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Integração de Alunos estrangeiros na comunidade escolar

A integração e acolhimento de alunos estrangeiros faz parte das


necessidades educacionais do sistema de ensino brasileiro desde séculos
passados, graças aos diversos processos de ondas migratórias ocorridos no país.
Dados da Secretaria Estadual de Educação de SP de 2018 indicavam a presença
de quase 10.000 alunos estrangeiros matriculados na rede pública e distribuídos em
295 municípios.(1) Estes alunos podem ser incluídos dentre aqueles que apresentam
necessidades educacionais especiais conforme descrito na Declaração de
Salamanca, documento originado na Conferência Mundial de Educação especial de
1994(2) que diz:
“...o conceito de “necessidades educacionais
especiais” passará a incluir, além das crianças
portadoras de deficiências, aquelas que estejam
experimentando dificuldades temporárias ou
permanentes na escola, as que estejam repetindo
continuamente os anos escolares, as que sejam
forçadas a trabalhar, as que vivem nas ruas, as que
moram distantes de quaisquer escolas, as que vivem
em condições de extrema pobreza ou que sejam
desnutridas, as que sejam vítimas de guerra ou
conflitos armados, as que sofrem de abusos contínuos
físicos, emocionais e sexuais, ou as que
simplesmente estão fora da escola, por qualquer
motivo que seja.” (Extraído de DECLARAÇÃO DE
SALAMANCA: Sobre Princípios, Políticas e Práticas
na Área das Necessidades Educativas Especiais,
1994, Salamanca-Espanha.)
Desde os estímulos para imigração oferecidos a japoneses e europeus para
trabalho em colônia agrícolas no início do século XX até as atuais migrações de
residentes em países onde condições socioeconômicas das classes menos
favorecidas fazem o Brasil parecer bastante atrativo devido a economia em pleno
desenvolvimento e uma democracia em tese bem estabelecida.(3)
Temos ainda a questão de refugiados, que procuram o país em busca de
asilo político ou fugindo de conflitos e guerras em seus países de origem, também
sendo possível observar uma demanda crescente não só nos grandes centros mas
em cidades menores com a interiorização de imigrantes que vão em busca de
oportunidades de emprego sem ainda existir legislação federal específica para a
integração de estudantes estrangeiros. (1,3)
As iniciativas de acolhimento e integração quando existentes são vinculadas
aos estados, porém também sem deliberação específica que possibilite a
contratação de profissionais que possam atuar na tradução e interpretação de aulas
e ensino de português aos estrangeiros ou mesmo na mediação com os pais de
alunos estrangeiros. O acolhimento é parte vital no processo de integração, pois a
comunidade escolar pode se ver dividida de forma a favorecer ações de bullying,
preconceito e exclusão no ambiente de ensino. Além disso os alunos estrangeiros e
suas famílias muitas vezes passaram por situações de vulnerabilidade econômica e
social tão importante que o medo de serem deportados devido situação ilegal no
país pode ser motivo de incentivar os alunos a fecharem-se dentro de grupos com
apenas componentes de sua própria nacionalidade. (1)
Dentre as medidas que podem ser implementadas nas escolas podemos
procurar a integração com Associações ou Organizações Não-Governamentais que
tenham vínculo com a comunidade chinesa e trazer componentes mediadores para
a escola que tenham conhecimento do idioma chinês e português e possam num
primeiro momento auxiliar no processo de comunicação com os pais de alunos
estrangeiros para que estes entendam que o objetivo da escola é integrar os alunos
e pais ao ambiente escolar e não colocar os mesmo em risco de deportação. Além
disso é importante convocar os pais de alunos nativos do Brasil e trabalhar a
questão da integração com estes, pois as crianças podem estar replicando
comportamentos de viés xenofóbico a partir de comentários e comportamentos
observados em casa.
Dentro do currículo escolar além de implementar a história e costumes dos
países de origem de maneira multidisciplinar podemos implantar não só o reforço do
aprendizado de português para estrangeiros mas também tentar ofertar o
aprendizado de chinês aos alunos nativos, podendo ter nesta intervenção a
possibilidade de aproximação dos dois grupos e trocas culturais importantes, bem
como explorar os vínculos culturais e históricos dos dois países seja por meio de
eventos escolares ou visitas a locais e monumentos históricos. Pode ser
interessante também montar um grupo onde as demandas de estudantes brasileiros
e estrangeiros sejam ouvidas e seja possível estabelecer programas e adições ao
currículo baseadas na necessidade presente na rotina de ensino, não somente no
desejo da administração escolar.
Também é fundamental a capacitação do corpo docente e auxiliar da escola
para que estejam alinhados a este processo de acolhimento, não sendo
responsáveis por replicar mesmo que sem intenção comportamentos que levem os
alunos a entenderem que é normal ridicularizar ou excluir alunos com necessidades
educacionais especiais. Em suma, o processo de integração e acolhimentos de
alunos estrangeiros deve ser pautado pelo respeito às diferenças e ao envolvimento
da comunidade escolar como um todo.

REFERÊNCIAS

1) SÃO PAULO. Secretária Estadual de Educação. Documento Orientador


CGEB-NINC "Estudantes Imigrantes: Acolhimento". 2018

2) MENEZES, Ebenezer Takuno de. Verbete necessidades educacionais


especiais. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo:
Midiamix Editora, 2001. Disponível em
<https://www.educabrasil.com.br/necessidades-educacionais-especiais/>. Acesso
em 12 fev 2021

3) RATIER, Rodrigo."O desafio das escolas brasileiras com Alunos


Imigrantes" Site Nova Escola, 2010. Disponível em
<https://novaescola.org.br/conteudo/1534/o-desafio-das-escolas-brasileiras-com-alu
nos-imigrantes>. Acesso em 12 fev 2021.

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