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TRABALHO TÉCNICO-CIENTÍFICO 1
Fatores determinantes da capacidade motora força
BELO-HORIZONTE
2020
SUMÁRIO
Referências ………………………………………………………………………………………………………….. 11
CURVA FORÇA - VELOCIDADE
A curva força-velocidade é um dos fatores mecânicos que afetam a força muscular. Como o próprio nome
sugere, essa curva relaciona a força gerada com a velocidade com que uma determinada carga é deslocada por essa
mesma força.
Como sabemos, a velocidade e a força têm uma relação inversamente proporcional, ou seja, à medida que a
velocidade dos movimentos aumenta, a força máxima que um músculo pode gerar concentricamente (durante o
encurtamento) diminui. A velocidade máxima de encurtamento ocorre quando o movimento não tem resistência
(sobrecarga). Isso é definido pela maior taxa de formação de pontes cruzadas e sua ligação com os sítios ativos de
actina. Por sua vez, quando a velocidade de um movimento aumenta, a força que o músculo consegue gerar
excentricamente (alongando-se) também é elevada. Isso é afirmado devido aos componentes elásticos presentes no
músculo. (FLEK; KRAEMER, 2006)
A representação gráfica da relação entre força e velocidade mais utilizada é a equação hiperbólica proposta por Hill
(1938): (P + a) . (v + b) = b . (P0 + a) = Constante, onde P é qualquer força, v é a velocidade de contração
correspondente à força P, P0 é a força isométrica máxima no comprimento ótimo do músculo e “a” e “b” são
constantes.
Macintoch e Holash, (2000) reforçam que várias características da estrutura muscular podem influenciar os
parâmetros da curva força - velocidade e, dentre eles estão: a arquitetura muscular, incluindo a PCSA (área da
secção transversal), ângulo de inclinação das fibras, comprimento muscular e configuração anatômica da articulação,
além de outros fatores adicionais como o comprimento do sarcômero, a composição e o tipo de fibra muscular, o
nível de ativação, e, por último, a fadiga muscular. (CONCEIÇÃO, 2004)
As implicações da curva força velocidade demonstram que o treinamento em baixa velocidade e tensão
máxima é efetivo para o treinamento de força, e que o treinamento em alta velocidade é efetivo para o
aperfeiçoamento da potência e da velocidade. No entanto, o uso de uma variedade de velocidades pode ser mais
efetivo para o aperfeiçoamento de ambas, força e velocidade (FLEK;KRAEMER, 2006)
Figura 1. Relação força velocidade e potência (adaptado de Macintosh e Holash, 2000)
REFLEXO MIOTÁTICO
O reflexo miotático é um reflexo motor involuntário que ocorre em resposta ao estiramento de um músculo,
ou seja, a distensão das fibras de um músculo esquelético além dos limites normais. É um mecanismo neurogênico
que acontece, principalmente, nos alongamentos dinâmicos, com alta velocidade, em que o músculo realiza uma
contração e freia o movimento com a intenção de prevenir lesões.
Para esse mecanismo funcionar, devidamente, ele conta com a ajuda dos fusos musculares, que tem a
função de sinalizar mudanças de comprimento no músculo. Os fusos são estruturas encapsuladas que contém fibras
musculares intrafusais, são inervadas por neurônios aferentes sensoriais e também por motoneurônios gama. Esse,
por sua vez, tem o objetivo de controlar os receptores presentes nesta estrutura, enquanto os neurônios sensoriais
recebem os estímulos enviados pelo fuso e encaminham as informações até o sistema nervoso central onde são
processados na medula espinhal (Aires, 1999).
É importante ressaltar que não são as fibras intrafusais responsáveis pela contração realizada durante o
reflexo miotático, mas sim as fibras extrafusais que estão localizadas fora do fuso muscular e são mediadas pelo
motoneurônio alfa que, no caso, é a resposta do SNC. Quando este é estimulado, existe contração muscular, quando
é inibido ocorre o relaxamento.
Bompa (2004) relata que o reflexo miotático é um dos reflexos mais rápidos, tendo seu tempo de reação
em cerca de 30 a 40 mseg. Essa característica define e estabelece parâmetros para o treinamento e aproveitamento
do CAE em esportes ou em preparações físicas, muito presentes nos exercícios pliométricos. O tempo de contato
que o indivíduo pode estabelecer com o solo deve ser igual ou inferior a 40 mseg para que esse mecanismo
potencialize o desempenho do exercício, gerando maior força a partir do aproveitamento de outras forças atuantes.
Os exercícios pliométricos são usados no treinamento de atletas para desenvolver a força explosiva e
melhorar a reatividade muscular por meio da facilitação do reflexo miotático (HOWARD, 2004). Os exercícios para
membros inferiores, como os saltos em profundidade, são mais populares e bem mais descritos na literatura do que
os para membros superiores. De acordo com Hewett, Myer e Ford (2005), o treinamento pliométrico é capaz de
reduzir lesões de joelho, principalmente, em mulheres, melhorando a ativação da musculatura do quadril, a qual é
importante para a estabilização dessas articulações.
Por fim, a presença desse sistema mostra-se de imenso valor no âmbito esportivo e de melhoria de
desempenho da força explosiva, capacidade física que se desenvolve e se manifesta em um curto período de tempo e
com predominância anaeróbia do fornecimento de energia. Caracterizando, dessa forma, o reflexo miotático como
fator determinante.
TIPOS DE UNIDADE MOTORA
A unidade motora é composta pelo grupo de fibras musculares coordenadas por um único neurônio motor
que é responsável por transmitir a informação ao cérebro de que o músculo precisa contrair-se ou relaxar-se. Quando
um neurônio motor é ativado todas as fibras musculares da unidade motora se contraem. As estruturas que estão
envolvidas em uma unidade motora são compostas por dois componentes: o muscular, que é formado pelo neurônio,
axônio deste neurônio, pelas terminações nervosas do neurônio e pelas fibras musculares inervadas por estas
terminações, e o neural, que é formado pelo fuso muscular, unidade motora, órgão neurotendíneo de golgi, células
de Renshaw, miotomos, nervo periférico, junção neuromuscular e asa anterior da medula espinhal.
As unidades motoras são classificadas de acordo com o tempo necessário para desenvolver a força máxima
(devido ao processo de recrutamento iniciado pelos motoneurônios pequenos) e com a frequência de estimulação na
qual ocorre a fadiga (todas as fibras musculares pertencentes à unidade motora possuem as mesmas propriedades
funcionais e bioquímicas). Existem três tipos de unidade motora: as unidades fatigáveis e de contração rápida
(FR/CR), as unidades resistentes à fadiga e de contração rápida (CR/RR) e as unidades resistentes à fadiga e de
contração lenta (CL). As unidades fatigáveis e de contração rápida (FR) são constituídas por motoneurônios alfa
grandes, de alta velocidade de condução, com hiperpolarização pós potencial breve que lhes permite disparar em alta
frequência e conectados a fibras musculares do tipo IIb, denominadas brancas por serem grossas e conterem pouca
mioglobina. Têm como característica a contração rápida, desenvolvimento de muita força e a rápida fadiga. As
unidades resistentes à fadiga e de contração rápida (RR) são constituídas de fibras musculares do tipo IIa, também
denominadas brancas, e têm como característica a contração rápida, o desenvolvimento de força e capacidade de
resistência a fadiga. As unidades resistentes à fadiga e de contração lenta (CL) são formadas por motoneurônios
pequenos, de baixa velocidade de condução, com hiperpolarização pós potencial prolongada que os impede de
disparar em alta frequência, conectados a fibras musculares do tipo I, denominadas vermelhas por possuírem
menores diâmetros e serem ricas em mioglobina e mitocôndrias, além de serem bem vascularizadas. Têm como
características a contração lenta, o desenvolvimento reduzido de força e a alta resistência à fadiga.
Tanto o fator muscular quanto o fator neural, além de determinar o treinamento, também sofrerão
alterações decorrentes do mesmo. As primeiras reações de adaptação ao treinamento de musculação são decorrentes
de uma maior eficiência do fator neural, observando-se uma melhor coordenação motora, consequência do
aprimoramento dos processos de recrutamento, seletividade e sincronização.
Outro fator determinante para a quantidade de tensão produzida pelo músculo é descrito pelo ângulo de
penação que, de forma simplificada, diz respeito ao ângulo que as fibras dispõem-se em relação ao eixo principal do
músculo. O eixo longitudinal do músculo determina o arranjo das fibras individuais a partir de uma linha imaginária
traçada através da origem e inserção e, nesse sentido, as diferenças no alinhamento e no comprimento do sarcômero
afetam profundamente a capacidade que um grupo muscular tem de gerar força e potência. Ademais, as fibras de
um músculo podem exibir mais de um ângulo de penação, ângulo de fixação, ao tendão.
Segundo MAC’ARDLE 2008, o corpo humano possui dois tipos de alinhamento muscular, sendo eles, as
fibras fusiformes, ou com formato de fuso, que correm paralelas ao eixo longitudinal do músculo, por exemplo o
bíceps braquial, e se afunilam na inserção tendinosa e as fibras peniformes, com formato de leque, como o reto
femoral, que estão, também paralelas umas às outras, porém dispostas diagonalmente. formam um ângulo oblíquo,
menor que 90º. De significado funcional, o ângulo de penação afeta o número de sarcomêros por área muscular no
corte transversal e, assim, faz com que cada fibra muscular permaneça curta enquanto o músculo, como um todo,
pode alcançar um comprimento considerável. No músculo penado, o arranjo de tecido conjuntivo, dos tendões e das
fibras, relativamente curto, cria uma maior área em corte transversal, onde mais sarcômeros são acondicionados num
determinado volume de músculo.
Um ângulo de penação muito grande, máximo 30°, resulta em perda de, aproximadamente, 13% na
capacidade da fibra de gerar força, o que acarreta o aumento do potencial de compactação das fibras. Assim sendo, a
penação permite a compactação de grande número de fibras em menor área em corte transversal, o que tende a gerar
considerável quantidade de potência. Quando as fibras do músculo peniforme se encurtam, elas giram sobre a
fixação ou as fixações do tendão, aumentando progressivamente o ângulo de penação. Como demonstrado por
HALL, 2013, por meio da relação F total (componente vertical da força) = F fibras . cos a (alfa), quanto maior o
ângulo de penação, menor a proporção de força efetiva transmitida sobre o tendão ou os tendões para mover os ossos
associados. E, ainda de acordo com HALL 2013, embora a penação reduza a força efetiva gerada em um
determinado nível de tensão de fibra, essa disposição permite maior recrutamento de fibras do que o recrutamento
em um músculo longitudinal e, como os músculos peniformes contêm mais fibras por unidade de volume muscular,
eles podem gerar mais força do que os músculos com fibras paralelas do mesmo tamanho.
Por fim, com esse estudo fica evidente o impacto que a disposição penada que as fibras têm sobre a
produção de força pelo músculo, pois essa disposição das fibras desfavorece a produção de força . Entretanto, esse
fator é altamente relevante, pois a geração de força máxima é proporcional a área de secção transversa e, nesse
aspecto, a força que uma fibra é capaz de fazer depende, também, da quantidade de sarcômeros que ela possui e, ao
somarmos a quantidade total de força que todas as fibras produzem juntas, os músculos penados geram mais tensão.
PROPRIEDADES DO TENDÃO
Os tendões são encontrados formando a origem e a inserção dos músculos ou nas intersecções tendinosas
dentro dos músculos. São responsáveis por transmitir ao osso as forças de tração geradas pela contração do músculo,
o que permite o movimento articular ou a manutenção da postura. Porém, nem sempre os tendões estão presos aos
ossos, podendo se fixar em outros elementos como cartilagens, septos intramusculares, cápsulas articulares e, até
mesmo, em tendões de outros músculos (DÂNGELO; FATTINI, 2002).
Histologicamente, os tendões são formados por tecido conjuntivo fibroso denso e organizado. São
constituídos por células e uma matriz extracelular (MEC). As células encontradas nos tendões são chamadas
tenócitos e possuem a função de renovação dos componentes da MEC (HAYEM, 2001). Já a MEC é formada por
componentes fibrilares (fibras de colágeno, fibras de elastina e fibras de reticulina) e substância fundamental amorfa
(não fibrilares), formada pelos proteoglicanos (PGs) e glicoproteínas (KISNER, COLBY, 2005). Na MEC são
encontradas moléculas de colágeno, principalmente do tipo I, e elastina, envolvidas por água e proteoglicanos.
Tendões são estruturas viscoelásticas com propriedades mecânicas únicas. Sendo viscosidade a capacidade
da estrutura de se adaptar a uma determinada carga (comportamento dominante sobre baixas cargas) e elasticidade a
capacidade da estrutura de se alongar e voltar à posição inicial de maneira não linear (comportamento dominante
sobre altas cargas).
O colágeno, principal elemento estrutural do tendão, é o elemento que resiste à deformação tensiva, sendo
responsável pela força e rigidez (KISNER; COLBY, 2005), além da flexibilidade, resistência e até mesmo
elasticidade dos tendões. Durante a realização dos movimentos articulares, as fibras colágenas absorvem a maior
parte da sobrecarga de tensão, respondendo de maneira viscoelástica. A resistência de um tendão e a eficiência deste
mecanismo dependem do direcionamento paralelo destes elementos com a direção das forças à que estão sujeitas.
Ao observar o alinhamento entre as fibras colágenas, encontram-se feixes altamente organizados paralelamente,
alinhados ao longo do eixo longitudinal do tendão, o que fornece resistência, da melhor forma possível, a aplicação
das cargas mecânicas.
O tendão possui funções de transmitir a força muscular (que atuará no osso), armazenar energia (que será
utilizada como força propulsora), possibilitar que o volume articular esteja longe da articulação (não atrapalhando o
movimento articular), resistir às forças tensivas na flexibilidade e funciona como um amortecedor (dissipador de
energia). Sendo assim, é possível destacar duas principais funções para os tendões: (1) a transmissão de forças
tensionais entre músculos e ossos e (2) o armazenamento e a liberação de energia elástica durante os movimentos
articulares.
Quando ocorre movimento passivo em uma articulação, o tendão é responsável pela maior parte da
deformação observada no complexo muscular (HERBERT et al., 2002). Antes de ocorrer a contração, se um
músculo é previamente alongado, coloca-se tensão no tecido e armazena-se energia elástica. Esse mecanismo
permite um sistema de economia de energia, uma vez que o tecido tendíneo, ao liberar energia elástica, colabora na
geração da força muscular.
RECRUTAMENTO DE UNIDADES MOTORAS
O sistema nervoso central desempenha um sistema de controle complexo que possibilita a correlação entre
a velocidade e a magnitude da contração muscular, e as necessidades do movimento para que movimentos sutis e
meticulosos possam ser executados. O córtex cerebral representa o nível mais alto da hierarquia do controle motor e
é onde os movimentos voluntários são organizados (AIRES, 2008). A partir dele são transmitidas as informações até
a medula espinhal, onde se situam os corpos celulares dos motoneurônios das unidades motoras.
As unidades motoras são recrutadas em uma ordem sistemática, durante contrações voluntárias, de acordo
com o princípio do tamanho (CORMIE, 2011). Os neurônios que inervam as unidades motoras de contração lenta
(CL) têm limiares baixos e são relativamente fáceis de ativar, enquanto as unidades motoras de contração rápida
(CR) são inervadas por fibras nervosas mais difíceis de ativar. Consequentemente, as fibras de CL são as primeiras a
serem ativadas, mesmo quando o movimento resultante do membro é rápido. A força produzida por um músculo
está relacionada ao tipo e ao número de unidades motoras recrutadas (CORMIE, 2011).
Vários autores ratificam o aumento do recrutamento de unidades motoras com o treinamento de força
(AAGAARD, 2002; KRAEMER & RATAMESS, 2004; FOLLAND & WILLIAMS, 2007). Conforme aumenta a
necessidade de força, de velocidade ou de duração da ativação, as unidades motoras com limiares mais altos são
ativadas progressivamente, com as fibras Tipo IIa adicionadas antes das fibras Tipo IIb. Na fisiologia do músculo
esquelético o potencial de ação, propagado via axônio até a placa motora, é transformado em força muscular
(ENOKA, 2000). Em cada tipo de fibra existe um contínuo de facilidade de ativação e o sistema nervoso central
pode ativar seletivamente mais ou menos unidades motoras. Durante o exercício de baixa intensidade, o sistema
nervoso central pode recrutar as fibras de CR quase que exclusivamente e, conforme a atividade continua e a fadiga
se instala, as unidades motoras Tipo IIa e Tipo IIb são ativadas até que todas estejam envolvidas.
O recrutamento de maior ou menor número de fibras musculares é o que define o nível de força produzido,
já que uma fibra isolada atua em sua capacidade máxima de força. Porém, o comando nervoso que aciona uma fibra
muscular, não aciona de forma isolada somente uma fibra muscular. Na verdade, o mesmo impulso aciona mais de
uma fibra ao mesmo tempo, já que um neurônio motor inerva, também, outras fibras. A um neurônio motor e todas
as fibras musculares por ele inervadas é dado o nome de Unidade Motora. Portanto, quanto mais UM recrutadas, e
consequentemente, suas fibras musculares, maior será a produção de força, e quanto menor o número de UM
recrutadas menor a produção de força.
COORDENAÇÃO INTERMUSCULAR
Outros autores entendem a coordenação intermuscular como a cooperação de diversos músculos em relação
a uma sequência que se tem em vista (HOLLMANN; HETTINGER, 1983). Assim, a coordenação intermuscular
vem evidenciar sua importância no esporte, potencializando a força necessária para um determinado movimento e a
técnica com que este é executado em união entre a eficiência e a coordenação motora, fazendo parte das adaptações
neurogênicas no treinamento.
O termo “adaptações neurogênicas” tem sido utilizado para resumir três fenômenos que influenciam o
aumento da força: o aumento no número de unidades motoras (UMs) recrutadas, o aumento da frequência de
disparos dessas unidades e a redução na co-ativação dos grupos musculares antagonistas ao movimento
(HAKKINEN et al. 1985). Esse tipo de adaptação é estudado pela eletromiografia, que mede a atividade elétrica do
músculo, ou seja, se temos alteração de atividades elétricas no músculo, então entendemos que ocorreu adaptação
neural e, com esse aumento da atividade elétrica, recrutam-se mais fibras musculares sendo possível produzir mais
força.
Já é praticamente consenso (MORITANI & DE VRIES, 1979; HAKKINEN & KOMI, 1983) que os ganhos
iniciais de força, principalmente em indivíduos não treinados, devam-se ao aumento da ativação neural voluntária
dos músculos, enquanto que a hipertrofia assume, gradativamente, uma função importante no crescimento da força
em períodos posteriores. Isso mostra que a prática de exercícios que ampliem o desenvolvimento dos fatores de
coordenação é de imensa importância quando pensamos em performance esportiva.
Não é possível falar sobre coordenação intermuscular sem citar a coordenação intramuscular – que é um
dos principais fatores da adaptação neural e das ativações e interações das unidades motoras dentro do músculo –
uma vez que ocorrem quase simultaneamente. Quando essa característica é trabalhada, gerando melhora na
capacidade de mobilização das unidades motoras, o mesmo é responsável por um aumento na capacidade de
desenvolver força de contração (Weineck, 1999).
A aplicação quanto a promoção da força, que apresenta as solicitações das unidades motoras, determina que
a coordenação intermuscular apareça também como ferramenta de incremento da força. Ocorre o recrutamento das
musculaturas necessárias e seus sinergistas ao máximo, promovendo a inibição das musculaturas antagonistas e
finalmente mantendo a integridade das articulações através das musculaturas estabilizadoras. De acordo com essa
afirmação, Weineck (1999) defende que reduzido controle intermuscular, seja quanto aos sinergistas ou aos
antagonistas, leva a diminuição do desenvolvimento de força dinâmica máxima possível.
SINCRONIZAÇÃO DE UNIDADES MOTORAS
A sincronização de unidades motoras é a capacidade que o corpo humano possui, por meio do sistema
nervoso, de recrutar simultaneamente 2 ou mais grupos musculares. Essa simultaneidade ocorre, geralmente, quando
o sistema nervoso da pessoa é capaz de estimular diferentes motoneurônios ao mesmo tempo e em diferentes
frequências. A sincronização quantifica o nível de correlação entre o tempo dos potenciais de ação descarregados
por unidades motoras simultaneamente ativas (Milner-Brown, 1975).
A importância da sincronização pode ser exemplifica em indivíduos que ao tentarem realizar exercícios de
força em grandes grupos musculares acabam tendo grande tremor no mesmo. Exemplo: Tremor no abdominal, como
a sincronização não está adaptada e o sujeito tenta desempenhar mais força (no músculo específico) do que o
exercício necessita, ele acaba sobrecarregando aquela musculatura e, por isso, começa a tremer, gastando energia
desnecessária. Com o desenvolvimento do processo de treinamento ocorre a adaptação que possibilita que esse
tremor no músculo não aconteça.
Para melhor compreensão, podemos pensar que um indivíduo utilizando dois grupos musculares precisa
superar uma resistência de 10kg em 4 segundos e que cada grupo muscular é capaz de gerar força para superar 6kg
de resistência. No primeiro momento, o indivíduo consegue gerar a força no músculo 1 por 2 segundos e no músculo
2 nos outros 2 segundos, mas não consegue superar a resistência, pois a maior força gerada foi apenas de 6kg, ou
seja, ele gera as forças sequencialmente e não simultaneamente.
No segundo momento, após um certo tempo de treinamento, o indivíduo consegue mover a resistência por
certo tempo, mas não durante todo o tempo necessário, ou seja, ele está transitando entre gerar forças sequencial e
simultaneamente.
Sendo assim, a melhor sincronização de unidades motoras pode auxiliar o treinamento de força, e pessoas
com maiores níveis de força, geralmente, têm maior sincronização, o que fica evidenciado por Semmler et. al. 1997
“As unidades motoras de atletas de força parecem apresentar maior sincronização do que indivíduos não treinados”.
No entanto, Sale et. al 1988 diz que “não está claro como um aumento na sincronização poderia promover força”.
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