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RE LAT Ó RI O
do
O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO – (Relator): Trata-se
de recurso extraordinário interposto por sociedade empresária contra
acórdão que, proferido pelo E. Tribunal Regional Federal da 4ª Região,
está assim ementado:
sa
“TRIBUTÁRIO. ISS. INCLUSÃO NA BASE DE
CÁLCULO DO PIS E DA COFINS.
vi
do
o presente recurso extraordinário.
É o relatório.
sa
vi
Re
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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 592.616 RIO GRANDE DO SUL
VOTO
do
Ao participar, em 15/03/2017, no Plenário desta Suprema Corte, do
julgamento do RE 574.706/PR, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, em sede de
sa
repercussão geral, expendi obervações que, por igualmente aplicáveis à
espécie ora em exame, revelam-se necessárias e indissociáveis do tema em
causa, que se referem às delicadas relações entre o poder impositivo do
Estado e os direitos e garantias de índole legal e constitucional que
vi
do
Positivo”, p. 54/58, item n. 15, 15ª ed., 1998, Malheiros; OSWALDO LUIZ
PALÚ, “Controle de Constitucionalidade”, p. 75/76, 1999, RT; ALFREDO
BUZAID, “Da Ação Direta de Declaração de Inconstitucionalidade no
Direito Brasileiro”, p. 132, item n. 60, 1958, Saraiva; RUY BARBOSA,
sa
“Comentários à Constituição Federal Brasileira”, vol. IV/135 e 159,
coligidos por Homero Pires, 1933, Saraiva; ALEXANDRE DE MORAES,
“Jurisdição Constitucional e Tribunais Constitucionais”, p. 270,
item n. 6.2.1, 2000, Atlas; ELIVAL DA SILVA RAMOS,
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tarefa, magna e eminente, de velar por que essa realidade não seja
desfigurada.
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Nesse contexto, incumbe aos magistrados e Tribunais, notadamente
aos Juízes da Corte Suprema do Brasil, o desempenho dos deveres que lhes
sa
são inerentes, entre os quais avultam, por seu inquestionável relevo, o de
velar pela integridade dos direitos fundamentais de todas as pessoas, o de
repelir condutas governamentais abusivas, o de conferir prevalência à
essencial dignidade da pessoa humana e o de neutralizar qualquer ensaio
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de opressão estatal.
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converterem o alto significado do Estado Democrático de Direito em uma
promessa frustrada pela prática autoritária do poder.
Cumpre assinalar, por isso mesmo, que o caso ora em exame justifica,
plenamente, que se reiterem tais asserções, pois é necessário advertir que
a prática das competências impositivas por parte das entidades políticas
investidas da prerrogativa de tributar não pode caracterizar-se como
instrumento que, arbitrariamente manipulado pelas pessoas estatais,
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Bem por isso, tenho enfatizado a importância de o exercício do
poder tributário, pelo Estado, submeter-se, por inteiro, aos modelos
jurídicos positivados no texto constitucional, que institui, em favor dos
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contribuintes, decisivas limitações à competência estatal para impor e
exigir, coativamente, as diversas espécies tributárias existentes.
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de direitos e garantias oponíveis ao poder impositivo do
Estado (Pet 1.466/PB, Rel. Min. CELSO DE MELLO, “in”
Informativo/STF nº 125), culminam por asfixiar, arbitrariamente, o sujeito
passivo da obrigação tributária, inviabilizando-lhe, injustamente, o
sa
exercício de atividades legítimas, o que só faz conferir permanente
atualidade às palavras do Justice Oliver Wendell Holmes, Jr. (“The power
to tax is not the power to destroy while this Court sits”), em “dictum”
segundo o qual, em livre tradução, “o poder de tributar não significa nem
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envolve o poder de destruir, pelo menos enquanto existir esta Corte Suprema”,
proferidas, ainda que como “dissenting opinion”, no julgamento, em 1928,
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legislação tributária, emanada de qualquer das pessoas políticas, não
pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e
formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela
Constituição Federal, para definir ou limitar competências tributárias, o
sa
que justificou, p. ex., em face do que dispõe o art. 110 do Código
Tributário Nacional, a formulação por esta Corte Suprema, no exercício de
sua jurisdição constitucional, do enunciado constante da Súmula
Vinculante nº 31, cujo teor, resultante de “reiteradas decisões sobre matéria
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mostra constitucionalmente possível à União Federal pretender incluir na
base de cálculo da COFINS (contribuição social instituída pela União
Federal) o valor retido em razão do ICMS (espécie tributária de
competência do Estado-membro e do Distrito Federal). E, ao fazê-lo, destacou,
sa
em seu voto, os seguintes fundamentos:
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importando, por tal motivo, o que percebido por aquele que a
realiza, considerada a venda de mercadoria ou mesmo a prestação de
serviços.
A base de cálculo da Cofins não pode extravasar, desse
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modo, sob o ângulo do faturamento, o valor do negócio, ou seja,
a parcela percebida com a operação mercantil ou similar.
O conceito de faturamento diz com riqueza própria,
quantia que tem ingresso nos cofres de quem procede à venda de
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incidir sobre o faturamento, que, conforme visto, é o somatório dos
valores das operações negociais realizadas’. ‘A contrario sensu’,
qualquer valor diverso deste não pode ser inserido na base de
cálculo da Cofins. Há de se atentar para o princípio da razoabilidade,
sa
pressupondo-se que o texto constitucional mostre-se fiel, no emprego
de institutos, de expressões e de vocábulos, ao sentido próprio que eles
possuem, tendo em vista o que assentado pela doutrina e pela
jurisprudência.
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.......................................................................................................
Da mesma forma que esta Corte excluiu a possibilidade de
ter-se na expressão ‘folha de salários’ a inclusão do que satisfeito a
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que isso, de modo algum, compõe o produto do exercício das atividades
correspondentes aos objetivos sociais da empresa, que é o conceito de faturamento
(…)” (grifei).
sa
Igual percepção foi revelada pelo eminente Ministro RICARDO
LEWANDOWSKI, para quem “O faturamento sempre foi entendido pela
doutrina, e mesmo pela prática comercial, como a receita oriunda da venda de
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(grifei).
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uma espécie de entrada. Entrada é todo o dinheiro que ingressa nos cofres de
uma entidade. Nem toda entrada é uma receita. Receita é a entrada que passa
a pertencer à entidade. Assim, só se considera receita o ingresso de dinheiro
sa
que venha a integrar o patrimônio da entidade que o recebe. As receitas
devem ser escrituradas separadamente das meras entradas. É que estas não
pertencem à entidade que as recebe. Têm caráter eminentemente transitório.
Ingressam a título provisório, para saírem, com destinação certa, em
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definitiva titularidade, pelo fato de os recursos adentrarem o
patrimônio carregando simultânea obrigação de igual grandeza.
(…).
…...................................................................................................
sa
A definitividade do ingresso, aqui registrada como
imprescindível para identificar a existência de ‘receita’, não se refere
ao tempo de permanência no patrimônio da pessoa jurídica. Tem a ver
com a ‘titularidade e disponibilidade’ dos valores ingressados,
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ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinação das
bases de cálculo de diversos tributos, de modo algum subordina a
tributação. A contabilidade constitui ferramenta utilizada também
para fins tributários, mas moldada nesta seara pelos princípios e
regras próprios do Direito Tributário. Sob o específico prisma
constitucional, receita bruta pode ser definida como o ingresso
financeiro que se integra no patrimônio na condição de elemento
novo e positivo, sem reservas ou condições. (…).”
(RE 606.107/RS, Rel. Min. ROSA WEBER – grifei)
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ou à ‘receita’ (receita total), conforme previsto no art. 195, I, ‘b’, no
art. 239 e no art. 149, § 2º, III, ‘a’.
As materialidades descritas como ‘receita’ ou
‘faturamento’ devem ser efetivamente auferidas pela pessoa
sa
jurídica sujeita à tributação e sempre devem ser entendidas
como ‘riqueza própria’ dos sujeitos passivos, especialmente em
obediência ao princípio da capacidade contributiva (art. 145, § 1º, da
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De qualquer forma, sendo, de regra, contribuinte do ISS a
empresa prestadora de serviços, ao apurar seu ‘faturamento’ –
receita bruta dos serviços –, não deve a mesma ser obrigada a
incluir, na base de cálculo das contribuições COFINS e
sa
PIS/PASEP, o valor do ISS incidente sobre a prestação dos serviços
em questão, pois tal valor, cobrado como preço conjuntamente com o
efetivo valor dos serviços, corresponde a ‘mero ingresso’ recebido
(...).” (grifei)
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“Sendo o ISS tributo municipal, conclui-se, logicamente,
que ele é receita dos Municípios e, consequentemente, jamais
sa
das empresas que o recolhem, assim como o ICMS.
Nesse sentido, repita-se, sendo o ISS produto municipal
diverso do faturamento dos contribuintes do PIS e da Cofins,
não se pode admitir a sua inclusão na base de cálculo destas
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(AMS) nº 0064108-60.2016.4.01.3800,
Desembargadora Federal Maria do Carmo Cardoso, julgado
em 11/0/2017 – grifei)
Rel.
sa
“PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. MANDADO DE
SEGURANÇA. EXCLUSÃO DO ISS NA BASE DE CÁLCULO
DO PIS E DA COFINS. POSSIBILIDADE. COMPENSAÇÃO.
1. Remessa oficial tida por interposta, com fundamento no
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da ação, conforme o disposto no artigo 168 do CTN c/c artigo 3º da Lei
Complementar nº 118/2005, tendo em vista que o ‘mandamus’ foi
ajuizado em 03/05/2019.
7. Deve a compensação ser realizada nos termos da
sa
legislação específica do ente federativo (art. 170, ‘caput’, do
CTN). Assim, primeiramente, é devida apenas após o trânsito em
julgado da decisão (art. 170-A, do CTN). Por sua vez, com o
advento da Lei nº 13.670/18 e revogação do parágrafo único do
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entendimento jurisprudencial do E. STF, do C. STJ e deste Eg.
Tribunal, com supedâneo no art. 932, do CPC, inexistindo qualquer
ilegalidade ou abuso de poder.
2. O Plenário do E. Supremo Tribunal Federal (STF), no
sa
julgamento do Recurso Extraordinário nº 574.706-PR, com
repercussão geral reconheceu que o valor arrecadado a título de
ICMS não se incorpora ao patrimônio do contribuinte, dessa
forma, não pode integrar a base de cálculo para fins de
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Lei nº 10.637/02, ou outra lei que venha a tratar do tema, desde o
período-base de novembro de 2001, como demonstrado em anexo, com
atualização do indébito pela taxa Selic até a data da efetiva
compensação, e ordenando à autoridade coatora que não exija os
sa
tributos que, em face da compensação reconhecida, deixarão de ser
pagos.” (grifei)
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(Redação dada pela Lei nº 10.637, de 2002) (Vide Decreto nº 7.212,
de 2010) (Vide Medida Provisória nº 608, de 2013) (Vide
Lei nº 12.838, de 2013)
§ 1º A compensação de que trata o ‘caput’ será efetuada
sa
mediante a entrega, pela sujeito passivo, de declaração na qual
constarão informações relativas aos créditos utilizados e aos
respectivos débitos compensados. (Redação dada pela Lei nº 10.637,
de 2002)
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Secretaria da Receita Federal do Brasil, ainda que o pedido se
encontre pendente de decisão definitiva na esfera administrativa;
(Redação dada pela Lei nº 13.670, de 2018)
VII – o crédito objeto de pedido de restituição ou
sa
ressarcimento e o crédito informado em declaração de
compensação cuja confirmação de liquidez e certeza esteja
sob procedimento fiscal; (Redação dada pela Lei nº 13.670,
de 2018)
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para inscrição em Dívida Ativa da União, ressalvado o disposto no
§ 9º. (Redação dada pela Lei nº 10.833, de 2003)
§ 9º É facultado ao sujeito passivo, no prazo referido no
§ 7º, apresentar manifestação de inconformidade contra a
sa
não-homologação da compensação. (Redação dada pela
Lei nº 10.833, de 2003)
§ 10. Da decisão que julgar improcedente a manifestação de
inconformidade caberá recurso ao Conselho de Contribuintes.
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e) não se refira a tributos e contribuições
administrados pela Secretaria da Receita Federal – SRF.
(Incluída pela Lei nº 11.051, de 2004)
f) tiver como fundamento a alegação de
sa
inconstitucionalidade de lei, exceto nos casos em que a
lei: (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)
de 2009)
2 – tenha tido sua execução suspensa pelo
Senado Federal; (Incluído pela Lei nº 11.941, de
2009)
3 – tenha sido julgada inconstitucional
em sentença judicial transitada em julgado a favor
do contribuinte; ou (Incluído pela Lei nº 11.941, de
2009)
4 – seja objeto de súmula vinculante
aprovada pelo Supremo Tribunal Federal nos termos
do art. 103-A da Constituição Federal. (Incluído
pela Lei nº 11.941, de 2009)
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cento) sobre o valor do débito objeto de declaração de compensação não
homologada, salvo no caso de falsidade da declaração apresentada
pela sujeito passivo. (Redação dada pela Lei nº 13.097, de 2015)
§ 18. No caso de apresentação de manifestação de
sa
inconformidade contra a não homologação da compensação, fica
suspensa a exigibilidade da multa de ofício de que trata o § 17,
ainda que não impugnada essa exigência, enquadrando-se no disposto
no inciso III do art. 151 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 –
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tributária, autorizou-a apenas entre tributos da mesma espécie, sem
exigir prévia autorização da Secretaria da Receita Federal (artigo 66).
3. Outrossim, a Lei 9.430, de 27 de dezembro de 1996, na
Seção intitulada ‘Restituição e Compensação de Tributos e
sa
Contribuições’, determina que a utilização dos créditos do
contribuinte e a quitação de seus débitos serão efetuadas em
procedimentos internos à Secretaria da Receita Federal (artigo 73,
‘caput’), para efeito do disposto no artigo 7º, do Decreto-Lei 2.287/86.
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passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial.’
9. Entrementes, a Primeira Seção desta Corte consolidou o
entendimento de que, em se tratando de compensação
tributária, deve ser considerado o regime jurídico vigente à
sa
época do ajuizamento da demanda, não podendo ser a causa
julgada à luz do direito superveniente, tendo em vista o inarredável
requisito do prequestionamento, viabilizador do conhecimento do apelo
extremo, ressalvando-se o direito de o contribuinte proceder à
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serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as
normas das alíneas ‘a’, ‘b’ e ‘c’ do parágrafo anterior.’
14. Consequentemente, vencida a Fazenda Pública, a fixação
dos honorários não está adstrita aos limites percentuais de 10% e
sa
20%, podendo ser adotado como base de cálculo o valor dado à causa
ou à condenação, nos termos do art. 20, § 4º, do CPC. (Precedentes da
Corte: AgRg no REsp 858.035/SP, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/03/2008,
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17. Recurso especial parcialmente conhecido e
parcialmente provido, apenas para reconhecer o direito da
recorrente à compensação tributária, nos termos da
sa
Lei 9.430/96. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do
CPC e da Resolução STJ 08/2008.”
(REsp 1.137.738/SP, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Seção,
julgado em 09/12/2009, DJe 01/02/2010 – grifei)
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provimento unicamente para excluir da base de cálculo das
contribuições referentes ao PIS e à COFINS o valor arrecadado a título de
imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS), deixando de conhecer, no
entanto, por traduzir matéria infraconstitucional, o pleito concernente à
sa
pretendida compensação tributária. No que concerne à verba honorária,
revela-se aplicável a Súmula 512/STF, reafirmada, agora, pelo art. 25 da
Lei nº 12.016/2009.
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É o meu voto.
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