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Engenheira Civil

Engenheira de Segurança do Trabalho


Especialista em Planejamento e Gestão de Obras Civis
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AULA 1 – CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO DA


ERGONOMIA

CONCEITO DE ERGONOMIA

A Ergonomia é uma disciplina científica que está relacionada com o


entendimento das interações do homem com o meio, assim como aplica métodos e
práticas para otimizar essa interação e promover qualidade de vida ao homem.

De acordo com definição oficial dada durante o Congresso Internacional de


Ergonomia, realizado em 1969, a Ergonomia é o estudo cientifico da relação entre o
homem e seus meios, métodos e espaço de trabalho. Seu objetivo é elaborar, mediante a
contribuição de diversas disciplinas cientificas que a compõe, um corpo de
conhecimentos que, dentro de uma perspectiva de aplicação, deve resultar numa melhor
adaptação ao homem dos meios tecnológicos e dos ambientes de trabalho e da vida.

A Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho,


equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia,
fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos deste relacionamento.

O termo ergonomia é derivado das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos


(regras, normas). Este termo foi adotado nos principais países europeus, onde se fundou
a Associação Internacional de Ergonomia (IEA), que atualmente representa as
associações de 40 países, com um total de 19 mil sócios. No Brasil, existe a Associação
Brasileira de Ergonomia – ABERGO, fundada em 1983.

A Ergonomia estuda vários aspectos: a postura e os movimentos corporais


(sentado, de pé, empurrando, puxando e levantando pesos), fatores ambientais (ruído,
vibrações, iluminação, clima, agentes químicos), informação (informações captadas pela
visão, audição e outros sentidos), controles relações entre mostradores e controles, bem
como cargos e tarefas (tarefas adequadas, cargos interessantes). A conjugação adequada
desses fatores permite projetar ambientes seguros, saudáveis, confortáveis e eficientes,
tanto no trabalho quanto na vida cotidiana.
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A ergonomia se baseia em conhecimentos de outras áreas cientificas, como


antropometria, biomecânica, fisiologia, psicologia, toxicologia, engenharia, desenho
industrial, eletrônica, informática e gerencia industrial. Ela reuniu, selecionou e integrou
os conhecimentos relevantes dessas áreas, desenvolvendo métodos e técnicas específicas
para aplicar esses conhecimentos na melhoria do trabalho e das condições de vida, tanto
dos trabalhadores, como da população em geral.

A ergonomia difere de outras áreas do conhecimento pelo seu caráter


multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar.

Multidisciplinaridade: Almeida Filho (2005) define multidisciplinaridade como


um conjunto de disciplinas que trata, simultaneamente, de uma dada questão, sem que os
profissionais implicados estabeleçam efetivas trocas entre si. Portanto, cada especialista
emprega sua metodologia, com base em suas hipóteses e teorias, e o objeto em questão é
visto sob múltiplos pontos de vista, numa justaposição de conhecimentos.

Interdisciplinaridade: O prefixo inter, por si só, marca a presença de uma ação


recíproca de um elemento sobre o outro e vice-versa. Em uma equipe interdisciplinar, há
possibilidade de troca de instrumentos, técnicas, metodologia e esquemas conceituais
entre as disciplinas. Dessa forma, trata-se de um diálogo que leva ao enriquecimento e
transformação das disciplinas envolvidas. Segundo Almeida Filho (2005),
interdisciplinaridade implica na interação de diferentes disciplinas científicas sob a
coordenação de uma delas.

Transdisciplinaridade: A abordagem transdisciplinar busca resolver um


problema do mundo real com base na experiência acadêmica e não acadêmica, articulando
os conhecimentos a fim de propor soluções para o problema. Ou seja, transcende o âmbito
de cada disciplina e surge por meio de uma articulação que possibilita o surgimento de
uma nova visão da natureza e da realidade.

Na multidisciplinaridade, várias disciplinas cooperam com um projeto, mas cada


qual trabalhando um aspecto do objeto com o seu método. Na interdisciplinaridade, há
situações em que uma disciplina nova adota métodos de uma mais antiga. Na
transdisciplinaridade, a tentativa é instaurar uma metodologia unificada.
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No tocante à ergonomia, os profissionais da área devem deixar de contribuir da


maneira multidisciplinar clássica, cada um com sua contribuição segmentada, passando a
interagir proativamente diante do problema a tratar. Segundo a Associação Brasileira de
Ergonomia (2004, p.11): [...] os problemas da realidade laboral não são exclusivos de
quaisquer das disciplinas de suporte e muito menos admitem reduções a estes olhares
segmentados.

O próprio objeto da ergonomia, a atividade de trabalho, não é apenas fisiológico,


biomecânico cognitivo ou organizacional, mas sintetiza todos esses aspectos face ao
problema que é realizá-la com eficiência, conforto e segurança. O que significa dizer que
as soluções propostas devem ser examinadas por todos esses ângulos. Dessa forma, os
profissionais da área devem priorizar o entendimento de todo o campo de ação da
disciplina, tanto em seus aspectos físicos e cognitivos quanto sociais, organizacionais,
ambientais, etc.
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HISTÓRIA DA ERGONOMIA

Homem Pré-Histórico

Ao se analisar a origem do homem, pode-se afirmar que é praticamente certo que


o trabalho surge de suas ações ativas sobre a natureza. Para se alimentar, o homem
primitivo foi obrigado a coletar frutos e vegetais e posteriormente abater animais e
consequentemente desenvolver atividades agrícolas, as quais foram imprescindíveis à sua
sobrevivência e ao seu desenvolvimento evolutivo, cognitivo e social.

As necessidades de sobrevivência levaram o homem primitivo a evoluir e


descobrir que uma pedra poderia ser afiada e até ficar pontiaguda, transformando-
se numa ferramenta que traria maior eficiência nas suas atividades.

Desde as civilizações antigas, o homem sempre buscou melhorar as ferramentas e


os utensílios que utiliza no seu dia a dia. Existem exemplos de empunhaduras e foices,
datadas de muitos séculos atrás, que demonstram a preocupação em adequar a dorma da
pega às características da mão humana, de modo a propiciar mais conforto durante a
utilização (Moraes e Montalvão, 2000).

De acordo com Martins (2002), o início da história da ergonomia remonta a


criação das primeiras ferramentas, quando o homem pré-histórico esculpiu uma
ferramenta que melhor se adaptasse à forma e ao movimento de sua mão.

INCONCIENTEMENTE O HOMEM PRÉ-HISTÓRICO JÁ APLICAVA A ERGONOMIA

Fig.01 – Artefatos pré-históricos


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OS PRIMEIROS ACIDENTES DE TRABALHO OCORRERAM COM A FABRICAÇÃO DAS


PRIMEIRAS FERRAMENTAS.

A primeira definição de TRABALHO está registrada na Bíblia, no livro do


Gênesis, e é apresentada como uma maldição ligada à fadiga, indicando-o como
sacrifício. Neste contexto, podemos associar que as atividades laborais traziam
consequências negativas e, portanto, as doenças do sacrifício do trabalho, passam a afetar
o homem desde os primórdios da humanidade.

Segundo Silva (2006), na Antiguidade já eram conhecidos os problemas de coluna


dos carregadores de pedra, as cólicas pelo chumbo nos minérios e a intoxicação por
mercúrio.

Um papiro de 2500 a.C. contém a descrição do Egito antigo de acidente com


diagnóstico de lombalgia aguda, resultante de um trabalhador envolvido na construção de
uma pirâmide. De acordo com a revista Travail (1999), há mais de 2000 anos, os
trabalhadores que construíram as pirâmides do Egito já sofriam de silicose.

1490 - Leonardo da Vinci – (Artista – Matemático – Gênio)

O foco central da curiosidade científica de Leonardo da Vinci era o HOMEM E O


SEU ENTORNO, considerando os seus pormenores e as mais amplas relações,
demonstrando claramente a preocupação central dos fatores humanos. Em seus estudos e
projetos, as máquinas e suas funções se ajustam ao homem, facilitando a execução de
diversas tarefas. A releitura e o redesenho de “O Homem Vitruviano” realizados por ele
uma referência significativa nos estudos da ANTROPOMETRIA e da ERGONOMIA.

A principal relevância da ação de Leonardo ao juntar o homem canônico do


quadrado e da circunferência, em seus centros geradores e clássicos em uma só figura, foi
manter o homem fixo em um lugar, girar ou articular seus membros inferiores e superiores
ainda conectados ao tronco e, como é característica dos precursores e empreendedores,
pensar diferente e alterar a posição das formas, o quadrado e a circunferência, neste caso,
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o que viria a ser um princípio da ergonomia, isto é, o posto de trabalho, o ambiente, a


roupa e as questões periféricas devem se adaptar ao homem, e não o homem a eles.

Fig.02 – Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci

Leonardo combinou em um mesmo desenho o homem inserido no círculo e no


quadrado, promovendo estudos acerca das dimensões e movimentos humanos.
Atualmente, o conhecimento das formas e medidas do corpo aplicado em projetos é
denominado antropometria (Boueri, 2008).

De acordo com Martins (2008), o corpo humano é o ponto de partida para o projeto
de produto. Desta forma, os estudos minuciosos de Leonardo da Vinci sobre a anatomia
humana, principalmente sobre o “Homem Vitruviano” são precursores essenciais do
estudo da ANTROPOMETRIA e da ERGONOMIA.
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1700 - Bernardino Ramazzini – (Médico)

PAI DA MEDICINA DO TRABALHO

Seu livro mais importante é De Morbis Artificum Diatriba cujo título em


português é “As Doenças dos Trabalhadores” (Tradução: Dr. Raimundo Estrêla, 1971).

Fig.03 – “Livro As Doenças dos Trabalhadores”

Ramazzini possuía visão social muito forte, pois aprendeu a ouvir, a pensar e a
raciocinar profundamente. Ele foi um médico dos trabalhadores e dos locais de trabalho
onde eles atuavam e adoeciam. O posto de trabalho era para ele como o leito do doente.

Manteve contato com diversos tipos de trabalhadores, de artesãos, de ofícios, de


ocupações e sua frequência periódica aos mais sujos e repugnantes locais de trabalho onde
observava e consultava tudo sentado em simples banquetas de madeira para concluir
sobre os postos, as condições, os métodos de trabalho e a vida dos trabalhadores expostos
aos diferentes agentes mecânicos, físicos, químicos, biológicos e antiergonômicos que
existiam em época anterior ao início da Revolução Industrial (1750).
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Após um longo tempo com os trabalhadores in loco, formulou a seguinte pergunta


fundamental nas anamneses clínicas: “Qual é a sua profissão?”

Em sua obra, Ramazzini descreveu 42 capítulos relatando doenças — sintomas e


sinais — que frequentemente acometiam os trabalhadores. Posteriormente, acrescentou
mais 12.

No que se refere à ERGONOMIA, Ramazzini faz referências à organização do


trabalho e outros aspectos, evidenciando como suas ideias eram avançadas em relação
aos conhecimentos da época.

1. Ramazzini refere que há enfermidades que não decorrem da nocividade da


matéria manipulada e sim de outras causas, como: posição forçada dos membros e
movimentos corporais inadequados. Estes obreiros apresentam distúrbios mórbidos
enquanto trabalham de pé, sentados, inclinados, encurvados, correndo, andando a
cavalo ou fatigando seu corpo de qualquer outra forma. Os que trabalham de pé, como
os militares e os arúspices, estão propensos, sobretudo, a varizes.

2. Ressalta que há duas causas para as doenças: a natureza nociva das


substâncias e a violência que se faz à estrutura naturalda máquina vital com posições
forçadas e inadequadas.

3. Ao recomendar moderação no trabalho dos marceneiros, adverte que não se


deve adquirir doenças pelo interesse do ganho, pois o trabalho os vencerá.

4. As observações e explicações mecânicas sobre a forma de carregar pesos: leve


será a carga se bem levada.

5. No capítulo que trata dos poceiros, são distinguidos dois tipos de operários: os
que cavam poços de petróleo e os que cavam poços de água; nos dois casos, além dos
riscos inerentes à escavação, há o risco de afogamento, seja no petró- leo, seja na água.

6. Recomenda o período matutino para estudar.


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7. Os cavaleiros que andam em linha reta fatigam-se muito menos do que os que
cavalgam em pistas circulares, recomendando que, nestas, trabalhem somente a metade
do tempo.

8. Os operários de uma tipografia são de duas categorias: os que trabalham


sentados, compondo as palavras, e os que trabalham de pé, um passando a tinta e outro
que comprime o prelo contra o papel.

9. Os padeiros são, geralmente, artífices noturnos: enquanto os outros artesãos


descansam, eles trabalham de noite e dormem todo o dia, como as pulgas, pelo que
podem ser considerados como antípodas, que vivem ao contrário dos demais homens.

10. Para revolver a massa em dispositivo semimecânico, o padeiro necessita


torcer suas pernas lateralmente: com o tempo, mesmo que sejam jovens e robustos, ficam
zambetas e coxos. No verão, derretem-se em suor, junto ao forno, porém reconfortam-se
bastante com o cheiro do pão quente.

Século XVIII - Bernard Forest de Bélidor – (Engenheiro Civil e Militar)

Estudos de maneiras eficientes de trabalho se intensificaram com a aproximação


da Primeira Revolução Industrial (meados do século XVII), quando o ritmo e as
dimensões do trabalho começaram a exigir o desenvolvimento de máquinas e dispositivos
para acelerar os processos das grandes construções que eram projetadas.

Assim surgiram as contribuições dos engenheiros para auxiliar tanto nas


informações estruturais como na melhor maneira de se executar trabalhos específicos
que demandariam esforço e utilização de cargas excessivas, que provavelmente
influenciariam na qualidade do trabalho e na melhor maneira de se executar um
movimento utilizando-se do menor esforço possível.

Destaca-se a contribuição de Bernard Forest de Bélidor, engenheiro civil e militar


do século XVIII, cujas publicações foram referência em toda a Europa, contendo desde
tabelas e cálculos estruturais até princípios de organização do trabalho, que nortearam
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o projeto e execução de construções durante todo o século. Bélidor teve sua vida marcada
por contribuições militares e períodos de docência nas áreas da engenharia civil e
mecânica e seus ensinamentos são utilizados até os dias atuais, contribuindo assim em
estudos técnicos e ergonômicos com preceitos de melhoria do trabalho. Suas
publicações se fixaram na área da engenharia civil e arquitetura aplicada às estruturas
militares, especificamente em construções de fortificações e de pontes, no intuito de
definir um ritmo mais rápido para essas construções.

Fig.04 –Bernard Forest de Bélidor

Bélidor desenvolveu máquinas que facilitavam o carregamento de peso,


balsas com bate-estacas nos rios, estudos de contenção de barragens, entre outros.
Destacam-se outras contribuições no campo de estudo da arquitetura hidráulica, como a
bomba d’água utilizada pelos chineses e reestudada por Bélidor e a roda d’água utilizada
até hoje em cachoeiras e moinhos, estas duas utilizadas também em fortificações
militares.

No Brasil, a influência de Bélidor ocorreu nas obras de fortificações e também


com o surgimento das primeiras escolas de engenharia, nas quais vários de seus conceitos
foram implantados nas disciplinas dos cursos de engenharia e arquitetura. Entre esses
estudos, também se verifica a preocupação com o trabalhador no intuito de não
sobrecarregá-lo ou prejudicar sua saúde no posto de trabalho.
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Assim, um operário sem doenças ocupacionais poderia ser mais eficiente nas
construções. Por esses estudos Bernard Forest de Bélidor é considerado um dos
precursores da ergonomia, e, posteriormente, seus estudos foram utilizados e
desenvolvidos por outros estudiosos.

Segundo Laville (1976), Bélidor tentou medir a capacidade de trabalho físico nos
locais de trabalho dos operários no século XVIII, indicando que uma carga muito alta de
trabalho leva a uma predisposição a doenças, e uma melhor organização das tarefas
melhora o rendimento.

Esses estudos eram realizados no local de trabalho e analisavam como o


trabalhador se comportava especificamente no que tangia ao carregamento de cargas por
longo período, relacionando esforço muscular e postura, que posteriormente foram
considerados irregulares.

Em muitos de seus desenhos, Bélidor demonstrava como o ser humano


interagia com as máquinas e de que forma o trabalho era realizado com esses
instrumentos que facilitavam o carregamento de peso, entre outros esforços que
anteriormente eram realizados pelo próprio trabalhador. Verificam-se em suas anotações
várias ilustrações: elevadores de cargas, balsas utilizadas em bate-estacas de pontes, entre
outras, muitas utilizando roldanas.

1822 – Patissier (Médico)

Patissier foi além de Ramazzini, interessando-se não só pelas doenças que


ocorriam nas ocupações estudadas, mas também em casos de acidentes de trabalho,
indicando como podiam ocorrer e como evitá-los.

- Falava sobre as lesões sofridas por crianças, que ficavam expostas a quedas frequentes,
sendo vítimas de sua própria falta de cuidados, e indicava procedimentos de trabalhos que
poderiam evitar essas lesões;
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- Enfatizava medidas para evitar acidentes, incluindo explosões de gás, e destacava várias
precauções que deviam ser tomadas, principalmente o retorno às minas de carvão, após
os feriados e domingos;

- Sugeria medidas de proteção nos trabalhos de fábrica, com recomendação de maneiras


para prevenir os efeitos dos trabalhos que envolviam metais, e minerais com exalação de
vapores.

Patissier também ressaltou ser possível orientar as crianças para uma profissão
específica, em função da sua constituição física, seu temperamento e disposições
legais (Boisselier, 2004).

O Tratado de Patissier foi difundido na França, e suas ideias foram amplamente


adotadas. Sua preocupação com a prevenção, especialmente no que diz respeito aos
acidentes com máquinas, foi amplamente difundida, sendo compartilhada pelas mais
variadas empresas da França.

1857 – Wojciech Jastrzebowski (Biólogo)

A primeira definição de Ergonomia foi feita em 1857 na égide do movimento


industrialista europeu. Esta definição foi feita por um cientista polonês, Wojciech
Jarstembowsky numa perspectiva típica da época, de se entender a Ergonomia como uma
ciência natural em um artigo intitulado “Ensaios de ergonomia, ou ciência do trabalho,
baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”. Esta primeira definição
estabelecia que:

“A ergonomia como uma ciência do trabalho requer que entendamos a atividade


humana em termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação (Jastrzebowski,
1857).”
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Início Século XX - Fordismo e Taylorismo

Revolução Industrial

Com o avanço do sistema capitalista, o início do século XX foi um período de


intensas alterações no sistema produtivo. As principais mudanças focaram na relação do
trabalhador com o objeto, e foram desenvolvidas por Frederick Taylor – com o taylorismo
- e Henry Ford - com o fordismo.

Frederick Winslow Taylor (1856–1915), norte americano de Filadélfia, era um


engenheiro mecânico que em 1911 desenvolveu uma obra chamada “Os princípios da
administração”, que continha uma série de métodos inovadores para a produção
industrial. Esse novos métodos ficaram mundialmente conhecidos por taylorismo, em
relação ao seu sobrenome.

Taylor e seus precursores analisaram o trabalho, tendo em vista definir as


melhores condições de rendimento, aprimorando o desempenho do homem e baseando-
se no modelo análogo ao funcionamento da máquina (Laville, 1977).

No fim do século XIX já se verificava uma grande competitividade, com rápido


crescimento de corporações e início de organizações industriais que monopolizavam o
mercado. Esse fato tornava cada vez mais difícil a sobrevivência no mercado de indústrias
que apresentavam baixa produtividade (Cooper; Taylor, 2000). Nesse contexto, de uma
indústria desorganizada e pouco eficiente, sem controle ou conhecimento aprofundado
das tarefas realizadas pelos seus trabalhadores, Taylor desenvolveu a sua teoria
entroduziu o conceito da Administração Científica, revolucionando o sistema produtivo
do começo do século XX, formando a base sobre a qual se desenvolveu a atual Teoria
Geral da Administração (Coelho; Gonzaga, 2009).

A administração científica surgiu como uma reação aos precários métodos de


organização vigentes no processo produtivo industrial das indústrias americanas
(Kanigel, 1997 apud Cooper; Taylor, 2000). Os donos de fábricas forneciam apenas a
estrutura física para a produção (local, energia e matéria-prima, ferramentas, maquinário,
etc.) e contratavam feitores para organizar o trabalho.
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Esses feitores agiam como subempreiteiros e tinham o dever de selecionar os


trabalhadores, organizar as tarefas básicas da indústria e gerenciar o chão de fábrica da
melhor forma possível. A administração ficava preocupada apenas com o produto final,
preços, prazo de entrega e lucro, tendo apenas uma noção geral da produtividade e
tratando o trabalho com descaso (Bridger, 2009).

Muito pouco era feito até então para promover melhores formas de se realizar o
trabalho ou sistemas de organização do processo produtivo e também não havia métodos
de avaliação da eficiência dos procedimentos realizados diariamente nas indústrias. Os
trabalhadores se resignavam a realizar suas atividades e não contribuíam com sugestões
de melhorias no processo produtivo, ou por total desconhecimento do que poderia ser
feito ou por falta de vontade de contribuir com mudanças que poderiam aumentar os
lucros da empresa, mas não se converteriam em benefícios ou melhores condições de
trabalho. A administração da empresa, por desconhecer a forma como as tarefas básicas
eram desempenhadas, tendo apenas uma visão geral do todo, era ineficiente para
reconhecer falhas do processo produtivo e conseguir aumentar a produtividade (Bridger,
2009).

A administração científica, preconizada por Taylor em sua principal obra (Taylor,


1970), “Princípios da Administração Científica”, fundamenta-se na aplicação de métodos
científicos para administrar o trabalho, tirando o poder de controle do trabalhador sobre
suas ações e escolhas e transferindo-o para o setor administrativo. As teorias de Taylor
fundamentam-se sobre algumas premissas, sendo uma delas a de que existe um meio mais
rápido e eficiente para realizar cada tarefa, em que a eficiência seria máxima. Para tanto,
ele analisou sistemática e obstinadamente as tarefas na indústria, atentando aos
movimentos e o tempo necessário para sua realização, e fragmentou-as até a sua maior
simplicidade. Segundo o autor, toda e qualquer tarefa, por menor que seja, é relevante e
necessita ser estudada para que se projete um melhor método para sua realização.

O trabalhador passava então a realizar tarefas específicas com controle rigoroso


do tempo. O treinamento era importante, pois com instruções sistemáticas e adequadas a
cada função seria possível fazer o funcionário produzir mais e com maior qualidade.
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Nesse sistema, deve haver um forte controle para verificar se o trabalho está sendo
executado da maneira adequada, na sequência e no tempo predeterminado para não haver
desperdício operacional.

Fig.05 – Tempo é dinheiro.

Outra premissa do taylorismo é a do homem econômico, que afirma que o único


fator motivador para o trabalhador realizar o seu trabalho de maneira mais dedicada é
vinculando o seu pagamento à sua produtividade, sendo estabelecidas metas a serem
cumpridas. A visão de Taylor era de que por meio de pagamentos o trabalhador se sentiria
estimulado a trabalhar mais, cooperando com a empresa para a obtenção de lucros, o que
reverteria para o bem de todos.

O trabalhador ideal era aquele que executava as tarefas da maneira planejada pela
administração, sem questionar e da maneira mais eficiente possível. Os quatro princípios
da administração científica são:

1. Princípio de planejamento: consistia na substituição de mé- todos empíricos e


improvisados por procedimentos cientí- ficos, com métodos avaliados. Esse planejamento
rigoroso do trabalho, baseado em estudos fundamentados, inclusive estatisticamente,
propiciou à administração transformar-se em uma ciência.

2. Princípio de preparo: preparar e treinar os operários para produzirem mais e


melhor, de acordo com o método planejado. Incluía o treinamento do trabalhador sobre o
modo ideal de realizar o trabalho e a seleção de um indivíduo ideal para cada função.
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3. Princípio de controle: controlar o trabalho para se certificar de que está sendo


executado de acordo com os métodos estabelecidos. O controle do tempo e dos
movimentos era rigoroso na teoria de Taylor.

4. Princípio da execução: distribuir atribuições e responsabilidades para que a


execução do trabalho seja disciplinada. Houve a criação do cargo de supervisor para
averiguar se o método de trabalho desenvolvido estava sendo executado pelos
trabalhadores.

As ideias de Taylor proporcionaram uma revolução no processo produtivo,


trazendo muitos benefícios para a sociedade da época. A administração passou a ter um
sistema formal estabelecido para monitorar as práticas laborais e suas relações com a
produtividade. Ficou estabelecida a coparticipação entre o capital e o trabalho, refletindo
em menores custos, maiores salários e aumento da produtividade e competitividade das
empresas. O custo dos produtos manufaturados ficou reduzido e, consequentemente, mais
acessí-vel, inclusive àqueles que os produziam.

A repetitividade e a grande simplicidade das tarefas apresentaram algumas


vantagens, como menor necessidade de trabalhadores especializados, redução de custos
de treinamento, facilidade na substituição ou realocação da mão de obra, redução de
ordenados, os cronogramas de produção eram mais facilmente controlados e era mais
fácil prever a quantidade de produtos produzida (Bridger, 2009).

Sem dúvida, o taylorismo possibilitou o aumento considerável da produtividade


dos trabalhadores, reduzindo custos de produção e consequentemente o preço das
mercadorias, permitindo, sobretudo, aumentar consideravelmente os lucros e a
prosperidade dos patrões, cujo benefício para o empregado, segundo Taylor, seria o
aumento de seu salário habitual, sem considerar as questões humanas no trabalho
(Lazzareschi, 2007).

O Taylorismo através da super-fragmentação do trabalho e monotonia,


cronometragem do tempo de execução das tarefas, bônus por produtividade, punição por
metas não alcançadas, adequação do ritmo de trabalho ao ritmo ditado pelas máquinas,
vai de desencontro à ergonomia no que concerne ao bem estar do funcionário, causando
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tédio, problemas motores e psicológicos, fazendo com que o funcionário trabalhe com
execução de movimentos repetitivos, ritmo acelerado, sem pausa e em desconformidade
com o seu próprio ritmo e adaptação do homem à máquina.

Henry Ford (1863 – 1947) foi um empreendedor americano fundador da Ford


Motor Company que, inspirado no método idealizado por Taylor, foi responsável pela
criação de um sistema industrial chamado de fordismo. A grande inovação do fordismo
em relação ao taylorismo foi à introdução de linhas de montagens, na qual o operário era
responsável apenas por uma atividade.

Em sua fábrica, Ford determinava a posição de todos seus funcionários, que


aguardavam as peças automotivas se deslocarem pelas esteiras de montagem da fábrica
para executarem uma única função específica. Cada funcionário tinha apenas uma função
em toda linha de montagem, sendo somente responsável, por exemplo, por apertar um
determinado parafuso. Além disso, o proletário devia executar sua atividade no tempo
determinado pela máquina, pois caso atrasasse alterava toda a produção e era repreendido
pelo gerente local.

Fig.06 – Linha de Produção.

A limitação funcional do operário causava uma alienação psicológica no


indivíduo, pois limitava o conhecimento do operário a função, não tendo nenhuma noção
da compreensão do todo. Sem contar os problemas físicos ocasionados pela excessiva
repetição da mesma atividade inúmeras vezes ao dia.
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A jornada exaustiva de trabalho desses indivíduos e os problemas e abusos


sofridos por eles podem ser visualizados no filme “Tempos Modernos”, do gênio Charles
Chaplin.

Fig.07 – Tempos Modernos – Charles Chaplin

“Charlie Chaplin criou uma sátira magistral à industrialização, Tempos


Modernos, que atraiu a atenção para os custos humanos e sociais da tecnologia. Em uma
seqüência memorável, Chaplin aparece trabalhando numa linha de montagem. Sua
função é realizar alguns movimentos repetitivos; ele usa duas chaves inglesas, uma em
cada mão, para apertar dois parafusos em cada um dos componentes que deslizam por
uma esteira. A velocidade da esteira aumenta; Chaplin tenta desesperadamente
acompanhá-la, mas finalmente é levado pela esteira e cai em uma rampa. Na cena
seguinte, vemos várias rodas mecânicas gigantescas com engrenagens entrelaçadas, que
torcem o Pequeno Vagabundo num trajeto em forma de S, primeiro para frente, depois
para trás, e novamente para frente. Ele foi forçado a se adaptar à tecnologia
literalmente: tornou-se um verdadeiro dente na engrenagem.”

Esses dois métodos trabalhísticos tinham o mesmo objetivo: ampliação do lucro


dos detentores dos meios de produção. Ambos os autores visaram apenas à ampliação da
produção, sem levar em conta os direitos ou as condições de trabalho dos funcionários.

Com a Revolução Industrial que gerou uma série de avanços tecnológicos, o


trabalho ganhou novas abordagens, causando impacto no processo de produção.
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Consequentemente, a concepção de ergonomia foi tomando novas proporções,


abrangendo o regime de trabalho, sua jornada de praticamente 16 horas diárias e as
condições em que era desenvolvido (ou seja, aspectos de higiene, preocupações com o
ruído e segurança). Já no final do século XVIII, com o Taylorismo, os pesquisadores
norte-americanos iniciaram estudos relacionados ao homem no trabalho. No mesmo
período, na Europa, eram realizadas pesquisas sobre a fisiologia do trabalho. Com a
Primeira Guerra Mundial (entre 1914 e 1917), foram aplicados, na Inglaterra, estudos de
fisiologistas e psicólogos no aprimoramento da indústria bélica.

II Guerra Mundial

Na II guerra mundial, a falta de compatibilidade entre o projeto das máquinas e


dispositivos e os aspectos mecânico-fisiológicos do ser humano se agravou com o
aperfeiçoamento técnico dos motores. Foram registradas situações terríveis, agora
atingindo tropas e material bélico em pleno uso.

Os aviões, por exemplo, passaram a voar mais alto e mais rápido. Os pilotos,
porém, sofriam da falta de oxigênio nas grandes altitudes, perda de consciência nas
rápidas variações de altitude exigidas pelas manobras aéreas, e vários outros "defeitos"
no sub-sistema fisiológico.

Os projetistas não consideraram o funcionamento do organismo em diversas


altitudes e submetidos a acelerações importantes. Como conseqüência, muitos aviões se
perderam. A perda do material bélico era importante, vultosa e por si só justificaria
esforços. No entanto, dado que o treinamento de um piloto levava dois a quatro anos, a
perda de um piloto treinado se constituía em perda irreversível no duração da guerra.

Nessas novas circunstâncias foram formados, tanto na Inglaterra como nos


Estados Unidos, novos grupos interdisciplinares, agora com a participação de psicólogos
somados aos engenheiros e médicos. Os objetivos eram os de "elevar a eficácia
combativa, a segurança e o conforto dos soldados, marinheiros e aviadores". Os trabalhos
desses grupos foram voltados para a adaptação de veículos militares, aviões e demais
equipamentos militares às características físicas e psicofisiológicas dos soldados,
sobretudo em situações de emergência e de pânico.
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E o que nos interessa particularmente, estes estudos se baseavam na análise e nos


estudos dos materiais que retornavam e no relato de seus problemas operacionais. Assim
sendo, em seu nascedouro, a Ergonomia se alimentou profundamente de dados e estudos
de manutenção bélica.

Segundo nos relata Iida (1990), os cientistas que haviam participado desse esforço
de guerra decidiram continuar a empreitada voltando-se para a produção civil, utilizando
os métodos, técnicas e dados obtidos para a indústria. Numa precursora forma de extensão
universitária, são formados laboratórios universitários para atender a demandas
industriais, com sucesso.

Conforme os avanços tecnológicos da Segunda Guerra Mundial eram aplicados


ao cotidiano civil, percebeu-se a dificuldade que as pessoas tinham de lidar com os
equipamentos, resultando numa performance pobre e aumentando a chance de erro
humano. Isso levou acadêmicos e psicólogos militares a realizarem pesquisas na área e,
posteriormente, investigações sobre a interação entre pessoas, equipamentos e ambiente.
Embora o foco inicial tenha sido ambientes de trabalho, a importância da ergonomia foi
gradualmente se tornando reconhecida em outras áreas, como no projeto de produtos para
consumidores (carros e computadores, p.ex.).

A Ergonomia nasce com os objetivos práticos de segurança, satisfação e bem estar


dos trabalhadores no seu relacionamento com sistemas produtivos. Ao contrario do
Taylorismo, que buscava a eficiência e o aumento da produção, na Ergonomia, a
eficiência vem como resultado, pois visa, em primeiro lugar, o bem-estar do trabalhador
e parte do conhecimento do homem para fazer o projeto do trabalho, ajustando-o as suas
capacidades e limitações humanas.

Em 1949, K.F.H. Murrel, engenheiro inglês, começou a dar um conteúdo mais


preciso a este termo, e fez o reconhecimento desta disciplina científica criando a primeira
associação nacional de Ergonomia, a Ergonomic Research Society, que reunia
fisiologistas, psicólogos e engenheiros que se interessavam pela adaptação do trabalho ao
homem. E foi a partir daí que a Ergonomia se desenvolveu em outros países
industrializados e em vias de desenvolvimento.
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Nas décadas seguintes à guerra e até os dias atuais, a ergonomia continuou a


desenvolver-se e a diversificar-se. A era espacial criou novos problemas de ergonomia
tais como a ausência de gravidade e forças gravitacionais extremas. Até que ponto poderia
este ambiente ser tolerado e que efeitos teria sobre a mente e o corpo? A era da informação
chegou ao campo da interação homem-computador enquanto o crescimento da demanda
e a competição entre bens de consumo e produtos eletrônicos resultou em mais empresas
levando em conta fatores ergonômicos no projeto de produtos.

O termo Ergonomia é relativamente recente: criado e utilizado pela primeira


vez pelo inglês Murrel, passando a ser adotado oficialmente em 12 de julho de 1949,
na Inglaterra, quando reuniram-se cientistas e pesquisadores interessados em discutir
e formalizar a existência deste novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência.

ERGONOMIA NO BRASIL

É possível afirmar assim que a origem da ergonomia no Brasil possui duas


abordagens metodológicas: a de origem francesa, inicial, e a de origem anglo-saxônica,
que, segundo Soares (2005), não são contraditórias, mas, sim, complementares. Um fator
que contribuiu para a existência da influência francesa foi o intercâmbio realizado por
pesquisadores brasileiros que foram para a França cursar mestrado e doutorado.

No Brasil, as pesquisas na área são relativamente recentes. Embora haja registros


de pesquisas realizadas no século XIX, foi apenas a partir da década de 1970 que
pesquisadores de várias universidades brasileiras começaram a introduzir a ergonomia no
escopo de várias áreas do conhecimento, sendo que o primeiro trabalho acadêmico data
de 1973 – Ergonomia: notas de classe, escrito por Itiro Iida e Henry A. J. Wierzbicki.

Em 1983, surge a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), uma entidade


sem fins lucrativos cujo objetivo é o estudo, a prática e a divulgação das interações das
pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, considerando as suas necessidades,
habilidades e limitações.
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A ergonomia no Brasil viveu seu momento de destaque a partir da década de 1980,


quando vários pesquisadores brasileiros retornaram da França após desenvolverem
mestrado e doutorado, sob a orientação do professor Alain Wisner ou do professor
Maurice de Montmollin, e ingressaram em universidades de vários Estados brasileiros,
criando ou contribuindo para a realização de cursos de especialização em ergonomia.

Sem dúvida esse fato contribuiu para a divulgação da ergonomia no país, bem
como para despertar o interesse de pesquisadores que se envolveram com essa área de
pesquisa na formação de novos ergonomistas.

Outro fator importante para o crescimento das pesquisas em ergonomia está


relacionado à organização desses estudiosos e profissionais, que ocorreu com a criação
da Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo). A Abergo passou a organizar
congressos, uma forma de divulgar as pesquisas e de estabelecer um debate crítico sobre
a produção científica entre pesquisadores nacionais e internacionais. Mais recentemente,
em 2004, criou a Certificação para Ergonomistas, uma forma de incentivar a
especialização na área para poder obtê-la.

O estudo em ergonomia se aplica às diversas áreas do conhecimento, por isso tem


aumentado o número de estudiosos, no entanto ainda é necessário encontrar um meio de
divulgação dos trabalhos que atinja um número maior de profissionais ligados a essa área
de estudo, possibilitando tornar o conhecimento científico desenvolvido nessa área cada
vez mais aplicado ao setor produtivo nacional.

Hoje, nosso país conta com inúmeros profissionais diretamente relacionados à


saúde dos trabalhadores, à organização do trabalho e aos projetos de equipamentos e
produtos.
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FASES DA ERGONOMIA

Segundo Hendrick (1993) a ergonomia é classificada em quatro fases de acordo


com a tecnologia enfocada. Em cada uma delas, nota-se que a adaptação do posto vai
perdendo a força para a qualidade do processo, da organização e da qualidade de vida
como um todo.

Primeira fase: Ergonomia de Hardware ou Tradicional surgiu durante a 2° Guerra


Mundial e representa o início da ergonomia “human factors” como ciência formal.
Incialmente concentrou-se no estudo das características físicas do ser humano
(capacidades e limites) com utilização militar e em seguida direcionando-se para área
civil, voltadas às questões físicas e fisiológicas e biomecânicas do ambiente de trabalho
e na interação dos sistemas homem-máquina.

Referente às dimensões de objetos, ferramentas, painéis de controle dos postos de


trabalho usados por operários. O objetivo dos cientistas, nesta fase, concetrava-se mais
ao redimensionamento dos postos de trabalho, possibilitando um melhor alcance motor e
visual aos trabalhadores.

Segunda fase: Ergonomia do Meio Ambiente que trata das questões ambientais
naturais e artificiais (ruído, vibrações, temperatura, iluminação, aerodispersóides) que
interferem no trabalho. Fortaleceu-se em função do interesse em compreender melhor a
relação do ser humano com seu meio ambiente.

Nessa fase a Ergonomia passa a ampliar sua área de atuação, confundindo-se com
outras ciências, eis que fazendo uso destas. Assim, passa o Ergonomista a projetar postos
de trabalho que isolam os trabalhadores do ambiente industrial agressivo, seja por agentes
físicos ( calor, frio, ruído, etc.), seja pela intoxicação por agentes químicos (vapores,
gases, particulado sólido, etc.). O que se percebe é uma abrangência maior do
Ergonomista nesta fase, adequando o ambiente e as dimensões do trabalho ao homem.

Terceira fase: Ergonomia de Software ou Cognitiva lida com o processamento


de informações, com o advento da informática de forma massiva a partir da década de 80.
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Essa modalidade está focada na interface da interação entre o homem e a máquina,


que deixa de ser como na fase tradicional (antropométrica, biomecânica e fisiológica), e
passa ter boa parte desse relacionamento intangível no campo físico, o operador não
manuseia mais o produto, mas sim comanda uma máquina que está operando sobre o
produto. A tecnologia da informação passa a ser uma extensão do cérebro e as interfaces
para operação tem que levar em conta fatores cognitivos para facilitar o comando.

Quarta fase: Macroergonomia diz respeito a uma visão mais ampla da


ergonomia, deixando de se restringir ao operador e sua interação com a máquina,
atividade e ambiente, ela entra no contexto organizacional, psicossocial e político de um
sistema. Diferencia-se das anteriores por priorizar o processo participativo envolvendo
administração de recursos, trabalho em equipe, jornada e projeto de trabalho, cooperação
e rompimento de paradigmas. O que garante intervenções ergonômicas com melhor
resultado, reduzindo o índice de erros, e gerando maior aceitação e colaboração por parte
das pessoas envolvidas.

Está relacionada à psicopatologia do trabalho e na análise coletiva do trabalho.


especificamente a escola francesa de ergonomia interessou-se por tais ciências e as vem
divulgando pelo mundo, inclusive no brasil.

A primeira estuda as reações psicossomáticas dos trabalhadores e seu sofrimento


frente à situações problemáticas da rotina do trabalho, principalmente levando em
consideração que muitas destas situações não são previstas pela empresa, e muito menos
aceitas por estas.

Já a análise coletiva do trabalho estabeleceu um importante diálogo entre o


Ergonomista e grupos de trabalhadores, que passam a explicar livremente suas críticas,
idéias e sugestões relacionadas aos problemas que os fazem sofrer em seu trabalho, sem
sofrer pressões por parte das chefias, o que é essencial .
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MICROERGONOMIA E MACROERGONOMIA

Em uma conjuntura micro, a ergonomia se preocupa com os meios peculiares a


cada circunstância de trabalho, ou seja, o posto de trabalho em si, uma situação específica,
como os níveis de ruído de determinado equipamento, de iluminação de um laboratório
ou de ventilação de um setor. Segundo Diniz e Guimaraes (2001), as avaliações
ergonômicas que acontecem em uma abordagem microergonômica, com ênfase na
adaptação física do posto de trabalho, focam os problemas relacionados ao ambiente e à
manipulação direcionados às posturas adotadas pelo trabalhador, o que com certeza deve
fazer parte da ação ergonômica. No entanto, ao ressaltar unicamente aspectos isolados,
como a adaptação de teclados e monitores, por exemplo, e desconsiderar os fatos
relacionados às causas-raiz do problema, a abordagem puramente microergonômica é
falha, indo de encontro à essência interdisciplinar da ação ergonômica.

Para Hendrick (2006), com o objetivo de promover um melhor desempenho


organizacional, as intervenções da microergonomia devem estar em conformidade com
as da macroergonomia, também conhecida como ergonomia organizacional.

Em uma conjuntura macro, a ergonomia está relacionada aos sistemas de produção


como um todo, à integração entre o ser humano e a máquina, atuando de forma conjunta
e apontando para um objetivo comum. A ligação ocorre por meio de um sistema de
comunicação. Segundo Hendrick (1990), a análise macroergonômica remete à concepção
organizacional direcionada à gestão de inovações tecnológicas, abrangendo os enfoques
social e empresarial, e prima pelo ajuste do sistema de trabalho e pela percepção de novos
sistemas. Com o intuito de obter maior índice de êxito em suas implantações, o processo
de participação dos trabalhadores acontece durante todo o estudo ergonômico, ou seja,
nas etapas de percepção e implantação dos projetos.
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OBJETIVOS DA ERGONOMIA

Os principais objetivos da ergonomia são a satisfação e o conforto dos indivíduos


e a garantia de que a prática laboral e o uso do equipamento/produto não causem
problemas à saúde do usuário. Para isso, não se restringe a analisar a interação entre o
operador e o produto/equipamento, a atividade e o ambiente laborais, mas também
engloba o contexto organizacional, psicossocial e político de um sistema.

A ergonomia se preocupa em garantir que o projeto (do produto, equipamento,


sistemas, etc.) complemente as forças e habilidades do homem, minimizando os efeitos
de suas limitações, em vez de forçá-lo a se adaptar. Portanto, surge como contraponto ao
método Taylorista, que propõe a definição do método de trabalho mais eficiente, ao qual
o homem deve se adaptar.

Segundo Iida (2005), para que a ergonomia atinja seu objetivo, o ergonomista
deve entender e projetar considerando:

• o homem e as diversidades inerentes a ele, abarcando atributos como


idade, tamanho, força, habilidade cognitiva, experiência, cultura e
objetivos;
• a máquina, ou seja, todas as ferramentas, o mobiliário, os equipamentos e
as instalações;
• o ambiente, que contempla temperatura, ruídos, vibrações, luzes, cores,
etc.;
• a informação, que se refere ao sistema de transmissão das informações; s
a organização, que constitui todos os elementos do sistema produtivo
como horários, turnos e equipes; s as consequências do trabalho, que
abarca todas as questões relacionadas com erros e acidentes, além de
fadiga e estresse.

O principal objetivo prático da ergonomia é elevar a qualidade de vida do ser


humano, e assim elevar seu desempenho no trabalho, diminuir a fadiga, evitar doenças e
acidentes, tendo por consequência um melhor resultado qualitativo e quantitativo das
atividades realizadas.
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Preservar a saúde do bem mais precioso das corporações é o aspecto mais


importante dentro da indústria, comércio e serviços, tendo em vista que aproximadamente
65% das patologias diagnosticadas nos consultórios médicos e hospitais tem origem no
ambiente de trabalho, dentre as principais estão as L.E.R., D.O.R.T. e o Stress.
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A IMPORTÂNCIA DA ERGONOMIA

A importância da ergonomia pode ser percebida em muitos momentos de uma


pessoa comum, em seu ambiente de trabalho ou mesmo na sua própria casa.

A ergonomia, ou a falta dela, podem tornar um produto ou sistema praticamente


inútil, ou até mesmo levar a situações de extrema periculosidade, em que milhares de
vidas humanas são afetadas ou colocadas em risco. Em casos extremos, deficiências
ergonômicas podem gerar acidentes e levar até mesmo ao óbito do trabalhador.

Exemplos:

Em 03 de fevereiro, Vanderlei Costa Rosa, de 28 anos, empregado de um


frigorífico da JBS em Carambeí, Paraná, teve a mão decepada enquanto limpava uma
máquina de moagem de suínos. De acordo com uma norma regulamentadora do
Ministério do Trabalho, equipamentos desse tipo não podem ser higienizados em
funcionamento.

“O Vanderlei foi orientado a realizar a limpeza com a moedeira ligada para não
atrasar a produção. Além disso, ele não foi treinado para essa função, não tinha
nenhuma experiência”, explica Wagner Rodrigues, secretário-geral do Sindicato da
Alimentação de Carambeí.

O auditor Mauro Müller destaca outra questão grave na JBS de Passo Fundo: a
manipulação de peso em excesso. No setor de descarregamento de aves, por exemplo,
ele flagrou trabalhadores transportando com os próprios braços entre 40 e 50 toneladas
por jornada – o Ministério do Trabalho fixa em 10 toneladas o limite máximo diário.

Em outra área da mesma planta industrial, o auditor fiscal acompanhou um


trabalhador que empurrava uma bateria de mais de uma tonelada. “A força que ele
fazia com a coluna vertebral era descomunal. É só uma questão de tempo para ele se
afastar”, aponta. Mesmo com a ajuda de equipamentos apropriados, um trabalhador
pode empurrar no máximo 500 quilos.
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Outro exemplo cabal de descumprimento da legislação trabalhista se verifica no


estado do Mato Grosso. Em fevereiro deste ano, a Justiça acolheu uma série de pedidos
do Ministério Público do Trabalho para impedir que empregados da JBS fizessem horas
extras em ambientes insalubres em frigoríficos de três municípios: Araputanga, Pontes
e Lacerda e São José dos Quatro Marcos. O calor excessivo na área de abate, o frio
intenso no setor de desossa de animais, além da exposição contínua ao sangue dos
animais, aumentam o risco de doenças e acidentes.

Os casos colhidos pelo Ministério Público na unidade de São José dos Quatro
Marcos impressionam. Um funcionário teve apenas dois dias de descanso ao longo de
um mês inteiro. Outro trabalhou 108 horas e 45 minutos além da jornada regular em
apenas um mês – média superior a quatro horas extras por dia. A realização de horas
extras em ambientes insalubres é proibida sem autorização prévia do Ministério do
Trabalho – e a JBS não tinha essa permissão. “As jornadas são levadas ao extremo, em
atividades muito repetitivas e aceleradas. Quando isso ocorre, o risco ergonômico
aumenta em 50%”, explica o auditor fiscal Mauro Müller.

Na JBS de São José dos Quatro Marcos, o Ministério Público também questionou
uma diferença de tratamento entre os funcionários expostos ao sangue dos animais. Os
empregados de mais alta patente, que lidavam diretamente com o Serviço de Inspeção
Federal (S.I.F), órgão responsável pela supervisão das condições sanitárias, tinham
direito ao grau máximo do adicional por insalubridade, que corresponde a 40% do
salário mínimo. Os empregados envolvidos diretamente no abate, apesar de terem
contato mais intenso e frequente com o sangue, recebiam apenas o grau médio do
benefício – na faixa de 20%. Para o Ministério Público, a diferença de hierarquia não
justifica o tratamento diferenciado, ainda mais considerando que o risco é maior para os
funcionários do abate.

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