Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ACÓRDÃO
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 1 de 5
Superior Tribunal de Justiça
MINISTRO RAUL ARAÚJO
Relator
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 2 de 5
Superior Tribunal de Justiça
AgInt nos EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 1.124.506 - RJ
(2013/0047974-0)
RELATÓRIO
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 4 de 5
Superior Tribunal de Justiça
específico pelo titular do prédio serviente. O que motiva a existência de
registros públicos é a necessidade de conferir a terceiros segurança
jurídica quanto às relações neles refletidas.
Para que se repute ineficaz a servidão, é preciso que seja retificado o
registro, e tal retificação somente pode ser requerida em ação na qual
figurem, no pólo passivo, todos os proprietários dos terrenos nos quais tal
servidão se desmembrou, notadamente considerando a indivisibilidade
desse direito real.
8. Não obstante, a lei é expressa em reputar a água bem essencial à vida.
Se há escassez no condomínio que fora beneficiado pela servidão, não é
possível, em ponderação de valores, privilegiar o uso comercial da água,
pelo titular do prédio serviente, em detrimento de seu uso para o
abastecimento humano.
9. A falta de requerimento de implementação da servidão por anos após
firmado o contrato indica que o condomínio cumpriu com seu dever de
colaboração, buscando seu abastecimento por fontes autônomas. Uma vez
constatada a insuficiência dessas fontes, contudo, não se pode reputar
caduca a servidão com fundamento no instituto da supressio. O princípio
da boa-fé objetiva não pode atuar contrariamente a quem colaborou para
o melhor encaminhamento da relação jurídica de direito material.
10. Se não há intuito protelatório na interposição de embargos de
declaração, é imperativo o afastamento da multa fixada pelo art. 538 do
CPC.
11. Recursos especiais conhecidos e parcialmente providos."
(REsp 1.124.506/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 19/06/2012, DJe de 14/11/2012)
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 6 de 5
Superior Tribunal de Justiça
auto-suficiência de água durante vários anos, entendeu que o uso 'para as primeiras
necessidades da vida humana" que o Condomínio supostamente faria da água - e que se
demonstrou não ser o caso das mansões que o integram - prevaleceria sobre o uso comercial
que o Embargante pretende fazer" (grifou-se, na fl. 1.231).
Nesse passo, alegou que, "percebe-se que, não obstante tenha o imóvel
dominante, em ambos os casos, obtido água por meios próprios, sem necessidade de fazer uso
da servidão, no acórdão embargado não se admitiu a extinção da servidão quando o imóvel
dominante obteve autossuficiência em seu abastecimento, enquanto que no acórdão
paradigma a servidão foi extinta quando isso ocorreu" (na fl. 1.214).
Aduziu, ainda, que o aresto embargado "partiu da premissa evidentemente
equivocada de que a água proveniente da servidão seria usada pelo Condomínio e pelos
condôminos para atender às primeiras necessidades da vida humana, sem que haja nos autos
qualquer prova ou mesmo indício do uso que o Condomínio e seus condôminos dariam à
água proveniente da servidão" (na fl. 1.217) e que, assim, "considerando ainda que nem mesmo
os ora Embargados alegaram que a água proveniente da servidão seria usada para 'as
primeiras necessidades da vida' torna-se ainda mais evidente que a eg. 3ª Turma cometeu um
equivoco ao ressuscitar a servidão por considerar que 'as primeiras necessidades da vida'
prevaleceriam sobre o direito de propriedade do Embargante" (grifou-se, na fl. 1.219).
Noutro passo, alegou divergência com relação aos efeitos do registro imobiliário em
face de terceiro de má-fé com precedente da eg. Quarta Turma, assim ementado:
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 9 de 5
Superior Tribunal de Justiça
Intimada, a parte agravada apresentou impugnação (nas fls. 1.432/1.437).
É o relatório.
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 10 de 5
Superior Tribunal de Justiça
AgInt nos EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 1.124.506 - RJ
(2013/0047974-0)
VOTO
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 11 de 5
Superior Tribunal de Justiça
sem necessidade de fazer uso da servidão, o aresto paradigma admitiu a extinção da servidão e o
acórdão embargado, em evidente divergência jurisprudencial, negou o perecimento do direito (na fl.
1.214).
Não lhe assiste razão, contudo, porque, se é certo que, no caso do aresto paradigma,
a autossuficiência de água foi tida como fato incontroverso, em razão do adequado fornecimento
público, na hipótese do acórdão embargado foi constatado que o prédio dominante obteve água por
meios diversos que não a servidão apenas de modo temporário, tanto que destacou que "a escassez
de água do condomínio não é negada pelo acórdão recorrido, que apenas ponderou que, por
um determinado período de tempo, este conseguiu atingir certo nível de autossuficiência"
(grifou-se, na fl. 1.143).
A propósito, confiram-se os seguintes excertos dos arestos paradigma e embargado,
respectivamente:
"Como o artigo 35, § 2º, do Código de Águas, dispõe que o direito do uso
das águas não prescreve, mas cessa logo que as pessoas a quem ele é
concedido possam haver, sem grande dificuldade ou incômodo, a água
de que carecem, não merece acolhida a irresignação" e que, diante do
incontroverso fornecimento público de água, não mais subsiste o direito
da recorrente de haver água da nascente situada no prédio da autora
que, por outro lado, conforme a moldura fática, necessita de toda água
da nascente para que possa expandir seu rebanho, resultando em melhor
aproveitamento econômico de sua propriedade" (grifou-se, na fl. 1.260).
"A escassez de água do condomínio não é negada pelo acórdão recorrido,
que apenas ponderou que, por um determinado período de tempo, este
conseguiu atingir certo nível de autossuficiência. Ora, se não se nega a
escassez, como negar o acesso à água? Não há uma menção sequer no
acórdão recorrido à circunstância de que o condomínio pretenda se
valer da servidão para qualquer outro fim, que não seja o de se
abastecer. Não se cogita que o condomínio queira comercializar a água,
em vez de simplesmente utilizá-la para consumo humano. Não há,
portanto, sentido em que se lhe negue o exercício desse direito essencial"
(grifou-se, nas fls. 1.143/1.144).
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 13 de 5
Superior Tribunal de Justiça
servidão", divergindo do entendimento adotado pelo aresto paradigma (REsp 664.523/CE), que
"entendeu que o terceiro que tenha agido com má-fé ou de modo temerário se submete às
restrições impostas ao imóvel ainda que tais restrições não tenham sido levadas a registro"
(grifou-se, na fl. 1.222).
Não lhe assiste razão, mais uma vez, pois o tema da oponibilidade das restrições do
direito de propriedade, ainda que não levadas a registro, contra terceiro de má-fé, não foi decidido
no acórdão embargado da maneira como exposto nos presentes embargos.
De fato, o aresto embargado salienta, de início, que o desmembramento da área em
favor da qual a servidão foi constituída provocou a criação de matrículas autônomas para cada
imóvel e que, desse modo, a servidão também foi regularmente registrada em cada uma delas (nas
fls. 1.140/1.141).
Nessa esteira, defendeu o aresto embargado que o cancelamento da servidão
regularmente registrada na matrícula de cada um dos imóveis integrantes do condomínio deveria ser
objeto de ação "proposta pelo proprietário do prédio serviente em face de cada um dos
proprietários dos imóveis dominantes, em litisconsórcio passivo necessário", mas não poderia
ser decidida incidentalmente no presente processo, em que "não há a participação de todos,
como já amplamente abordado nesta decisão" (grifou-se, nas fls. 1.140 e 1.141).
Justificou seu entendimento afirmando que outro caminho traria "insegurança para
o eventual terceiro que porventura decidisse adquirir algum dos imóveis com registro da
servidão permaneceria, já que ele não terá ciência do grande risco de se ver impossibilitado
de exercer esse direito real, no futuro" (grifou-se, na fl. 1.140).
A propósito, confira-se o trecho do aresto embargado que analisa a questão:
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 15 de 5
Superior Tribunal de Justiça
Em suma, é inviável o conhecimento dos embargos de divergência quando ausente a
similitude fática entre os arestos confrontados. Confira-se:
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 17 de 5
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
AgInt nos
Número Registro: 2013/0047974-0 PROCESSO ELETRÔNICO EREsp 1.124.506 /
RJ
Relator
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
EMBARGANTE : PAULO WALDEMAR RIBEIRO FALCÃO - ESPÓLIO
REPR. POR : NÉLIA CAMPELLO FALCÃO - INVENTARIANTE
ADVOGADOS : PATRÍCIA FELIX TASSARA E OUTRO(S) - RJ066803
ANDRÉ MACEDO DE OLIVEIRA E OUTRO(S) - DF015014
EMBARGADO : FLÁVIO GODINHO
ADVOGADO : JOSÉ ANTÔNIO ROMERO PARENTE E OUTRO(S) - RJ013308
EMBARGADO : CONDOMÍNIO VALE DE SÃO FERNANDO E OUTRO
ADVOGADO : JOSÉ MAURO DE ARAÚJO MACHADO E OUTRO(S) - RJ018417
AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : PAULO WALDEMAR RIBEIRO FALCÃO - ESPÓLIO
REPR. POR : NÉLIA CAMPELLO FALCÃO - INVENTARIANTE
ADVOGADOS : PATRÍCIA FELIX TASSARA E OUTRO(S) - RJ066803
ANDRÉ MACEDO DE OLIVEIRA E OUTRO(S) - DF015014
AGRAVADO : FLÁVIO GODINHO
ADVOGADO : JOSÉ ANTÔNIO ROMERO PARENTE E OUTRO(S) - RJ013308
AGRAVADO : CONDOMÍNIO VALE DE SÃO FERNANDO E OUTRO
ADVOGADO : JOSÉ MAURO DE ARAÚJO MACHADO E OUTRO(S) - RJ018417
CERTIDÃO
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 18 de 5
Superior Tribunal de Justiça
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Seção, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira, Ricardo Villas Bôas
Cueva, Marco Buzzi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro e Nancy Andrighi votaram com o Sr.
Ministro Relator.
Impedido o Sr. Ministro Luis Felipe Salomão.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino.
Documento: 1793152 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2019 Página 19 de 5