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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JEAN STEFANI BAPTISTA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 26/07/2022 às 13:41 , sob o número WSRP22703208430
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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1025123-35.2022.8.26.0576 e código 885A2D3.
EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DO ANEXO
DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE SÃO JOSÉ DO RIO
PRETO – SP,

Processo nº 1025123-35.2022.8.26.0576

LEOVALDO BUZINARE, já qualificado nos autos da ação cível em


epígrafe, por seu advogado, vem com o devido respeito à ilustre presença de Vossa
Excelência, manifestar, em réplica, o seguinte:

Na contestação a Requerida “rebate” a tese inicial e ao final roga pela


improcedência da inicial.

A contestação é genérica e apresenta fatos diversos da inicial, senão vejamos:

A petição inicial é simples e objetiva.

A portaria CAT-95 de 9/12/2020, acrescentou ao artigo 5º da Portaria CAT


27/15 de 26/02/2015, que disciplina o reconhecimento de imunidade, isenção, dispensa
de pagamento e a restituição de IPVA, os §§ 3º, 4º e 5º, com destaque o §3º que
condicionou a isenção do IPVA à indicação de alguns tipos de restrições no campo
observações da CNH.

Em resumo a nova legislação passou a dar um TRATAMENTO


DIFERENCIADO PARA ALGUNS PCDs EM DETRIMENTO DE OUTROS PCDs,
pois como nota-se, para a isenção do IPVA a partir de 2021, a legislação passará a exigir
que o carro do deficiente possua adaptações e customizações (pedal de acelerador à
esquerda, freio manual, etc), e mais, que em sua CNH conste alguma das letras de
restrições previstas no §3º do artigo 5º da Portaria CAT 27/15 de 26/02/2015,
acrescentado pela Portaria CAT-95 de 9/12/2020, conforme anteriormente acima
mencionado.

Contudo, nem todos PCDs necessariamente precisam de adaptações externas


em seu veículo, e ainda, nem todos PCDs, possuem em suas CNHs as restrições de letras
contidas no §3º do artigo 5º da Portaria CAT 27/15, como inclusive é o caso do Impetrante

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que necessita conforme o laudo médico de veículo com transmissão automática e direção
hidráulica, todavia o mesmo não deixa de ser PCD.

O PCD que não possui a perna direita necessita do pedal invertido do


acelerador para conduzir o veículo, considerado uma adaptação/customização que não
vem de fábrica. Já o PCD que não possui a perna esquerda, necessita simplesmente de um
veículo com câmbio automático eliminando a existência da embreagem, não havendo a
necessidade de qualquer tipo de adaptação/customização externa, ou seja, feita fora da
concessionária.

Sendo assim, com base na nova lei, no primeiro exemplo o PCD terá direito
de isenção no IPVA, por outro lado, no segundo caso, o PCD não terá direito ao benefício
em razão do seu veículo não possuir nenhum tipo de adaptação externa, o que é uma
verdadeira aberração jurídica criada pelo legislador.

Isso demonstra de forma cabal que a Lei Estadual 17.293/2020 estabelece


tratamento diferente para pessoas com deficiência física, evidenciando a TOTAL
ILÓGICA. PCD é PCD INDEPENDENTE DA DEFICIÊNCIA. (art. 2º - lei
13.146/2015).

A nova lei retirou a responsabilidade e competência de declarar quem é ou


não PCD e deu ao Estado de São Paulo, quando na verdade apenas um médico
credenciado pelo DETRAN, poderia fazê-lo, atestando caso a caso, a deficiência,
incapacidade e restrição da pessoa sobre a condução de veículo ou necessidade de
adaptação.

É o médico credenciado quem atesta que o motorista necessita


obrigatoriamente de algum auxílio para conduzir seu veículo, isso o faz
consequentemente uma pessoa com deficiência física, pouco importando se este auxílio
provém de uma adaptação externa ou de fábrica.

Como se nota, essa verdadeira discriminação instituída pela lei entre PCDs
demonstra total agressão a preceitos constitucionais, trazendo à tona o direito líquido e
certo da impetrante em conquistar a manutenção da isenção de IPVA que anteriormente
já havia sido concedido.

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A alteração na lei que estabelece o tratamento tributário do IPVA ofende
sensivelmente o princípio da isonomia, também chamado de princípio da igualdade.

O princípio da isonomia veda o tratamento jurídico diferenciado entre as


pessoas que se encontram sob o mesmo pressuposto fático, assim como o tratamento
igualitário das pessoas que se encontram sob pressupostos fáticos diferentes.

Sabemos que tal princípio, nada mais é do que a equalização das normas e
dos procedimentos jurídicos entre os indivíduos, garantindo que a lei será aplicada de
forma igualitária entre as pessoas, levando em consideração suas desigualdades para a
aplicação dessas normas.

Dessa forma, a isonomia tem como objetivo a adaptação dos meios para que
eles atendam as diferenças e desigualdades entre as pessoas, com o propósito de
possibilitar a aplicação das normas para todos da forma mais igual possível. Esse
princípio, de aplicação cogente imediata, voltado para o legislador ordinário, tem matriz
constitucional no artigo 5° da CF, tendo o propósito de assegurar que todas as pessoas
serão de igual forma vistas pelos olhos da lei, levando em consideração suas
particularidades e características.

Nesse sentido, é preciso ter bom senso e razoabilidade na aplicação da regra


de isenção fiscal concedida aos proprietários de veículos portadores de deficiência, qual
seja a de garantir sua dignidade e dar o efetivo cumprimento à regra de proteção que lhes
foi garantida na Constituição Federal, a fim de que lhes sejam proporcionados os meios
necessários ao tratamento de sua própria condição física de incapacidade.

A isenção de IPVA das pessoas com deficiência deve abranger inclusive


aqueles que demandam terceiro como condutor, tal como ocorre com o autor. A
Constituição da República preconiza a inclusão da pessoa com deficiência e deve ser
respeitada pelas normas infraconstitucionais, cabendo ao Poder Público e seus órgãos
assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos.

O artigo 150, II da Constituição Federal veda tratamento desigual entre


contribuintes que se encontrem em situação de equivalência, proibindo distinção de
qualquer forma. Sendo assim, a Lei Estadual n. 17.293/2020 em seu artigo 21, também
feriu o princípio da igualdade tributária.

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Ao vedar tratamento desigual para contribuintes que se encontrem em
situação equivalente, implicitamente também veda tratamento igual para aqueles que se
encontre em situação de desigualdade, de tal forma a contemplar em sua plenitude o
princípio da isonomia abordado no tópico anterior.

Nas palavras de Ruy Barbosa de Oliveira:

Demais disso, a própria Constituição do Estado de São Paulo proíbe o


tratamento desigual perante seus contribuintes.

Logo, o novo Decreto fere vários princípios sensíveis do nosso ordenamento


jurídico.

O decreto em questão ao realizar as alterações, diga-se de passagem,


absurdas, ofendeu também o princípio da dignidade da pessoa humana, referência da
nossa Carta Magna.

Como se já não bastasse a Impetrante ter que conviver com a sua deficiência
e as dificuldades dela decorrentes, ainda tem que suportar injustiças causadas pelo
legislador que aparentemente se esqueceu de que a dignidade da pessoa humana é um
princípio fundamental que serve como base de todos os demais princípios e normas
constitucionais e infraconstitucionais.

Não é possível imaginar-se desconsiderar a dignidade da pessoa humana em


nenhuma forma de criação, aplicação ou interpretação legislativa.

Ainda quanto aos princípios fundamentais, não podemos olvidar do que


preconizam os incisos I e IV do artigo 3º da nossa Lei Maior, que tem como objetivo
constituir uma sociedade justa sem qualquer discriminação.

O princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos


fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo
cidadão ou pela formação social em que ele vive. É o que chamamos de efeito “cliquet”.

De acordo com Canotilho (2002), este princípio significa que é


INCONSTITUCIONAL qualquer medida tendente a revogar os direitos sociais já

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regulamentados, sem a criação de outros meios alternativos capazes de compensar a
anulação desses benefícios. O que foi justamente o que ocorreu.

A norma estadual que trata da isenção do IPVA para pessoas com deficiência
(art. 13, inciso III da lei estadual nº 13.296/08), deve ser interpretada em sintonia com a
Constituição Federal, em especial quanto ao princípio da isonomia e normas que
asseguram proteção especial às pessoas portadoras de deficiência, mesmo porque, o art.
5º da Lei de Introdução ao Código Civil dispõe que na aplicação da lei, o juiz atenderá
aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

O artigo 111 do CTN prevê a interpretação literal da norma, mas, não pode
levar o julgador à absurda conclusão de que esteja impedido de apreciar e aplicar as
normas de direito, valendo-se de uma equilibrada ponderação quanto a elementos que
integram a moderna metodologia de interpretação das normas jurídicas, pois como já dito,
não é lícito ao Estado-membro restringir a isenção de IPVA para um percentual dos
portadores de deficiência que não possuam adaptações/customizações externas em seus
veículos, ou ainda, que não possuam em suas CNHs as letras de restrições exigidas na
Portaria - CAT 27/15 de 26/02/2015 ou adaptações exigidas.

Por fim, adotando-se a interpretação sistêmica e não a literal, será forçoso


concluir pela inconstitucionalidade da expressão ‘’veículo automotor especificamente
adaptado e customizado’’ contido no inciso III do artigo 13 da Lei Estadual 13.293/2008,
redação dada pela Lei Estadual 17.293/2020 em seu artigo 21, posto que, o significado
dessa isenção só pode ser o de amparar indistintamente todos deficientes físicos, até
mesmo como uma compensação normativa ao déficit que apresentam, reduzindo as
dificuldades de sua locomoção e favorecendo sua inserção social.

Desta forma, constata-se que a interpretação lógico-sistemática deve ser mais


prestigiada, visto que como já dito, a legislação paulistana afronta não só o princípio da
isonomia e normas de proteção especial às pessoas portadoras de deficiência, mas também
o princípio da igualdade tributária.

Por fim, não há nos autos documentos que comprovam a tese defensiva.

Resta claro a tentativa da Requerida se isentar de responsabilidades a todo


custo.

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Ante o exposto o autor REITERA os termos descritos na petição inicial e
requer digne-se Vossa Excelência, receber a presente manifestação, julgando
procedentes todos requerimentos e pedidos articulados na petição inicial.

Nos termos em que, pede-se deferimento.

Guapiaçu - SP, 26 de julho de 2022.

Jean Stefani Baptista


OAB/SP 268.076

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