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ALEX LEVI CASSEMIRO

ENSINAR EXIGE COMPROMETIMENTO

SÃO PAULO
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ALEX LEVI CASSEMIRO

ENSINAR EXIGE COMPROMETIMENTO

SÃO PAULO
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RESUMO

A pesquisa tem como tema o lúdico no ensino fundamental I através de jogos


teatrais. O objetivo geral consiste em investigar a contribuição das potencialidades
pedagógicas dos jogos teatrais no processo de ensino e aprendizagem no ensino
fundamental. O corpus adotado é o lúdico nos jogos teatrais. Enfoca, também nas
fontes teóricas, que relatam sobre a importância do lúdico e dos jogos teatrais no
processo de ensino e aprendizagem. Partiu-se da hipótese de que as brincadeiras
trazem em si um vasto campo de opções de entretenimento e inesgotável atrativo
capaz de prender a atenção e estimular o interesse das crianças. Os jogos teatrais
deixam de ser apenas diversão e tornam-se um grande auxilio na construção do
conhecimento, identificando o modelo das potencialidades pedagógicas dos jogos
teatrais no processo de ensino e aprendizagem no ensino fundamental. Concluindo,
o lúdico trabalhado numa perspectiva pedagógica pode ser um instrumento de suma
importância na aprendizagem, no desenvolvimento cognitivo, afetivo e social na vida
da criança. Enfim, quando se tem a ludicidade nos ensinamentos a comunicação é
eficaz e significativa, a criança se torna mais ativa, podendo usufruir de uma nova
maneira de aprender, que garanta um entendimento melhor e que possa contribuir
de várias formas com sua vivencia escolar e cotidiana. A metodologia utilizada foi a
pesquisa bibliográfica e o fichamento das obras pertinentes ao tema para a
comprovação das hipóteses. Além da leitura crítica de livros pertinentes ao objeto de
pesquisa foram consultados documentos disponíveis online, devidamente
mencionados nas Referências.

Palavras-chave: Educação. Lúdico. Brincadeira. Jogos Teatrais


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ABSTRACT

The research is the playful theme in elementary school through theater games. The
overall objective is to investigate the contribution of the pedagogical potential of
theater games in teaching and learning in elementary school. The adopted corpus is
playful in theater games. Special focus is also on theoretical sources, reporting on
the importance of playful and theater games in the process of teaching and learning.
Started from the hypothesis that the games bring with it a wide range of
entertainment options and attractive inexhaustible able to hold the attention and
stimulate children's interest. Theater games are no longer just for fun and become a
great aid in the construction of knowledge, identifying the model of the pedagogical
potential of theater games in the teaching and learning in elementary school. In
conclusion, the playful worked an educational perspective can be a short important
tool in learning, cognitive, affective and social development in the child's life. Anyway,
when you have the playfulness in teaching communication is effective and
meaningful, the child becomes more active, making use of a new way to learn, to
ensure a better understanding and can contribute in various ways with their school
and everyday experiences. The methodology used in this bibliographic research and
the book report relevant to the theme works to prove the hypotheses. In addition to
the critical reading relevant books to the object of research were consulted online
available documents duly reported in the references.

Key words: Education. Playful. Jest. Theater Games.


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................10

1 O LÚDICO........................................................................................................11

1.1 HISTÓRIA E DEFINIÇÃO DE LÚDICO............................................................11


1.2 DIFERENÇA DE LÚDICO E BRINCADEIRA...................................................14
1.3 DIFERENÇA DE JOGOS E BRINCADEIRAS.................................................17

2 LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM.........................21

2.1 APRENDIZAGEM E LÚDICO...........................................................................21


2.2 BASES TEORICAS SOBRE O LÚDICO..........................................................24
2.3 CONTRIBUIÇÕES DO LÚDICO NA APRENIZAGEM.....................................26

3 JOGOS TEATRAIS COMO FORMA LÚDICA................................................31

3.1 JOGOS TEATRAIS E PARAMETROS CURRICULARES...............................31


3.2 JOGOS TEATRAIS E EDUCAÇÃO.................................................................37
3.3 JOGOS TEATRAIS E LUDICIDADE................................................................43

CONCLUSÃO.............................................................................................................48

REFERÊNCIAS...........................................................................................................50
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INTRODUÇÃO

A presente investigação, parte do seguinte problema de pesquisa: que opções


o lúdico pode oferecer ao educador e ao educando, além das meras funções de
entretenimento e lazer proporcionadas pelos jogos teatrais?
A inserção do lúdico na educação tem apontado para uma nova tendência, o
uso das dinâmicas não como simples brincadeiras, mas como uma forma de
resgatar nas crianças o interesse pela aprendizagem e a busca de novos
conhecimentos, de modo a garantir uma melhor qualidade de ensino.
Aventa-se a hipótese de que as dinâmicas podem ser utilizadas como recurso
para o processo de ensino e aprendizagem, visto que as brincadeiras trazem em si
um vasto campo de opções de entretenimento e inesgotável atrativo capaz de
prender a atenção e estimular o interesse das crianças.
Essa característica constitui o que há de mais importante, pois traz uma nova
hipótese consiste no uso dos jogos teatrais e brincadeiras lúdicas como
instrumentos de socialização entre as crianças, onde essas se aprendem a se
relacionar melhor umas das outras, através de uma convivência mais sadia,
podendo assim exercerem melhor a sua cidadania.
Assim, o uso das brincadeiras e dos jogos teatrais não é mais um simples
instrumento para distrair as crianças, mas meio pelo qual o aluno desenvolve algo,
ocorrendo, portanto, a aprendizagem pelo fato de se estar executando uma tarefa
por meio da brincadeira, ou seja, as brincadeiras deixam de ser apenas diversão e
tornam-se um grande auxílio na construção do conhecimento.
O objetivo geral do trabalho consiste em investigar a contribuição das
potencialidades pedagógicas das brincadeiras no processo de ensino e
aprendizagem no ensino fundamental. Como objetivo específico pretende-se,
inicialmente, analisar de forma crítica o uso das brincadeiras e dos jogos teatrais no
ensino fundamental I e seus principais métodos.
Com relação à relevância científica da pesquisa, qualquer estudo que procure
apresentar abordagens sobre a implementação de novas metodologias de ensino e
aprendizagem, ou que permitam o aprimoramento das abordagens já existentes é
pertinente.
Além disso, nas últimas duas décadas houve uma mudança no
comportamento das famílias devido ao avanço da tecnologia, onde o computador, a
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televisão e as novas tecnologias como os games e os celulares têm ocupado


espaços cada vez maiores em nossa vida cotidiana, substituindo muitas vezes o
diálogo e as brincadeiras em família. Essas atividades são indispensáveis à boa
formação e a construção de indivíduos aptos ao exercício da cidadania.
Em razão das lacunas ainda existentes em um amplo processo de
modernização da educação, a presente pesquisa objetiva contribuir com os estudos
sobre otimização da educação através do uso das dinâmicas de grupo com
finalidades específicas em busca de novos conhecimentos.
Como a pesquisadora estagia no magistério, atuando no Ensino
Fundamental, a investigação sobre os processos e os recursos didáticos que fazem
uso do lúdico lhe desperta especial interesse.
Adotou-se, como metodologia, a pesquisa bibliográfica e o fichamento das
obras pertinentes ao tema para a comprovação das hipóteses. Além da leitura crítica
de livros pertinentes ao objeto de pesquisa foram consultados documentos
disponíveis online, devidamente mencionados nas Referências.
Fundamentou-se a pesquisa em Antunes (2000), Cunha (2005), Huizinga
(1993), Kishimoto (2000), e Vygotsky (1991) para a fundamentação da importância
do lúdico para o desenvolvimento cognitivo e emocional.
Para as questões referentes às metodologias propostas do uso do lúdico no
ensino fundamental I através dos jogos teatrais, a pesquisa está alicerçada em
Koudela (2002), Reverbel (1997), Santos (2008), Slade (1978) e Spolin (2012).
Estruturalmente, o trabalho está dividido em três capítulos.
No primeiro capítulo, discorre-se um a definição de lúdico, além da
diferenciação de jogos e brincadeiras.
No segundo capítulo, exploram-se as potencialidades pedagógicas do lúdico
no processo de ensino e aprendizagem dos alunos do primeiro ano do ensino
fundamental.
Com o terceiro capítulo, abordam-se as implicações pedagógicas e sociais
dos jogos teatrais e a importância da atuação do educador como facilitador do
lúdico.
Seguem, por fim, a conclusão e as referências.
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1 O LÚDICO

O presente capítulo visa apresentar as considerações teóricas que


fundamentam a análise do lúdico.
Destacam-se os estudos sobre a definição de lúdico e sua origem
epistemológica, necessários ao bom entendimento de suas dimensões históricas,
culturais e didáticas, além de se estudar como se estabelece, na narrativa em foco,
a diferença entre lúdico e brincadeira. Para o cumprimento de tais propósitos, são
discutidas, também, abordagens teóricas sobre jogos e brincadeiras.
A definição de lúdico, assim como as suas caracterizações usuais, segue uma
abordagem fundamentada nos postulados teóricos de Luckesi (2001) e Maluf (2003),
Freitas e Sali (2008), além do conceituoso Ferreira (2010). Considera-se, também, a
diferença entre lúdico e brincadeira formulada por Antunes (2008), Santin (1994) e
Kishimoto (2000). Esses estudos auxiliam a esclarecer a aparente conflituosa
compreensão do lúdico e da brincadeira.
Ainda, neste capítulo, são examinados os estudos de Bomtempo (2012),
Huizinga (1993), Andrade (2002), Cunha (2005) e Barreto (1998) sobre a diferença
entre jogos e brincadeiras.

1.1 HISTÓRIA E DEFINIÇÃO DE LÚDICO

O lúdico está inserido na história da humanidade desde a pré-história, pois há


registros de sinais de ludicidade relacionados aos movimentos culturais, às relações
de afetividade e às atividades de lazer. Atualmente, a prática do lúdico vem
ganhando espaço em diferentes etapas da educação, apresentando-se como uma
necessidade do ser humano.
De acordo com Ferreira (2010, p.1233), a palavra lúdico tem sua origem do
Latim "ludus", que quer dizer "jogo”; Lúdico. [de lud + ico] Adj. Referente ao que tem
caráter de jogos, brinquedos e divertimento: a atividade lúdica das crianças.
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Se achasse confinado a sua origem, o termo lúdico estaria se referindo


apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo. A evolução
semântica da palavra "lúdico", entretanto, não parou apenas nas suas
origens e acompanhou as pesquisas de Psicomotricidade. O lúdico passou
a ser reconhecido como traço essencial de psicofisiologia do
comportamento humano. De modo que a definição deixou de ser o simples
sinônimo de jogo. As implicações da necessidade lúdica extrapolaram as
demarcações do brincar espontâneo (FREITAS e SALI, 2008. p. 4).

A palavra “lúdico” em sua origem é sinônimo de jogos, incluindo também os


brinquedos e o divertimento. Porém, a partir da evolução de seu significado
epistemológico, percebe-se que a definição de lúdico deixou de ser apenas o ato de
jogar. Dentro de uma sala de aula a ludicidade refere-se aos jogos pedagógicos,
brincadeiras, exercícios físicos, ou seja, tudo o que está ligado às disciplinas
escolares e permite o entretenimento.
Segundo Luckesi (2001, p. 27), o que caracteriza o lúdico é a experiência de
plenitude que ele possibilita a quem o vivencia. A ludicidade pode ser considerada
um estado de inteireza, de estar pleno naquilo que a pessoa faz com prazer,
podendo estar presente em diferentes situações de nossas vidas.
Sendo assim, as implicações da necessidade lúdica extrapolaram o processo
do brincar espontâneo, passando a referir-se também às atividades essenciais da
dimensão humana.
Conforme Maluf (2003, p.29) “O brincar pode ser um elemento importante
através do qual se aprende, sendo sujeito ativo desta aprendizagem que tem na
ludicidade o prazer de aprender”.
Segundo Cunha (2005, p. 11) “O brincar é indispensável à saúde física,
emocional e intelectual da criança. É uma arte, um dom natural que, quando bem
cultivado, irá contribuir no futuro para eficiência e o equilíbrio adulto. [...] O brinquedo
proporciona o aprender fazendo e para ser mais bem aproveitado é conveniente que
proporcione atividades dinâmicas e desafiadoras que exijam participação ativa das
crianças”.

As atividades lúdicas são ações vividas e sentidas, não definíveis por


discursos, mas compreendidas por aquilo que faz com que elas aconteçam,
por fruição, pela potência em termos de força exterior que expõem,
povoadas pela fantasia, pela imaginação e pelos sonhos que se articulam
como materiais que têm sentido e significado para quem as pratica
(SANTIN, 1994, p. 16).
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Para o autor, o mais importante na atividade lúdica não é apenas o produto da


atividade, ou seja, o que dela resulta, mas sim o processo, a própria ação, momento
em que se vivencia a experiência, possibilitando a quem faz as atividades momentos
de encontro consigo e com o outro, momentos de fantasia e de realidade, de
ressignificação e percepção, de autoconhecimento, de cuidado de si e do outro de
forma singular.
Maluf (2003, p. 20) frisa a importância da brincadeira para a criança, pois ela
irá se desenvolver permeada por relações cotidianas, e assim vai construindo sua
identidade, a imagem de si e do mundo que a cerca.
A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não
pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a
aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, além de colaborar para
uma boa saúde física e mental.

Hoje, a imagem de infância é enriquecida, também, com o auxílio de


concepções psicológicas e pedagógicas, que reconhecem o papel de
brinquedos e brincadeiras no desenvolvimento e na construção do
conhecimento infantil (KISHIMOTO, 2000, p. 21).

O brincar é fundamental na vida de uma criança. A partir do momento em que


ela começa a interagir com o seu meio social ambos começam a ampliar sua
imaginação, suas habilidades, sua iniciativa e sua confiança com o mundo interior,
comunicando-se mais e participando cada vez mais do mundo que a cerca.
Brincar, portanto não é perder tempo, é ganhá-lo. Andrade (2002, p. 32) diz
que é triste ver crianças vagando pelas ruas sem escola, mas, mais triste ainda, é
vê-las muitas vezes enfileiradas em sala de aula, executando tarefas estéreis, sem
nenhum valor para a formação humana.
Quando a criança entra na pré-escola as brincadeiras são muito mais
utilizadas pelas professoras, fazendo com que a criança explore todo o ambiente
onde convive, aprendendo a refletir situações novas e principalmente a preencher e
mostrar as suas necessidades, já que muitas vezes acabam realizando durante as
brincadeiras atos que acontecem no seu dia-a-dia.
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Maluf (2003, p.21) afirma que “toda criança que brinca vive uma infância feliz,
além de tornar-se um adulto muito mais equilibrado física e emocionalmente,
conseguirá superar com mais facilidade, problemas que possam surgir no seu dia a
dia”.
A autora expõe de maneira segura e clara que o ato de brincar além de
instruir o aluno para um desenvolvimento físico e emocional, também o leva para um
patamar que ao deparar-se com situações difíceis do dia-a-dia ele ali encontrara
forças para uma superação mais rápida sobre as dificuldades encontradas. Por tanto
ao deixar que a criança brinque, além de estar o ensinando ela também estará
criando vínculos emocionais que o irão ajudar futuramente.
A partir do momento que passam para as séries iniciais do Ensino
Fundamental, o método lúdico acaba sendo abolido pela maioria dos professores,
simplesmente por acharem que os alunos cresceram, ou pela necessidade de
repassarem todo o conteúdo previsto no plano escolar.

1.2 DIFERENÇA DE LÚDICO E BRINCADEIRA

Durante muito tempo as brincadeiras foram consideradas somente como


passatempo, sem maiores propósitos, e através delas as crianças utilizavam o
tempo livre. Até então, as brincadeiras não tinham sequer algum significado
pedagógico e os brinquedos eram utilizados somente para distrair, para que seus
pais pudessem trabalhar e cumprir suas obrigações.
Segundo Kishimoto (1996, p. 12), a partir do século XX, algumas instituições
de educação infantil começaram a utilizar as brincadeiras com base em teorias
pedagógicas influenciadas por Claparède, Dewey, Decroly, Frobel e Montessori.
Com o passar do tempo descobriu-se a possibilidade de utilizar os brinquedos para
o desenvolvimento da aprendizagem de forma lúdica.
Atualmente sabe-se que as brincadeiras e jogos infantis são representações
da vida real da criança e que ajudam a desenvolver sua capacidade de imaginar,
pensar e agir por si própria sem depender de um adulto para ensinar. Essas
atividades são essenciais na formação integral da criança, principalmente quando
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ela está na fase de desenvolvimento escolar. No entanto, para que tenha efeito na
educação, elas precisam ser trabalhadas de forma pedagógica.

Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de modo intuitivo,


adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser
humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais,
o brinquedo desempenha um papel de relevância para desenvolvê-la.
(KISHIMOTO, 1996, p. 36).

Trabalhado numa perspectiva pedagógica, o lúdico pode ser um instrumento


de suma importância na aprendizagem, no desenvolvimento, cognitivo, afetivo e
social na vida da criança.
O lúdico sempre estará acompanhado de um objetivo, que é criar uma
oportunidade de desenvolvimento do indivíduo. O que diferencia o lúdico de uma
simples brincadeira é que o seu uso tem sempre uma finalidade específica de
aprendizagem, diferentemente de o simples brincar, que é uma atividade
espontânea, que tem um fim em si, pois brincar por brincar é sua própria
recompensa.

O lúdico se apresenta tão importante quanto à saúde e a educação, pois é


por meio das brincadeiras que as crianças têm oportunidades de
desenvolver um canal de comunicação, estabelecendo assim uma abertura
de diálogo com o mundo dos adultos, com o qual ela restabelece sua
autoestima e desenvolve relações de confiança consigo mesma e com os
outros (KISHIMOTO, 2000, p. 31).

A proposta do lúdico é promover uma alfabetização significativa na prática


educacional, além de incorporar o conhecimento através das características do
conhecimento de mundo. O lúdico promove o rendimento escolar além do
conhecimento, a fala, o pensamento e o sentimento.
Conforme Maluf (2003, p. 17) o brincar é uma forma de comunicação e
expressão, associando pensamento e ação; um ato instintivo voluntario; uma
atividade exploratória, que o ajuda no seu desenvolvimento físico, mental, emocional
e social; um meio e aprender a viver e não um mero passatempo.
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O lúdico, por ser uma maneira mais descontraída de ensinar, pode ser
facilmente confundido como uma brincadeira ou alguma atividade que não irá
apresentar nenhuma fonte de conhecimento para o aluno. Para que fique claro, o
lúdico é todo meio de aprendizagem que ensine o aluno através de jogos,
brinquedos, histórias e outros métodos apresentados para o aprimoramento e
ampliação do universo da sala de aula.
Segundo Froebel (1912 apud KISHIMOTO, 1996, p. 27) “O brincar é uma
atividade livre e espontânea, responsável pelo desenvolvimento físico, moral e
cognitivo”.
O autor ainda explica que a brincadeira é toda atividade da qual o participante
se liberta de toda regra básica dando prioridade para a sua percepção de espaço
cultural e social, formando assim seu próprio método de ver e vivenciar o mundo
sem se preocupar com limites ou regras pré-determinadas proporcionando assim
liberdade para seu próprio intelecto.
Entende-se, portanto, que a diferença entre o lúdico e a brincadeira é a forma
e o método apresentado entre ambos, sendo, que os jogos lúdicos se impõem
através de uma regra pré-determinada. Já a brincadeira se compõe por meio da
liberdade de regra deixando livre o participante para brincar da maneira como
desejar sua própria vontade.
Santin (1994, p. 12) afirma que “O lúdico e a diversão são elementos
preponderantes na infância. Todas as crianças brincam, pois essa é uma condição
ontológica essencial para o seu desenvolvimento e para sua interação na
sociedade.”
A ludicidade compõe o traço definidor da infância. O jogo, a liberdade, a
imaginação, a fantasia e o sonho ainda são elementos que pertencem
indiscutivelmente aos primeiros anos de vida de qualquer ser humano.
Também para Piaget (1976 apud ALMEIDA 1978, p 25), “os jogos não são
apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar a energia das
crianças, mas meios que enriquecem o desenvolvimento intelectual”.
Quando a construção do conhecimento se dá através do lúdico a criança
aprende de uma forma mais fácil e divertida, estimulando a criatividade, a autonomia
e a curiosidade, pois faz parte do seu contexto naquele momento o brincar e jogar.
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Acredita-se também que as brincadeiras e os jogos estão relacionados ao


contexto histórico, social e cultural do momento e, sendo assim, assumem as
características da época em questão.

1.3 DIFERENÇA DE JOGOS E BRINCADEIRAS

Brincadeiras e jogos são considerados fatos universais, pois suas linguagens


podem ser compreendidas por todas as crianças do mundo. Assim, se quisermos
conhecer bem as crianças, devemos conhecer seus brinquedos e brincadeiras.
Segundo Kishimoto (1996, p. 15), somente na década de 1930 os jogos
educativos começaram a ser inseridos nas instituições infantis. Nessa época, o
Brasil conheceu personalidades importantes no campo da Psicologia, como André
Reis, Claparède, Mira e Lopes, Pierre Janet e outros que auxiliaram no
desenvolvimento de estudos na área da psicologia infantil, de modo especial sobre o
jogo. O sentido do jogo era considerado como uma manifestação dos interesses e
necessidades das crianças e não apenas como distração. A formação da criança era
viabilizada por meio dos brinquedos e dos jogos que ela executava.
Neste sentido, brincar representa um fator de grande importância na
socialização da criança, pois é brincando que o ser humano se torna apto a viver em
uma ordem social e em um mundo culturalmente simbólico. Brincar exige
concentração durante grande quantidade de tempo, desenvolve iniciativa,
imaginação, e interesse. É o mais completo dos processos educativos, pois
influencia o intelecto, a parte emocional e o corpo da criança.

Brinquedos e jogos são de grande importância na socialização da criança,


pois é brincando que o ser humano se torna apto a viver numa ordem social
e num mundo culturalmente simbólico. Ainda, é por meio da atividade lúdica
que a criança interioriza os valores éticos da sociedade a que pertence
(BOMTEMPO, 2012, p. 25).

Brincando, a criança se inicia na apresentação de papéis do mundo adulto


que virá a desempenhar mais tarde, além de desenvolver capacidades físicas,
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verbais e intelectuais e a aptidão de comunicar-se. Os jogos são importantes para


descontrair e fazem bem para a saúde física, mental e intelectual de todos. Para a
criança, os jogos ajudam desenvolver a linguagem, o pensamento, a socialização, a
iniciativa e a autoestima. Prepara para serem cidadãos capazes de enfrentar
desafios e participar da construção de um mundo melhor.
Carneiro (2007, p.1) explica que lidar com os objetos existentes na
brincadeira e nos jogos a criança pode lidar com o significado das palavras por meio
do próprio objeto concreto, e por esta ação de brincar a criança embora não possua
linguagem gramatical, consegue internalizar a definição funcional de objetos, e a
criança passa a relacionar as palavras com algo concreto.
O jogo é um fator de comunicação mais amplo que a linguagem verbal, e
propicia o diálogo entre pessoas de origem linguística e culturais diferentes. Todo
jogo exige imaginação para modificar situações conhecidas e criar algo novo. O jogo
faz parte do brincar e facilita o crescimento. É no brincar e, talvez apenas no brincar,
que a criança ou adulto conseguem ser criativos.

O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e


determinados limites de tempo e espaço, seguindo regras livremente
consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si
mesmo, acompanhado de um sentido de tensão, de alegria e de uma
consciência de ser diferente da vida cotidiana (HUIZINGA, 1993, p. 33).

Toda forma de jogo deve ter como intuito ensinar e divertir o ser humano,
proporcionando assim uma maneira mais leve e agradável para o aprendizado.
Brincadeiras são todas as atividades que buscam inserir divertimento e alegria
através de estímulos sensoriais como espaço, cultural e geográfico.
É possível evidenciar de maneira clara, que cabe ao educador direcionar de
forma integrada com a realidade exercida a ludicidade para o aprendizado do aluno,
formando além de tudo um senso crítico no qual ao aplicar-se o ensinamento o
educador irá proporcionar tanto de uma forma de divertimento como de
aprendizagem instruindo no aluno um contato mais amplo no ato de brincar e
aprender.
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Brincadeira é a atividade lúdica livre, separada, incerta, improdutiva,


governada por regras e caracterizadas pelo faz de conta. É uma atividade
bastante consciente, mas fora da vida rotineira e não séria, que absorve a
pessoa intensamente (BARRETO, 1998, p. 22).

Jogos e brincadeiras têm como objetivo entreter, porém um procura ensinar


enquanto o outro busca apenas o entretenimento sem o intuito de ensinar.
Segundo Kishimoto (2000, p. 31), o jogo educativo utilizado em sala de aula
na maioria das vezes vai além das brincadeiras e se torna uma ferramenta para o
aprendizado. Para que o jogo seja um aprendizado e não apenas uma obrigação
para a criança, é interessante deixar que o aluno escolha com qual jogo queira
brincar e que ele mesmo controle o desenvolvimento do jogo, conforme as regras
definidas pelo professor.
Ao diferenciarmos jogos e brincadeiras devemos ficar atentos aos limites que
ambos apresentam. Todo jogo é uma brincadeira com regras e limites pré-
estabelecidos, sendo que toda brincadeira é um jogo sem regras ou padrões pré-
determinados.

Essa relação entre o jogo e aprendizagem significativa destaca que a boa


escola não é necessariamente aquela que possui uma quantidade enorme
de caríssimos brinquedos eletrônicos ou jogos ditos educativos, mas que
disponha de uma equipe de educadores que saibam como utilizar a reflexão
o que o jogo desperta, saibam fazer de simples objetos naturais uma
oportunidade de descoberta e exploração imaginativa. (ANTUNES, 2008
p.31)

Nos jogos e nas brincadeiras, emergem valores que dizem respeito à


curiosidade e à coragem, que levam à auto aceitação, ao otimismo, à alegria, à
cooperação e à maturidade. Poucas, porém, são as pessoas que receberam
formações para entenderem e perceberem a importância da aprendizagem que
decorre do uso adequado de brinquedo e da oportunidade de brincar. A habilidade
para promover um desenvolvimento ótimo das crianças pelos jogos requer profundo
conhecimento e entendimento das individuais infantis.
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O jogo possui implicações importantíssimas em todas as etapas da vida


psicológicas de uma criança e representa erro inaceitável considera-lo como
atividade trivial ou perda de tempo. Esse conceito já deixa perceber a
diferença entre usar um objeto como brinquedo ou como jogo. O brinquedo
supõe, na relação com a criança, a indeterminação quanto ao seu uso, ou
seja, sem regras fixas; o jogo, por sua vez, inclui intenções lúdicas; muitas
vezes não literais (por exemplo, a boneca não é literalmente filha da criança,
mas “é como se fosse”); estimula a alegria e flexibilidade do pensamento,
mas mantem um controle entre os jogadores e, portanto, uma relação
interpessoal dentro de determinadas regras (ANTUNES, 2008, p.10).

Ao observar-se o ponto de vista expresso pelo autor podemos analisar que a


diferença entre brinquedos e jogos é grande. Porém a utilização empregada para os
dois indeferem do objetivo, ou seja, cada criança pode se reinventar e estimular seu
conhecimento através da reutilização dos jogos e brinquedos. Deixando que sua
imaginação recrie os ambientes e os modos expressos na formação das regras.
Acredito que neste capítulo foi possível destacar algumas considerações a
respeito do lúdico e os jogos infantis nas primeiras séries do ensino fundamental.
Um desenvolvimento harmônico, lúdico, que inclui aprender a ouvir opiniões
diferentes e contra argumentar, estabelecendo comparações objetivas entre várias
maneiras de se compreender um mesmo fato: o lúdico trabalhado numa perspectiva
pedagógica pode ser um instrumento de suma importância na aprendizagem, no
desenvolvimento cognitivo, afetivo e social na vida da criança.
Pouco a pouco, o trabalho pedagógico através do lúdico contribui para tornar a
criança apta a um intercambio real com os outros, favorecendo a troca de
experiências baseadas na cooperação e na reciprocidade.
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2 LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Neste capítulo são apresentadas as considerações teóricas a respeito do


lúdico no processo de ensino e aprendizagem.
Destacam-se os estudos acerca das várias formas de aprendizagem que o
lúdico propicia ao aluno no primeiro ano do ensino fundamental, a fim de se
verificarem as potencialidades pedagógicas do lúdico nessa fase. Para a
constatação de tais verdades, são discutidas, também, abordagens teóricas sobre o
lúdico segundo alguns autores de renomado prestígio entre profissionais da
educação.
A aprendizagem e o lúdico, assim como as suas primícias, segue uma
abordagem fundamentada nos conceitos teóricos de Piaget (1978), comentados por
Alves e Mota (2010) e de Vygotsky (1991). Esses estudos permitem um panorama a
respeito da visão do lúdico no processo de ensino e aprendizagem segundo as
maiores autoridades no assunto.
Ainda, neste capítulo, são examinados os estudos de Antunes (2000) e
Almeida (1978) sobre as contribuições do lúdico na aprendizagem.

2.1 APRENDIZAGEM E LÚDICO

O lúdico se manifesta no ser humano desde a infância através de brincadeiras


e jogos que permitem à criança experimentar diversas sensações como a alegria, o
medo, a tensão, dentre outros, sendo essencial ao seu desenvolvimento cognitivo,
afetivo e psíquico.

A busca do saber torna-se importante e prazerosa quando a criança


aprende brincando. É possível, através do brincar, formar indivíduos com
autonomia, motivados para muitos interesses, capazes de aprender
rapidamente (MALUF, 2003, p.09).
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Através do brincar, a criança passa a conhecer-se a si mesma e aos outros


com quem interage, além de desenvolver a linguagem e aprender normas de
convívio social e hábitos culturais.
Carneiro (2007, p. 1) afirma que “a atividade lúdica é muito importante para o
desenvolvimento cognitivo, desta forma, torna-se uma maneira inconsciente de se
aprender, de forma prazerosa e eficaz.”
Pode-se afirmar que a criança, se relaciona com o mundo executando tarefas
em forma de brincadeiras. Através do brincar, a criança estabelece relações de
reciprocidade com as demais baseadas nas experiências de vida que cada uma traz
consigo.
A partir das interações construídas e vivenciadas com outras pessoas e o
meio em que vivem é que as crianças constroem o conhecimento.
Segundo Piaget (1978 apud ALVES e MOTA, 2010, p. 6) “Brincando, a
criança aprende, se diverte, exercita o seu corpo, e ainda, constrói o conhecimento”.

O conhecimento não se constitui em cópias da realidade. É fruto de um


intenso trabalho de criação, significações e ressignificação. Compreender,
conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no
mundo é o grande desafio da Educação Infantil e de seus profissionais.
Embora os conhecimentos derivados da Psicologia, antropologia,
Sociologia, Medicina, etc. possam ser de grande valia para desvelar o
universo infantil apontando algumas características comuns de ser das
crianças, elas permanecem únicas em suas individualidades e diferenças
(BRASIL, 1998, p. 21).

Para tanto, se faz necessário que a prática docente esteja apta a inovar e
propiciar às crianças atividades significativas que facilitem a construção de novos
conceitos, definições e experiências frente ao novo mundo, trazendo a este um novo
significado e facilitando a aquisição do conhecimento.

A todo o momento, estamos em contato com o conhecimento, e a escola,


que atualmente é vista como espaço de formação humana, deve se atentar
para não “atropelar” e/ou inibir as inquietudes dos educandos, para que
assim não seja vista pelos mesmos como espaço desagradável e rotineiro,
e sim espaço atraente e cheio de novas descobertas e realizações (ALVES
e MOTA, 2010, p. 7).
23

Ao ingressar na escola, a criança deixa o ambiente familiar para se aventurar


em um novo espaço, repleto de regras e afazeres a serem cumpridos. Acredita-se
que se a escola não propiciar à criança atividades lúdicas, o impacto sofrido por ela
será marcado por diversas situações de frustação durante a vida escolar.

Uma criança que joga antes de tudo o faz porque se diverte, mas dessa
diversão emerge a aprendizagem e a maneira como o professor, após o
jogo, trabalhar suas regras pode ensinar-lhe esquemas de relações
interpessoais e de convívios éticos (ANTUNES, 2008 p.11).

De acordo com Antunes a criança que joga antecipa seus conhecimentos


adquire uma visão ampla do mundo que a cerca.
Tem que haver regras, pois através delas a criança consegue evoluir e
adquirir entendimento e compreensão nos ensinamentos propostos. Quando a
criança combinam as regras do jogo juntamente com mediador, ela se depara com
uma forma de expressão, visão colocando suas emoções e concentrações e assim
adquirindo grandes descoberta e desenvolvendo o social e cognitivo cada vez mais.

Olhando em outra direção, Jean Piaget destaca a ação sobre o brincar


como elemento que estrutura a situação simbólica inerente à brincadeira. A
criança que brinca está desenvolvendo sua linguagem oral, seu pensamento
associativo, suas habilidades auditivas e sociais, construindo conceitos de
relações espaciais e se apropriando de relações de conservação,
classificação, seriação, aptidões visuo-espaciais e muitas outras
(ANTUNES, 2008 p.19).

Piaget destaca que o brincar é indispensável no processo de ensino e


aprendizagem, pois a criança mediante ao brinquedo evolui seus pensamentos e
desenvolvimentos.
A criança faz da brincadeira uma situação emergente ela coloca seus desejos
e anseios explorando os aspectos como a imitação de condutas sociais.
Passa a ter um relacionamento interpessoal, vivencia um comportamento num
espaço imaginário, adota uma postura existencial, garantindo a sua corporeidade
criatividades, a mesma alcança plena autonomia e liberdade de ir e vir.
24

2.2 BASES TEORICAS SOBRE O LÚDICO

O senso comum que diz que o brincar de uma criança é a sua imaginação em
ação precisa então ser invertido, pois na verdade o que ocorre é que a imaginação
das crianças surge em função da própria brincadeira.

A imaginação é um processo psicológico novo para a criança; representa


uma forma especificamente humana de atividade consciente, que não está
presente na consciência das crianças muito pequenas e está ausente nos
animais. Como todas as funções da consciência, ela surge originalmente da
ação (VYGOTSKY, 1991, p. 106).

A brincadeira surge como atividade essencial à criança, que quando bem


pequena tende a querer satisfazer seus desejos de maneira imediata. Quando esses
desejos não são possíveis de serem realizados imediatamente, a criança se envolve
num mundo de ilusão e imaginação que é a brincadeira.
De acordo com (Kishimoto, 2000, p.146), “por ser uma ação iniciada e
mantida pela criança, a brincadeira possibilita a busca de meios, pela exploração
ainda que desordenada, e exerce papel fundamental na construção de saber fazer”.
As brincadeiras são formas mais originais que a criança tem de se relacionar
e de se apropriar do mundo. É brincando que ela se relaciona com as pessoas e
objetos ao seu redor, aprendendo o tempo todo com as experiências que pode ter.
São essas vivências, na interação com as pessoas de seu grupo social, que
possibilitam a apropriação da realidade, da vida e toda sua plenitude.

Obrigada a adaptar-se sem cessar a um mundo social dos mais velhos,


cujos interesses e cujas regras lhe permanecem exteriores, e a um mundo
físico, que ela ainda mal compreende, a criança para seu equilíbrio afetivo e
intelectual precisa dispor de um setor de atividade cuja motivação não seja
a adaptação ao real senão, pelo contrário a assimilação do real ao eu sem
coações nem sanções: tal é o jogo, que transforma o real por assimilação
mais ou menos pura às necessidades do eu, ao passo que a imitação é
acomodação mais ou menos pura aos modelos exteriores e a inteligência é
o equilíbrio entre assimilação e acomodação (PIAGET, 2010, p. 55).
25

A primeira possibilidade do pensamento propriamente dito é a sua


representação em ato através do jogo simbólico, o que marca a passagem de uma
inteligência baseada nos cinco sentidos e na motricidade, para uma inteligência
representativa por intermédio de símbolos subjetivos, caminho para a construção da
inteligência mediada operatória, mediada por signos históricos arbitrativos.
Conforme Piaget (2010, p. 44), o lúdico é formado por um conjunto linguístico
que funciona dentro de um contexto social; possui um sistema de regras e se
constitui de um objeto simbólico que designa também um fenômeno. Portanto,
permite ao educando a identificação de um sistema de regras que permite uma
estrutura sequencial que especifica a sua moralidade.
Os jogos lúdicos oferecem condições do educando vivenciar situações-
problemas, a partir do desenvolvimento de jogos planejados e livres que permitam à
criança uma vivência no tocante às experiências com a lógica e o raciocínio e
permitindo atividades físicas e mentais que favorecem a sociabilidade e estimulando
as reações afetivas, cognitivas, sociais, morais, culturais e linguísticas.

A própria consciência nunca é algo acabado ou definitivo. Ela vai se


formando no exercício de si mesma, num desenvolvimento dinâmico em que
o ser humano, procurando sobreviver e agindo, transforma a natureza e se
transforma também. E ele não somente percebe as transformações, como,
sobretudo nelas se percebe (OSTROWER, 2009, p.10).

O homem cria não apenas porque quer ou porque gosta, mas, porque
precisa; ele só pode crescer enquanto ser humano coerentemente, ordenando,
dando formas, criando.
Kishimoto (2000, p. 18) admite que o brinquedo represente certas realidades
e segundo ele, uma representação é algo presente no lugar de algo. O autor explica
que representar é corresponder a alguma coisa e permitir sua evocação, mesmo em
sua ausência; o brinquedo coloca a criança na presença de reproduções: tudo o que
existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas.
Representando diversos tipos de realidades diferentes, o brinquedo reproduz
a realidade, mas não apenas os objetos, mas uma totalidade social. Pode-se dizer
que um dos objetivos do brinquedo é dar a criança um substituto dos objetos reais,
26

para que possa manipulá-los. Hoje os brinquedos reproduzem o mundo técnico e


científico e o modo de vida atual, os aparelhos eletrodomésticos, bonecos e robôs.
De acordo com (Vygotsky, 1991, p. 27), é na interação com as atividades que
envolvem simbologia e brinquedos que o educando aprende a agir numa esfera
cognitiva.
Na visão do autor a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas
atividades da vida real, tanto pela vivência de uma situação imaginária, quanto pela
capacidade de subordinação às regras. Desta forma, existe uma relação muito
próxima entre jogo lúdico e educação de crianças para favorecer o ensino de
conteúdos escolares e como recurso para motivação no ensino às necessidades do
educando.

2.3 CONTRIBUIÇÕES DO LÚDICO NA APRENIZAGEM

O lúdico trabalhado numa perspectiva pedagógica pode ser um instrumento


de suma importância na aprendizagem, no desenvolvimento, cognitivo, afetivo e
social na vida da criança.
As brincadeiras são importantes nas atividades pedagógicas, porque
incentivam a aprendizagem; despertam o desejo; servem para todas as áreas de
ensino, contribuindo muito para a educação absoluta do aluno.

Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de modo intuitivo,


adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser
humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais,
o brinquedo desempenha um papel de relevância para desenvolvê-la.
(KISHIMOTO, 2000, p. 36).

O jogo e a brincadeira traz uma ampla capacidade de entendimento para a


criança, são de extrema valia para o crescimento do aluno, pois o lúdico
proporciona- lhe o desenvolvimento motor, cognitivo, psíquico e intelectual.
A ludicidade de ser vista na escola como uma ferramenta capaz de avaliar e
estimular o aluno a busca de novas descobertas de aprendizagem.
27

Conforme Antunes, (2008, p.37), toda criança vive agitada e em intenso


processo de desenvolvimento corporal e mental. Nesse desenvolvimento se
expressa a própria natureza da evolução, exigindo a cada instante uma nova função
e a exploração de nova habilidade.
Para o autor, a criança se agita diante da descoberta de novos
conhecimentos. Estando o corpo em movimento e a mente ocupada em total
desenvolvimento ela se depara com novas realidades, o que gera anseios e traz
uma vasta amplitude de conhecimentos que consistem em explorar o seu mundinho.
A criança consegue assim evoluir para grandes ocasiões de habilidades
favorecendo o aprendizado.

O brincar proporciona a aquisição de novos conhecimentos, desenvolve


habilidades de forma natural e agradável. Ele é uma das necessidades
básicas da criança, é essencial para um bom desenvolvimento motor, social,
emocional e cognitivo. (MALUF, 2003, p.09)

Muitos são os benefícios que o lúdico pode trazer para a vida escolar da
criança por ser capaz de abranger a afetividade, o convívio social, e intervenção
mental, procedimentos facilitadores da realidade sendo indispensáveis ao acréscimo
da criança no ensino aprendizado. A criança em movimento explora sua natureza e
aprende a lidar com diversas situações.
Almeida (1978, p.29) destaca que “Sob o ponto de vista disciplinar, nada
melhor para a criança do que ocupada com aquilo que lhe interessa.”
Segundo o autor a criança mediante em um ensino prazeroso estando ela
ocupada fazendo algo que gosta, ela é motivada e impregnar pela atividade
proposta em sala sem contar que ela coloca o sua imaginação, sonhos, criatividade
ela interage socialmente e busca ultrapassar seu limite criando e recriando,
apropriando do real em que o desafia.
Portanto, manter a criança ocupada com aquilo que interessa, além de tornar
possível e agradável o aprendizado, também possibilita a compreensão de
expressar aquilo que sente e gosta.
28

Almeida (1978, p.29) explica que no ensino moderno, os jogos e as


recreações tornaram-se características básicas, não como atividades do
departamento de Educação Física, mas como meios decisivos que promovem a
verdadeira aprendizagem.
Assim como a forma de ensino tradicional exerce influência no aprendizado
humano, o lúdico traz consigo uma maneira mais leve e democrática de ensino,
possibilitando um grande número de oportunidades para o estimulo do
desenvolvimento estudantil do aluno, contribuindo de maneira significativa para o
alcance do entendimento acadêmico.

A criança é curiosa e imaginativa, está sempre experimentando o mundo e


precisa explorar todas as suas possibilidades. Ela adquire experiência
brincando. Participar de brincadeiras é uma excelente oportunidade para
que a criança viva experiências que irão ajudá-la a amadurecer
emocionalmente e aprender uma forma de convivência mais rica (MALUF,
2003, p.21).

Segundo a autora, o desenvolvimento da aprendizagem humana é


influenciado através da ludicidade implementada em jogos e brincadeiras, atribuídos
nas constantes etapas da vida, proporcionando um equilíbrio entre a aprendizagem
e a vivência humanitária.
Para que essa vivencia seja explorada de maneira eficaz para o crescimento,
deve-se deixar que a criança busque o próprio entendimento nas ações empregadas
enquanto evolui de maneira saudável e satisfatória perante a sociedade que o cerca.
Segundo Maluf (2003, p.21) “a criança privada dessa atividade poderá ficar
com traumas profundos dessa falta de vivência. Quando a criança brinca ela está
vivenciando momentos alegres, prazerosos, além de estar desenvolvendo
habilidades”.
O desenvolvimento da criança inicia-se através da sua interação perante ao
envolvimento lúdico em meio às situações ocorridas junto à sociedade. A falta deste
estímulo humano pode gerar diversos conflitos na formação do indivíduo, criando
consequências prejudiciais para suprir e fomentar sua personalidade.
29

Seguindo o ponto de vista exposto pela autora, devemos analisar e recriar de


maneira social e humana a inserção do lúdico mediante tamanha importância para a
formação e desenvolvimento implementados nos processos de aprendizagem.
Segundo Maluf (2003, p. 29) “o brincar pode ser um elemento importante
através do qual se aprende, sendo sujeito ativo desta aprendizagem que tem na
ludicidade o prazer de aprender.”
Nos dias atuais o autor menciona que o jogo é primordial para o currículo
escolar, ele menciona que através da recreação necessária a aprendizagem é
imprescindível, podendo contribuir e enriquecer o conhecimento de forma direta
sendo significativa no processo de formação do ser humano. Acredita-se que a
criança precisa estar relacionada não só na Educação física mais em todo o
conteúdo a todo momento trabalhando com o lúdico.

Outra importante consideração sobre o que o jogo diz respeito à


aprendizagem é que não mais pode existir no educador a ideia
classificatória de “jogos que divertem” e “jogos que ensinam”, pois se o jogo
que se aplica envolve de forma equilibrada o respeito pelo amadurecimento
da criança, exercita e coloca em ação desafios a sua experiência, promove
sua relação interpessoal exaltando as regras do convívio, será sempre um
jogo educativo – ainda que possa simultaneamente ensinar e divertir, jogos
bem organizado ajudam a criança a construir novas descobertas, a
desenvolver enriquecer sua personalidade e é jogando que se aprende a
extrair da vida o que tem de essencial (ANTUNES, 2008, p.9).

A ludicidade como forma de aprendizagem vai além das ferramentas


utilizadas para o ensino. De nada ira adiantar ter um universo de ferramentas onde
os alunos não serão capazes de utilizar essas ferramentas e ainda irão diminuir o
aprendizado tornando invalida o método de ensino.
Almeida (1978, p. 29) considera como verdadeira aprendizagem inserida em
jogos a que chega aberta de situações e vive afetuosa, capaz de voltar o aluno para
realização de suas próprias vontades respeitando os seus limites, desejos e
ansiedades meio ao contexto educativo.
O lúdico é uma atividade eficaz para desenvolver as potencialidades humanas
das crianças que deve ser utilizado dentro da sala de aula. Através do lúdico o
professor consegue trabalhar as habilidades previstas no plano escolar de forma
30

prazerosa, estimulando e permitindo que os alunos interajam entre si e realizem tudo


de forma significativa.
Acredito que neste capítulo foi possível refletir sobre como o lúdico é de
grande valia para o processo de ensino e aprendizagem. Quando se tem a
ludicidade nos ensinamentos a comunicação é eficaz e significativa, a criança se
torna mais ativa, podendo usufruir de uma nova maneira de aprender, que garanta
um entendimento melhor e que possa contribuir de várias formas com sua vivencia
escolar e cotidiana.
O que realmente importa é atribuir a cada criança o papel de sujeito ativo na
construção do conhecimento, de formas cada vez mais aprimorada, pois somente o
indivíduo ativo é capaz de atuar frente às pressões sociais, compreendendo-as
melhor para poder então transformá-las.
Através das brincadeiras e dos jogos infantis, a criança passa a conhecer-se
a si mesma e aos outros com quem interage, além de desenvolver a linguagem e
aprender normas de convívio social e hábitos culturais.
31

3 JOGOS TEATRAIS COMO FORMA LÚDICA

Este capítulo tem por objetivo frisar a importância da Arte através de jogos
teatrais na formação e desenvolvimento cultural dos alunos sendo crianças ou
jovens, incluindo-a como componente curricular obrigatório da educação básica.
Destacam-se nos PCNs a Arte no no Ensino Fundamental I, envolvendo
Jogos Teatrais. Para o cumprimento de tais propósitos, são discutidas, também, as
características do ensino através do lúdico.
A recreação, bem como suas implicações no desenvolvimento cognitivo,
social e emocional do ser humano, discorre uma abordagem fundamentada nos
impetrados teóricos de Maluf (2003). Considera-se, também, uma análise dos Jogos
Teatrais como facilitador do lúdico, formulada por Spolin (2012).
Ainda, neste capítulo, são examinados os estudos de Spolin (2012), sobre a
introdução das propostas de atividade dos jogos teatrais.

3.1 JOGOS TEATRAIS E PARAMETROS CURRICULARES

Professores do Ensino Fundamental devem utilizar os jogos teatrais como


atividades lúdicas, pois através delas é possível desenvolver a linguagem, o
pensamento, a socialização, a iniciativa e a autoestima dentro de várias disciplinas
em única atividade de maneira bem natural.
De acordo com Antunes (2000, p.36), O jogo pode ajudar o aluno a construir
suas novas descobertas, desenvolver e enriquecer sua personalidade, além de
simbolizar um instrumento pedagógico que leva o professor à condição de condutor,
estimulador e avaliador da aprendizagem.
Os jogos ajudam a criar um entusiasmo sobre o conteúdo a ser trabalhado a
fim de considerar os interesses e as motivações dos educandos em expressar-se,
agir e interagir nas atividades lúdicas realizadas na sala de aula, isso sem
mencionar como as brincadeiras são excelentes oportunidades de mediação entre o
prazer e o conhecimento já constituído, visto que o lúdico é naturalmente cultural.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais asseguram esse tipo de ensino com
brincadeiras e jogos como construtores de conhecimentos.
32

A orientação proposta nos PCNs está situada nos princípios construtivistas


e apoia-se em um modelo de aprendizagem que reconhece a participação
construtiva do aluno, a intervenção do professor nesse processo e a escola
como um espaço de formação e informação em que a aprendizagem de
conteúdos e o desenvolvimento de habilidades operatórias favoreçam a
inserção do aluno na sociedade que o cerca e, progressivamente, em um
universo cultural mais amplo. Para que essa orientação se transforme em
uma realidade concreta é essencial à interação do sujeito com o objetivo a
ser conhecido e, assim, a multiplicidade na proposta de jogos concretiza e
materializa essas interações (ANTUNES, 2000, p. 43).

Não basta somente levar os jogos para dentro da sala de aula, o professor
precisa ter muita criatividade, vontade e competência para conduzir as atividades
lúdicas, podendo assim alcançar mais facilmente os seus objetivos dentro do
processo de ensino, permitindo maiores avanços no desempenho dos alunos.

A legislação e os aportes teóricos, atualmente, defendem a arte na escola


com a mesma seriedade que qualquer outra disciplina curricular, seguindo,
portanto, os mesmos processos e teorias de aprendizagem. Entretanto
torna-se necessário uma intervenção do professor como mediador do
processo educativo e sua dinâmica precisa ter intencionalidade e
sistematização (SANTOS, 2008, p.8).

A legislação obriga-se a que se tenha no currículo o componente Artes,


despertando o apreço das crianças pela cultura, expressões regionais e histórica.
Pode-se evidenciar de maneira clara, que cabe ao educador direcionar de forma
integrada com a realidade exercida a ludicidade para o aprendizado do aluno,
formando além de tudo um senso crítico no qual ao aplicar-se o ensinamento o
educador irá proporcionar tanto de uma forma de divertimento como de
aprendizagem instruindo no aluno um contato mais amplo no ato de brincar e
aprender.
“O ensino da arte, visto como forma de expressão, criação, análise e reflexão,
pode contribuir para uma nova forma de educação” (SANTOS, 2008, p.9).
A arte é a disciplina onde a expressão dos pensamentos, projetos, ideias,
musicas, poesias e outros mostram as contradições da sociedade, seus sentimentos
e seus empreendimentos. É uma maneira de suscitar emoções, representações de
desejos, enfim, é uma forma de produzir comunicação, retroceder para o passado
com o objetivo de dar um salto para o futuro, valorizando as manifestações e
tendências culturais. Em outras palavras, pode se dizer que fazer arte é relacionar o
antigo com o moderno levando em conta a evolução de um povo.
33

Santos (2008, p.9) afirma ainda que cabe aos professores de ensino da arte a
missão de serem intérpretes e mediadores do saber, dos valores e da cultura da
sociedade atual. É de bom senso pensar que as mudanças ocorridas na sociedade
precisam ser absorvidas pela escola. Considerando-se que a escola é a instituição
formal de educação por excelência, pode-se afirmar que a escola é o lugar propício
para o acesso à informação e ao conhecimento atualizado dos alunos.
A autora tece ainda considerações a respeito do trabalho pedagógico e o
respeito que os educadores precisam ter pelas vivências lúdicas que as crianças
possuem antes de chegar à escola. O lúdico é colocado pelo autor como um
componente da cultura infantil que precisa ser preservado pelos educadores.
Oportunizar o aluno a ter contato com o lúdico focando suas expressões humanas
pode ocasionar e enriquecer as possibilidades culturais.

Na tentativa de, pelo menos, minimizar os problemas decorrentes do ensino


da arte nas escolas, pensou-se na criação de alternativas metodológicas
unindo educação, arte e jogo para oferecer aos alunos e professores uma
nova forma de vivencia artística que possibilite novas formas de pensar e
provoque a imaginação, a sensibilidade, o prazer estético e a construção do
conhecimento, abandono aquelas práticas rotineiras que se traduziam em
meros exercícios motores de desenho e pintura (SANTOS, 2008, p.9).

Utilizando-se do lúdico é possível ao professor uma melhor compreensão a


respeito de como a criança vê e constrói o mundo, o que ela gostaria que fosse e
quais suas preocupações. Através da brincadeira, ela consegue expressar melhor o
que normalmente tem dificuldades de colocar em forma de linguagem falada.
Conforme Santos (2008, p.11) a arte passou a se chamar Educação Artística
a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional - LBD
em 1971, o que trouxe grandes dificuldades no campo educacional, pois a Música, o
Teatro e as Artes Plásticas foram integrados num único componente curricular e não
havia professores qualificados em todos estes campos ao mesmo tempo. Cada
professor trabalhava em sala de aula o que sabia. Para solucionar este problema
criou-se, no Brasil, a Licenciatura Curta em Educação Artística, que em dois anos
pretendia garantir uma formação polivalente em artes, o que não funcionou na
prática.
Esta formação genérica, que poderíamos assim chamar, dava ao professor a
licença para atuar de 5ª a 8ª série. Para atuar no 2º grau, seria necessário cursar a
34

licenciatura plena: complementação de mais 1.000 horas de uma habilitação


específica a ser escolhida entre artes plásticas, cênicas, música ou desenho.

A partir dos anos 80 consolidou-se um movimento que se denominou arte-


educação, que pretendia rever os princípios da arte na escola. Este
movimento teve grande influência na determinação dos rumos da arte na
escola brasileira, pois a Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional de 996), no que se refere à arte, introduziu no seu bojo
as ideias defendidas pelos profissionais de arte-educação daquela época e
o ensino da arte torna-se obrigatório na Educação Básica (SANTOS, 2008,
p.11).

O movimento Arte-Educação, que tinha como objetivo inicial conscientizar e


organizar os profissionais, através de uma mobilização de grupos de professores de
arte, permitiu a ampliação das discussões sobre a valorização e o aperfeiçoamento
do professor, que reconhecia a insuficiência de conhecimentos e competência na
área, permitindo rever e propor novos rumos ao ensino de arte.

Nesta mesma época, outro fator de mudança foram os novos


posicionamentos sobre o ensino e aprendizagem de arte, bem como
direcionamentos e fundamentações que passaram a alicerçar programas de
pós-graduação em arte-educação e a difundir-se no país na década de 80,
iniciando pela Universidade de São Paulo (MEC, 2000, p. 47).

Os cursos oferecidos pela Universidade de São Paulo - USP baseiam-se num


conceito de arte-educação como um intermediário entre arte e público. A ideia
principal é que arte-educação pode preparar os seres humanos para o
desenvolvimento da sensibilidade e da criatividade através da compreensão da arte.
Outra ideia presente no curso é que todas as atividades profissionais envolvidas
com a imagem (TV, publicidade, propaganda, etc.) e com o meio ambiente
produzido pelo homem (arquitetura, moda, mobiliário, etc.) são melhores
desenvolvidas por pessoas que têm algum conhecimento de arte. Essas duas ideias
norteiam a organização dos cursos de arte na USP para professores de escolas de
ensino básico da Secretaria de Educação de São Paulo para incluir não somente
pintura, escultura, desenho, mas também design, TV e vídeo.

A nova visão de arte na escola, entre outros objetivos, procura promover o


desenvolvimento cultural dos alunos, caracterizando-se como arte e não
mais educação artística, com conteúdo próprio e não mais como atividade
(SANTOS, 2008, p.11).
35

Ao refletir sobre o processo educativo, ressalta- se que as questões sociais


da contemporaneidade, têm na Arte um campo excepcional para o seu acréscimo. A
arte propicia uma maneira nova de compreender o mundo contemporâneo, de com
ele se relacionar e nele se implantar. Ela estabelece uma nova ordem no contato
com o mundo cultural, uma nova visão que pode ressignificar conceitos e práticas.
Ela pode significar muito e ser a mensageira de muitos conhecimentos e valores
para os alunos, ampliando suas possibilidades de participação social e cultural de
forma crítica, criadora e autônoma.

Com a mudança de conceitos e de valores que estão sendo propostos para


a educação devem ser mudados também os métodos pedagógicos. A
metodologia preconizada deve valorizar o diálogo, a escuta, a solidariedade,
e estética e a criatividade. Trabalhar com o novo conceito de arte na
educação é contribuir com o fortalecimento destes valores (SANTOS, 2008,
p.13).

Ressalte-se a importância de novas mudanças na prática pedagógica, que


articulem experiências e sabedorias do conhecimento cultural artístico, de forma a
ampliar a busca de conhecimentos e de seus valores. Com o avanço dos últimos
anos sobre a área educacional, torna se primordial trabalhar utilizando-se de novos
conceitos para que o aluno acompanhe a realidade visando à melhoria da qualidade
social e cultural.
Conforme Koudela (2002, p. 233), a atual legislação educacional brasileira
reconhece a importância da arte na formação e desenvolvimento de crianças e
jovens, incluindo-a como componente curricular obrigatório da educação básica. No
Ensino Fundamental, a Arte passa a vigorar a partir da implantação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCN (Brasil, 1998) enquanto área de conhecimento no
currículo da escola brasileira, através de quatro linguagens artísticas: Artes Visuais,
Dança, Música e Teatro.
A lei estrutura a Arte com componentes curriculares que tenham conteúdos
para alcançar objetivos concretos e palpáveis. Deve ser orientada e ir além de
simplesmente desenhar ou pintar, mas é necessário ensinar, o que significa
transmitir os conteúdos tanto quanto em qualquer outra disciplina. A maior
dificuldade para as escolas foi a falta de pessoas capacitadas para desenvolver
planos de aula com conteúdos variados para exercer a função das quatros
linguagens artísticas: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro.
36

Era necessário uma formação para desenvolver a Arte de forma qualitativa,


para que acompanhasse a nova proposta sobre o ensino. Atualmente vem
crescendo o número de professores que tem buscado na formação tanto na teoria
como na prática com o objetivo de alcançar a realização das aulas de artes, de
forma que sejam plenas e cumpram aquilo que por lei é proposto, com a finalidade
de proporcionar uma educação de qualidade transformadora, com valorização tanto
do professor quanto o aluno, contribuindo assim para formação de novos cidadãos.

O Teatro é abordado nos PCN – Arte a partir de sua gênese em rituais de


diferentes culturas e tempos e o jogo é conceituado a partir das fases da
evolução genética do ser humano e entendido como instrumento de
aprendizagem, promovendo o desenvolvimento da criatividade, em direção
à educação estética e práxis artística. Nesse sentido, o jogo teatral é um
jogo de construção em que a consciência do ‘como se’ é gradativamente
trabalhada em direção à articulação da linguagem artística do teatro. No
processo de construção dessa linguagem, a criança e o jovem estabelecem
com seus pares uma relação de trabalho, combinando a imaginação
dramática com a prática e a consciência na observação das regras do jogo
teatral (KOUDELA, 2002, p.234).

Um fator importante sobre a linguagem do Teatro é a utilização de textos


poéticos que podem ser temas de imitação crítica por jovens e crianças. O texto
poético pode estabelecer um princípio que une o processo pedagógico com o jogo
teatral, garantindo liberdade e diversidade de construções. Nesse aspecto, os
Temas incorporam as questões da Ética, da Pluralidade Cultural, do Meio Ambiente,
da Saúde, da Orientação Sexual, do Trabalho e Consumo. Vastos o bastante para
explanar inquietações da sociedade brasileira de hoje, os assuntos correspondem a
questões importantes, urgentes e presentes sob vários feitios na vida habitual.
Os PCN são hoje objeto de ações educacionais em todo o país, promovido
através do MEC e das secretarias de educação em vários estados e municípios
brasileiros. É preciso ressaltar que para a área de Arte o documento significou um
grande avanço, ao incorporar como eixos de aprendizagem a apreciação estética e
a contextualização que se somam à expressividade/produção de arte pela criança e
pelo jovem. Essa proposta vem promovendo o potencial do Teatro como exercício
de cidadania e o crescimento da competência cultural dos alunos.

3.2 JOGOS TEATRAIS E EDUCAÇÃO


37

Os jogos teatrais se originaram em comunidades de bairro de imigrantes nas


grandes cidades americanas, estando ligados a camadas de população desprovidas
de teatro, e seguem a tradição de jogos tradicionais populares (SPOLIN, 2012,
p.15).
O jogo teatral tem origem no jogo infantil, o que comprova seu valor no
desenvolvimento intelectual e afetivo do educando. O jogo está diretamente
relacionado ao desenvolvimento da criança. Por ser a educação nela centrada, as
atividades lúdicas atestam a importância da arte na educação e a educação por
meio da arte, servindo para liberar a criatividade e propiciar um ambiente receptivo à
criação.
O caráter lúdico do aprendizado assegurou que belas teias fossem tecidas
entre duas culturas até então pouco familiarizadas entre si (SPOLIN, 2012, p.16)
O caráter lúdico se preocupou com a manifestação artística e o divertimento
das crianças e adolescentes, utilizando ora brincadeira, ora jogos, fazendo com que
atividades rotineiras e cansativas se tornassem prazerosas. O divertimento começou
a ter significados de aprendizagem e não somente brincar: desenvolver a dimensão
humana da liberdade, espontaneidade e ação, capacidade inerente a todo ser
humano.

Metaforicamente, o jogo teatral desvelava aos próprios participantes


inesperadas visões de mundo que emergem nos grupos e eram
posteriormente examinadas. Ao mesmo tempo em que puderam articular
um discurso teatral que era o deles, aqueles jovens se apropriaram também
de instrumentos para ler criticamente a representação (SPOLIN, 2012,
p.15).

São atividades que contribuem para o desenvolvimento da criança,


despertando valores de abertura para novas experiências e trabalho coletivo, sendo
possível desenvolver habilidades que possibilitarão a formação de um adulto mais
sociável, trazendo à tona valores essenciais para a convivência na sociedade,
revelar temperamentos, potencialidades e herança cultural.

É necessário “alfabetizar” as pessoas em arte, isto é, fazer com que elas


possam decodificar as diferentes linguagens, criando oportunidade à
compreensão do sentido e dos significados que permeiam o mundo
simbólico das imagens visuais (Santos, 2008, p.8)
38

A arte plantada na educação aparta-se como instrumento importante no


método de construção do conhecimento. As semelhanças e inter-relações entre
jogos dramáticos, jogos teatrais, aprendizado e desenvolvimento propõe uma
liberdade de expressão e tal acontecimento que iguala todos os seres, independente
de classe social, cor, raça, dogma religioso e potencialidades físicas e psíquicas.
Nota-se, que a arte idealiza parte do contexto global e está inserida numa
coletividade que nasce e renasce a cada momento refletindo as ambições e
aspirações que almeja alcançar o conhecimento do mundo artístico, inventando e
recriando baseando ou não em padrões artísticos. Portanto para o autor faz se
necessário a alfabetização da linguagem artística para que assim possa ser
ampliado a adoção de uma caráter mais realista e inovadora, onde nossos alunos
sejam capazes de avalizar um conhecimento mais crítico, uma visão mais aberta
dos programas e elementos culturais, bem como o avanço da percepção do
ambiente visual e corporal dos sujeitos e um domínio amplo de técnicas mais
apropriadas para lidar com a diversidade, bem como uma capacidade máxima de
diferenciação das influências e de gestão.

O jogo é uma forma natural de grupo que propicia o envolvimento e a


liberdade pessoal necessários para a experiência. Os jogos desenvolvem as
técnicas e habilidades pessoais necessárias para o jogo em si, através do
próprio ato de jogar. As habilidades são desenvolvidas no próprio momento
em que a pessoa está jogando, divertindo-se ao máximo e recebendo toda a
estimulação que o jogo tem para oferecer – é este o exato momento em que
ela está verdadeiramente aberta para recebê-las. (SPOLIN, 1992, p.4)

O jogo deve ser constituído pela improvisação, conscientização do sentido da


representação e a resolução corporal do problema, ou seja, um jogo composto por
algumas convenções teatrais e por intervenções intersubjetivas. A autora ainda
propõe que o jogo teatral vise à solução de um problema proposto, levando-se em
consideração os limites e regras convencionados e aceitos pelo grupo. Deve ter
como ponto de partida o papel (quem), a ação (o que) e o espaço (onde); e o foco
como objetivo.
O método proposto é utilizado no treinamento de atores, e significa ainda a
base de trabalho na maioria dos espaços de aprendizagem teatral, especialmente os
direcionados a crianças e adolescentes. O sistema também é utilizado nas escolas
regulares que trabalham a linguagem teatral no conteúdo de Artes, além de ser
39

integrante no conteúdo de pedagogia teatral desenvolvido nos espaços de formação


de atores, de diretores, de professores de teatro e de arte-educadores.

Através do jogo, a criança dinamiza as capacidades que decorrem de sua


estrutura particular e realiza os potenciais virtuais que afloram
sucessivamente à superfície de seu ser. Ela os assimila e os desenvolve,
une-os e complica-os, em suma, coordena seu ser e lhe dá vigor
(REVERBEL, 1997, p.35).

Jogar, para a criança, é brincar livremente. O jogo pode ser musical, plástico,
ou dramático, às vezes é orientado e, outras vezes, espontâneo; e desse último
originam-se os denominados jogos educativos. Os que envolvem a imitação e a
criação encontram-se no início do desenvolvimento da expressão na criança e
mostram-se presentes em todo ensino da arte. Diante disso, a autora destaca a
atividade teatral como elemento fundamental para que a criança possa aprender
sobre si própria, sobre o outro e o mundo que a rodeia, além de favorecer a
aprendizagem da arte e das demais disciplinas que compõem os currículos
escolares.
A autora afirma ainda que o jogo dramático implica, primeiramente, o prazer e
deve ser interrompido sempre que o prazer do jogo cessar. Entretanto, nele a
criança é menos livre que no jogo espontâneo, pois o papel escolhido pelo
participante deve ser mantido, seja durante uma sequência ou durante todo o jogo.
Portanto, jogo dramático, como todo jogo, possui regras regidas perante os códigos
do teatro, pois implica a obrigação de jogar (apresentar) para os outros.
A partir dessa introdução, a autora propõe a prática de atividades globais de
expressão a ser utilizadas coletivamente por crianças e adolescentes, em sala de
aula e orientadas pelo professor. Essas atividades pretendem uma ação dramática,
a partir de jogos, conjugada com elementos da música, da dança, das artes
plásticas, da mímica, da literatura, da história, da geografia, assim como temas
religiosos, políticos e sociais.
A aplicação múltipla para os jogos teatrais, direcionada pelo contexto do
grupo de jogadores e pela abordagem crítica utilizada durante as avaliações, sugere
que o sistema oferecido por (Spolin, 2012, p.15), ao mesmo tempo em que regula a
atividade teatral, traz em si a possibilidade de sua própria superação como método
A autora observa a relevância e contemporaneidades dos jogos teatrais como
enfoque metodológica, porem grandes descobertas e contribuições através dos
40

jogos teatrais vem se revelando em encenações com grupos de alunos em escolas


de ensino fundamental a partir de suas experimentações realizadas em grupos,
destacando a importância do jogo de regras no processo de aprendizagem do teatro.
“O aprendizado teatral é constituído ao longo das experiências do grupo.”
(SPOLIN, 2012, p.16).
Por serem os jogos sempre trabalhados em grupos, oferecem oportunidades
de exercitar nas crianças a solidariedade, pois em determinados momentos elas
estarão mais ativas nesses jogos, se tornarão observadoras e aprenderão a
importância do respeito na interação social, podendo assim desenvolver valores
importantes para a convivência na sociedade.
Os jogos teatrais demonstram serem altamente produtivos nas diferentes
abordagens, e acima de tudo geram grandes habilidades no processo de cognição
da linguagem teatral. As ponderações sobre o jogo teatral dentro de nossa realidade
certamente abrem novos horizontes para o método proposto e assim vem ampliando
e até mesmo transformando a proposta primitiva.

O jogo pode ser um grande aliado para o desenvolvimento da arte na


escola, pois as atividades lúdicas possibilitam que a criança esteja
constantemente ativa, sua mente alerta e curiosa, seu ambiente dotado de
materiais atrativos e sua inter-relação com as outras pessoas se efetive de
modo natural e afetivamente bem estruturado (Santos, 2008, p.8)

O lúdico pode vem sendo um grande elo nas escolas pois ele é a parte
fundamental para dirigir e desencadear o mundo de criação e artístico dos alunos,
estejam eles crianças, adolescentes ou adultos. A junção dos jogos e da arte na
escola enriquece as atividades e ambos podem improvisar parte das aventuras,
sonhos, fantasias, frustrações, medos, angustias, com os quais as crianças têm que
habituar-se para aprender a lidar com todas as suas emoções, desenvolvendo um
alicerce sólido para a sua personalidade em formação. O jogo, de modo especial o
jogo teatral, possibilita a promoção do conhecimento e do aprendizado. É possível
observar a interação dos educandos e a sua participação na hora da execução das
atividades, fazendo com que os alunos se apropriem do que está sendo
desenvolvido. O jogo teatral é um grande facilitador no processo de ensino e
aprendizagem e vem derrubando preconceitos de que é composto somente de
brincadeiras, conquistando espaços cada vez maiores nos ambiente do ensino da
arte.
41

Considerando a reflexão brasileira sobre as propostas pedagógicas dos


cursos de formação de professores de Teatro, ressalta-se a necessidade de
uma composição interdisciplinar envolvendo a formação geral, através de
conhecimentos que ultrapassam os domínios da especialidade e uma
formação específica, voltada para os conteúdos epistemológicos que
dimensionam o saber teatro, a prática teatral e o saber ensinar essa
disciplina. Esses conhecimentos devem estar articulados com todas as
outras dimensões do ato educativo, desenvolvendo a competência cultural
da criança e do jovem (KOUDELA, 2002, p.239).

Esta visão metódica da escola voltada para os conteúdos epistemológicos


sobre a formação de Artes leva o professor a uma reflexão, uma espécie de conflito
que o leva a uma atitude prática capaz de integrar o contexto da escola e sua feição
de aluno, de escola e do próprio papel do professor. É nesse exercício que o aluno
poderá vivenciar, momentos de diálogos e de aprender fazendo, mesmo que por
imitação. Essa atitude reflexiva exige do professor mudanças na maneira de pensar
e agir, implicando em atitudes de responsabilidade, dedicação e apropriação da
verdade de que é um sujeito limitado, fadado a falhar, mas que a partir de sua
reflexão é que edifica e aperfeiçoa a base epistemológica que dá suporte à sua
prática docente. Essas ações encadeiam-se quando, retrospectivamente, os
professores têm oportunidade de rever o processo de ensino e a aprendizagem,
reconstruindo os conhecimentos, os anseios e as ações. É nesse refletir sobre a
ação que está a possibilidade de promover a ampliação de sentidos e significados à
prática docente, uma vez que permite ao professor olhar para o seu fazer enquanto
expectador de sua ação, para os resultados que ela produz em seus alunos, para os
conflitos que enfrenta. Além disso, podem levar o professor a progredir em seu
desenvolvimento profissional e a construir uma forma pessoal, singular e
sistematizada de conhecer e expandir seus ensinamentos em teatro.

Foi dado especial relevo ao fato de que ao organizar, inventar, propor,


desenvolver atividades pedagógicas junto aos alunos, o professor de Arte
precisa levar em consideração que há saberes visuais, sonoros, cênicos,
corporais e verbais que as crianças/jovens já detêm e apreendem no
relacionamento com suas famílias, seus grupos de amigos, de religião, de
trabalho, de vizinhança, de espectadores dos meios de comunicação. Esses
conhecimentos constituem o contexto cultural dos alunos, que será
relacionado com novos referenciais propostos no processo educacional com
Arte (KOUDELA, 2002, p.238).

O conjunto educativo brasileiro é transcorrido por teses de diversas


naturezas, entre as quais deparamos com os dilemas do desenho curricular a ser
42

sugerido na contemporaneidade em um país de extensões continentais e os


empecilhos em vista da escolha das canalizações metodológicos mais adequados
às diferentes regiões do país. Portanto o professor de arte precisam acolher a
diversidade do repertório cultural que o aluno apresenta para a escola e trabalhar os
produtos da sociedade em que a escola está implantada. A opinião e a disciplina da
Arte deve fornecer tanto para o processo de criação dos alunos como para o
conhecimento estético e noção da arte como tradição.
A aprendizagem quando é significativa para o aluno, possui um amplo valor e
encerra uma enorme possibilidade de ser duradoura. A arte e o jogo estando em
conjunto com o mesmo objetivo de busca do novo, do simbólico do imaginar e do
criar, pode se tornar uma grande arma de ensinamento nas escolas tornando os
aprendiz em seres bem estruturados no meio em que convive e do mundo que o
cercam.
A escola, por sua vez, tendo princípio básico “adaptar o indivíduo à
sociedade”, deve aproveitar todas as manifestações de alegria que a criança
exprime naturalmente e canalizá-las educacionalmente através de jogos educativos.
(ALMEIDA, 1978 p.24)
Tendo em vista a abordagem exercida pela escola na formação de cidadãos
aptos no desenvolvimento sociocultural. O autor incorpora por si a importância da
utilização recreativa na abordagem e implementação dos métodos de ensino.
Justificando tal característica pelo fato de ao participar de um ato recreativo o aluno
manifesta sua alegria e se liberta de modos enfadados de estudo tornando se mais
aberto ao receber as propostas acadêmicas vindas através do ato recreativo
apresentado.

3.3 JOGOS TEATRAIS E LUDICIDADE

Todo ser humano necessita de atividades para suprir seus anseios e


expectativas. Ao longo de sua trajetória, ele acumula uma grande bagagem
emocional que o deixa sobrecarregado, acumulando assim um alto índice de stress.
Como forma de descarregar e aliviar esse fardo, ele encontra na forma de lazer
recreativa a válvula de escape para livrar-se de todo esse peso, tornando-se um ser
43

humano mais leve e pronto pra utilizar sua energia em situações que irão pedir muito
do seu físico e psicológico.

Nesse sentido, toda essência do jogo se sintetiza em suas regras pois é


operando dentro de algumas regras e percebendo com clareza sua
essência que vivemos bem e nos relacionamos com o mundo. Jogar é
plenamente viver (ANTUNES, 2008, p.11)

Trazendo essa visão do autor ao relacionar as regras dos jogos juntos com as
regras da sociedade, é possível perceber a importância tanto da educação em si
como da forma lúdica de ensinar através de maneiras recreativas educacionais onde
são resgatados diversos valores e ensinamentos. Quando crianças e jovens são
formados com o objetivo de para adquirirem esse senso de responsabilidade
perante as regras imposta pela sociedade, estamos formando jovens mais aptos à
integração nos grupos sociais.
Maluf (2003, p.43) afirma que, através do brinquedo a criança instiga a sua
imaginação, adquire sociabilidade, experimenta novas sensações, começa a
conhecer o mundo, trava desafios e busca satisfazer sua curiosidade de tudo
conhecer.
Assim como o ato de aprendizagem é importante para a formação de uma
sociedade mais crítica, o ato de brincar também é de extrema importância e traz
consigo uma grande contribuição. Porém, oferecer ao jovem apenas a possibilidade
de brincar não é suficiente para a sua formação num todo. Por isso, além de
brincadeiras e jogos é necessário que se disponibilize aos jovens ferramentas
capazes de proporcionar um maior aproveitamento de todas as atividades.

Desta maneira, os jogos infantis podem até excepcionalmente incluir outra


competição, mas essencialmente visam estimular o crescimento e
aprendizagens e seriam melhor definidos se afirmássemos que representam
relação interpessoal entre dois ou mais sujeitos realizada dentro de
determinadas regras. (ANTUNES, 2000, p.9)

Trabalhando com a perspectiva apresentada pelo autor, podemos concluir


que além de estimular o aprendizado, os jogos também apresentam um papel social
que é de incluir e mostrar para os participantes que mesmo sendo uma competição,
o que deve prevalecer é o espirito coletivo que a atividade oferece. Focando nessa
afirmação, podemos enfatizar que ao proporcionarmos eventos dessa magnitude
estamos colaborando para uma sociedade melhor.
44

Para Kishimoto (2000, p.183) “os jogos não são apenas uma forma de
divertimento, mas são meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento
intelectual. Para manter-se equilibrada com o mundo, a criança precisa brincar criar
e inventar”.
Para analisarmos de maneira significativa o que nos é retratada pelo autor,
podemos verificar que, independente da maneira envolvida no quesito de
aprendizagem, os jogos devem ser tratados como uma ferramenta de estimulo e de
evolução para o aprimoramento dos métodos de ensino aplicados no conceito de
incentivo ao sistema educacional.
Segundo Carneiro (2007, p.1) a pedagogia do lúdico, também chamada de
ludopedagogia, nos oferece a magia de ensinar e aprender brincando, diferente das
aulas perturbadoras, que muitas vezes acabam por afastar o aluno do
conhecimento, ou mesmo, como em muitos casos, acarretando no abandono
escolar.
Por meio da ludopedagogia, é possível oferecer ao aluno uma proximidade da
realidade à qual está inserido, assim como realizado em experiências escolares que
receberam premiações do Ministério da Educação, com o Prêmio Professor do
Brasil, que demonstra o aumento na frequência escolar, a diminuição da violência
dentro da escola, a socialização e a integração de todos os alunos no grupo,
transformando o aluno, o professor, a escola, a família e a sociedade.
Conforme Luckesi (2001, p. 57), “As atividades lúdicas são aquelas que
propiciam uma experiência de plenitude, em que nos envolvemos por inteiro,
estando flexíveis e saudáveis”.
Assim, é possível deduzir que a ludicidade exige do professor uma
predisposição para o trabalho com o lúdico, o que não se adquire apenas através de
conceitos, embora estes também tenham sua importância.

Os jogos teatrais são procedimentos lúdicos com regras explícitas. A


palavra teatro tem sua origem no vocábulo grego theatron que significa
"local de onde se vê" (plateia). A palavra drama, também oriunda da língua
grega, quer dizer "eu faço, eu luto" (SLADE,1978, p.18).

No jogo dramático entre indivíduos, também chamado de “faz-de-conta”,


todos são "construtores" da condição imaginária, todos são "atores". Nos jogos
teatrais, o grupo de indivíduos que joga pode ser dividido em "times" que se revezam
45

nos papéis de "atores" e de "público", isto é, os indivíduos "jogam" para outros que
os "assistem" e " assistem" a outros que "jogam". Durante todo o período de
desenvolvimento do jogo dramático, o “faz-de-conta”, antecede o jogo teatral.

Esta passagem do jogo dramático ao jogo teatral, ao longo do


desenvolvimento intelectual da criança, pode ser explicada como "uma
transição muito gradativa, que envolve o problema de tornar manifesto o
gesto espontâneo e depois levar a criança à decodificação do seu
significado, até que ela o utilize conscientemente, para estabelecer o
processo de comunicação com a plateia." (KOUDELA,1992, p.45)

Os jogos teatrais são propositadamente destinados à pessoa do outro. O


processo em que os indivíduos "jogam" acontece a partir da ação improvisada e os
papéis de cada jogador não são previamente estabelecidos, mas surgem a partir das
interações que acontecem durante o jogo. O objetivo do jogo teatral é o acréscimo
cultural e o desenvolvimento pessoal dos jogadores através do uso interativo da
linguagem teatral, sem nenhuma preocupação com resultados cênicos pré-
estabelecidos ou artisticamente esquematizados e ensaiados. O que rege o jogo
teatral é a improvisação teatral, isto é, a comunicação que surge a partir da
criatividade e atividade espontânea das interações entre indivíduos unidos pela
linguagem teatral, que se encontram inseridos na solução cênica de um problema de
atuação.

Através do jogo, a criança dinamiza as capacidades que decorrem de sua


estrutura particular e realiza os potenciais virtuais que afloram
sucessivamente à superfície de seu ser. Ela os assimila e os desenvolve,
une-os e complica-os, em suma, coordena seu ser e lhe dá vigor.
(REVERBEL, 1997, p.35).

Para a criança, jogar significa brincar livremente. O jogo ora pode ser
orientado e, ora pode ser espontâneo; esse último origina os denominados jogos
educativos. Os jogos que abrangem a imitação e a criação podem ser encontrados
no início do desenvolvimento das expressões na criança e podem ser percebidas em
todo ensino de arte. A autora, diante dessa afirmação, destaca o teatro como sendo
um elemento fundamental para que a criança possa aprender sobre si própria, sobre
o outro e o mundo que a rodeia, além de favorecer a aprendizagem das demais
disciplinas que compõem os currículos escolares.
A autora também afirma que o jogo dramático tem como objetivo principal o
prazer, e deve ser interrompido sempre que o jogo perder essa característica.
46

Porém, nele a criança tem menos liberdade que no jogo espontâneo, pois o papel
escolhido pelo participante deve ser mantido, seja durante parte do jogo ou durante
todo ele.
Reverbel (1997, p. 35), a partir dessa introdução, sugere a prática de
atividades globais de expressão a serem utilizadas por crianças e adolescentes de
maneira coletiva, em sala de aula e orientadas pelo professor.
Essas atividades almejam uma ação dramática, a partir de jogos, combinada
com elementos da literatura, da música, da dança, da mímica, das artes plásticas,
da história e da geografia, assim como temas religiosos, políticos e sociais, que
permitem agregar informações, estimular as habilidades artísticas, bem como o
espírito crítico para que o jovem possa avaliar e selecionar os elementos
assimilados no processo educativo.

Aristóteles propõe uma Poética em que os espectadores delegam poderes


ao personagem para que este atue e pense em seu lugar; Brecht propõe
uma Poética em que o espectador delega poderes ao personagem para que
este atue em seu lugar, mas se reserva o direito de pensar por si mesmo,
muitas vezes em oposição ao personagem. No primeiro caso produz-se a
catarse; no segundo uma ‘conscientização’. O que a Poética do Oprimido
propõe é a própria ação! O espectador não delega poderes ao personagem
para que atue nem para que pense em seu lugar: ao contrário, ele mesmo
assume o papel protagônico, transforma a ação dramática inicialmente
proposta, ensaia soluções possíveis, debate projetos modificadores. (BOAL,
1975, p. 182)

O Teatro do Oprimido pode ser desmiuçado em três principais vertentes:


educativa, social e terapêutica. Na prática, os processos são desenvolvidos a partir
de jogos teatrais. Os jogos contemplam duas características essenciais da vida em
sociedade: possuem regras, assim como a sociedade possui leis; e liberdade
criativa, essencial para que a vida não se transforma em mero serviço escravo. Os
jogos também permitem a liberação do corpo e da mente alienados às tarefas do
dia-a-dia. Em outras palavras, os jogos facilitam a reversão de uma vida
mecanizada, através de diálogos, e estes, dentro da disciplina escolhida como base,
exigem a criatividade, o que constitui a sua essência.
47

CONCLUSÃO

Diante da relevância social, econômica e cultural que assume a alfabetização


em um mundo marcado pelo letramento; em que as comunicações assentam-se nos
fundamentos da velocidade das relações virtuais e na divulgação e
compartilhamento de todas as ocorrências existentes em uma ordem mundial
globalizada; todos os meios que possam ser utilizados pelas escolas e, sobretudo,
pelos docentes, no combate ao analfabetismo e na luta para uma alfabetização de
qualidade, são bem-vindos.
Neste trabalho procuramos estabelecer quais as vantagens de se adotar o
lúdico segundo uma concepção interacionista para o processo de ensino das artes.
Por pertencerem aos primeiros anos de vida da criança e, por extensão, ao
universo de qualquer ser humano em seu sentido mais amplo, as brincadeiras e os
jogos teatrais trazem em si toda uma sabedoria que vem atualizando-se e
responsabilizando-se pelo desenvolvimento de nossa civilização.
Confirmamos, pois, diante dos estudos realizados acerca da origem e
características do lúdico, que as brincadeiras e jogos teatrais, por se tratarem de
representações da vida real da criança, tornam-se instrumentos didáticos muito ricos
para se trabalhar com crianças através do ensino da artes.
Além do mais, o caráter lúdico das brincadeiras e dos jogos teatrais faz com
que a introjeção de conteúdos, tanto atitudinais quanto cognoscitivos, torne-se uma
atividade não caracterizada pela imposição unilateral dos adultos que, aos olhos da
criança, afigura-se arbitrária e desprovida de sentido, causando sentimentos de
medo, frustração e fracasso.
De fácil localização, podendo ser trabalhadas em sala de aula ou em outras
áreas dentro e fora dos muros da escola, evocadas pela memória ou ainda criadas
pelos próprios professores e alunos, as brincadeiras e os jogos teatrais, em face do
exposto, transformam-se em poderosos auxiliares didáticos ao alcance de todo
docente que se interesse em trabalhar sistematicamente com esses instrumentos.
No entanto, enfatizamos a necessidade de o educador conhecer a fundo a
forma dos jogos teatrais que irá trabalhar, a fim de não subaproveitá-lo com práticas
docentes estereotipadas, mecanicistas e limitadoras. Além do mais, o lúdico deverá
48

ser visto com um objetivo a ser cumprido e ter sempre uma finalidade prevista de
modo a atingir uma expectativa de crescimento na escolaridade com qualidade.
Por fim, todo trabalho neste sentido deve levar em consideração o contexto
em que estes são aplicados ou produzidos, pois se acredita também que os jogos
teatrais estão relacionados ao contexto histórico, social e cultural da época em
questão.
Em reforço a essas considerações, vale frisar que nossa pesquisa não esgota
o assunto, pois ele pode desdobrar-se em pesquisas de maior fôlego, que exijam
maior tempo de consulta teórica sobre a relação entre o lúdico e os jogos teatrais a
alfabetização, além da pesquisa meramente bibliográfica, tais como pesquisas de
campo e pesquisa-ação, a fim de se confrontarem os pressupostos teóricos com os
dados empíricos coletados na vivência em sala de aula.
Todavia, em que pesem as limitações de nosso trabalho, ele tem a virtude de
apontar caminhos para futuros pesquisadores, além servir de referencial teórico
inicial para quem já trabalha com brincadeiras e jogos teatrais em sala de aula, sem,
no entanto, ter tido ainda a oportunidade de conhecer as ricas e amplas
possibilidades pedagógicas proporcionadas pelas atividades de entretenimento.
49

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