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Direito das Sucessões

Prof.ª Daniela de Lima

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof.ª Daniela de Lima

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

L732d

Lima, Daniela de
Direito das sucessões. / Daniela de Lima. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
225 p.; il.

ISBN 978-65-5663-356-5
ISBN Digital 978-65-5663-357-2

1. Herança e sucessão. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 342.165

Impresso por:
Apresentação
Prezado acadêmico, no presente livro didático apresentaremos a
você um dos ramos do direito intitulado Direito das Sucessões. No conteúdo
que abordaremos a seguir, você, acadêmico, compreenderá as relações
sucessórias existentes no direito brasileiro. Todo este livro didático foi
elaborado com o intuito de possibilitar a ampliação de seu conhecimento
neste ramo do direito denominado sucessões.

Em suas três unidades, divididas em tópicos, serão abordados temas


e assuntos pertinentes ao direito de sucessões. São conteúdos especialmente
selecionados, visando a uma aprendizagem autônoma e crítica.

Na Unidade 1, especificamente no Tópico 1, abordaremos a origem e


o fundamento do direito de sucessões para que possamos, juntos, conceituar
a matéria e compreender como se dará a abertura da sucessão e também em
que momento a herança é transmitida, observada a sua posse.

No Tópico 2 da Unidade 1, vamos efetuar o levantamento das espécies


existentes de sucessões e, consequentemente, de sucessores, vamos percorrer
pela sucessão hereditária, compreendê-la enquanto sucessão legítima e
testamentária, conhecendo a liberdade de testar. Vamos estudar a sucessão
a título universal e singular, bem como sucessão contratual. Ao fim, vamos
saber distinguir quando estivermos diante da sucessão irregular.

Para finalizar a Unidade 1, junto ao Tópico 3, estudaremos a herança e a


sua administração, saberemos identificar o autor da herança e conheceremos
as responsabilidades dos herdeiros. Ao fim, concluiremos o tópico com o
estudo aprofundado da cessão de direitos hereditários, conceituando-o e
observando as formas existentes, bem como o direito de preferência.

A partir deste momento, quando concluirmos o estudo da Unidade


1, estaremos aptos a prosseguir a nossa caminhada, com o domínio e a
compreensão do presente objeto de estudo, qual seja, direito das sucessões.

Estudaremos, então, na Unidade 2, Tópico 1, a vocação hereditária,


o que nos permitirá reconhecer quem tem legitimação para suceder em
regra geral e exceção, bem como aquele que poderá suceder por testamento.
Ainda, neste tópico, vamos identificar quem são os herdeiros – necessário e
facultativo, bem como testamentário e legatário.

No Tópico 2, compreenderemos a aceitação e a renúncia da herança,


bem como a herança vacante e jacente, reservaremos para cada modalidade
um tópico específico, ficando o Tópico 1 destinado ao estudo da aceitação
da herança, conceituando, levantando as espécies de aceitação da herança,
quanto à forma e agente e, ao final, informando quais são as características
da aceitação da herança.

No Tópico 3, conceituaremos e compreenderemos o que é renúncia da


herança, quais espécies de renúncia temos previstas em nosso ordenamento
jurídico, bem como vamos estudar as restrições legais existente com relação
ao direito de renunciar. Ao fim, iremos, em conjunto, analisar os efeitos do
ato de renúncia.

Para finalizar o estudo proposto na Unidade 2, iremos, no Tópico 4,


conhecer e estudar a herança jacente e herança vacante, conceituando-as,
verificando a natureza jurídica da herança jacente, bem como as hipóteses
de jacência e, ao fim, compreender os efeitos da declaração de vacância.

Encerramos, assim, o estudo de mais uma unidade deste livro


didático, com o domínio de boa parte do conteúdo proposto sobre direito de
sucessões, estamos agora aptos a iniciar a terceira e última unidade.

Assim, chegamos à Unidade 3, nela aprenderemos sobre testamento,


legado, inventário e partilha. O Tópico 1 desta unidade é reservado para
o estudo do testamento, aqui, conceituaremos a categoria, destacaremos
sua natureza jurídica, trataremos sobre a capacidade testamentária, ativa e
passiva e apontaremos as espécies de testamento. Ao fim do presente tópico,
abordaremos as disposições testamentárias.

No Tópico 2, da Unidade 3, vamos compreender o que é legado,


conceituando a categoria e compreendendo os efeitos do legado, bem como
se dá o seu pagamento. Ainda, estudaremos a caducidade do legado e o
direito de acrescer entre os herdeiros e legatários.

No Tópico 3, desta última unidade, trataremos sobre o inventário,


conceituaremos este instituto, explicando a regra para competência de
sua abertura, bem como indicando aqueles que possuem legitimidade
ativa concorrente, para solicitar a abertura do inventário judicial, tomando
conhecimento das duas espécies autorizadoras em nosso ordenamento
jurídico, que são o inventário judicial e o extrajudicial. Ao final do Tópico 3,
trataremos da partilha, quais os conceitos da partilha, suas espécies e como
funciona, de forma procedimental, a partilha em vida.

Concluído o estudo da Unidade 3, conseguiremos compreender com


maior facilidade o conteúdo total de aprendizagem proposto neste livro. Por
isso, convidamos você, acadêmico, a apaixonar-se por este ramo do direito,
que é parte integrante do direito privado e notadamente do direito civil.

Bons estudos!

Prof.ª Mscª. Daniela de Lima


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES......................... 1

TÓPICO 1 — DIREITO DAS SUCESSÕES: CONCEITOS FUNDAMENTOS E


REGRAS GERAIS.......................................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 DIREITO DAS SUCESSÕES.............................................................................................................. 4
3 ABERTURA DA SUCESSÃO, MOMENTO DA TRANSMISSÃO DA HERANÇA
E DA POSSE........................................................................................................................................... 6
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 12
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 13

TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE SUCESSÃO......................................................................................... 15


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 15
2 SUCESSÃO HEREDITÁRIA – LEGÍTIMA E TESTAMENTÁRIA.......................................... 16
3 SUCESSÃO A TÍTULO UNIVERSAL E SINGULAR.................................................................. 19
4 SUCESSÃO CONTRATUAL............................................................................................................ 23
5 SUCESSÃO IRREGULAR................................................................................................................. 25
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 28
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 29

TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO.................................................... 31


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 31
2 HERANÇA........................................................................................................................................... 32
2.1 AUTOR DA HERANÇA .............................................................................................................. 38
3 LEGADO............................................................................................................................................... 39
4 RESPONSABILIDADE DOS HERDEIROS.................................................................................. 42
5 CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS................................................................................... 46
5.1 CONCEITO..................................................................................................................................... 46
5.2 FORMA E OBJETO........................................................................................................................ 50
5.3 DIREITO DE PREFERÊNCIA...................................................................................................... 52
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 56
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 61
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 62

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 65

UNIDADE 2 —DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA


DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE E JACENTE.............................. 69

TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA............................................................................... 71


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 71
2 LEGITIMAÇÃO PARA SUCEDER: REGRA GERAL E EXCEÇÃO......................................... 72
3 LEGITIMAÇÃO PARA SUCEDER POR TESTAMENTO ......................................................... 76
4 ILEGITIMIDADE PARA SUCEDER............................................................................................... 79
5 SUCESSÃO LEGÍTIMA E TESTAMENTÁRIA............................................................................ 84
6 HERDEIROS........................................................................................................................................ 90
6.1 HERDEIROS NECESSÁRIOS E FACULTATIVOS.................................................................... 90
6.2 TESTAMENTÁRIO E LEGATÁRIOS.......................................................................................... 93
6.3 DA AUSÊNCIA DE LEGITIMAÇÃO PARA SER NOMEADO HERDEIRO OU
LEGATÁRIO................................................................................................................................... 95
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 97
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 98

TÓPICO 2 — CONCEITO DE ACEITAÇÃO DA HERANÇA.................................................... 101


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 101
2 DA ACEITAÇÃO DA HERANÇA................................................................................................. 101
2.1 QUANTO A SUA FORMA . ...................................................................................................... 103
2.2 QUANTO AO AGENTE ............................................................................................................ 105
3 CARACTERÍSTICAS E EFEITOS DA ACEITAÇÃO ............................................................... 107
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 109
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 110

TÓPICO 3 — CONCEITO DE RENÚNCIA DA HERANÇA...................................................... 111


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 111
2 DA RENÚNCIA E SUAS ESPÉCIES............................................................................................. 111
3 RESTRIÇÕES LEGAIS AO DIREITO DE RENUNCIAR......................................................... 115
3.1 EFEITOS DA RENÚNCIA.......................................................................................................... 118
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 122
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 123

TÓPICO 4 — CONCEITO DA HERANÇA JACENTE E VACANTE........................................ 125


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 125
2 DA HERANÇA JACENTE .............................................................................................................. 125
3 DA HERANÇA VACANTE ............................................................................................................ 128
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 132
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 137
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 138

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 139

UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA


PARTILHA............................................................................................................... 141

TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO.................................................................................................... 143


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 143
2 CONCEITO........................................................................................................................................ 143
2.1 DA CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA – ATIVA E PASSIVA.............................................. 148
2.2 ESPÉCIES DE TESTAMENTO................................................................................................... 151
3 DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS................................................................................. 164
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 172
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 174
TÓPICO 2 — DO LEGADO............................................................................................................... 177
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 177
2 CONCEITO........................................................................................................................................ 177
3 DOS EFEITOS DO LEGADO E DO SEU PAGAMENTO........................................................ 182
4 DA CADUCIDADE DOS LEGADOS, LEGADO E DO DIREITO DE ACRESCER
ENTRE HERDEIROS E LEGATÁRIOS........................................................................................ 186
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 192
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 194

TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA.................................................................... 195


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 195
2 DO INVENTÁRIO............................................................................................................................ 195
3 DOS SONEGADOS......................................................................................................................... 202
4 DO PAGAMENTO DE DÍVIDAS................................................................................................. 204
5 DA PARTILHA.................................................................................................................................. 208
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 214
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 218
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 219

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 221
UNIDADE 1 —

ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO


DE SUCESSÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o direito de sucessões como ramo do direito privado que


disciplina a transferência de patrimônio de alguém a seus herdeiros a
partir de sua morte;

• identificar as espécies de sucessão e sucessores definidas no ordenamento


jurídico brasileiro, sendo capaz de diferenciar a sucessão legítima da
testamentária;

• diferenciar as duas formas de sucessão – a título singular, que é aquela


que determina e especifica o bem a ser herdade e a de título universal, que
é a transferência da totalidade ou parte indeterminada da herança;


reconhecer o autor da herança, bem como a responsabilidade dos
herdeiros que, no direito brasileiro, é limitada ao patrimônio recebido de
forma proporcional e limitada ao quinhão hereditário;

• compreender os direitos hereditários como negócio jurídico que permitem


aos herdeiros dispor sobre o patrimônio decorrente da sucessão; bem como
conceituar este instituto desde a legislação, doutrina e jurisprudência
dominante;

• conceituar a cessão de direitos hereditários como transferência que o


herdeiro legítimo ou testamentário faz a outrem de todo ou parte do
quinhão hereditário que lhe compete após a abertura da sucessão.

1
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – DIREITO DAS SUCESSÕES: CONCEITOS FUNDAMENTOS E


REGRAS GERAIS

TÓPICO 2 – ESPÉCIES DE SUCESSÃO

TÓPICO 3 – DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e


vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração,
assim absorverá melhor as informações.

2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

DIREITO DAS SUCESSÕES: CONCEITOS


FUNDAMENTOS E REGRAS GERAIS

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico da Unidade 1, você conhecerá os conceitos e regras gerais


de um importante ramo do direito: o direito das sucessões. Compreenderá o
momento em que ocorre a abertura da sucessão, bem como a transmissão da
herança, distinguindo, ao final, as espécies de sucessões e sucessores existentes.
Verificará que o direito sucessório existe em função dos direitos e deveres que
serão transmitidos às pessoas tuteladas pelo Direito de Família, sendo o direito
à sucessão importante garantia constitucional, com previsão, também, na parte
especial do nosso código civil.

De acordo com Pontes de Miranda (2012, p. 12), importante doutrinador


do direito, “Em sentido mais estreito, mais técnico, suceder é herdar, ou haver
por legado, ou haver por deixa modal: supõe a morte de quem foi sucedido”. 

Assim, perceberemos que o ponto inicial para suceder é a morte de um


indivíduo, já que esse indivíduo não leva nem os bens e nem dívidas adquiridas
durante a sua vida, que deverão ser geridas por seus herdeiros legais ou
testamentários.

Em síntese, pode-se definir o direito das sucessões como: “[...] o conjunto


de normas que disciplinam a transferência do patrimônio de alguém, depois de
sua morte, ao herdeiro em virtude de lei ou testamento” (DINIZ, 2004, p. 8).

FIGURA 1 – SUCESSÃO TEM INÍCIO COM A MORTE

FONTE: <https://bit.ly/3rCrOwb>. Acesso em: 10 mar. 2021.

3
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

A partir deste entendimento, estaremos aptos a iniciar a nossa jornada no


estudo do direito das sucessões. Você conhecerá um conjunto de novas categorias,
novos dispositivos jurídicos e novas doutrinas. Será possível, a partir da leitura
deste tópico, verificar que a disciplina, dentro da ciência jurídica, é dedicada ao
estudo das disposições legais, jurisprudenciais e doutrinárias que tem por destino
regulamentar a transmissão dos bens deixados por um determinado indivíduo
após a sua morte aos seus herdeiros, é denominada Direito das Sucessões.

2 DIREITO DAS SUCESSÕES


O Direito das Sucessões é tratado no nosso ordenamento jurídico pelo
Código Civil junto ao Livro V, Título I, que trata das sucessões em geral a partir
do Art. 1.784. O direito de sucessões também está presente em nossa Constituição
de 1988, eis que o Inciso XXX do Art. 5º garante o direito de herança, constando-o
no rol dos direitos fundamentais da nossa Constituição Cidadã, devendo ser
garantido e preservado em nosso Estado Democrático de Direito. Vai além,
ainda, quando, no mesmo artigo, Inciso XXXI, garante que, em caso de bens de
estrangeiros situados no Brasil, será aplicada a lei brasileira, sempre em benefício
do cônjuge ou filhos brasileiros e o que lhe for mais benéfico.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXX - é garantido o direito de herança;
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será
regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do
"de cujus";
[...] (BRASIL, 1988).

Neste contexto, pode-se perceber que o surgimento do direito das


sucessões em nosso ordenamento jurídico, dá-se com o intuito de regulamentar
a destinação do patrimônio de um indivíduo após a sua morte e que o Direito
Sucessório é um conjunto de princípios e regramentos capazes de tutelar a
transmissão de patrimônio, direitos e obrigações do indivíduo após a sua morte.

De acordo com Monteiro (2008, p. 1), “Num sentido amplo, a palavra


sucessão significa o ato pelo qual uma pessoa toma o lugar de outra, investindo-
se, a qualquer título, no todo ou em parte, nos direitos que lhe competiam”.

Para Fábio Ulhoa Coelho (2012), o direito sucessório tem como objetivo
destinar o patrimônio do indivíduo após o fim de sua existência, ressaltando que
o direito sucessório se aproxima tanto do direito das coisas, como do direito de
família, catalogando quem geralmente são os sucessores.

4
TÓPICO 1 — DIREITO DAS SUCESSÕES: CONCEITOS FUNDAMENTOS E REGRAS GERAIS

O direito das sucessões disciplina a destinação do patrimônio da


pessoa física após sua morte. Melhor dizendo, contempla as normas
que norteiam a superação de conflitos de interesses envolvendo a
destinação do patrimônio de pessoa falecida. Sua matéria, portanto, é
a transmissão causa mortis. [...]. Aproxima-se, de um lado, do direito
das coisas, por versar sobre a propriedade dos bens deixados; de
outro, do direito de família, porque os sucessores são, normalmente,
familiares do morto (COELHO, 2012, p. 494).

Maria Helena Diniz (2002), ao tratar da parte especial do direito civil, qual
seja o direito de sucessões, realiza análise um pouco mais minuciosa, conferindo
ao termo sucessão um sentido amplo e outro estrito, diferenciando – os entre si,
vejamos:

a) Em sentido amplo: o termo sucessão aplica-se a todos os modos


derivados de aquisição do domínio, indicando o ato pelo qual
alguém sucede a outrem, investindo-se, no todo ou em parte, nos
direitos que lhe pertenciam, trata-se da sucessão inter vivo.
b) No sentido restrito: sucessão é a transferência, total ou parcial, de
herança, por morte de alguém, a um ou mais herdeiros. É a sucessão
mortis causa que, no conceito subjetivo, é o direito por força do qual
alguém recolhe os bens da herança, e, no conceito objetivo, indica
a universalidade dos bens do de cujus, que ficaram com os seus
direitos e encargos (DINIZ, 2002, p. 16).

Compreendendo a diferença analisada e proposta pela doutrinadora


Maria Helena Diniz (2002), percebemos, neste momento, que nos interessa
estudar a sucessão em sentido restrito, segundo a qual se transfere a outrem os
direitos e obrigações de pessoa falecida.

Em síntese, delimitando o conceito direito de sucessões como campo da


ciência jurídica, que se dedica ao estudo das disposições legais, jurisprudenciais
e doutrinárias e tem por destino regulamentar a transmissão dos bens deixados
por um determinado indivíduo após a sua morte aos seus herdeiros. Há que se
destacar, inicialmente, que “sucessão” é, juridicamente, o ato de transferência
total ou parcial de herança aos seus herdeiros e que se dá através da morte do
indivíduo.

ATENCAO

O Direito de Herança é um direito constitucional incluso no rol dos direitos


Fundamentais! A Sucessão tem como objetivo destinar o patrimônio do indivíduo após o
fim de sua existência, para os seus herdeiros legais ou testamentários. O Direito de Sucessão
é o ramo do direito que estuda a regulamentação da transmissão dos bens deixados pelo
falecido. Se não fosse a morte, não teríamos o direito sucessório. Sem morte não há
sucessão no sentido restrito.

5
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Leia também: Direito à herança – Art. 5º, XXX e XXXI; Direito de propriedade e a sua função
social – Art. 5º, XXII e XXIII, Art. 170, II e III; Princípio da dignidade da pessoa humana – Art.
170, II e III;
Construção de uma sociedade justa, livre e fraterna – Art. 3º, I, todos da CF/1988 (BRASIL,
1988). Arts. 1.784 a 1.828, CC/2002 (Título I – Da Sucessão em geral, Capítulo I – Disposições
gerais) (BRASIL, 2002).

3 ABERTURA DA SUCESSÃO, MOMENTO DA TRANSMISSÃO


DA HERANÇA E DA POSSE

Ao conceituarmos a sucessão, podemos verificar que estamos tratando da


transferência de bens, deixado por uma pessoa que morreu, aos seus herdeiros
que, geralmente, são membros da sua família. Esse indivíduo que morreu é
tratado por nós operadores do direito como de cujus ou como “autor da herança”.

Segundo Acquaviva (2004, p. 16), “de cujus” é uma “locução latina que
designa pessoa falecida de cuja sucessão de bens se trata. Há, todavia, quem
empregue a expressão autor da herança”. Neste sentido, passamos, a partir de
agora, após compreender como devemos nos dirigir e tratar a pessoa que morreu
e deixou bens a serem inventariado ou partilhado, como de cujus ou como “autor
da herança”.

FIGURA 2 – “DE CUJUS”

FONTE: <https://bit.ly/3rEV45c>. Acesso em: 11 mar. 2021.

6
TÓPICO 1 — DIREITO DAS SUCESSÕES: CONCEITOS FUNDAMENTOS E REGRAS GERAIS

Com relação à categoria “morte”, embora não seja objeto do presente


estudo, é necessário conceituá-la, para que você, acadêmico, consiga identificar
de qual tipo de morte existente no nosso ordenamento jurídico se trata, para
considerar a sucessão aberta. Assim, a seguir, faremos uma pequena explanação
que possibilitará que você se contextualize acerca dessa categoria.

De acordo com o Código Civil brasileiro (2002), no seu Art. 6º, “a existência
da pessoa natural termina com a morte [...]”, ainda, esse mesmo dispositivo
seguido dos Arts. 7º e 8º, determinam as formas das quais poderá se considerar a
morte da pessoa natural, inclusive para fins de sucessão.

QUADRO 1 – TIPOS DE MORTE DE ACORDO COM O DIREITO CIVIL BRASILEIRO

• Morte real.
• Morte presumida sem declaração de ausência, após a devida justificação.
• Morte presumida, declarando a ausência.
• Hipótese de comoriência.

FONTE: A autora

Para fins sucessórios, considera-se a morte natural/real, podendo ser


aplicado o instituto da comoriência, em caso de morte presumida a pessoa ainda
pode estar viva, e estaria sob uma sucessão provisória, durante o período de dez
anos e, somente transcorrido esse tempo, passar-se-ia para a sucessão definitiva,
consoante ao Art. 37 e seguintes do Código Civil.

Ressalta-se ainda que são reconhecidas mortas com todos os efeitos legais,
as pessoas desaparecidas políticas, que tenham sido detidas por agentes públicos
no período da Ditatura Militar, ocorrida no Brasil nos anos 1960, 1970 e 1980, e
que constam desde então desaparecidas.

No que diz respeito à comoriência, temos que é o fenômeno jurídico que


ocorre quando duas ou mais pessoas falecem na mesma ocasião e não é possível
verificar qual faleceu primeiro, assim, para fins sucessórios, presume-se que o
falecimento se deu simultaneamente, conforme preceitua o Art. 8 º do Código
Civil. Nas hipóteses de comoriência, não há previsão de que esse instituto possa
ser aplicável em toda a espécie de morte, como a presumida por exemplo. Vale
ressaltar que a morte pode ocorrer em lugar diferente, no mesmo evento ou não,
sendo exigido apenas que ocorra na mesma ocasião (tempo).

Esse fenômeno jurídico ocorre justamente para preservar a sucessão e


facilitar a identificação dos herdeiros. Maria Berenice Dias (2010, p. 286) explica
que “não havendo a possibilidade de saber quem é herdeiro de quem, a lei
presume que as mortes foram concomitantes. Desaparece o vínculo sucessório
entre ambos. Com isso, um não herda do outro e os bens de cada um passam aos
seus respectivos herdeiros”.
7
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Para esclarecer os efeitos práticos do instituto da comoriência, podemos


utilizar o exemplo reflexivo proposto por Ulhoa Coelho (2010. p. 230-231):

Imagine que  Antonio  é casado, em segundas núpcias, pelo regime


de comunhão universal de bens, com  Benedita  e tem, do primeiro
casamento, um filho,  Carlos. Considere, ademais, que a mãe
de  Benedita,  Darcy, é viva. Para simplificar, essas pessoas não
têm nenhum outro descendente ou ascendente vivo. Pois bem,
falecendo Antonio antes de Benedita, metade dos bens do casal caberá
a ela em razão do regime de bens do casamento, e a outra metade será
transmitida por sucessão aos herdeiros dele. No caso, como o falecido
deixou um filho, é ele que passará a titularizar os bens transmitidos
pela morte de Antonio. Em consequência, do patrimônio originalmente
em nome do casal,  Benedita  ficará com 50%, correspondente a sua
meação, e Carlos, com os restantes 50%. Vindo Benedita a falecer em
seguida, todo o seu patrimônio será transmitido à única herdeira, sua
mãe Darcy.
Veja como se alteram os direitos sucessórios, caso Benedita morra antes
de Antonio. Se assim for, metade dos bens do casal caberá a Antonio,
em razão do regime do casamento, e a outra metade será transmitida
por sucessão aos herdeiros de Benedita. Como a falecida não deixou
descendentes, a mãe e o cônjuge viúvo são herdeiros concorrentes.
Cada um ficará com metade dos bens transmitidos pela morte
de Benedita. Desse modo, do patrimônio originalmente em nome do
casal, Antonio ficará com 75% (50% de sua meação e mais 25% como
herança) e Darcy, com 25%. Vindo a morrer, depois, Antonio, todo o
seu patrimônio será transmitido ao único herdeiro, o filho Carlos.
[...] E se  Antonio  e  Benedita  falecerem ao mesmo tempo? Estavam,
admita-se, viajando de avião, e o aparelho caiu provocando a morte de
todos os seus ocupantes. Nesse caso, Antonio deixa a metade que lhe
cabe no patrimônio do casal para o seu único herdeiro, o filho Carlos;
e Benedita deixa a sua metade para sua única herdeira, a mãe Darcy”.

FIGURA 3 – SÍNTESE: TIPOS DE MORTE NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO

FONTE: Adaptada de <https://slideplayer.com.br/slide/3108259/>. Acesso em: 11 mar. 2021.

8
TÓPICO 1 — DIREITO DAS SUCESSÕES: CONCEITOS FUNDAMENTOS E REGRAS GERAIS

Esclarecidas, conceituadas e exemplificadas as categorias anteriores,


devidamente apresentadas, podemos prosseguir e conseguir compreender
adequadamente como funciona a abertura da sucessão e o momento da
transmissão da herança e da posse.

Uma vez aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos


herdeiros, de acordo com o Princípio de Saisine, que rege o Direito das Sucessões.
Assim, no momento que ocorre a morte, também ocorre a abertura da sucessão e
a transmissão e posse da herança aos seus herdeiros, ficando apenas pendente a
aceitação da herança ou a renúncia dela, caracterizando-se como uma transmissão
automática dos bens deixados pelo autor da herança ou o de cujus. Sobre aceitação
e renúncia da herança, trataremos do tema em tópico específico. De acordo com
os ensinamentos de Carlos Roberto Gonçalves (2013, p. 35):

A morte, a abertura da sucessão e a transmissão da herança aos


herdeiros ocorrem num só momento. Os herdeiros, por essa previsão
legal, tornam-se donos da herança ainda que não saibam que o
autor da sucessão morreu ou que a herança lhes foi transmitida, mas
precisam aceitar a herança, bem como repudiá-la, até porque ninguém
é herdeiro contra sua vontade.

Caro acadêmico, o entendimento da Maria Helena Diniz (2004, p. 23) não


é diferente, em sua obra Direito Civil Brasileiro, leciona que: “A morte natural é o
cerne de todo direito sucessório, pois ela determina a abertura da sucessão, uma
vez que não se compreende sucessão, sem o óbito do de cujus, dado que não há
herança de pessoa viva".

No que diz respeito ao Princípio de Saisine, o encontramos consagrado


em nosso ordenamento jurídico, junto ao Art. 1.784 do Código Civil, que além de
garantir a transmissão automática, determina a quem caberá ficar na posse dos
bens deixados pelo de cujus, vejamos: “Art. 1.784: Aberta a sucessão, a herança
transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários” (BRASIL,
2002).

Monteiro (2003) pode nos explicar a tradicionalidade do Princípio de


Saisine, seu significado e surgimento, para o doutrinador:

Esse princípio vem expresso na regra tradicional do direito gaulês


le mort saisit le vif. Quer dizer, instantaneamente, independente de
qualquer formalidade, logo que se abre a sucessão, investe-se herdeiro
no domínio e posse dos bens constantes do acervo hereditário. Dessa
máxima le mort saisit le vif surgiu o termo saisine, e, pois, saesina juris,
pelo qual os velhos práticos assinalavam a transmissão da herança”
(MONTEIRO, 2003, p. 14).

Para Venosa (2017, p. 14), o princípio da Saisine “[...] representa uma


apreensão possessória autorizada. É uma faculdade de entrar na posse de bens,
posse essa atribuída quem ainda não tinha”.

9
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Um dos motivos que determina a abertura da sucessão e a transmissão


automática, exigidas no Art. 1.784 do nosso Código Civilista, ao tratar do direito
de sucessões, é perfeitamente observado e apontado por Carlos Alberto Gonçalves
(2012, p. 33), que diz que:
A existência da pessoa natural termina com a morte real (CC, Art.
6º). Como não se concebe direito subjetivo sem titular, no mesmo
instante em que aquela acontece abre-se a sucessão, transmitindo-se
automaticamente a herança aos herdeiros legítimos e testamentários
do de cujus, sem solução de continuidade e ainda que estes ignorem
o fato.

Na mesma corrente, segue Maria Berenice Dias (2008), que entende que,
para que os bens, direitos e obrigações não se extingam com a morte do titular, a
transmissão ocorre automaticamente, após a morte do autor da herança. “Nada
mais do que a faculdade de alguém entrar na posse de bens alheios. Isso tudo
para que bens, direitos e obrigações não se extingam com a morte de seu titular”
(DIAS, 2008, p. 101).

Assim que a morte natural da pessoa é a que determina ou declara aberta


a sucessão e/ou a sua abertura, e conforme expressa previsão legal – Art.1.785 do
Código Civil brasileiro – a abertura da sucessão ocorrerá no último domicílio do
falecido.

Portanto, o referido artigo, ao determinar que a abertura da sucessão se


dará no último domicílio do falecido, define o foro competente para promover o
inventário e partilha de bens, institutos jurídicos que serão estudados na Unidade
3 deste livro didático. O Art. 48 do Código de Processo Civil brasileiro, por sua
vez, também prevê que o foro de domicílio do autor da herança no Brasil é o
competente para o inventário, partilha e disposições de última vontade.

Entretanto, podemos nos deparar com outras situações que podem alterar
a competência do foro, tais como: a) falecimento no estrangeiro, nesse caso,
será competente para processar o inventário e a partilha, o foro de seu último
domicílio no Brasil; b) ausência de domicílio certo – cujo foro competente será
a situação do imóvel, ambas previsão estão contidas no Art.48, caput, parágrafo
único, I do CPD; c) pluralidade de domicílios – ocorre quando o autor da herança
possuía seus bens localizados em diversos lugares, para tanto, considerar-se-á o
foro competente qualquer que esteja localizado os bens; d) não havendo bens, o
foro do local de qualquer bens do espólio.

Para tanto, concluímos com maestria o Tópico 1 da Unidade 1.


Aprendemos, neste tópico, que a abertura da herança, sua transmissão e posse
se dará no momento da morte natural do autor da herança e toda universalidade
dos bens deixados por ele passará para os seus herdeiros automaticamente.
Compreendemos também que a abertura da sucessão ocorre no último domicílio
do falecido, gerando, com suas exceções, a competência do foro para processar e
julgar inventário e partilha.

10
TÓPICO 1 — DIREITO DAS SUCESSÕES: CONCEITOS FUNDAMENTOS E REGRAS GERAIS

DICAS

A certidão de óbito emitida pelo cartório informará a existência de bens e


herdeiros.
Compreenda a diferença entre Certidão e Atestado de Óbito. Para tanto, sugere-se visitar os
sites: https://cartorionobrasil.com.br/certidao-de-obito/certidao-de-obito/ e
http://www.cremeb.org.br/wp-content/uploads/2017/09/A-DECLARACAO-DE-OBITO-
HENRIQUE-OLIVEIRA.pdf.

A morte, a abertura da sucessão e a transmissão da herança aos herdeiros ocorrem num só


momento. Não existe herança de pessoa viva.

Em síntese, neste Tópico 1, da Unidade 1, você se familiarizou com o direito


das sucessões, conceituando as diversas categorias que o cercam, conhecendo
em que livro do Código Civil e quais artigos foram destinados no novel civil
para essa disciplina, que trata de regulamentar a destinação do patrimônio do
indivíduo após a sua morte.

Pode compreender a sucessão em seu sentido restrito, concluindo que ela


é o ato de transferência total ou parcial de herança aos seus herdeiros, após a
morte do indivíduo. A propósito, você, acadêmico, depois de estudar o presente
tópico, sabe que a abertura da sucessão e o momento da transmissão e posse
da herança se dá no momento da morte natural real do sujeito, que passará a
ser denominado de cujus ou autor da herança, esse entendimento caminha de
encontro ao Princípio de Saisine.

Constata de forma clara que o fenômeno jurídico que ocorre quando duas
ou mais pessoas falecem na mesma ocasião, não sendo possível verificar qual
faleceu primeiro, é denominado de comoriência, ou seja falecimento simultâneo.

11
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A morte natural é o cerne de todo direito sucessório, pois ela determina a


abertura da sucessão.

• Comoriência é o fenômeno jurídico que ocorre quando duas ou mais pessoas


falecem na mesma ocasião e não é possível verificar qual faleceu primeiro.

• É aberta a sucessão e transmitida automaticamente a herança aos herdeiros,


legítimos e testamentário no momento da morte do de cujus

• A sucessão é aberta no último domicílio do falecido.

12
AUTOATIVIDADE

1 “Herança” é o termo utilizado para nominar o conjunto de bens composto


por investimentos, patrimônios, direitos e obrigações deixados por uma
pessoa falecida a seus herdeiros. Embora sendo um período de luto
familiar, há necessidade de serem obedecidos determinados procedimentos
burocráticos jurídicos. Segundo o disposto no Art. 1.784 do Código Civil
brasileiro, a transmissão da herança ocorre em um momento específico
(BRASIL, 2020). Com relação ao momento específico em que se dá a
transmissão da herança, assinale afirmação CORRETA:

a) ( ) Ocorre no momento em que o herdeiro sabe da morte do de cujus.


b) ( ) Ocorre no momento em que o herdeiro aceita a herança.
c) ( ) Ocorre no momento da morte do de cujus.
d) ( ) Ocorre no momento da abertura do inventário.

2 Considere a seguinte situação: “João dos Anjos faleceu no município de


Balneário Camboriú (SC), vítima de um ataque cardíaco fulminante.
Empresário de sucesso, domiciliado na cidade de Itapema (SC), João dos
Anjos possuía inúmeros bens, dentre os quais se incluem um apartamento
na cidade de Blumenau/SC, uma casa na cidade de Itapema/SC, e alguns
veículos de luxo, atualmente estacionados em uma garagem na cidade de
Penha (SC)”. Caso seja consultado a fim de esclarecer à família acerca do
local em que deve ser realizada a abertura da sucessão dos bens deixados
por João dos Anjos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Penha/SC.
b) ( ) Itapema/SC.
c) ( ) Blumenau/SC.
d) ( ) Balneário Camboriú/SC.

3 Direito das sucessões é definido como campo do direito composto por um


conjunto de normas jurídicas que disciplinam a transferência do patrimônio
de alguém, após sua morte, a seus herdeiros em razão da lei ou testamento.
Pode-se afirmar que sucessão é o ato jurídico através do qual uma pessoa
substitui outra em seus direitos e obrigações em decorrência da morte (causa
mortis) ou entre vivos (inter vivo). Com relação à sucessão por causa mortis,
analise as sentenças a seguir:

I- A sucessão não se abre no local do óbito do falecido.


II- O fenômeno jurídico que ocorre quando duas ou mais pessoas falecem
na mesma ocasião, não sendo possível verificar qual faleceu primeiro é
denominado comoriência.
III- Em caso de comoriência e não havendo a possibilidade de saber quem
é herdeiro de quem, a lei presume que as mortes foram concomitantes,
desaparecendo o vínculo sucessório entre ambos.

13
IV- Em caso de comoriência e não havendo possibilidade de definir quem é
herdeiro de quem, um não herda do outro e os bens de cada um passam
aos seus respectivos herdeiros.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.

14
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

ESPÉCIES DE SUCESSÃO

1 INTRODUÇÃO

Iniciamos, neste tópico, o estudo das espécies de sucessões permitidas no


ordenamento jurídico brasileiro e disciplinadas no Art. 1.786 do Código Civil de
2002. Verificaremos que existem duas espécies de sucessões dispostas neste artigo
civilista, uma devidamente regulamentada pela lei e a outra regulamentada pela
manifestação da vontade do autor da herança, reconhecida como sua última
vontade a qual é denominada testamento.

No Art. 1.788 do novel civilista, temos previsto que se a pessoa morrer


sem deixar testamento, que é a disposição de sua última vontade, a herança será
transmitida aos seus herdeiros legítimos e o mesmo ocorrerá quanto aos bens
que não fizerem parte do testamento; e, ainda, subsiste a sucessão legítima caso o
testamento caduque ou for julgado nulo.

A doutrina, sem muito conflito, reconhece a existência dessas duas espécies


de sucessões contidas no Código Civil brasileiro. Washington de Barros Monteiro
(2008), ao discorrer sobre esta previsão, ainda explica a categoria legítima e a
categoria testamentária ao se posicionar na forma a seguir:

Efetivamente, o Art. 1.786 do Código Civil de 2002, a exemplo do que


dispunha o de 1916, preceitua que a sucessão se dá por lei ou por
disposição de última vontade. Previstas se acham, nesse dispositivo
legal, as duas formas de sucessão no nosso ordenamento jurídico, a
legítima, resultante da lei e a testamentária, decorrente do testamento
(MONTEIRO, 2008, p. 9).

Reconhecida essas duas espécies de sucessões, após a morte e existentes


no nosso ordenamento jurídico, podemos passar a discorrer sobre a sucessão
legítima e a sucessão testamentária. Ressalta-se ainda que, neste Tópico 2,
estudaremos a sucessão a título universal e a título singular, bem como sucessão
contratual e irregular.

15
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

NOTA

Duas são as espécies previstas em nosso ordenamento jurídico de sucessão


pós-morte:
Sucessão Legítima (decorre da lei) e Sucessão Testamentária (decorre da última vontade
do autor da herança).

2 SUCESSÃO HEREDITÁRIA – LEGÍTIMA E TESTAMENTÁRIA

A sucessão hereditária no ordenamento jurídico brasileiro é dividida em


duas espécies, quais sejam: a sucessão legítima e a sucessão testamentária. A
primeira decorre da força da lei e a segunda por disposição de última vontade do
autor da herança.

Neste subtópico, vamos tratar de compreender tanto a sucessão legítima


quanto a sucessão testamentária, iniciando os estudos sobre a sucessão legítima
e, posteriormente, sobre a sucessão testamentária.

Quando tratamos da sucessão legítima já sabemos que inexiste testamento


ou, caso exista, é inválido ou é ineficaz, assim, a sucessão legítima também pode
ser denominada de sucessão intestada ou ab intestato. Para tanto, a totalidade
da herança deixada pelo autor da herança a seus herdeiros será condicionada à
sucessão legal, eis que ele optou em aderir a previsão legal acerca da transmissão
patrimonial.

Assim, essa espécie de sucessão pós-morte se dá em decorrência do fato


de o autor da herança não dispor, em todo ou parcialmente, dos seus bens em
testamento válido e adequado.

FIGURA 4 – SUCESSÃO LEGÍTIMA

FONTE: Adaptada de <https://www.trilhante.com.br/curso/sucessao-legitima>. Acesso em:


11 mar. 2021.
16
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE SUCESSÃO

Gonçalves (2004, p. 4), ao discorrer sobre sucessão legítima, afirma que ela
“[...] representa a vontade presumida do de cujus de transmitir o seu patrimônio
para as pessoas indicadas na lei, pois teria deixado o testamento se outra fosse a
intenção”.

Ou seja, quando não há testamento, vale dizer que o falecido não deixa
qualquer ato de última vontade e assim é transmitido todo o patrimônio do de
cujus às pessoas expressamente indicadas pela lei de acordo com a ordem de
vocação hereditária (BRASIL, 2002, Art. 1.829). Podemos verificar que essa forma
de sucessão, qual seja, legítima, para a doutrina, seria a vontade presumida do
autor da herança, tendo ele conhecimento daqueles que o sucederiam após sua
morte.

NOTA

Vocação hereditária é a “sequência” pela qual os parentes sucessíveis são


“convocados” para que recebam o patrimônio deixado pelo falecido e é estabelecida no
Art. 1.829 do Código Civil brasileiro.

A sucessão legítima vem disciplinada no nosso Código Civil do Art. 1.829


ao Art. 1.856. O Art. 1.829 do referido código trata da transmissão da herança aos
herdeiros legítimos, eis que ausente testamento. Ainda, neste dispositivo, iremos
nos deparar com uma ordem preferencial e taxativo de herdeiros, passamos a
leitura:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal,
ou no da separação obrigatória de bens (Art. 1.640, parágrafo único);
ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver
deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais (BRASIL, 2002).

Essa espécie de sucessão é a mais utilizada no Brasil, talvez porque o


legislador, ao disciplinar a matéria, conseguiu contemplar no rol preferencial
e taxativo todas as pessoas das quais, no contexto social da relação humana,
mantêm-se maior relação de amor e afeto, caracterizando muito bem a modalidade
denominada legítima.

17
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

FIGURA 5 – HERDEIROS LEGÍTIMOS

FONTE: <https://www.educamundo.com.br/uploads/blog_posts/featured_images/Direito-das-
-sucess%C3%B5es4-3.jpg>. Acesso em: 11 mar. 2021.

A sucessão testamentária ou ex testamento, por sua vez, tem em seu cerne


a disposição da vontade do testador, que é o autor da herança. Essa disposição
da vontade vem revestida de certa solenidade, formalismo e, embora o direito
brasileiro permita ao autor da herança a possibilidade de dispor sobre seus
próprios bens, essa liberdade encontra como limite o disciplinado no Art. 1.789
do Código Civil: “Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da
metade da herança” (BRASIL, 2002).

FIGURA 6 – SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

FONTE: <https://www.facebook.com/NacaoJuridica/photos/a-sucess%C3%A3o-tes-
tament%C3%A1ria-%C3%A9-conduzida-pelo-testamento-sendo-um-principio-de-di-
rei/480734018735214/>. Acesso em: 11 mar. 2021.

18
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE SUCESSÃO

Com um olhar um pouco mais observador, podemos afirmar que a


sucessão testamentária predomina sobre a sucessão legítima, dentro dos limites
estabelecidos na própria legislação que trata do assunto, porém, embora se
sobreponha à sucessão legítima, a sucessão testamentária não é e não pode ser
considerada absoluta.

Conclui-se, então, que a sucessão testamentária, prevista em nosso


ordenamento jurídico, é aquela que possibilita ao próprio autor da herança, ainda
em vida, destinar parte dos seus bens como alternativa à destinação estabelecida
pelo legislador pátrio. Nicolau (2005, p. 111), nesta linha de entendimento, assim
se manifesta “[...] se o cidadão não estiver satisfeito com a destinação, que a lei
atribui ao seu patrimônio para após sua morte, ele próprio está autorizado a –
observadas certas limitações – indicar as pessoas que herdariam o seu patrimônio
e em proporção”.

A sucessão testamentária não é a forma mais popular e comum no Brasil


para se transmitir um patrimônio, nas palavras de Washington de Barros Monteiro
“podemos asseverar que para dez sucessões legítimas que se abrem ocorre uma
única sucessão testamentária” (MONTEIRO; PINTO, 2009, p. 122).

Mesmo que pouco popular e comum, referida espécie de sucessão está


prevista em nosso ordenamento jurídico e pode ocorrer através de instrumento
formal e solene contendo as últimas disposições da vontade do autor da herança,
quais sejam: a) testamento; b) legado; c) codicilo. Esses instrumentos serão objetos
de estudo mais adiante. Há que ressaltar, ainda, que a sucessão testamentária
poderá se dar a título universal ou a título singular, ambas categorias que
estudaremos no subtópico a seguir.

NOTA

Em síntese, a sucessão legítima também pode ser denominada de sucessão


intestada ou ab intestato. A transmissão do patrimônio deixado pelo autor da herança se
dará para as pessoas indicadas no Código Civil. A sucessão testamentária também pode
ser denominada sucessão ex testamento. Havendo herdeiros necessários, o testador só
poderá dispor da metade da herança.

3 SUCESSÃO A TÍTULO UNIVERSAL E SINGULAR


Iniciando o estudo que nos levará a compreender o conceito de sucessão
universal e singular, bem como elas são apresentadas no contexto do ordenamento
jurídico e doutrinário brasileiro, recorreremos ao uso de exemplos hipotéticos
e ilustrativos. A primeira categoria abordada será a sucessão universal e, em
seguida, a sucessão singular.
19
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

E
IMPORTANT

Quando ocorre a sucessão a título universal? A sucessão a título universal se


dará sempre quando estivermos diante de relações jurídicas que abordam a totalidade ou
o conjunto dos direitos e coisas. Essa forma de sucessão a título universal ocorre sempre
quando for transferido ao sucessor a totalidade dos bens do falecido ou uma fração deste
bem, sem discriminá-lo.

Exemplo:

João dos Anjos era viúvo e tinha três filhos: Rafaela, Rodrigo e Ricardo,
ao falecer na cidade de Itapema/SC, sem testamento, deixou bens a serem
inventariados, esses bens são: uma casa, localizada no município de Itapema,
um veículo automotor e um apartamento localizado na cidade de Blumenau/
SC. A abertura da sucessão ocorreu no momento de sua morte. Os bens a serem
inventariados anteriormente descritos totalizam 100% do seu patrimônio. Como
são três sucessores (os filhos Rafaela, Rodrigo e Ricardo), cada filho vai receber 1/3
do patrimônio. Esta forma de recebimento é a título universal, porque os herdeiros
receberão a totalidade do patrimônio, mesmo que fracionado. Na hipótese de
que João tivesse apenas um filho, esse herdeiro receberia a integralidade de seu
patrimônio e de igual modo a título universal.

Após exemplificar e compreender que a sucessão a título universal ocorre


quando o herdeiro é chamado para suceder na totalidade dos bens do autor da
herança, vamos encontrar o conceito doutrinário de sucessão a título universal e
verificar que ela só pode ser realizada em caso de morte, conforme ensinamento
de Wald (2002, p. 3):

A sucessão no direito pátrio pode dar-se a título universal ou a


título singular. É a título universal quando se transfere ao sucessor
a totalidade do patrimônio do de cujus ou uma fração determinada
dele, abrangendo tanto o seu ativo como o seu passivo. Neste caso o
sucessor é determinado herdeiro. Essa sucessão só é concebível nos
casos de morte, pois a ninguém é lícito transferir todos os bens em
vida. Cada um tem eu patrimônio maior ou menor, que pode reduzir à
sua mínima expressão, mas do qual não se pode despojar inteiramente.

Da leitura do conceito a seguir, você poderá perceber que a doutrinadora


Maria Helena Diniz (2002) é mais específica ao conceituar sucessão universal,
explicando que será possível identificar quando se trata de sucessão universal,
pois a totalidade ou parte da transferência do patrimônio a ser sucedido é
indeterminada. Para a autora, “Há título universal, quando houver transferência
da totalidade ou de parte indeterminada da herança, tanto no seu ativo como no
seu passivo, para o herdeiro do de cujus” (DINIZ, 2002, p. 20).

20
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE SUCESSÃO

Diniz (2002), no entanto, embora faça essa ressalva, que nos facilita na
identificação da sucessão universal, também coaduna no sentido de que é
necessário que o herdeiro seja chamado a suceder no todo ou numa parte do
patrimônio do autor da herança. Vejamos:

[...] o herdeiro é, portanto, chamado a suceder no todo ou numa quota


– parte do patrimônio do de cujus, sub-rogando-se, abstratamente, na
posição do falecido, como titular da totalidade ou de parte ideal daquele
patrimônio no que concerne ao ativo, e assumindo a responsabilidade
relativamente ao passivo (DINIZ, 2002, p. 20).

Agora, que você já compreende esta categoria vamos adentrar no conceito


da sucessão singular e analisar como ela funciona e se diferencia da sucessão
universal.

NOTA

O que é sucessão singular? A título de sucessão singular, temos aquela que é


realizada de forma a poder discriminar o bem a ser sucedido, estando este bem destacado
da totalidade dos bens deixados pelo autor da herança, o sucessor herdará um bem certo
do testador, devidamente especificado.

Exemplo:

João dos Anjos era viúvo e tinha três filhos: Rafaela, Rodrigo e Ricardo,
ao falecer na cidade de Itapema/SC, foi constatado a existência de testamento e
bens a serem inventariados, esses bens são: uma casa localizada no município
de Itapema/SC, um veículo automotor e um apartamento localizado na cidade
de Blumenau/SC. A abertura da sucessão ocorreu no momento de sua morte.
Os bens a serem inventariados anteriormente descritos totalizam 100% do seu
patrimônio. João preferiu realizar a sucessão de forma singular com relação ao
seu apartamento na cidade de Blumenau/SC, que corresponde a 30% do seu
patrimônio. Os demais bens serão divididos entre seus três sucessores/herdeiros
necessários, que são seus filhos (Rafaela, Rodrigo e Ricardo), cada filho vai
receber um determinado quinhão daquela quota parte da herança. João dos Anjos
dispôs que o apartamento na cidade de Blumenau será deixado para Raquel. Essa
discriminação do bem e quem deverá ficar com o bem é que o caracteriza como
sucessão singular.

Após exemplificar e compreender que a sucessão a título singular ocorre


quando o de cujus discrimina o bem e a quem esse bem pertencerá, e que se trata
de um bem determinado, vamos compreender o conceito doutrinário de sucessão

21
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

a título singular e observar que essa forma de sucessão surge apenas em caso de
sucessão por testamento, muito embora a sucessão testamentária possa ocorrer
tanto a título universal quanto a título singular.

Ademais, é neste momento que vamos encontrar a figura do legatário,


eis que o sujeito a receber o bem determinada, indicado pelo testador, receberá
um legado e não uma herança, conforme estudaremos no Tópico 2, ao tratar da
herança e do autor da herança.

Para tanto, entendemos a sucessão a título singular a indicação de


bem certo por parte do testador que irá receber o legatário, que nada mais é o
beneficiado dessa relação. Rizzardo (2005, p. 8) entende que a sucessão a título
singular: “[...] tem em vista mais o objeto em que se sucede do que o sujeito a
quem se sucedo. Tal é a sucessão em uma dívida ativa ou passiva, a sucessão em
um imóvel, em uma coisa ou mesmo em uma universalidade de coisas”.

Colaborando ainda com o entendimento sobre a sucessão a título singular,


Maria Helena Diniz (2002, p. 20) se posiciona:

Há título singular, quando o testador transfere ao beneficiário


apenas objetos certos e determinador. Nessa espécie de sucessão é o
legatário que sucede ao de cujus em bens ou direitos determinados
ou individuados, ou fração do patrimônio devidamente individuada,
sub-rogando-se de modo concreto, na titularidade jurídica de
determinada relação de direito, sem representar o falecido, pois não
responde pelas dívidas e encargos da herança. Portanto se o testador
comtemplar alguém com coisa concreta, definida, singularizada, ter-
se-á a nomeação do legatário.

Com o entendimento claro de sucessão a título universal e de sucessão a


título singular, compreendendo que na primeira forma de sucessão o autor da
herança transmite seus bens na sua totalidade ou em parte, sendo o patrimônio
a ser sucedido indeterminado, e que na sucessão singular será transmitido os
bens determinados, individualizados em um testamento, tendo como sujeito
sucessor o legatário, podemos seguir para o próximo subtópico, onde você irá
compreender sobre sucessão contratual.

NOTA

Sucessão, a título singular, recebe um bem ou direito específico, como um


apartamento, um carro ou uma casa.
Sucessão a título universal – transferência da totalidade ou de parte indeterminada da
herança. Sucessão a título singular surge apenas em caso de sucessão por testamento,
muito embora a sucessão testamentária possa ocorrer tanto a título universal quanto a
título singular. A sucessão legítima sempre é a título universal.

22
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE SUCESSÃO

4 SUCESSÃO CONTRATUAL
Há, ainda, uma categoria existente no direito de sucessões, que é a
denominada sucessão contratual, essa categoria desperta calorosos debates,
por não ser admitida no ordenamento jurídico brasileiro à sucessão contratual,
conforme consta no Art. 426 do Código Civil, que assim dispõe “Não pode ser
objeto de contrato a herança da pessoa viva” (BRASIL, 2002).

FIGURA 7 – É POSSÍVEL SUCESSÃO CONTRATUAL?

FONTE: <https://parceirolegal.fcmlaw.com.br/wp-content/uploads/sites/2/2018/01/clausula-de-
-sucessao-825x542.png>. Acesso em: 11 mar. 2021.

Neste sentido, temos que, em um contrato estipulado entre pessoas


– lembrando que contratos são negócios jurídicos bilaterais e irrevogáveis – o
objeto contratual não pode ser a herança de pessoa ainda viva. Na ocorrência
de contrato com esse objeto ele será considerado absolutamente nulo, eis que é
expressa a proibição aos pactos sucessórios na legislação pátria e o Inciso VII do
Art. 166 do Código Civil prevê que é nulo o negócio jurídico que não revestir a
forma prescrita em lei.

Outro ponto que deve ser ressaltado é que a herança propriamente dita
decorre da morte do indivíduo proprietário dos bens, sem a morte, não há que se
falar em herança, conforme estudaremos no Tópico 3 desta unidade.

A doutrina brasileira em sua maioria coaduna com a legislação em vigor,


que vai no sentido proibitivo de tal prática, vejamos a colaboração dada por
Orlando Gomes (1978, p. 7-8):

Em nosso Direito são proibidos os pactos sucessórios. Nulo de pleno


direito é o contrato sobre herança de pessoa viva. Permitida não é,
entre nós, a renuncia à sucessão que ainda não se abriu. Nem qualquer
ato de disposição de herança esperada. Em suma, ilícita a sucessão
contratual.

23
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

A sucessão contratual ou pacto sucessório também é conhecida como


pacta corvina que, segundo José Fernando Simão (2005), é referência à palavra
corvo, que é uma ave de plumagem negra encontrada em todos os continentes.
Esta ave é carnívora e, no entender do autor:

[...] se alimenta basicamente de seres mortos, sendo, portanto,


necrófago. A analogia que se faz é justamente com relação aos hábitos
alimentares do corvo (animais mortos) e o objeto do contrato (herança
de pessoa viva). O negócio com tal objeto indicaria o desejo, os votos de
morte para aquele de quem a sucessão se trata. Tal como o corvo, que
esperam a morte de suas vítimas para se alimentarem, os contratantes
estariam avidamente aguardando o falecimento para se apossarem
dos bens da herança (SIMÃO, 2005, p. 38-39).

Da contribuição dada pelo doutrinador, podemos extrair que a proibição


do referido pacta corvina, ou da sucessão contratual, dá-se por dois motivos,
o primeiro deles em virtude de uma impossibilidade jurídica, eis que como já
estudamos não há herança de pessoas vivas, e o segundo motivo puramente moral,
com a intenção de resguardar a sociedade e o seres humanos de sentimentos e
intenções nada republicanas, qual seja, a esperança e o desejo da morte do titular
do bem que estipulou o pacto sucessório.

FIGURA 8 – O QUE É PACTA CORVINA?

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/838443655621802453/>. Acesso em: 11 mar. 2021.

Agora sabemos que o nosso ordenamento jurídico não permite realizar


transação ou negócio sobre o patrimônio da pessoa viva, eis que é expressamente
proibida a sucessão contratual, porém como tudo no direito, existem as exceções.

24
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE SUCESSÃO

No caso, o novel civilista admite que os pais possam, em vida, realizar


a divisão dos próprios haveres entre os filhos, observada a parte reservada à
legítima, do qual não pode se dispor livremente.

Conforme o Art. 2.018 do Código Civil (2002), que assim dispõe: “É


válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade,
contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários”. Diferente não
é a doutrina que reconhece a possibilidade e a autorização legal para realizar
a partilha em vida: “A partilha amigável por ato entre vivos, por seu turno, é
autorizada pelo ordenamento jurídico, através de ato praticado em vida pelo
titular do patrimônio e de seus herdeiros [...] (FARIAS; ROSENVALD, 2006, p.
581).

Essa possibilidade também é denominada partilha inter líberos, que


nada mais é que a partilha em vida, estudaremos no Tópico 2 da Unidade 3.
No momento, você, acadêmico, deve compreender que a sucessão contratual é
proibida em nosso ordenamento, existindo uma exceção, contida no Art. 2.018 do
Código Civil, que autoriza os ascendentes realizarem partilha inter vivos, desde
que não prejudique a legítima.

Assim, encerramos mais uma etapa de nossos estudos. A seguir, trataremos


de compreender a sucessão irregular.

NOTA

No ordenamento jurídico brasileiro são proibidos os pactos sucessórios. Nulo


de pleno direito é o contrato sobre herança de pessoa viva.
A sucessão contratual ou pacto sucessório também é conhecida como pacta corvina, em
alusão ao corvo, que é um animal carnívoro.
Existe uma exceção a esta proibição: a Partilha inter líberos.

5 SUCESSÃO IRREGULAR
Caro acadêmico, você já adquiriu compreensão da disciplina Direito das
Sucessões, percorrendo por diversos conceitos de categorias antes desconhecidas
e que agora são facilmente compreendidas por você?

Neste subtópico, vamos tratar da sucessão irregular ou sucessão anômala.


Essa forma de sucessão não é regulada pelo Direito Sucessório, ela possui suas
normas próprias que estabelecem como deverá ser realizada a sucessão, não
observando o que estabelece o Art. 1.829 do Código Civil (2002).

25
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Oliveira e Amorim (2016, p. 32) nos explicam que: “Em determinadas


situações, a lei estabelece uma forma diferenciada de transmissão dos bens do
falecido, dependendo da natureza dos bens e das pessoas habilitadas ao seu
recebimento. Tem-se, então, uma forma irregular de sucessão, por isso chamada
de anômala”.

Podemos destacar alguns exemplos de sucessão irregular ou anômala,


para que você possa se contextualizar: a sucessão de bens de que se trata o Art.
5º, XXXI da Constituição Federal e Art. 10, § 1º da LINJB, é um exemplo, pois
determina que a sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil será regulada
pela lei brasileira, em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que
não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.

Outro exemplo que podemos citar é o contido no Art. 17, do Decreto


nº 3.200/1941, que contém o texto a segui: “Art. 17. À brasileira, casada com
estrangeiro sob regime que, exclua a comunhão universal, caberá, por morte
do marido, o usufruto vitalício de quarta parte dos bens deste se houver filhos
brasileiros do casal ou do marido, e de metade, se não os houver”. O Decreto-
Lei nº 3.438/1941, no Art. 18, b, § 2º, por sua vez proíbe a sucessão de cônjuge
estrangeiro em terrenos da marinha, podendo também ser considerado outro
exemplo de sucessão anômala.

No direito previdenciário, Lei nº 8.213/1991, também podemos encontrar


exemplo de sucessão irregular, eis que em seu Art. 74 temos a previsão de que
a pensão por morte do segurado pela previdência social deve ser dividida entre
seus dependentes determinados no rol contido no Art. 16 do mesmo diploma
legal. Referido rol estabelecido na legislação previdenciária é diferente do rol
previsto no Art. 1.829 do Código Civil.

Diferente não é também na legislação que trata sobre o Fundo de Garantia


por Tempo de Serviço (FGTS), Lei nº 8.036/1996, que, em seu Art. 20, IV estabelece
que:
A conta vinculada do trabalhador no FGTS poderá ser movimentada
nas seguintes situações
[...]
IV - falecimento do trabalhador, sendo o saldo pago a seus dependentes,
para esse fim habilitados perante a Previdência Social, segundo o
critério adotado para a concessão de pensões por morte. Na falta de
dependentes, farão jus ao recebimento do saldo da conta vinculada
os seus sucessores previstos na lei civil, indicados em alvará judicial,
expedido a requerimento do interessado, independente de inventário
ou arrolamento.

Em nosso ordenamento jurídico, encontraremos possibilidades diferentes


de previsão de forma de sucessão, sobretudo em temos bem específicos, conforme
apontado anteriormente, para tanto, você, acadêmico, sempre terá que ter um
olhar aguçado em detrimento às legislações específicas, que podem em seu bojo,
contemplar uma forma de sucessão irregular, fugindo assim da ordem regular
estabelecida no livro das sucessões, encontrado em nosso Código Civil.

26
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE SUCESSÃO

NOTA

Sucessão irregular ou sucessão anômala possui suas normas próprias que


estabelecem como deverá ser realizada a sucessão dos bens do falecido.

FIGURA 9 – SÍNTESE

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/619033911252505685/>. Acesso em: 11 mar. 2021.

27
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Há duas formas de sucessão: a sucessão legítima e a testamentária, a primeira


se dará por lei e a segunda por disposição de última vontade.

• A sucessão pode ser a título singular e a título universal – dependendo se a


herança será determinada ou não.

• Há a proibição da sucessão contratual, porém o direito brasileiro prevê exceção.

• Sucessão irregular ou anômala – normas próprias que determinam como


deverá ser realizada a sucessão.

28
AUTOATIVIDADE

1 O Direito das Sucessões é definido como o conjunto de normas que


disciplinam a transferência de patrimônio, tanto ativo (créditos) como
passivo (débitos), de alguém após sua morte, em virtude de lei ou
testamento. Está regulado nos Arts. 1.784 a 2.027 do Código Civil brasileiro
e pela Constituição Federal que assegura o direito de herança no Art. 5º,
Inciso XXX. Sobre o direito das sucessões, analise as sentenças a seguir:

I- A sucessão legítima representa a vontade presumida do de cujus de


transmitir o seu patrimônio para as pessoas indicadas na lei, pois teria
deixado o testamento se outra fosse a intenção.
II- É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última
vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários.
III- Em nosso ordenamento jurídico, a sucessão legítima e a testamentária, a
primeira decorrente da Lei e a segunda decorrente da vontade do autor
da herança.
IV- Sucessão contratual é permitida em nosso ordenamento jurídico ao passo
que a sucessão irregular é proibida.

Assinale a afirmação CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As afirmações I, II e III estão corretas.

2 Embora em vários campos do direito, tais como o Direito Eleitoral, o Penal


e o de Família predomine o princípio mors omnis solvit (a morte acaba com
tudo), o mesmo não se aplica no Direito das Sucessões, por ser exatamente
com a morte que o direito começa, uma vez que embora uma vida termina,
o patrimônio subsiste e é transmitido aos herdeiros. Acerca do Direito das
sucessões, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A sucessão contratual ou pacto sucessório também é admitida no


direito brasileiro, sendo conhecida como pacta corvina.
b) ( ) Quando tratamos da sucessão sabemos que inexiste no direito
brasileiro o direito à sucessão por testamento e, caso exista, é invalido
ou é ineficaz.
c) ( ) A sucessão testamentária ou ex testamento tem em seu cerne a disposição
da vontade do testador, que é o autor da herança. Esta disposição da
vontade vem revestida de certa solenidade e embora o direito brasileiro
permita ao autor da herança a possibilidade de dispor sobre seus
próprios bens, essa liberdade encontra um certo limite
d) ( ) A sucessão legítima não é permitida aos colaterais em concorrência
com o cônjuge.

29
3 A pandemia causada pelo novo coronavírus, na segunda década do século
XXI, causou incertezas e a convivência com a morte, tornando necessário
pensar sobre o Direito Sucessório, particularmente com relação ao exercício
da autonomia da vontade no direito sucessório, colocando em discussão os
dispositivos do Código Civil relacionados à sucessão. Dentre os dispositivos
mais polêmicos, destacam-se os relacionados à chamada sucessão contratual
e sucessão irregular. Acerca da sucessão contratual, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) No ordenamento jurídico brasileiro são permitidos os pactos sucessórios,


ou seja, é admitida a sucessão contratual.
b) ( ) É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de
última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros
necessários.
c) ( ) A partilha amigável por ato entre vivos, por seu turno, não é autorizada
pelo ordenamento jurídico, através de ato praticado em vida pelo
titular do patrimônio e de seus herdeiros.
d) ( ) Exemplo de sucessão anômala é sucessão de cônjuge estrangeiro em
terrenos da marinha, perfeitamente possível em nosso ordenamento
jurídico.

30
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico, após os estudos realizados nos tópicos anteriores quando


pôde inaugurar seus conhecimentos sobre o direito das sucessões, conhecendo a
sua origem, fundamentos, conceitos e compreendendo o momento em que ocorre
a abertura da sucessão, bem como a transmissão da herança e distinguindo, ao
final, as espécies de sucessões existentes, você encontra-se preparado para iniciar
o estudo do presente tópico?

Neste último tópico da Unidade 1, estudaremos a herança e seu autor,


entendendo o que é legado e as responsabilidades que recaem sobre os herdeiros,
conceituando, ao final, cessão de direitos hereditários.

Poderá verificar que a transmissão do patrimônio da qual iniciamos


os estudos no tópico anterior, ocorre por herança, e essa herança só será
individualizada após a realização da partilha, categoria que estudaremos mais
adiante, na Unidade 3. Para tanto, verificaremos que a herança é indivisível no que
diz respeito ao domínio e posse dos bens hereditários, mesmo que haja diversos
herdeiros. Vamos verificar também que a herança, na verdade, nada mais é que
o conjunto de bens, direitos e obrigações que irão ser transferidos aos sucessores,
ante a morte de um indivíduo.

Sobre a indivisibilidade da herança, a doutrina é tranquila ao afirmar que


a herança se transfere de forma unitária, na lição de Silvio Rodrigues (2002, p. 23):
“Mesmo que o de cujus tenha vários herdeiros, a herança defere-se como um todo
unitário, e o direito dos coerdeiros quanto à propriedade e posse da herança será
indivisível, regulando-se pelas normas relativas ao condomínio”. Entretanto, esta
indivisibilidade, em que todos os bens permanecem em condomínio, dar-se-á até
o momento da partilha.

Poderemos compreender que, para o direito brasileiro, a herança é o


objeto específico do direito das sucessões, e é, como vimos, no tópico anterior,
um direito garantido constitucionalmente.

Trataremos também do autor da herança, legado e suas espécies e a


cessão de direitos, sem sua forma e objeto, conceituando esta categoria e ao final
compreendendo como funciona o direito de preferência.

31
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Vamos juntos, conhecer o autor da herança e compreender as


responsabilidades que recaem sobre os herdeiros, e ao final estudar a cessão de
direitos hereditários.

2 HERANÇA

Entendemos como herança o conjunto de bens, direitos e obrigações que


após o falecimento do indivíduo é deixado pelo falecido aos seus sucessores. De
acordo com a doutrina, nas palavras do Venosa (2017, p. 35):
[...] como a universalidade de direitos e obrigações, que constituem o
patrimônio deixado pelo de cujus, consequentemente tais direitos e
obrigações são transmitidas após a morte do falecido, para o sucessor,
de modo que estes, herdarão da pessoa falecida, suas quotas-partes até
a materialização da partilha dos bens herdados.

Wald (2009, p. 7) nos ensina que a herança também pode ter outras
denominações, para o doutrinador, a categoria herança também pode ser
denominada de espólio ou monte: “É o conjunto de bens, direitos e obrigações
que se transmite aos herdeiros e legatários. Também denominada de espólio ou
monte”.

Assim, herança nada mais é que o conjunto do patrimônio deixado pelo


de cujus, que serão devidamente transmitidos aos seus herdeiros ou legatários,
e poderá ainda ser denominada de espólio ou monte, como frisado por Wald
(2009).

FIGURA 10 – O QUE É HERANÇA?

FONTE: <https://s.dicio.com.br/heranca.jpg>. Acesso em: 11 mar. 2021.

32
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

Diniz (2012, p. 77) nos ensina que o objeto da sucessão causa mortis é a
herança, segundo a doutrinadora “[...] A herança é, portanto, o patrimônio do
falecido, isso é, o conjunto de direitos e deveres que se transmite aos herdeiros
legítimos ou testamentários”. A exceção reconhecida pela autora se dá aos que
forem personalíssimos ou inerentes à pessoa do de cujus. No pensamento de
Venosa (2015, p. 7), a herança contém tantos bens materiais quanto imateriais,
desde que possam ser avaliáveis do ponto de vista econômico.

A compreensão sobre o que compõe esse patrimônio nos é trazida por


Carlos Roberto Gonçalves (2012), ao citar Clóvis Beviláqua, para o doutrinador
esse patrimônio é composto por bens corpóreos e incorpóreos, ele também
diferencia patrimônio em sentido amplo e em sentido estrito.
Os bens corpóreos e os incorpóreos integram o patrimônio da
pessoa. Em sentido amplo, o conjunto de bens, de qualquer ordem,
pertencentes a um titular, constitui o seu patrimônio. Em sentido
estrito, tal expressão abrange apenas as relações jurídicas ativas
e passivas de que a pessoa é titular, aferíveis economicamente.
Patrimônio, segundo a doutrina, é o complexo das relações jurídicas
de uma pessoa, que tiverem valor econômico. Clóvis, acolhendo
essa noção, comenta: “Assim, compreendem-se no patrimônio tanto
os elementos ativos quanto os passivos, isto é, os direitos de ordem
privada economicamente apreciáveis e as dívidas. É a atividade
econômica de uma pessoa, sob o seu aspecto jurídico, ou a projeção
econômica da personalidade civil (GONÇALVES, 2012, p. 269).

Por sua vez, o Art. 943 do Código Civil garantirá que se transmita com a
herança o direito de exigir reparação e também a obrigação de prestá-la, se for o
caso.

Para tanto, podemos afirmar que a herança, por se tratar de um complexo


de relações jurídicas de uma pessoa, dotada de valor econômico, é contemplada
pelo Art. 91 do Código Civil, que dispõe que essas formas de relações constituem
a universalidade de direito.

Colaborando com esse entendimento do Art. 91 do Código Civil, temos o


Art. 1.791 que classifica a herança em sua natureza jurídica em um todo unitário,
não possibilitando sua divisão, ou seja, tornando a herança indivisível até o
momento da partilha.
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que
vários sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos coerdeiros, quanto à
propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas
normas relativas ao condomínio (BRASIL, 2002)

Esse fenômeno da indivisibilidade da herança, que alcança o patamar


de princípio, está devidamente contemplado em nosso ordenamento jurídico,
possibilitando apenas após a partilha determinar quais bens correspondem a
cada herdeiro.

33
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

FIGURA 11 – A HERANÇA É INDIVISÍVEL APENAS HAVENDO DIVISÃO APÓS A PARTILHA

FONTE: <https://thumbs.jusbr.com/filters:format(webp)/imgs.jusbr.com/publications/images/7c-
d101a3ca3e9d93e87565a053d5cf08>. Acesso em: 11 mar. 2021.

A doutrina também considera a herança como indivisível, nas palavras do


doutrinador Gonçalves (2012, p. 51):

A indivisibilidade diz respeito ao domínio e à posse dos bens


hereditários, desde a abertura da sucessão até a atribuição dos quinhões
a cada sucessor, na partilha. Antes dessa, o coerdeiro pode alienar ou
ceder apenas sua cota ideal, ou seja, o direito à sucessão aberta, que o
Art. 80, II, do Código Civil considera bem imóvel, exigindo escritura
pública e outorga uxória, não lhe sendo permitido transferir a terceiro
parte certa e determinada do acervo.

Ainda de acordo com o Art. 1.793 do Código Civil, prevê-se que a alienação
da quota parte da herança por parte de um dos herdeiros, depende da autorização
judicial, sob pena de ser declarada ineficaz:

Art. 1.793: O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que


disponha o coerdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.
[…]
2º É ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre
qualquer bem da herança considerado singularmente.
3º Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão,
por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário,
pendente a indivisibilidade (BRASIL, 2002).

Por outro lado, ao discorrer com olhar mais crítico, Venosa (2013) refere-se
à herança como uma unidade abstrata, de que não se deve acreditar que realmente
seja totalmente indivisível, eis que pode haver unidade da universalidade, que
ocorre quando existem vários herdeiros chamados a suceder o de cujus, porém,
caso haja divisão, essa será realizada em partes ideais, fracionadas, o que faz com
que possa perfeitamente conciliar-se, desta forma, com a coexistência de vários
herdeiros.

34
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

Entretanto, esse quinhão, fração ou partes iguais, a que se refere o


doutrinador é o mesmo constante no Art. 1.793 em seu caput. Assim, mesmo
que fracionada a universalidade da herança, ela segue sem sua indivisibilidade,
conforme se depreende da leitura do referido artigo contido no novel civil. Para
que você conheça as divergências doutrinárias, mesmo que sensíveis, é que se faz
importante acrescentar o destaque do pensamento de Venosa (2013, p. 7-8).
Embora a herança seja uma unidade abstrata, ideal, que pode até
mesmo prescindir da existência de bens materiais, não se deve
acreditar, de plano, que seja indivisível. Quando existem vários
herdeiros chamados a suceder o de cujus, divide-se entre eles em partes
ideias, fracionárias, de metade, um terço, um quarto etc. Desse modo,
a unidade da universalidade concilia-se com a coexistência de vários
herdeiros, porque cada um deles tem direito a uma quota-parte ou
porção ideal da universalidade. A ideia é de condomínio, como já dito.
Disso decorrem muitas consequências, como se pode prever. Cada
um dos herdeiros é potencialmente proprietário do todo, embora seu
direito seja limitado pela fração ideal.

Como estudado no tópico anterior, a herança será transmitida


automaticamente aos seus herdeiros sucessíveis legítimos e testamentários,
conforme Art. 1.784. Esse conjunto de bens, direitos e obrigações possui ônus e
bônus. No que diz respeito ao passivo, cargas e dívidas contraídas em vida pelo
falecido, responde à massa hereditária, em sua integralidade, se for o caso, como
veremos no tópico a seguir, que tratará sobre as responsabilidades dos herdeiros.

Ressalta-se que o direito à sucessão aberta, que são a herança e o legado,


esse último vamos estudar no Subtópico 3, é considerado um bem imóvel, nos
termos do Art. 80 do Código Civil, mesmo que no seu conjunto tenha bens móveis.

De forma geral, podemos compreender o que compõe a herança,


sabendo que ela permanece em sua indivisibilidade até o momento da abertura
do inventário, entretanto, é importante que você tenha a compreensão de que
a sociedade está em constante mudança e evolução e com ela se faz necessário
que o Direito esteja se aprimorando, dia a dia, podendo, assim, acompanhar e
regulamentar as diversas relações jurídicas existentes.

Esse constante aprimoramento, que faz com que o Direito e a Ciência


jurídica como um todo possa acompanhar a evolução da sociedade, não é diferente
em relação aos novos surgimentos de conceito operacional da categoria herança
e dos bens deixado pelo falecido. A exemplo desse aprimoramento, temos que
hoje vivemos na Era Digital, em que o indivíduo poderá aglutinar uma série de
informações e armazenamentos em espaço virtual e até produção de conteúdo
que geram determinados ativos.

Essa é uma realidade e cabe ao Direito regulamentar. Assim, temos


também como herança, a herança digital que é constituída de bens digitais e,
segundo a doutrina, merece ser incluída no conceito de herança, pois se trata do
patrimônio do indivíduo.

35
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Os bens virtuais merecem ser incluídos no conceito de herança,


uma vez que integram o patrimônio do indivíduo. Quanto aos
arquivos que possuam valor econômico, [...], tendo em vista o
princípio da patrimonialidade que norteia o direito das sucessões.
Em contrapartida, alguns doutrinadores entendem que os arquivos
que não podem ser avaliados financeiramente, como fotos pessoais,
escritos caseiros e vídeos particulares são excluídos da concepção de
espólio. No entanto, os sucessores podem herdar este material caso
haja disposição de última vontade do de cujus, na hipótese de não
existir, os herdeiros não poderão pleitear judicialmente a posse do
referido conteúdo, mas terão o direito de requerer a exclusão desse
acervo, caso esteja disponível ao público em redes sociais, por exemplo
(VIRGÍNIO, 2015, s.p.).

A doutrina já vem tratando da realidade virtual e da possibilidade de


existir bens digitais que poderão compor futuramente, com o falecimento do
indivíduo, a sua herança. Para que tenhamos clareza do que pode ser incluído
como bens digitais, vamos realizar a leitura do conceito dado pela doutrina
daquilo que denominamos bens digitais.

FIGURA 12 – HERANÇA DIGITAL

Contas Ativos
On-line Digitais Herança Digital

FONTE: <https://ieeexplore.ieee.org/document/7521505>. Acesso em: 11 mar. 2021.

Moisés Fagundes Lara (2016, p. 92) defende que:

[...] bens digitais são instruções traduzidas em linguagem binária que


podem ser processadas em dispositivos eletrônicos, tais como fotos,
músicas filmes etc., ou seja, quaisquer informações que podem ser
armazenadas em bytes nos diversos aparelhos como computadores,
celulares e tablets.

De uma forma mais detalhada Lacerda (2017, p. 59) estabelece um rol


exemplificativo do que seriam os bens digitais:

36
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

Estes seriam aqueles bens incorpóreos, os quais são progressivamente


inseridos na internet por um usuário, consistindo em informações de
caráter pessoal que trazem alguma utilidade àquele, tenha ou não
conteúdo econômico [...] Esses bens digitais podem se apresentar sob a
forma de informações localizadas em um sitio de internet, tais como: a)
em um correio eletrônico (todos os serviços de e-mail, tais como Yahoo,
Gmail e Hotmail); b) numa rede social (Facebook, LinkedIn, Google+,
MySpace Instagram etc); c) num site de compras ou pagamentos (eBay
e PayPal); d) em um blog (Blogger e Wordpress); e) numa plataforma
de compartilhamento de fotos ou vídeos (Flickr, Picasa ou Youtube); f)
em contas para aquisição de músicas, filmes e livros digitais (iTunes,
GooglePlay e Pandora); g) em contas para jogos on-line (como World
of Warcraft ou Second Life) ou mesmo em contas para armazenamento
de dados (serviços em nuvem, como Dropbox, iCloud ou OneDrive).

Para tanto, embora ainda não haja legislação sobre o tema, a doutrina
vem reconhecendo a existência de bens digitais, sendo esses bens classificados
como incorpóreos, devido as suas características, fazendo com que haja também
a herança digital, que igualmente compõe e faz parte da herança em regra
geral, devendo ser futuramente submetida a partilha. Para tanto, é necessária a
compreensão do que são bens digitais no campo jurídico, para que possamos
compreender o que será transmitido aos sucessores ante a morte do seu titular.

DICAS

O que é herança digital?

Acerca do tema, sugere-se a leitura do texto O que é herança digital?, de Galvão e Silva
Advocacia disponível em: https://jus.com.br/artigos/80027/o-que-e-heranca-digital.
Ainda o interessante artigo A herança digital no Brasil e o tratamento das criptomoedas e
bitcoins como bens digitais de autoria de Cintia Obladen de Almendra Freitas. Disponível
em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/primafacie/article/view/48807.

Neste momento, você já tem compreensão e consegue conceituar a


categoria herança contida em nosso ordenamento jurídico, viu também a
agilidade da doutrina em reconhecer os bens digitais, e que esses bens se tornam
herança digital, no caso do falecimento do titular, tornando-se parte da totalidade
indivisível da categoria Herança.

37
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

E
IMPORTANT

Herança é o conjunto do patrimônio deixado pelo de cujus, que serão


devidamente transmitidos aos seus herdeiros ou legatários.
Herança também pode ser denominada espólio ou monte.
Herança é indivisível até o momento da partilha!
Hoje temos bens digitais que podem futuramente, com a morte do indivíduo, se tornarem
herança digital e integram o conjunto do espólio.

2.1 AUTOR DA HERANÇA

Compreendendo o que compõe a herança de um indivíduo, e tendo em


vista que essa herança, composta por um determinado patrimônio, bens, direitos
e obrigações, constituindo passivos e ativos do indivíduo que já não existe mais,
ante a sua morte, podemos “mergulhar” no estudo sobre o autor desta herança,
que é de fácil compreensão e não exige demais delongas.

O autor da herança também denominado de cujus, sem flexão de gênero e


de número, podendo referida expressão ser utilizada no feminino, no masculino,
no singular e no plural, é o indivíduo que possui determinado patrimônio e que,
com o seu falecimento, esse patrimônio se tornará a herança dos seus herdeiros.
O autor da herança ou de cujus, também será aquele indivíduo, que se capaz,
poderá dispor de parte de seu patrimônio em vida.

FIGURA 13 – DE CUJUS

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/863354191040932154/>. Acesso em: 11 mar. 2021.

38
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

3 LEGADO
O legado é proveniente da sucessão testamentária e não da sucessão
legítima, para tanto o de cujus antes de sua morte, dispõe sua última vontade
nomeando o legatário para um determinado bem ou um conjunto de bens certos
e determinados dentro da herança.

NOTA

Legado é coisa certa e determinada deixada a alguém, denominado legatário,


em testamento ou codicilo. É transmissão a título singular
Difere de herança. É a transmissão do direito de propriedade sobre coisa certa.

Assim, para caracterizar o legado, há que se possa coisa certa e


determinada deixados pelo indivíduo através de um testamento, podendo o
favorecido ser, inclusive, um dos seus herdeiros legítimo, passando esse a receber
a título universal e a título singular. Observa-se ainda que o legado se diferencia
da herança por ser divisível, ou seja, por ser um bem ou um conjunto de bens
determinados, ocorrendo a sucessão a título singular.

Para confirmar que o legado pode ser destinado a um dos herdeiros legítimo
do de cujus, levamos para você, acadêmico, a leitura de Gustavo René Nicolau,
que afirma que “Esse beneficiado pode, inclusive, ser um herdeiro legítimo do de
cujus, que passa a receber a título universal (Art. 1.829) e a título singular. Tem-se,
nesse caso o chamado prelegado ou legado precípuo” (NICOLAU, 2005, p. 132).

O chamado prelegado ou legado precípuo nada mais é que o acúmulo de


duas qualidades em uma só pessoa, no caso, seria o acúmulo das qualidades de
herdeiros e das qualidades de legatário.

Para que você, acadêmico, possa reconhecer um legado, faz-se necessário


verificar as características apresentadas por este, que são: a) transmissão de um
bem certo e determinado, por testamento a título particular; b) não responder
ao legatário pelo passivo da herança, caso haja. “Legado seria toda disposição
testamentária a título particular, abrangente de bens ou direitos individualizados,
que se destacam do patrimônio do testador e são atribuídos a pessoa por ele
designada” (GOMES, 2004, p. 179).

O legado pode tratar tanto de coisa certa, ao tratar de bens específicos,


como de coisa incerta, que será determinada pelo gênero ou quantidade.

39
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Existem, em nosso ordenamento jurídico, espécies de legados, que se


diferenciam quanto ao objeto, são eles: Legado de Coisa Alheia, Legado de Coisa
Comum, Legado de Coisa Singularizada, Legado de Crédito, Legado de Quitação
de Dívida, Legado de Alimentos, Legado de Usufruto e Legado de Imóvel.

No Art. 1.912 do Código Civil, vamos encontrar a espécie de legado de


coisa alheia, referido artigo preceitua que “ É ineficaz o legado de coisa certa que
não pertença ao testador no momento da abertura da sucessão”, para tanto, temos
que, via de regra, caso o de cujus contemple o legatário com um bem que não
seja de sua propriedade, o legado será ineficaz, não produzindo, assim, qualquer
efeito.

Caso se trate de legado de coisa comum, quando o bem pertencer


parcialmente ao de cujus, ressalta-se a doutrina e a legislação (Art.1.914 do CC),
que só terá eficácia quanto à parte pertencente ao de cujus. No que diz respeito ao
legado da coisa singularizada, o Art. 1.916 do Código Civil brasileiro condiciona
a eficácia do legado, se, no momento do falecimento, a coisa legada se achar entre
os bens da herança, caso haja parcialmente, em quantidade inferior, terá eficácia
apenas quanto à parte existente.

Veja o que nos ensina Nicolau (2005, p. 133) ao tratar do legado de coisa
comum e do legado de coisa singularizada.

[...] caso o testador legue bem que só lhe pertence parcialmente, a deixa
só terá eficácia quanto a essa parte (Art.1.914). [...] se, no momento da
abertura da sucessão, os bens estipulados pelo testador existirem em
quantidade inferior ao que foi designado no testamento, só em relação
ao remanescente é que valerá a deixa (Art. 1.916).

Na hipótese de se tratar de legado de coisa singularizada, em virtude da


integralidade do bem legado, esse deverá ser integralmente entregue ao legatário,
sem qualquer interferência de possíveis herdeiros.

Na modalidade de legatário de crédito, temos que o de cujus legante possui


crédito com terceiro, algo a receber, um direito a ser cumprido em seu favor, e
se esse crédito, no momento da morte ainda exista, o de cujus pode transferir a
entrega desse direito a um terceiro, tornando esse seu legatário.

Também pode haver o legado na modalidade de quitação de uma dívida


existente entre o legatário e o de cujus, porém consoante o Art. 1.918, em seu § 2º,
esse legado não compreende as dívidas posteriores à data do testamento. Nessa
modalidade, o legante dá quitação a uma dívida do legatário com ele, ou seja,
desobriga o legatário ao pagamento da dívida.

Com relação ao legado de alimentos, previsto no Art. 1.920 do Código


Civil, que determina que “o legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o
vestuário e a casa, enquanto o Legatário viver, além da educação, se ele for menor”.

40
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

Assim, o de cujus poderá instituir em favor do legatário o direito de alimentos. O


de cujus poderá também, na disposição final de sua vontade, estabelecer as regras
que serão utilizadas, como o valor das prestações alimentares e o período em que
serão devidas. Caso não haja essas disposições detalhadas, estaria autorizado o
juízo, no momento da partilha, determinar os detalhes faltantes.

No caso de legado de usufruto, temos a possibilidade de o legante deixar


a propriedade do bem para um determinado herdeiro ou mesmo constando essa
propriedade no monte a ser partilhado futuramente em processo específico e
determinar o usufruto dessa propriedade a um terceiro ou a um determinado
herdeiro, que seria o legatário.

Por disposição legal, constante no Art. 1.921 do Código Civil, caso o


legante não estipule prazo para se encerrar o usufruto, esse se extinguirá com a
morte do usufrutuário. “Art. 1.921. O legado de usufruto, sem fixação de tempo,
entende-se deixado ao legatário por toda a sua vida” (BRASIL, 2002).

Por fim, caro acadêmico, chegamos à última espécie de legado, que


é o Legado de Imóvel acrescidos, prevista no Art. 1.922 do Código Civil, que
determina que, no caso de legado de um imóvel específico houver aquisições
que lhe acresçam, mesmo que contiguas, essas não serão automaticamente
compreendidas pelo legado, a não ser que haja declaração do testador dispondo
o contrário.

Para tanto, ao compreender essa categoria existente no direito de sucessões,


qual seja o Legado e as espécies que o compõe. É importante que você, acadêmico,
saiba que existem três figuras nesta relação que resulta no legado, quais sejam:
O legante (Autor da Herança/ Testador), o legatário (beneficiado pelo legado –
que também pode ser um herdeiro) e o herdeiro responsável (que é o indivíduo,
herdeiro e responsável por cumprir o legado).

Após os estudos realizados neste tópico, podemos agora seguir para o


subtópico seguinte, onde iremos estudar a responsabilidade dos herdeiros.

E
IMPORTANT

O autor da herança também pode ser denominado de cujus.


O legado é proveniente da sucessão testamentária e não da sucessão legítima.
O legado se diferencia da herança por ser divisível, ou seja, por ser um bem ou um conjunto
de bens determinados, ocorrendo a sucessão a título singular.
Existem em nosso ordenamento jurídico espécies de Legados, que se diferenciam quanto
ao objeto, são eles: Legado de Coisa Alheia, Legado de Coisa Comum, Legado de Coisa
Singularizada, Legado de Crédito, Legado de Quitação de Dívida, Legado de Alimentos,
Legado de Usufruto e Legado de Imóvel.

41
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

4 RESPONSABILIDADE DOS HERDEIROS


Estudamos que após a abertura da sucessão, que se dá no momento da
morte do indivíduo, será a herança transmitida de forma indivisível para os seus
herdeiros, porém também é de seu conhecimento, caro aluno, que depois de
ser realizada a partilha, ela se torna divisível. Sabemos também que a herança
pode ser composta de patrimônio com bens e direitos, como também pode ser
composta com dívidas.

FIGURA 14 – MORTO PAGA DÍVIDA?

FONTE: <https://www.marinslourenco.com/wp-content/uploads/2020/07/15.07.2020-morto-di-
vida-site-1536x864.png>. Acesso em: 11 mar. 2021.

De acordo com o Art. 1.997 do Código Civil, ao tratar das dívidas do


indivíduo que faleceu, a herança (espólio/monte) responderá pelo pagamento
das dívidas deixadas pelo de cujus, entretanto, ocorrendo a partilha, os herdeiros
passam a responder pelas dívidas, na quota parte que lhes couberem.

Art. 1.997. A herança responde pelo pagamento das dívidas do


falecido; mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada qual
em proporção da parte que na herança lhe coube.
§ 1º Quando, antes da partilha, for requerido no inventário o
pagamento de dívidas constantes de documentos, revestidos de
formalidades legais, constituindo prova bastante da obrigação, e
houver impugnação, que não se funde na alegação de pagamento,
acompanhada de prova valiosa, o juiz mandará reservar, em poder do
inventariante, bens suficientes para solução do débito, sobre os quais
venha a recair oportunamente a execução.
§ 2º No caso previsto no parágrafo antecedente, o credor será obrigado
a iniciar a ação de cobrança no prazo de trinta dias, sob pena de se
tornar de nenhum efeito a providência indicada.

Previsão semelhante também encontramos no Art. 796 Código de Processo


Civil, que determina que o espólio venha a responder pelas dívidas deixadas
pelo autor da herança, porém após a realização da partilha, que é quando essa
herança se torna divisível, cada herdeiro responderá pelas dívidas na proporção
que couber.
42
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

Neste contexto, é de suma importância a leitura de ambos os artigos


que coadunam no nosso ordenamento jurídico, além desses dois artigos, um do
Código Civil e outro do Código de Processo Civil, temos também o Art. 1.792 do
Código Civil que diz que o herdeiro não irá responder pelos encargos superiores
às forças da herança.

A doutrina brasileira, ao tratar esse tema é tranquila, nas palavras de Nery


Junior (2013, p. 1.628):

A dívida da herança deve ser suportada pelo monte-mor. Já antes da


partilha os credores da herança fazem jus à satisfação de seu crédito,
se ocorrer a partilha e ainda houver dívida da herança não satisfeita,
o herdeiro responde por elas, até a força de seu quinhão hereditário
(CC1792) e na proporção da parte que na herança lhe coube.

Assim, a compreensão sobre a responsabilidade dos herdeiros é de suma


importância para você, acadêmico, mesmo porque os nossos tribunais aplicam
a legislação baseado também na teoria que denominamos de responsabilidade
limitada ao patrimônio recebido, de forma proporcional e limitada ao quinhão
hereditário.

Vamos realizar a leitura de duas recentes decisões proferidas pelo Tribunal


de Justiça do Distrito Federal (2020), que reafirmam os limites da responsabilidade
dos herdeiros.
RESPONSABILIDADE LIMITADA AO QUINHÃO. ARTIGO
1.997 DO CC. SENTENÇA MANTIDA. 1. Para o cumprimento das
obrigações assumidas, a parte obrigada, no caso de inadimplemento,
responde com todos os seus bens presentes e futuros, na forma do
Art. 789 do Código de Processo Civil. 1.1. Falecendo o devedor, o
seu espólio responde pelas dívidas contraídas em vida, mas, feita
a partilha, cada herdeiro responde por elas dentro das forças da
herança e na proporção da parte que lhe couber. Inteligência dos Arts.
796 do CPC e 1.997 do Código Civil. 2. Conforme jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça e deste TJDFT, a inexistência de abertura
de inventário não impede que o credor ajuíze ação de cobrança em
desfavor do espólio, mormente por ser o espólio responsável pelas
dívidas contraídas pelo de cujus, até que, eventualmente, existindo
bens a partilhar, sejam eles individualizados, passando a integrar
o legado dos herdeiros, os quais, em nome próprio, responderão
sobre eventuais dividas nos limites dos seus quinhões. 3. Sendo de
conhecimento dos herdeiros e credores a existência de bens deixados
pela falecida devedora e, consequente, de legado a ser destinado aos
herdeiros – na hipótese o valor da restituição de imposto de renda –
tal circunstância ensejará abertura de inventário para o processamento
desse bem (Arts. 610 e seguintes do CPC) e, por conseguinte, na
possibilidade de habilitação do Banco como credor, na forma do
Art. 642 do Código de Processo Civil. 4. Apelação cível conhecida e
desprovida. (Órgão 7ª Turma Cível, Processo N. APELAÇÃO CÍVEL
0735686-13.2018.8.07.0001, APELANTE(S) CELIO FARIA DE ARAUJO,
ESPOLIO DE LINDAURA SOARES DE ARAÚJO, GONÇALVES e
CELIO FARIA DE ARAUJO, APELADO(S) BANCO DO BRASIL AS.
Relatora Desembargadora GISLENE PINHEIRO, Acórdão Nº 1227673
– data do julgamento 10/02/2020).
43
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Neste contexto, tanto a legislação quanto a doutrina e a jurisprudência


caminham de mãos dadas ao reconhecerem a responsabilidade dos herdeiros
como responsabilidade limitada, pois após realizada a partilha, cada herdeiro
responderá pela dívida no quinhão que lhe couber e anterior à partilha, a dívida
recai sobre o montante do espólio.

Assim, eventuais dívidas que tenham sido contraídas pelo de cujus será
o espólio inicialmente, responsável pelo adimplemento das referidas dívidas.
Posteriormente à partilha serão os herdeiros responsáveis, em nome próprio, por
responderem sobre eventuais dívidas, dentro do limite de seus quinhões.

Agora que já compreendendo as responsabilidades dos herdeiros, estando


essa abarcada pela teoria do limite da responsabilidade, vamos, a seguir, realizar
e resolução de uma situação hipotética apresentada:

Exemplo:

João dos Anjos faleceu e deixou como únicos herdeiros seus três filhos:
Rafaela, Rodrigo e Ricardo. O patrimônio deixado por João foi equivalente a R$
999.999,99, tendo cada filho herdado a quota parte de 33,33% desse valor, ou seja,
R$ 333.333,33 – herdam 1/3 da legítima (fração ideal). Depois de ter sido feito o
inventário e a partilha dos bens, uma terceira pessoa, chamada Rodrigo apresentou
uma nota promissória assinada por João dos Anjos na qual esse se comprometia
a pagar R$ 150.000,00, assim que Rodrigo possui um título executivo assinado
por João. Quem é responsável pelo pagamento deste R$ 150.000,00) devidos a
Rodrigo?

Neste caso, caro, acadêmico, como a partilha já foi realizada entre os


herdeiros, os responsáveis pelo pagamento do título serão os herdeiros, dentro do
limite da quota parte de cada um deles, de acordo com a previsão contida no Art.
1.997, bem como da 1ª parte do Art. 1.792, ambos do Código Civil, assim Rodrigo
deve ingressar com ação de execução de título extrajudicial contra os herdeiros,
que têm responsabilidade proporcional à parte que lhe coube, pois existe uma
responsabilidade patrimonial limitada, como vimos. Para tanto, caberá a cada
herdeiro o pagamento de R$ 50.000,00 cada um.

E caso a partilha não tenha sido realizada, você sabe dizer o que Rodrigo
deveria fazer, para ver sua dívida com o de cujus quitada? Caso não tenha sido
realizada a partilha, Rodrigo enquanto credor do de cujus, poderá habilitar seus
créditos no juízo do inventário ou ajuizar ação de cobrança contra o monte/
espolio.

44
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

NOTA

A herança (espólio/monte) responderá pelo pagamento das dívidas deixadas


pelo de cujus, entretanto, ocorrendo a partilha, os herdeiros passam a responder pelas
dívidas, na cota parte que lhes couberem.

DICAS

Veja também junto ao site do TJDF o acórdão de relatoria de Teófilo Caetano


da 1ª Turma Cível daquele tribunal, nº 7179293820208070000 – (0717929-38.2020.8.07.0000
– Res. 65 CNJ) com data de julgamento em 7/10/2020, Acordão nº 1291142.

FIGURA 15 – O QUE ACONTECE COM AS DÍVIDAS?

FONTE: <https://m.facebook.com/NacaoJuridica/photos
/a.153413011467318/2046012868873980/?type=3&source=48>. Acesso em: 11 mar. 2021.

45
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

5 CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS


Chegamos ao último subtópico do Tópico 3, da Unidade 1, percorremos
um caminho de aprendizado, em que nos foram apresentados novos conceitos,
novas palavras, ampliando nossos horizontes e estudando com afinco o Direito
das Sucessões.

Neste subtópico não será diferente. Encontraremos novas categorias,


conceituando-as, estudando arduamente este conteúdo que é apresentado de
forma tranquila e leve e que, sem qualquer dúvida, será facilmente compreendido
por você.

Vamos iniciar o estudo sobre um instituto largamente utilizado no direito


brasileiro e que também foi contemplado no nosso ordenamento jurídico, a partir
de 2002, através da construção doutrinária e jurisprudencial, que instigou a
inclusão da cessão de direitos hereditários no código civil vigente, que inovou ao
incluir ou em regulamentar a possibilidade de cessão de direitos hereditários no
ordenamento jurídico brasileiro.

Assim, a cessão de direitos hereditários nada mais é que um negócio


jurídico, cujos herdeiros poderão dispor sobre o patrimônio decorrente da
sucessão. A seguir, vamos conceituar este instituto, para que você, acadêmico,
possa compreender como a legislação, doutrina e jurisprudência o reconhecem,
vamos ver sobre a forma e objeto e, ao final deste subtópico, analisar quem tem o
direito de preferência na cessão de direitos hereditários.

5.1 CONCEITO

A cessão de direitos hereditários foi incluída no Código Civil vigente,


como resultado da construção doutrinária e jurisprudencial, preenchendo a
lacuna que existia com o Código Civil de 1916, eis que esse apenas tratava de
cessão de créditos.

A contribuição da doutrina naquela época vinha nesse sentido,


reconhecendo, mesmo que não constando no Código Civil, a possibilidade da
cessão de direitos hereditários, conceituando-a inclusive. Nos dizeres de Ney
de Mello Almada (1991, p. 180), cessão de direito hereditários: “É o negócio
translativo, geralmente oneroso, que um herdeiro legítimo ou testamentário
realiza com uma pessoa, tendo por objeto a totalidade ou uma quota da herança
para o qual foi vocacionado”.

O Código Civil de 2002, por sua vez, inaugura a cessão de direitos


hereditários junto ao seu Art. 1.793, que dispõe “o direito a sucessão aberta, bem
como o quinhão de que disponha o coerdeiro, pode ser objeto de cessão por
escritura pública”.

46
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

Veja que, antes do Código Civil de 2002, o instituto da cessão de direito


hereditário, até então aceito pela doutrina e jurisprudência, era aquilo que
conhecemos como uma prática costumeira do próprio direito, para tanto, a cessão
de direito hereditário, antes do advento do Código Civil de 2002, pode ser um
exemplo do que seria o Direito Costumeiro em nossa sociedade.

Seguimos observando que, de acordo com o ordenamento jurídico atual,


o herdeiro poderá dispor de seu quinhão, através de cessão de direitos realizada
por escritura pública. Para tanto, temos que o herdeiro poderá vender a sua quota
parte com relação à herança, transferindo os direitos provenientes da sucessão
para uma terceira pessoa.

Para Diniz (2009) é plenamente possível a transmissão da herança por


ato inter vivos, antes mesmo de estar concluído o inventário, esse instituto
denominamos cessão de direito hereditários, podendo ser realizada de forma
gratuita ou onerosa.

[...] a possibilidade de transmissão por ato inter vivos,


independentemente de estar concluído o inventário. É a hipótese em
que se configura a cessão de herança, gratuita ou onerosa, consistindo
na transferência que o herdeiro, legítimo ou testamentário, faz a outrem
de todo o quinhão hereditário ou de parte dele, que lhe compete após a
abertura de sucessão (DINIZ, 2009, p. 82).

Apenas para esclarecer. Quando realizada a cessão de direitos


hereditários, não quer dizer que se esteja vendendo a qualidade de herdeiro,
nada mais estaria dispondo do patrimônio que já lhe foi transferido através
da sucessão, que se deu no momento da morte do indivíduo, a qualidade de
herdeiro é personalíssima e intransferível, como bem ressalta Diniz (2002, p.
73): “[...] só responde pelas dívidas intra vires hereditatis, porque a cessão da
herança não retira do cedente a sua qualidade de herdeiro, isto é, de sucessor a
título universal do de cujus”.

Ainda é importante relembrar que, como vimos anteriormente, não


existe herança de pessoa viva (inteligência do Art. 426 do Código Civil), assim, a
liberdade de realizar a cessão de direitos hereditários, inicia-se após a abertura da
sucessão, como bem frisado na parte inicial do Art. 1.793. Para tanto, só é possível
tratar sobre cessão de direitos hereditários após a abertura da sucessão que se dá
com a morte do indivíduo.

A doutrinadora Maria Helena Diniz advoga também no sentido daquilo


que determina a nossa legislação, ou seja, de que a cessão deve ser realizada após
a abertura da sucessão. Para a autora, cessão de direitos hereditários consiste "na
transferência que o herdeiro, legítimo ou testamentário, faz a outrem de todo
o quinhão hereditário ou de parte dele, que lhe compete após a abertura da
sucessão" (DINIZ, 2005, p. 81).

47
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Sabemos ainda que o direito hereditário é indivisível até o final da partilha,


por força de lei (Art. 1.791 do novel estabelece que a herança é indivisível),
de maneira que sua cessão, deverá ocorrer antes de ser realizada a partilha,
não sendo admitida a cessão de bem individualizado. O próprio Art. 1.793 faz
referência ao quinhão do herdeiro e não a bens individualizados, ademais o §
2º deste dispositivo enfatiza que a cessão do bem a título singular é considerada
ineficaz: “[...] é ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre
qualquer bem da herança considerado singularmente”.

Para tanto, os herdeiros devem realizar transações sobre a cessão


de direito hereditário, sobre a sucessão aberta e não sobre a cessão de direito
hereditário sobre bens da herança considerados individualmente, pois, caso isso
ocorra, o negócio jurídico praticado será declarado ineficaz, conforme dispositivo
legal, não podendo ter sido sequer levado a registro, conforme jurisprudência
pacificada do STJ, de relatoria da Ministra Nacy:

1) Só no momento da partilha é que se determina e especifica o quinhão


de cada herdeiro e, automaticamente, o objeto da cessão. 2) Enquanto
não houver partilha dos bens, o cessionário detém apenas direito
expectativo, que só irá se concretizar efetivamente após a especificação
do quinhão destinado ao herdeiro cedente. 3) Quanto à alegação dos
recorrentes de ser inviável o registro da cessão de direitos hereditários,
de fato, enquanto não ultimada a partilha, o referido negócio não
podia ser levado a registro (STJ, 2006).

Ao tratar da cessão de direitos hereditários de bens, Christiano Cassetari


(2010), explica o porquê da impossibilidade de se considerar os bens de forma
singular, antes da partilha, ainda ressalta ao final o que ocorreria, caso fosse
possível realizar a cessão de direitos hereditários de bens individuais:

Assim, impossível será fazer cessão de direitos hereditários de bens


considerados singularmente, haja vista que os herdeiros, antes da
partilha, não são proprietários da casa, carro, apartamento, sítio,
dinheiro em banco, que eram do de cujus, mas são donos de uma
parcela do acervo hereditário por ele deixado. Se fosse possível
fazer cessão de direitos hereditários de bens individuais, como um
imóvel, por exemplo, não haveria necessidade de se fazer inventário,
e isso seria perigoso, já que não haveria o recolhimento do ITCMD,
exigido pela legislação tributária neste caso, nem tampouco se
obteria a concordância da Fazenda Estadual sobre o seu recolhimento
(CASSETARI, 2010, s.p.).

Neste contexto, podemos compreender que, caso haja cessão de bens


individualizados, sem prévia autorização judicial (possibilidade conferida
no § 3º do Art. 1793 do Código Civil), haverá a ineficácia da cessão de direito
hereditário, incorrendo em nulidade absoluta as cessões que se procederam desta
forma, em desacordo com a legislação pátria. Ineficaz é a disposição, sem prévia
autorização do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do
acervo hereditário, pendente a indivisibilidade.

48
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

Observe que quando tratamos de cessão de direito hereditário surgem dois


personagens, o cedente (herdeiro que irá dispor de sua herança) e o cessionário
que irá adquirir, através da cessão, o patrimônio deixado pelo de cujus ao seu
herdeiro.

Após realizado negócio jurídico eficaz entre o cedente e o cessionário, esse


último poderá se habilitar no processo de inventário como “cessionário de direitos
hereditários” e a sua parte será devidamente reservada para posteriormente ser
individualizada.

Ainda, o § 1º do Art. 1.793 preceitua que caso já tenha realizada a cessão


de direitos hereditários e posterior substituição ou direito de acrescer, esses não
estarão abrangidos pela cessão realizada anteriormente, assim é a dicção legal:
“Os direitos conferidos ao herdeiro em consequência de substituição ou de direito
de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente”. Para
tanto, caso haja interesse em realizar cessão também do quinhão adquirido por
substituição ou acrescido, deve-se realizar nova cessão.

Assim, realizamos todo o estudo sobre o contido no art. 1.793 e seus §,


artigo que inicia as tratativas sobre cessão de direitos hereditários e estabelece
algumas diretrizes para que a cessão seja realizada de forma eficaz, passamos a
seguir ao estudo da forma e do objeto da cessão, bem como ao final do estudo
do direito de preferência na cessão hereditária, porém, antes vamos expor um
exemplo para fixar e ajudar a compreender o conteúdo estudado.

Exemplo:

João dos Anjos faleceu e deixou como únicos herdeiros seus três filhos:
Rafaela, Rodrigo e Ricardo. O patrimônio deixado por João foi equivalente a R$
999.999,99, sendo esse o acervo hereditário, tendo cada filho herdado a quota
parte de 33,33% desse valor, ou seja, R$ 333.333,33 – herdam 1/3 da legítima
(fração ideal). Rafaela tem interesse na quota parte do Ricardo. Rodrigo não
possui interesse na quota parte de nenhum dos outros herdeiros. Ricardo, por
sua vez, também tem interesse de disponibilizar sua quota parte. Assim, Rafaela
e Ricardo terão que realizar negócio jurídico denominada cessão de direitos, para
que Rafaela tenha um acréscimo na partilha, essa cessão, como vimos, é pública
e deve ser realizada junto ao cartório/ tabelionado, e para que seja considerada
eficaz, ela se dará sobre a quota parte do herdeiro cedente e não sobre bem
individualizado.

E
IMPORTANT

O herdeiro poderá dispor de seu quinhão, através de cessão de direitos


hereditários, realizada por escritura pública.

49
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Realizada a cessão de direitos hereditários, não quer dizer que se esteja vendendo a qualidade
de herdeiro, nada mais estaria dispondo do patrimônio que já lhe foi transferido através da
sucessão.
A possibilidade de transmissão por ato inter vivos, independentemente de estar concluído o
inventário.
A liberdade de realizar a cessão de direitos hereditários, inicia-se após a abertura da sucessão.
O direito hereditário é indivisível até o final da partilha, por força de lei.

5.2 FORMA E OBJETO

Como você pôde observar na parte final do Art. 1.793 do Código Civil,
esta cessão de direitos hereditários deverá revestir-se de forma pública, para
tanto, foi previsto que o objeto de cessão deverá se dar por escritura pública, junto
ao tabelionato. Isso porque a herança, como vimos anteriormente (Art. 80, II do
Novel), é considerada bem imóvel.

Esta previsão contida no Art. 1.793 também é uma exigência feita pela
Lei de Registros Públicos em seu artigo 129, que dispõe que, para surtir efeitos, o
cartório deve realizar o registro da cessão de direitos hereditário, vejamos:

Art. 129. Estão sujeitos a registro, no Registro de Títulos e Documentos,


para surtir efeitos em relação a terceiros:
[...]
9º Os instrumentos de cessão de direitos e de créditos, de sub-rogação
e de dação em pagamento.

Assim que a forma exigida em nossa legislação, para realização de cessão


de direitos hereditários, é a forma pública, através de escritura pública, junto
ao tabelionado, exigindo ainda a outorga uxória ou a autorização marital, nos
termos do Art. 1.647, I do novel civilista, se for o caso, sob pena de se não a tendo
ocorra a pena de anulabilidade do contrato de cessão de direitos hereditários.

Ressalvamos que a desnecessidade desta exigência da autorização


conjugal se dará nos casos de separação absoluta e participação final dos aquestos,
se houver disposição que afasta a necessidade da vênia conjugal. No mesmo
sentido, apresenta-nos a doutrina brasileira, de acordo com Veloso (2020, s.p.):
Aberta a sucessão, o coerdeiro pode ceder o seu direito à mesma, bem
como o quinhão de que disponha, por escritura pública. Esta forma
é da substância do ato; a cessão de direitos hereditários celebrada
por instrumento particular é nula de pleno direito. E é necessária
a outorga conjugal, a não ser que o regime do casamento seja da
separação absoluta.

A escritura pública a ser realizada perante tabelionato, que autorizará a


cessão de direitos hereditários deverá constar se essa cessão se dará onerosa ou

50
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

gratuitamente, também deve prevê o que abrangerá a cessão, se a totalidade do


direito à herança, se uma quota parte ou o quinhão em sua totalidade.

A parte da forma estabelecida em lei, de que a cessão de direitos hereditários


deva ser realizada por tabelião, através de escritura pública, encontramos também
duas formas de cessão de direitos hereditários que dizem respeito aos efeitos que
devem produzir, são elas: a título universal e a título singular.

Já estudamos que é ineficaz a individualização do bem e sua singularidade,


não podendo a forma de cessão em relação aos efeitos que irá produzir ser
realizada e adquirida a título singular, sob pena de ser considerada ineficaz,
assim que o cessionário adquire do cedente a título universal, porque recebe uma
cota-parte do patrimônio.

Estabelecida a forma a qual se dará a cessão de direitos hereditários,


vamos analisar de qual objeto ela deverá tratar.

Como vimos, caro acadêmico, a cessão de direitos hereditários não pode


tratar de um bem individualizado singularmente, eis que poderá sofrer com a
declaração de ineficácia do ato, assim, temos que o objeto da cessão será a parte
de uma universalidade de bens. Para tanto, o objeto da cessão será o quinhão do
herdeiro cedente, que optou por transmitir sua quota parte ao cessionário. Nos
dizeres de Oliveira e Amorim (2020, s.p.):

Note-se que a cessão de direitos pode ser total ou parcial, conforme o


interesse dos herdeiros. Seu objeto é a herança como um todo unitário,
pelo seu caráter universal e indivisível (até que se opere a partilha).
A cessão de bem certo ou singularizado depende de autorização
judicial para ter eficácia (Art. 1.793 do CC). Veja-se: não é invalidade,
mas apenas ineficácia perante os demais herdeiros, já que somente
será possível saber se o cedente poderia ter transferido aquele bem
depois de feita a partilha e ver para quem ficou. Essa restrição serve
de proteção aos demais herdeiros, mas é evidente que desaparece no
caso de herdeiro único ou de concordância de todos os herdeiros na
atribuição por cessão de um determinado bem da herança.

Este objeto da cessão de direito hereditários pode ser cedido tanto gratuita
quanto onerosamente, como já explicado, garantindo que seja realizado por
escritura pública e a título universal.

E
IMPORTANT

Cessão de direitos hereditários deverá revestir-se de forma pública, através


de escritura pública junto ao tabelionato. A forma de cessão em relação aos efeitos é a
título universal.

51
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

5.3 DIREITO DE PREFERÊNCIA


Nós sabemos que as normas relativas ao condomínio são as que regulam
os direitos e obrigações dos coerdeiros até o momento da partilha, nos termos do
parágrafo único do Art.1.791 do Código civil, que assim dispõe: “Até a partilha, o
direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível,
e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio“ (BRASIL, 2002).

No que diz respeito aos bens que integram o acervo hereditário, é garantido
ao coerdeiro o exercício do direito de preferência: "Art. 1.794. O coerdeiro não
poderá ceder a sua quota hereditária à pessoa estranha à sucessão, se outro
coerdeiro a quiser, tanto por tanto" (BRASIL, 2002).

A doutrina se comporta exatamente de acordo com o dispositivo legal,


reconhecendo no Art. 1.794 uma certa limitação para a cessão de direitos
hereditários, por parte do herdeiro cedente.

Nas palavras de Flávio Tartuce (2015, p. 52), "[...] Outra importante


limitação à autonomia privada, relativa à transmissão dos direitos hereditários,
consta do Art. 1.794 do Código Civil, pelo qual o coerdeiro não poderá ceder a sua
quota hereditária à pessoa estranha à sucessão, se outro coerdeiro a quiser, tanto
por tanto, ou seja, em igualdade de condições”.

Assim, é permitida a cessão para terceiros estranhos à sucessão, desde


que os demais coerdeiros não tenham interesse na quota parte que está sendo
cedida. Neste contexto, você, acadêmico, pode concluir que a preferência à cessão
de direitos hereditários é dada para o coerdeiro.

No caso de vários herdeiros exercerem o direito de preferência, nos termos


do parágrafo único do Art. 1.795, será distribuído entre eles o quinhão cedido, na
proporção das respectivas quotas hereditárias, já que entre os herdeiros não há
direito de preferência, devendo todos serem contemplados, observando o critério
legal estabelecido.

De acordo com a jurisprudência, é necessário realizar a notificação do


coerdeiro para que esse manifeste interesse na quota parte que será cedida,
realizando, assim, seu direito de preferência. Recomenda-se que a notificação para
que o coerdeiro exerça seu direito de preferência seja realizada via tabelionato.

APELAÇÃO CÍVEL. ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA. AÇÃO DE


ANULAÇÃO DE VENDA C/C ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA
DE DIREITOS HEREDITÁRIOS. DIREITO DE PREFERÊNCIA NÃO
OBSERVADO. SENTENÇA MANTIDA. Nos termos do art. 1.794 do
Código Civil, o coerdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária
a pessoa estranha à sucessão, se outro coerdeiro a quiser, tanto por
tanto. Caso concreto em que demonstrada a ausência de notificação
dos autores para fins de exercício de direito de  preferência, sendo
viável a manutenção da sentença, já que os ora apelados, tomando
conhecimento da cessão, efetuaram depósito do preço, nos termos do

52
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

art. 1.795 do Código Civil. Ante o resultado do julgamento, impositiva


a majoração dos ônus sucumbenciais fixados em primeira instância,
nos termos do art. 85, §11, do CPC/2015. Apelação cível desprovida.
Unânime. (Apelação Cível, Nº 70080411390, Vigésima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dilso Domingos Pereira, Julgado
em: 27-02-2019).

No que diz respeito ao conteúdo da notificação, ela deve ser realizada de


forma adequada, para que os demais coerdeiros tenham a informação completa
sobre a cessão, contendo o interesse do herdeiro em realizar a cessão de sua cota
hereditária, incluindo o preço e condições de pagamento que o cedente pretende
oferecer.

Coaduna com este entendimento Flávio Tartuce (2015, p. 52), que ressalta
que: “Em tal notificação, aliás, devem constar todos os dados fundamentais a
respeito da cessão, como o preço e as condições de pagamento, o que representa
aplicação do princípio da boa-fé objetiva para o negócio jurídico em questão”.

Não é diferente a posição, enquanto ao conteúdo da notificação, de Nery


Junior e Nery (2017), que entendem que o exercício de direito de preferência, passa
pela notificação a ser realizada pelo coerdeiro cedente aos demais coerdeiros.

Exercício do direito de preferência. Notificação. Para que possa  ser


exercido esse direito de preferência, o coerdeiro cedente deverá
notificar os demais coerdeiros de forma expressa e específica quanto a
valor, forma de pagamento e demais condições oferecidas ao terceiro.
Em igualdade de condições, o coerdeiro haverá para si a quota-parte
do coerdeiro cedente,  preferindo o terceiro  (NERY JUNIOR, NERY,
2017, p. 2063).

Importante ressaltar que o direito de preferência dado aos coerdeiros é


no que diz respeito à cessão de direitos hereditários realizada de forma onerosa,
assim que se a cessão for realizada de forma gratuita não há que se falar em
direito de preferência com relação aos coerdeiros.

Assim, oportuna é a lição de Nery Junior e Nery (2017, p. 2063) ao


comentarem a inteligência do Art. 1.794 do Código Civil:
Direito de preferência. O coerdeiro tem direito de preferência sobre a
quota objeto da cessão, desde que se trate de cessão de título oneroso,
pois a proibição não é válida para a cessão a título gratuito (Rodrigues.
Dir. Civ. v. 7, n. 13., p. 29). A preferência existirá 'tanto por tanto', ou
seja, a cessão terá de ser feita em favor do coerdeiro que pagar o mesmo
que pagaria o terceiro. Se o coerdeiro não quiser ou não puder pagar o
valor oferecido pelo terceiro, não haverá direito de preferência.

O Art. 1.795 do Código Civil brasileiro autoriza ao coerdeiro que comprova


que foi preterido na cessão de direitos hereditários, tome para si a quota cedida,
devendo para tanto preencher alguns requisitos solicitados pela legislação, quais
sejam: depositar o valor da quota e respeitar o prazo de 180 dias a contar da
alienação.

53
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Para melhor entendimento, podemos fazer a leitura de jurisprudência e


observar que o comportamento dos tribunais vai exatamente de encontro com o
que determina referido dispositivo legal.

APELAÇÃO CÍVEL. CONDOMÍNIO. AÇÃO DE PREFERÊNCIA C/C


ANULAÇÃO DE ESCRITURA PÚBLICA DE  CESSÃO  DE
DIREITOS HEREDITÁRIOS. O direito à sucessão aberta, bem como o
quinhão de que disponha o coerdeiro, pode ser objeto de cessão por
escritura pública (Art. 1793 do CCB). Outrossim, o coerdeiro, a
quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o
preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até
cento e oitenta dias após a transmissão (Art. 1.795 do CCB). O
prazo inicial decadencial para o ajuizamento da ação anulatória
da cessão de direitos hereditários, com base no direito de preferência,
deve coincidir com o momento em que o coerdeiro teve [ou podia
ter] ciência inequívoca da existência do negócio jurídico. No caso
concreto, é induvidoso que o herdeiro, ora apelado, somente teve
plena ciência da negociação realizada entre os demais herdeiros
com a sua citação nos autos do inventário, motivo pelo qual não há
falar em decadência. Sentença de procedência mantida. CORREÇÃO
MONETÁRIA. Considerando o longo decurso de tempo entre
a  cessão  de direitos e o depósito realizado quando do ajuizamento
da presente ação, pertinente a atualizado do valor depositado como
simples atualização da moeda, evitando-se sua desvalorização.
APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (Apelação Cível, Nº
70082247297, Décima Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Marco Antonio Angelo, Julgado em: 12-12-2019).

De encontro com o entendimento jurisprudencial temos a lição de


Flávio Tartuce (2015), que colabora no sentido de ser possível que o coerdeiro
que for preterido possa depositar os valores da cessão e haver para si os valores
pretendidos, segundo o autor, “Em matéria sucessória, se o coerdeiro for preterido
em tal direito, poderá, depositando o preço, haver para si a quota cedida a estranho
(Art. 1.795). Tal preterição está presente quando um dos herdeiros transmite os
seus direitos a terceiros [...]” (TARTUCE, 2015, p. 52).

Para contribuir para sua compreensão, trazemos mais uma vez um


exemplo hipotético para ilustrar a teoria estudada por você.

Exemplo:

João dos Anjos faleceu e deixou como únicos herdeiros seus três filhos:
Rafaela, Rodrigo e Ricardo. O patrimônio deixado por João foi equivalente a
R$ 999.999,99, sendo esse todo o acervo hereditário, tendo cada filho herdado a
quota parte de 33,33% desse valor, ou seja, R$ 333.333,33 – herdam 1/3 da legítima
(fração ideal). Rodrigo tem interesse em realizar a cessão de sua quota parte,
entretanto, por desconhecer o que determina a legislação brasileira sobre cessão de
direitos hereditários, resolve realizar negócio jurídico com seu amigo Humberto,
realizando com esta cessão onerosa de direitos hereditários. Para tanto, Rodrigo
realiza a cessão de sua quota parte dos direitos hereditários a terceiro estranho à

54
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

sucessão, não tendo realizada prévia notificação de forma expressa e específica


quanto a valor, forma de pagamento e demais condições oferecidas a amigo
Humberto, aos demais coerdeiros. Sua irmã, Rafaela, ao tomar conhecimento
do referido negócio jurídico e tendo interesse em adquirir através de cessão de
direitos hereditários a quota parte de seu irmão Rodrigo, realiza, no prazo de 180
dias, o depósito dos valores ajustados entre seu irmão Rodrigo e terceiro estranho
à sucessão – Humberto. Rafaela garantiu para si a quota cedida a estranho, eis que
possuía direito de preferência por ser herdeira e não foi devidamente notificada
como determina o ordenamento jurídico.

Para finalizar, após a leitura deste último subtópico e o entendimento


de que o ordenamento jurídico brasileiro oferece a possibilidade de cessão
de direitos hereditários, resguardando o direito de preferência aos demais
coerdeiros, observada a forma adequada, podemos concluir nossos estudos e
passar a seguir para a leitura do resumo e realização das autoatividades, que são
de suma importância para auxiliar você a fixar a matéria. Antes, observe a figura
a seguir. É uma boa síntese do instituto da cessão de direito hereditário.

FIGURA 16 – SÍNTESE DO INSTITUTO DA CESSÃO DE DIREITO HEREDITÁRIO

FONTE: <https://i0.wp.com/www.megajuridico.com/wp-content/uploads/2014/07/Direito-Civil-
-Cess%C3%A3o-de-Direito-Heredit%C3%A1rios.jpg>. Acesso em: 11 mar. 2021.

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UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

LEITURA COMPLEMENTAR

HERANÇA DIGITAL E SUCESSÃO LEGÍTIMA

Primeiras reflexões
 
Flávio Tartuce

 As novas tecnologias, especialmente as incrementadas pelas redes sociais


e pelas interações digitais, trouxeram grandes repercussões para o Direito,
especialmente para o Direito Privado. Como não poderia ser diferente, o Direito
das Sucessões não escapa dessa influência, surgindo intensos debates sobre a
transmissão da chamada herança digital.

O tema é tratado por civilistas contemporâneos, especialmente no âmbito da


sucessão testamentária e das manifestações de última vontade. Como desenvolve
Jones Figueirêdo Alves, que fala na possibilidade de se elaborar um  testamento
afetivo, “a par da curadoria de dados dos usuários da internet, com a manutenção
de perfis de pessoas falecidas, a serviço da memória digital, como já tem sido
exercitada (LÉVY, 2006), o instituto do testamento afetivo, notadamente no plano
da curadoria de memórias da afeição, apresenta-se, agora, não apenas como
outra inovação jurídica, pelo viés tecnológico. Mais precisamente, os testamentos
afetivos poderão ser o instrumento, eloquente e romântico (um novo ‘L’hymne
à L’amour’), de pessoas, apesar de mortas, continuarem existindo pelo amor que
elas possuíam e por ele também continuarem vivendo”. A extensão existencial por
testamentos afetivos. Além do testamento afetivo, pode-se falar também em testamento
digital, com a atribuição dos bens acumulados em vida no âmbito virtual, como
páginas, contatos, postagens, manifestações,  likes, seguidores, perfis pessoais,
senhas, músicas entre outros elementos imateriais adquiridos nas redes sociais.

Vale lembrar que o Código Civil de 2002 admite que o testamento tenha
um conteúdo extrapatrimonial, pela regra constante do seu Art. 1.857, § 2º:
“São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda
que o testador somente a elas se tenha limitado”. Procurou-se, assim, afastar
críticas anteriores existentes quanto ao Art. 1.626 do Código Civil de 1916, que
supostamente limitava o testamento a um conteúdo patrimonial: “Considera-se
testamento o ato revogável pelo qual alguém, de conformidade com a lei, dispõe,
no todo ou em parte, do seu patrimônio, para depois da sua morte”. No âmbito
da herança digital, fala-se em testamento em sentido amplo, sendo certo que a
atribuição de destino de tais bens digitais pode ser feita por legado, por codicilo
– se envolver bens de pequena monta, como é a regra – ou até por manifestação
feita perante a empresa que administra os dados.

Além dessas manifestações de vontade feitas ainda em vida, o que fazer


caso o falecido não tenha se manifestado sobre sua herança digital, especialmente
pelo fato de ela não estar mencionada no Código Civil em vigor? Essa é a pergunta
que pretendo começar a responder, sem prejuízo de aprofundamentos futuros
que seguirão.
56
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

Como é notório, a sucessão legítima acaba por presumir a vontade do


falecido, estabelecendo a ordem de vocação hereditária, em prol do fundamento
principal do Direito das Sucessões, qual seja a  continuidade da pessoa.  No
Código Civil, essa ordem está prevista no Art. 1.829, que deve ser lido com a
recente decisão do Supremo Tribunal Federal, que equiparou a união estável
ao casamento (Recurso Extraordinário nº 878.694, julgado em maio de 2017).
Assim, a sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:  a) aos descendentes,
em concorrência com o cônjuge ou companheiro sobrevivente, salvo se o regime
do casamento ou da união estável for o de comunhão universal, o da separação
obrigatória de bens, ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança
não houver deixado bens particulares; b) aos ascendentes, em concorrência com
o cônjuge ou companheiro, independentemente do regime de bens; c) ao cônjuge
ou companheiro sobrevivente; e d) aos colaterais. 

A grande dúvida diz respeito ao fato de os dados digitais da pessoa


poderem ou não compor a sua herança, conceituada como um conjunto de bens,
corpóreos e incorpóreos, havido pela morte de alguém e que serão transmitidos
aos seus sucessores, sejam testamentários ou legítimos. Nos termos do Art.
1.791 do Código Civil, a herança defere-se como um todo unitário, ainda que
vários sejam os herdeiros, o que inclui não só o patrimônio material do falecido,
como também os bens imateriais, como supostamente seriam aqueles havidos e
construídos na grande rede durante a vida da pessoa. Sendo assim, a chamada
herança digital segue transmissão conforme a ordem de vocação hereditária
destacada?

Como respondeu Giselda Maria Fernandes Hironaka, em entrevista


publicada no Boletim do IBDFAM, "entre os bens ou itens que compõem o acervo
digital, há os de valoração econômica (como músicas, poemas, textos, fotos de
autoria da própria pessoa), e esses podem integrar a herança do falecido, ou
mesmo podem ser objeto de disposições de última vontade, em testamento,
e há os que não têm qualquer valor econômico e, geralmente, não integram
categoria de interesse sucessório" (BOLETIM INFORMATIVO DO IBDFAM,
2017, p. 9). Acrescente-se que muitos bens citados pela jurista, que compõem
o suposto acervo sucessório digital, estão protegidos pela Lei nº 9.610/1998,
especialmente pela sua notória divisão entre os direitos morais e patrimoniais
do autor. 

Sobre o tema, tramitam no Congresso Nacional projetos de lei que


pretendem discipliná-lo no âmbito da sucessão legítima. O primeiro a ser
mencionado é o de número 4.847, de 2012. A proposição pretende incluir os
Arts. 1.797-A a 1.797-C do Código Civil. Conforme a primeira norma projetada,
"a herança digital defere-se como o conteúdo intangível do falecido, tudo o que
é possível guardar ou acumular em espaço virtual, nas condições seguintes: I-
senhas; II- redes sociais; III- contas da Internet; IV- qualquer bem e serviço virtual
e digital de titularidade do falecido". Há, assim, a previsão de um rol meramente
exemplificativo dos bens que compõe o acervo, o que não exclui outros, como os
contatos, as fotos e os textos construídos pelo de cujus.

57
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Em continuidade, conforme o proposto Art. 1.797-B, se o falecido, tendo


capacidade para testar, não o tiver feito, a herança será transmitida aos herdeiros
legítimos. Por fim, está sendo sugerido que "cabe ao herdeiro:  I- definir o destino
das contas do falecido; a) transformá-las em memorial, deixando o acesso restrito
a amigos confirmados e mantendo apenas o conteúdo principal ou; b) apagar
todos os dados do usuário ou; c) remover a conta do antigo usuário" (proposta
de art. 1.797-C).

Esse projeto tramita em conjunto com o PL nº 7.742/2017, sugerido o mais


recentemente, que aguarda parecer do Relator na Câmara dos Deputados. A
última norma projetada visa incluir um Art. 10-A no Marco Civil da Internet, Lei
nº 12.965/2014, com a seguinte dicção:

Art. 10-A. Os provedores de aplicações de internet devem excluir as


respectivas contas de usuários brasileiros mortos imediatamente após
a comprovação do óbito.
§ 1º A exclusão dependerá de requerimento aos provedores de
aplicações de internet, em formulário próprio, do cônjuge, companheiro
ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou
colateral, até o segundo grau inclusive.
§ 2º Mesmo após a exclusão das contas, devem os provedores de
aplicações de internet manter armazenados os dados e registros dessas
contas pelo prazo de 1 (um) ano, a partir da data do óbito, ressalvado
requerimento cautelar da autoridade policial ou do Ministério Público
de prorrogação, por igual período, da guarda de tais dados e registros.
§ 3º As contas em aplicações de internet poderão ser mantidas
mesmo após a comprovação do óbito do seu titular, sempre que essa
opção for possibilitada pelo respectivo provedor e caso o cônjuge,
companheiro ou parente do morto indicados no caput deste artigo
formule requerimento nesse sentido, no prazo de um ano a partir
do óbito, devendo ser bloqueado o seu gerenciamento por qualquer
pessoa, exceto se o usuário morto tiver deixado autorização expressa
indicando quem deva gerenciá-la (BRASIL, 2014).

Como se pode perceber, as duas proposições atribuem o poder de decisão


a respeito do destino da herança digital aos herdeiros do falecido. Apesar de a
última regra mencionar a exclusão imediata dos conteúdos após a comprovação
do óbito, tal prerrogativa é atribuída aos familiares do de cujus, como se retira do
seu § 1º.

No mesmo sentido, como outra projeção a ser destacada, o Projeto de Lei


nº 4.099-B/2012 tende a incluir um parágrafo único no Art. 1.788 do Código Civil,
com a seguinte redação: “serão transmitidos aos herdeiros todos os conteúdos de
contas ou arquivos digitais do autor da herança”. A proposta aguarda apreciação
no Senado Federal e, como se percebe, procura tratar da herança digital no
âmbito da sucessão legítima, atribuindo-a aos herdeiros do falecido, que terão
total liberdade quanto à sua gestão e destino.  

Com o devido respeito, pensamos que os projetos colocam em debate uma


questão fundamental, qual seja a titularidade do material que é construído em vida pela
pessoa na internet, bem como a tutela da privacidade, da imagem e de outros direitos

58
TÓPICO 3 — DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO

da personalidade do morto. Em parecer muito bem estruturado oferecido perante o


Instituto dos Advogados do Brasil (IAB), o Professor Pablo Malheiros Cunha Frota
manifestou-se em sentido contrário às projeções, com razão, substancialmente pelo
fato de estarmos tratando de direitos essenciais e personalíssimos do de cujus, que,
nesse caso, não podem ser transmitidos aos herdeiros de forma automática, mas
devem ser imediatamente extintos com o falecimento.

Foram as razões de suas objeções e conclusões, conforme o teor do estudo


doutrinário que me foi enviado, apresentado em dezembro de 2017 perante aquele
instituto: a) os dois projetos autorizam que todo o acervo digital do morto transmita-
se  automaticamente aos herdeiros, violando os direitos fundamentais à liberdade
e à privacidade, notadamente nas hipóteses em que o bem digital é uma projeção
da privacidade e não houve declaração expressa de vontade ou comportamento
concludente do seu titular, autorizando algum herdeiro ou terceiro a acessá-lo e
geri-lo; b) terceiros que interagiram com o falecido em vida também terão as suas
privacidades expostas aos herdeiros; c) é necessário o respeito às eficácias pessoal,
interpessoal e social da vida privada, o que concretiza a liberdade positiva de
cada um decidir os rumos de sua vida, "sem indevidas interferências externas
da comunidade, particular ou do Estado, no qual essa liberdade se vincula
intersubjetivamente com a comunidade, o Estado e o particular"; d) os projetos
de lei pretendem transmudar o regime de direito de propriedade do Direito das
Coisas para os direitos da personalidade, uma vez que o direito de personalidade
do falecido transforma-se em bem patrimonial, pois a intimidade e a imagem da
pessoa morta servem como fonte de riqueza econômica; e) os familiares ou terceiros
somente devem ter o direito de gerenciar o acervo digital se houver declaração
expressa do falecido, por instrumento público ou particular, inclusive em campos
destinados para tais fins nos próprios ambientes eletrônicos, sem a necessidade
de testemunhas, ou se houver comportamento concludente nesse sentido; f) caso
tal declaração ou comportamento não estejam presentes, ou estejam atingidos
por problema relativo à sua validade ou eficácia; todo o acervo digital que seja
expressão da personalidade não deve ser alterado, visto ou compartilhado por
qualquer pessoa; g) bens imateriais que projetem a privacidade de quem falece
não devem e não deveriam ser acessados pelos herdeiros ou por terceiros não
havendo manifestação de vontade do autor da herança. 

Sobre as manifestações que podem ser feitas pelo falecido, ainda em


vida, perante as redes sociais, sabe-se que o Facebook oferece duas opções. A
primeira delas é de transformar o perfil da pessoa em um memorial na linha do
tempo, permitindo homenagens ao falecido. A segunda opção é a exclusão do
conteúdo por representante que comprove a morte do usuário. O Google, por sua
vez, permite uma espécie de testamento digital informal, em que o usuário pode
escolher até dez pessoas que receberão as informações acumuladas em vida. O
Twitter autoriza que os familiares baixem todos os tweets públicos e solicitem a
exclusão do perfil, em procedimento que tramita perante a própria empresa. Por
fim, merece destaque a solução dada pelo Instagram, que autoriza a exclusão da
conta mediante o preenchimento de formulário on-line  com a comprovação de
tratar-se de membro da família, sendo possível igualmente a transformação do
conteúdo em um memorial.
59
UNIDADE 1 — ORIGEM E FUNDAMENTO DO DIREITO DE SUCESSÕES

Essas opções, como se nota, variam entre a valorização da autonomia


privada e a atribuição dos bens digitais aos herdeiros. Talvez esse seja o melhor
caminho para se construir uma proposta de alteração do Código Civil a respeito
do tema, no capítulo do Direito das Sucessões. Assim como Pablo Malheiros,
entendo que as projeções que existem no momento apresentam sérios problemas
e, em certo sentido, são simplistas, devendo o debate a respeito do assunto ser
ampliado e aprofundado.

Pontuo, a propósito, que a proteção dos dados pessoais acabou por


ser regulamentada pela recente Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, norma
que trata da matéria em 65 artigos e que entrará em vigor no País no início de
2020. A nova lei sofreu claras influências do Regulamento Geral de Proteção
de Dados Europeu, de maio de 2018, amparando sobremaneira a intimidade. 
Em termos gerais, existe uma ampla preocupação com os dados e informações
comercializáveis das pessoas naturais, inclusive nos meios digitais, e objetiva-
se proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade; bem como
o livre desenvolvimento da personalidade (Art. 1º). Nos termos do preceito
seguinte da norma específica, a disciplina da proteção de dados pessoais tem como
fundamentos:  a)  o respeito à privacidade;   b)  a autodeterminação informativa,
com amparo na autonomia privada; c)  a liberdade de expressão, de informação,
de comunicação e de opinião; d) a inviolabilidade da intimidade, da honra e da
imagem; e) o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação; f) a livre
iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e g) os direitos humanos,
o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da cidadania
pelas pessoas naturais. Uma eventual projeção legislativa sobre herança digital
deve  dialogar  com essa lei emergente, o que não parece ter sido feito com as
propostas ora analisadas.

Como palavras finais, entendo que é preciso diferenciar os conteúdos


que envolvem a tutela da intimidade e da vida privada da pessoa daqueles que
não o fazem para, talvez, criar um caminho possível de atribuição da herança
digital aos herdeiros legítimos, naquilo que for possível. Entendo que os dados
digitais que dizem respeito à privacidade e à intimidade da pessoa, que parecem
ser a regra, devem desaparecer com ela. Dito de outra forma, a herança digital deve
morrer com a pessoa.

O desafio para encontrar uma premissa que afaste essa afirmação,


portanto, é grande, devendo ser encarado por todos os aplicadores e estudiosos
do Direito Privado Brasileiro, muito além das simples proposições legislativas
aqui abordadas.

FONTE: Adaptado de <https://www.ibdfam.org.br/artigos/1301/Heran%C3%A7a+digital+e+su-


cess%C3%A3o+leg%C3%ADtima++-+Primeiras+reflex%C3%B5es>. Acesso em: 12 mar. 2021.

60
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A herança é o conjunto do patrimônio deixado pelo de cujus, que serão


devidamente transmitidos aos seus herdeiros ou legatários.

• Herança também pode ser denominada espólio ou monte.

• Herança é indivisível até o momento da partilha.

• Hoje, temos bens digitais que podem, futuramente, com a morte do indivíduo,
tornarem-se herança digital e integrarem o conjunto do espólio.

• O indivíduo que falece e deixa patrimônio a ser sucedido é denominado autor


da herança ou de cujus.

• Legado seria toda disposição testamentária a título particular, abrangente de


bens ou direitos individualizados, que se destacam do patrimônio do testador
e são atribuídos a pessoa por ele designada.

• O legado se diferencia da herança por ser divisível, ocorrendo no legado a


sucessão a título singular.

• Existem, em nosso ordenamento jurídico, espécies de legados que se diferenciam


quanto ao objeto.

• A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido; mas, feita a


partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção da parte que na
herança lhe coube.

• O herdeiro poderá dispor de seu quinhão, através de cessão de direitos


hereditários, realizada por escritura pública, a título universal.

• Existe direito de preferência em nosso ordenamento jurídico, dado aos


coerdeiros.

CHAMADA

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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
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61
AUTOATIVIDADE

1 Ao tratar do direito à sucessão aberta, o Art. 1.793 do Código Civil brasileiro


enfatiza que o herdeiro que desejar ceder seus direitos hereditários apenas
poderá fazê-lo se a sucessão já tiver sido aberta. Neste sentido, o direito à
sucessão aberta é considerado, pela lei civil:

a) ( ) Bem móvel.
b) ( ) Bem imóvel.
c) ( ) Bem incorpóreo.
d) ( ) Bem móvel ou imóvel, de acordo com os bens que compõem o espólio.

2 A herança é definida como o conjunto de bens, direitos e obrigações que


uma pessoa falecida deixa a seus sucessores. Embora podendo existir mais
de um herdeiro, a herança é considerada como um todo e não pode ser
dividida até o momento da partilha. Acerca da herança, analise as sentenças
a seguir:

I- Transmite-se com a herança o direito de exigir reparação e a obrigação de


prestá-la, se for o caso.
II- O fenômeno da indivisibilidade da herança, que alcança o patamar
de princípio, está devidamente contemplado em nosso ordenamento
jurídico, possibilitando apenas após a partilha determinar quais bens
correspondem a cada herdeiro.
III- Os bens virtuais não podem ser incluídos no conceito de herança, uma
vez que não integram o patrimônio do indivíduo.
IV- O autor da herança também pode ser denominado de cujus.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.

3 O legado é um instituto jurídico exclusivo da sucessão testamentária e


aplicável a uma coisa certa e determinada. Legatário é aquele que, sendo
herdeiro ou não, recebe do testador uma coisa ou uma quantia certa,
determinada e individualizada sob o título de legado. Considerando o
instituto do legado estudado, classifique V para as sentenças verdadeiras e
F para falsas:

( ) O legado é proveniente da sucessão legítima.


( ) O legado se diferencia da herança por ser divisível, ou seja, por ser um
bem ou um conjunto de bens determinados, ocorrendo a sucessão a título
singular.

62
( ) O chamado prelegado ou legado precípuo nada mais é que o acúmulo
de duas qualidades em uma só pessoa, no caso seria o acumulo das
qualidades de herdeiros e das qualidades de legatário.
( ) Se torna eficaz o legado de coisa certa que não pertença ao testador no
momento da abertura da sucessão.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – V – F.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) F – F – F – V.

63
64
REFERÊNCIAS
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novo Código Civil. 5. ed. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 2004.

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68
UNIDADE 2 —

DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA
ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA
HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender que o direito sucessório é regido pelo princípio de que


estão legitimados a suceder todas as pessoas nascidas ou já concebidas
no momento da abertura da sucessão, que é conhecido como “vocação
hereditária”, identificando sua natureza jurídica, bem como as
particularidades que envolvem esse instituto jurídico;
• reconhecer que o sucessor que tem a vocação hereditária é obrigado, por
força de lei, a manifestar sua vontade de aceitar ou renunciar a seu direito
sucessório;
• identificar o momento e condições em se realiza a aceitação ou a renúncia
da herança;
• distinguir herança jacente de herança vacante de forma a identificar
as hipóteses de jacência de acordo com a previsão legal, bem como as
condições legais de ocorrência de vacância e os efeitos da declaração da
vacância.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da
unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o
conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA


TÓPICO 2 – CONCEITO DE ACEITAÇÃO DA HERANÇA
TÓPICO 3 – CONCEITO DE RENÚNCIA DA HERANÇA
TÓPICO 4 – CONCEITO DA HERANÇA JACENTE E VACANTE

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

69
70
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico, após os estudos realizados na unidade anterior, quando


estudamos a categoria herança, reconhecendo o autor da herança, compreendendo
o que é legado, observando quais responsabilidades recaem sobre os herdeiros,
conceituando a cessão de direitos hereditários e reconhecendo a existência do
direito de preferência em nosso ordenamento jurídico, podemos passar a enfrentar
mais um tópico nos estudos do direito das sucessões.

Neste Tópico 1, da Unidade 2, será estudada a legitimação para suceder,


tratando da regra geral e sua exceção. Você estudará também a legitimação
para sucessão por testamento, bem como saberá em que situações um herdeiro
ou legatário poderá ser declarado ilegítimo para suceder. Ao final, conhecerá
os herdeiros necessários e facultativos, testamentário e legatário, assim como
aqueles que possuem ausência de legitimação para serem nomeados herdeiros
ou legatários, concluindo assim o estudo do presente tópico.

FIGURA 1 – LEGITIMAÇÃO PARA SUCEDER

FONTE: <https://bit.ly/2OwWAbm>. Acesso em: 12 mar. 2021.

71
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Poderá verificar que a legitimação para suceder está devidamente expressa


em nosso ordenamento jurídico, reconhecendo a legitimidade para suceder por
testamento, nele, encontraremos três disposições autorizadoras de pessoas que
podem ser chamadas a suceder, no caso de sucessão testamentária.

Ademais, você saberá identificar as hipóteses que podem tornar um


herdeiro ou legatário ilegítimo para suceder.

Vamos compreender também que para o direito brasileiro os herdeiros


são aqueles tidos como capazes para suceder ao autor da herança tanto nas
obrigações quanto nos direitos deixados pelo indivíduo que morreu e, como você
sabe, para o Art. 1º do Código Civil brasileiro, todas as pessoas são capazes de
assumir direitos e deveres, observadas as regras existentes para cada caso.

É partir deste entendimento que estaremos aptos a vencer mais esta etapa
que trata sobre o direito das sucessões.

2 LEGITIMAÇÃO PARA SUCEDER: REGRA GERAL E EXCEÇÃO


O Art. 1.798 do Código Civil determina, em regra geral, quem são as
pessoas legítimas a suceder: “Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já
concebidas no momento da abertura da sucessão”. Este Art. faz referência tanto
a sucessão legítima quanto a sucessão testamentária que estudaremos no tópico
seguinte.

Para tanto, temos que o nosso ordenamento jurídico, ao que tudo indica,
compactua com o princípio da coexistência, eis que legitima a suceder aqueles já
nascidos ou já concebidos no momento da abertura da sucessão.

Oportuno é o ensinamento de Cristiano Chaves de Farias e Nelson


Rosenvald (2015) ao constatar que se trata do princípio da coexistência, a exigência
contida no dispositivo legal, para os doutrinadores “é o princípio da coexistência,
através do qual é preciso que o sucessor esteja vivo no instante exato do óbito do
titular do patrimônio para que possa recebê-lo” (FARIAS; ROSSENVALD, 2015,
p. 78).

Importante ressaltar que a legitimação para suceder não pode e nem deve
ser confundida com a capacidade civil, no que diz respeito a esses dois institutos
e suas diferenças, podemos encontrar na doutrina de Maria Helena Diniz (2013)
o conceito de cada uma dessas categorias e suas diferenças.

A capacidade civil é a aptidão que tem uma pessoa para exercer, por si,
os atos da vida civil; é o poder de ação no mundo jurídico. A legitimação
ou capacidade sucessória é a aptidão específica da pessoa para receber
os bens deixados pelo de cujus, ou melhor, é a qualidade virtual de
suceder na herança deixada pelo de cujus (DINIZ, 2013, p. 60).

72
TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Da leitura do dispositivo legal, bem como da leitura da doutrina


apresentada anteriormente, podemos concluir que todas as pessoas possuem
legitimidade para suceder, resguardando aquelas que a lei afastar. Pode-se
verificar que tanto a legislação quanto a doutrina se referem às pessoas, assim
quem não tem legitimidade para suceder, de acordo com o que preceitua
Gonçalves (2012), são os animais, coisas inanimadas e entidades místicas, tais
como os santos.
Como o dispositivo em apreço refere-se somente a “pessoas”,
não podem ser contemplados animais, salvo indiretamente, pela
imposição ao herdeiro testamentário do encargo de cuidar de um
especificamente. Também estão excluídas as coisas inanimadas e as
entidades místicas, como os santos. As disposições testamentárias a
estes consideram-se feitas às diversas igrejas existentes no lugar do
domicílio do falecido (GONÇALVES, 2012, p. 50).

Portanto, animais, coisas inanimadas e entidades místicas não estão aptos


para figurarem no rol daqueles que podem receber os bens deixados pelo autor
da herança.

FIGURA 2 – APENAS PESSOAS POSSUEM LEGITIMAÇÃO PARA SUCEDER

FONTE: Adaptada de <https://image.slidesharecdn.com/captulo4-davocaohereditria-


-110919210541-phpapp02/95/captulo-4-da-vocao-hereditria-2-728.jpg?cb=1316466434>. Acesso
em: 12 mar. 2021.

Assim, conclui-se que a legitimação para suceder o indivíduo que faleceu,


em seus direitos e obrigações, será conferida às pessoas nascidas ou já concebidas
no momento da abertura da sucessão, excluindo-se dessa legitimação animais,
coisas inanimadas e entidades místicas.

Entretanto, conforme já ventilamos em outras situações, a sociedade está


em constante mudança, e para acompanhar essas mudanças, o direito, através da
hermenêutica, da doutrina e jurisprudência precisa oferecer soluções jurídicas às
situações fáticas.

73
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Essa afirmação se dá em virtude de situações em que o herdeiro é concebido


post mortem, através de técnica de reprodução assistida, tendo o falecido deixado
seu espermatozoide congelado para futura inseminação. Para tanto existe uma
corrente doutrinária que defende a possibilidade de inclusão do indivíduo
concebido post mortem no rol de herdeiros, configurando a ele a legitimidade para
suceder, embora haja os mais conservadores que se posicionam conforme Diniz
(2009, p. 555): “Filho póstumo não possui legitimação para suceder, visto que foi
concebido após o óbito de seu “pai” genético e por isso é afastado da sucessão
legítima ou ab intestato”.

A legislação em seu Art. 1.597, Incisos III e IV autoriza o reconhecimento


da paternidade de filho nascido post mortem (BRASIL, 2002), para tanto, não
haveria lógica reconhecer a paternidade dos filhos nascidos nessas condições e
não reconhecer a legitimidade sucessória deles. Para Maria Berenice Dias (2013,
p. 125), não há justificativa para essa exclusão, vejamos:

Nada justifica excluir o direito sucessório do herdeiro por ter


sido concebido post mortem. Deve ser dada ao dispositivo legal
interpretação constitucional, pois o filho nascido de concepção
póstuma ocupa a classe dos herdeiros necessários. A normatização
abrange não apenas as pessoas vivas e concebidas no momento da
abertura da sucessão, mas também os filhos concebidos por técnica de
reprodução humana assistida post mortem.

A corrente de doutrinadores que defende essa possibilidade usa por


analogia o Art. 1.799, I do novel, que veremos a seguir, porém, transcrevemos
aqui para que você, acadêmico, possa realizar a leitura dele: “Art. 1.799. Na
sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: I - os filhos, ainda
não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao
abrir-se a sucessão” (BRASIL, 2002).

NTE
INTERESSA

O embrião pode suceder?



Para conhecer melhor esse debate, sugere-se a leitura do Art. Embrião pode ser herdeiro?
Disponível em: https://www.direitoemcapsulas.com/2018/01/embriao-pode-ser-herdeiro.html.

Assim, essa possibilidade de reconhecimento de legitimidade para


suceder de filhos concebidos post mortem, seria em casos previsto via testamento.

74
TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Para Farias e Rosenvald (2017), o Art. 1.799, I do Código Civil confere a


capacidade testamentária passiva a alguém que ainda não foi concebido, sendo
perfeitamente possível conferir a legitimidade a filho ainda não concebido no
momento da sucessão. Os doutrinadores ainda explicam as diferenças entre
nascituro, embrião e prole eventual:

A prole eventual é o filho que uma pessoa – que tem de estar viva no
momento da abertura da sucessão do testador – virá a ter, no futuro.
Não se trata de um nascituro (conceptus) que já está concebido no útero
materno. Também não se restringe à figura do embrião criogenizado
no laboratório. A prole eventual é expressão mais ampla, dizendo
respeito ao filho ainda não concebido de uma pessoa. É chamado
também de concepturo ou de nodum concepti (FARIAS, ROSENVALD
2017, p. 136).

Aliados à utilização do referido Art., a corrente doutrinária que se


posiciona favorável a conceder legitimidade para suceder de filho concebido post
mortem ainda se alicerça no respeito aos princípios da igualdade entre os filhos,
do planejamento familiar e da dignidade da pessoa humana.

Há aqueles que, com base na Constituição Federal (1988), especificamente


no Art. 227, § 6º, defendem a aplicação de amplos direitos aos filhos concebidos
post mortem, eis que é preceito constitucional a proibição de quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação, essa corrente doutrinária baseia-se ainda nos
princípios transcritos no parágrafo anterior.

Para tanto, estamos diante de três correntes doutrinárias que divergem


entre si, todas alicerçadas à legislação. A primeira delas, mais conservadora,
entende que filhos concebidos post mortem não possuem legitimidade para
suceder; a segunda corrente entende que desde que conste em testamento o filho
concebido post mortem terá legitimidade a suceder; e a terceira defende a garantia
de amplos direitos aos filhos concebidos post mortem, independentemente da
existência ou não de testamento.

Há de se ressaltar ainda que existe entendimento jurisprudencial, da lavra


do Ministro Antonio Carlos Ferreira, reconhecendo não haver decadência a ser
imposta contra o exercício de reclamar a quota parte da herança por parte daquele
que tem legitimidade para tanto, eis que não há previsão legal que estabeleça
prazo decadencial apto a extinguir o direito dos herdeiros. Vejamos a decisão:

4. O direito de suceder, aí compreendido o direito de requerer a abertura


do inventário, arrecadação, partilha e, consequente, transferência
efetiva dos bens da herança é um direito potestativo, e como tal, não
está sujeito à prescrição, mas sim, eventualmente, a prazo decadencial,
acaso existisse disposição legal nesse sentido.
5. Todavia, o Código Civil não estabeleceu qualquer prazo decadencial
apto a extinguir o direito dos herdeiros – e daqueles que se sub-rogam
em seu lugar – em requerer a abertura do inventário e partilha com
o fito de especificar os bens correspondentes aos seus respectivos

75
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

quinhões, razão pela qual concluo não existir decadência que possa
ser imposta contra o exercício do supramencionado direito potestativo
de reclamar a sua parte na herança.
6. Deste modo, considerando a natureza jurídica da cessão de
direito hereditário, e à míngua de previsão legal limitando o direito
potestativo de requerer a transferência efetiva do objeto da herança,
pode o cessionário a qualquer momento exercer a sua legitimidade
concorrente para reclamar a parcela do seu quinhão, não havendo que
se falar em reconhecimento da decadência desse direito, muito menos
em sua prescrição. REsp 1605095 – 10/06/2019 (STJ, 2016).

Nesse contexto de ausência de prazo decadencial que extinga o direito


dos herdeiros, estamos diante de um direito que não se perde. Não obstante a
inexistência de prazo decadencial, temos o Art. 205 do Código Civil e a Súmula
149, que determina a aplicação do prazo prescricional de dez anos para arguir
petição de herança, entretanto, como vimos, a jurisprudência caminha no sentido
de que “transferência efetiva dos bens da herança é um direito potestativo, e como
tal, não está sujeito à prescrição, mas sim, eventualmente, a prazo decadencial,
acaso existisse disposição legal nesse sentido”.

Nesta situação hipotética de concepção post mortem, o herdeiro dessa forma


concebido, poderia se valer do prazo prescricional de dez anos para reivindicar
o seu quinhão relativo à herança deixada pelo de cujus ou até mesmo se valer
do entendimento jurisprudencial e requerer a transferência efetiva do objeto da
herança a qualquer momento.

E
IMPORTANT

• Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura


da sucessão.
• Na doutrina, encontramos a possibilidade de reconhecimento da legitimidade para
suceder de filhos concebidos post mortem.
• Animais, coisas inanimadas e entidades místicas não estão aptos para figurarem no rol
daqueles que podem receber os bens deixados pelo autor da herança.

3 LEGITIMAÇÃO PARA SUCEDER POR TESTAMENTO

Além da regra geral que estudamos anteriormente, bem como a sua exceção
no caso de filhos concebidos post mortem, o nosso ordenamento jurídico junto ao
Art. 1.799 do Código Civil, prevê outros possíveis legitimados a sucederem.

76
TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a


suceder:
I- os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador,
desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;
II- as pessoas jurídicas;
III- as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo
testador sob a forma de fundação (BRASIL, 2002).

Da leitura do referido dispositivo legal percebe-se que os herdeiros


testamentários também possuem legitimidade para suceder. No Inciso I, temos
a figura da prole eventual, do qual estudamos anteriormente. Além da prole
eventual, nossa legislação confere legitimidade a suceder as pessoas jurídicas e as
pessoas jurídicas na forma de fundação, cuja organização seja determinada pelo
testador.

No subtópico anterior, ao tratar da prole eventual e a possibilidade de


conferir a esta a legitimidade para suceder, tratamos do prazo decadência e do
prazo prescricional de dez anos para arguir em petição de herança a transferência
efetiva do objeto da herança, vimos que a jurisprudência afirma que a qualquer
momento o herdeiro pode exercer a sua legitimidade concorrente para reclamar
a parcela do seu quinhão, previsões contidas no Art. 205 do CC e na Súmula 149.

Entretanto, o levantamento desse debate se deu no sentido de haver


possibilidade de reconhecer em regra geral a legitimidade sucessória do filho do
de cujus concebido post mortem, sem a necessidade de realização de testamento
com essa disposição específica, conferindo a esse o prazo decadencial de dez
anos para reivindicar sua quota parte, ou ainda nos moldes da jurisprudência,
podendo esse filho exigir a transferência efetiva do objeto da herança a qualquer
momento.

Ocorre que, quando se tratar do Art. 1.799, Inciso I, ou seja, de


reconhecimento de legitimidade para suceder de filhos ainda não concebidos de
pessoas indicadas pelo testador – observe aqui que o referido dispositivo é muito
mais amplo, pois não necessariamente será filho do autor da herança, podendo
ser neto ou até filho de terceiro que não seja herdeiro do de cujus – o ordenamento
pátrio irá prevê prazo para concepção do filho de pessoas indicadas por ele.

Podemos verificar na leitura do Art. 1.800 do Código Civil que o legislador


impôs prazo de dois anos para que esse filho de pessoa indicada pelo testador
seja concebido, a não ser que haja disposição contrária no testamento e caso não
seja concebido neste prazo e não haja qualquer outra disposição contrária, os
bens reservados a esse filho ainda não concebido, retornam ao monte e serão
divididos entre os herdeiros legítimos (sobre herdeiros legítimos estudaremos
mais adiante).

Art. 1.800. No caso do Inciso I do Art. antecedente, os bens da herança


serão confiados, após a liquidação ou partilha, a curador nomeado
pelo juiz. [...] § 4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão,
não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo
disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos.

77
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

No que diz respeito à legitimidade conferida às pessoas jurídicas, temos


que realizar a interpretação literal dos referidos incisos. Para tanto, a única pessoa
jurídica que tem legitimidade de suceder e que ainda não existe é a pessoa jurídica
na forma de fundação. As demais pessoas jurídicas para terem a legitimidade
para suceder, no momento da abertura da sucessão – que se dá com a morte do
de cujus – devem estar devidamente constituídas, sob pena de não possuírem
vocação hereditária.

Observe que o legislador, ao tratar da legitimidade para suceder por


testamento de pessoas jurídicas, não fez distinção entre pessoa jurídica de direito
privado e pessoa jurídica de direito público, assim, temos que, tanto a pessoa
jurídica de direito privado quando a de direito público possuem legitimidade
para suceder, bastando apenas que sejam indicadas pelo autor da herança em
testamento válido.

Assim, temos que os legitimados a suceder são sujeitos de direitos


reconhecidos pela legislação ou pelo testamento. Paulo Lobo (2014, p. 62) destaca
tranquilamente que, no direito brasileiro, são os legitimados a sucederem:

São legitimados a suceder, no direito brasileiro: a) as pessoas físicas;


b) os nascituros; c) as pessoas físicas ainda não concebidas, ou prole
eventual de determinadas pessoas, contempladas em testamento. [...]
d) as pessoas jurídicas, designadas em testamento; e) as entidades não
personificadas, porém existentes, como as sociedades em comum ou
as sociedades em cota de participação, designadas em testamento;
f) as pessoas jurídicas futuras, que serão constituídas com legados
deixados pelo testador, sob forma de fundações.

Até o momento conseguimos realizar o estudo da legitimidade para


suceder, em regra geral, observada a exceção, bem como a legitimidade para
suceder por testamento. Sem a pretensão de esgotar os inúmeros debates sobre
o tema desenvolvido, informando a você como nos apresenta a legislação, a
doutrina com suas diversas correntes e a jurisprudência.

E
IMPORTANT

• Além da prole eventual, nossa legislação confere legitimidade a suceder por testamento
as pessoas jurídicas e as pessoas jurídicas na forma de fundação, cuja organização seja
determinada pelo testador.
• A única pessoa jurídica que tem legitimidade de suceder e que ainda não existe é a
pessoa jurídica na forma de fundação.

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TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

4 ILEGITIMIDADE PARA SUCEDER

O nosso ordenamento jurídico prevê três situações que podem se encaixar


naquilo que configura a ilegitimidade para suceder, incapacitando o indivíduo
enquanto sucessor do autor da herança. A primeira situação é no caso de renúncia,
o segundo e terceiro caso dizem respeito à indignidade e à deserdação.

FIGURA 3 – EXCLUSÃO DE HERDEIROS

FONTE: <https://bit.ly/3vq3Kii>. Acesso em: 12 mar. 2021.

Neste contexto, podemos afirmar que o direito brasileiro prevê a exclusão


de um herdeiro ou legatário, incapacitando-o como sucessor por indignidade. Essa
indignidade sucessória decorre da legislação e ela se dará por meio de sentença,
conforme depreende-se da leitura do artigo civilista colacionado a seguir.

Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses


casos de indignidade, será declarada por sentença.
§ 1 O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-
se em quatro anos, contados da abertura da sucessão (BRASIL, 2002).

A legislação, nesse mesmo artigo, em seu § 2º, determina que o prazo


para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos,
contados da abertura da sucessão. Na previsão legal, também consta que os
efeitos da exclusão que incapacita determinado indivíduo a suceder são pessoais,
assim, não atingem os descendentes do herdeiro excluído, podendo aqueles
sucederem, como se o excluído fosse morto no momento da abertura da sucessão.
Dessa forma, herdarão os descendentes do herdeiro excluído por estirpe ou
representação. Para melhor compreensão, observe a figura a seguir.

79
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

FIGURA 4 – EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE

FONTE: <https://bit.ly/3eGfjvS>. Acesso em: 12 mar. 2021.

O § 2º do Art. 1.815 – que foi alterado pela Lei nº 13.532/2017 – confere


legitimidade ao Ministério Público, além do próprio coerdeiro interessado, para
demandar pela exclusão do herdeiro ou legatário indigno, nos casos em que
houver questão de ordem pública.

O rol do Art. 1.814, que prevê quem deve ser excluído da sucessão é
taxativo ao afirmar que são excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários que

I - que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio


doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar,
seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da
herança ou incorrerem em crime contra a sua honra ou de seu cônjuge
ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o
autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última
vontade (BRASIL, 2002).

Com relação à exclusão do herdeiro por indignidade, tornando esse


ilegítimo para suceder, Carlos Roberto Gonsalves (2009) a conceitua como uma
sanção civil, que resultará na perda do direito sucessório, ressaltando ainda que
não é qualquer ato ofensivo que teria a capacidade de acarretar referida exclusão,
mas sim aqueles elencados no rol do Art. 1.814.

80
TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

O herdeiro ou legatário pode ser privado do direito sucessório se


praticar contra o de cujus atos considerados ofensivos, de indignidade.
Não é qualquer ato ofensivo, entretanto, que a lei considera capaz de
acarretar tal exclusão, mas somente os expressamente consignados no
Art. 1.814, que podem ser assim resumidos: atentado contra a vida,
contra a honra e contra a liberdade de testar do de cujos. A indignidade
é, portanto, uma sanção civil, que acarreta a perda do direito sucessório
(GONÇALVES, 2009, p. 48).

No Brasil, temos um caso que ficou nacionalmente conhecido e que foi


objeto da Ação de Declaração de Herdeiro Indigno/ Ação de Exclusão de Herança
por parte do coerdeiro, além de ter sido o percussor para incluir na pauta a
legitimidade do Ministério Público para propor referida ação em casos de ordem
pública, resultando na alteração do Código Civil de 2002, através da Lei nº
13.532/2017, já mencionada.

A referida situação fática trata-se do assombroso assassinato do casal


von Richthofen, no qual contou com a participação de sua filha, Suzane Louise
de 19 anos. A filha do casal planejou e ajudou a executar o crime em conjunto
com o seu então namorado e o irmão dele, que ficaram conhecidos como “irmãos
cravinhos”, ao fim Suzane foi condenada e cumpre pena.

Além de Suzane, o casal morto tinha como herdeiro necessário (categoria


que estudaremos mais adiante) mais um filho, Andreas, que, naquela ocasião,
era o único que possuía legitimidade para propor a Ação Declaração de Herdeiro
Indigno/ Ação de Exclusão de Herança. Andreas propôs a referida ação, entretanto,
chegou a pedir a desistência dela, tal pedido foi indeferido e Suzane foi declarada
indigna, não possuindo assim legitimidade para suceder.

FIGURA 5 – SUZANE VON RICHTHOFEN: DECLARADA INDIGNA PARA SUCEDER

FONTE: <http://s2.glbimg.com/YfOteNHvUuU1_bABAG1bQYG4hQs=/300x225/s.glbimg.com/
jo/g1/f/original/2014/10/28/suzane.jpg>. Acesso em: 12 mar. 2021.

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UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Outro caso que também ficou nacionalmente conhecido foi do assassinato


do publicitário Luiz Carlos Rugai e de sua esposa Alessandra Fátima Troitinho, por
parte do filho do publicitário, o jovem Gil Rugais, que foi igualmente condenado,
não sofreu a Ação Declaração de Herdeiro Indigno/Ação de Exclusão da Herança
por parte de quem detinha, na época, legitimidade de propor dentro do prazo de
quatro anos, no caso, os demais coerdeiros. Isso porque naquela ocasião ainda não
tinha sido alterado o Código Civil para reconhecer a legitimidade do Ministério
Público para propor referida ação. Gil manteve sua legitimidade para suceder.

Encerrando o debate sobre a ilegitimidade para suceder dos indignos,


passamos a estudar a ilegitimidade para suceder por deserdação. Maria Helena
Diniz (2011), ao explicar e diferença os dois institutos capazes, junto com a
renúncia, de ensejar na ilegitimidade de suceder. Para a autora:

[...] são institutos distintos vez que a “indignidade funda-se,


exclusivamente, nos casos expressos no Art. 1814 do Código
Civil, ao passo que a deserdação repousa na vontade exclusiva do
auctorsucessionis, que a impõe ao ofensor no ato de ultima vontade,
desde que fundada em motivo legal (DINIZ, 2011, p. 76).

Você deve ter percebido que a diferença entre esses dois institutos se dá
no fato de que a declaração de herdeiro indigno deve ser por decisão judicial, ao
passo que, a declaração de deserdação pode se dar através de testamento, como ato
de última vontade, muito embora deva os demais interessados promoverem ação
específica, no prazo de quatro anos, a contar da abertura do testamento contra o
herdeiro declarado deserdado pelo testador, para comprovar a causa da deserdação,
conforme preceitua o Art. 1.965, parágrafo único do nosso Código Civil.

FIGURA 6 – DIFERENÇA ENTRE INDIGNIDADE E DESERÇÃO

FONTE: Adaptada de <https://slideplayer.com.br/slide/362858/>. Acesso em: 12 mar. 2021.

82
TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Há de ressaltar que a indignidade poderá recair tanto sobre o herdeiro


legítimo e testamentário como sobre os legatários, já a deserdação recai apenas
sobre o herdeiro legítimo, em testamento, afastando o herdeiro necessário da
sucessão.

A legislação também trará quais são as causas de deserdação, ressaltando


ainda que as causas contidas no Art. 1.894 também autorizam a deserdação
dos herdeiros, diferenciando as hipóteses de deserdação por ascendência e
descendência. Para melhor compreensão, vamos realizar a leitura do dispositivo
legal que trata sobre a matéria.

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no Art. 1.814, autorizam a


deserdação dos descendentes por seus ascendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave
enfermidade.
Art. 1.963. Além das causas enumeradas no Art. 1.814, autorizam a
deserdação dos ascendentes pelos descendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do
neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;
IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave
enfermidade (BRASIL, 2002).

Para que a deserdação ocorra, é necessário, conforme Art. 1.964 (BRASIL,


2002), que haja expressa declaração dos motivos que levaram a essa exclusão
solicitada pelo de cujus em seu ato de última vontade.

FIGURA 7 – HERDEIROS INDIGNOS OU DESERDADOS

FONTE: <https://bit.ly/3rT8tqv>. Acesso em: 12 mar. 2021.

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UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Para contribuir no entendimento do que é a deserdação, trazemos a


doutrina de Gonçalves (2009, p. 30), que afirma que:

Na deserdação, é o autor da herança quem pune o responsável,


em testamento, nos casos previstos no aludido dispositivo (1.874 –
aqui incluído pela Autora), bem como nos constantes no 1.962 [...] a
deserdação só pode ocorrer na sucessão testamentária, pois depende
de testamento, com a expressa declaração de causa (Art. 1964) [...]
é utilizada pelo testador para afastar de sua sucessão os herdeiros
necessários (descentes, ascendentes e cônjuge), aos quais a lei assegura
o direito à legítima.

Em síntese, buscamos compreender a ilegitimidade sucessória, também


denominada incapacidade sucessória, abordando a legislação que a regulamenta,
bem como a doutrina dispensada aos dois institutos dos três institutos que
podem gerar a ilegitimidade sucessória. Acadêmico, você concluiu o estudo
deste subtópico conseguindo identificar e definir quais situações podem gerar o
herdeiro indigno e ou o herdeiro deserdado.

E
IMPORTANT

• O nosso ordenamento jurídico prevê três situações que podem se encaixar naquilo que
configura a ilegitimidade para suceder: renúncia, indignidade e a deserdação.
• O herdeiro ou legatário pode ser privado do direito sucessório se praticar contra o de
cujus atos considerados ofensivos, de indignidade.
• Há de ressaltar que a indignidade poderá recair tanto em cima do herdeiro legítimo e
testamentário como em cima dos legatários.
• Na deserdação, é o autor da herança quem pune o responsável, em testamento.

5 SUCESSÃO LEGÍTIMA E TESTAMENTÁRIA

Até o momento, você pôde compreender que a legislação e a doutrina,


mesmo com algumas divergências, impõem requisitos para que o indivíduo
possa suceder, exigindo que esse tenha legitimidade para figurar como sucessor
dos bens deixados pelo autor da herança.

Agora, aprimoraremos nossos estudos ao tratar de sucessão legítima e


sucessão testamentária. Nosso Código Civil (2002) trata, em seu Capítulo III, do
Título I a partir do Art. 1.798, sobre a vocação hereditária e no Título II, Capítulo
I a partir do Art. 1.829, sobre a ordem dessa vocação hereditária.

84
TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Compreender a ordem da vocação hereditária é de suma importância


para que você, acadêmico, possa futuramente destrinchar as problemáticas
que envolvem as relações humanas, sobretudo no que diz respeito ao direito
de suceder, aplicando adequadamente o que determina a legislação nos casos
práticos que irão lhe apresentar no decorrer de sua atuação profissional.

De acordo com a doutrina, a ordem de vocação hereditária é determinada


por lei e segue uma hierarquia com diferentes níveis de preferência para esses
sucederem, estando a sucessão legítima condicionada aos ditames legais.

Assim, a sucessão legítima irá decorrer da lei, sendo a norma jurídica


quem irá indicar quem são os herdeiros e quanto cada um terá direito de herdar,
nos dizeres de Eduardo de Oliveira Leite (2004):

A ordem de vocação hereditária é aquela determinada por lei e


segundo uma hierarquia que coloca os sucessores em graus de
preferência em relação ao sucessível e conforme a classe a que
pertencem. É determinada pelo parentesco ou pela afinidade. Na
sucessão legitima convocam-se os herdeiros segundo a ordem legal,
de forma que uma classe só será chamada quando faltarem herdeiros
da classe precedente.

Veremos, a seguir, qual a ordem exigida na sucessão legítima, junto ao


Art. 1.829 observando que a presença dos familiares é marcante, eis que a sucessão
legítima beneficia membros da família do autor da herança. O Art. 1.829 afirma
que a sucessão legítima deve seguir a seguinte ordem

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,


salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal,
ou no da separação obrigatória de bens (Art. 1.640, parágrafo único);
ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver
deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais (BRASIL, 2002).

Essa ordem de vocação hereditária, como você pode verificar, beneficia os


membros mais próximos do autor da herança, afastando, assim, os mais remotos.
De acordo com a doutrina, essa seria a vontade presumida do falecido, não
preterir os membros mais próximos em virtude dos mais remotos.

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UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

FIGURA 8 – ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

FONTE: Adaptada de <https://slideplayer.com.br/slide/362858/>. Acesso em: 12 mar. 2021.

Rodrigues (2003, p. 94) assim se posiciona:

Ao estabelecer a ordem de vocação hereditária, o legislador se funda


na vontade presumida do falecido. Realmente, presume o propósito
do finado em deixar seus bens aos seus descendentes; na falta destes,
aos descendentes (em ambos os casos em concorrência com o seu
cônjuge – observado o Art.1829, I); não havendo descendentes, nem
ascendentes, ao cônjuge sobrevivente e na falta de todas essas pessoas
aos seus colaterais.

O Art. 1.788 do Código Civil determina a transmissão da herança aos


herdeiros legítimos, segundo a ordem sucessória estabelecida no Art. 1.829, em
casos em que não houver testamento ou, se caso houver, esse caducar, ressalvando
os bens que não forem compreendidos em testamento, que também deverão ser
transmitidos aos legítimos.

O direito sucessório do cônjuge, como veremos, somente será reconhecido


se esse, ao tempo da morte do outro, não esteja separado, nem judicialmente e
nem de fato há mais de dois anos.

O Art. 1.830 do Código Civil, que dispõe sobre o tema, ainda abre brecha
para que, mesmo nessas situações, o cônjuge – companheiro – sobrevivente
possam garantir seu direito sucessório, eis que ao fim abre uma exceção, ao
tratar da separação de fato “salvo prova, neste caso, de que essa convivência se

86
TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

tornara impossível sem culpa do sobrevivente” (BRASIL, 2002). Assim que o


direito sucessório do cônjuge – companheiro – ainda estará garantido em caso de
separação de fato, caso o sobrevivente comprove que não foi por culpa sua que a
relação se tornou impossível.

É garantido também, não apenas o direito sucessório através da legítima


ao cônjuge sobrevivente, mas também o direito real de habitação e o quinhão igual
aos do que sucedem “por cabeça”, não podendo sua quota ser inferior a quarta
parte da herança. Ademais, no caso de ausência de descendentes e ascendentes, a
sucessão caberá por inteiro ao cônjuge sobrevivente. Inteligência dada pelos Arts.
1.831, 1.832 e 1.838, todos do novel.

A própria legislação também trará quem sucede “por cabeça” e os que


sucedem “por cabeça ou por estirpe”, dependendo se estiverem ou não no mesmo
grau. Para o Art. 1.835, na linha descendente quem sucederá por cabeça serão os
filhos do autor da herança, cabendo aos demais descendentes sucederem ou por
cabeça ou por estirpe.

FIGURA 9 – SUCESSÃO POR CABEÇA E ESTIRPE

FONTE: Adaptada de <https://slideplayer.com.br/slide/5645521/>. Acesso em: 12 mar. 2021.

Para que não cause confusão, é salutar realizar a leitura do Art. 1.836 do
Código Civil que determina que os ascendentes apenas serão chamados a suceder,
em concorrência com o cônjuge, quando não houver descendentes passiveis de
sucessão.

Na ordem de vocação hereditária, estipulada na sucessão legítima, aquele


que é chamado à sucessão diretamente, herdará por direito próprio. Haverá
casos, no entanto, em que poderá o indivíduo herdar por representação, ou seja,
quando um ou mais herdeiros herdam o quinhão em virtude de outro herdeiro
falecido. Nesses casos, estaremos diante da representação. Essa possibilidade está
prevista em nosso Código Civil, junto ao Art. 1.851 e seguintes, que trata sobre o
direito de representação.

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UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Na imagem a seguir, podemos observar que A é o Autor da herança que


deixou bens a inventariar, bem como descendentes B e C, os quais, de acordo com
a sucessão legítima, têm preferência ao chamamento. Ocorre que, no momento
da abertura da sucessão, o descendente C já estava falecido. Os filhos de C
(descendentes de 2º grau de A) são chamamos a suceder e serão os herdeiros que
irão compor a sucessão legítima na qualidade de herdeiros por representação,
enquanto B herdará por direito próprio.

FIGURA 10 – SUCESSÃO

B C
(pré-
50% morto)

D E
25% 25%

FONTE: <https://www.conjur.com.br/img/b/processo-familiar2.jpeg>. Acesso em: 12 mar. 2021.

Por sua vez, a sucessão testamentária irá decorrer da própria vontade


do de cujus, como ato personalíssimo e de último desejo, que pode ser expressa
através de três tipos de documentos formais com regras ao serem elaborados e
considerados válidos, são eles: testamento, legado e codicilo. Essas três categorias
estudaremos mais ao fim do curso, porém, através do estudo da sucessão
testamentária, você, acadêmico, poderá ir se familiarizando com esses institutos
existentes em nossa legislação.

Através desses três institutos, a lei confere autonomia ao autor da herança,


para que esse possa destinar parte de seus bens a quem ele gostaria de beneficiar.

Assim, estaremos diante da sucessão testamentária, quando o autor da


herança determinar, através dos institutos acima descritos, a quem a transmissão
de parte de sua herança deve se destinar. Essa transmissão ocorrerá através de
testamento válido. Segundo estabelece o Art. 1857 do Código Civil:

88
TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da


totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
§ 1º A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento. § 2º São válidas as disposições testamentárias de caráter
não patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha limitado
(BRASIL, 2002).

Importante ressaltar que não há direito por representação quando se


trata de sucessão testamentária. Para tanto, no caso do falecimento do herdeiro
testamentário antes da abertura do testamento, os bens a ele conferidos serão
revertidos aos herdeiros legítimos.

Ademais, por força da lei, a sucessão testamentária só ocorrerá após


pagamento das dívidas do autor da herança, se houver, e após garantida a
legítima dos herdeiros. A propósito, nos termos do § 1º do Art. 1.857, a legítima
dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.

Vale frisar ainda que não há qualquer empecilho em se realizar a sucessão


legítima e a sucessão testamentárias, essas duas únicas formas de sucessão
existentes em nosso ordenamento jurídico, não são incompatíveis entre si,
podendo ocorrer de forma simultânea.

Em síntese, concluímos o estudo da ordem de vocação hereditária,


estudando a sucessão legítima e identificando a ordem de sucessão contida em
nosso ordenamento jurídico, especificamente junto ao Art. 1.829, I, II, III e IV que
estabelece a ordem de preferência, avançamos um pouco para compreender a
posição do cônjuge – companheiro com relação à sucessão. Compreendemos o que
significa herdar por representação e ao fim lhes foi apresentada a possibilidade
de sucessão por testamento, contida no Art. 1.857 do código civilista.

E
IMPORTANT

• Assim que a sucessão legítima irá decorrer da lei, sendo a norma jurídica quem irá
indicar quem são os herdeiros e quanto cada um terá direito de herdar.
• A ordem de vocação hereditária beneficia os membros mais próximos do autor da
herança, afastando assim os mais remotos.
• A sucessão testamentária irá decorrer da própria vontade do de cujus, como ato
personalíssimo e de último desejo.

89
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

6 HERDEIROS
Como vimos anteriormente, em nosso ordenamento jurídico existem
duas modalidades de sucessão, a sucessão legítima e a sucessão testamentária. A
transferência da herança ocorrerá através de uma das sucessões apresentadas e
existentes ou pelas duas, de forma concomitante.

Essas duas formas de sucessão determinarão qual tipo de herdeiro


lidaremos. Vamos iniciar o estudo sobre herdeiros necessários e facultativos, para
posteriormente tratarmos do herdeiro testamentário e do legatário. Concluiremos
o presente tópico com o estudo sobre a ausência de legitimação para ser nomeado
herdeiro ou legatário.

Certo é que o indivíduo deve ser primeiro considerado legítimo para


suceder, tornando-se assim herdeiro, em análise posterior e em respeito à ordem
de vocação hereditária, deve-se verificar se esse herdeiro faz parte da legítima,
se o fizer, estaremos diante da sucessão legítima que o configurará em um
determinado herdeiro.

É possível ainda que esse herdeiro possa suceder através da sucessão


testamentária, tornando-se um herdeiro testamentário ou, ainda, torne-se um
legatário ou quem sabe suceda pela legítima e, concomitantemente, suceda por
testamento.

Nosso ordenamento jurídico abre as portas para diversas possibilidades,


quando se trata de sucessão de direito hereditários, devendo essas possibilidades
se enquadrar dentro da sucessão legítima e da sucessão testamentária.

6.1 HERDEIROS NECESSÁRIOS E FACULTATIVOS


Em nossa legislação, vimos a figura do herdeiro legítimo, que é aquele
descrito no Art. 1.829, ou seja, a pessoa indicada por lei para suceder. Esse herdeiro
legítimo irá se dividir em herdeiro necessário e herdeiro facultativo.

São herdeiros necessários, de acordo com o Art. 1.845 do Código Civil de


2002, os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

90
TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

FIGURA 11 – HERDEIROS NECESSÁRIOS

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/628181848015598377/>. Acesso em: 12 mar. 2021.

É importante esclarecer que o Art. 1.790 do Código Civil, que confere


tratamento diferenciado ao companheiro e companheira, foi declarado
inconstitucional, tendo o STF se posicionado no sentido de que “Não é legítimo
desequiparar, para fins sucessórios, os cônjuges e os companheiros, isto é, a família
formada pelo casamento e a formada por união estável”. Recurso Extraordinário
nº 646.721 – RS, de relatoria do Ministro Marco Aurélio (STF, 2017).

No mesmo sentido, posicionou-se o Ministro Roberto Barroso, em Recurso


Extraordinário de nº 878.694 de Minas Gerais, afirmando que:

91
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Tal hierarquização entre entidades familiares é incompatível com


a Constituição de 1988. Assim sendo, o art. 1790 do Código Civil,
ao revogar as Leis nº 8.971/1994 e nº 9.278/1996 e discriminar a
companheira (ou o companheiro), dando-lhe direitos sucessórios
bem inferiores aos conferidos à esposa (ou ao marido), entra em
contraste com os princípios da igualdade, da dignidade humana, da
proporcionalidade como vedação à proteção deficiente e da vedação
do retrocesso (STF, 2015).

Para preservar a segurança jurídica, o STF entendeu que a aplicabilidade


deste entendimento – em que se iguala companheiro e cônjuges para fins
sucessórios – só seria aplicado aos inventários judiciais em que não tenha tido o
trânsito em julgado da sentença de partilha e no caso de partilha extrajudiciais
naquelas em que não haja a escritura pública, todavia (BRASIL, 2017).

Para tanto, podemos incluir como herdeiro legítimo e necessário também


a figura do companheiro e companheira, que são aqueles que convivem em união
estável com o intuito de constituir família, eis que devidamente reconhecido
como tal pela jurisprudência da mais alta corte de nosso país.

De acordo com o Art. 1.846 do nosso Código Civil, "pertence aos herdeiros
necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a
legítima". O contido neste dispositivo legal impede que o autor da herança venha
dispor da integralidade de seu patrimônio, garantindo, assim, aos herdeiros
necessários (que são os descendentes, ascendentes, cônjuge e companheiro – esse
último por força de determinação judicial) o resguardo da legítima.

FIGURA 12 – COMPANHEIRO É HERDEIRO NECESSÁRIO

FONTE: <https://cnbmg.org.br/Art.-companheiros-sao-herdeiros-necessarios-ou-facultativos-
-por-rodrigo-pereira/>. Acesso em: 12 mar. 2021.

Neste contexto, você pode concluir que aos herdeiros necessários é


garantido 50% dos bens do autor da herança, eis que por determinação legal o
indivíduo só poderá dispor, através de testamento, de 50% de seus bens.

92
TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Garantindo a reserva dada a legítima, esta será calculada sobre o valor


dos bens existentes no momento da abertura da sucessão, deduzidas as dívidas
e as despesas do funeral, adicionando ao fim o valor dos bens sujeitos à colação.

A parte dos herdeiros necessários existe a previsão legal dos herdeiros


facultativos, tido como não obrigatórios e que podem ser preteridos por disposição
testamentária, eis que o Art. 1.850 do Código Civil, preceitua que “para excluir da
sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio
sem os contemplar” (BRASIL, 2002).

Portanto, os herdeiros tidos como facultativos e que podem ser preteridos


por testamento da sucessão hereditária são aqueles indicados no Art. 1.829, IV-
parentes colaterais, até quarto grau. Nesse diapasão, temos que a existência
desses herdeiros não é impeditiva para que o autor da herança disponha da
integralidade de seus bens, como ocorre em relação aos herdeiros necessários.

No caso de o autor da herança ter apenas parentes colaterais até quarto


grau, que com o seu falecimento serão seus herdeiros legítimos e facultativos,
contará ele com toda liberdade testamentária, não havendo restrição para que
disponha de 100% dos seus bens.

Finalizamos o presente subtópico reconhecendo os herdeiros legítimos


necessários e facultativo. Compreendendo a ordem de vocação de cada um deles,
bem como o que os diferencia, assim podemos seguir para o próximo subtópico,
o qual iniciaremos o estudo sobre os herdeiros testamentário e legatário.

6.2 TESTAMENTÁRIO E LEGATÁRIOS


No subtópico anterior, estudamos os herdeiros legítimos, necessários e
facultativos, e nos chamou a atenção o fato de que o legislador protege a herança
dos membros da família mais próximos do indivíduo que falece e deixa bens
a inventariar, garantindo aos legítimos necessários a reserva de 50% dos bens.
Quando se tratar apenas de legítimos facultativos, a lei confere ao de cujus a
liberdade total em dispor sobre seus bens, devendo ser elaborado testamento
válido.

No presente estudo, ao tratarmos do herdeiro testamentários, vamos


nos deparar com o fato de que não necessariamente esse herdeiro terá relação
de parentesco com o autor da herança, muito embora o herdeiro testamentário
também possa ter relação de parentesco com o falecido.

Vamos perceber que o herdeiro testamentário é aquele indivíduo que será


instituído por testamento, mesmo que não exista nenhum vínculo de parentesco
entre o falecido e o sucessor.

93
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Assim, para que haja a figura do herdeiro testamentário no universo


jurídico, é necessário que haja o autor da herança, que se transformará em
testador, bens a serem inventariados e um testamento que irá dispor sobre a
sucessão desses bens, indicando quem deverá sucedê-lo, daí nasce o herdeiro
testamentário.

O herdeiro testamentário será um herdeiro universal, eis que será


beneficiado sem singularização ou especificação de determinado bem, entrando
na proporcionalidade que lhe couber no total da herança.

A figura do legatário surgirá em nosso ordenamento jurídico quando


realizado pelo autor da herança um legado de coisa certa e determinada. Portanto,
ao legatário será destinado, de forma determinada e específica, qualquer bem,
móvel ou imóvel devidamente determinado, caracterizando, assim, sucessão a
título singular.

Perceba, caro acadêmico, que a figura do legatário não é tratada como


herdeiro, justamente porque sucede a título singular enquanto o herdeiro herda a
fração a título universal, mesmo que a sucessão testamentária incorpore, além dos
herdeiros, os legatários, talvez por isso gere certa confusão ao tentar enquadrar o
legatário como herdeiro.

Zeno Veloso (2020, s.p.), ao tratar sobre disposição testamentária, realiza


a distinção entre herdeiro e legatário.

As disposições patrimoniais do testador podem ordenar que o sucessor


receba a universalidade da herança ou quota-parte (ideal, abstrata)
dela, ou estabelecer que o sucessor ficará com um bem individuado,
definido, destacado do acervo, ou quantia determinada. No primeiro
caso, a disposição é a título universal, e o nomeado é herdeiro;
no segundo caso, a disposição é a título singular ou particular, e o
beneficiado é legatário. Os sucessores, então, são herdeiros ou
legatários.

O autor ainda destaca que a figura do legatário só surge através do


testamento, enquanto a do herdeiro pode surgir em decorrência da lei e do
testamento: “A qualidade de herdeiro pode decorrer da lei e do testamento;
só o testamento faz legatário. O legado, assim, é figura exclusiva da sucessão
testamentária” (VELOSO, 2020, s.p.).

Por força legal, é garantido ao legatário que a partir da abertura da


sucessão, o bem certo destinado pelo autor da herança, torne-se pertencente a
ele, salvo se estiver o legado em situação suspensiva. Também é por força de lei
que não pode o legatário de imediato tomar posse da coisa ou entrar por própria
autoridade no bem destinado a ele.

94
TÓPICO 1 — DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

No legado, como no testamento, não há possibilidade de transferência dos


bens destinados, tanto ao legatário quanto ao herdeiro testamentário, no caso de
falecimentos destes, antes da abertura do testamento ou do legado, os bens serão
destinados aos herdeiros legítimos.

Com essas colocações acerca do herdeiro testamentário e da figura


do legatário, encerramos nosso penúltimo subtópico. A seguir, vamos para o
subtópico que finalizará os estudos da Unidade 1 deste livro didático.

6.3 DA AUSÊNCIA DE LEGITIMAÇÃO PARA SER NOMEADO


HERDEIRO OU LEGATÁRIO

Para garantir transparência e lisura no ato em que é realizado o testamento,


o legislador se assegurou em colocar algumas restrições, arrolando quais pessoas
não podem ser nomeadas como herdeiros ou legatário, acarretando a essas
pessoas constante no rol do Art. 1.801 do Código Civil a ilegitimidade para serem
nomeados como herdeiro ou legatário.

Nos termos do Art. 1.801 do Código Civil, não poderão ser nomeados
herdeiros e nem legatário:

I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou


companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua,
estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante
quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento
(BRASIL, 2002).

Esse dispositivo legal garante proteção aos herdeiros e aos bens que serão
deixados pelo autor da herança, garantindo, assim, a aplicação da real vontade
externada pelo de cujus, além de impedir que ocorra possível abuso por parte de
quem participa do ato de testar.

A legislação também determina que, caso haja disposição feitas por


pessoas que não são legitimadas a sucederem, essas disposições sejam declaradas
nulas. O Art. 1.802 do Código Civil ainda abrange a nulidade a situações que
poderiam ser simuladas através de contrato oneroso ou ainda feitas mediante
pessoas interpostas.

A própria legislação indica quem seriam essas pessoas interpostas:


os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do
não legitimado a suceder e, como vimos, os não legitimados a sucederem por
testamento é todo aquele arrolado junto ao Art. 1.801.

95
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Observe que a legislação amplia o rol daqueles que não são suscetíveis
de serem beneficiados por testamento ou legado. Em um primeiro momento,
apresenta quem seriam os legitimados e, em um segundo momento, acrescenta
um novo grupo proibitivo de constar como herdeiro e legatário.

Ademais, o Art. 1.803 legitimará o filho do concubino, quando também


o for do testador, a constar como herdeiro testamentário ou legatário, e isso se
deve ante a previsão constitucional que proibi qualquer distinção entre filhos,
muito embora o concubino, se não estiver separado de fato há mais de cinco anos,
constará como ilegítimo para ser nomeado como herdeiro ou legatário, conforme
vimos anteriormente.

Assim, concluímos o presente subtópico, que, de forma sucinta, foi capaz


de indicar as pessoas que não possuem legitimidade para serem nomeados
herdeiros ou legatário pelo autor da herança. Ainda, caso ocorra esta nomeação,
ela será considerada nula.

Parabenizamos a você por concluir a primeira unidade do livro didático


que trata do direito de sucessões, familiarizando com as categorias existentes
neste ramo do direito e dominando os dispositivos legais que discorrem sobre
o tema.

Vale lembrar que é salutar para o seu aprendizado que você realize as
leituras indicadas, bem como a leitura do resumo que irá lhe direcionar para a
realização dos exercícios de autoavaliação, todos esses passos contribuirão para
fixação do tema e para o aprimoramento dos seus conhecimentos com relação a
essa matéria. Aguardamos você no Tópico 2.

96
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da


abertura da sucessão.

• Há corrente doutrinária que se posiciona favorável a conceder legitimidade


para suceder de filho concebido post mortem, conferindo a estes amplos direitos.

• A legitimação para suceder não pode e nem deve ser confundida com a
capacidade civil.

• Animais, coisas inanimadas e entidades místicas não estão aptos para figurarem
no rol daqueles que podem receber os bens deixados pelo autor da herança.

• Os herdeiros testamentários também possuem legitimidade para suceder.

• Além da prole eventual, nossa legislação confere legitimidade testamentária


para suceder as pessoas jurídicas e as pessoas jurídicas na forma de fundação,
cuja organização seja determinada pelo testador.

• O legislador impôs prazo de dois anos para que esse filho de pessoa indicada
pelo testador seja concebido, a não ser que haja disposição contrária no
testamento.

• O nosso ordenamento jurídico prevê três situações que podem se encaixar


naquilo que configura a ilegitimidade para suceder, incapacitando o indivíduo
enquanto sucessor do autor da herança.

• A primeira situação é no caso de renúncia, o segundo e terceiro caso dizem


respeito à indignidade e à deserdação.

• O rol do Art. 1.814 que prevê quem deve ser excluído da sucessão é taxativo.

• A indignidade é, portanto, uma sanção civil que acarreta a perda do direito


sucessório.

• Para que a deserdação ocorra, é necessário, conforme Art. 1.964 (BRASIL,


2002), que haja expressa declaração dos motivos que levaram a essa exclusão
solicitada pelo de cujus em seu ato de última vontade.

97
AUTOATIVIDADE

1 A sucessão testamentária é definida pelo direito brasileiro como aquela que


é concedida por ato de última vontade do de cujus, sendo obrigatoriamente
revestida de solenidade. Compreende-se que a sucessão testamentária
se dá através de testamento ou codicilo como instrumentos jurídicos de
declaração de última vontade. Acerca de quem pode ser chamado a suceder
na sucessão testamentária, analise as sentenças a seguir:

I- Os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador,


desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão.
II- As pessoas jurídicas.
III- As pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob
qualquer forma.
IV- Os herdeiros legítimos.

Assinale a afirmação CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e IV são corretas.

2 O direito pátrio considera que são herdeiros necessários os descendentes,


os ascendentes e o cônjuge. Entretanto, ocorrem situações particulares
que envolvem a transmissão de herança a herdeiros. A partir desse estudo
realizado, classifique V para a sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) O nosso ordenamento jurídico prevê três situações que podem se encaixar


naquilo que configura a ilegitimidade para suceder, incapacitando o
indivíduo enquanto sucessor do autor da herança. São elas: a renúncia, a
indignidade e a deserdação.
( ) A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de
indignidade, será declarada por sentença.
( ) O prazo para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se
em quatro anos contados da abertura da sucessão.
( ) A legitimidade para propor ação que visa declarar a exclusão do herdeiro
indigno nos casos em que houver questão de ordem pública será
exclusivamente do herdeiro.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F – F.
b) ( ) V – F – V – F.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – V – V – F.

98
3 O direito das sucessões é definido como o conjunto de normas que
disciplinam a transferência do patrimônio a alguém depois de sua morte,
ao herdeiro em virtude de lei ou testamento. Trata-se da sucessão causa
mortis considerada como ato jurídico através do qual uma pessoa sucede a
outra em seus direitos e obrigações após morte do antecessor. Diante dos
seus conhecimentos em direito sucessório, assinale a alternativa CORRETA.

a) ( ) Na ordem de vocação hereditária, estipulada na sucessão legítima,


aquele que é chamado à sucessão diretamente não herdará por direito
próprio, mas sim do de cujus.
b) ( ) Há direito por representação quando se trata de sucessão testamentária.
c) ( ) O companheiro e a companheira não forma incluídos no rol dos
herdeiros legítimos e necessários.
d) ( ) Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos
bens da herança, constituindo a legítima.
e) ( ) Os herdeiros tidos como facultativos podem ser preteridos por
testamento, sendo garantido a esses 50% da legítima.

99
100
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

CONCEITO DE ACEITAÇÃO DA HERANÇA

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, você estudará o conceito de aceitação da herança, quais são


as espécies e formas autorizadoras em nosso ordenamento jurídico para que se
possa realizar a aceitação da herança.

Verificará que a aceitação da herança poderá se dar de forma expressa,


tácita e presumida. Saberá reconhecer cada uma dessas formas e seus prazos,
caso haja.

Ainda, compreenderá que a aceitação da herança ocorre de forma direta


ou indireta, a primeira quando estivermos diante do titular do direito e a segunda
quando for realizado por terceiros interessados. Ao fim deste tópico, estudaremos
sobre as características da aceitação da herança e os efeitos ensejados a partir da
realização deste ato unilateral.

2 DA ACEITAÇÃO DA HERANÇA
Para que se possa concretizar a transmissão da herança, que se dá de forma
provisória no momento do falecimento do autor da herança, nosso ordenamento
jurídico prevê a necessidade da aceitação da herança.

Para tanto, o indivíduo reconhecido como herdeiro deve autorizar o


recebimento da herança. Trata-se de vontade autônoma da pessoa, afinal ninguém
pode ser herdeiro contra sua vontade, isso porque, a herança consiste também em
deveres e obrigações.

101
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

FIGURA 13 – CONCEITO DE ACEITAÇÃO DE HERANÇA

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3tmXO7L>. Acesso em: 12 mar. 2021.

Conforme Diniz (2002, p. 61), “[...] não é um ato desnecessário, visto que
ninguém deve ser herdeiro contra a própria vontade, dado que deverá assumir
algumas obrigações”.

Assim que nossa legislação exige a anuência do herdeiro em receber a


herança que lhe foi provisoriamente transmitida com o falecimento do autor
da herança. Com a anuência do herdeiro, a transmissão da herança se torna
definitiva, desde a abertura da sucessão.

“Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao


herdeiro, desde a abertura da sucessão” (BRASIL, 2002).

Para Francisco Cahali e Giselda Hironaka (2003), a aceitação da herança


é um ato jurídico unilateral e necessário, que confirmará a intenção do herdeiro
em receber o acervo patrimonial deixado pelo de cujus e que lhe foi transmitido
provisoriamente no momento do falecimento deste.

A aceitação da herança representa, assim, o ato jurídico unilateral e


necessário pelo qual o herdeiro, que ao tempo da abertura da sucessão
houvera adquirido, ipse iure, a posse e a propriedade dos bens da
herança, confirma sua intenção de receber este acervo que lhe é
transmitido (CAHALI; HIRONAKA, 2003 p. 87-89).

Maria Helena Diniz (2002) também, neste mesmo sentido, reconhece


a aceitação da herança como ato jurídico unilateral que é realizado tanto pelo
herdeiro legítimo quanto pelo testamentário, que deverão demonstrar livremente
a sua vontade: “[...] vem a ser o ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro, legítimo
ou testamentário, manifesta livremente sua vontade de receber a herança que lhe
é transmitida” (DINIZ, 2002, p. 61).

Para Washington de Barros Monteiro (2003), ao tratar sobre a aceitação


da herança, afirma ser esta condição imprescindível para que o herdeiro possa
suceder, eis que imposta pela legislação pátria. Segundo o doutrinador, o ato de
aceitação irá exprimir a vontade do indivíduo em receber a herança transmitida
pelo autor da herança.

102
TÓPICO 2 — CONCEITO DE ACEITAÇÃO DA HERANÇA

Segundo nosso código, torna-se imprescindível a aceitação da herança.


Esta constitui espécie de condição, imposta pela lei, para que o herdeiro
possa suceder. Aceitação ou adição da herança vem a ser, portanto,
ato pelo qual o herdeiro exprime a vontade de receber a herança
transmitida pelo falecido. É ato jurídico pela qual a pessoa chamada
a suceder declara que deseja ser herdeira e recolher a herança. De
natureza não receptícia, não precisa ser comunicado a quem quer que
seja para que produza seus efeitos (MONTEIRO, 2003, p. 51).

Caso haja o falecimento de um herdeiro (necessário ou testamentário)


antes de declarar-se aceita ou não a herança, o poder de aceitar essa herança
passa aos sucessores dele. “Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar-
se aceita a herança, o poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que
se trate de vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada”
(BRASIL, 2002).

Assim, caso o herdeiro venha a falecer antes de declarar se aceita


determinada herança, os herdeiros desse herdeiro passam a possuir legitimidade
para aceitação da herança. Não podendo essa herança regressar ao monte mor,
automaticamente, se for o caso.

NOTA

O indivíduo reconhecido como herdeiro, deve autorizar o recebimento da


herança. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a
abertura da sucessão. Aceitação da herança é um ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro,
legítimo ou testamentário, manifesta livremente sua vontade de receber a herança que lhe
é transmitida.

2.1 QUANTO A SUA FORMA


As formas de aceitação da herança são: a) expressa, b) tácita e c) presumida.
A aceitação da herança de forma expressa está disposta no Art. 1.805 do novel
civilista, que determina que o herdeiro deve declarar por escrito o seu interesse
de receber a herança conferida a ele pelo de cujus, podendo essa declaração ser de
forma pública ou particular.

De acordo com o entendimento do doutrinador Flávio Tartuce (2019, p.


90), com relação à aceitação da herança de forma expressa “[...] esta é realizada
por declaração escrita do herdeiro, por meio de instrumento público, particular
ou por uma manifestação clara e inequívoca no processo de inventário [...]”.

103
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Da leitura deste mesmo artigo constante no nosso Código Civil, em sua


segunda parte, também podemos verificar que o legislador prevê a aceitação
da herança de forma tácita, cujo herdeiro demonstra sua intenção em aceitar a
herança a ele concedida. “Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa,
faz-se por declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão somente de atos
próprios da qualidade de herdeiro” (BRASIL, 2002).

Nery Junior e Nery (2014), ao comentarem o Art. 1.804 do Código Civil,


também exemplificam quais seriam as demonstrações de aceitação tácita da
herança.

A presunção relativa (iuris tantum) é de que o herdeiro aceitou a


herança. Só com ato positivo em sentido contrário (renúncia expressa)
é que se tem por não aceita a herança. São demonstrações de aceitação
tácita da herança a outorga de procuração para advogado habilitar-se
no inventário do falecido, o ajuizamento do inventário, a concordância
com a avaliação dos bens que compõem a herança etc. (NERY JUNIOR;
NERY, 2014, p. 2072).

Confirmando ainda que a aceitação tácita é a mais comum na rotina


forense, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2015) também coaduna
no sentido de que a prática de atos positivos ou negativos são passíveis de concluir
a vontade do herdeiro em receber o patrimônio deixado pelo autor da herança.

Já a aceitação tácita, a mais usual no cotidiano forense, consubstancia-


se pela prática de atos positivos ou negativos, denotando a vontade
de receber o patrimônio transmitido. Forte na lição de Zannoni, é a
que decorre da execução de atos que o titular não poderia praticar
senão como titular do direito. Enfim, é a aceitação comportamental,
defluindo de uma conduta praticada na qualidade do herdeiro ou
legatário. Ilustrativamente, é possível falar em aceitação tácita com
a outorga de procuração a advogado para requerer a abertura do
inventário e a partilha do patrimônio transmitido, a administração do
patrimônio, a cessão de direitos hereditários, a propositura de ação
possessória para a defesa de bem integrante do espólio, entre outras
hipóteses (HIRONAKA; PEREIRA, 2004, p. 43-44).

À parte da aceitação expressa e tácita, temos também a aceitação


presumida que se dará quando o Estado/Juiz intima o herdeiro para manifestar
a sua vontade, dentro de um determinado prazo, e esse herdeiro permanece em
silêncio, sem se manifestar, mesmo que devidamente notificado.

O silêncio do herdeiro diante da notificação para se manifestar se aceita


ou não a herança, será considerado como presumidamente aceito o montante a
ele deixado, conforme preceitua o Art. 1.807 do Código Civil: “O interessado em
que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, 20 dias após aberta
a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele,
se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita”. Para Diniz
(2002, p. 63):

104
TÓPICO 2 — CONCEITO DE ACEITAÇÃO DA HERANÇA

Se algum interessado em saber se o herdeiro aceito ou não a herança


[...], requerer ao juiz, após 20 dias da abertura da sucessão que dê ao
herdeiro prazo de 30 dias para pronunciar-se. Decorrido esse lapso
de tempo, o silêncio do herdeiro será interpretado como aceitação
(CC, Art. 1.807). Nesta espécie de aceitação, há ausência de qualquer
manifestação expressa ou ato comissivo, pois a simples omissão de
recusa é havida como aceitação da herança.

Ainda, o legislador determinou em quais atos não implicariam aceitação


da herança, conforme disposto no § 1º e 2º do Art. 1.805: “[...] § 1º Não exprimem
aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente
conservatórios, ou os de administração e guarda provisória. § 2º Não importa
igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais
coerdeiros”.

Para tanto, você, acadêmico, já sabe que em nosso ordenamento jurídico


encontramos três formas de aceitação da herança, bem como sabe quais atos não
irão implicar sua aceitação. Neste contexto, podemos passar para o subtópico
seguinte, nele, estudaremos como o agente será responsável por enquadrar a
forma com relação à aceitação da herança.

NOTA

As formas de aceitação da herança são: a) expressa, b) tácita e c) presumida.


O silêncio do herdeiro diante da notificação para se manifestar se aceita ou não a herança,
será considerado como presumidamente aceito o montante a ele deixado.
A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando tácita, há
de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro

2.2 QUANTO AO AGENTE


O direito brasileiro permite que a aceitação da herança seja manifestada
de forma direta e indireta. Essa caracterização está intimamente ligada ao agente
que manifestará se aceita ou não a herança, eis que pode ser o próprio herdeiro
ou alguém que por ele o faça.

Quando estivermos diante de aceitação da herança pelo próprio herdeiro


ou por alguém que o esteja representando, estaremos tratando de aceitação por
representação direta, eis que devidamente promovida pelo próprio titular do
direito.

105
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

A legislação pátria permite, em algumas ocasiões, que terceiros aceitem


a herança, como é o caso do herdeiro incapaz, cuja aceitação da herança se dará
através de um tutor ou curador, com a devida autorização judicial, nos termos do
Art. 1.748, II: “Compete também ao tutor, com autorização do juiz: [...] II - aceitar
por ele heranças, legados ou doações, ainda que com encargos; [...] Parágrafo
único. No caso de falta de autorização, a eficácia de ato do tutor depende da
aprovação ulterior do juiz” (BRASIL, 2002).

Diferente não é a possibilidade de aceitação de herança através de


mandatário (Art. 653 a 692 do Código Civil) ou gestor de negócios (Art. 861 a 875
do Código Civil, que será feita através de procurador com poderes especiais para
tanto.

Cahali e Hironaka (2003), ao discorrerem sobre o tema, reconhecem que


ao tutor ou curador lhe outorgarão a representação do pupilo ou do curatelado
no ato de aceitar a herança e que esta mesma possibilidade também é admitida
na aceitação por mandatário ou gestor de negócios. “Ao tutor ou curador é
dada a representação do pupilo ou curatelado para aceitar a herança, mediante
prévia autorização judicial (CC, art. 1748, II), admitida também a aceitação por
mandatário ou gestor de negócios” (CAHALI; HIRONAKA, 2003, p. 87-89).

A aceitação da herança realizada pelos sucessores do herdeiro também é


possível e se dará quando esse herdeiro vier a falecer antes de se pronunciar com
relação à aceitação ou não da herança, assim que essa disposição se dará por seus
herdeiros.

A aceitação da herança de forma indireta se dará sempre que for


promovida por um terceiro interessado, por exemplo, um determinado credor do
sucessor que poderá aceitar a herança até o limite do seu crédito, caso o herdeiro
tenha renunciado a herança com o intuito de prejudicar o credor, tornando-
se insolvente ao não aceitar a herança. Para tanto, terá o credor que buscar
autorização judicial para que possa, de forma indireta, aceitar a herança, para ver
contemplado a dívida existente entre o herdeiro e o credor. “Art. 1.813. Quando o
herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão eles, com
autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante” (BRASIL, 2002).

Ainda, o legislador estabeleceu um prazo limite para que os credores se


habilitem, determinando que a renúncia realizada pelo herdeiro permanecerá em
relação ao remanescente, sendo devolvido aos demais herdeiros.

§ 1º A habilitação dos credores se fará no prazo de 30 dias seguintes ao


conhecimento do fato.
§ 2º Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto
ao remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros (BRASIL,
2002).

106
TÓPICO 2 — CONCEITO DE ACEITAÇÃO DA HERANÇA

E
IMPORTANT

O direito brasileiro permite que a aceitação da herança seja manifestada de


forma direta e indireta.
A aceitação da herança realizada pelo titular do direito, seja o herdeiro ou alguém que o
esteja representando, caracteriza aceitação por representação direta.
A aceitação da herança de forma indireta se dará sempre que for promovida por um terceiro
interessado.

3 CARACTERÍSTICAS E EFEITOS DA ACEITAÇÃO


Além de ser um negócio jurídico unilateral, que deva preencher alguns
requisitos, tais como declaração de vontade, objeto e abertura da sucessão, o ato
de aceitação de herança reúne algumas características peculiares inerentes desse
instituto.

O Art. 1808 do Código Civil estabelece que a aceitação da herança não se


pode dar em parte ou sob condição ou a termo. Este mesmo artigo autoriza a esse
herdeiro, a quem foi testado legado, a realizar o ato de aceitação do legado na
forma prescrita em lei.

O referido artigo civilista em seu parágrafo segundo também autoriza


o herdeiro a dispor sobre os diferentes títulos sucessórios, podendo o herdeiro
deliberar com relação à aceitação dos diversos quinhões que lhe foram deixados.
Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob
condição ou a termo.
§ 1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los,
renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los.
§ 2º O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão
hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar
quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia (BRASIL, 2002).

Diferente não é o posicionamento de nossos tribunais ao tratarem deste


instituto, ressaltando o que dispõe o artigo civilista, de que a aceitação da herança
não pode ocorrer em partes, sob condição ou a termo. Para melhor compreensão,
é imperioso que você, acadêmico, faça a leitura de parte da jurisprudência que
trata sobre o tema, da lavra do Ministro Luiz Felipe Salomão.

3. A renúncia e a aceitação à herança são atos jurídicos puros não


sujeitos a elementos acidentais. Essa a regra estabelecida no caput
do Art. 1.808 do Código Civil, segundo o qual não se pode aceitar ou
renunciar a herança em partes, sob condição (evento futuro incerto)
ou termo (evento futuro e certo). [...] BRASIL, STJ REsp: 1433650 GO
2013/0176443-1, 19/11/2019 (STJ, 2019).

107
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Vale destacar, ainda, que a aceitação da herança é irrevogável, nos termos


do Art. 1.812 do Código Civil. Aliás, a prévia aceitação tácita da herança afasta, de
pronto, a possibilidade de renúncia à herança, porquanto ato irrevogável.
A aceitação ou adição (Aditio) da herança, expressa ou tácita, torna
definitiva a qualidade de herdeiro, de modo que não poderá haver,
posteriormente, renúncia à referida herança. O herdeiro que aceitar a
herança, e, em seguida não quiser mais ostentar essa situação poderá
celebrar negócio jurídico de doação, transferência, alienação ou de
cessão dos direitos hereditários de que seja titular (NERY JUNIOR,
NERY, 2014, p. 2072).

A jurisprudência, ao tratar de aceitação tácita da herança, conforme


estudamos anteriormente, reafirma que o pedido de abertura de inventário ou
arrolamento de bens, com a regularização processual por meio de nomeação de
advogado, configura de aceitação de herança.

Esse mesmo entendimento jurisprudencial, também confirma o


entendimento disposto no Art. 1.812, afirmando que a aceitação da herança, em
qual modalidade for, torna definitiva a qualidade de herdeiro, sendo esse ato de
aceitação de herança irrevogável e irretratável.

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. SUCESSÕES. HERANÇA.


ACEITAÇÃO TÁCITA. ART. 1.804 DO CÓDIGO CIVIL. ABERTURA
DE INVENTÁRIO. ARROLAMENTO DE BENS. RENÚNCIA
POSTERIOR. IMPOSSIBILIDADE. ARTS. 1.809 E 1.812 DO CÓDIGO
CIVIL. ATO IRRETRATÁVEL E IRREVOGÁVEL. 1. A aceitação da
herança, expressa ou tácita, torna definitiva a qualidade de herdeiro,
constituindo ato irrevogável e irretratável. 2. Não há falar em renúncia
à herança pelos herdeiros quando o falecido, titular do direito, a aceita
em vida, especialmente quando se tratar de ato praticado depois da
morte do autor da herança. 3. O pedido de abertura de inventário e
o arrolamento de bens, com a regularização processual por meio de
nomeação de advogado, implicam a aceitação tácita da herança. 4.
Recurso especial não provido (BRASIL, STJ RECURSO ESPECIAL Nº
1.622.331 – SP (2012/0179349-2), 08/11/2016) (STJ, 2016).

No entanto, embora irrevogável a aceitação da herança, temos a


possibilidade de anulação desta aceitação da herança, que poderá ocorrer caso
se verifique que o indivíduo que aceitou a herança não é de fato herdeiro, a
exemplo de quando o ascendente herda e, posteriormente, verifica-se a existência
de um descendente ou até mesmo a existência de um testamento que dispõe da
totalidade da herança, quando não há herdeiros necessários.

NOTA

A aceitação da herança não se pode dar em parte, sob condição ou a termo.


O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos
sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que
renuncia. O ato de aceitação de herança irrevogável e irretratável.

108
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Para que se possa concretizar a transmissão da herança, há a necessidade da


aceitação dela.

• Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a


abertura da sucessão.

• A aceitação da herança é um ato jurídico unilateral e necessário que confirmará


a intenção do herdeiro em receber o acervo patrimonial deixado pelo de cujus.

• As formas de aceitação da herança são: a) expressa, b) tácita e c) presumida.

• O direito brasileiro permite que a aceitação da herança seja manifestada de


forma direta e indireta.

• Quando estivermos diante de aceitação da herança pelo próprio herdeiro ou


por alguém que o esteja representando, estaremos tratando de aceitação por
representação direta, eis que devidamente promovida pelo próprio titular do
direito.

• A aceitação da herança de forma indireta se dará sempre que for promovida


por um terceiro interessado.

• A aceitação da herança não pode ocorrer em partes, sob condição ou a termo.

• A aceitação da herança, expressa ou tácita, torna definitiva a qualidade de


herdeiro, constituindo ato irrevogável e irretratável.

109
AUTOATIVIDADE

1 A aceitação da herança e renúncia estão previstas nos Arts. 1.804 ao 1.813


do Código Civil brasileiro e aceitando-a torna-se definitiva. A aceitação é
definida como ato jurídico através do qual a pessoa é chamada a suceder e
declara que deseja ser herdeiro e tomar para si a herança. Sobre aceitação
da herança, de acordo com o Código Civil brasileiro, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) São revogáveis os atos de aceitação da herança.


( ) O nosso ordenamento jurídico admite-se apenas a aceitação da herança
de forma expressa.
( ) O interessado em que o herdeiro declare se aceita ou não a herança,
poderá, 15 dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável,
não maior de 30 dias para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se
haver a herança por aceita.
( ) A aceitação da herança não é um ato desnecessário, visto que ninguém
deve ser herdeiro contra a própria vontade, dado que deverá assumir
algumas obrigações.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – F – V – V.
b) ( ) F – V – F – V.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) V – F – V – V.

2 O conceito de aceitação de herança está relacionado à vontade do sucessor.


Aberta a sucessão, com a morte do sucessor, abre-se a sucessão e a vontade
de aceitar a herança retroativa a essa data. Sobre o instituto da aceitação da
herança, analise as sentenças a seguir:

I- Exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado,


os meramente conservatórios ou os de administração e guarda provisória.
II- Importa aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos
demais coerdeiros.
III- A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando
tácita, há de resultar tão somente de atos próprios da qualidade de herdeiro.
IV- O silêncio do herdeiro diante da notificação para se manifestar se aceita ou
não a herança, será considerado como presumidamente aceito o montante
a ele deixado.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e V estão corretas.
b) ( ) As sentenças III, IV e V estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.

110
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

CONCEITO DE RENÚNCIA DA HERANÇA

1 INTRODUÇÃO

No Tópico 3, você estudará o conceito de renúncia herança. Poderá


compreender que ao contrário da informalidade do ato de aceitação da herança,
a renúncia exige forma expressa, cuja solenidade deve constar de instrumento
público ou por termos nos autos.

Compreenderá que a renúncia, por si só, é ato de abdicação e não de


transmissão de direitos e, portanto, ocorrerá a sucessão como se o renunciante
nunca tivesse existido, acrescendo-se sua porção hereditária à dos outros herdeiros
da mesma classe e, no caso de inexistência de herdeiros da mesma classe, serão
chamados para suceder os da classe seguinte.

Verificará que, como a aceitação da herança, o ato de renúncia também


é um negócio jurídico unilateral, entretanto, na renúncia não será admitida a
presunção, exigindo que esse ato seja formal, assim, não existe a possibilidade
de se realizar a renúncia da herança de forma tácita ou expressa, como ocorre na
aceitação da herança.

Ainda, compreenderá que existem duas espécies de renúncia da herança,


uma abdicativa ou renúncia propriamente dita – renúncia própria e renúncia
translativa ou renúncia imprópria. A primeira será realizada em benefício ao
monte mor ao passo que a segunda espécie se realiza quando o renunciante indica
pessoa determinada.

Ao fim, estudaremos sobre as restrições legais ao direito de renunciar e os


efeitos produzidos pelo ato da renúncia.

2 DA RENÚNCIA E SUAS ESPÉCIES


Da leitura do Art. 1.806 do Código Civil, observamos que ele expressa
a permissão para a realização de renúncia da herança mediante termo judicial,
ou seja, nos próprios autos do inventário, bem como autoriza a realização da
renúncia através de instrumento público. Em ambos os casos, a renúncia deve
constar de forma expressa.

111
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Para tanto, temos que a renúncia é um ato expresso e solene, não podendo
ser realizada de forma tácita ou presumida, devendo constar ainda a livre e
espontânea vontade do renunciante herdeiro. Este entendimento é trazido pela
doutrina de Monteiro (2008, p. 53):

A renúncia não pode ser inferida de simples conjecturas; ela não


se presume, requer ato positivo de vontade de renunciar e exige
solenidade (nemo júri suo facile renuntiare praesumitur). Não pode ser
tácita a renúncia, como sucede com a aceitação; precisa ser formulada
de modo expresso e deve constar obrigatoriamente como ato solene
que é, de instrumento público ou de termo nos autos do inventário,
com a homologação do juiz (Art. 1806).

Na mesma linha, pontua Flávio Tartuce (2019, p. 90) “que não se admite
renúncia tácita, presumida ou verbal, muito menos que o ato seja feito por
instrumento particular mesmo que as assinaturas tenham firma reconhecidas”.

A propósito, a jurisprudência dos nossos tribunais ao tratarem sobre as


exigências legais para validade do ato de renúncia, é firme de que se não forem
cumpridas referidas exigências haverá nulidade do ato praticado:

RECURSO ESPECIAL. HOMOLOGAÇÃO EM ARROLAMENTO


SUMÁRIO. AÇÃO DE NULIDADE DE PARTILHA. DECADÊNCIA.
NÃO OCORRÊNCIA. PETIÇÃO DE ARROLAMENTO SUMÁRIO.
ADVOGADO SEM PODERES ESPECÍFICOS. TRANSMISSÃO DE
BENS DE PESSOA VIVA E EXCLUSÃO DA HERANÇA. NULIDADE
RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE CONSENTIMENTO EM RELAÇÃO
À PARTILHA DOS BENS E À VERACIDADE DO DOCUMENTO
PARTICULAR. SÚM 7/STJ. RENÚNCIA À HERANÇA. ATO
SOLENE. INSTRUMENTO PÚBLICO OU TERMO JUDICIAL. (CC,
ART. 1806). [...] 7. A renúncia da herança é ato solene, exigindo o art.
1.806 do CC, para o seu reconhecimento, que conste "expressamente de
instrumento público ou termo judicial", sob pena de nulidade (CC, art.
166, IV), não produzindo qualquer efeito, sendo que "a constituição de
mandatário para a renúncia à herança deve obedecer à mesma forma,
não tendo validade a outorga por instrumento particular" (REsp
1.236.671/SP, Rel. p/ Acórdão Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma,
julgado em 09/10/2012, DJe 4/3/2013). 8. Recurso especial não provido.
(REsp 1551430/ES, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Rel.
p/ Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 21/9/2017, DJe 16/11/2017) (STJ, 2017).

Vale ressaltar que nos termos do parágrafo único do Art. 1.804 do


Código Civil, caso haja a renúncia da herança por parte do herdeiro, não haverá
a transmissão da herança, ou seja, o herdeiro renunciante é considerado como
se nunca tivesse existido para o direito das sucessões, sendo que esses efeitos
retroagem até a data da morte do autor da herança.

Sobre o tema, nosso tribunal tem se manifestado neste mesmo sentido,


de que: a) é garantido ao titular da vocação hereditária o direito de abdicar, por
meio da renúncia; b) o ato de renúncia da herança exige forma expressa, cuja
solenidade deve constar no instrumento público ou nos termos dos autos; c) a
sucessão ocorrerá como se o renunciante nunca tivesse existido, veja:

112
TÓPICO 3 — CONCEITO DE RENÚNCIA DA HERANÇA

RECURSO ESPECIAL. SUCESSÃO. RENÚNCIA à HERANÇA.


ATO FORMAL E SOLENE. ESCRITURA PÚBLICA. ATO NÃO
SUJEITO À CONDIÇÃO OU TERMO. EFEITO DA RENÚNCIA:
RENUNCIANTES CONSIDERADOS COMO NÃO EXISTENTES.
1. A qualidade de herdeiro legítimo ou testamentário não pode ser
compulsoriamente imposta, garantindo-se ao titular da vocação
hereditária o direito de abdicar ou declinar da herança por meio da
renúncia expressa, preferindo conservar-se completamente estranho
à sucessão. 2. Ao contrário da informalidade do ato de aceitação
da herança, a renúncia exige forma expressa, cuja solenidade deve
constar de instrumento público ou por termos nos autos (Art. 1.807),
ocorrendo a sucessão como se o renunciante nunca tivesse existido,
acrescendo-se sua porção hereditária à dos outros herdeiros da mesma
classe. 3. A renúncia e a aceitação à herança são atos jurídicos puros
não sujeitos a elementos acidentais. Essa a regra estabelecida no caput
do Art. 1.808 do Código Civil, segundo o qual não se pode aceitar ou
renunciar a herança em partes, sob condição (evento futuro incerto)
ou termo (evento futuro e certo). 4. No caso dos autos, a renúncia
operada pelos recorrentes realizou-se nos termos da legislação de
regência, produzindo todos os seus efeitos: a) ocorreu após a abertura
da sucessão, antes que os herdeiros aceitassem a herança, mesmo que
presumidamente, nos termos do Art. 1.807, do CC/2002; b) observou-
se a forma por escritura pública, c) por agentes capazes, havendo
de se considerar que os efeitos advindos do ato se verificaram.
5. Nessa linha, perfeita a renúncia, considera-se como se nunca
tivessem existido os renunciantes, não remanescendo nenhum direito
sobre o bem objeto do negócio acusado de nulo, nem sobre bem algum
do patrimônio. 6. Recurso especial não provido. RECURSO ESPECIAL
Nº 1.433.650 – GO (2013/0176443-1) RELATOR: MINISTRO LUIS
FELIPE SALOMÃO – Data da publicação 4/2/2020 (STJ, 2020).

O Art. 1.806 do Código Civil brasileiro ainda delibera acerca do modo em


que poderá ser manifestada a renúncia abdicativa ou renúncia propriamente dita
– renúncia própria. Nesta espécie de renúncia você, acadêmico, poderá observar
que a renúncia se dará sem que o herdeiro tenha praticado qualquer ato que
exprima aceitação da herança, sendo essa espécie de renúncia pura e simples, em
benefício do monte hereditário.

A espécie de renúncia denominada abdicativa, somente será válida se


constar expressamente de instrumento público ou de termo nos autos, conforme se
depreende do Art. 1.806 do Código Civil. Significa dizer, portanto, que a renúncia
abdicativa, é um ato essencialmente de direito material e possui como requisito
de validade e como condição de eficácia a prática de um ato processual, o termo
de renúncia, acompanhado de posterior ato decisório, a saber, a homologação por
sentença pelo juiz ou ainda a apresentação pelo renunciante de um instrumento
público que expressamente conste a renúncia e que deve ser apresentado na ação
de inventário e partilha.

Para tanto temos que a espécie de renúncia abdicativa é realizada de forma


pura e simples, sem que seja realizada em favor de uma determinada pessoa, e
sim em favor do monte mor hereditário.

113
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

No que diz respeito à espécie de renúncia translativa, essa não se


confunde com cessão de direitos hereditários, muito embora exija-se, para a sua
configuração, a presença de dois atos, aceitando a herança e, em seguida, doando
essa herança a alguém.

Pontua Carlos Roberto Rios Gonçalves (2008), através de sua doutrina


que, ao renunciar em favor de determinada pessoa, caracterizado essa a renúncia
translativa, exigindo-se a presença de dois atos, o aceite tácito da herança e sem
seguida a sua doação.

O referido autor aponta para a possibilidade de divergência no


entendimento relacionado a essa possibilidade de renúncia. Para alguns, seria
uma renúncia translativa, para outros, a cessão ou desistência da herança.

O herdeiro que renuncia em favor de determinada pessoa, citada


nominalmente, está praticando dupla ação: aceitando tacitamente a
herança e, em seguida, doando-a. Alguns entendem que, neste último
caso, não há renúncia ou repúdio, mas sim cessão ou desistência da
herança. Outros, no entanto, preferem denominar o ato renúncia
translativa, que pode ocorrer, também, mesmo quando pura e simples,
se manifestada depois da prática de atos que importem aceitação,
como a habilitação no inventário, manifestação sobre a avaliação, sobre
as primeiras e últimas declarações etc. Preleciona a propósito Alberto
Trabucchi que a verdadeira renúncia é a abdicativa, feita gratuita e
genericamente em favor de todos os coerdeiros. Só produzirá efeitos se
observada de forma solene. Coisa diversa é a renúncia translativa, que
implica aceitação e transferência posterior dos direitos hereditários
(GONÇALVES, 2008, p. 85-86).

Diniz (2010, p. 78) ressalta para a existência de apenas uma espécie


autêntica de renúncia, para a autora, “só é autêntica renúncia a abdicativa, ou
seja, cessão gratuita, pura e simples, feita indistintamente a todos os coerdeiros”.

A jurisprudência por sua vez admite a existência de duas espécies de


renúncia, diferenciando-as no sentido de que a primeira renúncia abdicativa é
aquela que realizada em benefícios a todos os coerdeiros, definindo-a como a
verdadeira renúncia, já a translativa seria aquela no qual o herdeiro transfere sua
herança a determinada pessoa.

Em sede de inventário, é possível identificar dois tipos de renúncia,


a denominada renúncia translativa, pela qual o herdeiro transfere
bem a determinada pessoa, a quem normalmente indica, e a renúncia
abdicativa propriamente dita, pela qual renuncia à herança em
benefício de todos os coerdeiros da mesma classe ou, na falta destes,
da classe subsequente, sendo somente essa última espécie considerada
a verdadeira renúncia, como esclarece Dolor Barreira. RECURSO
ESPECIAL Nº 685.465 – PR (2004/0103882-0) RELATOR: MINISTRO
RAUL ARAÚJO (STJ, 2015).

114
TÓPICO 3 — CONCEITO DE RENÚNCIA DA HERANÇA

Para tanto temos que a natureza jurídica do ato praticado, de renúncia


(ato jurídico abdicativo ou translativo), diferenciam-se nos termos anteriormente
apontados. Na prática, referidas diferenças entre essas espécies, ensejarão no
recolhimento ou não dos tributos respectivos, nos casos de renúncia abdicativa,
será recolhido o importo causa mortis, ao passo que na renúncia translativas
deverão ser recolhidos dois impostos, o de causas mortis e o inter vivos.

Compreendendo o conceito de renúncia e a forma como ela deve ser


realizada para que não seja declarada a nulidade do ato, verificando as espécies
existentes em nosso ordenamento jurídico, podemos passar ao estudo seguinte,
que irá tratar das restrições legais ao direito de renunciar a herança.

E
IMPORTANT

• A renúncia é um ato expresso e solene, não podendo ser realizada de forma tácita ou
presumida.
• A renúncia é realizada através de instrumento público ou de termo nos autos do
inventário, com a homologação do juiz.
• Ocorrendo a renúncia não haverá a transmissão da herança, ou seja, o herdeiro
renunciante é considerado como se nunca tivesse existido para o direito das sucessões,
sendo que estes efeitos retroagem até a data da morte do autor da herança.
• A espécie de renúncia abdicativa é realizada de forma pura e simples, sem que seja
realizada em favor de uma determinada pessoa, e sim em favor do monte mor hereditário.
• A renúncia translativa é aquela no qual o herdeiro transfere sua herança a determinada
pessoa. Estão presentes dois atos, de aceitação e posterior doação.

3 RESTRIÇÕES LEGAIS AO DIREITO DE RENUNCIAR


Passamos a compreender quais restrições existem ao direito de renunciar
a herança, muito embora já tenhamos apreendido que ao herdeiro não lhe é
obrigado a aceitar a herança que lhe é conferida pelo autor da herança.

No entanto, você deve compreender que o ato de renúncia ao ser exercido


deverá preencher alguns requisitos necessários, tais como a capacidade jurídica
plena do renunciante, anuência do cônjuge, caso o herdeiro que renuncia for
casado, exceto regime de separação absoluta de bens e que não seja realizada
de forma a prejudicar credores. Isso porque: “[...] o ato de renúncia da herança
exige forma expressa, cuja solenidade deve constar no instrumento público ou
nos termos dos autos [...] (MONTEIRO, 2008, p. 53).

115
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

No que diz respeito à capacidade jurídica plena, temos que essa condição
é a que possibilita a pessoa física ou jurídica de exercerem pessoalmente os atos
da vida civil, adquirindo direitos e deveres.

Você, acadêmico, já deve ter estudado sobre os institutos da capacidade


e incapacidade, e verificado junto à doutrina que a presença de discernimento e
da racionalidade é o que diferencia uma da outra. Relembre: “[...] a capacidade
de compreensão e análise, provém de uma característica da condição humana,
se não a mais importante, a que melhor define a nossa espécie: a racionalidade”
(MORAES, 2010, p. 191-192).

Vale esclarecer ainda que a personalidade jurídica não se confunde com


a capacidade jurídica, sendo a primeira um conceito absoluto e a segunda um
conceito relativo. Maria Celina Bodin de Moraes (2010, p. 191) leciona que: “quem
tem discernimento é considerado plenamente capaz; quem o tem reduzido é tido
por relativamente incapaz; e aquele que não o tem é declarado absolutamente
incapaz”.

Assim, para realizar a renúncia o sujeito herdeiro e renunciante deve ser


plenamente capaz, com capacidade jurídica plena, para realizar este ato jurídico
unilateral, sob pena de o ato não ter validade.

Na doutrina de Monteiro (2008, p. 53), essa exigência se dá em virtude dos


efeitos ocasionados pelo ato da renúncia, veja:
Devido aos seus efeitos, exige plena capacidade jurídica do renunciante.
Não pode destarte ser realizada por incapaz, nem pelo representante
legal, a menos que obtenha prévia permissão da autoridade judiciária
competente. Feita por mandatário, a procuração deve conter poderes
especiais e expressos (Art. 661, § 1º).

É salutar esclarecer que no caso de incapaz – relativa ou absolutamente –


assistido por representante legal e que pretenda renunciar, esse ato de renúncia só
terá validade se obtiver prévia autorização judicial, e o juiz somente a concederá
se provada a necessidade ou evidente utilidade para o incapaz (o que dificilmente
ocorre em se tratando de renúncia de direitos). Ademais, como bem ressaltou o
Monteiro (2008), caso seja realizada por mandatário, a procuração deve conter
poderes especiais e expresso para realizar a renúncia.

Com relação ao renunciante casado ou convivente em união estável, exceto


se o regime de bens for o da separação absoluta, exige-se que haja a anuência
do seu cônjuge, conforme interpretação extensiva e em regra geral do Art. 1.647,
I. Essa anuência também pode ser denominada de outorga uxória, marital ou
conjugal.

A ausência da referida anuência repercute na validade do ato praticado


pelo outro cônjuge, isso porque o objetivo dessa exigência é justamente proteger
o patrimônio comum do casal contra atos que visam sua dilapidação.

116
TÓPICO 3 — CONCEITO DE RENÚNCIA DA HERANÇA

Insta ressaltar que há divergência doutrinaria e jurisprudencial acerca


da necessidade dessa anuência em todos os regimes de bens com exceção da
separação absoluta. Entretanto, a corrente majoritária vai no sentido de ser
obrigatória a anuência do cônjuge nos termos da interpretação conjunta do Art.
1.647, I e Art. 80, I, ambos do Código Civil.

Ao fim, temos a última restrição estabelecida com relação ao direito de


renunciar, que se trata da renúncia realizada com o intuito de prejudicar o credor.
Quando ocorrer a renúncia nesses casos, ela será considerada ineficaz, podendo o
credor se habilitar nos autos do inventário.

Assim, temos que, se a renúncia for lesiva aos credores do herdeiro, esses
credores poderão aceitá-la em nome do renunciante, nos termos do Art. 1.813 do
Código Civil: “Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à
herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante”
(BRASIL, 2002).

Nesse contexto, nos termos da legislação de regência, ante a restrição


ao direito de renúncia no caso de o credor do herdeiro ser prejudicado, deve
ele habilitar-se no processo de inventário, nos termos do Art. 1.813, § 1º, do
Código Civil, cabendo ao juiz do inventário autorizar a aceitação, à vista do
caso concreto.

Nesta linha, faça a leitura da jurisprudência colacionada a seguir que


determina a reserva por parte do juiz de bens suficientes para pagar o credor,
mesmo em caso de realizado o ato de renúncia pelo herdeiro.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCEDIMENTO DE


INVENTÁRIO. DECISÃO AGRAVADA QUE DEFERIU O
PEDIDO FORMULADO PELA UNIÃO FEDERAL DE RESERVA
DE BENS, ENTENDENDO QUE O PARCELAMENTO NÃO
EXTINGUE O DÉBITO E NEM GARANTE O PAGAMENTO,
E HOMOLOGOU A RENÚNCIA À HERANÇA PELO
HERDEIRO DEVEDOR E A ACEITAÇÃO DA HERANÇA
PELA CREDORA. [...]. PARCELAMENTO DO DÉBITO
QUE NÃO EXTINGUE A OBRIGAÇÃO. MANUTENÇÃO
DA DECISÃO DE RESERVA DE BENS EM INVENTÁRIO.
RENÚNCIA. ACEITAÇÃO DA RENÚNCIA PELA CREDORA
QUE SE REVELA POSSÍVEL. RENÚNCIA DE DIREITOS
HEREDITÁRIOS QUE NÃO PODE PREJUDICAR CREDORES.
PREVISÃO DO ART. 1.813 DO CC/2002. [...]. Nos termos do
Art. 643 do Código de Processo Civil de 2015, o juiz mandará
reservar, em poder do inventariante, bens suficientes para pagar
o credor quando a dívida constar de documento que comprove
suficientemente a obrigação e a impugnação não se fundar em
quitação. [...] Recurso de agravo de instrumento parcialmente
conhecido porque agrava de expedição de alvará, questão
não enfrentada na decisão agravada, e desprovido na parte
conhecida. (TJ/PR – 11ª C. Cível – 0059300-08.2019.8.16.0000 –
Mamborê – rel.: desembargador Sigurd Roberto Bengtsson – J.
24/5/2020) (TJ, 2020).

117
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

NOTA

O ato de renúncia ao ser exercido deverá preencher alguns requisitos


necessários, como a capacidade jurídica plena do renunciante, anuência do cônjuge, caso
o herdeiro que renuncia for casado, exceto regime de separação absoluta de bens e que
não seja realizada de forma a prejudicar credores.

3.1 EFEITOS DA RENÚNCIA

Realizado o ato de renúncia, haverá como efeito prático a exclusão do


herdeiro renunciante da sucessão, não fazendo mais jus esse herdeiro aos bens
que lhe competiam e que foram deixados pelo autor da herança.

Ademais, o efeito contido após a realização do ato é ex tunc, para tanto,


retroagirá até a data da abertura da sucessão, que se dá com a morte do indivíduo
como já estudamos alhures.

Sobre as consequências da eficácia retroativa, Orlando Gomes (2012, p.


26) é enfático de que os herdeiros do renunciante não poderão representá-lo: “[...]
a renúncia tem eficácia retroativa. Tem-se o renunciante como se jamais tivesse
sido chamado à sucessão. Consequentemente, os herdeiros do renunciante não o
representam”.

Assim, outro efeito caracterizado pela renúncia está contido no Art. 1.811
do Código Civil, que proíbe o direito de representação do herdeiro renunciante.
Em termos práticos, os descendentes do herdeiro renunciante não poderão herdar
por representação, após o ato de renúncia, caso haja herdeiros não renunciante da
mesma classe do herdeiro renunciante.

“Art. 1811: Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante.


Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma
classe renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio,
e por cabeça” (BRASIL, 2020).

Diniz (2010) alerta para uma possibilidade contida na segunda parte


constante no Art. 1.811, de o herdeiro do herdeiro renunciante poder suceder.
Para a autora, isso poderá ocorrer “[...] se ele for o único herdeiro da classe ou se
os demais desta também repudiarem a herança, seus filhos poderão ser chamados
à sucessão, por direito próprio e por cabeça” (DINIZ, 2010, p. 77).

118
TÓPICO 3 — CONCEITO DE RENÚNCIA DA HERANÇA

Um fato relevante e que vale a reflexão por você, acadêmico, é que após
realizada a renúncia, sendo o herdeiro renunciante excluído da sucessão e caso
venham a encontrar mais bens do autor da herança, esse herdeiro não poderá
igualmente participar da divisão daquele bem encontrado posteriormente ao ato
da renúncia.

O Art. 1.810 do novel determina o que deverá ocorrer com o quinhão


daquele que realizou a renúncia pura e simples. “Na sucessão legítima, a parte do
renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único
desta, devolve-se aos da subsequente” (BRASIL, 2020).

Outro efeito do ato de renúncia contido em nosso ordenamento jurídico é


de que a renúncia é um negócio jurídico irrevogável, a não ser que se comprove
que ela tenha ocorrido através de erro ou dolo, ou por violência, o que gerará a
anulabilidade do ato, através de ação judicial.

Caso não se configure que a renúncia tenha ocorrido nessas situações,


a irrevogabilidade é aplicada ao ato realizado pelo herdeiro, nos termos do Art.
1.812 do Código Civil. Diferente não é o entendimento da jurisprudência sobre a
irrevogabilidade do ato de renúncia:
AGRAVO. INVENTÁRIO. RENÚNCIA. NEGÓCIO JURÍDICO
IRREVOGÁVEL. ATRAVÉS DA VIA PROCESSUAL DO AGRAVO
DE INSTRUMENTO. Que a renúncia é negócio jurídico irrevogável,
sendo certo que, uma vez feito pela forma legal, o herdeiro renunciante
perde o direito à herança, pois se tem como não transmitida ao
renunciante. Somente através de ação própria poderão os agravantes,
se assim desejarem, discutir sobre direito de se anular o ato formal
Recurso desprovido. Íntegra do Acórdão – Data de Julgamento:
21/07/20090050666-25.2008.8.19.0000 (2008.002.29325) – AGRAVO DE
INSTRUMENTO – 1ª Ementa DES. JORGE LUIZ HABIB – Julgamento:
21/7/2009 – DÉCIMA OITAVA CÂMARA CIVEL (TJ, 2009).

Em síntese, até aqui compreendemos quais os efeitos gerados pelo


ato de renúncia, a) a exclusão do herdeiro renunciante da sucessão; b) ex tunc
– o ato retroage até a data da abertura da sucessão; c) proibida a sucessão por
representação, não herdando os herdeiros do herdeiro renunciante – a não ser
que seja por direito próprio ou por cabeça; d) a renúncia é negócio jurídico
irrevogável – exceção de quando realizada por erro, dolo ou violência.

119
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

FIGURA 14 – IMPORTANTE LEMBRAR: EX TUNC OU EX NUNC?

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/340444053078882963/>. Acesso em: 12 mar. 2021.

E
IMPORTANT

• Efeitos 1 e 2: A exclusão do herdeiro renunciante da sucessão, ex tunc o ato retroage até


a data da abertura da sucessão.
• Efeitos 3 e 4: Proibida a sucessão por representação, não herdando os herdeiros do
herdeiro renunciante – a não ser que seja por direito próprio ou por cabeça; a renúncia
é negócio jurídico irrevogável – exceção de quando realizada por erro, dolo ou violência.

120
TÓPICO 3 — CONCEITO DE RENÚNCIA DA HERANÇA

FIGURA 15 – SÍNTESE: DIFERENÇA ENTRE ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA

FONTE: <https://pt-br.facebook.com/tudomapeado/photos/mapinhaaceita%C3%A7%C3%A3o-e-
-ren%C3%BAncia-de-heran%C3%A7a-/958977197623587/>. Acesso em: 12 mar. 2021.

121
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A renúncia é um ato expresso e solene, não podendo ser realizada de forma


tácita ou presumida.

• A renúncia é realizada através de instrumento público ou de termo nos autos


do inventário, com a homologação do juiz.

• Ocorrendo a renúncia não haverá a transmissão da herança, ou seja, o herdeiro


renunciante é considerado como se nunca tivesse existido para o direito das
sucessões, sendo que esses efeitos retroagem até a data da morte do autor da
herança.

• A espécie de renúncia abdicativa é realizada de forma pura e simples, sem que


seja realizada em favor de uma determinada pessoa, e sim em favor do monte
mor hereditário.

• A renúncia translativa é aquela no qual o herdeiro transfere sua herança a


determinada pessoa. Estão presentes dois atos, de aceitação e posterior doação.

• O ato de renúncia ao ser exercido deverá preencher alguns requisitos


necessários, tais como a capacidade jurídica plena do renunciante, anuência do
cônjuge, caso o herdeiro que renuncia for casado, exceto regime de separação
absoluta de bens e que não seja realizada de forma a prejudicar credores.

• Nos Efeitos 1 e 2, a exclusão do herdeiro renunciante da sucessão, ex tunc o ato


retroage até a data da abertura da sucessão.

• Nos Efeitos 3 e 4, é proibida a sucessão por representação, não herdando os


herdeiros do herdeiro renunciante – a não ser que seja por direito próprio ou
por cabeça; a renúncia é negócio jurídico irrevogável – exceção de quando
realizada por erro, dolo ou violência.

122
AUTOATIVIDADE

1 Considere o seguinte problema: João dos Anjos faleceu e deixou como


herdeiros seus três filhos: Rafaela, Rodrigo e Ricardo. No inventário judicial
de João dos Anjos, seu filho Ricardo, devedor contumaz na praça, renunciou
à herança, através de instrumento público, no dia 1º/10/2020. Considerando
que o falecido não deixou testamento e nem dívidas a serem pagas, o valor
líquido do monte a ser partilhado era de R$ 150.000,00. Ângelo, terceiro
em relação à sucessão, é credor de Ricardo, no valor de R$ 50.000,00. No
dia 9/10/2019, Bruno tomou conhecimento da manifestação de renúncia
supracitada e, no dia 20/11/2019, após procurar uma advogada, tomou as
medidas cabíveis. Sobre esta situação, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Em nenhuma hipótese Ângelo poderá contestar a renúncia da herança


feita por Ricardo, eis que o ato de renúncia é irrevogável.
b) ( ) Ângelo poderá aceitar a herança em nome de Ricardo, desde que o faça
no prazo de 40 dias seguintes ao conhecimento do fato.
c) ( ) Ângelo poderá, mediante autorização judicial, aceitar a herança em
nome de Ricardo, recebendo integralmente o quinhão do renunciante.
d) ( ) Ângelo poderá, mediante autorização judicial, aceitar a herança em
nome de Ricardo, no limite de seu crédito.

2 A renúncia à herança é o ato unilateral manifestado pelo herdeiro ou


legatário renunciante no sentido de abdicar, repelir, não aceitar o direito de
receber a herança ou o legado. Com relação ao ato de renúncia referente à
herança, analise as sentenças a seguir:

I- É autorizado ao herdeiro renunciante a retratação com relação ao ato


de renúncia, caso sobrevier bem que este herdeiro desconhecia, ficando
autorizado a receber os direitos hereditários sobre este bem desconhecido
a época da renúncia.
II- Não é possível após o ato de renúncia que haja sucessão por representação.
III- Não pode ser tácita a renúncia, como sucede com a aceitação; precisa ser
formulada de modo expresso e deve constar obrigatoriamente, como ato
solene que é, de instrumento público ou de termo nos autos do inventário,
com a homologação do juiz.
IV- O ordenamento jurídico brasileiro autoriza a realização de renúncia
parcial dos bens deixados pelo de cujus, por parte do herdeiro renunciante.

Assinale a afirmação CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença IV está correta.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.

123
3 Ocorrendo a morte, os bens deixados pelo de cujus são transmitidos
imediatamente aos herdeiros. Em caso de inventário, que é um procedimento
comum para a transferência dos bens deixados aos herdeiros, os quinhões
hereditários podem ser alterados por meio da renúncia da herança ou cessão
de bens. Acerca da renúncia da herança, classifique com V as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) É garantido ao titular da vocação hereditária o direito de abdicar, por


meio da renúncia.
( ) O ato de renúncia da herança exige forma expressa, cuja a solenidade
deve constar no instrumento público ou nos termos dos autos.
( ) Caso haja a renúncia da herança por parte do herdeiro, não haverá a
transmissão da herança, ou seja, o herdeiro renunciante é considerado
como se nunca tivesse existido para o direito das sucessões, sendo que
esses efeitos retroagem até a data da morte do autor da herança.
( ) O Ato de renúncia da herança exige forma expressa, cuja a solenidade
deve constar no instrumento público ou nos termos dos autos.
( ) Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança,
poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F – F – V.
b) ( ) V – V – V – V – V.
c) ( ) F – F – V – V – F.
d) ( ) V – V – V – V – F.

124
TÓPICO 4 —
UNIDADE 2

CONCEITO DA HERANÇA JACENTE E VACANTE

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, você estudará sobre o conceito de herança jacente e herança


vacante. Poderá compreender que a herança jacente se dará quando um indivíduo
falece sem deixar testamento nem herdeiro legítimo notoriamente conhecido.

Notará que o nosso ordenamento jurídico resguarda o patrimônio do


de cujus que deixou bens, sem que haja herdeiros legítimos ou testamentário,
destinando a princípio, um curador que guarde e administre a herança deixada
pelo falecido. Ainda, verificará que, com a renúncia de todos os herdeiros, a
herança poderá ser jacente e de imediato será declarada sua vacância.

Observará que a legislação estipula dois prazos, o primeiro deles é para


que seja declarada vaga a herança, e que após essa declaração a herança seja
remetida ao poder público. O segundo prazo, que é decadencial, estipulará um
período para que os herdeiros possam reclamar da herança, antes que os bens
arrecadados sejam passados domínio do poder público.

Estudará o instituto da herança vacante, que é concluída com a remessa


dos bens deixados pelo de cujus ao Poder Público. Compreenderá que os bens
arrecadados somente passarão ao domínio do poder público apenas após a
ausência de herdeiros que se habilitassem no período da jacência.

Assim, concluirá que o estado da herança jacente é temporário, enquanto o


estado da herança vacante é definitivo, respeitado o prazo para a sua reclamação.

2 DA HERANÇA JACENTE
Durante todo o nosso estudo sobre a herança, que é o patrimônio, bens
e obrigações deixados pelo de cujus, observamos a existência de herdeiros aptos
a recebê-la, recaindo àqueles toda a atividade a ser realizada com relação a esta
herança que lhes foi conferida no momento da abertura da sucessão.

125
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

FIGURA 16 – O QUE É HERANÇA JACENTE?

FONTE: <https://s.dicio.com.br/heranca-jacente.jpg>. Acesso em: 12 mar. 2021.

Contudo, o que ocorre quando não há a existência da figura do herdeiro,


seja ele legítimo ou testamentário?

O Art. 28 do Código Civil, em seu § 2º dispõe que, caso não compareça


herdeiro para requerer inventário, após o prazo de 30 dias da sentença que
determina a abertura da sucessão provisória, será realizada a arrecadação dos
bens, nos termos preceituados nos Arts. 1.819 e 1823 do civilista.

Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória


só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela
imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura
do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se
o ausente fosse falecido.
§ 1º Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados
na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao
juízo competente.
§ 2º Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o
inventário até trinta dias depois de passar em julgado a sentença
que mandar abrir a sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação
dos bens do ausente pela forma estabelecida nos Arts. 1.819 a 1.823
(BRASIL, 2020).

Para tanto, temos que o legislador brasileiro previu essa situação e trouxe
no Código Civil, junto ao Art. 1.819, a seguinte dicção:

Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo


notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados,
ficarão sob a guarda e administração de um curador, até a sua entrega
ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância
(BRASIL, 2002).

126
TÓPICO 4 — CONCEITO DA HERANÇA JACENTE E VACANTE

O doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2014), ao conceituar esse


instituto da herança jacente, confirma que ele se dará quando estivermos diante de
uma situação em que não tenhamos um herdeiro certo e determinado ou quando
não se saiba a existência desse. O autor inclui a herança renunciada, como uma
das possibilidades de deixar o patrimônio do de cujus sem um herdeiro. “Assim,
por direito pátrio, é: a) jacente – quando não há herdeiro certo e determinado, ou
quando não se sabe da existência dele, ou ainda, quando sabe da existência dele,
ou ainda, quando é renunciada [...]” (GONÇALVES, 2014. p. 134).

Da leitura do Art. 1.819 do código civilista, você, acadêmico, pode observar


que na segunda parte desse dispositivo há previsão de guarda e administração
dos bens por parte de um curador, caso seja configurada a hipótese jacência. Para
tanto, nesta hipótese os bens do de cujus serão arrecadados por determinação
judicial e ficarão sob a guarda e administração de um curador.

Isso ocorre para que a massa de bens e obrigações deixadas pelo autor da
herança não fique vulnerável, podendo ser ocupada por alguém ou até mesmo
degradada pelo tempo. Para o professor Zeno Veloso (2002, p. 1663), não se admite
em nosso ordenamento jurídico herança sem dono, nas palavras do doutrinador:
“Em nosso sistema, não há herança sem dono, definitivamente sem dono”.

Para tanto, conforme discorre Monteiro (2003), o acervo será administrado


por um curador, com a fiscalização do poder judiciário até que se habilitem os
herdeiros, que até o presente momento são incertos e desconhecidos ou até que
sobrevenha sentença que declare a respectiva vacância.

Não apenas o Código Civil trata sobre a herança jacente, como também o
Código de Processo Civil que preceitua que quando do falecimento do de cujus
e não havendo nenhum herdeiro sucessível, deverá ser aberta a arrecadação dos
seus bens pelo Poder Público competente.

Art. 738. Nos casos em que a lei considere jacente a herança, o juiz
em cuja comarca tiver domicílio o falecido procederá imediatamente à
arrecadação dos respectivos bens.
Art. 739. A herança jacente ficará sob a guarda, a conservação e a
administração de um curador até a respectiva entrega ao sucessor
legalmente habilitado ou até a declaração de vacância.

As responsabilidades determinadas a esse curador, vem disciplinadas no


§ 1º do Art. 739 do Código de Processo Civil, que assim dispõe:
[...] § 1º Incumbe ao curador:
I - representar a herança em juízo ou fora dele, com intervenção do
Ministério Público;
II - ter em boa guarda e conservação os bens arrecadados e promover
a arrecadação de outros porventura existentes;
III - executar as medidas conservatórias dos direitos da herança;
IV - apresentar mensalmente ao juiz balancete da receita e da despesa;
V - prestar contas ao final de sua gestão (BRASIL, 2020).

127
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Diniz (2012) afirma que na ausência de herdeiros legais ou testamentários


e no caso de renúncia, estaremos diante de herança jacente, a doutrinadora ainda
aprofunda, nessa última hipótese (renúncia), e é categórica no sentido de que
a declaração da herança em vacância se realizará imediatamente. “Ter-se-á,
portanto, herança jacente quando não houver herdeiro legítimo ou testamentário,
notoriamente conhecido. E quando a herança for repudiada por todas a pessoas
sucessíveis, ter-se-á a declaração imediata da vacância” (DINIZ, 2012, p. 106).

Diferente não é o que preceitua Gama (2006, p. 73), segundo o autor, a


herança jacente consiste no “patrimônio deixado por quem faleceu e cujos herdeiros
não são conhecidos, por essa razão fica sob a conservação e administração de um
curador até a identificação do herdeiro hábil”.

Para tanto, podemos concluir que estaremos diante da herança jacente


quando não encontrarmos nenhum herdeiro necessário ou o testamentário de
que se tenha notícia, e se caso exista, esses simplesmente não a querem, tendo a
ela renunciado.

Ressalta-se ainda que a herança quando jacente se dá de forma temporária


e transitória, eis que a busca e a efetivação da condição desta herança irão se
perdurar quando da declaração da herança em vacante.

NOTA

Herança jacente ocorre quando não há herdeiro legítimo ou testamentário ou


quando haja todos renunciam a esta herança.
A conservação e administração da herança jacente se dá pelo curador.
Herança jacente é um estado temporário da condição da herança.

3 DA HERANÇA VACANTE
Após reconhecida a herança como jacente, e que não foram encontrados
herdeiros legais ou testamentários ou, alternativamente, mesmo que encontrados,
esses herdeiros tenham renunciado à herança e tenha sido realizada a declaração
de vacância, esses bens poderão se tornar propriedade do estado, como veremos.
“[...] vacante – quando é devolvida à fazenda pública por se ter verificado não
haver herdeiros que se habilitassem no período da jacência” (GONÇALVES, 2014.
p. 134).

128
TÓPICO 4 — CONCEITO DA HERANÇA JACENTE E VACANTE

O Art. 1.820, determina a realização de diligências e expedição de editais e


estipula prazo de um ano após a primeira publicação do edital para que a herança
seja declarada vacante.

Art. 1.820 – Praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o


inventário, serão expedidos editais na forma da lei processual, e,
decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja herdeiro
habilitado ou penda habilitação, será a herança declarada vacante
(BRASIL, 2002).

Na mesma linha, esclarece Diniz (2010, p. 97) ao afirmar que a observância


ao prazo estipulado no referido artigo é medida que se faz necessária, “Entretanto,
essa declaração não será feita senão um ano depois da primeira publicação do
edital convocatório dos interessados, desde que não haja herdeiro habilitado ou
habilitação pendente”.

Da leitura do referido dispositivo temos que será declarada vacante a


herança quando realizadas todas as diligências, incluindo aí publicação de edital
e passado um ano da primeira publicação, não surgirem pessoas sucessíveis.
Neste contexto, será deferido os bens arrecadados ao ente público designado.

Outro prazo estipulado pela legislação civilista, consta no Art. 1.822, que
estipula prazo de cinco anos a contar da abertura da sucessão, para que o herdeiro
dê início a ação de petição de herança.

Trata-se, portanto, de prazo decadencial, eis que se refere a prazo para


o exercício de um determinado direito. Frisa-se que esse herdeiro até o presente
momento seria desconhecido ou, ainda, não reconhecido como herdeiro legítimo
do de cujus.

Art. 1.822. A declaração de vacância da herança não prejudicará os


herdeiros que legalmente se habilitarem; mas, decorridos cinco anos
da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio
do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas
circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando situados
em território federal (BRASIL, 2002).

O código civilista em seu Art. 1.823 é claro e firme de que quando todos
que foram chamados a suceder renunciarem, a declaração de vacância deve ser
realizada de forma imediata.

Para Veloso (2002), o chamamento do Estado a suceder a herança vaga vai


de encontro ao interesse público e social, atendendo as necessidades políticas,
econômicas e sociais. O autor afirma que não é coerente admitir que, por falta
de herdeiros parentes sucessíveis à massa de bens deixado pelo indivíduo seja
ocupada por qualquer pessoa.

129
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

Incivil seria admitir que, pela falta de parentes sucessíveis, de cônjuge,


ou companheiro ou porque estes renunciaram à herança, ficasse a massa
de bens deixados pelo falecido como res nullius (coisas de ninguém
ou coisas sem dono), passíveis de serem ocupadas ou apropriadas
por qualquer pessoa, ou como res derelictae (coisas abandonadas). O
chamamento do Estado às heranças vagas obedece, sem dúvida, a
poderosas razões de interesse público e social, atendendo ponderáveis
necessidades políticas, econômicas e sociais (VELOSO, 2002, p. 1663).

O momento em que o poder público adquire a propriedade, dar-se-á


conforme leciona Luiz Paulo Vieira de Carvalho (2017), quando do trânsito em
julgado da sentença que transforma a herança jacente em vacante. O doutrinador
ressalta que não há necessidade de aceitação por parte do poder público, sendo a
natureza da sentença constitutiva com eficácia ex nunc.

Assim, somente no momento do trânsito em julgado da sentença que


transforma a herança jacente em vacante é que os bens arrecadados
passam à titularidade do poder público, sem que haja necessidade
de aceitação, tendo tal decisão, na realidade e na conformidade do
pensamento da atual doutrina e jurisprudência, natureza constitutiva,
com eficácia ex nunc, ou seja, para frente, e não natureza simplesmente
declaratória, como outrora se afirmava, quando, então seus efeitos
retroagiram à data da abertura da sucessão (eficácia ex tunc)
(CARVALHO, 2017, p. 267.)

A sentença que declara a vacância da herança e a remete ao poder público,


cessará de imediato os deveres imputados ao curador de guarda, conservação de
administração do monte hereditário.

Para tanto, temos que a herança vacante é o estado definitivo da herança


jacente, conforme já havíamos estudado, a herança jacente é temporária, a vacante,
por sua vez, respeitado o prazo para reclamação da herança, será definitiva.

130
TÓPICO 4 — CONCEITO DA HERANÇA JACENTE E VACANTE

FIGURA 17 – DIFERENÇA ENTRE HERANÇA JACENTE E VACANTE

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/58617232636428330/>. Acesso em: 12 mar. 2021.

E
IMPORTANT

• Herança vacante se dá quando não houver herdeiros que se habilitem no período da


jacência, sendo a herança, após todas as diligências, remetida ao poder público.
• Será declarada vacante a herança, quando realizadas todas as diligências, incluindo aí
publicação de edital e passado um ano da primeira publicação, não surgirem pessoas
sucessíveis.
• O prazo é de cinco anos a contar da abertura da sucessão, para que o herdeiro dê início
a ação de petição de herança. Este prazo é decadencial.
• A herança vacante é o estado definitivo da herança jacente, respeitando o prazo para sua
reclamação.

131
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

LEITURA COMPLEMENTAR

OS DIREITOS HEREDITÁRIOS DOS CONCEBIDOS POR INSEMINAÇÃO


ARTIFICIAL HOMÓLOGA POST MORTEM DO AUTOR DA HERANÇA

João Vitor Borges Milhomem

[...]

5 A SUCESSÃO DOS CONCEBIDOS POR FECUNDAÇÃO


ARTIFICIAL HOMÓLOGA POST MORTEM DO AUTOR DA HERANÇA

A inseminação artificial é uma das técnicas mais utilizadas atualmente.


Ela pode ser heteróloga ou homóloga, diferença já explicada alhures, sendo essa
última o ponto principal do presente estudo, mais especificamente a inseminação
homóloga que ocorre após o falecimento do marido, doador do sêmen.

É cediço que o direito civil reconhece como filhos os nascidos pelo uso
da referida técnica, mesmo que concebidos após a morte do cônjuge. Entretanto,
se já são reconhecidos como filhos, por que não se configuram como herdeiros
legítimos necessários? Esse é um dos pontos que serão estudados frente aos
pensamentos doutrinários, levando em consideração os princípios presentes na
Constituição Federal, tendo em vista a falta de legislação específica a respeito.

6 A INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL HOMÓLOGA POST MORTEM

As técnicas de reprodução assistida, como visto, vieram auxiliar aquelas


pessoas que desejam ter filhos, porém, são acometidas pela infertilidade ou
esterilidade. Na tentativa de se adequar a essa modernização, o Código Civil
inseriu os Incisos III, IV, e V ao Art. 1.597, presumindo, como nascidos na
constância do casamento, os filhos nascidos por meio das técnicas de reprodução
assistida.

A inseminação homóloga, a qual utiliza gametas do próprio casal, está


prevista no Inciso III do mencionado artigo, considerando filho nascido na
constância do casamento aquele advindo de fecundação artificial homóloga,
mesmo que falecido o marido. Essa última parte do Inciso III considera a
possibilidade da inseminação homóloga mesmo que o marido tenha falecido,
admitindo-se, portanto, a chamada inseminação póstuma, ou seja, é aquela que
ocorre quando se utiliza o óvulo ou sêmen conservado após a morte daquele que
o doou.

A Jornada de Direito Civil que foi realizada no Superior Tribunal de


Justiça no ano de 2002, interpretou que, para o reconhecimento da paternidade do
marido que veio a falecer, seria necessário que: A mulher, ao se submeter a uma
das técnicas de reprodução assistida com o material genético do falecido, esteja

132
TÓPICO 4 — CONCEITO DA HERANÇA JACENTE E VACANTE

na condição de viúva, sendo obrigatório, ainda, que haja autorização escrita do


marido para que se utilize seu material genético após sua morte.

No mesmo sentido, a Resolução nº 2121/2015 do Conselho Federal de


Medicina, em sua Seção VIII dispõe que “É permitida a reprodução assistida post
mortem desde que haja autorização prévia específica do falecido para o uso do
material biológico criopreservado, de acordo com a legislação vigente”. Ocorre
que em diversos casos a mulher tem o desejo de ter um filho do falecido marido,
porém não detém dessa autorização escrita. Surgem, portanto, os diversos
conflitos acerca do tema. O marco que inicia as discussões sobre o assunto ocorreu
em 1984, na França, com o famoso caso conhecido como “Affair Parpalaix”.

Alain Parpalaix após descobrir que estava com câncer nos testículos e
correndo sérios riscos de ficar estéril devido às quimioterapias para o tratamento
da doença, depositou seu material genético em um banco de sêmen, para que,
após o tratamento, conseguisse ter um filho com sua mulher Corine Richard.
Entretanto, após poucos dias de seu casamento, Alain Parpalaix veio a falecer
por consequência da doença, antes de conseguirem o sonhado filho (FREITAS,
2008).

Corine foi ao banco de sêmen e solicitou a inseminação com o material


genético do marido que havia falecido, e, como o direito francês não havia
regulamentado acerca da matéria, teve seu pedido negado. Ela recorreu então à
justiça francesa e, após muita batalha, o banco de sêmen foi condenado à entrega
do material genético. Porém, com a demora na ação não se conseguiu realizar a
inseminação artificial, pois o material genético não estava mais apropriado para
fecundação. (FREITAS, 2008).

Até então o mundo não via possibilidade de um filho ser concebido


após a morte de seu pai. Os avanços da ciência fizeram com que aquilo que era
considerado impossível, passasse a ser discutido, principalmente no que se refere
aos possíveis direitos dos filhos. Após esse caso, discussões foram abertas no
mundo inteiro e diversos países começaram a regulamentar acerca dessa espécie
de inseminação, conforme destaca Coco (2012):

Alemanha e Suécia vedam a inseminação post mortem. Na França, além


da proibição da inseminação post mortem, dispõe a lei que o consentimento
manifestado em vida perde o efeito. Na Inglaterra, a inseminação post mortem é
permitida, mas não se garante o direito à sucessão, exceto se houver documento
expresso nesse sentido.

Outro fato semelhante ocorreu em Curitiba-PR, com o casal Kátia


Lenerneier e Roberto Jefferson Niels. O casal sonhava em ter filhos quando Niels
descobriu que estava com câncer de pele. Por indicação médica e com receio da
quimioterapia o deixar infértil, ele decidiu congelar seu material genético. Com
a morte do marido, devido ao agravamento da doença, Kátia então solicitou
o material genético de Niels e teve seu pedido negado, por não apresentar

133
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

autorização prévia do marido. Foi então que resolveu buscar judicialmente o seu
desejo. A 13ª Vara Cível de Curitiba (PR) concedeu liminar que autorizou Kátia a
engravidar com o sêmen congelado do marido. A inseminação foi frutífera e hoje
ela tem sua filha.

O juiz entendeu ser presumida a vontade de Niels, por meio de declarações


de familiares e amigos. Destaque-se que a filha, chamada Luíza Roberta, teve seu
direito à filiação reconhecido, porém, não se sabe acerca dos direitos sucessórios
dessa criança. Esse caso ocorrido em Curitiba teve uma grande repercussão
nacional, porém, ele não é o primeiro envolvendo a inseminação artificial
homóloga post mortem. Muitas ações correm em segredo de justiça, o que dificulta
o acesso. Outro caso, por exemplo, é o de Eliane Ribeiro de Mello, que era casada
com Andrei François de Mello, que veio a falecer em um acidente aéreo em 2007.
Em resumo, Eliane pleiteou judicialmente a utilização do material genético do
marido, após a sua morte, e teve seu pedido deferido, conforme demonstrado em
parte da decisão:

583.00.2008.138900-2/000000-000 – nº ordem 636/2008 – Outros Feitos Não


Especificados – Alvará Judicial – ELIANE RIBEIRO DE MELLO

[...]

Assim, inegável que a inseminação póstuma necessita de regras


disciplinadoras temporais, éticas e protetivas, sem abandono do direito do
pretenso pai de expressar sua vontade quanto a uma possível paternidade
póstuma, respeitando a vontade da mãe e o objetivo do casal. Isto posto, defiro
o alvará pretendido, para autorizar a autora, Eliane Ribeiro de Mello, ao utilizar
no tratamento de reprodução assistida, o sêmen criopreservado de Andrei
François de Mello, seu falecido marido, armazenado na Clínica Gene – Medicina
Reprodutiva, pelo prazo de um ano a contar da retirada deste alvará. Pagas as
custas. Expeça-se o alvará e arquivem-se. E alvará à disposição.

O Brasil, diferente de outros países, não apresenta legislação que proíba


ou até mesmo que permita o uso dessa técnica, o que divide a opinião dos
doutrinadores sobre esses questionamentos acerca da filiação dos concebidos post
mortem e dos seus direitos hereditários. Alguns doutrinadores apresentam como
base para a defesa da inseminação post mortem o Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana, planejamento familiar e da igualdade entre os filhos, conforme entende
Filho (2006, p. 23):

A possibilidade de não se reconhecer direitos à criança concebida


mediante fecundação artificial  post mortem pune, em última análise,
o afeto, a intenção de ter um filho com a pessoa amada, embora
eventualmente afastada do convívio terreno. […] Tal perspectiva vai de
encontro aos modernos princípios do direito de família, especialmente
aos princípios da igualdade de filiação, da afetividade e da dignidade
da pessoa humana.

134
TÓPICO 4 — CONCEITO DA HERANÇA JACENTE E VACANTE

Já outros doutrinadores que são contra essa técnica, utilizam como


embasamento o Princípio da Paternidade Responsável e acreditam ser
irresponsabilidade permitir que a criança já nasça órfã do pai, privando-a assim
de ter uma estrutura familiar formada por ambos os pais. É notória a necessidade
de uma legislação específica que regule acerca da temática. O Código Civil bem
que tentou acompanhar os avanços genéticos quando presumiu como filhos
aqueles advindos das técnicas de reprodução assistida, incluindo os provenientes
de inseminação post mortem. Entretanto, silenciou no que se refere aos direitos
sucessórios deles, motivo pelo qual é assunto de grandes debates e controvérsias
na doutrina.

9 O POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL DIANTE DA


OMISSÃO DO LEGISLADOR

A ausência de normas específicas e aplicáveis acerca da temática faz


com que a jurisprudência também seja rasa. Atualmente, observa-se a utilização
prioritariamente da Resolução nº 1.358/92 do Conselho Federal de Medicina pelos
Tribunais para julgamento das demandas.

Trata sobre a impossibilidade de se presumir o consentimento do de


cujus para a utilização da inseminação artificial homóloga post mortem e orientações
para que sejam coletados dados quando da coleta do material genético com
relação às possibilidades, como em caso de falecimento do genitor. Nesse sentido,
a jurisprudência:

DIREITO CIVIL. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL.


EMBARGOS INFRINGENTES. UTILIZAÇÃO DE MATERIAL
GENÉTICO CRIOPRESERVADO POST MORTEM SEM
AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO DOADOR. AUSÊNCIA
DE DISPOSIÇÃO LEGAL EXPRESSA SOBRE A MATÉRIA.
IMPOSSIBILIDADE DE SE PRESUMIR O CONSENTIMENTO
DO DE CUJUS PARA A UTILIZAÇÃO DA INSEMINAÇÃO
ARTIFICIAL HOMÓLOGA POST MORTEM. RESOLUÇÃO
1.358/92, DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA.  1. Diante
da falta de disposição legal expressa sobre a utilização de material
genético criopreservado post mortem, não se pode presumir o
consentimento do de cujus para a inseminação artificial homóloga
post mortem, já que o princípio da autonomia da vontade condiciona
a utilização do sêmen criopreservado à manifestação expressa de
vontade a esse fim. 2. "No momento da criopreservação, os cônjuges
ou companheiros devem expressar sua vontade, por escrito, quanto
ao destino que será dado aos pré-embriões criopreservados, em
caso de divórcio, doenças graves ou de falecimento de um deles
ou de ambos, e quando desejam doá-lo" (a Resolução 1.358/92, do
Conselho Federal de Medicina) 3. Recurso conhecido e desprovido.
(TJ-DF – EIC: 20080111493002, Relator: CARLOS RODRIGUES, Data
de Julgamento: 25/05/2015, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação:
Publicado no DJE: 18/06/2015. p. 82).

Vale ressaltar que até mesmo a resolução anteriormente mencionada


afirma a inexistência de disposição legal. Ainda que esta resolução tenha o
intuito de sanar a lacuna deixada pelo legislador com relação à execução ou não

135
UNIDADE 2 – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA E DA HERANÇA VACANTE
E JACENTE

do procedimento após o falecimento do genitor, esta falha ainda resta evidente


a partir do momento em que ocorre um caso com a realização da inseminação
artificial homóloga post mortem sem o devido cuidado e é protocolada uma ação
para discutir os direitos de herança do filho concebido após a morte do seu pai.
Nesta senda, a jurisprudência:

APELAÇÃO CIVEL. FAMÍLIA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO


DE PATERNIDADE POST MORTEM. EXAME DE DNA
COMPROVANDO A PATERNIDADE BIOLÓGICA. PEDIDO
DE PETIÇÃO DE HERANÇA. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA
CONCOMITANTE AO RECONHECIMENTO DE VÍNCULO
BIOLÓGICO. PLURIPARENTALIDADE. PEDIDO PARA FIXAÇÃO
DE ALIMENTOS IMPOSSIVEL. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS.  O exame de DNA foi preciso ao demonstrar
o vínculo biológico entre o autor e o de cujus. Deve ser incluído
concomitantemente ao nome do pai socioafetivo, os dados do pai
biológico na certidão de nascimento do autor. Conforme o RE 898060,
STF, de relatoria do Min. Luiz Fux: A paternidade socioafetiva, declarada
ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo
de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos
jurídicos próprios. O autor é filho biológico e, por consequência, herdeiro
do de cujus. Não há provas acerca dos bens deixados ou do inventário
do de cujus. No que tange aos alimentos, conforme decisão do STJ, o
espólio somente tem responsabilidades acerca dos alimentos quando o
falecido genitor foi previamente condenado. Nos autos não há provas
da fixação ou acordo de alimentos antes do óbito do pai biológico. Os
honorários advocatícios devem ser fixados em 20% do valor atualizado
da causa ao ... representante da parte autora, tendo em vista o grau de
zelo do profissional, a importância e a natureza da causa e, o trabalho e
tempo exigido pelo profissional. APELO PARCIALMENTE PROVIDO.
UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70072947419, Oitava Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ivan Leomar Bruxel, Julgado
em 22/3/2018). (TJ-RS - AC: 70072947419 RS, Relator: Ivan Leomar
Bruxel, Data de Julgamento: 22/03/2018, Oitava Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 26/3/2018).

No caso anteriormente exposto, foi reconhecido o vínculo biológico,


bem como determinada a inclusão do nome do pai biológico na sua certidão de
nascimento e reconheceu como herdeiro o concebido por inseminação artificial
homóloga post mortem.

A ementa citada reconheceu os direitos sucessórios, assim como defendido


neste artigo e regulamentação desta temática nos trará uma segurança jurídica
para que outros julgamentos também venham a reconhecê-los e não haja conflito
entre as jurisprudências em razão da lacuna deixada pelo legislador.

[...]
FONTE: Adaptado de <https://conteudojuridico.com.br/consulta/Art.s/54696/os-direitos-here-
ditrios-dos-concebidos-por-inseminao-artificial-homloga-post-mortem-do-autor-da-herana>.
Acesso em: 16 mar. 2021.

136
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Herança jacente ocorre quando não há herdeiro legítimo ou testamentário ou


quando haja todos renunciam a esta herança.

• A conservação e administração da herança jacente se dará por um curador.

• Herança jacente é um estado temporário da condição da herança.

• Herança vacante se dá quando não houver herdeiros que se habilitem no


período da jacência, sendo a herança, após todas as diligências, remetida ao
poder público.

• Será declarada vacante a herança quando realizadas todas as diligências,


incluindo aí publicação de edital e passado um ano da primeira publicação,
não surgirem pessoas sucessíveis.

• O prazo é de cinco anos, a contar da abertura da sucessão, para que o herdeiro


dê início a ação de petição de herança. Este prazo é decadencial.

• A herança vacante é o estado definitivo da herança jacente, respeitado o prazo


para a sua reclamação.

CHAMADA

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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

137
AUTOATIVIDADE

1 Considere a seguinte situação: João dos Anjos faleceu e não deixou


testamente nem herdeiros legítimos notoriamente conhecidos, sobre os
seus bens, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os bens da herança serão arrecadados, ficando sob a guarda e


administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente
habilitado ou à declaração de sua vacância.
b) ( ) Os bens da herança serão arrecadados e entregues, desde logo, ao
município ou Distrito Federal.
c) ( ) Os bens da herança serão arrecadados até que o juiz os declare como
bens de ausente.
d) ( ) Os bens da herança serão transmitidos à terceira pessoa que se habilitar
no processo de inventários, desde que respeite o prazo decadencial de
um ano.

2 Considere o seguinte contexto:


João dos Anjos faleceu sem deixar testamento, porém deixou como únicos
herdeiros seus três filhos: Rafaela, Rodrigo e Ricardo, todos os herdeiros
legítimos renunciaram à herança. Acerca da situação narrada do que ocorrerá
com o patrimônio deixado por João dos Anjos, analise as sentenças a seguir:

I- A herança será considerada desde logo vacante, mesmo tendo João


deixado herdeiros legítimos, tendo eles renunciado ao monte.
II- A herança será dívida entre terceiros interessados.
III- A herança deixada por João será de imediato leiloada.

a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.


b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.

3 A herança jacente é aquela que ocorre quando alguém falece e não é deixado
nenhum herdeiro, nenhum testamento, tornando-se assim, herança sem
destinação. Já a herança vacante é aquela em que o bem é devolvido ao
patrimônio público, por não haver herdeiros habilitados durante o período
de jacência. A partir do estudo realizado, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A herança vacante se dá quando não houver herdeiros que se habilitem


no período da jacência, sendo a herança, após todas as diligências,
remetida ao poder público.
b) ( ) Será declarada jacente a herança quando realizadas todas as diligências,
incluindo aí publicação de edital e passado um ano da primeira
publicação, não surgirem pessoas sucessíveis.
c) ( ) O prazo é de um ano, a contar da abertura da sucessão, para que o
herdeiro dê início à ação de petição de herança. Este prazo é decadencial.
d) ( ) Os termos “herança vacante” e “herança jacente” são sinônimos.

138
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.532, de 7 de dezembro de 2017. Altera a redação do art. 1.815
da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, para promover ação
visando à declaração de indignidade de herdeiro ou legatário. Acesso em: 15 mar.
2021.

BRASIL, Lei nº 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível


em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406compilada.htm.
Acesso em: 15 mar. 2021.

BRASIL.  Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso
em: 15 mar. 2021.

CAHALI, F. J.; HIRONAKA, G. M. F. N. Curso avançado de direito civil: direito


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DINIZ, M. H. Curso de direito civil brasileiro. In: Direito das sucessões, volume
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139
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MORAES, M. C. B. de. A família democrática. In: Na medida da pessoa humana:


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HIRONAKA, G. M. F. N.; PEREIRA, R. da C. Direito das sucessões e o novo


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TARTUCE, F. Direito civil. In: Direito das sucessões. Volume 6. 12. ed. rev., atual.
e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

VELOSO, Z. Novo Código Civil comentado. São Paulo: Saraiva, 2002.

140
UNIDADE 3 —

DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO
INVENTÁRIO E DA PARTILHA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o testamento como documento feito por alguém quando


deseja determinar para quem quer destinar seus bens após a morte;
• identificar as distintas espécies e formas de testamento existentes em
nosso ordenamento jurídico, bem como as características particulares de
cada modalidade testamentária;
• reconhecer o momento em que se dá a cessação testamentária, assim
como as consequências jurídicas decorrentes;
• conceituar e especificar as distintas formas de partilha previstas no
ordenamento jurídico brasileiro;
• conceituar o processo de inventário como procedimento judicial ou
extrajudicial que tem como finalidade transferir a propriedade do de
cujus para os herdeiros, identificando os quesitos formais necessários e
sua consequência legal e jurídica.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – DO TESTAMENTO

TÓPICO 2 – DO LEGADO

TÓPICO 3 – DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

141
142
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

DO TESTAMENTO

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, você estudará sobre o testamento, conceituando


e compreendendo qual a sua utilidade no universo jurídico brasileiro.
Compreenderá que ao titular do patrimônio lhe é autorizado testar metade dos
seus bens, resguardando, assim, a outra metade à legítima.

Compreenderá que o testamento é um negócio jurídico, unilateral e que


expressa a última vontade do testador, podendo ser alterado por diversas vezes,
eis que, como sabemos, a vontade é volátil. Para tanto, o indivíduo poderá realizar
testamentos substitutivos ou complementativos no decorrer de sua existência.

Lembre-se de que o ponto inicial para suceder é a morte de um indivíduo,


para isso, o testamento só entrará em vigor após o falecimento do indivíduo
testador. Ao final dos estudos, compreenderá que o testamento é um ato jurídico
personalíssimo, unilateral solene, gratuito e revogável. Verificará que, para
realizar o testamento, é necessário possuir a capacidade. Ademais, adentrará nas
espécies de testamentos existentes em nosso ordenamento pátrio.

2 CONCEITO
Ao estudarmos o direito sucessório, destacamos que o nosso ordenamento
jurídico resguarda o direito de herança, garantindo a legítima aos herdeiros
necessários e permitindo ao titular do patrimônio a possibilidade de testar
metade dos seus bens, deixando a outra metade da totalidade dos bens do falecido
resguardada aos herdeiros necessários.

A herança legítima a ser resguardada tem disposição legal constantes em


dois artigos do nosso código civilista, 1.846 e 1857, § 1º, o primeiro, ao tratar do
capítulo dos herdeiros necessários e, o segundo, ao tratar do próprio testamento
em geral.

Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a


metade dos bens da herança, constituindo a legítima.
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da
totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
§ 1º A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento (BRASIL, 2002).

143
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

A propósito, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – ao


confirmar decisão proferida pelo TJ/SC – é assertiva ao resguardar a legítima
dos herdeiros necessários em caso de testamento, respeitando o que preceitua
os Arts. 1.846 e 1.857, § 1° do novel. A seguir, você pode realizar a leitura da
jurisprudência da lavra da relatoria da Ministra Maria Isabel Gallotti, que trata
sobre o tema.

(AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.176.887 – SC (2017/0228019-


0), data de julgamento 21/9/2020).
[...] Consoante às disposições dos Arts. 1.846 e 1.857, § 1°, do diploma
civil, pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos
bens da herança, constituindo a legítima, de modo que a legítima dos
herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento. Nesse
contexto, ao se realizar uma interpretação conjunta e teleológica dos
referidos dispositivos, juntamente com o caput do Art. 1.857 do CC,
chega-se à conclusão que é dado ao testador dispor da metade de seus
bens nos casos em que haja herdeiros necessários, isto é, garantindo-
se 50% de seu patrimônio àqueles previstos no Art. 1.845 do CC, sem
dispor das legítimas dos herdeiros de forma ilegal. Assim sendo,
destaco que o sentido a ser extraído da norma contida no Art. 1.846 é
de preservar 50% do patrimônio do testador em favor dos herdeiros
necessários, o que foi observado (STJ, 2017).

Observamos ainda, em estudo anterior, a existência do herdeiro


testamentário, figura que surge a partir do testamento deixado pelo de cujus, que
neste ato poderá dispor da metade da totalidade de seus bens, como destacado
anteriormente.

A sucessão da herança, nestes casos, será testamentária, categoria que é


definida por Maria Berenice Dias (2008, p. 108) como “transmissão da herança
por meio do testamento. Ocorre quando houve manifestação de vontade da
pessoa – claro que enquanto viva estava – elegendo quem deseja que fique com
seu patrimônio depois de sua morte”.

Neste contexto, o objeto de estudo do presente tópico é o instrumento


utilizado pelo indivíduo que resultará na sucessão testamentária. Esse instrumento
denominado de testamento reunirá a manifestação de última vontade do de
cujus e terá efeito após a sua morte. Gagliano e Pamplona Filho (2017, p. 1551)
conceituam a categoria testamento como:

[...] um negócio jurídico pelo qual alguém, unilateralmente, declara a


sua vontade, segundo pressupostos de existência, validade e eficácia,
com o propósito de dispor, no todo ou em parte, dos seus bens, bem
como de determinar diligências de caráter não patrimonial para
depois da sua morte.

O professor Nehemias Domingos de Melo (2014), ao conceituar esta


categoria, ressalta a possibilidade de conter outras previsões no testamento, como
o reconhecimento de filhos provenientes de outras relações, nomeação de tutores
e até a instituição de fundação.

144
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

[...] é o ato jurídico personalíssimo, unilateral, solene, gratuito e


revogável, pelo qual alguém, de conformidade com a lei, dispõe para
depois da sua morte do todo ou de parte de seu patrimônio, podendo
também fazer outras previsões, tais como o reconhecimento de filhos,
nomeação de tutor, instituição de fundação etc. (MELO, 2014, p. 210).

A validade destas disposições que podem constar em um testamento


também é assegura no Código Civil (2002), junto ao Art. 1.857, § 2º, que assim
preceitua: “§ 2º São válidas as disposições testamentárias de caráter não
patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha limitado”.

O testamento, regulado em nosso ordenamento pátrio, é uma forma


de resguardar o princípio da autonomia da vontade, vontade essa respeitada
inclusive após a morte do indivíduo, encontrando barreira apenas na legítima do
herdeiro. Dias (2013) nos ensina que através do testamento podemos verificar o
alcance do referido princípio, é de tal ordem o alcance do princípio da autonomia
da vontade que é respeitada mesmo depois da morte.

Colaborando com o entendimento da importância da preservação da


última vontade do testador, o Conselho Nacional de Justiça, em seu Provimento
de nº 56/2016, determinou a obrigatoriedade de consulta do Registro Central de
Testamentos On-line (RCTO), para que se possa processar inventários, partilhas
judiciais e escrituras públicas de inventário extrajudiciais. Isso porque muitos
desses processos findavam sem que houvesse conhecimento da existência de
determinados testamentos e sem respeito à última vontade do testador, sanando,
assim, qualquer vício que pudesse surgir futuramente, no caso de aparecimento
de testamento desconhecido.

Podemos compreender, neste contexto, que o testamento é um ato de


última vontade, em que determinada pessoa irá dispor sobre metade de seu
patrimônio, podendo ainda constar diligências de caráter não patrimonial. O
testamento é um documento escrito que exige pressupostos de validade, sendo
realizado em vida e aplicado após a morte do indivíduo.

FIGURA 1 – OUE É TESTAMENTO?

FONTE: <https://s.dicio.com.br/testamento.jpg>. Acesso em: 17 mar. 2021.

145
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Sobre a necessidade de ser um documento escrito, encontramos, na


doutrina de Euclides de Oliveira (2016), de forma cirúrgica a exigência deste
pressuposto de validade. “Entende-se por testamento, do ponto de vista objetivo
ou externo, o ato solene pelo qual o testador formaliza por documento escrito e
solene sua vontade de transmitir os seus bens para depois de sua morte, com a
indicação dos herdeiros e legatários” (OLIVEIRA, 2016, p. 197).

Ademais, é possível que o testamento possa ser alterado a qualquer tempo,


desde que vivo o testador, pois se trata de um ato personalíssimo, individual do
sujeito, nos termos do Art. 1.858 do Código Civil brasileiro.

FIGURA 2 – O TESTAMENTO PODE SER MODIFICADO

FONTE: <https://i2.wp.com/advfam.com.br/wp-content/uploads/2014/04/o-testamento-pode-
-ser-modificado-corpo-do-texto.png>. Acesso em: 18 mar. 2021.

Para Zeno Veloso (2016), essa seria uma das principais características do
testamento, a possibilidade de alterá-lo a qualquer tempo, eis que a vontade é
algo que sempre está em movimento, podendo o testador dispor da forma que
lhe convém, por diversas ocasiões substitutivas, tornando-o revogável, excetua-se
a essa possibilidade de revogabilidade, o reconhecimento de filhos provenientes
de outras relações, mesmo que incidentalmente mencionados no testamento. “[...]
uma das principais características do testamento é a de ser um ato revogável.
O testamento contém disposição de última vontade, e a vontade é ambulatória,
[...] O testador pode modificar livremente, alterar, quando lhe aprouver o que
declarou no testamento” (VELOSO, 2016, p. 1.956).

Os efeitos da revogação estão contidos no Art. 1.971, Farias e Rosenvald


(2018, p. 410), ao tratarem do tema, são categóricos que, para a revogação do
testamento não é exigida qualquer formalidade essencial, “[...] a revogação do
testamento, inclusive, vale o destaque de não se exigir qualquer formalidade
essencial. Basta a clara manifestação de vontade do titular, consubstanciando a
sua autonomia privada”.

146
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

A legislação também estipula prazo para a realização de impugnação da


validade do testamento, que se dará em cinco anos, contado prazo da data do
registro do mesmo, nos exatos termos do artigo 1.857.

FIGURA 3 – ANEDOTA JURÍDICA SOBRE TESTAMENTO

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/373658100312014227/>. Acesso em: 18 mar. 2021.

Assim, concluímos o início dos estudos sobre testamento, conceituando-o


e compreendendo ser o testamento um ato jurídico, personalíssimo, que pode ser
alterado antes do falecimento do indivíduo, podendo ser impugnado no prazo de
cinco anos contado do prazo da data de seu registro.

NOTA

O testamento é um ato de última vontade, em que determinada pessoa irá


dispor sobre metade de seu patrimônio, podendo ainda constar diligências de caráter não
patrimonial.
É possível que o testamento possa ser alterado a qualquer tempo, desde que vivo o testador.
O prazo para a realização de impugnação da validade do testamento, que se dará em cinco
anos, contado prazo da data do registro do mesmo.

147
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

2.1 DA CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA – ATIVA E PASSIVA

A capacidade ativa exigida para realização do ato de disposição da


última vontade segue a regra geral do Código Civil, mencionando o Art. 1.860,
autorizando ainda o testamento realizado por menores de 16 anos, em seu
parágrafo único: “Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato
de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento. Parágrafo único. Podem testar os
maiores de dezesseis anos” (BRASIL, 2002).

Para Zeno Veloso (2016), a capacidade testamentária ativa exige da pessoa


a possibilidade de expressar de forma livre suas intenções, compreendendo com
discernimento adequado o que está de fato fazendo. Ainda, para o autor, as
doenças que debilitem o indivíduo em suas faculdades mentais desautorizam-no
a realizar o ato, não possuindo liberdade para deliberar, não preenchendo, para
tanto, um dos pressupostos essenciais do testamento.

[...] o que se requer, fundamentalmente, em matéria de capacidade


testamentária ativa, é que o indivíduo possa exprimir livremente a sua
vontade, que tenha compreensão, discernimento, que saiba, enfim,
o que está fazendo. Em consequência de enfermidade ou doença
mental, ou de moléstia que repercuta no cérebro, a pessoa pode ficar
com a razão comprometida, o espírito intensamente debilitado, sem
possibilidade de querer autonomamente, de perceber as situações,
de avaliar o que ocorre no mundo exterior, não tendo liberdade
para deliberar, não exercendo espontaneamente o seu querer, e este
é pressuposto essencial em sede de testamentos (VELOSO, 2016, p.
1.959).

Na mesma mão, é o entendimento de Luiz Paulo Vieira de Carvalho (2015),


exigindo apenas a existência de prova robusta para que o testamento possa ser
invalidado, o autor pondera que:

As alegações de que o testador sofreria de alguma doença mental


grave e permanente (por exemplo, mal de Alzheimer, transtorno
bipolar, demência senil etc.) ou, então, no momento da feitura do
testamento, mesmo se pessoa capaz de fato, estaria a sofrer de
impossibilidade transitória para exprimir sua vontade de modo livre
e consciente, só terão o condão de invalidar a disposição de última
vontade, se for produzida prova robusta, segura, insofismável, da
alegada incapacidade, no momento do ato (CARVALHO, 2015, p. 558).

A capacidade ativa para testar é aferida no momento do ato de testar,


conforme preceitua o Art. 1.861, que afirma que nem a incapacidade superveniente
do testador invalida o ato já realizado nem a capacidade posterior valida o
testamento quando realizado no momento de incapacidade do indivíduo. “Art.
1.861. A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem
o testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade” (BRASIL,
2002).

148
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

Para Tartuce (2018), seguindo a linha do dispositivo legal, a incapacidade


e a capacidade superveniente não podem ser justificativas para invalidação do
testamento, isso porque, segundo o autor, o plano de validade ou invalidade,
devem ser analisados quando da constituição ou celebração do negócio jurídico.

[...] a incapacidade superveniente do testador, manifestada após a sua


elaboração, não invalida o testamento (Art. 1.861 do CC/2002). Isso
porque, quanto ao plano da validade, deve ser analisada a realidade
existente quando da constituição ou celebração do negócio. Além disso,
pelo mesmo comando, o testamento do incapaz não se valida com
a superveniência da capacidade. Nesse último caso, será necessário
fazer outro testamento para que a disposição de última vontade tenha
concreção de eficácia (TARTUCE, 2018, p. 375).

Para a jurisprudência brasileira, o ato de testar realizado por pessoal


comprovadamente incapaz, ante a perda de suas habilidades mentais, acometida
de demência senil é nulo, exigindo-se prova robusta desta situação. Faça a leitura
do corpo do voto da Ministra Nanci Andrighi, junto ao Recurso especial nº
1.694.965 – MG, ao tratar da capacidade de testar e o comprometimento da saúde
mental do testador, exigindo-se a apresentação de prova robusta para tornar
referido ato nulo.

A premissa do raciocínio em demandas que visam a nulificar


testamentos é de que a capacidade para testar é presumida, tornando-
se indispensável prova robusta de que efetivamente o testador não se
encontrava em condições de exprimir, livre e conscientemente, sua
vontade acerca do próprio patrimônio ao tempo em que redigiu o
testamento (STJ, 2015).

Ampliando ainda o rol daqueles que não possuem capacidade ativa para
testar, Gonçalves (2012), ao analisar a matéria, inclui pessoas acometidas por
arteriosclerose, excessiva pressão arterial, pessoas em estado de embriaguez e
aquelas que fazem uso de entorpecentes ou substâncias alucinógenas, situações
de hipnoses ou outras causas similares e transitórias.

[...] não se encontram, no momento de testar, em seu perfeito juízo,


em virtude de alguma patologia (arteriosclerose, excessiva pressão
arterial, por exemplo), embriagues, uso de entorpecentes ou de
substâncias alucinógenas, hipnose ou outras causas semelhantes e
transitórias. Substituiu-se, com vantagem, a expressão “não estejam
em perfeito juízo”, que constava do Art. 1.627 do Código Civil de 1916,
por “não tiverem pleno discernimento” (GONÇALVES, 2012, p. 238).

Da leitura dos referidos dispositivos legais (Arts. 1.860 e 1.861), temos,


portanto, que o indivíduo no momento de realizar o testamento deve possuir
capacidade estando em condições de exprimir livre e, conscientemente, sua
vontade do que ocorrerá com parte de seu patrimônio, que a legislação o autoriza
a dispor, essa capacidade também é exigida mesmo em casos em que o testamento
se refira a questões extrapatrimoniais.

149
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Trata-se da própria validade do testamento a presença da capacidade do


testador para dispor de sua última vontade, da metade disponível, por sua vez,
a capacidade testamentária passiva autoriza quais pessoas poderão suceder o de
cujus por testamento. Essa capacidade se dá excetuando as pessoas constantes no
rol taxativo do Art. 1.801 do Código Civil.

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:


I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua,
estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante
quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento
(BRASIL, 2002).

O Art. 1.802 determina que as disposições testamentárias em favor das


pessoas que não possuem legitimidade para suceder, quais sejam, as constantes
no Art. 1.801, mesmo que simuladas sob forma de contrato oneroso e feita por
pessoa interposta serão consideradas nulas. O parágrafo único do referido artigo
informa quais seriam essas pessoas interpostas: “Parágrafo único. Presumem-se
pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou
companheiro do não legitimado a suceder” (BRASIL, 2002).

A proibição de conter as pessoas descritas no rol do Art. 1.801 como


herdeiros testamentários, dar-se-á em virtude de poder manter incólume a
disposição de última vontade do indivíduo, eis que os que lá constam, poderiam
influenciar ou induzir a erro o desejo do testador.

Neste contexto, temos que a capacidade testamentária passiva, que é


aquela que autoriza o recebimento de herança via testamento por determinada
pessoa, dar-se-á no momento da abertura da sucessão.

E
IMPORTANT

Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem
pleno discernimento.
Podem testar os maiores de 16 anos.
A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o testamento do
incapaz se valida com a superveniência da capacidade.
A incapacidade ativa inclui pessoas acometidas por arteriosclerose, excessiva pressão
arterial, pessoas em estado de embriaguez e aquelas que fazem uso de entorpecentes ou
substâncias alucinógenas.

150
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

2.2 ESPÉCIES DE TESTAMENTO


O legislador brasileiro previu seis espécies de testamento, todos esses
devidamente consagrados em nosso Código Civil, divididos primeiramente em
duas formas, forma ordinária, que contempla o testamento público, cerrado e
particular, e forma especial, que abrange o testamento marítimo, aeronáutico e
militar.

A partir dessas seis espécies contempladas em nosso ordenamento


jurídico, a doutrina vem abordando a possibilidade de validade do testamento
vital, que não está prevista em nenhuma legislação brasileira, geral ou específica,
porém vem sendo amadurecida pela doutrina e jurisprudência.

Esse testamento, já difundido em diversos outros países, parte da


premissa de que o indivíduo, enquanto paciente, possui autonomia e pode
tomar suas próprias decisões sobre os procedimentos médicos e hospitalares que
devam ser administrados em si, no caso de futuramente estar impossibilitado
de manifestar sua livre vontade. Luciana Dadalto (2015, p. 97), ao abordar o
tema, explica que:
O testamento vital é um documento de manifestação de vontades
pelo qual uma pessoa capaz manifesta seus desejos sobre suspensão
de tratamentos, a ser utilizado quando o outorgante estiver em
estado terminal, em EVP ou com uma doença crônica incurável,
impossibilitado de manifestar livre e conscientemente sua vontade.

Diferente não é o conceito dado por Anderson Schreiber (2013, p. 61-62),


que categorizou o testamento vital como testamento biológico. Para o autor:

Denomina-se testamento biológico (ou testamento vital, tradução


literal da expressão norte-americana living will) o instrumento por
meio do qual a pessoa manifesta, antecipadamente, sua recusa a certos
tratamentos médicos, com o propósito de escapar ao drama terminal
vivido por pacientes incapazes de exprimir a sua vontade.

Ao tratar o conteúdo do testamento vital, Dadalto (2015) afirma que em


outras legislações existe a possibilidade de dispor, também (além de recusa ou
aceitação de tratamentos e cuidados que prolonguem a vida artificialmente),
sobre a doação de órgão e a nomeação de representante que possa tomar decisões
médicas pelo testador, quando ele já não o possa. “[...] o testamento vital nos
ordenamentos jurídicos alienígenas tem como conteúdo disposições de recusa e/
ou aceitação de cuidados e tratamentos que prolonguem a vida artificialmente,
disposição sobre doação de órgãos e a nomeação de um representante (DADALTO,
2015, p. 182).

151
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Ressalta-se que, no Brasil, o testamento vital não possui previsão legal. O


nosso país ainda está realizando debates no campo da doutrina e jurisprudência.
Para tanto, a validade do referido testamento estaria calcada em uma insegurança
jurídica, porém em esparsas decisões, nossos tribunais já vêm reconhecendo e
admitindo esse testamento, com base na autonomia da vontade do paciente e em
suas diretrizes antecipadas de vontade.

APELAÇÃO CÍVEL. ASSISTÊNCIA À SAÚDE. BIODIREITO.


ORTOTANÁSIA. TESTAMENTO VITAL. 1. Se o paciente, com o pé
esquerdo necrosado se nega à amputação, preferindo, conforme laudo
psicológico, morrer para "aliviar o sofrimento"; e, conforme laudo
psiquiátrico, se encontra em pleno gozo das faculdades mentais, o
Estado não pode invadir seu corpo e realizar a cirurgia mutilatória
contra a sua vontade, mesmo que seja pelo motivo nobre de salvar
sua vida. 2. O caso se insere no denominado biodireito, na dimensão
da ortotanásia, que vem a ser a morte no seu devido tempo, sem
prolongar a vida por meios artificiais, ou além do que seria o processo
natural. 3. O direito à vida garantido no Art. 5º, caput, deve ser
combinado com o princípio da dignidade da pessoa, previsto no Art.
1º, III, ambos da CF, isto é, vida com dignidade ou razoável qualidade.
A Constituição institui o direito à vida, não o dever à vida, razão
pela qual não se admite que o paciente seja obrigado a se submeter
a tratamento ou cirurgia, máxime quando mutilatória. Ademais, na
esfera infraconstitucional, o fato de o Art. 15 do CC proibir tratamento
médico ou intervenção cirúrgica quando há risco de vida, não quer
dizer que, não havendo risco, ou mesmo quando para salvar a vida,
a pessoa pode ser constrangida a tal. 4. Nas circunstâncias, a fim de
preservar o médico de eventual acusação de terceiros, tem-se que o
paciente, pelo quanto consta nos autos, fez o denominado testamento
vital, que figura na Resolução nº 1995/2012, do Conselho Federal de
Medicina. 5. Apelação desprovida. (Apelação Cível nº 70054988266,
Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Irineu
Mariani, Julgado em 20/11/2013) (TJ, 2013).

Assim, acadêmico, você poderá reconhecer, ao menos, o debate existente


em nossos balcões jurídicos sobre o tema do testamento vital, podendo adentrar
nas demais espécies de testamento, as quais há a devida previsão legal.

152
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

FIGURA 4 – COMO FAZER UM TESTAMENTO VITAL

FONTE: <http://imagem.band.com.br/f_425699.jpg>. Acesso em: 18 mar. 2021.

153
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

DICAS

Caso tenha interesse em conhecer mais a respeito do testamento vital,


sugerimos a leitura do artigo Testamento vital no Brasil, de Joyce da Silva Lopes. Disponível
em: https://jus.com.br/artigos/69832/testamento-vital-no-brasil.

Vamos prosseguir com a forma de testamento ordinário, que abrange o


testamento público, cerrado e particular e, ao fim, estudaremos a forma especial
de testar, que abrange o testamento marítimo, aeronáutico e militar.

No que diz respeito ao testamento em sua forma ordinária, vamos


encontrá-lo em nossa legislação, junto ao Código Civil, Art. 1.862, que relaciona
quais são. Ademais, no artigo seguinte, 1.863, há expressa proibição em realizar
testamento conjuntivo, seja ele simultâneo, recíproco ou correspectivo.

Art. 1.862. São testamentos ordinários:


I - o público;
II - o cerrado;
III - o particular.
Art. 1.863. É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo,
recíproco ou correspectivo (BRASIL, 2002).

Vamos compreender o que é o testamento público e quais os requisitos


exigidos para a sua realização. Esses requisitos estão elencados no Art. 1.864 do
código civilista.

O testamento público também pode ser denominado de testamento aberto,


seu primeiro requisito exigido para que se possa configurar o testamento como
público é que ele seja realizado por tabelião ou seu substituto legal em seu livro
de notas, devendo conter as disposições por escrito – através de minuta, notas ou
apontamentos – da última vontade do testador.

Ao tratar sobre o tema Schreiber (2018, p. 966) pontua que o testamento


público “também chamado de testamento aberto ou testamento autêntico, é
aquele em que as declarações do testador são tomadas por oficial público em livro
de notas, perante duas testemunhas”.

Para Tartuce (2008), esta forma de testamento, por ser lavrada por tabelião,
confere uma maior segurança para as pessoas ali envolvidas. Nas palavras do
doutrinador, o testamento público seria “[...] aquele que traz maior segurança para
as partes envolvidas, pois é lavrado pelo tabelião de notas ou por seu substituto,
que recebe as declarações do testador ou autor da herança” (TARTUCE, 2018, p.
384).

154
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

Embora não conste o artigo na legislação civilista que trata a matéria, a


doutrina entende ser possível a lavratura do testamento público por autoridades
consulares, eis que o Art. 18 da Lei de Introdução ao Código Civil reconhece
essas autoridades como competentes para realizarem os atos de Registro Civil e
de tabelionado, atuando como um substituto da figura do tabelião propriamente
dita, Leoni de Oliveira (2018, p. 508) faz essa mesma defesa ao asseverar que:

O testamento público também pode ser lavrado pelas autoridades


consulares brasileiras, a teor do disposto no Art. 18 da Lei de
Introdução às Normas do Direito brasileiro. Trata-se de testamento
público que, portanto, deve obedecer aos mesmos requisitos previstos
para o testamento público no CC.

FIGURA 5 – TESTAMENTO PÚBLICO X TESTAMENTO PARTICULAR

155
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3tz20kU>. Acesso em: 18 mar. 2021.

O segundo requisito essencial ao testamento público é que, ao ser lavrado,


deve ser lido em voz alta pelo tabelião – ou seu substituto – ao indivíduo que
esteja realizando o ato de testar, diante de duas testemunhas. Esta leitura do termo
lavrado que contém a última vontade do indivíduo, pode ser realizada também
pelo testador, nada mais que estejam presentes o oficial e as duas testemunhas
exigidas na legislação.

Leoni Oliveira (2018) esclarece que a exigência feita pelo legislador da


presença de duas testemunhas é para que haja garantia de que o testamento foi
celebrado por livre manifestação e vontade do testador.

O segundo requisito legal para validade do testamento público exige


que, após escrever o testamento, ele seja lido em voz alta pelo tabelião.
Essa leitura será simultaneamente, a um só tempo, no dizer da lei, na
presença do testador e de duas testemunhas. A presença das duas
testemunhas também serve para dar garantia de que o testamento foi

156
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

celebrado atendendo-se à livre manifestação de vontade do testador. A


lei faculta que a leitura do testamento seja feita pelo próprio testador,
na presença de duas testemunhas e do oficial de notas (OLIVEIRA,
2018, p. 508).

O terceiro e último requisito para a validade do testamento público é


que após a leitura do instrumento, o termo seja assinado pelo testador, pelas
testemunhas e pelo próprio tabelião, sob pena de invalidade do testamento.

O parágrafo único do artigo que contém os requisitos essenciais do


testamento público autoriza a realização de testamento de forma manual ou
mecânica, bem como a inserção da declaração de vontade das partes seja impressa
no livro de notas, desde que haja rubrica em todas as páginas pelo testador, caso
haja mais de uma página.

O Superior Tribunal de Justiça, em recente decisão (6/10/2020), de


relatoria do Ministro Moura Ribeiro, em Recurso Especial de número 1703376-PB
(2017/0262925-9) reconheceu a existência de vício externo grave, em testamento
que não continha a assinatura e identificação do tabelião, tornando-o ineficaz, ou
seja, nulo de pleno direito, sem qualquer efeito jurídico. Leia o corpo da ementa
que tratou sobre o tema:

O testamento público submetido a procedimento de abertura, registro


e cumprimento, no qual foi constatada a presença de vício externo
grave, consubstanciado na ausência de assinatura e identificação do
tabelião que teria presenciado ou lavrado o instrumento, compromete
a sua higidez e não permite aferir, com segurança, a real vontade da
testadora, não pode juridicamente eficaz. [...] (STJ, 2020).

Para tantos, temos que, faz-se necessária a presença de todos os requisitos


legais para que seja declarada a validade do testamento público, eis que a ausência
de qualquer um deles pode tornar o testamento público nulo de pleno direito,
sem qualquer validade no mundo jurídico.

Há de se esclarecer que o legislador nos Arts. 1.865, 1.866 e 1.867 previu


alternativas para a realização de testamento público por parte de analfabetos e
pessoas com deficiência visual ou auditiva.

Art. 1.865. Se o testador não souber, ou não puder assinar, o tabelião


ou seu substituto legal assim o declarará, assinando, neste caso, pelo
testador, e, a seu rogo, uma das testemunhas instrumentárias.
Art. 1.866. O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu
testamento, e, se não o souber, designará quem o leia em seu lugar,
presentes as testemunhas.
Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será
lido, em voz alta, duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto
legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo testador,
fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento (BRASIL,
2002).

157
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Concluído o estudo sobre o testamento público e os requisitos essenciais


para a sua validade, passamos a estudar o testamento cerrado, que tem sua
previsão legal junto ao Art. 1.868 do novel.

O referido artigo preceitua que, para configurar testamento cerrado, este


deve ser escrito pelo testador ou por outra pessoa que o faça a pedido do testador,
devendo em ambos os casos conter a assinatura do indivíduo que está testando e
a sua validade está condicionada à aprovação do tabelião ou ao substituto deste.

Para Inocêncio Galvão Telles (2006, p. 45), estaremos diante de um


testamento cerrado quando este “[...] for escrito e assinado pelo testador ou
escrito por outra pessoa a rogo do testador e por este assinado, devendo o testador
rubricar as folhas que não contenham a sua assinatura”.

Ademais, ressalta Gonçalves (2017) que o testamento cerrado é de caráter


sigiloso, realizado de forma discreta, reforçando ainda a necessidade de conter a
aprovação do tabelião ou seu substituto lega, após sua confecção.

Testamento cerrado, secreto ou místico, outrora também chamado de


nuncupação implícita, é o escrito pelo próprio testador, ou por alguém
a seu rogo e por aquele assinado, com caráter sigiloso, completado
pelo instrumento de aprovação ou autenticação lavrado pelo tabelião
ou por seu substituto legal, em presença do disponente e de duas
testemunhas idôneas (GONÇALVES, 2017, p. 385).

O testamento cerrado também deve obedecer a formalidades legais para


a sua validade, quais sejam:

[...] I - que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas


testemunhas;
II - que o testador declare que aquele é o seu testamento e quer que seja
aprovado; III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação,
na presença de duas testemunhas, e o leia, em seguida, ao testador e
testemunhas;
IV - que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas
testemunhas e pelo testador (BRASIL, 2002).

O parágrafo único do Art. 1.868 autoriza a realização do testamento


cerrado de forma mecânica, desde que ele contenha a assinatura autenticada em
todas as páginas do subscritor.

Em regra geral, é vedado ao analfabeto realizar testamento cerrado nos


termos do que preceitua o Art. 1.873. No entanto, a doutrina vem amadurecendo
no sentido de que, caso o analfabeto saiba escrever seu próprio nome e o
testamento for realizado por pessoa de sua confiança e que não seja impedido
com a posterior leitura pelo tabelião, ele pode ser considerado válido.

158
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

FIGURA 6 – O QUE É TESTAMENTO CERRADO?

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/732397958128076544/>. Acesso em; 18 mar. 2021.

A nossa legislação autoriza a realização do testamento cerrado por pessoa


com deficiência visual, desde que saiba ler em Braile e por pessoa com deficiência
auditiva, desde que cumpra a exigência contida no Art. 1.873, qual seja, que o
testador com deficiência auditiva escreva todo o testamento cerrado estando este
devidamente assinado e que no ato da entrega ao tabelião, a ser realizado perante
duas testemunhas, escreva “[...] na face externa do papel ou do envoltório, que
aquele é o seu testamento, cuja aprovação lhe pede” (FARIAS; ROSENVALD,
2015, p. 351).

Para finalizar o nosso estudo sobre testamento cerrado, é importante


ressalvar que esta espécie de testamento ficará de posse do testador e não do
tabelião, cabendo a esse último lançar, no seu livro, nota de lugar, dia, mês e ano
em que o testamento foi aprovado e entregue.

Com relação ao testamento particular, essa espécie consta prevista no


Código Civil, junto aos Arts. 1.876 e seguintes, autorizando que o testamento
possa ser escrito de próprio punho ou mediante processo mecânico.

159
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Para Flávio Tartuce (2018, p. 375) é “a forma mais acessível de testamento,


pois é a que apresenta a menor quantidade de formalidades, não sendo essencial
a presença do notário ou tabelião para que seja elaborado”.

Os requisitos de validade do testamento particular, quando escrito de


próprio punho, vem junto ao parágrafo primeiro do Art. 1.876, que determina a
sua leitura e assinatura, a ser realizada por quem o escreveu, na presença de três
testemunhas que devem subscrever o texto testamentário.

Quando elaborado por processo mecânico, o parágrafo segundo estipula


que não poderá haver rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo
testador e três testemunhas, depois de o terem lido.

Caso não conste a presença das três testemunhas exigidas em lei, o


testamento não será validado, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado
do Rio Grande do Sul assim se posicionou em recente decisão sobre o tema.
Acadêmico, faça a leitura da parte do corpo da decisão e da ementa.
No caso em exame, observo que existem algumas peculiaridades,
pois, o testador não observou formalidades necessárias previstas no
Art. 1876 do Código Civil, como a necessidade de no mínimo três
testemunhas que o subscreverão. No caso, o documento foi redigido
em duas folhas e consta a assinatura apenas no final, e de apenas
duas testemunhas. Ou seja, além de serem apenas duas testemunhas,
constato que, na primeira folha, não consta assinatura nem rubrica do
testador ou das testemunhas.
PEDIDO DE CONFIRMAÇÃO DE TESTAMENTO. AUSÊNCIA
DOS REQUISITOS FORMAIS. 1. O testamento particular, para ser
cumprido, deve ser confirmado e publicado em juízo. Art. 737, CPC. 2.
A intenção da lei é deixar cristalina a vontade do testador perante todas
as pessoas presentes ao ato, não deixando espaço para manipulações
e desvios por parte de quem quer que seja. 3. Diante da ausência
das testemunhas necessárias para que o testamento particular seja
considerado válido, não há como ser confirmado. Recurso desprovido.
(Apelação Cível, nº 70079519716, Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves,
Julgado em: 27-03-2019) (TJ, 2019).

Para tanto, é com extremo rigor que é exigido pelos nossos tribunais
a presença de três testemunhas, caso esse pressuposto formal não estiver
contemplado no testamento, ele será considerado inválido.

Após o falecimento do indivíduo, no caso de testamento particular, ele


será publicado em juízo com a citação dos herdeiros legítimos e, posteriormente,
as testemunhas também devem ser chamadas em juízo para confirmarem a
veracidade do texto.

A legitimidade para publicação do testamento em juízo está estipulada


no Código de Processo Civil, junto ao Art. 737, que autoriza o requerimento pelo
herdeiro, legatário, testamenteiro ou ainda terceiro detentor do texto, caso haja
impossibilidade dos três primeiros em realizar a entrega.

160
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

Art. 737. A publicação do testamento particular poderá ser requerida,


depois da morte do testador, pelo herdeiro, pelo legatário ou pelo
testamenteiro, bem como pelo terceiro detentor do testamento, se
impossibilitado de entregá-lo a algum dos outros legitimados para
requerê-la (BRASIL, 2015).

Esta espécie de testamento exige a confirmação do poder judiciário, eis


que ausente a exigência da presença da figura do tabelião ou o registro do texto
junto ao cartório, modalidades essas que conferem fé pública ao documento.

Há previsão legal para que, em circunstâncias excepcionais, no caso de


ausência de testemunhas, o juiz possa confirmar o texto, desde que declaradas na
cédula testamentária essa condição.

Assim, encerramos o estudo sobre a forma ordinária de testar. Agora,


podemos passar aos estudos das formas especiais, que abrange o testamento
marítimo, aeronáutico e militar, conforme consta no Art. 1.886 do Código Civil.
Temos ainda a disposição legal (Art. 1.887 do Código Civil) que proíbe outras
formas de testamentos especiais, autorizando apenas as contidas junto ao
novelista.

Nos termos do Art. 1.888, “Quem estiver em viagem, a bordo de navio


nacional, de guerra ou mercante, pode testar perante o comandante, em presença
de duas testemunhas, por forma que corresponda ao testamento público ou ao
cerrado” (BRASIL, 2002).

Essas duas espécies de testamento podem ser realizadas tanto pelos


tripulantes quanto pelos passageiros, conforme nos ensina Monteiro (2011, p.
175), “Tanto como o marítimo, o testamento aeronáutico pode ser utilizado pelos
passageiros e tripulantes. [...]”.

Verifica-se que o comandante do navio realizará o papel de tabelião, ainda,


o parágrafo único do referido artigo determina que o registro do testamento deva
ser efetuado pelo comandante junto ao diário de bordo.

Entretanto, caso o comandante esteja impossibilitado de presenciar a


realização do testamento, ele poderá designar uma terceira pessoa, que assim o
faça.

O testamento marítimo ou aeronáutico deverá ficar sob a guarda do


comandante que realizará sua entrega às autoridades administrativas no primeiro
porto ou aeroporto nacional, conforme inteligência do Art. 1.890 do Código Civil.

O propósito da realização de testamento marítimo ou aeronáutico, dá-


se em virtude de possibilidade de falecimento de indivíduo em viagem, no que
diz respeito ao testamento marítimo, esse só terá validade caso seja realizado no
curso da viagem, não podendo o navio estar em porto onde o testador pudesse
desembarcar e testar de forma ordinária.

161
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Ademais, o testamento caducará se o testador não vier a falecer na viagem


ou nos 90 dias subsequentes ao seu desembarque em terra.

Gonçalves (2011) ressalta que são duas as peculiaridades apresentadas


por esta modalidade testamentária. Nas palavras do doutrinador:

Essa modalidade testamentária apresenta duas peculiaridades: a)


não prevalece o testamento marítimo, se a embarcação estiver em
pequeno cruzeiro, ou mesmo no curso de uma viagem, se ao tempo
de sua confecção “o navio estava em porto onde o testador pudesse
desembarcar e testar na forma ordinária” (CC, Art. 1892); b) caducará,
como se verá adiante, “se o testador não morrer em viagem nem
nos noventa dias subsequentes ao seu desembarque em terra, onde
possa fazer; na forma ordinária, outro testamento” (Art. 1.891)
(GONÇALVES, 2011, p. 307).

Podemos observar que tanto o testamento marítimo quanto o aeronáutico


possuem muitas semelhanças, tanto que foram disciplinados na mesma seção
junto ao Código Civil. Essa similitude também é abordada por Gonçalves (2009,
p. 80):

O testamento aeronáutico, por guardar semelhança com o marítimo,


foi disciplinado na mesma seção, estendendo-se lhe a regulamentação
deste, nos seguintes termos: “Quem estiver em viagem, a bordo de
aeronave militar ou comercial pode testar perante pessoa designada
pelo comandante” (Art. 1889), observando o disposto no Art. 1888. Cada
qual ficará sob guarda do guarda do comandante, que o entregará às
autoridades administrativas do primeiro porto ou aeroporto nacional,
contrarrecibo averbado no diário de bordo (Art. 1890).

Para concluir, passamos a abordar a última espécie prevista na forma de


testamento especial, que é o testamento militar.

Essa espécie de testamento é específica para oficial ou pessoas que estejam


servindo as forças armadas em campanha, tanto em território nacional quanto no
estrangeiro, ou que estejam em praça sitiada ou com comunicação interrompida,
conforme inteligência do Art. 1.893.

Gagliano e Pamplona Filho (2019, s.p.), ao tratarem sobre o tema, dizem


que não seria justificável que o indivíduo nessas condições procurasse um
tabelião para realizar seu testamento, eis que “inserido o sujeito no esforço militar
de guerra, com potencial risco de vir a sucumbir, não é razoável imaginar que
teria de correr a um tabelião para fazer um testamento”.

O testador militar poderá realizar o testamento mediante duas ou três


testemunhas e caso não haja tabelião ou seu substituto legal, poderá uma dessas
testemunhas assinarem o testamento, caso o testador não puder ou não souber
assinar.

162
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

O testamento dos militares e demais pessoas a serviço das Forças


Armadas em campanha, dentro do País ou fora dele, assim como em
praça sitiada, ou que estejam de comunicações interrompidas, poderá
fazer-se, não havendo tabelião ou seu substituto legal, ante duas, ou
três testemunhas, se o testador não puder, ou não souber assinar, caso
em que assinará por ele uma delas (BRASIL, 2002).

O § 1º do Art. 1.893 prevê a possibilidade de o testamento ser escrito pelo


respectivo comandante, mesmo que em graduação ou posto inferior, em seguida,
o § 2º autoriza, no caso de o testador estar em estabelecimento hospitalar, que o
testamento seja escrito pelo oficial de saúde ou pelo diretor do estabelecimento, e
o § 3º, ao fim, determina que se o testador for oficial mais graduado o testamento
será escrito por aquele que o substituir.

A legislação também autoriza, caso o testador militar saiba escrever, a


realização de testamento de próprio punho, desde que date e assine por extenso
o texto, podendo ser apresentado na espécie aberta ou cerrada.

Art. 1.894. Se o testador souber escrever, poderá fazer o testamento


de seu punho, contanto que o date e assine por extenso, e o apresente
aberto ou cerrado, na presença de duas testemunhas ao auditor, ou ao
oficial de patente, que lhe faça as vezes neste mister.
Parágrafo único. O auditor, ou o oficial a quem o testamento se
apresente notará, em qualquer parte dele, lugar, dia, mês e ano, em
que lhe for apresentado, nota esta que será assinada por ele e pelas
testemunhas (BRASIL, 2002).

Esta modalidade também permite, conforme consta no Art. 1.896, a


possibilidade de realização de testamento oral, desde que o testador esteja em
combate ou ferido, bastando apenas duas testemunhas a quem possa confiar sua
última vontade.

Para concluir este subtópico, há de se ressaltar que a o testamento militar


caduca em 90 dias, caso o testador não venha a falecer ou esteja em lugar onde
pode testar de forma ordinária (Art. 1.895 do civilista). Ainda, conforme o
parágrafo único do Art. 1.896, o testamento só terá efeito se o testador vier a
falecer ou convalescer do ferimento.

FIGURA 7 – FORMAS DE TESTAMENTO

FONTE: <https://jusbrasilmodelos.jusbrasil.com.br/modelos-pecas/790643201/modelo-testamento>.
Acesso em: 18 mar. 2021.

163
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

E
IMPORTANT

O testamento vital poderá dispor sobre recusa e/ou aceitação de cuidados,


tratamentos que prolonguem a vida artificialmente, doação de órgãos e a nomeação de
um representante.
São testamentos ordinários: o público; o cerrado; e o particular.
O testamento aberto, ou testamento autêntico, é aquele em que as declarações do testador
são tomadas por oficial público em livro de notas, perante duas testemunhas.
O testamento público também pode ser lavrado pelas autoridades consulares brasileiras.
O testamento cerrado deve ser escrito pelo testador ou por outra pessoa que o faça a
pedido do testador, devendo em ambos os casos conter a assinatura do indivíduo que está
testando e a sua validade está condicionada à aprovação do tabelião ou o substituto deste.
Exige-se a presença de duas testemunhas.
O testamento particular é a forma mais acessível de testamento, pois é a que apresenta a
menor quantidade de formalidades, não sendo essencial a presença do notário ou tabelião
para que seja elaborado. Exige-se a presença de três testemunhas e o poder judiciário deve
confirmar o seu teor.
Testamento especial abrange testamento marítimo, aeronáutico e militar.
O testamento marítimo e o aeronáutico se dá em virtude da possibilidade de falecimento
do indivíduo em viagem e pode ser utilizado pelos passageiros e tripulantes.
O testamento Militar é específico para oficial ou pessoas que estejam servindo às forças
armadas em campanha, tanto em território nacional quanto no estrangeiro, ou que estejam
em praça sitiada ou com comunicação interrompida.

3 DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS


Após compreender as espécies de testamento existentes e autorizadas pela
legislação pátria, bem como a espécie de testamento que está sendo amadurecida
pela doutrina (testamento vital), iniciamos o estudo das disposições testamentárias.
A seguir, vamos compreender o que poderá o testador dispor como ato de sua
última vontade, já sabemos que existe certa redução da capacidade testamentária,
eis que é garantida a proteção da legítima do herdeiro do de cujus.

Para relembrar o que já estudamos, vamos, através das palavras de


Eduardo de Oliveira Leite (2013, p. 259), compreender de modo exemplificativo
a reserva da legítima: “Se o testador tinha um patrimônio de R$ 12.000,00, R$
60.000,00 correspondem à legítima e os outros R$ 60.000,00 à cota disponível.
Se, no testamento só dispôs de R$ 40.000,00, os R$ 20.000,00 restantes passam a
compor a legítima”.

Para tanto, temos disposição legal que impõe limite à liberdade de testar,
esse limite deve ser obrigatoriamente respeitado junto ao testamento. No que diz
respeito às cláusulas testamentárias, temos que há a exigência de ser observada as
formalidades legais, eis que o testamento é um ato jurídico solene.

164
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

Assim, temos que as disposições testamentárias são as cláusulas constantes


no texto do testamento, cujo indivíduo decidirá sobre seus bens e patrimônio,
bem como poderá tratar de assuntos extrapatrimoniais, conforme já estudamos.

De acordo com o Art. 1.897, a nomeação de herdeiro ou legatário poderá


ser feita, pura e simplesmente, sob condição para certo fim ou modo ou por certo
motivo. Também poderá o testador designar o tempo em que deva começar ou
cessar o direito do herdeiro, excetuando as disposições fideicomissárias (Artigo
1.898 do civilista).

Veloso (2015, p. 480), ao tratar sobre disposições testamentária, ensina-nos


o que significa a nomeação pura e simples do herdeiro, para o doutrinador:

A nomeação pura e simples é a que não impõe qualquer ônus, encargo


ou obrigação ao herdeiro ou legatário, tornando-se eficaz desde a
morte do testador. Havendo pureza e simplicidade, a disposição
testamentária opera sem mais nada, com a abertura da sucessão.

No que diz respeito à nomeação de herdeiro ou legatário por certo motivo,


explica Veloso (2015, p. 482), que se dá quando algo impulsionou a vontade do
testador.
Por certo motivo é a disposição em que o de cujus explica a razão
da liberalidade, identifica o que impulsionou a sua vontade, o que
originou, influenciou ou estimulou a sua deliberação, como, por
exemplo, se o testador afirma que nomeou o herdeiro por ser este um
cientista notável, ou porque o socorreu em momento de dificuldade.

Por sua vez, a nomeação dada para certo fim ou modo é aquela, segundo
Veloso (2015, p. 482), submetida a um determinado encargo, impondo uma
obrigação para o herdeiro testamentário, devendo por certo, esta obrigação ser
lícita e possível.
Para certo fim ou modo é a disposição submetida a encargo, ou seja,
ao beneficiado é imposta uma obrigação. O encargo tem de ser lícito e
possível. Na condição, a liberalidade tem o efeito subordinado a evento
futuro e incerto; o encargo é ônus, uma restrição à liberalidade, não é
um correspectivo da atribuição feita no testamento, mas moderação,
limitação dela, e, no geral dos casos, não suspende a eficácia da
disposição (Art. 136). Conforme a lição repetidíssima do venerando
Savigny, a condição (suspensiva) suspende e não obriga e o encargo
ou modo obriga e não suspende. 8 O Art. 136 de nosso Código Civil
em vigor corresponde ao Art. 128 do Código Civil de 1916, e a fonte de
ambos é o Art. 655 do Esboço, de Teixeira de Freitas.

Com relação à disposição fideicomissárias, entendemos como sendo


aquela disposição que tratará de substituição, na qual o substituto não é o
herdeiro propriamente dito e sim o responsável pela manutenção do patrimônio,
patrimônio este que será herdado por pessoa ainda não concebida ao tempo da
morte do testador. A legislação, ao tratar do tema, assim determina:

165
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Art. 1.951. Pode o testador instituir herdeiros ou legatários,


estabelecendo que, por ocasião de sua morte, a herança ou o legado se
transmita ao fiduciário, resolvendo-se o direito deste, por sua morte,
a certo tempo ou sob certa condição, em favor de outrem, que se
qualifica de fideicomissário.
Art. 1.952. A substituição fideicomissária somente se permite em favor
dos não concebidos ao tempo da morte do testador.
Parágrafo único. Se, ao tempo da morte do testador, já houver nascido o
fideicomissário, adquirirá este a propriedade dos bens fideicometidos,
convertendo-se em usufruto o direito do fiduciário (BRASIL, 2002).

O legislador brasileiro também constou previsto junto ao Código Civil,


Art. 1.899, a possibilidade de existência de cláusulas testamentárias passíveis de
interpretações distintas, garantindo que deverá prevalecer a interpretação que
assegure a melhor observância da vontade do testador.

A doutrina caminha neste mesmo sentido, ressaltando que a interpretação


tem certo limite e deve chegar o mais próximo da vontade do testador, remediando
as lacunas existentes.

A interpretação das verbas testamentárias – com o intuito de salvar,


o mais possível, a vontade do testador – é o nobile officium do Juiz
dos Testamentos. Encher os vazios; remediar os defeitos; investigar
a verdadeira vontade; suprir no sentido da vontade do testador;
penetrar em suas intenções, para ver, lá dento, o que no testamento o
disponente quis. Nada de agarrar-se às palavras, como que a castigar
o testador pelo que disse mal (STRECK, 2001, p. 106-107).

Complementando as palavras de Streck (2001), Euclides de Oliveira e


Sebastião Amorim (2009, p. 260) lecionam no sentido de que "[...] a expressão
usada no testamento deve interpretar-se "naturaliter", e não "civiliter", ou seja, não
literalmente ou no sentido técnico-jurídico, mas naquele que presumivelmente
estaria na mente do testador".

Por fim, podemos fazer a leitura do que defendem que deve prevalecer
a vontade do testador: "A vontade do testador, declarada por meio de formas
solenes impostas por lei, deve ser respeitada. Para tanto, prevalece sempre o fator
subjetivo, cogitando-se antes do mais da vontade, expressa ou presumida do
estipulante" (NERY JUNIOR; NERY, 2011, p. 1348).

Diferente não é o que vem sendo decidido em nossos tribunais sobre o


tema, faça, a seguir, a leitura de parte da ementa elaborada ao analisar a Apelação
Cível nº 70067860890, pela Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS,
de relatoria de Rui Portanova, Redator: Luiz Felipe Brasil Santos, que foi Julgado
em 1º/12/2016: “Apelação Cível. Sucessões. Nulidade de Partilha. [...] Não se
pode admitir que o testamento contenha palavras inúteis, só sendo adequada a
interpretação que encontre um significado útil e efetivo para cada expressão nele
contida. [...]” (TJ, 2015).

166
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

Neste contexto, embora possa haver a necessidade de interpretação de


cláusula testamentária, ela deve ser realizada de modo a preservar sempre a
vontade do testador ou, ao menos, que chegue mais próximo a isso.

A nulidade de cláusula testamentária foi contemplada pelo Código


Civil, em seu Art. 1.900, que enumera cinco incisos que geram nulidade em grau
máximo, devendo ser declarado pelo juiz ex officio. Leiamos o que diz o Art. 1.900:

Art. 1.900. É nula a disposição:


I - que institua herdeiro ou legatário sob a condição captatória de que
este disponha, também por testamento, em benefício do testador ou
de terceiros;
II - que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar;
III - que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua
identidade a terceiro;
IV - que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do
legado;
V - que favoreça as pessoas a que se referem os Arts. 1.801 e 1.802
(BRASIL, 2002).

Ao realizar o estudo sobre o Inciso I do referido artigo, Veloso (2015)


destaca que a condição captatória deve ter sido realizada de forma dolosa, com a
intenção de obter vantagem de outrem, não sendo toda disposição testamentária
recíproca, passível de nulidade. Nas palavras do doutrinador: “Para que se
tenha como captatória a condição, é necessário que o arranjo tenha sido doloso.
Mediante artifícios e manobras fraudulentas consegue-se seduzir, captar a
vontade de outrem, com o fito de obter contrapartida do benefício testamentário”
(VELOSO, 2015, p. 494).

Ainda, para Veloso (2003, p. 222):

O que o direito condena não é a captação; o que torna a captação


sujeita à censura do direito e, assim, exposta à incidência da sanção
de nulidade, é o dolo. A captação em si mesma, ou a captação simples,
ou a captação que se exerce sem recurso a manobras ou artifícios
fraudulentos, ou pela influência direta dos dons pessoais, de natureza
física, intelectual ou moral, é um fenômeno geral, ordinário e comum,
e se exerce diariamente entre os homens, nos mais variados domínios
das relações humanas, só incorrendo na censura da lei quando aquela
influência, só por si, não se tornou suficiente, tornando-se necessário,
para reforçá-la, o recurso à fraude, ao dolo ou à prática de atos ilícitos.

Já o Inciso II, determina que seja declarada a nulidade quando não for
possível identificar a pessoa para qual o testador tinha a intenção de deixar parte
de seu patrimônio.

Veloso (2015) esclarece que a incerteza deve ser absoluta e insuperável,


não havendo maneira de identificá-la, para tanto, traz o seguinte exemplo para
facilitar a compreensão da intenção do legislador:

167
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

No caso, por exemplo, de o testador nomear herdeira sua prima Sílvia,


verificando-se, com a abertura da sucessão, que o de cujus tinha duas
primas com esse mesmo nome, não sendo possível determinar, com
segurança e certeza, a qual delas ele queria se referir, a disposição
testamentária é nula, sendo chamados os herdeiros legítimos
(VELOSO, 2015, p. 495).

Com relação ao que preceitua o Inciso III do Art. 1.900, temos que
a disposição testamentária que favoreça pessoa incerta, delegando a sua
identificação por parte de terceiros também deve ser declarada nula, nesses
casos, o ato de testar estaria sendo terceirizado, o que não é permitido em nossa
legislação, pois o testamento é um ato personalíssimo, como já estudamos.

É nula, também (Inciso III), a disposição que favoreça pessoa incerta,


cometendo a determinação de sua identidade a terceiro. Seria o
mesmo que delegar a faculdade de testar, ferindo o princípio de que
o testamento é ato personalíssimo. A manifestação de vontade do
testador, em aspecto substancial, dependeria do arbítrio de terceiro
(VELOSO, 2015, p. 495).

Diferente não é a cláusula nula que autoriza que o herdeiro ou uma terceira
pessoa estipulem o valor do legado. Para Veloso (2015), embora o dispositivo legal
se refira a legado, a categoria herança deve ser incluída no preceito. O conceituado
autor traz a exemplificação de como seria uma disposição testamentária, na qual
o herdeiro ou um terceiro fixem o valor ou a fração a ser recebida pelo herdeiro
testamentário.

Por motivos idênticos, não pode o testador deixar ao arbítrio do


herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado (Inciso IV). Não
obstante, ver o Art. 1.901, II. O dispositivo só se refere ao valor do
legado, mas a herança deve estar incluída no preceito, pois isso
decorre do princípio de que ninguém pode, pelo testador, fixar o valor
ou a extensão da quota do herdeiro instituído. Nula, por exemplo, é
a disposição: “Andréa será minha herdeira, ficando com a fração que
minha irmã fixar” (VELOSO, 2015, p. 496).

E, por fim, o Inciso V garante nulidade às cláusulas que constem como


herdeiros testamentários às pessoas contidas nos Arts. 1.801 e 1802, que são
as pessoas não legitimadas a sucederem. Esses artigos já foram devidamente
estudados no tópico anterior. A legislação também nos contempla com os
dispositivos que terão validade, autorizando, em seu Art. 1.901 as cláusulas
testamentárias que sejam realizadas:

I - em favor de pessoa incerta que deva ser determinada por


terceiro, dentre duas ou mais pessoas mencionadas pelo testador,
ou pertencentes a uma família, ou a um corpo coletivo, ou a um
estabelecimento por ele designado;
II - em remuneração de serviços prestados ao testador, por ocasião da
moléstia de que faleceu, ainda que fique ao arbítrio do herdeiro ou de
outrem determinar o valor do legado (BRASIL, 2002).

168
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

Para que não haja confusão entre o Inciso I do Art. 1.901 e inciso II e III
do Art. 1.900, importante esclarecer a você, acadêmico, que o primeiro caso se
trata de incerteza relativa, eis que o testador deverá indicar dentre duas ou mais
pessoas que sejam mencionadas por ele, ou pertencentes a uma família, ou a um
corpo coletivo, ou a um estabelecimento por ele designado, enquanto ao segundo
caso se trata de incerteza absoluta, eis que o Inciso II daquele artigo faz referência
à pessoa que não se possa averiguar e o Inciso III delega a determinação de
indicação por terceira pessoa. Essa diferença é muito bem exemplificada por
Veloso (2015, p. 496), veja:

Por força do Art. 1.900, III, é nula a disposição seguinte: “deixo a casa
da rua 7 de Setembro à pessoa que mamãe indicar”; mas, diante do
Art. 1.901, I, é válida a cláusula que estabelece: “deixo a casa da rua 7
de Setembro para uma de minhas irmãs, que será escolhida por minha
mãe”. O terceiro, que, obviamente, é pessoa de confiança do testador,
vai fazer a determinação do favorecido num grupo restrito, limitado,
dentre pessoas mencionadas, já indicadas pelo testador. O terceiro,
afinal, faz a opção, mas quem escolheu as pessoas foi o de cujus.

O nosso legislador também previu a possibilidade de realizar a


remuneração de serviços prestados, por ocasião de moléstia – frisa-se – através
de cláusula testamentária nos termos do Inciso II do Artigo 1.901, conferindo,
assim, validade à disposição em testamento neste sentido. O valor ou o quinhão
a ser estipulado para essa remuneração poderá ocorrer a critério do herdeiro ou
terceira pessoa, desde que especifique o testador.

É permitido também ao testador, como disposição de sua última vontade,


a possibilidade de testar em favor dos pobres, dos estabelecimentos particulares
de caridade ou dos de assistência pública, devendo o testador indicar de qual
localidade seriam esses estabelecimentos. No caso de ausência de indicação da
localidade, será considerado o lugar do domicílio do testador no tempo de sua
morte, inteligência do Art. 1.902 do novelista.

O parágrafo único do Art. 1.902 determina que, caso haja dúvida de


quais instituições serão beneficiadas, se pública ou particular, deverá ser dada
preferência às instituições privadas, isso porque, de acordo com Veloso (2015),
são as instituições particulares que mais precisam de apoio e recursos.

A disposição contida no Art. 1.903, em regra geral, determina a anulação de


cláusula em que contenha erro de designação da pessoa do herdeiro, do legatário
ou da coisa legada, entretanto permite produção de prova, através da verificação
do contexto do testamento, e até por outros documentos ou fatos inequívocos que
possam identificar a pessoa ou a coisa a quem o testador queria se referir à época
da realização do texto testamentário.

O Art. 1.904 do código civilista trata sobre a possibilidade de o testador


nomear dois ou mais herdeiros sem que faça a diferenciação da quota parte que
irá tocar a cada um deles. Nessas situações, o legislador determina que a partilha
deverá se dá por igual entre todos eles.

169
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Ainda, no caso de o testador nomear herdeiros de forma individual e


outros de forma coletiva, a herança será partilhada em tantas quotas quantos
forem os indivíduos e os grupos designados (Art. 1.905 do Código Civil) e caso
as cotas de cada herdeiro não absorverem toda a herança, a parte remanescente
pertencerá à legítima, seguindo a ordem de vocação hereditária (Art. 1.906 do
civilista).

O Art. 1.907 dispõe que “Se forem determinados os quinhões de uns e


não os de outros herdeiros, distribuir-se-á por igual a esses últimos o que restar,
depois de completas as porções hereditárias dos primeiros” (BRASIL, 2002).

Nestas situações, a doutrina também colabora para que, no caso de


ausência de deliberação sobre o quinhão pelo testador a uma parte dos herdeiros
testamentários, deverá primeiro ser distribuída aos herdeiros a quem o testador
determinou o quinhão e, posterior a isso, àqueles em que não foram contemplados
pela determinação de sua cota. Segundo Veloso (2015, p. 500):

O testador, neste caso, dispôs de toda a herança, mas determinou


os quinhões de uns herdeiros e não designou os de outros. Os
primeiros receberão as suas quotas, que foram especificadas. Depois
de completas essas porções, o que sobrar será repartido, igualmente,
entre os herdeiros cujos quinhões não foram determinados (Art.
1.904). Se nada sobrar, nada herdarão os que foram instituídos sem
designação do quinhão.

Ao indivíduo também é possibilitado testar no sentido de que certo e


determinado objeto, dentre os da herança, não caiba a herdeiro instituído, referido
objeto então tocará aos herdeiros legítimos, conforme preceitua o Art. 1.908 do
nosso Código Civil.

Nossa legislação também considera anulável as disposições testamentárias


esculpidas no erro, dolo e coação, abrindo prazo de quatro anos para o direito de
anular disposição testamentarias neste sentido, contando-se o prazo a partir do
momento em que o interessado tenha conhecimento do vício. Ainda há de frisar
que a ineficácia, conforme dispositivo legal, de uma das disposições testamentárias
importa a das outras, que sem aquela não teriam sido determinadas pelo testador
– Artigo 1.909 e 1.910 (BRASIL, 2002).

O Art. 1.911 do novelista irá dispor sobre a impossibilidades de


penhorabilidade e comunicabilidade dos bens deixados pelo testador, através de
ato voluntário, trata-se de cláusula restritiva, pois determina que referido bem
seja inalienável e incomunicável. Essa cláusula, no entanto, não é de duração
eterna, limita-se à vida do beneficiado pelo bem e apenas produzirá efeitos após
o falecimento do testador.

O artigo 1.848 possibilita a existência da referida cláusula testamentária


mediante justo motivo, não sendo válidas indicações genéricas. Silvo Rodrigues
(2003, p. 127), ao tratar sobre a matéria, assim a explica:

170
TÓPICO 1 — DO TESTAMENTO

Não basta que o testador aponte a causa. Ela precisa ser justa,
podendo-se imaginar a pletora de questões que essa exigência vai
gerar, tumultuando os processos de inventário, dado o subjetivismo
da questão. Se o testador explicou que impõe a incomunicabilidade
sobre a legítima do filho porque a mulher dele não é confiável, agindo
como caçadora de dotes; ou se declarou que grava a legítima da
filha de inalienabilidade porque esta descendente é uma gastadora
compulsiva, viciada no jogo, e, provavelmente, vai dissipar os bens,
será constrangedor e, não raro, impossível concluir se a causa apontada
é justa ou injusta.

Muito embora, devidamente autorizada a cláusula restritiva testamentária


de inalienabilidade e incomunicabilidade de determinado bem direcionado a
alguém, a referida cláusula só terá validade se apresentada à justa causa.

O parágrafo único do mesmo dispositivo legal, que trata sobre a cláusula


restritiva testamentária, prevê casos de desapropriação de os bens clausulados
ou de alienação, quando por conveniência econômica do donatário ou herdeiro,
mediante autorização judicial. Nesses casos, o produto da venda deve converter-
se em outros bens e, nesses bens, incidirão as restrições anteriormente opostas.

171
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O testamento é um ato de última vontade, em que determinada pessoa irá


dispor sobre metade de seu patrimônio, podendo ainda constar diligências de
caráter não patrimonial.

• É possível que o testamento possa ser alterado a qualquer tempo, desde que
vivo o testador.

• O prazo para a realização de impugnação da validade do testamento, que se


dará em cinco anos, contado prazo da data do seu registro.

• Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem
pleno discernimento, porém podem testar os maiores de 16 anos.

• A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o


testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade.

• A incapacidade ativa inclui pessoas acometidas por arteriosclerose, excessiva


pressão arterial, pessoas em estado de embriaguez e aquelas que fazem uso de
entorpecentes ou substâncias alucinógenas.

• O testamento vital poderá dispor sobre recusa e/ou aceitação de cuidados,


tratamentos que prolonguem a vida artificialmente, doação de órgãos e a
nomeação de um representante

• São testamentos ordinários: o público; o cerrado; e o particular.

• O testamento aberto, ou testamento autêntico, é aquele em que as declarações


do testador são tomadas por oficial público em livro de notas, perante duas
testemunhas.

• O testamento público também pode ser lavrado pelas autoridades consulares


brasileiras.

• O testamento cerrado deve ser escrito pelo testador ou por outra pessoa que o
faça a pedido do testador, devendo, em ambos os casos, conter a assinatura do
indivíduo que está testando e a sua validade está condicionada à aprovação do
tabelião ou o substituto deste. Exige-se a presença de duas testemunhas.

172
• O testamento particular é a forma mais acessível de testamento, pois é a
que apresenta a menor quantidade de formalidades, não sendo essencial a
presença do notário ou tabelião para que seja elaborado. Exige-se a presença
três testemunhas e o poder judiciário deve confirmar o seu teor.

• Testamento especial abrange testamento marítimo, aeronáutico e militar.

• O testamento marítimo e o aeronáutico se dá em virtude de possibilidade de


falecimento de indivíduo em viagem e pode ser utilizado pelos passageiros e
tripulantes.

• O testamento irá caducar se o testador não vier a falecer na viagem ou nos 90


dias subsequentes ao seu desembarque em terra.

• O testamento militar é específico para oficial ou pessoas que estejam servindo


as forças armadas em campanha, tanto em território nacional quanto no
estrangeiro, ou que estejam em praça sitiada ou com comunicação interrompida.

• As disposições testamentárias são as cláusulas constantes no texto do


testamento, cujo indivíduo decidirá sobre seus bens e patrimônio, bem como
poderá tratar de assuntos extrapatrimoniais.

• A nomeação de herdeiro ou legatário poderá ser feita, pura e simplesmente,


sob condição para certo fim ou modo ou por certo motivo. Também poderá o
testador designar o tempo em que deva começar ou cessar o direito do herdeiro,
excetuando as disposições fideicomissárias.

• A possibilidade de existência de cláusulas testamentárias passíveis de


interpretações distintas, garantindo que deverá prevalecer a interpretação que
assegure a melhor observância da vontade do testador.

• É permitido também ao testador, como disposição de sua última vontade, a


possibilidade de testar em favor dos pobres, dos estabelecimentos particulares
de caridade ou dos de assistência pública.

173
AUTOATIVIDADE

1 O testamento é um documento personalíssimo através do qual uma pessoa


dispõe de seus bens total ou parcialmente após a sua morte. Apesar de
pouco utilizado no Brasil, é importante instrumento para evitar conflitos
sucessórios. Para testar, devem ser seguidas determinadas regras previstas
no Código Civil brasileiro. Acerca do testamento, assinale a afirmação
CORRETA:

a) ( ) O testamento cerrado deve ser escrito pelo testador ou por outra


pessoa que o faça a pedido do testador, devendo em ambos os casos
conter a assinatura do indivíduo que está testando e a sua validade
está condicionada à aprovação do tabelião ou o substituto deste.
b) ( ) O testamento particular dispensa a presença de testemunhas e não
pode ser modificado.
c) ( ) No ordenamento jurídico brasileiro não há a previsão de testamento
militar, uma vez que é específico para oficial ou pessoas que estejam
servindo as forças armadas em campanha fora do país.
d) ( ) O testamento marítimo e o aeronáutico se dá em virtude de
possibilidade de falecimento de indivíduo em viagem e é proibida a
utilização desta espécie de testamento por tripulantes.

2 De acordo com o disposto no Art. 1.857 do Código Civil brasileiro, toda


pessoa pode, por testamento, dispor da totalidade de seus bens ou parte
deles, para depois de sua morte, podendo o testamento ser alterado ou
anulado a qualquer tempo pelo testador. Sobre o testamento, assinale a
afirmação CORRETA:

a) ( ) A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento.


b) ( ) No Brasil é vedado por lei o testamento vital.
c) ( ) O testamento realizado por incapaz é válido se o testador se tornar
capaz.
d) ( ) O testamento marítimo e o aeronáutico não caducam, devendo o
testador alterá-los assim que lhe for conveniente.

3 O testamento é importante instituto do Direito de Família e das Sucessões.


Na realidade, é um importante instrumento que evita conflitos no momento
da divisão dos bens. É um instrumento personalíssimo que apenas pode ser
feito de maneira livre e deve obedecer determinados requisitos formais.
Acerca do testamento, analise as sentenças a seguir:

I- O testamento é ato personalíssimo e uma vez feito não pode ser alterado
sem justa causa.
II- O prazo para impugnar a validade de um testamento é de três anos a
partir da abertura da sucessão testamentária.

174
III- O testamento não pode ser realizado de forma alguma por pessoas com
deficiência visual, entretanto, poderá ser realizado por pessoas com
deficiência auditiva.
IV- A liberdade de testar se restringe a parte reservada a legítima.

Assinale a afirmação CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.
d) ( ) Apenas a sentença IV está correta.

175
176
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

DO LEGADO

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico, após os estudos realizados no tópico anterior, em que


você pôde compreender o instituto do testamento e todas as suas nuances,
estudando as espécies de testamentos, bem como a capacidade ativa e passiva
testamentária, finalizando seus estudos junto ao referido tópico, tratando das
disposições testamentárias, já está preparado para iniciar o estudo sobre o Legado.

Neste tópico, você passará a estudar o legado, conceituando esta categoria


e compreendendo os efeitos do legado e a forma como se dará seu pagamento.
Poderá verificar que o legado, quando realizado, o bem deve pertencer ao testador
já no momento da abertura da sucessão, sob pena de ser declarado ineficaz.
Também estudará sobre as exceções a esta determinação.

Ainda compreenderá que o legado poderá ter eficácia parcial, nos casos
estipulados junto ao Código Civil. Ademais, distinguirá as espécies de legado
provisionados em nosso ordenamento.

Por fim, particularizará o legado como disposição testamentária a título


particular abrangente de bens ou direitos individualizados, dentre os quais se
destacam do patrimônio do testador e atribuídos à pessoa por ele designada.

2 CONCEITO
O legado é transmitido por testamento ou codicilo, entretanto, nesse ato, é
conferido ao testador certa liberdade, assemelhando-se à doação realizada no ato
intervivos. Através do legado, o testador poderá beneficiar determinada pessoa,
indicando coisa certa e determinada.

Possui previsão legal junto ao Código de Processo Civil, Art. 1.912 e


seguintes, e se enquadra em uma determinada disposição testamentária a título
singular. O referido artigo preceitua que é “ineficaz o legado de coisa certa que
não pertença ao testador no momento da abertura da sucessão” (BRASIL, 2015).

177
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Gomes (2004) ressalta a importância de que os bens devem pertencer ao


testador, podendo ele atribuir referido bens ou direitos individualizados à pessoa
a ser designada para o legado. “Legado seria toda disposição testamentária a
título particular abrangente de bens ou direitos individualizados, que se destacam
do patrimônio do testador e são atribuídos à pessoa por ele designada” (GOMES,
2004, p. 179).

Entretanto, o Art. 1.915 apresenta-nos uma exceção ao que dispõe o


Art.1.912, aquele dispositivo autoriza a realização do legado pelo testador de coisa
genérica, que é determinada pelo gênero, obrigando, assim, o seu cumprimento.
“Art. 1.915. Se o legado for de coisa que se determine pelo gênero, será o mesmo
cumprido, ainda que tal coisa não exista entre os bens deixados pelo testador”
(BRASIL, 2002).

Para tanto, se o legado for coisa a ser determinada pelo gênero, deverá ser
cumprido nos termos disposto pelo testador, ainda que essa coisa não exista entre
os bens deixado pelo falecido.

Para Gama (2006, p. 239), o legado é uma “disposição de última vontade


pela qual o testador deixa bens determinados a uma pessoa. Aquilo que alguém
transmite a outrem”.

Tartuce e Simão (2010), ao conceituarem a categoria legado, aprofundam-


se ao afirmarem que o indivíduo que receberá o legado pode ser pessoa herdeira
do de cujus ou não. Para os autores, o legado “trata-se de deixa testamentária pela
qual um bem ou certos bens são atribuídos a certa pessoa, seja ela herdeira ou
não, em decorrência da vontade do falecido” (TARTUCE; SIMÃO, 2010, p. 354).

Com o legado surge também a figura do legatário, que nada mais é que
o indivíduo, herdeiro ou não, que será beneficiado pelo legado, recebendo para
si uma coisa certa e determinada, podendo, inclusive, ser uma soma de valores.

FIGURA 8 – LEGATÁRIO

FONTE: <https://s.dicio.com.br/legatario.jpg>. Acesso em: 18 mar. 2021.

178
TÓPICO 2 — DO LEGADO

Maria Helena Diniz (2005, p. 432), ao diferenciar o herdeiro do legatário


assim se pronunciou: “o herdeiro representa o defunto, para efeitos patrimoniais;
o legatário não, tanto que só responde pelas dívidas quando a herança for
insolvável ou distribuída, por inteiro, em legados válidos”.

Na mesma linha de Diniz (2005), Wald (1997) esclarece quais as


características do legado e reafirma o fato de o legatário não responder pelo
passivo da herança, distinguindo-se daí, da figura do herdeiro.
Os elementos característicos do legado são a transmissão de um
bem específico e o fato de o legatário não responder pelo passivo da
herança, enquanto o herdeiro propriamente dito tem direito a uma
quota, fração, parcela do patrimônio do falecido, abrangendo tanto
os haveres como os débitos da massa de bem que constitui o espólio
(WALD, 1997, p. 239).

Entretanto, embora herdeiro não se confunda com legatário, há a


possibilidade de o herdeiro legítimo receber o legado, que é destinado pelo de
cujus. Nestas situações, o indivíduo receberá a título universal e a título singular.
Nicolau (2005, p. 132) nos esclarece nesta mesma direção: “Esse beneficiado
pode inclusive ser um herdeiro legítimo do de cujus que passa a receber a título
universal (1829) e a título singular. Tem-se, nesse caso, o chamado prelegado ou
legado precípuo”.

O Art. 1.913 do Código Civil, por sua vez, delibera no sentido de autorizar
que o testador possa ordenar que herdeiro ou legatário sejam responsáveis pela
entrega de coisa de sua propriedade a outra pessoa, no caso do descumprimento
por parte destes, haverá o entendimento de que houve a renúncia à herança ou
ao legado.

Venosa (2007) se atenta que a disposição testamentária deve ser expressa


no sentido de determinar a entrega de coisa, não podendo ser mero conselho. Para
o doutrinador, “O Art. 1.913 estatui que o testador deva ordenar que o sucessor
entregue coisa de sua propriedade. A expressão do testador deve, pois, ser
absolutamente expressa. Não pode ser mero conselho ou exortação” (VENOSA,
2007, p. 244).

O dispositivo legal 1.914 constante no novelista acrescenta que, nos casos


em que apenas em parte o bem pertencer ao testador (coisa comum) ou no caso
previsto no artigo antecedente, somente a essa parte valerá o legado.

Também terá validade parcial o legado que ao tempo do falecimento do


indivíduo, o bem se achava entre os da herança, porém, em quantidade inferior.
Nessas situações, o legado terá eficácia apenas quanto à parte remanescente.

Art. 1.916. Se o testador legar coisa sua, singularizando-a, só terá


eficácia o legado se, ao tempo do seu falecimento, ela se achava entre
os bens da herança; se a coisa legada existir entre os bens do testador,
mas em quantidade inferior à do legado, este será eficaz apenas quanto
à existente (BRASIL, 2002).

179
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Da leitura desse mesmo artigo, podemos verificar que ele também trata,
em sua parte inicial, de coisa individualizada, devendo o testador especificar de
qual bem se trata e quais são suas características.

A eficácia do legado também é tratada junto ao Art. 1.917, quando o


legislador afirma que o legado só terá eficácia se, o testador, ao indicar a coisa
em determinado lugar, ela lá se encontre, excetuando os casos em que a coisa for
removida transitoriamente.

No entanto, para Venosa (2007), a aplicação da exceção que dispõe na


parte final do Art. 1.917 só será autorizada caso não seja o testador quem tenha
mudado a localização da coisa ou no caso de ele não saber que a coisa havia sido
mudada de localização.
Se o próprio testador quem a mudou, torna-se ineficaz a disposição. Se
o testador não sabia da mudança, a disposição deve valer [...] a ideia,
quando a disposição fala em local, é referente a coisas que o testador
destinou permanentemente a determinado lugar, valendo a disposição
quer estejam, quer não naquele local (VENOSA, 2007, p. 244).

O Art. 1.918 dispõe sobre o legado de crédito e de quitação de dívida,


essa forma de legado condiciona a sua eficácia até a importância do crédito ou
da dívida ao tempo da morte do testador, o § 2º proíbe que o legado compreenda
as dívidas posteriores à data do testamento, devendo essa espécie de legado ser
cumprida, conforme preceitua o § 1º do mesmo artigo, com a entrega do título
respectivo ao herdeiro.

Referido artigo trata de suas espécies de legado, a primeira, sobre o legado


de crédito e a segunda o legado de dívida. Para Diniz (2011, p. 349-350):
O legado de crédito (legatum nominis) tem por objeto um título de crédito
do qual é devedor terceira pessoa, que é transferido pelo testador ao
legatário, e que, entretanto, somente valerá até a concorrente quantia
do crédito ao tempo da abertura da sucessão.

Essa espécie de legado abrange os juros vencidos desde a morte do testador,


com a exceção dos casos em que o próprio testador disponha do contrário. Nesta
defesa, posicionam-se Tartuce e Simão (2010, p. 359) ao afirmarem que  “sendo
legado o crédito, estarão abrangidos todos os seus acessórios, tais como juros,
multa e garantias, incidindo a regra pela qual o acessório segue o principal”.

No que diz respeito ao legado de quitação de dívida, esta espécie será


configurada quando o testador for credor de um terceiro e em testamento confere a
esse o perdão do débito existente com o testador. Segue, para que você, acadêmico,
possa aprofundar seus estudos, o entendimento da doutrinadora Diniz (2011, p.
350-351): “O legado de quitação de dívida (legatum liberationis) importa o perdão
desta por parte do testador, que é o credor, ao legatário devedor, cumprindo-se
pela entrega do título ou passando-se a quitação, abrangendo, salvo disposição
em contrário, os juros”.

180
TÓPICO 2 — DO LEGADO

Há previsão também em nosso ordenamento do legado de alimentos,


que consiste no sustento, cura, vestuário e casa, tendo sua validade enquanto
o legatário estiver em vida. No caso de menores, ainda poderá esta espécie de
legado abranger a educação do legatário, conforme inteligência do Art. 1.920 do
Código Civil.

Esta espécie de legado, quando não estipulada pelo testador, será arbitrada
pelo juiz, observando sempre, além da vontade do testador a capacidade da
herança, estando de acordo com o binômio necessidade/possibilidade.

Ainda, o testador deverá indicar um herdeiro para que cumpra com o


fornecimento do legado alimentício, conforme preceitua Nicolau (2005, p. 137):
“[...] o testador, indica um determinado herdeiro que deverá fornecer a quantia
especificada a um legatário”. Cumpre ressaltar, para que não haja confusão, que
o valor a ser direcionado a este legatário sairá do montante da herança deixada
pelo falecido.

O nosso Código Civil autoriza a possibilidade do legado de usufruto que


é aquele que perdurará por toda a vida do legatário, sem fixação de tempo, nos
exatos termos utilizado pelo legislador ao abortar sobre o tema no Art. 1.921 do
referido código.

Por fim, junto ao Art. 1.922 temos o legado de imóvel, que assim dispõe de
fácil leitura e compreensão.

Art. 1.922. Se aquele que legar um imóvel lhe ajuntar depois novas
aquisições, estas, ainda que contíguas, não se compreendem no legado,
salvo expressa declaração em contrário do testador.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto neste artigo às benfeitorias
necessárias, úteis ou voluptuárias feitas no prédio legado (BRASIL,
2002).

NOTA

Legado seria toda disposição testamentária a título particular abrangente


de bens ou direitos individualizados, que se destacam do patrimônio do testador e são
atribuídos à pessoa por ele designada.
É ineficaz o legado de coisa certa que não pertença ao testador no momento da abertura
da sucessão.
Se o legado for de coisa que se determine pelo gênero, será o mesmo cumprido, ainda que
tal coisa não exista entre os bens deixados pelo testador.
Com o legado surge também a figura do legatário, que nada mais é o indivíduo, herdeiro ou
não, que será beneficiado pelo legado, recebendo para si uma coisa certa e determinada,
podendo inclusive ser uma soma de valores.
Há a possibilidade de o herdeiro legítimo receber o legado, que é destinado pelo de cujus.
Nessas situações, o indivíduo receberá a título universal e a título singular.

181
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

3 DOS EFEITOS DO LEGADO E DO SEU PAGAMENTO


O legislador brasileiro determinou que desde a abertura da sucessão, a
coisa certa existente no acervo patrimonial do testador, pertencerá ao legatário, a
exceção apontada em nosso Código Civil, Art. 1.923, dar-se-á em casos em que o
legado esteja sob condição suspensiva.

Neste sentido, temos, de acordo com Venosa (2008, p. 260), que “[...] pela
dicção legal, não há dúvida de que o legatário, em legado puro e simples, ou de
coisa certa, como aduz o atual diploma, tem o domínio da coisa, com a abertura
da sucessão. A morte é o título que transfere à propriedade”.

Ainda, junto ao parágrafo primeiro do artigo anteriormente mencionado,


é ressaltado que embora a coisa pertencerá ao legatário desde a abertura da
sucessão, não será a este deferida a posse da coisa de imediato, não podendo ele
entrar na propriedade por autoridade própria.

Rodrigues (2003) é cirúrgico ao diferenciar a posse direta da indireta,


esclarecendo-nos de que no caso de posse direta, essa só se dará no momento em
que o herdeiro entregar o objeto do legado ao legatário, resguardando a este o
direito de reclamo da entrega do que lhe foi conferido pelo testador.
[...] faz-se preciso recorrer à distinção entre posse direta e indireta. O
legatário, no momento da morte do testador, adquire o domínio da
coisa certa legada, bem como a posse indireta dela (CC, Art. 1.923). A
posse direta, entretanto, só será por ele adquirida no momento em que
o herdeiro lhe entregar o objeto do legado (CC, Art. 1.923, § 1º). Até
esse momento, cabe-lhe o direito de reclamar a entrega daquilo que
se tornou seu por força do testamento, e cuja propriedade resultou da
morte do testador (RODRIGUES, 2003, s.p.).

Ademais, o legislador determinou que o legado de coisa certa existente, ao


produzir frutos, esses também pertencerão ao legatário, desde a morte do testador,
com exceção de casos que em que o legado esteja em condição suspensiva ou
termo inicial. A seguir, a integralidade do dispositivo, para que você, acadêmico,
faça a leitura.
Art. 1923. Desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a coisa
certa, existente no acervo, salvo se o legado estiver sob condição
suspensiva.
§ 1º Não se defere de imediato a posse da coisa, nem nela pode o
legatário entrar por autoridade própria.
§ 2º O legado de coisa certa existente na herança transfere também ao
legatário os frutos que produzir, desde a morte do testador, exceto
se dependente de condição suspensiva, ou de termo inicial (BRASIL,
2002).

Para tanto, temos que o primeiro efeito a ser produzido pelo legado é o
pertencimento deste por parte do legatário, e o segundo efeito, embora não de

182
TÓPICO 2 — DO LEGADO

imediato, é a posse por parte deste ao bem legado. O terceiro efeito produzido pelo
legado é com relação aos frutos que o bem poderá produzir após o falecimento do
testador, eis que esses frutos irão pertencer ao legatário, com exceção de condição
suspensiva ou termo inicial, caos o testador os estipule.

O Art. 1.924 do civilista prevê o quarto efeito produzido pelo legado,


que é o direito que o legatário possui em reivindicar o legado para si, o referido
artigo afirma que esse direito está condicionado à ausência de litígio que debata
a validade do testamento e também nos casos de legado condicionais ou a prazo,
enquanto a condição esteja pendente ou o prazo não se vença. “Art. 1924. O
direito de pedir o legado não se exercerá, enquanto se litigue sobre a validade do
testamento, e, nos legados condicionais, ou a prazo, enquanto esteja pendente a
condição ou o prazo não se vença” (BRASIL, 2002).

Assim que o momento ideal que confere o direito ao legatário em


reivindicar para si a coisa legada é a partilha, nos termos do Art. 1.022 do Código
de Processo Civil, “resolvendo os pedidos das partes e designando os bens que
devam constituir quinhão de cada herdeiro e legatário” (BRASIL, 2015).

Desta feita, pode-se concluir que o direito de pedir o legado, conforme


ditame legislativo se dará após dirimir todos os litígios, assim, é após a partilha
que deverá ser fixado o pagamento do legado. Esta é também a posição da
doutrina, nas palavras de Tepedino, Moraes e Barboza (2014, p. 766): “o legatário
só poderá pedir o legado após o julgamento da partilha. Esse é o momento para
a verificação das forças da herança, após a dedução do passivo do de cujus,
quando são individualizados os quinhões hereditários e fixados os pagamentos
dos legados”.

A responsabilidade sobre a coisa legada até que se efetue a entrega ao


legatário é do espólio, conforme jurisprudência dos tribunais brasileiros

APELAÇÃO COBRANÇA CONDOMÍNIO 'PROPTER REM' 'SAISINE'


TRANSMISSÃO DA PROPRIEDADE POSSE NÃO IMEDIATA DO
LEGATÁRIO TESTAMENTO RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL
DO ESPÓLIO. – Responsabilidade patrimonial da proprietária do
imóvel para responder pelas despesas condominiais, Art. 1.345, do
Código Civil natureza 'propter rem' da verba; – Abertura da sucessão
que importa na transmissão da propriedade ('droit de saisine' Art.
1.784, do CC), a posse, todavia, apresenta regramento distinto para
o legatário transferência da posse não imediata (Art. 1.923, §1º, do
Código Civil de 2002); – Responsabilidade do espólio até a efetiva
transmissão do bem aos legatários risco de imposição de ônus superior
às forças da herança (Art. 1.792, do CC) e contrário à filantropia da
falecida; – Manutenção da decisão por seus próprios e bem lançados
fundamentos artigo 252 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça
de São Paulo; RECURSO NÃO PROVIDO. APELAÇÃO Nº 1027871-
91.2014.8.26.0100. Órgão Julgador: 30 ª Câmara de Direito Privado.
Relatora Maria Lucia Pizzotti. Comarca São Paulo. Data de Julgamento
10/6/2015 (TJ, 2015).

183
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

No que diz respeito ao legado em dinheiro, o legislador é tácito, conferindo


a incidência de juros a partir do dia em que constituir em mora a pessoa que tinha
por obrigação prestá-lo ao legatário. Ou seja, os juros não irão incidir, nos casos
de legado em dinheiro, a partir da morte do testador.

O legislador também previu casos em que o legado consista em renda


vitalícia ou pensão periódica, bem como em quantias certas de prestação
periódicas, junto aos Arts. 1.926 e 1.927 do civilista, determinando a partir de
quando devam ocorrer e de que forma, nos termos do Art. 1.928.

Art. 1926. Se o legado consistir em renda vitalícia ou pensão periódica,


esta ou aquela correrá da morte do testador.
Art. 1927. Se o legado for de quantidades certas, em prestações
periódicas, datará da morte do testador o primeiro período, e o
legatário terá direito a cada prestação, uma vez encetado cada um dos
períodos sucessivos, ainda que venha a falecer antes do termo dele.
Art. 1928. Sendo periódicas as prestações, só no termo de cada período
se poderão exigir.
Parágrafo único. Se as prestações forem deixadas a título de alimentos,
pagar-se-ão no começo de cada período, sempre que outra coisa não
tenha disposto o testador (BRASIL, 2020).

Quando se tratar de coisa determinada pelo gênero, em regra geral, caberá


ao herdeiro escolher entre o meio termo da coisa, estando essa entre a melhor e a
pior qualidade, podendo também a escolha ser realizada por terceiros e, caso esse
não quiser ou não puder realizá-la, deverá o juiz arbitrar, conforme Art. 1.930, em
observância aos termos contidos na parte final do Art. 1.929.

Caso o testador faça a opção de conferir ao legatário a escolha do gênero


determinado, é autorizado a ele a escolha da melhor coisa contida na herança.
Ainda, quando estivermos diante do legado alternativo, presumir-se-á que
a escolha da coisa foi conferida pelo herdeiro – artigo 1931 e 1932 do civilista
(BRASIL, 2002).

O poder de escolha do legado dentre a totalidade de bens, no caso de


falecimento do herdeiro ou legatário antes que esses o realizem, será transferida
aos herdeiros, consoante o que estabelece o Art. 1934 do Código Civil.

O parágrafo único deste artigo também estabelece que a execução


do legado caberá ao herdeiro ou ao legatário, desde que não haja disposição
testamentária dizendo o contrário. Ademais, o referido parágrafo prevê que,
nos casos em que sejam indicados mais de um, os ali onerados dividirão o ônus,
conforme proporção que lhes caiba da herança.

Com relação às despesas ocasionadas e o risco da entrega do legado, a


legislação pátria prevê que esses correm por conta do legatário, ao menos que o
testador disponha de forma diferente. Devendo a coisa legada ser entregue com
seus acessórios, no lugar e estado em que se achava ao falecer o testador, passando
ao legatário com todos os encargos que a oneram, conforme inteligência do Art.
1.937 do Código Civil.
184
TÓPICO 2 — DO LEGADO

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, ao tratar sobre as despesas


de bens legados, em recente decisão da lavra da relatoria da desembargadora
Fernanda Camacho, decidiu no sentido de encarregar aos legatários o suporte das
despesas do imóveis legados vencidas após o óbito do testador, isso porque foi
considerado que “os imóveis passaram à administração dos legatários, inclusive
com recebimento dos aluguéis, cabe a cada legatário arcar com a manutenção e
com as despesas de seu respectivo imóvel” (Agravo de Instrumento nº 2222191-
26.2020.8.26.0000-5)

INVENTÁRIO.  Decisão que entendeu que os ativos deixados pelo


falecido e não mencionados no testamento  devem ser partilhados
apenas entre as herdeiras, excluídos os legatários, e estabeleceu
que as despesas  dos imóveis legados  vencidas após o óbito são
de responsabilidade dos respectivos legatários.  PREVIDÊNCIA
PRIVADA em que a agravante era beneficiária. Resgate por curador,
com autorização judicial, antes do falecimento, com encerramento do
plano. Valores que passaram a integrar o patrimônio do falecido e,
como ativos financeiros, devem ser destinados unicamente às herdeiras
sobrinhas. DESPESAS DOS IMÓVEIS.  Administração dos imóveis
atribuída aos respectivos legatários, inclusive com recebimento
de  aluguéis. Legatários são responsáveis pela manutenção  e
despesas  de seus  respectivos  imóveis. Decisão mantida.  Recurso
não provido. Agravo de Instrumento nº 2222191-26.2020.8.26.0000-5,
Relatora Fernanda Gomes Camacho, Órgão Julgador 5ª Câmara de
Direito Privado. Data do Julgamento 27/10/2020).

Para tanto, temos que, em regra geral, não é de responsabilidade do


herdeiro arcar com as despesas ocasionadas pelo legado, bem como geradas com
o risco da entrega, sobretudo em casos em que a coisa legada tenha já passado
para a administração do legatários, e esteja o legatário auferindo os frutos do bem
legado, a não ser que tenha o testador disposto de maneira diversa.

E
IMPORTANT

O primeiro efeito a ser produzido pelo legado é o pertencimento deste por parte
do legatário, e o segundo efeito, embora não de imediato, é a posse por parte deste ao bem
legado. O terceiro efeito produzido pelo legado é com relação aos frutos que o bem poderá
produzir após o falecimento do testador, eis que esses frutos irão pertencer ao legatário, com
exceção de condição suspensiva ou termo inicial, caos o testador os estipule.
O momento ideal que confere o direito ao legatário em reivindicar para sim a coisa legada
é a partilha.
Quando se tratar de coisa determinada pelo gênero, em regra geral, caberá ao herdeiro
escolher entre o meio termo da coisa, estando essa entre a melhor e a pior qualidade.
Com relação às despesas ocasionadas e o risco da entrega do legado, a legislação pátria
prevê que esses correm por conta do legatário, ao menos, que o testador disponha de
forma diferente. Devendo a coisa legada ser entregue com seus acessórios, no lugar e
estado em que se achava ao falecer o testador, passando para tanto ao legatário com todos
os encargos que a oneram.

185
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

4 DA CADUCIDADE DOS LEGADOS, LEGADO E DO DIREITO


DE ACRESCER ENTRE HERDEIROS E LEGATÁRIOS

Iniciamos, aqui, o conteúdo proposto para a compreensão do instituto que


trata da caducidade do legado. Esse instituto ocorre quando determinada causa
ulterior torna ineficaz a cláusula testamentária que institui o legado, deixando
o legado de produzir seus efeitos. Essa possibilidade encontra amparo junto ao
Art. 1939 que prevê cinco formas em que o legado caducará, essas formas são
divididas em objetivas e subjetivas, como veremos mais à frente.

Carvalho (2019) conceitua a caducidade e explica que quando essa ocorre


no legado, ele deixará de produzir seus efeitos, ante circunstância superveniente.
A caducidade ocorre quando a deixa testamentária existente e válida,
posteriormente, por força de um obstáculo estranho à sua formação,
venha perder seus efeitos, caia por terra, caduque. Assim, caduca
o legado quando um fato superveniente ao testamento provoca a
ineficácia da disposição testamentária respectiva (CARVALHO, 2019,
p. 806).

Venosa (2010) alerta para a distinção entre caducidade, revogação e


nulidade. O autor de forma didática, faz compreender que esses institutos não
se confundem:
Caducidade, em outro sentido técnico, é sinônimo de decadência,
instituto ligado à perda de um direito pelo decurso […] Distingue-se,
portanto, da revogação porque esta é ato de última vontade, assim
como da nulidade, que apresenta princípios específicos (VENOSA,
2010, p. 1741).

O primeiro inciso do Art. 1939 do civilista, dispõe que “se, depois do


testamento, o testador modificar a coisa legada, ao ponto de já não ter a forma
nem lhe caber a denominação que possuía” (BRASIL, 2002). Assim, caso haja
modificação da coisa por parte do testador ou a pedido deste, e caso a modificação
seja significativa ao ponto de não ser mais reconhecida, terá o legado sua
caducidade declarada, trata-se de causa objetiva de caducidade do legado.

Para Washington de Barros Monteiro (2006) será caduco este legado,


porque com essa modificação se entenderá que o testador tinha a intenção
de modificar o ato de sua última vontade. Nas palavras do doutrinador, com
o transformar a coisa legada, o testador deixa evidenciada a mudança de sua
vontade primitiva, manifestada no ato de última vontade, inutilizando-se o
legado (MONTEIRO, 2006).

O Inciso II, que também diz respeito à causa objetiva de caducidade,


afirma que se o testador, por qualquer título, alienar todo ou parte da coisa legada,
ela caducará no que diz respeito à parte que deixou de pertencer ao testador
(BRASIL, 2002).

186
TÓPICO 2 — DO LEGADO

Isso porque, caso o testador tenha alienado a coisa legada, há a clara


demonstração de que ele tinha a intenção de retirar os efeitos do legado e, por
isso, ocorre a caducidade. Nas palavras de Tartuce e Simão (2010, p. 370): “Se, em
vida, o testador alienou a coisa e esta não é mais do proprietário, clara está a sua
intenção de retirar os efeitos do legado, razão pela qual há caducidade”.

Em recente decisão, de 15/9/2020, junto à Apelação de nº 1032600-


30.2017.8.26.0562, do Tribunal de Justiça de São Paulo, o relator do caso, Eneás
Costa Garcia, afirma categoricamente que a alienação do bem objeto de legado
acarreta sua caducidade, devendo ser aplicada à sucessão legítima. A seguir, a
ementa para que se faça a leitura atenta:

Apelação. Ação declaratória de nulidade de compra e venda de imóvel


fundada em simulação. Imóvel alienado objeto de legado em testamento
da vendedora. Ação proposta pelos legatários exclusivamente contra
o comprador. Nulidade. Inobservância do litisconsórcio necessário.
Imprescindibilidade de que ambos os participantes do negócio figurem
no polo passivo, pois eventual decisão deve alcançar de forma plena
e uniforme a relação jurídica. Vendedora que faleceu, devendo ser
representada por seus herdeiros legítimos (colaterais). Alienação do
bem objeto de legado que acarreta caducidade da deixa testamentária,
determinando aplicação da sucessão legítima, atribuindo aos colaterais
direito à herança, representada pelo crédito oriundo da venda do bem.
Legatários, excluídos da sucessão pelo alegado negócio simulado, que
não são representantes da falecida. Anulação de ofício da sentença
para citação dos herdeiros, prejudicado o recurso (TJ, 2020).

Há também causa objetiva de caducidade do legado nos casos de evicção


e perecimento de coisa legada, sem que haja culpa do herdeiro ou legatário que
tinha a incumbência de seu cumprimento, estando vivo ou morto o testador.

Essa possibilidade encontra-se prevista no Inciso III do Art. 1.939


do civilista, e observe você, acadêmico, que se faz a exigência da ausência do
elemento culpa daqueles que tinham por obrigação o cumprimento do legado.
No caso de existência da culpa, poderá o legatário buscar a tutela jurisdicional do
Estado para que possa ser ressarcido por aqueles em perdas e danos.

O Inciso IV inaugura as formas subjetivas de caducidade do legado, esse


inciso trata sobre casos no qual o legatário seja excluído da sucessão, nos termos
do Art. 1.815 do Código Civil.

Os casos de exclusão da sucessão, conforme dispositivo anteriormente


citado, dar-se-ão em qualquer das situações apontadas no Art.1.814 e determina
que a exclusão deve ser declarada por sentença. Por sua vez, o Art. 1.814 dispõe
que são excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

I - que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio


doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar,
seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;

187
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da


herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge
ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o
autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última
vontade (BRASIL, 2002).

Segundo Tartuce e Simão (2010, p. 371), caso o herdeiro ou o legatário


tenha sido excluído, perde o legatário a possibilidade de suceder o testador, não
podendo, para tanto, ser beneficiado com o legado “Por óbvio, se excluído da
sucessão, perde o legatário a legitimidade para suceder o falecido e não poderá
ser beneficiado pelo legado”.

Carlos Roberto Gonçalves (2009) esclarece, ainda, que há certa presunção


de que não seria o desejo do testador que a coisa legada ficasse com aqueles que
incorreram no rol constante do artigo 1.814. “Presume-se, que o testador não
desejaria que a coisa legada ficasse com quem se mostrou indigno, praticando
atentado contra a sua vida, sua honra ou sua liberdade de testar” (GONÇALVES,
2009, p. 109).

Ressalta-se, a título de esclarecimento, que o testamento deve ter sido


realizado anteriormente ao fato ensejador de possível exclusão, eis que se realizado
posteriormente ao ato, poderá ser configurado como perdão tácito oferecido ao
legatário, possibilidade legal constante no Art. 1.818, parágrafo único do novel.

Por fim, o inciso V traz a última forma subjetiva de caducidade do legado,


que se dará quando o legatário vier a falecer antes do testador.

A jurisprudência pátria, vem no sentido do que dispõe determinação legal,


considerando caduco o legado quando do falecimento do legatário anteriormente
ao falecimento do testador. Veja parte do corpo da decisão junto aos autos da
Apelação Cível nº 0932511-46.2012.8.26.0506, de relatoria da desembargadora
Fernanda Gomes Camacho do tribunal de justiça de São Paulo, que teve como
data de julgamento 17/10/2018.

Embora o testamento seja válido a partir de sua elaboração, somente


se torna eficaz com a morte do testador, quando ocorre a abertura
da sucessão. E, se nesse momento o legatário já não mais existe, o
legado fica sem sujeito, não podendo subsistir. [...] No caso, consta
que a legatária faleceu em 4/5/2010, enquanto o testador faleceu em
16/4/2011 (fls. 7), ocorrendo, assim, a caducidade do testamento.
Embora o testamento seja válido a partir de sua elaboração, somente
se torna eficaz com a morte do testador, quando ocorre a abertura da
sucessão. E, se nesse momento o legatário já não mais existe, o legado
fica sem sujeito, não podendo subsistir [...].

Para tanto, passamos agora ao estudo sobre o direito de acrescer entre o


herdeiro e o legatário, o referido tema encontra-se regulado no Capítulo VIII, do
Título III, do livro do Direito das sucessões do Código Civil de 2002, junto ao Art.
1.941 e seguintes. O Art. 1.941 assim dispõe:

188
TÓPICO 2 — DO LEGADO

Art. 1.941. Quando vários herdeiros, pela mesma disposição


testamentária, forem conjuntamente chamados à herança em quinhões
não determinados, e qualquer deles não puder ou não quiser aceitá-la,
a sua parte acrescerá à dos coerdeiros, salvo o direito do substituto
(BRASIL, 2002).

Segundo Arnaldo Rizzardo (2011), o direito de acrescer tem fundamento


na vontade presumida do testador em favorecer determinadas pessoas e, no caso
de essas serem impossibilitadas, a parte que lhes caberia deve ser transmitida aos
demais escolhidos.

Parece que se embasa o direito de acrescer na vontade presumida


do testador em contemplar as pessoas especificadas no seu ato de
última vontade, de modo que, na impossibilidade de uma delas, por
circunstâncias alheias a ele, perdurar na designação feita, vá o que
lhe cabia aos demais escolhidos. Se pretendesse a transmissão aos
herdeiros da pessoa afastada, por evidente que os referiria. Assim, nota-
se que o fundamento básico do direito de acrescer está em respeitar a
vontade do testador, ou em obedecer seu presumível intento, que é o
de recolher, pelo coerdeiro, ou colegatário, a parte que não recebeu
aquele que ou morreu, ou renunciou, ou caiu em indignidade por sua
conduta (RIZZARDO, 2011, p. 450).

Leite (2005) conceitua o direito de acrescer como sendo uma forma indireta
de sucessão. Para o autor:

O direito de acrescer [jus accrescendi] é, pois, uma forma de vocação


sucessória indireta; uma espécie de chamamento à herança de alguém
que, inicialmente não era chamado a essa cota da herança e que passa a
sê-lo em virtude de alguma vicissitude ocorrida no momento posterior
à abertura da sucessão (LEITE, 2005, p. 256).

Diniz (2005, p. 258) ressalta que o coerdeiro ou o colegatário fará jus ao


direito de acrescer desde que na mesma disposição testamentária:

[...] direito do coerdeiro ou colegatário de receber o quinhão originário


do outro coerdeiro ou colegatário, que não quis ou não pôde
recebê-lo, desde que sejam, pela mesma disposição testamentária,
conjuntamente chamadas a receber a herança ou o legado em quotas
não determinadas.

No caso em que o testador nomeie legatários de forma conjunta a


respeito de uma só coisa, desde que seja determinada e certa, ou ainda nos em
que o objeto do legado não puder ser dividido sem risco de desvalorização o
direito de acrescer competirá ao colegatário, conforme Art. 1.942 do Código
Civil. “Art. 1.942. O direito de acrescer competirá aos colegatários, quando
nomeados conjuntamente a respeito de uma só coisa, determinada e certa, ou
quando o objeto do legado não puder ser dividido sem risco de desvalorização”
(BRASIL, 2002).

189
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Segundo Venosa (2011), essa disposição legal autoriza o direito de acrescer


sobre uma mesma coisa no mesmo testamento, mas em cláusulas diferentes. Nas
palavras do doutrinador, “os legatários podem receber a mesma coisa, no mesmo
testamento, mas em disposições diferentes” (VENOSA, 2011, p. 295).

Há que abrir os olhos para o fato de que a determinação legal é no sentido


de autorizar o direito de acrescer a coisa certa e determinada, para tanto, em se
tratando de coisa genérica fungível, não é permitido a aplicação desse instituto,
a exemplo do legado em dinheiro. Amorim (2004, p. 229) faz a devida explicação
sobre essa impossibilidade de acrescer de coisa genérica fungível.

No legado em dinheiro, não há possibilidade de acrescer, visto que


o Art. 1.942 do Código Civil é bem claro quando estabelece que esse
direito só tem cabimento nos legados que tenham por objeto coisa certa
e determinada. Em se tratando de coisa genérica fungível, excluído é o
direito de acrescer nos legados em dinheiro.

O Art. 1.943 trata sobre as possibilidades em que conste ausente um


dos coerdeiros ou colegatários, seja por estes virem a falecer antes do testador,
renunciarem a herança ou o legado, ou forem excluídos desses, ou nos casos
em que a condição sob a qual foi instituído não se verificar. Nestas situações,
determina o referido dispositivo, que acrescerá o quinhão, salvo o direito do
substituto, à parte dos coerdeiros ou colegatários em conjunto.

Os encargos inerentes à coisa, que oneram o bem legado ou suas obrigações,


são transferidos para o coerdeiro ou o colegatário que acresceu o quinhão daquele
que não quis ou não pode suceder, conforme determina o parágrafo único do Art.
1.943 do civilista.

No caso em que não seja efetuado o direito de acrescer, será transmitido


aos herdeiros legítimos a quota vaga do nomeado, ademais, caso não exista o
direito de acrescer entre colegatários, a quota do que faltar acresce ao herdeiro
ou ao legatário incumbido de satisfazer esse legado, ou a todos os herdeiros, na
proporção dos seus quinhões, se o legado se deduziu da herança, conforme os
exatos termos constantes no caput do Art. 1.944 e seu parágrafo único.

Especificamente sobre a renúncia ao legado e no caso de este ter acréscimo


especial, conforme inteligência do Art. 1.945, não pode o beneficiário do acréscimo
repudiá-lo separadamente da herança ou legado que lhe caiba, ou se aceita o
acréscimo em conjunto com a herança ou o legado, ou se renúncia a tudo. Dias
(2011, p. 234-235), para esclarecer, exemplifica:

(A) deixa em testamento uma fazenda para (B), (C) e (D), impondo
a (B) o encargo de construir uma casa para (E). Na hipótese de (B)
renunciar, o legado se transfere aos coerdeiros (C e D), por direito de
acrescer. Caso nenhum deles aceite o acréscimo, ou seja, a parte de
(B), em face do encargo excessivo, a recusa não implica em renúncia.
Continua, (C e D) titulares do legado: (2/3 da fazenda). Cabe entregar
a (E) o quinhão de (B), ou seja, a terça parte.

190
TÓPICO 2 — DO LEGADO

O direito de acrescer abrange também o usufruto legado, inteligência do


Art. 1.946 e seu parágrafo único, no caso de ter sido legado um só usufruto de forma
conjunta a duas ou mais pessoas, a parte que faltar irá acrescer ao colegatários,
caso não haja conjunção entre os colegatários ou embora seja conjunto, porém o
usufruto legado foi realizado de forma certa e determinada pelo testador, será
consolidada a propriedade às quotas dos que faltarem.

FIGURA 9 – SÍNTESE

FONTE: Adaptada de <https://slideplayer.com.br/slide/3327264/>. Acesso em: 18 mar. 2021.

E
IMPORTANT

A caducidade ocorre quando a deixa testamentária existente e válida


posteriormente, por força de um obstáculo estranho a sua formação, venha perder seus
efeitos, caia por terra e caduque.
Direito do coerdeiro ou colegatário de receber o quinhão originário do outro coerdeiro ou
colegatário, que não quis ou não pôde recebê-lo, desde que sejam, pela mesma disposição
testamentária, conjuntamente chamadas a receber a herança ou o legado em quotas não
determinadas.
Os legatários podem receber a mesma coisa, no mesmo testamento, mas em disposições
diferentes.
No legado em dinheiro, não há possibilidade de acrescer.
Os encargos inerentes à coisa, que oneram o bem legado, ou suas obrigações, são
transferidos para o coerdeiro ou o colegatário que acresceu o quinhão daquele que não
quis ou não pode suceder.

191
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Legado seria toda disposição testamentária a título particular abrangente de


bens ou direitos individualizados, que se destacam do patrimônio do testador
e são atribuídos à pessoa por ele designada.

• É ineficaz o legado de coisa certa que não pertença ao testador no momento da


abertura da sucessão.

• Se o legado for de coisa que se determine pelo gênero, ele será cumprido, ainda
que tal coisa não exista entre os bens deixados pelo testador.

• Com o legado surge também a figura do legatário, que nada mais é que o
indivíduo, herdeiro ou não, que será beneficiado pelo legado, recebendo para
si uma coisa certa e determinada, podendo inclusive ser uma soma de valores.

• Há a possibilidade de o herdeiro legítimo receber o legado, que é destinado


pelo de cujus. Nestas situações, o indivíduo receberá a título universal e a título
singular.

• O primeiro efeito a ser produzido pelo legado é o pertencimento deste por


parte do legatário, e o segundo efeito, embora não de imediato, é a posse por
parte deste ao bem legado. O terceiro efeito produzido pelo legado é em relação
aos frutos que o bem poderá produzir após o falecimento do testador, eis que
esses frutos irão pertencer ao legatário, com exceção de condição suspensiva
ou termo inicial, caos o testador os estipule.

• O momento ideal que confere o direito ao legatário em reivindicar para si a


coisa legada é a partilha.

• Quando se tratar de coisa determinada pelo gênero, em regra geral, caberá ao


herdeiro escolher entre o meio termo da coisa, estando essa entre a melhor e a
pior qualidade.

• Com relação às despesas ocasionadas e o risco da entrega do legado, a legislação


pátria prevê que esses correm por conta do legatário, ao menos que o testador
disponha de forma diferente. Devendo a coisa legada ser entregue com seus
acessórios, no lugar e estado em que se achava ao falecer o testador, passando
ao legatário com todos os encargos que a oneram.

• A caducidade ocorre quando a deixa testamentária existente e válida,


posteriormente, por força de um obstáculo estranho a sua formação, venha
perder seus efeitos, caia por terra, caduque.

192
• Se em vida o testador alienou a coisa e esta não é mais do proprietário, clara está
a sua intenção de retirar os efeitos do legado, razão pela qual há caducidade.

• Se excluído da sucessão, perde o legatário a legitimidade para suceder o


falecido e não poderá ser beneficiado pelo legado.

• Quando vários herdeiros, pela mesma disposição testamentária, forem


conjuntamente chamados à herança em quinhões não determinados, e qualquer
deles não puder ou não quiser aceitá-la, a sua parte acrescerá à dos coerdeiros,
salvo o direito do substituto.

• O direito do coerdeiro ou colegatário de receber o quinhão originário do outro


coerdeiro ou colegatário, que não quis ou não pôde recebê-lo, desde que sejam,
pela mesma disposição testamentária, conjuntamente chamadas a receber a
herança ou o legado em quotas não determinadas.

• Os legatários podem receber a mesma coisa, no mesmo testamento, mas em


disposições diferentes.

• No legado em dinheiro, não há possibilidade de acrescer.

• Os encargos inerentes à coisa, que oneram o bem legado ou suas obrigações,


são transferidos para o coerdeiro ou o colegatário que acresceu o quinhão
daquele que não quis ou não pode suceder.

193
AUTOATIVIDADE

1 O Código Civil prevê que desde a abertura da sucessão, pertence ao


legatário a coisa certa, existente no acervo, salvo se o legado estiver sob
condição suspensiva. Sobre o legado, assinale a alternativa CORRETA.

a) ( ) O legado de coisa certa existente na herança transfere também ao


legatário os frutos que produzir, desde a morte do testador, mesmo se
dependente de condição suspensiva ou de termo inicial.
b) ( ) O direito de pedir o legado não se exercerá, enquanto se litigue sobre
a validade do testamento e, nos legados condicionais, ou a prazo,
enquanto esteja pendente a condição ou o prazo já vencido.
c) ( ) As despesas e os riscos da entrega do legado correm à conta do
legatário, sendo vedado ao testador dispor de forma diversa.
d) ( ) Se o legado consiste em coisa determinada pelo gênero, ao herdeiro
tocará escolhê-la, guardando o meio-termo entre as congêneres da
melhor e pior qualidade.

2 O legado, segundo o disposto no Art. 1912 do Código Civil, constitui uma


disposição testamentária sucessória realizada a título singular. O testador
deixa a uma pessoa, o legatário, coisa certa e determinada. Considerando o
instituto do legado, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O legado de alimentos, que consiste no sustento, cura, vestuário e


casa, tendo sua validade enquanto o legatário estiver em vida. No caso
de menores, ainda poderá esta espécie de legado abranger a educação
do legatário.
b) ( ) O nosso Código Civil não autoriza a possibilidade do legado de
usufruto que é aquele que perdurará por toda a vida do legatário.
c) ( ) Desde a abertura da sucessão a coisa certa não pertence ao legatário
e sim aos herdeiros que deverão concordar com o legado para sua
transferência.
d) ( ) O legado de coisa certa existente na herança não permite a transferência
ao legatário os frutos que produzir.

194
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

1 INTRODUÇÃO

Neste Tópico 3, você passará a estudar o inventário e partilha, conceituando


estas categorias e compreendendo que o inventário é o instrumento processual
utilizado para relacionar os bens deixados pelo indivíduo a seus herdeiros ou
legatário.

Poderá verificar que a obrigatoriedade de realização de processo de


inventário de forma judicial se dará sempre que houver testamento, incapazes,
menores ou ainda quando não houver pelos herdeiros consenso com relação
a partilha. Ademais, tomará conhecimento que o processo de inventário e de
partilha deve ser instaurado dentro de dois meses, a contar da abertura da
sucessão.

Estudará a aplicação de penalidade aos herdeiros, quando estes sonegarem


bens, ou seja, quando não incluírem no rol do inventário, com intenção de omitir
os bens que deveriam lá constar.

Compreenderá que os herdeiros não respondem individualmente e com


recursos próprios pela dívida deixada pelo de cujus, nada mais, caso já tenha
realizado a partilha, esses responderão dentro do montante do bem recebido a
título de herança, eis que a responsabilidade dos herdeiros é limitada a sua quota
parte.

Ao fim, estudará sobre partilha, instituto realizado dentro do processo de


inventário, seja judicial ou extrajudicial e que, ao ser concluído, terá como efeito a
repartição dos bens deixados pelo de cujus aos seus herdeiros.

2 DO INVENTÁRIO
O instrumento processual utilizado para relacionar os bens deixados pelo
indivíduo a seus herdeiros ou legatário é denominado de inventário. É através
do inventário que se realizará a transferência do domínio dos bens, outrora
pertencentes ao de cujus, aos seus herdeiros ou legatário.

195
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

FIGURA 10 – O QUE É INVENTÁRIO?

FONTE: <https://s.dicio.com.br/inventario.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2021.

Para José Reinaldo Coser (2016), o ato do inventário é o mero arrolamento


de bens ou de valores deixados pelo falecido.

Em sentido estrito, inventário significa simplesmente o relacionamento


de bens ou de valores, pertencentes a uma pessoa, ou existentes em
determinado lugar, anotados e arrolados com os respectivos preços,
e se estes não são sabidos, com os preços de sua estimação. É mero
arrolamento de bens (COSER, 2016, p. 408).

Neste sentido, ampliando o entendimento do inventário e o dividindo em


seu sentido lato e sentido restrito, para conceituá-lo, também caminha Cardoso
(1990, p. 34-35) ao nos ensinar que: [...] em sentido lato o inventário pode definir-
se como sendo a relação e a descrição dos bens pertencentes a alguma pessoa, no
sentido restrito “inventário” é o processo que se destina à descrição e partilha dos
bens da herança de uma pessoa falecida.

Dimas Messias de Carvalho e Dimas Daniel de Carvalho (2007 apud


TARTUCE, 2016) afirma que o inventário é considerado uma ação especial, que
tem por intenção relacionar bens e direitos, reconhecendo ao fim os herdeiros
que deverão suceder o de cujus. Nas palavras do doutrinador, ao conceituar a
categoria inventário:

[...] significa o processo ou a série de atos praticados com o objetivo


de ser apurada a situação econômica de uma pessoa ou instituição,
relacionando os bens e direitos de um lado e as obrigações e encargos
de outro lado, assemelhando-se ao balanço de uma empresa, com a
verificação do ativo e do passivo. No sentido estrito, é o relacionamento
de bens ou de valores pertencentes a uma pessoa, ou existentes em
determinado lugar, anotados e arrolados com os respectivos preços

196
TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

sabidos ou estimados, tratando-se, pois, de um mero arrolamento


de bens. No direito das sucessões, entende-se como a ação especial
intentada para que se arrecadem todos os bens e direitos do falecido,
encontrados em seu poder quando de sua morte u de terceiros,
formando-se o balanço com as obrigações, e encargos, a fim de serem
apurados os resultados que irão ser objetos a partilhar, bem como
reconhecer a qualidade de herdeiros (TARTUCE, 2016, p. 519).

Diniz (2003, p. 368) conceitua a categoria inventário como sendo "o


processo judicial (CC, Art. 1.796; CPC, Art. 982) tendente à relação, descrição,
avaliação e liquidação de todos os bens pertencentes ao de cujus ao tempo de sua
morte, para distribuí-los entre seus sucessores”.

Entretanto, atualmente, o processo de inventário pode ser realizado tanto


de forma judicial como de forma extrajudicial, neste último caso, possibilitado
através da Lei nº 11.441/2007, que autorizou a realização do inventário de forma
extrajudicial, através de lavratura de escritura pública junto ao tabelionato de
notas, desde que respeite os requisitos legais exigidos.

FIGURA 11 – INVENTÁRIO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL

FONTE: <https://thumbs.jusbr.com/filters:format(webp)/imgs.jusbr.com/publications/artigos/
images/12671769-1077207995696256-172228886063420403-o1486563278.jpg>. Acesso em:
19 mar. 2021.

197
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

A obrigatoriedade à realização de processo de inventário de forma judicial


se dará sempre que houver testamento, incapazes, menores ou ainda quando não
houver pelos herdeiros consenso com relação à partilha, nos termos estabelecidos
pelo Art. 610 do Código de Processo Civil.

Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-


se-á ao inventário judicial. § 1o Se todos forem capazes e concordes,
o inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura pública, a
qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem
como para levantamento de importância depositada em instituições
financeiras (BRASIL, 2015).

Ressalta-se que junto a este mesmo artigo, parágrafo segundo, há expressa


determinação da presença de advogado ou defensor público para realização do
inventário extrajudicial, sob pena de o tabelião não lavrar a escritura pública de
inventário e partilha.

O nosso Superior Tribunal de Justiça, ao analisar os requisitos de


processamento de inventário extrajudicial, afirmou junto ao Recurso Especial nº
1.808.767, julgado em 15/10/2019, que desde que os interessados sejam maiores,
capazes e concordes, estando devidamente acompanhados por seus advogados,
poderão realizar inventário de forma extrajudicial.
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSO CIVIL. SUCESSÕES.
EXISTÊNCIA DE TESTAMENTO. INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL.
POSSIBILIDADE, DESDE QUE OS INTERESSADOS SEJAM MAIORES,
CAPAZES E CONCORDES, DEVIDAMENTE ACOMPANHADOS DE
SEUS ADVOGADOS. ENTENDIMENTO DOS ENUNCIADOS 600
DA VII JORNADA DE DIREITO CIVIL DO CJF; 77 DA I JORNADA
SOBRE PREVENÇÃO E SOLUÇÃO EXTRAJUDICIAL DE LITÍGIOS;
51 DA I JORNADA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL DO CJF; E 16
DO IBDFAM (TSJ, 2019).

A intenção do legislador ao trazer a possibilidade de realização do


inventário por via extrajudicial, inaugurado com a Lei nº 11.441/2007, foi de
facilitar e tornar mais célere a resolução destas relações consensuais, abarcando
como resultado o “desafogamento” do poder judiciário.

Essa afirmativa vai de encontro ao entendimento exarado no corpo


da decisão, proferida pelo Superior Tribunal de Justiça ao julgar, na data de
15/10/2019, o Recurso Especial nº 1.808.767 alertando, ainda, ser a via judicial
prescindível, devendo manter sua previsão em nosso ordenamento jurídico, leia
a seguir:

A mens legis que autorizou o inventário extrajudicial foi justamente


a de desafogar o Judiciário, afastando a via judicial de processos nos
quais não se necessita da chancela judicial, assegurando solução mais
célere e efetiva em relação ao interesse das partes. Deveras, o processo
deve ser um meio, e não um entrave, para a realização do direito. Se a
via judicial é prescindível, não há razoabilidade em proibir, na ausência

198
TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

de conflito de interesses, que herdeiros, maiores e capazes, socorram-


se da via administrativa para dar efetividade a um testamento já tido
como válido pela Justiça (STJ, 2019, p. 608).

Ademais, conforme nos ensina Oliveira e Amorim (2016), a alteração


proposta pela Lei nº 11.441/07, foi acertada, conferindo aos magistrados analisarem
casos em que o processo de inventário apresente questões mais complexas e
que precisam da tutela jurisdicional do Estado. Ainda, ofereceu alternativas ao
cidadão que poderá recorrer ao Estado quando assim o entender ou for exigido
através dos requisitos legais.

Parece-nos acertada a alteração empreendida pela Lei nº 11.441/07,


porque reservou aos magistrados a análise das questões mais
complexas e simultaneamente preservou o direito dos cidadãos de
recorrerem quando entenderem necessário, ao Judiciário (OLIVEIRA;
AMORIM, 2016, s.p.).

Carneiro (2019) ressalta que o inventário deverá ser processado perante


autoridade judicial ou através de escritura pública, diante do tabelião, afirmando
inicialmente que se trata de uma espécie de descrição e liquidação do acervo
hereditário.

Uma espécie de descrição e liquidação do acervo hereditário a ser, em


breve, partilhado, e de uma determinação de quem concorrerá nessa
divisão. Entre nós, todo esse iter se desenvolve perante a autoridade
judiciária ou por escritura pública (CARNEIRO, 2019, p. 37).

O Art. 1.991. constante junto ao Título IV, Capitulo I do Código Civil,


determina que a administração da herança deve ser feita pelo inventariante,
até que seja realizada a homologação da partilha, nos termos do dispositivo
legal: “Desde a assinatura do compromisso até a homologação da partilha, a
administração da herança será exercida pelo inventariante” (BRASIL, 2002).

No que diz respeito à competência para processar e julgar o inventário,


o Art. 48 do Código de Processo Civil, estabelece como competente o foro de
domicílio da autora da herança no Brasil, ainda que o óbito tenha ocorrido no
estrangeiro.

Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o


competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento
de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de
partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu,
ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro (BRASIL, 2015).

Há previsão no mesmo dispositivo do Código de Processo Civil, em seu


parágrafo único, para os casos em que o autor da herança não possuía domicilio
certo quando do seu falecimento, são eles: “I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; III - não havendo
bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio” (BRASIL, 2015).

199
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Consta junto ao dispositivo legal, Art. 616 do Código de Processo Civil,


o rol daqueles que possuem legitimidade ativa para pedido de abertura de
inventários, esta legitimidade é concorrente. Faça a leitura do rol colacionado a
seguir:

I - o cônjuge ou companheiro supérstite;


II - o herdeiro;
III - o legatário;
IV - o testamenteiro;
V - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VI - o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança;
VII - o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes;
VIII - a Fazenda Pública, quando tiver interesse;
IX - o administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do
autor da herança ou do cônjuge ou companheiro supérstite (BRASIL,
2015).

O Art. 611 do Código de Processo Civil estipula prazo de 60 para que


seja realizado o requerimento com pedido de abertura de inventário e partilha,
a contar da abertura da sucessão, devendo o referido requerimento ser instruído
com a devida certidão de óbito. “O processo de inventário e de partilha deve ser
instaurado dentro de dois meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se
nos 12 meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a
requerimento de parte” (BRASIL, 2015).

Desde aí podemos verificar que a realização do procedimento de inventário


não é uma faculdade, sendo considerado obrigatório. Ademais, a partilha, como
estudaremos mais adiante, será considerada nula, caso não seja precedida do
inventário.

Assim, você pode compreender e conceituar a categoria inventário,


sabendo que o nosso ordenamento jurídico possibilita a sua realização de forma
judicial e extrajudicial, neste último exigindo-se o preenchimento de alguns
requisitos para o seu processamento.

200
TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

FIGURA 12 – INVENTÁRIO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL REQUISITOS

FONTE: <https://cartorio.info/wp-content/uploads/2018/03/Saiba-mais-sobre-invent%C3%A1rio.
jpg>. Acesso em: 19 mar. 2021.

E
IMPORTANT

O processo de inventário pode ser realizado tanto de forma judicial como de


forma extrajudicial, neste último caso, garantido pela Lei nº 11.441/2007.
Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial. Se
todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura
pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para
levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de dois meses, a contar
da abertura da sucessão.

201
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

3 DOS SONEGADOS
O Art. 1.992 do Código Civil prevê que:

O herdeiro que sonegar bens da herança, não os descrevendo no


inventário quando estejam em seu poder, ou, com o seu conhecimento,
no de outrem, ou que os omitir na colação, a que os deva levar, ou
que deixar de restituí-los, perderá o direito que sobre eles lhe cabia
(BRASIL, 2002).

Portanto, podemos observar que aqueles bens que deveriam constar no


rol do inventário e não estão lá, devido ao intuito do herdeiro em omitir referidos
bens são considerados sonegados, recaindo sobre o responsável que detinha o
conhecimento da existência da coisa, penalidades previstas na legislação, entre
elas o direito que sobre eles lhe deveria recair.

A pena estabelecida no caput do artigo mencionado ao herdeiro sonegador,


com a perda do direito sobre os bens objeto da sucessão, recairá apenas com
relação aos bens sonegados e não sobre a herança como um todo. Nas exatas
palavras de Oliveira e Amorim (2016, p. 362), ao tratar sobre o tema: “[...] não
incide sobre todo o direito à herança, mas apenas sobre aqueles bens que foram
objeto de sonegação".

Há de se ressaltar que a figura do dolo deve estar presente para caracterizar


a intenção de sonegação dos bens deixados pelo autor da herança, com a
comprovada má-fé, conforme remansosa jurisprudência de nossos Tribunais.

POSSIBILIDADE. [...] 6. A pena de sonegados não é decorrência


lógico-jurídica do reconhecimento de que houve desvio de bens.
Para sua aplicação, é imprescindível a prova do dolo. [...]. (EDcl no
REsp 1.287.490/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe de 12/12/2014).

Ao conceituar o instituto dos sonegados, assim disparam Oliveira e


Amorim (2006, p. 360-361), citando Monteiro e o jurista belga Laurent:

O instituto dos sonegados "tem por escopo garantir a exatidão


de inventário e a perfeita igualdade da partilha", como assinala
Washington de Barros Monteiro, lembrando as palavras de Laurent
(Principles de Droit Civil, 22/1.289): "inventário inexato e infiel não é
senão um farrapo de papel feito para enganar as partes interessadas,
quando o fim da lei consiste, precisamente, na salvaguarda de seus
interesses".

O Art. 1.993 do civilista estipula que além da pena constante no Art. 1.992,
se o sonegador for o inventariante, ele será removido da função. O dispositivo
1.994 do mesmo código admite que a pena só será aplicada em ação específica
que deve ser movida pelos herdeiros ou credores da herança.

202
TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

No que diz respeito à prescrição para propositura da Ação de Sonegados


temos que ela se dará em dez anos, a contar-se a partir do encerramento do
inventário.

[...] 2. É cabível o ajuizamento da ação de sonegados quando não


trazidos à colação os numerários doados pelo pai a alguns dos
herdeiros para a aquisição de bens imóveis. 3. A prescrição da ação
de sonegados, de dez anos, conta-se a partir do encerramento do
inventário, pois, até essa data, podem ocorrer novas declarações,
trazendo-se bens a inventariar. [...] 5. A simples renitência do herdeiro,
mesmo após interpelação, não configura dolo, sendo necessário,
para tanto, demonstração inequívoca de que seu comportamento foi
inspirado pela fraude. Não caracterizado o dolo de sonegar, afasta-se
a pena da perda dos bens (CC, Art. 1.992). [...] (REsp 1.390.022/RS, Rel.
Ministro SIDNEI BENETI, Rel. p/ acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO
DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/08/2014, DJe de
08/9/2014) (STJ, 2011).

De forma divergente, a doutrina aponta que o início da contagem do


prazo para propositura da demanda no momento da declaração por parte do
inventariante de inexistência de outros bens a serem inventariados ou ainda
quando da ciência dos herdeiros da ocultação do patrimônio deixado pelo de
cujus de forma dolosa.

FIGURA 13 – SONEGAÇÃO DE BENS DO INVENTÁRIO

FONTE: <http://mundonotarial.org/blog/?p=1407>. Acesso em: 19 mar. 2021.

Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 504-505) esclarece que “o prazo dessa


demanda segue o lapso temporal acima estabelecido pelo Código Civil, bem
como que este começa a fluir do momento em que o inventariante declara não
existirem outros bens a inventariar ou até mesmo quando da ciência dos demais
herdeiros de ocultação dolosa de bens”.

203
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

O Art. 1.996, por sua vez, estabelece que a arguição da sonegação


realizada por parte do inventariante, só poderá ocorrer após o momento em
que for encerrada a descrição dos bens, com a declaração por ele feita de não
existirem mais bens a serem inventariados. Com relação ao herdeiro sonegador,
esta arguição se deve dar depois que ele declarar-se no inventário que não os
possui.

Diante deste dispositivo legal, nos parece ser ressonável a contagem de


prazo para prescrição defendida pela doutrina.

A legislação estabelece ainda que, caso o sonegador não puder restituir


os bens sonegados, por já não estarem em seu poder, ele deverá realizar o
pagamento do montante que ocultou, acrescidos de pernas e danos, nos termos
do que determina o Art. 1.995 do novel.

Para tanto, realizado estudo sobre os bens sonegados, podemos seguir


nossos estudos junto ao próximo tópico, que abordará sobre o pagamento das
dívidas deixadas pelo autor da herança.

E
IMPORTANT

O herdeiro que sonegar bens da herança, não os descrevendo no inventário


quando estejam em seu poder, ou, com o seu conhecimento, no de outrem, ou que os
omitir na colação, a que os deva levar, ou que deixar de restituí-los, perderá o direito que
sobre eles lhe cabia.
O instituto dos sonegados tem por escopo garantir a exatidão de inventário e a perfeita
igualdade da partilha.

4 DO PAGAMENTO DE DÍVIDAS
O Capítulo III, do Título IV do Código Civil tratará do pagamento
de dívidas deixada pelo autor da herança. Encontramos junto ao Art. 1.997
determinação legal de que a herança responde pelo pagamento das dívidas do
sujeito que faleceu, entretanto, caso já tenha sido realizada a partilha, quem irá
responder pelas dívidas serão os herdeiros, dentro da proporção que lhe coube da
herança. “Art. 1.997. A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido;
mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção da parte
que na herança lhe coube” (BRASIL, 2002).

204
TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Exemplificando essa afirmação contida no civilista, temos que se o


indivíduo falecer deixando patrimônio no montante de R$ 500.000,00, e dívida
no montante de R$ 300.000,00 sem que haja partilha ainda, o credor poderá se
habilitar nos autos do próprio inventário para que seu crédito seja abatido do
montante deixado pelo de cujus. Descontada a dívida, o saldo remanescente do
espólio, deverá ser partilhado entre os herdeiros. Caso a partilha já tenha ocorrido,
poderá o credor buscar a tutela jurisdicional do estado com relação aos herdeiros,
dentro da proporção que este recebeu dos bens deixados pelo falecido.

FIGURA 14 – HERDEIRO PAGA DÍVIDA?

<https://thumbs.jusbr.com/filters:format(webp)/imgs.jusbr.com/publications/artigos/112324771/
images/quando-a-pessoa-morre-quem-paga-dividas1463151402.jpg>. Acesso em: 19 mar. 2021.

Assim, os herdeiros não respondem individualmente e com recursos


próprios pela dívida deixada pelo de cujus, nada mais, caso já tenha realizado a
partilha, responderão dentro do montante do bem recebido a título de herança,
eis que a responsabilidade dos herdeiros é limitada a sua quota parte. Ademais:

§ 1º: Quando antes da partilha for requerido no inventário o


pagamento de dívidas constantes de documentos, revestidos de
formalidades legais, constituindo prova bastante da obrigação, e
houver impugnação, que não se funde na alegação de pagamento,
acompanhada de prova valiosa, o juiz mandará reservar, em poder do
inventariante, bens suficientes para solução do débito, sobre os quais
venha a recair oportunamente a execução (BRASIL, 2002).

No caso discorrido anteriormente, o credor ainda terá que realizar ação


autônoma de cobrança no prazo de 30 dias, para conseguir efetivar a quitação da
dívida deixada pelo seu devedor já falecido, sob pena da reserva realizada nos
autos do inventário se tornar ineficaz, conforme inteligência do § 2º do Art. 1.997.

205
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Para tanto, podemos verificar que, a princípio, há duas possibilidades


conferidas ao credor, a primeira delas seria habilitação junto aos autos do
inventário, quando estiver diante de dívida líquida e certa ou promovendo a
reserva junto aos autos e utilizando-se das vias ordinárias.

De relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão, da 4ª turma do STJ, a


decisão junto ao Resp 1367942/SP é didática e esclarecedora sobre o tema, neste
contexto, colacionamos a ementa para que você, acadêmico, possa realizar a
leitura proposta e verificar a posição uníssona de nossos tribunais.

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. INEXISTÊNCIA.
COBRANÇA DE DÍVIDA DIVISÍVEL DO AUTOR DA HERANÇA.
EXECUÇÃO MANEJADA APÓS A PARTILHA. ULTIMADA A
PARTILHA, CADA HERDEIRO RESPONDE PELAS DÍVIDAS
DO FALECIDO NA PROPORÇÃO DA PARTE QUE LHE COUBE
NA HERANÇA, E NÃO NECESSARIAMENTE NO LIMITE DE
SEU QUINHÃO HEREDITÁRIO. ADOÇÃO DE CONDUTA
CONTRADITÓRIA PELA PARTE. INADMISSIBILIDADE. 1. Com a
abertura da sucessão, há a formação de um condomínio necessário,
que somente é dissolvido com a partilha, estabelecendo o quinhão
hereditário de cada beneficiário, no tocante ao acervo transmitido. 2.
A herança é constituída pelo acervo patrimonial e dívidas (obrigações)
deixadas por seu autor. Aos credores do autor da herança, é facultada,
antes da partilha dos bens transmitidos, a habilitação de seus créditos
no juízo do inventário ou o ajuizamento de ação em face do espólio.
3. Ultimada a partilha, o acervo outrora indiviso, constituído pelos
bens que pertenciam ao de cujus, transmitidos com o seu falecimento,
estará discriminado e especificado, de modo que só caberá ação em
face dos beneficiários da herança, que, em todo caso, responderão até
o limite de seus quinhões. 4. A teor do Art. 1.997, caput, do CC c/c
o Art. 597 do CPC [correspondente ao Art. 796 do novo CPC], feita
a partilha, cada herdeiro responde pelas dívidas do falecido dentro
das forças da herança e na proporção da parte que lhe coube, e não
necessariamente no limite de seu quinhão hereditário. Dessarte, após a
partilha, não há cogitar em solidariedade entre os herdeiros de dívidas
divisíveis, por isso caberá ao credor executar os herdeiros pro rata,
observando a proporção da parte que coube (quinhão), no tocante ao
acervo partilhado. 5. Recurso especial não provido" (REsp 1367942/SP,
Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 21/5/2015, DJe 11/6/2015) (STJ, 2011).

Ressalta-se ainda que, caso o autor da herança não tenha deixado bens
suficientes para a quitação da dívida, ela será considerada quitada parcialmente,
abarcando todo o quinhão que foi deixado a princípio como herança, não
recebendo os herdeiros os bens deixados pelo falecido, já que estes servirão para
a quitação de dívida.

Consoante as despesas realizadas em virtude do funeral, essas deverão


sair do monte da herança, existindo ou não herdeiros legítimos. Especificamente
sobre sufrágios por alma do falecido, só haverá obrigação de ser arcada pelo
monte hereditário, se essas constarem em testamento ou codicilo, inteligência do
Art. 1.998 do Código Civil.

206
TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Vale também esclarecer que o legatário não deve responder pelo


pagamento da dívida deixado pelo de cujus, cabendo a esses a exigência junto
ao espólio do cumprimento do legado, posteriormente a quitação de dívidas,
despesas funerárias e a vintena do testamenteiro, se houver. Neste contexto,
temos que, embora não responda pelas dívidas deixadas pelo falecido, só será
possível o cumprimento do legado se o monte tiver capilaridade suficiente para
quitar o passivo.

Da leitura do Art. 2.000 do civilista, temos que é facultado ao legatário e


aos credores da herança a possibilidade de que do patrimônio do falecido seja
descriminada a quota parte do herdeiro e, havendo esses credores, sejam aqueles
preferidos no pagamento.

O Art. 2.001 deste mesmo código leciona que se o herdeiro for devedor
do espólio, esta dívida poderá ser partilhada igualmente entre todos, ao menos
que haja consenso da maioria dos herdeiros em imputar o débito inteiramente ao
quinhão do herdeiro devedor.

Art. 2.000. Os legatários e credores da herança podem exigir que do


patrimônio do falecido se discrimine o do herdeiro, e, em concurso
com os credores deste, ser-lhes-ão preferidos no pagamento.
Art. 2.001. Se o herdeiro for devedor ao espólio, sua dívida será
partilhada igualmente entre todos, salvo se a maioria consentir que o
débito seja imputado inteiramente no quinhão do devedor (BRASIL,
2002).

Através do que nos ensina Cahali e Hironaka (2007), podemos fazer um


apanhado teórico e simplificado sobre a disposição legal que trata o pagamento
das dívidas deixadas pelo autor da herança.

Assim, de uma maneira geral, pois, constituem o passivo do espólio:


a) as dívidas e encargos deixados pelo falecido; b) as despesas para
a manutenção e conservação do patrimônio inventariado, bem como
custas processuais, imposto, inclusive de transmissão ‘causa mortes’
e honorários advocatícios; c) despesas funerárias (CC, art. 1.998)
[incluídos: sepultamento, homenagens e adornos compatíveis com
a condição social do falecido – chamadas de dívidas póstumas; no
entanto, os sufrágios à alma só obrigam se determinadas e testamento
ou codicilo]; d) a vintena do testamenteiro; e e) o cumprimento dos
legados. O saldo positivo após o cumprimento desses encargos é
transmitido aos herdeiros” (CAHALI; HIRONAKA, 2007, p. 372).

Concluímos o estudo sobre o pagamento das dívidas deixadas pelo autor


da herança, podemos passar para o último tópico deste livro didático, com o
qual encerraremos os estudos propostos deste conteúdo. A seguir, trataremos da
partilha dos bens.

207
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

E
IMPORTANT

A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido; mas, feita a


partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção da parte que na herança lhe
coube.
Os herdeiros não respondem individualmente e com recursos próprios pela dívida deixada
pelo de cujus, nada mais, caso já tenha realizado a partilha, responderão dentro do
montante do bem recebido a título de herança, eis que a responsabilidade dos herdeiros é
limitada a sua quota parte.

5 DA PARTILHA

Como já estudamos, o processo de inventário poderá se dar de forma


judicial ou extrajudicial, exigindo, para tanto, o preenchimento de alguns
requisitos. O requerimento para a abertura do inventário tem prazo estipulado
para ser realizado.

A partilha, por sua vez, será realizada dentro do processo de inventário,


seja judicial ou extrajudicial e que, ao ser concluído, terá como efeito a repartição
dos bens deixados pelo de cujus aos seus herdeiros. Podemos afirmar que a
partilha complementa o processo de inventário, finalizando-o.

FIGURA 15 – O QUE É PARTILHA?

FONTE: <https://www.dicio.com.br/partilha/>. Acesso em: 19 mar. 2021.

208
TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Washington de Barros Monteiro esclarece que se trata de ação resolutiva,


tendo em vista que para adquirir a propriedade basta a abertura da sucessão,
ficando a critério da partilha a repartição dos bens da herança com a devida
distribuição destes aos herdeiros.
Partilha é a repartição dos bens da herança ou a distribuição do
acervo hereditário entre os herdeiros. No direito romano, ela era
translativa de propriedade; o herdeiro tornava-se proprietário do
quinhão respectivo no momento da partilha, como se nesse instante
o tivesse adquirido aos demais coerdeiros. Perante a nossa lei, porém,
ela é simplesmente declarativa e não atributiva de direitos. O herdeiro
adquire a propriedade, não em virtude da partilha, mas por força
da abertura da sucessão. O próprio de cujus, por ficção, investe seu
sucessor no domínio e posse da herança (MONTEIRO, 2012, p. 6).

Diferente não é o que preceitua Maria Berenice Dias (2015), que afirma
ser necessária a realização da partilha para definir o quinhão que caberá a cada
herdeiro, caracterizando a partilha como a razão de existir do processo de
inventário, sendo a fase final deste.
Com o falecimento do autor da herança, cabe aos herdeiros uma parte
ideal e indeterminada do acervo patrimonial. Daí a necessidade de se
proceder à sua visão por meio da partilha. Primeiro é preciso definir o
quinhão de cada herdeiro, para depois transferir a posse. Esta é a razão
de ser do processo do inventário. A partilha é o ponto culminante
da liquidação da herança, na medida em que põe termo ao estado
transitório do espólio, através da entrega do acervo individualizado
a cada herdeiro, na proporção do respectivo quinhão. Esta é a fase
final do processo de inventário, na qual se promove a divisão oficial do
patrimônio líquido identificado durante o inventário, encerrando-se a
comunhão sobre a universalidade dos bens da herança (DIAS, 2015,
p. 602).

Neste diapasão, observamos que com a realização da partilha, que tem


por finalidade a entrega dos bens do autor da herança aos seus herdeiros, a figura
do espólio não será mais necessária, tendo este cumprido o seu papel, de forma
transitória.

De acordo com o Art. 2.013 do Código Civil, a partilha pode ser requerida
por herdeiro, mesmo que o testador o proíba, esta faculdade também é concedida
aos cessionários e credores. A partilha também pode ser realizada pelo testador,
que deve, para tanto, indicar bens e valores que irão compor o quinhão de cada
herdeiro. Para a validade da partilha a ser realizada por parte do testador, os
valores dos bens devem corresponder às quotas estabelecidas, nos termos do que
preceitua o Art. 2.014 do civilista.

O Código Civil também autoriza a realização de partilha de forma


amigável, ou seja, quando os herdeiros, entre si, compactuam com qual bem ou
valores que cada qual fará jus em seu quinhão, devendo esses herdeiros serem
capazes e constar por escritura pública, termo nos autos do inventário ou escrito
particular, homologado pelo juiz.

209
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

FIGURA 16 – PARTILHA AMIGÁVEL

FONTE: <https://tabelionatogaucho.com.br/wp-content/uploads/2018/06/0606-2-300x200.
png>. Acesso em: 19 mar. 2021.

Em casos onde tenha sido realizada a partilha amigável, sem a


observância de formalidades formais, como a inserção errônea de terceiro como
se herdeiro fosse ou com a exclusão daquele que deveria figurar como herdeiro,
a jurisprudência tem conferido prazo prescricional de 20 anos para propositura
de ação que visa a nulidade da homologação da partilha amigável a ser proposta
pelo herdeiro que não participou da partilha.

AÇÃO DE NULIDADE DE INVENTÁRIO c/c SONEGADOS.


PARTILHA AMIGÁVEL COM TRÂNSITO EM JULGADO.
NULIDADE RELATIVA. VÍCIO DE ATO JURÍDICO. PRESCRIÇÃO.
OCORRÊNCIA. SONEGADOS. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA.
SÚMULA 377/STF. SÚMULA 07/STJ. – Não há nulidade absoluta, se a
hipótese em exame, não integra a relação contida no Art. 145 do Código
Beviláqua. – A ação para anular homologação de partilha amigável
prescreve em um ano a contar do trânsito em julgado da sentença
homologatória. – O disposto no Art. 183, XIII, Código Beviláqua, que
trata de impedimento matrimonial impediente ou proibitivo, não
invalida o casamento, apenas gera restrições a seus infratores. – Prazo
prescricional de 20 anos só se aplica ao herdeiro que não participou da
partilha. Precedentes" (REsp 279.177/SP, Rel. Ministro HUMBERTO
GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 4/4/2006, DJ
14/8/2006). (STJ, 2020).

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. [...] 3.
A natureza jurídica da ação não se determina pela denominação
atribuída pelo autor no momento da propositura da demanda, mas
pelo objeto perseguido efetivamente, com análise sistemática do
pedido e da causa de pedir deduzidos na inicial, nascendo justamente
dessa análise a definição do prazo de prescrição ou decadência. 4.
Na espécie, a pretensão autoral refere-se à declaração de nulidade
de partilha efetivada pela inobservância de formalidades essenciais,
devendo ser afastada a incidência do prazo ânuo previsto nos Arts
2.027, parágrafo único, do Código Civil e 1.029, parágrafo único, do
CPC/1973. 5. A renúncia da herança é ato solene, exigindo o Art. 1.806

210
TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

do Código Civil, para o seu reconhecimento, que conste 'expressamente


de instrumento público ou termo judicial', sob pena de nulidade (art.
166, IV) e de não produzir qualquer efeito, sendo que 'a constituição de
mandatário para a renúncia à herança deve obedecer à mesma forma,
não tendo validade a outorga por instrumento particular' (REsp
1.236.671/SP, Rel. p/ Acórdão Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma,
julgado em 09/10/2012, DJe 04/03/2013). 6. Agravo interno provido para
reconsiderar a decisão de fls. 880-881. Agravo em recurso especial não
provido" (AgInt no AREsp 1.585.676/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 20/2/2020, DJe 3/3/2020.
(STJ, 2019).

Nas situações em que não se trata de ato nulo de pleno direito, com vícios
de menor gravidade, o mesmo tribunal reconhece a prescrição ânua, distinguindo
a partilha como ato jurídico absolutamente nula daquela meramente anulável
(vício relativo e sanável por natureza). A prescrição ânua possui amparo legal
junto ao parágrafo único do Art. 657 do Código de Processo Civil, a redação deste
dispositivo foi também conferida ao Art. 2.027 do Código Civil.

Superado o tema que trata da possibilidade de propositura de Ação de


Nulidade de Partilha, mesmo que esta tenha sido realizada de forma amigável e
o prazo prescricional conferido pela jurisprudência, passamos a discorrer sobre
casos em que se apresentam divergência entre os herdeiros em relação à partilha,
e aqueles casos em que um destes herdeiros seja incapaz.

Nessas duas situações descritas anteriormente, o processo de inventário e,


consequentemente, a partilha deve ser realizada por via judicial. O critério para
realização da partilha deve ser utilizado pelo Estado Juiz, que determinará quais
bens e valores serão conferidos separadamente a cada herdeiro, ele se dá com
observância ao valor, natureza e qualidade na maior igualdade possível.

Art. 2.015. Se os herdeiros forem capazes, poderão fazer partilha


amigável, por escritura pública, termo nos autos do inventário, ou
escrito particular, homologado pelo juiz.
Art. 2.016. Será sempre judicial a partilha, se os herdeiros divergirem,
assim como se algum deles for incapaz.
Art. 2.017. No partilhar os bens, observar-se-á, quanto ao seu valor,
natureza e qualidade, a maior igualdade possível (BRASIL, 2002).

O Código de Processo Civil, determina que aquele que tem por incumbência
realizar a partilha, deve elaborar um esboço de acordo com a decisão judicial e
seguir a ordem ali proposta pelos Incisos I, II, III, IV do Art. 651.

Art. 651. O partidor organizará o esboço da partilha de acordo com a


decisão judicial, observando nos pagamentos a seguinte ordem:
I - dívidas atendidas;
II - meação do cônjuge;
III - meação disponível;
IV - quinhões hereditários, a começar pelo coerdeiro mais velho
(BRASIL, 2015).

211
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Nosso ordenamento também autoriza a partilha feita por ascendente, por


ato entre vivos ou de última vontade, desde que seja respeitada a legítima dos
herdeiros necessários, consoante preceitua o Art. 2.018 do Código Civil.

No que diz respeito aos bens insuscetíveis de divisão cômoda, e que não
couberem na meação do cônjuge, bem como no quinhão de um só herdeiro, o
legislador autorizou, através do Art. 2.019 do novel, a venda judicial do bem,
devendo o valor apurado ser partilhado. No caso de acordo para adjudicá-lo,
aqueles, herdeiro ou cônjuge, que assim requererem devem repor aos outros em
dinheiro a diferença.

Ademais, nos casos em que mais de um herdeiro requerer a adjudicação


do bem, será realizado processo de licitação.

Art. 2.019. Os bens insuscetíveis de divisão cômoda, que não couberem


na meação do cônjuge sobrevivente ou no quinhão de um só herdeiro,
serão vendidos judicialmente, partilhando-se o valor apurado, a não
ser que haja acordo para serem adjudicados a todos.
§ 1º Não se fará a venda judicial se o cônjuge sobrevivente ou um ou
mais herdeiros requererem lhes seja adjudicado o bem, repondo aos
outros, em dinheiro, a diferença, após avaliação atualizada.
§ 2º Se a adjudicação for requerida por mais de um herdeiro, observar-
se-á o processo da licitação (BRASIL, 2002).

Consoante determina o Art. 2.020 do Código Civil, os frutos recebidos


desde a abertura da sucessão dos bens deixados pelo autor da herança e que
estejam na posse de um determinado herdeiro, cônjuge ou inventariante, devem,
obrigatoriamente, constarem no rol a ser partilhado, tendo esses o direito a
reembolso no caso de despesas necessárias e úteis que foram realizadas.

No caso de ocorrer algum dano ao patrimônio ou aos frutos geridos por


esse patrimônio, aquele que estava da posse do bem deverá responder, desde que
configurado dolo ou culpa e que lhe tenha dado causa.

O legislador, prevendo a possibilidade de existência de bens remotos do


lugar do inventário, ou que estejam em litígio ou ainda em liquidação morosa ou
difícil, permitiu que a partilha possa ser realizada com relação aos demais bens,
para depois, através da sobrepartilha, se for consenso da maioria dos herdeiros,
realizar a divisão daqueles bens faltantes.

Também sujeitou a sobrepartilha os bens que foram sonegados ou


quaisquer outros que se teve conhecimento após a realização da partilha (BRASIL,
2002).

Para tanto, ao concluir a partilha, dentro do processo de inventário, tendo


essa sido julgada e transitada em julgada, o direito de cada um dos herdeiros
recairá sobre os bens que constaram dentro do seu quinhão, inteligência do Art.
2.023 do Código Civil cumulado com o Art. 655 do Código de Processo Civil.

212
TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

E
IMPORTANT

A partilha, por sua vez, será realizada dentro do processo de inventário, seja
judicial ou extrajudicial e que, ao ser concluído, terá como efeito a repartição dos bens
deixados pelo de cujus aos seus herdeiros. Podemos afirmar que a partilha complementa o
processo de inventário, finalizando-o.
Partilha é a repartição dos bens da herança ou a distribuição do acervo hereditário entre
os herdeiros.
Se os herdeiros forem capazes, poderão fazer partilha amigável, por escritura pública, termo
nos autos do inventário, ou escrito particular, homologado pelo juiz.

213
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

LEITURA COMPLEMENTAR

TESTAMENTO VITAL

Miguel Tabbal Mallet

[...]

2.2 Testamento vital

O testamento vital define-se por ser a manifestação de vontade na qual


o paciente dispõe acerca dos cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber,
quando estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente sua vontade.

O testamento vital, apesar da semelhança com o testamento sucessório,


por também ser personalíssimo, unilateral e revogável não deve ser confundido,
já que este produz efeitos após a morte e aquele gera efeitos em vida. Roxana
Borges (2001, p. 295-296) dispõe que:

O testamento vital é um documento em que a pessoa determina, de


forma escrita, que tipo de tratamento ou não tratamento deseja para a
ocasião em que se encontrar doente, em estado incurável ou terminal,
e incapaz de manifestar sua vontade. Visa-se, com o testamento vital,
a influir sobre os médicos no sentido de uma determinada forma de
tratamento ou, simplesmente, no sentido do não tratamento, como uma
vontade do paciente que pode vir a estar incapacitado de manifestar
sua vontade em razão da doença.

Ressaltamos a descrição de Francisco José Cahali, prevendo não só a


hipótese de doença, mas, inclusive, de acidente que impossibilite o paciente de
manifestar sua vontade. Conceitua o testamento vital como:

[...] declaração da pessoa, promovida na plenitude de sua lucidez, com


as diretrizes a serem adotadas em seu tratamento médico e assistência
hospitalar, quando por causa de uma doença ou acidente não lhe seja
mais possível expressar a vontade (CAHALI, 2010, s.p.).

A nomenclatura testamento vital, utilizada no presente trabalho, é alvo


de críticas, visto não ilustrar da melhor forma o instituto, suscitando o equívoco
com relação ao testamento de pessoa falecida, citado anteriormente. Diversos
nomes são empregados à declaração, seguindo a preferência e o entendimento
de cada autor. Salientamos as expressões testamento de vida, testamento
biológico, declaração prévia dos pacientes terminais, testamento do paciente,
entre outras. Anderson Schreiber (2013, p. 61-62) define-se pela expressão
testamento biológico:

214
TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Denomina-se testamento biológico (ou testamento vital, tradução


literal da expressão norte-americana living will) o instrumento por
meio do qual a pessoa manifesta, antecipadamente, sua recusa a certos
tratamentos médicos, com o propósito de escapar ao drama terminal
vivido por pacientes incapazes de exprimir a sua vontade.

A expressão living will foi utilizada pela primeira vez nos EUA, no ano
de 1967, em uma proposta da Sociedade Americana para a Eutanásia, sendo um
“documento de cuidados antecipados, pelo qual o indivíduo poderia registrar seu
desejo de interromper as invenções médicas de manutenção da vida” (DADALTO,
2013, p. 95-96). Do termo em língua inglesa, surgiu a tradução literal “testamento
vital”, a qual não nos parece a mais adequada. Will é sinônimo de testamento,
mas também significa desejo, vontade, intenção. A tradução literal neste sentido,
tal como “desejos de vida”, “vontade vital” ou “intenções de vida” seria mais
esclarecedora, não motivando o equívoco no tocante ao testamento sucessório.

A professora Luciana Dadalto (2013), em sua obra Testamento vital define-


se, em vez de “testamento vital”, por “declaração prévia de vontade para o fim
da vida”:
Em razão dessa inadequação da nomenclatura “testamento vital”
às características do instituto e, após verificar que no Brasil não
há discussões profundas sobre essa questão, nem mesmo sobre o
instituto, optou-se por substituir o nome mais utilizado para um
que é considerado aqui mais adequado, em razão de expressar, com
fidelidade, as características e os objetivos do instituto (DADALTO,
2013, p. 95-96).

Roxana Borges (2007, p. 295-296), ao analisar o instituto, também se


manifesta sobre a nomenclatura:
[...] tendo em vista que essa nomenclatura, testamento vital, é a mais
utilizada pela doutrina, o presente trabalho utilizará este termo,
ainda que reconheça a inadequação dele. O testamento vital tem dois
aspectos que devem ser observados: além de garantir a autonomia dos
indivíduos, permitindo que estes façam suas escolhas sobre o final da
vida, também evita futuros processos contra os médicos, que assim
não cometerão nenhum delito ao deixar de oferecer determinado
tratamento ao doente terminal, conforme solicitado por este.

Considerando que o instituto ainda é recente em nosso país, carente de


legislação e conhecimento geral, reafirmamos o uso do termo testamento vital.
Fica clara a desapropriação do termo living will traduzido para o português, mas
acreditamos que a mudança da nomenclatura testamento vital, já utilizada no
âmbito médico e na maior parte da doutrina existente, traria mais incertezas do
que benefícios.

O testamento vital não possui uma forma preestabelecida, sendo


contemplado por algumas hipóteses, devendo prevalecer a intenção do paciente
sempre que esta for conhecida. A declaração escrita em documento particular,

215
UNIDADE 3 — DO TESTAMENTO, DO LEGADO, DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

com firma reconhecida é, possivelmente, a forma que garante maior segurança


jurídica. Do ponto de vista médico é recomendável que o testamento vital seja
anexado ao prontuário médico. Caso não exista documento anterior, mas o
paciente declare ao médico seu desejo, a declaração deverá ser informada no
prontuário. Assinada pelo paciente, estará fundado o testamento vital.

Por fim, caso o paciente não tenha elaborado o testamento vital, mas
manifestado a familiares sua rejeição ao esforço terapêutico, ou a algum
procedimento específico, em casos de doença terminal ou inconsciência, a sua
vontade deverá ser respeitada, pela justificativa testemunhal, equiparando-se
esta ao testamento vital

O testamento vital terá eficácia imediata, com efeitos erga omnes. A


eficácia médica, contudo, estará vinculada a sua inscrição no prontuário, a
ser providenciada pelo médico. Luciana Dadalto (2013) defende a criação do
Registro Nacional de Declarações Prévias de Vontade do Paciente Terminal, com
o intuito de assegurar maior efetividade no cumprimento da vontade do paciente.
Constante no uso da expressão declaração prévia de vontade, sustenta:

Insta salientar, neste tópico, que o cônjuge, companheiro e demais


parentes do paciente, bem como o eventual procurador nomeado estão
atrelados à declaração previa de vontade para o fim da vida, ou seja,
devem respeitar a vontade do paciente. Vincula ainda as instituições
de saúde e os médicos, contudo, estes podem valer-se da objeção de
consciência, com fulcro no artigo 5º, VI da CF/88, caso tenham fundado
motivo para não realizarem a vontade do paciente. Ressalte-se que,
neste caso, o paciente deve ser encaminhado para outro profissional,
a fim de que sua vontade seja respeitada (DADALTO, 2013, p. 149).

O testamento vital será revogável a qualquer tempo pelo testador,


não havendo necessidade da fixação de prazo de validade para o documento.
Devido à semelhança, neste aspecto, com o testamento sucessório, pode ser
feita analogia ao Art. 1.858 do Código Civil (BRASIL, 2002), que determina
que "o testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer
tempo". Devemos observar, contudo, que a revogação exige a capacidade de
discernimento, estando o paciente em pleno gozo de suas funções cognitivas. É
necessário um nível de consciência em que o paciente possa realizar escolhas,
e ainda, “seja capaz de compreender a situação em que se encontra” (NAVES,
2002, p. 119-120). O testamento vital, em linhas gerais, tem como conteúdo
disposições que aceitem e/ou recusem determinados tratamentos médicos e
não sejam contrárias ao ordenamento jurídico brasileiro. Não poderá, ainda,
o paciente fazer ressalva aos cuidados paliativos, garantidores de uma morte
digna (DADALTO, 2013).

Intrínseco ao testamento vital é o consentimento, a expressão da


manifestação de vontade do sujeito. O indivíduo testador deverá ter autonomia e
o esclarecimento necessário para que possa realizar disposições.

216
TÓPICO 3 — DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Cristina Sánchez (2003) afirma que o consentimento livre e esclarecido na


relação médico paciente é consequência da conversão do paciente em sujeito ativo,
capaz de decidir sobre as questões que lhe atingem diretamente. Dessa maneira,
deve o paciente conhecer sua real situação, ser adequadamente informado e
prestar seu consentimento antes do início de qualquer intervenção.

FONTE: Adaptado de <https://www.pucrs.br/direito/wp-content/uploads/sites/11/2018/09/mi-


guel_mallet.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2021.

CHAMADA

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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

217
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A intenção do legislador ao trazer a possibilidade de realização do inventário


por via extrajudicial, inaugurado com a Lei nº 11.441/07, foi de facilitar e tornar
mais célere a resolução destas relações consensuais, abarcando como resultado
o desafogamento do poder judiciário.

• Desde a assinatura do compromisso até a homologação da partilha, a


administração da herança será exercida pelo inventariante.

• O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o


inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última
vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as
ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.

• O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de dois


meses, a contar da abertura da sucessão.

• Aqueles bens que deveriam constar no rol do inventário e não estão lá, devido
ao intuito do herdeiro em omitir referidos bens, são considerados sonegados,
recaindo sobre o responsável que detinha o conhecimento da existência da
coisa, penalidades previstas na legislação, entre elas o direito que sobre eles
lhe deveria recair.

• O instituto dos sonegados tem por escopo garantir a exatidão de inventário e a


perfeita igualdade da partilha.

• A legislação estabelece ainda que, caso o sonegador não puder restituir os bens
sonegados, por já não estarem em seu poder, ele deverá realizar o pagamento
do montante que ocultou, acrescidos de pernas e danos, nos termos do que
determina o Art.1.995 do novel.

• Os herdeiros não respondem individualmente e com recursos próprios pela


dívida deixada pelo de cujus, nada mais, caso já tenha realizado a partilha,
responderão dentro do montante do bem recebido a título de herança, eis que
a responsabilidade dos herdeiros é limitada a sua quota parte.

• Os legatários e credores da herança podem exigir que do patrimônio do falecido


se discrimine o do herdeiro, e, em concurso com os credores deste, ser-lhes-ão
preferidos no pagamento.

218
AUTOATIVIDADE

1 Quando o indivíduo falece e deixa bens, é necessário, por força de lei,


que seja verificado quem tem direito ao patrimônio deixado pelo de cujos.
A regularização desse perdimento se dá através do inventário. No que
concerne ao inventário, nos termos preconizados pelo Código Civil e
Processo Civil brasileiro), assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para


o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições
de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial
e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha
ocorrido no estrangeiro.
b) ( ) O cônjuge ou companheiro supérstite não possui legitimidade ativa
concorrente para requerer a abertura do inventário.
c) ( ) O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de
12 meses, a contar da abertura da sucessão.
d) ( ) No nosso ordenamento jurídico só é possível realização de inventário
judicial.

2 Uma das preocupações dos herdeiros é relacionado à dívida do de cujus.


Acerca da previsão jurídica para o pagamento das dívidas deixadas pelo
falecido que é o autor da herança, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A herança não responde pelo pagamento das dívidas do falecido.


b) ( ) Os herdeiros respondem individualmente e com recursos próprios
pela dívida deixada pelo de cujus, caso já tenha realizado a partilha,
responderão além do montante do bem recebido a título de herança,
eis que a responsabilidade dos herdeiros é ilimitada a sua quota parte.
c) ( ) Se antes da partilha for requerido no inventário o pagamento de
dívidas constantes de documentos, revestidos de formalidades legais,
constituindo prova bastante da obrigação, e houver impugnação, que
não se funde na alegação de pagamento, acompanhada de prova valiosa,
o juiz mandará reservar, em poder do inventariante, bens suficientes
para solução do débito, sobre os quais venha a recair oportunamente a
execução.
d) ( ) Caso o autor da herança não tenha deixado bens suficientes para a
quitação da dívida, ela será paga pelos herdeiros.

3 Com a abertura do inventário, o inventariante e os herdeiros deverão


declarar e enumerar os bens pertencentes ao espólio que estiverem em
seu poder. Caso deixar conscientemente de declarar ou omitir bens que
deveriam constar na colação caracteriza sonegação. Acerca da sonegação,
analise as sentenças a seguir:

219
I- O herdeiro que sonegar bens da herança, não os descrevendo no inventário
quando estejam em seu poder, ou com o seu conhecimento, no de outrem,
ou que os omitir na colação, a que os deva levar, ou que deixar de restituí-
los, perderá o direito que sobre eles lhe cabia.
II- A pena estabelecida na legislação ao herdeiro sonegador é a perda do
direito sobre os bens objeto da sucessão e recairá apenas em relação aos
bens sonegados e não sobre a herança como um todo.
III- A figura do dolo deve estar presente, para caracterizar a intenção de
sonegação dos bens deixados pelo autor da herança, com a comprovada
má-fé.
IV- Caso o sonegador não puder restituir os bens sonegados, por já não estarem
em seu poder, ele deverá realizar o pagamento do montante que ocultou,
sem exigência de acrescer de perdas e danos.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

220
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