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- Varíola e vacinação
- Peste bubônica e extermínio dos ratos
- Febre amarela - combate aos mosquitos
“O sucesso das campanhas dependeu de regulamentações jurídicas
que ampliaram o poder das autoridades sanitárias, sobretudo em
relação à notificação obrigatória dos casos de doenças infecciosas.
Para punir os “sonegadores de doentes” e outros infratores, criou-se
uma instância específica do judiciário, o Juízo dos Feitos da Saúde
Pública. Em maio de 1903, o projeto de lei que a reorganizava
começou a tramitar no Congresso, onde foi duramente combatido pela
oposição, tendo sido aprovado, com mutilações, somente em janeiro
de 1904.” (p. 41)
“Antes mesmo da nomeação de Oswaldo Cruz, o prefeito Pereira Passos
havia intensificado a polícia sanitária nas habitações. Comissários de
higiene e acadêmicos de medicina, divididos em turmas que eram
acompanhadas por carroças da Limpeza Pública, vistoriavam domicílios
do Centro e da zona portuária, recorrendo com frequência à polícia para
expurgar reservatórios de água, bueiros, ralos e valas, desocupar sótãos
e porões, confiscar galinhas e porcos, prescrever reformas imediatas ou
interditar prédios considerados ruinosos e insalubres. Esse serviço foi
incorporado à Diretoria Geral de Saúde Pública e se converteu no Serviço
de Profilaxia Específica da Febre Amarela.” (p. 41-2)
“Em junho de 1904, foi submetido ao Congresso o projeto de lei
reinstaurando a obrigatoriedade da vacinação e revacinação
contra a varíola em todo o território da República, com cláusulas
rigorosas que incluíam multas aos refratários e a exigência de
atestado para matrículas em escolas, acesso a empregos públicos,
casamentos, viagens etc.”
- Aumentou oposição a vacina - 5 de novembro de 190 - fundação
da Liga Contra a vacinação obrigatória
“A lei da vacina obrigatória foi aprovada em 31 de outubro de 1904. Quando os
jornais publicaram, em 9 de novembro, o esboço do decreto que ia regulamentar
o “Código de Torturas”, a cidade foi paralisada pela Revolta da Vacina por mais de
uma semana (Sevcenko, 1984; Chalhoub, 1996; Carvalho, 1987). Esse
movimento, que a literatura da época reduziu a um simples choque entre as
massas incivilizadas e a imposição inexorável da razão e do progresso, foi
protagonizado por forças sociais heterogêneas, compondo-se, na realidade, de
duas rebeliões imbricadas: o grande motim popular contra a vacina e outras
medidas discricionárias e segregadoras impostas em nome do “embelezamento”
e “saneamento” da cidade, e a insurreição militar deflagrada dias depois, com o
objetivo de depor o presidente Rodrigues Alves.” (p. 43-4)
- Golpe militar planejado para derrubar Rodrigues Alves - seria
executado na noite de 17 de outubro de 1904 - Lauro Sodré
assumiria a presidência - denúncia de conspiração na imprensa -
frustração dos planos
- Os dois movimentos acontecem ao mesmo tempo
- Revolta da Vacina - 10 de novembro de 1904 - primeiros choques
entre os populares e as forças policiais - os confrontos
aumentaram - Rodrigues Alves convocou Exército e Marinha
“Rodrigues Alves convocou o Exército e a Marinha, e os combates
começaram cedo no dia 14. Só na rua Senhor dos Passos foram virados e
queimados 17 bondes. O motim alastrou-se por Vila Isabel, São Cristóvão e
outros bairros. Reunidos no Clube Militar, os oficiais insubordinados
intimaram o presidente a demitir o ministro da Justiça. Na madrugada do dia
15, deflagraram o golpe. Sob a chefia do general Travassos e de Lauro
Sodré, cerca de 300 alunos da Escola Militar da Praia Vermelha marcharam
em direção ao Palácio do Catete. Esperavam convergir com as forças
provenientes de Realengo e da fortaleza de São João, onde a revolta fora,
porém, neutralizada.”
“Na rua da Passagem, defrontaram-se com as tropas fiéis ao governo.
Houve tiroteio, mortos e feridos, e ali soçobrou a revolta militar. Mas a
popular continuou a arder, e os navios de guerra chegaram a apontar
os canhões para os quarteirões populares da Saúde e Gamboa. No
dia 16, o Congresso votou o estado de sítio no Distrito Federal. À
tribuna subiam parlamentares governistas e oposicionistas para
invectivar, com igual menosprezo, os rebeldes pobres, que eram
amontoados em navios prisão e despachados para o Acre, nos
confins da floresta amazônica.” (p. 44-5)
“Ao analisar as vacinações de uma perspectiva de mais longa duração,
Chalhoub recupera uma dimensão da revolta que permaneceu
inteiramente oculta tanto nos relatos de época como nas fontes
historiográficas mais conhecidas: a tradição negra de combate à varíola
pela prática ancestral das variolizações. “Há uma explicação [...] para o
fato de a principal revolta coletiva contra o ‘despotismo sanitário’ haver
ocorrido em função [da] [...] varíola: além dos descaminhos técnicos e
burocráticos do serviço de vacinação em todo um século de história,
havia sólidas raízes culturais negras na tradição vacinofóbica.”
“Um dos mananciais da revolta seria, então, o culto a Omolu, o
orixá que tinha o poder de espalhar a doença e, ao mesmo tempo,
de defender “seus devotos de estragos maiores [...] por meio da
inoculação ritual de material varioloso”. Criar obstáculos à ação
dessa divindade ou impor a vacina animal preparada no Instituto
Vacinogênico significava devastação e morte para esse grupo
social.” (p. 47)