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Rio de Janeiro, quarta-feira, 13 de abril de 2022 - Ano CXX - Nº 23.

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Aerosmith lança no Para viver Juma, O premiado ‘Vitalina


streaming álbum Alanis Guillen Varela’, enfim,
fora de catálogo estudou as onças estreia no Brasil
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Amparado num
projeto gráfico O armistício
‘sem fim’
Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã
refinado, romance O que (ou no que) a errân-
cia de h. reflete das transfor-

Óvni nas prateleiras das li-


de Hugo Casarini mações do Brasil nas últimas
décadas, sobretudo em relação
vrarias nacionais, diferenciando- abre veredas ao recrudescimento da intole-

da autoficção
-se das demais publicações por rância e do moralismo?
seu projeto gráfico refinado, em existenciais Hugo Cosarini: Com a er-
formato quadrangular, interca- rância de h, quis, em certa medi-
lando textos com arrebatadoras nas livrarias da, mostrar, na escolha das cenas,
brasileiras, numa
Divulgação
fotos em preto & branco, “Sem o afastamento das pessoas nesta
Fim” (Ed. Quelônio) é uma nossa idade cibernética já presen-
viagem existencial da literatura
brasileira pelas veredas do dese-
trama que une te no nosso recente passado. A
falsa aproximação das pessoas se
jo e da afirmação de identidades confissão e delata já com as mulheres na cida-
sexuais, num ambiente que tem dezinha natal e na cidade grande,
o HIV como um espectro as- imaginação onde ele vai buscar um ponto de
sombroso. Passeia pela progres- apoio naqueles que julgava pró-
são aritmética da matemática da ximos. Não acredito muito no
“autoficção” à luz de vivências recrudescimento da intolerância
(reinventadas) do autor mineiro e do moralismo. Soa-me mais
(radicado em São Paulo) Hugo como um punk de boutique, algo
Casarini. que a maioria das pessoas, para
Sua voz impressiona pela ha- não estar fora da ordem, ordem
bilidade de cerzir a dor de quem esta redigida pelos meios de co-
busca a libertação e a aceitação, municação que servem da nossa
equilibrando imaginação e re- bolha para formar opiniões, po-
lato confessional, em um regis- rém de poucas pessoas. Acredito
tro tragicômico. Seus parceiros (e vejo) que o grito de socorro de
na concepção desse “romance O pai é severo e o castiga com h ainda seja não ouvido nos rin-
objeto” foram a designer Síl- surras violentas. A mãe bate conti- cões do nosso país. Basta ver o
via Nastari e o fotógrafo André nência para a autoridade paterna. horror político e social que vive-
Penteado. Nesta quarta, às 19h, Mas ao deixar a “roça iluminada” mos sem que ninguém, ou muito
Casarini lança seu experimento de seu berço e seguir pra cidade de poucos, pronunciem-se. O Brasil,
na Livraria da Travessa do Sho- São Paulo, ele encontra um meio na sua imensidade e profunde-
pping Leblon, compartilhando que, finalmente, o acolhe. O re- za - e isso se aplica também às
suas invenções sintetizadas na sultado é uma trama de resfolego, periferias das grandes cidades -,
figura do jovem h. Guiado por mas de doçura, de prosa ágil. permanece o mesmo. As pessoas
seus ímpetos, h reconhece que Além das livrarias, o romance não se uniram mais, acho que até
sua homossexualidade e seu pode ser adquirido diretamen- se afastaram nos anonimatos das
comportamento intelectual, de te pelo site da editora (https:// redes. Basta ler os comentários
tom intimista, não ganham re- www.quelonio.com.br). No papo das notícias da internet.
conhecimento ou chancela no a seguir, Casarini explica o que O escritor mineiro radicado em SP Hugo Casarini aposta na autoficção
meio em que cresceu. buscou refletir com a saga de h. em ‘sem fim’, que lança nesta quarta na Livraria da Travessa Continua na página seguinte
2 CONTINUAÇÃO DA CAPA Quarta-feira, 13 de abril de 2022

‘Meu livro é bastante musical’


Onde é que a dinâmica da Frases como “minhas vís- Gostar De Ler”. Também me
chamada “autoficção” é um Seu livro, mais do que Sempre amei ceras pela boca, sangrando e marcaram muito na adolescên-
canteiro de libertação ou um um belo exercício de escri- cheias de vida” desenham que cia “A Queda Para o Alto”, de
canteiro de reclusão? De que ta, é um objeto, num senti-
a literatura e lia hipótese de identidade sexual? Anderson Herzer, e “Os Man-
forma que esse rótulo alimen- do volumétrico mais amplo, tudo o que tinha Essa frase é, na verdade, uma darins”, de Simone de Beauvoir,
ta a natureza existencial que pela expedição gráfica que de minhas escolhas musicais. que li aos 13 anos, emprestado
energiza sua prosa? você faz às potencialidades à mão em casa, Tirei-a da canção “Vermelho”, de uma professora de OSPB
Hugo Cosarini: Acredito geográficas da página em de Monteiro de Vange Leonel e Cilmara Be- (imagine!). Depois que vim para
que seja um canteiro de liber- branco. Como foi constru- daque, à qual se conecta perfei- São Paulo, cursei Administração
tação. É quase uma “auto ses- ída essa escultura de papel, Lobato a José tamente com a cena inicial do de Empresas na FGV e Letras na
são de terapia”, onde o autor se quadrangular, com o proje- Lins do Rego” livro, em que h. literalmente se USP, sempre mais seduzido por
expressa da maneira que quiser to gráfico assinado por Síl- esvai em sangue e permite a cir- esta do que por aquela, e me for-
e, também, pode fazer de seus via Nastari e as imagens em Hugo Cosarini cularidade do “sem fim” propos- mei em Alemão, o que formou
grandes sonhos, ou de seus pio- preto & branco do fotógrafo to pelo título do livro. muito meu gosto literário. No
res pesadelos, realidade. A in- André Penteado? Brasil, o escritor maior para mm
certeza que a autoficção cria no Meu livro é bastante musi- De onde vem a sua relação é Graciliano Ramos, sendo “São
leitor abre portas para episódios cal, numa decorrência da mi- ideia do formato do livro foi com a literatura? Quem são as Bernardo” seu livro de que mais
e personagens “quase-fictícios- nha infância/adolescência/ju- minha. Ele tem as exatas me- autoras e os autores que te for- gosto. Adélia Prado é a minha
-quase reais”; as cores do real ventude, ligado a artes que me didas de um compacto de vinil mam? escritora predileta, e creio mes-
e da fantasia se misturam com consolaram de certa maneira e das décadas de 1970 e 1980. A Sempre amei a literatura. Lia mo que em prosa, apesar de ela
mais facilidade e o texto segue que me apontaram um cami- Silvia trabalhou brilhantemen- tudo que tinha à mão em casa, de ser celebrada como poetisa. Fora
mais fluido, sem o compromis- nho possível a ser seguido lon- te com a distribuição das fotos Monteiro Lobato a José Lins do do Brasil, gosto de outros tan-
so de confirmação daquilo que ge de onde eu nasci. Assim, ho- e a paginação diretamente com Rego, passando pelo primeiro tos, como Thomas Mann, Franz
acontece. É apenas mais uma menageei, nas páginas do livro, o André sem que eu interferis- livro de adulto que li, “O Meni- Kafka, Dorothy Parker e, para
história para o leitor e um gran- a música do Brasil em suas mais se em nada da tela branca que no do Dedo Verde”, de Maurice não ficar só mainstream, W.G.
de desabafo para o escritor. diversas expressões no disco. A enviei a eles. Druon, e pelas coleções “Para Sebald.
Quarta-feira, 13 de abril de 2022 MÚSICA 3
Reprodução

CORREIO CULTURAL
Divulgação

O grupo, com sua formação original, registrou as faixas de um ensaio aqntes da fama num gravador de rolo

Álbum raro está de volta


Daniela Mercury fará sua primeira apresentação no carnaval carioca

Folia Tropical leva Novos Baianos


e Daniela Mercury à Sapucaí
Gravação de 1971 do Aerosmith chega ao streaming
No ano em que com- pela primeira vez na Sapu-
pleta dez anos de avevida, caí e fazem parte do line-up Em comemoração ao seu 50º Com sete faixas extraordiná-
o camarote Folia Tropical e que conta também com a aniversário, a banda Aerosmith rias, este documento histórico
anuncuou a programação participação de Maria Rita e lançou nas plataformas digitais mostra o talento inicial e desen-
deste ano na Marquês de seus grandes sucessos nos uma de suas primeiras gravações freado dos futuros membros do
Sapucaí. dias 22 e 23. E na noite das conhecidas, “Aerosmith - 1971: Hall of Fame, incluindo uma
Na noite do desfile de campeãs (30), Daniela Mer- The Road Starts Hear”. versão inicial de “Dream On”,
acesso (21), Xande de Pila- cury traz a energia de Salva- Esta rara gravação de 1971 que mais tarde seria gravada e
res e Molejo comandam a dor pela primeira vez em um foi recentemente descoberta no lançada em sua estreia em 1973
folia. Durante as duas noites palco do carnaval carioca. Vindaloo Vaults (arquivo pesso- em seu álbum autointitulado e
do grupo especial os Novos Teresa Cristina completa a al) do Aerosmith e apenas estava que seria lançado por uma gran-
Baianos marcam presença programação. disponível como edição limitada de gravadora. O Aerosmith é
em cassete e vinil para o Record coberta e assinar com a Colum- uma das poucas bandas a entrar
Ponto privilegiado Água na boca Store Day de 2021. Altamente bia Records e dois anos antes do nas paradas com a mesma músi-
Dividido em três pavi- E outra novidade do Folia procurado na ocasião de seu lan- lançamento de seu autointitula- ca cinco décadas depois, a músi-
mentos e seis ambientes, o Carioca será o buffet assina- çamento, o álbum rapidamente do álbum em uma grande gra- ca foi um sucesso em 1973 che-
Folia Tropical proporciona do pela chef Kátia Barbosa, se esgotou e estreou na Billboard vadora, que ajudou a projetá-los gando a #59 na Billboard Hot
ao público a experiência de que estreia com os seus ser- 200, atingindo o #2 na parada como uma das maiores bandas 100 e em 2020 reentrou em #4
curtir o desfile das esco- viços na Sapucaí com seus Top Hard Rock Albums, entre de rock de todos os tempos. O na parada do Hard Rock Strea-
las num local prvilegiado, o pratos mais famosos e algu- outros feitos. lançamento do álbum foi produ- ming Songs.
setor 6, junto à cabine dos mas novidades, o destaque Esta marcante gravação foi zido por Steven Tyler, Joe Perry Outras faixas incluem gra-
jurados onde as escolas ca- vai para o Arroz de Pirarucu feita por Mark Lehman em 1971 e Steve Berkowitz. vações iniciais de joias como
pricham na performance. e o bolinho de feijoada. com o gravador de rolo Wol- “Aerosmith - 1971: The “Somebody”, “Movin’ Out”,
lensak, de Joe Perry. Mark era o Road Starts Hear” inclui fotos “Walkin’ The Dog” e “Mama
Tempo de Páscoa Carestia dono da famosa van e que se tor- de arquivo inéditas, imagens Kin”, todas elas também seriam
Gravada pela Cia. Ba- Ana Maria Braga usou nou ajudante e técnico do Ae- da caixa de fita original e notas gravadas mais tarde para sua
chiana Brasileira em 2021 novamente o programa rosmith, seja na sala de ensaios do encarte escritas por David estreia histórica. “The Road
na Igreja de Nossa Senhora Mais Você (Globo) para da banda em Boston, na frente Fricke, da Rolling Stone, com Starts Hear” também apresen-
do Carmo, em plena pan- protestar contra a inflação. de alguns amigos selecionados, novas entrevistas e comentários ta “Reefer Head Woman”, que
demia, a “Paixão Segundo Ela iniciou o programa de ou em algum ensaio que a ban- da banda sobre esta gravação mais tarde seria gravada para
São João”, de Bach, pode ontem pedindo ao repórter da fizesse durante o soundcheck há muito esquecida. O álbum seu álbum “Night In The Ruts”,
ser vista agora, gratuita- Fabrício plantar um pé de para um show. apresenta os membros originais de 1979, e a faixa “Major Barba-
mente, no Canal do YouTu- café no jardim do progra- O certo é que a fita captura e atuais do Aerosmith - Steven ra”, uma canção que seria desta-
be da orquestra. ma, nos estúdios da Globo. uma banda de rock jovem e fa- Tyler, Joe Perry, Tom Hamilton, que em seu lançamento de 1986
minta um ano antes de ser des- Joey Kramer e Brad Whitford. “Classics Live”.
4 MÚSICA Quarta-feira, 13 de abril de 2022

Walter
Pinheiro tem
especialização
musical
No compasso da diversidade
na Berklee O eclético músico Walter Pinheiro lança ‘2 por 3’, seu terceiro álbum
School, nos
EUA O flautista, saxofonista, arranja- ‘brass band’ WPBrass, que une jazz- nho Antunes (trompete); Allan Abba-
dor e compositor paulistano Walter -rock a frevo”, destaca. dia e Paulinho Malheiros (trombone);
Pinheiro está lançando seu terceiro Tudo quer revelar a riqueza sono- Eliezer Tristão (tuba); Muari Vieira
CD “2 por 3” (Tratore). São músicas ra talhada por Walter, em flertes com (guitarra); Zé Barbeiro (violão de 7);
de sua autoria, em linguagens e for- gêneros distintos que essa contem- Robertinho Carvalho (baixo); Ever-
mações distintas, que fazem uma sín- poraneidade nos possibilita, unindo ton Barba (bateria); e Beto Angero-
tese desses 25 anos de carreira. Wal- choro, samba-jazz, baião, jazz waltz, sa, Alfredo Castro e Marcos Magaldi
ter diz que o título do álbum quer funk, ijexá e frevo. Estilos que se en- (percussão).
Marcelo Petrella/Divulgação

dar uma idéia do conteúdo: “O 2 faz trelaçam na habilidade do músico em Walter é formado em flauta
alusão à contraposição de linguagens estruturar texturas, sempre buscando pela Universidade Estadual Paulista
e sonoridades que uso. Por exemplo, coerência. As músicas têm nomes (UNESP/1997) e tem especialização
música de rua versus a de salão; for- como “Samba Jaizzsch” e “Arruda e a na Berklee School of Music (Boston/
mações pequenas versus as grandes Gafieira”. EUA/2002). Lançou o duplo primei-
formações. O 3 é uma referência à Juntos, no álbum, alguns dos me- ro/segundo CD, Som na Brasa - Re-
multiplicidade de projetos que venho lhores músicos da cena paulistana gional Brasileiro, em 2010. Naquele
articulando nesses anos, como a mi- como Anderson Quevedo (saxofone); trabalho já desenvolvia essa musicali-
nha banda Gafieira do Pinheiro ou a Natan Oliveira e Marco Stoppa, Rubi- dade que bebe de fontes diversas.
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6 TELEVISÃO Quarta-feira, 13 de abril de 2022

Por dentro da condição de onça Diivulgação TV Globo

Alanis Guillen estudou comportamento de A atriz conta que tinha pouca


ou nenhuma familiaridade com o
felinos para compor sua Juma Marruá universo da personagem. “Aprendi
a andar a cavalo e a manipular uma
Por Vitor Moreno (Folhapress) o da mocinha sofredora Rita de espingarda, coisas que nunca tinha
“Malhação - Toda Forma de Amar”, feito”, comenta. Ela já havia revela-
Aos 23 anos, Alanis Guillen Guillen confessa que está com frio do também que parou de se depilar
enfrenta seu maior desafio profis- na barriga por causa do tamanho da e de tomar sol de biquíni, para não
sional . Desde ontem a jovem atriz personagem. “Se eu disser o contrá- ficar com marcas no corpo. Guillen
pode ser vista na trama de “Panta- rio, vou estar mentindo”, confessa. procurou a intérprete original para
nal” (Globo) na pele de Juma Mar- “Claro que rola uma pressão entender mais da personagem e
ruá, uma das figuras mais lembra- e eu tento minimizá-la o tempo passou a estudar o comportamento
das da primeira versão da novela, todo. A Juma é icônica, assim como e hábitos das onças. “A Juma é uma
produzida pela extinta Manchete outras grandes personagens retrata- mulher de instinto selvagem criada
em 1990. O papel foi o mais dispu- das em novelas de grande audiên- junto aos bichos e sempre pronta
tado do remake da trama, com di- cia, como Tieta. Ela está no imagi- para intervir às possíveis ameaças”.
versas famosas se oferecendo para nário das pessoas que assistiram a Alanis Guillen diz que também conversou com Cristiane Oliveira, a primeira Juma A atriz diz não ter problema em
interpretar a mulher-onça que fez primeira versão da novela”, pontua. se despir em cena. “Foi tranquilo e
casa no imaginário dos telespec- Na trama, a personagem é filha Marcos Palmeira na segunda) des- fase), ela vive praticamente isolada era uma delícia todas as cenas gra-
tadores. Na trama original, ela foi do trágico casal Gil (Enrique Díaz) de que chegaram ao Pantanal, após até conhecer Jove (Jesuíta Barbo- vadas dentro do rio naquele calor”,
vivida por Cristiana Oliveira, alça- e Maria Marruá (Juliana Paes). Os perderem três filhos em disputas de sa), o filho de José Leôncio craido garante. Problema mesmo foram
da ao posto de estrela na exibição dois moram em uma tapera aban- terra no interior do Paraná. na cidade grande. Os dois não po- as formigas saúvas nas locações no
original da trama. donada nas terras de José Leôncio Após perder a mãe (o pai já deriam ser mais diferentes, mas aca- Pantanal. ““Elas aterrorizaram o
Com apenas um papel na TV, (Renato Góes na primeira fase e havia sido assassinado na primeira bam se apaixonando. set. Subiam em tudo”, lembra.
Quarta-feira, 13 de abril de 2022 CINEMA 7

Rugidos de um Sean Penn


cogitou pegar
em armas
leopardo português na Ucrânia
O ator e diretor Sean Penn
contou ter pensado em pegar em
Depois de três anos, o aclamado ‘Vitalina Varela’ estreia armas contra a Rússia durante sua
ida à Ucrânia para filmar um do-
no Rio apresentando a estética de Pedro Costa cumentário sobre o conflito. A afir-
mação foi dada à revista americana
Divulgação
Hollywood Authentic, recém-lan-
Por Rodrigo Fonseca çada, em entrevista publicada nesta
Especial para o Correio da Manhã semana.
“Se você esteve na Ucrânia, [lu-
Esperado com ardor pelos tar] tem que passar por sua cabeça”,
cinéfilos cariocas desde 2019, disse ele. “E você meio que pensa:
quando conquistou o Leopar- ‘Em que século estamos?’ Porque
do de Ouro no Festival de Lo- eu estava no posto de gasolina ou-
carno, na Suíça, consolidando- tro dia em Brentwood [bairro de
-se como um dos filmes mais Los Angeles] e agora estou pen-
aclamados do fim da década sando em pegar em armas contra a
passada, “Vitalina Varela”, do Rússia? O que diabos está aconte-
português Pedro Costa, vai, en- cendo?”, questionou o ator.
fim, estrear em telas brasileiras. De volta aos Estados Unidos,
Entra em cartaz nesta quinta, o ator de 61 anos também se disse
como um presente de Páscoa. comovido e revoltado pelo que viu
Até hoje inédito em circuito no quando chegou ao país em feverei-
país, tendo passado por aqui no ro, além de enfatizar sua admiração
Festival do Rio e numa mostra pelos ucranianos tentando resistir
lusa do CCBB, a produção ren- à invasão russa – em especial pelo
deu ainda o Prêmio de Melhor presidente Volodimir Zelenski,
Interpretação Feminina para com quem ele se encontrou e con-
sua protagonista, uma atriz não viveu por dias. “Eu o conheci pesso-
profissional - Dona Vitalina – almente no dia anterior à invasão.
também em sua apresentação Estive com ele durante a invasão,
locarniana. Trata-se de uma ex- Pedro Costa dirige dona Vitalina Varela nos sets do longa, nas Fontainhas no primeiro dia. Ele era encanta-
periência cinematográfica que dor, brilhante e carismático. Ime-
repensa o Tempo a partir da de Ouro em 2006) e “No Quar- no Velho Mundo. da produção cinematográfica de diatamente o adorei”, afirmou.
errância de uma cabo-verdiana to de Vanda”, laureado no festi- “A urgência é má conselhei- 2020. Nessa narrativa de requin- Divulgação

pela capital portuguesa em bus- val Cinéma du Réel em 2001. ra. Filmo como uma equipe tado visual, Vitalina leva às telas
ca de seus mortos, após a morte Este era um dos filmes fa- muito reduzida, com quatro suas experiências com o luto e
de seu marido, atrás de sentido. voritos de Eduardo Coutinho pessoas por trás das câmeras, a ressaca diante do sexismo. No
“Estudando aquelas pesso- (1933-2014), aclamado docu- para que meu elenco de não ato- fim do ano passado, Costa lan-
as de Cabo Verde, que tanto me mentarista responsável por cults res tenhas as melhores condições çou o livro “Vitalina Varela - Ca-
deram e tanto me dão, há tantos como “Edifício Master” (2002) e de criar. Não se deve ser urgente, dernos de Rodagem”, no qual faz
anos, tive a percepção de que exis- “Santo Forte” (1999). Em sua ex- no cinema, nem no documentá- um balanço de seu método de
tem mulheres sentinelas, à olhar periência de trabalho com Costa rio, formato que aspira a ter um trabalho, reunindo fotografias
para o mar, à espera, sem resposta”, nos sets, Dona Vitalina dizia: “Se contato mais terra a terra com tiradas nos subúrbios de Lisboa
disse Costa ao Correio da Manhã. houver amor, as coisas vão dar a realidade”, disse o diretor ao e na ilha de Santiago, Cabo Ver-
Considerado um dos mais certo!”. Ela cedeu muito de suas Correio da Manhã em sua passa- de, entre 2017 e 2019.
requintados estetas do nosso vivências à caracterização de sua gem pelo Rio, há três anos. “Existem pessoas com um vi-
tempo no audiovisual, Costa personagem a caminho das Fon- Desde Locarno, o longa de ver muito rico que vieram d’Áfri-
ganhou notoriedade por lon- tainhas, bairro onde o cineasta Costa já soma 23 prêmios e ga- ca para se reinventarem em solo
gas-metragens como “Cavalo ambienta suas aclamadas tramas, nhou uma sessão nobre no Mu- português. E é delas que eu falo,
Dinheiro” (Melhor Direção em oferecendo ao espectador uma seu de Arte Moderna (MoMA) em planos que distendem uma
Locarno em 2014), “Juventude missa estética de reflexão sobre a de Nova Iorque, no âmbito de percepção mais comercial do Penn durante as filmagens de seu
em Marcha” (indicado à Palma resiliência dos imigrantes d’África um ciclo dedicado ao melhor tempo”, disse o cineasta. documentário em Kiev, na Ucrânia
8 Quarta-feira, 13 de abril de 2022

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