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AULA 6

TRANSPORTE AEROMÉDICO

Nelson Augusto Mendes


CONVERSA INICIAL
O resgate aéreo é uma atividade realizada por meio de uma ambulância
aérea apropriada para remoção de paciente encontrado em qualquer localidade
(rodovias, matas, florestas, montanhas, rios, cânions etc), em que serão
proporcionados os primeiros atendimentos a vítimas de qualquer enfermidade.
Essas vítimas poderão ser removidas até o hospital de referência com qualidade
e rapidez, tendo uma maior chance de sobrevida.
Atualmente existem vários serviços que realizam essas atividades de
resgate aéreo, com aproximadamente 65 aeronaves distribuídas pelo país,
sendo a grande maioria de serviço público como bombeiro, polícia militar, polícia
rodoviária federal, polícia civil, marinha e aeronáutica.
Esse serviço exige uma capacitação técnica especializada em diversas
áreas, nas quais os profissionais deverão saber atuar não somente no
atendimento às vítimas, mas sobre a missão de salvamento como um todo.

CONTEXTUALIZANDO
Uma equipe de resgate aéreo foi acionada para atender um jovem que
estava praticando rafting em um rio passando por uma corredeira. Um dos
integrantes que estava no bote de rafting teve uma queda e bateu seu capacete
em uma pedra, perdendo a consciência por alguns minutos. Seus amigos o
retiraram da água, colocando-o na margem do rio, porém, eles estavam no meio
de um cânion, sem sinal para celular. Decidiram então subir em uma das
paredes do cânion para acessar um ponto alto onde havia sinal de celular e
acionaram a equipe de resgate.
Quando a equipe se aproximou do local do acidente, puderam pousar
onde os amigos conseguiram o sinal de celular. Ao pousar, a equipe de
atendimento foi comunicada que a vítima estava na parte baixa do cânion
gravemente ferida.
Neste tipo de missão, encontramos várias dificuldades, que iremos
solucionar no decorrer da aula.

TEMA 1 – MODALIDADES DO AEROMÉDICO


No atendimento aeromédico, existem duas modalidades de atendimento,
o primário e o secundário.

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1.1 Atendimento primário (APH primário)
O atendimento primário, conhecido como APH primário, é a realização
dos primeiros atendimentos às vítimas, sejam elas de trauma ou de emergências
clínicas.
Atualmente nessa modalidade de APH primário tem ocorrido uma grande
expansão nos serviços, devido ao menor tempo de transporte até o hospital de
referência, prática muito utilizada para atendimento em rodovias, em que o
deslocamento até o hospital mais próximo fica superior ao tempo de 30 minutos.
Nesse caso, a equipe irá prestar o primeiro atendimento às vítimas, iniciando
sua imobilização, estabilizando-a e removendo assim que a vítima estiver
estável, seguindo os protocolos de ATLS (advanced trauma life support ou
suporte avançado à vida no trauma) e ATCN (advanced trauma care for nurses
ou suporte avançado de vida no trauma para enfermagem). A equipe do APH
primário se restringe a dois profissionais da saúde, um médico e um enfermeiro,
dando assim suporte avançado de vida a essa vítima.
No APH primário, o atendimento deverá ser realizado com aeronaves de
asa rotativa, devido aos locais de pouso, podendo ser em rodovias, praias,
campos, montanhas, entre outros locais.

1.2 Atendimento secundário (APH secundário)


O atendimento secundário, conhecido como APH secundário, é a remoção
de pacientes que se encontram dentro de uma unidade de hospital. Porém, o
paciente necessita de recursos complementares. Sendo assim, esse paciente
deverá ser removido para outro hospital de continuidade de atendimento a ele.
O APH secundário poderá ser realizado com aeronaves de asa rotativa ou
com aeronaves de asa fixa.

TEMA 2 – MODALIDADES DE RESGATE


Na realização das atividades de resgate, existem várias modalidades,
ambas com suas peculiaridades.

2.1 Resgate aquático


A operação de resgate e salvamento aquático com o uso de aeronave de
asa rotativa requer que um dos tripulantes seja salva-vidas, pois ele deverá
realizar o desembarque com a aeronave em movimento em cima da água,
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próximo à vítima de afogamento. Deverá realizar a aproximação da vítima
nadando, realizar o salvamento em seguida ao resgate, que poderá ser nadando
até a costa ou via guincho de resgate fixado no helicóptero.

Figura 1 – Resgate aquático

2.2 Resgaste puçá


Puçá é um cesto desenvolvido para a realização de salvamento aquático
com auxílio de uma aeronave de asa rotativa. Seu objetivo é retirar a vítima de
afogamento de dentro da água com segurança, levando-a para fora da água e
deixando-a em um local seguro. Possui capacidade para transportar até 3
pessoas ou em média 300 kg.

Figura 2 – Resgate puçá

Fonte: <http://www.pilotopolicial.com.br/goarj-realiza-salvamento-aquatico-em-copacabana/>.

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2.3 Resgate pairado
O resgate pairado é definido como o embarque de pessoas ou vítimas
com a aeronave em voo totalmente parada no ar. Isso ocorre devido às más
condições da superfície para pouso e, com isso, a aeronave de asa rotativa não
tem condições de tocar totalmente os dois trens de pouso na superfície.

Figura 3 – Resgate pairado

2.4 Resgate com cesto


O resgate com cesto é realizado em locais de difícil acesso. Essa é uma
manobra vertical, na qual o cesto é fixado por uma corda que estará ancorada
na aeronave. Esse cesto ficará suspenso juntamente com uma pessoa para
realizar o resgate, a qual será responsável em passar todas as informações ao
comandante da aeronave, pois ele irá sinalizar o local ideal para a aeronave
permanecer pairada, enquanto ele recolhe as vítimas para dentro do cesto.

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Figura 4 – Cesto para resgate

2.5 Resgate vertical com maca


O resgate vertical com maca é a retirada de uma vítima gravemente
enferma com restrições de movimentação, em uma local de difícil acesso ou
inacessível, em que sua evacuação por resgate terrestre é inviável.
Nesse caso, para realizar esse resgate, o comandante da aeronave
deverá realizar uma avaliação minuciosa da operação, pois ela gera um grande
risco a todos, sendo considerada como última opção de resgate.
O acesso à vítima é realizado por meio da técnica de rapel com a
aeronave pairada. Após o resgate e imobilização da vítima na maca, ela é fixada
em um cabo e removida até um local de pouso seguro.

Figura 5 – Resgate vertical com maca

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2.6 Resgate em montanha
O resgate em montanha é uma associação de todas as técnica descritas
anteriormente, pois, como se trata de uma área inóspita, na grande maioria não
possui um local seguro para pouso, sendo feito o resgate pairado, ou em
algumas situação poderá ser realizado o resgate com cesto. De acordo com a
gravidade da vítima, será realizado o resgate com maca vertical.
Para a realização desse resgate, deverá ser feita uma avaliação pelo
comandante da aeronave, pois muitas vezes as condições climáticas não
permitem a aproximação da aeronave em ambiente montanhoso. Situações tais
como: mudança de direção do vento, neblina, horário do resgate, tripulação
capacitada para tal atividade.
Figura 7 – Resgate em montanha

2.7 Resgate em rodovia


O resgate em rodovia é utilizado em dois motivos: distância e gravidade
da vítima. O pouso é realizado em locais não homologados, onde
necessariamente a equipe de solo deverá isolar o local, deixando-o mais seguro
para a equipe de atendimento, curiosos e para a vítima.
A opção de acionamento de uma aeronave de asa rotativa para
realização de resgate em rodovia deve ser analisada por toda a equipe de solo e
aérea, pois não basta apenas simplesmente acionar a aeronave de resgate.
Vários fatores devem ser observados: clima, horário, locais para pouso,
isolamento do local, superfície de pouso, entre outros pontos.

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Figura 7 – Resgate em rodovia

Após ser vistas algumas das modalidades de resgate, deve-se lembrar


que a aeronave de asa rotativa não poderá ser acionada sempre, pois
dependerá muito das condições climáticas, horário e tripulação capacitada para
realizar determinado resgate.

TEMA 3 – EMBARQUE E DESEMBARQUE NA AERONAVE


O emprego com aeronaves de asa rotativa no atendimento pré-hospitalar
tem crescido cada dia mais, sendo o mais rápido meio de remoção de pacientes
críticos para um hospital de referência.
Porém, nesse método de resgate ocorre um grande risco para a equipe
de solo. Abaixo serão descritos alguns pontos de extrema importância na
realização de embarque e desembarque em uma aeronave de asa rotativa.
a. Ao identificar que um helicóptero está se aproximado para pouso,
mantenha-se afastado do local onde a aeronave irá pousar e afastar o
máximo de pessoas possível.
b. Permanecer longe para evitar que objetos que estão em solo sejam
arremessados contra você.
c. Ficar longe do roto de calda (parte de traz do avião), pois esse pode estar
em alta rotação podendo machucar se houver aproximação de pessoas.

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d. Toda e qualquer aproximação da aeronave será ser autorizada pelo
comandante. Sendo assim, aguardar o sinal para saber se poderá
aproximar seja com o roto ligado ou não.
e. Evitar deixar materiais soltos como boné, cobertores, cintas de fixação,
canetas, prancheta etc.
f. Sempre que se aproximar ou se afastar de um helicóptero, fazer com que
o corpo fique ligeiramente inclinado para frente. Isso evitará que as pás
do rotor principal possam atingir você.
g. Caso ocorra a entrada de poeira nos olhos devido ao pouso, parar, sentar
e aguardar o auxílio de um tripulante.

A imagem a seguir mostra o local onde deverá ser realizado a


aproximação da aeronave.

Figura 8 – Locais de acesso ao helicóptero

DG: por favor refazer esta imagem. Disponível em:


http://hangarr22.blogspot.com.br/2016/04/dicas-de-seguranca-
operacional_5.html.
Traduzir e corrigir os textos:
Aceitável (com acento);
Preferred – preferencial

TEMA 4 – ZONA DE POUSO DE HELICÓPTERO (ZPH)


A zona de pouso de helicóptero é qualquer área homologada ou não para
pousos e decolagem com aeronaves de asa rotativas.

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Nas missões de resgate, muitas vezes o pouso é ocasionado em áreas
não homologadas, como áreas urbanas, rurais ou florestas. Esse pouso
realizado em locais não homologados é amparado pela IMA – 100/4 e pela
RBHA 91, subparte “K”. Porém, esse pouso e essa decolagem em locais não
homologados são de responsabilidade do comandante da aeronave.
A escolha de uma ZPH é determinada por alguns fatores, tais como:
 Dimensão da área de toque mínima de 17m X 17m.
 A área está completamente livre?
 Topografia do terreno é compatível para pouso?
 Como são as características do solo e/ou vegetação da área de pouso?
 Solo compatível com o peso da aeronave?
 Barrancos, entulhos, alagados, areia etc.?
 Facilidade de isolamento?
Em geral, só será estabelecida uma ZPH quando forem asseguradas as
seguintes regras:
 A viabilidade técnica para pouso e a posterior decolagem.
 A segurança da tripulação, da aeronave, do pessoal envolvido na
ocorrência e do público geral que se encontra nas proximidades do
evento.

Figura 9 – Zona para pouso de helicóptero para área urbana

A imagem mostra uma zona segura para pouso de helicóptero em uma


área urbana, em que a localização do acidente se encontra a mais de 50 metros
do local de pouso e o fluxo de veículos foi parado com distância superior a 50
metros. Assim, pode-se descrever que o local está seguro, contudo, um
tripulante da aeronave deverá permanecer ao redor dela, evitando a presença de
pessoas desconhecidas, sem proporcionar algum risco.

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TEMA 5 – CUIDADOS COM O PACIENTE
Na remoção de paciente com aeronaves de asa rotativa, deverão ser
tomados alguns cuidados especiais, tais como:
 Manter o paciente dentro da ambulância antes do pouso da aeronave, de
preferência para a equipe de atendimento da aeronave avaliar a vítima
dentro da ambulância antes mesmo de realizar sua remoção até a
aeronave.
 Imobilizar firmemente o paciente na maca rígida, principalmente sua
cabeça.
 Fixar a maca rígida na maca da aeronave somente quando autorizado
pelo comandante.
 Cobrir o paciente com manta térmica, não deixando parte da manta solta.
 Antes de entrar com o paciente na aeronave, deixar todos os soros fixos
no corpo do paciente, quando esse paciente estiver dentro da aeronave.
Fixar os soros em seus devidos suportes dentro da aeronave.
 Colocar os equipamentos rente ao corpo do paciente, não deixando cabos
soltos.
 Proteger membros imobilizados, evitado assim qualquer contato do
membro com alguma parte da aeronave.
 Não deixar o paciente perder temperatura, aquecê-lo o bem, pois durante
o voo a temperatura irá abaixar na altitude.
 Caso paciente esteja entubado, lembrar-se de trocar o ar por água.
 Paciente entubado deverá permanecer sedado durante o voo. Lembrar-se
de mantê-lo contido sobre prescrição médica.
 Redobrar a atenção com a fixação do tubo de pacientes entubados, pois
devido a vibrações, este poderá se deslocar.
 Verificar a possibilidade de manter dois acessos venosos de grosso
calibre, pois a fixação deste no paciente deverá estar em perfeito estado.
 Colocar protetor auricular antes de acomodar o paciente dentro da
aeronave.
 Em situação de paciente com dreno de tórax, evitar deixá-lo fechado e
manter sempre o sistema coletor abaixo do nível do paciente. Se possível,
utilizar o dispositivo de fluxo único.
 Em caso de paciente politraumatizado, dar preferência para realizar o voo
com as portas da aeronave fechadas.

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 Verificar se todo seu material de atendimento está acomodado dentro dos
compartimentos da aeronave.
 Posicionar o monitor e respirador em local de fácil visibilidade para a
equipe de atendimento.

Por fim, para realizar o voo com segurança, deve-se evitar a realização de
procedimentos durante o voo, como demonstrado anteriormente. As aeronaves
de asa rotativa não possuem espaço para realização de grande procedimento,
providencie estabilidade do paciente em solo.

FINALIZANDO
O resgate com aeronave de asa rotativa é uma modalidade na qual a
equipe deve estar preparada para diversas situações, pois os profissionais serão
deslocados para operações de resgate aquático, em áreas remotas, em
rodovias, em qualquer lugar que se exigir uma remoção mais rápida.
Sendo assim, é importante e obrigatório que o profissional esteja
atualizado constantemente a respeito das novas técnicas de atendimento e de
resgate.
Por ser uma área nova da saúde, constantemente estão surgindo novas
descobertas que irão proporcionar um atendimento melhor aos pacientes que
necessitam de transporte aeromédico.

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REFERÊNCIAS

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Operacional – CTOp 2007, Comando Operacional, 3º Batalhão de Busca e
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MANNARINO, L.; TIMERMAN, S. Transporte terrestre e aéreo do paciente


crítico. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo, 1998.

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Enfermeiro de bordo: uma profissão no ar. Acta Paul Enferm, 1999.

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