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L.E.R.

CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti


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Fisiopatologia das Lesões por Esforços Repetitivos


Fascículo 2

PREFÁCIO
A discussão dos aspectos psicossocias das LER apresentam possam ser ori-
LER foge do escopo deste trabalho. Cabe ginados por alterações somáticas
aqui examinar, dentro das limitações atuais periféricas que, pela duração ou
que as ciências biológicas e nossas próprias intensidade, acabem por influen-
limitações pessoais que impõem, os mecanis- ciar a homeostase psicossomática,
mos que, do ponto de vista fisiopatológico, produzindo perturbações
podem estar implicados na produção dos psíquicas que representam a
sintomas (dor e disfunção) e dos sinais manifestação legítima de distúrbi-
clínicos (inflamação, compressão nervosa, os resultantes de características
lesão tendínea) associados às doenças que, pessoais de cada trabalhador e
no seu conjunto, constituem a síndrome da exposição aos ambientes
conhecida como LER. competitivos e pouco atentos às
Muitas das informações e conceitos discuti- necessidades individuais, como é
As lesões por esforços repetitivos foram dos neste fascículo estão sendo pesquisados no mundo atual.
definidas, no Brasil, como “afecções que em contextos não relacionados com as LER
podem acometer tendões, sinóvias, múscu- e sua aplicação, no que diz respeito às Ao decidir examinar as possíveis causas
los, nervos, fáscias, ligamentos, isolada ou doenças ocupacionais, precisa ser mais bem para os fenômenos clínicos associados às
associadamente, com ou sem degeneração investigada. lesões por esforços repetitivos, o fizemos com
dos tecidos, atingindo principalmente, a esperança de motivar os médicos, psicólo-
porém não somente, os membros superiores, No entanto, preferimos aceitar que as gos e pesquisadores das ciências biológicas,
região escapular e pescoço. As LER têm LER são causadas por distúrbios biológi- a se interessarem pela procura das causas
origem ocupacional, decorrente, cos, cuja natureza ainda não conseguimos básicas das tendinites, tenossinovites, bur-
de forma combinada ou não, de: compreender, a considerar que as pessoas sites e neurites desencadeadas pelos esforços
1. uso repetitivo de grupos mus- acometidas sejam “neuróticas”, “histéricas” físicos e pelas situações de estresse. Serão
culares; 2. uso forçado de grupos ou simplesmente simuladoras. O grande necessários esforços para criar modelos de
musculares; 3. manutenção de número de pessoas que sofrem com uma pesquisa e estudar os aspectos histológicos,
postura inadequada”32. das variantes das LER no mundo todo e o moleculares e imunológicos das estruturas
conhecimento da história do trabalho, que acometidas pelas alterações inflamatórias e
O desconhecimento de muitos aspectos contém relatos de doenças ocupacionais degenerativas que acompanham as LER.
patológicos das LER perdura até hoje, no idênticas ao que hoje denominamos LER,
mundo todo e, em função dos fortes com- e que ocorreram num contexto de produção Procuramos examinar ainda, possíveis cor-
ponentes psicossociais e econômicos que completamente diferente do que hoje relações que existam entre as estruturas
envolvem o assunto, acabou gerando, em conhecemos, nos obrigam a pensar que os anatômicas músculo-esqueléticas que
escala mundial, uma polarização de “neuróticos” e “histéricos” das LER talvez garantem a execução das funções do
opniões. De um lado estão os que defen- sofram doenças cujos mecanismos biológicos Aparelho Locomotor e suas vias de inte-
dem o ponto de vista de que a dor e a desencadeadores e mediadores ainda não gração com o Sistema Nervoso Central,
disfunção causadas pelas LER são conse- conhecemos. controlador dos nossos movimentos e pos-
quências de lesões orgânicas relacionadas turas, armazém das nossas emoções e con-
com o trabalho. Do outro lado estão Preferimos também acreditar que os trolador de nossa saúde, considerada em
grupos que entendem que as LER repre- estados emocionais tão evidente- seu sentido mais amplo.
sentam situações de neurose compensatória, mente alterados e carregados de
conversão, fadiga ou simplesmente simu- conotação negativa que os
lação.01 pacientes com um dos tipos de Dr. Sergio Nicoletti

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Figura 1:
Ilustração com as
As estruturas anatômicas acometidas
regiões mais
frequentemente pelas LER estão localizadas no
acometidas pelas LER: interior das articulações (ligamentos,
1- Região cervical sinóvias, cápsulas) ou ao seu redor
2- Ombros (tendões, músculos, fáscias e nervos)
3- Mão e punho (fig.1). Nessas regiões concentram-se,
4- Cotovelo
5- Região lombar naturalmente, grande parte das cargas
originadas pelos músculos, durante a
realização dos movimentos necessários
para as atividades de nossa vida diária.
A magnitude das cargas suportadas
pelas nossas articulações é muito
grande, mesmo quando o movimento
que realizamos é muito simples.

Por exemplo, sempre que elevamos o


membro superior para alcançar um
objeto, a carga gerada sobre os
tendões do manguito dos músculos
rotadores do ombro é da ordem de
nove vezes o peso da extremidade24, o
que significa cerca de 40kg para uma
pessoa de aproximadamente 70kg de
peso e envergadura média. Essa
aparente desproporção de cargas
suportadas pelas articulações é devida
à composição das alavancas ósseas
que compõem os nossos membros.

Apesar das cargas que incidem sobre


as articulações serem muito grandes,
nós não sentimos a sua presença
porque existe um equilíbrio muito efi-
caz entre as forças que as controlam,
de maneira que as cargas originadas
pelos grupos musculares que as movi-
mentam são neutralizadas por forças
criadas por grupos musculares opo-
nentes. Desse modo, quando a
somatória das forças é zero, a arti-
culação fica estável e não percebemos
o trabalho que os nossos músculos têm
que realizar para que possamos elevar
o nosso braço.

Quando, no entanto, se estabelecem

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ANATOMIA
DAS ESTRUTURAS MAIS ACOMETIDAS PELAS LER

desequilíbrios entre os grupos mus- tensão, as fibras onduladas paralelas mente importante porque, nos locais
culares controladores dos movimen- alongam-se na direção da força de em que as cargas se concentram
tos (essa é uma situação relativa- tensão. (fig. 2). Quando a carga é ocorrem lesões que podem ser agu-
mente comum em pacientes porta- interrompida, as fibras elásticas aju- das, como o rompimento de um liga-
dores de “bursites”e “tendinites”do dam a reorientar a configuração das mento produzido por um entorse,
ombro), a magnitude das forças fibras onduladas de colágeno e, ou acumulativas, como ocorrem nas
envolvidas produz alterações impor- desde que a força tencionadora não lesões por esforços repetitivos.
tantes nos tendões e cápsulas articu- tenha excedido o limite da resistên-
lares que, por sua vez, podem sofrer cia mecânica do tendão, este voltará Tanto os tendões quanto as cápsulas
lesões decorrentes dos esforços adi- à sua situação normal de repouso, e os ligamentos são “equipados”
cionais a que são submetidos. sem sofrer lesões (fig. 3). com sensores proprioceptivos e noci-
ceptivos (fig.4), que informam o
RELAÇÃO cérebro sobre a posição dos segmen-
TENDÕES E LIGAMENTOS tos corpóreos no espaço e sobre as
ESTRUTURA-FUNÇÃO
condições ambientais locais, que
Os tendões são compostos de fibras
DOS TENDÕES possam representar perigo de lesão
colágenas onduladas e dispostas em tissular04,10,16,21.
paralelo, entremeadas por fibras de Os tendões e os ligamentos são
elastina e reticulina, que propor- estruturas adaptadas para exercer a O mecanismo de retroalimentação
cionam volume ao conjunto05. função de transmitir as cargas do neural existente na cápsula articular,
Todas essas estruturas estão suspen- músculo para o osso (tendão) ou de nos ligamentos e nos tendões pro-
sas em um substrato gelatinoso que osso para osso (ligamento). A tege os estabilizadores estáticos e
reduz a fricção entre os compo- função principal de ambos é modu- provê estabilização dinâmica adi-
nentes das fibras. lar a transmissão das forças, de cional (unidade miotendínea),
maneira que não haja concentração impedindo que haja deslocamentos
Quando o tendão é submetido a brusca de cargas entre os vários que excedam os limites mecânicos
componentes do sistema músculo- dos estabilizadores estáticos.38
esquelético. Essa função é extrema-

Figura 2:
Representação esquemática
da estrutura de um tendão
submetido a tensão, dentro de
limites fisiológicos. As fibras Figura 3:
onduladas se alongam e retifi- Representação esquemática
cam, ao mesmo tempo em que da estrutura de um tendão em
modulam a transmissão da repouso. As fibras onduladas
carga originada no músculo adquirem sua conformação
e passada para o osso. normal de repouso.

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Ele exerce também o importante


papel de informar o cérebro sobre a ALTERAÇÕES
configuração química e a situação ESTRUTURAIS DOS
estrutural dos feixes de colágeno TENDÕES RELACIONADAS
que confere as propriedades físicas COM OS ESFORÇOS
do tendão, principalmente sua
resistência às tensões, e o comporta- Tendões e ligamentos são muito sen-
mento viscoelástico que apresentam. síveis às tensões e aos movimentos,
tanto à falta quanto ao excesso
Tal como todos os outros sistemas deles. Pode-se considerar que,
biológicos, as propriedades físicas para cada tendão e ligamento,
e químicas dos tendões e liga- existe um limiar particular de
mentos variam com diversos atividade necessária para manter
fatores como a idade, o sexo, sua homeostase. As lesões
a temperatura, a presença de tendíneas podem assumir propor-
fatores hormonais, atividade, etc. ções macroscópicas, que tornam
possível sua observação direta.
A idade influi na velocidade da
regeneração dos tecidos gastos e na Esse estágio de lesão macroscópica,
qualidade da reparação tissular; as no entanto, não se instala brusca-
variações hormonais, como as rela- mente, a menos que ocorra um trau-
cionadas com gravidez e menopausa, matismo de proporções suficientes
interferem com as propriedades para ultrapassar a resistência
biofísicas do tecido conjuntivo do mecânica do tendão e romper suas
sexo feminino; a atividade física estruturas fibrilares. Muitas das
desempenha um importante papel lesões tendíneas evoluem gradual-
na manutenção da homeostase do mente, no interior do tendão, sem
sistema músculo-esquelético, seja que seja possível vizibiliza-las, a
garantindo a normalidade de mús- menos que as examine ao
culos e tendões - quando essas estru- microscópio. Sua evolução envolve a
turas são usadas dentro dos limites participação de várias enzimas
funcionais de cada indivíduo, seja degradativas como a gelatinase, uma
produzindo lesões, que se instalam elastase neutrofílica detectável nos
quando os limites pessoais de reser- tendões por métodos histoquímicos,
va funcional são ultrapassados. que participa na regulação do
“turnover” das fibras elásticas do
tendão36.

Figura 4: Em um trabalho feito em amostras


Representação esquemática de tendões obtidos de pacientes
das terminações nervosas operados e de cadáveres18, foram
proprioceptivas existentes estudados espécimes obtidos de 891
nos tendões, ligamentos tendões rompidos espontaneamente.
e cápsulas articulares.
A- Terminações nervosas livres
As amostras dos tendões foram obti-
B- Corpúsculo de Meissner das durante cirurgias para tratamen-
C- Disco de Merkel to da ruptura de 379 tendões de
D- Corpúsculo de Ruffini Aquiles, 302 tendões do bíceps, 40
E- Corpúsculo de Pacini

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tendões extensores longos do pole- hipertrofia das camadas íntima e cabeça longa do músculo bíceps do
gar, 82 tendões do quadríceps e 70 média das paredes dos vasos. Nesse braço 30,31, e visou a pesquisa de
outros tendões. Foram examinados, grupo, 16% apresentaram artrite e alterações microscópicas das fibras
ainda, 445 espécimes de tendões de arteriolite proliferativa. As mesmas tendíneas existentes em tendões que,
cadáveres de indivíduos hígidos alterações foram encontradas em 2/3 macroscopicamente fossem normais.
(grupo-controle), obtidos durante dos tendões do grupo-controle, cujo
autópsia. exame microscópico evidenciou Foi estudado o tendão da cabeça
alterações patológicas. Alterações da longa do músculo bíceps do braço,
A análise histopatológica dos microvasculatura e da estrutura física que tem sua insersão proximal no
espécimes foi feita com microscópio dos tendões podem ser produzidas tubérculo supraglenoidal e a distal,
óptico e de luz polarizada, além de em indivíduos normais, como já na tuberosidade bicipital do rádio
microscopia eletrônica. A idade mencionamos, por influências (fig. 5). Sua função é a estabilização
média dos pacientes foi de 49 anos, mecânicas (sobrecargas ), bioquímicas da cabeça do úmero, principalmente
e do grupo controle foi de 48 anos. e hormonais (distúrbios hormonais, quando o membro superior é eleva-
Os tendões de indivíduos de ambos imunológicos, estresse, alimentação, do, e durante a supinação do ante-
os sexos foram examinados em con- etc.). braço19. Esse tendão foi escolhido
junto porque não foram encontradas Foi concluído que alterações porque, mesmo com a realização
variações significantes entre os sexos degenerativas podem aparecer dos movimentos normais, usados
masculino e feminino. Com relação em população urbana, a partir durante as nossas atividades diárias,
ao tipo de vida, 20% dos indivíduos dos 35 anos de idade e que essas as cargas que incidem sobre ele são
tinham vida sedentária, 40% eram alterações predispõem à ruptura de magnitude considerável, motivo
moderadamente sedentários, 34% expontânea do tendões. Essa pelo qual, com frequência, os
moderadamente ativos e 6% eram faixa etária é a que mais sofre ombros são acometidos “pelas ten-
atletas competitivos. com as LER e é também a idade dinites do bíceps”, um dos mais fre-
mais produtiva das pessoas. O quentes componentes das LER.
Dentre os 445 tendões macroscopi- estudo sugere também que as lesões
camente normais, provenientes do por esforços repetitivos se instalam
grupo-controle, 290 (65%) foram progressivamente, fato que possibili-
considerados normais, após o ta a chance de reversão da evolução
exame microscópico. Os demais 145 do processo lesivo, quando as medi-
(35%) apresentaram lesões das adequadas são tomadas em
microscópicas que os colocaram no tempo hábil.
grupo de tendões anormais. A
maior frequência de anormali- REVERSIBILIDADE
dades microscópicas em tendões
dos membros superiores
DAS LESÕES TENDÍNEAS Figura 5:
Representação
aparentemente normais foi PRODUZIDAS POR esquemática do
observada no tendão da cabeça SOBRECARGA músculo bíceps do
longa do bíceps do braço (49%) e braço, com tendão
de cabeça longo
extensor longo do polegar (20%). Estudos que realizamos recente-
inserido no tubérculo
mente permitem que se tire con- supra glenoidal
Foram observadas ainda, alterações clusões interessantes à respeito do e a inserção distal,
vasculares em 62% dos tendões comportamento biológico dos no rádio. Modificado
rompidos, nos quais havia vasculari- tendões e sobre a reversibilidade das de NEER, C.S.
zação presente, porém os vasos lesões tendíneas produzidas pelos SHOUDER RECON-
STRUCTION
apresentavam diminuição do lúmem esforços físicos. Esse estudo foi reali-
W.B. SAUNDERS CO
arterial e arteriolar, devido à zado em espécimes de tendões da Philadelphia - 1990

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Os espécimes foram separados por Observem agora na figura 7 o Um dos apectos mais interessantes
grupos etários, sendo que no grupo aspecto histológico de um outro deste trabalho foi notar que, nos
A ficaram os espécimes de tendões tendão do grupo A. Vejam que indivíduos jovens, as alterações
obtidos de cadáveres com menos de nessa mostra existe um desarranjo patológicas acima descritas foram
40 anos de idade (18 espécimes) e espacial das fibras, que perdem seu encontradas com maior frequência
no grupo B ficaram os espécimes aspecto ondulado regular, se tornam na inserção proximal do tendão,
com 40 ou mais anos de idade. tortuosas e coalescentes. Essa longe da região submetida ao atrito
amostra foi obtida da região da contra estruturas ósseas. Quando
A figura 6 mostra o aspecto his- inserção proximal do tendão, de um examinamos os tendões dos indiví-
tológico normal de um fragmento indivíduo com menos de 40 anos de duos com mais de 40 anos, percebe-
de tendão do grupo A. Observem a idade. O exame do espécime, a olho mos que havia uma mudança na
estrutura ondulada e o arranjo espa- nú, não permitia que se suspeitasse localização das lesões que eram
cial regular e paralelo das fibras, da presença dessas alterações. No menos frequentes nas regiões proxi-
mergulhadas no gel de substância entanto elas estão aí e foram inter- mais dos tendões. Elas agora
fundamental, em um tendão em pretadas como sinais de que, nesse estavam localizadas na porção distal
repouso. Esse aspecto histológico local, está havendo um desequi- dos mesmos, justapostas à corredei-
normal não é estável e só pode líbrio entre as cargas que o tendão ra bicipital e, menos frequente-
ser mantido intacto se o metabo- suporta e a sua capacidade de repor mente, podiam ser encontradas na
lismo individual for capaz de as perdas decorrentes dos esforços. inserção tendínea proximal onde,
substituir as perdas diárias ocasio- nos jovens, eram mais frequentes.
nadas pelo uso do ombro.
Esses achados reforçaram nossa
crença de que existe um limite
individual de recuperação tissular
e que a progressão das lesões
tendíneas pode ser revertida,
possivelmente em função de
modificações do estilo de vida
que ocorrem com o envelheci-
mento, ou podem ser implemen-
tadas pela mudança precoce de
funções laboratívas, para as pes-
soas que, em função de carac-
terísticas pessoais, sejam suscep-
tíveis à presença de sobrecargas
articulares.

NUTRIÇÃO DO TENDÃO
Figura 6: Figura 7:
Corte histológico longitudinal do tendão da Corte histológico longitudinal do tendão da
cabeça longa do músculo bíceps do braço, cabeça longa do músculo bíceps do braço, Os tendões adultos são suficiente-
de indivíduos jovens, na região da inserção de indivíduos jovens, na região da inserção mente nutridos, principalmente por
supra-glenoidal. Observar o aspecto supra-glenoidal. Aspecto anormal. Observar
suas bainhas sinoviais. Em locais
normal das fibras que estão onduladas e que as fibras estão irregularmente justapos-
regularmente organizadas. tas e coalescentes. onde existem compressão do tendão
Microscopia óptica 400x. Tricrômio de Microscopia óptica 400x. Tricrômio de contra uma das superfícies articu-
Masson Masson lares, como é o caso da porção

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distal do tendão da cabeça longa do


CÁPSULA FIBROSA,
músculo bíceps do braço e tendão
do músculo supra-espinhal, podem INSTABILIDADE
ocorrer isquemias transitórias, quan- ARTICULAR E LESÕES POR
do o braço é colocado em algumas SOBRECARGA
posições29.
A maior parte das articulações do
Em outro estudo18 observou-se, no
nosso corpo é envolta por uma cáp-
entanto, que nos locais em que exis-
sula de tecido fibroso muito
tiam lesões crônicas, era possível
resistente, que denominamos cápsu-
encontrar um aumento da vascula-
la articular. A cápsula geralmente é
rização, interpretada como resposta
reforçada por ligamentos que a
inflamatória do tecido tendíneo às A estabilidade da cabeça umeral
tornam ainda mais resistente e capaz
agressões repetidas. Em 62% dos depende de dois mecanismos, que
de impedir que a articulação tenha
tendões rompidos havia vasculariza- funcionam de maneira complemen-
movimentos anormais.
ção presente, porém os vasos apre- tar. Um deles, o sistema passivo, é
sentavam diminuição do lúmen arte- formado pela cápsula articular e
Movimentos anormais produzem
rial e arteriolar, devido à hipertrofia complexo cápsulo-ligamentar
luxações (deslocamento de uma das
das camadas íntima e média das glenoumeral, pelo qual a natureza
superfícies articulares para fora da
paredes dos vasos. Nesse grupo, provê a estabilização mecânica
articulação), sobrecarga articular,
16% apresentou arterite e arteriolite primária do ombro. Existe ainda um
degeneração de cartilagem e tendões.
proliferativa. As mesmas alterações sistema ativo, constituído pelos mús-
Cápsula e ligamentos são considera-
vasculares que apareceram nos culos que o circundam e o sistema
dos estabilizadores passivos das
tendões rompidos foram encon- neuromotor que os controla.
articulações, em contraposição aos
tradas em 2/3 dos tendões do
músculos, que são os establizadores
grupo-controle que, apesar de Apesar de muito importante, o sis-
ativos.
normais no exame macroscópico, tema de estabilização ativa (múscu-
foram considerados anormais ao los e tendões) não tem a eficácia do
Apenas para que possamos com-
exame microscópico. sistema passivo, possivelmente
preender a correlação que pode exis-
tir entre defeitos capsulares, nem porque sua ação depende dos recep-
sempre evidenciáveis por exames tores de posição e deslocamento
TENDÕES MAIS clínicos e imagenológicos, e a pre- angular, localizados na cápsula arti-
ACOMETIDOS PELAS LER sença de dor e desgastes exagerados cular e nos ligamentos glenoumerais.
nos tendões, vamos examinar a Portanto, quando o mecanismo cáp-
Dentre os tendões dos membros sulo-ligamentar não funciona bem -
cápsula articular do ombro, uma das
superiores mais frequentemente devido à alongamentos patológicos,
articulações mais atingidas pelas ten-
acometidos estão os da mão e do roturas, laxidão exagerada, ano-
dinites e bursites que compõem as
punho, o tendão da cabeça longa do malias ligamentares congenitas, etc. -
LER (Fig. 8).
músculo bíceps do braço e tendão a pessoa pode apresentar déficits de
do músculo supra-espinhal e Figura 8: propriocepção e incoordenação
inserção epitroclear e epicondiliana Representação esquemática da cápsula motora12, nem sempre detectáveis
dos músculos do antebraço. articular do ombro. Observar a presença de
pelo exame clínico rotineiro. Parte
saliências internas que correspondem a:
1- Tendão do bíceps dos pacientes que apresentam ten-
2- Cápsula articular dinites crônicas do ombro apresen-
3- Ligamento glenoumeral
tam distúrbios do mecanismo
cápsulo-ligamentar da articulação
glenoumeral.

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A estabilidade mecânica da articu- teve como um dos seus objetivos culino. O lado afetado correspondeu
lação glenoumeral não tem um estudar a prevalência de alterações ao lado dominante em 31 (65%) e
caráter tipo “tudo ou nada”. As ca- cápsulo-ligamentares potencialmente ao lado não dominante em 17 (35%)
racterísticas mecânicas do complexo instabilizantes, em pacientes com dos pacientes. Quanto à forma do
cápsulo-ligamentar ( volume capsu- sintomas dolorosos do ombro, início, do 29 (60%) dos pacientes não
lar, resitência do tecido conjuntivo, atribuíveis ao pinçamento subacro- apresentaram causa aparente ( que
morfologia dos ligamentos ) determi- mial26,27. pudesse estar relacionada com o
nam um espectro de estabilidade começo da dor), 7 (15%) relaciona-
articular que vai, gradualmente, Descobrir a participação da estabili- ram o início com traumas leves e
passando da instabilidade extrema, dade subclínica - que denominamos 12 (25%) associaram o início dos
representada pelo luxador multidire- instabilidade glenoumeral oculta - na sintomas em traumas importantes,
cional voluntário, até um grau produção do pinçamento subacromial, como quedas sobre o lado afetado.
extremo de estabilidade, representa- nas tendinites do ombro e nas Quanto à profissão, houve
do pelo “ombro congelado”6, no roturas do manguito rotador tem predomínio da dona de casa, que
qual as modificações que se asses- implicações importantes, não apenas correspondeu às atividades de
tam sobre a cápsula diminuem seu do ponto de vista terapêutico, mas 27 (64%) dos pacientes examina-
volume, retraem-na e a tornam também no que se refere ao estabele- dos, ficando as demais profissões
muito rígida, limitando drastica- cimento de nexo entre a dor que o distribuídas, sem predomínio
mente os movimentos glenoumerais. paciente sente ( e que clinicamente de uma delas, entre os demais
não parece ter explicação, salvo pela 21 (36%) dos pacientes.
É natural que a maior parte da pes- presença de sinais inflamatórios
soas tenham ombros cujas carac- rotulados como bursites ou ten- Durante o exame clínico, o médico
terísticas de estabilidade mecânica dinites ) e a presença de alterações examinador realizou a goniometria
estejam situadas no meio desse objetiva que possam explicar os do ombro, a avaliação da força mus-
espectro, ou seja, possuam um certo sintomas. cular, as manobras do pinçamento
grau de instabilidade intrínseca, sem subacromial, teste do supra-espinhal,
que, no entanto, existam sinais clíni- Nesse trabalho foram comparados teste do sulco subacromial e teste da
cos de instabilidade patológica. Na os resultados do exame clínico, radi- apreensão15. O pinçamento subacro-
verdade, um certo grau de liberade ografia simples, ultra-sonografia e mial foi diagnosticado clinicamente
articular é essencial para que o pneumoatrografia e artroscopia de quando o teste de elevação do mem-
ombro possa realizar os movimentos 48 ombros de 48 paciente porta- bro superior produziu dor e,
que realiza, com a amplitude dores de ombro doloroso atribuído artroscopicamente, quando obser-
necessária para que os movimentos a síndrome do pinçamento subacro- vou-se a presença de lesão subacro-
sejam normais. mial, sem sinais clínicos de instabili- mial típica do pinçanmento26.
dade glenoumeral. Todos procu-
Suspeita-se que as dores no ombros raram nosso serviço espontanea- Para se diagnosticar, clinicamente,
que ocorrem sem causa aparente, mente, ou foram encaminhados por instabilidade glenoumeral, era pre-
em pacientes que apresentam as ten- outros médicos para um dos ambu- ciso que houvesse a presença de
dinites e bursites relacionadas com o latórios de cirurgia de ombro nos apreensão ao teste de instabilidade
trabalho e com o esporte, sejam quais trabalhamos. anterior ou a presença de um sulco
devidas as pinçamentos subacromial subacromial muito importante.
ou as instabilidades glenoumerais, As idades dos pacientes variaram de Pequenos sulcos encontrados
estas últimas mais comuns em 19 a 79 anos (média de 48 anos). durante o exame clínico não foram
pacientes jovens25. Quanto à cor, 47 (98%) eram brancos considerados como sinal de instabili-
e 1 (2%) era não branco. Quanto ao dade patológica.
Recentemente realizamos uma inves- sexo, 32 (66,7%) eram do sexo
tigação artroscópica do ombro, que feminino e 16 (33,3%) do sexo mas- Quando, ao exame artroscópico, os

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ligamentos glenoumerais médio e tendinites e sinovites que os Tabela 1 - Prevalência de anomalias cáp-
inferior eram normais ou euplásticos13 pacientes apresentavam (fig. 10). sulo-ligamentares em pacientes com dor no
e apresentavam a disposição ombro NICOLETTI, S.F. - Tese de
anatômica descrita por De Palma09 Doutorado - 1992.
como sendo dos tipos I, II, III, V e Resultados do EXAME
VI, nos quais não existe recesso ARTROSCÓPICO dos ligamentos
anterior volumoso, a articulação gle- glenoumeral inferior ( LGUI ) e gle-
noumeral foi considerada estável. noumeral médio, segundo critério
Quando, no entanto, o ligamento ALTERADO ( hipotrófico e/ou
glenoumeral médio estava hipoplási- desinserido e/ou ausente ) e NOR-
co, de maneira a criar um grande MAL, dos ombros de 48 pacientes
recesso anterior ( cuja as dimensões com diagnóstico clínico de pinça-
poderiam ser aumentadas ainda mento subacromial, sem sinais clíni-
mais por anomalias do ligamento cos de instabilidade glenoumeral.
glenoumeral inferior ) consideramos
a articulação mecanicamente instável Figura 9: ARTROSCOPIA ARTROSCOPIA DO LGUM
( De Palma tipo IV), mesmo quando Imagem artroscópica do ombro direito de
um paciente. LGUI ALTERADO NORMAL TOTAL
não encontramos os sinais clínicos
de instabilidade. U- Cabeça do úmero
ALTERADO 6 4 10
B- Tendão da cabeça longa do bíceps
LG- Lábio glenoidal NORMAL 17 21 38
Todos os pacientes incluídos neste
trabalho não obtiveram melhora sig- LGM- Ligamento glenoumeral médio normal
nificativa com um programa de C- Cânula cirúrgica TOTAL 23 25 48

reabilitação que incluiu a prescrição


Teste de McNemar
de exercícios de relaxamento da
p= 0,0036* ou 0,36%
musculatura cérvico-torácica e para LGUI - ligamento glenoumeral inferior
fortalecimento dos músculos do LGUM - ligamento glenoumeral médio
manguito rotador, para o deltóide e
para o trapézio. A artroscopia diag- CLASSIFICAÇÃO DA
nóstica foi realizada em todos os
INSTABILIDADE DO
pacientes, pelas vias posterior e
anterior, para os exames da articu-
OMBRO, EM RELAÇÃO
lação glenoumeral e do espaço AOS LIGAMENTOS GLE-
subacromial. NOUMERAIS, EXAMINA-
DOS POR ARTROSCOPIA
É interessante notar (tabela 1) que
Os achados artroscópicos acima
dos 48 pacientes que apresen- Figura 10:
descritos, nos permitiram observar
taram dor no ombro e tiveram Imagem artroscópica do ombro direito de
um paciente. que, um número considerável
seu diagnóstico clínico estabeleci-
das pessoas cujo sintomas
do como pinçamento subacromi- U- Cabeça do úmero
dolorosos do ombro não melho-
al, apenas 21 (44%) apresen- B- Tendão da cabeça longa do bíceps
raram com o tratamento conser-
taram seus ligamentos normais, - LG- Lábio glenoidal
vador, existiam alterações morfológi-
ao exame artroscópico (fig 9). Nos LGM- Ligamento glenoumeral médio hipo-
trófico cas do complexo cápsulo-ligamentar
demais, foram observadas anoma-
TS- Tendão subescapular glenoumeral que tornavam a articu-
lias cápsulo-ligamentares que,
RSu- Recesso superior. A seta aponta para lação mecanicamente instável. -
potencialmente, podem ser
a sinovite decorrente de sobrecarga Parece razoável supor, à luz dos
responsáveis pelos quadros de

9
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conhecimentos atuais de fisiologia e Em nossa pesquisa verificamos que cionar como um estreitamento
biomecânica do ombro, que a ausên- 44% dos pacientes com ombro anatômico, provocando compressões
cia concomitante dos ligamentos gle- doloroso apresentaram anormali- dos tendões e dos nervos.
noumerais médio e inferior tornam dades em um dos 2 ligamentos.
a articulação glenoumeral mais ( LGUI NORMAL + LGUM Os axônios são bem protegidos por
instável do que nas situações em HIPOTRÓFICO ) ou ( LGUI tecido conjuntivo e por isso podem
que apenas um dos dois ligamentos HIPOTRÓFICO + LGUM NORMAL ) não ser atendidos nos estágios iniciais
é hipoplásico. Assim sendo, propuse- = 21/48 = 44%. de uma compressão. Compressões
mos a seguinte classificação prolongadas, no entanto, podem
artroscópica da estabilidade gle- ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL induzir reações tissulares no epineu-
noumeral oculta27, que se aplica para COM INSTABILIDADE GRAU II: ro que produzirão micro-estase,
os ombros que, apesar de não Neste grupo estão os pacientes cujos edema e fibrose intraneural. Essas
luxarem e de não apresentarem ombros apresentaram os ligamentos alterações interferem com o trans-
sinais clínicos de instabilidade, tem glenoumerais médio e inferior anor- porte axonal22 e induzem modifica-
defeitos do sistema de estabilização mais. Quando submetidas às ativi- ções não apenas na estrutura,
glenoumeral passiva, que tornam a dades que requerem elevações repeti- mas também na função de todo o
articulação glenoumeral potencial- tivas dos ombros ou a manutenção neurônio, incluíndo seu corpo e
mente estável e, provavelmente, prolongada de posturas em porções situadas proximalmente à
sobrecarregue os tendões do man- abdução, essas pessoas apresentam região afetada.
guito rotador. grande possibilidade de desenvolver
lesões tendíneas ocasionadas pela Os sintomas clínicos como a pareste-
ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL sobrecarga dos músculos do man- sia, o adormecimento e as dis-
ESTÁVEL: neste grupo estão os guito rotador. Felizmente, a associ- funções motoras atribuídos à com-
pacientes cujo os ombros apresentam ação das anomalias em ambos os li- pressão mecânica também podem
ligamentos glenoumerais médio e gamentos não é muito frequente, ser produzidos, quer por distúrbios
inferior normais. Em nossa experiên- conforme verificamos em nossa da condução nervosa, causados por
cia, com pacientes sintomáticos, essa pesquisa. ( Foram observados lesão somática da fibra nervosa,
situação corresponde a apenas 44% LGUI + LGUM HIPOTRÓFICOS quer por alterações funcionais
das pessoas examinadas = 6/48 = 12% ). baseadas em edema, micro-estase,
( LGUI + LGUM NORMAIS ) fibrose intraneural, enfim, por
= 21/48 = 44%. processos tissulares reativos que
TÚNEIS OSTEOFIBROSOS podem ser desencadeados por uma
ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL E COMPRESSÃO série de diferentes fatores.
COM INSTABILIDADE GRAU I: NEUROLÓGICA
A presença de anomalias em um dos Existem vários locais onde os nervos
ligamentos é considerada como sinal Túneis osteofibrosos são estruturas podem ser comprimidos e a com-
de que a instabilidade mecânica da muito rígidas que circundam tendões pressão pode ser do tipo estática,
articulação glenoumeral está prejudi- e/ou nervos em locais próximos às como ocorre nos orifícios interverte-
cada. Nos ombros que apresentam articulações (fig. 11). Devido à rigidez brais, ou dinâmicas, como as que
essas alterações, existe um grau de suas paredes pode ocorrer atrito ocorrem em locais onde o nervo
intermediário de instabilidade gle- entre as estruturas contidas no seu atravessa o ventre de um músculo
noumeral que, em condições ambi- interior e as superfícies ósseas e liga- como o supnador do antebraço, por
entais desfavoráveis, como o trabalho mentares que delimitam o túnel. exemplo.
que exige a manutenção prolongada Nessa condições, a expansão dos
de elevação do braço, podem ocor- tecidos, inflamado pelo atrito ( ou As lesões nervosas, por sua vez,
rer quadros de inflamação dos por uma outra causa qualquer ) é podem se originar de alterações
tendões do manguito dos rotadores. impossível e o túnel passa a fun- isquêmicas, térmicas e químicas.

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Alterações funcionais da condução


Figura 11:
podem ocorrer por distúrbios Representação esquemática
metabólicos causados pela com- da cápsula articular dos
pressão local, por exemplo, ou por dedos e das áreas onde os
quaisquer alterações que impeçam tendões e nervos podem
ou modifiquem o aporte de energia ser comprimidos em túneis
osteofibrosos.
necessária para que o processo 1- Túnel do carpo
eletrocondutivo se processe normal- 2- Canal de Guion
mente. 3- Polias tendíneas
4- Tendões flexores
5- Nervo mediano
A MICROCIRCULAÇÃO 6- Nervo ulnar
INTRANEURAL 7- Cápsula articular

Ainda segundo LUNDBORG, G.;


DAHLIN, L.B.22, o nervos peri-
féricos possuem um bem desenvol-
vido sistema microvascular intra-
neural, distribuído pelas faíscas
intraneurais que compõem o epineu-
ro, o perineuro e o endoneuro. Esse
sistema especial está disposto longi-
tudinalmente, é alimentado pelos
vasos extraneurais que, além de irri-
garem os fascículos onde se situam,
formam anastomoses com os vasos
de outros fascículos, constituindo
uma extensa rede vascular interna.
Nos pontos de anastomose esses
vasos são particularmente vul-
neráveis a obliteração, que pode ser
originada por um edema localizado.

Dentro de cada fascículo, existe uma


rede microcapilar formando o leito
vascular que apresenta características
estruturais e funcionais idênticas às
do SNC, incluindo a existência de
um sistema de barreira à passagem
de macromoléculas e outra substân-
cias que podem produzir danos ao
tecido nervoso. Esse sistema vascu-
lar seletivo, juntamente com seu
equivalente perineural, controla, em
nível local, as condições ambientais
especiais requeridas para a transmis-
são normal do impulso nervoso.

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A anôxia produzida por compressão cérvico-torácica, o espaço subacro- exposição prolongada aos movimentos
local produz edema e, se prolongado mial, a corredeira bicipital e a chan- vibratórios também produz efeitos
o tempo de estímulo, causa dano fradura supra-escapular no ombro, deletérios sobre os nervos periféricos.
irreversível com a produção de o túnel supinador e do pronador Existem indícios que diferentes fre-
fibrose intraneural local. Causa redondo, no cotovelo, os túneis do quências vibratórias e tarefas com
também alterações no transporte carpo, o canal de Guion e as polias características biomecânicas e
anterógrado e retrógrado de materi- dos tendões flexores situados na ergonômicas diferentes, podem pro-
ais vitais para a função do neurônio. mão e no punho (fig. 11). duzir danos em regiões diferentes do
sistema nervoso periférico39.
Esses fatores são muito importantes
porque, através deles o neurônio se FAÍSCAS Assim, pesquisas vibratórias em ani-
mantém informado sobre o que mais, utilizando frequências seme-
acontece na periferia e modifica seu lhantes às utilizadas nas tarefas mais
metabolismo de acordo com as As faíscas são lâminas ou tubos de conhecidas, podem produzir danos
necessidades locais. É importante tecido conjuntivo fibroso que reco- aos troncos nervosos. Exames da
lembrar que a condução do estímulo brem ou interligam cavidades e ultra-estrutura dos nervos mostrou a
nervoso depende das condições orgãos17. Em algumas regiões do presença de modificações das estru-
locais e que, quando estas são desfa- corpo, como no pescoço e no dorso, turas axoplasmáticas e/ou acúmulo
voráveis, como ocorre nas situações as faíscas são muito resistentes e de retículo endoplasmático liso em
clínicas que induzem a isquemia e podem apresentar pontos dolorosos, fibras amielínicas, responsáveis pelos
edema localizado, como na chamados “gatilhos”. distúrbios autônomos do sistema
Síndrome do Túnel do Carpo23, os vascular. Foi observado que essas
estímulos podem ser interrompidos. alterações são totalmente rever-
Por exemplo, nos estágios iniciais da NERVOS síveis nas primeiras duas semanas
Síndrome do Canal Carpiano, o de estímulo e parcialmente
aumento das pressão intracarpiana reversíveis após 4 semanas39.
ocorre principalmente à noite, O sistema nervoso é constituído por
durante o sono, produzindo a diversos tipos de neurônios35, cujos Por outro lado, estudos realizados
hipóxia e os sintomas conhecidos de prolongamentos, o axônios e os em profissionais que manipulam fer-
parestesia da mão. Nesses casos, os dendritos, ligam as células nervosas ramentas que vibram com frequên-
pacientes melhoram quando se le- a outras células ou a orgãos efetores, cias muito alta, permitiram obser-
vantam, elevam o braço e movimen- por meio de sinapses que contêm as var que, nesses profissionais, exis-
tam a mão. Por outro lado, aumen- substâncias neurotransmissoras, tem lesões nos receptores periféricos
tos pressóricos prolongados, de responsáveis pela transmissão dos ou distúrbios de condução nos seg-
magnitude importante, causam, blo- impulsos do SNC para os órgãos mentos nervosos distais.
queios definitivos do transporte efetores e vice-versa.
axonal retrógrado e induzem modi-
ficações funcionais importantes no Os orgão efetores, como os músculos
corpos celulares correspondentes, voluntários, as vísceras e a pele,
SISTEMA NERVOSO
tornando mais difícil a regressão dos recebem e transmitem mensagens CENTRAL E ESTIMULAÇÃO
sintomas. para o SNC por meio de nervos PERIFÉRICA
periféricos, formados pelos axônios
Dentre os túneis que mais comu- dos neurônios ganglionares. Lesões Os receptores periféricos habilitam
mente se associam com as sín- traumáticas periféricas podem pro- nosso corpo a se comunicar com o
dromes compressivas provocadas duzir danos, que precisam do cerébro e criar modificações físicas e
pelos esforços repetitivos estão o comando de unidade controladoras comportamentais que tenham como
desfiladeiro torácico, na transição do SNC para serem reparados. A alvo o próprio corpo08.

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São esses mecanismos que nos cerebral e no prosencéfalo basal, natural dos nossos tendões, por
levam a sentir fome, quando a glicose fazendo com que haja liberação de exemplo, são removidas por fagoci-
sanguínea está baixa, provocam neurotransmissores e se produzam, tose enquanto suas substituição é
transformações sistêmicas impor- no Sistema Nervoso Central, provida pelos fibroblastos encarrega-
tantes no aparelho circulatório, res- estados de depressão, euforia ou até dos de reparar o “dano” causado
piratório e músculoesquelético maníacos”. pelo uso das articulações que os
quando nos vemos diante de algo tendões controlam.
julgado perigoso, etc.. Esses Os quadros de fadiga crônica, asso-
mecanismos são pré-organizados em ciados às infecções virais e ao O papel de “limpeza” dos restos tis-
nosso cérebro, comandam o sistema estresse, também podem produzir sulares, feita pelos fibroblastos,
glandular e mobilizam hormônios e modificações comportamentais do sinoviocitos e condrocitos é desen-
mediadores químicos necessários tipo depressão, provavelmente cadeado pela Interleucina 1 (IL1) e
para acionar os orgãos efetores decorrentes de estimulação anormal pela Linfotoxina (TNF) que os
recrutados para salvar o corpo. Suas antidrômica induzida pelo vírus, fazem produzir proteoglicanases,
respostas podem ser imediatas, por anormalidades nos sistemas colagenases e gelatinases02. Do
instintivas e pouco duradoras, nas imunológicos e por vários outros ponto de vista geral, ambos mediam
situações agudas de risco iminente distúrbios34. muito dos eventos importantes
para o corpo, ou podem ser crôni- necessários para a proteção contra
cas, de menor intensidade e produ- os invasores e também a regeneração
tora de modificações somáticas O PROCESSO INFLA- posterior dos tecidos lesados. Por
importantes, julgadas necessárias MATÓRIO E A PRODUÇÃO outro lado, em condições especiais,
para atender aos estímulos recebidos DE LESÕES TISSULARES o mesmo mecanismo pode mediar a
da periferia do corpo. destruição do tecido sadio.
A inflamação foi descrita, pela Por exemplo, a administração de
Damásio08 assim se expressa sobre primeira vez, por Célsius, que viveu Interleucina 2 - um dos mediadores
as correlações entre o SNC e os estí- entre os anos 30 AC e 30 DC e do processo inflamatório - para o
mulos periféricos: “Considere-se o que observou que os sinais cardinais tratamento de neoplasias malígnas,
seguinte exemplo: a tensão mental da inflamação eram o calor, o rubor, pode causar compressão ao nível do
crônica, um estado relacionado com o turgor e a dor aos quais, Virchov túnel do carpo28, provavelmente pelo
à atividade de numerosos sistemas acrescentou depois a perda da edema intersticial generalizado que
cerebrais no nível do neocórtex, do função33. provoca.
sistema límbico e do hipotálamo,
parece fazer com que as terminações O processo inflamatório pode ser Desde que mantido em rítmo nor-
nervosas periféricas produzam quan- desencadeado por traumatismos, mal, o processo de reparação das
tidades excessivas de uma substân- produzidos por diversos agentes físicos perdas tissulares fisiológicas refaz às
cias química chamada peptídeo, rela- e químicos, pode ser iniciado por estruturas perdidas sem deixar cica-
cionado com o gen da calcitonina invasão dos tecidos por microorganis- trizes, sem modificar as propriedades
que neutraliza as defesas periféricas mos, e pode ser iniciado por estresse. mecânicas dos tendões e sem produzir
e favorecem o aparecimento de o quadro clínico de inflamação.
infecções virais. Tem sido obser- Na verdade, a reparação dos tecidos Num estudo recente, Oppenheim,
vadas também, influências no senti- gastos pelas atividades diárias que citado por BILLINGHAN02
do inverso, ou seja, a de substâncias executamos ao longo de toda a mostrou que virtualmente todas as
químicas do corpo influenciando a nossa vida, é feita por um processo células nucleadas podem produzir
mente. O tabaco, o álcool e as drogas biológico celular que envolve os osteoblastos, os monócitos/macrófa-
produzem modificações nos neurô- mesmos elementos que participam gos, os linfócitos B, as células den-
nios e nos seus sistemas de apoio, da inflamação. Assim, as fibras de dríticas, etc. É interessante notar
alguns deles localizados no tronco colágeno perdidas pelo desgaste

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que essa “universalidade celular” estudos para afirmar que existe uma um esforço de adaptação, como
dos mediadores inflamatórios abre rota física, que permite que as ocorre com um politraumatizado,
espaço para que se possa inferir que emoções tenham impacto direto com a mãe que se preocupa com o
estímulos físicos nociceptivos continua- sobre o sistema imunológico. Ainda filho, o operário que trabalha em
mente enviados pelos receptores pe- segundo o mesmo autor, as emoções um ambiente barulhento ou
riféricos possam causar alterações têm um poderoso efeito sobre o perigoso para sua integridade física,
bioquímicas nos neurotransmissores Sistema Nervoso Autônomo, que re- o executivo que luta para cumprir
que, no Sistema Nervoso Central, gula funções vitais como a pressão os prazos, o atleta antes de uma
controlam nosso comportamento. arterial sistêmica e a liberação de competição. Todos enfim, apresen-
hormônios. tam uma situação comum: estão sob
Essa inferência tem recebido confir- estresse desencadeado pela necessi-
mação de outros autores, desde que Durante pesquisas realizadas com dade de adaptação.
Adler, em 1974 (citado por GOLE- seus colaboradores, ele detectou um
MAN, D14), descobriu que o sistema ponto de encontro onde o SNA O conjunto de modificações não
imunológico, tal como o cérebro, “fala” diretamente com linfócitos e especificadas que ocorre no organis-
era capaz de aprender. Numa expe- macrófagos, células do sistema mo, em situações de estresse foi
riência feita com ratos de laborató- imunológico. Esses contato é feito denominado Síndrome Geral de
rio, Adler observou que uma solu- através de sinapses que se comuni- Adaptação, que é composto por três
ção de imunossupressores e água cam com as células imunológicas estágios; 1. reação de Alarme, 2.
com açúcar produzia uma grande através da liberação de neurotrans- fase de Resistência e 3. fase de
eliminação das células T, respon- missores que regulam a atividade Exaustão, que podem se desenvolver
sáveis pelo combate as doenças. Em das células e recebem informações no progressivamente, dependendo da
um grupo controle dos animais , os sentido contrário. intensidade e da duração dos estí-
imunossupressores foram retirados mulos que produzem a necessidade
da solução e se observou que, ape- Uma outra rota-chave que liga de adaptação.
sar de estarem recebendo apenas emoções e o sistema imunológico,
água com açúcar, a diminuição das ainda segundo Goleman, está na Resumidamente a fase inicial
células T continuou, porque o sis- influência dos hormônios liberados começa com a exposição ao fator
tema imunológico dos animais havia sob tensão. As catecolaminas (adre- que requer a adaptação e se carac-
aprendido a suprir as células T, nalina e noradrenalina), o cortisol, teriza pela liberação de substâncias
em resposta ao gosto açucarado da prolactina e os opiáceos natural- que ativam o Sistema Nervoso
solução que ingeriam. mente existentes em nosso organis- Autônomo e preparam a reação de
mo, são liberados durante a estimu- defesa. Situações que induzem
Com o passar dos anos, a descoberta lação da tensão. Essas substâncias medo, dor, fome e raiva são os prin-
de Adler forçou uma nova visão das hormonais, quando liberadas na cir- cipais desencadeadores dessa fase.
ligações entre o sistema imunológico culação, bloqueiam a função do sis- Mantidas as condições que desen-
e o Sistema Nervoso Central, dando tema imunológico. Esse bloqueio cadearam a necessidade de adapta-
origem a um novo campo de pesqui- está relacionado com as reações de ção, ocorre uma fase intermediária,
sas, a Psiconeuroimunologia. adaptação ao estresse, descritas por chamada de fase de resistência, em
Hans Selye em 1936, citado por que os orgãos produtores de hormô-
Segundo Goleman, existem indícios RODRIGUES33. nios e células imunológicas são
de que os mensageiros químicos que solicitados a manter prolongada-
mais operam, tanto nas funções Ainda segundo Rodrigues, Selye uti- mente as reações de defesa iniciadas
cerebrais quanto no sistema imuno- lizou o termo estresse para denomi- da primeira fase.
lógico são mais concentrados nas nar o conjunto de reações que um
áreas cerebrais que também contro- organismo desenvolve ao ser sub- A maior parte das pessoas envolvi-
lam a emoção. Ele cita outros metido a uma situação que exige das em situações de estresse prolon-

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gado, provavelmente consiga estabi- ta a uma gama de estímulos específi-


TOXICIDADE DOS RADICAIS
lizar seu sistema de defesa, nessa cos (p.ex., a agressão de uma bac-
fase. Segundo LEVY,L., citado por téria ) ou inespecíficos (a ativação do
LIVRES, COMO
RODRIGUES33, o ser humano é complementeo ou a ação de medi-
MODULADORES DO
capaz de se adaptar ao meio ambi- adores como a Interleucina 1). PROCESSO INFLAMATÓRIO
ente desfavorável, porém, essa adp- A reação produtora de radicais
tação não acontece impunemente. livres corresponde a complexa Os radicais de oxigênio são tóxicos,
Mantida a situação de estresse inten- cadeia oxidativa que transforma o porque eles tem a capacidade de
so, ocorrem falhas no sistema de NADPH em NADP + e produz, desencadear e modular processos
adaptação e as consequências como subproduto, radicais oxigênio- inflamatórios. Por exemplo, a peroxi-
podem ser mais graves. reativos, como o ânion OH-. dação lipídica induz a vazamento de
enzimas do interior das células para
Muitos dos mecanismos psicobi- Produção de prostaglandinas áreas onde sua atividade é danosa
ológicos acima descritos, provavel- A reação em cadeia do ácido para os tecidos. Os radicias livres
mente exerçam influência nos aracdônico e a síntese de trombo- podem ainda agir em sinergia com
pacientes com L.E.R. xane, ambos processos importantes enzimas proteolíticas, e facilitar a
na produção das prostaglandinas degradação de componentes impor-
produzem radicais livres. tantes do tecido conjuntivo e tam-
INFLAMAÇÃO E bém podem iniciar e modular a reação
RADICAIS LIVRES Mitocôndrias em cadeia das prostaglandinas. Nas
É uma das grandes fontes de radi- articulações, eles podem produzir
Radicais livres são espécies químicas ciais livres no organismo, cuja pro- danos ativando a cascata das
que apresentam um ou mais dução depende do estado metabóli- prostaglandinas, podem ativar os
elétrons com cargas disponíveis em co da célula. Quando a cadeia de neutrófilos e ativar o processo auto-
sua órbita externa. A produção de transporte de elétrons é reduzida de catalítico da peroxidação dos
radicais livres é um processo essen- maneira significativa e a velocidade lipídeos.
cial do metabolismo normal do das reações da cadeia respiratória
nosso organismo. No entanto, os depende da presença de ADP, Um outro processo de agressão
radiciais livres são potencialmente ocorre um “vazamento de elétrons” articular produzido pelos radicais
destrutivos e necessitam de um con- que aumenta a produção de radicais livres é conhecido como fenômeno
trole eficaz de sua produção e neu- 02.-. Isso pode ocorrer em tecidos da reperfusão. Esse fenômeno foi
tralização. Atualmente, os avanços submetidos a isquemia, com baixas descrito em associação com as cirur-
tecnológicos permitem que se concentrações de oxigênio. gias para revascularização do
observe , em laboratório, a produção miocárdio e, basicamente, consiste
de radiais livres37. Citólise no aparecimento de lesões na parede
A Xantino-oxidase é uma enzima muscular, quando o miocárdio era
citolítica normalmente presente na revascularizado. O mesmo processo
FONTES DE PRODUÇÃO forma desidrogenase, que usa pode ocorrer nas articulações
DE RADICAIS LIVRES NAD+ como aceptor de elétrons e porque, enquanto estão sendo uti-
(adaptado de BLAKE, D.R.; converte a Xantina e a Hipoxantina lizadas, a pressão intra-articular sobe
ALLEN, R.E.; LUNEC, J.3) em ácido úrico. Durante os proces- acima dos níveis de pressão capilar e
sos isquêmicos, a enzima é converti- isso produz isquemia tissular da cáp-
Cadeia respiratória da na forma oxidase, que usa as sula e ligamentos. Quando volta ao
Uma das maiores fontes de radicais moléculas de oxigênio como acep- estado de repouso, a pressão intra-
livres é a reação produzida por neu- tores de elétrons e assim, produz articular diminui e o déficit de per-
trófilos, monócitos sensibilizados, misturas de O2.- e H202. fusão desaparece, pela reperfusão
macrófagos e eosinófilos, em respos- dos tecidos mantidos em isquemia,

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durante o período de utilização do óleo de mostarda. Observou-se


INFLAMAÇÃO
membro. É possível que parte das ainda, que pacientes com degenera-
bursites e tendinites dos ombros dos
NEUROGÊNICA ção articular de Charcot, decorrente
digitadores, que são obrigados a de alterações degenerativas da colu-
Existem evidências que surgerem
manter o braço em discreta na posterior da medula produzidas
o envolvimento do sistema ner-
abdução, durante a digitação, tenha por sífilis terciária, não apresentam
voso sensitivo na produção de
origem nesses processos oxidativos. respostas vasculares aos estímulos
inflamações localizadas. A ati-
inflamatórios.
vação de nociceptores polimodais
A isquemia converte a enzima
gera reflexos axônicos nas termi-
citolítica normal desidrogenase xan- A presença de fibras vasodilatadoras
nações livres arborizadas dos
tínica na xantino-oxidase que, ao nos nervos periféricos é conhecida
neurônios aferentes primários. Esses
invés de utilizar o NAD+ como seu há anos e sabe-se que existem fibras
reflexos fazem com que as fibras C
aceptor de elétrons, utiliza a molécu- na raiz dorsal que, quando estimu-
liberem os neuropeptídeos que
la de oxigênio, gerando 02.-3. Por ladas antidromicamente, produzem
iniciam a reação inflamatória.
isso, é muito tentador especular que vasodilatação da pele por um
esse processo está envolvido nas mecanismo que não envolve o sis-
A natureza desses neuropeptídeos é
inflamações da membrana sinovial. tema nervoso autônomo. Portanto, a
incerta, mas a substância P é uma
estrutura nervosa que mais
das fortes candidatas. Além dela, a
A cartilagem também é afetada provavelmente esteja envolvida com
Nerocinina A e “Calcitonin Gen-
pelos radicais livres que atacam as a produção de inflamação é o
Related Peptide” (CGRP) também
moléculas de prolina que compõe a neurônio sensitivo, cujo corpo está
são considerados importantes. Eles
proteína colágeno, fragmentando-a localizado no gânglio da raiz dorsal e
atuam diretamente sobre a muscu-
em vários pedaços de comprimentos cujas terminações periféricas estão
latura lisa dos vasos ou indireta-
definidos. espalhadas pela pele, vísceras,
mente, através da liberação de hista-
músculos, tendões e articulações.
mina dos mastócitos. O papel dos
A defesa contra a ação deletéria dos É possível que, em condições de
nervos periféricos na reprodução da
radicais livres gerados pelo metabo- sobrecarga tendínea, como as que
inflamação neurogênica tem sido
lismo normal ou por alterações podem ocorrer em pessoas que apre-
estudado em laboratórios.
metabólicas, pode ser obtida pela sentam laxidão ligamentar, o proces-
oferta de substâncias cujas molécu- so inflamatório crônico localizado
O óleo de mostarda, quando aplica-
las neutralizam os radicais livres, (vide fig. 10) seja mantido pela ação
do a pele, produz uma resposta
formando um composto neutro ou dos receptores articulares nocicep-
inflamatória aguda, que requer a
pela remoção dos íons ativos. tivos, cronicamente estimulados pela
presença de terminações neuro-sen-
Exercícios físicos adequados, alimen- sobrecarga mecânica e pelas
sitivas intactas11. Nem a secção da
tação correta, abstenção de fumo e microlesões que estas acarretam.
medula ou da raiz sensitiva distal ao
possivelmente, a organização dos
gânglio dorsal produz a abolição do
postos de trabalho, de maneira que
fenômeno desencadeado pela
se evitem posturas viciosas e perío-
mostarda. No entanto, a secção do
dos prolongados de manutenção dos
tronco do nervo sensitivo, periférico
braços elevados também são efi-
ao glânglio dorsal, produz degene-
cazes para diminuir os efeitos
ração das fibras aferentes e, quando
deletérios da oxidação patológica.
isso ocorre, a aplicação do óleo de
mostarda não produz mais infla-
mação. Sabe-se também que o blo-
queio sensitivo com anestésico local
abole a vasodilatação produzida pelo

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COMENTÁRIOS FINAIS

Como podemos ver, existem inúmeros trabalho desfavoráveis. É possível, como 01. BAMMER, G.; MARTIN, B. The
aspectos importantes que podem estar vimos acima, que os distúrbios emocionais arguments about RSI: an examination.
Community Health Studies XII
implicados na produção das LER e que, sejam apenas o espelho comportamental de
(3): 348-355, 1988.
no entanto, não tem sido com elas rela- modificações biológicas desencadeadas pelas
cionados. Está aberta, portanto, uma linha agressões sofridas. 02. BILLINGHAM, M. E. J.
de pensamento que permite aos médicos, Cytokines as inflammatory mediators.
que buscam fenômenos fisicamente Acredito que, no momento atual, seja mais British Medical Bulletin,
observáveis para legitimar as queixas dos adequado mobilizar esforços e recursos para 43 (2): 350-370, 1987
pacientes que avaliam, interpretar os fenô- estudos epidemiológicos centrados em métodos 03. BLAKE, D.R.; ALLEN, R.E.;
menos que observam ( ou mesmo a falta de de diagnóstico mais precisos, para estudar LUNEC, J. Free radicals in biological
sinais evidentes de lesão somática dos melhor as características biológicas, systems - a review orientated to inflammatory
pacientes com LER ) dentro de um contexto anatômicas, biomecânicas e antropométricas processes. British Medical Bulletin,
mais aceitável que o de considerar as dos brasileiros e as alterações patológicas 43(2): 371-385, 1987.
queixas dos pacientes com LER como que ocorrem a nível celular, bioquímico e
04. CHAFFIN, D.B. Localized muscle
sendo “resultado da depressão que os mes- molecular das estruturas envolvidas nas fadigue - definition and measurements.
mos apresentam.” LER. J. Occup. Med. 15(4): 346-354, 1973

Assim, acreditamos que, quando as LER Enquanto não soubermos com segurança do 05. CIULLO.J.V. & ZARINS,B.:
se instalam, a capacidade natural de que estamos tratando, é melhor evitarmos Biomechanics of the musculotendinous unit;
Relation toathletic performance and injury.
reparação tissular que a pessoa possui já rotular as pessoas com diagnósticos estig- Clinics Sports Medicine.,2: 71-86. 1983
foi ultrapassada, ou os mecanismos de con- matizantes e nos inspirarmos nos conselhos de
trole imunológico que regulam a regene- Ramazzini que, já no século XVIII, pres- 06. CODMAN, E.A. The Shoulder.
ração dos tecidos gastos sofreram modifi- crevia: “em primeiro lugar, que se empe- Tomas Todd Co., 1934. 513 pp.
cações. Os componentes estruturais dos teci- nhem as pessoas em corrigir os danos
07. BLAKE, D.R.; ALLEN, R.E.;
dos são substituídos de maneira inadequa- provavelmente provocados pela vida seden-
LUNEC, J. Free radicals in biological
da, sobrevindo cicatrizes, mudanças das tária, com exercícios corporais moderados...” systems: a review oriented to inflammatory
propriedades mecânicas e provavelmente a “É necessário, tanto quanto possível, que se processes. British Medical Bulletin,
inflamação em tendões, nervos, faíscas e interrompa a posição contínua, seja se sen- 43(2): 371-385, 1987.).
cápsula articular. Os fenômenos inflamatórios tando de quando em quando, seja cami-
tem intensidade muito variável, e serão nhando ou movimentando o corpo, de qual- 08. DAMÁSIO, A.R. Regulação biológica
e sobrevivência - Em O erro de Descartes-
auto-alimentados pela interação entre as quer forma...” Emoção, Razão e o Cérebro Humano.
alterações biológicas e mecânicas dos tecidos Tradução edição portuguesa Dora Vicente
envolvidos e acomodações do sistema ner- A aplicação de princípios ergonômicos mo- e Georgina Segurado - São Paulo.
voso na direção da manutenção da home- dernos, adequando os postos de trabalho às Companhia das Letras, 1996. 330 pp
ostase vital. Vimos que existem interações pessoas que neles operam40”, a adoção de
09. De PALMA, A.; De PALMA, A.F.-
mútuas entre o sistema imunológico, as métodos de administração que valorizem o
Envejecimiento biológico del ombro.
células responsáveis pela reparação tissular aspecto humano das pessoas que trabalham In Cirugía del Ombro. 3 ed. Buenos Aires,
e o Sistema Nervoso Central. A comuni- na empresa e a disposição de todas as Panamericana, 1985. p.283-318
cação entre os vários sistemas integrados partes envolvidas no trabalho, de envidar
tem via dupla: todos influenciam e são esforços para encontrar respostas adequadas 10. FERREL, W.R.; NADE, S.; NEW-
retroativamente influenciados uns pelos ou- para o problema das LER, é o melhor BOLD, P.J. The interrelation of neural dis-
charge, intra-articular pressure, and joint
tros. Daí ser perigoso, no atual estágio de caminho que temos para seguir e o único angle in the knee of the dog. J. Phisiol.
conhecimento que temos sobre as LER con- que realmente tem chances de interromper o 373: 353-365, 1986
siderá-las como sendo devidas “apenas” à tremendo desperdício de recursos financeiros
consequência de interações entre pessoas e de saúde pública que as doenças ocupa- 11. FOREMAN, J.C. Peptides and neuro-
geneticamente programadas para serem cionais do Aparelho Locomotor tem genic inflamation.
British Medical Bulletin,
“deprimidas ou histéricas” e condições de provocado.
43(2): 386-400, 1987.

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REFERÊNCIA S BIBLIOGRÁFICA S

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