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Autonomia ética em Sócrates

Falar do Sócrates de Platão não é tarefa fácil, pois no interior da obra platônica ele se
transforma, de modo que é difícil saber onde termina Sócrates e onde começa Platão. No entanto, os
historiadores da filosofia classificaram como sendo o Sócrates histórico aquele que aparece nos
diálogos aporéticos. No presente texto, pretendo falar brevemente da filosofia desse Sócrates.
Após receber a mensagem do oráculo de que era o homem mais sábio entre os homens,
Sócrates procura aqueles que eram considerados sábios, porém descobre que estes não possuíam
sabedoria, e daí Sócrates compreende que era o mais sábio porque sabia que não sabia
verdadeiramente, que o sábio é aquele que reconhece esta condição humana. Compreende que o
homem deve estar sempre buscando a verdade, e que esta sempre será maior do que nós. Sócrates
procura, então, viver filosoficamente, examinando-se a si mesmo e aos outros.
Para Sócrates, se um homem soubesse a definição de virtude, ele saberia ser virtuoso, e não
agiria de outro modo senão virtuosamente. Por isso, Sócrates buscava a definição. Pois, sendo a
definição a reunião dos traços presentes em todos as casos particulares e que são traços essenciais de
todos eles, se um homem conhecesse a definição de virtude, seria possível para ele reconhecer na
diversidade dos casos particulares quais seriam virtuosos, por conta do caráter universal da definição.
Este conhecimento é condição de possibilidade da virtude. Os vícios, por outro lado, são atribuídos à
ignorância. Nesta perspectiva socrática, a razão comandaria as ações virtuosas e evitaria o vício.
De acordo com Aristóteles, a definição é o resultado do método socrático. Este método consiste
num diálogo em que, uma vez que os interlocutores estejam de acordo em buscar a verdade, as
perguntas e respostas encaminham o diálogo para a definição procurada, eliminando durante o
caminho os preconceitos recebidos pelo costume. Após convidar seu interlocutor ao diálogo, a
primeira parte deste consiste em refutar as noções erradas para, depois, buscar a definição. Esta
definição, no entanto, não é considerada por Sócrates como algo que provém do seu esforço, e sim do
próprio esforço daquele que busca a verdade e está aberto a ela. A imagem que Sócrates usa para
mostrar isso é a da parteira que ajuda a mulher grávida a parir, porém todo esse esforço é empregado
pela mulher que está dando à luz, e a parteira não participa em nada na concepção, apenas orientando a
grávida. Sócrates pratica esta última parte de seu método no diálogo Mênon, no qual um escravo
analfabeto apenas por meio da interrogação socrática demonstra sozinho o Teorema de Pitágoras. O
que demonstra que, para Sócrates, todos os homens são capazes de buscar essa verdade, pois esta se
encontra no interior de cada um.
Com isso, Sócrates quer defender que o conhecimento, mais precisamente o conhecimento da
virtude possui um caráter libertador, na medida em que este conhecimento permite ao homem dar a si
mesmo suas próprias leis e regras de conduta, o que possibilitaria ao homem a felicidade, que é a
finalidade da vida ética.

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