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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

4ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Autos nº. 0000594-09.2020.8.16.0158

Recurso Inominado Cível n° 0000594-09.2020.8.16.0158


Juizado Especial Cível de São Mateus do Sul
Recorrente(s): COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA
Recorrido(s): Helia Moraes Ribas e LADY WESSLING
Relator: Pamela Dalle Grave Flores Paganini

RECURSO INOMINADO. COPEL. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA


EM IMÓVEL RURAL. NEGATIVA DA CONCESSIONÁRIA SOB A ALEGAÇÃO DE
O IMÓVEL ESTAR LOCALIZADO EM LOTEAMENTO IRREGULAR.
ALEGAÇÃO DE DESMEMBRAMENTO IRREGULAR NA UNIDADE
IMOBILIÁRIA. EDIFICAÇÃO DA MORADIA. NECESSIDADE DE INSTALAÇÃO
ELÉTRICA. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. OFENSA AO DIREITO À
SAÚDE. AUSÊNCIA DE IMPEDIMENTO PARA O FORNECIMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA E MEDIÇÃO DE FORMA INDIVIDUALIZADA. DIREITO À
ADEQUADA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS. SENTENÇA MANTIDA
POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. APLICAÇÃO DO ART. 46 DA LEI
9.099/95. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

I. Relatório dispensado, nos termos do artigo 46 da Lei 9.099/95.

II. Voto.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso interposto deve ser conhecido.

Cinge a controvérsia sobre a ilegalidade na recusa da concessionária ao fornecimento de energia elétrica para a
residência da recorrida, sob o argumento de que o imóvel tem características de loteamento urbano ou área inferior ao
módulo rural.

De início ressalto que a r. sentença recorrida (mov. 58.1 dos autos de origem) não merece reprimenda.

Explico.

No presente caso, busca-se tutela jurisdicional para garantir a instalação de serviço de energia elétrica. E, conforme
consta nos autos, existe distribuição de energia para residências no perímetro próximo a casa.

Assim sendo, negar o fornecimento de energia e água fere os princípios da dignidade da pessoa humana e moradia. É
desproporcional, portanto, negar tal direito apenas por ser inobservada a legislação pertinente.

Ressalto que o fornecimento do serviço, jamais causará prejuízo ao município que poderá utilizar dos meios adequados
para obrigar a desocupação e a recomposição do status quo ante do imóvel, caso assim entenda necessário.
Desarte, em que pese o inconformismo da recorrente não vislumbro motivos para a reforma da decisão recorrida, vez que
todas as questões postas em juízo foram fundamentadas pormenorizadamente.

Aliás, tal controvérsia apresenta entendimento pacificado por esta Turma Recursal. Veja-se:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA EM IMÓVEL RURAL.
NEGATIVA DA CONCESSIONÁRIA SOB A ALEGAÇÃO DE O IMÓVEL ESTAR
LOCALIZADO EM LOTEAMENTO IRREGULAR. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO PELA
PREFEITURA. ALEGAÇÃO DE DESMEMBRAMENTO IRREGULAR NA UNIDADE
IMOBILIÁRIA. ÁREA INFERIOR AO MÓDULO RURAL DE PROPRIEDADE. EDIFICAÇÃO
DA MORADIA. NECESSIDADE DE INSTALAÇÃO ELÉTRICA. DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA. OFENSA AO DIREITO À SAÚDE. FORNECIMENTO DE ENERGIA EM LOTE
VIZINHO. AUSÊNCIA DE IMPEDIMENTO PARA O FORNECIMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA E MEDIÇÃO DE FORMA INDIVIDUALIZADA. DIREITO À ADEQUADA
PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS. PLEITO DE EXTENSÃO DO PRAZO PARA
CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO. DESCABIMENTO. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. APLICAÇÃO DO ART. 46 DA LEI 9.099/95. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0009588-32.2019.8.16.0038 -
Fazenda Rio Grande - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS
ESPECIAIS ALDEMAR STERNADT - J. 06.12.2021)

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. AUTORIZAÇÃO DE


FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA E ÁGUA EM IMÓVEL RURAL. ALEGAÇÃO
IMÓVEL LOCALIZADO EM LOTEAMENTO IRREGULAR. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO
PELA PREFEITURA. ALEGAÇÃO DE DESMEMBRAMENTO IRREGULAR NA UNIDADE
IMOBILIÁRIA. ÁREA INFERIOR AO MÓDULO RURAL DE PROPRIEDADE. EDIFICAÇÃO
DE MORADIA. NECESSIDADE DE INSTALAÇÃO ELÉTRICA. DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA. DIREITO À MORADIA. COLISÃO DE PRINCÍPIOS. FORNECIMENTO DE
ENERGIA EM LOTE VIZINHO. AUSÊNCIA DE IMPEDIMENTO PARA O FORNECIMENTO
DE ENERGIA ELÉTRICA E MEDIÇÃO DE FORMA INDIVIDUALIZADA. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0005092-94.2018.8.16.0037 -
Campina Grande do Sul - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS
ESPECIAIS ALDEMAR STERNADT - J. 17.08.2020)

Ademais, não há que se falar em aumento de prazo para que ocorra a ligação de energia no imóvel da autora, vez que o
recorrente não demonstrou a impossibilidade do cumprimento da obrigação no prazo estipulado pelo juízo a quo e, em se
tratando de serviço básico essencial, deve ser fornecido de forma mais breve o possível.

Não bastasse isso, há que se destacar que, nos termos dos trâmites administrativos previstos no artigo 27 e seguintes da
Resolução nº 414/210, já existindo imóveis na mesma localidade que possuem o fornecimento da energia elétrica, é
evidente que a companhia deve possuir em seus registros a planta do local que possa possibilitar a execução da obra e
instalação de equipamentos no prazo estipulado pelo juiz singular.

Diante do exposto, voto no sentido de conhecer e negar provimento ao recurso interposto, mantendo-se a sentença
proferida pelo Juízo de origem por seus próprios fundamentos, nos termos do artigo 46 da Lei 9.099/95.

A manutenção da sentença por seus próprios fundamentos é constitucional, conforme já confirmou o Supremo Tribunal
Federal (AI749963- rel. Min. Eros Grau, julg. 08/09/2009). Como já ressaltou a Min. Fátima Nancy Andrighi “é
absolutamente contra o propósito da simplicidade e da informalidade uma Turma Recursal quando confirma uma
sentença, a denominada dupla conforme, lavrar acórdão para repetir os mesmos fundamentos. Basta uma ementa para o
repositório da jurisprudência, nada mais. É simples assim!” (DIDIER JR (coord. Geral). Juizados Especiais.
Salvador:Juspodivm, 2015, p.31).

Condena-se a parte recorrente ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios no importe de 20 % (vinte
por cento) sobre o valor da causa, cuja exigibilidade resta suspensa em razão da gratuidade de justiça concedida.

É o voto que proponho.

Ante o exposto, esta 4ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por unanimidade
dos votos, em relação ao recurso de COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA, julgar pelo(a) Com
Resolução do Mérito - Não-Provimento nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Marco Vinícius Schiebel, sem voto, e dele
participaram os Juízes Pamela Dalle Grave Flores Paganini (relator), Aldemar Sternadt e Tiago Gagliano
Pinto Alberto.

25 de março de 2022

Pamela Dalle Grave Flores Paganini

Juiz (a) relator (a)

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