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Alternative Dispute Resolutions (ADR) e On-Line Dispute

Resolutions (ODR): porque os meios adequados de


resolução de controvérsias e o avanço tecnológico
implicam na necessária revisão do conceito de ...

ALTERNATIVE DISPUTE RESOLUTIONS (ADR) E ON-LINE DISPUTE


RESOLUTIONS (ODR): PORQUE OS MEIOS ADEQUADOS DE RESOLUÇÃO
DE CONTROVÉRSIAS E O AVANÇO TECNOLÓGICO IMPLICAM NA
NECESSÁRIA REVISÃO DO CONCEITO DE ACESSO À JUSTIÇA
Alternative dispute resolutions (ADR) and on-line dispute resolutions (ODR): why the
proper dispute resolution means and the technological advancement imply the required
review of the concept of access to justice
Revista de Direito e as Novas Tecnologias | vol. 13/2021 | Out - Dez / 2021
DTR\2021\47830

Luiza Trani
Mestranda em Direito Processual Civil pela Faculdade de Direito da USP (FD-USP).
Membro do Grupo de Estudos Avançados de Processo da Fundação Arcadas (GEAP).
Advogada. luizatrani@hotmail.com.

Área do Direito: Civil; Processual; Digital


Resumo: O objetivo deste estudo é analisar a necessária revisão do conceito do acesso à
Justiça à luz da política nacional de solução de conflitos – regulamentada pelo
minissistema composto pela Resolução 125/2010 do CNJ , pelo CPC e pela Lei de
Mediação – e dos avanços tecnológicos que, por meio de plataformas on-line, vêm
ampliando o sistema multiportas e permitindo a pacificação social sem a necessidade de
soluções adjudicadas, bem assim a possibilidade de se condicionar a promoção da ação
judicial à prévia tentativa de resolução extrajudicial do conflito.

Palavras-chave: Acesso à Justiça – Alternative dispute resolutions (ADR) – On-line


dispute resolutions (ODR) – Ação judicial – Prévia tentativa de resolução extrajudicial do
conflito
Abstract: The objective of this essay is to analyze the necessary revision of the concept
of access to Justice in the light of the national conflict resolution policy – regulated by
the mini-system composed by Resolution 125/2010 of the CNJ, CPC and the Mediation
Law –, and technological advances, which through on-line platforms have been
expanding the multiport system and allowing social pacification without the need for
adjudicated solutions, as well as the possibility of conditioning the promotion of the
lawsuit to the previous attempt of extrajudicial resolution of the conflict.

Keywords: Access to Justice – Alternative dispute resolutions (ADR) – On-line dispute


resolutions (ODR) – Lawsuit – Previous attempt to resolve the conflict out of court
Para citar este artigo: TRANI, Luiza. Alternative Dispute Resolutions (ADR) e On-Line
Dispute Resolutions (ODR): porque os meios adequados de resolução de controvérsias e
o avanço tecnológico implicam na necessária revisão do conceito de acesso à justiça.
Revista de Direito e as Novas Tecnologias, nº 13, Ano IV, out./dez. 2021 São Paulo: Ed.
RT. Disponível em: inserir link consultado. Acesso em: DD.MM.AAAA.
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Sumário:

1. O acesso à Justiça como acesso à ordem jurídica justa e aos meios adequados de
solução de controvérsias - 2. Condicionantes ao acesso à Justiça e a comprovação do
interesse de agir - 3. O método de ODR como instrumento de possível superação da
cultura da sentença - 4. À guisa de conclusão: o ODR como mecanismo de expansão do
acesso à Justiça e a possibilidade de se condicionar o prévio acesso ao Judiciário ao
esgotamento das vias extrajudiciais - 5. Referências bibliográficas
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implicam na necessária revisão do conceito de ...

1. O acesso à Justiça como acesso à ordem jurídica justa e aos meios adequados de
solução de controvérsias

A natural evolução do processo civil demanda a cíclica releitura dos seus institutos
tencionando-se à sua adaptação ao Zeitgeist. Não se trata de anarquizar a ciência,
insurgindo-se, cega e gratuitamente, à sabedoria amealhada pela experiência e ao
4
tradicionalismo que compõe o conceito, mas da promoção do seu enriquecimento ,
agregando-se ao mesmo a evolução da mentalidade que o circunda.

A bem da verdade, inexiste ineditismo na periódica revisão dos conceitos – decorrente


5
do próprio aperfeiçoamento dos institutos processuais, que são um produto da cultura
–, residindo o insólito na atribuição de novos contornos à primitiva definição, isto é, na
renovação do conhecido por meio de uma nova compreensão, contemporânea e mais
alinhada ao espírito da época, sem o abandono, entretanto, à essência do instituto, que
é submetido à ressignificação.

Conhecido exemplo é o da reinterpretação do princípio de acesso à Justiça, impulsionado


pelas vanguardistas ondas renovatórias de Mauro Cappelletti e Bryant Garth, que há
mais de 40 anos se dedicaram ao estudo dos obstáculos e soluções práticas ao
aprimoramento do citado princípio, vaticinando, em linhas gerais, um novo enfoque de
acesso à Justiça lastreado, mormente: na assistência judiciária aos necessitados
(primeira onda); na adequada representação dos interesses supraindividuais (segunda
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onda); e no aprimoramento das técnicas processuais (terceira onda).

Entre nós, sobre o quid igualmente se debruçou a melhor doutrina, projetando novos
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relevos ao vetusto princípio, esculpido no inciso XXXV do artigo 5º da CF (LGL\1988\3) .
Deveras, despojando-se de suas antigas vestes, que acobertavam somente o seu
aspecto formal, relativo à garantia ao jurisdicionado de mero acesso aos órgãos
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judiciários – isto é, de ingresso em juízo –, o citado princípio agasalhou-se de nova
roupagem, passando a significar acesso à ordem jurídica justa.

Senhor da expressão, Kazuo Watanabe leciona que os contemporâneos contornos do


princípio garantem a todos que tenham um problema jurídico, não necessariamente um
conflito de interesses, atenção por parte do Poder Judiciário:

“Assim, cabe ao Judiciário não somente organizar os serviços que são prestados por
meio de processos judiciais, como também aqueles que socorram os cidadãos de modo
mais abrangente, de solução por vezes de simples problemas jurídicos, como a obtenção
de documentos essenciais para o exercício da cidadania, e até mesmo de simples
palavras de orientação jurídica. Mas é, certamente, na solução dos conflitos de
interesses que reside a sua função primordial, e para desempenhá-la cabe-lhe organizar
não apenas os serviços processuais como também, e com grande ênfase, os serviços de
solução dos conflitos pelos mecanismos alternativos à solução adjudicada por meio de
9
sentença, em especial dos meios consensuais, isto é, da mediação e da conciliação.”
10
Hodiernamente, portanto, acesso à Justiça é acesso à ordem jurídica justa ,
desempenhada por meio de adequada tutela que efetivamente resolva a controvérsia,
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levando à pacificação social, escopo primordial da jurisdição . Daí porque a
ressignificação do mencionado princípio implica na oferta, à população, de todos os
mecanismos apropriados à solução do seu conflito de interesses, entre esses os meios
adequados de resolução de controvérsias ou alternative dispute resolution (ADR), como
12 13
forjado pela doutrina norte-americana. -

Certamente o primeiro marco regulatório que contribuiu sobremaneira à ratificação do


quanto esposado em doutrina no que tange à atualização do conceito de acesso à Justiça
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implicam na necessária revisão do conceito de ...

foi a Resolução 125/2010 do CNJ (LGL\2010\2910), a qual assegurou aos cidadãos, de


acordo com Ada Pellegrini Grinover,

“[...] o direito à solução dos conflitos de interesses e dos problemas jurídicos em geral
pelos meios mais adequados, e não apenas pelos processos estatais, com a
institucionalização, com critérios de qualidade e de uniformidade em sua prática, dos
14 15
mecanismos consensuais de solução de conflitos.” -

Seguidamente, o CPC (LGL\2015\1656) – cuja exposição de motivos já dispõe:


“entendeu-se que a satisfação efetiva das partes pode dar-se de modo mais intenso se a
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solução é por elas criada e não imposta pelo juiz” – e a Lei de Mediação, solidificaram,
de vez, a evolução do instituto, impondo a releitura do inciso XXXV, artigo 5º, da CF
(LGL\1988\3), “pois por acesso ao Poder Judiciário deve entender-se acesso à justiça e
aos meios adequados de solução de conflitos”, citando-se, novamente, Ada Pellegrini
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Grinover.
18
Na experiência brasileira, os meios adequados de solução de controvérsias abrangem a
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arbitragem, a conciliação e a mediação , sendo as últimas métodos autocompositivos
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que utilizam um terceiro facilitador , e a primeira solução heterocompositiva eleita pelas
partes por meio de convenção de arbitragem (compromisso ou cláusula compromissória,
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conforme previsto no artigo 3º da Lei 9.307/1996 (LGL\1996\72)).

Uma vez demonstrado o contemporâneo significado do princípio do acesso à Justiça e


revelado o minissistema brasileiro de métodos consensuais de solução judicial de
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conflitos , formado pela Resolução 125 do CNJ, pelo CPC (LGL\2015\1656) e pela Lei de
Mediação, passa-se a seguir a cuidar das condicionantes ao acesso à Justiça e da
comprovação do interesse de agir.

2. Condicionantes ao acesso à Justiça e a comprovação do interesse de agir

O relatório Justiça em números 2020 do Conselho Nacional de Justiça revela um acervo


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inadministrável de processos pendentes , não obstante o fomento estatal pelos meios
adequados de resolução de controvérsias, como visto supra, além dos esforços
legislativos na tentativa de redução do enorme contingente, tal como pela criação de
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técnicas individuais de repercussão coletiva.

O informe evidencia, ademais, que (lamentavelmente) ainda prevalece entre nós a


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chamada cultura da sentença , isto é, a formalista mentalidade dos operadores do
direito que relativiza a importância da conciliação – enxergando nesta uma atividade
menos nobre, nas palavras de Kazuo Watanabe –, preferindo soluções adjudicadas ao
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invés da verdadeira pacificação dos conflitos , tanto assim é que, em 2019, a cada
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grupo de 100 mil habitantes, 12.211 ingressaram com uma ação judicial.

O direito ao acesso à ordem jurídica justa, entretanto e como visto, distante está de ser
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somente o direito de acesso ao Judiciário, ou ao direito de ação , o qual, por sua vez,
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não é absoluto e tampouco potestativo, sendo, aliás, deveras condicionado , servindo
de exemplo as condições de admissibilidade da ação, representada pelos requisitos do
interesse de agir e da legitimatio ad causam.

Enquanto este segundo serve à garantia de que o provimento judicial se destine à(s)
30
pessoa(s) que é(são) titular(es) do(s) interesse(s) em conflito , “[...] o interesse de
agir não consiste unicamente no interesse de conseguir o bem garantido pela lei (o que
forma o conteúdo do direito), mas também no interesse de consegui-lo por obra dos
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órgãos jurisdicionais”, de acordo com Giuseppe Chiovenda.

Motivo esse que justifica a composição do interesse de agir pelo binômio

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resolução de controvérsias e o avanço tecnológico
implicam na necessária revisão do conceito de ...

necessidade-adequação, advindo o primeiro elemento, nas lições de Flávio Luiz Yarshell,


da impossibilidade de resolução da controvérsia sem a intervenção do Poder Judiciário
“quer porque as partes não chegaram a autocomposição e não podem valer-se – salvo
em casos excepcionais – da autotutela; quer porque a intervenção judicial é
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indispensável porque só pelo processo se pode produzir o efeito jurídico pretendido” ; e
o segundo da adequação do provimento para “[...] remediar o mal de que se queixa
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demandante”.

Assim como o acesso à Justiça, também o interesse de agir está na berlinda ante a
realidade judiciária contemporânea, questionando-se se a sua configuração dar-se-á in
statu assertionis, bastando, portanto, a narrativa apresentada pelo autor à autoridade
judiciária, ou se cabível, nas palavras de Rodolfo de Camargo Mancuso, o seu
enriquecimento cultural

“[...] agregando-se-lhe a exigência do prévio esgotamento de outros meios auto e


heterocompositivos, à exceção, naturalmente, das situações que envolvam situações de
risco para o afirmado direito, ou aquelas que espelham a crise jurídica mais complexa,
ou ainda os casos em que certas peculiaridades reclamem necessária passagem
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judiciária [...].”
35
Nessa toada, Fernando da Fonseca Gajardoni ratifica que a questão realmente vem
ganhando novos relevos, notadamente diante de recentes decisões dos Tribunais
Superiores e do notório estímulo concedido pelo CPC (LGL\2015\1656) aos meios
extrajudiciais de solução de conflitos, concluindo, assim, que:

“Sendo possível a apresentação de prévio requerimento administrativo por mecanismos


formais de recepção e justa apreciação, em tempo razoável, de reclamações (como é o
caso da plataforma consumidor.gov), tal requerimento deve ser considerado como
condição para o exercício do direito de ação (interesse processual – necessidade perante
o Judiciário). Por outro lado, em havendo resistência injustificada dos que se submetem
ao sistema extrajudicial de solução dos conflitos, em atender ao pedido legítimo e
proporcional dos que o buscarem [...] ou em aceitar proposta razoável dentro dos
parâmetros legais e jurisprudenciais formulada pelos acionados; tal comportamento
deverá ser considerado pelo juiz no momento de julgar a pretensão judicializada, seja
para fixação de eventuais apenamentos por conta da violação da boa-fé (arts. 5º, 77 e
80 do CPC (LGL\2015\1656)), seja na quantificação de indenizações devidas em prol ou
contra o jurisdicionado que cumpriu adequadamente o ônus que lhe impunha o art. 3º
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do CPC (LGL\2015\1656) (estímulo à composição).”

A exigência de prévio requerimento ou esgotamento das vias extrajudiciais está na


ordem do dia em nossos Tribunais. Com efeito, ainda em 2014, o Supremo Tribunal
Federal, no julgamento do RE 631.240 (tema 350), reconheceu a necessidade de prévio
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requerimento administrativo como condição para o acesso ao Judiciário ; enquanto o
Superior Tribunal de Justiça, de outra banda, no julgamento do REsp Repetitivo
1.349.453/MS, decidiu que a caracterização do interesse processual em ações de
exibição de documentos depende da comprovação da sua prévia solicitação ao
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requerido.

Nessa esteira, e igualmente a título meramente ilustrativo, são encontradas diversas


recentes decisões do Tribunal de Justiça de São Paulo exigindo a necessidade de
comprovação da resistência do demandado para a caracterização do interesse
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processual, sendo o entendimento aplicável desde à requisição de medicamento ou
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exibição de documentos , até a outorga de escritura definitiva.

Portanto, e como se vê, em que pese inegavelmente ainda vivermos sob à égide da

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implicam na necessária revisão do conceito de ...

cultura da sentença, além dos mecanismos legais estimularem os meios adequados de


resolução de conflitos, já há decisões exigindo-se (como nos parece natural) a
demonstração da resistência da pretensão como condição para acesso ao Judiciário, de
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forma, ademais, a se fomentar a responsável utilização do mencionado Poder.

3. O método de ODR como instrumento de possível superação da cultura da sentença

O on-line dispute resolution (ODR), em linhas gerais, é a união da tecnologia com os


meios alternativos de resolução das controvérsias, podendo abranger, como ensinam
Daniel Becker e Bruno Feigelson, várias técnicas de ADR enquanto se utiliza de uma rede
43
como local virtual para a solução de uma disputa . Ainda sobre o tema, explana Julia
Hörnle que:

“ODR is dispute resolution outside the courts, based on information and communications
technology and in particular, based on the power of computers to efficiently process
enormous amounts of data, store and organize such data and communicate it across the
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internet on a global basis and with speed.”

A resolução de conflitos on-line nasceu da necessidade de se construir um ambiente de


45
confiança para estímulo ao e-commerce , cuja essência é a agilidade, aliada à
corriqueira distância geográfica das partes envolvidas e à escassez de recursos
financeiros destinados à solução de eventual problema decorrente do produto e/ou
46
serviço ofertado on-line . Deveras, consoante leciona Ricardo Delmaso Marques, a
prevenção e resolução de disputas on-line em grande escala – cuja falha implica na
desconfiança do consumidor e, por conseguinte, na falta de segurança e lucratividade
47
dos serviços on-line – é precisamente o desiderato do ODR.

Distante, portanto, de ser a panaceia do processo civil moderno, o ODR deve ser visto
48
como mais um – entre os(as) diversos(as) – meio adequado ou porta disponível ao
cidadão para a resolução do seu conflito e, portanto, à superação da cultura da sentença
49 50
e alcance da cultura da pacificação – finalidade precípua da justiça conciliativa –,
sendo que tal método, evidentemente, será mais ou menos adequado a depender da
espécie da controvérsia e dos agentes envolvidos, especialmente diante da possível
assimetria de informação existente entre as partes, considerada como a principal causa
51
de insucesso dos acordos.

3.1. As exitosas experiências das plataformas do Ebay e consumidor.gov.br

A utilização do ODR não é algo tão recente, servindo certamente de leading case a
exitosa experiência do sistema de resolução de controvérsias on-line criado para os
usuários das plataformas eBay e PayPal em 2004, o qual anualmente suporta mais de 60
52
milhões de disputas relativas ao e-commerce , alcançando uma taxa de acordos de
53
90% e quase sem a intervenção humana por parte da companhia.

Erick Navarro Wolkart leciona que o sucesso da plataforma decorre da incorporação de


diversos estimulantes da postura cooperativa das partes em busca da autocomposição,
isto é: baixos custos de transação; combate à assimetria de informação; rapidez; e
incentivo por reputação. Explana o autor, ademais, o trâmite da plataforma, que mistura
diferentes meios adequados de resolução de disputas, senão vejamos:

“Parte-se do denominado staircase approach, em que a primeira preocupação é alcançar


o consumidor insatisfeito antes mesmo de o conflito eclodir. Assim, existe um banco de
respostas para uma série de reclamações comumente apresentadas pelos clientes. A
ideia é rodear o requerente, solucionando todas as suas dúvidas. Quando isso não é
possível, o algoritmo do eBay inicia uma mediação on-line, incluindo as duas partes da
transação e perguntando a elas em que consiste o conflito. Já nesse momento, os
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disputantes podem apresentar respostas para composição. De acordo com as


informações trazidas pelas partes, o sistema identifica áreas de acordo e sugere
possíveis soluções. Se as partes não aceitarem qualquer resposta, o eBay decide a
questão, transformando a mediação em arbitragem. Tudo o que as partes afirmaram
durante as negociações é levado em conta pelo sistema no momento da decisão, de
54
modo a incentivar uma postura educada e explicativa.”

Esse modelo serviu de inspiração para outras tantas iniciativas de ODR, entre as quais a
plataforma mantida pelo Estado brasileiro consumidor.gov.br, a qual foi lançada
oficialmente em 2014 e que permite a comunicação direta entre consumidores e
55
empresas para a resolução dos seus conflitos de consumo via internet . No último
boletim divulgado pelo site, 80% das reclamações registradas foram solucionadas pelas
56
mais de 600 empresas cadastradas e em um prazo médio de 6,5 dias.

Em apertada síntese, o funcionamento da plataforma ocorre da seguinte maneira: uma


vez constatada que a empresa contra a qual se pretende reclamar se encontra
cadastrada no site, o consumidor registra a sua reclamação, iniciando-se a contagem de
10 dias para a manifestação da empresa, sendo que durante esse prazo a mesma tem a
oportunidade de interagir com o consumidor antes da sua resposta final. Depois da
manifestação da empresa, é garantido ao consumidor o direito de comentar a resposta e
classificar a demanda como resolvida ou não, indicando, ainda, o seu grau de satisfação.
57

Apesar do aparente sucesso da plataforma, Fernanda Mattar Furtado Suriani indica que
ainda não existem dados suficientes para se afirmar, com precisão, que a mesma
implicou na efetiva redução do número de ações judiciais e, portanto, serve como
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instrumento de prevenção de litígios consumeristas . De toda forma, é inegável que a
plataforma apresenta uma outra porta ao consumidor insatisfeito – além do judiciário e
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dos procedimentos administrativos junto ao PROCON –, o que já é de grande valia.

4. À guisa de conclusão: o ODR como mecanismo de expansão do acesso à Justiça e a


possibilidade de se condicionar o prévio acesso ao Judiciário ao esgotamento das vias
extrajudiciais

Como visto, o ODR nada mais é do a evolução do ADR, haja vista tratar-se de um meio
adequado auxiliado ou amplificado pelo uso da tecnologia da informação e da
60
comunicação . Logo, e diante da nova definição de acesso à Justiça como sendo acesso
à ordem jurídica justa e aos meios adequados de solução das controvérsias, inequívoco
que o ODR entre estes se inclui, tanto assim que o próprio Estado criou a plataforma
consumidor.gov.br com o objetivo de garantir ao consumidor mais portas para acesso à
Justiça e, assim, a verdadeira pacificação social sem a necessidade de decisões
adjudicadas.

Posto isso, e ante a verdadeira política pública, inaugurada pela Resolução 125/2010 do
CNJ (LGL\2010\2910), de incentivo aos meios adequados de solução de controvérsias,
que ensejou a bem-vinda e necessária revisão dos conceitos de acesso à Justiça e, por
conseguinte, do direito de ação e de suas condições, nos parece legítimo – além de
deveras recomendável, como, aliás, já defenderam, a título de exemplo, Daniel Becker e
61 62
Bruno Feigelson , Giácomo Paro, Ricardo Dalmaso Marques e Ricardo Quass Duarte ,
63 64
Fernando da Fonseca Gajardoni e Rodolfo de Camargo Mancuso –, a necessidade de
esgotamento das vias extrajudiciais disponibilizadas ao cidadão para permitir a
65
comprovação do seu interesse processual e, assim, o seu direito de acesso ao
Judiciário, salvo nas hipóteses de urgência ou em situação especiais, evidentemente.

Longe de ser inédita, lastreia-se a proposta de lege lata no enriquecimento conceitual do


acesso à Justiça e do interesse de agir, de forma a trazê-los para a realidade judiciária
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contemporânea, imprimindo ao Judiciário o papel de ultima ratio, além da imperiosa


necessidade de sua responsável utilização como única forma de se efetivamente mudar a
cultura da sentença e passar-se a tão almejada cultura da pacificação.

Evidentemente, por fim, urge salientar que, em virtude do princípio da cooperação,


encerrado pelos artigos 6º e 10º do CPC (LGL\2015\1656), e do “novo” juiz paritário no
66
diálogo e assimétrico na decisão, nas lições de Daniel Mitidiero , impossível a extinção
da ação antes de se permitir que o autor comprove a tentativa extrajudicial de resolução
do conflito, devendo-lhe ser concedido eventual prazo caso assim não tenha procedido
previamente.

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Mesquita; RAVAGNANI, Giovani dos Santos (Coord.). Direito, Processo e Tecnologia. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020.

WATANABE, Kazuo. Acesso à ordem jurídica justa (conceito atualizado de acesso à


justiça) – processos coletivos e outros estudos. Belo Horizonte: Del Rey, 2018.
Página 8
Alternative Dispute Resolutions (ADR) e On-Line Dispute
Resolutions (ODR): porque os meios adequados de
resolução de controvérsias e o avanço tecnológico
implicam na necessária revisão do conceito de ...

WOLKART, Erik Navarro. Análise econômica do processo civil: como a economia, o


direito e a psicologia podem vencer a tragédia da justiça. São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2019.

YARSHELL, Flávio Luiz. Curso de Direito Processual Civil. São Paulo: Marcial Pons, 2014.
v. I.

YARSHELL, Flávio Luiz. O processo como instrumento de solução não adjudicada de


conflitos: novas perspectivas para o Direito Processual? Artigo inédito gentilmente cedido
pelo autor.

ZANETI JR., Hermes. O princípio da cooperação e o Código de Processo Civil: cooperação


para o processo. In: LUCON, Paulo Henrique dos Santos; FARIA, Juliana Cordeiro; MARX
Neto, Edgard Audomar; REZENDE, Ester Camila Gomes Norato. Processo civil
contemporâneo: homenagem aos 80 anos do professor Humberto Theodoro Júnior. Rio
de Janeiro: Forense, 2018.

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[www.consumidor.gov.br/pages/publicacao/externo/]. Acesso em: 17.12.2020.

1 Conselho Nacional de Justiça.

2 Código de Processo Civil.

3 Lei 13.140/2015.

4 Nesse o sentido: MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Acesso à Justiça condicionantes


legítimas e ilegítimas. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 268.

5 Servindo, a título de exemplo, os trabalhos dos Professores do Largo São Francisco:


SICA, Heitor Vitor Mendonça. O direito de defesa no processo civil brasileiro: um estudo
sobre a posição do réu. São Paulo: Atlas, 2011; e YARSHELL, Flávio Luiz. O processo
como instrumento de solução não adjudicada de conflitos: novas perspectivas para o
Direito Processual? Artigo inédito gentilmente cedido pelo autor.

6 CAPPELLETTI, Mauro; e GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabres, 1988.

7 Constituição Federal.

8 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil I. 10. ed. São
Paulo: Malheiros, 2020. p. 150.

9 WATANABE, Kazuo. Acesso à ordem jurídica justa (conceito atualizado de acesso à


Justiça) – processos coletivos e outros estudos. Belo Horizonte: Del Rey, 2019. p. 88.

10 Sobre o tema: “O acesso à justiça – por si só, um princípio constitucional – não se


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resolução de controvérsias e o avanço tecnológico
implicam na necessária revisão do conceito de ...

perfaz apenas pelo acesso aos tribunais, mas pelo acesso à ordem jurídica justa,
englobando uma série de requisitos acima enunciados. Nesse amplo conceito, o acesso à
justiça é regido pelos subprincípios da universalidade e adequação dos instrumentos
utilizados a atingir a solução dos conflitos. A principal meta do acesso à ordem jurídica
justa é a pacificação, que será maior ou menor de acordo com os métodos processuais
utilizados. Assim, o acesso à justiça concretiza-se pela jurisdição e o elemento essencial
da jurisdição é o acesso à justiça. Fechando-se esse círculo entre acesso à justiça e
jurisdição” (GRINOVER, Ada Pellegrini. Ensaio sobre a processualidade: fundamentos
para uma nova teoria geral do processo. Brasília, DF: Gazeta Jurídica, 2018. p. 83-84).

11 Acerca dos escopos da jurisdição: YARSHELL, Flávio Luiz. Curso de Direito Processual
Civil. São Paulo: Marcial Pons, 2014. v. I. p. 158-162; e DINAMARCO, Cândido Rangel;
LOPES, Bruno Carrilho Lopes. Teoria Geral do Novo Processo Civil. 4. ed. São Paulo:
Malheiros, 2019. p. 20-22. Contra: MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel. Curso de Processo Civil: teoria geral do processo. 5. ed. São Paulo.
Thomson Reuters Brasil, 2010. v. 1. p. 149-150: “Por isso, no atual estágio dos nossos
estudos, parece não ser adequado concluir que a jurisdição se caracteriza pelo fim da
pacificação social. É preciso, antes de tudo, analisar de que forma esse fim é obtido, ou
melhor, verificar a legitimidade do poder de resolução dos conflitos e das decisões
destinadas a regulá-los. Sem isso estaríamos aceitando que todo poder direcionado à
pacificação social é um poder jurisdicional e, assim, para dizer o mínimo, igualizando
jurisdição do Estado legislativo com a jurisdição do Estado Constitucional.”

12 Conforme leciona Kazuo Watanabe: “Pode-se afirmar assim, sem exagero, que os
meios consensuais de solução de conflitos fazem parte do amplo e substancial conceito
de acesso à justiça, como critérios mais apropriados do que a sentença, em certas
situações, pela possibilidade de adequação da solução à peculiaridade do conflito à sua
natureza diferenciada, às condições e necessidades especiais das partes envolvidas.
Trata-se, enfim, de um modo de se alcançar a justiça com maior equanimidade e
aderência ao caso concreto. Essa é a premissa que se deve ter em mente quando se
pensa em meio consensuais de conflitos: adequação da solução à natureza dos conflitos
e às peculiaridades e condições especiais das pessoas envolvidas. A redução do número
de processos a serem julgados pelos juízes, resultado que certamente ocorrerá com a
adoção deles, será mera consequência. E, sendo esses meios utilizados também na
solução dos conflitos ainda não judicializados, haverá mesmo a redução do número de
processos, e não apenas da quantidade de sentenças a serem proferidas” (WATANABE,
Kazuo. Op. cit., p. 82).

13 Sobre o tema, Rodolfo de Camargo Mancuso: “Impende reconhecer que certas


controvérsias, seja por sua excessiva latitude, abrangendo múltiplos pontos de vista,
seja por sua conotação não propriamente ou não predominantemente jurídica (conflitos
sócio-político-econômicos), sinalizam, ao menos num primeiro momento, para a
apreciação da espécie por outros agentes, órgãos e instâncias não integrantes da Justiça
estatal (Tribunais de Contas; Comissão de Valores Mobiliários; CADE; Tribunais de
Arbitragem; Tribunais Desportivos), mormente porque em muitos casos a intervenção da
Justiça estatal (lenta, onerosa, imprevisível, impactante), revela parca aptidão
institucional para o enfrentamento e desate de conflitos multiplexos. Isso, quando a
intervenção jurisdicional já não vem agravar o quadro preexistente, por conta da
morosidade da tramitação e da incerteza quanto ao resultado” (MANCUSO, Rodolfo de
Camargo. Op. cit., p. 371-372).

14 GRINOVER, Ada Pellegrini. Ensaio... Op. cit., p. 79.

15 Nesse sentido, ressalte-se as lições de Arruda Alvim: “[...] um aspecto bastante

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resolução de controvérsias e o avanço tecnológico
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inovador do CPC/2015 consiste em profissionalizar, regulamentar a atividade do


mediador e do conciliador (art. 165 e ss., que classificam os mediadores e conciliadores
como auxiliares da Justiça). Até a promulgação do Código, era a Res. 125/2010 do CNJ
(que estabelece uma política nacional para o tratamento de conflitos no âmbito do Poder
Judiciário) o diploma que mais diretamente regulava os meios de solução de conflitos
não litigiosos. Em junho de 2015, todavia, pouco mais de três meses após a aprovação
do CPC/2015, foi editada a Lei 13.140, verdadeiro marco legal da mediação no Brasil.
Tendo isso em vista, é necessário, enxergar conjuntamente o CPC/2015 e a Lei 13.140
como importantes passos rumo à superação dos obstáculos tanto estruturais quanto
culturais para a instalação de um sistema organizado de meios alternativos de solução
de conflitos” (Novo Contencioso Cível no CPC/2015: De acordo com o Novo CPC – Lei
13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 55-56).

16 Isso, principalmente porque, conforme lecionam, DINAMARCO, Cândido Rangel;


BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy; LOPES, Bruno Vasconcelos. Teoria Geral do
Processo. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2020. p. 49: “[...] o processo estatal só pacifica
a parte do conflito que houver sido judicializada e não todo o conflito social que está à
sua base e pode ser mais amplo que aquele deduzido em juízo (lides parciais). É comum
que, após a solução imperativa estatal, o vencido não fique satisfeito ou que as partes
voltem a litigar, porque a pacificação não terá sido completa.”

17 GRINOVER, Ada Pellegrini. Os métodos consensuais de solução de conflitos no novo


CPC. In: O novo Código de Processo Civil – questões controvertidas. São Paulo:
Gen-Atlas, 2015. p. 3.

18 Acerca da nomenclatura, cabe trazer advertência de Cândido Rangel Dinamarco: “Há


porém na doutrina brasileira uma posição que repudia o trato desses meios consensuais
como alternativos – porque, como foi dito, no estado atual da doutrina e das instituições
do país eles ombreiam com a jurisdição exercida pelo Estado (a qual deixaria de ser
preferencial no sistema), merecendo por isso ser considerados meios adequados e não
alternativos” (DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições... Op. cit., p. 432).

19 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições... Op. cit., p. 429.

20 Sobre a diferença entre mediação e conciliação: “A mediação assemelha-se à


conciliação: os interessados utilizam a intermediação de um terceiro, particular, para
chegarem à pacificação de seu conflito. Distingue-se dela somente porque a conciliação
busca, sobretudo, o acordo entre as partes, enquanto a mediação trabalha o conflito,
surgindo o acordo como mera consequência. Trata-se mais de uma diferença de método,
mas o resultado acaba sendo o mesmo” (DINAMARCO, Cândido Rangel [et al.]. Teoria…
Op. cit., p. 52. Ainda sobre a distinção entre os métodos: DIDIER, Jr., Fredie. Curso de
Direito Processual Civil 1: introdução ao Direito Processual Civil, Parte Geral e Processo
de Conhecimento. 18. ed. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 273-275; e GRINOVER, Ada
Pellegrini. Os… Op. cit., p. 4.

21 Acerca do tema: ALVIM, Arruda. Op. cit., p. 52-54.

22 A expressão é de GRINOVER, Ada Pellegrini. Os... Op. cit., p. 1-2.

23 “O Poder Judiciário finalizou o ano de 2019 com 77,1 milhões de processos em


tramitação, que aguardavam alguma solução definitiva. Desses, 14,2 milhões, ou seja,
18,5%, estavam suspensos, sobrestados ou em arquivo provisório, e esperavam alguma
situação jurídica futura. Dessa forma, desconsiderados tais processos, tem-se que, em
andamento, ao final do ano de 2019 existiam 62,9 milhões ações judiciais”. Disponível

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em:
[www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/08/WEB-V3-Justi%C3%A7a-em-N%C3%BAmeros-2020-atua
Acesso em: 17.12.2020. p. 93.

24 Sobre o tema: RODRIGUES, Marcelo Abelha. Técnicas individuais de repercussão


coletiva x técnicas coletivas de repercussão individual. Por que estão extinguindo a ação
civil pública para a defesa de direitos individuais homogêneos? In: MILARÉ, Édis. Ação
civil pública após 30 anos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 555-567.

25 Expressão cunhada por WATANABE, Kazuo. Op. cit., p. 67-73.

26 Sobre o tema, Kazuo Watanabe: “Todavia, a mentalidade forjada nas academias, e


fortalecida na práxis forense, que é aquela já mencionada de solução adjudicada
autoritariamente pelo juiz, por meio de sentença, mentalidade essa agravada pela
sobrecarga excessiva de serviços que têm os magistrados, vem fazendo com que os
dispositivos processuais citados sejam pouco utilizados. Há mesmo, o que é lastimável,
um certo preconceito contra esses meios alternativos, por sentirem alguns juízes que
seu poder poderá ficar comprometido se pessoas não pertencentes ao Poder Judiciário
puderem solucionar os conflitos de interesses. E há ainda, a falsa percepção de que a
função de conciliar é atividade menos nobre, sendo a função de sentenciar a atribuição
mais importante do juiz ... Disso tudo nasceu a chamada cultura da sentença, que se
consolida assustadoramente” (WATANABE, Kazuo. Op. cit., p. 67-68).

27 Relatório justiça em números 2020, p. 99.

28 O conceito de direito de ação talvez seja um dos temas mais complexos e estudados
no direito contemporâneo, extrapolando os limites desse simples ensaio, razão que
justifica remeter-se o leitor aos seguintes textos sobre o assunto, somente a título de
exemplo: CABRAL, Antonio do Passo. Alguns mitos do processo: a contribuição da
prolusione de Chiovenda em Bolonha para a Teoria da Ação. Revista de Processo, ano
38, vol. 216, p. 57-70, fev. 2013; e SICA, Heitor Vitor de Mendonça. Op. cit., p. 6-57.

29 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Op. cit., p. 259-271.

30 Nesse sentido: DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil


II. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2019. p. 350 e 357-361.

31 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva,


1969. v. I. p. 181. E na mesma linha de raciocínio, Enrique Tulio Liebman: “O interesse
de agir decorre da necessidade de obter através do processo a proteção do interesse
substancial; pressupõe, por isso, a assertiva da lesão desse interesse e a aptidão do
provimento pedido a protegê-lo e satisfazê-lo” (LIEBMAN, Enrique Tulio. Manual de
Direito Processual Civil. 2. ed. Tradução e notas Cândido Rangel Dinamarco. São Paulo:
Forense, 1985. v. I. p. 155.

32 YARSHELL, Flávio Luiz. Curso... Op. cit., p. 270-271.

33 YARSHELL, Flávio Luiz. Curso... Op. cit., p. 270.

34 YARSHELL, Flávio Luiz. Curso... Op. cit., p. 268.

35 GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Levando o dever de estimular a autocomposição a


sério: uma proposta de releitura do princípio do acesso à Justiça à luz do CPC/15.
Revista Eletrônica de Direito Processual – REDP, ano 14, vol. 21, nº 2, p. 99-114,

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maio-agosto 2020.

36 GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Op. cit., p. 113.

37 Ementa: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. PRÉVIO


REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO E INTERESSE EM AGIR. 1. A instituição de condições
para o regular exercício do direito de ação é compatível com o art. 5º, XXXV, da
Constituição. Para se caracterizar a presença de interesse em agir, é preciso haver
necessidade de ir a juízo. 2. A concessão de benefícios previdenciários depende de
requerimento do interessado, não se caracterizando ameaça ou lesão a direito antes de
sua apreciação e indeferimento pelo INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análise.
É bem de ver, no entanto, que a exigência de prévio requerimento não se confunde com
o exaurimento das vias administrativas. 3. A exigência de prévio requerimento
administrativo não deve prevalecer quando o entendimento da Administração for notória
e reiteradamente contrário à postulação do segurado. 4. Na hipótese de pretensão de
revisão, restabelecimento ou manutenção de benefício anteriormente concedido,
considerando que o INSS tem o dever legal de conceder a prestação mais vantajosa
possível, o pedido poderá ser formulado diretamente em juízo – salvo se depender da
análise de matéria de fato ainda não levada ao conhecimento da Administração –, uma
vez que, nesses casos, a conduta do INSS já configura o não acolhimento ao menos
tácito da pretensão. 5. Tendo em vista a prolongada oscilação jurisprudencial na
matéria, inclusive no Supremo Tribunal Federal, deve-se estabelecer uma fórmula de
transição para lidar com as ações em curso, nos termos a seguir expostos. 6. Quanto às
ações ajuizadas até a conclusão do presente julgamento (03.09.2014), sem que tenha
havido prévio requerimento administrativo nas hipóteses em que exigível, será
observado o seguinte: (i) caso a ação tenha sido ajuizada no âmbito de Juizado
Itinerante, a ausência de anterior pedido administrativo não deverá implicar a extinção
do feito; (ii) caso o INSS já tenha apresentado contestação de mérito, está caracterizado
o interesse em agir pela resistência à pretensão; (iii) as demais ações que não se
enquadrem nos itens (i) e (ii) ficarão sobrestadas, observando-se a sistemática a seguir.
7. Nas ações sobrestadas, o autor será intimado a dar entrada no pedido administrativo
em 30 dias, sob pena de extinção do processo. Comprovada a postulação administrativa,
o INSS será intimado a se manifestar acerca do pedido em até 90 dias, prazo dentro do
qual a Autarquia deverá colher todas as provas eventualmente necessárias e proferir
decisão. Se o pedido for acolhido administrativamente ou não puder ter o seu mérito
analisado devido a razões imputáveis ao próprio requerente, extingue-se a ação. Do
contrário, estará caracterizado o interesse em agir e o feito deverá prosseguir. 8. Em
todos os casos acima – itens (i), (ii) e (iii) –, tanto a análise administrativa quanto a
judicial deverão levar em conta a data do início da ação como data de entrada do
requerimento, para todos os efeitos legais. 9. Recurso extraordinário a que se dá parcial
provimento, reformando-se o acórdão recorrido para determinar a baixa dos autos ao
juiz de primeiro grau, o qual deverá intimar a autora – que alega ser trabalhadora rural
informal – a dar entrada no pedido administrativo em 30 dias, sob pena de extinção.
Comprovada a postulação administrativa, o INSS será intimado para que, em 90 dias,
colha as provas necessárias e profira decisão administrativa, considerando como data de
entrada do requerimento a data do início da ação, para todos os efeitos legais. O
resultado será comunicado ao juiz, que apreciará a subsistência ou não do interesse em
agir” (RE 631.240, Min. Rel. Roberto Barroso, julgamento em 03.12.2014).

38 Ementa: “PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS EM CADERNETA DE
POUPANÇA. EXIBIÇÃO DE EXTRATOS BANCÁRIOS. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. INTERESSE DE AGIR. PEDIDO PRÉVIO À INSTITUIÇÃO FINANCEIRA E
PAGAMENTO DO CUSTO DO SERVIÇO. NECESSIDADE. 1. Para efeitos do art. 543-C do

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resolução de controvérsias e o avanço tecnológico
implicam na necessária revisão do conceito de ...

CPC, firma-se a seguinte tese: A propositura de ação cautelar de exibição de


documentos bancários (cópias e segunda via de documentos) é cabível como medida
preparatória a fim de instruir a ação principal, bastando a demonstração da existência de
relação jurídica entre as partes, a comprovação de prévio pedido à instituição financeira
não atendido em prazo razoável, e o pagamento do custo do serviço conforme previsão
contratual e normatização da autoridade monetária. 2. No caso concreto, recurso
especial provido” (REsp 1.349.453/MS, Min. Rel. Luis Felipe Salomão, julgamento em
10.12.2014). No mesmo sentido é o REsp Repetitivo 982.133/RS.

39 Ementa: “APELAÇÃO – Tratamento médico – Hemodiálise – Demanda proposta para


obtenção do restabelecimento de tratamento fornecido por clínica conveniada ao SUS –
Sentença de extinção do feito, sem julgamento, em razão da ausência do interesse
processual – Não comprovada a resistência da ré em fornecer o tratamento pretendido –
Recurso não provido” (1ª Câmara de Direito Público, Apelação
1024744-69.2015.8.26.0114, Rel. Des. Aliende Ribeiro, julgamento em 05.02.2019).

40 Ementa: “PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. TELEFONIA. PRODUÇÃO ANTECIPADA DE


PROVAS. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL POR FALTA DE INTERESSE DE AGIR.
PEDIDO PRÉVIO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO. CARÊNCIA DE AÇÃO MANTIDA.
ELEVAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA EM VIRTUDE DE ATUAÇÃO RECURSAL. APELO
IMPROVIDO, COM OBSERVAÇÃO. 1. Consoante entendimento jurisprudencial pacificado,
que há de ser aplicado neste âmbito, só se justifica a propositura diante da efetiva
necessidade de atuação jurisdicional, o que se demonstra mediante a apresentação de
que houve a solicitação do fornecimento da documentação por via administrativa. 2. No
caso em exame, ausente está a demonstração de que houve prévia formulação do
pedido extrajudicial de exibição, o que desautoriza reconhecer a existência de
necessidade de utilização da via jurisdicional para a obtenção do resultado pretendido. 3.
Diante desse resultado e nos termos do artigo 85, § 11, do CPC, eleva-se a verba
honorária sucumbencial a R$ 950,00” (31ª Câmara de Direito Privado, Apelação
1029281-80.2020.8.26.0002, Rel. Des. Antonio Rigolin, julgamento em 15.11.2020).

41 Ementa: “OBRIGAÇÃO DE FAZER – CDHU – Pleito de outorga de escritura definitiva


com preceito cominatório – Extinção do feito sem resolução do mérito por carência da
ação por falta de interesse de agir – Averbação e individualização da matrícula em data
anterior à propositura da ação – Autores que não comprovaram a recusa de efetuar o
procedimento – Recurso desprovido” (9ª Câmara de Direito Privado, Apelação
1020400-63.2017.8.26.0344, Rel. Des. Galdino Toledo Júnior, julgamento em
27.08.2019).

42 Assim, Fernando da Fonseca Gajardoni: “O que se propugna por aqui é fomentar o


uso responsável do sistema de Justiça, com participação ativa das partes na busca da
solução consensual do conflito. A solução adjudicada da pendenga, via juiz, deve mesmo
ser reservada para casos extremos, derivados de fatos complexos, de questões dúbias
ou juridicamente intrincadas, não sobre temas a cujo respeito haja previsão expressa da
lei ou precedentes qualificados dos Tribunais (art. 927 do CPC). A judicialização dos
conflitos não pode ser utilizada pelo demandante para buscar vantagem desproporcional,
e nem servir ao demandado para postergar o cumprimento da obrigação que sabe ser
devida” (GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Op. cit., p. 112).

43 BECKER, Daniel; e FEIGELSON, Bruno. Acesso à justiça para além de Cappelletti e


Garth: a resolução de disputas na era digital e o papel dos métodos on-line de resolução
de conflitos (ODR) na mitigação da crise de justiça do Brasil. In: LUCON, Paulo Henrique
dos Santos; WOLKART, Erik Navarro; LAUX, Francisco de Mesquita; RAVAGNANI, Giovani
dos Santos (Coord.). Direito, Processo e Tecnologia. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,

Página 14
Alternative Dispute Resolutions (ADR) e On-Line Dispute
Resolutions (ODR): porque os meios adequados de
resolução de controvérsias e o avanço tecnológico
implicam na necessária revisão do conceito de ...

2020. p. 205-220.

44 HÖRNLE, Julia. Encouraging On-line Dispute Resolution in the EU and Beyond-


Keeping Costs Low or Standards High? Queen Mary University of London, School of Law
and Legal Studies Research. Paper n. 122, 2012. p. 3. E continua a autora: “As a
concept ODR arose from, and is based on Alternative Dispute Resolution (ADR) which
refers to extra-judicial dispute resolution process such as arbitration and mediation.
However, in addition to processes such as on-line mediation and on-line arbitration, ODR
has developed innovative on-line processes, such as mock trials (where a ‘jury’ of on-line
volunteers give a verdict based on a set of facts as a form of crowd sourcing) or
blind-bidding negotiation techniques (where each party makes successive monetary
settlement offers, which are not disclosed to the other party and lead to a settlement if
and when the bids come within close reach of each other)”. Igualmente sobre o tema,
Pablo Cortes: “When dispute resolution processes do not require the physical presence of
the parties and allow for on-line communications, they are commonly referred as on-line
dispute resolution (ODR) processes” (CORTES, Paulo. Using Technology And ADR
Methods To Enhace Acess To Justice. International Journal of On-line Dispute Resolution,
p. 103-121, 5 (1), 2019. Finalmente, entre nós, também sobre o conceito de ODR:
MARQUES, Ricardo Dalmaso. A resolução de disputas on-line (ADR): do comércio
eletrônico ao seu efeito transformador sobre o conceito e a prática do acesso à justiça.
Revista de Direito e Novas Tecnologias, v. 5, out.-dez./2019.

45 SURIANI, Fernanda Mattar Furtado. Access to justice and consumidor.gov case. In:
LUCON, Paulo Henrique dos Santos; WOLKART, Erik Navarro; LAUX, Francisco de
Mesquita; RAVAGNANI, Giovani dos Santos (Coord.). Direito, Processo e Tecnologia. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. p. 237-258, notadamente p. 239.

46 BECKER, Daniel; FEIGELSON, Bruno. Op. cit., p. 210.

47 HÖRNLE, Julia. Op. cit., p. 7.

48 Fazendo-se aqui referência ao sistema multiportas de SANDER, Frank E. The


Multi-Door Courthouse: Settling Disputes in the Year 2000. Hein On-line: 3 Barrister 18,
1976.

49 Expressão de WATANABE, Kazuo. Op. cit.

50 Como leciona Ada Pellegrini Grinover: “O principal fundamento da justiça conciliativa


é a pacificação”. (GRINOVER, Ada Pellegrini. Ensaio... Op. cit., p. 66).

51 WOLKART, Erik Navarro. Análise econômica do processo civil: como a economia, o


direito e a psicologia podem vencer a tragédia da justiça. São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2019. p. 354. Sobre o tema, o autor: “A assimetria de informação é
classicamente considerada a principal causa de insucesso na tentativa de entabulamento
de acordos. Antes de o processo iniciar-se, e mesmo durante a sua tramitação, é muito
provável que as múltiplas facetas da realidade tenham sido captadas pelas partes de
modo diferente (incerteza interpretativa). Mais do que isso, é possível que algumas
dessas lâminas da realidade tenham apresentando-se para apenas uma das partes,
configurando-se como informação privativa, totalmente desconhecida da outra parte
(assimetria da informação propriamente dita)”.

52 DUCA, Louis F. Del; RULE, Colin; RIMPFEL, Kathryn. eBay's De Facto Low Value High
Volume Resolution Process: Lessons and Best Practices for ODR Systems Designers.
Arbitration Law Review, vol. 6, 2014.

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Resolutions (ODR): porque os meios adequados de
resolução de controvérsias e o avanço tecnológico
implicam na necessária revisão do conceito de ...

53 WOLKART, Erik Navarro. Op. cit., p. 728.

54 WOLKART, Erik Navarro. Op. cit., p. 728. Giácomo Paro, Ricardo Delmaso Marques e
Ricardo Quass Duarte também apontam qual a razão do sucesso da experiência: “Alguns
pontos de destaque desse sistema são, portanto: (1) a preocupação em evitar que a
insatisfação do usuário chegue a um conflito, a partir de informações fornecidas logo de
início sobre os principais problemas que podem ser vivenciados; (2) a busca dos
usuários pela preservação de sua reputação na plataforma, de modo a garantir novas
transações e recorrência; (3) o alto volume de dados relativos às disputas, que são
utilizados pelas empresas para melhorar seus serviços, antever possíveis conflitos e
também oferecer soluções cada vez mais precisas; e (4) a efetividade dos acordos e
decisões tomadas, que podem ser implementadas prontamente (por exemplo, ao se
cobrar ou se estornar valores diretamente no cartão de crédito ou na conta de
pagamento do usuário na plataforma” (“On-line Dispute Resolution (ODR) e o interesse
processual.” PARO, Giácomo; MARQUES, Ricardo Delmaso; DUARTE, Ricardo Quass. In:
LUCON, Paulo Henrique dos Santos; WOLKART, Erik Navarro; LAUX, Francisco de
Mesquita; RAVAGNANI, Giovani dos Santos (Coord.). Direito, Processo e Tecnologia. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. p. 277-325, especialmente 295-296).

55 Boletim Consumidor.gov.br 2019, p. 3. Disponível em:


[www.consumidor.gov.br/pages/publicacao/externo/]. Acesso em: 17.12.2020.

56 Boletim Consumidor.gov.br 2019, p. 4. Disponível em:


[www.consumidor.gov.br/pages/publicacao/externo/]. Acesso em: 17.12.2020

57 Boletim Consumidor.gov.br 2019, p. 3. Disponível em:


[www.consumidor.gov.br/pages/publicacao/externo/]. Acesso em: 17.12.2020.

58 SURIANI, Fernanda Mattar Furtado. Op. cit., p. 258.

59 Idem.

60 PARO, Giácomo [et al.]. Op. cit., p. 281.

61 “A eficiência proporcionada pelos métodos de ODR é uma questão de justiça social.


Defendemos aqui, portanto, que o condicionamento prévio do ajuizamento da ação à
tentativa de resolução do conflito pela via extrajudicial funcionada como desarmador
para a bomba-relógio que se tornou o Poder Judiciário do ponto de vista de custo
financeiro e de oportunidade para o erário e para a sociedade. A resolução extrajudicial
de conflitos como pré-requisito de acesso ao Poder Judiciário, embora reputada como
vilã por parte da doutrina ortodoxa, na verdade, cria um ônus para a parte ré no caso de
procedência da ação. Dito de outra forma, a eventual negativa de composição pode
significar o aumento do rigor das condenações, criando, por força da economia
comportamental, incentivos para que as partes em conflito resolvam-se de forma
autônoma, eficiente, rápida e justa. Como visto, não há barreira legal, econômica ou
social para aplicação da teoria aqui defendida, mas tão somente feixes de uma
ancoragem cultural que, rapidamente, será levantada. É preciso içar as velas para uma
nova dinâmica de resolução de conflitos, na qual ‘os indivíduos somente ajuízem ações
judiciais como última opção para a solução de uma controvérsia’” (BECKER, Daniel;
FEIGELSON, Bruno. Op. cit., p. 219).

62 “Para tanto, é perfeitamente lícito ao juiz suspender e/ou extinguir o processo,


quando o demandante não demonstre ter procurado o demandado previamente ao

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Alternative Dispute Resolutions (ADR) e On-Line Dispute
Resolutions (ODR): porque os meios adequados de
resolução de controvérsias e o avanço tecnológico
implicam na necessária revisão do conceito de ...

ingresso da demanda para satisfazer a sua pretensão. Essas soluções são absolutamente
compatíveis com a garantia de acesso ao Poder Judiciário, na medida em que permitem
uma solução mais adequada, simples, célere e eficaz ao conflito. Ademais, é inequívoco
que elas terão um poderoso efeito pedagógico (em termos de incentivos) para as partes
e seus advogados, pois saberão, de antemão, que o processo corre o risco de ser
suspenso ou extinto caso a solução extrajudicial não seja ao mesmo tentada. Vale
destacar, por fim, que, nos termos do art. 2º, IV, do Código de Ética e Disciplina da
Ordem dos Advogados do Brasil, é dever o advogado “estimular, a qualquer tempo, a
conciliação e a mediação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a
instauração de litígios” – o que claramente inclui os eficientes métodos de ODR na
realidade atual” (PARO, Giácomo; MARQUES, Ricardo Delmaso; DUARTE, Ricardo Quass.
Op. cit., p. 325).

63 Ver página 8.

64 Ver página 7.

65 Contra, Renato Resende Beneduzi, segundo o qual é impossível a imposição de


determinada “porta” à parte, que mesmo prontamente aconselhada e estimulada a
seguir por determinado caminho, pode voluntariamente decidir por outro método
teoricamente menos adequado à resolução do seu conflito (BENEDUZI, Renato Resende.
Teoria Geral do Litígio. In: MENDES, Aluísio Gonçalves de Castro; BEDAQUE, José
Roberto dos Santos; CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro; ALVIM, Teresa Arruda. O Novo
Processo Civil Brasileiro: Temas relevantes – Estudos em homenagem ao Professor,
Jurista e Ministro Luiz Fux. Rio de Janeiro: LMJ Mundo Jurídico, 2018. p. 415-436,
especialmente 429); assim como recentes decisões do Tribunal de Justiça de São Paulo,
v.g.: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. Ação revisional. Decisão agravada que determina a
suspensão do processo por 30 dias para que a parte autora promova registro de
reclamação no portal consumidor.gov.br, comprove que se utilizou da ferramenta e que
não obteve solução. Ausência de norma legal que determine o uso de tal ferramenta.
Impossibilidade de suspensão do feito. Decisão reformada. Agravo provido para revogar
a ordem de suspensão” (Agravo de Instrumento 2016200-53.2020.8.26.0000, Relator
Des. Décio Rodrigues, 21ª Câmara de Direito Privado, julgamento em 19.03.2020).

66 MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e


éticos. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 99. Também sobre o tema
ZANETI Jr., Hermes. O princípio da cooperação e o Código de Processo Civil: cooperação
para o processo. In: LUCON, Paulo Henrique dos Santos; FARIA, Juliana Cordeiro; MARX
Neto, Edgard Audomar; REZENDE, Ester Camila Gomes Norato. Processo civil
contemporâneo: homenagem aos 80 anos do professor Humberto Theodoro Júnior. Rio
de Janeiro: Forense, 2018. p. 142-153.

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