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“ENTRE MIM E O MUNDO”

DE TA- NEHISI COATES

“Como viver em um corpo negro, num país perdido no Sonho?”

Discente: Beatriz Filipa Pompeu Sousa; Nº 66627; TAN6A


Docente: David Teles Pereira
No âmbito da cadeira de História das Ideias Políticas 2021/2022
SOBRE O AUTOR

Ta- Nehisi Paul Coates nasceu a 30 de setembro de 1975 em Baltimore, Maryland, EUA
e vive atualmente em Nova Iorque com a mulher Kenyatta Mattews, e o filho Samori Coates.

É um escritor e jornalista americano e como correspondente da revista “Atlantic” recebeu


os prémios de jornalismo “Hilman” e “George Polk”, onde escreveu sobre questões
culturais, sociais e políticas, especialmente sobre afro-americanos e sobre a supremacia
branca.

É o autor de “The Beautiful Struggle” e de “Entre mim e o mundo” (Título original:


“Between the World and Me”). Este último foi escolhido como um dos melhores livros do
ano por entre outros, “The Guardian”, “The New Yorker” e “The Economist” e venceu o
“National Book Award” de 2015 para não ficção.

O seu pai, William Paul Coates, é o fundador de Black Classic Press, uma editora com foco
em autores e livros significativos sobre afrodescendentes. A sua mãe, Cheryl Waters, foi o
suporte financeiro da família e incentivou Coates a escrever desde pequeno.

INTRODUÇÃO

“As bicadas do desconforto, o caos, a vertigem intelectual não eram um alarme. Eram um
farol.”. Com esta frase conseguimos começar por compreender a imagem da capa do livro
“Entre mim e o mundo” e os temas que irão ser abordados.

Este caos referido é a principal “casa” de um corpo negro, corpo que nunca é o dono do
seu próprio corpo, que é sempre vulnerável pelo poder alheio, pelo roubo da dignidade ou
pela simples violência, psicológica e (na maior parte das vezes) física. O desconforto que é
vivido diariamente do seu corpo nunca ser efetivamente seu.

“Quando aceitei tanto o caos da história como o facto do meu fim total, vi-me livre para
considerar como queria viver – em particular, como viver livremente neste corpo negro. É
uma questão profunda, pois a América vê-se como obra de Deus, mas o corpo negro é a
prova mais clara de que a América é a obra dos homens.”1

O título deste livro “Entre mim e o mundo” representa a evidente distância que o autor
considera existir entre ele e o resto do mundo, estabelecendo não só uma divisão entre os

1
“Entre mim e o mundo”, Página 19

2
dois mundos como uma relação necessária entre ambos. “(…) para aquele mundo distante e
para mim impenetrável.”2 “E, ainda que eu pudesse ser um nativo de nenhum desses
mundos, sabia que entre nós não se interpunha nada de tão essencialista como a raça. (…) E
via que o que me afastava do mundo não era nada de intrínseco a nós, era a injúria real
cometida por pessoas determinadas a nomear-nos, determinadas a acreditar que o nome que
nos atribuíam importa mais do que qualquer coisa que pudéssemos fazer.” 3

“Passei muito tempo dos meus estudos à procura da pergunta certa que me permitisse
compreender totalmente a fissura que existe entre mim e o mundo. Não passei o meu tempo
a estudar o problema da «raça» - «raça» não é mais do que uma reformulação e uma tentativa
de contenção de problema. É algo que podes observar de tempos a tempos quando algum
sonso – geralmente um sonso que acredita ser branco – propõe que o progresso passa por
uma grande de orgia de negros e brancos que só terminaria quando todos nós fôssemos
beges, e logo, da mesma «raça».” 4

O caos esteve presente na vida do escritor desde cedo, assim como na vida da maioria dos
negros americanos. Mas, na vida do seu filho adolescente, Samori5, para quem ele escreve o
livro, o caos esteve presente de uma forma diferente, separado por diferentes gerações, novas
plataformas informativas e novos métodos de segurança, com referências diferentes (o filho
teve a sorte de assistir a dois mandatos de um presidente negro, exemplo para a comunidade
afro-americana em termos de representatividade e ambição). “Não podes ser negro como eu
sou negro, tal como não podia ser negro quando o meu pai foi negro.” 6 “Penso que esta é
uma grande diferença entre nós. Tu conheces uma parte das velhas regras, mas elas não são
tão essenciais para ti como foram para mim.”7

DESENVOLVIMENTO

Ta-Nahisi Coates escreve para tentar explicar ao seu filho de quinze anos o que significa
ser negro nos Estados Unidos da América, hoje em dia. Coates demonstra também que
escreve neste momento porque foi o ano em que o seu filho observou inúmeras mortes e

2 “Entre mim e o mundo”, Página 113


3 “Entre mim e o mundo”, Página 127
4 “Entre mim e o mundo”, Página 123
5 “A luta está no teu nome, Samori- tens o nome de Samori Touré, que lutou contra os colonizadores franceses pelo

direito ao seu corpo negro. Morreu no cativeiro, mas os resultados dessa luta e de outras como ela são nossos,
mesmo quando o objeto da nossa luta, como tantas vezes acontece, escapa ao nosso entendimento.” (“Entre mim e
o mundo”, Página 76)
6 “Entre mim e o mundo”, Página 46
7 “Entre mim e o mundo”, Página 29

3
descobriu algumas injustiças8, foi quando perdeu a sua “inocência”. Foi desta forma que
Timori soube que as esquadras do seu país foram investidas com a autoridade de destruir o
seu corpo. Todavia, a culpa não é efetivamente destes “destruidores de corpos”, os
“destruidores são apenas homens que põem em prática os caprichos do nosso país,
interpretando corretamente a sua herança e legado.”9 O autor refere que para sobreviver aos
bairros em que frequentava e para conseguir proteger o seu corpo, aprendeu uma “segunda
linguagem” composta de um vocabulário básico de apertos de mãos e acenos da cabeça, que
decorou uma lista de quarteirões proibidos e aprendeu a detetar o “cheiro” das lutas.
“Lembro-me de aprender essas leis mais claramente do que aprendi as cores e as formas
geométricas, porque essas leis eram essenciais para a segurança do meu corpo”.10

O triunfo da crença de ser-se branco surge do roubo da vida humana, da liberdade, do


trabalho e das terras. Onde se chicoteia as costas, acorrentam-se os braços e pernas e
destroem-se famílias para se provar a superioridade branca. Na opinião de Coates, “A
«América branca» é uma corporação concebida para proteger o seu direito exclusivo de
dominar e controlar os nossos corpos. (…) o poder de dominação e exclusão está no centro
da crença de que se é branco e, sem ele, as «pessoas brancas» deixariam de existir, por
ausência de razões.”11 “(…) pela sua necessidade de serem brancos, de falarem como brancos,
de pensarem que são brancos, ou seja, de pensarem que transcenderam as falhas da natureza
humana.”12 Coates evidencia que a História dos negros era inferior porque eles eram
inferiores, ou seja, os seus corpos eram inferiores. E esses corpos inferiores nunca podiam
merecer o mesmo respeito que era concedido aos corpos brancos fabricados no Ocidente.
No entanto, são esses mesmos corpos que no início da Guerra Civil valiam quatro mil
milhões de dólares, mais do que toda a indústria americana, todas as ferrovias, oficinas e
fábricas americanas juntas. E a principal mercadoria que esses mesmos corpos negros
roubados produziam, o algodão, era a primeira exportação da América. Mas, “na América
destruir o corpo negro é uma tradição, é um legado.”13
Nesta carta ao filho, Coates recorda a sua infância e juventude num bairro problemático
em Baltimore, rodeado pela violência em que “o Mundo não tinha tempo para as infâncias

8 “Escrevo-te porque este foi o ano que viste Eric Garner a ser asfixiado até à morte por vender cigarros; porque sabes
agora que Renisha McBride foi abatida a tiro por estar à procura de ajuda; que John Crawford foi abatido a tiro por
deambular numa loja. E viste homens fardados passarem num carro-patrulha e assassinarem Tamir Rice, uma criança
de doze anos que eles estavam obrigados, por juramento, a defender. (…)” (“Entre mim e o mundo, Página 15)
9 “Entre mim e o mundo”, Página 16
10 “Entre mim e o mundo”, Página 29
11 “Entre mim e o mundo”, Página 50
12
“Entre mim e o mundo”, Página 154
13 “Entre mim e o mundo”, Página 111

4
de rapazes e raparigas negros”14. “O meu pai tinha tanto medo. Um medo que eu sentia na
mordidela do seu cinto preto de couro, que ele aplicava com mais ansiedade do que ira, o
meu pai que me batia como se alguém me pudesse levar, porque era exatamente isso que
acontecia à nossa volta.” 15 “Os negros amam os filhos como uma espécie de obsessão. Acho
que todos nós preferíamos matar-vos com as nossas mãos a ver-vos mortos pelas ruas que a
América construiu.”16 Indica também que os seus olhos foram feitos em Baltimore, porque
estavam vedados por um ”medo cegante”17. Em “Entre mim e o mundo” é nos indicado
que a perda do corpo “é uma espécie de terrorismo, e essa ameaça altera a órbita das nossas
vidas, e, como no terrorismo esta distorção é intencional.” A perda do corpo passa também
pela obrigação aos sobreviventes negros de uma passividade agressiva, de conversas discretas
quando estão em público, de exibirem boas maneiras, de as mãos nunca estarem dentro dos
bolsos, de a postura estar condicionada e não fazer movimentos repentinos que possam
parecer alguma coisa; a exigência de ser duas vezes melhor e mesmo assim apenas esperar
metade.

Para além de abordar o tema da destruição dos corpos (mas não das almas) dos negros
também fala dos habitantes do “Sonho Americano”18 ou melhor dizendo, O Sonho de ser
branco. “Toda a minha vida assisti a esse Sonho. É um sonho de casas perfeitas e relvados
prazenteiros. São churrascos no Dia da Memória, associações de bairro e acessos a garagens.
O Sonho são casas em árvores e os escuteiros. O Sonho cheira a hortelã, mas sabe a bolo de
morango. (…) o Sonho assenta sobre as nossas costas, o cobertor é feito com os nossos
19
corpos. (…) o Sonho persiste declarando guerra ao mundo conhecido (…)”. O
Fundamento do Sonho é então que “Para fazer o mal, uma pessoa tem antes de mais de
acreditar que está a agir bem, ou que a sua ação é ponderada e conforme à lei natural” 20.
Assim, aqueles que seguem o sonho têm de, não só, acreditar nele, mas também de acreditar
que ele é justo e que a possuírem o Sonho é o resultado natural da sua audácia, honra e boas
ações. “Esquecer é um hábito, é mais uma componente necessária do Sonho. Eles

14 “Entre mim e o mundo”, Página 31


15 “Entre mim e o mundo”, Página 21
16 “Entre mim e o mundo”, Página 90
17 “Entre mim e o mundo”, Página 133
18 “American Dream” é um ethos nacional dos Estados Unidos, um conjunto de ideais em que a liberdade inclui a

oportunidade de prosperidade e sucesso e uma mobilidade social ascendente alcançada através do trabalho árduo. Na
definição do sonho americano de James Truslow Adams em 1931, "a vida deve ser melhor e mais rica e completa para
todos, com oportunidade para cada um de acordo com a habilidade ou realização", independentemente da classe
social ou das circunstâncias de nascimento. A ideia do Sonho Americano está enraizada na Declaração de
Independência dos Estados Unidos que proclama que "todos os homens são criados iguais" e que são "dotados pelo
Criador com certos Direitos inalienáveis", incluindo "Vida, Liberdade e a busca da Felicidade".
19 “Entre mim e o mundo”, Página 17
20 “Entre mim e o mundo”, Página 106

5
esqueceram a dimensão do roubo com o qual enriqueceram através da escravatura; (…)
Esqueceram-se porque lembrar levá-los ia a cair do belo Sonho e força-los a cair do belo
Sonho e forçá-los-ia a viver aqui em baixo connosco, aqui em baixo no mundo.”21

É referida neste livro a história de “Prince Jones”, colega do autor na Universidade de


Howard (a sua Meca22), um aluno brilhante que conseguiu furar a bolha do que seria
expectável para uma pessoa da sua condição racial e social (“Prince Jones havia escapado, e
mesmo assim eles apanharam-no”23). Jones foi assassinado em 2000 na Virgínia, por um
polícia do condado de Prince George, situado à saída de Washington DC. Coates conta que
a perda da sua inocência, aconteceu com este assassinato e a impunidade do crime cometido
por um polícia (que também era negro). Este acontecimento desencadeou em si toda uma
revolta que, mais tarde, o seu filho Samori, veio a sentir quando a história se repetia. “Tu
ficaste a sabê-lo com Michael Brown. Eu fiquei a sabê-lo com Prince Jones.”24 Em 2014, o
polícia que matou Michael Brown em Ferguson, Missouri, também não seria penalizado,
arquivando-se mais um caso de impunidade policial, porque “Os destruidores raramente são
responsabilizados. Em muitos casos, receberão pensões. E a destruição é meramente a forma
superlativa de um domínio cujas prerrogativas incluem buscas, detenções, espancamentos e
humilhações. Tudo isto é comum para pessoas negras. Ninguém é responsabilizado.”25

Apesar deste livro abordar o Racismo nos EUA, o racismo é algo universal. Mas o que é
o racismo? De acordo com o Dicionário Português o racismo é uma “Teoria que defende a
superioridade de um grupo sobre os outros, baseada num conceito de raça, preconizando,
particularmente, a separação destes dentro de um país ou região (segregação racial) ou
mesmo visando o extermínio de uma minoria” e uma “Atitude ou comportamento
sistematicamente hostil, discriminatório ou opressivo em relação a uma pessoa ou a um
grupo de pessoas com base na sua origem étnica ou racial, em particular quando pertencem
a uma minoria ou a uma comunidade marginalizada.”

Para Coates “Os americanos acreditam na realidade da «raça» enquanto característica


definida e indubitável do mundo natural. O racismo- a necessidade de atribuir características
indeléveis a diferentes pessoas e depois humilha-las, reduzi-las e destruí-las- advém

21
“Entre mim e o mundo”, Página 150
22 “Entre mim e o mundo”, Página 46
23 “Entre mim e o mundo”, Página 85
24
“Entre mim e o mundo”, Página 137
25 “Entre mim e o mundo”, Página 16

6
inevitavelmente desta condição inalterável. Deste modo, o racismo é explicado como um
filho inocente da Mãe Natureza (…).”26 Mas para este autor a raça é a filha do racismo e não
a mãe. “«A grande divisão da sociedade não é entre ricos e pobres, mas entre brancos e
negros», disse o grande senador da Carolina do Sul John C. Calhoun. «E os brancos, ricos ou
pobres, pertencem à classe alta e são respeitados e tratados como iguais.» E aqui está: a
igualdade que eles têm por sagrada significa o direito de quebrar o corpo negro.”27 Um dos
valores que fazem os americanos, especialmente os cidadãos que acreditam ter pele branca,
sentirem-se excecionais é a crença na diferença dos tons de pele e cabelo como um fator
capaz de “organizar corretamente uma sociedade e que designam atributos mais profundos
que não são indeléveis”. Este povo, centrado na ascensão de todos os que pensam serem
brancos, não se estrutura por qualquer tipo de fisiologia ou genealogia, mas pela hierarquia.

FILOSOFIA POLÍTICA

“E, por isso, nunca tive a sensação de ter um Deus justo do meu lado. Os mansos
herdarão a Terra não queria dizer nada para mim. Os mansos eram espancados em Baltimore
ocidental, eram espezinhados no cruzamento de Walbrook, eram dilacerados em Park
Heighrs e violados nos chuveiros da prisão da cidade. Eu tinha um entendimento físico do
universo, cujo arco moral descia até ao caos e terminava numa cela.”28 “A religião não me
podia responder. As escolas não me podiam responder. As ruas não me podiam ajudar a ver
para lá da refrega do quotidiano.”29

A natureza profundamente pessimista (ou realista, como dirão alguns), contenciosa e


insatisfeita do seu discurso presente nas citações referidas e ao longo deste livro, transforma-
o em uma obra filosófica, no sentido mais clássico do conceito. A maiêutica (Uma forma de
fazer sucessivas perguntas sobre um mesmo assunto, para chegar a um conceito ou uma
definição de algo) e ironia (uma forma de mostrar ao interlocutor que a resposta, que a pessoa
julgava estar correta, era, na verdade, um engano) que Sócrates cunhou e o pessimismo que
Platão eternizou na palavra escrita, surgem aqui como fundamentais. Coates seguindo a
herança familiar que lhe foi inculcada por pais e avós, a descoberta e fortalecimento das suas
bases identitárias e mundividência é feita através do questionamento constante, mas desde

26 “Entre mim e o mundo”, Página 13


27 “Entre mim e o mundo”, Página 112-113
28 “Entre mim e o mundo” Página 34
29
“Entre mim e o mundo”, Página 35

7
cedo, percebe que a formulação das perguntas e o caminho para o seu esclarecimento são
infinitamente mais importantes e formativas do que as respostas. “Parecia-me agora essencial
interrogar incessantemente (…) Parecia errado não perguntar porquê uma e outra vez.”30

Para além destes importantes filósofos, Coates revela que a “Destruição da civilização
negra” de Chacellor Williams31 era o seu livro preferido, a sua “bíblia” .32 Este livro mostrou-
lhe que a história não pertence somente ao mundo Ocidental branco, como ele pensava.

Identificando-se com Malcom X33, Coates menciona que “ gostava dele por que ele nunca
mentia, ao contrário das escolas com a sua moral de fachada, ao contrário das ruas com as
suas bravatas, ao contrário do mundo dos sonhadores. Gostava dele porque falava em termos
simples, nunca místicos ou esotéricos, porque a sua ciência não se fundava na ação de
fantasmas ou de deuses misteriosos, mas no trabalho do mundo físico.”34Que “(…) Falava
como um homem livre, como um homem negro que estava acima das leis que baniam a
nossa imaginação”35 O autor encontrou em Malcolm X o pragmatismo ausente em todos os
políticos que tinha conhecido. “ Malcolm fazia sentido para mim, não por amor à violência,
mas porque nada na minha vida me preparara para entender o gás lacrimogéneo enquanto
forma de libertação, como o faziam aqueles mártires do Movimento dos Direitos Civis
durante o mês de História Negra.”36Se és negro, nasceste na Prisão”- Malcolm X

Aponta também movimentos como a “Black Flight”, um movimento de migração de


famílias negras das grandes cidades para os subúrbios, em busca de segurança e de melhores
condições de vida, e o “Partido dos Panteras negras”37, em que o seu pai foi capitão local.

30 “Entre mim e o mundo”, Página 40


31 Chancelor Williams (1893-1992) foi um historiador e sociólogo afro-americano, aluno e professor na Howard
University.
32 “Entre mim e o mundo, Página 53
33 Malcolm X, mais tarde nomeado como Malik el-Shabazz, foi um afro-americano, ativista dos direitos humanos,

ministro muçulmano e defensor do Nacionalismo Negro nos Estados Unidos. Fundou a Organização para a Unidade
Afro-Americana, de inspiração separatista.
34 “O nosso mundo é físico aprende a jogar à defesa- ignora a cabeça e mantêm os olhos no corpo.” (“Entre mim e o

mundo”, Página 39)


35 “Entre mim e o mundo”, Página 43
36 “Entre mim e o mundo”, Página 103
37 O “Partido dos Panteras Negras”, originalmente denominado Partido Pantera Negra para Autodefesa fundada por

Bobby Seale e Huey Newton em outubro de 1966. Foram um partido político norte-americano surgido em defesa da
comunidade afro-americana. Esse partido originou-se, a princípio, como um grupo voltado ao combate contra a
violência policial contra os negros durante a década de 1960, no contexto do movimento dos direitos civis nos Estados
Unidos.

8
Martin Luther King38 é também referido por Coates e é também interessante relacionar o
que foi escrito no livro “Entre mim e o mundo” e o que Martin disse no seu discurso “I have
a dream”, no dia 28 de agosto de 1963. Ao liderar a Marcha sobre Washington, Martin Luther
King fez o discurso mais importante da sua vida em que falava sobre o sonho de uma
sociedade em que negros e brancos pudessem conviver em harmonia: “I say to you today,
my friends, so even though we face the difficulties of today and tomorrow, I still have a
dream. It is a dream deeply rooted in the American dream. (…)”39

CONCLUSÃO

Apesar de 59 anos se terem passado após o Discurso de Martin Luther King, a ideia da
necessidade de uma união e coexistência entre negros e brancos no futuro continua.

Este livro analisa, explora e detalha cada pormenor do passado para não falhar no futuro,
abordando temas necessários como a escravidão, o preconceito, o racismo e as mortes que
apenas a cor da pele pode provocar, mas também os amores que o autor teve. Em cada
capítulo existe uma citação que tem o objetivo de nos fazer pensar, cada página que lemos
conseguimos “ver” pelos olhos de Ta- Nehisi Coaates o sofrimento de viver dentro de um
corpo negro, num país perdido no Sonho. “Entre mim e o mundo” ensina-nos a interrogar
e a lutar, assim como o autor fez a vida inteira (e quis passar para o seu filho). “A luta é
realmente tudo o que tenho a oferecer-te, porque é a única porção deste mundo que podes
controlar.”40

Para além de todo o mal que Coates sofreu por ser negro, há também, segundo ele,
“privilégios”: “(…) aqui em baixo, encontra-se realmente uma sabedoria, e essa sabedoria é
responsável por muito do que a minha vida tem de bom. E a minha vida aqui em baixo é
responsável por ti.”41 Desta forma, termino citando o que mãe de Prince Jones disse a Ta-
Nehisi Coates: “Tu existes. Tu importas. Tu tens todo o direito de usar um gorro, de ouvir
música tão alta quanto quiseres. Tens todo o direito de seres tu. E ninguém deverá impedir-
te de seres tu. Tens de ser tu. E nunca podes ter medo de seres tu”.42

38 Martin Luther King Jr. foi um pastor batista e ativista político estadunidense que se tornou a figura mais
proeminente
e líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos de 1955 até seu assassinato em 1968
39 “Digo-lhes hoje, meus amigos, que, apesar das dificuldades e frustrações do momento, eu ainda tenho um sonho. É

um sonho profundamente enraizado no sonho americano.”


40 “Entre mim e o mundo”, Página 115
41 “Entre mim e o mundo”, Página 76
42 “Entre mim e o mundo”, Página 121

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BIBLIOGRAFIA

COATES, Ta-Nehisi. Entre mim e o mundo

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https://www.britannica.com/biography/Ta-Nehisi-Coates (Último acesso: 14-05-2022)

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2016. Disponível em: http://deusmelivro.com/mil-folhas/entre-mim-e-o-mundo-ta-nehisi-
coates-20-9-2016/#.YoYtLqjMLIV (Último acesso: 14-05-2022)

SILVA, Paulo Ribeiro. “Entre mim e o Mundo”. Comunidade de cultura e arte. 30 de julho de
2016. Disponível em: https://comunidadeculturaearte.com/entre-mim-e-o-mundo/ (Último
acesso: 14-05-2022)

LANÇA, Marta. “Viver dentro de um corpo negro, num país perdido no Sonho”, a partir de Ta-
Nehisi Coates. Buala. 2 de julho de 2020. Disponível em: https://www.buala.org/pt/a-ler/viver-
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(Último acesso: 14-05-2022)

RÚBIA, Priscilla. “Entre o Mundo e Eu de Ta- Nehisi Coates”. Leitor cabuloso. 14 de março de
2016. Disponível em: https://leitorcabuloso.com.br/2016/03/resenha-entre-o-mundo-e-eu-de-
ta-nehisi-coates/ (Último acesso: 14-05-2022)

SILVA, Daniel Neves. “Panteras Negras”. História do Mundo. Disponível em:


https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/os-panteras-negras-e-o-
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"Racismo". Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em:


https://dicionario.priberam.org/%20racismo (Último acesso em 18-05-2022).

“The American Dream”. EDUCALINGO. Disponível em: https://educalingo.com/pt/dic-en/the-


american-dream (Último acesso em: 18-05-2022)

“Martin Luther King Jr: I have a dream”. Top way school. 20 de janeiro de 2020. Disponível em:
https://www.topwayschool.com/blog/martin-luther-king-jr-i-have-a-dream (Último acesso em:
19-05-2022)

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