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A INCLUSÃO DO (A) ALUNO (A) COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E

MÚLTIPLA NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO

Marcia Elena Henrique Alves


marcya_vencendobatalhas@hotmail.com
Pós graduação em Educação Especial e Inclusiva com Ênfase em Deficiência
Intelectual e Múltipla
Faculdades FAVENI

RESUMO
No mundo contemporâneo, tem se debatido muito sobre o processo histórico de
adesão à educação inclusiva. Esses debates são propiciados devido aos desafios que
a mesma apresenta e, com intuito de que todas as unidades escolares tenham um
sistema educacional inclusivo, no qual respeite-se a diversidade como intrínseca aos
seres humanos. Sendo assim, este trabalho visa fazer uma retomada histórica do
processo de compreensão da educação especial e apresentar aos possíveis leitores
as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com necessidades especiais (NE) no
processo da inclusão educacional e social. Haja vista que o processo de inclusão que
é iniciado no âmbito escolar perdura pela vida do(a) aluno (a) e ajuda o (a) mesmo
(a) a engajar-se também na vida cotidiana e nos desafios que são gerados pela
convivência obrigatória em sociedade. Não há como negar que a sociedade passa
por diversas transformações que impactam diretamente no âmbito escolar. Nesse
contexto, a demanda de alunos que necessitam de um apoio individualizado aumenta
e, por isso, a escola precisa modificar as relações de tratamento a esse público
específico.

Palavras-chave: História, Educação, Inclusão, Deficiência Intelectual, Sociedade.

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como foco principal trazer algumas análises teóricas por
meio da bibliografia existente sobre o tema para refletir sobre os diferentes
paradigmas ao longo da história e as concepções educacionais voltados para a
pessoa com Necessidades Educacionais especiais. Deixando de vê-las pelo ângulo
da incapacidade ou limitações e passando a olhar sob o aspecto das possibilidades
e competências e proporcionando alternativas para o desempenho de diferentes
habilidades bem como ressaltar a importância da inclusão desses sujeitos que ao
longo do tempo foram postos à margem da sociedade.
Em primeiro lugar, buscaremos fazer uma retrospectiva histórica para entender
como a inclusão das pessoas tidas como diferentes foi compreendida pela sociedade
de seu tempo. Para isso, voltaremos nosso olhar para o período compreendido como
Idade Média (compreendida entre os séculos V ao XV) até chegar no mundo
contemporâneo à nossa sociedade.
Em segundo lugar, buscaremos destacar a importância da mudança no
paradigma da inclusão escolar das pessoas com deficiência demonstrando como a
integração ao contexto socioeducativo dessas pessoas é vantajoso para a sociedade
como um todo. Além disso, apresentaremos as leis que discutiram e garantiram a
inserção das pessoas com necessidades especiais no âmbito escolar e na sociedade
brasileira.
Nota-se que o estudante que possui deficiência intelectual e múltipla, necessita
sempre de uma atenção especial por intermédio dos educadores especializados e
também de mecanismos eficazes para que sua inserção no âmbito escolar eleve suas
habilidades. Por isso, o professor desse campo específico necessita de uma formação
continuada para dar a esses estudantes condições mínimas de equidade no que
tange a aprendizagem e à sua inserção no processo sociocultural que todos os seres
humanos vivenciam. Dessa maneira, a inclusão, nos anos iniciais do ensino
fundamental, dos discentes com necessidades especiais, faz-se necessária e precisa
ser realizada no ensino regular, para que com as diferenças, a educação proporcione
a interação e o respeito à diversidade por todos e todas.

BREVE HISTÓRICO DA INCLUSÃO NO BRASIL E NO MUNDO

Em geral, as pessoas com necessidades especiais foram vítimas de processos


de exclusão e preconceito ao longo da história da humanidade. Desse modo, estas
pessoas que se apresentavam com características físicas e/ou psicológicas diferentes
das demais consideradas “normais” eram tidas como indignas de participar do
processo de escolarização formal.
Na Idade Média, por exemplo, as pessoas com necessidades especiais eram
excluídas da sociedade e vistas como adoecidas e incapazes de pertencer
principalmente à área do saber educacional. Por volta de 1496, as pessoas com
alguma deficiência ou transtorno mental eram perseguidas e executadas durante a
inquisição. Nessa época, a visão da sociedade era marcada pela intolerância e
aqueles que possuíam alguma necessidade especial eram considerados como tendo
a presença do demônio em seu próprio corpo. Por mais de duzentos anos, pessoas
com necessidades especiais foram queimadas em praça pública, enforcadas,
afogadas ou condenadas às prisões nos porões dos castelos da época medieval.
(FACION & MATTOS, 2009, p.6).
Além disso, ainda no desenrolar histórico do século XVII, os deficientes
mentais eram totalmente segregados, internados em orfanatos, manicômios e outros
tipos de instituições estatais (FACION & MATOS, 2009, p.188). Steinbeck (1999) nos
diz que: “em geral, os locais segregadores, são prejudiciais, pois alienam e excluem
os alunos socialmente”. Os alunos com deficiência recebem, afinal, pouca educação
útil para a vida real, enquanto os outros experimentam fundamentalmente uma
educação que valoriza pouco a diversidade, a cooperação e o respeito por aqueles
que são diferentes. (STAINBACK, 1999, p.25).
O percurso da escolarização dos indivíduos com transtornos mentais é repleto
de barreiras e limitações, embora tenha tido também alguns consideráveis avanços
nos últimos anos. Esse processo se iniciou no final do século XVII, na França, com a
fundação de instituições especializadas para educação de surdos e cegos. Em 1777,
Pestalozzi democratizou o ensino, mostrando que todos, apesar de apresentarem
características físicas e psicológicas diferentes, tinham condições de aprender
(FACION & MATOS, 2009, p.144).
No que diz respeito ao contexto brasileiro, de acordo com Jannuzzi apud
(CAIADO, 2003, p. 72), em 1600 foi criado o primeiro atendimento escolar à pessoa
com necessidades especiais, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. De acordo
com esta mesma autora, houve uma longa trajetória que relaciona a saúde e a
educação com debates constantes sobre as competências distintivas de cada uma
destas áreas para melhor atender as pessoas com necessidades especiais.
De acordo com Minetto (2010, p.46), a despeito do avanço da sociedade
moderna e contemporânea, e as revoluções burguesas que mudaram completamente
a organização social na Europa, a segregação ainda permaneceu em muitos lugares.
Essa ainda se mostrava presente no final do século XVIII, e princípios do século XIX.
As pessoas com necessidades educacionais especiais eram segregadas em espaços
que tratavam a deficiência como se fosse algo doentio. No entanto, houve o
surgimento das primeiras grandes instituições especializadas em cuidar e incluir as
pessoas com deficiência, e é a partir de então que podemos considerar ter surgido,
de fato, a educação especial.
Já por volta do século XIX, a pessoa com deficiência física ou intelectual
passou a ser vista como agente importante para a sociedade. Nesta época, foram
estimuladas as criações de organizações onde pessoas com deficiência eram aceitas
e ingressadas. Surgem as escolas especiais. “As instituições para pessoas com
deficiência continuaram a crescer em números e tamanhos durante o final do século
XIX até final de 1950” (STAINBACK, 1999, p. 37). Mesmo assim, alunos com
deficiências visíveis e mais acentuadas continuaram sendo segregados. De acordo
com Steinbeck (1999, p. 37) isso ocorria pelo fato de as “escolas serem organizadas
como asilos, com uma estrutura militar, o que condenava as pessoas com NE a
viverem em locais em que eram mais controladas do que ensinadas”.
É no século XX que os rumos em relação à educação inclusiva vão melhorar
bastante. Segundo Minetto (2010 p. 46) a luta pela inserção e normalização das
pessoas com necessidades especiais fortaleceu-se no século XX através do
movimento denominado de “Paradigma da Integração”, que defendia o direito do
aluno com necessidades educacionais especiais (ANEE) se matricular na escola
regular. Devendo estes adaptar-se ao ambiente escolar através de esforços próprios.
Ou seja, o sistema de ensino e a escola não tinham responsabilidade nenhuma de
adequar-se às necessidades dos alunos. O ambiente e a metodologia utilizada
permaneciam inalterados. Sendo assim, eram os alunos com necessidades especiais
os que deveriam através de seus esforços superar todos os obstáculos.
No século XX, surge o paradigma da integração, que vem para defender o
direito da criança com deficiência a ser inserida na sociedade e principalmente na
rede regular de ensino, porém a mesma com esforço próprio teria que adaptar-se ao
ambiente, enquanto que as escolas e os sistemas mantinham-se inalterados, não
tinham o compromisso em adaptar-se às necessidades destes alunos (MINETTO,
2010 p.46).
Segundo Sá (2009, p.26) “A denominada Educação Inclusiva nasceu nos
Estados Unidos, pelas mãos da Lei Pública 94.142, de 1975”. Estabelecendo assim
programas e projetos voltados para efetivar a Educação Inclusiva. A partir desses
resultados, nos anos 90 surgem novos movimentos que apontavam para o surgimento
de um novo paradigma educacional, desta vez a “Inclusão”, no sentido da palavra que
significa fazer parte de, não só estar na escola fisicamente, mas participar
efetivamente das experiências pedagógicas, se integrarem e se socializar com os
demais alunos e aprender segundo suas potencialidades e limitações. (STAINBACK,
1999 p. 40).
Esta visão de inclusão veio para garantir o direito de todos a uma educação de
qualidade onde as instituições de ensino devem-se adequar a necessidade do
educando com mudanças arquitetônicas em suas estruturas, adaptações
curriculares, professores capacitados, equipe pedagógica e equipe de apoio
preparada para receber e oferecer uma educação de qualidade a esses alunos
tornando a escola um ambiente onde todos possam aprender juntos independentes
de suas diferenças.
Mudar de paradigma significa pensar que queremos uma educação especial
para todos em um mundo especial para cada um de nós, em que nosso olhar esteja
atravessando pela dignidade e pelo respeito aos outros e as suas diferenças. Esse é
um processo gradativo, que possui como pré-requisitos, ética e responsabilidade
conforme argumenta (FACIÓN & MATOS, 2009, p.121).
O desenvolvimento histórico da educação especial no Brasil inicia-se no século
XIX, época em que os serviços direcionados a esse segmento de nossa população,
inspirados por experiências norte-americanas e europeias, foram trazidos por alguns
brasileiros que se dispunham a organizar e a implementar ações isoladas e
particulares para atender a pessoas com deficiências físicas, mentais e sensoriais.
Essas iniciativas não estavam integradas às políticas públicas de educação e foi
preciso o passar de um século, aproximadamente, para que a educação especial
passasse a ser uma das componentes de nosso sistema educacional. De fato, no
início dos anos 1960 é que essa modalidade de ensino foi instituída oficialmente, com
a denominação de "educação dos excepcionais".
Pode-se, pois, afirmar que a história da educação de pessoas com deficiência
no Brasil está dividida entre três grandes períodos: de 1854 a 1956 - marcado por
iniciativas de caráter privado; de 1957 a 1993 – definido por ações oficiais de âmbito
nacional – caracterizado pelos movimentos em favor da inclusão escolar.
No primeiro período, enfatizou-se o atendimento especializado, mas incluindo
a educação escolar e nesse tempo foram fundadas as instituições mais tradicionais
de assistência às pessoas com deficiências mental, físicas e sensoriais que seguiram
o exemplo e o pioneirismo do Instituto dos Meninos Cegos, fundado na cidade do Rio
de Janeiro, em fins de 1854. Entre a fundação desse Instituto e os dias de hoje, a
história da educação especial no Brasil foi se encaminhando, seguindo quase sempre
modelos que visam o assistencialismo, pela análise segregativa e por uma
segmentação das deficiências, fator que contribuiu ainda mais para que a formação
escolar e a vida social das crianças e jovens com deficiência aconteçam em um
mundo à parte da realidade. A educação especial foi assumida pelo poder público em
1957 com a criação das "Campanhas", que eram destinadas especificamente para
atender a cada uma das deficiências. Nesse mesmo ano, instituiu-se a Campanha
para a Educação do Surdo Brasileiro – CESB, seguida da instalação do Instituto
Nacional de Educação de Surdos – INES, que até agora existe, no Rio de Janeiro/RJ.
Outras Campanhas similares foram criadas posteriormente, para atender à outras
deficiências
Em 1972, elaborou-se no Ministério de Educação e Cultura – MEC o Grupo-
Tarefa de Educação Especial e com o especialista da área, James Gallagher, que
veio ao Brasil a convite deste grupo do MEC, foi apresentada a primeira proposta de
estruturação da educação especial brasileira, criando um órgão central para analisá-
la de perto, sediado no próprio Ministério e denominado Centro Nacional de Educação
Especial - CENESP. Esse Centro, hoje, é a Secretaria de Educação Especial -
SEESP, que se manteve basicamente nas mesmas competências de seu antecessor,
o MEC.
Foram muitos os políticos, educadores, pais, personalidades e intelectuais
brasileiros que se identificaram com a educação de pessoas com deficiência e que
protagonizaram a história dessa modalidade de ensino. Todos tiveram papéis
importantes em todos os períodos desse processo. Os pais de pessoas com
deficiência estão entre os que compõem essa liderança e a maioria deles têm sido
uma grande força, mais para manter, do que para mudar as concepções e condições
de atendimento clínico e escolar de seus filhos com deficiência. Não podemos,
portanto, desconsiderar as iniciativas de caráter privado e beneficente lideradas pelos
pais no atendimento clínico e escolar de pessoas com deficiência assim como na
formação para o trabalho (protegido), apesar de suas intenções serem na maioria das
vezes, respaldadas pela discriminação e pelo forte protecionismo. Cabe-se destacar
o grupo dos pais de crianças com deficiência mental, que são os mais numerosos e
que fundaram mais de mil centros de atendimento às pessoas com necessidades
especiais, as APAES, em todo o Brasil.
A tendência do movimento no país é ainda a de se organizarem em
associações especializadas, gerenciadas por autônomos, que buscam parcerias com
a sociedade civil e o governo para atingir suas metas, sendo basicamente financiados
pelos poderes públicos municipal, estadual e federal. Contrariamente a outros países,
os pais brasileiros, na sua maioria, ainda não se posicionaram em favor da inclusão
escolar de seus filhos. Apesar de figurar essa preferência na nossa Constituição
Federal, observa-se uma tendência dos pais se organizarem em associações
especializadas para garantir o direito à educação de seus filhos com deficiência.
Só muito recentemente, a partir da última década de 80 e início dos anos 90
as pessoas com deficiência, elas mesmas, têm se organizado, participando de
Comissões, de Coordenação, Fóruns e movimentos, visando assegurar, de alguma
forma os direitos que conquistaram de serem reconhecidos e respeitados em suas
necessidades básicas de convívio com as demais pessoas. Esses movimentos estão
se infiltrando em todos os ambientes relacionados ao trabalho, transporte, arquitetura,
urbanismo, segurança, previdência social, acessibilidade em geral. As pessoas
buscam afirmação e querem ser ouvidos, como outras vozes das minorias, que
precisam ser consideradas em uma sociedade democrática, como a que hoje vivemos
neste país. Mas, infelizmente, apesar de estarem presentes e terem mostrado suas
atuações em vários aspectos da vida social, os referidos movimentos não são ainda
fortes no que diz respeito às prerrogativas educacionais, aos processos escolares,
notadamente os inclusivos.

A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO
A inclusão diz respeito a todos os alunos, e não somente a alguns. Ela envolve
uma mudança de cultura e de organização da escola para assegurar acesso e
participação para todos os alunos que a frequentam regularmente e para aqueles que
agora estão em serviço segregado, mas que podem retornar à escola em algum
momento. (MITTLER, 2003, p. 236).
No contexto contemporâneo, todos os envolvidos no processo educativo, isto
é, os profissionais da educação inclusiva, pais e pessoas com necessidades especiais
denominam como inclusão o novo parâmetro, no sentido de incluir todos os cidadãos
socialmente, inclusive no contexto educacional. Conforme argumenta Sassaki (1997)
O movimento de inclusão começou por volta de 1985 nos países mais
desenvolvidos, tomou impulso na década de 1990 naqueles países em
desenvolvimento e vai se desenvolver fortemente nos primeiros 10 anos do século
XXI, envolvendo todos os países. (SASSAKI,1997 apud MINETTO, 2010, P. 47).
O modelo da educação inclusiva é a expressão da democratização escolar e
respeito pleno das diferenças. Não sendo um obstáculo, mas características de todo
ser humano e relacionado a individualidade de cada um. Todavia, a aproximação do
ensino regular ao especial é historicamente complexa, necessitando ser
continuamente reinventada de modo a responder às expectativas dessa intersecção.
Essa sensação de “fazer parte” pode ser a mola propulsora à motivação para
a criança atingir progressos na aprendizagem e um esforço para a auto-estima
(FACION & MATOS, 2009). Na década de 1990, aconteceram dois eventos
importantes com ênfase para uma educação onde todos são beneficiados: a
conferência mundial de educação para todos (1990) e a declaração de Salamanca
(1994) onde o princípio da educação inclusiva ganhou destaque no panorama da
educação.
No campo da educação, a inclusão envolve um processo de reformas e de
reestruturação das escolas como um todo, com o objetivo de assegurar que todos os
alunos possam ter acesso às várias oportunidades educacionais e sociais oferecidas
pela escola. Isso inclui o currículo coerente, a avaliação, os registros e os relatórios
de aquisições acadêmicas dos alunos nas escolas ou nas salas de aulas, as práticas
pedagógicas bem como, as oportunidades de esportes, lazer e recreação (MITTLER,
2003, p. 25).
Hoje a educação deve ser de todos, sem discriminação, sem rótulos, e para
haver a inclusão é preciso que todos os alunos tenham acesso e possam se
desenvolver em uma escola do ensino regular com uma educação de qualidade.
Segundo Mittler (2003), o marco histórico da inclusão foi junho de 1994, com a
Declaração da Salamanca Espanha, realizado pela UNESCO na Conferência Mundial
Sobre Necessidades Educativas Especiais: acesso e qualidade, assinado por 92
países. Esse documento fortalece que:
Os programas de estudos devem ser adaptados às necessidades da criança e
não o contrário. As escolas deverão, por conseguinte, oferecer opções curriculares
que se adaptem às crianças com capacidade e interesses diferentes (Declaração de
Salamanca, 1994, p. 33).

A partir da Declaração de Salamanca (1994), o Brasil também oficializou a


discussão a respeito da educação especial. Este documento traz uma visão nova de
educação inclusiva, pois possui uma concepção integrada de criança. A mesma
proclama que todas as crianças possuem suas características, seus interesses,
habilidades e necessidades que são únicas. Somos sabedores que a inclusão escolar
de alunos com necessidades educacionais especiais, não consiste apenas em sua
permanência física junto aos demais educandos, mas do compromisso com uma
educação de qualidade para todos, favorecendo a acessibilidade, a flexibilização
curricular, as adaptações curriculares, que caracterizem sua opção por práticas
heterogêneas e inclusivas.
A partir daí a educação dos alunos com necessidades educacionais especiais
no ensino regular, passa a ser garantido por leis e resoluções como Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional - LDBEN e Resolução nº 261/02 CEE/MT onde
afirmam que “A educação especial será oferecida preferencialmente na rede regular
de ensino, para alunos com necessidades educacionais especiais, nas etapas e
modalidades da Educação Básica”. O artigo 7º da Resolução n° 261/02 CEE/MT diz
que:
A oferta da educação especial deverá ter início na educação infantil, em
creches e na pré-escola, permitindo a identificação das necessidades educacionais
especiais e a estimulação do desenvolvimento integral do aluno, bem como a
intervenção para atenuar possibilidades de atraso de desenvolvimento, decorrentes
ou não de fatores genéticos, orgânicos e/ou ambientais.
A inclusão, portanto, propõe mudanças na sociedade, começando pela
educação para torná-la possível e acolher todas as pessoas. Para tanto, o sistema
deve adaptar-se às necessidades educacionais especiais dos alunos através de uma
educação de qualidade, oferecendo um atendimento que contemple suas
necessidades e especificidades. De acordo com Lima (2006) “A inclusão exige
medidas mais afirmativas para adequar as escolas a todos os alunos, inclusive os que
apresentam necessidades especiais” (LIMA, 2006, p. 24).
Esta concepção não coloca ênfase na deficiência que o aluno apresenta, mas,
na capacidade da escola em oferecer condições adequadas, recursos educacionais
frente às necessidades educacionais de cada aluno. Assim, as escolas regulares de
ensino passaram a ter a responsabilidade de adaptar-se para atender às
necessidades de todos os alunos que no seu processo de aprendizagem
apresentavam alguma dificuldade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como podemos notar após a leitura da fortuna crítica e bibliografia
especializada sobre o tema, a inclusão dos alunos com deficiência intelectual e
múltipla, no processo de escolarização, é o melhor caminho para o desenvolvimento
pleno de suas habilidades físicas e psicológicas, além de que o processo inclusivo
abordado, abarca todos os discentes, num sistema de ensino interdisciplinar, que
afasta da perspectiva tradicional, bem como a fragmentação do conhecimento.
Além disso, sabe-se que a inclusão, no Brasil, é um desafio a ser concretizado
por diversos fatores, principalmente, pela estrutura organizacional da educação que
muitas das vezes não atinge o aluno. Assim, é imprescindível que o professor e os
profissionais que têm contato com os alunos com deficiência intelectual e múltipla,
busquem diariamente, estratégias para que o ensino chegue a ele de forma igualitária
e acompanhem de perto as demandas que emergem do processo educativo. Vale
abordar que é um trabalho árduo e que não tem resultados imediatos, ou seja, é um
constante processo.
Acrescenta-se a isso a formação inicial do docente que muitas das vezes não
dá subsídios para lidar com um aluno dentro do espectro das necessidades especiais.
Por isso, por ser complexo, é necessário um esforço social de busca constante pelo
conhecimento e compreensão de que cada ser humano é único. Assim, as
metodologias utilizadas serão diversas, a fim de atender as áreas que precisam ser
desenvolvidas em cada um.
Para que se efetivem ambientes escolares inclusivos, novas reflexões devem
ser realizadas no âmbito da comunidade escolar, no qual envolve-se toda a
comunidade acadêmica, da universidade as famílias e estudantes. Sendo assim, a
educação inclusiva exige um processo de reestruturação social, onde não deverá
somente a escola estar preparada para receber essa clientela, mas também a
sociedade em geral deverá acreditar e se reestruturar, a fim de definir estratégias de
ação, participação e organização do ensino, garantindo e melhorando o atendimento
às PNEE, combatendo atitudes discriminatórias e construindo uma sociedade
inclusiva, na qual as oportunidades sociais sejam garantidas a todos os cidadãos.
Inclusão para todos, exige mudanças na organização da escola para assegurar
acessibilidade, participação e sucesso para todos os alunos que frequentam o ensino
regular. Inclusão não é colocar cada criança individual na escola, mas sim, criar um
sistema integrativo na qual a criança e adolescente se sinta pertencente ao espaço
educativo. Desse modo eles poderão desenvolver ao máximo seu potencial cognitivo.
Devemos pensar que o primordial é que todos os investimentos atuais e futuros
da educação brasileira não devem repetir o passado, mas considerar,
verdadeiramente, o papel da escola, de seus educadores e da sociedade ao ensinar
a importância da diversidade humana em todas as suas manifestações, da cultura,
da arte e inclusive na nossa própria espécie. E torna-se fundamental termos sempre
em mente que o nosso problema mais urgente e relevante, antes de toda e qualquer
preocupação que possamos ter com os alunos que já estão nas escolas, é com os
que estão fora delas e com tudo o que as torna injustas, discriminatórias e
excludentes.
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