a tripulaçao do apareiho. Embora nao se aplique a espé- op resen tar-se embriagado para prestá-lo:
cie, já aconteceu socorro no ar, a urn avião de pequeno porte, cujos instru- I'ena - detenção, de seis ineses a dois an OS.
mentos entrararn em pane. Urna segunda acronave, igualmcnte pequena, voou
na frente da outra, guiando-a ate o aeroporto, onde ambas pousaram, scm aci-
Consideracöes Gerais - As Forças Armadas receberam da Lei
dente. Major a missão de defender a Pátria, de garantir os poderes constituldios, a lei
A expressão socorrer navio ou aeronave significa prestar auxIlio aos e a ordern, sob a autoridade suprema do Presidentc da Repdblica e, nos casos
ocupantes desses meios de transporte a fim de salvar tripulantes e passageiros especificados em lei, por rcquisicäo desses poderes. A Poilcia Militar e o Cor-
e evitar perda total ou danos matcriais de rnaiores proporcOes. São náufragos po de Boinheiros Militar, integrando o sisterna de seguranca piiblica, tern a
os que estiverern sobre as águas, por motivo de naufrágio, por terern caIdo de atribuicão constitucional e legal de preservar a ordern pdblica, a incolurnidacle
emharcaçao ou de aeronave.
das pessoas e do patrimônio.
A lei refere-se a navio de guerra ou rnercantc, nacional ou estrangeiro. Para cumprimento da destinação constitucioflal e de outras estaheleci-
Como navio de guerra entende-se a embarcação sob cornando militar corn
das em hei, o integrante das instituicöes militares deve sujeitar-se as normas de
utihizaçao bélica, como cruzador, porta-aviöes, lancha torpedeira e de desem-
disciplina, cuja rigidez mais se acentua quando C chamado para prestacão de
barque, etc. Navio mercante é a embarcação de grande porte, destinada ao
serviço na unidade militar. 0 dever militar C exigido de forma mais rigorosa
transporte de hens ou pessoas. Corno a lei não restringe, a aeronave é militar
do que o dever do servidor civil.
ou civil, nacional ou estrangeira. Ampliando a tuteha sobre o dever e a disciplina militares, a lei penal
Os resultados lesão corporal ou morte são estranhos a tipicidade do de-
militar elegeu, como crime, apresentar-se embriagado para prestar serviço ou
hito ora examinado. Sc tais resultados sobrevierem, o agente responde pelo
crime contra a pessoa, cm dccorrcncia de dolo ou de culpa, na Justiça Militar, embriagar-se em serviço. E verdade que esse mesmo ato cometido pelo servi-
dor piiblico civil encontra acohhida nas normas disciphinares, corn sançöes que
corn atendimento dos rcquisitos do art. 9, ou na Justiça comum.
podem alcançar a demissão ou licença cornpulsória para tratamento de saiIde.
Como ficou dito, a descrição tIpica exige a qualidade de comandante, e,
considerando-se a atual orientaçäo da medicina. A diversidade de tratarncnto
também, de oficial, o que vern implIcito na espécie da sanção cominada ao
justifica-se pelo peflg() a que se encontra sujeita a seguranca da unidade mili-
crime (suspensão do exercIcio (10 posto), somente aplicável a oficial.
tar e pelo exemplo pernicioso para os demais integrantes da corporacão, se
Elemento Subjetivo - 0 eleniento subjetivo consiste na vontade
essa conduta não sofrer reprirnenda na lei penal.
consciente do sujeito ativo de ornitir-se na prestacao de socorro ao navio, a
Seria recomendável que, antes de o militar ingressar na esfcra penal
aeronave, as vItimas do sinistro. Scndo a omissão culposa, resolve-se discipli-
militar, pudesse receber tratarnento aclequado para Iivrá-lo da hehida. como.
narmente, caso não se ajuste a descricão tIpica de outro dispositivo penal mi-
alias, já vem ocorrenclo, principalrnente na PolIcia Militar, onde o uthuero dc
litar.
alcoólatras vem se acentuando, em decorrência das condiçöes de servico a (Itic
Consumação e Tentativa - Consuma-se no mornento em que o
sujeito ativo se onlite na prática de ato destinado a prestar auxIlio ao navio, a sac) submetidos, nurna luta desigual contra bandidos forteniente armados.
292 Célio Lobão
w Direito Penal Militar
293

Entretanto, a meihor polItica é suprimir a infracao penal, inserindo a A fontc da decisão supra é acórdão do ciii ho Suprcnio Tribunal Militar,
embriaguez nos regulamentos militares ou nos manuais de assistência médica na vigência do Codigo Penal da Annada. l)ecidiu a ('utic casirense ciue esse
e psicologica dos militares. delito "compreende implicitarnente a da einhiiagucz de lodo militar em ativi-
Crime de mera conduta dade". A decisão nAo ficou isenta de crItica (los douirrinuloics da i.poca, vol-
Crime militar - Classifica-se como crime militar em dccorrência tando a ressurgir, embora corn outra roupagem, 110 acórdao supra.
do disposto no inciso J, 21' parte, do art. 91 do Codigo Penal Militar (crime não Alias, é indeclinável a exigência de (Iuc a Inca issairiit irieticiouc,
expressarnente, qual o serviço realizado pelo agente c o iu)iilLmIu clii que lot
previsto na lei penal cornum). Crime propriamente militar por se tratar de in-
encontrado em estado de embriaguez. Da rnesma fornia, no drum tic lurlescri
fraco penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar. tar-se embriagado, a dentincia deve, igualmente, indicar ii scrviço a ser rxc
Objetividade JurIdica - A lei tutela as instituiçoes militares, a cutado e se o agente tinha conhecimento de que iria enirar ciii s&'Ivlço Sc 1)
disciplina e o dever militar, no aspecto particular da regularidade do exercIcio militar, desconhece que cstá na escala de scrviço ou que (levr :ipic.riiilt .t'
das funçocs do cargo militar. para prestacão de serviço, ao embriagar-se, inexiste crime, mc lvciitlo it)

Sujeitos do Delito - Sujeito ativo o militar, qualquer que seja o ãmhito disciplinar.
posto, graduação ou o praca sem graduaço. Sujeito passivo, as instituicöes 0 Superior Tribunal Militar entendeu, corretamente, que liuu'c ii
militares. no fato de o militar, apresentar-se embriagado ao servico, eni suhsiiiuiçau
Elementos Objetivos - As condutas incriminadas säo embriagar-se outro colega que aquiesceu em substituir. Corn efeito, se o agente coricouloit
em scrviço e apresentar-se cmhriagado para prcstar serviço. A embriaguez na prestacão do serviço, nao deveria embriagar-se, e seja estava nesse esiado,
resulta da ingesto de bebida alcdolica ou outra suhstncia capaz de conduzir nao deveria aceitar a substituiçho.
ao estado de embriaguez, completa OU incornpleta. Dccidiu o Tribunal Militar italiano, em 20 de fevereiro de 1945, quc.
No entanto, se a ernhriaguez decorre de condicoes orgnicas, compro- "per ii reato di ubriachezza in servizio, basta che ii soggeto attivo abbia hevutu
vadas por exame medico, na qual a ingcstäo de quantidade insignificante de volontariamente e che da ciO sia derivata Ia ubriachezza. Non è necessaria Ia
1
álcool conduz a esse estado, inexistini o delito, salvo se essa circunstância for specifica intenzione di ubriacarsi .402
do conhecirnento do sujeito que dela se aproveita para embriagar-se. Não se ajusta ao Direito brasilciro, que exige a intençiio especIfica de
0 éhrio habitual no cstá isento da responsabilidade penal, na nedida embriagar-se ou a conscincia de que da ingestâo da bebida alcoólica resulta
em que, conhecendo essa condiciio. ingere bebida alcoólica em servico ou embriaguez.
A nocão de serviço é ampla, abrangendo o conjunto de atividades exer-
quando vai se apresentar para o serviço. Por outro lado, no se exclui a hipdte-
cidas pelo militar na unidade onde serve, nao so a funcão de natureza militar,
se da inimputabilidade do agente (art. 48 do CPM), quando se sabe que a me-
como outros serviços destinados a manutenção do estabelecimento militar, do
dicina, atualmente, considera a embriaguez como doenca. Caso o militar seja
acampamento, do local de treinamento, a limpeza das dependências utilizadas
portador de embriaguez patologica que o obrigue a ingerir bebida alcodlica,
pela tropa, o preparo de alimento, etc.
constantemente, deve comunicar o fato a seus superiores, para as providências Elemento Subjetivo - Elemento sub jetivo: a vontade consciente,
cabIveis. orientada no sentido de embriagar-se em serviço ou de apresentar-se embria-
Não se ajusta a descricao tIpica, a decisão do Superior Tribunal Militar, gado para o serviço.
condenando o réu porque, "na hora do expediente de sua Unidade, é encontra- Na embriaguez culposa, por exemplo, resultante de condiçoes fIsicas ou
do em estado de embriaguez"."" Corn efeito, a conduta incriminada é embria- patologicas desconhecidas do agente, inexiste dolo e, como conseqüência. nao
gar-se, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para prestá-lo. Na ha crime. 0 mesmo ocorre na embriaguez por caso fortuito, por forca major
espCcie referida no acórdão nao ocorreu nern uma nern outra, pois 0 militar (art. 49), e. ainda, por ingestäo de remddio que contenha álcool ou outra subs-
ernbriagou-se na hora do expediente, scm estar em serviço, sern apresenlar-se tância capaz de ocasionar a embriaguez, nho procurada, resultante de condi-
para prcstar serviço. N?io houve crime e sirn transgressão disciplinar. cOes orgânicas ou patológicas.

402
Rec. Ordin. Nc 4.039, in Ement. do STM, dez./1964. Saverio Malizia, Cod. Pen. Mi!. di Pace e di Guerra, p. 86.
294 Cello Lobão -
Direito Penal Militar 29

Consumaçao e Tentativa - A primeira modalidade expressa na "i'incriminaziOne dell'addormefltamentO della sentinella, vedetta,
descriçao tIpica, consuma-se no momento em que o sujeito ativo alcanca o scoita nelle particolare circostanze indicate dalla legge è intesa ad impedire
che II militare non opponga ogni possibile resistenza onde evitare di essere
estado de embnaguez parcial ou total, estando em serviço; a segunda, no mo-
mento em que se apresenta ao servico em estado de embriaguez parcial ou coito dai sonno".408
total. A tentativa não éjuridicamente possIvel.
Enquanto o fato de o servidor p6b1ico civil dormir em serviço permane-
Legislaçao anterior - Art. 12 dos Artigos de Guerra; art. 147 do
ce no âmhito do direito administrativo, essa mesma ocorrência, no meio mili-
CPA; art. 178 do CPM de 1944.
tar, é alçada a nIvel de infração penal, considerando-se as peculiaridades da
funçio militar, onde a seguranca de bens e pessoas assume relevância major,
CAPITULO XIX
Dormir em Serviço seguranca essa seriamente arneaçada pelo fato de o militar adormecer no exer-
cicio das funçöes especificadas na lei.
Art. 203. I)orinir o inilitar, quando em serviço, coino oft- A organizaçao militar deve manter-se em condiçöes de cumprir sua
cial de quarlo ou de ronda, ou em. s iluaçao equivalente, oil, não destinação constitucional e legal, em tempo de paz, cm situacão de eiiicrgn-
cia, de calamidade, de guerra. Para que tal acontcça é de suma importfincia a
sendo oficial, eln serviço de sentinela, vigia, plan lao as máqui- das ills-
mias, (10 lem.e, de roncla ou em quaiquer serviço de natureza se- rnanutenço da seguranca (10 estabeicci ment C) mliii ar, tin annanleili n.
talaçöes, dos navios, (las acronaves, dos pnpiioS in I itaics, culi ii. de I (I(l()
ine/han le.
quanto diz respeito as instituiçöcs mu tales. I sscs san ns 111)1 ivns qiie lll Ii
Pena - detençao, (Ic três ineses a urn ano. cam incluir o ato de dormir em scrviço, (lent ft os (n lies piopruiinellie ii Ii
Consideracöcs Gerais - 0 denominado delito do sono recebeu res.
0 militar tern o dever legal de valer-se (IC toiios os melos pussiveis pill
crIticas de autores de renonie como Joo Vicira. que o considerava como uma
evitar que adormeça nos serviços especificados. Sc CSSCS meios se apRsclitaiIl
das anomalias do l)ireito Penal Militar em relacão ao comurn, pois o sono é
ineficazes, cumpre comunicar ao superior hierarquico, para que J)fl)VI' I(
urn fenôrneno fisiolágico, cuja causa determinante é a fadiga, afirmando ser "o sua substituico. Realmente, se em vez de movirnentar-se, o milliar scitia-se
ci'imulo do absurdo e da irracionalidade servircm de base a criminalidade".'103
ou recosta-se, cria condiçoes favoráveis ao sono. No entanto, Sc apesar da
Para Crysólito de Gusmão é "uma disposiçao barbara".404
movimentaco, o sono se apresenta como iminente e inevitável, dificuliando
Favoráveis a criminalizaçao de dormir em serviço, Macedo Soares, para
os passos, afetando a concentracão, so resta comunicar ao superior para as
quem "a lei militar não pune o sono, mas o am de deixar-se a sentinela surpreen-
providências cabIveis. Recomendável a realização de exame medico a fim de
der pelo sono, ou ser encontrada dormindo, quando devia estar alerta"405 e determinar se o sono não tern origem patológica, se näo resulta de condiçoes
Esmeraldjndo Bandeira, segundo o qual, "embora seja o sono urn fato natural
flsicas do agente, de excesso de trabalho, como já decidiu a Corte Superior de
e fisiológico, muitas vezes irresistIvel, como no caso conjunto de isolamento e
Justiça castrense.
fadiga, compreende-se o grande dano que dde pode advir para a segurança de Corn efeito, o Superior Tribunal Militar absolveu determinado acusado
urn exército e para a defesa de urn pals, na hipótese de se deixar por dc sur-
porque "tern a seu favor motivos de ordem fisioldgica ou circunstâncias espe-
preender o militar em servico de guarda e vigilância Bandeir".406
ciais que tornam impossivel evitar o sono".409 Em outro acórdão, decidiu a
Para Raul Machado "o escopo alvejado pela prescrição legal é o sono
da sentinela como fato concreto informador da violação do princípio que Ihe mesma Corte:
inipöe o dever de não dormir, quando Ihe compete vigiar".4° ' Nesse sentido, "justificado que a fadiga pelo excesso de servico e outras circunstãnCias,
deciso do Tribunal Mililar italiano: levou o acusado a adormecer como sentinela, não se configurou o crime de
sono..., na ausência de dolo ou culpa".410
463
Macedo Soares, Dir. Pen. Mi!., p. 205.
404
GusmSo, Dir. Pen. Mi!., p. 205.
Macedo Soares, Dir. Pen. Mi!., p. 205. 406
In S. Malizia, Cod. Pen. Mi!., p. 75.
E. a, Curso. Dir. Pen. Mi!., p. 428.
Sllvio Martins Teixeira, Novo Cod. Pen. Mi!., p. 337.
Raul Machado, Dir. Pen. Mi!., p. 83. 40
DJ/GB, 14.03.62, p. 232.
296 297
Cello Lobão I Direito Penal Militar

Não se ajusta ao Direito brasileiro o entendimento de Pierre Hugueney, Corno foi dito, o militar nos serviços enumerados, de grande relevância
segundo o qual existe crime, ainda que o militar no tenha adormecido para a seguranca de bens e de pessoas, tern o dever legal de nao se deixar sur-
voluntariamente, mas em decorrência de fadiga. Expöe Hugueney: preender pelo sono. Se lhe afigura impossIvel permanecer acordado, deve
comunicar ao superior ou providenciar sua substituicäo, conforme o caso.
"Lorsque Ia sentinelle est trouvée endormie, le texte est applicable, Se o superior se omite nas providências de substituicão, vindo o militar
alors même que le militaire n'aurait pas volontairement cédé au sommeil, qu'il a adormecer, o subordinado näo responde pelo crime, se nenhuma outra pro-
aurait, malgré sa résistance, succombé a la fatigue. Etant donné le caractère vidência era possIvel tomar, diante da omissão do superior. 0 superior res-
involontaire du délit, le législateur moderne fixe Ia peine avec une certaine
indulgence et ne prononce jamais qu'une peine correctionelle". 411 ponde pelo crime de inobservância de lei, regulamento ou instrução, previsto
no art. 324 do Código Penal Militar ("Deixar, no exercIcio de função, de ob-
Crime de mera conduta. A incidência do dispositivo penal nao aguarda servar lei, regulamento ou instruçäo, dando causa direta ?t prática de ato preju-
o resultado danoso decorrente do sono. dicial a administracãO militar"). Corn efeilo, ofato de o posto ficar desguarne-
Crime Militar - Classifica-se como crime militar em decorrêncja cido corn o adormecirnento do militar em serviço de sentinela, de vigia, ou
do disposto no inciso I. 2 parte, do art. 9 do Cddigo Penal Militar (crime nao outro serviço de natureza scrnclhante, importa em sério prejuizo ao serviço (IC
previsto na lei penal comuni). Crime propnamente militar por Sc tratar de in- natureza militar.
fraçao penal especIfica e funcional do ocupante de cargo militar. Se o oficial de quarto, de ronda on outro equivalente encontra-Se na
Objetividade JurIdica - A lei tutela o dever militar e a segurança iminência de adonnecer, deve, dc próprio, designar outro militar para substi-
das instituiçOes militares. tuI-lo. na falta de superior, caso contnIrio respondcrá pelo delito do sono.
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar. no cxercIcio das fun- A lei penaliza a conduta do militar, scm aguardar a ocorrência de resul-
cOes especificadas no prcceito legal. Sujeito passivo, as instituiçöes militares. tado danoso a unidade militar. Logo, irrclevante perquirir se houve ou não
dano material, pessoal, cm razão do adormecimentO do militar, no exercIcio
Elementos Objetivos - A aciio incrirninada é dormir em scrviço,
como oficial de quarto ou de ronda, ou em situação equivalente, ou, não sendo das funçOes especificadas.
oficial, em serviço de sentinela, vigia. plantao as máquinas, ao lerne, de ronda Elemento Subjetivo - 0 delito é punido, exclusivamefltC, em de-
ou em qualquer serviço de natureza semelhante. corrêflCia de dolo, que consiste na vontade consciente de dormir, no mornento
em que o agente se encontra prestando os servicos especificados.
Do teor do dispositivo legal conclui-se que a lei exige a condiçio de
No entanto, ha autores estrangeiros que defendem a punicäo em decor-
oficial, do sujeito ativo, em serviço de oficial de quarto, de ronda ou outro
equivalente. Os demais serviços enumerados são prestados por militar que nao rência de culpa. E o caso de Carraba, segundo o qual o crime é punido em
tern o posto de oficial, isto é, por praça ou praca especial, respeitando-se a corn- decorrênCia de culpa, pois o "ii militare doveva trovarsi in condizioni di poter
prevedere di addormentarsi. II che si verifica sempre, fuori delle ipotesi di
patibilidade do serviço corn a graduação. Dessa forma, o aspirante a oficial ou o
guarda-marinha, em funçao de oficial de quarto, de ronda, ou outra equiva- fenomeni patologici".42
lente, nao pratica o delito do art. 203, por falta de previsão legal. Responde Nesse sentido, Rodolfo Venditti:
disciplinarmente.
"L'ipotese prevista dall'art. 119 c.p.ni. è quella di un reato colposo, nel
A norma penal deixa de especificar outros serviços, corno oficial de dia, quale manca Ia volontà e Ia coscienza di corripiere II fatto delittuoso, ma che
que não exige vigilãncia permanente, não impedindo, dessa forma, o repouso vienne commesso per lnosservanza di regolamento negligenza, imperizia.43
no interior do estabelecjmento militar, em local e condiçöes que permitam o
pronto atendimento, quando se fizer necessário. Portanto, inexiste crime se o Mais adiante, o mesmo Venditti distingue o adorrnecirnefltO doloso, do
militar adormece durante essa espécie de serviço. Entretanto, se permanece culposo: Si
donnindo, quando for necessária sna presença, o delito seni outro, o de aban- "In effetti II rimprovero che Si rivolge normalmente alla sentinella de
dono de serviço ou de lugar de scrviço (art. 195). addormenta e no rimprovero di insufficiente attenziofle, di insufficiente

412
Carraba, Cod. Pen. Mu., p.137.
' Pierre Hegueney, Traité Thdorique et Pratique, p. 554. 411
Venditti, 11 Reato contro ii Servizio, p. 53, nota 49.
'p

298 ______ 299


Célio Lobão Direito Penal Militar

reazione al peso della sonriolenza e della fatica: quindi un rimprovero di colpa. Se a participacão do militar em atividade comercial prejudica de qualquer
Chè se p0, Ia sentinella si addormentasse volontariamente (sdraiandosj
deliberamerite per terra, 0 liberandosi defle armi, o magari addirittura forma a prestacäo do serviço militar, de lege ferenda, a matéria restringe-se aos
prendendo un sonnifero) ricorrerebbesi afferma - ii piü grave reato (doloso) de regulamentos disciplinares, scm necessidade de levar as barras das cortes cas-
violazione di consegna previsto dall'art. 1 18.414 trenses o militar que neglicencia nas obrigacöes militares em favor de ativida-
des estranhas ao cargo.
Ciardi, que adota essa distinçäo, expöe quando o crime é doloso: 0 Codigo Penal da Armada alcançava todos os militares, sem distinção
de posto ou graduacão. 0 diploma de 1944 manteve o delito, limitando-o ao
"laddormentamento in servizjo di sentinella è volontario, quando la
sentinella deliberatamente si abbandona 0 Si pone di proposito, violando oficial, tendo urn de seus autores, Sflvio Martins Teixeira, justificado que a
intenzionalmente Ia consegna ricevuta in condizioni di essere colta dal sono situacäo do sócio de firma cornercial que era
norma penal VISOU atender a
(sdraiandosi avvolgendosi in coperte, ecc)".415 obrigado a desligar-se da sociedade ou a liquidá-la ao ser chamado para pres-
No Dircito brasileiro, o delito e punIvel, exciusivarnente, em decorrên- tar serviço militar. Perdcu-se a oportunidade. corno ocorreu em 1969, de reti-
cia de dolo. Pode-se admitir a hipótese do adorrnecimento culposo, que ocorre rar a figura dclituosa do diploma penal castrense.
corn o fato de o militar ingerir cornpnniidos para dor sabcndo que o rernédio Crime de mcra conduta e pernlanellte.
pode ocasionar sono irresistIvel, mas acredita poder resistir, vindo a adorme- Crime Militar - 0 crime 1. propriamente militar, por constituir-se
cer. Resolve-se no ânibito disciplinar. em infração relacionada corn o exercIcio do cargo militar. Sua classificaçao
Consurnaçao e Tentativa - Consuma-se no momcnto em que como militar decorre do disposto no art. 9. 1, 2 parte (10 CPM (crime não
0
militar, oficial ou praça, adormece, estando no exercIcio das funçoes de natu- previsto na lei penal comum).
reza militar especificadas no dispositivo legal. A tentativa é incabIvel. Se o Objetividade .JurIdica - 0 objeto da tutela é o dever militar, no
agente in
gere deliberadamente substiincia para dormir, mas a reaçâo é diversa, aspecto da dedicaço exciusiva do oficial ao serviço militar.
perrnaneccndo acordado, inexiste crime. Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, somente o militar, na condiçao
Legislação Anterior - Art. 12 dos Artigos de Guerra; art. 133 do de oficial. Sujeito passivo, as instituicöes militares.
CPA; art. 179 do CPM de 1944. Elementos Objetivos - A conduta punIvel é comerciar, que irn-
porta na prática habitual de atos de cornércio, peio militar, embora scm estar
CAPITULO XX
legalmente habilitado para o exercIcio da profissão de comerciante, por exern-
Comérc,o IlIcito
plo, compra e venda de beiis, reiteradamente, corn fim de lucro.
Art. 204. Comerciar o oficial da ativa, ou tomar pafle na Assim decidiu o Superior Tribunal Militar, no Rec. Crim. n c 3.896:
adminisiraçao ou gerência de sociedade comercial, ou dela ser "não se pode, de piano, considerar como não abrangido pelo art. 180 do CPM,
sócio ou participar, exceto corno acionista ou cotista em socie- que veda ao oficial da ativa comerciar ..., a compra corn intuito de revenda lu-
dade anônima, ou por cotas de responsabilidade limitada: crativa de automOveiS, por interrnédio de sociedade comercial e receber da
Pena - suspensão do exercicjo do posto, de seis meses a mesma, rnensaimente, por servicos prestados, a quantia de dez mil cruzeiros,
dois anos, ou reforma. fato esse que poderá também constituir vioiação do disposto no art. 30 do
Estatuto dos Militares, segundo o que apurar o processo" (0 art. 180 rnencio-
4
Corisideraçöes Gerais - Essa figura delituosa já deveria ter desa- nado é do CPM de 1944 e corresponde ao art. 204 do diploma em vigor).
parecido do diploma penal casrrense. E rnat&ia própria de regulamento disci- Rcferirido-se ao exctcIcio de atividade comercial. decidiu a Suprenio
plinar. onde encomra abrigo as prcocupaçoes de antanho, quando o militar da
Tribunal Federal ciue o "legislador não se reportou no concetlo de ato de co-
ativa nao podia dedicar-se ao comércio.
mércio ou de cornerciante, nos termos do que prevalece cm Direito Coincrciai.
414
Vendtti, II Reato Contro ii Servizio, p. 53.
Ciardi, Inst. Dir. Pen. Mit., v.2, p. 361.
416 DJ/GBde 14.02.62. p. 136.
300

Trata-se aqui de tipo que definiu o agente por sua conduta e näopor sua qua-
lidade".417
ato próprio de comércio, em determinados casos, como o especifica-
do no ac6rdo supra, concretiza-se corn a reiteraçio de compra e venda de
bens, corn intuit0 de lucro, o que no se confunde corn a venda isolada, ainda
que por preço superior ao da aquisiçao. Cabe ao julgador, no caso concreto,
determinar se o crime consumou-se, quando a atividade comercial no se en-
contra devidamente documentada e, as vezes, exercida por interposta pessoa.
diploma penal menciona, ainda, ser sócio e tomar parte da adminis-
traçäo ou gerência de sociedade comercial, o que compreende cargo de dire-
çäo, como diretor, gerente ou outro qualquer, corn poder de mando. A lei veda.
igualmente, participar de sociedade anônima OU por cotas de responsabilidade
limitada, exceto como acionista ou cotista. Se o oficial participa de sociedade
indusrial, a qualquer tItulo, resolve-se no âmbito disciplinar, por falta de pre-
visão le$al.
A referncia a oficial da ativa é dcsneccssiria. A ninguërn seria lIcito
estender a norma penal ao militar em inatividade. Prirneiro, porque, conforme
próprio Código enuncia no inciso HI, do art. 9 Os crimes de que trata o mci-
so I, do mesmo artigo tern o militar inativo como agente, nas Inesmas circuns- PARTE III
thncias do civil, pois ambos se identificam na aplicaçao da lei penal militar.
Segundo, pela impossibilidade de aplicaçao ao militar da reserva, da pena
corninada - suspcnsäo do exercIcio do posto. CRIMES IMPROPRIAMENTE Mi ii'ri R is
Elemento Subjetivo - 0 dolo de exercer o cornércio, de toniar
parte de adrniriistraçiio ou gerência de sociedade comercial, deJa ser sócio ou,
ainda, de participar, sem ser acionista ou cotista, de sociedade andnima ou por
cotas de responsabilidade limitada.
Consumaçao e Tentativa - Consuma-se o delito no momento em
que o agente pratica ato prdprio de quem exerce, de direito ou de fato, o co-
rnércio, a administraço, o gerenciamento, ou de quem participa, de qualquer
forma, exceto como acionista ou cotista. de sociedade anônirna ou por cotas de
responsabilidade limitada.
A tentativa no é cabIvel. Ou o oficial pratica os atos que se ajustam a
descriçäo tIpica e o delito se consunia, ou no OS pratica e inexiste crime.
1944. 382. Legislaçao Anterior - Art. 176, do CPA; art. 180 do CPM de

RHC n2 53.502, RTJ 75/429.


PARTE III
CRIMES IM l'ROPRIA M ENTE MILITA RES

Preliniinares Nlcsta faiic Ill, III&tiHs, no liitilo I, dos crimes


inpropriarrente rnilitares colilla 0 scI\lc () iiiditii, c. no JOillo II. (lOS CFJIOS
irnproprarnente rriilitarcs contra a LItozi(hule ((0 .1 tlisiiJltni inilita:

TiTULO I
Crimes Contra o Servico Militar

Nocöes Gerais - 0 civil e o militar sao agentes dos ci iiiits titino


priarnente militares contra o serviço inilitar, corn exceç10 (in itistihiin's;to, qnc
soniente pode ser cometida pelo civil.
A condição de sujeito ativo do militar, explica-se por se tratar (Ic dcsti
natário primeiro do diploma penal castrense, além do rnais tern o dever legal
de zelar pelo cumprimento do servico militar, inclusive na repressilo ao civil
que dde tenta escusar-se ilicitamente.
Quanto ao civil, a prestaçäo do serviço militar, em tempo de paz, decor-
re do disposto no art. 143, da Constituiçiio, corn as ressalvas dos § § l e 2 do
mesmo artigo.
Corn fundamento na obngatoriedade constitucional, o legislador ordiná-
rio elegeu corno crime a conduta do civil que se furta ao serviço militar ou de
quem favorece o convocado que procura esquivar-se da prestacao desse servi-
ço. A ilicitude não alcança quem deixa de prestar as serviços altemativo ou
outros encargos estahelecidos em lei. Estes iIltimos sofrerilo, apenas, as restri-
cöes legais, decorrentes do débito corn o serviço militar ou podern ser compe-
lidos a prestaço desse serviço.
Os quadros da PolIcia Militar e dos Corpos de Bombeiros sao compos-
tos de voluntanos. logo, nao Jul crime de insubmissäo, de criar OU simular
incapacidade, de substituir-se o convocado e de favorccinicnto a insubmisso.
Dessa forma. esse delitos sao rcstntos as Forças Armadas, situando-se na
competência da Justica Militar federal.
Célio Lobão Direito Penal Militar 305
304

em prerrogativa reservada as classes privilegiadas e carninho obrigatório para


Os crime contra o serviço militar são Os seguintes:
alcancar funcöes püblicas e boa rarias. Havia pena para Os que ingressavam
I - insubmissão (art. 183); nas legioes por meio de fraude.
II— criar ou simular incapacidade (art. 184); Segundo Edmond Orly, citado por Esmeraldino Bandeira, o primeiro
ifi - substituição de convocado (art. 185); caso de insubmissão em Roam, leria ocorrido durante a guerra contra Pirro,
IV - favorecimento a insubmisso (art. 186); quando urn cidadão näo atendeu ao chamamento do consul. Foi vendido jun-
tamente corn seus bens, conio iniltil a Repüblica. Esses fatos tornaram-se fre-
CAPITULO I quentes corn a decadência de Rorna, quando Os pais mutilavam Os filhos, cor-
InsubmissãO tando-ihes a falange do pokgar, o que os inutilizava para o servico militar,
pois o polegar era indispcnsavcl ao manejo da arma branca. A princípio, as
Art. 183. Deixar de apresenrar-se a convocado a incorpora- penas cominadas ao delito revestiarn-se de suma gravidade, coino qucilnar
çãü, dentro do prazo que lhefoi marcado, ott, apresentando-se vivo, morte natural, conhisc() tic hens, etc. Posteriormente, corn o aurnento do
ausentar-se ames do ato oficial. de. incorporacã.o; ntirnero de insubmissos c nifi lados. a castigo foi substituIdo pela conduçiio a
Pena impedirnenlo, de três meses a urn ano. inanu rnthtare, e imp siçao tie I Ial)alhos penosos e humi]hantes.
Esineraldino Bandeira dciiic a insubmissão como "o crime do sorlea(k)
§ 12 Na mesma pena iricorre quern, di.peñsado tempora- ou designado, do voluntIiio ou engajado que, sern causa justificada, deixarein
riamente da incorpOracaO, deixa de se apresentar, decorrido o
de apresentar-se dentro do prazo que Ihes for inarcado; ou que, medianie im-
prazo de licenciarnenlo. pedirnento fIsico por des vt)luIituramente criado ou falsa causa por des si-
§ 22 A pena e diminuIda de urn ter(.o: mulada, se inabilitarem para o scrviço militar ou desse serviço procurarem
pela ignorância ou a errada camp reensão dos was da subtrair-se'
convoca(,-ao militar, quando escusdveis, Segundo Macedo Soares, o Código Penal da Armada "considera cri-
pela apresen.tacão voluntária dentro do prazo de urn me de insubmisso o soricado ou designado, voluntário e engajado quc
ano, contado do ilitirno dia marcado para a apresentacão. deixarem de apreseniar-se, scm causa justificada, dentro do prazo que Ihes
for rnarcado".419
0 Código de Justiça Militar frances, lei n2 82-621, de 21 de juiho de
385. Consideracöes Gerais - A insuhmissão, como foi dito ao tratar-
mos do crime militar, é crime impropriamente militar, porquanto não diz res- 1982, rernete para a lei de rccnitamento a definicäo da insubrnissão: "Tout
peito ao exercIcio de funçao do cargo militar, ao contrário, é exigida a quali- individu coupable d'insouinission aux termes des lois sur le recrutement des
dade de civil do sujeito ativo. Apenas ocorre que a propositura da ação penal arrnées de terre, de mer ci de 'air est puni, en temps de paix, d'un
emprisionnement d'un an".
subordina-se a incorporacão do civil as Forcas Armadas, donde resulta que a
Na doutrina, segundo Augier et Le Poittevin, insubmissão é "a infracao
qualidade de militar, do agente, e condiçao de procedibilidade. Esse requisito
de natureza processual, evidentemente não altera a c1assificaco de crime im- cometida por aquele quc, ligado ao servico militar, por efeito de Iei ou enga-
jamento, porém ainda nao incorporado ou chamado a atividade, deixa de se
propriamente militar.
apresentar, em tempo de paz on (IC guerra, nos prazos fixados em iei, ou deixa
0 sujeito ativo da relação jurIdico penal é sempre o civil, o sujeito pas-
sivo da relacão processual penal militar, decorrente do crime de insubrnissão, de seguir para o local que ihe IOi tiesignado".40
Pierre Hugueney expöe qUC a insuhmisso é "Ic délit commis par
e o integrante das Forças Annadas. 0 titular da acão penal flea aguardando l'individu qui, r&guiièremcnt coivoquc a rejoindre SOfl corps de troupe, ne se
que o agente do crime adquira a condiçao de militar para propositura da acão.
Se essa condição não for adquirida, o feito seral arquivado. pela ausência de rend pas, dans les délais ]égaux. In destination qui lui a été assigné". Adverte
pressupoStO processual.
No direito romano a insuhrnissão consistia em o sorteado deixar de Esmeradino. Bandeira, Curse Dir. Pen. Mi!., p. 327.
apresentar-se ao charnamento ou a convocaçaO do cönsul. Durante 0 apogeu ' M. Soares, Dir. Pen. Md., p. 180.
Augier et Le Poittevin, Dr. Pen. Mi!., I. II, p. 577.
do Império Romario a ocorrência era rara, pois 0 serviço militar constituIa-se

IL
306 Célio Lobão DireUo Penal Militar 307

o professor da Faculdade de Direito de Dijon que essa definiço näo se en- Objetividade JurIdica - 0 objeto da tutcla 6 o scrvico militar, cm
contra no Cddigo de Justiça Militar e sim na Iei sobre o recrutamento do Ex6r- face da conduta do cidado, furtando-se ao dever de prestar o serviço militar
cito.42 imposto pela Constituição. Presente, ainda, o interesse da administraco cas-
0 Regulamento da Lei do Serviço Militar brasileira, define corno in- trense de contar, no contigente legalmente fixado para determinado peniodo,
submisso o "convocado, selecionado e designado para incomoracio ou matrI- corn os cidadãos que devem ser incorporados, nos termos da lei.
cula, que näo se apresentar a Organizacao militar que Ihe for designada, den- Sujeitos do Delito - Sujeito ativo sornente o civil, condiçao essa
tro do prazo marcado ou que, tendo-o feito, ausenta-se antes do ato oficial de do agente, irnplIcita na expressao "convocado" o que exclui o militar, de for-
incorporacio ou matrIcula". ma absoluta. No entanto, para propositura da acão penal, a condição de militar
Em conformidade corn o COdigo Penal Miiitar, insubrnissio consisic no do sujeito passivo da rclacao proccssual penal militar C indispcnsável. Sujcito
fato de o convocado deixar de apresentar-se a incorporaçao, scm justa causa, passivo as instituiçoes militares.
no prazo que Ihe foi designado, ou, apds a apresentaciio, ausentar-se antes do Elementos Objetivos - A Constituico estahelece a obrigatorieda-
ato oficial de incorporaçäo e. tambérn, dcixar de apresentar-se após o término de do serviço militar aos brasileiros natos ou natura!izados (art. 143: 0 serviço
de dispensa temporária. militar C ohnigatonio nos termos da ici). 0 serviço militar "consiste no exercI-
A exprcssão scm justa causa, constante da dcfiniç?io acima. nio consta ClO de atividadcs espccIficas dcscmpenhadas nas Forças Annadas - ExCrcito,
do Codigo. hntretanto. a jurisprudéncia vcm reconhecendo inexistir deiito sc Marinha e Aeromiutica - e compreendera. na mobilizaçao, todos os encargos
houver motivo impenoso que impeca o comparccirncnto do convocado. For relacionados corn a cicfesa nacional". (art. I da Lei 4.375, de 17.08.64).
excrnplo, sc no certificado de alistarncnto "näo consta a designacao da Unida- F.stão isento desse serviço, corn a obrigacão de cumprir prestacao alter-
de e da data em quc devc apresentar-se o convocado".422 nativa. os que, em tempo de paz, apds alisiados, alegarern imperativo de cons-
No Cócligo Penal da Armada havia rcferência a causa justificada (art. 116. ciCncia, entendendo-se corno ml o decorrenic de crença rcligiosa e de convic-
I ). no italiano. "giusto motivo' (art. 151), no COdizo frances de 1857, "fora dos ço Iilosóflca ou polItica, para se eximirem (IC atividades de carater cssencial-
casos de forca maior" (art. 230), enquanto o de 1982, como virnos. dcixou a mcntc inilitar (art. 143, § 1. da Constitiiiçño). As rnulhcres C os cclesiasticos
cargo da legislacão sobrc recrut.arnento. Pierre Hugucncy cita acórdão do tri- estão igualmcntc isentos do scrviço militar obnigatário cm tempo do paz. su-
bunal francCs, segundo o qual existe força major suficiente para a inocorrnCia jeitos, porérn, a outros encargos que a Iei Ilies atribuir.
da insubmissão se houver obstáculo absoluto ao cumprirnento da ordeni rece- Não se confunde o refratirio corn o insubmisso. 0 prirneiro é quem
hida, corno ficar rctido no leito por grave docnça, encontrar-se preso, ou em "nao se apresenta para a selccao do contingente de sua classe ou que, tendo-o
tcrritório invadido pelo inirnigo.423 feito, Sc ausenta scm a icr coiiiplcuido". 0 insubmisso 6 o selecionado c desi-
Dc lege ferenda, a insubrnissão, em tempo de paz, ajusta-se, perteita- gnado para inco1orac5o, que deixa de apresentar-se a organizaçao militar
mente, aos regulamentos disciplinares, retirando-Ihe o caráter de infracão pe- designada, no prazo marcado, ou. apds a apresentação, ausenta-se antes do ato
nal, considcrando-se as nurnerosas rcstriçoes a que fica sujeito, na vida civil, oficial de incorporaçâo ou, ainda, o dispensado temporariamente que i1O Sc
quem não se encontra quites corn o serviço militar. apresenta, apds o prazo do licenciamento.
A insuhmissão é crime perinanente e tormal. A exposição acirna rcfere-se as três modalidades do crime de insubinis-
386. Crime Militar - Classifica-se corno crime militar, cm razao do são, constantc do preceito legal: deixar de apresentar-se a incorporacao; au-
disposto no art. 9, HI, a, 2 parte, combinado corn o inciso I, 2 pane (crime sentar-se após a apresentacao C antes da incorporação; deixar de apresentar-se
nao previsto na iei penal comurn, contra a ordem administrativa militar). Cri- para a incorporação. após 0 prazo de licenciarnciito. Esta tiltinia vein expressa
me impropnalflcnte militar, pois näo se tram de infraçio penal especifica e no paragrafo duilico, conic caso assirnilado a insuhmissão, centamcntc porque o
funcional do ocupante do cargo imlitar. convocado cumpriu suas ohrigaccs, mas foi dispensaclo temporaniamente do
incorporacão, deixanclo do coniparecer 00 (Crinino do prazo de liccnciaincnto.
A nao apresentacao para a scIeçio é penairnente irrelevante. rcsolvcndo-sc
121
Repert. Chm. DaIIoz, t. II, p. 192. no âmhito cia Icgislaçao quc trata do servico militar, o que não acontece corn o
Ap. n2 35.331 Ernent. do STM, junhofl 966 e HC n 26.409, DJ/GB de 14.11.62, p. 1072.
In Répert. Dr. Crini., t. II, p. 193. deixar de apresentar-se para a i icorporaçao. E o que decidiu o Superior Trihu-
308 Célio Lobão Direito Penal Militar 309

nal Militar, na Ap. ng 35.535: "0 furtar-se a seleçâo ou dela se ausentar, antes sempre, e outras tornam-se necessárias num e noutro caso. Isto posto, pode-
de completá-la, caracteriza o refratário". mos distingui-las em condiçoes genéricas e condicöes especijicas" (Os g ifos
A tipicidade do crime de insubmissão, näo dispensa o conceito de in- são do texto).425
corporação expresso na Lei do Serviço Militar, segundo o qual a incorporação Prosseguindo afirma que, ao lado das condiçoes genéricas, "a lei penal
se realiza por meio da inclusão do convocado em organização militar da ativa ou processual penal em determinadas hipóteses, faz subordinar o exercIcio da
ou da matrIcula em escola, centro, curso de formacao de militar da ativa ou ação penal a outras condiçoes", as especIficas que, "uma vez exigidas pela lei,
órgão de formaçäo de reserva (arts. 20, 22 e parágrafo ünico do art.25, da Lei sua ausência torna inadmissIvcl ojus actionis".426
do Serviço Militar - Lei n2 4.375/64 e art. 91 do Regu!amento da Lei do Ser- E o que acontece na insubmissão, a qualidade de militar não integra o
viço Militar - Dec. n2 57.654/66) tipo, porCm constitui condição do procedibilidade especIfica, prevista no Go-
Portanto, a incorporaçio do convocado efetiva-se em organização mili- digo de Processo Penal Militar (art. 464, caput e § § 10 e 20). Corno foi cx-
tar da ativa ou em escola, centro e curso de forrnacao de militar da ativa ou da posto, o insubmisso que se aprescntar ou for capturado, será submetido a ins-
reserva, mediante matricula. Por organizacão militar da ativa "entendern-se os pecao de saüde. Se considerado apto, é incorporado, adquire a qualidade do
Corpos-de-Tropa, Repartiçöes, Estaheiccimentos, Navios, Bases Navais ou militar, iniciando-se o processo, pelo atendimento da condicão de procedibili-
Aéreas e qualquer unidade titica ou administrativa, que faça parte do todo dade prevista na lei processual penal militar. Comprovada sua inaptidäo para o
orgânico do Exército, da Marinha ou da Aeronáutica", enquanto árgäos de servico militar, o processo soni arquivado, por decisão do JuIzo Militar, pela
fomiação de reserva "é a denominação genérica dada aos órgãos de forrnação ausência da "condicao do procedibilidade especIfica, isto é, urn quid que, sem
de oficiais, graduados e soldados ou marinheiros para a reserva". (§§ 2 e 3 influenciar na punibilidade ou cxistência do crime, "constituye un obstáculo
do art. 17, da Lei do Serviço Militar). para cornenzar Ia acción penal".427
Na prirneira modalidade de insubmissão, o convocado deixa de apre- 0 local, dia e hora da aprcsentação devem vir especificados no docu-
sentar-se no dia, hora c local designados para a incorporação. Na scgunda mento, caso contrario inexisic insubmissão. Decidiu o Superior Tribunal Mi-
espécie, ocone a aprescntacao na forma designada, entrctanto o convocado litar que não se configura a insubmissão. "se, do certificado de alistamento,
ausenta-se antes de efetivar-se a incorporaçäo. Donde se conclui, ilicitude na não consta a indicacão da unidade a qual se deveria apresentar o convoca-
apresentação e ausência ilIcita antes do ato oficial da incorporacao. do".428
Na terccira, após a aprcscntacão segue-se a conduta omissiva e ilIcita Sc näo consta a hora e o convocado se apresenta no local indicado, apOs
posterior, corn a não apresentaçao, ao término do prazo de licenciamento. Por o térrnino do expediente, iiäo hi igualmente insubmissão, devendo a autorida-
exemplo, os "que estiverem rnatricu!ados em Instituto de Ensino destinados a de militar perante a qual ocorreu a apresentaçao, tomar as providéncias para
formaçao de sacerdotes e ministros de qualquer re!igião ou de membros de que se efetive no dia seguinte, perante o responsvel pela incorporaçäo.
ordens re!igiosas regu!ares; os que se encontrarern no exterior c o comprova- Na apresentação e incorporação em unidade diferente da que foi desi-
rem, ao regressarem ao Brasil".424 gnada, decidiu o Superior Tribunal Militar:
Repetimos que o agente, no rnomento da consumação do delito, neces-
"o crime de insubmissâo somente se tipifica quando o convocado revela o
sariarnente, tern a condiçao de civil. Após a apresentacao OU captura, o insub- propósito de não prestar o serviço militar a que estâ obrigado. A apresentação
misso é subrnetido a exarne medico e se for considerado apto para o serviço do convocado a CR do local em que passou a residir e a sua incorporação em
militar segue-se a incorporacão, adquirindo, cntão, a qualidade de militar, o unidade diversa daquela na qual devia se incorporar não tipifica o crime de in-
que constitui condiçao de procedibilidade. submissão, pois evidencia a vontade do convocado em prestar o servico mili-
tar a que estava obrigado". °
Por outro lado, se a junta m&lica o considera inapto para o serviço im-
litar, o processo C arquivaclo. 0 crime existe, porCrn a ação penal não pode ser
proposta, pela incxistência do condição de procedibilidade. Ensina Tourinho
Tourinho Filho, Proc. Pen., v. 1, p., 442.
Filho que, "das coiuiiçôes de procedibilidade ou da aç:ao, umas Sao exigidas
425

Tourinho Filho, Proc. Pen., v. 1. p. 455 a 456.


.27
conf. Tourinho Filho, Proc. Pen., v. 1, P. 461.
HC n26.409, OJde 14.11.62. dam: Ap. n35.680.
42
424 Art. 29, be c, da Lei de Serviço Militar. Ap. n2 34.627.
311
Direito Penal Militar
310 CélioLobão

dispositivo penal. Corn efeito, é elemento estranho ao tipo, a espécie de orga-


Em decisöes recentes, o Supremo Tribunal Federal tern entendido que o nizacão militar, se da ativa ou da reserva, onde o convocado presta serviço
aluno do Tiro de Guerra nao pratica o deito de insubmissão se nao se apre- militar. 0 que importa é a incorporação, como vem expresso, claramente, iia
senta para a matrIcula,.
descriço tIpica do art. 183: "Deixar de apresentar-se o convocado a incorpo-
No RHC 77.272, a P Turma entendeu inexistir crime porque o art. 25 ração ......ausentar-se antes do ato de incorporacão".
da Lei do Servico Militar foi revogado pelo Codigo Penal Militar, "de modo a 0 conceito de incorporacão vamos buscar na lei extra-penal, precisa-
reduzir a incriminacao a falta de apresentaco do convocado para a incorpora-
mente na Lei do Serviço Militar e em sua regulamentacão, que não se restringe
ção, mas não para a matricula". No mesmo sentido, embora corn outra funda-
mentacao o RHC 77.290. 0 ao art. 25 que, segundo o acOrdäo, foi revogado. Nos termos do art. 20 da Lei
No RHC 77.271, a 2 Turma entendeu inexistir insubmissão na falta de n° 4.375/64 (Lei do Serviço Militar), incorporacão é o ato de inclusäo do con-
vocado ou voluntário em organizacão militar da ativa das Forças Armadas.
apresentacao "para admisso em Orgão de formaçao de reserva", e, segundo o
Pode tambérn ocorrer a "incorporação nos Orgos de Formação de Reserva
acórdão proferido no RHC 77.293 o crime de insubmissao "aplica-se apenas
aos convocados para prestacio de servico militar em organizacao militar da existentes na Guarnicäo Militar" (art. 22. § 1°. da Lei n° 4.375/64).
ativa".43 ' Em face do disposto no art. 3°. § 2°, da mencionada Lei n° 4.375/64 ("a
Discordando desse entendirnento, ilustre Prornotor da Justica Militar prestacão do Serviço Militar será fixada na regulanientaco da presente Lei"),
Federal, em artigo publicado na Revisla de Direito Militar, expöe que "a in- o Decreto n° 57.654/66, condensa no n° 21, do art. 3°, o conceito de incorpora-
criminaco do designado para matrIcula em Tiro-de-Guerra pela prática do çio, expresso nos dois dispositivos supra (arts. 20 e 22, § 1°, da Lei do Serviço
crime de insubmissão não ofende ao princIpio da legalidade, haja vista que Militar): "21) incorporacão - Ato de inclusão do convocado ou voluntário em
mostra-se possIvel e aplicável a interpretação do art. 183 do Codigo Penal organizacão militar da ativa, bern como em certos órgãos de formação de re-
Militar em estrita harmonia corn a finalidade que inspirou o legislador e o bern serva".
juridico objetivarnente considerado, além do que, a Lei n° 4.375 assernelhou Prosseguindo, o Rcgulamento da Lei do Serviço Militar (Dec.
"incorporaçäo" e "matrIcula" (os grifos so do texto).42 57.654/66) distingue no n° 25 1, do art. 3°, quando a niatricula resulta ou não em
Entendemos que a orientacao correta é a do acórdâo da Suprema Corte, incorporação. Segundo o referido dispositivo, não hI incorporação quando o
embora divergindo, em parte, da fundamentação, conforme veremos nais convocado ou voluntário matriculado em órgäo de fonnacão de reserva presta
adiante. Assim também, discordamos da "interprctacao do art. 183 do Codigo servico militar "em periodos descontInuos, em horários limitados ou corn en-
Penal Militar em estrita harmonia corn a finalidade que inspirou o legislador" cargos limitados apenas aqueles necessários a sua forrnação". Efetiva-se a
porque, como adverte Heleno Fragoso, "a idéia de firn é apenas urn elemento, mcorporacao quando o convocado ou voluntário for matriculado em "Orgäo
embora valiosIssimo, para conhecer o significado da lei. Não é possIvel vio- de Formacâo de Reserva ao qual fique vinculado de modo permanente, inde-
lentar o texto, aplicando-o a situaçoes que nele nao cabem, a pretexto de atm- pendente de horário, e .com encargos inerentes as Organizaçöes Militares da
gir o fim para o qual a norma foi posta".433 Ativa".
Pelo que consta dos acórdão da Suprema Corte, acima citados, so co-
Ainda os arts. 59, da Lei do Serviço Militar, e 92 do Regulamento, dis-
mete crime de insubmissäo o convocado para prestacão de servico militar em poem que não so incorporados os matriculados em Orgãos de Formação de
organização militar da ativa; a incriminaçâo restringe-se a falta de apresenta- Reserva "em conseqUência das condiçOes de funcionamento daqueles Or -
cao do convocado para a incorporação, mas nao para a matrIcula. gãos", cuja finalidade é a de satisfazer as exigências das conveniências dos
A segunda proposicao é verdadeira. A conduta incrirninada no art. 183
municIpios.
e deixar de apresentar-se o convocado a incorporaçiio e näo. tambdm a matrI-
Concluindo, ha Orgäo de formacão de reserva, no qual os matriculados
cula. Quanto a primeira, não concspondc a realidade da descriçAo tIpica do
são incorporados, enquanto outros, corno o Tiro do Guerra, não ocorre a incor-
poração porque a instrucao militar é dada em perlodos descontinuos, horárius
DJde27.1198 e Ement., v.01933-02, p. p. 00223.
41
In Rev. de Dir. Pen. Mu., n1 3, jul/ago, 1998.
limitados, apenas o "suficiente para o exercIcio de funcOes gerais básicas de
432

433
Alexandre Leal Saraiva, Rev. de Dir. Pen. Mi!., n13, jul/ago, 1998. caráter militar" (art. 157, caput. do Dec. 57.754), sendo "incluIdos na Reserva
Licoes, Pane Geral, p. 85.
312
Cello Lobâo
V Direito Penal Militar 313

de 2 categoria, ao serem licenciados, desincorporados ou desligados, corn a vontade, corn a captura. Por se tratar de delito pernianente, sujeita o insubmis-
instruço prevista neste artigo" (art. 157, parágrafo imnico), instruçäo essa mais so a prisão em flagrante. A tentativa não éjuridicarncnlc possIvel.
restrita, sem a amplitude daquela ministrada aos incorporados em organizaçäo Pena Cominada e Menagem - 0 Código Penal Militar trouxe a
militar da ativa ou em órgao de formaçao de reserva. inovação salutar, qual seja a pena de impedimento de três meses a urn ano,
Portanto, o aluno do Tiro de Guerra näo comete o crime de insubmis- cominada ao crime de insubrnissáo, que "sujeita o condcnado a permanecer no
sao, tinica e exciusivamente, porque nao é incorporado ao órgâo de formaçao recinto da unidade, sem prejuIzo da instrucao militar" (art. 63 do CPM). Res-
de reserva (Tiro de Guerra), no qual se encontra matriculado. Se deixar de salte-se que o cumprimento da pena de impedimento nao constilul obstáculo a
comparecer para a matrIcula ou ausentar-se após a matrIcula, poderá concorrer aplicacão de prisäo decorrente de infracáo disciplinar e (luraute 0 cumpri-
A incorporação em organização militar da ativa, na primeira classe a ser COn- mento desta não se suspende a execucao daquela.
vocada. Como conseqüência, a inexistência do delito de insubmissão nao A sançäo imposta ao insubmisso é dirninuIda dc urn terço, nos seguintes
Por outro lado, o convocado que concorre a matricula em órgio de for- casos: pela ignorância ou errada compreensão dos atos da convocaçáo inilitar
maço de reserva, no qual é incorporado, pode praticar o crime de insubmis- quando escusáveis; pela apresentaçao voluntária dentro do prazo de urn ano,
säo e, tambCm o de deserço. Do exposto, resulta que carece de relevncia contato do ültimo dia designado para a apresentacão (§ 2. ait. I
saber se se trata de organizaçio militar da ativa ou de órgio de formaçäo de Na ausência do conhecimento (ignoráncia) c no conhieciincfflo equlvo-
reserva. o que interessa, o que ingressa na descriçao tipica, é o fato de ocorrer cado (errada cornprccnsäo) da legislação relativa a convocaçáo para o serviço
a incorporaçäo do convocado, na organizaçao onde se matriculou. A tipicidade militar, o agente "não conhece a norma jurIdica OU náo a conliccc bcm e a
exige que o convocado, matriculado ou nao em órgão do formaçäo de reserva, interpreta rnal","34 o que ó admissIvel no caso de convocado origivalio de local
não se apresente no momento da incorporação ou se ausente antes do ato ofi- afastado dos centros urbanos mais desenvolvidos, corn pouco accsso aos nicios
cial da incorporaçäo. A definiçäo da incorporaçäo, como elernento do tipo, de inforrnaçáo. Justifica-se, o tratamento especial ao que denionslra arrepen-
repetimos, é encontracja na lei extra-penal, na legislaçiio que trata da prestaçiio dirnento, após a infraçao da norma penal, c retorna voluntarialilcuiC, allics (10
do serviço militar. decurso do prazo de urn ano.
Por não estar incorporado na organizaçao militar, o aluno do tiro de Corn a apresentacão ou a captura, 0 insubmisso é suhmctid() inspccio
guerra no é considerado militar, nos termos do art. 22 do Código Penal Mili- de saiIde e incorporado se estiver apto para o servico militar. FiiquaiiR aguar-
tar. Como consequência, no pratica, igualmente, o crime de deserçäo. da julgarnento não permanece recoihido a prisão e sim em lihcrthnk, tcII(k) o
390. Elemento Subjetivo —A vontade livre e consciente do civil, orientada quartel por menagem (art. 266 do CPPM). A menagem serii descoutula no
no sentido de recusar-se a prestaçào do servico militar, ao qual se encontra cumprimento da pena. Cessa a menagem, corn liberdade completa, SC 0 in-
obrigado por imposicaoconstitucjonal e legal. submisso não for julgado dentro de sessenta dias a contar de sua captura On
Na decisäo do Superior Tribunal Militar, transcrita acima, do indivIduo apresentacao (art. 464, § 3 ) do CPPM).
que se apresentou em unidade diferente da qual foi designado, vem enfatizado 0 art. 266 do CPPM, que autoriza a cassação da mcnagcrn pela autori-
elemento subjetivo. 0 dolo de nao atender ao chamamento do serviço militar dade militar, por conveniência da disciplina, tornou-se inapliciveJ. Corn dci-
nao se fazia presente, logo inexistiu insubmisso, como decidiu a Corte cas- to, nos termos do art. 464, do CPM, corn a redacao da Lci ril 8,236/91, corn a
trense. apresentacäo ou a captura, o insubmisso passa a disposiçáo da autoridade ju-
Consumaçao e Tentativa - Consuma-se o delito, corn a ausência diciária e sornente ela pode cassar a menagem, mediante reprcsentacáo da
do convocado no momento em que deveria apresentar-se a incorporaço. Ou autoridade militar, requerimento do Ministério PIhlico ou dc olicio. No en-
no momento em que se retira, impedindo o ato oficial de incorporação. Se, no tanto, corno ficou dito, nada impede a imposicão de prisão disciplinar, durante
entanto, o agente retoma, quando ainda era possIvel a incorporação, inexiste cumprimento de menagem e, tambCm, da pena do impedimento.
crime, mesmo diante da recusa por parte do militar encarregado da incorpora- 393. Suspensão Condicional da Pena - 0 art. 617, II, a, do Código de
cáo. Processo Penal Militar veda a suspensão condicional da pena, ao condenado
A insubmissão é crime permanente, a consurnaçäo se protrai no tempo,
:cssando pela vontade do agente, corn sua apresentaçao, ou independe de sua Wetzel, in Damásio de Jesus, Dir. Pen., v. 1, p. 437.

n
314
W 315
Cello Lobäo Direito Penal Militar

pelo crime de insubmissão, o que se justifica pela espécie da pena cominada obtérn a exclusäo do serviço ativo, mediante incapacidade fIsica criada ou
ao crime: a de impedimento. sirnulada.
Legislação Anterior - Art. 116 do CPA; art. 131 do CPM de Na primeira modalidade, a incapacidade é permanente ou temporária,
1944 tornando o convocado incapaz para 0 serviç() militar. Resulta da ingesto de
substãncia que produz efeitos nocivos a() orgatilsino huinano, da recusa em
CAPITULO II ingerir medicamento determninado pelo Iu4clic() a liin de prolongar moléstia
Criar ou Simular Incapacidade FIsica curável, da mutilação de parte do coipo, Coflfl) 0 co!ivOCad() quc at irou contra 0
propno pé, alérn de outros.
Art. 184. Criar ou siinular incapacidade fisica, que inabi- Na segunda modalidade do delito, o cuiivoc;IIh) i1it'siiita qtiadro de iii-
lire a convocado para a serviço militar: capacidade inexistente. utiliziido :i;titRn) apat (l( iinliiiii a hula uuicdica a
erro, como simular dcfeito lisico, iuucci ir suuhiauiii (Itit , ocw,lmla ruucla de
Pena - detençao, de seis meses a dais anos.
moléstia, alérn de outros.
0 adiarnento da iiIcOrl)OI3ca() p01 I11Oli\0 da uu;ij uul.itle cmith on
Consideraçöes Gerais - 0 delito era previsto no inciso 2 do
rnulada, nijo configura o crime do art. I 8.-I. uueuui a tcuiIativ;i ( ). inn, eiuipic
art. 116 do Código Penal da Armada: "0 des ignado que, voluntariarnente,
gados não forarn suficientes para realizar a coudnia tipica, iIo pail uIiwçiit
criar para si urn impedimento fIsico, temporario ou perrnanente, que 0 ma- a
a incapacidade. Entretanto, se na renovaça() do exainc o .uuvadu
bilite para o serviço da armada". Pela dcscriçao tIpica, o próprio designado i ti niui ii iç.0
isenção ou a fraude é descoberta, ocorre, respect ivameule,
figurava como sujeito ativo e o impedimento fIsico podia ser temponirio ou
permanente. crime e a tentativa.
Como exposto acima, a incapacidade pode ser criada I)('I I)1 lni
0 delito não é de insubmisso, mas de inaptidio ilIcita para o servico
agente ou corn ajuda de outrem, mesmo scm o conhecimcnto (10 couuvoeailo
militar. Näo se trata, portanto, de crime permanente, mas instantâneo, pordm
de efeito permanente. Nesta uitirna hipótesc o convocado, ev identemente, não d rcsponsahiluiado
Crime Militar - Os preceito legais classificatórios do crime mili- penalmente, salvo se, sabedor do fato, silencia, vindo a obter a dispeusa do
serviço ativo. Na simulação, assume relevância a concordância do convocado
tar variarn de acordo corn o sujeito ativo. Sendo militar o agente, o delito clas-
que pode realizá-la sozinho ou corn ajuda de outrem, embora no se possa
sifica-se como crime militar em razão do disposto no art. 99, I, 2 parte (crime
excluir a simulação produzida por outra pessoa, scm o consentimento c alua-
não previsto na lei penal comum). Sendo civil, a previsio é do art. 99, 111, a, 2
parte, combinado corn o inciso 1, 2 parte (crime näo previsto na lei penal co- cao do convocado, por exemplo, administraco de substância que crie urn
quadro patológico, sem o conhecimento do convocado.
mum, contra a ordem administrativa militar). Crime irnpropriamente militar.
Ha quem sustente que a incapacidade criada ou simulada pelo próprio
Objetividade JurIdica A lei tutela o servico militar, em face do
convocado é penalmente irrelevante. Não procede. A descriçäo tIpica näo au-
interesse da administraçâo militar de que o contingente da unidade militar seja
toriza essa conclusão. Sujeito ativo é quem cria ou simula a incapacidade,
composto pelos cidadãos convocados a incorporação, em conforrnidade corn a
logo, o convocado ou outra pessoa, que pode ser civil ou militar. Oportuno
lei do servico militar. A incapacidade obtida mediante fraude, violando os
dispositivos legais que regulamentarn o servico militar, atenta contra a segu- observar que não se ajusta a tipicidade do art. 184, o atestado ideologicarnente
falso fornecido pelo medico, pois niio houve criação nem simulaçäo de inca-
rança e a credibilidade do ingresso do cidadào nesse servico.
pacidade. 0 medico respofl(Iera como autor do crime de certidão ou atestado
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo quem cria ou simula a incapaci-
ideologicarnente falso (art. 314 do CPM) e o convocado pelo uso (art. 315 do
dade fIsica, podendo ser o convocado ou outra pessoa, civil ou militar. Sujeito
passivo as instituiçoes militares. CPM).
Elemento Subjetivo - A vontade consciente, onentada no sentido
Elernentos Objetivos - As condutas incrirninadas consistem em
de ohier a inabilitacrio para o serviço militar, criando ou simulando rncapaci-
criar e em simular incapacidade fisica, corn o firn de obter inabilitaçäo para o
serviço ativo. 0 convocado apresenta-se legalmente para a incorporaçiio, mas dade fIsica.
316 317
- CóIio Lobão Direito Penal Militar

Consumaçao e Tentativa - Consuma-se o delito no momento em 92, ifi, a, 2


nao previsto na lei penal comum). Sendo civil, a previsão é do art.
que o convocado 6 declarado incapaz para o serviço militar. A posterior cons- parte, combinado corn o inciso 1, 21 parte (crime não previsto na lei penal co-
tatação de fraude mantém inalterado o momento consumativo. mum, contra a ordem administrativa militar). Crime impropriamente militar.
E possIvel a tentativa, quando no 6 alcançado o fim almejado. ou seja, Objetividade JurIdica - A lei tutela a seguranca e credibilidade
a inabilitaçao para o serviço militar, por motivos alheios a do ingresso no serviço militar e o interesse da administração militar de que a
vontade do agente,
que tudo fez para alcançar esse objetivo. Por exemplo, a junta médica desco- incorporaçâo ou a dispensa do serviço militar obedeça, rigorosamente, os dis-
bre a fraude e no isenta o conscrjto. positivo legais pertinentes.
Suspensao Condicjonal da Pena - 0 art.617, TI. b, do CPPM ex- Sujeitos do Delito - Tanto o civil quanto o militar podem praticar
o crime de substituição de convocado. 0 primeiro, na condiçao de convocado
cluj do benefIcio da suspenso condjcjonal da pena, o condenado pela prática
do crime de insubrnjssäo. Na espécie ora ou de quem o substitui, e o militar, na condiçäo de substituto do convocado.
comentada. não ha insubmissão c Elementos Objetivos - Duas são as modalidade do delito. Na
sim o delito de criar ou simular incapacidade fisica, corn o fim de inabilitar o primeira, a conduta incriminada consiste em o convocado substituir-se por
convocado para o serviço militar. Logo, n5o ha vedaçibo legal na outrem, na apresentacibo ou na inspecibo de saiide. 0 agente coloca em seu
beneffcjo. concessibo do
lugar outra pessoa para se apresentar perante a autoridade encarregada de re-
403. Legislaçao Anterior - Art. 116, 22, do CPA; art. 160 do CPM de ceber o convocado, antes ou depois da inspeção de saüde, inclusive no mo-
1944. mento da incorporaçäo. Na segunda, contemplada no parágrafo tmnico, o ato
ilIcito 6 substituir o convocado na apresentaçao ou na inspecão de saüdc. 0
CAPIT&JLO III substituto pode ser civil ou militar.
Substituiçao de Convocado Irrelevante para a tipificação do delito a finalidade da substituicibo, sell
para obter isencibo do serviço militar, seja para lograr a incorporaciici ou lmra
Art. 185. Substitu ir-se o convocado por outrem no apre- regularizar, fraudulentamente, a situação corn o serviço militar. IlciiicuIu es-
sentaçdo ou no inspeção de satide: tranho ao tipo, se o resultado do ato ilIcito foi ou n5o alcançado. RealineiiR, a
finalidade e o resultado näo ingressam na tipicidade, )orqu;tIIIo a ki nib
Pena - detençao, de seis meses a dois anos. aguarda que o agente alcance o firn prelendido, anlecipa se, pciialii.ando a
Parágrafo (Jnico. Na mesma pena incorre quern substitul o 1I
apresentacão pura e sirnplcs, assirn com o, ignora Os 1110VOS da 5111)51 iluiçao.
convocado A. substituiçibo efetiva-se cm LOU so on eni (lois IIu)IIIeIllus: na apresen-
tacibo ou na inspecao de saude ou cm ainbas. Nuiii e noutlo, U substituto iden-
404. Consideraçoes Gerais - A substituiçao de convocado nem sempre tifica-se corno sendo 0 convocado, cotiligunindo-se o delito, mesmo que a
foi crime. "A lei n2 autoridade constate de inicdiato a snhsliliiiçio. Nao Will, igualmente, qualquer
2.556 de 1874 permitia ao sorteado apresentar substituto
idôneo no prazo marcado no regulamento, corn a condiçao de responsabjljzarse relevãncia a ocorrência ou nño de pie julio i aclrniriistraçibo militar.
pela deserçibo do mesmo substituto, no prirneiro ano da praça".435 Essa subs- 0 conceito de convocado jb licon expresso, quando tratamos do crime
tituiçibo era autorizada pelos inciso 0 e 5 do art. 116, do Código Penal da de insubmissão, 6 o cidadibo "selecionado para convocaçäo e designado para a
Armada. Posteriormente foi proibida pela Lei n2 39-A, de 1892. incorporação ou matrIcula cm Organizacão Militar, a qual deverá apresentar-se
no prazo que The for fixado".
Crime de mera conduta. Não é permanente, pois o momento Consumati-
vo se exaure no instante da apresentaçao ilIcita. Discordamos da decisibo (10 Superior Tribunal Militar, segundo a qual
405. Crime Militar "quem se apresenta por outrern, para prestar 0 serviço militar, comete urna
- Os preccito le2ais classifjcatórjos do crime mill- modalidade de crime de insuhrnissibo".436 Na verdade, não se trata de crime de
tar variarn de acordo corn o sujeito ativo. Scndo militar o agente. o dclito clas- insubmissão e sim de substituiçiio de convocado, cujo agente e o convocado
si1ca-se como crime militar em razão do disposto no art. 9, 1, 2 parte
(crime ou quem o substitui.
435
Macedo Soares, Cod. Pen. Mu., p. 181.
Ac. de 12.05.41, in SIIvio Teixeira, Novo Cod, Pen. Mi!., p.344.
318 Célio Lobão Direito Penal Militar - 310

Ao substituir-se ou deixar-se substituir por outrem, o convocado comete Consideraçöes Gerais - Adotamos a mesma denominaçio (10
crime de substituiçao de convocado e, conforme o caso, também o de in- Cddigo, isto é, favorecimento a convocado, em vez de favorecimento a
submissão. 0 substituto infringe, somente, o disposto no parágrafo cinico insubmisso.
(substituir o convocado). No caso de desconhecimento da substituiçao, so- Como o dispositivo legal refere-se aos crimes previstos no CapItulo em
mente o substituto e responsabilizado, embora possa ocorrer a insubmisso, se que se insere o art.. 186, o favorecido tanto pode ser o insubmisso (art. 183),
convocado deixa de apresentar-se a incorporação. quanto o convocado que corneteu o crime de cnar ou simular incapacidade
Elemento Subjetivo - A vontade livre e consciente do convocado (art. 184) ou de substituir-se o convocado (art. 185).
em substituir-se por outrem, na apresentação ou na inspeção de sade, e a do No texto usaremos a expressão favorecimento a convocado ou favore-
substituto em apresentar-se em substituiçao do convocado, na apresentaçäo ou cimento a insubmisso, md istintarnente.
inspeço de saiide. 0 dispositivo penal ora estudado trata do favorecimento pessoal igual-
0 fim OU os motivos da conduta incriminada é estranha ao elemento
mente definido no art. 35() do CPM, corn a redacão seguinte:
subjetivo do tipo. Existindo urn firn especffico, norteador da conduta do
agente, essc fim nao integra o tipo, cujo elemento subjetivo ó a consciência de
"Art. 350. Auxiliar a subtrair-se a açâo da autoridade, autor de crime
agir contrariarnente a lei penal. militar, a que e cominada pena do morte ou reclusão: Pena - detoncâo, ate
Consumaçao e Tentativa - Consuma-se o crime no momento da seis meses. § i, Se ao crime é cominada pena de detencao ou impedimonto
substituiçäo do convocado, na apresentaço ou na inspecäo de saüde. 0 delito ou reforma: Pena - detenção, ate trës meses. § 22. Se quem presta o auxIlio é
ascendente, descendente, conjuge ou irmão do criminoso, fica isento da
é de mera conduta, sendo suficiente a substituicao, pura e simples, ainda que
pena".
nenhum resultado seja alcançado. Concretiza-se a consumaçIo mesnio que a
fraude seja descoberta no momento da apresentaçAo ou da inspeçäo.
Corno a insubmissiio o (inico crime do Código Penal Militar cuja pena
A tentativa no d possIvel. Ou o agente se apresenta e o delito con-
cominada é de impedimeuto, o art. 350, supra transcrito. refere-se, tambérn. ao
suma-se, ou nao se apresenta, rnesmo por motivos alheios a sua vontade, e
nenhurn crime existe. favorecimento ao insubmisso, corn pena de menor gravidade (detencão de urn
Suspensão Condicional da Pena - 0 disposto no art. 617, II, a, a seis meses), enquanto a do au. 186 é de três meses a dois anos.
Ocone que o Codigo classifica o favorecimento pessoal como crime
do Codigo de Processo Penal Militar, veda a concessão do benefIcio da sus-
pensäo condicional da pena, ao autor do crime de insubmisso, logo, não Sc contra a adrninistraço da Jusliça Militar e os dispositivos que tratam desses
aplica ao delito de substituiçao de convocado, ora comentado. delitos säo inconstitucionais porque escapa da cornpetência da Justica castren-
Legislação Anterior - Art. 166, 4 e 52 do CPA; art. 161 do CPM se tutelar órgão do Pocler Jiidiciario. Por esse motivo e por se tratar de norma
de 1944. especial, no favorecirnenlo a insubmisso ou a convocado, prevalece o disposto
no art. 186, ora cornentaclo.
CAPiTULO IV A redação do art. 186 deixa a desejar, optou por enumerar determinadas
Favorecimento a Convocado condutas em vez de adotar a redacio inais técnica do art. 350, acima transcri-
to. Num excesso de detalhcs, incornpatIvel corn a norma penal, o art. 196 mdi-
Art. 186. Dar asilo a convocado, ou tornd-io a sect serviço, ca as formas de favorecimento e vai mais longe, exige que 0 favorecimento
OU proporcionar-ihe ou facilitar-Ilie transporte ou meio que obste ou dificulte a incorporaço. Portanto, se nenhuma relaçäo direta existir
obste ou dificulte a incorporação, sahendo ou tendo razão para ernie a dificuldade da incorporacão C 0 favorecimento, näo ha crime. Crime
saber que cometeu qualquer dos crimes previstos neste capitulo: permancnte e de mera conduta.
Pena - de!ençao, de Irês meses a urn ano. Crime Militar - Os preceito legais classificatórios do crime miii-
Pardgrafo tlnico. Se o favorecedor é ascendente, descen- tar variam de acc)rdo corn 0 Sujeilo ativo. Sendo militar o agente, o delito clas-
dente, COflJ1Ie ()U irrnao do cruninoso, Jica isento de pena. sifica-se como crime militar em razio do disposto no art. 9, I, 22 pane (crime
não previsto na ici penal cornum). Senclo civil, a previsao 6 do art. 9. Ill, a, 2
Vw 321
320 Cello Lobâo Direito Penal Militar

eminentcmente doloso, porquanto na "operação que devia saber ruinosa, age


parte, combinado corn o inciso I, 2 parte (crime não previsto na lei penal co-
mum, contra a ordem administrativa militar). Crime impropriamente militar. pelo menos corn dolo eventual".439
Objetividade JurIdica - 0 objeto da tutela penal é o serviço mi- Expöe Damásio de Jesus:
litar ao qual estäo constitucionalmente obrigados os cidadãos brasileiros. Ha
"A expressão "sabendo" indica plena consciência do sujeito de que a
interesse da administraçâo militar de que essa obrigatoriedade constitucional e operacão é ruinosa; a expressão "devendo saber" indica divida sobre o pro-
legal nao se fruste pela açäo de terceiros, favorecendo os que se furtam 1lici- veito da operacão. Assim, o tipo, na ültima figura, admite o dolo direto e 0
tamente. da prestação do servico militar. eventual. Direto quando o agente sabe que a operacão C ruinosa: eventual
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o civil ou o militar. Sujeito pas- quando, em face de determinados fatos, devia saber da possibilidade de pre-
sivo a administraçao militar. juizo".44°
Elementos Objetivos - As condutas incriminadas sao: dar asilo;
No entanto, ao conientar o art. 130 do Código Penal, o mesmo autor, a
tomar a seu serviço; proporcionar ou facilitar transporte ou meio que obste ou
exemplo de Nelson Hungria e Noronha, afirma que 0 "dolo de perigo esta na
dificulte a incorporaço.
expressão "sabe que csti contarninado". A culpa se encontra na exprcssão
Dar asilo significa dar guarida, dar proteço. Tornar a seu serviço im-
"deve saber que está contain i nado".'141
porta em dar emprego ou ocupaçao rernunerada. Proporcionar ou facilitar con- A espécie comentada indica conscincia plena, dolo direto, inica e cx-
siste em dar condiçöcs cm conceder facilidade para o insubmisso ou 0 convo- clusivarnente. mesmo porque iio logramos decifrar, em face das circunstânCias
cado transportar-se de urn local para outro. do mundo atual e da 6poca do COdigo, de que forma o agente, nas circunstân-
0 favorecimento a insubmisso ou convocado difere do favorecirnento a cias expresSa no preccito penal, favorece o convocado ou o insubmisso, "tendo
desertor porque, neste, d descrita a ação ilIcita e o conhecirnento de que se raziio para saber" que se trata de quem praticou os crimes de insubrnisso e os
trata de desertor, enquanto naquele, o "tipo menciona a conduta do sujeito e o
dos arts. 184e 185.
resultado pretendido",437 qual seja o de obstar ou dificultar a incorporação do Conforme consta cia ckscriçio tIpica, o favorecido, necessariamente, é o
convocado que praticou os crimes de insubmissäo, de criar ou simular incapa- convocado que cometeti qualquer dos crimes dos arts. 183 a 185. Como con-
cidade fIsica ou o de substituir-se na apresentaçao OU na inspeção de saüde. seqiiëncia, quem favoicce aquele que cria ou simula, no convocado,incapaci-
Logo, o asilo, o serviço, o transporte e outros meios, necessariamente, dade fIsica (art. 184) c aqucle que substitui 0 convocado (art. 185), não pratica
servem de obstáculo a incorporaço ou dificultam-na, caso contrário, o delito
o delito do art. 186
näo se consuma. 0 mesmo acontece se a incorporaçio não se efetiva por moti- Escusa Ahsolutória - 0 favorecedor, ascendente, descendente,
vo de incapacidade, de excesso de contingente, etc., apesar do favorecimento. cônjuge ou irmão do insubmisso ou do convocado, é isento de pena. Como
Dessa forma, mesmo que ocorra o favorecimento, mas sem nenhuma ocorre corn o COdigo Penal, a lei repressiva castrense não indica os graus de
relaçäo corn o retardamento ou a inocorrência da incorporaçäo, nao ha crime parentesco do ascendente ou descendente, logo, qualquer que seja, atende ao
de favorecimento. benefIcio do preceito lea1, OS avos ou bisavós em relação ao neto ou ao his-
A formula "tendo razo para saber", guarda identidade corn a expresso neto.
"devendo saber" do art. 174 e "dever saber" do art. 130, ambos do Codigo Adverte DamnIsio que a "enurncracao e taxativa, não podendo ser am-
Esclarece
Penal que, segundo Nelson Hungria, d indicativo, o primeiro, de dolo, pois pliada. Assirn, não abrange os alms nern a relaçio de adoção".442
"näo quer significar que o art. 174 admita o contra-senso de uma "fraude cul- Noronha que
posa" e, o segundo, da culpa stricto sensu,438 enquanto Magalhaes Noronha,
referindo-se aos art. 180, § 1 2 e 130, além de outros, acrescenta que "dever Código Penal suiço é mais amplo, por compreender, no art. 305, 2a alInea,
saber" ou "dever presumir" é enunciadora da culpa em sentido estrito e pros- as relaçôes estreitas entre o agente e o favorecido, o que näo so abrange os
segue esclarecendo que a expresso é infeliz e desnecessária, pois o crime C
Noronha, Dir. Pen., v. 2, p. 440-1.
Darnásio, Dir. Pen., v. 2. 469.
137
Damãsio de Jesus, Dir. Pen., v. 1, p. 180. Darnãsio, Dir. Pen., v. 2. p. 166.
48
N. Hungria, Comentários, V. 7, p. 271. 112
Damásio, Dir. Pen., v. 4, p. 275.

71
322 Cëlio Lobão Direito Penal Militar -. - 323

casos mencionados por nosso diploma, como outros, v. g., o amigo, o mestre, para duelo, homossexualisnio, recusa de funcão na Justiça Militar. 0 Código,
o discipulo, etc".443 entretanto, os classifica como crimes contra a autoridade ou a disciplina mili-
tar (o primeiro), contra a Iibcrdadc (o segundo), crime sexual (o terceiro),
Damásio oferece solução para esses casos: "nada impede que seja ab- contra a administração da Justiça Militar (o 61timo).
solvido o sujeito por inexigibilidade de conduta diversa, exciudente da culpa- Relacionarernos, a seguir, os crimes contra a autoridade ou a disciplina
bilidade".444 Entendemos que a escusa absolutória alcanca a companheira,
militar e os que atentam soiuente contra a disciplina militar:
pela inexigibilidade de conduta divcrsa e pelo reconhecimento da sociedade
conjugal de fato. Outras pessoas corn relação Intima corn o convocado ou o
Atentwn contra a a,itoridade e a disciplina ,,zilitares:
insubniisso são beneficiadas pcla inexihilidade de conduta diversa.
I - aliciação (art. 154);
419. Elemento Subjetivo - 0 delito é punIvel a tItulo de dolo dreto. 0
II - incitamento (u( 155);
agente age corn conscincia plena de que favorece o autor de crime de insub-
III - apologia (art. I 56);
missao, presente o fim de obstar ou dificultar a incorporação.
IV - vio]ência contra inilitar em serviço (art. 158);
420. Consurnacão e Tentativa - Consurna-se no momento em que o
favorecimento obsta ou dificulia a incorporação do insubmisso ou do convo- V - resuliado ciii poso da violCncia (art. I 59);
cado. A tentativa é possível, quando, por motivo alheios a vontade do agcntc, VI - oposiçiio oniciii de sentinela (art. 164);
não se concretiza o favorecirnento que vai obstar ou dificultar a incorporação. VII - proniovcr ccii ii an (IC militares (art. 1 65);
421. Legislaçao Anterior - Art. 116, parágrafo Inico, do CPA; art. 169 Viii - US() ii Ciii) ilc nut lorune (art. 172);
do CPM de 1944. IX - rcsistCncia (art. 177);
X - fuga de Plc'so ( a ci. I 78);
TITULO II XI - fuga de ;HcSO por cuipa (art. 179);
Xli - evasao dc )rcsi (all. 180);
Crimes contra a Autoridade Militar
XIII - arrebatauiicuU ik' preso (art. 181);
ou Disciplina Militar
XIV - afliOt I urn ii cu ii Ic preso (art. 182);
XV - desacato a militar cm funcão de natureza militar (art. 299);
422. Consideraçöcs Gerais - Como ficou exposto, neste TItulo 11 co-
XVI - ingrcsso (liIii(ICSI no (art. 302).
mentaremos os crimes impropriainente militarcs contra a autoridade ou a dis-
ciplina militar, que são o objeto da tutela de alguns preceitos legais comenta-
dos, enquanto outros protegem somente a disciplina castrense. 0 militar in- Atentarn contra a disciplina militar:
gressa como sujeito ativo nos crimes contra a autoridade ou a disciplina mili- 1 - ultraje a simbulo ivacional (art. 161);
tar, enquanto o civil figura coino agente apenas nos dclitos contra a autoridade H - desafio pant cluc In (art. 224);
militar, em face da impossihilidade constitucional da sujeicäo do civil a disci- 111— homosscxuaFisuuio (art. 235);
plina militar. lv - recusa de ltuuiçio urn Justiça Militar. Insubordinação (arts. 340 e
0 desacato a militar em função militar (art. 299) e o ingresso clandesti- 163);
no (art. 302), atentarn contra a autoridade e a disciplina militares, quando co-
metidos por militar, e somenic contra a autoridade militar, se praticados por 423. Justiça Militar l'sla(IilaI. Sujeito Ativo Militar. Civil. - Os cri-
civil. 0 Código, no entanto, os inclui dentre os crimes contra a administração mes irnpropnamenlc nilldaw,, ac lieu relacionados, em sua rnaioria, tern como
militar. agente, o militar e o civil. ('nu utoruuic resulta do que ficou esciarecido quando
Classificarnos como atentatórios a disciplina militar. os seguintes cri- tratamos do crime militar. a .Jtusiiça Militar estadual nño tern competCncia para
mes que tern o militar como sujc.ito ativo, ultraje a sImbolo nacional. dcsafio processar e julgar o civil e u uuute2raruiC this Forças Armadas.
4u, da Constituição, a iustica Mi-
Corn efeito. noS terunos do art. 125. §
443 Noronha, Dir. Pen., v. 4, p. 413.
litar estadual conhece dos crimes inilitares de que trata o COdigo Penal Militar
" Damásio, Dir. Pen., v. 4, p. 275. contra as instituiçöcs ml litarcs csuaduais cometiclos. exclusivauiiente, por poli-
324 Cello Lobão 325
DireitO Penal Militar

cial militar ou por bombciro militar. Logo, a Lei Major veda a extensão do ou a se levantarem contra o govemo ou contra seus superiores. No Código de
foro militar estadual para alcancar o civil, no qual se inclui o policial militar e 1890 vinha previsto o delito de "aliciar, sem autorizaçäo do governo, gente
bombeiro militar na inatividade. para o serviço militar de urn pals estrangeiro" (art. 97). 0 Código Penal Mili-
Para exemplificar: se o civil pratica violência contra policial militar em tar de 1944 adotou nova definiço, que foi copiada pelo atual diploma penal
serviço (art. 158), responde na Justica comum, se sua conduta encontrar defi- castrense.
niçäo na lei penal comum. Quanto ao militar das Forças Armadas, a soluçao Os delitos a que se refere o art. 154 (crimes previstos no capItulo ante-
será encontrada em uma das três etapa em que se desdobra a ocorrência: a) rior), são os de motim e revolta (art. 149), violência praticada por grupo arma-
responde na Justiça Militar federal, se sua conduta encontrar definicao na lei do (art. 150), omissão diantc do motim ou da revolta (art. 151), concerto para
penal castrense, e ajustar-se a urn dos requisitos do inciso I e alIneas do inciso motim ou revolta (art. 152), todos comentados na Parte H deste livro.
IT, do art. 9, do Código Penal Militar; b) não sendo cabIvel a primeira, será Crime Militar - 0 suporte legal da classificação do delito como
processado e julgado na justiça cornurn, se os atos praticados estiverern tipifi- crime militar, relaciona-se corn a condiçao do agenle. Sujeito ativo militar:
cados na lei penal comum; c) sendo incabIvcl as duas anteriores, cstará sujeito inciso 1, 2 parte, do art. 9 (crr1ic nño prcvislo na lei penal cornurn). Agente
a sancão disciplinar. U itiCIS() I. 2 panic.
civil: inciso 111, capul e almnea a, 2 pane. cvrnhina(k) ('oil)
Dispöe o § 41, do art. 125: art. 9 (crime não previsto na lei pciial Ct)llittlli. (Uflhla oidein :I(lTflhIiiSila-
1
(10
tiva militar). Crime improprianlenic inilihar
"Compete a Justiça Militar estadual processar e julgar os policiais miii- iii
Objetividade Jurídica A norma p.iial wieli a l i1ditii e a
tares e bombeiros militares nos crimes militares definidos em lei, cabendo ao do ap.villc 11111iial, ;1(1 al ci
tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficlais e toridade militar, considerando-se que a conduit
militares para a pratica dos atos delituosos, ICleii(lOS iii leset çio
Iipit.i,
da graduação das praças".
constitui sdrio perigo ao ordenamento militar, aliccrcido, escin'i;liieiile, no
Conforme os esciarecimentos acima, nos crimes conientados nos CapI.- prcservacão da disciplina e da autoridade militar.
tubs que se seguem, como acontece corn os anteriores, o civil somente ingres- No caso do agente civil, a proteço da lei repressiva casliclise deslia c
sa na relacâo juridico-penal militar, nos delitos militares da competência da a preservar a autoridade militar e, principalmente, a ordern tduintsiiahiv.i
Justiça Militar federal. castrense, presente o intere.sse da manutencão da normalidade do fuiiciuii:t
Nunca d demais repetir, ao mencionarmos militar estamos nos referindo mento das instituiçOes militares, sujeitas a perigo de surna gravidade, en lace
ao integrante das Forcas Armadas, nos crimes da competêrlcia da Justiça Mi- da aliciação de militares para cometerem os atos ilIcitos referidos na nonni
litar federal, e ao integrante da Polfcia Militar e do Corpo de Bombeiros Mili- penal especial, pondo em risco o princIpio de autoridade, no ârnbito da admi-
tares, nos crimes militares da competência da Justica Militar estadual. nistraçäo militar.
Registre-se, ainda, que a expressiio instituicão militar diz respeito as Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar ou o civil Sujeito pas-
Forcas Armadas, nos crimes da cornpetência da Justica Militar federal, e a sivo as instituicôes militares, federais ou estaduais, conforme o caso.
PolIcia Militar e ao Corpo de Bombeiros Militares, nos delitos militares da Elementos Objetivos - 0 nticleo do tipo é aliciar que consiste em
cornpetência da Justiça Militar estadual. convidar, seduzir, atrair, dois ou mais militares para a prática de motim e de
revolta (art. 149), de violência por grupo de militares armados (art. 150),
omissão diante do motim e da revolta (art. 151) e do concerto para motim e
CAPITULO 1
Aliciação [ -I revolta (art. 152).
Não e exigida a concretizacãO do delito fim, sendo suficiente o convite
Art. 154. Ahiciar militar para a prdtica de qualquer dos revestido de circunstâncias que demonstrem a seriedade de propósito e a pos-
crimes previstos no cap itu to anlerior: sivel viabilidade, o que não se confunde corn a hazófia, o falatório inconse-
Pena - reclusao, de dois a quarro anos. qOente. Diante da gravidade dos fatos, a lei antecipa-se, elegendo como crime
424. Consideraçbes Gerais - No Codigo Penal da Armada, o crime de fato de convidar, seduzir, atrair militares para a prálica dos delitos pretendi-
aliciação consistia em seduzir militares a se passarern ao servico do ininligo dos, scm aguardar qualquer resultado do ato ilIcito.
326 Cello Lobão Direito Penal Militar 327

Já tivemos oportunidade de decidir que a reuniäo destinada a saber Suspensão Condicional da Pena e Livramento Condicional da
"como estava a situação nos quartéis, não se configura crime de aliciacao por- Pena - Ao condenado por crime de aliciacão não se concede suspensäo con-
que no houve proposta para a prática de motim ou revolta e sirn conhecer o dicional da penal, nos termos do art. 88, II, a, do CPM e art. 617, II, a, do
pensamento politico de militares pertencentes a determinadas unidades". CPPM.
Por outro lado, uma vez consurnada a infraçao penal pretendida, o alicia- A concessão do benefIcio do livrarnento condicional subordina-se ao
dor responde pela aliciaçao e pelo delito fim, caso participe deste ültimo. En- cumprimento de dois terços da pena, como dispöe o art. 97 do CPM, combi-
tretanto, é born lembrar que o aliciador civil nao seth penalmente responsabili- nado corn o art. 642, parmIgrafo tinico, do CPPM. e atendidas as exigências do
zado pelos crimes propriamente militares, objeto da aliciaço (arts. 149 a 152). art. 89, II, Ill e § § 12 e 2, do CI'M.
Nessa hipótese. seth processado e julgado na Justiça castrense, se os atos pra- Legislacão anterior - Art. 133 do CPM de 1944.
ticados estiverem definidos na lei penal militar, corn atendimento dos requisi-
tos do art. 9. Caso contrário, responde na Justica cornum, se tais atos encon- CAPITULO II
trarem definiçio na lei penal comum. Incitamento
Ao transpiantarem o crime de aliciaço do Codigo Penal Militar de
1944 para o atual diploma castrense, Os autores do decreto-lei no atentaram Art. 155. Incilar a clesobediencia, a indiscip/ina 00 ci pro-
para as altcraçoes feitas, pelo novo diploma, no capftulo anterior (arts. 149 a tica de crime ijij li/ar:
153). Dai. resultou na aliciaço, no convite, coin a finalidade de os militares Pena - r('(lII,VOO, de dois a quatro anos.
ajustarern a prática do motim ou da revolta (art. 152). 0 que conduz a punição Pará,i,' rafo u1n tea. Na mesma pena in((r1e quueiui in irodu :',
do convite para que se reunam corn 0 firn de ajustc futuro de crime!
afixa ou thstribui, em lugar sujeito a adminis!raçao ini/i!au•, iou
Se a aliciaçao tern por finalidade o motim, a revolta (art. 149), a violén-
cia por grupo de militares armados (art. 150), o concerto para motim ou re- presso, fllOflUS( riIo.v ou male rial mimeografado, J01o( O/)I(l(l() (0t
gravado, ent que se contenha incitafliefltO a pro/wa tios a/os
volta (art. 152), é indispensável o aliciarnento de, pelo mcnos, dois militares,
caso contrário inexiste crime, o que não acontece corn a aliciaçäo para a práti- previstoS no ar/icy
ca do crime de omissão diante do rnotirn ou da revolta (art. 151), quando é
necessirio o aliciamento de apenas urn militar. Consideraçöes Gerais - 0 incitarnento, evidentemente, não se
Embora militar e civil figurern como aliciadores, os aliciados, necessa- confunde corn a incitaçño no crime, prevista no art. 286 do Código Penal. C)
riarnente são militares, condição essa integrante do tipo, rnesrno porque so- elemento do tipo - prätica tic crime - contido em ambos, não se equivalem,
mente des são agentes dos crimes definidos nos arts. 149 a 152. A aliciaçao porquanto o art. 286 rcferc-se a crime definido na lei penal comurn, enquanto
realiza-se por qualquer rneio de comunicação como radio, televisäo, irnpresso, Código Penal Militar tern ciii vista tio sornente o crime militar.
desenho, etc., sendo indispensável que chegue ao conhecimento dos aliciados. 0 art. 13 do decrcto-Iei u 431 de 18 de maio de 1938, previa o crime de
Elemento Subjetivo - 0 dolo de aliciar militares, presente o fim "incitar militar a desobedcccr iii lei ou a infringir, de qualquer fonna, a disci-
de os aliciados praticarem os crimes previstos nos arts. 149 a 152. plina, rebelar-se ou desertar". hssa figura delituosa, corn pequena alteraçäo,
Consumação e Tentativa - Consurna-se no momento em que o foi incorporada ao Código Penal Militar de 1944 (art. 134), transmudando-se
convite idôneo, viável, corn seriedade de propósito, é conhecido por dois ou para o atual, corn a mesma redaço.
rnais militares ou, na ornissão diante do motim ou da revolta, somente por urn Crime Militar - 0 suporte legal da classificaçäo do delito como
militar, independenternente de aceitaçao, recusa, oposicao OU i ndiferença. crime militar, relaciona-se corn a condiçao do agente. Sujeito ativo militar:
A tentativa é possIvel na aliciaç?io por meio de emissio de voz, quando inciso 1, l pane, do art. 9 (crime definido de modo diverso na lei penal co-
convite não chega ao conhecimento dos destinatSrio, por motivos a]heios a mum). Agente civil: inciso III, ct.'put e aiInea o, 24 pane, comhinado corn o
vontade do agente. Da niesma forma, na a]iciação por meio de impressos, fil- inciso 1, 1a parte, do art. 9 (crime definido de modo cliverso na lei penal co-
mes, desenhos, etc., se flão ocorre a distribuiçio, por motivos alheios a vonta- mum, contra a ordem adminisiral iva militar). Crime impropriamente militar
de do agente. Objetividade JurIdica - A norma penal tutela a disciplina e a au-
toridade militar, considerando-se que a conduta do agente rni!itar, ao incitar
328 CéIioLobo
w
q
Direito Penal Militar
32

militar ou civil (somente crime impropriamente militar) para a prática dos atos
+ Por exemplo, o incitamento para ocasionar dano em aeronave riiihtar
descritos na lei repressiva castrense, constitui sério perigo ao ordenamento especIfica, em construcão numa empresa privada (art. 262), não tipifica a cri-
militar, alicerçado, essencialmente, na preservaço da disciplina e da autori- porque nAo se ajusta a qualquer das alIneas do 1UCIS()
me do art. 155, in fine,
dade militar. III, acima citado. Outro exemplo, o incitamento para o civil matar determinado
No caso do agente civil, a proteção da lei repressiva castrense destina-se militar no momenta em que se encontre em serviço de natureza militar, confi-
a preservar a autoridade militar e, principalmente, a ordem administrativa gura-se o incitamento (art. 205, c.c. o art. 9°, ifi, d, do CPM).
castrense, diante do interesse da manutençäo da normalidade do funciona- Por outro lado, o crime é comum (art. 286, Cl?), se a incitamento desti-
mento da instituição militar, sujeita a perigo de surna gravidade, corn o inci- na-se a matar o militar, que não está em serviço, no interior de sua residência.
tamento de militar ou civil para a prática dos atos descritos na norma penal Não ha crime militar pelo nao atendimento dos requisitos das alIneas do inciso
especial, pondo em risco o princIpio de autoridade, no ãrnbito da administra- ifi, supra referido. 0 mesmo pode ser dito em relação ao militar. 0 incita-
ção militar federal.
mento deve destinar-se a prática de crime militar, v.g., delito tipificado no
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar OU 0 civil, nos crimes Codigo Penal Militar c atendimento dos requisitos dos jncisoS I e IT, do art. 9°.
da cornpetência da Justiça Militar federal. Nos da competência da Justiça Mi- 0 incitamento realiza-se através de qualquer rncio idônco de comunica-
litar estadual, somente o policial militar ou a bombeiro militar. Sujeito passi- çäo, como radio. televisAo, computador, impresso, etc., em lugar sob adminis-
vo, as instituiçOes iii I litares.
traçäo militar ou fora dde, scndo, no entanto, indispensáVel que o destinatário
Elementos Objetivos - A conduta incriniinada é incitar, instigar, (incitado) tome conhecimento do incitamento. Não interfere na tipificacäo do
estirnular, persuadir, induzir, corn a finalidade de o incitado cometer desobc- delito, a concordância, discordância, oposico ou indiferenca do incitado.
diência, indisciplina ou crime militar. A lei repressiva castrense, no entanto,
no aguarda que o resultado seja alcançado, a dc se antecipa, penalizando a Elemento Subjetivo - 0 elemento subjetivo é a vontade onentada
agente instigador. no sentido de instigar militar, corn a fim de cometer desobediência ou indisci-
me ine
plina ou de incitar militar ou civil corn a finalidade de que pratiquern cri
Conforrne consta da descriçao tipica, a finalidade do incitamento é trI-
puce: desobediência, indisciplina ou crime militar. militar especIfico.
qUC o
Nas duas primeiras somente o militar assume a condiçâo de incitado e a Consumacão e Tentativa - Consuma-se no rnomento em
incitamento destina-se a prática de atos concretos de desobediência, de indis- incitamento chega ao conhecirnento dos incitados, independeiltemente de
ciplina, de transgressäo as normas de regulamento disciplinar, de portaria, de qualquer reação, seja de aprovacäo, de rejeicão, de indiferenca. A tentativa é
instruçäo, ou de outro documento legal. E born lembrar que a desobediência possIveL no incitamento por rneio de transmissão de voz, de panfletos, etc.,
referida nao se confunde corn o crime de desobediência (art. 301), que, tratan- desde que a velculo de comunicacão utilizado não alcance o destinatário, par
vontade do agente, que tudo fez para alcançar o escopo per-
do-se de crime militar, cncontra-se incluldo no incitamento para a prática de motivos alheios a
crime militar, embora nao faca diferenca, em razäo da pena cominada. seguido.
Na terceira, a firn perseguido é a prática de crime determinado, definido Incitamento por Meio de Impressos - 0 parágrafo inico abriga
na lei penal castrense. Assinala Heleno Fragoso, e "indispensável, todavia, que as modalidades do incitamento realizadas através de impressoS, manuscritOS
se trate de urn fato delituoso determinado (e não de instigação genérica a de- ou material mimeografado, fotocopiado ou gravado, introduzido, afixado ou
Iinquir). Por fato determinado entcnde-se, por exemplo, urn certo homicIdio ou distribuido em local sob administracão militar.
urn certo roubo, e não rouhos ou homicIdios in genere".445 Parece-nos dispensável a especificacão do parágrafo, pois se encontra
No incitamento para prtica de crime militar, o civil e o militar figuram abrangida pela descriçao tIpica do caput do artigo, que alcança a incitamento
conio incitados. No incitamento de civil, necessário que tenha por finalidade realizada por qualquer meio idônco, de comunicacao inclusive as enurnerados
crime impropriarnente militar detemiinado, atendidas as disposiçöes das all- no parágrafo (mica e em qualquer lugar, dentro ou fora do estabelecimento
neas constantes do inciso UI, do art. 92, caso contrário inexiste crime militar de
militar.
incitarnento, embora o fato possa encontrar dcfiniço na lei penal cornum. Introduzir importa em ultrapassar Os limites do local sob adniinistracfl)
militar. No material elaborado no interior do estabelecimento militar, näo hot'-
445 Heleno Fragoso, Liçoes, Parte Especial, v.3, p. 281. ye a introducao, que pressupöe a material feito e acabada antes de ser in trod ii-
330
V 331
Célio Lobäo Direito Penal Militar

zido. Afixar significa prender sobre parede, tapume, calçada, etc., por meio de Consideracöes Gerais - Ressalta Magalhäes Noronha, corn apoio
prego, cola, fita adesiva, ou, simplesmente, mantendo-o sob urn peso, de tal de Manzini, que a "apologia de crime ou crirninoso outra coisa nao é que in-
forma que seu conteido seja lido. Distnbuir 6 fazer entrega do veIculo do citaçao ao crime. E urn incitamento mais hdbil ou ardiloso do que o preceden-
incitamento a outra pessoa, no sendo necessário que a distribuiço se faça de te, mas nao o deixa de ser. E incitação indireta".446
mao em mao, pode ser inserido no interior de armário, de livro, revista, ou Crime Militar - 0 suporte legal da classificacão do delito coma
deixado em local por onde transitam os destinatth-io do incitamento. crime militar, relaciona-se coni a condição do agente. Sujeito ativo inilitar:
O local sob administraçao militar 6 elemento do tipo expresso no pará- inciso I, V parte, do art. 9 (crime definido de modo diverso na lei penal co-
grafo ünico, mas sua ausência importa na incidência do caput do artigo.
mum). Agente civil: inciso Ill, caput e alfnea a, 2 parte, combinado corn a
material deve conter, de forma explIcita, concreta, viávei, o incita-
mento para a prática de indisciplina, desobediêncja ou crime militar especIfi- inciso I, 12 parte, do art. 9 (crime definido de modo diverso na lei penal co-
co. No incitamento dirigido a civil (somente crime impropriamente militar) l mum, contra a ordem admiiiistrativa militar). Crime impropriarnente militar
torna-se neccssário que se trate de local sob a administraçao militar freqUenta- Objetividade JurI(IiCa - A norma penal tutela a disciplina e a au-
do por civil, na qualidade de servidor, de usuário de serviços, além de outros. toridade militar, consideranclo-se que a conduta do agente militar, fazendo
C) momento consumativo é aquele em que o material descrito no pre- apologia de crime militar ou tic seu autor, em local sob administraçäo castren-
ceito legal ultrapassa os lirnites do local sob adrninistraçao militar ou nele é se. constitUi sério perigo ao ordenamento militar, alicerçado, essencialmente,
atixado ou distribuIdo. Registre-se que, ao afixar ou distrihuir, já se consumou na disciplina e na autoridade inilitar.
delito, na rnodaljdade de introduzir, mesmo cIUC seja lançado de avio. No caso de agente civil, a protecao da lei repressiva castrense destina-se
Como ocorre no caput, configura-se o delito independentemente da
a preservar a autoridade militar e, principalmente, a ordem administrativa
aceitaçao, recusa ou indiferença dos destinatários do incitamento, sendo, no
castrense, diante do inicresse da inanutcnção da normalidade do funciona-
entanto, indispensável, o conhecimento do teor da propaganda por determina-
do nirnero de militares ou civis, conforme o caso. mento da instituiçäo militar, sujeita a perigo de suma gravidade, corn o elogio
A tentativa existe. se o material é interccptado no momento irnediata- a condutas violadoras da Ici penal especial e de seu autor, pondo cm risco 0
mente antcrior a sua introduçao em local sob administraçao rnilitar. Quanto a princIpio de autoridade, no Iimbito da adrninistracão militar federal.
afixaçao e a distribuiçao, admite-se a tentativa na hipótese ilnica da confecçao Sujeitos do Delito - Sujeito ativo o militar ou o civil. Sujeito pas-
do material no interior do local sob adrninistraçao militar, seguida do impedi- sivo, as instituiçöes militares.
mento da afixaçäo e da distribuiçao, por motivos alheios a vontade do agente. Elementos Objetivos - A acao incrirninada é clogiar, aprovar,
Suspensão Condicional da Pena e Livramento Condicional - enaltecer, exaltar fato que a lei considera crime militar ou seu autor, em local
Ao condenado pelo crime de incitamento näo se concede suspensao condicio- sob administracão militar. Concretiza-se por rneio de palavra, escrito, desenho,
nal da pena, como dispöe os arts. 88, 11, a, do CPM e 617, II, a, do CPPM. 0
letra de rniIsica, represeniaçao teatral, gcstos, como o bater palmas para o cii-
sentenciado por esse mesmo delito somente terá direito ao benefIcio do livra-
mento condicional, apOs o cumprimento de dois tercos da pena, em confonni- E
minoso, etc. indiferente ciuc a apologia tenha ocorrido em ambiente fechado
ou aberto, sendo necessirio que ocorra em local sob administraçao militar.
dade corn o art. 97 do CPM, combinado como o art. 642, parágrafo iinico, do
CPPM e atendido o disposto no art. 89, 11 e 111 e § § 1 e 2, do CPM. Enuncia a Corte de Cassação francesa, "D'ailleurs, l'apologic peut se
Legislaço Anterior - Art. 155 do CPM de 1944. nuancer de dénigrernent, d'inurc ou de diffamation envers la loi, la justice et
l'autorité publique misc en parallèle avec l'ideal qui inspire la cause
CAPiTULO III criminelle ou 1' homme qui en cst I 'incarnation".447
Apologia
Advertc Helcno Fragoso que a apologia deve ser de tal forma "quc
Art. 156. Fazer apologia de frito que a lei inilitar considera constitua inccntivo indireto. iniplIcilo a repeticão da ação delituosa. Nan scrá
crime, oil do autor do niesmo, em lugar su/elto a administraçao
mnh/itar,
" MagalhãeS Noronha, Dir. Pen. v. 4.102.
Pena - detençao, de seis meses a urn ano. "' In Répert. Droll Crim. DaIIoz, p. 727.
V . 333
332 Célio Lobão Direito Penal M litar

bastante, portanto, a simples manifestaçao de solidariedade, defesa ou apreciaçào ConsumacàO e Tentativa — Consuma-se no momento em que a
favorável, ainda que veemente, nao sendo punIvel a mera opiniâo".448 apologia realiza-se em local sob a administracão militar. A tentativa é possIvel
Nesse mesmo sentido Nelson Hungria: se efetivada por outro meio, que não a cornunicacão oral, por excmplo, atravéS
de panfleto, gravacão de imagem e som, que no chega ao conliccimeilto de
"nao se pode identificar apologia nurna crItica honesta e serena, ainda que urn destinatário, pelo menos, por motivos alheios a vontadc (10 agenle.
ousada, dirigida, por exemplo, contra a suposta ilegitirnidade de urn preceito Legislacão anterior — Art. 135 do CPM de 1944.
incriminador ou contra sentença conclenatória. Não se deve, outrossim, desta-
car e isolar frase cuja ênfase ou veernéncia pode estar temperada ou atenua-
CAPITULO IV
da por consideraçôes antecedentes ou subsequentes. E preciso que o discur-
so ou escrito seja apreciado no seu complexo, sob pena de se ocorrer ern erro
Violência contra Militar em ServicO
ou precipitaçao de JuIzo".449
Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia. de se,i'i
Esciarece Heleno Fragoso, "Se a lei se refere a fato criminoso, so pode ço, ou de quarlo, ou contra sentinela, vigia OU pkmn!ao:
ser considerado urn acontecimento concreto, que constitua tIpica infraço da Pen a, reclusao, de trêS a oito Clfl os.
lei penal". Prossegue a em incnte penalista, nao se exige "que o fato tenlia sido § 1e Se a vioiência é praucada corn anna, a pena e (lU
declarado criminoso por sentença irrecorrIvel": 5°
Acrescenta, aincla, a eniincnte penalista que a "simples apologia de cri- inentada de urn ierço.
mes culposos no é punIvcl, segundo observa Manzini, IV, 151. E que não § 2 Se da violência resulta lesJo corporal, aplica-se, Will
pode haver instigação, direta OU indireta, a prática de urn fato não intencio- da pena da violência, a do crime contra pessoa.
nal".45 ' 32 Se da violência resulta morle:
§
Como exposto na norma penal, o fato, objeto da apologia, deve constar Pena - reciusão, de doze a trinta aflOS.
da descriçio tIpica de dispositivo da lei penal militar, sern, no entanto, dispen-
sar Os requisitos do art. 9. Par exemplo, a apologia de hornicIdio de deter-mi-
ConsideracöeS Gerais — No Cod igo Penal da Annada, a violência
nado militar, por civil, em local que nao se encontra sob administraçao militar, contra militar em serviço, corn ou scm arma, constitula ama das modalidades
e sem estar no exercIcio de funçao militar, nao constitui crime do art. 156 e do crime de insubordinaçao (art. 98), e nela nio ingressava a quaiidade de
sim do art. 287 do Cddigo comurn, caso niio encontre definiçao em outro dis- superior corno elemento do tipo, a que era contemplado no art. 96.
positivo da lei penal militar. Consequentemeflte, nao tern razão Macedo Soares, ao afirrnar que a es-
Se a apologia do crime militar OCOrrC fora de local sob administraço pécie do art. 98 e a agressão a mao armada ou não, "ao superior (oficial de
castrense, o crime é comum (art. 287, do CP), pois o local da ocorrência inte- quarto ou de servico), ao inferior ou soldado (sentinela, vigia, plantao), que
gra a tipo.
estiverern de servico".4 '3 .Tal coma acontecia no COdigo Penal da Armada, no
Ainda Heleno Fragoso ensina que haverá "concurso formal Se, num atual diploma repressivo castrense, é indiferente a grau hierárquico do autOr
mesmo contexto de acão, fizer o agente apologia de mais de urn fato delituo-
da agressäo em relaçao ao do ofendido, pode ser superior, inferior ou do mes-
so".452
448. Elemento Subjetivo - A vontade livre e consciente orientada no mo grau.
No vetusto Artigos de Guerra era arcabuzado quem atacava qualquer
sentido do enaltecimento, em local sob administraçao militar, de fato que a lei
penal castrense define como crime militar ou de seu autor, näo sendo exigIvel sentinela (art. 60)
Crime Militar - 0 suporte legal da classificacão do delito como
o fim de agir, nern as motivos da apologia.
crime militar. relaciona-se corn a condiçäo do agente. Sujeito ativo militar:
(crime näo previsto iia lei penal cornum). Agerite
1.48
Heleno Fragoso, Liçoes, Parte Especial, v. 3, p. 283.
inciso I, 21 parte, do art. 90
" Nelson Hungria, Coment., v. 9, p. 172. civil: inciso Ill, caput e a! Inca a e d, 22 partc, comb inado corn a inciso I. 2
151
Heleno Fragoso, Licoes, Parte Especial, v. 3, p. 284.
451
Heleno Fragoso, Liçoes, Parte Geral, v. 3, p. 284.
42
Heleno Fragoso, LiçOes, Parte Geral, V. 3, p. 284.
463
Macedo Soares. Cod. Pen. Mil., p. 155.
334
Cello Lobão 17 Direito Penal Militar 335

parte, do art. 9 2
(crime não previsto na lei penal comum, contra militar em
serviço de natureza militar lo), para fornecer informacOes relacionadas corn a missão da qual foi incum-
e contra a ordem administrativa militar). hido. 0 militar de plantão permanece na unidade a disposicão do superior,
453. Objetividace JurIdica
- Tratando-se de militar, o objeto da tutela usando farda e petrechos próprios, pronto para qualquer serviço extemo ou
penal C a disciplina e a autoridade militar, consjderandose o sério perigo ao
interno.
ordenamento militar, alicercado, essencjalmente na disciplina e na autoridade
A farda, o acessório e, se for o caso, o annamento militar indicativos da
militar, perigo esse decorrente do ato ilIcito do agente, praticando violêncja
condiçao de militar em serviço, são indispensáveis, caso contrário deixará de
contra outro militar que, no exercIcio das funçoes mencionadas, representa o
incidir o art. 158, pelo desconhecimento da condicão de militar em urn dos
comando da unidade e realiza serviço relevante para a disciplina e segurança servicos enumerados na lei.
do estabejecjinento militar.
0 local sob administracao militar C elernento estranho a descricäo tIpi-
No caso de agente civil, a lei repressjva castrense protege o militar in- ca, logo o delito pode ocorrer fora desse local, scndo, eniretanto, indispensável
vestido da autoridade quc lhe confere as funcoes especificadas e tern em vista que o militar, nessa situação, encontre-se, efetivarnente, no excrcIcio das fun-
interesse da administraç() militar em preservar a segurança do estahcleci- çöes referidas e corn acessórios indicativos da condição de militar em serviço,
niento militar e a flormalidade de seu funcjociameiiu>
caso contrfirio deixa de incidir o art. 158. A protecão penal nao se estende ao
454. Sujeitos do Delito - Sujeito ativo o militar OU militar que se afasta, scm autorizacão, do lugar onde dcvc perinanecer na cxc.-
o civil. Sujeito pas-
Sivo irnediato. as instituicoes nhilitares e. mcdiato, o militar no exerciclo das
funçoes descritas no preceito legal. cucao do servico para 0 qual foi designado.
455. Efementos Objetivos - A circunstãncia de o militar substituir outro, mesmo scm autorizaçño
A conduta incrimiriada é praticar violCncia superior, não cxclui a ilicitude. A lei tutela as funcoes de natureza militar
contra militar no exercicio das funcOes de natureza militar especjficadas no mencionadas, exercida de direito ou de fato, ao considerar a rcicvumucia dcssas
dispositivo legal.
funçöes, para a seguranca do estabelecirnento militar.
Corno ficou exposto, ao tratarmos da "iolêncja contra Superior. a vio- Como na violência contra superior, aqui tambéin o elernento tIpico, ofi-
lência consiste na força fIsica qUC
o agcnte faz atuar sobre o militar na execu- cial de dia, de serviço, de quarto ou sejitinela, deixa de existir, quando o ato é
ção dos scrviços enumerados no preceito legal, corn utilizaçijo do próprio Cor- praticado em repulsa a agressão fIsica on moral on quaiido a conduta do mili-
P0 (vi.r CorpoF-cz/j)
ou exercitada por meio de instrurnento (vis p/zvsica) impe- tar é incornpatIvel corn a funçño tutelada p(la IVI penal inilitar. Nesse sentido
lido por outro instrurnento, pelo ar expirado dos pulmoes. pelos membros ou decisão do Superior Tribunal Militar: "agressilo a plant5o. Perde essa qualida-
outra parte do corpo humano sem ocasionar qualquer lesöes porque, se houver de, para efeitos pcnais, quem provoca c di causa -,'I agressão".4M
lesão ou morte, o crime qualifica-se.
Corn efeito, ao praticar ato que nan se coaduna corn a condiçao de ofici-
As funcoes de natureza militar enurnerada na descricao tIpica são: al de dia, de serviço ou do quarto c de sent incla, vigia ou plantão, 0 militar não
oficial de dia, de serviço, de quarto, sentjnela. vigia ou plantäo. Corno a faz investido nas referidas funçocs castrcnsc, deixando de existir, corno con-
tipicidade nâo se refere ao posto e sim a
função, oficial de dia, de serviço ou seqiiência, o objeto da tutela do art. 158 para permanecer, apenas, a qualidade
de quarto C o oficial, suboficjal, aspirante a oficial que se encontra no efetivo de militar do ofendido, scm estar em serviço. 0 mesmo acontece, quando o
exercIcio dessas funçoes, conforme escala ou designação da autoridade militar militar extrapola a missão que lhc foi atribuIda. Por exemplo, o vigia que re-
cOmpetente
cebe ordem de anotar nuIrnero (Ia tiiaca de veIculos, resolve revistar os carros e
Sentincla C o militar encarregado de guardar determinado local sob ad- seus ocupantes. Sc em ciccorrência da oposicão a conduta ilegal o vigia sofre
ministração roilitar ou fora dde, por delerininaçã() legal de autoridade militar violência, inexiste 0 crime do art. 158, respondendo o agente, pelo resultado
compe[eflte corn ou scm armanlcn(o, cm posto hxo On da violência, se houvcr
rnóvel, usando acessó-
nos indicativos da condição de militar em serviço. A lei não leva em considcracão o posto ou a graduaciio do ofendido,
Sentinela e vigia se eqüivaleni, pelo rnenos na forina de execuçAo do nem do agente, que pode scr tic gnui hicrárquico igual, inferior on superior ao
serviço. Pode-se distinguir pela circunstãncjas de o primeiro guardar urn sItio do militar cyn scrvico. Assim J6 era no Codigo Pena] da Armada. A norma
L'spccIhco, enquanto o outro observa pessoas, coisas ou ocorrência (por exein-
pin, uicar de vigia, durante o deslocalnent() de unia ernbarcacao on urn veIcu-
Ap. n 31.008, DJIGB de 09.08.61 p. 467.
336 Cello Lobão Direito Penal Militar 337

penal protege as funçOes referidas, de grande relevância para a seguranca do 461 Consideracöes Gerais - Se os resultados lesão corporal e morte,
estabelecimento ou da unidade militar, sern cogitar, como ja dissemos, da qualificadores do delito do art. 158 (§§ 2 e 32), forem imputados por motivo
superioridade, da igualdade ou da inferiondade do grau hierárquico do agente. de culpa, a pena do crime contra a pessoa será diminuIda da metade.
Elemento Subjetivo - A vontade livre e consciente, orientada para a De acordo corn a licao de Fragoso, o tipo subjetivo restringe-se ao zni-
prática de violência contra militar nos serviços de natureza militar especificados. mus vulnerandi, ao propósito de praticar a violência. E imprescindIvel que 0
Consumaçao e Tentativa - Consuma-se o delito no momento em evento morte ou lesâo corporal "não tenha sido querido, nem mesmo eveitu-
que o militar e atingido pela forca fisica acionada pelo sujeito ativo, nao se almente, pelo agente", ocorrendo, na espécie, "urn misto de dolo e culpa. Dolo
exigindo a ocorrência de resultado, como lesão corporal, morte, ou siinples- em relacão a conduta inicial e ao evento pretendido (...); culpa, em relacao ao
mente dor. E possivel a tentativa, se o agente näo consegue atingir o ofendido, resultado mais grave".455
por motivos alheios a sua vontade. Sobre o tema, rernetemos aos comentários Damásio de Jesus, rcferindo-se a lesäo corporal seguida de morte, que
ao crime de violência contra superior (art. 157). se aplica a espécie ora cornentada, expöe:
Forma Qualificada —Qualifica-se o crime em razão do instru-
mento do crime c do resultado do ato delituoso. A primcira, decorre de utiliza- "E necessãrio que as circunstâncias do caso concreto evidenciem que
ção de at-ma (§ 1), que compreende o uso de qualquer instrurnento que, no sujeito não quis o resultado morte da vitima e nem assumiu 0 risco de pro-
dizer de Solcr, é capaz de aumentar o poder ofensivo do sujeito ativo, abran- duzi-lo. Em outros termos, é necessário que o sujeito não tenha agido corn
gendo as armas próprias c as irnprdprias, coino pall, pedra, ácido, etc. Se o dolo direto ou eventual no tocante a producao do resultado morte. 0 resultado
qualificador é ligado ao delito-base pelo nexo de causalidade objetiva, näo
agente, apesar de armado, não usa a at-ma, o crime não se qualifica, responde prescindindo da relação subjetiva (imputafio juris). Desta torma, se o resultado
pela violência, em sua modalidade simples. decorrer de caso fortuito ou força major, haverá soluçao de continuidade da
Os resultados lesöes corporais dolosas (art. 209 e §§ do CPM) e homi- impufatio facti, pelo que o agente so responderá pelo primeiro crime (primum
cIdio doloso (art. 205 e §§ do CPM) qualificam o crime, importando na apli- delictum)".456
cação cumulativa das penas cominadas ao crime de violência e de lesöes cor-
porais (§ 2). Se resultar morte, a pena 0 de doze a tririta anos (§ 3), a mesma Portanto, se da violência contra militar nos scrvicos mencionados, re-
do homicIdio qualificado. Os resultados referidos são crimes militares porcue sulta morte ou lesão corporal e 0 agente näo quis esse resultado nem assumiu
cometidos contra militar em função de natureza militar. risco de produzi-lo, a pena do crime contra a pessoa 6 diminuIda da metade.
Suspensão Condicional da Pena e Livramento Condicional - Mas, como diz Damásio, se o resultado decorre de caso fortuito ou forca major, o
Ao condenado pelo crime de violência contra militar no exercIcio das funçOes agente responde, apenas, pela violência.
especificadas no art. 158, nao se concede suspensão condicional da pena, Como acontece nos resultados dolosos, aqui também o crime é militar
como determinam os arts. 88, II, a, do CPM e 617, II, a, do CPPM. porque a vItima militar encontra-se em servico de natureza militar, isto é, ofi-
O benefIcio do livramento condicional, nos termos do art. 97 do CPM e cial de dia, de serviço, de quarto, sentinela, vigia ou plantão.
do art. 642, parágrafo ünico, do CPPM, so seth concedido, após o cumpri- 0 art. 159, ora comentado, já foi objeto de comentários no TItulo I, da
mento de dois terços da pena, corn atendimento do disposto no art. 89, II, ifi e Parte II deste livro, quando tratamos do crime propriamente militar de violén-
§ § 12 e 22 do CPM. cia contra superior (art. 157).
Legislacão Anterior - Art. 62 dos Artigos de Guerra; art. 98 do
Código Penal da Armada; art. 137 do Código Penal Militar de 1944. CAPITULO VI
Oposicão a Ordem da Sentinela
CAPITULO V
Resultado Culposo da Violência Art. 164. Opor-se àc ordens do .ventinela:
Art. 159. Quando da violência resulta morte ou iesao colpo- Pena - detençdo, de .veis meses a uin ano, se o fato flao
ml e as circunstáncias eviden.cia,n que a agenle nJo quis o restil- cons/jim crime mais grave.
tado izem assurniu a risco de produzi-lo, a pena do crime contra a
e
pessoa diniinuIda do inetade.
455

15
Helena Fragoso, Licoes, Parto Especial, v. 1. p. 145-6.
Damésio, Dir. Pen. v.2, p. 155-6.

n
338 Célio Lobão Direito Penal Militar 339

Consideracöes Gerais - Embora a oposicão as ordens da senti- proteger o militar no exercIcio de funcão de natureza militar, de relevflncia
nela venha definida no CapItulo V, que trata da insubordinaço, as duas figu- para a seguranca da unidade militar.
ras delituosas nao se confundem, considerando-se que o sujeito ativo do delito Sujeitos do Delito —Sujeito ativo, o militar e o civil. Sujeito passi-
comentado pode ser, igualmente, o civil, que näo tern vInculo de subordinaçio vo, as instituiçöes militares.
A autoridade militar. Elementos Objetivos - 0 niicleo do tipo é opor-se, resistir, con-
Trata-se, na realidade, de modalidade da desobediência (art. 301), na trapor-se, comissiva ou ornissivamente, as ordens emanadas de autoridade
qual o agente oferece oposição major a ordem da autoridade militar, transmiti- militar competente e transmitidas pelo sentinela. As ordens referidas situam-se
da pelo sentinela. nos lirnites da missão legalmente recebida.
A sentinela sempre exerceu papel de importância relevante, no que diz Concretiza-se a oposiçao corn a conduta do sujeito ativo contrária a or-
respeito a segurança da unidade militar, principalmente em épocas preteritas, dem recebida, acompanhada ou não da declaracao de que näo ira obedecer.
cuja vigilância de determinado sItio dependia, exciusivarnente, da observaçâo Reveste-se, ainda, de forma ornissiva, quando o agente pennanece irnóvel, ao
do sentinela. DaI a pena de excessivo rigor cominada a sentinela que deixava rccebcr ordem de retirar-se do local onde se encontra. A violência no ingressa
seu posto sem vigilncia. na descricao tIpica, pois, se liouver, o crime é de violência contra sentinela
Os Artigos de Guerra de 1763 contemplavarn, no art. 6, o crime de (art. 158), corn pena bern mais grave.
faltar corn respeito as sentinelas c de ataci-las. No Código Penal da Armada, o A oposição as ordens que extrapolam as deterrninacoes recebidas do
art. 99 penalizava a ofensa a sentinela e outros militares em funçio de nature- superior, não tipifica o delito do art. 164. Por exemplo, o sentinela recebe
za militar. ordern para identificar as pessoas em trânsito por determinado posto e passa a
Crime Militar - 0 suporte legal da classificacão do delito coino revistá-las. A recusa não se configura o crime ora comeniado. Assim também
crime militar relaciona-se corn a condiçao do agente. Sujeito ativo militar: o descumprimento de ordem ilegal de autoridade militar, transrnitida através
inciso 1, 22 parte, do art. 9c (crime não previsto na lei penal comum). Agente da sentincla, näo infringe a norma penal. Concluindo, a ordern da sentinela
civil: inciso 111, capiit e alIneas a e d. 2 parte, combinado corn o inciso 1, 2 deve situar-se nos lirnites da ordem recebida c esta, por sua vez, deve ter su-
parte, do art. 92 (crime näo previsto na lei penal comum, contra militar no porte legal e emanar de autoridade militar corn petente.
exercIcio de funcao de natureza militar e contra a ordern administrativa mili- Segundo Manzini, "seniinella C ii militare isolato, commandato ad un
tar). Crime impropriamente militar. servizio armato di guarda per ragione d'ordine o di sicurezza, con una
Observe-se que os fatos descritos no art. 164, quando cometidos por ci- determinata consegna, net tempo in (JtIi se trova at SUO posto di vigilanza...".
vil, classificam-se como crime militar, em razAo-da incidência de dois requi- 457 Em nosso entendimento, sentinela C o militar legalmentc encarregado da
sitos expressos nas alIneas a e d do inciso III: ordem administrativa militar e guarda de determinado local sob administracao castrense, corn ou sem arma-
militar em funçao de natureza militar. Este iiltimo vem impilcito no tipo, prc- mento, usando os acessOrios indicativos de sua condicao de militar em servi-
cisamente na condicao de sentinela do sujeito ativo ço. No conceito de sentinela, nAo ingressa a condição de militar isolado, pois
Objetividade JurIdica - A lei tutela a disciplina e a autoridade esse servico pode ser executado por um ou mais militares, dependendo das
militar, em razão da conduta do agente militar, de qualqucr posto ou gradua- circunstãncias do servico, da ncccssidade de seguranca do local, etc.
çac que, contrariando as normas disciplinares, desobedece as ordens ernana- 0 dispositivo legal nibo leva em considcracão o grau hierárquico do su-
das da autoridade militar competenic, transmitidas através de quem se encon- jeito ativo, pode ser graduado, oficial e mesmo oficial-general. Dentro dessa
tra em serviço de sentinela. Evidente o perigo a que ficarn expostos a discipli- orlentacao, acórdibo do Superior Tribunal Militar, de 27 de abril de 1915:
na da corporacäo castrense, a seguranca da unidade militar c o prestIgio da "Niio é uma praca de pré no scntido hicrarquico, representando a vigilflncia
autoridade castrense, corn a oposicio as ordens do sentinela. pela qual rcspondc: tern dircitos de ordem elevada que excrcc contra quem
Sendo civil o sujeito ativo, a norma penal protege a ordern administrati- quer que tente infringir as niedidas dc garantias quc usa".458
va rniiitar, sob o aspecto da manutcnçao do prestIgio da autoridade militar.
considerando-se a desobediência a determinação legal emanada da autoridade
' Manini, Corn. Cod. Pen. Mu., p. 224.
militar conipetente e transrnitida através do sentinela, e, ainda, o interesse de 58 In Sulvic Martins Teixeira, Novo COd. Pen. Mu., p. 280.
340 Célio Lobão it DiitO Penal MUitar 341

Colombo cita autor espanhol para o qual a sentinela que dorme paga Pena - detencao, de seis meses a urn ano a quem promove
corn a vida seu descuido, porém essa mesma sentinela pode, em alguns casos, a reunião; de dois a seis meses a quem dela participa, se a Iwo
deter corn sua voz e ate corn sua baioneta seu próprio general, a seu próprio
não conslitui crime mais grave.
rei; essa sentinela tern tal majestade que não pode ser repreendida corn pala-
vras injuriosas.459
Embora o exemplo nao se aplique a realidade atual, serve para demons- Consideraçöes Gerais - No Código Penal da Armada, o delito era
trar a relevância da funço exercida pela sentinela, justificando a tutela penal catalogado como insubordinacio, o que lol scguido pelo diploma de 1944 (art.
dispensada a sua missäo. 143) e pelo atual. Discordarnos da classificaçau, iurquaiito incxiste relacao de
Como acontece corn a insubordinaçao, a oposição a ordem da sentinela subordinaço entre militar e civil e cstc talnhcIl) Sc inclui como sujeito ativo
e crime residual, deixando de incidir o art. 164, se o fato constitui crime mais do delito. Classifica-se inais adequadaniente COfl)() crime contra a autoridade
grave, por exemplo, violCncia contra sentinela (art. 158). ou a disciplina militar.
Elemento Subjetivo - Crime punIvel a tItulo de dolo, que consiste Crime Militar - 0 suporte legal da classificaçao do (ielit() como
na vontade livre e conscientc orientada no sentido de desobedecer ordem legal crime militar relaciona-se corn a condicão do agente. Stijcito alivo iuiliiar:
de sentinela, tendo o agente conhecimento de que se trata de militar no exercI- inciso 1, 2 parte, do art. 9 (crime nâo previsto na Ici penal culliuni). Ageiitc
do dessa funçao, pclas circunstncias de local, tempo e, principalmente, da
civil: inciso 111, caput e alInea a, 21 parte, combinado corn o inciso I, 2' par'ic,
farda, acessórios c armarnento (as vezes dispensável), indicativos da condiçao
do art. 91' (crime não previsto na lei penal comurn, contra a ordem adiiiinistra-
de sentinela.
tiva militar). Crime impropriamente militar.
Consumação e Tentativa - Consuma-se o delito no momento em
Objetividade JurIdica - 0 preceito sancionador protege a disci-
que se exterioriza, de qualquer forma, a oposiço a ordem. 0 posterior cum-
plina e a autoridade militar, diante da conduta do agente militar, promovendo
primento não descaracteriza o delito. A tentativa nos afigura inviável; se ha
oposição, o crime consuma-sc, se riio ha iiao Sc configura o delito, ainda que 0 reunião de outros rnilitarcs c dela participando, corn a finalidade de discutir
agente seja impedido por outrem, por exemplo, retirado a forca do local por ato de superior ou questionar a disciplina castrense, o que constitui sério pen-
urn companheiro. go ao ordenamento militar, alicercado, essencialmente, na disciplina e na auto-
Liberdade Provisória - 0 indiciado ou denunciado pela prática ridade militar
da infraçao prevista no art. 164 näo goza do beneffcio da liberdade provis6ria, No que se refere ao agente civil, a Ici penal protege a ordern adminis-
em conformidade corn o disposto no art. 270, parágrafo tinico, b, do CPPM. trativa militar, em geral, e a autoridade militar, em particular, considerando-se
Como foi esciarecido, insubordinaçao e oposicao as ordens de sentinela nao se que a atividade ilIcita do sujeito ativo, conduz ao descrédito da autoridade,
confundem, logo, a este tiltimo crime nao se aplica o art. 617, 11, a, do CPPM, corn reflexo danoso na moral da Iropa, além de abalar, seriamente, o prestIgio
que veda a concessão do benefIcio da suspcnsão condicional da pena ao con- das Forcas Armadas.
denado pelo crime de insubordinaço.
Sujeitos do Delito - A descriçao tIpica do art. 165, ao mencionar
Legislação Anterior - Art. 6 dos Artigos de Guerra; art. 142 do
discussäo de ato de superior, aponta o militar como autor tinico dessa modali-
CPM de 1944.
dade do delito, diante da inexistência de relacao hierárquica entre civil e mili-
CAPITuL0 VII tar. Entretanto, ao referir-se a discutir assunto atinente a disciplina militar e a
Promover reunião de militares prornover reunião, não mais exclui o civil. Corn efeito, se quisesse restringir a
ilicitude ao militar, a redaçao seguiria o modelo do art. 166 ("Publicar o mili-
Art. 165. Promover a reunião de inilitares, ou ne/a !onwr tar ..."), indicando o militar conio quem promove a reunião e dela tonia parte.
parte, para discussão de ato de superior ou assunto atinente a Pelo que flcou exposto, o militar e o civil são sujeitos ativos do delito
disciplina militar: de prornover a reunião e dela toniar parte, para discutir assunto atinente a dis-
ciplina militar. Entretanto, sornente o militar pratica o delito de tornar parte de
Colombo, El Der. Pen. Mit., p. 295. reuniäo para discutir ato de superior. Sujeito passivo, as instituiçöes militares.
342 Celia Lobão Direito Penal Militar 343

475. Elementos Objetivos - As condutas incriminadas no preceito le- mInimo nãa for alcançado, deixa de incidir a art. 165, resolvenda-se discipli-
gal são promover e tomar parte. A primeira concretiza-se corn o ato de promo- narmente, se não encontrar definicão em outra norma penal castrense.
ver, que importa em tornar real, concreta a reunião, presente a fim especIfico Coma ficou dito, a civil ingressa na relaçãojurIdico-penal militar coma
de discutir ato de superior ou assunto atinente a disciplina militar. Se o sujeito sujeito ativo do delito de tomar parte de reunião destinada a discutir assunto
ativo nao conscgue obter aceitacão de dois ou mais militares ou, apesar da atinente a disciplina militar, e a de promover reunião de militares corn a firn
concordância, a reunião deixa de realizar-se, embora por motivos alheios a de discutir ato de superior ou assunto atinente a disciplina militar. A lei sanciona
vontade do agente, inexiste o crime do art. 165. a interferência ilIcita do civil, na vida intema da instituição castrense, ao pro-
Na segunda, a agente torna parte de reunião, corn a finalidade especifi- mover reuniãa de dois OU mais integrantes das Farças Armadas, corn a propó-
sito de discutir ato do superior hierárquico desses militares, ou assunto au-
cada na lei. Irrelevante se o agente participou ou não da discussão, do debate,
sendo suficiente sua presenca, independente do tempo em quc permaneceu na nente a disciplina castrense, ou tama parte de reunião destinada a discutir
assunto atinente a disciplina militar.
reunião
Entretanto, someute a militar figura corno sujeito ativo do delito de to-
Sc o participante desconhece o assunto a ser tratado e se rclira tao logo
mar parte de reuniäo para discutir ato de superior, pais essa qualidade do
dele tern conhecirnento, não pratica o crime do art. 165. Por outro lado, a
agente em impilcita no obteto da reunião, ciue pressupoe a condição de miii-
aceitaçao do convite scm comparecimento não importa em participar. Quem tar, suhordinado de qucm emite a ato.
promove, comparecendo ou não, responcle, apenas, pelo crime de promover. Os crimes de promover reuniao e dcla participar são rcsiduais. A mci-
que absorve a delito (IC tornar parte. Na tipicidade não ingrcssa o local da reu- dência do art. 166 cede lugar a de outro dispositivo penal, se a conduta dcliti-
nião, logo, pode ser dcntro ou fora do estabclecimento militar. va constitui crime mais grave.
Qualquer ato do superior atende ao elemento do tipo, seja revestida ou Elemento Suhjetivo - Elcmcnto subjetivo ó a dab, a vontade
não de legalidade porque, sendo ilegal, essa não d a farina indicada pelos re- consciente, orientada no sentido de promover reunião de militares ou dela
gulamentos militares para as subordinados contestarem a ilegalidade. Assunto tornar parte, presente afinalidade do discutir ato de superior ou assunto relali-
atinente a disciplina militar tern sentido amplo, abrangendo normas expressas vo a disciplina militar.
em dccreto, regulamento, instrução, ordem escrita ou verbal de autoridade Consumação e Teiitativa - 0 delito de promover consuma-se no
militar competente. momenta em que a reuniao Sc concretiza, corn a preseriça de, pelo rnenos, dois
0 militar que prornove e as que participarn da reuniäo para discutir ato de militares, indepcndentcrnente do inIcio da discussão. 0 crime de tomar parte
superior, necessariamente são subordinados hierárquicos de quem enianou a or- da reunião cansuma-se no momenta em que a reuniäo d iniciada corn a discus-
dem, a que näo impede a responsabilidade penal, por co-autoria, do militar corn são e presenca de dois militares, no niInirno. Se o objeto da discussão é ato de
grau hienirquico igual ou superior ao do autor da ordern, desde que promova a superior, indispensável a presenca de dois militares subordinados de quem
reunião ou dela participe juntamente corn militares de menor grau hierárquico. emanou a ato.
Esse militar, no entanto, não se inclui no niimero mInima legal de dois militares. A tentativa não é possIvel. Ou a reuniãa se realiza, e o crime está con-
Na discussão de assunto atinente a disciplina militar, evidenternente não se con- sumado, ou não se concretiza, niesmo por motivos alheios a vontade do agen-
sidera a grau hierárquica de quern participa ou prornove a reunião. te, e deixa de incidir o art. 165, podendo a fato encontrar definicão em autra
Carece de rclevância perquirir se a discussão d favorável ou contrária ao norma penal ou resolver-se no anibito disciplinar.
ato do superior ou a questão disciplinar, satisfazendo-se a prcceito sanciona- Quanta a tornar parte, ou a militar se encantra presente a reuniäo e a
dor apenas corn a discussão, pura e simples, pOrquanto a ofensa a disciplina e delito se cansuma, ou não se faz presente, ainda que por motivo alheio a sua
a autondadc militar resulta, exclusivarnente, da reuniao de militares, corn a vontade, e nao infringe a art. 165. Repetimos: não ha crime nem tentativa. sea
finalidade expressa no dispositivo penal ora cornentado. militar desconhecc a finalidade da mctmnjao e dela se retira logo que tern conhe-
A descricao tIpica menciona militares, scm especificar mimero mInimo. cimento. Se a reuniao é dissolvida pela vontade dos participantes ou por inter-
Logo, hasta a presença do dois, pelo menos. incluindo quern prornove. Na ferência de almtoridade militar, ames do inicio da discussão, todos respondern
discussão de ato de superior, indispensável a presenca de dois subordinados pelo crime de prornover a reuniao. Se teve inicia a discussâo, a delito d de
hienirquicos do militar que expediu a ato. Coma conseqiiência, se a ndirnero promover e de tomar parte.
Direito Penal Militar 345
344 Cello Lobão

que, ao trajar uniforme militar ou ostentar distintivo ou insignia militar, apre-


Legislação Anterior— Art. 100 do CPA; art. 143 do CPM de 1944.
senta-se como se militar fosse, perante outras pessoas.
Se o art. 171 incluisse o uso de uniforrne, distintivo ou insignia ao qual
CAPiTULO VIII
o militar nAo tern direito, independente de posto ou graduaco, evitaria que a
Uso IlIcito de Uniforme
mesmo fato delituoso fosse classificado como crime propriamente e impropria-
mente militar, em funcao do sujeito ativo.
Art. 172. Usar, indevidamente, uniforme, distintivo ou in-
Ressalte-se a relevância da classificação do crime como propriamente
signia militar a que nao tenha direito: militar, em razão da diversidade de tratamento das duas espécies do delito
Pena - detencao, ate seis meses. S, LXI, da
militar, no que diz respeito a prisäo cautelar, nos termos do art.
Constituição (prisäo pela autoridade militar, no crime propriamente militar), e
Consideracöes Gerais - 0 Codigo Penal Militar de 1944 classifi-
da reincidência (art. 64, II, do Código Penal).
cava a crime como usurpaçäo de autoridade, inserido no panigrafo ünico do
art. 149, que tratava do uso ilegal de uniforme por militar. 0 diploma atual Objetividade JurIdica - Tratando-se de agente iii litar. a norma
penal tutela a disciplina castrense, sob a aspeclo do respeito ao poslo, ii giiduaç;mo
concedeu autonomia ao delito, porérn manteve a classificacao incorreta. Silvio
Martins Teixeira justifica, acrescentando que a fito importa na "usurpacio de e aos titulos que o uniforme, a distinlivo e a inslenia ipresc11ta1n i\ alensa it
uso de uniforme, condecoracoes ou tItulos,'"160 esquecendo-se de que o capi- disciplina resulta. tambérn, da apresetitaciu (to inilitar coin itilical VU k Ims
tub refere-se a usurpacão de autoridade. to, graduacão ou atributos CIUC tian posslil, deiiioiisiiado pct() distinlivo. loll
No uso ilegal de uniforme nao ha usurpação imaginada por Martins insignia, pelo uniforme, usados i legal inent e.
Teixeira, nem a de autoridade militar, e sim falsa identidade, porque o agente, No caso do agente civil, a Ici protege a autoridade C a urdci ii :0111111IN
através do uniforme, do distintivo ou da insignia, identifica-se como militar ou trativa militar, considerando-se quc a unilorme, distiulivo e insignia idenlil
como titular do posto ou graduação correspondente ao traje ou ao acessório cam seu portador como integrante da estrutura hierarquizada das lrças Ar-
que ostenta. madas, concedendo-Ihe poder legal e prerrogativas prdprias dc membro this
0 mInimo da pena corninada ao delito é de trinta dias de detencão, instituicöes armadas, peculiares ao posto, graduacao ou condiçiio de praca.
CO() dispöe o art. 58 do Codigo Penal Militar. Não se deve esquecer o interesse da administração militar federal, de ciuc dc-
Crime Militar - 0 suporte legal da classificacao do delito corno mento estranho a organizacão castrense nao ostente a condição de militar,
crime militar, relaciona-se corn a condicao do agente. Sujeito ativo militar: trajando uniforme, distintivo e insIgnia, privativos das Forças Armadas.
inciso 1, 21 parte, do art. 9 (crime não previsto na lei penal comum). Agente Sujeitos do delito - Sujeito ativo, o militar e o civil, incluindo-se,
civil: inciso III, caput e ailnea a, 2 parte, combinado corn o inciso I, 2 parte, neste tiltimo, é óbvio, a militar da reserva e a reformado, nas circunstãncias
do art. 92 (crime não prcvisto na ici penal comum, contra a ordcm administra- que serão expostas abaixQ. Sujeito passivo, as instituiçöes militares.
tiva militar). Elementos Objetivos - 0 niIcleo do tipo e usar, que importa em
A classificacão do delito como propriamente ou impropriamente militar trajar o uniforme ou colocar a distintivo ou a insignia militar sabre ele ou ou-
relaciona-se, igualmente, corn a condicao do sujeito ativo. Corn efeito, o uso tra vestimenta. Uniforme, distintivo e insignia são as institufdos pela legisla-
de uniforme, distintivo c insignia de posto ou graduaçäo inferior ou do mesmo ção pertinente, para uso das Forcas Armadas, da PolIcia Militar e do Corpo de
posto ou graduacão, porém de uso privativo de unidade diversa daquela a que
Bombeiros Militar, respectivamente.
pertence o agente, ou de outra corporacão, constitui crime propriamente mili-
Na descrição tipica consta o vocábulo "indevidamente". Pcrfeitamente
tar por se tratar de infracao penal especIfica e funcional do ocupante do cargo
desnecessário. Se a civil nunca tern direito ao uso de uniforme, distintivo ou
militar.
insignia militar, como pode usa-los devida ou indevidamente? 0 mesmo
Quanto ao civil, a infraco penal é impropriarnente militar, porque nbo
acontece corn a militar, nos casos em que não tern direito a usa-los. Se a Ic-
se trata de crime próprio de integrante de instituicio castrense e sim de civil
gislação especIfica nao autoriza, a uso não e indevido e sirn ilIcito, corn infra-
460
cao ao art. 172.
SIlvio Teixeira. Novo Cod. Pen. Mi!., p. 288.
347
346 Célio Lobão Direito Penal Militar

Por exemplo, o soldado do Exército que porta distintivo de pára- Para exemplificar: o oficial usando uniforme, distintivo ou insignia de
quedista, sem pertencer a essa unidade; soldado da polIcia militar, que usa sargento, da mesma unidade, de unidade diferenté ou de outra corporação;
distintivo de bombeiro militar; militar na inatividade que, tendo direito ao usa capito-tenente usando uniforme de capitao da Aeronáutica, do Exército; ca-
de uniforme, distintivo e insignia, do posto ou graduação que ocupava ao dei- pitibo de infantaria, corn distintivo de capitibo da cavalaria; major policial mi-
xar a servico ativo, usa o fardamento e acessórios, em momentos não autori- litar, corn uniforme de major bombeiro militar; coronel corn distintivo de cur-
zados pela legislação. so de estado major, sem ter esse curso; militar de qualquer arma, usando farda
Nesse sentido, decisão de corte castrense francesa: e distintivo de pára-quedista, de fuzileiro naval, do mesmo grau hierárquico,
sem, no entanto pertencer a essas unidades; distintivo de forca internacional
"La jurisprudence a eu a connaItre des poursuites exercées contre des I
i da ONU, pelo militar que nibo prestou esse serviço.
individus qul ont porte des uniformes militaires auxquels ils avaient droit, mais Na vigência do Código Penal Militar de 1944, decidiu a Superior Tri-
dans des conditions autres que celles fixées par les décrets et reglements en bunal Militar, na Apelação n 2.O57, qtic "não incide em qualquer das moda-
vigueur".461
lidades de crime, o militar que usa distintivo de posto ou graduacão in ferior a
0 art. 172 contém norma penal em branco, porquanto sua incidência que no tern direito, cOnSlitUin(l() o lab siniples tranSgrcsSa() disciplinar". ,
subordina-se a violaçäo da lei extra-penal que regularnenta o uso de uniforme A lei repressiva castrciIse anterior, coma it atual , fl() aulori/.a essa con-
distintivo ou insIgnia militar. Em primeiro lugar, o civil que, em hipótese a!- clusäo.
guma, pode usa-los, ressalvando-se, nessa classe, o militar da reserva ou re- Realmente, a parágrafo ünieo do alt. 149 do di ploula (Io I 9.11 quc
forrnado, nos termos da legislaçäo pertinente. 0 militar tern direito ao uso de corresponde ao art. 172 do atual, dcfinia-sc coma cii inc 'usal, qualquer
uniforme, distintivo ou insignia, correspondente a seu grau hierarquico, a uni- pessoa, indevidarnente, uniforme, a que näo tenha direito". ()ra. a descriçan
dade onde serve ou serviu, ao curso de aperfeicoarnento militar, etc. tIpica anterior, corn muito mais precisão (qualquer pessoa) do quc a attial.
A publicidade do fato não integra a descriçao tIpica, mas é indispensá- ajustava-se perfeitamente a espécie apreciada pela Cortc castreilse, supia
vel para que o delito chegue ao conhecirnento da autoridade militar. Ocorre mencionada. 0 mesmo acontece corn o diploma em vigor. 0 uso, pelo inililar,
quando uma pessoa, pelo menos, ye a agente, pessoalmente ou através de de uniforme, distintivo ou insignia de posto ou graduacâo superior encontra
fotografia, de fume, de video, ou outro meio qualquer de gravacão de imagern, definição no art. 171, enquanto o de posto ou graduacão inferior ou outro
trajando uniforme ou usando distintivo ou insIgnia. qualquer uniforme, distintivo ou insignia a que flibo tern direito, atende it des-
Por n5o se fazer presente o elernento subjetivo näo hA crime, se a uso ou crição tIpica do art. 172.
a gravacao da imagem não ultrapassa a intimidade do lar, na presenca de pa- 0 usa de uniforme, distintivo e insignia da Policia Militar ou do Corpo
rentes muito próximos e pessoas corn estreita ligacao afetiva. Nesse caso, so de Bombeiros Militar, pelo civil ou pelo integrante das Forças Armadas, nãa é
ha crime se a gravaçAo é divulgada pelo agente ou corn sua autorizaçibo tácita crime militar, podendo constituir-se em infraçao a lei penal comum, sem pre-
ou expressa. A representacibo teatral, cinematográfica e outras semeihantes nao juizo da apreciacão do aspecto disciplinar da conduta do militar. Não ultrapas-
constitui infraçao a lei penal militar. sa a limite da infração disciplinar apresentar-se a militar corn uniforme dife-
Como consta acima, so sujeitos do delito o civil e o militar. 0 civil, rente do que foi designado para a dia, ou para deterniinada solenidade ou ati-
pelo uso de uniforme ou dos acessórios mencionados, privativos das Forcas vidade militar.
Armadas. 0 militar, pelo uso de uniforme, distintivo ou insignia de posto ou Embora a lei penal se satisfaça corn a uso puro e simples de distintivo e
grau hierárquico inferior, ou do mesmo grau hierárquico, porém de unidade de insIgnia, se a civil os aplica na vestimenta, sem a intuito de apresentar-se
militar ou de corporacibo difcrente daquela a qual pertence, ou uso de distinti- coma militar, não ha crime pela ausência de dab. Embora presente a elemento
vo ou insIgnia de curso que não fez ou de unidade militar a qual nunca perten- subjetivo, se a aposição não é capaz de criar na inente do homem comum ou
ecu, aléin de outros casos previstos na 1egislaço que regulamenta o USO de do integrante das Forças Armadas a imagem de que se trata de militar, inexiste
uni!orrne e dos acessórios citados na lei penal. a infração prevista no artigo sub examine, pela ineficácia do rneio usado.

461
n Répert. Droit Crimin., t. II, p.946, n2 21. '° Ement. STM, n2 12/1 957.
348 Cello Lobão
V Direito Penal Militar 349

acirna exposto aplica-se, igualmente, ao militar em traje civil, desde policial militar ou bombeiro militar na inatividade, a legislacão da respectiva
que o uso do distintivo ou da insignia não tenha condiçoes de criar na mente Unidade Federativa regulamenta o uso do uniforme e dos acessórios referidos.
do homem comum ou do militar a imagem de que se encontra diante de militar Portanto, o uso de uniforme, distintivo e insignia pelo militar federal ou
na posição que o distintivo ou a insignia indica. Enfim, é questäo de fato a ser estadual, em inatividade, corn inobservância da legislaçäo pertinente, constitui
decidida pelo julgador. infracão ao art. 172. Para evitar equIvocos, militar inativo que usa uniforme,
Houve época em que os tribunais castrenses federais apreciavam, corn distintivo e insignia, do posto ou graduacão superior constitui infração ao art.
muita frequencia, o uso de peças de fardarnento inservIvel por pessoa neces- 172 e nao ao art. 171, artigo este restrito ao militar da ativa. Acrescente-se que
sitada e também por aquele que, terminada a prestacao do servico militar, Estatuto dos Militares autoriza o militar em inatividade, nomeado para o
levava consigo partes do uniforme, impróprios para uso militar. Inexiste cri- cargo de Ministro militar, a usar o uniforme da respectiva Arma, do posto que
me, pela ausência do elemento sub jetivo, sem falar da descaracterização do tinha ao passar para a inatividade. Norma idêntica deve existir na legislação
unifonrie. estadual, no que se refere a coronci inativo, norneado para comandante das
Não se confunde corn os exemplos supra o decidido pelo Superior Tri- corporaçöes estaduais. Corn a criaçito do MinisUrio da Defcsa igual autoriza-
bunal Militar, considerando crime o USO doloso de uniforme incompleto, que, cão pode ser concedida ao integranle das Forças Armadas cin inatividade,
no entanto, tern aparência de uniforme, ou meihor, transmite a imagem de norneado para exerccr o mais elcvado eaIg() da I sped iva Anna.
militar ao hornem comum. 0 militar federal da reserva ou reforniado, que viola a protbiçao do uso
de uniforme, porque sua conduta foi considerada olensiva a dirlildadv, da clas-
O crime é de mera conduta, satisfazendo-se a norma penal, tao - so-
mente, corn o uso do uniforme ou dos acessórios indicados. hrelcvante o mó- se (art. 77, § 3, do Estatuto dos Militares), estI igualimienie sudmi() s jwmuis
previstas no art. 172. Certamente a legislacão estadual deve iguiil vmo
vel do crime, como obter bens rnateriais, receber homenagens, impressionar
lação, corn igual conseqüência.
pessoas, ostentação, etc.
Elemento Subjetivo - A vontade livre e consciente do civil, ol meimla
O uniforme, o distintivo e a insignia são os das Forcas Armadas, no que da no sentido de usar uniforme, distintivo ou insignia das Forças Arimiatlas.
se refere ao militar federal ou ao civil, e os da PolIcia Militar ou do Corpo de Quanto ao integrante da instituição castrense, federal ou estadual, c ao militar
Bombeiros, no que diz respeito aos militares cstaduais. Os das corporacoes inativo, a vontade orientada no sentido do uso de uniforme, distintivo ou in-
militares estrangeiras est?io excluidos da tutela penal castrense, ressalvando-se signia, não autorizado pelos dispositivos legais pertinentes.
os distintivos de tropas multinacionais da ONU, usados por militares hrasilei- Consumação e Tentativa - Consuma-se no momento em que o
ros que as integraram em decorrência de compromisso assumido pelo governo agente veste a tiltima peca do uniforme, mesmo sern cobertura, ou coloca o
brasileiro. distintivo ou a insignia. Não se confunde a consumação corn o conhecimento
484. Militar da Reserva ou Reformado - 0 militar da reserva e o re- do ilIcito. Se o agente grava em video sua imagem, ilegalmente uniformizado,
formado, conforme ficou exposto, não são considerados militares, para efeito delito está consumado, porém so é conhecido quando a autoridade militar
da aplicacao da lei penal militar, como vem expresso no art. 22 do Codigo toma conhecimento do fato
Penal Militar. Entretanto, como a lei Ihes concede o direito de uso do unifor- 487. Legislação Anterior - Art. 149 do CPM de 1944.
me, distintivo ou insignia, do posto ou da graduaçao que ocupavarn ao passa-
rem para a inatividade, algumas consideraçoes merecem ser feitas. CAPtTULO IX
Enuncia a Siirnula 57 do Supremo Trihuna Federal: "Militar inativo näo Resistência
tern direito ao uso de uniforme fora dos casos previstos em lei ou regulamen-
to". A ressalva refere-se a autonzacao concedida pelo Estatuto dos Militares, Art. 177. Opor-se a execucão de ato legal, niediante
segundo o cival o militar em inatividade poderá apresentar-se uniformizado, ameaça ou violência ao executol; ou a queni esteja prestando
corn distintivo c insignia que usava ao passar para a inatividade, em solenida- auxIlio:
de militar, cerimônia civica, cornemorativa de data nacional e ato social solene Pena - detençao, de seis meses a dais anos.
de caráter particular, desde que autorizado pela autoridade militar competente § 12 Se a ato nao se executa em razão da resistência:
(art. 77, § l, c. do Estatuto dos Militares - Lei nc 6.880/80). Tratando-se de Pena - reclusão, de dais a quatro anos.
350 Célio Lobão Direito Penal Militar 351

22 As penas deste artigo são apiicáveis sem prejuIzo das Violência consiste na força que o agente faz atuar contra o executor da
correspondentes a violência, ou ao fato que constitua crime ordem ou contra quem o auxilia. Se nenhum dos dois é atingido não ha vio-
niais grave. lência, podendo ocorrer amcaça.
Ensina Heleno Fragoso que a "violência deve necessariarnente dirigir-se
Consideração Gerais - Apesar de definido no art. 329 do Codigo a pessoa do funcionário (ou de quem o auxilia), não sendo cabIvel para a con-
Penal, corn diferenca insignificante, achamos por bern comentar o crime de figuraco do crime a violência contra coisas, mesmo que seja idôneo para a
resistência porque a lei penal castrense o incluiu no elenco dos crimes contra a oposicão (rompimento de escada de acesso, dano causado ao veIculo ou ani-
autoridade ou a disciplina militar, enquanto no diploma reprcssivo cornurn mal usado pelo funcionário, etc.)".'64
figura como crime praticado pelo particular contra a administraço pb1ica. Ressaltarnos, apenas, que o dano contra a coisa pode assurnir a fonna de
No Codigo Penal da Armada a resistência era definida no art. 101, ameaça, sern prejufzo do crime de dano cornurn ou militar, conforme 0 caso.
guardando alguma identidade corn a descricao tIpica do art. 177, supra. Mace- A ameaca consiste na promessa atual ou futura de ocasionar urn mal no
do Soares cita Titara, segundo o qual se o militar cornete crime de resistência e executor ou a quem o auxilia. Pode ser por escrito ou verbalmente, inclusive
dela resulta homicIdio contra civil. "responde perante o Conselho de guelTa na ausência do executor, desde quc o ato esteja em execuçäo.165
pelo crime militar unicarnente e pelos outros no foro criminal".463 Tndispensável a idoneidade da arneaca, que deve ser capaz de intimidar,
Crime Militar - Os requisitos classificatórios do crime como nii- embora não se exija que o executor e scu auxiliar se intirniclern, comb dccidiu
litar siio idênticos para o agente militar e para o agente civil, mudando, apenas, o Superior Tribunal Militar:
os preceitos normativos aplicáveis. Corn efeito, tanto para urn, corno para on-
"Não é essencial, para configuração da resistência que a ameaca che-
tro, a classificaçao resulta da contrariedade a ordem administrativa militar. gue a intimidar o executor da ordem, bastando, apenas, que haja probabilida-
Sujeito ativo militar: inciso II, e, 22 parte, do art. 92 (crime corn igual de- de de sua concretização".4
finiço na lei penal comurn, contra a ordem administrativa militar). Agente
civil: alfnea a. 22 parte, inciso lii, combinado corn o inciso II do art. 92 (crime Nesse sentido, decisão da l Câmara do Tribunal de Justiça do entao
corn igual definiço na lei penal cornum, contra a ordem administrativa mili- Estado da Guanabara: " E preciso que a vItirna tenha razöes para acrcditar
tar). Crime impropriarnente militar. esteja o ameaçador em condicOes de concretizar a anieaça". Portanto, é desti-
Objetividade JurIdica - 0 objeto jurIdico da tutela penal é a auto- tuIda de idoneidade a ameaca feita por indivIduo franzino, desarmado, ao exe-
ridade militar e a ordem administrativa militar, no aspecto do interesse da cutor de complcicäo atlética e auxiliares na mesrna condiçao.
administraço castrense, em garantir o cumprimento de ordem legal ernanada O crime de resistência não se confunde corn a declaraçäo do agente de
de autoridade militar e em proteger o executor da ordem e quem ihe presta que não cumprirá a ordem, nem corn a resistência passiva. E o que afirma
auxflio. Tratando-se de sujeito ativo militar, a proteçiio legal estende-se, Magalhaes Noronha, "näo se confunde resistência corn desobedincia: o de-
igualmente, a disciplina militar, seriamente afetada pela resistência do sujeito sordeiro que, preso em flagrante se agarra a urn poste, nan resiste, desobedecc.
ativo a ordem legal. Diga-se o mesmo do que foge, etc".467
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar ou o civil. Sujeito pas- Realmente, a rcsistência passiva, corn a fuga, corn o agarrar-se a umn
sivo, as instituicOes militares e, ofendido, o militar que executa a ordem legal poste ou lancar-se no solo. pode configurar desohcdiência (art. 301).
e quem o auxilia. Observa Heleno Fragoso. citando Manzini, que no crime de resistêricia,
Elementos Objetivos - 0 nticleo do tipo é a opor-se, que consiste "pressupöe-se já iniciado o ato de ofIcio ou de scrviço, e a violência ou amea-
no ato material, contrário a execuço de ato legal, concretizado por mcio de ça deve ser contcmporânea ao desenvolvimento da atividade funcional ten-
violência OU arneaça ao executor da ordem ou quem o auxilia. Configura-se o
delito, mesmo corn a realizacao do ato.
Heleno Fragoso, Licoes. Parte Especial, v. 3, p. 458.
' Heleno Fragoso, Liçoes, Parte Especial, v. 3, p. 458.
Ap. n2 33.004, DJ/GB de 13.03.63.
Macedo Soares, COd. Pen. Mi!., p. 159-60. 417
Magalhaes Noronha, Dir. Penal, v. 4. p. 321.
352 Célio Lobäo Direito Penal Militar _______ 353

dendo a frustar absoluta ou relativarnente a obtenção do escopo a que o ato se litar. Contra o auxiliar civil, o crime é cornum, salvo se ocorrer em local sob
dirige". administracão militar estadual e não se tratar de crime doloso contra a vida;
Prosseguindo, esciarece que não "pode haver resistência se ainda não se agente civil: crime comurn;
iniciou ou se ji CCSSOU a atividade do funcionário".4 68 Não se exclui a possibilidade de grau hierárquico inferior de quern exe-
Merecern destaque alguns aspectos do delito, quanto ao agente e ao cuta a ordem ou o auxilia, cm relacão ao do sujeit.o ativo. Por exemplo, o ofi-
ofendido: cial que se opöe, mediante violência ou ameaça, ao soldado que executa a
prisão de outro soldado.
I - executor c auxiliar militares federais em cumprimento de ordem le- Repetirnos, indispciismivel a legalidade da ordem c, também, que a
gal de-autoridade militar: agente militar: crimes militares, a resistência e o agente tenha conhecinicffl.o ck' sen conteudo e da autoridade militar que a ex-
resultado contra o executor e o auxiliar (alIns. a e e, 2 parte, II, art. 9Q); agente pediu, caso contrário o crime no se consuma. As duas iltimas formalidades
civil: crime militar, se a ordem relacionar-se corn a garantia dos poderes cons- são dispensmlveis, em circunstãncias especiais da ocorrência, coma a necessi-
titucionais, da Ici e da ordem (art. 142 da Constituição e art. 9a, d, Ill, do dade da urgência no cumprimento da ordem. No entanto, lembra 1-leleno l4ra-
CPM). corn o cxercicio de funcao de natureza militar, por exemplo, polIcia goso que a "ilegalidade da acao praticada pelo funcionário torna a resistncia
naval, aérca c de fronteira, polIcia judiciiria (alIn. ci. 111. art. 9) ou se o fato lcgItima, exciuindo a anti juridicidade da ação e a tipicidade da conduta.4 '
ocorrer em lugar sob administraçao militar (aim. b, Ill, art. 9). Registre-se o Elementos Subjetivos — 0 elernento subjetivo d o dolo de opor-se
rigoroso controle da legalidade da ordem, rclativamente ao civil, a execução de ordeni legal, eimumda do autoridade militar competente, mediante
II - executor c auxiliar militares federais em cumprimento de ordem le- violência ou amneaça no executor militar, on a quern Ihe presta auxflio.
gal de autoridade judiciária militar: agente militar, crime militar; agente civil: Consurnaçiio c 'Fentativa - Consuma-se no mornento em que a
crime militar, a resistência c o resultado contra executor e auxiliar, pois ambos executor da ordem on (lunt a auxilia 6 atingido pelo ato violento ou torna
cstão em funçao de polfcia judiciária militar, portanto em funçao de natureza conhecirnento da ameaca. ,\ntcs da violência ou da ameaça, nao H oposiçao i
militar (alIn. d. HI, art. 9). Se o auxiliar não foi designado pela autoridade
ordem.
cornpetenl.c para a cliligCncia e sim recrutado pelo executor, o crime contra dc A tentativa éjuiidicaineiite possivel. se, por motivos alheios a vontade
praticado, pelo civil, é conium, salvo se ocorrer em local sob administração do agente, o executor on sen utxiliar não sofrem a violencia contra des dirigi-
militar (alIn. b, Ill, art. 9). Registre-se o rigoroso controle da legalidade da
da. Magalhães Noronha e I )amisio de Jesus admitem a tentativa, na arneaça
ordein, rclativarnentc no civil;
par escrito. se a carta iiao ehega ao conhecirnento do executor, porque foi in-
III — executor militar federal e auxiliar policial militar ou civil (policial
terceptada.
civil, qualqucr do povo, etc.) ern cumprimento de ordem legal emanada de
Forma Qualificada e Concurso Material - Qualifica a crime a
autoridade militar ou judiciária militar: agente militar: a resistência e o resul-
não execução do ato, em raimio da rcsistência (§ 10). 0 retarclarnento do cum-
tado contra o executor, são crimes militares e o crime resultante da resistência.
contra o auxiliar, crime comum, salvo se ocorrer em local sob administraçao prirnento da ordem nib quali lica a crime.
militar c nao for delito doloso contra a vida; agente civil: a resistência e a re- Em conformiclade conia § 20, as penas da resistência siniples (caput) on
sultado contra o executor, sao crimes militares nas mesmas circunstncia do da qualificada (§ 1 °) aplicam-se seni IreiuIzo das correspondentes a violência
item TI, supra. 0 crime resultante da resistência, contra o auxiliar, é comum. ou ao fato que constitui crime tunis grave. 0 Código volta a confunclir violen-
Registre-se a rigoroso controle da legalidade da ordem, relativamente ao civil: cia corn homicIdio e lcsöes corporals, apesar da perfeita distinção feita flOS
IV - executor militar estadual e auxiliar militar estadual ou civil arts. 157 e 176 (violência contra superior e contra inferior, rcspeetivamente).
(policial civil, qualqucr do povo), em cumprimento de ordem legal de Sendo a violência urn dos eletnentos da tipicidade de nina das duas ma-
qualquer autoridade militar ou civil ou autoridade judiciária militar OU civil: dalidades da resistência siinples, coma essa mesma violência constitui resulta-
agente militar estadual: crime militar contra a executor c auxiliar policial mi- do da violência? Na realidade, ocorre que, nos ternios do § 20, a sujeito ativo

Heleno Fragoso, Licoes, Parte Especial, v. 3, p. 458. Heleno Fragoso, Liçoes, v. 3, p. 459.

n
354 Cello Lobão I Direito Penal Militar - 355

responde, em concurso material. pela oposico a execução de ato legal, mediante Nesse sentido decisAo do Suprerno Tribunal Federal, aliccrçada em pa-
violência ou ameaca, e pelo resultado lesão corporal ou morte. recer da Procuradoria Geral da Repdblica:
Da mesma forma, se o fato constitul crime mais grave, a pena do crime
de resistência simples ou qualificada (§ l) é aplicada independente da corni- "são a autoridade e a disciplina militares os valores tutolados pela norma pe-
nal militar, ao passo que a norma penal comum tutela, uspocificamonte, a ad-
nada ao crime mais grave. Por exemplo, se a violência a praticada contra supe-
rniaistração da Justica Comum".470
rior, o agente responde, em concurso material, pela resistência, pela violência
contra superior e pelo crime contra a pessoa, se houver. Entretanto, nao se A classificaçAo feita pela lei penal militar tern como eui eqtlein a evil ir
deve esquecer o elemento subjetivo, em relaçao a violéncia contra superior e, a inconstitucionalidade das normas definidoras dos clelitus de Uui, VislO,
principalmente, quanta ao resultado. arrebatamento e arnotinamento de presos. Realmente, os ails. 121, in
Como ficou duo acima, pelo resultado lcsão corporal ou morte, contra 125, § 4. da ConstituiçAo autorizaram o legislador ordmario a .leIiitii t'. c ii
auxiliar civil, a agente civil ou militar federal ou estadual, responde na Justica mes militares e, evidentemente, dentre esses nAo se inserern os que alt iii
comum, corn separacão de processos, a que não acontece corn o executor e contra a administraçao da Justiça Militar federal ou estadual, drgiias iltt I let
auxiliar designaclo para a rnissao, ambos militares, quando o crime é militar. Judiciario federal (art. 92, VI, da ConsrituiçAo) e do Fader Judiciiria esl;ulii;il
independente do sujeito ativo. 0 ofendido militar encontra-se investido cni (art. 125. § 3, da ConstituiçAo), respectivamente.
servico de natureza militar. decorrente de lei. precisarnente. no servico de A prisAo do integrante das Forças Arrnadas, em estahelecinicnta iii
federal, decorre de decisAo da Justica Militar ou cornurn, de prisao ciii I la
polIcia judiciaria militar. No caso da ordern cxccpcional c rigorosarncntc legal,
grante oü disciplinar, ou imposta pela autoridade da polIcia judiciária Inhlilal
ernanada de autoridade judiciaria civil, o crime é militar pela funcão militar
nos crimes propriarnente militares (art. 5c, LXI, da ConstituicAo). 0 inteilit
subsidiária expressa no art. 142 da Constituicäo.
mento é detenninado par decisAo judicial, civil ou militar. A prisAo do civil
Sendo o sujeito ativo policial ou bombeiro militar, a resultado (§ 2) resulta, exclusivarnente, de decisAo judicial casrrense ou comum. embora sen
será crime militar, da competência da iustica Militar estadual, se o ofendiclo e recolhimcnto em unidade militar das Forcas Armadas, ocorra em sit uaçöcs
igualmente policial ou hombeiro militar. especialissirnas, corn observncia rigorosa da legalidade. 0 internamento nm
Liberdade Provisória - NAn se concede liherdade provisória ao encontra apoio na lei.
indiciado ou acusado pela prdtica de crime de resistência, corno dispoe o art. Na configuraçAo do crime militar, aldm dos requisitos dos incisos TI e III
270, parágrafo ilnico, b, do CPPM. do art. 9, torna-se necessária a legalidade da prisAo. A ausência da indispen-
Legislacão anterior - Art. 101 do CPA; art.l54 do CPM de 1944. sável legalidade tern como conseqüência a inocorrência dos crimes dos arts.
178 a 182, respondendo o agente pelos atos praticados, desde que definidos
X
CAPiTULO em outro dispositivo da lei penal militar, corn atendimento do disposto 1105
Fuga, Evasão, Arrebatamento incisos I e II (agente militar) e inciso III, combinado corn os incisos I e II
e Amotinamento de Presos (agente civil).
Aplica-se, aqui, a licAo de Heleno Fragoso, supratranscrita, ao referir-se
Nocöes Gerais - Os delitos deste capItulo, corn difcrença irrele- A resistência,: "E indispensavel que se trate do ato legal, pois a ilegalidade da
acAo praticada pelo funciomirio torna a resistCncia legItirna, excluindo a anti-
'antc, vêm definidos no Código Penal Militar (arts. 178 a 182) e no Código
juridicidade da acAo e a tipicidade da conduta". Portanto, a prisao ilegal exclui
Penal (arts. 351 a 354 do CP). Apesar disso. corno aconrece corn a resistência,
a antijuridicidade da acAo e a tipicidade da conduta.
achamos par bern cornentá-los, principalrnente em razAo da divcrsidadc de
0 civil preso em unidacle da Poilcia Militar ou do Corpo de Bomheiros
classificaçAo das figuras delituosas nos diplomas citados. Corn efeito, no Cd- Militar (p. cx., sob prisão especial) que comete os delitos de evasAo e de amo-
digo Penal, alinham-se dentre os crimes contra a adrninistracAo da Justica, tinarnento (arts. 180 e 182) ou aquele que, scm estar preso, pratica os crimes
enquanto na lei penal castrense, classificam-se como crimes contra a autorida-
de ou a disciplina militar. °
RTJ12O/1214.

I
356 Célio Lobão Direito Penal Militar 357

de promover a fuga e de arrcbatamcnto de preso (arts. 178 e 181), rcsponde na Consideraçöes Gerais - Como ficou dito, os delitos do art. 178
Justica cornum, corno incurso nos arts. 351 a 354, do Codigo Penal, indepen- classificarn-se como crimes contra a autoridade e a discipiina militar, diferente
dente da autoridade judiciária que determinou a pris?io. do Codigo Penal, onde o bern juridico tutelado é a administracão da Justiça.
Nos crimes dos arts. 180 e 182, o militar estadual, preso ou internado 0 delitojá era previsto no art. 23 dos Artigos de Guerra e no art. 103 do
em estabelecimento da PolIcia Militar ou do Corpo de Bombeiros, responde na Código Penal da Armada, embora scm os mesmos elernentos tipicos. No iilti-
Justica castrense estadual, qualquer que seja a autoridade que determinou o mo diploma citado, a tentativa era equiparada ao crime consumado.
recoihirnento. Os de]itos dos arts. 178, 179 e 181 (fuga de preso, deixar fugir Crime Militar - Os requisitos classificatórios do crime como mi-
por cu]pa e arrebatarnento de preso) são igualmente militares, se o agente é litar são idênticos para o agente militar e para o agente civil, mudando, apenas,
militar estadual, estando o preso Cu internado recoihido a estabelecimento Os preceitos normativos aplicáveis. Corn efeito, tant() para urn, como para 0
militar estadual, independente da autoridade judiciária ou militar (prisão dis- outro, a classificação resulta da contrariedade a ordern administrativa militar.
ciplinar ou resultante de crime propriarneute militar) que tenha ordenado 0 Sujeito ativo militar: inciso II, e, 24 parte, do art. 9° (crime corn igual de-
recoihiniento. Apenas lcrnbramos que 0 iflterflaiflentO do civil em estabeleci- finição na lei penal cornum, contra a ordem administrativa militar). Agente
mento niilitar estadual, no tern apoio na lei. civil: inciso ill, alInea a, 2 parte, comhinado corn o inciso II, do art. 91 (crime
L'

Por outro lado, sendo o sujeito ativo militar estadual c o preso civil re- corn igual definiçao na lei penal comum, contra a ordeni administrativa mili-
colhido a cadeja pdblica. o crime é comuni. mesmo que a policial militar tenha tar). Crime irnpropriamentc nii]ilar.
responsahilidade da guarda do preso Cu internado. E o que dccidiu, 110 acdr- Objetividade Jurídica - 0 objeto da tutela penal é a ordern adrni-
do antcriorrnente citado, o Suprerno Tribunal Federal, sancionando parecer mstrativa militar, no particular aspecto da normalidade do funcionamcnto do
da Procuradoria da Repdhlica: estahelecirnento militar, do rcspeito a autoridade militar, sob cuja responsabi-
lidadc se encontra o preso ou o internado, qualquer que seja o sujeito ativo.
"E os presos que o paciente ajudou a fugir estavam recolhidos em ca- No caso de agente militar, além dos betis judicos acima. a protccão penal
deja ptiblica a disposiçâo da Justica Comum, e não em presidio militar a dis- estende-se a discipliria militar, exposta a perigo decorrente da conduta do in-
posicao da Justiça Castrense'.471 tegrante da instituiçäo militar, violando normas de hierarquia e do regula-
mento disciplinar.
CAPITULO XI A lei protege, ainda, nas modalidades qualificadas, o prestIgio das ins-
Fuga de Preso tituiçöes militares, a integridade fIsica dos xnilitares encarregaclos da guarda
do preso Cu internado e o patrirnônio sob adrninistração militar.
Art. 178. Promover ou facilitar a fuga de pessoa legal- Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar e o civil, corn exceção
inente presa ou submetida a medida de seguranca detentiva: da modalidade qualificada do § 3°, na qual vem irnplfcita a condiçäo de militar
Pena - detençao, de seis meses a dois anos. do agente. Sujeito passiyo, a administração militar.
Elementos Objetivos - As condutas incrirninadas são promover e
§ J Se o crime é pralicado a mao armada ou por inais de
facilitar a fuga. A primeira, "é tomar a iniciativa de proporcionar diretamente
uma pessoa, ou Inediante arrombamento; ao preso a ocasião para que escape"472 , enquanto a segunda "é prestar auxIlio
Pena - reclusao, de dois a seis anos. para que o prdpri() preso ou internado se liberte, fornecendo-lhe os meios para
§ 2 Se ha emprego de violência contra pessoa, aplica-se o rompiento
m da prisão ou para iludir o carcereiro".4 '3
tainbém a pena correspondente a vioiencia. Atendc ao requisito de ambas o am eficiente para a fuga cia preso on
§ 32 Se o crime é praticado por pessoa sob cuja guarda, internado, o que ocorre no inornento em que é transposto 0 limite do estabele-
custodia ou conduçao estd o preso ou internado: cimento militar oxide se situa a prisão ou o internainento, ou no instante em
que o preso ou o internado sai da esfera de vigilância dos rrnlitares que 0 con-
Pena - reciusao, ate quatro anos.
4/2
11ii Helene Fragoso Licaes, V. 3, p. 552.
RTJ12O/1214. 473
Helene Fragoso, Licoes, V. 3, p. 552.
359
358 Cello Lobão Direito Penal Militar

duzem, fora do local do recolhimento. Como prisão inclui-se a existente no diciána, revestida de legalidade, o crime é militar, qualquer que seja o agente,
interior de navio da Marinha, a dependência destinada a prisäo de oficiais, a porquanto, nessa hipótcse, o ilIcito atenta, principaimente, contra a ordern
penitenciária militar, etc. militar e contra a autoridade militar.
Prornover consiste na realizacäo de ato eficaz para a retirada do preso Elemento Subjetivo - Consiste na vontade livre e consciente de
ou do internado do local onde se encontram confinados ou da guarda de quem promover ou facilitar a fuga de quern se encontra preso ou submetido a mcdi-
ou o conduz ou o vigia, sendo irrelevante a concordância ou não do preso ou da de seguranca detentiva. 0 dolo se faz presente na conduta do agente, o que
internado, que, inclusive, pode ser retirado contra sua vontade. A responsabi- não se confunde corn o carcercin) que, negligentemeflte, deixa aherta a porta
lidade de quem promove a fuga permanece, independente da colahoraçäo do do xadrez e, clessa forma facilita a fuga do preso. Responde por culpa (art.
preso OU do internado e de outros fatores que contribuIram para o êxito do 179).
empreendimento ilIcito, estranho a vontade do agente. CoflSUfllacd() c Tcntativa - Consuma-se no momenta em que 0
Na facilitacäo. a iniciativa do preso ou internado é preponderantc para preso ou o interno sal da eslra L ie vigilância dos militares responsável pela
c'ue se efetive a cvasão. limitando-se o agente a prestar auxIlio ames, durante sua guarda ou conduçiio. em decorrencia da atividade do sujeito ativo.
ou após a fuga. A ajuda consubstancm-se no fornecirnento de instrumento para A tentativa existe quando a fuga não se realiza por motivoS alheios a
remover a grade. de arma para inhinlar OS responsveis pela guarda. de meio de vontade do agente que lu(lo tei para alcançar a ineta optata. Por exemplo, o
transporte, de chsfarce, de alirncntaço. de numerário, etc. inCiiVIdU() que penetra 110 estabelecimento ciisfarçado de empregado de lavan-
Se a ajuda realiza-se após a fuga, scm contribuir, de qualquer forma, dana e conseguc esconder o preso ou o internado em sen veIculo. mas é des-
para a evasão, inexistirá o crime do art. 178, podendo configurar-se outra in- coberto ames de transpor 0 pontao cie saIda.
fracio penal, corno favorecimento pessoal. Forma Qualilkada - Estão previstas as qualificadoras seguintes:
0 delito do art. 178, nas duas modalidades, tern como pressuposto a le- crime praticado a miiiio ariiiada por mais de urna pessoa; mediante arromba-
galidade da prisão ou da medida de scgurança detentiva, resultante de ordem mento: por pessoa eimcamregada da guarda, cusiódia OU condução do preso
de autoridade judiciária militar ou civil. e de autoridade militar, no crime pro- ou internado.
so da arma pelo
priarnente militar (art. 5. LXI da Constituiçiio e art. 18 do CPPM), caso con- Nd) prirneiro, a expmesso "a mao armada" näo exige o u
trário o delito poderá ser outro. sujeito ativo, sendo sulicieiile que conduza a arma própria ou iinprópria na
local visIvel. A qualificadora justifica-se pela
E oportuno registrar que a prisao em flagrante se insere dentre aquelas mao. na cintura ou em
decorrentes de deciso judicial, porque o recolhimento de quem d encontrado potencialidade de intimnidaco exercida pelo sujeito ativo. Sendo dois ou mais
em flagrante delito apenas antecipa a decisão judicial que mantém a medida agenteS, alcança todos, fleSi11O OS que não portam arma,
0 fato de a arma dc logo encontrar-se scm projétil é irrelcvante, nao re-
coercitiva porque, em conformidade corn o disposto no art. 5, LXII, da Cons-
tituicao. "a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comu- tira a tipicidade. Por outro lado, arma de brinquedo, por maior que seja sua
nicados imediatamente ao juiz competente" e essa comunicação "deve ser perfeicâo näo atende i dcscriçio tipica que exige, "a mao armada", o que não
feita ao juiz ordinário corno também ao militar" que, "na hipótese de priso acontece se a anna näo é verciadeira. A agravante tanto se aplica no ato de
promover, quanto no de facilitar a fuga. No entanto, indispensável a prcsença
ilegal a relaxará imediatarnente".474
do agente armado. diante dos res1,ons6veis pela guarda do preso, durante a
A ilegalidade da priso ou cia internamento relaciona-se, também, corn
o local da prisao ou do internamento. 0 recolhimento do civil a estabeleci- consumacao do delito.
A qualificadora diC plumalidule de agelites tern coma Sdlponle () aumnento
mento militar, scm fundamento legal, conforme mencionanlos acirna, torna
da agressividade e rnaior poder de liii iniidacão dos delinqtientes, embora scm
ilegal a prisão ou 0 internamento, impedindo a incidência do art. 178.
a potencialidade do porte de arnia. Ocorre. ainda, o agravamento da pena, se a
Reafirmamos que, no caso de preso civil, se o excepcional recolhimento
crime é praticado mediante arromnhamnentfl da pnsao, de outra dependência cia
ao estabelecimento das Forças Armadas decorre de decisão de autoridade ju-
estabelecimento militar, ou do veicuk) transportador, desde que constituta rneio
de promover ou facilitar a fuga.
474
Pinto Ferreira, Coment. a Coast. Bras., v. 1 p. 191.
360 361
CélioLobão DireitO Penal Militar

0 § 22 prevê a aplicacäo da pena de promover ou facilitar em concurso vem implIcita na descrição tIpica. Corn efeito, somente ao militar é confiada a
material corn a da violência contra a pessoa. Sem diivida algurna, o Código guarda ou condução do preso que se encontra sob responsabilidade da admi-
refere-se ao crime contra a pessoa cometido contra os encarregados da guarda nistração militar. Se a atribuiçäo é delegada a policial civil, o crime é comurn.
do preso e contra outras pessoas, inclusive contra outros presos que porventu- Crime Militar - A classificaçäo do delito como militar decorre do
ra se oponham a fuga. 0 crime contra a pessoa é militar, salvo se a vItima e disposto na alInea e, V parte, do inciso 11 do art. 92 (crime corn igual definição
também o agente forern civis, quando o crime é comum, na lei penal comum, praticado por militar contra a ordem administrativa miii-
Se a fuga é promovida ou facilitada pela pessoa sob cuja guarda ou tar). Delito irnpropriarncn Ic in ii itar.
custddia encontra-se o preso, a pena é agravada: reclusäo, de 1 a 4 anos (art. Objetividade .JurI(IiCa - A lei tutela a disciplina militar, diante da
58 do CPM). Nessa niodalidade, expöe 1-leleno Fragoso, "ha em tal caso viola- conduta do militar que, deixaudo de empregar a cautela, atenção, ou diligência
çäo de especIfico dever funcional, que justifica a major scvcridadc. Sujeito a que estava obrigado, em lace das circunstâncias, deixa fugir o preso sob sua
ativo aqui somente pode ser pessoa adstrita ao dever de guarda, vigilricia guarda ou conduço.
ou custddia de PCS() OU internado",475 ou seja, somente o militar que guar- Sujeitos (10 I)clito - Sujeito ativo, somente o militar a quem o pre-
da. custodia 011 conduz 0 preso 011 quern se encontra submetido a medida so se encontra conliado para guarda ou condução. Sujeito passivo, as institui-
de segurança. çöes inilitares.
Liherdade Provisória - 0 indiciado e o acusado por irifraço ao Elenlentos ()bjetivos - Na espécie, a militar. culposametite, Ileixa
art. 178 não tern direito a liherdade provisdria, corno dispöe o art. 270, para- fugir o preso do cstahekciiiiciito hlitar
inou0 ao ser conduzido em velculo ou a
grafo tinico, h, do CPPM. pé. Esciarece Maga1l1Lcs Noronha:
Legislacão Anterior - Art. 23 dos Artigos de Guerra; art. 103 a
106 do Cddigo Penal da Amiada; art. 155 do CPM de 1944. "E imprescindivel haver fuga. Caso näo haja, o comportamento culposo
do agente poderá constituir outro delito, hear sujeito a prescriçöes disciplina-
res ou ser penalmente indiferente. Assim, nâo pratica o crime em apreco o on-
CAPITULO XII carregado da custódia do sentenciado, que, por culpa, troca, p. ex., alvarO do
Fuga de Preso por Culpa soltura, proporcionando a saida prematura do condenado".476

Art. 179. Deixar, por cu/pa, fugir pessoa /egahnente pre- Não é diferenlc o ensinamcnlo de 1-leleno Fragoso:
sa, confiada a sua guarda ou conduçao:
Pena - detençao, de fris meses a urn ano. "A incriminacão da farina culposa, neste caso, é da tradicão do nosso
direito. Por omissão das cautolas devidas, o guarda ou carcereiro promove ou
facilita a fuga de pessoa sob sua guarda ou vigilância. Como a fuga depende
Consideraçöes Gerais - Nos Artigos de Guerra o delito era prc- sempre da acão dolosa do preso on internado, não haverá crime se por erro
visto corn a redaçio seguinte: "ou sendo encarregado de o guardar", (o preso) culposo o carcereiro o poe em liberdade. Para a existència do crime deve efe-
"não puser todas as precauçoes para este efeito, será posto no lugar do crimi- tivamente consumar-se a fuga: a simples tentativa não basta".477
noso" (art. 23, in fine).
crime é contra a autoridade e disciplina militar e näo contra a admi- 0 crime existe, CO() disSenioS, Se o agente deixa de cmpregar a caute-
nistraçao da Justiça Militar, corno acontece no Código Penal porque, se tal Ia, atençäo, ou diligência a que csta ubrigado em razão do serviço que executa.
acontecesse. não seria possIvel classificá-Jo corno delito militar. Já ficou dito. relacionado corn OS cuidados a serem dispensados para evitar a fuga do preso.
a lei penal castrense não wtela a administraçäo da Justica Militar. Por exemplo. 0 presO quc Sc evade pomque 0 militar encarregado. mesnio
delito do art. 179, a exemplo do § 32 do art. 178 (Se o crime é prati- eventualmente, de fomecer-ihe aliinento, deixa aberta a porta do xadrez, ou.
cado por pessoa sob cuja guarda, custódia ou conduçao está o preso ou inter- durante a conduçao do recluso. OS que participarn da escolta permitem que
nado), somente pode ser cometido por militar, pois essa qualidade do agente penetre sozinho em local onde hI outra saIda. Nos exemplos citados, OS agerl-

475
Magalhaes Noranha, Dir. Pen., v. 4, p. 429.
Helena Fragoso, Liçoes, v. 3, p. 554. Helena Fragoso, L.içOes. v. 3, p. 554.
V
362 363
Céflo Lobão Direito Penal Militar

tes agern scm a cautela, a atençao ou a diligencia devida, no serviço que exe- Legislação Anterior - Art. 23, 2 parte dos Artigos de Guerra;
cutam.
art. 106 do CPA; art. 156 do CPM de 1944.
Embora nao seja diretamente responsável pela segurança do preso, o
comandante da unidade pode igualmente ser responsabilizado, caso expeça I CAPiTULO XIII
determinaçoes que facilite a fuga do detento, por exemplo, autoriza o banho de Evasão de Preso
sol scm vigiMncia ou que o detento, ao ser conduzjdo. entre numa residêncja
ou nurn prédio, desacompanhado da escolta.
Art. 180. Evadir-se, ou tentar evadir-se a preso ou inter-
militar cujo serviço nio se relaciona corn a segurança do preso ou
nado, usando de vio!ência coiflra a pessoa:
das dependências onde se encontra a priso, näo cornete o crime do art.
Pena - detencao, de Ufli (1 dais aflos. a/em do correspon-
179. Corno exemplo, o militar que presta serviço na oficina da tinidade
militar c recebe ordern para coflSertar a parte inlerna da priso QU de Outra dente a ViO/eflCiO.
10 Se a evasJo ou a lentaliVa ocorre med/ante arroniba-
depcndncja onde o preso está recoibido e. negligentemente, deixa a porta §
aherta, nio pratica o crime do art. 179. Responde disciplinarmente. A lei menlo do prisJo militar:
exige do agente a condiçio de encarregado da guardaou c ciodo pre- Pena - detençao, de seis ineses a urn cilia.
So. ainda que evcnti.jarmjite
2 Se aO fato sucede deserçäo, aplicarn-se C111I2111a1iVCI-
policial militar que deixa fugir, por culpa, o preso recoihido "eni ala inemile as pen as correspondentes.
de Delegacia de PolIcia, a disposiço da Justiça Cornum, e no em presIdio
sujeito a administraçao militar", pratica crime cornum. conformne acórdo do
Consideracöes Gerais - 0 Código Penal da Annada contemplava
Supremno Tribunal Federal, jiS citado. 0 mesmo acontece se a fuga ocorre du-
crime de fug a medianle arrombamcmit.o ou violência a pessoa ou a coisa.
rante a conduço do preso, isto é, do indiyIduo recoihido em prisao conlurn,
durante a transferência para outro local. Crime Militar - Os requisitos classificatórios do crime COfll()
militar säo idênticos para o agente militar e para o agente civil, mudando,
514. Elemento Subjetivo - 0 crime é punido a tItulo de culpa e ocorre
apenas, os preceitos normativos aplicáveis. Corn cfeito, tanto para urn
quando o agente, considerando as circurlstãncias que envolvem a ocorrência.
como para o outro. a classificaçAo resulta da contrariedade a ordem admi-
deve prever, como possivel, a fuga da pessoa sob a qual tern obrigaçao legal
nistrativa militar.
de manter vigiMncia, entendjda corno tal os cuidados necessmIrios para que o 92
Sujeito ativo militar: inciso II, e, 22 parte, do art. (crime corn igual de-
preso não se evada da prisao ou fora dela.
finiçao na lei penal comurn, contra a ordem administrativa militar). Agente
Como diz o Código Penal Militar, "o agente, deixando de empregar a
civil: inciso III, caput, alInea a, 2 parte, combinado coni o inciso IT, do art. 92
cautela, atenção, ou diligencia ordinária, ou especial a que estava obrigado
(crime corn igual definiço na lei penal cornurn, contra a ordem administrativa
em face das circunstncias, não prevê o resultado que podia prever ou, pre-
militar). 0 § 2, evidenternente, refere-se ao sujeito ativo militar que, além da
vendo-o, supoe leviananlente que nao se realizaria ou que poderia evitá-lo".
(art. 33. II). evasio comete o crime de deserção.
Crime impropniarnente militar, corn exceçibo, é dhvio, da deserçäo (§ 2).
515. Consurnaçâo e Tentativa - Consunia-se o delito no momento
em Objetividade JurIdica —o objeto da tutella penal é a ordem adrni-
que o agente escapa da esfera de vigilncia dos militares rcsponsmivejs pela sua
guarda. A tcntatjva w5o a nistrativa rnilitar no particular aspecto da pmoteçibo a disciplina. alicerce hmisico
juridicanieme possivel. Conio frisa iVlagalhães No-
ronh a. d "imprescindivel haver da organização castrcnse, no caso do agente militar, e do respeito a autoridade
uga.f"478 isto é. que o preso escape. da esfera de
castrense, sob cua responsabilidade se encoinra o preso ou o intcrnado. no
vigilncia dos militares encarregados de sua guarda, caso contrário, não h
crime do art. 179. caso de sujeito ativo civil ou militar.
H, ainida, interesse da adrninistracäo militar no que se refere a integn-
dade fIsica dos integrantes da corporaco C, corno cusina Manzini citado p(r
Magalhaes Noronha, Dir. Pen., v. 4, p. 429. Magaihibes Noronha. tambdm, o interesse "concernente ii invlolal)ilidadc d
364 Célio Lobão Direito Penal Militar 365

patrimôriio mobiliário ou imobiliário, ofendido por fato que suprime ou dirni- Na modalidade do caput do artigo, a evasao ocorre de recinto prisional
nui a utihzacao".479 militar, fechado ou aberto, ou do poder de escolta militar, a p6 ou em velculo,
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo o militar e o civil (exceto o § 22). assim como de local onde o preso presta algum servico fora da prisao. Tive-
Sujeito passivo, as instituicöes militares. mos oportunidade de apreciar caso em que o preso obteve autorização judicial
Elementos Objetivos - Segundo Damásio de Jesus, o "verbo prin- para visitar pessoa de sua farnIlia que se encontrava doente e, inopinadarnente,
cipal é evadir-se, que significa fugir, libertar-se, escapar",48° enquanto Heleno saiu correndo do interior de sua residência, praticando violência contra os
Fragoso esclarece que "a materialidade do fato consiste em evadir-se ou tentar militares que o escoltavam scm lcsao corporal ou morte. Consumou-se o crime
evadir-se o agente, usando de violência contra a pessoa.4nJ de fuga niediarite violência.
Pela exposição de Fragoso, a ação delituosa materializa-se corn o uso de Como ficou duo, indispcnsSvel a legalidade da prisao. Quanto ao civil,
violCncia contra a pessoa, na tentativa de fuga ou para alcancar a fuga. A violên- 6 exigida a rigorosa legalidade do rccolhimento a priso militar. Ausente esse
cia ocorre antes ou durantc a fuga oni a tentativa, ou para asscgurar a fuga. pressuposto, o delito poderzi ser outro que nio o do art. 180.
Como ficou dito ao referinno-nos ao crime de violência contra superior, A tentativa existe quaiido a violCncia contra a pessoa ou o arromba-
violência é a força fIsica que o agente faz atuar sobre outrem, corn uso de ins- mcnto da prisäo. Constitul mcio idneo para a fuga, que, no entanto, nào se
trurnento ou da forca do próprio corpo, scm ocasionar leso corporal, porque, concretiza por motivos alhejos ii vontade do agente. Nao hi crime na fuga ou
se houver esse resultado, on niorte, 0 agente responde. em concurso material, na tentativa desacompanhada tic violncia contra a pessoa ou de anomba-
pela fuga mediante vioIncia e pelo resultado iesão corporal ou inorte. E o que
mento de prisäo militar.
clispöc o preccito sancionador secundário. Discordando do eiitcndimcnto de Nelson Hungria, segundo o qual se "a
A violência pode ser praticada contra o rcsponsável pelo preso ou inter-
fuga ocorre extra-muros, cxiniirido-se violentamente o agente do poder de
nado, como também contra outra pessoa, sendo suficiente que constitua meio
quem o conduz ou transporla, o crime seth de resistência ... ", expoc Magalhãcs
eficiente de alcancar o objetivo, que é a fuga. For exemplo, o preso que, para
Noronha. "evadir-se é a pessoa subtrair-se a esfera de custódia ou guarda de
fugir, lança urn passante contra Os militares da escolta, realiza a conduta tIpica
outrem. Frequenterneiitc cssa esfera está circunscrita ao estahelecirnento (ca-
descrita na norma penal.
deia, pcnitenciária, casa (ic cusiOdia e tratamento, instituto de trabaiho etc.),
0 § 1 contempla modalidade atenuada do delito, qual seja a evasilo ou
tentativa de evasão mediante arrombarnento da priso militar. Logo, fica ex- mas pode ocorrer em condiçOcs diversas: o sentenciado que, transportado em
cluIdo o arrombamento de velculo militar e de outra dependência do estabele- viatura da Casa de Dctençäo para a Penitenchiria, nesta Capital, agride seus
cirnento militar, que n?io seja prisäo militar. Entretanto, o agente rcspondcra condutores e ft)ge, comete o delito em apreco: evade-se corn violência a pcs-
pelo dano. soa.4s2
Arrombar é danificar, quebrar, causar dano ao irndvcl, como serrar gra- Concordamos cm Noronha, o preso ou o internado tanto pode fugir ou
de, danificar fechadura, fazer buraco na parcde, no teto ou piso, etc. Diferente tentar escapar de recinto fechado, de local aberto onde presta servico ou torna
se a porta do xadrez e retirada sem causar dano, a fechadura, a dobradica, a sol, assim como de viatura na qual 6 transportado ou do poder de escolta clue o
porta, a parede, etc. conduz a p6, inclusive no exernplo acima, da fuga da residência do próprio
Como prisao militar entende-se a penitenchiria militar, o local do esta- preso.
helecimento militar, inclusive do navio. destinado ao recoihimento de inter- 0 preso civil recoihido nas dependências da PolIcia Militar ou, eventu-
nado ou de preso. corn oni sem grade, como a sala usada para pnsao de mili- alinentc. do Corpo de Bombeiros, em prisão especial on por outro motivo. que
tar ou civil corn dircito a pnsao especial. Se a prisão nao é militar, deixa de foge ou tenta fugir mediante violência contra a pessoa OU arrombarnento da
incidiro art. 180. prisao, comete crime comum e não militar, qualquer que seja a autoridade
judiciária que determninou a prisão.
479
Magalhaes Noronha, Dir. Pen., v.2, p.301.
° Damásio do Jesus, Dir. Pen., v. 4, p. 301.
Heleno Fragoso, LiçOes, Parte Especial, V. 3, p. 556. Magalhães Noronha, Dir. Pen., v. 4, p. 430.

I
V
366 CéUo Lobão Direito Penal Militar 367

internado inimputável no será responsabilizado criminalmente, apli- Oportuno lembrar que os dois delitos serão apreciados em processos di-
cando-se a legi slaçäo pertinente. - ferentes, em razo da diversidade de ritos. No de evas?io, o réu pode ser pro-
Elemento Subjetivo - Adotando a Iiço de Heleno Fragoso: "E o cessado e julgado a reve]ia, o que nao acontece corn a de deserçäo. Outros
chamado dolo especIfico que consiste na vontade conscientemente dirigida ao esciarecimentos serao encontrados nos cornentários ao crime de deserção.
emprego da violência contra a pessoa, para o fim de evadir-se".483 e, igual- Legislaçao anterior - Art. 107 do CPA; art. 157 do CPM de
mente, dirigida ao arrombamento da priso militar, corn o fini citado. 1944.
Consumação e Tentativa - Consuma-se no momento da pratica
da violência contra a pessoa ou do arrornbarnento da prisão, seguida de atos CAPITULO XIV
idôneos de fuga, alcançando-a ou näo. Se apds a violCncia OU o arroinbamento, Arrebatamento de Preso
agente não realiza qualquer ato para escapar da vigilância dos militares
encarregados de sua guarda, deixa de incidir o art. 180, respondendo pelos Art. 181. A rrebatar preso OU intei-naclo, afim deinaltrata-lo,
atos praticados que encontrem definiciio em outro dispositivo da lei penal
do poder de quern o ten/ia sob guarda oucusloc/ja militar.
militar. A tentativa no e juridicamenie possIvcl porque a lei a equipara .t()
Pena - reclusio, ate quatro aiios, a/Cm dci corre.rpondenie
crime consumado.
524. Concurso Material - A norma incriminadora estabelece a aplica- a violencia
çao. em concurso material, da pena (10 crime de fuga e de tentativa de fuga
mediante violência e a COlTCSpondente a violência. Mais urna vez confundc-sc Consideraçôcs Gerais - 0 arrebatarnento de preso ji era punido
Código. Não é possIvel a violência integrar o tipo. em sua modalidade sirn- no Código Penal do Irnpério (art. 127), passando para o prirneiro diploma
pies e, ao mesmo tempo, qualificar o delito. repressivo cornum republicano, chegando ate o atual Codigo Penal (art. 353),
resultado que qualifica o crime é lesao corporal ou niorte, cuja pena é de ondc ingressou na legislaçäo repressiva castrense, ao ser aclotado pelo Có-
aplicada, scm prcjuIzo da concspondente ao delito de evaso ou de tentativa digo Penal Mililar em vigor.
de evasäo medianie violência contra a pessoa. Crime Militar - Os requisitos classificatórios do crime como mi-
resultado 1eso corporal ou morte é crime militar, se forern atendidos litar são idênticos para o agente militar e para o agente civil, mudando, apenas,
os requisitos das ailneas do inciso II (agente militar) ou do inciso III (agente os preceitos normativos aplicáveis. Corn efeito, tanto para urn como para o
civil): agente militar contra outro militar (alIii. a, II); agente militar contra outro, a classificacao resulta da contrariedade a ordem administrativa militar.
civil, em local sob administraço militar (aiIn. h, II); agente civil contra militar Sujeito ativo militar: inciso H, e, V parte, do art. 9 (crime corn igual de-
em serviço de natureza militar (escolta, guarda da prisao, etc., aim. d, III); finicao na lei penal cornum, contra a ordem administrativa militar). Agente
agente civil contra militar em local sob administraçio militar (alIn. b, IH). Na civil: alInea a, 2 parte, do inciso III, combinado corn o inciso II do art. 9u
ausência dos requisitos supra, o crime e comum. (crime corn igual definjão na lei penal comurn, contra a ordem administrativa
525. Evasão e Deserçao - 0 militar que se evade da prisio e permanece militar). Crime impropriarnente militar.
ausente mais de oito dias, pratica crime de deserço, aplicando-se, nessa hi- Objetividade JurIdica - 0 objeto da tutela penal é a ordem admi-
pótese, a pena cominada a evaso (caput e § 0) em concurso material corn a nistrativa militar, presente a interesse de que a preso ou a internado, sob a
de deserçäo. 0 dispositivo originou-se no § 22 do art.. 157 do diploma penal responsabilidade da administração castrense, não seja subtraIdo de sua esfera
castrense de 1944 que visava afastar diividas improcedentes de que, na evaso de guarda ou vigilância corn a finalidade de infringir-lhe maus-tratos. No caso
scguida de desercão. näo se configurava este ciltirno delito porque a vontade de sujeito ativo militar, a lei estende sua proteçao a disciplina militar, em face
do agente era orientada no sentido de evitar o sofrirnento da pnsio e no de da conduta contrSria aos preceitos que norteiam 0 coniportainento dos nile-
grantes das corporaçOes castrenses.
desertar. A dávida foi afastada, definitivamente antes do atual Código que, por
esse motivo, no deveria adotar a norma anterior. Sujeitos do Delito - Sujcito ativo, a militar e o civil. Sujeito pas-
sivo, as instituicoes militares e, ofendido, a preso civil ou militar.
Elementos Objetivos - Arrehatar consiste em tirar corn violncia,
483
Helerio Fragoso, Liçaes, v. 3, p. 557. arrastar. arrancar, logo o delito inaterializa-se corn a retirada do preso ou inter-
368 Celia Lobão Direito Penal Militar 369

nado da csfera de vigilância da autoridade castrense, usando de violência con- Parágrafo ánico. Na mesma pena incorre (/11(11! /)alii(i/)a
tra os militares encarregados da guarda ou da custódia, presente a finalidade do amotinaniento ou, ,sendo oficial e esiando /)reseue, nfio urn
de maltratar o preso ou o internado. Na retirada por meio de engodo ou ameaça, o
as meios ao seu alcance para debelar o anio!iiuunenlo on evitar-
delito será outro que não o do art. 181.
ihe as conseqüências.
Indiferente o local da ocorrência, podendo ser no interior da prisão ou
fora dcla, na area interna do estahelcciinento militar, na via piThlica durante a
conduçao do preso em velculo ou a pé. 0 fim especIfico de infligir maus-tratos Consideraçöes Gerais - Crime previsto na Icgislaçi irlit'sivi
cornum, desde a Código Penal do Tmpério, de 1830 (art.l27) ak n iiis;il (iil h
e exigido como móvel do arrebatarnento, embora a lei se antecipe e incrimine sornente incorporado a legislaçao penal castrense no Código de I
a conduta do agente antes que alcance o objetivo desejado. Por outro lado, se
apesar da violência, o agente no logra rctirar o preso ou o internado tic quem Crime Militar - Os requisitos classificatórios do crinic eotiio liii
o guarda oti custodia, responderá pela tentativa, scm prc.juIzo do crime resul- litar são idênticos para o agente militar e para o agente civil, mudaudu, II ,I'II.I, ,
tante da violência. Os prcceitos normativos aplicáveis. Corn efeito, tanto para urn coun> pint t I
A pena mInima cominada ó de urn ano de reclusão, em conformidade outro. a classificaçio resulta da contraricdade a ordern administrativa niiliiiii
corn o art. 58 do CPM. e a mixima, de quatro anos, alérn da sanço corres- Sujeito ativo militar: inciso If, e. 2 partc. do art. V (crime coin igIll Ill'
pondente ao delito resultante da violência. Mais urna vez o Codigo não distiii- finiçao na lei penal comum, contra a ordern administrativa militar). A1'eiilt'
gue violência da lesão corporal e da mone. Sc urn desses resultados for alcan- civil: alInea a. 2 pane, do ineiso Ill, combinado corn o inciso 11 do art .
cad(), o agente responde em concurso material pelo arrehatarnento niediante (crime corn igual definicao na lei penal comurn, contra a ordern adniinis(riiiva
violencia e pelo crime contra a pessoa. militar). Crime impropriamente militar.
Corno acontece no delito anterior, ao qual nos reportamos. o resultaclo Objetividadc JurIclica - 0 objeto da tutela penal é a ordern admmn
1eso corporal ou morte classifica-se corno militar, se forern atendidos OS rcquisi- nistrativa militar, presente o interesse da rnanutenção da ordern do estabcleci
tos das alIneas dos incisos II (agente militar) e 11 (agente civil). mento militar, em gcral, e do local reservado ao recolhirnento de preso on
532. Elemento Subjetivo - C) elemento subjetivo é a vontade consci- internado, em particular. Na hipótese de agente militar, a lei protege, igual-
ente dirigida para arrehatar o preso ou o internado corn o fim de suhmetê-lo a mente, a disciplina militar, em face da conduta contrária aos preceitos quc
maus-tratos. integram, portanto, o elemento suhjetivo, a vontade oncntada no norteiarn o comportarnento dos integrantes das corporacoes castrenses, princi-
sentido do arrebatamento do preso OU do internado c o firn de maltratá-Io. pairnente no interior do estabelecimento militar.
523. Consumaçào e Tentativa - Consurna-se no momento em que 0 Sujeitos do Delito —Sujeito ativo, o militar e o civil. 0 crime é plu-
internado ou o preso ó retirado, mediante violência, da esfera de vigiIncia do rissubjetivo, exigindo a participação de, pelo menos, dois militares. Sujeito
responsável pela guarda ou custódia, presente o fim de suhrnetê-lo a maus- passivo, as instituiçöes militares.
tratos, não sendo exigida a concretização do fim almejado. A tentativa ocorre Elementos Objetivos - Pressuposto do delito a legalidade da pri-
quando, apesar da violência, 0 agente, por motivos ajheios a sua vontade, não sac) e do internamento. No caso de civil, impöe-se, ainda, a legalidade do con-
consegue retirar o preso de quem o guarda ou custodia. finarnento em local sob administraçao militar, exceto o internamento, nao
534. Legislação Anterior - Não ha previsão na legislacão anterior. autorizado por lei.
0 recolhirncnto do militar resulta de decisão de autoridadejudiciária civil
CAPITULO XV ou militar, de prisao disciplinar ou de 21(0 da autoridacle de policiajudiciaria nmili-
Amotinamento de Presos tar, no crime propriarnente rnilitar (art. 5, LXI, da Constituiçäo).
Quanta ao civil, a prisão decolTe de decisão da Justica Militar ou Co-
Art. 182. Amotinareni-se presos. ou internados. pertur mum. acrescida da rigorosa legalidade do confinarnento em local sob adnii-
hando a disciplina do recinto de prisäo JfliliiaI1 nistraçao militar, embora ocorra a recoihirnento em unidade da PolIcia Milirar,
Pena - reclusac, ate tr& an os, aos cabeças; aos den7ais. do civil corn direito a prisão especial. na falta de outro local apropriado para
dezençdo de urn a dois an os. cssa modal idade de prisao.

n
Cello Lobão Direito Penal Militar 371
370

Configura-se o delito corn o fato de dois ou mais presos ou interna- concordarnos. 0 veIculo transportador do preso não se inclui como recinto de
dos perturbarem a disciplina do recinto da prisão militar, o que pode con- prisão.
cretizar-se corn gritos, corn ruIdos produzidos pela batida de objetos contra O Codigo equipara ao amotinado quem, não estando preso ou internado,
as grades, contra as paredcs, etc. Dessa forma, discordamos de Damásio de participa do amotinarnento e, também, o oficial que estando presente no mo-
Jesus segundo o qual é "necessário que a conduta dos presos venha a per- memo do crime, iiao usa dos meios a seu alcance para debelar o movimento ou
turbar a ordem ou a disciplina da prisão, mediante violências pessoais, para evitar-Ihe as conseqiiCncias, quanto aos danos materiais, pessoais e da
prOpria disciplina do estabelecimento. A omissão do oficial exterioriza-se em
depredacöes do instalaçöes, etc. " 484
dois momentos. No primeiro, corn o amotinamento já iniciado, o agente se
0 amotinarnento encerra a idéia do revolta, de sublevacão, de desordem
omite na utilizacão do meios a seu alcance para debelá-lo. No segundo, estan-
que abrange desde a conduta contrária as normas da prisão, corn perturbacão do em andamento a atividade ilIcita, o oficial nao usa dos rneios disponIveis para
da ordem, ate a violência contra pessoas e coisas. Como foi dito acirna, dois ovitar suas conseqUCnc las.
ou mais presos, batendo corn objeto rnetálico nas grades da cela, scm divida O internado ininipuiivcl nao será responsabilizado criminalmente, apli-
alguma, incursionarn nas sançöcs do art. 182, pela contrariedade a disciplina cando-se a legis]ação perl i ilente.
da prisão militar, a que estiio sujeitos todos os que se encontrarn recolhidos 540. Elernento Sllikjctivo - Consiste na vontade iivre e consciente dos
referida priso. presos c internados, diriiida ao aniotinamento. "tendo o agcntc a consciência
lnclui-se como recinto de prisão militar o local fora das grades, onde OS do perturbar a ordem ou a disciplina da prisão e de quo so trata do movimento
presos ou internados trahaiham ou cstudarn ou tomarn sol, como o tombadilbo coletivo" 487
do navio, o patio interno da penitenciaria militar, alérn de outros locals do No caso de quem nio está preso, o dolo de participar do arnotinamento,
estabelecimento castrense, onde se encontrarn os presos ou internados em do oficial, o do se omitir no uso de meios para debelar o amotinarnento ou
recreação, fazendo exercIcio, além de atividades diversas, destinadas a arneni- evitar suas conscqucncias.
541. Consumação e Tentativa Consuma-se no mornento em que a
zar as agruras do recoihimento a prisão.
A motivação e a finalidade do arnotinamento são elementos estranhos a ordem ou a disciplina é peiturbada corn a conduta dos amotinados. o que vem
dernonstrar a inexigCncia da ação violenta para configuraçao do delito. Corn
descrição tIpica. Por outro lado, atitudes coletivas de irrevcrência ou desobe-
efoito, para Helono Fragoso, "consurna-se o crime corn a perturbação da ordem
diência pacIfica, como greve de fome, não constituem amotinamefltO. ou disciplina"488 c, segundo Darndsio de Jesus, consuma-se "corn a efetiva
Quanto ao niImero de agentes, segundo Heleno Fragoso, "não pode ser perturbação da ordem ou da disciplina da prisão".48°
prefixado de maneira absoluta, sendo essencial que se constitua urn ajunta- A tentativa C adinissIvcl, quando os presos são impedidos do efetivareni
mento tumultuário. Duas pessoas dificilmente bastariarn".485 Prosseguindo, o arnotinamento.
mestre informa que, na Alemanha, segundo a doutrina e a jurisprudência, duas 542. Legislação Anterior - Art. 158 do CPM do 1944.
pessoas são suficientes, em face this circunstâncias, enquanto Damásio exige
três sujeitos ativos. CAPITULO XVI
Em nosso entendimento, enquanto não for modificada a legislacão, dois Desacato a Militar em Funcâo
de Natureza Militar
agentes militares ou civis atendern a exigência legal. Tratando-se de estabele-
cirnento militar estadual, indispensável a participacào do dois rnilitarcs esta-
Art. 299. I)esacaiar militar no exercIclo de fun ção de na-
duais, pelo menos. Os civis arnotinados respondern na Justiça cornum.
tureza nnlitar (ft en! razao (Ic/a:
DaimIsio de Jesus sustenta que "não ha neccssidade de que o fato seja
Pena: deiençdo, de seis meses a dois aflOs, SC a ftito i!au
cometido dentro de prisão. Assim, a arnotinação pode ocorrer quando da trans-
Constititi outro crime.
ferência de presos de urn a outro estabelecimento prisional"486 corn o que não

Helena Fragoso, Liçoes, Parte Geral, v. 3, p. 560.


' Damásio de Jesus, Dir. Pen., v. 4, P. 332. '° Helena Fragoso, Liçoes, v. 4, p. 559.
Helena Fragoso, LiçOes, V. 4, p. 559. 49
Damásio de Jesus, COd. Pen., v. 4, p. 306.
486
Damásio de Jesus, Dir. Pen., v. 4, p. 332.
Cello Lobão Direito Penal Militar 373
372

Nesse mesrno sentido a lição de Damsio, segundo o qual "o funcionI-


Consideraçöes Gerais - 0 Código Penal Militar classifica o cri-
rio piihlico pode ser sujeito ativo de desacato em qualquer hipOtese (seja supe-
me do art. 299 como crime contra a adrninistração militar, seguindo a orienta-
rior ou inferior hierarquico do ofendido)".493 Aplicando-se o ensinamento de
çao do Codigo Penal, onde o desacato a funcionrio ptiblico encontra-se
Galdino Siqueira, o ofendido não é somente o militar em seu grau hierárqu1co
incluIdo dentre os crimes praticados por particular contra a administração
e sim, tambérn, a disciplina, a ordem administrativa militar e a funçao politico-
pCblica.
social de que se acha investido,
Crime Militar - Os requisitos classificatórios do crime militar são
Sujeito passivo a instituicão militar e ofendido o militar, no exercIcio de
idênticos para o agente militar e para o agente civil, mudando, apenas, os pre-
função de natureza rnilitar.
ceitos normativos aplicáveis. Corn efeito, tanto para urn corno para o outro, a
547. Elemento Objetivo - A acão incriminada é desacatar, que consiste
classificaçao resulta da contrariedade a ordem administrativa militar.
na falta de acatarnento, 110 ultraje, no insulto, na ofensa moral, atingindo a
Sujeito ativo militar: inciso II, e. 2A parte, do art. 92 (crime corn igual de-
dignidade, respeitahilidade, decoro, decência, honra, e pudonor do militar no
finicao na lei penal comum, contra a ordem administrativa militar). Agente
exercIcio de função de natureza militar ou em razão dela. Desnecessário saber
civil: alInea a, 2 parte, do inciso Ill, combinado corn o inciso 11 do art. 92
(crime corn igual definição na lei penal comum, contra a ordem administrativa se 0 militar scntiu-se on iao ofendido.
Aplica-se a cspccie o ensmarnento de Nelson Hungria, segundo o qual de-
militar). Crime impropriarnente militar.
sacato é "qualquer palavra ou ato que redunde em vexarne, hurnilhacão, gestos
Objetividade JurIdica - 0 objeto da tutela penal, em geral, é a
obscenos, gritos agudos, e1c'. Compreende, tanihém, a conduta onentada no
ordem administrativa castrense c, cm particular, segundo lição de Heleno Fra-
sentido de deprimir, debilitar, enfraquecer a autoridade do militar, mesmo que
goso, o interesse em garantir o prestIgio dos agcntcs das instituicöcs militares
esse fim não seja alcançado. Nelson Hungria considera desacato o vexame, o
"e o respeito devido a dignidade de sua função, tendo-se em vista que a ofensa
desprestIgio, a irrevcrêiicia, a falia de acatamento, as vias de fato, a agressão
que ihes e irrogada, em sua presença, 110 exercIcio de sua atividade funcional
fIsica, embora as duas iiltiivas, em nosso entendirnento, meihor se ajustern a
ou em razão dela, atinge a própria administração"4911 Militar.
violência contra militar em scrviço (art. 158).
0 desacato a militar no cxercIcio de funcao de natureza militar dispensa
Como diz Galdino Siqueira: "No desacato, o ofensa visa não somente o
a rnotivacão, 0 que nan acontece corn o desacato em razão da funcão. Ensina
indivIduo, mas, sobretudo, a função politico-social de que se acha investido,
Heleno Fragoso:
donde a protecão penal outorgada pc.la lei, fazendo-a respeitar e prestigiar".49 '
'Nesta modalidade, nao se exige que a ofensa se realize enquanto 0
A funcao protegida pela lei penal castrense e de grande relevância, con- funcionãrio desempenha ato de ofIcio, bastando que o motivo da conduta de-
siderando-se sua natureza militar. No caso de agente militar, a protecao esten- g lituosa se relacione diretamente corn o exercIclo da funcao (propter officium).
dc-se igualmente a disciplina militar, considerando-se a gravidade da conduta 0 nexo aqui é causal. E perfeita a licao de Manzini, V, 436, quando ensina
do sujeito ativo, corn reflexos negativos no seio da tropa. que a substância do nexo de causalidade deve ser provada, e não pode pre-
sumir-se apenas pela qualidade do sujeito passivo ou diante da ignoräncia do
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o civil e o militar de grau hie- motivo do fato".49
rárquico idêntico, inferior ou superior ao do ofendido. Oportuno lembrar a
opinião de autorcs italianos, de Nelson Hungria e de outros, que defendem a Decidiu o Superior Tribunal Militar que "constitui crime militar, na
inexistência de crime se anlbos forern funciorn.Irios püblicos desempenhando a modalidade de desacato. manifestação de desrespeito, zombaria e exprcssöcs
mesma funcão, enquanto outros, incluindo-se Fragoso, sustentarn que "o desa- de nienosprezo a unia l)1lrL1l1ui inilitar, em nlissao detcrrninada por autoridade
cato consiste numa ofensa a dignidade e o prestIgio da função, sendo irrele- mu itar".496
vantes as rclaçoes entre o agente e o ofendido.492
493
Damásio deJesus, Dir. Pen., v. 4, p. 205.
494
In Heleno Fragoso, Liçoes, Parte Especial, v. 3, p. 470.
Heleno Fragoso, Licöes, Parte Especial, v. 3, p. 469. '*9,5 Heleno Fragoso, Liçoes, Parte Especial, v. 3, p. 471.
Galdino Siqueira, Trat. Dir. Pen., v. 4, p. 638. 496
Rec. Grim. n2 4.194.
492
Heleno Fragoso, Liç5es, V. 3, p. 469.

rl
374 Célio Lobão Direito Penal Militar 375

Referindo-se ao desacato a superior, o que se ajusta ao delito ora co- ofender ou desrespeitar"500 o militar. Segundo o mesmo autor, o firn de agir
mentado, expöe acórdão da Corte Superior Castrense: distingue o desacato da resistência, nos casos em que materialmente as açöes
se confundem".50 '
"necessário se torna que o agente, intencionalmente, procure ofender a digni- Consumacão e Tentativa - Consuma-se o delito no momento em
dade e o decoro do Superior ou procure deprimir-Ihe a autoridade, o que não que o agente profere as palavras ou pratica os atos que configuram o desacato,
ocorre quando o mesmo agente, embriagado, assaca palavras a esmo, contra em presenca do ofendido, ou, no estando frente a frente, no momento do
todos os presentes, sem aquela intencão dolosa, prevista no dispositivo da
tel".497 conhecimento imediato. A tentativa não é possIvel. Se o sujeito ativo é im-
pedido de praticar os atos que consubstanciam o desacato, não ha crime do
Entende-se corno funçio de natureza militar a atividade prOpria do inte- art. 299, embora possa configurar-se outro delito ou resolver-se no 5mbito
grante de instituição militarizada, conferida por lei, decreto, regulaniento por- disciplinar.
taria, instrução, ordern escrita e verbal de autoridade inilitar competente. Ou- Legislação Anterior - Art. 226 do CPM (Ic 1944.
tros servicos dos quais o militar é incumbido nao se ajustarn ao conceito de
funçao de natureza militar, por cxernpio, os de limpeza das depcndências do CAPITULO XVII
estabelecimento militar, a aquisiço de gêneros alirnentIcios, o prcparo de Ingresso Clandestino
refeicOcs, etc. Reportamo-nos a Parte I deste livro, no que se refere a funcâo
de natureza militar. Art. 302. I'e,ieirtir eni /niale..a. ,iaiu!el, ('.vl(Il)ele(w!enfo
o elemento do tipo "em razão da funcão" não se confunde corn o requi- militar, navio, aeronat'e, lion gar ott em au/ni Ingar
sito do crime militar, expresso na ailnea c do inciso II do art. 99, "atuando em adininistracao militar, por (flute .s'eja (le/esi) ou 1/11(1 /1(1/1! /1S.vU
razäo da funço". Neste, ao praticar o delito, o militar atua em razo da função gem regular, ou iludindo a vigilancui do .ve,iii,,ela ott de t'igui:
de polIcia judiciária. Naquele, a ofensa dirigida ao inilitar relaciona-se "dire- Pena - detençao, de seis meses a dais wios, se a fito ow;
tamente corn o cxcrcIcio da funçio (propler ojiiciu,n)" militar. não se exigindo
constitui crime mais grave.
que se encontre exercendo a funço, no momento do crime.
Esclarece Fragoso que o desacato concretiza-se na presença do ofendido,
como exige a doutrina e decisöes dos tribunais. Acrescenta Darnásio de Considcraçöes Gerais - A preocupacão em proteger o accsso ao
Jesus "que nao se exige esteja o ofensor e ofendido frente a frente, que estabelecimento militar por locais diferentes daqueles autorizados já se fazia
ambos se vejam. E suficiente que o ofendido tome conhecimento imediato presente nos Artigos de Guerra de 1763, precisamente no an. 13: "Nenhurna
da ofensa".498 pessoa, de qualquer grau ou condiço que seja, entrará, em qualquer fortaleza,
Se o delito for cornetido na ausência do militar haverti "apenas crime senão pelas portas e lugares ordinários, sob pena de morte".
contra a honra qualificado".499 0 Codigo Penal da Annada previa o delito de "penetrar nas fortalezas,
Como vimos acima, o agente do delito tanto pode ser civil quanto mili- quarteis, estabelecimentos navais, ou navios da armada, por lugares defesos"
tar, este Wtimo superior ou do mesmo grau hicrarquico do ofendido. Sendo (art. 98, § 2. 2a parte).
inferior hierárquico, o crime é de desacato a superior (art. 298), em razão da Crime Militar - 0 suporte legal da classificaçäo do delito conio
ressalva constante da parte final do preceito sancionador secundário (se 0 fato militar relaciona-se corn a condição do agente. Sujeito ativo militar: inciso 1, 2
no constituir crime mais grave). parte, do art. 9 (crime não previsto na lei penal cornurn). Agente civi]: inciso
548. Elemento Subjetivo —Na ]içio de Heleno Fragoso. o "dolo requer Ill, caput e alinea a, 2 parte, cornhinado corn o inciso I, 22 parte, do art. 9
especial firn de agir (o charnado dolo especIfico). Consiste na vontade consci- (crime näo previsto na lei penal conium, contra a ordeni administrativa miii-
ente de praticar a ação ou proferir a pa]avra injuriosa, corn 0 proposito dc tar). Crime irnpropriamente rnilitar.

' Ap. n2 35.312. 500


Damásio de Jesus, Dir. Pen., v. 4, p. 207. Heleno Fragoso, Licôes, Parte Especial, v. 3, p. 472.
501
Heleno Fragoso, LiçOes, Parte Especial, v. 3, p. 471. l-(eleno Fragoso, Licoes, Parte Especial, v. 3, p. 472.

4 l.
Direito Penal Militar 377
376 Cello Lobão

Como sentinela entende-se quem permanece nuni posto, guardando lo-


Objetividade JurIdica - A norma penal tutela a ordern adminis- cal especIfico, geralmente corn armamento militar. Sotitinela c vigia ecluiva-
trativa militar, em face do interesse de que o acesso aos locais sob administra- 1cm-se, embora possamos distinguir este ditimo 001100 sciido u inililar, sern
ção militar enumerados no artigo realizem-se pelas passagens permitidas, corn arma, encarregado de controlar a passagem de pessoas e velOtIlos ou (IC exer-
observãncia das norinas que regulam a admissão de militar ou de civil nesses cer vigilãncia sohre determinado sItio.
locais. A protecão da lei relaciona-se, ainda, corn a própria segurança do esta- Satisfaz a descrição tIpica o ato de penetrar, puro c sIII1l)les, sin j)erqui-
belecimento militar. rir os motivos determinantes da conduta do agente. Logo, 00111)0 iu:i nleiit idade
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar c o civil. Sujeito pas- corn o Direito brasileiro a decisão do Superior Tribunal Miliiii piokiida na
ospecilico,
sivo, as instituiçöes militares. Ap. n0 47.741,502 segundo a qual o ingresso clandestino exie 1t,lo
Elementos objetivos - A acão incriminada é penetrar no interior propdsito agressivo em relação a instituição militar. ( ) cui tO (1(10,
qual seja "0
do navio, da acronave, é transpor os lirnites que separam do rnundo exterior, 0 em nosso Dircito, o ingresso clandestino é urn firn em si, nibo ,
i), i iul iiiot I-

hangar, a fortaleza, o quartel, o estabelecimento militar, ou outro lugar sujeitO vacão acm resultado. Tal como o crime de violação de doniicilio,
A administração militar. clandestino "d de niera conduta. Não se trata de delito material e iwin Ii 11111
tipo penal iião descrcve qualque coIlse(IIItII(ia
Con forrne vern expresso na descriço tIpica. a penetracão ilIcita OCOITC [...] E preciso observar que 0
por lugar proihido, ou por onde näo hala passagem regular, ou por local per- da entrada ou pernanëflcia";'3 portanto. nito exigc proposito agrossivn
mitido, porém hurlando a vigihncia do sentinela ou vigia. A norma é subsidiiria. Sua incidncia suhordina-se a quo o lt
Lugar proibido é aquele onde a passagern n5o d permilida para qualqucr constitua crime mais grave, por exemplo, espionagem militar (art. 1.10
pessoa, ressalvada exceção expressa. Lugar onde nao haja passagem regular é CPM). Logo, se o agente penctra nos locais enumerados corn o fini do Cl)I0
onde não existe acesso ao interior dos locais mencionados, por exemplo, a nagern ou outro contcmplado na lei de segurança do Estado, responde por (510
jancla, o teihado, oburaco no muro, na parede, na cerca, no subsolo, uS exis- (iltirno delito, e não por infração do art. 302.
tente ou feito pelo agente. ()utra modalidade do delito consiste na pcnetracibo E horn lembrar que a expressäo "por onde seja defeso" compreciole
por local perniitido, porém o sujeito ativo o transpöe scm obter autonzacao do também local de passagem restrita. CO() aquele autorizado somcnte a deter-
minada categoria do militar, de velculo, etc. Quern, não tendo autorizaçibo para
quern do direito, mediante engodo, embuste, sorrateirarnente, induzindo o
penetrar no estahelecimento por essa passagem c o faz, infringe o art. 302.
sentinela ou o vigia a erro outranspondo a entrada sem que seja percebido.
A lei refere-se a navio, que é toda embarcaçAo sob comando militar
0 delito d cometido pelo civil ou pelo militar estranho ao estabelcci-
mento castrense, como tambdm pelo que nele presta scrviço, desde que o fato (art. § 30). 0 aviiio C 0 hangar mencionados SibO os quc se encontrarn sob
7,
administracão militar. Inclui-se como "outro lugar sob administracão mili-
ocorra em momento ou circunstância em que o agente nao estava autorizado a
tar" o veIculo de transporte de tropa ou de rnIsseis, tanque, lancha de de-
penetrar no local. For oportuno, se o engano e da sentinela ou do vigia, scm
sembarque, etc.
contribuição do sujeito ativo, inexiste crime.
Elemento Subjetivo - A vontade consciente, dirigida no sentido
Atende, igualmente, a exigência legal a penetracão por onde nibo tern
de penetrar em navio, aeronave e demais lugares espccificados na lei, nas cir-
muro, cerca OU outro qualquer obstáculo, sendo, no entanto, indispensável cunstâncias expressas no dispositi vo penal.
aviso indicativo de que se trata de local sob administraçibo militar e da proibi-
Consumacão e Tentativa - 0 momento consurnativo C aquele em
cao da entrada. Tais indicativos, devern ficar em local visIvel e corn dizeres que o corpo do agente penetra no interior da ernbarcação, da aeronave, do
hem claros. Essa exigência näo é dispensada nos muros, cercas, construçöes, hangar ou outro lugar sujeito a adrninistracibo militar. A tentativa existe se U
etc. Sem o conhecirnento, pelo agente, de que se trata de local sob administra- agente não consegue, por motivos alheios a sua vontade, ultrapassar OS litnites
cibo militar c da proibicäo de transpor os limites, inexiste o crime do art. 302. do local sob adrninistracão militar - sendo, de algurna forma, impedido de
Releva notar que a proihicao sem respaldo legal não se constitui suporte faze-b —,ou quando sornente parte de seu corpo alcança o interior dos bens
suficiente para a infração penal. Por exemplo, nibo ha crime no fato de penetrar
em via pdblica situada em frente ao estabelecirnento militar, salvo se a proibi- 502
DJ de 06.12.96.
ção for motivada por estado de sItion ou de defesa, calarnidade, etc. Damásio de Jesus, Dir. Pen., v. 2, p. 283.
Direito Penal Militar 379
378 Célio Lobão

referidos. No entanto, se o agente é detido quando scu corpo, por inteiro, pe- pêndio, a bandeira nacional ou qualquer outro sImbolo ou emblema da nacio-
netrou no interior dos locais citados, consuma-se o crime. nalidade".
Liberdade Provisória - 0 indiciado ou acusado pelo crime de in- Crime Militar - A classificaçao do delito coma militar decorre do
gresso clandestino não tern direito ao benefIcio de liberdade provisória, coma disposto no inciso I, 22 parte, do art. 9° (crime não previsto na lei penal co-
dispoe o art. 270, parágrafo tinico, b, do CPPM. mum). Delito impropriamente militar.
Legislação Anterior - Art. 13 dos Artigos de Guerra; art. 98, §
2, Objetividade JurIdica - Objeto da tutela jurIdica é a disciplina
militar, seriamente atingida corn a ultraje aos sImbolos da pátria, praticado em
do CPA; art. 228, do CPM de 1944.
local sob administracäo militar, por integrante de instituiçöes cuja destinaçäo
CAPITULO XVIII constitucional é a defesa da Pátria (art. 142) e a preservacäo da ordem pibli-
Ultraje a SImbolo Nacional ca, da incolurnidade das pessoas, do patrimônio e atividades de defesa civil
(art. 144).
Art.161. Praticar o niilitar diante da tropa, ou em lugar A proteco penal estende-se, ainda, corn major rclevância, aos sIrnbolos
nacianais, que, segundo Pontes de Miranda, operam a integracão direta em
.cujeito a adminisrraçdo militar, ato que se traduza em ultraje a
seritidos de grande reccpçio sugestiva (as olhos, as ouvidos) e pela represen-
sImbolo nacional:
tacão historico-atual do Esiado simbolizado"?°5
Pen a: - derençao, de urn a dais an Os. 0 ultraje aos sIniholos repreSentativoS da Nação constituem fator de de-
sagregação polItico-social, panda em perigo a própria unidade nacional
50. Consideraçöes Gerais - Evidentemente iiiadequada a denornina- Sujeitos (10 I)clito - Integra a tipo a qualidade de militar do su-
çao do delito constante do Código Penal Militar, divergente da descricão lIpi-
jeito ativo. Sujeito passivo, as instituiçöes militares e OS sIrnbolos nacionais.
Ca. Na verdade, o crime é de ultraje, e no a de simples desrespeito. 0 ultraje
Elernentos Objetivos - "Ultrajar" e a ni.Icleo do tipo, näo sc con-
reveste-se de major gravidade e no se confunde corn a falta de respeito, de fundindo corn desrespeitar. por se revestir de major gravidade. No ultraje hi
considcraçao, ao sIrnbolo nacional. ofensa, injtiria, insulto, avillamenlo. Coma diz Macedo Soares, a ultraje traz
A atual Constituição restaheleccu a classificaciio da Lei Fundamental de
irnplIcita a idóia de vilipCndio, de menosprezo,506 enquanto desrespeito é falta
ao elevar ao nIvel constitucional os sImholos nacionais (bandeira, hino,
1946, de consideraço, de respeito, que se resolve no âmbito disciplinar. 0 ultraje
armas e selo nacionais), diferentemente da classificação dada pela Carta de concretiza-se por palavra, gesto, cscrito, pintura ou outro meio qualquer.
1967 (art. l, § 2) e ratificada pela Emenda Constitucional n2 1 de 1969 (art. 1, Coma exemplo de ultraje, o ala de rasgar, de forma desprezIvel, avil-
§ 2), em que eles eram classificados legais (as armas e o selo) e constitucia- tante, a bandeira, a partitura do hino nacional, o papel ou pano onde estg im-
nais (bandeira e hino). presso o selo ou a arma nacional. Lirnpar o chão corn qualquer urn dos sIm-
Pontes de Miranda ressalta que " a meihor lugar para tratar a regra jurl- bolos, cuspir sabre eles, aldrn de outras formas de ultraje.
dica constitucional sobre as bandeiras, o escudo, as armas e o hino é, por isso Indispensável a corrência do fato em lugar sob administração militar
mesmo no comeco das Constituiçöes, após o Preâmbulo, a nome e a indicação ou diante da tropa, independente de local; caso contrário, haverá contravençäo
do poder estatal".504
contemplada na Lei n° 6.913/81, apreciada pela Justica cornum, além de san-
SensIveis a essa crItica, a Constituico de 1967 e a Emenda n 1, de
cöes disciplinarcs cabIveis.
1969, a exemplo do diploma ditatorial de 1937, definiu as sImholos nacionais Tropa é a reuniãa de militares, armados ou não, podendo estar ou não
no art. 1, § 2, enquanto na atual isso foi feito no CapItulo ifi, art. 13, § 2, em servico, em moniento de descanso, aguardando para entrar em serviço,
que trata da nacionalidade. prcsente a urna salenidade militar on cIvica, etc. Por excmplo, militares em
Esse delito vinha previsto no art. 78 do Código Penal da Armada: formatura, ou numa patrulha, ou assistindo a uma sessao cinernatogrfica.
"Todo indivIduo a servico da Marinha de Guerra que em pi.ihlico, diante da
coma instruçãa ou lazer, atende ao requisito de trapa.
guarnicao ou de forca reunida, destruir ou ultrajar, por menosprezo ou viii-
005
Pontes de Miranda, Cornent. a Const. de 1967, t. I, P. 498.
504 Macedo Soares, Dir. Pen. Mu., p. 114.
Pontes de Miranda, Coment. a Const. de 1967, 1. I, p. 498.
380 CélioLobão Direito Penal Militar 331

Quanto ao ni:imero mInimo de militares suficiente para constituir uma Consumacão e Tentativa - Consurna-se o delito no inomento em
tropa, impOe-se uma distincão: os militares reunidos para realizar determinado que o agente, na presença da tropa ou em local sob adruinistraçiio militar, pTa-
serviço inteno ou extemo, como o de patruiha, tripulacäo de aeronave, tripu- tica ato que se consubstancia em ultraje a qualquer dos simbolos nacionais. A
lantes de lancha, etc., constituem tropa, independentemente do ntiimero. Se os tentativa 6 cabIvel quando o agente deixa de praticar o ato ultra jante por moti-
militares nao estiverem de serviço - por exemplo, no refeitório, na sala de vos alheios a sua vontade. 0 ultraje por meio de palavras, cstos, rufdos não
leitura, na sessão cinematográfica -, o nümero de militares deve ser significa- comporta tentativa.
tivo. Enfim, 6 questão de fato, cabendo ao julgador decidir se os militares Liberdade Provisória - 0 indiciado ou acusado pelu crime do ul-
presentes constituem ou não uma tropa. A lei exige que o ato deve ser praticado traje a sImbolo nacional não tern direito a liberdade provisdria, nos termos (10
diante da tropa, mesmo que não seja percebido pelos scus componentes.
art. 270, parágrafo i:inico, b, do Codigo de Processo Penal Miiilar.
Como local sob administracäo militar entende-se qualquer estaheleci-
mento militar, os meios de transporte militar, campo de treinarnento, de ma- Legislação anterior - Art. 78 do Codigo Penal. da Aiiii:nla. aU
nobra, porto da Marinha de Guerra, etc. No crime cometido em local sob ad- 140doCPMde 1944.
ministracão militar não 6 exigida a prescnça de militar, sendo suficiente o
conhecimento do fato, mesmo posteriorrncnte. CAPiTULO XIX
A qualidade de militar do agente integra a descrição tIpica, o que exclui Desafio para Duelo
civil, rnesmo em co-autoria. Nessa tiltima hipdtese, separa-se o processo.
respondendo o civil pela contravençao prevista na Lei n 6.913/81. Art. 224. Desafiar outro militar para duelo ou uceilor //u
SImbolos nacionais são a handeira, o hino, as arrnas e o selo nacional desafio, embora o duelo não se realize:
(art. 13, § 12, da Constituiçao). A Constituicão de 1946 estatula como sIrnho-
los nacionais OS vigorantes na data de sua promulgação (art. 195), o que era Pena - detencao, ate três ineses, se o fato nao consiilui
repetido na Carta de 1967 (art. 12. § 22) e na Emenda Constitucional n'-' 1, de crime inais grave.
1969 (art. 12, § 2).
A atual Lei Fundamental enuncia que são "simbolos da Rcpühlica Fede- 569. Consideraçöes Gerais - 0 desafio a duelo já vinha previsto no
rativa do Brasil a bandeira, o hino, as arnias e o selo nacionais" (art. 13, § 12). Cddigo Penal da Armada, precisamente no art. 136: "Todo indivIduo a serviço
Surge a questão de saber se os sImbolos nacionais somente podem ser altera- da Marinha de Guerra que desafiar outro para duelo, por motivo particular ou
dos ou mudados por ernenda constitucional. Cornentando o art. 1, § 21, da que tenha relacAo corn o serviço militar, embora o desafio não seja aceito[...1".
Emenda Constitucional de 1969, Pontes de Miranda acentua quo " a Consti-
Se ocorresse o duelo, corn resultado morte, o sobrevivente era punido a
tuição acolheu bandeira, hino, selo c armas, que sao os de 24 de janeiro de
tItulo de homicIdio simples, e as lesöes corporais recehiam o corretivo con-
1967, corno foram os de 18 de setembro de 1946. Garantia do status quo. Sd a
forme sua gravidade. Os padrinhos do duelo cram considerados cirnplices, c a
emenda constitucional os pode alterar, ou mudar".507
lei sancionava quem "desacreditar publicamente, ou expuser a desprezo ptih]i-
lncontestável a orientação do jurista maior brasileiro, em face do enun-
ciado das normas constitucionais acirna citadas. No entanto, em conformidade co o provocado que recusar aceitar a duelo" (arts. 138 e 139 do Cddigo Penal
COfli 0 art. 13, § 1, da atual Constituição, embora a lei ordindria não possa da Armada).
suprirnir os sImbolos nacionais, nem acrescentar outros, pode rnodificI-1os, Na Franca, segundo Louis Saint Laurens, a jurisprudência dos tribunais
pois deixou de existir a garantia do status quo. não reconhecia crimirialidade no duelo lealmente realizado, mas a Corte de
565. Elemento Subjetivo - 0 elcrncnto subjetivo é a vontade Iivre e Cassação, a partir de 1837, rnodificou sua juisprudência, negando o recoti lie-
consciente de ultrajar os sImbolos nacionais, diante da tropa ou em ]ugar su- cimerito de exceção em favor do duelo, no quo se refere as disposiçöes que
jeito a adrninistração militar. Não é punIvel a tItulo do culpa, resolvendo-se no punem a morte e as lesöes. Como conseqüência, "1 le duelliste qui a tue soii
rnbito disciplinar. adversaire doit être poursuivi pour homicide commis avec préméditation; 2
que les duellistes qui, sans avoir réussi, ont cu l'intention de se donner
Pontes de Miranda, Comentários, t. I, p. 502. mutuellement Ia mort, doivent être poursuivis pour tentative du memo fail; 3
382 Cello Lobão Direito Penal Militar 383

que les deux combattants, s'ils survivent tous deux, doivent être compris dans No Direito antigo, as testemunhas eram consideradas cümplices. Em
la dite poursuite".508 face do Codigo Penal Militar, podern responder por co-autoria de homicIdio
Crime Militar - A classificacao do delito como militar decorre do ou de tentativa de homicIdio, nos termos do art. 53 do CPM: "quem, de qual-
disposto no inciso I, 24 parte, do art. 92 (crime não previsto na lei penal). Dc- quer modo, concorre para o crime incide nas penas a este corninada".
lito impropriamente militar. Saint Laurens cita duas decisöcs da Corte de Cassaçao francesa, ambas
Objetividade JurIdica - A lei tutela a disciplina castrense, seria- do século passado, segundo as quais a testernunha que fixou a hora do corn-
mente atingida em razäo da conduta do militar que desafia outro militar para bate, conduziu e carregou as armas, mediu a distância dos contendores e deu o
duelo, e também do desafiado que aceita o desafio. 0 dispositivo legal prote- sinal de fogo C considerada como cCmplice do duelo, enquanto a outra decisão
ge, igualmente, a liherdade individual, sob o aspecto da tranquilidade e do deixa de reconhecer cumplicidade na testemunha que esgotou todos OS rneios
direito do integrante da corporaçao de não ser molestado como pessoa e como de conciliaçäo e permaneceu no local para minorar as conseqUências funestas
rncrnbro da sociedade militar. do duelo.511
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar que desafia e quem 0 integrante das Forcas Armadas que desafia o policial militar ou o
aceita o desafio. Sujeito passivo, as irlstituiçoes militares e o militar olendido bombeiro militar não esul sujeito as penas do art. 224, respondendo por ameaça,
que não aceita o desafio. por outro delito ou portransgressão disciplinar. A recIproca C verdadeira.
Elementos Objetivos - As açOes incriniinadas são 'desafiar. A pena minima cominada ao crime é de trinta dias. flOS termos do art. 58.
"provocar para duelo" e "aceitar o desafio". Eleniento Subjetivo - 0 elefllent() subjetivo é a vontade consci-
A lei se satisfaz corn o desafio, não exigindo a ocorrência do duelo ente, orientada no sentido de desafiar outro militar para duelo, e, se for o caso,
"que, segundo Macedo Soares" é 0 "combate singular para desafronta de de aceitar o desafio.
honra, ou desagravo de urna ofensa"?°9 Em nosso entendirnento, o duelo con- Consumação e Tentativa - Consurna-se o delito no moniento em
siste no combate entre duas pessoas, por questão de honra, de desavenca pes- que o convite chega ao conhecimento do desafiado, por qualquer rneio de
soal, para dernonstracão de major apticlão no uso de anna, pela necessidade de comurncacao. Na segunda moda]idade, coin a ciência, pelo desafiante, da
auto-afirrnaçao, etc. aceitação do duelo pelo desafiado.
No duelo, a luta realiza-se corn arma, que inclui qualquer instrumento A tentativa não C cabIvel, mesmo que o desafio, por escrito, não chegue
capaz de causar grave dano a integridade fIsica de outrem, como arma de fogo. ao conhecimento do desafiado, por motivos alheios a vontade do desafiante.
arma branca, pedaço de pau, de ferro, annas de arremesso, corno Iancas, lie- Ou concretiza-se o desafio e consuma-se o delito, ou o desafio nao chega ao
chas, etc. conhecimento do desafiado, por qualquer motivo, e inexiste crime, resolven-
Qualquer meio de comunicacao serve para tornar conhecido o desafio, do-se no ãmbito diseiplinar aplica-se, igualmente, a aceitação do desafio.
seja por palavra oral ou escrita. gesto, desenho, etc. Configura-se a infracao Legislação Anterior - Art. 136 do CPA; art. 186 do CPM de
penal independentemente da aceitacao, mas. uma vez aceito, o desafiado é 1944.
igualmente responsabilizado.
0 delito é subsidiário, deixando de incidir o art. 224 se o fato constitui CAPiTIJLO XX
crime mais grave, como desacato a superior (art. 298), desrespeito a superior HomossexualiSmo
(art. 160) ou ameaca (art. 223). Realizando-se o duclo, corn a morte de urn dos
contendores, o sobrevivente responde por hornicIdio. Saindo ambos ilesos, 0 Art. 235. Praricar, oil permitir 0 militar que cont ele se
crime é de tentativa de hornicIdio. Resultando lesão corporal. a tentativa de prcltique ate libidifle.vO, homossexual ou nao, em lugar sujeilo a
homicIdio é acrcscida da pena de lesão corporal, para o cjue não sofreu lesAo. adininistraç.ão militar:
ou para ambos, se os dois sofrerarn lesão corporal. Pena - detençJo, de seis ineses a uin ano.

Laurens, Rep. Droit Grim. Dalloz, t. I, p. 857.


5*9 Macedo Soares, Dir. Pen. Mi!., p. 208. Laurens, Répert. Dr. Grim., t. I, p. 858.
0
Célio Lobão 385
384 Direito Penal Militar

Consideraçöes Gerais - As organizacöes militares são constituf- permitir concretiza-se de qualquer forma, atC mesmo permanecendo imOvel, en-
das de mimero significativo de militares do sexo masculino e, em menor nü- quant() o parCeir() realiza o ato libidinoso, homossexual, ou a cópula.
mero, do sexo feminino, convivendo quase as 24 horas do dia, num confina- Ao mencionar militar, a lei nao distingue sexo. Logo, a rnulher militar
mento propIcio para surgirnento de relaçöes sexuais em seus diversos aspec- pode ser agente na primeira e na segunda modalidade: a de praticar e a de
tos, principalmente na época atual, de completa liberdade sexual. permiti r.
0 Codigo Penal Militar vai completar 30 anos, e nos tiltirnos anos hou- Ato libidinoso, segundo Nelson Hungria "C todo aquele que se apre-
ye completa revoluçao nos costumes. Entendemos que o dispositivo penal não senta como desafogo (completo ou incompleto) a concupiscênc1a".51 ' Para
tern mais razão de ser, embora sejamos favoráveis que esse assunto rncreça a Heleno Fragoso, consiste na "ação atentatOria ao pudor, praticada corn propO-
atençao dos chefes militares, em husca de solucoes, no âmbito dos regula- sito lascivo ou luxurioso. Não será de reconhecer-se o ato libidinoso se nao for
mentos disciplinares. Alias, essa a orientaçao da Soci&6 Internationale de praticado corn esse fim especial, de satisfazer a própria concupiscência, per-
Droit Penal et Droit de la Guerre, que realizou uma pesquisa. a fim de inteirar- tencendo tal fim de agir ao tipo subjetivo". 512
se desse problerna nas Forcas Armadas dos paIses membros da Sociedade. Diferentemente da figura tIpica do art. 214 do Codigo Penal, que se refere
Corn a denoniinacao de libidinagcm, o Codigo Penal da Armada definia a "ato libidinoso diverso da conjuncão carnal", no dispositivo sub exarne o ato
o crime de atentar contra a honestidade de pessoa de urn ou outro sexo por libidinoso inclui a cópula normal ou anormal, inclusive o ato homossexual.
ineio de violência ou ameaca, corn o fim de saciar paixöes lascivas, OU por Merecc exarne se ha crime na conjunção carnal praticada no interior do
depravacao moral, on por inversão de instinto sexual". (art. 148). estahelecirnejito militar, por dois militares de sexos opostos que nao são casa-
Crime Militar - A classificação do delito corno militar decorre do dos. Corno afirma Fragoso, o ato libidinoso é praticado corn propósito lascivo
disposto no inciso 1, 2 parte, do art. 9 (crime não previsto na lei penal). F ou luxurioso, e não será de reconhecer-se o ato libidinoso se näo for praticado
conveniente registrar que o local sob adrninistraço militar iiao constitui re- corn esse fim especial, de satisfazer a própria concupiscência, pertencendo tal
quisito do crime militar, e sim elemento tIpico. Scm dc inexiste o crime do firn de agir ao tipo subjetivo".513
art. 235. Delito impropriarnente militar. Ora, lascivo e luxurioso significarn obsceno. impudico. dissoluto, o que
Objetividade JurIdica - 0 art. 235 encontra-se no CapItulo VIII, nao Sc pode dizer da rciaçao sexual entre duas pcssoas de sexos opostos que
que trata dos crimes sexuais, sob o titulo "Dos crimes contra a pessoa" (TItulo rnantenham relação amorosa antiga on recente. mesmo scm serem casadas.
IV). Acontece que a c1assificaço é inadequada, pelo menos na modalidade Esse nao é o caso de quern pratica a cópula para satisfazer, como diz Fragoso,
em que existe participacão do outro indivIduo. Portanto, o delito se ajusta a concupiscênCia scm qualquer relacionarncnto afetivo corn o parceiro.
melhor entre aqucles contrário a disciplina militar, que C o objeto da tutela 0 ato homossexual consiste na conjunçäo carnal entre indivIduos do
penal, diante da pratica de atos libidinosos e homosscxuais em local sob ad- mesmo sexo, isto C, entre dois militares do sexo masculino ou do sexo femini-
ministracão militar. no. Nessa espécie de ato libidinoso, não socorre ao rnilitar ou militares a ale-
Sujeitos do Delito - Como vern expresso na descrição tIpica, su- gacão de existir união estávcl entre os dois parceiros do mesmo sexo.
jeito ativo, somente o militar. Se urn dos envolvidos é civil, quer praticando, Imprescindivel que o fato ocorra em local sob administracão militar;
quer permitindo, so o militar é responsabilizado penalmente. Sujeito passivo, caso contrário, inexiste crime, mesmo que praticado por dois militares. Lugar
as instituicöes militares. sob administracão C todo aquelc que se encontrarn legalmente sob a adminis-
Elementos Objetivos - Duas são as acöes incriminadas: a de pra- traçã() das Forças Armadas, da l'olfcia Militar e do Corpo de Bombeiros Mili-
ticar, realizar, fazer, executar; e a de permitir, consentir, autorizar. Na primei- tares. mesmo evcntualmcnte corno o acampamefltO, 0 Cafl1X) de rnanohras
ra, o agente pratica corn outrern que, se for militar, rcsponderá pela segunda inilitares, de instrução, (Ic trcinanleflto. etc.
modalidade (perrnitir). Na segurida, o militar perrnitc que outrem pratique, e, 0 Superior Tribunal Militar. corretarncnte, considcrou a ernharcacão do
se este for igualmente militar, responde pe)a prirneira modalidade (praticar). Exército corno local sob adrninislracão militar. Corno tal, inciui-se o navio, a
Integra o tipo a qualidade de militar do sujeito ativo das duas rnodalidadcs do
delito, o que exclui o civil.
Sil Nelson Hungria, Cornentários, v.8, P. 121, Forense, 1081.
No ato de praticar, o agente atua sobre o corpo de outrern, tocando-o corn
' Heleno Fragoso, LiçOes, Parte Especial, v. 3, P. 8.
ou scm roupa, rea]izando ato libidinoso. homossexual ou de conjuncão carnal. 0 Heleno Fragoso, LiçOes, V. 3, p. 8.
Direito Penal Militar
386 Cello Lobão
11 387

aeronave, o rneio de transporte terrestre, desde que legalmente sob administra- Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre as-
ção militar. sunto ou mnatéria de serviço, ou relativamente a dever imposto
0 local de sinistro, interditado por integrantes das corporaçoes militares em lei, regulamento ou instrução.
citadas para prestar socorro, apagar incêndio, evitar saque, e o lugar onde Pena - detenção, de tim a dois anos, se o fato nao consti-
permanecern por requisição de autoridade civil, como a da Justica Elcitoral, tui crime ma/s grave.
nao se inclui corno local sob administraçao militar. As dependências da resi-
dência de militar, edificadas em local sob administrado militar não se encon-
Consideraçôes Gerais - A Constituição, no art. 122, inclui, entre
tram sob essa administraçao, como jd decidiu o Superior Tribunal Militar. Os Crgãos do Poder Judiciãrio, o Superior Tribunal Militar (inc. 1), os Tribu-
Dessa forma, o ato libidinoso ou homossexual praticado no interior da resi- nais e JuIzes instituIdos por Ici (inc. 11).
dência do militar, näo atende a descricao tIpica do art. 235.
Em confonnidade corn a norma constitucional, a Lei Orgilnica da Justi-
A ocorrência do ilIcito pode scr comprovada por rneio de fotografias.
corno j6 ocorreu em caso concreto, quando as fotos forarn encontradas no ar-
ça Militar, Lei n 8.457. de 4 de setembro de 1992, instituiu os seguintes or-
gibos da Justica castrense: Superior Tribunal Militar, já l)rCvistO na Lei Funda-
mario do militar, assirn também por interrnédio de outro rneio de gravação de
mental: Auditoria de Correição: Auditoria Militar; Conscihos (IC Justiça; Juiz-
irnagens.
Auditor Corregcdor; JuIz-Auditor; Jufz-Auditor Substituto (art. I. incs. if a
Elernento Subjetivo - 0 elcmento subjetivo é a vontade livre e IV, carts. 11 C 12).
coiisciente do sujeito ativo de praticar, ou permitir que corn dc se pratique, ato
Os Conselhos de Justica são de duas espCcies: Conselho Especial de
libidinoso. homossexual ou näo, em local Sujeito a administraçao militar.
Justica. corn cornpetCncia para processar c julgar oficiais, exceto oficiais-
Consumação e Tentativa - Consuma-se no momento em que o
generals; Conselho Permanente de Justiça, que, apesar da denoniinaçao. fun-
agente toca o corpo do parceiro de fornia libidinosa ou inicia ato tido Corno
ciona durante urn trimestre, corn cornpetência para processar e julgar acusados
libidinoso ou hornossexual. Mesmo que não se inicie o ato homossexual ou a que não scjam oficiais, inclusive civis.
cópu]a, sem dth'ida alguma, ocorreu o ato libidinoso. A tentativa é possIvel, se
Os Conscihos são compostos de 4 oficiais e do Juiz-Auditor. Os oficiais
a conduta descnta ndo se concretiza por molivos alheios a voritade do agente,
são sorteados para cada Conselho Especial. que aprecia apenas o processo
por exemplo, interferência de terceiros, rcação da pcssoa corn quem o militar
para o qual foi constituIdo. Os mernhros do Conselho são de posto superior ao
prctcnde praticar os atos ilIcitos, scm que des Sc iniciem.
do acusado ou de maior antiguidade, se de igual posto. Tratando-se de acusado
Suspensão Condicional da Pena e Liberdade Provisória - 0 oficial inativo. o Conselho pode ser constituldo de oficiais do mesmo posto, mdc-
condenado pelo crime do art. 235 näo tern direito a suspensao condicional da pendenternente da antiguidade, na falta de oficiais de maior posto.
pena, como dispöe o art. 88, II, b, do CPM c art. 617, 11, b, do CPPM. Ao in-
0 Conselho Perrnanente C composto de I oficial superior e de 3 oficiais
diciado e acusado pela prática do mesmo delito no C concedido o benefIcio ate o posto de capitibo-tenente on capitão. e do Juiz-Auditor, alCm de 2 su-
da liberdade provisória, nos tennos do art. 270, partigrafo Cnico, b, do CPPM. plentes, sendo 1 oficial superior. São sorteados para funcionar durante 3 me-
Legislação Anterior - Art. 148, do CPA; art. 197, do CPM de ses, conhecendo dos processos colocados em pauta pelo Juiz-Auditor.
1944.
A Justica Militar estadual C órgão do Poder Judiciario da IJnidade Fede-
rativa, como vem expresso na Lei Fundamental (art. 125, § 4) e nas Consti-
CAPiTULO XXI tuiçOes das respectivas Unidades Federativas.
Recusa de Função na .Justiça
0 art. 6 do COdigo de Processo Penal Militar, ao dispor que Os proccs-
Militar. Insubordinação SOS da Justiça Militar estadual ohedecerão as normas processuais previstas no
diploma processual castrense, ressalva OS preceitos relativos "a orgamzação de
Art. 340. Recusar o militar ou cisseinel/tado exem-cer, scm Justica'. Dianic dessa perrnissão. algumas Unidades Federativas, como o Ma-
mnolivo gleal, ftuo que The seja t / iito
sraa do ranhão. Distrito Federal, RondOnia. colocararn-se na vanguarda das reforinas.
Just/ca Militar. corn as seguintes alteraçoes: extincão do cargo isolado de Juiz-Auditor; Audi-
Pena - suspensao do exerciclo do poslo ou cargo, de dois toria Militar corno Vara Especializada. cuja Litulariedade C exercida por Juiz
a seis mneses. de l)ireito da Capital; Conseihos de Justiça presidido pelo Juiz togado; Con-
388 Célio Lobão Direito Penal Militar 389

seiho Permanente funcionando durante quatro meses; JuIzes militares suplen- ou em regulamento ou instrucão militar. Dessa forma, a recusa do militar cm
tes, substituindo, eventual ou definitivamente, OS titulares. exercê-la configura-se crime de insubordinação (art. 263 do CPM).
E órgão de segunda instância da Justica Militar estadual, nos Estados de A recusa pode ocorrer antes ou durante a exercIcio da funcao e objetiva-
São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o Tribunal de Justiça Militar esta- se par meio de declaracão escrita, oral ou outra forma de manifestaçao da
dual. Nas demais Unidades Federativas, a segunda instância d exercida pelo Tri- vontade, como a omissão, pura e simples, sem qualquer declaracão. Assim,
bunal de Justica. Na primeira instãncia, as Conseihos são os mesmos da Justiça também, é dispensável procurar saber se ocorreu dana de qualquer espécie,
Militar federal, corn as alteraçoes mencionadas no parágrafo anterior. pois a lei se satisfaz sornente corn a recusa.
Como vimos, a Justiça Militar federal e a Justica Militar estadual são 0 elernento subjetivo é a vontade consciente, orientada no sentido de
órgãos do Poder Judiciário da União e das Unidades Federativas, respectiva- desobedecer a ordem do superior relativa ao exercIcio de funcöes na adminis-
mente, corn a competência constitucional de conhecer os crimes militares, nao tração da Justiça Militar.
se considerando como tais os crimes contra a administração da Justica Militar. Consurna-se o delilo no momenta da recusa, sem esperar que a autori-
A competência constitucional é da Justiça federal, no que se refere a Justica dade militar dcla tome conhecimento.
Militar federal, e da Justiça comuni estadual, no que clii respeito a Justiça A tentaliva nao é possivel: ou o agente exerce a função e não ha crime,
Militar estadual. ou se recusa a excrcê-la e o delito se consuma. 0 posterior arrependimento não
Como cOnSequência, os crimes contra a administração da Justiça Militar descaracteriza a infração penal, podendo influir na dosageni da pena.
clefinidos nos arts. 340 a 354 nao sao militares, escapando da competência da A recusa em exercer funcao na Justica Militar era prevista no Cddigo
Justiça castrense. Penal Militar de 1944, precisamente no art. 255.
I)essa forma, os fatos descritos nos dispositivos penais supracitados que Como compleniento a exposicão acima, reportamo-nos aos conientários
encontrarern definição na lei penal comum serão processados e julgados, con- ao crime de insubordinação.
forme o caso, pela Justica Federal ou pela Justica COO1Um estadual. Por exem-
TITULO III
plo, o desacato a autoridade judiciária militar (art. 341, do CPM) ajusta-se a
descricao tIpica do art. 331 do COdigo Penal. Ofensa as Forças Armadas
Quanto a recusa do militar em exercer funçao na administração da Jus- Dano a Bens Militares
tica Militar (art. 340 do CPM), não encontra definição na lei penal comurn. Crimes de Perigo Comum
Nesse caso, a conduta do militar seril apreciada disciplinarmente? Entendemos CAPITULO I
que não. Ofensa as Forças Armadas
Entre as funcoes exercidas pelo militar na administração da Justica, a de
major relevância, sem dvida algurna, é a de Juiz Militar dos Conseihos Espe- Art. 219.I'ropalarfatos, que sabe inveridicos, capazes de
cial e Perrnanente. Os membros dos Conselhos sao escolhidos mediante sor- ofender a dignidade ou abalar o crédito das Forças Arniadas ou
teio, dentre os oficiais que constam de relação encaminhada pela autoridade a confianca que estas nierecern do páhlico:
militar a Auditoria. Pena.— deten(:ão, de seis meses a urn ano.
Além dessa, outras funcoes vêm expressas na lei adjetiva castrense: pa- Parágraft) ánico. A pena será aumeniada de urn terco, se e
lIcia judiciária militar, que conipreende a de encarregado de inqudrito policial
militar (art. 7, § 2. do CPPM); executor de prisão cautelar ou em flagrante,
crime E conic tido pela iniprensa, radio ou televisão.
nos crimes militares (art. 8, c, e 243 do CPPM); escrivão de inquérito (art. 11
587. Considcracöes Gerais - Essa figura dclituosa era desconhecida
do CPM), perito e intérprete (art. 48 do CPM); testernunhas (art. 347, § l do
do Codigo Penal Militar anterior. Originou-se do art. 148 do Código Penal
CPPM); encarregado de busca e apreensão de coisas e pessoas (art. 170 e
coniurn de 1969 (Dec.-Lei 1 .004/69). que deveria vigorar juntarnente coin o
segs, do CPPM); outras previstas no art. 8a do CPPM.
atual Codigo Penal Militar, mas foi revogado pela Lei n 6.578, de 11.10.78.
Qualquer uma das funcocs relativas a administraçao da Justica Militar
sem nunca ter entrado cm vigor, diante das reacoes contrarias as inovaçöcs
acima especitkadas, e outras mais, são precedidas de ordens, gerairnente es-
que trazia em seu hojo.
critas, do superior hierárquico; ordens essas relativas a dever imposto cm lei
Direito Penal Militar 391
390 CélioLobâo

0 art. 148 citado tinha a seguinte redacão: "Propalar fatos, que sabe in- Constituição Federal. Apesar da classilicação de crime contra a honra, trata-se, na
verIdicos, capazes de abalar o crédito de uma pessoa jurIdica ou a confianca realidade, de ofensa as Forças Arrnadas, coma consta da ementa do artigo.
que esta merece do pOblico". So que os autores do diploma castrense foram Sujeitos do Delito - Sujcito ativo, o militar federal ou a civil. Su-
mais longe e incluIram ofender a dignidade, o que no se ajusta a entidade da jeito passivo, integrando a tipo, as Forcas Armadas, constituIdas pela Marinha,
Administraçao Piihlica federal. Como efeito, segundo Noronha, dignidade "é o Exército e Aeronáutica, "instituicöes nacionais permanentes e regulares, orga-
juIzo que a pessoa tern da prOpria honra ou honorabilidade, que é ofendida nizadas corn base na hierarquia e na disciplina".
corn expressOes como 'ladrão', 'estelionatário', 'pederasta', etc".,514 enquanto Elementos Objetivos - A acao incriminada é "propalar", que si-
Fragoso ensina que "dignidade seria o sentirnento da própria honorabilidacle gnifica tornar piThlico, divulgar par qualquer meio, desde que idônco, fatos
ou valor social".515 invcrldicos capazes de abalar a credibilidade das Forças AnTladas ou a confi-
Heleno Fragoso tece considcracoes a respeito do crime contra a honra anca nela depositada pela coletividade.
de pessoa jurIclica e de coletividade de pessoas, ainda que no tenham forma Os fatos divulgados näo são verIdicos, porérn dotados de patencialidade
juridica, e, finalmente, apoiando-se em Binding, acrescenta quc,"nesses casos, suticiente para atingir, denegrir a irnagern das Farcas Armadas em sua rcspei-
näo se trata de honra, mas, sirn de autoridade. E claro que rião se trata de ofen- tabilidade, credibilidade c confianca perante a populacao brasilcira. Par
sa a honra nos casos em que ë visado o govemo, a nacão, o regime. etc. Nesses exemplo, dizer-se que as instituiçoes rnilitares federais são camposta de mer-
casos, tutela-se, eviclenternerite, a prestIgio da autoridade".516 cenários, de despreparados, de militares sem caragem para acarrer em defesa
Prosseguindo, o eminente penalista acrescenta que a debate estaria ultra- cia Pals, atinge a respeitabilidade, a credibilidade dcssas instituiçoes perarite a
passado corn o COdigo Penal de 1969, "que incriminava, sob o nornen juris de pavo.
ofensa, a pessoa jurfdica a aciio de propalar fatos, que sabe inveridicos, capa- Decidiu a V Turma do Supremo Tribunal Federal: 'A tipicidade do
zes de abalar a crédito de unia pessoa jurIdica ou a confianca que csta merccc art. 219 do CPM reclama ciuc a ação delituosa seja caracterizada pela divulga-
do pOblico" (Os grifos so do texto). 17 cãa de fatos precisos e deternuinados que a agente sabe inverIdicos, mas que
Apesar disso, a diploma de 1969 no esti isento de crItica, na medida tenhani a aparência de realidade e sejam potencialmente ofensivos as Forças
em que inclui esse delito no capItulo que trata dos crimes contra a honra, tal Armadas, não bastanclo para tanto rnanifestaçoes mesmo injuriosas que não
como acontece na lei penal castrense. tenharn sentido factual".518
A lei cxigc as Forcas Armadas coma destinatárias da ofensa, a que ex- O tipo não espera pelo efctivo abalo da credibilidade, da respeitabilida-
clui a PolIcia Militar e O Corpo de Bambeiros. Logo, a ofensa cometida pelo de, da confiança ou pela rcpercussão favorávcl ou contrária. Antecipa-se, sa-
militar estadual contra as instituicöes estaduais citadas resolve-se no ãmbito tisfazenda-se corn a capacidade, corn a patencialidade da divulgação, para
disciplinar, independentementc da ocorrência de crime comum, se a fato en-
alcançar esse resultado.
contra definicão na lei penal comum.
Embora a publicidade exija o conhecimenta par várias pessoas, incahI-
Crime Militar - Os dispositivo legais classificatOrios do delito
vel perquirir quantas indivIduos a dc tiverarn acesso. E suticiente que o rneio
militar relacionam-se com o sujeito ativo. .Agente militar: inciso I, 2 parte, do
empregado tenha condicoes de alcançar significativo nrimero de pessoas, que
art. 9 (crime não previsto na lei penal comum). Agente civil: inciso III, a, 2
varia de acordo corn a densidade demográfica da regiäo. Nesse particular,
parte, c.c. a inciso J, 21 parte, do art. 9 (crime não previsto na lei penal co-
assume importância 0 velculo de comunicaçao utilizado, corno a televisào e o
mum contra a ordem administrativa militar). Crime impropriamente militar.
rfidio, que, certaniente, alcançarn pfihlica hastante significativo.
Objetividade JurIdica - 0 objeto da tutela penal é 0 respeito, a
Elemento Subjetivo - 0 dola é canstituído pela consciêiicia e
prestIgiodas Forças Armadas, a confiança nelas depositada pela socicdadc brasi-
leira, em face da dcstinação relevante que ihe reserva a lei, principalmente a vontade de propalar fatos CIUC o agente sabe inverIdicos, presente a finali-
dade de dcnegrir a imagern, a credibilidade das Forças Armadas. bern canto
514
a confiança nela depositada pelo povo brasileiro.
Magalhaes Noronha, Dir. Pen., v. 2, p. 123, Saraiva, 1976.
515
Heleno Fragoso, Liçaes, Parte Especial, v. 1, p. 197.
516
Heleno Fragoso, Liçaes, Pane Especial, v. 2, p. 187.
517
Heleno Fragoso, Liçoes, Pane Especial, v. 2, p.188. RCr n2 1.413, DJde 17.03.80, p. 1.367.
392 Cello Lobao Direito Penal Militar 393

Consumaçao e Tentativa - Consurna-se o delito no mornento em urn diploma repressivo para as Forças Armadas. como se fossem urn organis-
que os fatos inverIdicos divulgados chegarn ou tenham condiçöes de chegar ao mo autônorno dentro do Estado, coin Iegislacão penal própria. Corno corise-
conhecirnento de significativo niimero de pessoas. quência, o diploma abriga o rnaior nürnero possIvel de infraçöes penais, a
A tentativa é juridicamente possIvel. se OS fatos referidos não chegani a rnaioria delas igualmente contempladas no Código Penal, scm esquecer as
ser divulgados por motivos alheios a vontade do agente. Por exemplo, os pan- definidas cornexclusividadc na lei penal castrense ou nela previstas de forma
fletos SO apreendidos antes da distribuiço, ou a transmissão da emissora de diversa.
radio DU de televiso é interrompida antes de iniciar a veiculaçao da no[Icia. Seguindo essa tendCncia. o Código Penal Militar, no capItulo VII do tI-
Tipo Qualificado - 0 crime cometido pela imprensa, radio e tele- tub V (arts. 259 a 266), procura estender sua proreção a bens privados, prin-
visao agrava a pena. corn aurnento de urn terço. Entretanto, se o agente for cipalmenie no art. 259. Conio essa espCcie de bens nao é objelo da tutela do
jornalista OU profissional do radio e da imprensa, incide a lei sobre crimes de diploma penal castrense. a realizacão das condutas descritas no art. 259 So-
imprensa. mente recehern a classiticaçao de militar na hipOtese i.inica de bens perten-
Exclusão de Antijuridicidade - Os incisos I a IV do art. 220 centes a militar c sujeito ativo militar (alIn. a, II, art. 9).
enurnerarn as causa de exclusão de anti juridicidade nos crimes contra a honra. A alirmativa de que, nos crimes dos arts. 262 e 266, o "ohjeto jurIdico'
A (10 inciso III diz respeito a ofensa as Forças Armadas: riao ha crime na é o "patrimônio, scja beni pihlico ou particular (pertencente OU nao as Forças
apreciaçao crItica as inStituiçöes mulitares, salvo quando inequIvoca a intel)- Armadas. sohrepöc o ('ódigo Penal Militar a Constituiçao. 0 que é irmce.iuS-
çao de ofender". ye!. Realmente. o art. 262 refere-se a bens pertenCenteS ou não s forcas ar-
As instituiçCes mflitares tern sido alvo de contestaçño sobre sua neces- madas', enquanlo o art. 266 trata da modalidade culposa do delito do art. 262
sidade. sobre OS custos de sua manutenção. etc. Essas criticas. em sua inaloria.
e tambrn dos arts. 263. 264 c 265.
tern origem em grupos politicos de esquerda, que esquecern, ou procuram Ocorre que, ao definir o crime militar. o legislador penal castrense não
ocultar, que nos ditos regimes de esquerda, aos quais se vinculavam e dos rcceheu dcicgaçao coiistitucional ilirnitada para proceder como se estivesse
quais hoje se encontrarn em plena viuvez, as forças armadas ou as organiza-
çöes para-inilitares SO instrumento poderoso da rnanutenção desses regimes criando novo sistema juridico-penal a parte da lei penal comum, de tal forma
(1UC o Código Penal dcix:tna de ser "a lei fundamental".
9 para transformar-se
ditatoriais.
em diploma de "cariuter supletivo ou cornpIementar.'°
Foi o que aconteceu na rebeliao da Praca Vermeiha, na China, quando
Ao contriirio, deve manter-se nos limites da permissão constitucional,
forarn deslocadas unidades militares de regioes (liStantes corn a finalidacle de
qual seja, o de tutelar as instituiçöes militares fedcrais e as instituiçoes milita-
sufocar o anseio de liberdade, resultando na mortandade de rnilhares de pessoas.
res estaduais no flmhiio das respectivas jurisdicOes. Não Ihe cahe a protecão
Não foi diferente na Europa oriental, durante a rebeliao dos paIses subjugados
pela denorninada RepCblica Socialista SoviCtica, que, flesse particular. Segui- de bens particulares, salvo se estiverem legalmente sob administração militar.
ram a mesma escrita do regime nazista. Ainda que tenham destinaçäo bélica, ainda que se trate de material de utilida-
Nao podia deixar de ser diferente: as ditaduras de direita e as de esquer- de militar, se OS bens estivereni em construção ou fabricaçao, cm empresa
da são irrnãs gêmeas, idênticas em tudo, exeeto na roupagern externa. privada OU em seu depósito, recehem a proteçäo da lei penal comum.
Para concluir, escaparn da esfera penal militar as contestaçCes destituI- Dessa firma, a exprcssão "bens não pertencentes as Forcas Armadas"
das de intencão de ofender, de denegrir as Forcas Armadas, de ahalar sua crc- dcve ser interpretada como bens legalmente sob essa adrninistração e. ainda,
dibilidade. os pertencenteS ao patnmonio das instituiçöes militares estaduais ou legal-
Legislação Anterior Mao ha registro nos diplomas penais milita- mente sob essa administraçao. Interpretar de outra forma conduz ao absurdo
res anteriores. (IC consiclerar crime militar o dano a camunhao de transporte de tropa ainda Cli)
montagem na montadora ou o hi noculo de uso militar em fabricaçao. E se
CAPITULO ii parte desse material fosse destiriado us Forcas Armadas de outro pals?
Do Dano

Noçöes Gerais - Corno ficou dito, OS autores do decreo-lei que Nelson Hungria, Coment, V. 1.1. I. p. 205.
Nelson Hungria, Cornent., v. 1.1. I, p. 205.
editou o Cddigo Penal Militar norteararn seu trabaiho no sentido de elaborar
394 Direito Penal Militar 395
Cello Lobão

Colocando o problema em seu devido lugar, se o Estado tern interesse Embora exaustivamente esciarecido, C) receio de equIvocos nos obriga a
na proteço do material ou apareihamento de guerra ou de utilidade militar, repetir: tratando-se de bens pertencentes as Forças Arrnadas ou sob sua admi-
ainda que em fabricaçao em empresa privada, cabe a lei de segurança do Esta- nistração, o militar federal, o civil ou o militar estadual figuram como agente,
do protege-b, corn julgamento na Justica Federal. este dltimo na mesma situação do civil, sendo o crime da cornpetCncia da Jus-
Diante dos esciarecimento acima, somente os arts. 262 a 265 mereccm tiça Militar federal. Nos bens pertencentes OU sob administração da Policia
inclusão no Codigo, limitando-se a proteção penal aos bens que integram o Militar ou do Corpo de Bombeiros Militares, somente o militar estadual in-
patrimônio das instituiçöes militares ou sob essa administraçao. gressa na condiçäo de sujeito ativo, sendo o crime julgado pela Justica Militar
Quanto ao dano culposo (art. 266), deveria restringir-se, apenas, ao agente esta dual.
militar. Alias, essa orientação, atualmente, d pacIfica najurisprudência pátria. Elementos Objetivos - A conduta incriminada d praticar dano nos
bens referidos no preceito legal.
CAPiTULO III 0 dano consiste em destruir, inutilizar, deteriorar e fazer desaparecer. A
Dano em Material definição decorre do disposto no art. 259 do Código Penal Militar, que COpIOU
ou Apareihamento de Guerra art. 175 do Codigo Penal de 1969, que nunca vigorou.
Destruir importa em extinguir, elirninar. Inutilizar d tornar irnitil, irn-
Art. 262. Praticar dano em nuiterial ott aparel/iainento de prestável, sem utilizaçao, embora mantendo ou não a forma externa do hem.
guerra ou de utilidade mi/ira,; ainda que em construção ott fit- Deteriorar é estragar, impossibihiando scu uso. Fazer desaparecer é perdcr,
bricação, ou em efeitos recoihidos a depósitos, pertencentes ou não ser mais encontrado. Por falta de previ são legal, nao é sancionado o dano
não àsforças arinadas; parcial, que não resulta na destruição, na inutilização ou na deterioração. C sirn
Pena - rec/usão, ate seis meses. no uso deficiente do bern.
0 fazer desaparecer foi transplantado do art. 175, supracitado, pois não
constava do diploma castrense anterior, tiem no Cddigo Penal (art. 163), como
Consideraçöes Gerais - 0 Codigo Penal da Armada previa o cri-
assinala Heleno Fragoso: "Não compreende o nosso cddigo a acão de fazer
me de "estragar armas, muniçOes de guerra ou de boca, fardanientos, utensI-
desaparecer a coisa, quando não haja perecimento".521
lios de navios ou embarcaçoes da armada, ou nos estahelecimentos da niari-
Os bens protegidos pela norma penal são o material e o apareiharnento
nha, mat&ias inflamáveis ou explosivas" (art. 163).
de guerra que compreendern aqueles utilizados em operacão bélica e tambéni
No Codigo Penal Militar de 1944, era definido no § 12 do art. 211. No
material ou apareiharnento militar usado em atividade prdpria do militar,
diploma atual ganhou autonomia, sendo contemplado em artigo propno.
estando esses bens em uso, rccolhidos em depdsito ou em processo de cons-
Crime Militar - Os dispositivo legais classificatórios do delito
truçao ou fahricação. .0 depósito, evidentemente, é militar, enquanto a cons-
militar relacionam-se corn o sujeito ativo. Agente militar: inciso I, 2 parte, do
art. 9 (crime no previsto na lei penal cornum). Agente civil: inciso 111, a, truçao ou fabricação d executada em estahelecimento militar.
parte, c.c. o inciso I, 22 parte, do art. 9 (Crime nâo previsto na lei penal co- Se o bern pertencente as Forcas Armadas estiver em construção ou fa-
mum contra o patrirnônio sob administraço militar). bricação em empresa pdhlica civil ou privada, indispcnsável o conhecirnento
Crime impropriarnente militar. da propriedade do bern por parte do agente e o dolo especIfico de causar dano
a bern pertenccnte as instituiçöes militares.
Ohjetividade .JurIdica - 0 objeto da tutela penal é o material ou
F.rnbora dispensdvcl. para evitar equIvocos dos menos atentos, repeti-
apareiharnento de guerra ou de utilidade militar que intcgram 0 patrirnonio das
Forças Armadas ou que SC encontrani legalmente sob sua adrninistraçio. A lei' mos que o material ott aparelkainento de guerra OU (IC utilidade militar perten-
protege, igualmente, o material ou apareiharnento de utilidade militar perten- cc as Forças Annadas ou encontra-se sob sua adrninistração. A lei penal mili-
cente as inStituiçöes militares cstaduais ou sob sua adrniaistração. tar não tutela bens privados, ou ptIblicos civis.
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo do delito, o militar ou o civil.
Sujeito passivo, as instituiçöes militares. 21
Heleno Fragoso, LiçOes, Parte Especial, v. 3, p. 25.
.396 397
Celia Lbão Direito Penal Militar

A expressão "não pertcncentes as Forças Armadas" entende-se como OS Consideraçöes Gerais - No COdigo Penal da Armada, o art. 125
que não integram seu patrirnônio, mas encontram-se legalmente sob sua admi- contemplava a delito do "comandante de força on navio quc perdcr, ou for
nistraçao. Compreende, ainda, essa expresso, os que pertencem a PolIcia causa de perder-se, qualquer navio da armada". hra classilicatlo cw no crime
Militar e ao Corpo de Bombeiros, ou estão legalmente sob a administraço
de inobservncia do dever militar marItimo.
dessas corporaçOes, limitados, porérn, ao material de utilidadc militar.
A infraçao as normas previstas no artigo ora coineiitado escapain ila
A pena mInima cominada é de urn ano (art. 58), e a maxima, de scis
competência da Justiça Militar estadual. 0 navio de guerra. sew (l(iVi(l algu-
anos.
Elernento Subjetivo - A vontade onentada no scntido de destruir, ma, SO os das Forças Armadas, e navio mercante é o requlsll:ulo ;uIi wrviço
dessas instituiçöcs militares.
inutilizar, deteriorar e fazer desaparecer os beris mencionados, tendo o agentc
Crime Militar - Os dispositivo legais classifical61- ius tlit (l1'lII0
consciência de que se trata de hens pertencentes as Forças Armadas OU legal-
mcnte sob sua adrninistraçao. militar relacionam-se corn a sujeito ativo. Agente militar: inciso I. 2 p:iile. do
art. 9 (crime não previsto na lei penal COMM). Agente civil: iiiciso Ill, ti. I'
No crime militar da cornpetncia da Justiça Militar esladual, conio no
podia deixar de ser, o elemento subjetivo d o mesmo, corn a modificaço de parte, c.c. o inciso 1, 2 pane, do art. 9 (crime no previsto na Ici pt'ii;il o
que o policial militar e o honiheiro niilitar devern icr conhecirncnto de cjue se mum contra 0 patrinlônio sob adrninistraçao militar).
trata de bern pertencenre a PolIcja Militar ou ao Corpo de Bombeiros Militares Scm düvida algurna, é possivel o civil figurar como agen(e do lt'l It
ou legalmente sob administraçao dessas corporaçöes. I'or exemplo. o cornandante do rebocador da adrninistracäo portuarm. ao yiiiai
l-.stando o bern em fabricaçio. em construçao ou em dcpósito, cm em- o navio sob administraço militar, na entrada ou salda do porto, rcaliiii dolu
presa privada ou da administraçio pilhlica civil, a propricdade ou a adminis- samente urna das condutas descritas no dispositivo penal. 0 mesmo pode ser
traço militar do bern deve resultar cabalmente dernonstrada; caso contrSrio. o duo em rclação no comandante ou outro iripulante do navio mercante legal
crime sera comurn pela ausência do elcmento subjetivo. mente requisitado para executar servico das Forcas Armadas.
Consumação e Tentativa - Consurna-se o delito corn a efetiva Crime impropriamente niilitar.
destruiçao, inutilizaçao, dcterioraçao e desaparecimcnto. dos hens menciona- Objetividade JurIdica - A lei tutela o patrirndnio militar, p10k'-
dos. Ocorre a tentativa quando o agentc não alcança scu objetivo, por motivos gendo o navio de guerra, hem de grande iniportancia na realizacão de ativida-
alheios a sua vontadc. Por exemplo, não consegue rcalizar sen intento pela de própria da instituicao militar. A protccão estencle-se, tambérn, no navio
resistência do hem ao ataque ou é impedido por outrem, etc. mercante legalmenle sob administraço militar, cujo dano afctará o patrimônio
Legislação Anterior - Art. 163 do CPA; art. 211, § l, do CPM da adrninistração militar.
de 1944.
Sujeito do Delito - Ingressam como sujeito ativo o militar e o ci-
vil, pois a descriçäo tIpica näo exige a condiçtio de militar, do agcnte. Sujeito
CAPiTULO IV
passivo, as instituiçöesjnilitares federais.
Dano em Navio de Guerra
Elemento Objetivo - A conduta incnirninada é causar a perda. a
destruiçäo, a inutilizaçao, o encaihe, a coliso. o alagamento, a avaria em na-
Art. 263. (]ausar a perda, destruiçao, inutilizaçao,enca-
vio de guerra ou mercante sob administraçäo militar.
the, colisão ou alaga/nenu) de navio de guerra ou de navio iner- Embora o Codigo defina a navio como "toda embarcaçao sob comando
can/c em service inilitar, ou nele causar uvaria:
militar" (art. 7. § 3), a espécie trata de emharcaçäo de grande porte, equipada
Pena - reclu.rao, (IC três a c/ez ai ios. corn armarnenlo prdpriO pira luta no mar, no rio ou lagoa. Navio mnercanle ê a
§ I Se resiilia lesue grave, a pena cerrespondente é an- ernbarcaçao de grande porte unlizada para fins coniercials. traiisportando pes-
inenraia c/a inetade; xc 1-esu/ta niorte, é aplicada em debra.
soas ou cargas.
§ 2 Se, para a prdtica do dana previsto no artigo, usou a Os atos ilIcitos tern COfll() sujeito ativo o coniandante ou oulro tripu lan-
agente de vielência contra a pessoa, ser-Ihe-a aplicada a pc/la a te, civil ou militar, inclusive o ericarregado de guiar o rtavio de guerra Oil iuiei-
eta correspondente. cante em serviçc) militar na entrada do porto.
398 Celia Lobão 399
Direito Penal Militar

Perda significa impossibilidade de utilizaçäo do navio. A posterior re- prática do dano, o agente usa de violência contra a pessoa, causando-ihe lesão
cuperaçäo não descaracteriza a perda. A destruiçao consiste em extinguir,
corporal ou morte.
eliminar, transformando o navio num amontoado de material imprestável, scm As modal idades qualificadas não prescindern dos requisitos classifica-
recuperaçao possIvel. Inutilização e tornar indtil, imprestávcl, sern condição tórios do crime militar. Tanto no resultado lesão corporal ou morte, quanto no
de uso, podendo a embarcaçao manter sua forma externa. Encaihe 6 colocar 0 crime contra a pessoa como meio para praticar o dano, indispensável a ocor-
navio no seco. rência dos requisitos expressos no art. 92 e que veremos a seguir.
Colisão consiste no choque corn outro navio, contra ancoradouro, ro- Agente e vItima niilitarcs: crime militar, em decorrência do disposto no
chedo ou outro obsuiculo, o que, inevitavelmente, causa avarias. No alaga- inciso 11, a, do art. 9 (militar contra militar). Agente militar e vItima civil:
niento, ha pcnetração de agua nas partes do navio, coin ou sem risco de nau- crime militar, se estivcr presente urn dos requisitos do inciso IT, 1, ou c, do art.
frágio, danificando ou nao máquinas, apareihos, etc. Avaria é estrago ocasio- 9 (militar em local sob administração militar ou militar em servico). Agente
nado na embarcaçao OU em suas instalaçao, corno annamento, leme, etc., ainda civil e vItirna militar: crime militar, se atendidos os requisitos do inciso III, /5
quc de rapida recuperaçäo. ou d, c.c. o inciso 11, do art. 9 (contra militar em local sob adrninistração mi-
A lei rcfcre-se a navio de guerra, isto é, toda emharcação utilizada pelas litar ou contra militar cm scrviço de natureza militar). Agente e vItima civis:
Forças Armadas para fins hClicos. crime comurn.
Q uanto a navio rncrcante, d o que se encontra legalmente requisitado Corn exceção do agente e ofendido militares, em que o crime a sempre
para servico niilitar, para transporte de tropa. de mantimentos, de combustive!, militar, nos demais casos, se não forern atendidos os requisitos das alIneas
l
de material de uso militar, etc. 0 coniando do navio mercante pock ser exerci- suprarnencionadas. os crimes contra a pessoa referidos nos H e 2 são co-
muns. Haverá separaçäode processos, permanecendo na Justica Militar o feito
do por civil ou por militar, mas as orcicns emanam da autoridade militar corn-
petente. relativo ao delito de dano c o quc trata do crime contra a pessoa é encaminha-
Elemento Subjetivo - A vontade consciente, orientada no sentido do a Justiça comum, ficando a acusado sujeito as penas cominadas no Codigo
Penal, scm levar em consideração os acréscimos previstos no l, somente
de ocasionar, no navio de guerra ou no navio mercante, os danos mencionaclos
aplicável se a modalidade qualilcada for crime militar.
no dispositivo legal.
E conveniente lembrar que os crimes contra a pessoa referidos nos §§ l
Consumação e Tentativa - Consuma-se o delito no momento em 2 são punidos a tItulo de dolo. No caso de culpa ou de lesão corporal leve (
e
quc se concretiza a perda, a destruição, a inutilização, a encalhe, a colisão, o as sançöes previstas para a crime principal e para as agravantes aplicam-se
alagarnento ou a avaria. A tentativa 6 possIvel em todas as modalidades do em concurso material, scm esquecer, 6 óbvio. OS requisitos classificatórias do
dano e ocorre quando o agente tudo faz para atingir seu objetivo ilIcito, que, crime militar acima especificados.
no entanto, nâo 6 alcançado por motivos alhcios a sua vontade. Por exemplo, Legislação Anterior - Art. 125 do CPA; art. 212 do CPM de 1944.
ao manobrar o navio para colisAo contra outra embarcaçao, o agente 6 inipcdi-
do por outrem, ou o vento ou a onda afasta urn dos navios. CAPITULO V -
Forma Qualiflcada - Duas são as modalidades qualificadas. Na Dano em Apareihamento e Instalaçoes
primeira, ha o resultado lesão corporal grave ou morte (§ l) dolosa. Se resulta
lcsao corporal grave, a pena cominada ao crime é aumentada da metade. Se Art. 264. Praticar dano.
resulta morte, a sanção 6 aplicada em dobro. Na segunda, o agente usa de vio- I - ein aeronave, /mangcmr, depOsito, pista ou instalaçoes de
lência contra a pessoa COmo mejo para realizar o dano (§ 2). campo de aviação, engenho de guerra niotomecanizado, viatura
0 COdigol mais unia vez. confuncie vioiência corn o crime contra a pes- em comboio militar, arsenal, clique, doca, (lrin(iZ.eifl, quartet,
soa. Logo, se para a prática do dano a aiiente lcsiona ou mata outrem, respon- alojamenlo ou em qua/quer outra ins/ala coo militar,
de em concurso pelo dano c pelo crime contra a pessoa. II - em esiabelecimento militar sob regime indu.vtria/, on
Coino vimos, as §§ 1 e 2 nao se confundern. No primeiro, o crime centro industrial a serviço de conslruçao oufttbricaçJo militar,
contra a pessoa resulta do dano ao beiis especificados. No segundo, para a Pena - reclusão, de dois a dez an Os.
400
Cello Lobãc Direito Penal Militar 401

Parágrafo tinico. Aplica-se o disposto nos paragrafos do 0 inciso I enumera os bens móveis e irnóveis protegidos, todos perten-
artigo anterior. centes ao patrimônio militar ou legalmente sob essa administração. Aeronave
compreende avião, helicóptero, planador, etc. Hangar, depOsito, pista ou ins-
Consideraçao Gerais - A enumeraçao é extensa e, certamente, talacöes de campo de aviação são as de uso militar, ainda que temporaria-
desnecessiria. Corn urn pouco de segurança, poderia ser simplificada, utili- mente, excluindo os bens de entidades piIblicas civis ou privadas. Engenho de
zando-se OS vocábulos estabelecimento, instalaçao, material e meio de trans- guerra motornecanizado abrange viatura, corn ou scm armamento, destinada
porte militares. ao transporte de tropa. ao Iancamento de foguete, torpedo, bomba, enfim, todo
Os bens especificados são de uso das instituiçoes militares, quer perten- apareihamento de utiiização bélica.
centes a seu patrimônio, quer legalmente sob sua administraçao. Viatura em coinboio compreende determinado niImero de vcIculos,
Crime Militar - Os dispositivos legais classificatórios do delito transportando pessoas ou coisas, deslocando-se de urn ponto a outro, embora
militar relacionarn-se corn o sujcito ativo. Agente militar: inciso 1, 2 parte. do não seja exigido que estejani em movimento, quando da pratica do delito.
art. 92 (crime não previsto na lei penal cornum). Agente civil: inciso Ill, Arsenal é o local onde se fahrica armamento e dernais petrechos de guerra, ou
a,
parte, c.c. o inciso I. 22 parte, do art. 92 (crime não previsto na lei penal co- onde são guardados. Dique, doca, armazérn, quartel, alojamento são os de uso
mum contra o patrimônio sob adni i nislração militar). Crime impropriarnente militar. A lei refere-se, ainda, a qualquer outra instalacão militar" que seja,
militar. igualmente. de utilidadc niilitar, como a do radar, a do lançarnento de foguetes,
Objetividade JurIdica - Objeto da tutela penal SO os bens enu- a destinada a aconipanliar a trajetOria do foguete ou para teste de annarnento
merados na lei, pertenccntes ao patrimônio militar ou sob adrninistraçao cas- ou de veIculo de coinhate, podendo ser fixa ou mOvel, alérn de outros que a
trense, considerando-se o intercsse da instituição militar em rnanter a integri- tecnologia de guerra vai criando.
dade desses bens. todos des indispensiveis a realizaçao de suas finalidades, A enumcracao prossegue no inciso II, corn estabelecimento militar sob
expressas na Constituiçao c na lei. regime industrial, ou centro industrial a serviço de construcao ou fabricação
Segundo Schoönke-Schrocicr, citados por Heleno Fragoso. "0 objeto da militar. 0 propOsito de anipliar o alcance da lei repressiva castrense, ao arre-
tutela jurIdica é a preservação do valor da coisa para 0 propnetIrio, protegen- pio da Constituição, é evidente. Ocorre que o diploma penal niilitar de tie-
do-se não so o seu valor substancjal ou intrmnseco como também o mero valor nhuma forma tutela bens pertencentes a entidades privadas, ainda que se des-
de utilidade".522 tinern a uso privativo das instituiçöes militares.
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar ou o civil. Sujeito pas- Assirn sendo, o estabelecirnento sob regime industrial ou o cent.ro in-
sivo, as instituiçöes militares. dustrial objeto da protecão legal é, exciusivarnente, o que perrence ao patri-
Elementos Objetivos - A conduta incriminada é praticar dano nos mônio militar ou legalmente sob essa adrninistracão. Na atualidade, os Esta-
dos, de modo geral, nAo mais sc dedicam as atividadcs industriais. Enipresas
bens extensamente enumerados nos incisos I e II do art. 264, e consiste em
privadas são encarregadas da construção de apareihos, equipamentos OU ou-
destruir, inutilizar, deteriorar e fazer desaparecer. Essa definiçao resulta do
disposto no art. 259 do Código Penal Militar, que copiou o art. 175 tros bens de utilizaçao militar, que, antes da incorporação ao patnmonio mili-
do Codigo tar, não recebcm protecao da lei penal castrense, mesmo porque não se encon-
Penal de 1969.
tram sob administracao militar.
Destruir é extinguir, climinar; por exemplo, explodir uma viatura. urn
Se ha interesse do Estado em protege-los, cabe ao legislador ordinario
quartel, etc. Inutilizar é tornar imItil, irnprestável, scm utilização, mantendo ou
criar instrumentos legais corn sede na lei de seguranca do Estado, cuja tutela
não a forma externa do bern. Deteriorar irnporta em estragar, como introduzir
estende-se ao segredo do projeto do hem em construcao oil fahricaco.
substãncia corrosiva no motor de urna lancha de desembarquc, tornando-o
Nem todos os bens reiacionados no dispositivo legal pertencem ao Pa-
iniprestávcl. Fazer desaparecer é perder. fazer corn que não seja rnais visto:
trimônio ou estão sob a adrninislração das instituiçoes niilitares estaduais,
por exemplo, jogar urn tanque de guerra no mar, em local bastante profundo.
como acontece, por exen3plo, corn o engenho de guerra. Portanto. pertenceni
522
as instituiçöes estaduais.ou estão sob sua administração, a aeronave, o hangar.
Heleno Fragoso, Liçôes, Parte Especial, v. 3, p. 24. o depOsito, a viatura em comboio, o armazOrn, o quartel, o alojarnento. Logo,
403
402 Célio Lobão Direito Penal Militar _____

constitui crime da compctencia da Justica Militar estadual o dano a esses bens 624. ConsideracöeS Gerais - No Codigo Penal da Armada era previsto
praticado por policial militar ou bombeiro militar. delito de extraviar armas, rnuniçöes de guerra ou navais (art. 165).
Indispensivel que OS bens mencionados contenham indicaçao precisa e Crime Militar - Os dispositivoS legais classificatóriOS do delito
visIvel de sua condicão de bern pertencente ao patrirnônio castrense ou sob militar relacionam-se corn o sujeito ativo. Agente militar: inciso I, 2 parte, do
administração militar, principalmente na hipótese de agente civil; caso contnl- art. 9 (crime não previsto na lei penal cornum). Agente civil: inciso III, a,
rio, inexiste o delito militar do art. 264. parte, c.c. o inciso I. 24 parte, do art. 9 (crime não previsto na lei penal co-
Memento Subjetivo - Consiste na vontade consciente, orientada no mum contra o patrimônio sob adrninistracão militar). Crime impropriarnente
sentido de causar dano aos bens especificados na norma penal, presente o conhe- militar
cirnento de que pertencem ao patrimônio militar ou sob adrninistracão castrense. Objetividade JurIdica - A lei tutela o patrimönio sob a adminis-
Consumacão e Tentativa - Consuma-se o delito no momento em tração militar consubstanciado nos bens especificados na descricão tIpica.
que se concretiza qualquer urna das modalidades de dano citadas. A tentativa é Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar e o civil. Sujeito pas-
possIvcl, desde que o dano não se realize por motivos alheios a vontade do agen- sivo, as instituicöeS militares.
te, inclusive se a estrutura do bern é suficientemente forte e resiste ao ataque. Elementos ObjetivoS - As condutas incrirninadas são: fazer desa-
Forma Qualificada - Nos termos do pargrafo inico do art. 264, parecer, consurnir e extraviar.
aplica-se o disposto nos §§ l e 2 do art. 263. A diferença entre OS dois para- Fazer desaparecer é perder, fazer Corn quc não ser mais encontrado. Por
gas ou de
grafos é que, no primciro, a lesão corporal grave ou a morte é resultado (10 exemplo, lançar o armamen to ao mar. abrir a valvula do depósito de
crime de dano, o que enseja aumento da pena cominada ao crime principal. No combustIvel, deixando escapar seu contecido, no todo ou parcialriientc. Con-
segundo, os crimes contra a pessoa (lesão corporal, grave ou leve, ou hornicIdio) surnir é extinguir ate nada mais restar do bern, embora essa extinção limite-se
são comctidos corno rneio para que o agente consiga alcancar o firn almejado, a urna porção do todo. Por exemplo, ahastecer, corn combustivel da unidade, o
OU seja, o dano nos bens referidos. veIculo particular oti o oficial para uso particular.
Como consequência, se resulta lesão grave ou morte, a pena do crime prin- Extraviar importa em desviar. suhtrair. independenternente da quanti-
cipal é aurnentada da metade e do dobro, respectivamente (§ IQ). Se, para a práti- dade do bern extraviado.
ca do dano previsto no artigo, o agente comete crime contra a pessoa, ser-lhe-á Cornentando o art. 165 do Código da Armada, expöc Macedo Soares:
aplicada igualmente a pena correspondente ao crime contra a pessoa (§ 2). "cxtravio não constitui dano, nem destruicão, emhora cause prejuIzo a Nação.
E conveniente lembrar que os crimes contra a pessoa referidos nos §§ l Extraviar armas, rnuniçOes, etc., é desencarninha-laS, perdê-las, dar-Ihes desti-
e 22 são punidos a tItulo de dolo. No caso de culpa, as sancöes previstas para o no divcrso daquele para onde deviam ir, sem que tenham sido afetadas, isto C.
crime de dano simples e para as agravantes aplicam-se em concurso material. danificadas ou destruIdas".523
Os comentários aos §§ l e 2 do art. 263, relativos aos crimes contra a Os bens protegidos são comhustIvel, armamento, rnunição, pcças de na-
pessoa no que diz respeito a classificaçäo desses delitos como militar, obvia- vio, de avião, de engeriho de guerra motomccanizado, todos, evidentementC,
mente, aplicam-se a essa fonna qualificada do art. 294. integrando o patrimônio militar federal ou sob essa administracão. Concretiza-se
Lcgislacão Anterior - Arts. 213 e 215 do CPM de 1944. delito independentemente do local onde se encontram.
Integram o patrimônio da PolIcia Militar on do Corpo de Bombeiros
CAPITULO VI Militares, ou estão sob a administracño dessas instituiçöeS militares estaduais.
Consunção e Extravio de CombustIvel combustIve1, o armamento, a rnunicão, a peca de embarcacãO. de aeronavc,
excluindo-se o engenho de guerra rnotomfleCafliZaclO, que é privativO das Forças
Art. 265. Fcizer desaparecer, con.vwnir act extraviar coin-
.Ariiiadas. Somente o policial C o bornheiro militar figurarn como agente d
bust/tel, armwnento, inuniçäo, peças de equipwrlento de ,'iavio
delito,respondendo, ohviamentc. na Justiça Militar estadual. No caso de cix' II
oct de aeronave act de engenho de guerra inotomecanizado: ou do integrante das Forças Armadas, o crime é cornurn.
f'ena - reclusão, ate três (iflOS, se 0 Jto iiao constitui cri-
me mats grave. 523
Macedo Soares, Cod. Pen. Mit, p. 251.
404 Direito Penal Militar 405
- CéUo Lobäo

Corn certa freqUência, ocorre desaparecimento de anna durante ativida- Consideraçöes Gerais - 1novaçio do Codigo Penal Militar de
de externa de militar das Forças Armadas e, principalmente, da Poilcia Militar. 1969, que retoma outras tentativa de ampliar, excessiva e inconstitucional-
Ha dificuldade em detern-iinai- se o fato decorreu de dolo, de culpa, por moti- mente, o conceito de crime militar. Pode-se admitir o crime de dano culposo
vos alheios a vontade do agente ou se no houve alienaçao ilIcita da anna. Em cometidc por militar, em determinado apareihamento ou engenho hélico, em
nosso entendimento, se não ha indIcios de desaparecirnento doloso, o in qué- navio on avião de guerra, em outros bens de valor considerável, como séria
rito deve permanecer arquivado em JuIzo, aguardando o transcurso do prazo advertência para redobrar o cuidado no manuseio dos referidos bens.
prescricional ou o aparecimento da anna, para, então, ficar comprovado a No entanto, definir como crime o dano culposo de bens em construção
verdadeiro motivo do desaparecimento. 0 arquivamento não impede o ressar- ou fabricação 6 absurdo. Porérn, o absurdo dos absurdos é levar as barras dos
cimento do dano. trihunais o civil, e mesmo o militar, pelo dano culposo decorrente de acidente
Corno ilustraçao, citamos o caso de militar absolvido pelo crime dc de trfinsito envolvendo viatura militar.
desaparecimento de anna, porquc, segundo a scntença absolutória, o fato de- 0 Superior Tribunal Militar pronunciou-se no sentido de que, no dano
correu de desgaste do coidre. Posterionncnte, a arma foi localizada ern poder culposo praticado por civil, a protcco penal limita-se, exclusivamentc, ao
de delinquente, que a adquirira do militar. Diante da sentença absolutória, não bern "que tern espccIlca destinaco militar 00, por extenSaO, a de uso cornum
foi possIvel responsabilizar penalmente o autor da venda ilIcita. o quc iio empregado eventualmentc em atividade iritrinsecamente rnilitar,"524 corn o
teria acontecido se o inquérito permanecesse arquivado, aguardando a locali- qua! nao Sc compatiliza a viatura militar na via pCibiica, ainda que transpor-
zaçao da anna. tando militar ou material de uso militar.
0 crime é subsidiário. Norma solnente é aplicavel se o fato no consti- Mais recentemente, a 26 Turma do Supremo Tribunal Federal, por rnaio-
tui crime niais grave, como furto, apropriaçao indábita, etc. na de votos, decidiu:
Elemento Subjetivo - A vontade conscicnte, oricntada no senhido
de fazer desaparecer, consumir, extraviar OS bens indicados no preccito legal, "Crime de dano culposo (art. 263 cc. 266 do CPM). Justiça Militar. A
vista da excepcionalidade e estreiteza do foro militar no julgamento de civis, a
tenclo conhecimento de que se trata de bens pertences a adrninistraçao militar crime de dano culposo - situado na hipótese por forca da colisão de navio
ou sob sua adrninistraçao. mercante corn contratorpedeiro - sO pode ser encarado rat/one personae,
Consurnação e Tentativa - Consuma-se o delito no mornento do tendo militar como agente, pois a regra do art. 163 do CP - aplicãvel aos ci-
desaparecimento, da consunção, do extravio, no todo ou em parte, dos bens vis em geral - sO concebe o dano doloso. Não ha como atribuir a civil, nessas
circunstânbias, modalidade por ventura mais abrarigente do que aquela que a
especificados. A tentativa é possIvcl, quando o delito deixa de consumar-se
legislacão que Ihe toca - a COdigo Penal - consagrou".525 Nesse mesmo sen-
por motivos alheios a vontade do agente. For exemplo, no mornento em que 0
tido, o RCr. n9 1.464, de 03.02.87, da 1Turrna, unânirne.
sujeito ativo vai transferir o cornbustIvel do depósito para seu vcIculo, a vál-
vula nio funciona ou 6 surpreendido e impedido de realizar o ato ilIcito. Concordamos corn a decisio da Corte Suprema. Alias, nosso entendi-
Legislação anterior - Art. 165 do CPA; art. 214 do CPM de 1944. mento é anterior a epoca ern que o Supremo considerava como crime militar o
dano culposo cometido pelo civil, servindo como exemplo acórdão proferido
CAPITLJLO VII no RCr n 1.456:
Dano Culposo Como exernplo de decisOes da Corte castrense, excluindo a civil da
condição de agente dessa espécic de delito, citamos o dano causado porveI-
516
Art. 266. Se o cl-line dos arts. 262, 263, 264 e 265 é culposo, cub que se chocou contra motocicleta e carninhonete, ambas do Ex6rcito; 0
ci peiia é c/c detençJo c/c seis 'neses a dais aizos; ott. se o dano ao portao da Base Naval de Salvador, praticado por civil dirigindo vef-
agente é oficial...uSpen SOO (/0 cxc rcicio do po.rto c/c ziin a lies CLIlo em velocidade cxcessiva. 2 '
ones, on reforma; se resulta les7o corporal on i;tore, aplica-se
também a peiia coininacla 00 crime culposo contra a pessoa. 526
HC n5 31.442, do STM. Ac. de 24.09.75.
podendo aiiida, se 0 agente é oficial, ser imposta a peiia de HO n5 67.579-RJ.
620
flec. Crini. no 4.947, Ac. de 16.05.75.
ref bmw. 52
/ Rec. Crim. n2 3.861, DJ de 21.06.61, p. 372 do Apenso.
406 Cello Lobão Direito Penal Militar 407

Em sentido diverso, os seguintes acórdãos do niesmo Tribunal: 0 Art. 263 c.c. o Art. 266 - Trata-se do delito culposo de perda,
destruiçao, inutilização, encaihe, colisao, avaria ou alagamento de navio dc
"Jeep-Willys pertencente ao Exército constitui material ou aparelha- guerra ou mercante em serviço militar.
menlo de guerra de utilidade militar. E o dano culposo riele ocasionado coni i- Tranquilizando-se se a jurisprudência no sentido do decidido no HC n
gura a hipótese do art. 262 do CPM".528
Dano culposo - Incide nas penas do art. 262, combinado como art. 266, o 67.579, o civil nao ingressa como sujeito ativo na espécie do delito culposo
soldado que dirige, imprudentemente, uma viatura militar de transporte (cami- ora comentado, excluindo, dessa fornla, o paisano encarregado de guiar o na-
nhao), causando-Ihe danos materiais"529 vio de guerra ou mercante em serviço militar, na entrada do porto ou em local
em que cxige aptidao especial. Da mesma forma, ocornandante do navio mer-
Por oportuno, alguns juIzes da prirneira instância da Justiça Militar fe- cante legalmente requisitado para o servico das Forças Armadas.
deral, nos anos 70 e 80. trmarani jurisprudência. acertadarnente. no sentido de Portanto, sornente o militar responde penaimente peia perda, destrui-
que acidente de trinsito envolvendo viatura civil e militar não atendia a tipici- ção, inutilizaçao. encalhe, colisão, avaria ou alagantento culposo de navio
dade do art. 262, c.c. o art. 266. resolvendo-se no âmhito da responsabilidade de guerra ou mercante. A categoria do militar a indiferente na tipificacäo do
civil e, no caso de militar. tarnbrn disciplinarmenic. delito. desde o comandante ate o marinheiro que venha a ser incumbido de
633. 0 Art. 262 c.c. o Art. 266 - C) art. 262, combinado corn o art. 266. fechar urna valvu lit.
clege como crime o dano culposo dc material ou aparelharneiito de guerra ou 0 Art. 264 c.c. o Art. 266 - Os incisos I C II contemplani a moda-
de utilidade militar, cm uso ou em construcao ou fahncaçao. on recoihidos a lidade culposa do delito de dano contra OS bens extcnsamente relacionadus.
deposito. todos pertencefltes ao patrimônio das Forças Armadas on sob suit admi ii is-
Confornle ficou duo, não se incluern na protecao penal os bens acima traçao.
0 centro industrial, a scrviço de construçao ou fahricação militar cleve
refericlos, em construçao ou fahricacao em empresa privada ou pCIblica civil.
mesmo que se destinem as instituiçoes militares .A lei penal militar nao tutcia encontrar-se sob administraçiio militar, e o agente deve ter conhecimento de
que se trata de bens sob essa adntinistração. A lei penal castrcnse iiao tutela
bens privados c nern de entidade publica civil. Por Outro lado, no caso de apa-
bens privados on piIhlicos civis, ainda que se destinent especificamente as
reihamento de guerra (p. cx., aviiio de combate on treirlamento militar) fabri-
Forças Armadas.
cado em empresa militar, a situaçio d diferente, por se tratar de bern sob ad-
0 Art. 265 c.c. o Art. 266 - A cornhinação dos dois dispositivos
ministracao militar. corn a ressalva da cxclusao do civil, em conformidade
citados prevêern o desaparecimento, a consunção, o extravio culposo de corn-
corn o HC n 67.579, citado.
hustIvel, armamento, muniçio, pecas de equipamento de navio, aeronave ou
Corno apareiharnento de utilidade castrense, não se inclui a viatura usa-
de engenho de guerra motomecanizado.
da em transporic na via pdblica, exposta a acidente peculiarcs do desordenado Na espCcie, os fato descritos na norma penal resultarn de imprudência.
crescimento das cidades brasileiras, corn ndrnero excessivo de velculos trafe- negligência ou imperIcia do sujeito ativo, que, segundo Fragoso, "constituein
gando no caótico trflnsito das grandes rnetrópoles. formulas gerais de inobservncia do cuidado exigIvel, que a lei n5o define". 6 '0
Corn rnuita propriedade, assinala o acórdao proferido no mencionado For exemplo, o encarregado da homba de abastecimento de comhustIvel que.
HC nu 31.442: por negiigência ("desatenção, desleixo, descuido"), por impericia ("falta de
aptidao técnica") ou por irnprudência ("falta de cautela, de precaução"), deixa
"A norma penal em exarne [art. 262,c.c. o art. 266] comporta interpreta- a vãlvula ahcrta, resultando no vazamento do comhustIvel. A lei não exige do
çäo restritiva. 0 pensamento da lei näo autoriza que se atribua a sua letra
lodo o sentido que ala poderia ter. Cumpre, pois, ao intérprete, reslringir 0 al- militar a condiço de responsavel pelos bens citados.
cance da locuçao a fim de evitar soluçOes injustas e ate mesrno contrérias aos Resultado Lesão Corporal ou Morte - Nos termos do art. 266.
inleresses da Administraçao militar". nos crimes culposos defirtidos nos arts. 262, 263, 264 e 265, se resulta lesito
corporal ou morte culposa, aplica-se. tambérn, a sançibo corninada ao crime
525
Rec. Crim. n5 5.486, Ac. de 20.11.81.
Ap. n5 41.184, DJde 19.04.77, p. 2407, do STM. ° Heleno Fragoso, Licoes, Parte Geral, p. 228.

I
408 Cello Lobão Direito Penal Militar 409

culposo contra a pessoa, podendo, ainda, ser imposta a pena de reforma ao militar ou que se encontrem legalmente sob a administração castrense. Qual-
agente oficial. quer disposicao em contrário é flagrantemente inconstitucional.
No resultado lesão corporal ou morte culposa, o crime será militar se Entre os crimes de perigo, comentaremos somente o crime de arremesso
atendidos os requisitos das alIneas dos incisos II e ifi do art. 92, como vem de projetil contra velculo militar.
exposto nos comentários ao art. 263, aos quais nos reportamos, excluindo-se o
civil, que no figura como sujeito ativo do dano culposo. CAPIT&JLO IX
Arremesso de Projétil
CAP±TULO VIII
Crimes de Perigo Art. 286. Arreniessar projétii contra veIculo militar, em
movimento, deslinado a transporte por terra, por água ou
638. Consideraçöes Gerais - Reportamo-nos ao que ficou dito acirna, pelo ar.
ao tratarmos do crime de dano, no que diz respeito a inconstitucional amplia- Pena - detenção, ate seis nieses.
çäo do conceito de crime militar. E verdade que os crimes de perigo comum Parágrafo imnico. Se do fa to resulta lesão corporal, a pena
referern se a local sob administracao militar, corn excecâo dos arts. 275 e 276, é de detençao, de seis meses a dois an as; se resulta morle, a
oncle o crime pode ser cometido em lugar que no se encontre sob essa admi- pena é do /wmicídio cuiposo, aumentada de urn terço.
nistraçiio. Os arts. 279 e 280 invadem o âmbito de Iegislacao especial relativa
ao trânsito de velculo em via piihlica. Consideraçöes Gerais - No capItulo dos crimes contra os meios
0 art. 275 contempla o crime de subtrair, ocultar ou inutilizar equipa- de transporte e de comunicacão, seguindo a orientação do Codigo Penal, a lei
mentos destinados "a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento; repressiva castrense contempla 0 arrCrneSS() de projétil contra veIculo militar.
ou impedir ou dificultar servico de tal natureza", scm especificar se se trata de Não era previsto no Codigo Penal Militar anterior
bern ou local sob administração militar. 0 art. 276 refere-a expor a perigo bens Crime Militar - Os dispositivo legais classificaiOrios do delito
em construçäo ou fabricação, destinados as Forças Aimadas, em estabeleci- militar relacionam-se corn o sujeilo ativo. Agente militar: inciso I, I parte, do
mento de propriedade privada. 0 crime não d militar, conforme demonstranios art. 92 (crime definido de modo divcrso na lei penal comum). Agente civil:
ao tratarmos do dano em bens nessas mesmas condicoes. 92
inciso III, a, P parte, c.c. o inciso 1. P parte, do art. (crime definido de
Ha, ainda, o crime de produzir inundaçâo, difusäo de doenca, de praga modo diverso na lei penal comum, contra o patrimônio sob administraçäo
vegetal e outros quejandos, sem especificacão, na lei, do local do crime ou da militar). Crime impropriamente militar.
propriedade ou administraco desses bens Por não se tratar de matéria de Di- Objetividade Jurdica - Adotando o ensinamento de Fragoso, o
reito Penal Militar, dispensamo-nos de comentar. objeto da tutela penal a seguranca dos transportes militares contra o perigo
Nos delitos acima mencionados e outros definidos no Codigo Penal resultante do arreinesso de proj6til.53 '
Militar, corn definiçio idêntica ou näo na lei penal comum, conforme já assi-
Sujeitos do Delito - Sujeito ativo, o militar ou o civil. Sujeito pas-
nalamos, o mais importante para classificá-los como militar é a incidência dos
sivo, as instituiçöes mulitares.
requisitos expressos no art. 92 Scm des, apesar de interpretaçOes apressadas,
Elementos Ohjetivos - A conduta incriminada d arrernessar, Ian-
o crime não é militar.
car projétil contra veIculo militar era movimcnto, destinado ao transporte ter-
Portanto, a afinnativa de que o "objeto jurIdico", nos crimes dos arts. restre, aéreo, maritirno. fluvial ou lacustre. Ao mencionar veIculo militar, a let
262 e 266, e o "patrimonio, seja bern pdblico ou particular (pertencente ou no
alcança aquele pertencente ao patrimônio militar c o que se encontra legal-
as Forcas Armadas)", n5o se ajusta a legislacäo brasileira. Corn efeito, bern
niente sob admini stração castrense.
particular ou piiblico civil nao atende a qualquer dos requisitos dos incisos 11 e
III do art. 92 e nem do inciso I, porque, como já afirmamos reiteradas vezes, a
lei penal militar tutela, tinica e exciusivamente, bens pertencentes ao patrirnônio ' Heleno Fragoso, Liçoes, Pane Especial, v.3, p. 193.
410 Cétio Lobão Direito Penal Militar _____ 411

arremesso realiza-se por qualqucr meio, corn as mãos, por interrnédio Na forma como se encontra redigido o artigo, tanto a lesão corporal
de instrurnento, inclusive o de uso militar, como a bazuca, o lançador de fo- quanto a morte são culposas. Se ambas forem dolosas, o que não se pode cx-
guete, etc. cluir, a pena do crime de arremesso de projétil aplica-se em concurso corn a do
Comentando o art. 264 do Codigo Penal, que se aplica ao preceito ora crime contra a pessoa.
estudado, ensina Fragoso que o vocábulo projétil está empregado "em sentido 0 crime contra a pessoa, mesmo qualificando o arremesso de projétil.
amp}o, significando qualquer objeto sdlido e pesado que se move no espaço, não prescinde dos requisitos classificatórios do crime militar. Agente c ofen-
abandoriado a si próprio, depois de receber impuls0,532 como pedra, harra de dido militares: crime militar (inc. H, a). Agente militar e ofendido civil: crime
feno, pedaço de pau, projétil de fogo, foguete, etc." militar, se o sujeito ativo estiver em serviço ou o local do crime sob adminis-
Adverte o ilustre penalista que no ha necessidade de o projetil atingir 0 traçAo militar (inc. II, h ou c). Agente civil e ofendido militar: crime militar, se
velculo, sendo suficiente que seja lançado em condiçoes de alcançar o alvo 0 militar estivcr em servico de natureza militar ou local do crime sob adminis-
prctcndido pelo agente e capaz de causa dano as pessoas ou as coisas.533 tração militar. o que inclui o veIculo militar (inc. III, b e d). Agente e ofendido
objeto da proteçao penal é o vcIculo militar em movimento, não sen- civis: crime cornum, (ualquer que seja a circunstiIiicia em que foi cometido o
do exigido que pessoas ou hens estejam em seu interior. Portanto, não exclui o delito.
aparciho guiado por controle remoto. Encontrando-se o veIculo parado, no Legislacão Anterior - Não ha previsão em diploma penal militar
momento do arremesso, não se configura o delito do art. 286, podendo oconer anterior.
crime de dano (art. 262), ou tentativa de dano, corn sanção bern mais grave,
em qualqucr das duas hipdtcses.
Ingressa an descrição tIpica a destinação da viatura, qual seja, a de
transporte terrestre, maritimo, fluvial, lacustre e aéreo, de PCSSOS ou bens. A
especificação, evidenternente. exclui engenho de guerra, terrestre, marItirno.
fluvial, lacustre que não se ajuste ao conceito de velculo militar de transporte.
A pena corninada para o crime é de trinta dias (art. 58) a seis meses de
detenção.
Elemento Subjetivo - 0 elernento subjetivo é a vontade consciente
orientada no sentido de arremessar projdtil contra veIculo militar, tendo claro
para si de que se trata de velculo das Forças Armadas (agente militar federal
ou civil) OU de corporação militar estadual (agente militar estadual).
Consumação e Tentativa - Consuma-se o delito no momento do
arremesso do projétil, independentemente de o veIculo ter sido ou não atingi-
do. A tentativa, como afirma Fragoso, "ó inadmissIvel, pois se trata de crime
que é praticado corn urn so ato (unissubsistente). Antes do arremesso, ha ape-
nas atos preparatdrios. Após, jS se COflSUflOU o de1ito". 34
Forma Qualiticada - Nos termos do parágrafo i.Inico do artigo, a
pena comninada é de scis nieses a dois anos de detenção, se resuitar lesao cor-
poral. Sc resultar morte, a pena é a do homicIdio culposo, aumentada de urn
terço.

Heleno Fragoso, Liçoes, Parte Especial, v. 3, p. 193. 1


Heleno Fragoso, Liçöes. Parte Especial, v. 3, p. 194. 711,

Heleno Fragoso, Liçös, Parte Especial, v. 3, p. 194.


APENDICE

ATOS PRIVATIVOS DO JUJZ-AUDITOR


NO PROCESSO PENAL

INTRO DUcAO

As atribuiçöes do Juiz-Auditor no processo penal militar assemelha-se


as do Relator, nos processos penais da competência originária dos Tribunais,
embora corn malor amplitude na realizaçao de atos pré-processuais e proces-
suais, como autoriza o § 52 do art. 390 do CPPM:

"Salvo o interrogatório do acusado, a acareacão nos termos do art. 365


e a inquiricao de testemunhas, na sede da Auditoria, todos os demais atos da
iristrução criminal poderão ser procedidos perante o Juiz-Auditor, corn cièricia
do advogado, ou curador, do acusado e do representante do Miriistério Pübh-
co" (A denominaçäo Juiz-Auditor obedece ao disposto no art. 123, paragrafo
ünico, II, da Constituicao).

A norma processual supratranscrita tern como fundamento o interesse


do Estado em dar major celeridade a prestacão jurisdicional, dotando o drgâo
judiciário de condiçöes necessárias para prosseguir "no caminho em direço
ao fim", mesmo quando houver dificuldade ou demora em reunir o Conselho,
considerando, ainda, a especializacão do juiz togado, que o capacita para de-
cidir questöes que exigem conhecimentos jurIdicos, como acontece corn as
medidas assecuratórias que recaem sobre coisas, corn o despacho saneador,
além de outras.
0 Juiz-Auditor pode, singularmente, praticar todos os atos de instruço
criminal, inclusive o interrogatório, a acareaçao e a inquiricao de testemunhas,
se realizados, os três ültimos, fora da sede da Auditoia. Essa compctência
bern como a de realizar demais atos de impulsão e instrução processual, a de
compor o órgäo de instrucão e julgamento, decorre de sua condiçao de titular
do JuIzo e de relator de todos os feitos, como vem expresso no art. 30, VII, da
Lei de Organizaco Judicithia Militar (Lei n2 8.457/92).
415
414 Célio Lobào Direito Penal Militar

decidir os incidentes ocorridos no curso do inqudrito, inclusive so-


0 Juiz-Auditor, tanto quanto o Conseiho, tern os seguintes poderes proces-
suais: poder de instruçäo (ex., art. 331 do CPPM e diligências autorizadas pelo bre requisicäo de docurnentos (art. 23, § l, do CPPM).
art. 430 do CPPM); poder de disciplina (ex., art. 385, in fine, art. 303. 2 parte, devolver o inquérito por solicitaçãO do encarregado ou para cumprir
c.c. 0 art. 3(X), § 2, tudo do CPPM); poder de irnpulsAo (ex., art. 390, § 4, 2 diligênciaS requeridas polo Ministério Phlico ou determinadas de ofIcio,
parte, do CPPM). marcando data para restituicão dos autos (art. 26 do CPPM e art. 30, I, da
Quanto ao poder decisório, o Juiz-Auditor tern legitirnidade para profe- I.flJM).
rir decisöes em procedimentos cautelares que recaern sobre a coisa (arts. 199 a decidir sobre pedido de arquivamentO e de desarquivamentO de in-
219 do CPPM), dccretar prisäo preventiva ou conceder liberdade provisória. quCrito, rernetendo-o 00 Procurador-Geral, caso não concorde corn o arquiva-
durante o inqu&ito ou na fase processual. se houver impossibilidade de reunir mento (arts. 25 e 397 do CPM e art. 30 da LOJM).
Conse]ho corn a brevidade requerida pela urgência do medida, proferir deci- decidir sobre pedido de vista do representante de ofendido se a ação
söes relacjonadas corn a ocorrência ou não de prescriçao, coisa julgada. in- prazo legal (art. 5, LIX, da Constituicão c
penal piThlica não for intentada n
competêricia da Justiça Militar, etc., ate o momento anterior ao recehimento do art. 30 do Codigo de Processo Penal, c.c. o art. 3, a. do CPPM).
denthcia. Quanto a execucao de sentenca. a cornpctência C exciusivarnente do
presidir a tomada por termo do notitia cri,ninis do autoria de qua!-
Juiz-Auditor.
quer do povo (art. 33. § l, do CPPM).
Juiz de Direito na titularidade da Auditoria Militar. corno acontece
em aiguns Esados da Fedcraçao, tern atribuiçOes mais arnplas, decorrcntes da
l.ci de Organizaçao Judiciaria do Estado c pela condiçao de Juiz do [)ireito. DA AçAo PENAL
cuja competência nLio pode ser mais restrita do que a dos titulares das de-
inais Varas Criminais. Corno exemplo dessa amplitude, apesar do clisposto Na fase da propositura da açiio penal, compete ao Juiz-Auditor.. singu-
no art. 469 do CPPM, a ilustre JuIza de Direito. na titulariedade da Audito- Ia rm e n I e
na Militar do Maranhäo. conheceu (IC habeas co/-pus em favor do soldado
decidir sobre 0 recehirnentO da dendlncia ou da queixa e mandar os
cia PolIcia Militar, tendo o Superior Tribunal de Justiça mantido a decisão autos corn vista ao MinistCrio Ph1ico. caso profira decisão, recchencio a quci-
do prirneira instiincia. Nào ternos notIcia de deciso dessa naturcza no am- xa (art. 29 do Código de Processo Penal, c.c. o art. 3, a. do CPPM).
bito da Justica Militar federal.
S. devolver os autos ao Ministério Pcjhlico para que este preencha os
Em flOSSO entendimento, o Juiz-Auditor da Justica Militar federal on
requisitos da denüncia ou ao ofendido, para que sejam atendidos os requisitos
estadual tern competência para conhecer de habeas corpus impetrado contra
da queixa (art. 78, § 1, do CPPM cart. 30, 1, da LOJM).
coação ou ameaca de coacão de autoridade militar atC o posto de coronel ou de
prorr()gar o prazo para oferecimentO da dentincia ao MinistCrio Pi-
capito de mar-e-guerra.
Finairnente, ha Unidades Federativas, como o Maranhão, Distrito Fede- blico (art. 79, § l, do CPPM).
ral, Rondônia, em que a lei de organizaço judiciária defere a Presidência do representar ao Procurador-Geral, no caso do o Procurador Militar
Conseiho ao Juiz togado. Nesses casos, ao mencionarmos Presidente do Con- näo oferecer dcrnThcia no prazo legal e se não houver sido proposta ação penal
seiho, neste trabaiho, estarnos nos referindo, obviarnente, ao Juiz togado que privada (arts. 23, § l, in fine, e 81 do CPPM).
preside o Con seiho. declarar extinta a pretensäo punitiva, antes da propositura da ação
A disposicio da rnatCria, objeto deste apêndice, obedece a seqüência penal (arts. 23. § l, e 81 do CPPM).
dos artigos do Código do Processo Penal Militan utilizando as mesmas deno-
rninaçöes dos CapItulos.
DO Juiz, AUXILIARES E PARTES
Do INQUERITO P0LIcIAL MILITAR
proCr a regularidade do proccsso, inclusive quaflto juntada o de-
sentranhanientO de docunientOS, tnantendo a ordern durante a roalizaçño dos
Durarne a fase pré-processual compete ao Juiz Auditor, singulannente:
I. procedcr a distribuiçao de inquCritos entre as Auditorias da rnesma atos de sua conipotencia e do Conseiho, poclendo requisitar força militar federal
e 385 do CPPM).
Circunscriçao Judiciária (art. 11, §§ 3 e 4, da LOJIvI). ou estadual, conforrne 0 caso (arts. 36, ca/mt.
416 Célio Lobào Direito Penal Militar

determinar ao oficial de justica a realizacao de diligencias, Ciii DA COMPETENCIA


cumprimento as suas determinacoes e decisöes do Conselho (art. 44 do
CPPM). decidir sobre separacão de processos ao receber a dendncia no mo
designar substituto de scrventuário da justiça impedido e, na falia, mento de proferir despacho saneador ou durante e instrucão, se não for reque
nomear substituto ad hoc (art. 45 do CPPM). rida na sessão do Conselho (arts. 102, 105, 106 e 430 do CPPM).
nomear peritos ou interpretes c tomar-ihes 0 compromisso, mesiiio avocar o processo, quando suajurisdicão for preva1ente e declarar a
durante a instrução criminal (arts. 47 e 48 do CPPM e art. 30, V, da LOJM). incompetência do JuIzo ou da Justiça Militar, ate o mornento do recebimeuto
formular quesitos a fim de serem respondidos pelos peritos, mdc- da deniincia (arts. 107, 108, 146 e 78, § 3. do CPPM).
pendente daqueles apresentados pelos juizes militares (arts. 48, parágrafo solicitar o desaforamento do processo ao Superior Tribunal Miiilai,
énico, e 316 do CPPM). ao proferir despacho de recebimento de dendncia (art. 109 do CPPM).
decidir sobre pedido de dispensa formulado por perito ou intérprctc suscitar conflito de competCflCia, antes do recehimento da dentlucia
(art. 49 do CPPM). ou em qualquer fase do processo, quando decorrente de sua suspeiçibo ou de
aplicar multa em perito ou intérprete ou determinar sua apresentac'io 105, d, in /ine, da
seu impedimento (arts. 114 c 132, in fine, do CPPM, e art.
na Auditoria, no caso do no comparecimento (arts. 50 c 51 do CPPM).
19 admitir, OUVid() C) Ministério PiThlico, assistente de acusaçao, Constit u içiio).
cassar a adrnisso, admitir outro e decidir sobre a prc1crnca do reprcscntantc
DAs QuESTOES PRE)UDICIAIS
lesal ou de succssor (arts. 60 a 62, 67 c 68 do CPPM).
decidir sobre pedido de produco de provas. formulado pelo assis-
decidir sobre suspensibo do processo, jnarcando prazo da suspensibo
tente de acusação (art. 65, § 1, do CPPM).
presidir a lavratura de termo de identificacao do acusado. inclusive oii prorrogando-o, se a questaO prejudicial estiver sendo apreciada no JUIZ()
durante a sessão do Conselho (art. 70 do CPPM). CIvel (art. 124 do CPPM).
nomear defensor para o acusado e curador para o incapaz. .1 corn- decidir sobre qucstibo prejudicial arguida antes da apresenlacibo do
petência é do Presidente do Conseiho, se a nomeação é feita durante a sessao processo ao Conselho (art. 125, a, do CPPM).
dirigir-se ao Ministério Püblico para as providências cahIveis, rela-
do Conselho (arts. 71, caput, e § l, do CPPM).
admitir o acusado como seu prOprio defensor, nomeando Defensor tivamente a ação civel (art. 126 do CPPM).
P,.iblico para assisti-lo. Se o pedido de admissão ocorrer durante a sessAo, a
competCncia é do Presidente do Conselho (art. 71, § 3, do CPPM). DOS INCIDENTES
deferir pedido de dispensa do advogado constituido ou designado.
Se o pedido ocorrer durante a scssão, compete ao Presidente do Conselho (art. Compete ao Juiz-Auditor, singularmente:
71, § 6. do CPPM). declarar-se suspeito ou impedido, cornunicando sigilosamente ao
comunicar a OAB ou ao Defensor-Geral, respectivamente, o ahan- Corregedor, se os motivos forcm de natureza Intima (arts. 130, 132, 37 e 38 do
dono do processo pelo Defensor Pi.iblico constituIdo ou pelo defensor pdhlico CPPM).
(art. 71, § 7, do CPPM). decidir sobre arguicibO de sua prdpria suspcicibo ou impedirnento
rcquisitar a autoridade cornpctcnte a aprcsentacao do acusado miii- fonnulada pelas panes (arts. 131 a 133. 37 e 38 (10 CPPM).
tar (art. 23 do CPPM). decidir sobre a relevibncia da argUiço de sua propna suspeicac' ou
3C do CPPNI).
designar defensor, em suhstituição ao advogado coristituIdo ou dali- impedunento ou de Juiz militar (arts. 133, ciput, § 2 e
vo, faltoso. ao acusado que não o tenha. se a dcsignaçao nao ocorrer na SCSSãO do decidir sobre a suspeiciio on impedirriento alega(Io por perito. lOtCi-
Conselho (arts. 74 e 4.331. § V. in/The. (10 CPPM). prete ou servidor da .Iustica Militar (arts. 137, 53 e 46 do CPPM).
designar substituto do Diretor de Secretaria, para realizar ato es- decidir sobre a irnpugnaçibo de peritos c a argüico de suspcicib
pecIfico em que seja a indispensável a presença desse servidor (art. 45 do de Procurador Militar, perito, inRrprete ou ServeI)tllani() da Justiça lviii itar
CPPM). (arts. 138 a 140, 59, 53 e 46 do CPPM).
418 CëlioLobão Direito Penal Militar 419

declarar suspeito ou impedido, Procurador Militar, perito, inter- decidir sobre falsidade de docutnento que ihe foi encarninhado através
prete e serventuário da Justiça, independeniemente de provocação das par- de carta precatdria, pelo Juiz-Auditor do processo principal (art. 167, c.c. o
tes (arts. 141, 59, 53 e 46 do CPPM). art. 163 do CPPM).
decidir sobre realização de perIcia neuro-psiquiátrica, durante o in- determinar scja sustado o processo ate a decisâo proferida nos autos
quCrito ou em qualquer fase do processo, salvo se requerida ao Conseiho, du- de incidente de falsidade documental (art. 168 do CPPM).
rante a sesso de instruça() ou de julgamento (arts. 156, 390, § 52, e art. 8, d,
do CPPM, e art. 30, V, da LOJM). DAS MEDIDAS PREVENTIVAS E AssEcURATÔRIAS
decidir sobre a exceção de coisa julgada, ate a aprcsentaço do pro-
cesso ao Conseiho (arts. 153 e 154 do CPPM). Compete ao Juiz-Auditor, singularmente:
determinar intenlainento do acusado em manicCmio judicirio ou determinar busca c apreensão, de ofIcio ou atendcndo representacäo
outro estahe]ecimento equivalente, para efeito de pericia, mesmo quando a do encarregado do inquCrito ou requerida do Procurador Militar, pelo indicia-
dccisão cmanar do Consclho (art. 157 do CPPM e art. 30, IX. da LOJM). do, pelo acusado ou pelo ofendido, durante o inquérito ou em qualquer fase do
prorrogar 0 prazo para concIuso de laudo pedcial e autorizar a en- processo, des(le que o requcriineflt() não tenha sido formulado durante a sessao
trega dos autos aos peritos (art. 57. §§ 12 c 2, do CPPM). do Coriselho (arts 170. 176 c 180 do CPPM e art. 30. IX. da LOJM).
determinar a rcalizaço de ato processual urgente e sustar o anda- expedir niandado de busca em decorrência de sua prOpria decisiio
Inento do processo, no caso de pericia (art. 158 do CPPM). ou do Conseiho (arts. 177 e 184 do CPPM e art. 30, IX. da LOJM)
nomear curador ao inimputávei, quando o ato näo se realizar pe- 6(). decidir sobre a restiruição de bern apreendido (arts. 190 a 193 do
rarite o Conseiho (art. 160 do CPPM). CPPM).
detcrrninar a suspensão do inquérito e do processo, no caso de doença reuncter ao JuIzo CIvel o pedido de restituiçao, quando a matdria for
mental posterior ao crime (art. 161 do CPPM). de alta indagacao (arts. 192. paragrafo tiiiico. e 193, § I, do CPPM).
expedir mandado de internação do indiciado OU acusado. em mani- nomear deposiuirio para a guarda de bern apreendido, mesmo quan-
cCniio judicizirio OU oufto estabelecirnento equivalente (art. 161, § l. do do a aprccnsão tenha sido determinada pelo Consciho (art. 193, § 2. do
CPPM e art. 30, IX, do LOJM). CPPM).
determinar a avaliação e vcnda em lei15o pdhlico de coisa facul-
determinar o prosseguimnento do inquCrito ou do processo, após o
restabelecjmento do acusado (161, § 2, do CPPM). mente deteriorável, ordenando o depOsito da quantia apurada em estabeleci-
mento oficial de crCdito (art. 195 do CPPM).
determinar a instauraçio de autos apartados c seu apensamento
decidir sobre o destino do bern apreendido, após o trânsito em jiti-
(art. 162 do CPPM).
gado da sentença condenatória ou absolutória (arts. 196 e 197 do CPPM).
decidir sobre a relevância da argUiçâo de falsidade documental C. se
determinar a venda em leililo dos hens apreendidos e nao reclaina-
for o caso, determinar a autuaçio em autos apartados. procedendo a instruçäo
dos, depositando o valor apurado a disposição do juiz de ausentes (art. 198 do
do incidente a firn de subrnetê-lo ao Conseiho (art. 163 do CPPM).
CPPM).
prcsidir a lavratura do termo de argüiço de falsidade documental. decretar, durante o inqudrito ou em qualquer fase do processo. de
dcsde quc nâo tenha sido formulada durante a sesso do Conseiho, determi- ofIcio ou a requerimento do Ministério Pi.lhlico, a secluestro de hens aclquiri-
nando, se for o caso, a autuaçio em apartado. procedendo a instruço a fim de § S. do CPPM).
dos coin OS proveitos da intracao penal (arts. 199. 201 c 309,
suhmctê-]a ao Conseiho (art. 164. c.c. o art. 163, capiil e almeas a a c:. do ruomear dcpositmirio de hem rndvel e determinar a inscricao do se-
CPPM).
qilestro de iindvel, no respectivo registro (art. 202 do CPPM).
determinar de oiicio a instauraçao de incidente de falsidade (art. decidir sobre os ernharios do indiciado. do acusado on de terceiroc.
166, c.c. o art. 163 do CPPM). encaniinhando-os ao JuIzo CIvel. se entencler qtue se trata de matdria de alfa
expedir prccatdria a Juiz-Auditor de outra Circunsci-içao para ins- indagaçâo (art. 203 do CPPM).
tauraçao de incidcnte de falsidade documental (art. 167 do CPPM). decidir sobre o levantaniento do seqüestro (art. 204 do CPPM).
421
420 Cello Lobão Direito Penal Militar

determinar de ofIcio ou a requerimento do Procurador Militar a presidir, se for o caso, a lavratura de auto de prisão em flagrante
avaliaçäo e a venda, em leiläo ptIblico, dos bens sequestrados, dando o destino contra quem se recusar a entregar a capturando ou apresentá-lo a autoridade
cabIvel a quantia apurada (art. 205 do CPPM). da polIciajudiciária militar (art. 232, paragrafo imnico, do CPPM).
decidir sobre o pedido de hipoteca legal de bens móveis do acusa- expedir mandado de prisäo, em curnprimento a precatória (art. 236 do
do, tenham ou nao sido arrestados preventivamente, e sobre os pedidos de CPPM).
especialização e inscrição da hipoteca (arts. 206 a 212 e 215, § 12, do CPPM). receber comunicacão sobre transferência de preso e, se for o caso,
arbitrar recursos retirados das rendas dos bens hipotecados, para torná-la sem efeito (arts. 238 e 261 do CPPM).
manutencao do acusado e de sua famflia (art. 213 do CPPM). tomar providências relacionadas corn o tratamento dispetisado ao
52, XLIX, da Constituicão).
decidir sobre o pedido de cancelamento da hipoteca legal (art. 214 preso (arts. 239, 241 e 261 do CPPM e art.
do CPPM). presidir auto de prisão em flagrante, determinar a soltura ou apre-
decretar de ofIcio ou a requerimento do Procurador Militar o arresto sentação do preso a autoridade judiciária civil competente, quer em decorrên-
de bens móveis e imóveis do acusado (art. 215 do CPPM). cia do auto de prisao em flagrante que prcsidiu, quer ao receber auto de priSa()
revogar o arresto, se riäo for requerida a especializacäo c a inscricio em flagrante Iavrado perante autoridade da polIcia judiciária militar (arts. 245,
da hipoteca (art. 215, § l, do CPPM). 247, § 227 249 e 251 do CPPM e art. 30, II, da LOJIvI).
determinar a avaliacao e venda em leilão de bens deterioráveis, de- anular auto de prisão em flagrante. se possIvel corn audiência prévia
positando o valor apurado ein estabelecimento de créclito oficial (art. 218 do do Ministéria Püblico (arts. 248 e 247, § 22, do CPPM, e art. 30, 111, da
CPPM). LOJM).
decidir sobre embargos do indiciado. do acusado e de terceiro, receber auto de prisão em flagrante, ficando a preso a sua disposi-
opostos contra o arresto de bern rnóvel ou encaminhar os embargos ao JuIzo cao (art. 251 do CPPM).
CIvel. caso entenda que se trata de matéria de alta indagaçao (art. 219, caput e devolver auto de prisAo em flagrante para diligéncias necessrias ao
parágrafo i.inico, c.c. a art. 203 do CPPM). esciarecimentO do fato, a requerimento do MinistCrio Püblico ou par sua pro-
decidir sobre a levantamento do arresto (art. 219, c.c. a art. 204 do pria decisao (art. 252 do CPPM).
CPPM). conceder liberdade pravisória, rncdiante tcrrno de comparecimento,
determinar de ofIcio OU a requerimento do Ministério PhIico, a ou revogar esse benefIcio antes da prirneira apresentaco do POCCSS() ao Con-
avaliaçäo e a venda em leilão piihlico, dos bens sequestrados, dando o destino selho OU durante a instrução, quando houver dernora em reunir a colegiado
cabIvel a quantia apurada (art. 219, parágrafo i.mnico, c.c. o art. 205 do CPPM). (art. 253 do CPPM).
decretar priso preventiva ou revogá-la antes da primeira apresenta-
DA PRIsA0 E DA LIBERDADE PRovIsORIA ço do processo ao Conseiho ou quando houver demora em reunir a colegiado
(arts. 82, d, 18, parnigmifo Cnico, 254 a 259 e 262 do CPPM e art. 30, m,
da
Compete ao Juiz-Auditor, singularmente: LOJM).
receber comunicacão da prisão de militar, no caso de crime pro- proferir deciso relacionada cam a indiciado ou acusado preso
priamcnte militar, concedendo liberdade. se a prisão for rnanifestamente ilegal (art. 261, c.c. os arts. 238 a 241 e 242, caput, alIneas d,f a h,j e parágrafo
(arts. 222, 224 e 18 do CPPM. art. 5, LXI, da Constiwicio e art. 30, II e III. dnico, do CPPM).
da LOJM). presidir a Iavratura do termo de coniparecirnento espontLineo do in-
determinar cxpcdiçio de mandado de prisio, em cumprimento de diciado ou do acusado. quando a apresemacão deste filtimo não se fizer p-
sua propria decisäo ou do Conselho, ou mnandar inlimar o preso da dccisão (1me rante a Conselbo (art. 262 do CPPM).
decre(ou a prisão preventiva (arts. 225 e 260 do CPPM). conceder inen.gem ou revogá-la ate a despacho de recehimento do
determinar a expedição de prccatória ou rogatoria para cumprimento deniincia (arts. 263. 265 c 18, pargrafo minico, do CPPM).
de decisäo sua ou do Conseiho, que decretou pristo preventiva (arts. 228 c 229 determinar a cassação da menagem, corn hberacño clas obrigaçoes
do CPPM). dela decorrentes, ate a momenta em que os autos foremn apresentaclos ao Con-
422 CêIio Lobão Direito Penal Militar 423

sciho pela primeira vez ou durante a instruçao. quando houver demora em formular perguntas aos que prestarem depoimento perante o Con-
reunir o Conseiho (arts. 266 e 267 do CPPM). seiho (art. 300, § 22, do CPPM).
conceder liberdade provisória ao preso ou revogá-la ate o rnomenio forrnular as perguntas propostas pelos dernais mernbros do Con-
em que os autos forem apresentados ao Conseiho, pela prirneira vez, ou du- seiho, rejeitando as que nao se referirem ao objeto do processo (arts. 300, § 22,
rante a iristrução, se houver demora em reunir o colcgiado (arts. 270 e 271 do in fine, e 306 do CPPM e art. 30, VII, da LOJM).
CPPM). designar dia e hora para qualificacäo e intcrrogatório do acusado
decidir sobre a dccretaçio de medida de segurança provisOria de in- (arts. 302 e 411, parágrafo ünico, do CPPM).
diciado OU acusado, de interdição provisória de estahelccimento cornercial QU suhrneter ao Conseiho e relatar as questöcs de ordem argOidas
industrial, revogi-1as ou niodific1-las (arts. 272 a 276 do CPPM). pclas partes (art. 303, parágrafo (inico. do CPPM e art. 30, VJI, da LOJM).
fazer a advertência prevista na lei processual, antes de interrogar
DA CITAcAO, INTIMAçA0 E DA NOTIFICAçAO o acusado (art. 305 do CPPM).
determinar que sejarn consignadas no respectivo tenno as per-
Compete ao J uiz-Auditor, singularinente: guntas que o acusado deixar de responder (art. 305, parágrafo iinico. do
determinar a citaço do réu, expedindo mandado. carla prccatOria CPPM).
ou rogatóna (arts. 277 a 279. 283 e 285 do CPPM). proccder ii quali1cacão e interrogatOri() do acusado. formulando-
determinar a citaçüo do réu por cditais (arts. 277. V. 285. § 3'. e Ilic as perguntas propostaS pelos JuIzes militares, desde que se refirani ao
286 do CPPM). objebo da causa, e toinar por termo sua coal issao (arts. 306 e 310 do CPPM
requisitar o réu militar para citaço na Auditoria (art. 280 do e art. 30. VII, da LOJM).
CPPM). determinar a cxpedição de niandado de conduço do ofendido
expedir mandado para cumprimento de precatOria citatOria ou (art. 311. parãgrafo iinico, do CPPM).
remelê-la ao juiL do local onde Sc encontra o citando (art. 284 do CPPM). proceder it inquiriçào do ofendido e formular as perguntas pro-
dispensar o acusado de coinpareccr i audiCncia, quando o pedido postas pelo Consetho, desde quc pertinentcs; decidir sobre requerimcnto das
no for formulado perante o Conselho (art. 288, § 4, do CPPM). partes para que o clepoente esclareça ou tome mais precisas suas declaraçoes,
receber comunicação da transferência do acusado oficial e, se e ouvi-lo sobre a contradita oposta a seu depoimento (arts. 3 1 2 e 313 do
for o caso, determinar sua agregação em unidade na sede do JuIzo Militar CPPM e art. 30, VII, da LOJM).
(art. 289 do CPPM). detcrrninar a rcalização de perIcias c exames, fixando prazo, pror-
rogando-o e requisitando a estabelecimento piIblico ou particular, perIcias,
Dos ATOS PROBATORIOS exames, durante o inquérito ou em qualquer fase do processo, por decisão sua
ou do Conseiho (arts. 315, 321, 325, 330, 344, 427, pargrafo (ico, 430 e 80,
Cahe ao Juiz-Auditor realizar, singularrnente, os seguintes abs de ins- in fine, do CPPM e art. 30, IV e V, da LOJM).
trução: forniular qucsitos e aprcsentar o processo ao Conseiho para que
determinar diligências durante o inquórito ou em qualquer fase este ofereça os seus, mandá-los coni vista as partes para 0 mesmo urn. rejei-
do processo, por iniciativa prdpria, por dccisão do Consclho ou por rcqueri- tando OS que nao Sc refirani ao obeto da perIcia, inclusive os dos JuIzes miii-
menbo das panes (arts. 296, 427. 26. 80, in jlne, do CPPM e art. 30. IV e V. da tares (art. 316 do CPPM e art. 30. VII. da LOJM).
LOJ NI). determinar us panes que espccitIquern OS quesitos gendcos. di-
nomear intérprebe, quando o acusado. 0 ofendido ou a testemunha vidam os coniplexos e esclareçam os duvidosos. indeferindo os que nao sejani
nao souhereni falar a Iin2ua nacional. ada nao Conseujreni expinhir-sc ou perIl nenies ao objeto da perIcia. os sugestivos, e aqueles que contenham liii-
leoham (1diicincia visual auditiva ou verbal (arts. 298. § F. e 299 do CPPM). ilIcita a resposta (art. 317. § l, do CPPM, e art. 30. VII. da I .OJN'l).
determinar a iradUq5o de docunientos escribos em lingua estran- determinar a aprescntacão de pessoas e coisas aos peribos (art. 320
geira (art. 298. § 2. do CPPM). do CPPM c art. 30, VII, da LOJM).
424 Cello Lobão Direito Penal Militar 425

nomear terceiro perito, mandar suprir formalidades, completar ou mandar retirar, na omissäo do Presidente, o acusado da sala de
esclarecer o laudo e designar dia e hora para que os peritos prestem esciareci- sessão, se sua presença influir no animo da testemunha (art. 358 do CPPM e
mentos, bern como determinar a realizacao de perIcia ou exame por outros art. 30, VII, da LOJM).
peritos (arts. 322, 323 e 325 do CPPM, e art. 30, VII, da LOJM). determinar a expedicao de precatória para inquiricäo de testemu-
comunicar as autoridades militares e civis a realização de pericia nha e ofendido, formulando quesitos que sero remetidos juntamente COIfl os
em estabelecimentos sob o comando das primeiras e direcao das segundas (art. do Conseiho e os das partes (art. 359 do CPPM),
327 do CPPM, e art. 30, VII, da LOJM). determinar o prosseguimento do feito, se a precatória näo for de-
determinar a realizacao de exame complementar de ofIcio ou a volvida no prazo estabelecido em lei ou naquele que fixar (art. 359, § 2, do
requerimento das partes (art. 331 do CPPM e art. 30, IV e V, da LOJM). CPPM).
determinar a realizacao de autopsia corn exumação de cadaver decidir sobre pedido de depoimento antecipado de testernunha ou
durante o inquérito OU em qualquer fase do processo (arts. 333 e 338 do ofendido, rcalizando-o perante o Ministério Ptlblico e o advogado constituIdo
CPPM e art. 30, IV e V, da LOJM). ou defensor designado, antes da propositura da ação penal. Pode realizar-se
determinar a expedicäo de prccatOria para rea1izaco de perIcia e durante a instrucão, no caso de urgência e demora ou dificuldade em reunir o
exame (art. 346 do CPPM e art. 30, IV e V. da LOJM) Conseiho (arts. 363, 390, § 5, c 350, h. do CPPM).
designar dia e hora para inquiricão de testemunha (arts. 347 e determinar a rernessa de cópia de depoimento a autoridade poli-
424 do CPPM). cial ou ao Ministério Pih1ico, se reconhecer que a testemunha fez afirmaçio
determinar a expediço de niandado de conduçao da testemunha falsa. calou ou negou a verdade, no caso de ornisso do Conseiho (art. 364 do
faltosa, aplicar-Ihe multa, impor-ihe prisao ate 15 dias e encaminhar ao Mi- CPPM e art. 30, VII da LOJM).
nistério PCblico comunicacäo sobre a desobcdiência (art. 347, § 2. do determinar que se proceda a acarcacäo por decisão sua ou do
CPPM). Conseiho (arts. 365 a 367 do CPPM).
requisitar testernunha servidor piihlico civil ou militar. compelindo determinar o reconhecirnento de pessoas e coisas. por decisäo sua
este (himo a comparecer, por intennédio da autoridade militar competente ou do Conselho (arts. 368 a 370 do CPPM).
(art. 349, capur e pardgrafo dnico, e art. 347, caput, do CPPM). determinar o desentranharnento de correspondência particular,
formular quesitos c encarninhá-los, juntamente corn os dos juizes intcrceptada ou obtida por meios criminosos (art. 375 do CPPM).
militares e os das partes, as autoridades que, nos termos da lei, podern optar determinar a juntada aos autos de documentos que interessem ao
pela prestação de depoimento por escrito (art. 350 do CPPM). processo, requisitá-los, em original ou por cdpia autêntica, As repartiçöeS pu-
ajustar dia, hora e local para depoimento de autoridade que go- blicas e estabelecimentos bancdrios e hospitalares, determinando a busca c
zam dessc privildgio, funcionando, singularmente, caso a audiência se realize aprcensão, no caso de recusa (arts. 378, 172, e e h, do CPPM e art. 30, IV e
fora da sede da Auditoria (arts. 350, a, c 390, § S, do CPPM). IX, da LOJM).
tomar depoirnento, fora da sede da Auditoria, de pessoa impossi- determinar a devolução de docurnentos, quando nio mais sejusti-
bilitada de comparecer (arts. 350, b, e 390, § 5, do CPPM). fique sua permanência nos autos (art. 381 do CPPM).
tomar comprornisso de testernunha, qualifica-la e inquiri-la (arts.
352 e 415 a 424 do CPPM). Do PROCEDIMENTO ORDINARI0
determinar que se consignc no tcrrno de depoirnento a contesta-
ço, a contradita, a argüição de parcialidade ou dc indigna de fC. assim conio a Compete ao Juiz-Aiidi tor. singu] armente:
resposta da testemunha (art. 352. §§ 3 e 4. do CPPM e art. 30, VII, da exercer a polIcia c a disciplina das scssöes, nos limites de suias
LOJM). atribuiçöes ou na ornissao do Presidente do Consciho (arts. 385 e 389 do
determinar, cm qualquer fuse do processo, a inquiricao de outras CPPM).
testemunhas, alCrn daquelas indicadas pclas partes e as referidas (art. 356 do designar local, dia e hora das sessOcs e atos processuais que se
CPPM e art. 30, Vii, da LOJM). realizarern fora da sede da Auditoria (art. 388 do CPPM).
427
426 - Direito Penal Militar ______ ______ _______

proceder ao interrogatOrio do acusado (arts. 404 a 405 e 411. pa-


determinar a lavratura de auto de prisão em flagrante no caso dc
ser desacatado ou, nos deinais casos, em face da omisso do Presdente do rdgrafo ilnico, 302, a, 306 e 310 do CPPM).
determinar expediço de mandado de conduço do réu revel ou
Conseiho (art. 389 do CPPM).
realizar, fora da sede da Auditoria, qualquer ato de instrucão cri n ao, caso esse comparecimeilto seja necessário para prosseguimentO do feito
minal (art. 390, § 2). (arts. 411 e 412 do CPPM e art. 30, IV e TX, da LOJM).
nomear defensor substituto, quando a nomeaçäo não ocorrer du- proceder a qualificacão e inquiricão das testemunhas e formular
as perguntas propostas pelos JuIzes militares c as requeridas pelas partes. des-
rante a sessão do Conseiho (art. 390, § 3, do CPPM).
assinar prazo para dcvoluçäo de precatória, ou prorrogá-lo, e de- de que pertinentes ao objeto da causa (arts. 415 a 424 e 352 a 357 do CPPM, c
terminar o prosseguiniento do feito, caso a prccatória nao s(ja devolvida (arts. art. 30, VII, da LOJM).
decidir sobre o pedido do inquiriço, cornplemcntacãO, suhstitui-
390, § 0, c 359, §§ 1 e 2, do CPPM).
realizar cualquer ato de instrucO criminal fora da sede da Audi- çao ou dcsistência de testernunha, requerida pelas partes (arts. 417. 420 e 399.
toria ou na sede desta, rcssalvada, na Segunda hipótese, o intcrrogatório. a d. do CPPM, e art. 30, VII, da LOJM).
determinar sejam tomadas por termo as declaracöcs das tcste-
inquiriço de testemunhas c a acareaco (art. 350, § 5. do CPPM).
requisitar cdpia de altcraçöes militares, folba de antececlentes munhas. hem como decidir sobre o pedido de retificação do depoimcnto (art.
crirninais c ficha de identiiicaçio datiloscdpica do acusado (art. 391 (10 422 do CPPM e art. 30, VII. da LOJM).
determinar de ofIcio ou a requerimento das partes, a acareaçiio c
CPPM).
reconhecirnentO de pessoas e coisas. salvo se o requerimento for formulado
decidir sobre a transfer3ucia ou rcnioçao do acitsado militar c so-
bre o pedido de acusado civil para mudar-se do local da sede da Auditoria (art. perante o Consciho (arts. 425 e 426 do CPPM, e art. 30, VII, da LOJM).
392 do CPPM). determinar vista as partes, para requererem o que for de direito
determinar a retificação da ala por sua própna decisão on do (art. 427 do CPPM).
fixar prazo para cumprirnento das diligências das partes e da-
Conseiho (art. 395. parágrafo ánico, do CPPM).
decidir sobre o pedido de arquivamento de inquri1o, remetendo quelas que determinar de ofIcio (art. 427, pardgrafo (nico, do CPPM).
OS autos ao Procurador-Geral, caso não concorde corn o pedido (arts. 397 e 25,
determinar vistas as partes para alcgaçOes escritas, mandando quc
sejarn riscados os termos inconvenicnteS nelas contidos (arts. 428 e 429 do
§ 2, do CPPM e art. 30, 1. da LOJM).
decidir sobre o recebirnento ou näo da deni.incia ou da qucixa CPPM).
determinar diligências destinadas a sanear o processo e designar
(arts. 396, 399, 35, 78 e 79, do CPPM, e art. 30, 1, da LOJM).
dia e hora para julgamento do feito (art. 430 do CPPM).
presidir o sorteio, a substituiçäo, e tomar o compromisso dos Jul-
zcs militares dos Conselhos Permanente ou Especial, em audiência pblica. na
presença do Procurador Militar, do Diretor de Secretaria e, também, do acusa- DA SEssAO DE JULGAMENTO
do prcso, quando se tratar de sorteio do Conselho Especial (arts. 399, a e b.
400 e 403 do CPPM. e arts. 18, 20. 21 e 30. VIII, da LOJM). Compete ao Juiz-Auditor, singularmente, durantc a sesso de julga-
determinar a citaçio do réu e a mtimaçao das testernunhas e, se mento:
for o caso. do ofcndido. Decidir sobre a suspensão do andamento do processo. nomear clefensor para o acusado ciue nao o tiver e proce.l.r it
sessiio de julgalnCllt()
se o réu, citado por edital, dcixou de cornparecer c não cousiiLuiU advogado qua1ificaco e interrogatónio do revel clue comparecer a
para a causa. e a ausencia nao ocorrcu na scssao Io Consclho c não houve (art. 431 do CPPM c art. 30. VII, da LOJM).
determinar providncias para o compareCilllelltO do acusado pi
necessidade de aprcciar os motivos do nao comparecinicnto. Decidir sobre a
I.
produçao antecipacla de provas urgentes e inadiiveis. COOl a presenca de Dc- SO i sessao de julganiento (art. 43 1, § 3, do CPPM e art. 30, VII. da LOiN]
substituir, allies da sessao de julgarnento, o advogado OU 0 CU 1,1
fcnsor Pdhlico. (arts. 399, cc d. 277 a 293 e 311 a 313 do (:PPM. art. 30. IX.
62 e 7, do CPPM e art. 30, VII. da LOJM).
da LOJM. art. 366 do CPP c.c. o art. 3. a, do CPPM). dor faltoso (art. 431, §
Direito Penal Militar 429
428 Cello Lobão

autos, se nada for requerido ou depois de cunipridas as diligências (art. 457,


relatar o processo, na sesso secreta, esciarecendo os juIzes
capUt, e 463, § 3, do CPPM).
militares sobre as questoes de fato e de direito e votando em primeiro lugar proferir decisão, mandando arquivar, após pronunciament do
(arts. 434 e 435 do CPPM, e art. 30, VII, da LOJM). Ministdrio PCblico, no caso de incapacidade definitiva do desertor scm esta-
redigir a sentença, justificando seu voto, caso seja vcncido, e de- bilidade ou do insubmisso (arts. 457, § 2, e 464, § l, do CPPM).
clarar o voto dojuiz militar que deixou de assinar a sentenca (art. 438, §§ 12 c determinar ajuntada do ato de inclusäo do desertor ou do ato de
2, do CPPM, e art. 30, VII, da LOJM). reversão do desertor estavel ou do insubmisso, mandar corn vista ao Ministé-
redigir o resultado a ser proclamado pelo Presidente do Conselho rio Pdblico e decidir sobre o recebimento da dentincia. Se recebida, mandar
(art. 441 do CPPM e art. 30, VII, da LOJM). citar o desertor ou o insubmisso, proceder ao intcrrogatório e a inquiricão das
recomendar o réu na priso em que se encontra, expedindo man- testernurihas do Ministério PCblico (arts. 464, § 2, 457, §§ 32 e 4, e 465 do
dado de prisao ou alvará do soltura em favor do réu preso absolvido (art. 441 CPPM).
do CPPM e art. 30, VII, da LOJM). decidir sobre as provas documentais e testcrnunhais requeridas
proceder a leitura da sentcnça, assinando-a c rubricando suns pela defesa e designar data para julgamento e redigir a dccisao a ser lida pelo
foihas. Mandar coiher a assinatura dos juizes militares. durante a sesso do Presidente do Conselho e a sentença (arts. 457, §§ 4 e 5, e 465 do CPPM).
Conselho ou em seu gabincte, caso já tenha se esgotado o perlodo de funci- recornendar o desertor na priso em que se encontra, se estiver
onarnento do Conselho Permanente (arts. 442, 443 c 438. § 3, do CPPM. e preso; mandar expedir mandado de prisao, se estiver cm liherdade, ou alva-
art. 30, VII, da LOJM). ra de soltura, se tiver cumprido a pena. No caso de insubmisso, conforme o
resultado do juigarnento, rnandará expedir mandado para cumprimento da
penal de iinpediniento, alvará de liberação da menagern ou comunicar a
Dos PROCEDIMENTOS ESPECIAIS ahso1viço (arts. 457, §§ 6c e 7, e 465 do CPPM).
Compete ao Juiz-Auditor, singularrncnte, nos procedimentos por crimes
de deserçäo e insuhmissäo:
Do HABEAS CORPUS E DA RESTAURAçAO DE AUTOS
conceder liherdade ao ciccrtor que niio tiver sido julgado no pra-
Compete no Juiz-Auditor, singularmente:
zo de 60 dias ou por outro inotivo relevante (arts. 453 e 464, § 3, do CPPM).
decidir sobre pedido de habeas corpus, quando a autoridade co-
determinar a autuaçao dos documentos relativos a deserçio de atora for militar ate o posto de coronel ou de capitao-de-rnar-e-guerra. Prestar
oficial e mandar corn vista ao Minist&io Pdblico, decidindo sobre as diligên- informaçöes ao Tribunal, na acäo de habeas corpus, ainda que o Conselho
cias requeridas e mandando arquivar os autos, após a realizacao das diligên-
seja o coator (arts. 472, caput, 474 e 475 do CPPM, art. 30, VII, da LOJM,
cias requeridas e deferidas e as de ofIcio (art. 454, § 3, do CPPM). arts. 5, LXVIII, XXXV e LV, da Constituicäo).
proceder, na deserçäo de oficial, ao sorteio do Conselho Especial proceder a restauração de autos (arts. 481 a 486 do CPPM).
na presenca do acusado preso, convocar os JuIzes militares sorteados, desi-
gnando data para coinpromisso dosjuIzes militares e para qualificação c inter- DAS NULIDADES
rogatorio do réu (arts. 455 c 403 do CPPM, e art. 30, VIII, da LOJM).
qualificar e interrogar o desertor oficial c praca, tornar o clepoi- Compete no Juiz-Auditor, singulannente:
menlo de testcrnunhas. perantc o Conselho e deferir ou no a juntada do do- deternilnar a suspensao ou adianiento de ato processual. no caso
curneutos, quando não for requcrida clurante a sessio do Conselho. Designar de nulidade de citaço, intirnação ou notilcaço, antes de apresentar o processo
data do julganiento e redigir a cIcciso a ser licla pelo Presidenie do Conselho e ao Conselho (art. 503 do CPPM).
redigir a sentença (455, § l, do CPPM). declarar a nulidade do processo ou de ato processual, ressalvada a
detcrininar a autuacio dos clocurnentos relativos a deserço tie cornpetência privativa do Conselho (arts. 504, a c pargrafo nico, 506, 508 e
praça ou a insuhrnissão e mandar corn vista no Ministério Piihlico e no I)efen- 427 do CPPM).
sor Piihlico, decidindo sobre as diligências requeridas c mandando arquivar os
430 Célio Lobão 431
I Direito Penal Militar

Dos RECURSOS 590, 594 a 601 e 603 do CPPM e art. 30, XI, da LOJM - Vide ressalvas da Lci n
7.210/84).
Compete ao Juiz-Auditor, singulannente, no procedimento recursal: comunicar a autoridade militar, o trânsito em julgado da sentcnca
decidir sobre o recebimento do recurso interposto, adequando-o ou do acórdäo proferido em grau de recurso, bern como as penas principais
em conformidade corn a norma processual penal (arts. 513 e 514 do CPPM c não privativas de liberdade e as acessórias (arts. 593, 604 e 605 do CPPM e
art. 30, X, da LOJM). art. 30, XIII, da LOJM).
reformar OU manter decisäo contra a qual foi interposto recurso ratificar ou revogar a remoço do condenado para manicôrnio ju-
em sentido estrito ou suhmetê-Ia ao Conseiho, quando a deciso recorrida tiver diciário, determinada pelo dirctor do presidio (art. 600 do CPPM).
sido proferida pelo colegiado (art. 520 do CPPM). proferir decisão, julgando extinta a pena, pelo scu cumprirnento
determinar a remessa, ao Tribunal, do recurso em sentido estrito. ou por outro motivo e, se for o caso, determinar a cxpedição de alvará de sol-
interposto contra decisão sua QU do Conseiho (art. 520, parigrafo ünico, do tura (arts. 603, 615 e 638 do CPPM cart. 20, IX, da LOJM).
CPPM). suspender a pena, condicionalmente (sursis), na fase de sua exe-
determinar providências para cumprirnento da decisão do Tribu- cução, c presidir a audi.ncia admorntdria mesmo que a deciso tenha sido
nal, proferida em recurso em sentido estrito (art. 525 do CPPM). proferida na sentença condenatória (arts. 606 e 611 do CPPM e art. 30, XI, da
decidir sobre a situacão do réu, apelanie ou apclado, expedir, LOJM).
conforme o caso. mandado de prisao ou a1var5 (IC soltura ou recomenclan- tornar scm efeito ou revogar o sur.cis. prorrogar o tempo de sua
do-o na prisäo em que se encontra (arts. 527. 532. 533, 244 e 254 do duraço, exaCerl)ar as condiçöcs estabelecidas anterionnente c declarar exlinta
CPPM c art. 30, XI, da LOJM). a pena privativa de liberdade (arts. 612 e 615 do CPPM).
receber ou rejeitar recurso de apc1aço contra decisão proferida mandar que seja comuriicado ao Instituto Nacional de Identifica-
pelo Consciho ou contra suas próprias dccisöcs. indicando os efeitos e, se for cao a condenaçiio. Corn ou scm sursis, a revogaçäo deste ültirno e a extinço
o caso. mandar sobrestar o recurso jS reccbido (arts. 531. 533 e 528 do da pena para fim de registro (art. 616 do CPPM).
CPPM). Atai,x, ZoJm. decidir sobre a concessao de livrarnento condicional, suspend-
determinar providências para o cumprirnento de decisão proferida lo, modificar as condiçöes estabelecidas na decisão (arts. 623, § 2, 624, 629.
pela instiIncja superior, em grau de recurso de apelacao (art. 536 do CPPM). 631 a 639, a, in fine, do CPPM e art. 30, XIV, da LOJM).
decidir sobre a manutençâo da detcnção do liberado, no caso de
determinar a intimacao das partes, de acórdäo do Tribunal, profe-
rido em apelação ou em outros recursos, devolvendo-o, em seguida, a superior transgressão das condiçöes estabelecidas na decisào concessiva do livramento
instncia (art. 537 do CPPM e art. 30, XI, da LOJM). condicional (art. 630, c, do CPPM).
Determinar, de ofIcio ou a requerirnento do Procurador Militar ou
cncaminhar ao Tribunal, os ernbargos interpostos na Auditoria,
do interessado, a junta'da aos autos de execuçäo, da cópia do decreto de in-
após despacho proferido na petiço do embargante, mencionando a data da
dulto ou de comutaçao da pena e proferir deciso, ajustando a pena ou decla-
interposição do recurso ou detenninando que seja certificada essa data (arts.
rando-a extinta (art. 648 do CPPM e art. 123, 11, do CPM).
543 e 544 do CPPM).
proferir dcciso julgando extinta a punibilidade, no caso de anis-
determinar providências para cumprimento de decisào do Tribu-
tia (art. 650 do CPPM c art. 123, 11, do CPM).
nal, proferida em reviso criminal (arts. 560 a 562 do CPPM e art. 30, XI, thi
proceder a instrução e julgamento do pedido de reahilitação, cc-
I.OJM).
municando sua concessao ao Instituto Nacional de ldentificacão. apds a dcci-
sio do recurso de oficic e rcvog2I-la de ofIcio, ou por requcrinlento do irtteres-
DA EXECUçAO
sado (ofendido, denise outros) ou do Ministério Pthlico (art. 651 a 658 do
Compete ao Juiz-Auditor. singularmente, no procedimento cxecutorio: CPPM).
proceder a execucao definitiva ou provisOria da sentença ou (10
acórdão, decidindo os incidentes ocorridos duranie a fase executória (arts. 588.
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