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V.

18 (1) janeiro-março 2004


ISSN 01015907
OrgãoOficial da FundaçãoSantaCasaMisericórdiado Pará

GOVERNOsIMÃo JATENE
PRESIDENTE:Paulo Mota Pereira
VICE-PRESIDENTE:RosângelaBrandãoMonteiro
EDITOR RESPONSÁVEL:Alípio AugustoBarbosaBordalo
EDITOR ADJUNTO: Manoel Barbosade Rezende

CONSELHOEDITORIAL: CONSELHO CIENTÍFICO: Manoel A. Moreira -PA


Arival Cardosode Brito Antônio Celso Ayub -RS Manoel Santos Coimbra -PA
GeraldoIshak Antônio Spina-França -SP Manoel do Carmo Soares -PA
GeraldoRogerNormandoIr. Alexandre C. Linhares -PA Maria de Lourdes B. Simões -PR
Elieteda CunhaAraújo Carlos Salgado Borges -MA Mário R. de Miranda -PA
MarcusVinicius H. Brito Cléa Carneiro Bichara -PA Nara Botelho Brito -PA
Geraldez Tomaz -PB Octávio Gomes Souza Ir. -PA
Habib Fraiha Neto -PA Raimundo Nonato Q. Leão;. PA
ASSESSORIADE ESTATÍSTICA: Italo Suassuna -RJ Reinaldo Silveira de Oliveira -PA
MarizethCarvalhode Andrade Jamilson Femandez da Silva -PA Roberto Messody Benzecry -RI
João José Neiva Neto -PA William Mota Siqueira -PA
Joffre M. de Rezende -GO Zéa Lins Lainson -PA

ASSESSORIADE LÍNGUA ESTRANGEIRA:


ManoelAntonio Costade Rezende
Vitor Moutinho da ConceiçãoIr.
NatáliaSayuriMuto

MEMBROS HONORÁRIOS:
Camilo Martins Vianna,ClodoaldoRibeiro Beckman,JoséMonteiroLeite, GuaraciabaQuaresmaGamae
ManuelAyres

MENÇÃO HONROSA: LeônidasBraga Dias e Clóvis de BastosMeira

InternationalStandarSerialNumber(ISNN): 01015907
IndexadanaAdministraçãodaBasedeDadosLILACS -BIREME
Diagramaçãoe composição:FábioIr. NunesRaiol
Impressão e fotolito: GráficaSagradaFamília

com registro n° 22,


Livro B do 20Ofício de Títulos, Documentos e Registro Civil das PessoasJurídicas,do Cartório Valle Chermont, de 10 de março de 1977,
Belém-PA.
Publicação trimestral e distribuição gratuita. Tiragem: 1.500

Endereço: REVISTAPARAENSE DE MEDICINA


Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará
Rua Oliveira Bello, 395 -Umarizal
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"A Misericórdia Paraen.s'ea Senliç'o da Col11z,midadee da Cultura


FEBRE TIFÓIDE E REAÇÃO DE WIDAL: VELHAS PARCEIRAS, NOVOS CONCEITOS.
Lúzio de PautaRamos*

A reação de Widal é um teste sorológico que há doençaem atividade.


muito tempo é empregado no diagnóstico laboratorial 2 -Realizando o teste a partir da segundasemana
da febre tifóide. No entanto, é um exame que apresenta de doença e com apenas uma amostra (investigação
uma série de dificuldades de interpretação dos pontual), como é o caso da maioria, considera-se
resultados, sobretudo pela falta de padronização dos sugestivo de doençaquando o exame revela títulos das
testes. Trata-se de um teste de aglutinação lenta pelo aglutininas anti-"O" superiores a 1:80. Títulos
contato direto entre as suspensões de antígenos somático inferiores, podem significar reação cruzada, reação
"O" e flagelar "H" (produzidos a partir de cepa padrão anamnéstica e/ou aglutininas normais em áreas
de Salmonella typhi) e o anticorpo presente no soro do endêmicas.
paciente. É realizado em tubos, com diluições seriadas, 3 -Atrelado a qualquer desses critérios está a
partindo do título 1:20, e dobrado, sucessivamente, até avaliação clínica, pois é imprescindível que, além da
o título 1:640. detecçãodas aglutininas em nível sugestivo de doença,
illtimamente, sobretudo em pequenos municípios o paciente apresentequadro clínico compatível com a
do interior da Amazônia, esse teste vem sendo aplicado enfermidade.
por um processo diferente (aglutinação rápida em 4 -As reações cruzadas decorrem da existência
lâmina) que tem em seu favor o fato de ser pouco de anticorpos anti-Salmonella não typhi no soro do
laborioso e menos dispendioso. Em contraposição, é paciente. Dezenas de sorotipos de Salmonella
menos sensível e menos específico do que o método apresentam identidade antigênica tão próxima da
tradicional. A reação de Widal, mesmo no seu método Salmonella typhi que podem responder aos antígenos
convencional tem sido muito questionada e nos países desta;tanto ao antígenosomático "O" quanto ao flagelar
do primeiro mundo ela já caiu em desuso. Porém, na "H". Como a ocorrência dessasoutras salmonelosesé
nossa região essa prova ainda tem sido muito praticada bastantecomum na região, admite-se a presençadessas
porque na maioria das cidades interioranas não se dispõe aglutininas detectáveisnos processosrápidos. Por outro
de laboratórios capacitados para a realização de culturas lado, nestes indivíduos, o teste de Widal clássico
e as longas distâncias entre essas localidades e os normalmente revela t!tulos inferiores àqueles
grandes centros urbanos (as capitais, por exemplo) designadoscomo sugestivo de doença.
inviabilizam o envio dos espécimes clínicos (sangue e 5 -Outro pormenor de grande relevância nesse
fezes) para o cultivo. Assim, nesses locais, o referido contexto, é a possibilidade de se vir a deparar com a
ensaio constitui a única ferramenta aplicada para o chamada reação anamnéstica. Esta ocorre quando o
diagnóstico laboratorial da febre tifóide. É importante indivíduo apresentaanticorpos vacinais ou quando ele
salientar que, à realização da técnica convencional, é apresentou a doença no passado. Ao contrair outra
necessário observar, com rigor, alguns critérios, a saber: moléstia infecciosa (por exemplo: malária, dengue,
1 -A reação de Widal deve ser realizada em hepatites etc...), os títulos dos anticorpos anti-
pacientes que ultrapassaram a primeira semana de Salmonellatyphi podemseelevarnovamente,mesmoque
doença pois, antes disso, os anticorpos anti-Salmonella elesjá se encontrememníveis muito baixos. É fato que a
typhi ainda não se encontram em níveis detectáveis no soro vacina, porjá não serquaseusadanos dias atuais,pouca
'do paciente. Somente quando houver a possibilidade de influência exercenesteparticular, mas, por outro lado, a
se repetir o exame, uma ou duas semanas após o primeiro endemicidadeda doença em nossomeio é considerável,
(soros pareados), é que se justifica procedê-lo durante a não obstanteela sejapouco diagnosticada,o que parece
primeira semana de doença. Neste caso, aliás, tem-se o serfruto da mal-fadadasub-notificação,passandoassima
único modo desse ensaio ser capaz de definir um caso de falsa impressão de baixa incidência. Realidade que nos
febre tifóide, desdeque a titulação obtida no segundo exame incomoda,emparticular.
seja quatro ou mais vezes superior a do primeiro, o que
significa conversão sorológica e, portanto, flagrante de

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Francisco
o maior agravantenessadiscussãofica por conta responsável pela disseminação e pela manutenção da
da supervalorização do teste em pauta, que diante do doença no meio, cujo potencial epidêmico nos tem sido
elevado índice de falso-negativos (em nossaexperiência duramente revelado, sobretudo nas áreas onde o
ultrapassa50% dos casos)pode contribuir sobremaneira saneamento básico é precário. Triste realidade nossa. "-
para conduzir os casos para uma de duas vertentes: 1)Tornar Todos esses fatores têm pesado negativamente
o caso mais oneroso aos cofres públicos, ou por contra a reação de Widal, que tem recebido inúmeras
ter que tomar, em vão, rumospropedêuticos sofisticados críticas quanto a sensibilidade/especificidade, colocando
e dispendiososenquantoo quadro febril persiste,ou pelo em dúvida o seu valor como prova auxiliar no diagnóstico
caso vir a ter um desfecho cirúrgico, que pode advir em laboratorial da febre tifóide. Portanto, devemos considerar
decorrênciade uma complicação da doença,mormente a que, para o diagnóstico laboratorial da febre tifóide não
perfuraçãointestinal, semdúvida uma dasmais temíveis devemos prescindir do cultivo (hemocultura e coprocultura)
emergênciasmédicase, 2) O quadro seauto-resolver,sem e a técnica de Widal em lâmina não deve ser praticada em
que o diagnóstico tenha sido selado. Neste extremo, o hipótese alguma; só devemos considerar a técnica
prejuízo à saúde pública é imenso, pois o estado de convencional da reação de Widal, mesmo assim, somente
portador, que normalmente ocorre em 3% a 5% dos em situações especiais, e guardados, rigorosamente, todos
doentesmesmo que convenientemente tratados, nestas os critérios acima mencionados.
circunstâncias,semdúvida, essepercentualdeve serbem
mais elevado. Vale salientar que o portador é o principal

Médico pesquisadordo Instituto EvandroChagas/ Ministério da Saúde


E-mail:franciscoluzio@na.gov.br-
Av.AlmiranteBarroso,492 66090-000Belém

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