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O PARADOXO E O NON-SENSE NA CLÍNICA PSICANALÍTICA

“Responda ‘sim’ ou ‘não’! Winnicott diz: Eu não


respondo nem sim nem não: o objeto
transicional é e não é o seio.”
André Green. Conferências Brasileiras, 1990

Compartilho da crença de Bion quando afirma:


“Nunca acredito em nada a não ser que seja non-
sense.”
Khan, M. Quando a primavera chegar, 1988

Este texto tem duas vias para amarração: por um lado colocar a
questão da importância do paradoxo e do non-sense dentro da cultura
inglesa, particularmente no período da formação cultural (e como pessoa), de
Donald W. Winnicott (DWW) e, por outro lado, pensar como estes “conceitos”
podem ser transpostos, visualizados e operados na clínica.
No Simpósio “O Verdadeiro e o Falso Self: D.W.Winnicott e a
Tradição Independente”, realizado na Universidade de São Paulo em 1995
(Outeiral, 1996), tive a oportunidade de apresentar uma conferência onde
estes aspectos do que chamei, brincando com as palavras, de “meio
ambiente cultural facilitador” de DWW, tal como o compreendo hoje, foram
expostos. Esta conferência foi publicada no livro “D.W.Winnicott” na
Universidade de São Paulo (Catafesta, 1996).
O PARADOXO E O NON-SENSE

O que é um “paradoxo”?
J.F. Mora, em seu Dicionário de Filosofia (Bittencourt, 1994; Mora,
1982), responde:

“Etimologicamente paradoxo significa contrário


à opinião (doxa), isto é, contrário à opinião
recebida e comum. O paradoxo maravilha
porque, propondo-se a ser como se diz que é,
parece assombroso na medida em que se
diferencia do senso comum ou do “bom senso”,
que é o que afirma um sentido determinável em
todas as coisas. O paradoxo, ao contrário, vai
contra o senso comum, e afirma a existência de
dois sentidos ao mesmo tempo.”

Estabelecida, em princípio, uma definição do termo, podemos seguir


adiante. Será interessante, acredito, rastrear a questão do “paradoxo”, desde
sua origem até sua influência na cultura inglesa deste século e no
pensamento psicanalítico de DWW, com o auxílio de Giles Deleuze
(Deleuze, 1969) em seu fundamental livro “Lógica do Sentido”, no prólogo,
intitulado “De Lewis Carroll aos Estóicos”, ele escreve:

“(...) O lugar privilegiado de Lewis Carroll provém


do fato de que ele faz a primeira grande conta, a
primeira grande encenação dos paradoxos do
sentido, ora recolhendo-os, ora renovando-os,
ora inventando-os, ora preparando-os. O lugar
privilegiado dos Estóicos provém de que foram
iniciadores de uma nova imagem do filósofo, em
ruptura com os pré-socráticos, com o socratismo
e o platonismo; e esta nova imagem já está
estreitamente ligada à constituição paradoxal da
teoria do sentido ... este livro é um anseio de
romance lógico e psicanalítico.”

Assim é, então, que podemos iniciar por este personagem paradoxal


em si mesmo, diácono de Christ Church e fotógrafo (talvez o mais importante
da “era vitoriana”!) de meninas em poses sensuais, que foi Charles Dodgson,
isto é, Lewis Carroll (1832-1898).

O PARADOXO EM LEWIS CARROLL

“Era uma vez uma coincidência que saiu a passeio


em companhia de um pequeno acidente. Enquanto
passeavam encontraram uma explicação, uma velha
explicação, tão velha que já estava toda encurvada e
encarquilhada, que mais se parecia com uma
charada.”
Sylvie and Bruno, Lewis Carroll

O paradoxo é o eixo central do “comentário mais ambicioso, do ponto


de vista teórico, sobre a obra de Carroll, que é do filósofo Gilles Deleuze”,
comenta Sebastião Uchoa Leite (Leite, 1980), que escreve:

“Deleuze concede a Carroll o lugar privilegiado de


ter feito “a primeira mise en scène dos paradoxos
dos sentidos na literatura, de ser o inventor da
literatura de superfície, pois através do paradoxo se
destitui a profundidade e as coisas se mostram na
superfície”. “O humor é esta arte da superfície,
contra a velha ironia, arte das profundidades e das
alturas.” Por isso Carroll, elegendo o paradoxo como
sua arte básica, é o autor da superfície, como os
Estóicos foram os filósofos da superfície, também
eles adeptos dos paradoxos. Ao contrário do senso
comum que afirma um sentido único, o paradoxo
afirma dois sentidos ao mesmo tempo. Daí que as
inversões/reversões em Alice (na ordem do tempo,
reversões de proposições, reversões de causa e
efeito, etc.) surgem como um paradoxo da
identidade infinita e conduzem à contestação da
identidade pessoal de Alice, tema que atravessa
suas aventuras. Segundo Deleuze, a descida de
Alice nas profundidades do poço dá lugar a
movimentos laterais de expansão, a profundidade se
faz superfície, os animais dão lugar a figuras de
carta, sem espessura. Não há aventuras de Alice,
diz Deleuze, mas uma aventura: sua ascensão à
superfície (por isso, crê o filósofo, duvidosamente,
Carroll desistiu do título inicial da obra Alice’s
Adventures Under Ground). A obra de Carroll joga
permanentemente com a dualidade dos sentidos,
com a proliferação indefinida dos mesmos, com a
criação de jogos sem regras definidas e
contraditórios entre si, etc. O não-sentido na filosofia
do absurdo se opõe ao sentido. Em Carroll, ao
contrário, o não-sentido se opõe à ausência de
sentido, produzindo um excesso de sentido. É o que
Deleuze entende por non-sense (identificando-o,
portanto, ao paradoxo...).”

Henri Laporte (Leite, 1990) discorda de Deleuze, percebendo na obra


de Lewis Carroll uma paródia das convenções operatórias. Sua tese é a
oposição que se estabelece entre as estruturas lógicas e as representações
do desejo, campo também do conhecimento da psicanálise. Podemos
perceber o erotismo oculto das Aventuras de Alice através da transgressão
dos princípios lógicos ou do princípio de realidade: como, por exemplo, o Gato
de Cheshire se transforma num “sorriso sem gato”, com o sorriso persistindo -
a propriedade “sorriso” - sem o conjunto “gato”. Este “sentido oculto”, ou o
excesso de sentido no que (aparentemente) não tem sentido - o non-sense -
pode nos ser dado, por exemplo, na escolha do codinome que fez Charles L.
Dodgson de Lewis Carroll. Este codinome “Lewis Carroll” na verdade constitui
um jogo fonético das iniciais “L” e “C” ou “Alice”: sabemos que foi para Alice
Liddel, a quem o diácono fotografava em poses sensuais, que ele dedicou as
Aventuras de Alice e, como acontece em geral na pedofilia, há uma
identificação do adulto com a criança objeto do desejo (Greenacre, 1955). Se
o leitor tiver curiosidade sobre um estudo psicanalítico de Lewis Carroll, o livro
de P.Greenacre “Swift and Carroll: A Psychoanalytical Study of Two Lives” é
muito interessante, e se a curiosidade for mais além, poderá ver inúmeras
fotos de meninas púberes tiradas por este personagem, provavelmente um
dos mais importantes fotógrafos da “era vitoriana”, no livro “Meninas” (Carroll,
1994): fotos que fariam corar a rainha Vitória ...
Retomando a questão da relação entre o discurso lógico-visível
(princípio da realidade e processo secundário) e o discurso erótico-oculto
(princípio do prazer e processo primário) encontramos duas séries, uma
realista e a outra fantástica, onde a obra de Lewis Carroll consiste “em
dissolver a fronteira entre a linguagem do senso comum e do discurso social,
e a outra linguagem, censurada, a da infância, do sonho e da loucura” (Leite,
1980). Laporte refere a relação estreita que há na criação de Carroll entre as
convenções e a censura por um lado, e o princípio do prazer por outro. Ele
escreve que “há em Alice (isto é, nos livros de) uma contestação permanente,
embora disfarçada, do princípio de realidade, e ao mesmo tempo uma
impossibilidade de imaginar o princípio de prazer”. Em “Sylvie and Bruno” é
clara a oposição entre amor e sexualidade. Lewis Carroll, escreve Sebastião
Uchoa Leite, “não propõe soluções, mas paradoxos”. A sua função era de
questionar poeticamente (como, aliás, os antigos) ... Em Carroll foi quase
obsessivo o jogo com as palavras ou com o sentido. E no campo do
pensamento para o qual revelou maior aptidão, o dos raciocínios lógicos, sua
melhor contribuição (ou única) foi na construção de paradoxos, isto é, jogos
lógico-semânticos (ou, na verdade, jogos poéticos, mais analógicos que
lógicos). Que essa obsessão oculte outra pelas regras, compete ao discurso
psicanalítico esclarecer por quê. No plano de superfície basta constatar o
prazer da desmontagem da lógica e da linguagem.”

T. S. ELIOT

Thomas Stearns Eliot (1888-1965) foi o poeta preferido de DWW, e a


quem o analista citava com freqüência e eram também contemporâneos. A
obra dos dois tem vários pontos em comum. Assim como a obra de W.Bion e
de seu analisando S.Beckett tem várias interfaces, encontramos entre
T.S.Eliot e DWW, o que eu chamaria de vínculo dos “gêmeos imaginários”
(me refiro ao fato de que o trabalho de W.Bion para membro da Sociedade
Britânica de Psicanálise foi (é dito pelo menos) o material clínico de
S.Beckett, e levou o título de “O Gêmeo Imaginário).
O que Ivan Junqueira apresenta na apreciação que faz da obra de
T.S.Eliot (Junqueira, 1981) é significativo. O que ele escreve sobre o poeta
pode ser dito do psicanalista.
“T.S.Eliot - o poeta, o crítico, o ensaísta, o
dramaturgo - encarna uma das mais estranhas e
poderosas permanências literárias de nossa época.
Estranha, porque foi ele, acima de qualquer outro, o
escritor contemporâneo que mais conscientemente
buscou, na tradição cultural do passado, o sentido
de um tempo presente que, por estar sempre vindo a
sê-lo, fosse também futuro; poderosa porque sua
obra, a um só tempo clássica e moderna,
revolucionária e reacionária, realista e metafísica,
está na própria raiz que informa e conforma a
mentalidade poética de nossos dias, tendo exercido
fecunda e duradoura influência sobre todas as
gerações que se formaram a partir de 1930.”

Esta descrição é plena de paradoxos e daquilo que DWW comentou


ao escrever “que ninguém pode ser original senão baseado na tradição”. Willy
Lewin retoma este ponto ao explicitar que T.S.Eliot foi “um devoto da tradição
que quebrou os moldes tradicionais para dar novas formas à poesia inglesa”
(Willy, L. “Os Paradoxos de T.S.Eliot”, apud Brand Blanchard, em O Estado
de São Paulo, São Paulo, 1965).
Deixando de lado, porque agora nos interessa apenas a questão do
paradoxo, vários pontos de contato entre a obra do poeta e do psicanalista,
podemos nos defrontar com um paradoxo “clássico” - princípio/fim - que DWW
utiliza em sua autobiografia, que são o primeiro e o último verso de East
Coker:

In my beginning is my end
(......................)
In my end is my beginning.

É interessante referir que T.S.Eliot circulou próximo ao grupo


Bloomsbury, particularmente com Bertrand Russell, com quem o poeta teve
contato e com quem sua primeira mulher parece ter tido um “affaire”.

O GRUPO BLOOMSBURY
Esse trajeto pelo Grupo Bloomsbury e pelos autores citados tem o
objetivo de fazer um “warming up” com o leitor para chegarmos até a DWW!

“Bem, parecia-se mais com um rabo de cachorro”, Mein Herr


replicou.” Era uma coisa muito curiosa! Senti algo esfregar-se afetuosamente
na minha perna, mas, quando olhei para baixo, não vi nada! Contudo, mais
além, havia um rabo de cachorro abanando sozinho no ar!”
“Oh, Silvia!”, Bruno repreendeu-a baixinho. “Cê não terminou de
deixar ele de novo visível!”.
“Sinto muito!, Silvia respondeu, parecendo sinceramente arrependida.
“Eu tinha a intenção de esfregar todo o seu dorso, mas a gente estava tão
apressada! Irei vê-lo amanhã, para tornar a fazer isto e torná-lo visível outra
vez. Pobre cachorrinho! Provavelmente ele não ganhará seu jantar esta
noite!.”
“Claro que ele não vai ganhar, Silvia!”, disse Bruno. “Ninguém dá um
osso prum rabo de cachorro!”
(Sylvie and Bruno, Lewis Carroll)

O Grupo Bloomsbury foi uma associação informal de pintores,


escritores e intelectuais de várias áreas, que desempenhou uma importante
influência na vida cultural da Inglaterra na primeira metade deste século.
Entre seus representantes mais significativos estavam Clive Bell (1881-1964),
Vanessa Bell (1879-1961), Goger Fry (1866-1934), Duncan Grant (1885-
1978), Maynard Keynes (1883-1946), Desmond MacCarthy (1877-1952),
Lytton Strachey (1880-1932), Leonard Woolf (1880-1969) e Virginia Woolf
(1882-1941). Eles costumavam encontrar-se com freqüência nas casas de
Clive e Vanessa Bell, ou na casa da irmã de Vanessa, Virginia Woolf, no
distrito de Bloomsbury, em Londres. Este grupo informal formou-se a partir de
um grupo intelectual semi-secreto - “Os Apóstolos” - na Universidade de
Cambridge. Não os unia uma ideologia ou uma posição estética, mas sim um
conjunto de atitudes que os levou a serem identificados com uma “elite
intelectual” revoltada com as restrições artísticas, sociais e sexuais da
sociedade vitoriana.
Um livro que consideravam básico era Principia Ethica (1903) do
filósofo de Cambridge G.E.Moore, para quem “As coisas mais importantes
são, sem dúvida ... os prazeres da relação humana e do gozo dos belos
objetos ... estes são, do ponto de vista racional, os fins últimos do progresso
social” (The Oxford Dictionary of Art, 1988). Se o leitor tiver mais curiosidade
sobre estes “personagens” poderá assistir a um filme muito interessante, e
que retrata muito este período e que aborda, principalmente, os avatares
amorosos de Lytton Strachey e uma pintora chamada Carrington (que é como
também se chama a película).
Para que possamos compreender este período necessitamos pensar
que a sociedade inglesa passava, nesta ocasião, de um momento de
“transição” da era vitoriana para a era eduardiana. A era vitoriana representou
um período que privilegiou a repressão dos aspectos instintivos, criativos e
espontâneos da cultura e cuja metáfora central podem ser as informações
biográficas sobre a própria sexualidade da rainha Vitória. A era eduardiana,
que se seguiu, foi rica de expressões artísticas, do respeito à idiossincrasia
pessoal e de uma abertura geral nos costumes. Posso Fazer, no sentido de
provocar celeuma, a citação de um “vitoriano ilustre”, como Rudyard Kipling,
“poeta do colonialismo e das boas práticas morais”, em contraste com uma
“eduardiana ilustre”, como Virginia Woolf, conhecida por todos pela liberdade
e que a leitura de seu “Orlando” permite inferir. É interessante convidar os
psicanalistas a associar o nome de Leonard Woolf como o editor de Hogarth
Press, que publicou os livros de Sigmund Freud em inglês e o de Lytton
Strachey com o de James Strachey, seu irmão, e quem fez a tradução do
alemão para o inglês das obras do fundador da psicanálise. A editora Hogarth
Press também publicou os livros de DWW e James Strachey foi seu primeiro
(e mais importante) analista ... assim, o período de formação cultural de DWW
(e também como pessoa) foi este momento da sociedade inglesa (Edel, 1979;
Outeiral, 1995).
O PARADOXO E O NON-SENSE EM JAMES JOYCE E EM
SAMUEL BECKETT

Resultante da impossível voz o impraticável ser.


Samuel Beckett

Estes dois autores, na tradição de Lewis Carroll, mostram uma prosa


prenhe desta forma de pensar: James Joyce, mais velho, e Samuel Beckett,
mais moço (o analisando de W.Bion, talvez seu “gêmeo imaginário”).
Como exemplo deste jogo de frases e palavras, podemos utilizar o
conceito de “epifania” de James Joyce e o de interpretação. A interpretação é
a antítese da “epifania”, esta “súbita manifestação espiritual que se manifesta
pela vulgaridade da palavra ou do gesto, ou ainda, por alguma frase
memorável do espírito” (Joyce, 1977). Podemos também brincar com as
palavras criadas pelo próprio J.Joyce, os doublets. As port-mateaux, as
mot-valise. Ele escreve em Ulysses: “om alices freudened”, isto é, na chuva
de trocadilhos intraduzíveis de Joyce, “on alices” significa “em análise” e
“freudened” é um doublet de friended (que tem amigos, que faz amigos) com
Freud.
Para pensarmos sobre o paradoxo escreve S.Beckett:

“Fiquei enfim a refletir, isto é, a escutar com mais


intensidade”./ Molloy
“Me ouço dizer”./ O inominável.
“Ouço dizer, deve ser ainda a voz da razão”./ Textos
para nada.
“Digo como ouço - ouço minha vida - cito - escuto -
falo”./ Como é.
“Quando se busca se ouve”./ Esperando Godot.
“Mas eu me ouço dizer”./ Oh! Os belos dias.

O NON-SENSE E O PARADOXO EM S.FREUD


O trabalho de S.Freud “Os Chistes e sua Relação com o
Inconsciente” (1905) aborda em muitos momentos a questão do non-sense,
segundo a tradição de James Strachey. São cerca de 16 referências a “non-
sense” no índice remissivo, em sua maioria relacionados aos chistes.
S.Freud, em um pé-de-página (Freud, 1905; pgs. 161-2) nos esclarece o
seguinte:

“Os chistes non-sense, aos quais não prestei a


atenção devida em minha exposição, merecem
alguma consideração suplementar.
A importância que nossas concepções atribuem ao
fator do “sentido do non-sense” poderia levar à
reivindicação de que todo chiste seja um chiste non-
sense. Mas isto não é verdade necessária porque é
apenas o jogo com pensamentos que leva
inevitavelmente ao non-sense; a outra fonte de
prazer nos chistes, o jogo com palavras, produz
apenas essa impressão apenas ocasionalmente e
não provoca invariavelmente a crítica implicada. A
dúplice raiz do prazer nos chistes - o jogo com as
palavras e o jogo com os pensamentos ... - dificulta
perceptivelmente o estabelecimento de uma
formulação concisa das afirmações gerais sobre os
chistes. Jogar com as palavras produz prazer
manifesto em conseqüência dos fatores já
enumerados acima (reconhecimento, etc.) e é,
conseqüentemente, apenas em pequeno grau
atribuível à supressão. Jogar com os pensamentos
não pode ter seu motivo neste tipo de prazer; depara
com uma supressão muito energética e o prazer que
se pode produzir decorre apenas da suspensão de
uma inibição. Conseqüentemente, pode-se dizer que
o prazer nos chistes exibe um núcleo de prazer
original no jogo e um invólucro de prazer na
suspensão das inibições. Naturalmente, não
percebemos que nosso prazer em um chiste non-
sense procede de que tenhamos conseguido liberar
um pouco de non-sense a despeito de sua
supressão; por outro lado, verificamos diretamente
que jogar com palavras causa-nos prazer. O non-
sense que ainda perdura em um chiste conceptual
adquire secundariamente a função de aumentar
nossa atenção, desconcertando-nos. Serve como
recurso de intensificação do efeito do chiste, mas só
quando age obstrusivamente, de modo que o
desconcerto possa acelerar em alguns momentos a
compreensão. Os exemplos à pg. 3s demonstram
que, além disso, o non-sense em um chiste pode
ser utilizado para representar um juízo contido no
pensamento. Contudo, esta também não é a
importância primária do non-sense nos chistes.
(Acrescentado em 1912) Inúmeras produções
semelhantes aos chistes podem ser classificadas
junto aos chistes non-sense. Não há um nome
apropriado para estas produções, que poderiam ser
descritas como “idiotice mascarada de chiste”. Há
exemplos sem conta delas, dos quais seleciono
apenas dois:
“Um homem que, na mesa de jantar, estava sendo
servido, apanhou o peixe, mergulhou as duas mãos
na maionese e passou-as pelo cabelo. Diante do
olhar perplexo de seu vizinho, pareceu notar seu
equívoco e desculpou-se: “Sinto muito, pensei que
fosse espinafre.
OU: “A vida é uma ponte suspensa”, disse um
homem. “Por que?” perguntou outro. “Como posso
saber?”, disse o primeiro.
Esses exemplos extremos operam porque suscitam
a expectativa de um chiste, de modo que é tentador
buscar um sentido oculto por trás do non-sense.
Mas não se acha nada: são realmente non-sense. A
aparência chistosa permite por um momento liberar
o prazer do non-sense. Tais chistes não são
inteiramente desintencionados; constituem um
“logro” e proporcionam à pessoa que os conta certo
grau de prazer por irritar seu ouvinte. Este último
diminui seu aborrecimento planejando contá-las, por
sua vez, numa outra ocasião.”

Janine Chasseguet-Smirgel (Smirgel, 1985) escreve um elucidante


trabalho, apresentado no 25 o aniversário do Instituto Sigmund Freud
(Frankfurt), em dezembro de 1985, intitulado “O paradoxo do método
freudiano”, que ao abordar as origens do que ela considera “as forças
subterrâneas e soturnas na cultura alemã e o empreendimento freudiano”,
nos dá vários elementos para uma reflexão sobre esta questão.

O PARADOXO E O NON-SENSE EM WINNICOTT


Dentro da tradição da cultura britânica do período, conforme
comentado antes, DWW desenvolveu-se como pessoa e como psicanalista.
A questão do paradoxo e do non-sense, marcas importantes dessa
época, perpassa em vários momentos seu pensamento, e é interessante
rastreá-lo. Como pensava este típico englishman, criador de termos como
“adoecer sadiamente” ou “amor impiedoso” ou, ainda, “agressividade sem
intencionalidade”?
Novamente Anna-Maria Bittencourt (Bittencourt, 1994) nos ajuda:

“Em 1951 Winnicott publicou o seu artigo sobre


o objeto e o fenômeno transicional. Descreveu
um campo de investimento numa área
intermediária, que é onde o espaço transicional
se passa, sendo ele puxado tanto em direção à
realidade externa quanto à interna, devido à
simultaneidade dos dois sentidos. O conceito de
paradoxo já estava aí presente, mas o termo só
foi usado em 1958 para referir-se à situação por
ele descrita, qual seja, que a capacidade de estar
só, só se pode desenvolver na presença de
alguém. A partir daí apresentará sucessivamente
novos paradoxos, até que em 1971 os torna tema
central de seu livro O Brincar e a Realidade.”

Assim, localizados no tempo, podemos agora seguir adiante com a


ajuda de André Green (Green, 1990), que nos descreve a introdução do
pensamento paradoxal na criação da noção de transicionalidade:

“... mas na verdade o campo transicional é uma


grande idéia, pois é precisamente uma idéia que
recusa a fechar-se no dilema: será que é interno,
será que é externo? É uma idéia que transforma
a noção de limite. Como disse, o interesse da
noção de limite é separar dois campos. Winnicott
nos diz: o limite não é uma linha, o limite é, ele
próprio, um território. É uma “No man’s land”
(terra de ninguém), e é um território que coloca
problemas lógicos, o que quer dizer que não se
trata mais, quando estamos nesse território, de
colocar a questão em termos de objeto interno
ou externo, não se trata mais disso quando
falamos de objetos que vivem na área
transicional ... O ursinho ou o pedaço de
cobertor da criança, não devemos julgá-los nem
segundo os critérios do objeto interno, nem
segundo os critérios do objeto externo. Isto quer
dizer que introduzimos no psiquismo a categoria
do paradoxal e que introduzimos no estilo
interpretativo a noção do “talvez”, isto é, saímos
da lógica do computador, é externo ou
interno? ... Responda sim ou não! Winnicott diz:
“Eu não respondo nem sim nem não: o objeto
transicional é e não é o seio.”

É, por vezes, difícil lidarmos com a tradição cartesiana, da certeza e


das categorias excludentes, e neo-positivista (imperante na Viena do início do
século), buscando sempre o respaldo das ciências naturais, que predominou,
de certa maneira, no pensamento psicanalítico. A rotação que a categoria
paradoxal introduz exige, de quem a utiliza, cuidados especiais.
Anne Clancier e Jeannine Kalmanovitch (Kalmanovitch, 1984)
abordam em seu livro “Le Paradoxe de Winnicott” a obra de DWW, e em um
dos capítulos a questão do “paradoxo” especificamente. As autoras
esclarecem que o paradoxo é introduzido em psicologia pelo grupo de Palo
Alto, nos Estados Unidos, e na França a partir das pesquisas de R.Laing,
analisando de DWW, através de P.C.Racamier (1973), que revelou um
funcionamento paradoxal no pensamento dos esquizofrênicos, e por Didier
Anzieu (1975) com sua contribuição sobre a “resistência paradoxal” e a
“transferência paradoxal”. Para estes dois autores o paradoxo tem o sentido
de uma defesa, enquanto que para DWW, ao contrário, o paradoxo está
incluído no processo de maturação. O primeiro estudo sistemático do
paradoxo na obra de DWW foi, segundo as autoras de “Le Paradoxe de
Winnicott”, o livro de René Roussilon.
René Roussilon (Roussilon, 1991), em seu livro “Le Fait
Psychanalytique: Paradoxe et Situations Limites de la Psychanalyse” realiza
um estudo fundamental sobre a posição do paradoxo na obra de DWW. Este
autor inicia, citando P.C.Racamier, de que o paradoxo não é um conceito
psicanalítico e que pertence ao domínio da lógica, via epistemologia.
René Roussilon refere que é Bertrand Russell quem introduz, através
do paradoxo lógico-matemático, uma ruptura epistemológica neste campo. O
trabalho “As Conseqüências Filosóficas da Relatividade” de Bertrand Russell
(Russell, 1926) é uma síntese importante deste pensamento. Vale lembrar
também que este autor foi mais um membro do Grupo Bloomsbury (e que
conviveu muito próximo a T.S.Eliot que, como sabemos, foi um dos poetas
preferidos de DWW).
Ao estudar a questão do paradoxo para DWW, René Roussilon
descreve duas situações: os paradoxos dos processos de maturação (ou
paradoxos lógicos) e as defesas paradoxais. Os paradoxos lógicos são
indispensáveis para o estabelecimento da transicionalidade e propiciar assim
a experiência da “continuidade do ser” (“going on being”, “continuité d’être”).
As defesas paradoxais, não formuladas como tais por DWW, operam quando
há uma ameaça à “continuidade do ser” e buscam preservar o verdadeiro self
do aniquilamento e das agonias primitivas (Roussilon, 1991; Kalmanovitch,
1984; Bittencourt, 1994).

OS PARADOXOS DOS PROCESSOS DE MATURAÇÃO

1. O paradoxo da transicionalidade

Vejamos, numa primeira abordagem ao tema e com as dificuldades


que uma obra dispersa em mais de 200 trabalhos possibilita, como DWW
aborda esta questão dos paradoxos dos processos de maturação (les
paradoxes du processus de maturation, cf. Roussilon).
No trabalho “Mind and its Relation to the Psyche-Soma” (Winnicott,
1949) DWW escreve, ao comentar que não existe no esquema corporal, em
seus aspectos temporal e espacial (e seguindo a L.Grimberg eu pergunto pelo
aspecto social), um lugar óbvio para a mente:

“O esquema corporal, com seus aspectos temporal e


espacial, fornece uma exposição valiosa do
diagrama que o indivíduo tem de si mesmo, e
acredito que dentro dele não haja um lugar óbvio
para a mente. No entanto, na prática clínica,
encontramos a mente como uma entidade localizada
em algum lugar pelo paciente; faz-se portanto
necessário um estudo mais aprofundado do
paradoxo de que ‘a mente não existe realmente
como uma entidade’,”

É, entretanto, no campo dos objetos e fenômenos transicionais que


se localiza o paradoxo central de DWW. Na primeira abordagem deste tema
feita no trabalho “Transitional Objetcs and Transitional Phenomena”
(Winnicott, 1951) DWW não menciona o caráter paradoxal da utilização do
objeto transicional por parte da criança, mas na versão do mesmo trabalho
publicada em “Playing and Reality” (Winnicott, 1971) o paradoxo está no
centro da transicionalidade (Roussilon, 1991).
Escreve DWW (Winnicott, 1971):

“É hoje geralmente reconhecido, acredito, que aquilo


a que me refiro nesta parte de meu trabalho não é o
pano nem o ursinho que o bebê usa; não tanto o
objeto usado quanto o uso do objeto. Chamo a
atenção para o paradoxo envolvido no uso que o
bebê dá àquilo que chamei de objeto transicional.
Minha contribuição é solicitar que o paradoxo seja
aceito, tolerado e respeitado, e que não seja
resolvido. Pela fuga para o funcionamento em nível
puramente intelectual é possível solucioná-lo, mas o
preço disso é a perda do valor do próprio paradoxo.
Esse paradoxo, uma vez aceito e tolerado, possui
valor para todo indivíduo humano que não esteja
apenas vivo e a viver neste mundo, mas que também
seja capaz de ser infinitamente enriquecido pela
exploração do vínculo cultural com o passado e o
futuro. É essa ampliação do tema básico que me
interessa neste livro.”

Esta experiência de transicionalidade, acontecimentos da área do


espaço potencial, espaço dos fenômenos e dos objetos transicionais, espaço
que não é interno nem externo, espaço utópico, espaço da localização de
objetos que não são localizáveis, primeira possessão “não-eu”, é
fundamentalmente um paradoxo. A condição paradoxal sine qua non, como
sabemos e como nos diz René Roussilon, é que o objeto, para ser criado,
deve ser encontrado! DWW (Winnicott, 1951) nos apresenta este paradoxo
da seguinte maneira:
“Do objeto transicional pode-se dizer que é uma
questão de acordo, entre nós e o bebê, de nunca
fazer a pergunta: “Você percebeu isso ou foi-lhe
apresentado do exterior?”. O importante é que não
se espere decisão alguma sobre o assunto. A
pergunta não deve ser nem formulada.”

No trabalho “The Theory of the Parent-Infant Relationship”


(Winnicott, 1960), DWW deixa ainda mais clara sua idéia:

“O paradoxo é que o que é bom ou mau no ambiente


do lactente não é de fato uma projeção, mas a
despeito disso é necessário, para o lactente se
desenvolver sadiamente, que tudo lhe pareça sê-lo.
Ai encontramos a onipotência e o princípio do prazer
em operação, como devem estar, certamente, na
mais tenra infância; e a esta observação podemos
acrescentar que o reconhecimento de um “não-eu”
verdadeiro é uma questão de intelecto; pertence à
extrema sofisticação e à maturidade do indivíduo.”

Assim nós criamos um objeto encontrado, posto em um espaço


utópico/virtual/hipotético ou, no dizer de DWW, potencial, pela “mãe
suficientemente boa” ou pelo “ambiente facilitador” ou - quem sabe - se
houver engenho e arte para tanto, pelo “analista suficientemente bom”.

2. O paradoxo da capacidade para estar só

O paradoxo da capacidade para estar só é, talvez, menos conhecido


do que o paradoxo dos objetos transicionais.
René Roussilon escreve o seguinte:

“Como se apresenta este paradoxo? Entre “estar


com” (ou “estar contra”) e “estar só” se intercala uma
experiência subjetiva, matriz e primeira etapa
paradoxal da capacidade para estar só, a
capacidade de estar só na presença do outro.”
OS PARADOXOS DAS DEFESAS PARADOXAIS

René Roussilon utiliza o “paradoxo da culpabilidade” (Psycho-Analysis


and the Sense of Guilt; Winnicott, 1958) para precisar a dinâmica das defesas
paradoxais. DWW, citado por este autor, escreve:

“O crime verdadeiro não é a causa do sentimento de


culpa; é antes o resultado desta culpa, culpa que
pertence à intenção criminosa. Somente a culpa
legal se relaciona com o crime; a culpa moral se
relaciona com a realidade interna. Freud conseguiu
achar sentido neste paradoxo.

O sentimento de culpa moral surge de um conflito interno,


ambivalente, entre amor e ódio pelo mesmo objeto. DWW, no trabalho que
estamos referindo, faz a articulação entre suas idéias e o desenvolvimento
aportado por Freud. A partir desta perspectiva o delito surge como uma
tentativa de aplacar o sentimento de culpa inconsciente que resulta da
ambivalência pelo objeto. A “economia da ação delitiva resulta ao mesmo
tempo de uma defesa para a “realidade” exterior (a culpabilidade legal) para
fugir da realidade interna e também, por esta defesa, encontrar uma culpa
que possa ser identificada, dominada e da possível expiação.
O “paradoxo da culpabilidade” pode ser expresso assim (Roussilon,
1991):
“Se tornar culpado para não se sentir culpado” e, em continuação,
“se sentir culpado não é a mesma coisa que se tornar culpado para não se
sentir culpado.”
É claro que estas idéias de DWW estão ligadas ao trabalho de Freud
“Os Criminosos por Sentimento de Culpa” (1916).
Em um outro trabalho, “The Fear of Breakdown” (1968), DWW retoma
o tema das defesas paradoxais. Ele descreve que o “medo do colapso” que o
indivíduo teme, na verdade, se refere a algo que já aconteceu e que não pode
ser simbolizado na ocasião.
“Afirmo que o medo clínico do colapso é o medo de
um colapso que já foi experienciado.

É necessário, agora, clarear um pouco mais os conceitos de


“paradoxos dos processos maturacionais” e de “defesas paradoxais”.
Os primeiros - paradoxos dos processos maturacionais ou lógicos -
pertencem à área de transicionalidade, são formações intermediárias
entre a realidade externa e a realidade interna, e permitem um acesso
a esta última. As “defesas paradoxais”, por seu lado, se constituem
como defesa contra a realidade interna, buscam proteger o self
verdadeiro da ameaça de aniquilamento (por falha ambiental,
“impingment”, etc.) que ameaça a “continuidade do ser”. O
comportamento, então, não é um testemunho da realidade interna,
mas, ao contrário, o comportamento é resultado de uma recusa ou de
um mascaramento (pelas defesas maníacas, por exemplo) desta
mesma realidade interna.

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