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CUIDADOR INFANTIL

LEGISLAÇÃO

Professora: Samantha Pellegrini GRACAEMACAOOFICIAL


pellegrini_advocacia
INDICE

1. LEGISLAÇÃO TRABALHISTA
1.1 Profissional
1.2 Atuação
1.3 Condições de Trabalho
1.3.1 Empregado Celetista
1.3.2 Empregado Doméstico
1.3.3 MEI – Microempreendedor Individual/Diarista/Autônomo
1.3.3.1 Como abrir um MEI?
1.3.3.2 Vantagens de ser um MEI

2. LEGISLAÇÃO DA CRIANÇA
2.1 Base Constitucional/Vulnerabilidade Infantil
2.2 ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
2.2.1 Garantia à Sobrevivência
2.2.2 Garantia ao Desenvolvimento Pessoal e Social
2.2.3 Garantia à Integridade Física, Psicológica e Moral
2.2.4 Garantia à Convivência Familiar e Comunitária x Equiparação do Filho Adotado
2.2.5 Canais de Denúncia

3. CRIANÇA/ADOLESCENTE COM DEFICIÊNCIA


3.1 Legislação da Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015)
3.1.1 Acessibilidade
3.1.1.1 Acessibilidade Atitudinal
3.1.1.2 Acessibilidade Arquitetônica
3.1.1.3 Acessibilidade Metodológica
3.1.1.4 Acessibilidade Instrumental e Tecnológica
3.1.1.5 Acessibilidade Programática
3.1.1.6 Acessibilidade na Comunicação
3.1.1.7 Acessibilidade Natural
3.2 Exposição de Algumas Garantias Essenciais

4. LEGISLAÇÃO PENAL
4.1 ECA - Dos Crimes Contra a Criança e Adolescente (Artigo 225 ao 244 do ECA)
4.2 Código Penal (CP) – Considerações sobre garantidor
1. LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

É na legislação trabalhista que se diferem os tipos de contratos e relações de trabalho,


determinando direitos e deveres entre as partes.

1.1 Profissional

É um profissional especializado na área infantil que auxilia no processo de


desenvolvimento da criança, promovendo segurança física, emocional e psicológica da criança.
O cuidador infantil possui o dever de gerar bem-estar à criança, respeitando as fases de
crescimento, habilidades motoras, cognitivas e emocionais, sendo fundamental para o auxílio na
estabilidade da rotina da criança.
O profissional deve ter idade mínima de 18 anos, conclusão do ensino fundamental e de
curso de qualificação profissional, bem como não ter antecedentes criminais e ter atestado de aptidão
física e mental.

1.2 Atuação

O trabalho consiste nos cuidados pertinentes à crianças, como preparo da alimentação,


banho, trocar fralda se necessário, cuidado com as roupas, limpeza e organização do quarto,
esterilização dos brinquedos, acompanhamento das brincadeiras e auxílio no seu desenvolvimento
infantil.
É preciso ter noção de cuidados básicos da saúde, prevenção e tratamento de moléstias
comuns como sarampo, caxumba, catapora, infecção na garganta, inclusive, as congênitas e crônicas,
bem como, saber sobre aleitamento materno e alimentação infantil.
O profissional da área atua em domicílios ou instituições cuidadoras de crianças, casas de
festas, creches, escolas, clubes, shoppings (área de lazer infantil), berçarios, dentre outros.
Um diferencial nessa área é sempre estar atualizado e capacitado com cursos
complementares, como musicalização infantil, animação em eventos, pedagogia infantil, primeiros
socorros, oficinas em geral.

1.3 Condições de Trabalho

As atividades são exercidas nas seguintes condições: empregado com carteira assinada
(celetista), no contexto de empregado doméstico ou empregado de pessoa jurídica, prestador de
serviços como Microempreendedor Individual (MEI/diarista), horista ou folguista.

1.3.1 Empregado Celetista

A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) é a principal norma trabalhista e traz conceitos
e previsões importantes para o trabalhador.
Nela conhecemos o conceito de empregado que esta previsto no artigo 3º:

“Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a
empregador, sob a dependência deste e mediante salário. Parágrafo único - Não haverá distinções
relativas à espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e
manual.”

Nesse sentido, temos então que, sempre que uma pessoa física, trabalhar de maneira
contínua (3 vezes na semana ou mais), cumprindo ordens, recebendo salário pela prestação e com
pessoalidade, ou seja, sem possibilidade de substituição, é considerado empregado celetista.
PESSOALIDADE

ONEROSIDADE EMPREGADO CONTÍNUO

SUBORDINAÇÃO

Assim, na condição de empregado, o cuidador de idoso possui direito a:

• Ter sua carteira de trabalho, devidamente assinada (48h após a entrega da mesma).
• Receber o salário mínimo da categoria (hoje – 2022 – R$ 1.100,00 – salário mínimo
vigente – sendo a média no Rio de Janeiro R$ 1.500,00 mensais)
• 13º salário ( 2 parcelas, sendo a 1ª paga entre fevereiro e novembro e a 2ª até 20 de
dezembro)
• Férias integrais, com acréscimo de 1/3 sobre ( a cada 12 meses trabalhados )
• Repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos
• Descanso remunerado aos feriados ou pagamento em dobro ou folga compensatória
• Licença maternidade/paternidade (120 dias a partir da data do nascimento do bebê, em
alguns casos 180 dias para a mãe e 5 dias para o pai, sendo em alguns casos 20 dias –
Programa Empresa Cidadã)
• Estabilidade provisória à gestante (desde a confirmação da gravidez até 05 meses após o
parto)
• Irredutilidade salarial
• Inscrição na previdência social - INSS e respectiva contribuição (o repasse é de TOTAL
responsabilidade do empregador, sendo descontando em folha todo mês).
• Vale-transporte
• FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (8% do salário bruto pago ao trabalhador,
sendo que para o empregado doméstico há um acréscimo de 3,2% destinada à
indenização compensatória da perda do emprego, sem justa causa ou por culpa do
empregador)
• Jornada de Trabalho: normalmente 44h semanais/8h por dia.
• Horas extras (50% do valor normal, normalmente no máximo de 2 horas diárias,
respeitando o intervalo interjornada, sendo exceção 4 horas num dia – necessidade
imperiosa).
• Intervalo Intrajornada: intervalo para repouso ou alimentação em labor superior a 6
horas (mínimo de 1 hora e máximo de 2 horas).
• Intervalo Interjornada: intervalo entre turnos (mínimo de 11 horas de duração – visa
garantir a saúde e bem estar do trabalhaddor)
• Banco de Horas (nunca superior a 10h diárias, compensação dentro de 6 meses se o
contrato for individual e 12 se coletivo meses)
• Adicional noturno (22:00h a 5:00h - 20% no valor da hora trabalhada pela prestação de
serviço durante o período da noite)
• Seguro-desemprego (em demissões sem justa causa o empregado recebe de 3 a cinco
parcelas, a depende do tempo de empresa
• Aviso Prévio (até 12 meses de contrato = 30 dias, acrescentando 3 dias a cada ano a mais
de trabalho, até o máximo de 90 dias)
• Abono salarial (para o empregado que recebe até 2 salários mínimo, desde que
trabalhado ao menos 30 dias do ano base)
Faixa de salário Alíquota Alíquota
Aplicada Efetiva
Até um salário-mínimo 7,5% 7,5%
(R$ 1.212,00 em 2022)
De R$ 1.212,01 a R$ 9% 7,5% a
2.427,35 8,25%
De R$ 2.427,36 a R$ 12% 8,25% a
3.641,03 9,5%
De R$ 3.641,04 a R$ 14% 9,5% a
7.087,22 (Teto do INSS em 11,69%
2022)
1.3.2 Empregado Doméstico/Lei Complementar 150/2015 c/c artigo 7º da CRFB/88

O artigo 1º da LC nº 150/2015, conceitua o empregado doméstico como sendo aquele


que presta serviços de natureza contínua subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa
à pessoa ou à família no âmbito residencial destas – por mais de 2 (dois) dias por semana.
O cuidador infantil que presta serviços no âmbito doméstico, possui os mesmos direitos
exemplificados no item anterior (empregado celestista), com apenas algumas pequenas diferenças:

1ª) Descontos: É vedado ao empregador efetuar descontos no salário por fornecimento


de alimentação, higiene, moradia, vestuário.
2ª) FGTS: O valor do FGTS do empregado doméstico corresponde a 8% de sua
remuneração, assim como o celetista normal. Contudo, além do recolhimento da contribuição, o
empregador deve realizar o depósito compensatório mensal do FGTS no valor correspondente a 3,2%
do salário base, que deverá ser usado para o pagamento da multa por demissão sem justa causa.
Caso a demissão seja por justa causa ou a empregada peça demissão, o dinheiro
retornará para o empregador e nos casos da rescisão por comum acordo, cada parte sacará metade do
valor.
3ª) Abono Salarial: Não possui direito ao abono salarial (PIS), pois não há obrigatoriedade
de pagamento do FAP – Fator Acidentário de Prevenção pelo empregador doméstico (INSS)
1.3.3 MEI-Microempreendedor Individual/Diarista/Autônomo (Código Civil/2002)

Houve um grande crescimento da procura pela formalização por meio do registro como
MEI – Microempreendedor Individual, tendo em vista o grande número de desempregos, em especial
em 2020.
Trabalhar por conta própria, descobrir novos talentos e habilidades profissionais que
nem nós mesmos sabíamos que tínhamos, é uma oportunidade de brilhar, poder atender mais clientes
ou ter vantagens para seu negócio, como por exemplo descontos para compra de insumos, linha de
crédito nos bancos ou emissão de nota fiscal.
Além de, ter direitos aos benefícios do INSS – Instituto Nacional do Seguro Social, já que
contribui ao referido órgão.
O INSS é um órgão do governo que garante proteção aos contribuintes através do
reconhecimento dos seus direitos como: aposentadoria por idade ou invalidez, salário-maternidade,
auxílio-doença, auxílio reclusão e pensão por morte.
Os citados direitos são conhecidos como benefícios previdenciários e todo
empreendedor que se torna MEI passa a ter cobertura para e seus dependentes.
Não existe atividade de cuidador infantil no MEI, assim, em organizações como creches,
escolas, shoppings, clubes, berçarios, ou até em domicílio residencial, os quais o trabalho é realizado
nas condições de empregado, ou seja, de forma contínua, pessoal, cumprindo ordens e recebendo
salário por isso, a relação será sempre de trabalho regida pela CLT.
De toda sorte, é possível se registrar com outras atividades similares, como por exemplo,
diarista independente (código 9700-5/00), porém somente no âmbito doméstico, e desde que o
profissional não labore no mesmo local por mais de 2 (dois) dias na semana e nas condições já
expostas.

Caso isso ocorra, então o contratante/empregador, deverá obrigatoriamente contratar o


profissional no regime celetista e obedecer às regras da Lei Complementar 150 – PEC das domésticas.
Efetuando um contrato de empregado doméstico por até 2 (dois) dias na semana, deverá
ser elaborado um contrato de diarista entre o Empregador e a Pessoa Jurídica – MEI.
Vale ressaltar que, o máximo de faturamento anual do MEI é de R$81.000,00 (oitenta e
um mil reais) – 2022 - não podendo ter filial, apenas a matriz, nem ter vínculo em outra empresa, só
podendo, registrar um único funcionário, e o imposto é cota única mensal com reajuste anual.

Para o profissional da área de cuidador infantil que pretende cuidar de crianças em sua
própria residência, deverá procurar um contador de confiança e abrir uma empresa com
CNAE 8511-2/00 (educação infantil/creche) buscando o respectivo alvará para exercer a
atividade. Nesse, é destinado ao desenvolvimento integral da criança, em geral até 3 anos.
Normalmente para o quantitativo de crianças para cada cuidador infatil na creche segue
dessa maneira:
• 0 a 2 anos = cada 6 a 8 crianças = 1 cuidador infantil,
• 3 anos = 15 crianças = 1 cuidador infantil,
• Acima de 4 anos = 20 crianças

1.3.3.1 Como abrir um MEI?

Antes, é necessário o cadastro no site do gov.br: https://www.gov.br/pt-


br/servicos/criar-sua-conta-gov.br.
Através do site do portal do empreendedor no link de acesso:
https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/empreendedor/, na opção: quero ser MEI em seguida
clicar em: fomalize-se.
Se você for declarante de imposto de renda, o sistema irá pedir o número do recibo da
última declaração, caso contrário, somente o número do título de eleitor, clicar em continuar, e
preencher seus dados, o nome da empresa, chamado razão social, será seu nome completo mesmo, e
o nome fantasia você poderá escolher.
No campo: capital social, insira o valor que irá investir no seu empreendimento, e em
atividades inserir a respectiva a sua atividade, no caso do profissional cuidador infantil, só há
possibilidade de ser diarista independente (código 9700-5/00), como já informado, todavida no site do
gov.br, poderá verificar todas as atividades em ordem alfabética: https://www.gov.br/empresas-e-
negocios/pt-br/empreendedor/quero-ser-mei/atividades-permitidas.
Você poderá escolher a sua atividade principal e até 15 secundárias, e não há problemas
se quiser modificar depois, após em forma de atuação, selecione TODAS as formas seu negócio irá atuar
e preencha o endereço do mesmo.
Ao final, leia e aceite todos os termos de responsabilidade, clicando em continuar, confira
os dados na tela seguinte e estando tudo certo, confirme.
Irá aparecer a opção de baixar o CCMEI (Certificado de Condição de Microempreendedor
Individual), que é extremamente importante que salve ou imprima, pois é o comprovante da inscrição
de e certificado do seu MEI.
O CCMEI é solicitado para abertura de conta bancária, plano de saúde e outros
procedimentos que possa vir a fazer com seu MEI.
Outro passo importante é baixar o aplicativo do MEI que é vinculado a Receita Federal,
nele você insere o número do seu CNPJ e emite o DAS (Documento de Arrecadação do Simples Nacional),
bem como realizar a declaraçao anual de imposto de renda, a qual deve ser enviada até 31/05 de cada
ano.
O aplicativo é autoexplicativo e de fácil manuseio:

1.3.3.2 Vantagens de ser um MEI

Além dos benefícios da contribuição do INSS, já esclarecidos, o MEI possui inúmeras


outras vantagens.
Ser dono do seu próprio negócio e fazer seus horários, possibilidade de auferir mais
valores sem pagar um absurdo de imposto de renda como pessoa física, já que, possui isenção do
mesmo, obter linhas de crédito com juros reduzidos, ter seu negócio formalizado sem burocracia,
cadastro simplificado e gratuito, emissão de nota fiscal.
O MEI também tem isenção de PIS (Programa de Integração Social – para arcar com
seguro ddesemprego, abono e participação na receita), Cofins (Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social - sobre a receita bruta de empresas.) , IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados e
CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), que são tributos federais pagos pela empresa.
A taxa – DAS (Documento de Arrecadação do Simples Nacional) – é única mensal, no valor
aproximado de R$60,00 (sessenta reais) a variar dependendo da atividade exercida.

2 LEGISLAÇÃO DA CRIANÇA

2.1 Base Constitucional/Vulnerabilidade Infantil

O Brasil é hoje um Estado Democrático e Social de Direito, que tem como fundamento
maior de todo o ordenamento jurídico, o princípio da dignidade da pessoa humana.
Esta garantia representa uma das premissas mais importantes promulgadas pela
Constituição Federal de 1988, que surgiu com intuito de abater o militarismo e com eles crimes
desumanos que ocorriam na época.
Assim, influenciada pelo horizonte da democracia e da liberdade, prescreveu que todo
cidadão tem o direito de receber a tutela/proteção do Estado, e é este que caberá a realização e
efetivação de políticas públicas para todos os cidadãos.
Nesse sentido, a análise acerca da base da proteção à criança é fundamental ao
profissional da área, visto que esse possui grande participação e responsabilidades no processo de
desenvolvimento infantil.
O objetivo do presente material, não é o esgotamento do tema, mas sim trazer
principais temas e pontos mais relevantes sobre o assunto.
De certo que, as crianças necessitam de tratamentos “especiais”, já que evidentemente
não possuem capacidade de autodefesa.
Assim, o conceito de vulnerabilidade pode ser entendido como condição de risco que o
indivíduo se encontra, mediante sua fragilidade.
A vulnerabilidade infantil atinge vários pontos da vida social da criança, são evidências
causadas por transtornos mentais e emocionais, que pode ter efeito duradouro na vida dos indivíduos
afetados, podendo também causar problemas maiores na vida adulta por carregar tais problemas por
diversas fases da vida, principalmente desde a sua infância.
Neste diapasão, há obrigação legal e moral do estado e da sociedade como um todo pela
proteção dessas crianças “indefesas”.
No ordenamento constitucional, artigo 227, é previsto que:

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

Assim, o cuidador infantil possui todos esses deveres para com a criança/adolescente que
estiver sob seus cuidados.

2.2 ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

O referido Estatuto, criado com fundamentos constitucionais, é um conjunto de normas


para garantia de efetividade integral dos direitos da criança e do adolescente.
Nele se descreve a criança, o indivíduo de até 12 (doze) anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre 12 (doze) e (18) dezoito anos de idade.
O cuidador infantil, muitas vezes passa a maior parte do dia cuidando da
criança/adolescente, sendo mais presente até mesmo que seus próprios pais.
Dessa forma, acaba por ser o maior responsável pelo cumprido da mencionada Lei na
vida dos pequeninos, sendo a profissão correlacionada, não um mero emprego, mas um ato de amor,
paciência e cuidados.
O profissional da área, possui o dever de cuidar e proteger nossas crianças e
adolescentes, exigindo que o Estado o faça também. Mas na prática, o que significa cuidar e proteger a
infância e adolescência?

2.2.1 Garantia à Sobrevivência

As habilidades básicas de cuidado, sensibilidade, e responsividade (capacidade de


resposta rápida) ajudam a mãe, pai e outros cuidadores a proporcionar um melhor cuidado para a
criança. Elas contribuem para a sobrevivência da criança e também para um crescimento e
desenvolvimento saudáveis.
Um cuidador sensível percebe e sabe quando a criança está tentando comunicar, por
exemplo, fome, dor e desconforto, interesse em alguma coisa ou afeto. Um cuidador responsivo age
imediatamente e apropriadamente ao que a criança está tentando comunicar.
Essas habilidades básicas são necessárias para reconhecer sinais de desconforto,
perceber que a criança está com fome e alimentá-la, bem como auxiliam o cuidador a estar ciente de
quando a criança está em perigo, ou enfrentando algum problema, e a agir rapidamente para protegê-
la, oferecendo também o devido afeto necessário.
Além de ajudarem a reconhecer quando a criança está doente e precisa de atenção
médica.
Tal garantia se encontra embutida no direito à vida e saúde – artigo 5º CRFB/88 c/c 7º do
ECA - prerrogativa inerente de todo ser humano, sendo fundamental e assim, imprescritível, inalienável,
irrenunciável e inviolável, universal e efetivo.
2.2.2 Garantia ao Desenvolvimento Pessoal e Social

A educação é a base para um mundo melhor, por isso, é dever do Estado e de toda a
sociedade possibilitar o acesso de crianças e adolescentes à educação de qualidade.
E ainda, para além das escolas, também é de direito dos pequenos o acesso à cultura para
um desenvolvimento pessoal e social que permita que eles se insiram e tenham voz na sociedade.
Contudo, não só a cultura e educação no ambiente externo são ferramentas e
impulsionamento infantil para desenvolvimento próprio e em sociedade.
A estimulação adequada às diferentes idades facilita o fortalecimento de vínculos de
afeto, que, por sua vez, cria uma intimidade, confiança e segurança que ajuda a criança a progredir no
seu desenvolvimento.
Tal garantia está consagrada nos artigos 227 da CRFB/88 c/c artigo 53 do ECA, ligado
diretamente com a dignidade da pessoa humana, também é um direito fundamental.
O cuidador infantil não atua como um profissional que lida com a criança: ele é um agente
que ajuda os pais – pela conversa e pela demonstração – a interagir de forma cada vez mais adequada
com seus filhos, bem como a avaliar o impacto dessa interação, de maneira a se comunicar e brincar de
maneira cada vez mais harmoniosa.
Promover um desenvolvimento pessoal e social da criança de maneira saudável é
essencial para um futuro promissor do nosso país.

2.2.3 Garantia à Integridade Física, Psicológica e Moral

Previsto nos artigos 227 da CRFB/88 e artigo 17 do ECA – é baseada em uma educação
interligada ao vínculo afetivo e não agressão física e desrespeito.
O cuidador deve proteger a criança e adolescente de abusos, agressões e bullying,
contribuindo para o crescimento deles livre de traumas e medos, apoiando psicologicamente e
assitencialmente sempre que preciso.
Um exemplo de reforço para a efetividade dessa garantia é a famosa “Lei da Palmadinha”
(Lei nº 13.010/14), que tem o objetivo de conscientizar as pessoas dos direitos da criança e do
adolescente, contra o abuso e violência física como desculpa para “educar”.
A defesa da integridade da criança nesse sentido tem relação direta com a liberdade,
respeito e dignidade.
Insta ressaltar sobre a proibição do trabalho infantil, também prevista no ECA e na
CRFB/88:
“É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz.” (ECA, artigo 60)

As razões da proibição podem ser resumidas em 3 grupos, de acordo com o Fórum


Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI):
a) físicas: o trabalho infantil causa fadiga excessiva, problemas respiratórios, doenças causadas por
agrotóxicos, lesões e deformidades na coluna, alergias, distúrbios do sono, irritabilidade;
b) psicológicas: abusos físicos, sexuais e emocionais são os principais fatores de adoecimento das
crianças e adolescentes trabalhadores, fobia social, isolamento, perda de afetividade, baixa autoestima
e depressão;
c) educacionais: baixo rendimento escolar, distorção idade-serie, abandono da escola e não conclusão
da Educação Básica, aumento potencial de menores seu salários na fase adulta e manutenção dos ciclos
de pobreza e exclusão social.

2.2.4 Garantia à Convivência Familiar e Comunitária x Equiparação do Filho Adotado

Diz respeito a moradia digna no seio familiar natural, e caso não seja possível, externa.
É também um direito fundamental descrito no artigo 5º da CRFB/88 e ECA, face a
promoção e proteção dos direitos humanos, no tocante às relações familiares, a Constituição Federal
rompe com o anterior tratamento diferenciado e discriminatório dado aos filhos em razão da origem do
nascimento ou das condições de convivência dos pais, determinando a equiparação de filhos havidos
ou não da relação do casamento ou por adoção (Art. 227 §6º).
Nesta esteira de raciocínio, ao Estado compete assegurar a assistência à família na pessoa
de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir violências no âmbito de suas relações.
Portanto, caso o cuidador infantil note algum ato ainda que apenas suspeito de maus-
tratos à criança ou adolescente, o mesmo possui o dever legal de denunciar – Artigo 13 do ECA.

2.2.5 Canais de Denúncia

DISQUE

• Disque Direitos Humanos: 100 (O Número da Secretaria de Direitos Humanos recebe denúncias
de forma rápida e anônima e encaminha o assunto aos órgãos competentes no município de origem
da criança ou do adolescente. Disque 100 de qualquer parte do Brasil. A ligação é gratuita, anônima
e com atendimento 24 horas, todos os dias da semana).
• Polícia Militar: 190 (polícia fardada, responsável pela segurança da população e por impedir
que crimes ocorram. A ligação também é gratuita de todo o país, com atendimento 24
horas, todos os dias da semana).
• Polícia Rodoviária Federal: 191 (fiscaliza e faz policiamento ostensivo das rodovias federais,
as BRs, recebendo denúncias de casos de violência sexual de crianças e adolescentes nas
estradas brasileiras, 24h, todos os dias da semana, sendo a ligação gratuita de todo o país.)
• Polícia Federal: 194 .
• Polícia Civil: 197 (polícia que atua depois que um crime ocorre, buscando esclarecer o que
aconteceu, registra as ocorrências, coleta informações e elabora o inquérito policial.
Ligação gratuita de todo país, com atendimento 24 horas, todos os dias da semana).
Outrossim, existem aplicativos gratuitos que auxiliam para reazlização das denúncias:

PROTEJA BRASIL
O que é: aplicativo gratuito para fazer denúncias, localizar os órgãos de proteção nas principais
capitais e ainda se informar sobre as diferentes violações. As denúncias são encaminhadas
diretamente para o Disque 100. O aplicativo também recebe denúncias de locais sem acessibilidade,
de crimes na internet e de violações relacionadas a outras populações em situação vulnerável.
Contato: baixe o aplicativo na App Store ou no Android Market, buscando por "Proteja Brasil".

SAFERNET
O que é: organização social que recebe denúncias de crimes que acontecem contra os direitos
humanos na internet, incluindo pornografia infantil e tráfico de pessoas.
Contato: denuncie no site safernet.org.br.

Ainda temos o Ministério Público, que é responsável pela fiscalização do cumprimento


da lei e interesses das crianças e adolescentes.
Todo Estado conta com um Centro de Apoio Operacional (CAO), que pode e deve ser
acessado na defesa e garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes.
No site encontra-se todas as informações para fazer a denúncia:
http://www.mprj.mp.br/conheca-o-mprj/areas-de-atuacao/infancia-e-juventude ou através do email:
cao.infancia@mprj.mp.br.
Ainda no mesmo sentido, temos o Conselho Tutelar que é um órgão autônomo
administrativo do município, responsável pelo atendimento de crianças e adolescentes ameaçados ou
violados em seus direitos – artigo 136 do ECA.
Também é papel do conselheiro atender e aconselhar os pais ou responsáveis dessas
crianças e adolescentes. A partir do atendimento, o profissional pode aplicar advertências mas não
punição, somente encaminha para a autoridade competente.
A denúncia pode ser feita por telefone ou pessoalmente, na sede do conselho, que é
facilmente encontrado pela internet: https://cmdcario.com.br/enderecos.php (Rio de Janeiro).
Existem também as delegacias especializadas e na ausência dessa, delegacia da mulher
ou comuns.
No Rio de Janeiro, no momento só existe uma única no Centro: R. do Lavradio, 155 -
Centro, Rio de Janeiro - RJ, 20230-070.
Para atendimentos de médida complexidade, as crianças e adolescentes contam com
apoio dos Centros de Assistência Social: CREAS/CRAS, os quais oferecem por exemplo, atendimento
psicossocial a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.
Contato: acesse mds.gov.br, localize as unidades por Estado ou município.

AS CRIANÇAS DE ATÉ 6 ANOS, “SÃO PRIORIDADE DA PRIORIDADE”!!! ISSO PORQUE NOS 6


PRIMEIROS ANOS DE VIDA, FORMAM-SE 90% DAS CONEXÕES CEREBRAIS DAS MESMAS.

3. LEGISLAÇÃO DA CRIANÇA/ADOLESCENTE COM DEFICIÊNCIA

3.1 Legislação da Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015)

O papel do cuidador de crianças/adolescentes com necessidades especiais vai muito


além do que garantir as necessidades básicas, ele também deverá demonstrar carinho, aceitação,
entusiasmo para que ela, como qualquer outra pessoa, empenhar-se em alcançar suas metas para
realizar seus objetivos.
Esse profissional é o responsável por atender às necessidades de crianças com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou superdotação nas escolas.
A legislação em epígrafe, tem por objetivo a promoção, em condições de igualdade, do
exercício dos direitos e liberdades fundamentais pela pessoa com deficiência, por meio, principalmente,
da inclusão social.
Sendo assim, é indispensável que façamos algumas ponderações sobre a citada legislação
para que o cuidador infantil saiba os direitos da criança/adolescente com deficiência e auxilie na
efetividade da mesma.

3.1.1 Acessibilidade

Acessibilidade é fundamental para inclusão de pessoas com deficiência.


Diz respeito à condição de possibilidade para a transposição dos entraves que
representam as barreiras para a efetiva participação de pessoas nos vários âmbitos da vida social.

3.1.1.1 Acessibilidade Atitudinal

Atitudes que ajudam a criança ou adolescente na inclusão social, sendo definida como
um o conjunto de práticas interpessoais que se traduzem em condutas no sentido de diminuir diferenças
e eliminar barreiras sociais entre as pessoas. Esta dimensão da acessibilidade merece atenção especial,
pois tão importante quanto ter “as coisas” acessíveis, é que as pessoas tenham atitudes acessíveis.
Para isso é necessário que, entendamos um pouco mais das necessidades deles como:
Como abordar uma pessoa com deficiência visual? Seguro no braço? Ofereço meu braço? Como
empinar uma cadeira de rodas para vencer um pequeno degrau? Dentre outros.
3.1.1.2 Acessibilidade Arquitetônica

Corresponde à oferta de mobiliário, equipamentos e espaços pensados para atender as


crianças e adolescentes com deficiência, permitindo que ele se mova com segurança em todos os
ambientes, seja escolar, de lazer, shoppings, parques, teatros, cinema.
Em TODOS os locais, públicos e privados aberto ao público deve haver condições físicas
para o recebimento deles.
Falaremos um pouco do ambiente escolar.
A acessibilidade na escola é tanto uma solução quanto um desafio. Estima-se que apenas
pouco mais de um quarto das escolas brasileiras ofereçam condições de mobilidade, materiais e demais
recursos relacionados à acessibilidade.
Há, inclusive, riscos de acidentes, devido a soluções improvisadas ou não feitas de
acordo com as normas técnicas.
Está relacionada à necessidade de adaptação do espaço escolar para receber, de forma
igualitária, todas as crianças com dificuldade de locomoção, fazendo valer os direitos das crianças com
necessidades especificas e incluindo-as no âmbito escolar.
Assim, é direito das crianças e adolescentes com deficiência que a escola tenha
adaptação técnica consistente na inclusão de equipamentos e produtos que possam facilitar o dia a dia
de uma pessoa com deficiência. Essas medidas incluem texturas nos pisos, barras de apoio no banheiro,
corrimãos e outras mudanças físicas que dão maior autonomia e segurança aos alunos com
deficiência.

3.1.1.3 Acessibilidade Metodológica

É também conhecida como acessibilidade pedagógica e diz respeito à queda de barreiras


nas metodologias de ensino. Exemplo: quando professores realizam trabalhos e atividades com o uso
de recursos de acessibilidade para alunos com deficiência, como textos em braille ou textos ampliados.
O profissional que deseja atuar com crianças/adolescentes com necessidades especiais,
precisam se especializar no aprendizado de tais procedimentos, incluindo a apredizagem em LIBRAS.

3.1.1.4 Acessibilidade Instrumental e Tecnológica

A Acessibilidade Instrumental e Tecnológica dá um enfoque à instrumentalização dos


espaços e a possibilidade de que todos os recursos sejam usados com equidade e por todos. Não só os
instrumentos do dia a dia, mas também os espaços utilizados e as atividades feitas.
É a ausência de barreira nos instrumentos, utensílios e ferramentas de trabalho, estudo,
lazer, recreação e de vida diária.
Ferramentas auxiliadoras para essa acessibilidade são por exemplo: materiais de auxílio
como a sinalização em Braille, promoção de comunicação interpessoal, eliminando barreiras que
interpõem o diálogo, com a disponibilização de computadores com softwares destinados as pessoas
com deficiência visual, como DOSVOX, JAWS, Virtual Vision, Braille Fácil e NVDA, fones de ouvido,
gravadores de voz digital, teclados em Braille e impressoras para Braille.
Disponibilização de carteiras e mesas adaptadas para cadeirantes e usuários com baixa
coordenação motora e/ou mobilidade reduzida, também são importantes na acessibilidade.

3.1.1.5 Acessibilidade Programática

Eliminação de barreiras presentes nas políticas públicas (leis, decretos, portarias, normas,
regulamentos, entre outros).
3.1.1.6 Acessibilidade nas comunicações

É, portanto, oferecer recursos, atividades e bens culturais que promovam independência


e autonomia aos indivíduos que necessitam de serviços específicos para acessar o conteúdo proposto:
audiodescrição, legendas, janela em libras, impressçoes em braille e dublagem são alguns exemplos
existentes.

3.1.1.7 Acessibilidade Natural

Refere-se à extinção de barreiras da própria natureza. Um cadeirante, por exemplo, terá


dificuldades em se locomover em uma vegetação irregular, ou uma calçada repleta de árvores.

3.2 Exposição de Algumas Garantias Essenciais

• Prioridade em atendimentos
• Se não tiver como garantir a sua renda, tem direito a receber um salário-mínimo por mês e
também tem direito à aposentadoria especial, com redução do período de contribuição, de acordo com
o grau de deficiência.
• Os estacionamentos públicos e privados devem reservar ao menos 2%
das vagas para deficientes. Em caso de locais com capacidade para menos de 100 veículos, pelo menos
uma vaga deve ser destinada para esse público
• Acesso gratuito aos transportes públicos
• Assento preferencial nos transportes públicos
• Estacionamento gratuito, sem necessidade de pagar para parar em locais públicos ou regiões
que cobram taxas.
• Isenção de IPI, IOF e ICMS na compra de carro novo, existe a isenção de alguns impostos, como
IPI, IOF E ICMS.
• Os serviços de saúde pública devem oferecer a habilitação e a reabilitação para qualquer tipo de
deficiência, inclusive, para melhorar a qualidade de vida da pessoa portadora de necessidades especiais.
• Acesso à próteses, órteses, meios auxiliares de locomoção e os medicamentos que sejam
necessários.
• Os planos de saúde são obrigados a garantir à pessoa com deficiência, pelo menos, todos os
serviços ofertados aos demais clientes, não podendo haver qualquer tipo de discriminação ou
cobrança diferenciada em razão da sua condição.
• Educação com adaptações necessárias para garantir um aprendizado em condições de
igualdade, promovendo a sua autonomia, sem quaisquer cobranças a mais por isso.

4. LEGISLAÇÃO PENAL

4.1 Dos Crimes Contra a Criança e Adolescente (Artigo 225 ao 244 do ECA)

Existe a cada dia mais, um despertar aos delitos que ocorrem com as crianças e
adolescentes, e assim, uma maior dureza nas penas e criação de mecanismos para enfrentar à violência
doméstica contra os menores.
Vamos citar alguns tipos penais importantes para o conhecimento do cuidador infantil:

1) Artigo 230: Privar a Criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem
estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária
competente:Pena: detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único: Incide na mesma pena
aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais.
2) Artigo 232: Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame
ou a constrangimento: Pena - detenção de seis meses a dois anos.
3) Art. 236: Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar
ou representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei: Pena - detenção
de seis meses a dois anos.
4) Art. 237: Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude
de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto: Pena - reclusão de dois a seis
anos, e multa.
5) Art. 238: Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou
recompensa: Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou recompensa.
6) Art. 239: Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente
para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro: Pena -
reclusão de quatro a seis anos, e multa.
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de 6 (seis)
a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.
7) Art. 243: Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer
forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos
componentes possam causar dependência física ou psíquica.
8) Art. 244: Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou
adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial,
sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida: Pena - detenção
de seis meses a dois anos, e multa.
OBSERVAÇÃO: INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA

Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de
ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que
tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou
adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

4.2 Código Penal (CP) Considerações sobre Garantidor

É aquele que, pela ordem normativa, está obrigado a evitar um resultado danoso. A
figura do garantidor surge de acordo com o Código Penal Pátrio no crime omissivo impróprio (também
chamado de comissivo por omissão), consiste na omissão ou não execução de uma atividade
predeterminada e juridicamente exigida do agente.
Em outras palavras, o garantidor legal é aquele que, tem por DEVER, agir para que algo
ruim não ocorra com o garantido, no caso do presente estudo, a criança ou adolescente.
No direito brasileiro, o dever de agir é incumbido a quem (artigo 13 do CP, § 2º)

A. Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: encontram-se aqui as relações
familiares.

B. De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado: aceitação voluntária,


contratual ou negocial de um dever de atuar, decorrente do exercício profissional.

C. Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado: responsabilidade pela
fonte geradora do perigo.

Conforme verificado então, o cuidador infantil possui esse dever legal imposto pelo nosso
- artigo 13 do CP, § 2º, inciso II.
O crime é classificado como omissivo impróprio, pois o dever de agir é para evitar um
resultado concreto, diferente do omissivo próprio, o qual a simples omissão já é considerado crime.
Significa dizer que, só será considerado crime, caso a atitude que o cuidador infantil
deixou de ter, resulte em danos para a criança ou adolescente.
Tipos de omissão:

• Negligência é uma falta de cuidado ou desleixo relacionado a uma situação. Exemplo:


esquecer de ministrar medicação essencial para uma criança diabética.
• Imprudência consiste em uma ação que não foi pensada, feita sem precauções. Exemplo:
deixar panela de gordura quente ao alcance da criança.
• Imperícia é a falta de habilidade específica para o desenvolvimento de uma atividade
técnica ou científica. Exemplo: cuidador infantil que vê a criança tendo um ataque
epiléptico, se apavora e coloca uma colher na boca da mesma, na tentativa de desenrolar
a lingua ( isso pode asfixiá-la — e você ainda corre o risco de tomar uma mordida).

Importante frisar que, é preciso que o cuidador infantil tenha a capacidade de ação para
evitar o resultado, ou seja, se num assalto, por exemplo, o cuidador infantil é surpreendido, agredido e
amarrado, e a criança acaba sendo sequestrada, o profissional não havia como evitar o sequestro.
Contudo, se na mesma hipótese, o cuidador infantil, esquece a casa aberta, ele promoveu
por negligência/omissão, para que isso ocorresse.
Esse tema é de suma importância, pois o agente garantidor, no caso em questão, o
cuidador infantil, incorre no crime pelo resultado da sua omissão. Por exemplo: se o cuidador infantil,
deixar de alimentar a criança, e essa morre por inanição (estado de debilidade extrema provocado por
falta de alimentação, que leva o corpo a consumir os seus próprios tecidos para obter as calorias
necessárias para se manter vivo, degradando órgãos, músculos e gordura corporal).
No aludido caso, o cuidador infantil responderá pelo resultado gerado, qual seja,
homicídio culposo (sem a intenção) – artigo 121, § 3º - Pena – detenção, de um a três anos. Aumento
de pena § 4º: a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra
técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.

EXERCÍCIOS PARA A FIXAÇÃO DO CONTEÚDO

Disciplina: Direitos da Criança.

Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: OAB

1) Os irmãos João, 12 anos, Jair, 14 anos, e José, 16 anos, chegam do interior com os pais, em busca de
melhores condições de vida para a família. Os três estão matriculados regularmente em
estabelecimento de ensino e gostariam de trabalhar para ajudar na renda da casa.
Sobre as condições em que os três irmãos conseguirão trabalhar formalmente, considerando os
Direitos da Criança e do Adolescente, assinale a afirmativa correta.
Alternativas:

A. João: não; Jair: contrato de aprendizagem; José: contrato de trabalho especial, salvo atividades
noturnas, perigosas ou insalubres.
B. João: contrato de aprendizagem; Jair: contrato de trabalho especial, salvo atividades noturnas,
perigosas ou insalubres; José: contrato de trabalho.
C. João: não; Jair e José: contrato especial de trabalho, salvo atividades noturnas, perigosas ou
insalubres
D. João: contrato de aprendizagem; Jair: contrato de aprendizagem; José: contrato de aprendizagem.
Gabarito: A
Comentário da questão 1:

• CF/88: Proibição de trabalho noturno, perigoso e insalubre para os menores de 18


anos e de qualquer trabalho para os menores de 14, salvo na condição de aprendiz
• EC 20/98: Proibido o exercício de qualquer trabalho para o menor de 16 anos, salvo
na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos + proibição de trabalho noturno, perigoso e
insalubre para os menores de 18 anos
• Contrato de aprendizagem (art. 62, ECA e art. 428, CLT): possível entre os 14 e 24 anos
• Trabalho educativo (art. 68, §2o, ECA): exigências pedagógicas prevalecem sobre o
aspecto produtivo (não exclui a possibilidade de remuneração, contudo)
• A Vara da Infância e Juventude poderá autorizar a execução dos trabalhos mencionados
no §3o, do art. 405 da CLT, por alvará (teatros, cinemas, ginastas etc), desde que a
representação tenha fim educativo e que o ato não possa ser prejudicial formação moral.
Deve-se também certificar que a ocupação da criança é indispensável à subsistência de sua
pessoa ou de seus pais, além de não advir qualquer prejuízo a sua moradia.

Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: OAB

2) Perpétua e Joaquim resolveram mover ação de indenização por danos morais contra um jornal de
grande circulação. Eles argumentam que o jornal, ao noticiar que o filho dos autores da ação fora morto
em confronto com policiais militares, em 21/01/2015, publicou o nome completo do menor e sua foto
sem a tarja preta nos olhos, o que caracteriza afronta aos artigos 17, 18, 143 e 247 do Estatuto da Criança
e do Adolescente. Esses artigos do ECA proíbem a divulgação da imagem e da identidade de menor
envolvido em ato infracional.
Diante dos fatos narrados, assinale a afirmativa correta.

A. O jornal agiu com abuso no direito de informar e deve indenizar pelos danos causados.
B. O jornal não incorreu em ilícito, pois pode divulgar a imagem de pessoa suspeita da prática de crime.
C. Restou caracterizado o ilícito, mas, tratando-se de estado de emergência, não há indenização de
danos.
D. Não houve abuso do direito ante a absoluta liberdade de expressão do jornal noticiante.

Resposta: Letra A

Comentário da questão 2:

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da
criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos
valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB

3) Maria, aluna do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola que não adota a obrigatoriedade do
uso de uniforme, frequenta regularmente culto religioso afro-brasileiro com seus pais.
Após retornar das férias escolares, a aluna passou a ir às aulas com um lenço branco enrolado na cabeça,
afirmando que necessitava permanecer coberta por 30 dias. As alunas Fernanda e Patrícia, incomodadas
com a situação, procuraram a direção da escola para reclamar da vestimenta da aluna. O diretor da
escola entrou em contato com o advogado do estabelecimento de ensino, a fim de obter subsídios para
a sua decisão.
A partir do caso narrado, assinale a opção que apresenta a orientação que você, como advogado da
escola, daria ao diretor.
Alternativas

A. Proibir o acesso da aluna à escola.


B. Marcar uma reunião com os pais da aluna Maria, a fim de compeli-los a descobrir a cabeça da filha.
C. Permitir o acesso regular da aluna.
D. Proibir o acesso das três alunas

Resposta: Letra C

Comentário da questão 3:
Art. 5º CF/88
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestação alternativa, fixada em lei;

Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB

4) João, criança de 07 anos de idade, perambulava pela rua sozinho, sujo e com fome, quando, por volta
das 23 horas, foi encontrado por um guarda municipal, que resolve encaminhá- lo diretamente para
uma entidade de acolhimento institucional, que fica a 100 metros do local onde ele foi achado. João é
imediatamente acolhido pela entidade em questão. Sobre o procedimento adotado pela entidade de
acolhimento institucional, de acordo com o que dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente, assinale
a afirmativa correta.
Alternativas

A. A entidade pode regularmente acolher crianças e adolescentes, independentemente de


determinação da autoridade competente e da expedição de guia de acolhimento.
B. A entidade somente pode acolher crianças e adolescentes encaminhados pela autoridade
competente por meio de guia de acolhimento.
C. A entidade pode acolher regularmente crianças e adolescentes sem a expedição da guia de
acolhimento apenas quando o encaminhamento for feito pelo Conselho Tutelar.
D. A entidade pode, em caráter excepcional e de urgência, acolher uma criança sem determinação da
autoridade competente e guia de acolhimento, desde que faça a comunicação do fato à autoridade
judicial em até 24 horas.

Resposta: D

Comentário da questão 4:
Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
Juventude, sob pena de responsabilidade.

Ano: 2015 Banca: FGV Órgão: OAB

5) Um conselheiro tutelar, ao passar por um parquinho, observa Ana corrigindo o filho, João, por ele não
permitir que os amigos brinquem com o seu patinete. Para tanto, a genitora grita, puxa o cabelo e dá
beliscões no infante, na presença das outras crianças e mães, que assistem a tudo assustadas.
Assinale a opção que indica o procedimento correto do Conselheiro Tutelar.

A. Requisitar a Polícia Militar para conduzir Ana à Delegacia de Polícia e, após a atuação policial, dar o
caso por encerrado.
B. Não intervir, já que Ana está exercendo o seu poder de correção, decorrência do atributo do poder
familiar.
C. Intervir imediatamente, orientando Ana para que não corrija o filho dessa forma, e analisar se não
seria recomendável a aplicação de uma das medidas previstas no ECA.
D. Apenas colher elementos para ingressar em Juízo com uma representação administrativa por
descumprimento dos deveres inerentes ao poder familiar.

Resposta: letra C

Comentário da questão 5:
O procedimento correto do Conselheiro Tutelar seria intervir imediatamente, orientando Ana para
que não corrigisse o filho daquela forma, e analisar se não seria recomendável a aplicação de uma das
medidas previstas no artigo 129 do ECA (vide art. 136, do ECA).

Disciplina: Direitos do Cuidador Infantil.

1) Raquel, é uma estudante de 13 anos, muito dedicada aos estudos. A jovem nutre o sonho de um dia
ser uma grande engenheira. Desta forma, visando arrecadar dinheiro para um dia poder cursar a sua
faculdade, ela deseja trabalhar como cuidadora infantil. Com essa idade, ela pode exercer essa função?

Resposta: Não.
O curso de cuidador infantil é destinado a pessoas com idade mínima de 18 anos, com Ensino
Fundamental II completo.

Inobstante essa situação, há proibição do trabalho infantil para crianças e adolescentes de até 13 anos
de idade.

Atualmente, o texto constitucional permite trabalho formal de jovens apenas a partir dos 16 anos.
Entre 14 e 16 anos, pelas regras atuais, o jovem só pode atuar na condição de aprendiz, podendo
trabalhar até 6 horas por dia nesta condição.

2) Marcelina, foi contratada para trabalhar como cuidadora infantil. Durante o período em que está

desempenhando o seu trabalho, ela não apenas cuida da criança, como também lava as louças da

criança e ainda passa as suas roupinhas. Neste caso, as atividades de lavar e passar as roupinhas da

criança se caracteriza como um desvio de função?

Não. O cuidador infantil é o profissional responsável por todo processo de desenvolvimento da criança

ou adolescente, e portanto, responsável por serviços de cuidados de saúde física e emocional,

nutrição e higiene num todo.

Sendo assim, o cuidador também tem a responsabilidade de ensinar sobre a higiene e o saneamento,

ao lavar as mãos da criança, bem como na utilização do vaso sanitário, preparo e armazenamento da

alimentação, escovação dos dentes e também lavando a louça dos pequeninos e cuidando de suas

roupinhas.
3) Mirela, não trabalha como cuidadora infantil em nenhuma residência familiar. Por ela ser uma moça

muito confiável e responsável, muitos pais deixam os seus filhos na casa dela e com todo carinho Mirela

cuida destas crianças. É válido ressaltar que este serviço prestado pela moça é muito bem remunerado

pelos pais. Neste caso, Mirela se enquadra na hipótese de doméstica?

Resposta: Não. O exercício da atividade de cuidador infantil na própria casa do cuidador, é informal

e não configura hipótese de empregado doméstico.


BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Secretaria Nacional de Renda de Cidadania. Secretaria Nacional de Assistência Social. Instruções
Operacional Conjunta nº 2. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome,
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8069 de 13 de julho de 1990.
CLT ACADÊMICA E CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA. 22ª edição 2022. Rio de Janeiro.
Editora Saraiva.
Lei Complementar 150 de 01/06/2015. Dispõe sobre o contrato de trabalho doméstico.
LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. Lei Mesa da Câmara dos Deputados 55ª
Legislatura | 2015-2019 Presidente - Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que institui a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
VADE MECUM TEMÁTICO. Penal - 7ª Edição 2022. Rio de Janeiro. Editora Saraiva.

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