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Accioly NE.

Organização Funcional do Sistema Nervoso

CAPÍTULO 01
Organização Funcional do Sistema Nervoso

Prof. Euclides Trindade Filho


(Aula do dia 05/02/2003)

Introdução
O ser humano, em virtude de possuir consciência, sempre procurou entender o
significado e as causas dos fenômenos naturais. Assim, durante toda a sua história o
ser humano tem feito várias perguntas. Algumas foram respondidas devido aos
avanços científicos. No entanto, outras continuam sem respostas. Algumas
perguntas, das que não foram respondidas são importantes para entender a origem
humana. Por exemplo: "O que foi que gerou a vida?". Essa é uma questão
fundamental para a humanidade. Até hoje não temos uma resposta clara e
comprovada, mas, no entanto, a evolução nos deu uma série de evidências que
fazem a gente acreditar que a hipótese defendida pela ciência é a verdadeira. Digo
isso porque há outras hipóteses como a religiosa, por exemplo. E o que é que a
hipótese religiosa diz? Deus em sete dias criou uma coisa, criou outra... Essa é uma
explicação simples, mas não é científica.

A ciência tenta explicar de forma diferente: pegando provas colhidas na natureza para
tentar mostrar que a vida surgiu de uma forma casual, mas bem seqüenciada. Mas,
talvez para nós essa não seja a pergunta mais crítica. Talvez a pergunta mais
importante seja: "o que deu origem à nossa consciência?". Nós sabemos que na
natureza existem várias espécies como sapo, cachorro, e o ser humano. No entanto,
o ser humano se distingue dos outros seres por ter aquilo que a gente acha que só
existe na gente (e é bem provável que só exista na gente mesmo) que é a
consciência, ou seja, a capacidade que nós temos de saber que existimos, que
somos um ser singular, que temos um passado e podemos ter um futuro. Isso aí nós
acreditamos que só o ser humano tem, pois se outros animais tivessem eles fariam
planejamentos.

Na tentativa de responder às perguntas citadas anteriormente diversas hipóteses


surgiram. Essas hipóteses sempre fazem parte de um modo de pensar, ou seja,
depende de um ponto de vista filosófico. Aí a gente pode dizer assim: durante a
História humana surgiram duas vertentes filosóficas. Uma conhecida como Idealismo
e outra chamada de Materialismo. As duas concordam que existem dois elementos
da natureza: a matéria e a idéia (alguns chamam de idéia). Quem defende o ponto de
vista materialista chama esse segundo elemento da natureza de idéia, enquanto que
quem defende o ponto de vista idealista chama esse elemento de espírito (ou de
alma).

Então nas duas concepções existem os dois elementos: a matéria que é o concreto, e
a idéia que é o mais subjetivo, por exemplo, os sentimentos ou o pensamento ou o
fato da gente saber que existe. Qual seria a diferença entre essas duas concepções?
A diferença entre elas é saber quem deu origem a quem. As concepções idealistas
dizem que primeiro surgiu a idéia, e da idéia surgiu a matéria; é a opinião seguida
pelas religiões. Na concepção religiosa, a idéia é Deus, uma coisa abstrata. E
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existem alguns grupos idealistas que não são religiosos, por exemplo, a corrente
filosófica chamada solipcismo que diz que tudo é construído pela nossa mente, ou
seja, vocês (alunos) na verdade não existem, ou seja, sou eu quem está
“construindo” vocês. Se eu estiver diante de um livro, só vai existir alguma letra
quando eu abri-lo, enquanto eu não abrir não vai existir nada, porque tudo é
construção da minha mente. Esta é uma idéia idealista porque parte do princípio de
que só existe a idéia (essa “idéia” é mais radical ainda).

Já os materialistas acham que primeiro surgiu a matéria que posteriormente deu


origem à vida. Há lógica nisso? Assim com eu estou dizendo não, mas quem defende
o materialismo diz o seguinte: a vida surgiu e foi evoluindo, só que durante a
evolução surgiram elementos; elemento dentro do ser vivo que é o Sistema Nervoso,
cuja evolução tornou possível a construção de idéias, por exemplo. Vocês vão ver
durante o curso que quem comanda todo o nosso comportamento (assim como o do
sapo, do peixe...) é o trabalho do Sistema Nervoso (SN). Nós vemos o mundo através
do SN, assim como reconhecemos o mundo através do SN. Então essa concepção
materialista diz assim: "só naqueles seres vivos que evoluíram seu SN foi possível
construir alguma coisa e, dentro do próprio SN, tornar possível, por exemplo, o
pensamento e a autoconsciência".

Eu vou mostrar para vocês alguns fatos históricos que defendem o ponto de vista
materialista. Vocês vão perceber que todo o curso de Fisiologia está baseado nesse
mesmo ponto de vista, no entanto, isso não quer dizer que vocês vão ter que
concordar. É bom que haja discussão, que vocês defendam outros modos de pensar
essa questão.

No século XVIII já existiam algumas pessoas que defendiam essa visão materialista
da origem da vida (da origem da consciência humana). Nessa época, existia na
Alemanha, um médico chamado Joseph Franz Gall. Esse médico defendia a idéia de
que é o SN quem constrói os comportamentos. Ele percebeu que muitos pacientes
traumatizados durante as guerras, que sofreram lesão em uma parte do cérebro
apresentavam déficits neurológicos como não mexer uma parte do corpo, por
exemplo. Então ele criou a teoria chamada de Frenologia. Gall imaginou assim: se
eu todo dia fizer exercício com meu bíceps ele hipertrofia, assim ele imaginou que se
o músculo com muito trabalho hipertrofia, com o cérebro também ocorrerá o mesmo
(essa foi a primeira idéia que ele teve para construir essa Frenologia). O segundo
componente da teoria dele era que todos os comportamentos humanos eram
organizados no córtex cerebral.

Ele pensou que se um comportamento está muito desenvolvido em um indivíduo, a


parte do córtex responsável por esse comportamento irá hipertrofiar e empurrar o
osso, formando um "inchaço" no crânio da pessoa (ele pegou o pensamento de
Lamarck - Lei do uso e desuso). Aí ele examinou dezenas de pessoas e criou um
mapa que ficou conhecido como o Mapa Frenológico de Gall. Quando ele lançou
essa teoria provocou muita discussão, boa parte das pessoas que defendiam a visão
materialista se afastaram. O erro de Gall foi achar que comportamentos tão
complexos ou incompreensíveis pudessem ser organizados pelo córtex cerebral. Hoje
nós sabemos que muitos comportamentos nesse mapa que não tem nada a ver com
o córtex.

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Regiões Cerebrais
No século XIX, na França, existia um hospital-manicõmio que cuidava de pacientes
neurológicos. Naquela época havia pessoas jogadas no manicômio, mas que eram
abandonadas. Nesse hospital tinha um paciente chamado Sr. Tan tan, porque ele só
falava tantã; você perguntava qualquer coisa e ele respondia: tantã. Ele tinha esse
problema de expressão da linguagem, mas, entendia perfeitamente a linguagem.
Brocá, após sua morte, fez uma necropsia nele e observou que a região do lobo
frontal esquerdo estava completamente destruída. Então ele observou outros
pacientes e constatou que o lobo frontal esquerdo é responsável pela expressão da
linguagem, e quando lesionado pode ocorrer de o paciente não dar nome a certas
palavras, ele está falando e estão faltando palavras, aí ele usa a paraprasia (começa
a colocar outras para substituir aquela), mas pode chegar ao extremo do indivíduo
não falar nada ou falar um estereótipo (como o Sr Tantã). Essa região é conhecida
como Área de Broca.

Quatro anos depois, na Alemanha, um médico chamado Karl Wernicke apresentou


um paciente que era o contrário do Sr Tantã. Ele falava o tempo todo, ninguém
conseguia fazê-lo parar de falar, mas também ele não entendia nada do que
perguntavam a ele. Quando morreu, verificou-se que havia lesão no giro temporal
superior. Essa área é chamada de Área de Wernicke e é responsável pela
compreensão da linguagem.

Dois fisiologistas ingleses, Gustav Fritsch e Eduard Hitzig fizeram experimentos de


estimulação elétrica cortical em cachorros. Abriram seu crânio e começaram a
estimular o córtex do cachorro com corrente elétrica, aí eles perceberam que tinha
uma área do hemisfério esquerdo que toda vez que ele estimulava aparecia
movimento no lado direito e uma área do hemisfério direito, estimulada, provocava
movimento na parte esquerda.

Sabe-se também que tem um tipo de epilepsia, chamada de Epilepsia Motora (Obs:
epilepsia = alguns neurônios de vez em quando geram potenciais de ação
exagerados, estimulando vários outros em torno dele; aí quando a atividade elétrica
se espalha, bloqueia o funcionamento normal em cada uma das áreas corticais.
Quando essa atividade elétrica se espalha pelo córtex o indivíduo perde a
consciência e cai), só que essa epilepsia parcial motora geralmente começa
justamente nessa área e pode não se espalhar. Assim, é comum que um paciente
desse tenha só um movimento na mão, quando esses neurônios param esse
movimento desaparece. Algumas vezes essa atividade motora pode alcançar
cotovelo ou braço e pode ficar só aí ou às vezes se espalhar pelo corpo também.
Então, ele verificou que tem uma área no córtex que está se preocupando em
construir o movimento.

No século XVIII (década de 80), houve um caso os EUA que demonstrou quais são
as funções do lobo frontal. Havia uma construção num local de muitas rochas, Era
abrir essas pedras. Para fazer o buraco naquela época pegavam a furadeira, faziam o
buraco, botavam pólvora e em seguida um pedaço de estopa. Em seguida e eles
batiam com uma haste para ficar bem compacta. Um cara, conhecido Phineas Gage,
quando ia botar a estopa, distraiu-se (alguém conversou com ele) e esqueceu da
estopa, aí ele foi bater com a barra para compactar e então ocorreu um acidente: a
pólvora explodiu, a barra foi projetada e atravessou seu crânio. Ele apagou durante

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alguns minutos e acordou, foi ao hospital e sobreviveu. Ele não tinha paralisia. A
barra passou pelo lobo frontal. Ele a partir daí não conseguia cumprir as metas dele;
não conseguia por em prática os passos para chegar na meta. Ele até pensava:
"quero fazer isso". Mas o dia-a-dia dele não convergia para isso, forçando-o inclusive
a parar de trabalhar. Ele apresentou também uma desinibição comportamental, ou
seja, ele não tinha mais nenhuma preocupação moral (ficou sem vergonha!). Olha
que interessante: uma área do córtex é importante para o comportamento que é bem
subjetivo.

A grande maioria dessas informações surge de pacientes doentes. Há uns 20 anos


surgiu um exame chamado de Tomografia com emissão de pósitrons. Só que esse
radioisótopo tem vida curta, aí você injeta e tira fotografia do cérebro. A lógica do
exame é que, se eu estou fazendo uma atividade que ocupe uma região do meu
cérebro, os neurônios do meu cérebro dessa região vão trabalhar mais intensamente,
então o fluxo de sangue na área vai aumentar, e a concentração desse radioisótopo
também; uma fotografia do cérebro neste momento vai registrar o aumento da
atividade desta região. Eles faziam assim: colocavam numa tela palavras, no
momento em que o indivíduo olhava as palavras eles fotografavam. Então se viu que
a região posterior do lobo occipital estava em atividade, ou seja, para a gente
entender por meio da visão, é preciso que os neurônios localizados no lobo occipital
trabalhem. Nós sabemos que qualquer lesão no lobo occipital provoca déficit da
visão. Existem pessoas que têm epilepsia que começa nesse lobo, assim a pessoa
começa a ver coisas, imagens ou luzes.

Há uns cinco anos, mais ou menos, Cláudia Lins foi fazer uma cirurgia, houve um
problema e ela ficou em coma. O neurocirurgião disse que ela ia ficar cega, porque
ele fez ressonância magnética e viu que essa região estava edemaciada, o que não
significa que os neurônios morreram, tanto que o edema (que não era tão grande),
foi reabsorvido e ela recuperou a atividade neuronal.

Voltando ao exame... Era falado alguma palavra ou frase ou emitido algum ruído e
quando o indivíduo ouvia, o cérebro era fotografado. Então ficou aceso o giro superior
do lobo temporal. Toda informação que chega ao ouvido projeta no lobo temporal.
Para um indivíduo ficar surdo após lesão do lobo temporal, a lesão tem que ser nos
dois hemisférios.

Outra atividade era pedir pro indivíduo falar e quando fotografava via que ficava
acesa a área de Brocá (porção mais posterior do lobo frontal). Aí pediu pro indivíduo
pensar algumas palavras sem falar, aí foram ativadas áreas do lobo temporal, do lobo
frontal e do lobo parietal, principalmente no giro marginal e giro angular. Portanto,
observem bem, uma atividade abstrata como o pensamento precisa do trabalho de
várias áreas: frontal, temporal e parte do lobo parietal.

A memória é um outro tipo de atividade abstrata na qual é conhecida as áreas


cerebrais envolvidas neste comportamento. Havia um paciente que tinha epilepsia do
lobo temporal, que é uma das mais sérias porque o indivíduo tem muitas crises em
um mesmo dia (às vezes chega a 100 crises por dia), e a medicação não é muito
efetiva. Nesse paciente ficou evidente que a atividade elétrica anormal estava
surgindo no lobo temporal. Assim, a solução encontrada no seu caso foi a cirurgia
para retirar o lobo temporal (tirando também o hipocampo). Isso acabou se tornando
um desastre para o paciente. A epilepsia foi resolvida, mas o paciente não conseguia
mais fazer nenhum tipo de memória. Ele passou muitos anos com uma psicóloga e
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em todas as sessões ela tinha de ser apresentada a ele novamente porque ele não
se lembrava.

As informações dessa aula vão ficar guardadas no hipocampo de vocês. Dormindo,


vocês vão passar por uma fase chamada Fase de Sono Paradoxal. Nessa fase a
informação que está no hipocampo vai passando para o córtex, que é como se fosse
o "disco rígido" da gente, onde guardamos as coisas de forma bem estável; só que
essa aula de hoje, por exemplo, vai precisar de semanas para ser armazenada, pois
todo dia o hipocampo está lá como que "colando" a informação aos poucos.
Enquanto as informações estão no hipocampo elas podem ser perdidas facilmente.
Quando as informações estão no córtex cerebral é mais difícil perdê-las. No entanto
as informações colocadas recentemente podem também ser perdidas (como no caso
do Herbert Viana). Se o indivíduo tiver algum problema, a capacidade de guardar a
informação naquele período em que o hipocampo está ¨colando¨, então as
informações recentes desaparecem, mas aquilo que estava guardado há mais tempo
não sai, a não ser que tenha lesão no córtex. O indivíduo pode ter perda de memória
passada, só que aí precisa ser uma lesão bem extensa, porque a gente não guarda
memória como "pontinho" não, a informação é guardada toda "esquartejada". A
laranja, por exemplo, o seu aspecto visual vai ser guardado perto do lobo occipital, o
aspecto gustativo da laranja vai ser guardado perto da área que recebe informações
gustativas. Assim nós temos o córtex dividido em áreas que recebem informações
sensoriais, mas tudo está unificado: basta ver a laranja e vem tudo de uma vez, o
aspecto visual, como se escreve... Tudo unificado na minha consciência.

Nas demências, em que a lesão é bem extensa, a lesão vai aumentando e ocorre
perda do "passado". No caso do locutor esportivo Osmar Santos, ele entende a
linguagem, mas quando vai falar não consegue articular palavras. O problema dele é
na expressão da linguagem. Se a lesão atingir a área de Wernicke o indivíduo se
acaba mesmo, porque a linguagem é importante para construir a consciência. O
pensamento é construído usando a linguagem, se o indivíduo não tem linguagem,
desaparece como ser humano, torna-se apenas um ser vivente.

Vocês vão ver que o córtex é dividido em áreas primárias, secundárias e terciárias.
Na primária, a informação chega de imediato, daí é processada e vai passando para
áreas superiores. As áreas terciárias são as mais importantes para o ser humano,
pois permitem a abstração; são essas áreas as primeiras a serem afetadas na
demência, de tal forma que lesa as terciárias, depois as secundárias e depois as
primárias. Isso no córtex, já o hipocampo é uma das primeiras áreas a ser afetada na
demência.

Sistema Nervoso
O Sistema Nervoso (SN) é dividido anatomicamente em Sistema Nervoso Central
(SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP). Essa divisão anatômica usa como marco
a presença de uma proteção óssea, o SNC está protegido pelo crânio e coluna
vertebral; e tudo que sai do SNC faz parte do SNP.

Os componentes do SNC, o que está protegido pelo crânio é o encéfalo e o que está
protegido pela coluna é a medula. Se vocês cortarem a medula horizontalmente,
vocês verão que não há grandes diferenças entre a medula torácica, cervical ou
lombar. Tem a parte externa formada por substância branca e a parte central, por

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substância cinzenta, o que pode mudar é a espessura, mas o básico é igual. O


encéfalo tem partes bem diferentes tanto funcionalmente quanto estruturalmente.
Então podemos dividir o encéfalo em: a) Tronco Encefálico (com 3 componentes); b)
Cerebelo; e c) Cérebro (diencéfalo e telencéfalo).

Durante o curso vamos ver cada um dos componentes e ver também que à medida
que a gente vai "subindo", vai ficando mais sofisticado. O mais elementar é o trabalho
da medula. A única coisa que a gente vai falar de função agora, que é importante, é
uma função relacionada com o Tronco Encefálico.

Função fundamental do Tronco Encefálico


Nós temos um local dentro do SNC que é chamado de substância cinzenta e outra de
substância branca (o corpo celular dos neurônios existe exclusivamente na
substância cinzenta). Agora tem algumas estruturas, por exemplo, no cérebro, em
que eu tenho uma substância cinzenta externa, mas eu encontro no meio da
substância branca alguns aglomerados de muitos neurônios, também são de
substância cinzenta só que eu vou chamar cada um de núcleo nervoso. No Tronco
Encefálico existem vários núcleos diferentes, e cada um tem uma função, por
exemplo: têm núcleos do bulbo importantes para controlar a respiração automática,
outros para controlar a pressão arterial, etc.

Agora no Tronco Encefálico vemos neurônios dispersos na substância branca, eles


estão tão interligados que formam uma estrutura que é importantíssima chamada de
Formação Reticular. Os neurônios não estão agrupados formando um núcleo bem
dividido não, agora se eu usar corante para marcar as fibras vocês vão ver que eles
estão dispersos, mas tudo ligado um no outro, formando uma rede mesmo, que está
localizada no Tronco Encefálico.

Qual seria a sua função?. Os neurônios da formação reticular estão ligados não só ao
tálamo, mas principalmente ao córtex. Todas as áreas do córtex recebem
prolongamentos da formação reticular cuja função é ativar o córtex cerebral.

Então os neurônios do córtex só trabalham se forem "ativados" pelos neurônios da


formação reticular. Então esse trabalho é importantíssimo, por exemplo, no controle
do ciclo sono/vigília (quem mantém a gente acordado é o trabalho dos neurônios da
formação reticular, se eles deixarem de ativar o córtex, o indivíduo dorme). Esses
neurônios são importantíssimos também para deixar o indivíduo consciente ou não.
Quando o indivíduo sofre traumatismo craniano ou tem AVC ou qualquer coisa em
que os neurônios sejam afetados agudamente, o indivíduo entra em coma.

Eu falei para vocês da demência, nela os neurônios são mortos lentamente, mas para
o indivíduo entrar em coma é preciso que um ou dois agrupamentos de neurônios
estejam sofrendo. O córtex é a área mais importante para permitir a autoconsciência.
Se o indivíduo lesa a formação reticular também fica em coma. Então para ficar em
coma tem que ter lesão ou no córtex ou no tronco encefálico ou nos dois.

Como eu estou falando em traumatismo agudo, não estou dizendo necessariamente


que os neurônios morreram (é o caso da Cláudia Lins). Quando há traumatismo, há
lesão de vaso, e os vasos sangüíneos começam a inundar o interior do crânio que é
rígido, então ele não pode se expandir. Quando há traumatismo numa perna, por

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exemplo, ela fica inchada, mas como no caso há o crânio, não dá para inchar, sendo
assim ocorre um aumento da pressão intracraniana que começa a fechar os vasos.
Este é o problema do traumatismo craniano: a hipertensão craniana, que é perigosa
por ser capaz de matar os neurônios, matando assim o indivíduo. Nesses casos
coloca-se um catéter para drenar líquor, diminuindo assim a pressão. Não resolvendo
(caso do Herbert Viana) abre-se uma verdadeira janela no crânio (isso tem que ser
feito antes dos neurônios morrerem, obviamente).

Mas vamos supor que se fez isso, passou-se uma semana, um mês... E o indivíduo
não recuperou a consciência. Em casos assim, eu não chamo isso de coma (é
aguda), mas se o indivíduo se recuperou da lesão (e cicatrizou), então pode
acontecer duas coisas com ele: entrar em estado vegetativo ou em morte encefálica.

Às vezes o indivíduo tem um traumatismo bem intenso e você tem que dar drogas
para anestesiá-lo, é o chamado Coma Induzido, nesses casos a pressão
intracraniana está aumentada, isso vai comprimir os vasos sangüíneos, diminuindo a
quantidade de sangue que vai chegar aos neurônios. Você pode fazer duas coisas: a)
tentar dilatar o vaso para poder jogar sangue e para isso tem que diminuir a pressão
intracraniana; b) diminuir a intensidade da atividade do neurônio. A gente não viu
naquele exame que quanto mais trabalha, mais sangue o neurônio precisa? O
anestésico diminui a atividade neuronal, assim há necessidade de pouco sangue.
Quando o paciente passar pela dificuldade (retirando o que obstruía a passagem do
sangue normalmente), o anestésico é retirado ou reduzido.

Em todo traumatismo craniano é preciso fazer o Coma Induzido, mesmo que ele
esteja em coma por causa da lesão, depois vai retirando a droga e observa se o
paciente sai. Se sair, ótimo; a lesão não foi extensa.

Coma, Morte Encefálica e Estado Vegetativo.


Agora como diferenciar se o indivíduo em coma encontra-se em estado vegetativo ou
coma encefálico? No tronco encefálico existem neurônios que controlam funções
básicas como a respiração e a pressão arterial, seus neurônios estão localizados no
bulbo. Todas as vezes que esta região está lesada, o indivíduo morre, a exemplo de
um tiro na nuca: o projétil atravessando o bulbo, o indivíduo pára de respirar
rapidamente; a pressão cai porque o coração deixou de ser comandado; e os vasos
sanguíneos se dilatam.

A diferença se o indivíduo está em estado vegetativo ou em morte encefálica


dependerá da viabilidade do bulbo. Se o bulbo estiver íntegro, o indivíduo se encontra
em estado vegetativo; se o bulbo estiver lesado, o indivíduo está em morte
encefálica.

Em uma suposta visita ao hospital, é dito que um indivíduo está um mês em coma.
Como reconhecer, só ao vê-lo, se o indivíduo está em coma encefálico ou estado
vegetativo? É possível? Se ele estiver sem aparelhos, inconsciente, caracterizamos o
estado como vegetativo, mas se precisar de aparelhos, dizemos que ele está em
coma encefálico. A maioria dos pacientes em coma vegetativo não retorna. Embora
existam casos raros de retorno.

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Se a lesão atinge somente o córtex, o indivíduo poderá ficar em estado vegetativo.


Se a lesão atinge a formação reticular, mas não o bulbo, o indivíduo também pode
ficar em estado vegetativo. Se a lesão atinge o bulbo, então há morte encefálica e
deve-se providenciar o transplante, caso seja doador. O mau atendimento, em
sentido de rapidez e qualidade, pode levar uma lesão à morte encefálica!

Receptores e Nervos
É possível encontrar neurônios fora do SNC? Sim, formando um gânglio nervoso
(denominação para agrupamento de neurônios fora do SNC). O SN trabalha gerando
e conduzindo corrente elétrica, essa é a sua linguagem. Quando eu vejo algo, o
objeto está emitindo corrente elétrica para os meus olhos? Não, o que há é a emissão
de radiação eletromagnética que ao chegar na minha retina será transformada em
corrente elétrica. Essa decodificação é feita pelo receptor.

Quando eu pergunto o nome de vocês, eu estou provocando ondas mecânicas no ar


que vão chegar até o ouvido de vocês, onde há um transdutor que irá transformar
energia mecânica em elétrica. E quando vocês sentem o gosto de algo, o que ocorre?
Uma laranja, por exemplo, ela libera substâncias (energia química), que serão
transformadas na boca em corrente elétrica. Então o receptor é quem faz a
transdução da energia do mundo em energia elétrica, usada pelo SN. Mas não é só
energia externa, porque tem muita informação interna que precisa ser apreendida
também. Por exemplo, o meu SN tem que saber o tempo todo como está a minha
pressão arterial, então nos nossos vasos sangüíneos existem receptores (nas
paredes), que vão dizer o tempo todo se a pressão está alta ou baixa. Se a pressão
arterial subir ele detecta e avisa o SNC.

O outro componente do sistema nervoso periférico é o nervo. O que é um nervo?


Veja bem: vimos que os neurônios estão no SNC. Um neurônio é formado por
dendritos, corpo celular e axônio (que é uma fibra estilo fio). O neurônio vai contrair
um músculo que está fora do SNC, então tem que haver um "fio" que vá do SNC até
o músculo. O "fio", na verdade, são as fibras. Agora temos várias fibras juntas num
arcabouço único e "empacotadas" para proteção. Então o nervo nada mais é do que
uma coleção de fibras nervosas, de axônios. Existem axônios que levam a
informação da periferia para o SNC e outros que conduzem do SNC para a periferia.

Meninges
O crânio e a coluna foram feitos para proteger o SNC, mas a natureza não se
conformou com a estrutura óssea, ela construiu uma outra estrutura que ajuda a
proteger, com um aspecto diferente, o sistema nervoso central: são as meninges, que
estão em torno do SNC.

As meninges são formadas por três folhetos: a) dura-máter, que é o folheto mais
externo; b) aracnóide, que é o folheto intermediário; e c) pia-máter, que é a mais
interna. Esses 3 folhetos são separados, não são colados uns nos outros. Inclusive
há um espaço entre eles que pode ou não ser aumentado. Entre a dura-máter e a
aracnóide existe um espaço chamado espaço subdural; entre a aracnóide e a pia-
máter existe o espaço aracnóideo. Nesse espaço existe o líquido cefalorraquidiano,
também conhecido como líquor, cuja função é amortecer possíveis choques entre o
encéfalo e o crânio, ou seja, em uma batida de carro, por exemplo, o indivíduo vai

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para frente e o vidro do carro pára o crânio, mas o encéfalo, por inércia, continua o
movimento batendo na parede anterior do crânio e essa batida pode ser tão intensa a
ponto de provocar lesão no encéfalo, felizmente existe esse líquido que serve como
amortecedor de choques em qualquer sentido espacial.

Organização funcional do Sistema Nervoso


Todo trabalho do SN começa sempre a partir do meio externo, porque a sua função é
adaptar o indivíduo ao meio ambiente, então sempre tem que haver uma informação
no meio ambiente que vai fazer o indivíduo reagir. Todo trabalho do SN começa no
receptor (na retina existem os receptores cones e bastonetes), essa informação
traduzida tem que ser levada a um local que possa trabalhá-la. Assim, a informação é
levada pela via aferente, que é nervo (há via aferente dentro do SNC também). Via
aferente é todo caminho que leva informação do receptor até o local que vai
processar a informação. Se a informação for ser processada no córtex, então eu vou
ter via aferente tanto fazendo parte do SNP quanto do SNC. O terceiro componente é
o centro Integrador, ele é o elemento chave porque recebe, interpreta a informação
e elabora uma resposta, é o elemento "pensante". Anatomicamente está localizado
no SNC, na substância cinzenta. Todo o SNC é capaz de processar a informação, o
que diferencia é a complexidade. Se eu furar o pé de vocês, vocês responderão com
o reflexo de retirada, que é organizado na medula, embora a sensação dolorosa não.
Isso pode ser comprovado num indivíduo que tem lesão na medula (secção
completa), se você pegar uma agulha e bater no pé dele, ele faz a mesma coisa, tira
a perna, mas ele não vai ter consciência nenhuma (não sente dor), mesmo assim a
medula dele faz com que ele tire a perna. A medula só trabalha com reflexo, ou seja,
é centro integrador também, mas bem elementar. A medula não responde
conscientemente porque uma coisa é eu responder conscientemente, outra é eu
responder com reflexo.

O tronco encefálico trabalha só com reflexo, só de forma inconsciente, como o caso


do bulbo, por exemplo, a respiração organizada por ele é inconsciente, nós podemos
acelerá-la ou pará-la por alguns segundos. Consciência só no córtex! Qualquer ato
voluntário nosso tem que ser organizado no córtex cerebral. Qualquer estrutura
subcortical trabalha de forma inconsciente.

Então o centro integrador interpretou a resposta que vai seguir por uma via que é a
via eferente, que é fibra nervosa também (encapada por um nervo), que vai até o
órgão que pode executar a resposta, ela também é representada pelo nervo. Existem
nervos só aferente ou só eferente, mas a grande maioria é mista.

E por fim vem o sexto elemento, que é o órgão efetor, aquele que executa a
resposta. Ele é obrigado a isso pelo córtex. Quais são os órgãos efetores? Músculos
e glândulas. Os músculos podem ser: estriado esquelético e músculo liso (e a grande
maioria é realizada por músculo esquelético).

Próxima Etapa: Transporte Através da Membrana

Leitura Complementar

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Considerações Finais

Sobre o Transcritor
Noranege Epifânio Accioly
Aluna do terceiro ano do curso de graduação em Fisioterapia da Fundação Universitária de
Ciências da Saúde de Alagoas Governados Lamenha Filho/
Escola de Ciências Médicas de Alagoas, em 2004.
Monitora da Disciplina de Anatomia Humana da UNCISAL / ECMAL,
Maceió, AL.

Conflito de Interesse:
Nenhum declarado

Fonte de Fomento:
Nenhuma

Endereço:
Faculdade de Fisioterapia da UNCISAL / ECMAL.
Rua Doutor Jorge de Lima 113
57010-382, Maceió - AL
Fone: +82 326 2922
Correio eletrônico: noranege_accioly@hotmail.com

Dados do Manuscrito:
Publicação Prévia: nenhuma
Data da última modificação: 09/11/2009 05:53:00 PM
Nome do arquivo: 606115763.doc
Tamanho do arquivo: 72 Kb
(0 palavras, 96 parágrafos)

/conversion/tmp/activity_task_scratch/606115763.doc
Última Impressão: 09/11/2009 03:53:00 PM
Digitação: Gustavo Porfírio

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