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Motivações na esfera do

(in)cumprimento fiscal

Tânia Sofia Taveira Silva

Orientador: Professora Doutora Fernanda Maria Duarte Nogueira

Coorientador: Professor Doutor António João Marques Maia

Dissertação para obtenção de grau de Mestre em Gestão e Políticas Públicas

Lisboa

2018
Agradecimentos

Prestes a concluir esta etapa do meu percurso académico, é imperativo deixar uma palavra de
gratidão à orientadora da presente investigação, a Professora Doutora Fernanda Nogueira, por
me ter apoiado de forma prestável, e incansável, desde a definição do tema à entrega da
dissertação, mostrando desempenhar a função docente com a maior vocação e estima pelos
alunos. Uma palavra de agradecimento também ao Professor Doutor António Maia,
coorientador da investigação, por ter ajudado a encontrar o foco do presente trabalho e por
sempre se ter demonstrado disponível ao longo deste percurso. Ainda no meio académico,
agradeço também a disponibilidade da Professora Doutora Katharina Gangl, co-autora de
alguns dos artigos referenciados na presente investigação, que, uma vez contactada,
prontamente me prestou alguns esclarecimentos e disponibilizou material de estudo relevante
para este trabalho.
Em seguida, agradeço aos meus queridos pais, que fizeram da educação dos seus filhos a sua
prioridade, pela constante presença e apoio em todos os momentos e por em muito terem
contribuído para a pessoa em que me tornei. As minhas vitórias serão sempre também suas.
Por último quero agradecer ao meu irmão, namorado, amigos e colegas, que viram muitas das
minhas horas “livres” serem absorvidas por esta dissertação, mas que sempre me mostraram
que o único caminho que podia seguir era o que indicava para seguir em frente.

Página I
Resumo

Embora seja difícil precisar quando apareceram os primeiros impostos, é globalmente aceite
que, em simultâneo, terá surgido o fenómeno do incumprimento fiscal.
Os Estados, que necessitam da coleta de impostos para satisfazer as necessidades públicas
coletivas dos seus cidadãos, reconhecem esse problema e procuram estratégias para o
minimizar, mas o tipo de estratégias utilizadas tem registado ao longo do tempo alterações
significativas. Se há algumas décadas as estratégias adotadas com vista à minimização desse
comportamento passavam pela adoção de medidas dissuasoras, como o reforço das
fiscalizações e o aumento das penalizações associadas ao incumprimento detetado,
considerando-se que as escolhas dos cidadãos eram sobretudo influenciadas por fatores
económicos, nas últimas duas décadas salientou-se que também os fatores psicológicos,
morais, éticos e sociais influenciam os cidadãos no âmbito do cumprimento, ou
incumprimento, das suas obrigações fiscais.
Nesta senda, tornou-se relevante conhecer, não só, porque é que os cidadãos incumprem nas
suas obrigações fiscais, mas também porque é que tantos cidadãos cumprem as suas
obrigações fiscais, quando as penalizações e probabilidade de deteção se consideram tão
baixas. Surge, assim, o interesse pelas motivações associadas ao cumprimento fiscal, que se
consideram, à partida, estar relacionadas com a relação existente entre os cidadãos e as
administrações fiscais.
São vários os quadros conceptuais que propõem administrações fiscais orientadas para o
serviço, já que esta é uma estratégia promissora para as autoridades fiscais aumentarem o
cumprimento das obrigações fiscais, uma vez que pode ter como consequência o aumento da
confiança e segurança nas instituições por parte dos cidadãos. De uma extensão a um destes
quadros conceptuais – o do plano inclinado escorregadio – extrai-se que a motivação
associada ao cumprimento poderá ser forçada, voluntária ou comprometida, tendo-se
considerando que seria interessante perceber qual a proporção de contribuintes movidos por
cada tipo de motivação em Portugal, embora de forma não generalizada.
Assim, tendo em conta a importância da minimização de fenómenos de incumprimento fiscal
para os Estados, não sendo o Estado português exceção, procurar-se-á com esta investigação
disponibilizar um contributo para a perceção e minimização do fenómeno, enriquecido com
dados empíricos, na procura das motivações associadas ao cumprimento fiscal.

Palavras-chave: Cumprimento fiscal, impostos, motivação, evasão fiscal, administração


fiscal, contribuintes
Página II
Abstract

While it is difficult to pinpoint when the first taxes appeared, it is widely accepted that, at the
same time, the phenomenon of tax non-compliance has arisen.
States, which need to collect taxes to meet the collective public needs of their citizens,
recognize this problem and seek strategies to minimize it, but the type of strategies used has,
over time, experienced significant changes. While some decades ago, the strategies adopted to
minimize this behavior were to adopt dissuasive measures, such as the reinforcement of
inspections and the increase of penalties associated with the detected non-compliance,
considering that the citizens' choices were mainly influenced by economic factors, in the last
two decades it has been emphasized that psychological, moral, ethical and social factors also
influence citizens in the fulfillment or non-fulfillment of their fiscal obligations.
On this context, it has become relevant to know not only why citizens are failing to meet their
tax obligations, but also why so many citizens comply with their tax obligations when
penalties and probability of detection are considered to be so low. Thus, the interest in
motivations associated with tax compliance appears and it seems to be related, in the first
place, with the relationship between citizens and tax administrations.
There are several conceptual frameworks that propose service-oriented tax administrations,
since this is a promising strategy for fiscal authorities to increase compliance with tax
obligations, since it may lead to increased trust and confidence in the institutions on the part
of the citizens. From the extension of one of these conceptual frameworks - the slippery slope
framework - it can be inferred that the motivation associated with compliance could be forced,
voluntary or committed, and it was considered that it would be interesting to perceive the
proportion of taxpayers moved by each type of motivation in Portugal, although it isn’t
possible to proceed to generalizations in this investigation.
Considering the importance of minimizing the phenomena of tax non-compliance for every
country, not being Portugal an exception, with this research it will be sought to make a
contribution to the perception and minimization of the phenomenon, enriched with empirical
data, in the search of the motivations associated with tax compliance.

Keywords: Tax compliance, taxes, motivation, tax evasion, tax administration, taxpayers

Página III
Índice

Capítulo 1 – Introdução .......................................................................................................... 1

Capítulo 2 - Revisão de Literatura .......................................................................................... 4

2.1. Incumprimento fiscal ................................................................................................... 4

2.2. Estratégia da AT e quadro normativo das infrações em Portugal .................................. 8

2.3. Motivações na esfera do cumprimento ....................................................................... 11

2.3.1. A decisão individual do contribuinte ................................................................... 11

2.3.2. Evasão fiscal, ética e moral ................................................................................. 13

2.3.3. As administrações fiscais e o cumprimento.......................................................... 16

2.3.4. Estudos em Portugal ............................................................................................ 20

2.3.5. Características sociodemográficas ....................................................................... 22

2.3.6. Dimensões e quadro conceptual da investigação .................................................. 25

Capítulo 3 – Metodologia ..................................................................................................... 29

3.1. Tipo de estudo ........................................................................................................... 29

3.2. Objetivos e Proposições de Investigação .................................................................... 29

3.3. Técnicas de Recolha de Dados ................................................................................... 30

3.4. Amostra e Procedimentos .......................................................................................... 32

3.5. Recolha e tratamento de dados ................................................................................... 33

Capítulo 4 – Análise de dados .............................................................................................. 35

4.1. Análise Descritiva...................................................................................................... 35

4.1.1. Caracterização da amostra ................................................................................... 35

4.1.2. Comportamentos de cidadania ............................................................................. 36

4.1.3. Relações com as instituições................................................................................ 43

4.1.4. Motivação e cumprimento fiscal .......................................................................... 47

4.2. Cruzamento das variáveis mais significativas............................................................. 55

4.2.1. Sexo .................................................................................................................... 55


Página IV
4.2.2. Idade ................................................................................................................... 58

4.2.3. Nível de escolaridade completo ........................................................................... 61

4.2.4. Situação profissional ........................................................................................... 64

4.2.5. Rendimento ......................................................................................................... 67

4.2.6. Crença ................................................................................................................. 70

4.3. Análise fatorial exploratória ....................................................................................... 72

Capítulo 5 – Discussão de resultados.................................................................................... 76

Capítulo 6 – Conclusão ........................................................................................................ 82

Referências .......................................................................................................................... 84

Anexo .................................................................................................................................. 90

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Índice de figuras

Figura 1: Abordagem do plano inclinado escorregadio ......................................................... 18


Figura 2: Quadro conceptual da investigação ....................................................................... 28
Figura 3: Comportamentos de cidadania – Questão 2.1.1. a 2.1.4. ........................................ 37
Figura 4: Comportamentos de cidadania – Questão 2.1.5. a 2.1.8. ........................................ 38
Figura 5: Comportamentos de cidadania – Questão 2.1.9. a 2.1.13. ...................................... 39
Figura 6: Comportamentos de cidadania – Responsabilidade cívica ..................................... 41
Figura 7: Comportamentos de cidadania – Posição da AT .................................................... 42
Figura 8: Perceção da evasão fiscal ...................................................................................... 43
Figura 9: Relações com as instituições – Intenção de cumprimento – Conformidade
administrativa ...................................................................................................................... 44
Figura 10: Relações com as instituições – Intenção de cumprimento – Conformidade técnica
............................................................................................................................................ 45
Figura 11: Relações com as instituições – Perceção da confiança na AT .............................. 46
Figura 12: Relações com as instituições – Perceção do poder da AT .................................... 46
Figura 13: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.1.1. a 4.1.4. .................................. 47
Figura 14: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.1.5. a 4.1.8. .................................. 48
Figura 15: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.1.9. a 4.1.13. ................................ 49
Figura 16: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.2.1. a 4.2.4. .................................. 51
Figura 17: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.2.5. a 4.2.8. .................................. 52
Figura 18: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.2.9. a 4.2.12. ................................ 53
Figura 19: Sentimento relativo ao pagamento de impostos ................................................... 54
Figura 20: Questões diretas sobre incumprimento ................................................................ 54
Figura 21: Cruzamento entre a variável “Sexo” e a perceção sobre evasão fiscal .................. 56
Figura 22: Cruzamento entre a variável “Sexo” e o sentimento relativo ao pagamento de
impostos .............................................................................................................................. 57
Figura 23: Cruzamento entre a variável “Sexo” e ter pensado incumprir obrigações fiscais .. 57
Figura 24: Cruzamento entre a variável “Sexo” e ter incumprido obrigações fiscais ............. 58
Figura 25: Cruzamento entre “classes de idade” e perceção sobre evasão fiscal .................... 59

Página I
Figura 26: Cruzamento entre “classes de idade” e sentimento relativo ao pagamento de
impostos .............................................................................................................................. 59
Figura 27: Cruzamento entre “classes de idade” e ter pensado incumprir obrigações fiscais . 60
Figura 28: Cruzamento entre “classes de idade” e ter incumprido obrigações fiscais ............ 60
Figura 29: Cruzamento entre “nível de escolaridade completo” e perceção sobre evasão fiscal
............................................................................................................................................ 62
Figura 30: Cruzamento entre “nível de escolaridade completo” e sentimento relativo ao
pagamento de impostos ........................................................................................................ 62
Figura 31: Cruzamento entre “nível de escolaridade completo” e ter pensado incumprir
obrigações fiscais ................................................................................................................. 63
Figura 32: Cruzamento entre “nível de escolaridade completo” e ter incumprido obrigações
fiscais .................................................................................................................................. 63
Figura 33: Cruzamento entre “situação profissional” e perceção sobre evasão fiscal............. 65
Figura 34: Cruzamento entre “situação profissional” e sentimento relativo ao pagamento de
impostos .............................................................................................................................. 65
Figura 35: Cruzamento entre “situação profissional” e ter pensado incumprir obrigações
fiscais .................................................................................................................................. 66
Figura 36: Cruzamento entre “situação profissional” e ter incumprido obrigações fiscais ..... 66
Figura 37: Cruzamento entre “classes de rendimento” e perceção sobre evasão fiscal........... 68
Figura 38: Cruzamento entre “classes de rendimento” e sentimento relativo ao pagamento de
impostos .............................................................................................................................. 68
Figura 39: Cruzamento entre “classes de rendimento” e ter pensado incumprir obrigações
fiscais .................................................................................................................................. 69
Figura 40: Cruzamento entre “classes de rendimento” e ter incumprido obrigações fiscais ... 69
Figura 41: Cruzamento entre “crença” e perceção sobre evasão fiscal .................................. 70
Figura 42: Cruzamento entre “crença” e sentimento relativo ao pagamento de impostos....... 71
Figura 43: Cruzamento entre “crença” e ter pensado incumprir obrigações fiscais ................ 71
Figura 44: Cruzamento entre “crença” e ter incumprido obrigações fiscais ........................... 72

Página II
Índice de quadros

Quadro 1: Dimensões e subdimensões da investigação ......................................................... 26


Quadro 2: Subproposições da investigação ........................................................................... 30
Quadro 3: Comportamentos de cidadania com os quais os inquiridos mais discordam .......... 40
Quadro 4: Motivações no cumprimento das obrigações fiscais - Afirmações com as quais os
inquiridos menos concordam................................................................................................ 50
Quadro 5: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável
“Sexo” ................................................................................................................................. 58
Quadro 6: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável
“Idade” (classes de idade) .................................................................................................... 61
Quadro 7: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável
“Nível de escolaridade completo” (classes de nível de escolaridade completo) ..................... 64
Quadro 8: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável
“Situação profissional”......................................................................................................... 67
Quadro 9: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável
“Rendimento” (classes de rendimento) ................................................................................. 69
Quadro 10: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável
“Crença” .............................................................................................................................. 72
Quadro 11: Fatores associados à decisão de cumprir, ou não, as obrigações fiscais............... 74
Quadro 12: Subproposições e proposição geral da investigação e respetivas conclusões ....... 78
Quadro 13: Súmula dos fatores associados à decisão de cumprir, ou não, as obrigações fiscais
............................................................................................................................................ 80

Página III
Lista de abreviaturas, siglas e acrónimos

AT – Autoridade Tributária e Aduaneira

EUA – Estados Unidos da América

IRS - Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

RGIT - Regime Geral das Infrações Tributárias

PIB - Produto Interno Bruto

Página IV
Capítulo 1 – Introdução

A génese do fenómeno tributário, e, consequentemente, do fenómeno da evasão fiscal,


remonta há milénios atrás, não sendo possível indicar um momento e um local
correspondentes ao seu aparecimento (Santos, 2003).
Com o passar dos séculos o conceito de Estado evoluiu, e à medida que este assumiu maiores
responsabilidades para com os cidadãos, também a carga de impostos foi aumentando, de
modo a satisfazer as necessidades coletivas da respetiva comunidade. Porém, nem todos os
cidadãos procuram cumprir as suas obrigações fiscais, não obstante o seu carácter
fundamental para os Estados, considerando-se, inclusive, que a fuga aos impostos é um
“fenómeno de todos os tempos e de todos os lugares, independentemente do sistema fiscal1
concreto que possa estar em, vigor” (Santos, 2003, p. 340).
Não obstante, apenas na década de 70 do século XX se registaram as primeiras iniciativas
significativas do estudo teórico do incumprimento fiscal2 na ótica da decisão individual do
contribuinte.
O modelo teórico de Allingham & Sandmo (1972) propõe que as motivações subjacentes ao
cumprimento ou incumprimento fiscal se prendem, sobretudo, com os benefícios económicos
associados a determinado comportamento, com a possibilidade de deteção do incumprimento
e com as sanções aplicáveis às infrações, em caso de deteção.
Mais tarde, vir-se-ia a considerar que estes aspectos não eram os únicos a pesar no momento
da decisão individual do contribuinte, uma vez que se verificou que, mesmo em países com
cumprimento fiscal baixo, o incumprimento não alcançou os valores que deveria alcançar se o
comportamento dos cidadãos se pautasse exclusivamente pelo rácio benefício-risco de ser
detetado (Gomez & Alm, 2008).
De facto, na década de 90 do século XX a moral tributária, definida como a motivação
intrínseca para os indivíduos pagarem os impostos (Alm & Torgler, 2004), suscitou muita
atenção, passando a suscitar particular interesse o porquê de tantas pessoas pagarem os
devidos impostos quando as penalizações e probabilidade de deteção são tão baixas (Torgler,
2003).

1
Entende-se por sistema fiscal “um conjunto de contribuições e impostos instituídos num dado espaço territorial
com vista à prossecução de fins determinados” (Santos, 2003, pp. 365-366).
2
Considera-se incumprimento fiscal a falta de vontade de agir de acordo com a legislação fiscal aplicável num
determinado momento (Saad, 2012)
Página 1
Assim, nas últimas duas décadas começaram a ser estudados os fatores psicológicos, morais,
éticos e sociais que influenciam os cidadãos no âmbito do cumprimento, ou incumprimento,
das suas obrigações fiscais. Na realidade, se por um lado perceber o que leva os contribuintes
a incumprir é vital para poder procurar maiores níveis de cumprimento e combater o tax gap3
efetivamente (Saad, 2012), também conhecer quais as motivações associadas ao cumprimento
assume a sua importância, uma vez que num Estado em que a maior parte dos cidadãos se
sinta forçada a pagar os devidos impostos os desafios são distintos dos de um Estado em que a
maior parte dos cidadãos encara como dever moral, de forma intrínseca, o cumprimento das
suas obrigações fiscais4.
Embora nos últimos anos se verifique a realização de algumas investigações muito
interessantes nesta área em Portugal, nota-se que os diferentes tipos de motivações no âmbito
do cumprimento não parecem ter sido ainda suficientemente explorados, daí que tenhamos
formulado a seguinte questão de partida: o que motiva os cidadãos a cumprir as suas
obrigações fiscais?
Deste modo, pretendeu-se, com a presente investigação, construir um questionário diferente
dos até então utilizados, que combinasse as variáveis de diferentes trabalhos previamente
realizados, que se mostraram mais relevantes, e obter um conjunto significativo de respostas,
tendo-se presente que existe uma série de outras dimensões que seria interessante analisar mas
também que foi necessário limitar o presente estudo, de modo a que a sua dimensão fosse
adequada a uma dissertação de Mestrado.
No que respeita à metodologia, o presente trabalho considera-se um estudo exploratório,
descritivo e prescritivo. Para a recolha de dados o método selecionado foi o inquérito por
questionário, correspondendo à unidade de análise os sujeitos passivos singulares que
tivessem entregado pelo menos uma declaração anual de rendimentos nos últimos dois anos
fiscais (2016 e/ou 2017).

3
Entendendo-se por tax gap a diferença entre a receita fiscal potencial (considerando a aplicação da legislação
em vigor, caso não existissem fenómenos de elisão, evasão e fraudes fiscais) e a que é efetivamente arrecadada
(adaptação do conceito das autoridades fiscais australianas disponível em https://www.ato.gov.au)
4
Entende-se por cumprimento das obrigações fiscais (tax compliance) – A medida em que o contribuinte cumpre
as normas tributárias do seu país, por exemplo, ao declarar o seu rendimento, submetendo a sua declaração anual
de rendimentos, e pagando os devidos impostos no prazo devido (adaptação do conceito da OCDE disponível em
http://www.oecd.org/ctp/glossaryoftaxterms.htm#T)
Note-se que outras definições poderão considerar um outro espectro para a noção de cumprimento fiscal. Para
James & Alley (2002), por exemplo, o cumprimento fiscal refere-se à vontade de os indivíduos atuarem de
acordo com o espírito e a letra do direito tributário e da administração fiscal sem que se recorra à aplicação de
coação, o que, de acordo com o critério seguido na presente investigação parece estar mais associado ao conceito
de motivação voluntária ou comprometida.

Página 2
Quanto à estrutura do trabalho, nota-se que este é composto por seis capítulos: o Capítulo 1
consiste na introdução, em que se procura espelhar, de forma resumida, o intuito da
investigação; o Capítulo 2 comporta a revisão de literatura, em que se procurará traçar a
evolução do estudo das questões associadas à decisão individual do contribuinte quando este
cumpre as suas obrigações fiscais, bem como evidenciar alguns trabalhos realizados em
Portugal sobre o tema; o Capítulo 3 em que será exposta a metodologia utilizada no âmbito da
presente investigação; o Capítulo 4, subordinado à análise de dados recolhidos na sequência
da divulgação de um inquérito por questionário; o Capítulo 5, destinado à discussão dos
resultados obtidos, em que se compararão os nossos resultados com os obtidos em trabalhos
previamente elaborados; e o Capítulo 6, referente à conclusão, no qual se visará fazer um
balanço da investigação e tecer algumas considerações sobre o futuro.
O tema em apreço reveste-se de importância, no âmbito do Mestrado em Gestão e Políticas
Públicas, em particular no âmbito das motivações dos cidadãos para o cumprimento das
obrigações fiscais decorrentes dos diplomas legais vigentes no Estado português, tanto pela
importância que a coleta dos impostos representa para a própria atividade do Estado, e
consequente satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos, como pela importância que
os resultados de investigações subordinadas a esta área podem representar para a definição de
Políticas Públicas destinadas à minimização do incumprimento fiscal, sendo esta uma área
prioritária para a administração fiscal portuguesa.
Os resultados obtidos permitiram-nos identificar oito fatores que condicionam a decisão de
optar por um comportamento de cumprimento ou incumprimento das obrigações fiscais, bem
como demonstrar que efetivamente existem diferentes motivações subjacentes ao
cumprimento fiscal.

Página 3
Capítulo 2 - Revisão de Literatura

2.1. Incumprimento fiscal

Considerando que no âmbito do incumprimento fiscal são utilizados múltiplos conceitos, por
vezes com diferentes significados consoante o autor, importa desde já expor a distinção
conceptual entre evasão fiscal e elisão fiscal adotada na presente investigação, sendo que a
diferença entre ambos os conceitos recai na legalidade das ações do contribuinte (Sandmo,
2004). Assim, a evasão fiscal consiste numa violação da lei, que torna o contribuinte
suscetível de uma ação administrativa ou judicial por parte das autoridades. A elisão fiscal,
por outro lado, encontra-se dentro do quadro legal das normas tributárias, consistindo na
exploração de lacunas nas normas tributárias com vista a reduzir a quantidade de imposto a
que dado contribuinte se encontra sujeito. Ou seja, trata-se de uma ação indesejada embora
legal, resultante da política fiscal em vigor. Tal não impede que se possa tornar complicado
estabelecer a diferença entre um e outro conceito de um ponto de vista moral (Sandmo, 2004).
Exposto o conceito de evasão fiscal, fundamental na investigação em apreço, importa notar
que a génese do fenómeno tributário, e, consequentemente, do fenómeno da evasão fiscal,
remonta há milénios atrás, não sendo possível indicar um momento e um local
correspondentes ao seu aparecimento (Santos, 2003).
O primeiro conjunto de informação detalhada relativamente à tributação remonta ao período
do Antigo Egipto, existindo, já nesse período, um conjunto de pessoas incumbidas de
fiscalizar o cumprimento, por parte dos cidadãos, das obrigações então estabelecidas (Torgler,
2003). Assim, nota-se que já as antigas civilizações se deparavam com os problemas com que
atualmente os Estados se deparam no âmbito do cumprimento das obrigações fiscais.
À medida que as funções governativas cresceram e que requereram maior receita fiscal,
também estes fenómenos pareceram difundir-se e crescer, tentando ser justificados por uma
série de razões, geralmente relacionadas com o facto de as leis serem más, o comportamento
dos governadores não ser adequado ou os salários serem muito baixos (Tanzi, 2017). Segundo
Tanzi (2017), o termo evasão fiscal surgiu no final da Idade Média, no âmbito da atividade
tributária dos governos das “cidades-estado”, aludindo a ações ilegítimas, por parte dos
contribuintes, com o intuito de evitar o pagamento dos impostos devidos.
No entanto, este fenómeno foi potenciado, não apenas pelas pessoas que procuravam omitir a
Página 4
posse de determinados bens ou rendimentos, mas também por entidades privadas e até
Estados, que ofereciam a possibilidade dessa omissão. Na realidade, já em 1789, no âmbito da
Revolução Francesa, existiam bancos suíços que ofereciam, a troco de honorários,
confidencialidade a nobres que procurassem proteger os seus bens dos saques que resultaram
da Revolução. Assim, também o surgimento dos hoje designados paraísos fiscais remonta a
algumas centenas de anos atrás (Zweig, 2016).
Após a Segunda Guerra Mundial os países desenvolvidos abandonaram o modelo laissez
faire, caracterizado por uma baixa despesa pública por parte do governo, e procuraram tornar-
se em estados-providência modernos, com o intuito de financiar as maiores despesas públicas
assumidas. Consequentemente, no século XX a carga fiscal média nos países industrializado
aumentou de cerca de 10% do PIB, no início do século, para mais de 30% no seu fim,
ultrapassando os 40% em vários países europeus (Tanzi, 2017), tornando-se a utilidade
associada à evasão fiscal cada vez mais significativa.
Em simultâneo, os sistemas fiscais foram-se tornando cada vez mais complexos, afirmando
Tanzi (2017) que há evidências que denotam que a corrupção nas administrações fiscais e a
evasão fiscal são facilitadas pela complexidade que caracteriza os sistemas fiscais e respetivas
instituições, uma vez que quando um sistema é complexo é menos compreensível e previsível.
Efetivamente, nas décadas recentes os sistemas fiscais de muitos países tornaram-se
complexos, o que se comprova pelo facto de, nalgumas experiências, pedidos de clarificação
sobre determinada matéria fiscal dirigidos a diferentes serviços tributários terem recebido
respostas amplamente diferentes (Tanzi, 2017). Um outro exemplo que ilustra a complexidade
dos sistemas fiscais é número de páginas de normas referentes a tributação, neste caso nos
EUA: se em 1913 quando o IRS foi introduzido nos EUA, existiam 400 páginas de leis e
regulamentos, em 2006 estas haviam alcançado as 66498 páginas (Tanzi, 2017).
De facto, à medida que os governos contaram com os sistemas fiscais para atingir um
crescente número de objetivos sociais e económicos, mais complexos os sistemas tributários
se tornaram, maiores se tornaram as oportunidade de os contribuintes tentarem enganar o
sistema, e menos previsíveis se tornaram as suas reações. 5 Além do mais, a tentativa de
enganar o sistema contou com a assistência de consultores fiscais e nalguns países inclusive
com a assistência de administradores fiscais corruptos. Assim, para além das leis tributárias e

5
Podendo a complexidade do sistema tributário conduzir, igualmente, ao incumprimento não intencional como
destaca Saad (2012).
Página 5
da efetividade dos controlos, há também que considerar que as características culturais dos
países têm impacto na difusão de práticas de evasão fiscal (Tanzi, 2017).
Acresce o impacto da globalização, que adiciona à equação o impacto que os sistemas fiscais
de outros países podem ter sobre um país ou contribuinte ao tentar explorar possibilidades
criadas por competição fiscal (Tanzi, 2017), quando até então a evasão fiscal estava sobretudo
ligada a atividades domésticas.
Assim, a coleta de impostos tornou-se mais complicada do que até então. Criaram-se novas
oportunidades para evasão fiscal, para corrupção relacionada com tributação, e para alguns
países tirarem vantagens dos regimes fiscais globais existentes (Tanzi, 2017).
Os Estados estão conscientes da existência desses fenómenos, verificando-se, nas últimas
décadas, um incremento significativo dos mecanismos internacionais de troca de informações
para efeitos fiscais 6 (Tomaz, 2017). Neste âmbito destaca-se a atuação das diferentes
instituições europeias, da OCDE e dos próprios Estados, ao celebrarem entre si Convenções
bilaterais que preveem a troca de informações7.
Os impostos constituem, assim, uma realidade como já a célebre frase de Benjamin Franklin8
o consagrava: “Nada é mais certo neste mundo que a morte e os impostos”. E assim o é
porque “o Estado, bem como outras entidades que prosseguem fins públicos, como as regiões
autónomas e as autarquias locais, visam satisfazer as necessidades coletivas da comunidade a
que respeitam” (Carlos, 2014). Para o conseguir, o Estado exerce atividade financeira na qual
se inclui a obtenção dos meios necessários para a satisfação daquelas necessidades, seja
através de impostos e empréstimos públicos, seja através das taxas, multas, coimas,
contribuições especiais ou doações.
Das receitas públicas a que o Estado recorre, o imposto é a mais importante, encontrando-se,
inclusive, no caso português, constitucionalmente consagrada a sua forma de criação e as suas
finalidades9.

6
Exemplos de mecanismos recentes são a Lei de conformidade tributária de contas estrangeiras (Foreign
Account Tax Compliance Act - FATCA) celebrado com os EUA, o Modelo para troca de informações fiscais
(Common Reporting Standard - CRS) da OCDE ou a Convenção Multilateral para Prevenir a Erosão de Base
Tributável e a Transferência de Lucros (Multilateral Convention to Implement Tax Treaties Related Measures to
Prevent Base Erosion and Profit Shifting, também designado por Multilateral Instrument, ou pelas siglas MLI),
igualmente da OCDE.
7
À data de 10-08-2018 Portugal é signatário de 79 Convenções, bilaterais, para Evitar a Dupla Tributação, das
quais 76 estão em vigor e 3 estão assinadas e aguardam entrada em vigor.
Informação disponível em:
http://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/informacao_fiscal/convencoes_evitar_dupla_tributacao/Pages/default.aspx
8
Um dos fundadores dos EUA.
9
Art.º 103 da Constituição da República Portuguesa (VII Revisão Constitucional, 2005)
Página 6
No entanto, nem todos os cidadãos procuram cumprir as suas obrigações fiscais, apesar do
caráter fundamental da cobrança de impostos para a satisfação das necessidades coletivas e
para a repartição dos rendimentos e da riqueza de forma justa, em determinado Estado.
De acordo com um relatório de 2013 realizado pela empresa de consultoria empresarial norte-
americana A.T. Kearney relativamente à economia paralela10 na Europa, a economia paralela
representava, em média, 18.5% do PIB nos países europeus. Neste cenário, Portugal figurava
acima da média, representando a economia paralela estimada cerca de 19% do PIB português.
Relativamente aos valores apresentados para a Europa do Sul e para a maioria dos países da
Europa de Leste o número apontado para Portugal não se afigura como dos mais elevados. No
entanto, se compararmos com os valores do grupo de países enquadrados na Europa Ocidental
percebe-se que há Estados em que este fenómeno parece assumir uma proporção muito mais
diminuta (Schneider, 2013). Em 2017, num estudo que contou com a participação do mesmo
autor, estimava-se que a economia paralela em Portugal correspondesse a 16,6% do PIB
(Schneider & Boockmann, 2017).
Por sua vez, estudos realizados em Portugal, no âmbito do Observatório de Economia e
Gestão de Fraude, estimam que a Economia Não-Registada em Portugal11 represente cerca de
26,81% do PIB português (Afonso, 2014). É certo que estes valores se tratam de estimativas,
considerada a natureza não observável deste tipo de economia, mas não deixam de ser
relevantes, sobretudo quando se verifica uma tendência crescente ao longo dos anos.
Outros estudos, dos quais se salientam os trabalhos do economista francês Gabriel Zucman,
indicam que Portugal é dos Estados com mais riqueza em paraísos fiscais12 a nível mundial.
Na realidade, estima-se que, em 2007, os portugueses detivessem cerca de 21,2% do PIB
português em paraísos fiscais, o segundo valor mais elevado a nível europeu, ocupando a
Grécia a primeira posição (Alstadsaeter, Johannesen & Zucman, 2017).
Esta realidade tem como consequência uma diminuição da disponibilidade de recursos para o

10
No âmbito do estudo em apreço a economia paralela é entendida como o conjunto de atividades empresariais
legais que é desenvolvido sem o conhecimento das autoridades governamentais, subdividindo-se estas atividades
nas que se relacionam com o trabalho prestado não declarado, que se estima ser responsável por dois terços da
economia paralela, e nas atividades que implicam a subdeclaração dos rendimentos empresariais, sempre com o
intuito de aliviar a carga fiscal aplicável.
11
Conceito que abarca a economia oculta ou subdeclarada, relacionada diretamente com questões fiscais, a
economia ilegal, a economia informal e de autoconsumo e a economia não contabilizada por deficiência
estatística (que se reveste de diminuta relevância) (Afonso, 2014).
12
Entende-se por paraíso fiscal um país caracterizado por impostos baixos ou inexistentes, utilizado para evitar o
pagamento de impostos que, de outro modo, seria devido num país que não um paraíso fiscal. De acordo com a
OCDE, os paraísos fiscais apresentam as seguintes características: tributação nula ou insignificante dos
rendimentos; falta de troca de informação efetiva; falta de transparência quanto às disposições legislativas e
administrativas (conceito da OCDE disponível em http://www.oecd.org/ctp/glossaryoftaxterms.htm).
Página 7
Estado utilizar em prol do bem comum bem como um maior encargo para os contribuintes
que cumprem com as suas obrigações fiscais.

2.2. Estratégia da AT e quadro normativo das infrações em Portugal

Como já foi sublinhado, todos os Estados se deparam com a evasão fiscal e a economia
paralela, sendo que as medidas dirigidas ao controlo destes fenómenos costumam envolver
punição, educação ou promoção do desenvolvimento económico (Poço, Lopes & Silva,
2015).
O Estado português demonstra não ignorar os números apontados no subcapítulo 2.1. quando
a AT, enquanto entidade estatal competente para administrar os impostos em Portugal,
consagra, no seu Plano Estratégico para 2015-2019, o reforço do combate à evasão fiscal e
aduaneira e à economia paralela, enquanto estratégia a adotar para a concretização do
Objetivo Estratégico I, que consiste em “Garantir a eficácia na gestão e cobrança fiscal e
aduaneira, visando a minimização do tax gap”13 (Portugal, 2015).
O Objetivo Estratégico II – “Melhorar o serviço prestado aos contribuintes e operadores
económicos, facilitando o cumprimento voluntário e apoiando a competitividade económica”
-, também demonstra que a AT se encontra atenta a uma outro aspeto determinante no âmbito
do cumprimento: a relação com o contribuinte. Assim, duas das estratégias a adotar para a
concretização deste objetivo passam pelo fortalecimento da relação com o contribuinte e pela
promoção da simplificação e eficiência do ordenamento jurídico-tributário português (AT,
2015).
Considerando que um dos tradicionais elementos dissuasores do incumprimento fiscal são as
penalizações associadas à deteção de incumprimento, torna-se relevante indicar, de forma
breve, quais os diplomas que preveem as sanções em caso de infração no quadro do sistema
fiscal português.
Embora o sistema fiscal português tenha como fonte, desde logo, a Constituição da República
Portuguesa, bem como a Lei Geral Tributária, no âmbito das sanções o diploma que se pode

13
No Plano Estratégico para 2015-2019 menciona-se que, em 2015, seria implementado um Plano Estratégico de
Combate à Fraude e Evasão Fiscais e Aduaneiras, aplicável ao triénio 2015-2017, cujo objetivo prioritário
assenta no reforço da eficácia do combate à fraude de elevada complexidade e à economia informal,
promovendo, por essa via, uma maior equidade fiscal na repartição do esforço coletivo de consolidação
orçamental.

Página 8
considerar como primordial é o RGIT já que se aplica às infrações das normas reguladoras das
prestações tributárias, entre outras, como dispõe o seu art.º 1.º.
Quanto ao conceito de infração tributária, o RGIT prevê, no art.º 2.º, que “1. Constitui
infração tributária todo o facto típico, ilícito e culposo declarado punível por lei tributária
anterior.”.
Relativamente às espécies de infrações tributárias salienta-se, ainda no art.º 2.º que “As
infrações tributárias dividem-se em crimes e contraordenações.”. Assim, verifica-se que “o
legislador decidiu criminalizar determinados comportamentos ou condutas dos contribuintes
por entender que o desvalor que lhes está associado compromete os interesses patrimoniais do
Estado na cobrança de receitas tributárias” e considerar como contraordenação outros
comportamentos “porque os valores violados são regras de ordenação social cuja não
observância merece menor censura” (Tiago, 2014).
Quanto às penas aplicáveis aos crimes tributários, o art.º 12.º n.º 1 do RGIT dispõe que “As
penas principais aplicáveis aos crimes tributários cometidos por pessoas singulares são a
prisão até oito anos ou a multa de 10 até 600 dias 14 ”, prevendo ainda o art.º 16.º a
aplicabilidade de penas acessórias.
No que concerne às contraordenações, importa indicar que estas se podem classificar como
simples, “as puníveis com coima cujo limite máximo não exceda (euro) 15 000” (art.º 23 n.º
2), ou graves “as puníveis com coima cujo limite máximo seja superior a (euro) 15 000 e
aquelas que, independentemente da coima aplicável, a lei expressamente qualifique como
tais.” (art.º 23 n.º 3).
O montante das coimas encontra-se previsto no artigo 26.º do RGIT salientando-se que “1 -
Se o contrário não resultar da lei, as coimas aplicáveis às pessoas coletivas, sociedades, ainda
que irregularmente constituídas, ou outras entidades fiscalmente equiparadas podem elevar-se
até ao valor máximo de: a) (euro) 165 000, em caso de dolo; b) (euro) 45 000, em caso de
negligência. 2 - Se o contrário não resultar da lei, as coimas aplicáveis às pessoas singulares
não podem exceder metade dos limites estabelecidos no número anterior.” O número 3 do
mesmo artigo estabelece que “o montante mínimo da coima a pagar é de (euro) 50, exceto em
caso de redução da coima, em que é de (euro) 25”. O art.º 28.º prevê a aplicabilidade de
sanções acessórias.
A Parte III do diploma estabelece que comportamentos se consubstanciam em crimes

14
Art.º 15.º do RGIT – “Pena de multa - 1 - Cada dia de multa corresponde a uma quantia entre (euro) 1 e (euro)
500, tratando-se de pessoas singulares”.
Página 9
tributários e contraordenações tributárias.
O RGIT não é o único diploma aplicável em matéria de infrações, determinando o seu art.º 3.º
que se aplicam subsidiariamente disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal,
bem como respetiva legislação complementar, o regime geral do ilícito de mera ordenação
social, o Código Civil, e legislação complementar, e o Código de Procedimento e de Processo
Tributário.
Quanto à probabilidade de deteção das infrações, importa notar que nos últimos anos,
nomeadamente após o início do Programa de Assistência Económica e Financeira 2011-2014,
foram implementadas diversas medidas que auxiliam a AT a minimizar situações de evasão
fiscal e de incumprimento por parte dos contribuintes, não sendo se podendo considerar a
probabilidade de deteção como aleatória (ao contrário do previsto nos primeiros modelos
teóricos referentes à decisão individual do contribuinte relativamente à prática de evasão
fiscal, como a seguir veremos).
Como exemplo pode-se apontar o caso do portal e-fatura, ao qual se encontram associadas
formas de compensar os contribuintes que pedem faturas – seja através da introdução de uma
série de despesas dedutíveis em IRS, respeitante a determinados sectores, seja através do
concurso em que são atribuídos 35.000€ em Certificados do Tesouro. Neste portal a AT
relembra o cidadão que “Quando exige fatura garante que os impostos que pagamos são
entregues ao Estado” sendo este “um dever de cidadania que aumenta a justiça, contribuindo
para o combate à fraude e evasão fiscal. Não é justo pagar mais impostos por existirem
contribuintes (cidadãos ou empresas) que não cumprem as suas obrigações fiscais” (Portal e-
fatura, acedido em agosto de 2018)15.
Outro exemplo que contribui para a diminuição do número de contribuintes em situação de
incumprimento consiste no IRS automático 16 , que consiste na disponibilização de uma
declaração automática provisória, totalmente preenchida pela AT com base nos dados de
rendimentos e despesas que lhe foram comunicados e nos elementos pessoais constantes no
sistema, que se converte em declaração definitiva se o contribuinte não a validar ou alterar até
ao fim do prazo de entrega da declaração de rendimentos.
Assim, verifica-se que a AT reconhece o problema da evasão fiscal, fazendo parte do seu

15
Pode-se aceder ao portal em https://faturas.portaldasfinancas.gov.pt/. Note-se que a introdução deste portal
também comportou um maior controlo dos reportes do contribuinte, já que as despesas dedutíveis em IRS
deverão ser suportadas pela existência de uma fatura registada no portal, o que minimiza situações de introdução
de deduções inexistentes.
16
Introduzido em 2017 (aquando da declaração dos rendimentos do ano de 2016)
Página 10
plano estratégico em vigor objetivos com vista à sua minimização. Em paralelo, encontram-se
previstas sanções em caso de infração, que têm uma função sancionatória mas também
dissuasora. Contudo, verifica-se que a grande aposta da AT se tem centrado na promoção do
cumprimento voluntário das obrigações fiscais por parte dos contribuintes, motivo pelo qual
inúmeras políticas públicas têm sido implementadas com vista à minimização de situações de
incumprimento, tanto ao tornar o cumprimento das obrigações fiscais mais fácil para o
contribuinte como ao apelar ao seu dever cívico através do pedido de faturas17.

2.3. Motivações na esfera do cumprimento

2.3.1. A decisão individual do contribuinte

Ao iniciar uma investigação relacionada com o estudo teórico da evasão fiscal, na ótica da
decisão individual do contribuinte, há um trabalho de referência cuja leitura é incontornável,
sendo referido na quase totalidade de trabalhos de investigação posteriormente publicados
sobre esta área. Esse trabalho é da autoria de Allingham & Sandmo, datado de 1972, e
constitui também o ponto de partida da revisão de literatura da presente investigação.
De acordo com os autores indicados, a evasão fiscal havia sido deixada de fora das discussões
teóricas relacionadas com a tributação até então 18 , motivo pelo qual, e reconhecendo a
dificuldade em analisar o fenómeno na sua plenitude, decidiram analisar a decisão individual
do contribuinte relativamente à prática de evasão fiscal, designadamente quando há lugar a
uma subdeclaração de rendimentos (Allingham & Sandmo, 1972).
Nesse trabalho destaca-se que, perante duas opções, declarar o rendimento real ou declarar
menos que o rendimento real19, o contribuinte opta por um comportamento, pautando-se essa
escolha pela incerteza, já que não tem conhecimento sobre se será, ou não, investigado pelas
autoridades fiscais após submeter a declaração de rendimentos (Allingham & Sandmo, 1972).
Com base nessa premissa, os autores analisam teoricamente esta problemática, considerando o
rendimento real, o rendimento declarado, a taxa a aplicar sobre o rendimento declarado, a

17
Não esquecendo, naturalmente, a colaboração demonstrada pelo Estado português no âmbito da adesão a
instrumentos multilaterais, no plano internacional, que têm como intuito minimizar situações de incumprimento
(e celebração de Convenções bilaterais).
18
Excetuando o trabalho de J.A. Mirrles, de 1971, referido por Allingham & Sandmo, e apontado como o
estímulo que os fez a redigir o seu artigo “Income Tax Evasion: A Theoretical Analysis”, em 1972.
19
Nesta situação assume-se que as administrações fiscais não têm conhecimento do real rendimento dos
contribuintes.
Página 11
probabilidade de o contribuinte ser sujeito a uma investigação por parte das autoridades
fiscais e a taxa de penalização a aplicar ao rendimento não declarado. Da análise estática dos
resultados, verifica-se que um aumento na taxa de penalização causará sempre um aumento da
parcela de rendimento real declarado e que um aumento da probabilidade de deteção causará
sempre um aumento de rendimento declarado (Allingham & Sandmo, 1972). Estes resultados
revestem-se de interesse para a definição de políticas, já que o primeiro se prende com o
exercício de controlo direto por parte das autoridades fiscais e que o segundo se encontra
relacionado com o exercício de controlo indireto das mesmas entidades, sublinhando-se que
estas duas políticas seriam substitutas uma da outra (Allingham & Sandmo, 1972).
Porém, esta análise não contém a solução para o problema da evasão fiscal, uma vez que este
modelo estático ignora outras relações que possam existir com outros tipos de escolhas
económicas. Assim, no artigo em apreço é também contemplada uma análise dinâmica,
baseada em sequências de decisões.
Esta investigação foi importante, não só pelo conhecimento produzido, mas também por ter
despertado interesse nesta área de estudo, sendo uma referência para os trabalhos que se lhe
seguiram.
Desde a década de 90 os estudos empíricos sobre evasão fiscal foram enriquecidos com a
inclusão de fatores não económicos na análise. Tal deve-se, em parte, a Baldry (1986 como
citado em Molero & Pujol, 2012), ao constatar que há uma significativa percentagem de
população que nunca procura incumprir, mesmo quando o custo-benefício económico é
favorável ao comportamento de evasão fiscal. Tornou-se, assim, necessário, enriquecer o
modelo teórico clássico com fatores explanatórios adicionais, designadamente com a inclusão
do custo psicológico associado à atitude de infringir uma norma.
Em 2004, Sandmo voltaria a escrever sobre a teoria da evasão fiscal, procurando incidir sobre
os desenvolvimentos que o estudo desse tema registou, tendo como ponto de partida o seu
trabalho de 1972. Um dos aspectos relevantes assinalados pelo autor é o facto de a
probabilidade de deteção em caso de incumprimento tender a ser sobre estimada, já que o
contribuinte considera existir uma probabilidade de ser auditado que tende a ser superior à
efetiva frequência estatística com que as declarações dos contribuintes são fiscalizadas
(Sandmo, 2004). Sandmo vai mais longe, e afirma que o cumprimento, ou incumprimento
fiscal, não é, exclusivamente, influenciado por esse tipo de determinantes, já que a observação
do que nos rodeia no quotidiano e o senso comum nos mostram que as pessoas se abstém de
praticar determinados atos – sejam esses atos a evasão fiscal, furtar lojas, ultrapassar limites
Página 12
de velocidade ou poluir o ambiente – também por razões relacionadas com o estigma social e
considerações morais (Sandmo, 2004).
Por sua vez, Sandmo acrescenta ainda que o aumento das penalizações associadas ao
incumprimento tem como consequência menos evasão fiscal, mas também o decréscimo do
ato de pagar impostos conscientemente. Ou seja, o aumento de incentivo extrínseco para
cumprir as obrigações fiscais reduz o incentivo intrínseco de comportamento honesto
(Sandmo, 2004).
Outro aspecto que Sandmo (2004) salienta é a importância que a perceção do contribuinte
individual quanto ao comportamento dos outros pode ter no momento da decisão de cumprir
ou incumprir as suas obrigações fiscais, já que se a evasão fiscal for uma prática difundida, e
socialmente aceite, mais baixa é a probabilidade de se ser detetado.
Assim, se na génese do estudo teórico da evasão fiscal, na ótica da decisão individual do
contribuinte, o enfoque era colocado na probabilidade de deteção e nas penalizações
aplicáveis em caso de deteção de incumprimento enquanto elementos moldadores da
motivação do contribuinte perante o pagamento dos devidos impostos, nas últimas duas
décadas tem sido dado ênfase a outros aspectos, designadamente relacionados com a ética e a
moral e com as motivações que pautam o comportamento dos cidadãos20.

2.3.2. Evasão fiscal, ética e moral

No âmbito da análise da evasão fiscal sob o ponto de vista ético, destacam-se os trabalhos do
Professor Robert W. McGee, que têm inspirado inúmeros estudos em todo o mundo. McGee
adota como ponto de partida a dissertação de Doutoramento de Martin Crowe, datada de
1944, que incide sobre a obrigação moral de pagar impostos, resumindo e analisando 500
anos de debate teológico e filosófico sobre este tema, e procura atualizar e expandir o seu
trabalho.
Segundo McGee (2005) ao longo dos séculos emergiram três perspetivas perante a ética no
âmbito da evasão fiscal. Uma dessas perspetivas defende que a evasão fiscal é sempre, ou
quase sempre, não ética, com base em três aspetos: a crença de que os indivíduos têm um
dever para com o Estado de pagar os impostos que o Estado exija; o facto de os indivíduos

20
As próprias administrações fiscais têm procurado conhecer as perceções dos seus contribuintes sobre a evasão
fiscal e o cumprimento das obrigações fiscais, bem como a sua satisfação com o serviço prestado por estas
entidades. Constituem exemplos disso, tendo inspirado a presente investigação, as administrações fiscais
irlandesa e holandesa, revelando-se de particular interesse para esta investigação os inquéritos utilizados.
Página 13
terem um dever para com os outros membros da comunidade; e o facto de existir um dever
para com Deus de pagar impostos, aspeto este que não colhe adeptos entre os ateístas mas que
consiste num argumento relevante nalguns círculos religiosos, designadamente para os
Judeus, os Baha’i e os Mormon, sendo os Cristãos e os Muçulmanos mais flexíveis (McGee,
2005; McGee, 2006b).
Outra perspetiva, que se pode designar como perspetiva anarquista, apregoa que nunca há um
dever de pagar impostos porque o Estado é ilegítimo, não tendo autoridade moral para ficar
com algo de alguém (McGee, 2005). Nesta óptica, a evasão fiscal é considerada sempre ética.
A terceira perspetiva defende que a evasão fiscal pode ser ética em algumas circunstâncias e
não ética noutras, sendo esta a perspetiva que prevalece na literatura (McGee, 2005). O
exemplo mais paradigmático que McGee utiliza para ilustrar esta terceira perspetiva consiste
no facto de não poder ser considerado não ético não pagar os impostos legalmente devidos por
um Judeu que vive na Alemanha nazi. Nesta linha, McGee (2005) considera que não existe
uma obrigação moral de um indivíduo ajudar a pagar os recipientes com gás que o Governo
planeia utilizar para o matar a si ou à sua família. Deste modo, quem concordar com o
argumento evidenciado considera, desde logo, que a evasão fiscal pode ser ética nalgumas
circunstâncias, posição que também poderá ser defendida quando um país se encontre a
participar numa guerra que os cidadãos considerem injusta ou determinado governo seja
corrupto e utilize o sistema fiscal como um meio de redistribuição de rendimento pelos seus
elementos e cúmplices em vez de o utilizar como meio para financiar funções governativas
legítimas.
Uma vez realizado esse estudo teórico, McGee desenvolveu um inquérito (McGee, 2006a),
que incorpora todas as principais questões que foram discutidas na literatura neste tema, do
qual constam dezoito afirmações que visam incidir sobre os três pontos de vista sobre o
assunto. Este conjunto de afirmações viria a inspirar um conjunto de estudos sobre diferentes
países em que o próprio McGee participou, bem como outros investigadores, salientando-se
que em Portugal se verificou a sua utilização, pelo menos, em duas investigações (Teixeira,
2016; Poço et al., 2015).
Ao analisar a evasão fiscal no âmbito da moral, designadamente a moral tributária, definida
como a motivação intrínseca para os indivíduos pagarem os impostos (Alm & Torgler, 2004),
o contributo de Torgler não pode deixar de ser destacado, tendo inclusive a sua dissertação de
Doutoramento, datada de 2003, incidido sobre esse mesmo tema.

Página 14
No artigo realizado com Alm, Torgler salienta, tal como Sandmo (2004), que o cumprimento
das obrigações fiscais parece depender de inúmeros fatores para além dos económicos e que,
considerando a percentagem de auditorias feitas na maior parte dos países e o nível das
penalizações pecuniárias, os próprios modelos de dissuasão preveem muito cumprimento e
pouco incumprimento (Alm & Torgler, 2004).
Conforme previamente referido, alguns contribuintes simplesmente não estão predispostos a
praticar evasão fiscal (Long e Swingen, 1991 como citado em Alm & Torgler, 2004),
podendo-se considerar que a maior parte dos contribuintes se comporta de forma honesta
(Pyle, 1991 como citado em Alm & Torgler, 2004).
Deste modo, reconhece-se que o pagamento de impostos é um dever dos cidadãos, sendo o
principal interesse do Estado que os cidadãos o cumpram, independentemente do que o
motive (Kirchler, Hoelzl & Wahl, 2008). Porém, nota-se que o comportamento de
cumprimento pode resultar de diferentes motivações, designadamente o sentimento de que os
custos associados ao incumprimento são muito altos ou de que tal tem de ser feito quando se é
membro de uma comunidade (Kirchler et al., 2008). No entanto, diferentes motivos deveriam
suscitar diferentes abordagens do ponto de vista da regulamentação fiscal, razão pela qual a
análise do cumprimento se reveste de particular interesse (Kirchler et al., 2008).
Neste sentido, torna-se relevante perceber porque é que os contribuintes cumprem as suas
obrigações fiscais, ao invés de simplesmente tentar perceber porque é que os contribuintes
não cumprem as suas obrigações fiscais.
Ao tentar perceber o que leva os cidadãos a cumprir as suas obrigações fiscais acresce que a
motivação intrínseca para pagar impostos difere entre países, uma vez que os valores dos
contribuintes são influenciados por normas culturais, pautadas por diferentes instituições
sociais21 (Alm & Torgler, 2004). Perante esta evidência, Torgler elaborou diversos estudos em
que procurou comparar a moral tributária presente em diversos países (Alm & Torgler, 2004;
Torgler & Schaltegger, 2006)22 . A relevância de conhecer a moral tributária de dado país
reside no facto de esta ter consequências no comportamento dos contribuintes, sendo um dos

21
Um aspeto interessante é o de que estudos da década de 80 afirmam que a moral tributária é menor em países
de cultura marcadamente Romana como a França, a Itália, a Espanha, ou Portugal, comparando com outros
países europeus, como os do norte da Europa, em que o Estado e a autoridade religiosa residiam numa só pessoa
ou entidade, pelo que uma ofensa ao Estado constituía, igualmente, uma ofensa à religião e, como tal, um pecado
(Alm & Torgler, 2004).
22
Resultados de um estudo empírico ressalvam que diferenças observadas no comportamento associado ao
cumprimento fiscal podem ser explicadas por diferenças na justiça da administração fiscal, na perceção existente
sobre a equidade na troca entre o que se paga de impostos e o que se recebe por parte do Estado e na atitude
geral relativamente aos respetivos governos (Cummings et. al., 2004 como citado em Alm & Torgler, 2004).

Página 15
aspectos que ajuda a explicar, designadamente, o tamanho da economia paralela estimada em
determinado país (Alm & Torgler, 2004).

2.3.3. As administrações fiscais e o cumprimento

Ao investigar a problemática do cumprimento das obrigações fiscais um aspeto cuja


importância não pode ser descurada é o da relação entre as administrações fiscais e os
contribuintes (Muehlbacher, Kirchler & Schwarzenberger, 2011).
No âmbito dos modelos de gestão pública, uma maior orientação para o serviço, que pode ter
como consequência o aumento da confiança e segurança na administração pública, nos
políticos e na governação, é, inclusive, um dos pontos que caracterizam a Nova Gestão
Pública 23 , tornando-se fundamental conhecer a perceção dos cidadãos relativamente ao
serviço prestado por parte das administrações fiscais (Gangl et al., 2013).
Na realidade, ao ter em consideração que a intenção de cumprimento fiscal é influenciada por
fatores que ultrapassam os tradicionais métodos de dissuasão (probabilidade de deteção e
severidade das penalizações), que suscitam desconfiança e atitudes negativas relativamente ao
pagamento de impostos, e que os modelos gestionários da administração pública passaram a
adotar práticas características do setor privado, pode-se considerar que as autoridades fiscais
têm vindo a tratar os contribuintes como clientes, em vez de os tratar como potenciais
criminosos (Gangl et al., 2013).
Neste âmbito, Gangl et al. (2013) expõe que, na investigação sobre comportamento fiscal,
existem vários quadros conceptuais que propõem administrações fiscais orientadas para o
serviço, já que esta é uma estratégia promissora para as autoridades fiscais aumentarem o
cumprimento das obrigações fiscais: a abordagem de regulação responsiva 24 (Braithwaite
2003ª, 2003b e 2001 como citado em Gangl et al., 2013); a abordagem multifacetada25 (Alm e
Torgler, 2011 como citado em Gangl et al., 2013); e a abordagem do plano inclinado
escorregadio26 (Kirchler et al., 2008 como citado em Gangl et al., 2013).

23
Este modelo de gestão (New Public Management) pode ser definido como sendo um conjunto de práticas
gestionárias ligadas à introdução de mecanismos de mercado e à adoção de ferramentas de gestão privada na
Administração Pública (Rodrigues, 2009).
24
Responsive regulation approach
25
Multi-faceted approach
26
Slippery slope framework
Página 16
O aspeto inovador destas abordagens reside no facto de terem em conta que o comportamento
dos contribuintes difere de indivíduo para indivíduo, não devendo as administrações fiscais
tratar todos do mesmo modo.
A abordagem de regulação responsiva incide nas diferenças individuais dos contribuintes e
propõe uma adaptação das estratégias para o cumprimento das obrigações fiscais por parte das
autoridades fiscais. Segundo esta abordagem, as autoridades fiscais deveriam avaliar a postura
motivacional 27 de um contribuinte antes de selecionar a respetiva estratégia para o
cumprimento.
De facto, as posturas motivacionais, enquanto aglomerados de crenças, sentimentos ou
preferências que descrevem atitudes negativas ou positivas relativamente ao pagamento de
impostos (Braithwaite, Murphy & Reinhart, 2007 como citado em Gangl et. al., 2013),
diferem de cidadão para cidadão, tanto quanto ao sistema fiscal como às respetivas
autoridades (Braithwaite, 2003ª como citado em Gangl et al., 2013).
As administrações fiscais contam com contribuintes com posturas motivacionais de
comprometimento que têm, em geral, uma atitude positiva relativamente ao pagamento de
impostos, mas também com contribuintes com posturas motivacionais de resistência e de falta
de envolvimento, que refletem uma atitude negativa, devendo conhecer a postura
motivacional de cada contribuinte antes de definirem a respetiva estratégia para o
cumprimento (Braithwaite 2009 como citado em Gangl et al., 2013).
A abordagem multifacetada distingue três paradigmas na administração fiscal: o paradigma
tradicional da coação, em que se aplicam as ferramentas clássicas de dissuasão; o paradigma
da confiança, que sugere abordar as obrigações dos contribuintes através da comunicação
social ou destacando a ligação entre o pagamento de impostos e a provisão de bens e serviços
públicos; e o paradigma do serviço, em que se propõe a educação dos contribuintes ao
disponibilizar serviços que lhes deem assistência e a simplificação das normas e
procedimentos tributários.
Por sua vez, a abordagem do plano inclinado escorregadio defende que o poder das
autoridades e a confiança nas autoridades definem a interação entre as autoridades fiscais e os
contribuintes, levando a um cumprimento forçado ou voluntário, havendo provas empíricas a
suportar esta ideia (Gangl et al., 2013). De acordo com este paradigma, quando a confiança

27
Em Gangl, et. al., (2013) são apontadas cinco posturas motivacionais: comprometimento (commitment) e
capitulação (capitulation), que manifestam, geralmente, uma atitude positiva relativamente ao pagamento de
impostos, uma atitude de respeito (deference); resistência (resistance), falta de envolvimento (disengagement) e
postura de jogador (game playing), que refletem uma atitude negativa (defiance).
Página 17
nas autoridades é elevada, os contribuintes procurarão pagar os seus impostos
voluntariamente. Quando a confiança nas autoridades é baixa, haverá uma tendência para os
contribuintes procurarem reter os impostos que deveriam pagar. Por sua vez, quando a
confiança é baixa, mas o poder das autoridades, de detetar situações de incumprimento e de as
penalizar, é forte, promovem-se intenções de cumprimento forçadas. Se tanto a confiança nas
autoridades como o seu poder são baixos, espera-se que os contribuintes procurem infringir as
normas e praticar evasão fiscal (Kirchler & Wahl, 2010).

Figura 1: Abordagem do plano inclinado escorregadio


Fonte: The slippery slope framework (Kirchler et al., 2008), tradução própria

Uma extensão da abordagem do plano inclinado escorregadio (Gangl, Hofmann, Pollai &
Kirchler, 2012 como citado em Gangl et al., 2013) vem a distinguir três diferentes ambientes:
um ambiente antagónico, um ambiente de serviço e um ambiente de confiança28. Estes três
ambientes encontram-se associados a três tipos de motivações, sobre as quais se procurou
incidir no presente trabalho: motivação forçada, voluntária e comprometida.

28
Importa salientar que, relacionada com a confiança nas instituições, encontra-se a justiça procedimental, sendo
que um processo de decisão é considerado justo quando as partes envolvidas são tratadas de forma igual,
consistente e precisa, e quando têm oportunidade de participar ou corrigir as decisões tomadas (Leventhal, 1980
e Wenzel, 2003 como citado em Gangl et al., 2013), destacando-se a importância que assume a perceção de ser
tratado de forma justa pelas autoridades fiscais (Gangl et al., 2013).

Página 18
Efetivamente, a doutrina evidencia que existem motivações intrínsecas e extrínsecas para o
cumprimento das obrigações fiscais, que podem assumir uma de três formas: a motivação
forçada, considerada extrínseca, uma vez que tem por base o efeito dissuasor das
investigações das autoridades fiscais e das penalizações aplicáveis em caso de incumprimento
detetado; a motivação voluntária, que se baseia numa ideia de reciprocidade positiva, segundo
a qual os indivíduos cumprem as suas obrigações fiscais por considerarem que o Estado
também lhes disponibiliza um conjunto de contrapartidas, não representando, assim, uma
motivação intrínseca para o cumprimento; e a motivação comprometida, essa sim, uma
motivação intrínseca, uma vez que encara o cumprimento fiscal como uma obrigação moral,
tendo os indivíduos a responsabilidade de serem honestos (Gangl et al., 2015).
Estas diferentes categorias de motivações encontram-se associadas a diferentes intenções de
cumprimento fiscal (Gangl et al., 2015), embora existam poucos estudos empíricos que
relacionem os tipos de motivações e o consequente cumprimento fiscal. Ainda assim, alguns
estudos demonstram uma tendência para que contribuintes que manifestem uma motivação
forçada para pagar impostos reportem serem menos cumpridores (Gangl et al., 2015;
Braithwaite, 2003 e Kirchler et al., 2008 como citado em Gangl et al., 2015) que os demais,
parecendo que apenas pagam impostos se forem forçados a fazê-lo.
As evidências empíricas relativamente à motivação voluntária parecem indicar que não existe
uma relação entre este tipo de motivação e as intenções de cumprimento, já que os
contribuintes que a manifestam podem pagar os seus impostos, mas, em simultâneo, procurar
utilizar eventuais lacunas na Lei (Gangl et al., 2015).
A motivação comprometida parece ser a única motivação associada ao aumento do
cumprimento fiscal do estudo de Gangl et al. (2015), o que leva a crer que a adoção de
medidas com vista a reduzir o número de contribuintes movidos por uma motivação forçada e
promover a motivação comprometida parece ser da maior importância para o aumento do
cumprimento das obrigações fiscais.
Para tentar alterar as motivações dos contribuintes, a abordagem do plano inclinado
escorregadio propõe a utilização de uma mistura, adaptada, de medidas associadas ao poder
coercivo (como auditorias e sanções) e ao poder “legítimo” (como promover a justiça
procedimental e os serviços de informação) (Gangl et al., 2015).
Assim, considera-se que as administrações fiscais devem aplicar medidas coercivas, de forma
legítima e justa, aos contribuintes caracterizados pela motivação forçada de forma a alterá-la
para voluntária (Hofmann, Gangl, et al., 2014 como citado em Gangl et al., 2015) e evitar
Página 19
aplicar medidas coercivas a contribuintes movidos por motivação voluntária ou
comprometida, focando-se em procedimento legítimos e orientados para o serviço de forma a
manter e melhorar as respetivas motivações positivas.
Com base neste enquadramento, parece-nos ser do maior interesse conhecer qual a proporção
de contribuintes movidos por cada um destes tipos de motivação, já que essa informação
poderá ser fulcral para o desenho e implementação de estratégias adequadas a cada tipo de
contribuinte.
Em jeito de resumo, do estudo da temática do cumprimento fiscal do ponto de vista da decisão
individual do contribuinte e das motivações que lhe estão subjacentes, verifica-se que a mera
adoção de políticas dissuasoras por parte das administrações fiscais não tem em linha de conta
as diferentes motivações associadas ao cumprimento, nas quais pode residir a chave para
garantir e melhorar os respetivos níveis. Perante tal realidade, Muehlbacher et al. (2011)
propõem a adoção de medidas que contribuam para o aumento dos níveis de confiança dos
contribuintes nas administrações fiscais de forma a aumentar o cumprimento motivado
voluntariamente, já que a manutenção deste tipo de cumprimento pode comportar um custo
menor e ser mais eficaz do que o associado à manutenção de medidas direcionadas aos
contribuintes movidos por uma motivação forçada.

2.3.4. Estudos em Portugal

Em Portugal a importância deste tema também já foi reconhecida, verificando-se a realização


de alguns estudos nesta área nos últimos anos.
Um desses trabalhos é da autoria de Poço et al. (2015). À semelhança do apontado na
literatura internacional, os autores constatam que existem diversos fatores que influenciam o
contribuinte no momento de decidir cumprir ou não as suas obrigações fiscais, destacando os
fatores demográficos, económicos, culturais, sociológicos, psicológicos e técnicos (Poço et
al., 2015).
Estes autores destacam relevantes aspectos de um outro estudo efetuado em Portugal, ao
apontar que a falta de consciência cívica dos portugueses, no âmbito do cumprimento das
obrigações fiscais, se justifica pela pressão que o Estado exerce sobre os cidadãos
comparativamente ao que oferece, pela perceção de desigualdade quanto à fiscalização dos
contribuintes, sentimentos de injustiça e tratamento desigual (Soares, 2004 como citado em
Poço et al., 2015).
Página 20
Quanto a estratégias para aumentar a moral tributária, evidencia-se o contributo de Alm &
Torgler (2004) quando é indicado que ao induzir confiança a um nível político e económico se
poderá aumentar a confiança social e destacando-se, igualmente, que a imparcialidade e
justeza por parte das administrações fiscais afetam a moral tributária, motivo pelo qual se
deve promover a demonstração de confiança nos contribuintes a nível institucional (Poço et
al., 2015).
Do ponto de vista empírico, nesse trabalho foi elaborado um questionário inspirado no
trabalho de McGee, sendo utilizado o seu célebre conjunto de 18 afirmações sobre ética e
evasão fiscal, através do qual se compreende em que tipo de situações os inquiridos
consideram mais ou menos ético praticar evasão fiscal.
Dos resultados obtidos, que contemplam a resposta de 134 inquiridos, sublinha-se a
necessidade de maior equidade no sistema fiscal, mais transparência e honestidade por parte
dos políticos, e melhor utilização do dinheiro público.
Um outro estudo realizado em Portugal encontra-se relacionado com a fraude fiscal enquanto
representação social (Pereira, 2015), no qual se afirma que o modo de pensar e atuar dos
indivíduos é influenciado pela consciência individual e a consciência coletiva.
Neste trabalho foi elaborado um questionário que incidiu sobre a perceção dos inquiridos
relativamente a determinados comportamentos de cidadania, características
sociodemográficas, utilização do dinheiro público e possibilidade de deteção em Portugal.
Dos resultados obtidos, com base em 121 respostas, salienta-se que os inquiridos têm a
perceção de que as outras pessoas praticam mais fraude fiscal que os próprios, sendo notória a
preocupação com a transmissão de uma imagem culturalmente aceite. Esta é, aliás, uma das
vulnerabilidades de investigações sobre temáticas consideradas sensíveis, devendo-se ter em
conta que as respostas dos inquiridos se podem pautar pelo fenómeno da desejabilidade
social, uma vez que podem pretender transmitir uma determinada imagem, através de
“respostas socialmente aceitáveis ou consideradas “corretas”” (Pereira, 2015, p. 30).
Outro aspeto relevante salientado nesse estudo é a importância de o Estado conhecer de que
forma os cidadãos percecionam a gravidade das infrações, já que o facto de a fraude fiscal não
ser considerada como uma infração muito grave pode ser uma das explicações para que esse
comportamento se observe (Pereira, 2015).
Uma outra investigação que importa destacar consiste numa Tese de Doutoramento que incide
sobre a problemática da moral tributária em Portugal e nos fatores que a determinam (Sá,
2013).
Página 21
Sá (2013) procede a uma extensiva revisão da literatura, e evidencia a importância dos fatores
psicológicos, morais e sociais na explicação do comportamento dos contribuintes,
relembrando que a decisão de cumprir ou incumprir ultrapassa a questão da oportunidade,
variando, também, em função da vontade de cada indivíduo, portanto, em função do seu nível
de moral tributária (Sá, 2013).
Este estudo recorre aos dados do European Value Survey 29 para 2008, sendo a amostra
constituída por 1553 indivíduos representativos da população portuguesa (Sá, 2016).
Do ponto de vista do incumprimento das obrigações fiscais, salienta-se a realização de uma
dissertação de mestrado subordinada a este tema (Pinto, 2016), na qual foi realizado um
questionário por inquérito que permitiu a recolha de 519 respostas. Da análise aos dados
recolhidos identificaram-se as seguintes principais causas do incumprimento fiscal: “o
interesse próprio dos contribuintes; a origem e o nível dos rendimentos; a baixa probabilidade
de auditoria e a baixa penalização; o comportamento da classe social e da população que o
contribuinte conhece; a complexidade e a instabilidade fiscal” (Pinto, 2016, p. 11).

2.3.5. Características sociodemográficas

Considerando que a perceção relativamente à evasão fiscal e as diferentes motivações para o


cumprimento das obrigações fiscais parecem variar em função de determinadas características
sociodemográficas, importa incluir essa dimensão na presente investigação, já que tal poderá
contribuir para o desenho e implementação de estratégias mais eficientes (Muehlbacher et al.,
2011).

Sexo
Em geral, as mulheres são consideradas mais cumpridoras das regras vigentes que os homens,
o que pode ter como possível explicação o facto de terem tido um menor grau de
independência relativamente aos homens nos séculos passados (Jackson e Milliron, 1986
como citado em Sá, 2016; Kastlunger, Dressler, Kirchler, Mittone e Voracek, 2010, como
citado em Gangl, et. al., 2013). Consequentemente, o sexo feminino parece opor-se mais a
evasão fiscal e demonstrar uma moral tributária mais elevada que o sexo masculino, na quase
totalidade de estudos consultados (Alm & Torgler, 2004; Gangl, et. al., 2013; McGee, 2006b;

29
O European Value Survey consiste num projeto de investigação baseado em inquéritos sobre os valores
humanos na Europa (Sá, 2016).
Página 22
McGee & Gelman 2009; Torgler, & Schaltegger, 2006), embora existam alguns estudos que
indiquem que não existe uma diferença significativa entre ambos os sexos (Browning &
Zabriskie, 1983, Harris, 1990 e Nyaw & Ng, 1994, como citado em McGee, 2006b), e,
inclusive, outros em que os homens revelam uma postura mais ética que as mulheres (Barnett
& Karson, 1987 e Weeks et al., 1999 como citado em McGee, 2006b).

Idade
No que respeita à idade a generalidade da literatura indica que à medida que se envelhece
diminui a predisposição dos indivíduos para o risco ao que acresce a maior ligação e
integração dos indivíduos na comunidade, o que acaba por ter um efeito positivo na moral
tributária (Tittle, 1989 como citado em Sá, 2016), considerando-se que o custo moral
associado ao incumprimento vai aumentando com a idade.
Por sua vez, os países com uma população mais jovem podem demonstrar uma maior
flexibilidade relativamente à evasão fiscal, uma vez que alguns estudos indicam que as
pessoas se tornam maiores apoiantes do governo e da autoridade à medida que envelhecem
(Alm & Torgler, 2004 como citado em McGee, 2006b)
Assim, os cidadãos mais velhos são indicados na literatura como mais cumpridores, opondo-
se mais à evasão fiscal e exibindo mais moral tributária que os mais novos (Alm & Torgler,
2004; Cloterfelter, 1983, Torgler, 2006 como citado em Gangl, et. al., 2013; Gangl, et. al.,
2013; McGee, 2006b; McGee & Gelman, 2009; Pereira, 2015; Torgler, & Schaltegger, 2006).

Habilitações literárias
Quanto às habilitações literárias na literatura afirma-se que quanto maior é o nível de ensino
completado pelo indivíduo, mais este conhece o sistema fiscal, o que levará, em teoria, a uma
melhor compreensão dos seus objetivos, o que deveria fomentar a moral tributária. Porém,
vários autores salientam que tal conhecimento poderá, igualmente, incidir sobre
oportunidades de evasão e fraude fiscal, podendo suscitar efeitos contrários aos desejados
(Alm & Torgler, 2006 como citado em Sá, 2016; Torgler, & Schaltegger, 2006)
Assim, considera-se que pessoas com menos habilitações literárias se opõem mais à evasão
fiscal que pessoas com mais habilitações literárias (McGee, 2006b). Na realidade, as pessoas
com mais habilitações literárias são consideradas das mais propensas a praticar fraude fiscal
(Pereira, 2015) devido ao seu conhecimento sobre o sistema (Saad, 2012).

Página 23
Situação profissional
Na literatura revista verifica-se que, no que concerne à situação profissional dos indivíduos,
em relação com a moral tributária, os trabalhadores por conta própria e os desempregados
tendem a apresentar níveis de moral tributária inferiores aos dos trabalhadores por conta de
outrem (Torgler, 2003 como citado em Sá, 2016), embora alguns autores notem que não
parece haver uma relação significativa entre a situação profissional de um indivíduo e a
respectiva moral tributária (Torgler, B., & Schaltegger, C. A., 2006). Sandmo (2004) indica
que há evidências empíricas que indicam que a evasão é mais elevada no caso de rendimento
proveniente de trabalho por conta própria do que no caso de rendimento de trabalho por conta
de outrem, salientando-se a impossibilidade de evitar a retenção na fonte por parte dos
trabalhadores por conta de outrem. Ao contrário dos trabalhadores por conta de outrem, os
trabalhadores por conta própria têm oportunidades de decidir se cumprem ou não as suas
obrigações fiscais (Saad, 2012).

Rendimento
Relativamente ao rendimento, verifica-se que os efeitos do rendimento na moral tributária
podem ser difíceis de aferir, uma vez que se se pode considerar que os indivíduos que auferem
um menor rendimento têm menos a perder do ponto de vista social, em caso de deteção,
também se reconhece que se encontram numa posição em que não lhes é conveniente correr
riscos (Torgler & Schaltegger, 2006).
Porém, nota-se que pessoas com rendimentos elevados são consideradas como mais propensas
para a praticar fraude fiscal e que pessoas com rendimentos baixos são consideradas as menos
suscetíveis para o comportamento de fraude fiscal (Pereira, 2015).
Existem dados empíricos que demonstram que, em geral, indivíduos com maior rendimento
demonstram menor moral tributária (Alm & Torgler, 2004) e se opõem menos à evasão fiscal
que pessoas com rendimentos mais baixos (McGee, 2006b). Acresce que as pessoas com
rendimento mais elevado podem gastar mais recursos em tentar ocultar o seu verdadeiro
rendimento (Sandmo, 2004).

Crença
Quanto à crença, em inúmeros trabalhos é referido que a religiosidade influencia
determinados comportamentos, verificando-se que os indivíduos que demonstram um elevado

Página 24
grau de religiosidade tendem a aceitar menos a evasão fiscal que os se pautam por um grau de
religiosidade menor (Sá, 2016; Torgler & Schaltegger 2006), sendo as pessoas religiosas
consideradas as menos suscetíveis para o comportamento de fraude fiscal (Pereira, 2015).
Na realidade, considera-se que a religiosidade pode influenciar os hábitos das pessoas,
contribuindo para que o risco de comportamento desviante seja menor (Pereira, 2015),
podendo ser uma barreira a que as pessoas se envolvam na prática da evasão fiscal (Alm &
Torgler, 2004).

2.3.6. Dimensões e quadro conceptual da investigação

Uma vez concretizada a revisão da literatura, importa definir quais as dimensões em estudo na
presente investigação, designadamente na parte prática, bem como as referências que
sustentam as escolhas efetuadas.
Considerando que algumas características socio demográficas parecem estar relacionadas com
a perceção dos cidadãos relativamente à evasão fiscal e às diferentes motivações para o
cumprimento das obrigações fiscais, a obtenção de dados empíricos sobre essas mesmas
características afigurou-se como fundamental, iniciando-se o questionário elaborado no
âmbito desta investigação com uma parte subordinada a essa dimensão.
Por outro lado, considerou-se relevante verificar, no estudo promovido pelas autoridades
fiscais irlandesas (Irlanda, 2013), que os cidadãos nem sempre percecionam os
comportamentos de incumprimento fiscal como os mais inaceitáveis relativamente a outros
comportamentos de cidadania. Assim, a segunda dimensão do questionário designa-se por
comportamentos de cidadania, procurando-se aferir a perceção dos inquiridos relativamente
ao incumprimento fiscal, com base em questões utilizadas no estudo das autoridades fiscais
irlandesas (Irlanda, 2013) e no questionário utilizado por Teixeira (2016).

Página 25
Quadro 1: Dimensões e subdimensões da investigação
Fonte: Elaboração própria

Página 26
A par da perceção dos cidadãos sobre a aceitabilidade ou inaceitabilidade dos fenómenos em
análise, que se pode afigurar como fulcral para o consecutivo cumprimento ou incumprimento
fiscais, reconhece-se que a relação dos cidadãos com as instituições tem um impacto, tanto
nos graus de cumprimento, como nos tipos de motivações que lhes estão subjacentes. Deste
modo, a terceira dimensão do questionário incide sobre as relações dos inquiridos com as
instituições, mais precisamente sobre as intenções de cumprimento, com base em questões
utilizadas por Gangl et. al (2013), e sobre a perceção do poder e a confiança depositada na
AT, de acordo com as afirmações utilizadas em Muehlbacher et al. (2011).
A última dimensão do questionário designa-se por motivação e cumprimento fiscal, sendo
esta que permitirá aferir que proporção dos inquiridos é movida por cada tipo de motivação.
As questões utilizadas nesta parte do questionário resultam do estudo das autoridades fiscais
irlandesas (Irlanda, 2013) e da investigação de Gangl et al. (2015). À semelhança do realizado
em Kirchler & Whal (2010), o questionário termina com duas questões diretas sobre
incumprimento, que nos pareceram revestir-se de utilidade para posterior cruzamento com as
variáveis socio demográficas.
Se quisermos expor o âmbito desta investigação de uma forma gráfica, tendo por base a
revisão da literatura efetuada, podemos considerar que o comportamento de cumprimento das
obrigações fiscais parece resultar de um conjunto de fatores, salientando-se, neste estudo, as
características socio demográficas, a perceção dos contribuintes relativamente à importância
do cumprimento, a perceção do poder da AT e a confiança depositada nesta entidade. Em
função destes fatores, os contribuintes são movidos por diferentes motivações: forçada,
voluntária ou comprometida. Nesta senda, apenas a motivação comprometida se trata de uma
motivação intrínseca, podendo-se considerar que a moral tributária de dado país se caracteriza
pela proporção de indivíduos que se movem por este tipo de motivação. Assim, e já que só
este tipo de motivação se encontra associado à manutenção e melhoria do grau de
cumprimento fiscal, interessa aos Estados a sua promoção, já que os demais tipos de
motivação poderão resvalar para situações de incumprimento.

Página 27
Figura 2: Quadro conceptual da investigação
Fonte: Elaboração própria

Deste modo, procurar-se-á com este trabalho disponibilizar um contributo sobre a realidade
portuguesa no que a estes conceitos respeita, já que parecem existir ainda poucos dados
empíricos sobre os diferentes tipos de motivações e que tal poderá revelar-se de interesse para
o desenho e implementação de estratégias com vista a minimização do incumprimento fiscal
no futuro.

Página 28
Capítulo 3 – Metodologia

A definição da metodologia a adotar numa investigação desempenha um papel fundamental


na compreensão de determinado fenómeno. Quivy & Campenhoudt (2005) comparam, até, o
processo de investigação em ciências sociais ao de alguém que procura petróleo, afirmando
que não é ao perfurar ao acaso que este descobrirá o que procura. Assim, torna-se necessário
definir um método de trabalho adequado ao presente trabalho, de forma a podermos responder
à nossa questão de partida: o que motiva os cidadãos a cumprir as suas obrigações fiscais?

3.1. Tipo de estudo

O presente trabalho pode considerar-se um estudo exploratório, descritivo e prescritivo. Será


composto por duas partes: numa primeira parte, proceder-se-á a uma revisão de literatura para
definir conceitos e significados e evidenciar outras obras que versem sobre o tema em análise
bem como se procurará evidenciar que, em Portugal, estes temas não foram ainda
suficientemente explorados, motivo pelo qual se propõe a presente investigação; numa
segunda parte, será tratada a informação recolhida através de um questionário por inquérito,
disponibilizado em formato digital, que permitirá validar as proposições definidas e avaliar a
perceção de um conjunto de pessoas relativamente ao tema em análise.

3.2. Objetivos e Proposições de Investigação

Com o presente trabalho pretende-se disponibilizar um contributo para a melhor compreensão


dos fenómenos relacionados com as questões motivacionais no âmbito da evasão fiscal,
consistindo o objetivo da investigação em conhecer o que motiva os cidadãos a cumprir as
suas obrigações fiscais.
O estabelecimento deste objetivo prende-se com a importância que o cumprimento das
obrigações fiscais representa para os Estados, nomeadamente para a satisfação das
necessidades coletivas das suas comunidades.
Foram também estabelecidos objetivos específicos, visando-se aferir se existe uma relação
entre as características sociodemográficas sexo, idade, habilitações literárias, situação

Página 29
profissional, rendimento e crença, e a perceção relativamente à evasão fiscal e as diferentes
motivações para o cumprimento das obrigações fiscais.
Para procurar investigar a problemática definida, será construído um modelo de análise
baseado na definição de uma proposição geral e de seis subproposições articuladas entre si,
integrando-se logicamente na problemática que se visa compreender e analisar.
A proposição geral pode ser definida da seguinte forma:

 Existem diferentes motivações que levam os cidadãos portugueses ao


cumprimento das suas obrigações fiscais.

As subproposições estabelecidas para o presente estudo exploratório são as seguintes:

Quadro 2: Subproposições da investigação


Fonte: Elaboração própria

Mediante a recolha de dados através da realização de um questionário por inquérito dirigido a


uma amostra da população portuguesa, procurar-se-á averiguar se estas proposições se
verificam ou não.

3.3. Técnicas de Recolha de Dados

Uma vez definida a problemática, e decorrente pergunta de partida, bem como as proposições,
torna-se necessário determinar a forma de recolha dos dados necessários para a realização do

Página 30
trabalho proposto, ou seja, os métodos e técnicas de levantamento e recolha de dados a
utilizar.
Considerando que através da presente investigação se visa conhecer uma subpopulação
relativamente aos seus valores, comportamentos e opiniões, analisar um fenómeno social e
interrogar um grande número de pessoas, decidiu-se selecionar o inquérito por questionário
enquanto método de recolha de informação. Este método “consiste em colocar a um conjunto
de inquiridos (…) uma série de perguntas relativas à sua situação social, profissional ou
familiar, às suas opiniões, à sua atitude em relação a opções ou a questões humanas e sociais,
às suas expectativas, ao seu nível de conhecimentos ou de consciência de um acontecimento
ou de um problema, ou ainda sobre qualquer outro ponto de interesse dos investigadores”
(Quivy & Campenhoudt, 2005, p. 188).
Quanto à dimensão da amostra importa notar que se estabeleceu que esta seria composta pelo
número de respostas registadas num determinado período temporal, a saber de 16 de maio a
15 de junho de 2018.
Considerando o consequente trabalho de tratamento qualitativo das respostas que teria lugar,
as perguntas do questionário por inquérito foram pré-codificadas, ou fechadas, de maneira a
que os inquiridos escolhessem obrigatoriamente as suas respostas entre as que lhes fossem
formalmente propostas, e tratou-se de um questionário de administração direta, uma vez que
foram os próprios inquiridos a preenchê-lo.
O questionário, como já tivemos oportunidade de referir, foi construído com base na literatura
e em investigações previamente desenvolvidas noutros países e em Portugal. Considerando
que as questões a utilizar já foram colocadas noutros trabalhos, chegar-se-á, assim, a um
inquérito que se pode considerar testado e validado para utilização como ferramenta de
recolha de dados da presente investigação.
Neste sentido, o questionário elaborado é composto por quatro partes:
1. Dados sociodemográficos – neste grupo são colocadas uma série de questões com o
intuito de identificar variáveis sociais e demográficas relevantes como o sexo, a
idade, o nível de escolaridade completo, a situação profissional, o rendimento bruto
mensal auferido e crença;
2. Comportamento de cidadania – no segundo grupo procura-se aferir a aceitabilidade
ou inaceitabilidade de vários comportamentos de cidadania, nos quais se incluem
comportamentos relacionados com evasão fiscal, bem como como a perceção do
desempenho da AT, de um ponto de vista geral;
Página 31
3. Relações com as instituições – neste grupo procura-se conhecer a perceção dos
inquiridos sobre a importância do cumprimento das obrigações fiscais bem como o
grau de confiança dos inquiridos na AT e a perceção que estes têm do seu poder;
4. Motivação e cumprimento fiscal – no último grupo de questões o objetivo é
determinar quais as motivações dos inquiridos ao cumprirem as suas obrigações
fiscais bem como saber se estes admitem já ter pensado ou concretizado uma
situação de incumprimento fiscal.

3.4. Amostra e Procedimentos

Uma vez identificados os dados a recolher e o instrumento a utilizar na recolha – questionário


-, importa estabelecer um procedimento de amostragem, devido à impossibilidade de inquirir
a totalidade da população30, que na presente investigação corresponde à totalidade de sujeitos
passivos singulares que tenham entregado pelo menos uma declaração anual de rendimentos
nos últimos dois anos fiscais (2016 e/ou 2017).
O método de seleção da amostra31 pelo qual se optou trata-se de um método não probabilístico
ou de amostragem dirigida, uma vez que não seria viável, devido aos recursos de que
careceria, a utilização de um método de seleção casual ou aleatório. Assim, pode-se
considerar que se recorreu a uma amostragem de conveniência, que se baseia “na premissa de
que certo tipo de respondentes apresentam uma maior disponibilidade ou se encontram mais
acessíveis para responder ao inquérito” (Reis, Melo, Andrade & Calapez, 1999, p. 39).
Embora neste método não se obtenha uma amostra representativa, ultrapassam-se as
dificuldades e custos associados a um processo de amostragem aleatório, motivo pelo qual se
considerou adequado para a presente investigação.
Assim, no método da amostragem por conveniência, a amostra é selecionada em “função da
disponibilidade e acessibilidade dos elementos que constituem a população-alvo” (Reis et al.,
1999, p. 39).
Deste modo, a amostra selecionou-se em função da disponibilização do questionário, via on-
line, a uma série de contactos por parte da equipa de investigação, tanto de correio eletrónico
como de grupos de várias redes sociais, tendo vários dos inquiridos disponibilizado o

30
“Conjunto de unidades com características comuns” (Reis et al., 1999, p. 19)
31
“Subconjunto do universo ou população” (Reis et al., 1999, p. 19)

Página 32
questionário a uma série de outros contactos pessoais (o que se pode aproximar, em parte, do
método de amostragem snowball).
Assim, foram inquiridas pessoas que se mostraram disponíveis e dispostas a colaborar no
estudo, estando definido o critério de que teriam de se tratar de sujeitos passivos singulares
que tivessem entregado pelo menos uma declaração anual de rendimentos nos últimos dois
anos fiscais (2016 e/ou 2017).

3.5. Recolha e tratamento de dados

O processo de recolha de respostas teve início, como já referido anteriormente, a 16 de maio


de 2018 e fim a 15 de junho de 2018, tendo sido respondidos 414 questionários por inquérito
nesse período.
Uma vez concluída a fase de recolha de dados, que decorreu exclusivamente através do
preenchimento do questionário em suporte informático, procedeu-se à exportação dos dados
da ferramenta Google Forms para o programa Microsoft Excel e, posteriormente, para o
programa SPSS 32 , tendo sido este o programa utilizado para a análise e tratamento dos
mesmos.
Os dados recolhidos foram submetidos às seguintes análises: uma análise descritiva das
respostas obtidas a cada uma das questões, através de tabelas de frequências, uma análise de
cruzamento de algumas das variáveis, que permitiu averiguar se as subproposições
estabelecidas se verificam ou não, e uma análise fatorial exploratória com o pressuposto de
averiguarmos a proposição geral do trabalho e, desta forma, respondermos à nossa questão de
partida.
Importa notar que no primeiro tipo de análise, as questões cuja resposta é obtida através de
uma escala de Likert serão sujeitas a uma análise de confiabilidade, que tem como intuito
medir a consistência interna das questões, através da utilização do Alpha de Cronbach.
Na análise de cruzamento das variáveis recorre-se ao teste do Qui-Quadrado e na análise
fatorial é utilizada a medida da adequação da amostragem de Kaiser-Meyer-Olkin.
Por fim, os resultados obtidos são discutidos no capítulo relativo à discussão de resultados,
recorrendo-se à sua comparação com os verificados na restante literatura.
Na conclusão procurou-se compreender uma retrospetiva do procedimento que foi utilizado

32
IBM SPSS Statistics – Versão 25
Página 33
na investigação e apresentar os seus resultados e contributos para a esfera do conhecimento,
bem como tecer algumas considerações para investigações futuras.
Dadas as limitações da presente investigação, não se procuraram generalizações, pois a
amostra selecionada não é suficiente para o fazer, mas obtiveram-se dados fiáveis e
interessantes que podem inspirar novas investigações futuramente.

Página 34
Capítulo 4 – Análise de dados

4.1. Análise Descritiva

4.1.1. Caracterização da amostra

A amostra é constituída por 165 indivíduos do sexo masculino e por 249 indivíduos do sexo
feminino, que correspondem a 39,9% e 60,1% do total dos inquiridos, respetivamente.
Relativamente à nacionalidade, todos os inquiridos têm a nacionalidade portuguesa.
No que respeita à idade dos inquiridos, o intervalo de idades dos inquiridos encontra-se entre
os 19 e os 76 anos, correspondendo a idade média a 40,71 anos.
Quanto ao nível de escolaridade completo verifica-se que 1 dos respondentes não tem nível de
escolaridade completo (0,2% 33 ), 1 completou o Ensino Básico 1.º Ciclo (0,2%), 4
completaram o Ensino Básico 2.º Ciclo (1%), 5 completaram o Ensino Básico 3.º Ciclo
(1,2%), 40 completaram o Ensino Secundário (9,7%), 198 completaram uma Licenciatura
(47,8%), 140 completaram um Mestrado (33,8%) e 25 completaram um Doutoramento (6%).
No que concerne à situação profissional apenas 7 são estudantes (1,7%), 138 são
trabalhadores por conta de outrem no setor privado (33,3%), 57 são trabalhadores por conta
própria (13,8%), 188 são trabalhadores por conta de outrem no setor público (45,4%), 15 são
reformados (3,6%) e 9 são desempregados ou sem atividade profissional (2,2%).
Relativamente ao rendimento mensal bruto auferido pelos inquiridos constata-se que 19
enquadram-se no intervalo até 580 euros (4,6%), 119 no intervalo entre 581 e 1160 euros
(28,7%), 118 no intervalo entre os 1161 e 1740 euros (28,5%), 61 no intervalo entre os 1741 e
2320 euros (14,7%), 35 no intervalo entre 2321 e 2900 euros (8,5%), 32 no intervalo entre
2901 e 3480 euros (7,7%) e 21 no intervalo acima de 3480 euros (5,1%). Ressalva-se que,
devido ao facto de o tema de investigação se tratar de um tema sensível, a resposta a esta
questão não era obrigatória, podendo os inquiridos avançar no preenchimento do questionário
sem que uma das opções de resposta fosse assinalada. Consequentemente, 9 dos inquiridos
não responderam a esta questão (2,2%).
Quanto à crença dos inquiridos, independentemente de participarem, ou não em serviços

33
Do total dos inquiridos
Página 35
religiosos (como missas, etc.), 272 indicaram considerar-se pessoas crentes (65,7%) e 142
consideram-se pessoas não crentes (34,3%).
Apesar de 272 dos inquiridos se considerarem crentes, 279 indicaram enquadrar-se numa
religião (67,4%). Desses, 255 dos inquiridos enquadram-se na religião católica (91,4% dos
inquiridos que responderam a esta questão), 2 na religião protestante (0,7% dos inquiridos que
responderam a esta questão), 1 na religião ortodoxa (0,4% dos inquiridos que responderam a
esta questão), 2 em outra cristã (0,7% dos inquiridos que responderam a esta questão), 1 na
religião muçulmana (0,4% dos inquiridos que responderam a esta questão) e 18 noutras
religiões (6,5% dos inquiridos que responderam a esta questão).
Quanto à questão “Aquando da entrega da declaração anual de rendimentos tem a expectativa
de ter de fazer um pagamento adicional de impostos ou a expectativa de receber algum
reembolso por parte da AT?” as respostas obtidas foram as seguintes: 44 inquiridos (10,6%)
responderam que costumam ter a expectativa de fazer um pagamento adicional, 325
inquiridos (78,5%) responderam que costumam ter a expectativa de receber um reembolso e
45 inquiridos (10,9%) responderam que costumam ter a expectativa de não ter de pagar mais
impostos, daí se deduzindo que têm a expectativa de não receber reembolso nem fazer um
pagamento adicional.

4.1.2. Comportamentos de cidadania

O segundo grupo de questões começa com um conjunto de 13 afirmações (Cronbach α =


0,872), que representam um conjunto de comportamentos, perante as quais os inquiridos
tiveram de manifestar a sua concordância ou discordância. Este conjunto de afirmações tem
como objetivo medir a opinião pública relativamente à aceitação, ou não, de variados
comportamentos de cumprimento, incluindo comportamentos relacionados com evasão fiscal.
Analisando as respostas obtidas nas afirmações 2.1.1. a 2.1.4. verifica-se que o
comportamento perante o qual se verifica maior discordância é o de deitar lixo para o chão,
seguindo-se a utilização de um transporte público sem um bilhete válido. Assim, os inquiridos
demonstram maior discordância com esses comportamentos do que com a utilização de
deduções ou a solicitação de reembolsos à AT a que não se tem direito.

Página 36
Figura 3: Comportamentos de cidadania – Questão 2.1.1. a 2.1.4.
Fonte: Elaboração própria

Quanto às respostas recolhidas relativamente às afirmações 2.1.5. a 2.1.8., verifica-se que o


comportamento com o qual os inquiridos mais discordam é o de reivindicar benefícios sociais
junto do Instituto de Segurança Social sabendo que não se tem direito aos mesmos, seguido
pelo comportamento de não pagar deliberadamente os impostos devidos. Porém, apenas
28,7% dos inquiridos discordam totalmente com o comportamento de adquirir serviços
sabendo que o rendimento deles resultante não será declarado à AT. A reação a esta
afirmação, associada ao elevado nível de economia paralela, ou não-registada, que se estima
existir em Portugal, leva a crer que efetivamente este é um comportamento ainda
relativamente aceite pela sociedade, pese embora a AT tenha envidado esforços significativos
para o mitigar nos últimos anos.

Página 37
Figura 4: Comportamentos de cidadania – Questão 2.1.5. a 2.1.8.
Fonte: Elaboração própria

No que respeita às respostas relativas às afirmações 2.1.9. a 2.1.13., é possível aferir que o
comportamento menos aceite pelos inquiridos é o de comprar intecionalmente bens que foram
roubados. Porém, relativamente aos demais comportamentos, a discordância com os mesmos
não é tão evidente, salientando-se que 25,8% dos inquiridos não concordam nem discordam
com o comportamento de comprar bens no estrangeiro e, quando estes ultrapassem o limite
até ao qual estão isentos de imposto, não os declarar à AT aquando do regresso a Portugal, e
que 12,3% dos inquiridos não concordam nem discordam com o comportamento de declarar
algum rendimento, nas não todo, aquando da entrega da declaração de rendimentos anual.

Página 38
Figura 5: Comportamentos de cidadania – Questão 2.1.9. a 2.1.13.
Fonte: Elaboração própria

Um outro aspeto que importa salientar é o de que os inquiridos parecem ter consciência das
diferenças entre a evasão e a elisão fiscais, pois o comportamento com o qual os contribuintes
mais concordam é o de evitar pagar impostos legalmente, utilizando lacunas na legislação
(21,5% dos inquiridos concordam ou concordam totalmente).
A tabela que se segue evidencia, por ordem de maior discordância ou discordância total, os
comportamentos com os quais os inquiridos mais discordam, podendo-se apurar que nem
sempre os comportamentos associados à evasão fiscal se consideram os mais reprováveis.

Página 39
Quadro 3: Comportamentos de cidadania com os quais os inquiridos mais discordam
Fonte: Elaboração própria

Da análise a esta tabela extrai-se que a percentagem de inquiridos que discordam totalmente
com o comportamento de deitar lixo para o chão (80,7%) é muito mais pronunciada que a
percentagem de inquiridos que discordam totalmente com o comportamento de adquirir
serviços sabendo que o rendimento deles resultante não será declarado à AT (28,7%). Do
mesmo modo, declarar algum rendimento, mas não todo, aquando da entrega da declaração de
rendimentos anual é considerado mais aceitável do que utilizar um transporte público sem um
bilhete válido.
Com o intuito de avaliar a opinião dos inquiridos relativamente a determinados aspetos
relacionados com evasão fiscal, utilizou-se um outro conjunto de afirmações no qual se
incluem afirmações relacionadas com responsabilidade cívica e com a posição da AT na sua
relação com a evasão fiscal.

Página 40
Relativamente às questões que se prendem com a responsabilidade cívica, apenas 27,7% dos
inquiridos no presente estudo discordam ou discordam totalmente com a afirmação de que a
evasão fiscal deliberada é considerada aceitável pela sociedade portuguesa.
Quanto às reações relativamente à afirmação 2.2.2., 58,5% dos inquiridos concordaram com
a afirmação de que aqueles que evitam pagar impostos repetidamente deviam receber uma
sentença de prisão.
Por sua vez, 43,5% dos inquiridos concordam com a afirmação de que a evasão fiscal
deliberada está a aumentar, embora 90,5% concordem com a afirmação de que é
responsabilidade cívica de cada contribuinte pagar os seus impostos corretamente.

Figura 6: Comportamentos de cidadania – Responsabilidade cívica


Fonte: Elaboração própria

Página 41
Quanto às afirmações relacionadas com a posição da AT na sua relação com a evasão fiscal,
apenas 31,4% dos inquiridos concordam com a afirmação de que a AT foi bem-sucedida ao
lidar com a evasão fiscal nos últimos 5 anos. Esta posição relativamente à atuação da AT não
contribui para o desencorajar da prática da evasão fiscal. Porém, 81,6% dos inquiridos
consideram que quanto mais bem-sucedida a AT for a lidar com quem pratica evasão fiscal
menos provável será que os cidadãos tentem praticar evasão fiscal.
Por outro lado, apenas 38,6% dos inquiridos concordam com a afirmação de que a AT é capaz
de detetar quem não paga o montante certo de imposto e 44,4% consideram que poucas
pessoas relatam todos os seus rendimentos à AT.

Figura 7: Comportamentos de cidadania – Posição da AT


Fonte: Elaboração própria

Através da análise às respostas referentes a este conjunto de afirmações verifica-se que existe
um antagonismo entre as atitudes pessoais dos inquiridos e a perceção das atitudes e
comportamentos dos seus pares, o que pode ter efeitos tanto no grau de cumprimento das
obrigações fiscais como na coesão social.
O segundo grupo do questionário termina com uma questão que convida os inquiridos a
selecionar a afirmação, dentro de três possíveis, que mais se aproxime do seu ponto de vista
relativamente à evasão fiscal. Assim, 63% dos inquiridos consideraram que a evasão fiscal “é
sempre injustificável”, 36% selecionaram a opção “depende das circunstâncias” e apenas 1%

Página 42
optou pela afirmação “é sempre justificável”. Este resultado é similar ao obtido no estudo de
Poço et al. (2015), que também recorreu a uma amostragem de conveniência, tendo os dados
sido recolhidos em variados distritos portugueses. Na investigação em apreço, 63,43% dos
inquiridos consideraram que a evasão fiscal é sempre injustificável. Já na investigação
realizada por Teixeira (2016), em que a amostra é composta por funcionários de uma
instituição bancária, residentes em Portugal, 76% dos inquiridos consideraram a evasão fiscal
como sempre inaceitável, podendo o setor de atividade em que os inquiridos desempenham a
sua atividade profissional ter alguma influência, ou causar algum condicionamento, na
perceção relativa ao tema em análise ou na resposta a selecionar.

Figura 8: Perceção da evasão fiscal


Fonte: Elaboração própria

4.1.3. Relações com as instituições

O terceiro grupo de questões tem início com um conjunto de cinco afirmações, relativamente
às quais os inquiridos tiveram de manifestar a sua concordância ou discordância, tendo como
intuito aferir a sua intenção de cumprimento das obrigações fiscais. Estas afirmações foram
utilizadas na investigação de Gangl et al. (2013), que recorre à definição de cumprimento das
obrigações fiscais proposta pela OCDE em 200134, ao considerar ser conveniente dividir o
conceito de cumprimento das obrigações fiscais em duas categorias: o cumprimento do ponto
de vista administrativo, relacionado com aspetos como submeter as declarações de
rendimento nos prazos estabelecidos; e cumprimento do ponto de vista técnico, relacionado

34
“OECD, 2001. General Administrative Principles – GAP004 Compliance Measurement. Tax Guidance Series.
(disponível em http://www.oecd.org/dataoecd/36/1/1908448.pdf)
Página 43
com o facto de os contribuintes pagarem a quantidade de imposto efetivamente devida, de
acordo com as normas tributárias que lhe são aplicáveis.
Quanto à intenção de cumprimento das obrigações fiscais do ponto de vista administrativo
(Cronbach α = 0,833; M = 1,55), verifica-se que 95,2% dos inquiridos consideram que é
importante a AT receber as declarações de rendimento dentro dos prazos estabelecidos, 95%
concordam que é importante a AT receber uma declaração de rendimentos o mais exata
possível por parte dos contribuintes e 90,1% afirmam que é importante que no caso de ter de
pagar imposto após a entrega da declaração de rendimentos a AT receba o pagamento dentro
do prazo estabelecido.

Figura 9: Relações com as instituições – Intenção de cumprimento – Conformidade administrativa


Fonte: Elaboração própria

No que respeita à intenção de cumprimento das obrigações fiscais a nível técnico (Cronbach α
= 0,779; M = 3,72), apenas 64,7% dos inquiridos discordam com a afirmação de que podem
existir circunstâncias em que possam introduzir deduções inexistentes (de forma a serem
beneficiados) nas suas declarações de rendimentos, sendo que 19,6% dos inquiridos
concordam com a afirmação, e que apenas 63% discordam com a afirmação de que podem
existir circunstâncias em que possam não declarar todos os rendimentos nas suas declarações
de rendimentos, concordando 20% dos inquiridos com a mesma.

Página 44
Figura 10: Relações com as instituições – Intenção de cumprimento – Conformidade técnica
Fonte: Elaboração própria

A segunda parte do terceiro grupo de questões do questionário incidiu sobre a confiança dos
inquiridos na AT e sobre a perceção do poder da AT, uma vez que em diversos estudos se
evidencia que a perceção relativamente a estes dois aspetos pode estar relacionada com as
motivações dos contribuintes para cumprirem, ou não, as suas obrigações fiscais. Assim, os
inquiridos pronunciaram-se sobre a sua concordância ou discordância com um conjunto de
seis afirmações, três respeitantes à confiança na AT e três referentes ao poder da AT.
Relativamente à perceção de confiança na AT (Cronbach α = 0,860; M = 3,34), apenas 30,4%
dos inquiridos consideram que a AT trata os contribuintes de forma respeitosa, somente
17,4% concordam que a AT seja justa ao arrecadar os impostos e unicamente 25,1% dos
inquiridos pensam a AT inspira confiança. Ao invés, 41%, 55% e 43,5% dos inquiridos
discordam, respetivamente, com as afirmações elencadas, o que permite indicar que há mais
inquiridos a desconfiar da AT do que a demonstrar confiança na instituição. Como tal, esta
constatação poderá ter uma série de implicações, negativas, no âmbito da postura dos
cidadãos relativamente às suas obrigações fiscais, designadamente nas motivações associadas
ao comportamento de cumprimento ou incumprimento.

Página 45
Figura 11: Relações com as instituições – Perceção da confiança na AT
Fonte: Elaboração própria

Quanto à perceção do poder da AT (Cronbach α = 0,723; M = 3,24), 38,7% dos inquiridos


concordam com a afirmação “A AT tem amplos poderes para forçar os cidadãos a serem
honestos em relação aos impostos que devem pagar”, 28,2% consideram que “A AT é capaz
de descobrir praticamente qualquer ato de evasão fiscal que ocorra devido ao seu
conhecimento especializado”, discordando com a afirmação 43,9% dos inquiridos, e somente
15,9% pensam que a AT combate a criminalidade fiscal em Portugal de forma eficiente,
discordando 55,6% dos inquiridos com esta afirmação.
Assim, pode-se afirmar que mais de 40% dos inquiridos pensam que a AT não tem
capacidade para descobrir atos de evasão fiscal, o que pode ter influência na perceção dos
indivíduos sobre o risco de serem detetados em caso de incumprimento, e que mais de metade
dos inquiridos não pensa que o combate à criminalidade fiscal, por parte da AT, seja eficiente.

Figura 12: Relações com as instituições – Perceção do poder da AT


Fonte: Elaboração própria

Página 46
4.1.4. Motivação e cumprimento fiscal

O último grupo de questões procurou incidir sobre o comportamento pessoal dos inquiridos
no âmbito das motivações associadas ao cumprimento, ou não, das suas obrigações fiscais.
O primeiro conjunto de afirmações comporta afirmações relacionadas com responsabilidades
cívicas e com a atividade da AT (Cronbach α = 0,818). Analisando as respostas recolhidas
relativamente às primeiras quatro afirmações, 46,1% dos inquiridos indicam cumprir as suas
obrigações fiscais por preocupação de que a AT entre em contacto relativamente à sua
situação tributária e apenas 14,5% o fazem por sentirem que a AT trata todos os contribuintes
de forma justa.
Por outro lado, 63,5% dos inquiridos indicam cumprir as suas obrigações fiscais porque os
impostos são utilizados para o pagamento de serviços públicos. Já o receio de que o nome dos
contribuintes seja publicado na Lista de Devedores publicada no portal das finanças não
parece motivar o cumprimento fiscal, já que apenas 22,9% dos inquiridos concordam com
esta afirmação.

Figura 13: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.1.1. a 4.1.4.


Fonte: Elaboração própria

Página 47
O cumprimento das obrigações fiscais “porque é a Lei” parece ser um dos motivos que mais
influenciam os inquiridos, com 88,2% a concordam com essa afirmação. Também o receio de
pagar coimas caso os impostos devidos sejam pagos tardiamente parece influenciar o
comportamento dos inquiridos, com 66,6% dos inquiridos a concordar com a afirmação 4.1.8.
Já a preocupação de que alguém os possa denunciar ou a crença de que os outros contribuintes
declaram os seus rendimentos e pagam os seus impostos de forma honesta, não parecem
motivar os inquiridos a cumprir as suas obrigações fiscais, uma vez que apenas 9,1% e 22,9%,
respetivamente, concordaram com as afirmações em causa.

Figura 14: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.1.5. a 4.1.8.


Fonte: Elaboração própria

Quanto às últimas cinco afirmações, verifica-se que o receio da atuação da AT tem alguma
influência no cumprimento das obrigações fiscais dos inquiridos, embora não para todos, já
que apenas 31,4% cumprem as obrigações fiscais por saber que a AT pode receber
informação sobre si a partir de outras entidades, apenas 28,7% o faz por receio de ser julgado
e 35,7% o faz por receio de ser auditado pela AT. Considerando a perceção dos inquiridos
relativamente ao poder da AT, o facto de os inquiridos não apontarem o receio como um dos
fatores motivacionais que condicionam o seu comportamento pode estar associado à
descrença nos meios e eficácia da AT, o que poderá não ser positivo para a instituição.
Página 48
Figura 15: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.1.9. a 4.1.13.
Fonte: Elaboração própria

Assim, verifica-se que, das afirmações disponibilizadas aos inquiridos, as que os parecem
motivar mais a cumprir as suas obrigações fiscais são as que se relacionam com o facto de tal
resultar da Lei, com o receio de serem sujeitos a coimas caso paguem tardiamente os impostos
devidos e com o facto de os impostos serem utilizados para o pagamento de serviços públicos.
No que concerne às afirmações que menos concordância suscitaram por parte dos inquiridos,
tem-se que o que menos motiva os contribuintes a cumprir as suas obrigações fiscais é a
preocupação de que alguém os possa denunciar, seguida pelo sentimento de que a AT trata
todos os contribuintes de forma justa e pela crença de que os outros contribuintes declaram os
seus rendimentos e pagam os seus impostos de forma honesta.

Página 49
Quadro 4: Motivações no cumprimento das obrigações fiscais - Afirmações com as quais os inquiridos menos
concordam
Fonte: Elaboração própria

O último conjunto de afirmações sobre as quais os inquiridos manifestaram a sua


concordância ou discordância baseia-se num conjunto de 12 afirmações mediante as quais se
torna possível aferir que tipo de motivações influencia o comportamento dos inquiridos no
momento de decisão pelo cumprimento das suas obrigações fiscais. Estas motivações podem
assumir uma de três possibilidades: forçada, voluntária e comprometida.
As afirmações 4.2.1. a 4.2.4. (Cronbach α = 0,850; M = 3,32) estão relacionadas com o tipo
de motivação forçada. Quando os contribuintes manifestam ser este o tipo de motivação que
os leva a cumprir as suas obrigações fiscais, pode-se considerar que os principais fatores que
os fazem tomar essa decisão se prendem com o receio de serem detetados pela AT em caso de

Página 50
incumprimento e o receio das penalizações que possam estar associadas a esse
incumprimento.
Na presente investigação verifica-se que 13,3% dos inquiridos concordam com a afirmação
“Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o porque sei que são realizadas muitas
auditorias fiscais”, 18,3% afirmam cumprir as suas obrigações fiscais porque sabem que serão
auditados pela AT e 17,1% porque sabem que a AT realiza auditorias frequentemente. Porém,
as auditorias, ou inspeções, da AT não parecem ser o principal fator a motivar os inquiridos a
cumprir as suas obrigações fiscais.
No entanto, a questão 4.2.4. revela que 56,7% dos inquiridos concordam que quando
cumprem as suas obrigações fiscais o fazem porque se sentem forçados a pagar os seus
impostos. Na sequência dos resultados previamente analisados, daqui poderá resultar que os
inquiridos se sentem forçados a pagar impostos, eventualmente porque a Lei assim o impõe,
mas não necessariamente pelo receio das ações de auditoria da AT.

Figura 16: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.2.1. a 4.2.4.


Fonte: Elaboração própria

As afirmações 4.2.5. a 4.2.8. (Cronbach α = 0,749; M = 3,31) estão relacionadas com a


motivação voluntária, no âmbito da qual os contribuintes cumprem as suas obrigações fiscais

Página 51
porque sentem que também recebem contrapartidas por parte do Estado, considerando existir
uma relação de reciprocidade e cooperação. Porém, esta, à semelhança da motivação forçada,
consiste num tipo de motivação extrínseca, pois os contribuintes esperam algo em troca,
afastando-se do conceito de motivação intrínseca, segundo a qual os contribuintes
efetivamente consideram que cumprir as suas obrigações fiscais é a coisa certa a fazer,
independentemente do retorno que daí possa advir.
Nesta ótica, 22,3% dos inquiridos indicam cumprir as suas obrigações fiscais por sentirem
que a autoridade fiscal provavelmente retribuirá a sua cooperação, 24,7% afirmam cumprir as
suas obrigações fiscais por sentirem que a AT os trata corretamente desde que assumam os
seus eventuais erros, e 19,8% dos inquiridos sentem que a AT apoia os contribuintes que
errem de fornam não intencional. Porém, uma maior percentagem de inquiridos, 41,8%,
considera que cumpre as suas obrigações fiscais porque é mais fácil fazê-lo do que enganar a
AT.

Figura 17: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.2.5. a 4.2.8.


Fonte: Elaboração própria

As afirmações 4.2.9. a 4.2.12. (Cronbach α = 0,914; M = 2) refletem o tipo de motivação


comprometida, a única das três que corresponde a uma motivação intrínseca, mediante a qual
os contribuintes sentem que devem, por princípio, cumprir as suas obrigações fiscais.
Página 52
Analisando as respostas recolhidas verifica-se que 83,1% dos inquiridos indicam que quando
cumpre as suas obrigações fiscais o fazem porque sentem que é a coisa certa a fazer, 70,8% o
fazem por sentirem que o fazem em prol do bem comum, 74,9% cumprem as suas obrigações
fiscais porque sentem que têm uma obrigação moral em os pagar e 81,4% indicam cumprir as
suas obrigações fiscais por sentirem que é um importante dever cívico. De acordo com estes
resultados, a motivação comprometida parece ser a aquela que pauta o comportamento de um
maior número de inquiridos.

Figura 18: Motivação e cumprimento fiscal – Questões 4.2.9. a 4.2.12.


Fonte: Elaboração própria

Seguidamente, os inquiridos tiveram de optar por uma de três afirmações, que melhor
traduzisse o que sentem quanto ao pagamento de impostos, cada uma delas relacionada com
um dos tipos de motivação anteriormente expostos. A afirmação que mais respostas obteve
prende-se com a motivação comprometida, o que é positivo, considerando 58% dos inquiridos
que contribuem com algo, ao pagar os seus impostos. Se por um lado é positivo que mais de
metade dos inquiridos manifestem esta posição, por outro não deixa de ser preocupante que
mais de 40% dos inquiridos tenham opinião diferente. Assim, 16% dos inquiridos consideram
que abdicam de algo quando pagam impostos, encontrando-se esta afirmação relacionada com
a motivação voluntária, e 26% pensam que algo que é seu lhes é retirado, estando esta

Página 53
afirmação intimamente ligada com a motivação forçada. Deste modo, tem-se que cerca de um
quarto dos inquiridos se sentem expropriados de algo que é seu, ao pagarem impostos,
salientando-se que, caso as circunstâncias o favoreçam, este tipo de contribuintes poderá ser
mais permeável à eventual prática de evasão fiscal (Gangl et al., 2015; Braithwaite, 2003 e
Kirchler et al., 2008 como citado em Gangl et al., 2015).

Figura 19: Sentimento relativo ao pagamento de impostos


Fonte: Elaboração própria

O questionário termina com duas questões de resposta direta, nas quais se questiona se os
inquiridos alguma vez pensaram preencher incorretamente a declaração de rendimentos de
forma a pagar menos imposto ou receber mais reembolso e se alguma vez efetivamente
preencheram a declaração incorretamente.

Figura 20: Questões diretas sobre incumprimento


Fonte: Elaboração própria

Página 54
Das respostas obtidas verifica-se que 17% dos inquiridos afirmaram já ter pensado em
preencher incorretamente a declaração de rendimentos e 7% afirmaram ter efetivamente
preenchido incorretamente a sua declaração de rendimentos de forma a pagar menos imposto
ou receber mais reembolso, o que demonstra, igualmente, que mais de 90% dos inquiridos
manifestam ser cumpridores das suas obrigações fiscais.

4.2. Cruzamento das variáveis mais significativas

Uma vez analisadas as tabelas de frequências de cada uma das questões do questionário,
importa estabelecer alguns cruzamentos de variáveis, designadamente de algumas das
variáveis respeitantes a características sociodemográficas com variáveis das dimensões
relacionadas com a evasão fiscal e as motivações associadas ao cumprimento, ou não, das
obrigações fiscais. Assim, cruzar-se-ão as variáveis sexo, idade, escolaridade, situação
profissional, rendimento e crença com outras quatro variáveis: perceção da evasão fiscal,
perspetiva relativamente ao pagamento de impostos, ter pensado preencher incorretamente a
declaração de rendimentos e ter preenchido incorretamente a declaração de rendimentos.
Para cada um destes cruzamentos será realizado o teste do Qui-Quadrado, que permite
verificar se duas ou mais populações (ou grupos) independentes diferem relativamente a uma
determinada característica. Considerou-se uma probabilidade de erro de tipo I (α) de 0,05 em
todas as análises.

4.2.1. Sexo

Uma das variáveis que se considera relevante utilizar nesta fase da análise é o sexo. Conforme
apontado no capítulo referente à revisão da literatura, em diversos estudos se conclui que o
sexo pode estar relacionado com uma maior ou menor aceitação do comportamento de evasão
fiscal, sendo interessante analisar os resultados obtidos no presente estudo nessa perspetiva,
bem como se se registam diferenças no que respeita às motivações no âmbito do cumprimento
das obrigações fiscais.
Relembra-se que dos 414 inquiridos, 165 são do sexo masculino e 249 do sexo feminino.
Começando pelo cruzamento entre o “Sexo” dos inquiridos e a questão “2.3. Qual das
seguintes afirmações se aproxima mais do seu ponto de vista relativamente à evasão fiscal?”,
verifica-se que há uma maior percentagem de homens a considerar que a evasão fiscal é
Página 55
sempre injustificável do que mulheres, já que a percentagem de inquiridos que selecionaram
esta frase para representar o seu ponto de vista consiste em 68,5% e 58,6%, respetivamente.
Por sua vez, 41% das mulheres inquiridas consideram o seu ponto de vista relativamente à
evasão fiscal depende das circunstâncias, tendo optado por esta afirmação 28,5% dos homens.
Já no que concerne à última afirmação, que indica que a evasão fiscal é sempre aceitável,
nota-se que apenas 0,4% das mulheres inquiridas a selecionaram, enquanto 3% dos homens
inquiridos a assinalaram. Assim, embora uma maior percentagem de homens considere que a
evasão fiscal é sempre injustificável, também uma maior percentagem de homens afirma que
a evasão fiscal é sempre justificável.

Figura 21: Cruzamento entre a variável “Sexo” e a perceção sobre evasão fiscal
Fonte: Elaboração própria

Cruzando o sexo dos inquiridos com a questão “4.3. Qual das seguintes frases caracteriza
melhor o que sente quanto ao pagamento de impostos?”, nota-se que a percentagem de
inquiridos que considera que algo que é seu lhes é retirado é semelhante entre ambos os sexos,
com 26,1% das mulheres inquiridas e 26,7% dos homens a selecionar essa opção.
Quanto à afirmação “Eu abdico de algo”, regista-se uma maior percentagem de respostas por
parte dos inquiridos do sexo feminino relativamente aos inquiridos do sexo masculino, 19,3%
e 11,5%, respetivamente.
Quanto à afirmação associada à motivação comprometida, considerada como a única que
configura uma motivação intrínseca, 61,8% dos inquiridos do sexo masculino consideram
contribuir com algo, percentagem essa superior à registada pelos inquiridos do sexo feminino,
que se situou nos 54,6%.

Página 56
Figura 22: Cruzamento entre a variável “Sexo” e o sentimento relativo ao pagamento de impostos
Fonte: Elaboração própria

Considerando a questão “4.4. Alguma vez pensou em preencher incorretamente a sua


declaração de rendimentos de forma a pagar menos imposto ou receber mais reembolso?”,
verifica-se que mais homens do que mulheres optaram pelo “Sim”, 21,80% e 14,10%,
respetivamente.

Figura 23: Cruzamento entre a variável “Sexo” e ter pensado incumprir obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

Na questão em que se pergunta diretamente se o inquirido já preencheu incorretamente a sua


declaração de rendimentos de forma a pagar menos imposto ou receber mais reembolso nota-
se que, uma vez mais, uma maior percentagem dos inquiridos do sexo masculino afirma tê-lo
feito, 9,1%, situando-se a percentagem de inquiridos do sexo feminino que deram a mesma
resposta nos 6,4%.

Página 57
Figura 24: Cruzamento entre a variável “Sexo” e ter incumprido obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

Quadro 5: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável “Sexo”
Fonte: Elaboração própria

A análise com recurso ao Qui-Quadrado permite afirmar que a perceção relativamente à


evasão fiscal e o pensar preencher incorretamente a declaração de rendimentos não são
independentes do sexo dos inquiridos.

4.2.2. Idade

Para possibilitar o cruzamento da variável idade com outras variáveis foi necessário agrupar
as respostas obtidas por classes de idades, tendo-se adotado o critério de McGee (2009),
quando estabeleceu três classes de idade: uma até aos 29 anos, outra do 30 aos 49 anos e uma
para os inquiridos acima dos 50 anos. Aplicando este critério enquadram-se na primeira classe
79 inquiridos, na segunda 235 inquiridos e na terceira 100 inquiridos.
Analisando o gráfico que se segue verifica-se que é na classe de idade acima dos 50 anos que
uma maior percentagem de inquiridos considera que a evasão fiscal é sempre injustificável,
registando-se um decréscimo da percentagem de inquiridos que selecionaram essa opção até à
classe de idade mais jovem. Em sentido inverso, são os mais jovens que mais indicaram
Página 58
considerar que a evasão fiscal é sempre justificável, tendo essa percentagem registado um
decréscimo conforme a classe de idade comporta idades superiores.

Figura 25: Cruzamento entre “classes de idade” e perceção sobre evasão fiscal
Fonte: Elaboração própria

Quanto à perspetiva dos inquiridos relativamente ao pagamento de impostos, nota-se que a


classe de idade acima de 50 anos é a que mais considera que contribui com algo, diminuindo a
percentagem de inquiridos que deram essa resposta à medida que a classe de idade contempla
idades mais baixas. Uma vez mais, e no sentido inverso, são os mais jovens que mais
consideram que algo que é seu lhes é retirado, sendo a classe acima de 50 anos a que menos
opta por essa perspetiva.

Figura 26: Cruzamento entre “classes de idade” e sentimento relativo ao pagamento de impostos
Fonte: Elaboração própria

Quanto à questão direta referente ao facto de os inquiridos alguma vez terem pensado
preencher incorretamente a sua declaração de impostos, verifica-se que é a classe de idade até

Página 59
aos 29 anos que menos optou por responder sim, tendo sido a classe intermédia a obter a
maior percentagem de respostas afirmativas.

Figura 27: Cruzamento entre “classes de idade” e ter pensado incumprir obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

Já no que concerne aos indivíduos que responderam já ter preenchido incorretamente a


declaração de rendimentos, a classe de idade até aos 29 anos é a que menos indicou já o ter
feito, por oposição à classe de idade acima dos 50 anos.

Figura 28: Cruzamento entre “classes de idade” e ter incumprido obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

Página 60
Quadro 6: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável “Idade” (classes de
idade)
Fonte: Elaboração própria

Da análise ao resultado do teste de Qui-Quadrado tem-se que a perceção relativamente à


evasão fiscal e a perspetiva relativamente ao pagamento de impostos não é independente da
classe de idades em que se inserem os inquiridos.

4.2.3. Nível de escolaridade completo

No âmbito do cruzamento da variável respeitante ao nível de escolaridade completo dos


inquiridos com as demais variáveis selecionadas, foi também necessário agrupar as respostas
por classes, seguindo-se, igualmente, o critério utilizado por McGee (2009). Assim,
agruparam-se as respostas em três classes: nível de escolaridade baixo – aplicável aos níveis
de escolaridade até ao 3.º ciclo (9.º de escolaridade, inclusive); nível de escolaridade médio –
no qual se inclui o ensino secundário; e nível de escolaridade alto – em que se insere o ensino
superior.
Embora esta seja uma das variáveis regularmente analisada nos estudos sobre o tema em
análise, adverte-se que os resultados obtidos no presente estudo para esta variável apresentam
algumas limitações, já que apenas 2,66% dos inquiridos se enquadram no nível de
escolaridade baixo e 9,66% no nível de escolaridade médio, sendo que 87,68% dos inquiridos
completaram cursos do ensino superior.
Assim, poderá fazer-se uma breve análise, mas sempre tendo em consideração que a classe
respeitante ao nível de escolaridade baixo é composta por um reduzido número de inquiridos.
Começando pelo cruzamento da variável nível de escolaridade completo dos inquiridos com a
sua perceção relativa à evasão fiscal, verifica-se que é a classe “nível de escolaridade médio”
é que regista uma menor percentagem de inquiridos a optar pela afirmação “é sempre

Página 61
injustificável”. Já no que respeita às restantes afirmações, são os inquiridos com um nível de
escolaridade médio que mais as selecionaram.

Figura 29: Cruzamento entre “nível de escolaridade completo” e perceção sobre evasão fiscal
Fonte: Elaboração própria

Quanto ao que sentem relativamente ao pagamento de impostos, verifica-se que a maioria dos
inquiridos com um nível de escolaridade baixo sentem que algo que é seu lhes é retirado,
decrescendo a percentagem de inquiridos com essa opinião à medida que o nível de
escolaridade completo aumenta. Na mesma ótica, são os inquiridos com um nível de
escolaridade alto que mais consideram contribuir com algo, registando-se um decréscimo na
percentagem de inquiridos a optar por essa afirmação à medida que o nível de escolaridade
completo diminui.

Figura 30: Cruzamento entre “nível de escolaridade completo” e sentimento relativo ao pagamento de impostos
Fonte: Elaboração própria

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Analisando a questão 4.4, nota-se que a classe de inquiridos que mais admite ter pensado
preencher incorretamente a sua declaração de impostos é a respeitante ao nível de
escolaridade baixo, seguida pela associada ao nível de escolaridade alto.

Figura 31: Cruzamento entre “nível de escolaridade completo” e ter pensado incumprir obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

No que concerne à questão 4.5, verifica-se que é, igualmente, a classe do nível de


escolaridade baixo que mais admite ter preenchido incorretamente a declaração de
rendimentos, seguida pela classe do nível de escolaridade alto.

Figura 32: Cruzamento entre “nível de escolaridade completo” e ter incumprido obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

Página 63
Quadro 7: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável “Nível de escolaridade
completo” (classes de nível de escolaridade completo)
Fonte: Elaboração própria

O resultado do teste de Qui-Quadrado evidencia que a perspetiva relativamente ao pagamento


de impostos não é independente do nível de escolaridade dos inquiridos, ao contrário das
restantes variáveis alvo de cruzamento.

4.2.4. Situação profissional

Na sequência da revisão de literatura efetuada notou-se que a situação profissional dos


cidadãos pode ter alguma relação com a sua posição relativamente à evasão fiscal e ao
pagamento de impostos (Sandmo, 2004). Assim, procurou-se igualmente cruzar esta variável
com as demais selecionadas, relembrando-se que 33,3% dos inquiridos trabalham por conta
de outrem no setor privado, 13,8% são trabalhadores por conta própria e 45,4% trabalham por
conta de outrem no setor público.
Quanto à perceção dos inquiridos relativamente à evasão fiscal, salienta-se que são os
trabalhadores por conta de outrem no setor público que mais consideram que esta é sempre
injustificável, sendo os trabalhadores por contra própria os inquiridos que menos
selecionaram esta afirmação. Na realidade, mais de metade dos inquiridos que trabalham por
conta própria considera que a sua posição relativamente à evasão fiscal depende das
circunstâncias.

Página 64
Figura 33: Cruzamento entre “situação profissional” e perceção sobre evasão fiscal
Fonte: Elaboração própria

No que respeita ao sentimento relativamente ao pagamento de impostos, os que mais sentem


que contribuem com algo são os reformados, seguidos pelos trabalhadores por conta de
outrem no setor publico. Os inquiridos que mais selecionaram a expressão “eu abdico de
algo” são os trabalhadores por conta própria e os que mais consideram que algo que é seu lhes
é retirado são os desempregados ou sem atividade profissional, seguidos pelos estudantes e
pelos trabalhadores por conta de outrem no setor privado.

Figura 34: Cruzamento entre “situação profissional” e sentimento relativo ao pagamento de impostos
Fonte: Elaboração própria

Página 65
Quanto ao cruzamento da situação profissional dos inquiridos com as respostas assinaladas
nas últimas duas questões do questionário, salienta-se que são os trabalhadores por conta
própria que mais indicam já ter pensado em preencher incorretamente a sua declaração de
rendimentos.

Figura 35: Cruzamento entre “situação profissional” e ter pensado incumprir obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

Relativamente aos inquiridos que admitiram já ter preenchido incorretamente a declaração de


rendimentos, nota-se que são os desempregados ou se atividade profissional que mais
assinalaram essa opção, seguidos pelos trabalhadores por conta própria.

Figura 36: Cruzamento entre “situação profissional” e ter incumprido obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

Página 66
Quadro 8: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável “Situação
profissional”
Fonte: Elaboração própria

A análise com recurso ao Qui-Quadrado permite afirmar que a perceção relativamente à


evasão fiscal e a perspetiva relativamente ao pagamento de impostos não são independentes
da situação profissional dos inquiridos

4.2.5. Rendimento

Considerando que o rendimento dos cidadãos também é apontado como um dos fatores
influenciadores de incumprimento fiscal (Pereira, 2015), passemos ao seu cruzamento com as
variáveis escolhidas.
Uma vez que no questionário eram disponibilizadas sete classes de rendimento, optou-se por
agregar as respostas em apenas três, tal como em McGee (2006b), considerando-se uma classe
para rendimento até 1160 euros, na qual se inserem 34,07% dos inquiridos, uma para
rendimento entre 1161 e 2900 euros, com 52,84% de respostas, e outra para rendimento acima
de 2901 euros, selecionada por 13,09% dos inquiridos.
Relativamente ao cruzamento das classes de rendimento referidas com a questão 2.3., nota-se
que são os inquiridos com um rendimento mensal bruto mais elevado que mais consideram
que a evasão fiscal é sempre injustificável, diminuindo a percentagem de inquiridos que
escolhe essa afirmação à medida que o rendimento mensal bruto diminui. Sentido inverso se
regista quanto à percentagem de inquiridos que afirmam que o seu ponto de vista
relativamente à evasão fiscal “depende das circunstâncias”, sendo essa afirmação mais
selecionada pelos inquiridos enquadrados na classe de rendimento mais baixo.

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Figura 37: Cruzamento entre “classes de rendimento” e perceção sobre evasão fiscal
Fonte: Elaboração própria

Quanto ao sentimento dos inquiridos relativamente ao pagamento de impostos, observa-se que


os que se inserem na classe de rendimento mais elevado são os que mais indicam sentir que
contribuem com algo, diminuindo a percentagem de inquiridos que selecionam essa afirmação
à medida que a classe de rendimento contempla valores mais baixos. Sentido inverso regista a
opção pela afirmação “algo que é meu é-me retirado”, sendo os inquiridos que se inserem na
classe de rendimento mais baixa a optar mais por essa afirmação, seguidos pelos da classe de
rendimento intermédia.

Figura 38: Cruzamento entre “classes de rendimento” e sentimento relativo ao pagamento de impostos
Fonte: Elaboração própria

Já no que concerne ao ter pensado preencher incorretamente a declaração de rendimentos, são


os inquiridos que dispõe de um rendimento mensal bruto mais elevado que mais indicam já o
ter feito, sendo os que recebem menos a indicar pensar menos nessa possibilidade.

Página 68
Figura 39: Cruzamento entre “classes de rendimento” e ter pensado incumprir obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

O mesmo sucede na resposta à questão 4.5., sendo os inquiridos enquadrados na classe de


rendimento mais elevada que mais indicam já ter preenchido incorretamente a sua declaração
de rendimentos de forma a pagar menos imposto ou receber mais reembolso, diminuindo essa
percentagem à medida que a classe de rendimento contempla rendimentos mais baixos.

Figura 40: Cruzamento entre “classes de rendimento” e ter incumprido obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

Quadro 9: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável “Rendimento”
(classes de rendimento)
Fonte: Elaboração própria
Página 69
Do resultado do teste de Qui-Quadrado extrai-se que a perspetiva relativamente ao pagamento
de impostos, o pensar preencher incorretamente a declaração de rendimentos e o efetivo
preenchimento incorreto da declaração de rendimentos não são independentes da classe de
rendimentos dos inquiridos.

4.2.6. Crença

Dado que a crença dos indivíduos também é apontada como um fator a analisar no âmbito do
estudo do que influencia a tomada de decisão quanto ao cumprimento, ou incumprimento, das
obrigações fiscais (McGee, 2009), cruzou-se, também, o facto de os inquiridos serem ou não
crentes com as quatro questões previamente indicadas.35
Recorda-se que, independentemente de participarem, ou não em serviços religiosos, 65,7%
dos inquiridos indicaram considerar-se pessoas crentes e 34,3% dos inquiridos consideram-se
pessoas não crentes.
No que respeita à questão 2.3., verifica-se que não se registam diferenças significativas
relativamente à perspetiva sobre a evasão fiscal entre crentes e não crentes, verificando-se,
inclusive, que a percentagem de inquiridos a considerar a evasão fiscal sempre justificável é
superior no grupo de inquiridos crentes.

Figura 41: Cruzamento entre “crença” e perceção sobre evasão fiscal


Fonte: Elaboração própria

35
No estudo de McGee (2009) é utilizada a frequência com que os inquiridos participam em serviços religiosos.
Na presente investigação optou-se pela análise exclusivamente em função de o inquirido ser ou não crente.
Página 70
Quanto ao sentimento relativamente ao pagamento de impostos, nota-se que os inquiridos que
se consideram crentes indicam mais sentir que contribuem com algo ao pagar os impostos.

Figura 42: Cruzamento entre “crença” e sentimento relativo ao pagamento de impostos


Fonte: Elaboração própria

Nas últimas duas questões em análise, não se verificam diferenças significativas entre as
respostas dos inquiridos que se consideram crentes e os que se consideram não crentes.

Figura 43: Cruzamento entre “crença” e ter pensado incumprir obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

Ainda assim, a percentagem de inquiridos a indicar ter pensado preencher incorretamente a


declaração de rendimentos e a percentagem de inquiridos que indica já ter preenchido
incorretamente a declaração de rendimentos são ligeiramente superiores no grupo de
inquiridos não crentes.

Página 71
Figura 44: Cruzamento entre “crença” e ter incumprido obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

Quadro 10: Resultado do teste de Qui-Quadrado nos cruzamentos efetuados com a variável “Crença”
Fonte: Elaboração própria

Os resultados do teste Qui-Quadrado indicam que as quatro variáveis em análise são


independentes de o facto de os inquiridos serem ou não crentes.

4.3. Análise fatorial exploratória

Após uma análise descritiva e do cruzamento de algumas variáveis, procede-se a uma análise
fatorial exploratória. Esta consiste numa “técnica de análise exploratória de dados que tem por
objetivo descobrir e analisar a estrutura de um conjunto de variáveis interrelacionadas de
modo a construir uma escala de medida para fatores (intrínsecos) que de alguma forma (mais
ou menos explícita) controlam as variáveis originais” (Marôco, 2014, p. 471).
Na presente investigação utilizou-se o método de extração das componentes principais e foi
seguido o critério de remoção dos itens com saturação fatorial inferior a 0,5.
Para verificar se a análise fatorial efetuada é viável, ou seja, se as “correlações entre as
variáveis originais são elevadas o suficiente para que a análise fatorial tenha utilidade na
Página 72
estimação de fatores comuns” (Marôco, 2014, p. 476), utilizou-se a medida da adequação da
amostragem de Kaiser-Meyer-Olkin, que se trata de “uma medida da homogeneidade das
variáveis, que compara as correlações simples com as correlações parciais observadas entre as
variáveis” (Marôco, 2014, p. 477).
Procurando assim a agregação dos dados em fatores homogéneos, realizou-se uma análise
fatorial formulando-se a seguinte hipótese: Existem fatores associados à decisão de optar
por um comportamento de cumprimento ou incumprimento das obrigações fiscais.
No quadro seguinte apresenta-se a solução fatorial encontrada, composta por oito fatores, que
explicam 66,87% da variância das respostas. Acresce que o valor da medida da adequação da
amostragem de Kaiser-Meyer-Olkin resultante desta análise situa-se nos 0,870, que, de acordo
com a adjetivação proposta por Marôco (2014) garante uma recomendação “Boa”
relativamente à análise fatorial. 36 Após a análise de cada um dos itens que compõe os fatores
encontrados, estes últimos foram nomeados do seguinte modo:

36
A recomendação designada como “Boa” aplica-se aos valores de KMO situados entre os 0,8 e os 0,9.
Página 73
Método de extração: Análise das Componentes Principais. Kaiser-Meyer-Olkin = 0,870; 2 = 8966,533; df =
703; sig. = 0,000.

* A este campo foram retiradas as variáveis com pesos factoriais (em valor absoluto) inferiores a 0,5.

Quadro 11: Fatores associados à decisão de cumprir, ou não, as obrigações fiscais


Fonte: Elaboração própria

Os fatores extraídos, renomeados por nós, levam-nos a considerar que existem uma série de
aspectos que podem condicionar a decisão de optar por um comportamento de cumprimento

Página 74
ou incumprimento das obrigações fiscais. Realça-se que não só as afirmações associadas à
motivação forçada e à motivação comprometida se consubstanciaram em fatores, mas também
a perceção dos inquiridos relativamente à intenção de cumprimento, do ponto de vista
administrativo, a relação com a AT, a perceção quanto à função fiscalizadora da AT, ao poder
da AT e a determinados comportamentos de cidadania considerados inaceitáveis.

Página 75
Capítulo 5 – Discussão de resultados

Uma vez expostos e analisados os resultados no capítulo anterior, e considerando a


proposição geral inicialmente levantada, pode-se comprovar que esta se verifica, já que os
inquiridos manifestam diferentes motivações aquando do pagamento dos seus impostos. Em
termos gerais, tem-se que 58% dos inquiridos parecem ser movidos por uma motivação
intrínseca, considerada como motivação comprometida, 16% dos inquiridos cumprem as suas
obrigações com base numa motivação voluntária, extrínseca, em que esperam um retorno em
função do pagamento de impostos e 26% dos inquiridos caracterizam-se por manifestar uma
motivação forçada, também extrínseca, ao sentirem que algo que é seu lhes é retirado quando
pagam impostos.
Quanto às subproposições, importa notar que a subproposição “1. As mulheres
demonstram opor-se mais à evasão fiscal que os homens” não se verifica, ao contrário do que
se observa na maior parte dos estudos analisados tais como no de Poço et al., 2015, Sá, 2016,
ou McGee, 2006b.
Na realidade, e não obstante o teste ao Qui-Quadrado ter revelado que a perceção
relativamente à evasão fiscal não é independente do sexo dos inquiridos, a percentagem de
inquiridos do sexo masculino que considera que a evasão fiscal é sempre injustificável é de
68,5%, enquanto a de inquiridos do sexo feminino é de 58,6%.
Assim, surpreendentemente, os resultados desta investigação aproximam-se dos dois estudos
citados por McGee (Barnett & Karson, 1987 e Weeks et al., 1999 como citado em McGee
2006b) nos quais os homens revelam menor aceitabilidade da evasão fiscal que as mulheres.
Relativamente à subproposição “2. Os cidadãos correspondentes a faixas etárias mais
elevadas demonstram mais motivação intrínseca no cumprimento das suas obrigações fiscais
do que os cidadãos de faixas etárias mais jovens” nota-se que esta se verifica, à semelhança
do que sucede nos trabalhos revistos no âmbito desta investigação (como em Pereira, 2015,
Sá, 2016, ou Gangl, 2013).
Efetivamente, da análise ao resultado do teste de Qui-Quadrado verifica-se que a perspetiva
relativamente ao pagamento de impostos não é independente da classe de idades em que se
inserem os inquiridos, sendo a classe de idade acima de 50 anos a que mais considera que
contribui com algo, diminuindo a percentagem de inquiridos que deram essa resposta à
medida que a classe de idade contempla idades mais baixas.
Página 76
A subproposição “3. Existe uma relação entre a perceção dos cidadãos relativamente à
evasão fiscal e as respetivas habilitações literárias” não se verifica, confirmando-se os
resultados de outras investigações segundo os quais o nível de escolaridade completo pelos
inquiridos parece conduzir a resultados ambíguos já que, se por um lado um nível de
escolaridade mais elevado está associado a um melhor conhecimento do sistema fiscal e dos
seus fins, por outro também pode estar associado a um maior conhecimento das lacunas do
sistema, o que poderá contribuir para a eventual prática de elisão ou evasão fiscais, como
constatado em Sá, 2016, McGee, 2006b e Torgler, 2006.
O resultado do teste de Qui-Quadrado evidencia, assim, que as duas variáveis em causa são
independentes uma da outra.
Já a subproposição “4. Os funcionários do setor público demonstram mais motivação
intrínseca ao pagarem os seus impostos que os funcionários do sector privado” verifica-se, já
que no que respeita ao sentimento relativamente ao pagamento de impostos, os que mais
sentem que contribuem com algo são os reformados, seguidos pelos trabalhadores por conta
de outrem no setor publico, salientando-se em Sá, 2016, Saad, 2012, e Sandmo, 2004 que a
situação profissional do contribuinte pode estar relacionada com a sua perspetiva
relativamente ao pagamento de impostos e perceção sobre evasão fiscal, embora não
incidindo sobre os funcionários do setor público em particular.
A análise com recurso ao Qui-Quadrado permite afirmar que a perspetiva relativamente ao
pagamento de impostos não é independente da situação profissional dos inquiridos.
Quanto à subproposição “5. Os cidadãos com rendimentos mais baixos consideram a evasão
fiscal mais inaceitável que os cidadãos com rendimentos mais elevados” nota-se que esta não
se verifica, uma vez que são os inquiridos com um rendimento mensal bruto mais elevado
que mais consideram que a evasão fiscal é sempre injustificável, diminuindo a percentagem
de inquiridos que escolhe essa afirmação à medida que o rendimento mensal bruto diminui, o
que parece contrariar a ideia veiculada em Alm & Torgler, 2004, McGee, 2006b e Pereira,
2015. Não obstante, o resultado do teste de Qui-Quadrado evidencia que as duas variáveis em
causa são independentes uma da outra.
Por último, relativamente à subproposição “6. Existe uma relação entre a crença religiosa e
as motivações associadas ao cumprimento fiscal” apurou-se que esta não se verifica,
considerando que os resultados do teste Qui-Quadrado indicam que a perspetiva relativamente
ao pagamento de impostos é independente de o facto de os inquiridos serem ou não crentes.
Este resultado impossibilita-nos de considerar que a religiosidade se encontra associada a uma
Página 77
menor aceitação da evasão fiscal, ao contrário do sugerido por Sá, 2016, Torgler &
Schaltegger, 2006, ou Pereira, 2015.

Quadro 12: Subproposições e proposição geral da investigação e respetivas conclusões


Fonte: Elaboração própria

Quanto a outros resultados alcançados através do presente estudo, nota-se que, à semelhança
do verificado pelas autoridades fiscais irlandesas (Irlanda, 2013), parece existir alguma falta
de consciência cívica relativamente à importância que o cumprimento das obrigações fiscais
representa, já que, por exemplo, deitar lixo para o chão ou utilizar um transporte público sem
um bilhete válido são comportamentos considerados muito mais inaceitáveis que adquirir
serviços sabendo que o rendimento deles resultante não será declarado à AT. Contudo, os
resultados das duas investigações diferiram noutros aspetos, já que apenas 27,7% dos
inquiridos no presente estudo discordam ou discordam totalmente com a afirmação de que a
evasão fiscal deliberada é considerada aceitável pela sociedade portuguesa, enquanto a
percentagem de inquiridos do estudo irlandês que discordam com esta afirmação
correspondeu a 56%. Também a perceção relativa ao poder da AT denota diferenças nos dois
estudos, já que 60% dos inquiridos do estudo irlandês concordam com a afirmação de que as
autoridades fiscais são capazes de detetar quem não paga o montante certo de imposto, e que
na presente investigação apenas 38,6% dos inquiridos concordaram com essa afirmação.
Relativamente à perceção dos inquiridos perante a evasão fiscal, para sensivelmente 63% dos
inquiridos a evasão fiscal é sempre injustificável, o que significa que para 36% a
aceitabilidade desta prática depende das circunstâncias ou é sempre aceitável. Estes resultados
encontram-se em sintonia com os obtidos por Poço et al. (2015), que apuraram que a evasão
Página 78
fiscal, em Portugal, é justificável em determinadas circunstâncias, ou sempre justificável, para
36,57% dos seus inquiridos. Já no estudo de Sá (2016), 44,46% dos inquiridos consideram
que nunca se justifica o não pagamento de impostos devidos, caso se deparem com essa
oportunidade37.
Quanto às intenções de cumprimento dos inquiridos, salienta-se que pese embora a
esmagadora maioria dos inquiridos considere ser de extrema importância para a AT o
cumprimento dos prazos estabelecidos para o cumprimento de obrigações fiscais e que as
declarações de rendimentos sejam o mais exatas possível, cerca de 20% dos inquiridos
concordam com a ideia de que podem existir circunstâncias em que o preenchimento das suas
declarações possa ser incorreto, de forma a que sejam beneficiados.
Mas os resultados são ainda menos animadores quando nos debruçamos sobre a perceção da
confiança na AT e sobre a perceção do seu poder. Como referido anteriormente, apenas
30,4% dos inquiridos considera que a AT trata os contribuintes com respeito, 17,4% que a AT
seja justa ao arrecadar os impostos e 25,1% que a AT inspira confiança. Por sua vez, apenas
38,7% dos inquiridos pensa que a AT tem amplos poderes para forçar os cidadãos a pagar os
impostos devidos, 28,2% que a AT é capaz de descobrir qualquer ato de evasão fiscal e 15,9%
que a AT combate a criminalidade fiscal de forma eficiente. Perante estes resultados,
confirma-se o concluído por Poço et al. (2015) quanto ao facto de o receio de poder a vir a ser
descoberto pelas autoridades fiscais não se apresentar como um elemento dissuasor da prática
da evasão e fraude fiscais em Portugal.
Passando ao que motiva os inquiridos a cumprir as suas obrigações fiscais, verificou-se que o
facto de tal resultar da Lei, o receio de serem sujeitos a coima em caso do pagamento tardio
de impostos e o facto de os impostos serem utilizados para o pagamento de serviços públicos
são o que mais contribui para o cumprimento.
Recorrendo ao conjunto de afirmações propostas por Gangl et al. (2015) para aferir as
motivações dos inquiridos no âmbito da evasão fiscal, apurou-se que o conjunto de
afirmações que registou maior concordância é o associado à motivação comprometida, o que
é positivo. Essa tendência é confirmada através das respostas registadas à questão 4.3. do
questionário, relacionada com o sentimento associado ao pagamento de impostos.

37
No trabalho de McGee (2006b), com base em dados 1999-2002 do The Human Beliefs and Values Survey
citados em Inglehart et al., 2004, os dados recolhidos para Portugal indicam que 55% dos respondentes
consideram a prática de evasão fiscal “nunca justificável”, valor idêntico ao da média de resposta nos 33 países
em análise (54,9%).
Página 79
Nesta senda, no que concerne à moral tributária, importa notar que, em Portugal, esta tem
registado uma tendência crescente, já que se em 1990 esta se situava nos 39,4%, em 2008
encontrava-se nos 59% (Sá, 2016; Torgler & Schneider, 2005 como citado em Sá, 2016),
podendo-se considerar que na nossa investigação se situa nos 58%.
Importa ainda notar que quase um quinto dos inquiridos admitiu já ter pensado em preencher
incorretamente a sua declaração de rendimentos e que 7% dos mesmos afirmaram já ter
preenchido incorretamente a declaração de rendimentos de forma a pagar menos imposto ou
receber mais reembolso.
Quanto aos resultados obtidos através da análise fatorial, importa notar que o facto de o
questionário utilizado no presente trabalho não ter sido integralmente realizado noutros
estudos impossibilita a realização de uma análise comparativa.
Conforme previamente referido, a solução fatorial encontrada compõe-se por oito fatores que,
em maior ou menor medida, podem condicionar a decisão de optar por um comportamento de
cumprimento ou incumprimento das obrigações fiscais.

Quadro 13: Súmula dos fatores associados à decisão de cumprir, ou não, as obrigações fiscais
Fonte: Elaboração própria

Evidenciados os resultados obtidos através desta investigação, conclui-se que a maior parte
dos contribuintes se caracteriza por posturas motivacionais que refletem uma atitude positiva.
Perante este cenário, o desafio colocado às autoridades fiscais é ser entendida como orientada
para o serviço através da educação dos seus “clientes”, ajudando-os na manutenção dos

Página 80
registos, aumentando a conveniência na submissão das declarações de rendimentos, dando-
lhes acesso a informação, e explicando as opções que têm à escolha (Braithwaite 2009 citado
por Gangl et al., 2013). Neste âmbito destaca-se a abordagem do plano inclinado
escorregadio, que sugere que as autoridades que são entendidas como orientadas para o
serviço verificam um maior grau de cumprimento voluntário por parte dos contribuintes e que
cooperar com os contribuintes é melhor que forçá-los a cumprir (Gangl et. al., 2013)

Página 81
Capítulo 6 – Conclusão

Uma vez trilhado o percurso a que nos propusemos com a presente investigação importa tecer
algumas considerações sobre os resultados alcançados, sobre a sua utilidade para o domínio
da Gestão e Políticas Públicas, as limitações identificadas e eventuais possibilidades de estudo
para o futuro.
Quanto aos resultados, importa reter que embora para sensivelmente 63% dos inquiridos a
evasão fiscal seja sempre injustificável, para cerca de 36% a aceitabilidade desta prática
depende das circunstâncias. Perante este resultado, não é surpreendente que a Economia Não-
Registada, em Portugal, se estime rondar os 26,81% do PIB e que parte da população adote
comportamentos de incumprimento fiscal.
Relativamente às relações institucionais, e não obstante os esforços empregues pela AT para
simplificar procedimentos e se aproximar dos contribuintes registados nos últimos anos,
verifica-se que a confiança nesta instituição se encontra muito abaixo do que seria desejável, o
que, como já referido, pode ter efeitos negativos no momento da decisão sobre o
comportamento a adotar pelos contribuintes.
No que toca às motivações para o cumprimento das obrigações fiscais, efetivamente, a maior
parte dos inquiridos manifesta uma atitude positiva, quando 58% dos inquiridos sentem
contribuir com algo no momento do pagamento de impostos. Porém, mais de um quarto dos
inquiridos indica sentir que algo que é seu lhes é retirado, o que demonstra que mais de um
quarto destes contribuintes se caracteriza por uma motivação forçada, que, mediante
determinadas circunstâncias poderá, mais facilmente, resvalar para situações de
incumprimento.
Deste modo, e no que concerne à utilidade da investigação no âmbito da Gestão e Políticas
Públicas, reconhece-se a importância, especialmente para os decisores políticos, de conhecer
o que motiva o comportamento de cumprimento das obrigações fiscais por parte dos
contribuintes, já que esse conhecimento se pode revestir de utilidade para o delinear de
estratégias apropriadas (sejam elas de educação fiscal ou programas de simplificação) para o
aumento dos níveis de cumprimento. Como propõem Muehlbacher et al. (2011), essa
informação poderá ser fundamental para o estabelecimento de um clima sinergético em que
autoridades e cidadãos interajam de forma mutuamente aceite e produtiva, devendo ser esse o
fim último das administrações fiscais.

Página 82
Assim, o conhecimento do que motiva os contribuintes a cumprirem as suas obrigações fiscais
poderá ser fundamental para se poder contemplar a adoção de abordagens como a do plano
inclinado escorregadio, que propõe a utilização de medidas adaptadas à motivação
demonstrada pelo contribuinte como meio para o aumento dos níveis de cumprimento das
obrigações fiscais.
No que respeita às limitações da investigação, e começando pelo método de recolha de dados
selecionado, salienta-se que a principal vantagem dos questionários se prende com a sua
conveniência e possibilidade de inclusão de variáveis relacionadas com atitudes que não se
encontram disponíveis nas declarações de rendimentos e na informação das auditorias,
reconhecendo-se como possível desvantagem o facto de as respostas recolhidas se basearem
em autorretratos, podendo não retratar o fenómeno na sua totalidade (Andreoni et al. 1998
como citado em Molero & Pujol, 2012, Kirchler & Wahl, 2010). Assim, como Gangl et al.
(2013) dispõem sobre este tipo de trabalhos, a principal limitação deste estudo poderá
relacionar-se com o facto de as respostas obtidas poderem não refletir os comportamentos
reais dos inquiridos, mas sim esforços no sentido de alcançar aprovação social. Com o intuito
de minimizar esta possibilidade, relembra-se que os questionários foram preenchidos
digitalmente, de forma anónima, e que grande parte dos inquiridos selecionou respostas que se
poderão considerar como socialmente indesejáveis, pelo que podemos presumir que o efeito
de enviesamento possa ser relativamente reduzido.
Outra limitação, e a que está na base da sugestão de trabalho futuro apontada, prende-se com
o facto de a amostra não ser representativa da população portuguesa, salientando-se que seria
interessante a elaboração de um estudo sobre as motivações dos contribuintes portugueses
para cumprirem as suas obrigações fiscais com recurso a uma amostra representativa e que
contemplasse um maior número de inquiridos.
Ainda assim, considera-se que com o presente estudo se obtiveram dados empíricos válidos e
relevantes, que demonstram que há ainda um caminho a trilhar no que toca à perceção dos
contribuintes sobre a importância dos impostos e respetivas motivações associadas ao
cumprimento das obrigações fiscais, esperando-se que esta investigação possa vir a inspirar
futuros trabalhos sobre este tema.

Página 83
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century-new-jersey/

Página 89
Anexo

 Questionário sobre os factores motivacionais do incumprimento fiscal

Página 90
Questionário sobre os factores motivacionais do incumprimento fiscal

Este questionário faz parte da investigação em curso no âmbito de uma dissertação de Mestrado em Gestão e Políticas
Públicas, leccionado no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas – Universidade de Lisboa.
Garante-se que todas as respostas ao questionário são completamente anónimas e confidenciais e que o seu tratamento
será feito de forma agregada, impedindo qualquer possibilidade de identificação individual.
Agradecemos que leia atentamente as instruções antes de preencher cada parte do questionário e indicamos que não
existem respostas corretas ou incorrectas importando sim recolher a sua opinião sobre cada um dos tópicos do
questionário.
Para efeitos do presente estudo deve entender-se como cumprimento das obrigações fiscais o cumprimento das obrigações
que se encontram previstas na legislação portuguesa, nomeadamente no Código do Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Singulares e demais Códigos Tributários.

 Se nos últimos dois anos entregou, ou entregaram por si, pelo menos uma declaração de rendimentos
(relativa a rendimentos obtidos em 2016 ou 2017), por favor preencha o questionário que se segue.
 Se não tiver entregado uma declaração de rendimentos nos dois últimos anos agradecemos a
disponibilidade para colaborar mas não preencha o presente questionário.

1 – Dados sociodemográficos

1.1. Sexo
Feminino Masculino

1.2. Nacionalidade
Portuguesa Outra Qual__________

1.3. Idade
_______

1.4. Nível de escolaridade completo


Sem nível de escolaridade completo
Ensino Básico 1.º Ciclo
Ensino Básico 2.º Ciclo
Ensino Básico 3.º Ciclo
Ensino Secundário
Licenciatura
Mestrado
Doutoramento

1.5. Situação profissional


Estudante
Trabalhador por conta de outrem no setor privado
Trabalhador por conta própria
Trabalhador por conta de outrem no setor público

Página 91
Reformado
Desempregado ou sem atividade profissional

1.6. Rendimento
Qual o intervalo em que se enquadra o seu rendimento mensal bruto?
Até 580 euros
Entre 581 e 1160 euros
Entre 1161 e 1740 euros
Entre 1741 e 2320 euros
Entre 2321 e 2900 euros
Entre 2901 e 3480 euros
Acima de 3480 euros

1.7. Independentemente de participar, ou não, em serviços religiosos (como missas, etc.), diria que:
É uma pessoa crente Não é uma pessoa crente

1.8. Caso tenha respondido afirmativamente à questão anterior, em qual das religiões se enquadra?
Católica
Protestante
Ortodoxa
Outra Cristã
Judaica
Muçulmana
Outras _____________

1.9. Aquando da entrega da declaração anual de rendimentos tem a expectativa de ter de fazer um
pagamento adicional de impostos ou a expectativa de receber algum reembolso por parte da
Autoridade Tributária e Aduaneira?
Costumo ter a expectativa de fazer um pagamento adicional
Costumo ter a expectativa de receber um reembolso
Costumo ter a expectativa de não ter de pagar mais impostos

2 – Comportamentos de cidadania

2.1. Em que medida concorda ou discorda com os seguintes comportamentos? Para cada uma das
seguintes afirmações por favor seleccione se: Concorda totalmente (CT)/Concorda (C)/ Nem
concorda nem discorda (N)/ Discorda (D) / Discorda totalmente (DT)

CT C N D DT
1. Conduzir enquanto usa um telemóvel sem utilizar um kit mãos-livres.
2. Utilizar deduções/solicitar reembolsos à Autoridade Tributária e
Aduaneira a que não tem direito.
3. Deitar lixo para o chão.
4. Utilizar um transporte público sem um bilhete válido.
5. Não pagar deliberadamente os impostos que deve pagar.
6. Adquirir serviços sabendo que o rendimento deles resultante não será
declarado à Autoridade Tributária e Aduaneira.
7.Utilizar canais de TV Cabo sem pagar a devida licença.
8.Reivindicar benefícios sociais junto do Instituto de Segurança Social

Página 92
sabendo que não tem direito aos mesmos.
9.Evitar pagar impostos legalmente, utilizando lacunas na legislação.
10. Comprar intencionalmente bens que foram roubados
11. Comprar intencionalmente produtos contrafeitos/falsificados (por
exemplo roupa, malas, CD’s ou DVD’s).
12. Comprar bens no estrangeiro e, quando estes ultrapassem o limite
até ao qual estão isentos de imposto, não os declarar à Autoridade
Tributária e Aduaneira aquando do regresso a Portugal.
13. Declarar algum rendimento, mas não todo, aquando da entrega da
declaração de rendimentos anual.

2.2. Em que medida concorda ou discorda com as seguintes afirmações? Para cada uma das
seguintes afirmações por favor seleccione se: Concorda totalmente (CT)/Concorda (C)/ Nem
concorda nem discorda (N)/ Discorda (D) / Discorda totalmente (DT)

CT C N D DT
1. A evasão fiscal deliberada é considerada aceitável pela sociedade
portuguesa.
2. Aqueles que evitam pagar impostos repetidamente deviam receber
uma sentença de prisão.
3. A Autoridade Tributária e Aduaneira foi bem sucedida ao lidar com a
evasão fiscal nos últimos 5 anos.
4. Quanto mais bem sucedida a Autoridade Tributária e Aduaneira for a
lidar com quem pratica evasão fiscal menos provável será que os
cidadãos tentem praticar evasão fiscal.
5. A evasão fiscal deliberada está a aumentar.
6. É responsabilidade cívica de cada contribuinte pagar os seus impostos
corretamente.
7. A evasão fiscal deliberada é um crime menor.
8. A Autoridade Tributária e Aduaneira é capaz de detectar quem não
paga o montante certo de imposto.
9. Poucas pessoas relatam todos os seus rendimentos à Autoridade
Tributária e Aduaneira.

2.3. Qual das seguintes afirmações se aproxima mais do seu ponto de vista relativamente à evasão
fiscal?

É sempre justificável
Depende das circunstâncias
É sempre injustificável

3 – Relações com as instituições

3.1. Em que medida concorda ou discorda com as seguintes afirmações? Para cada uma das
seguintes afirmações por favor seleccione se: Concorda totalmente (CT)/Concorda (C)/ Nem
concorda nem discorda (N)/ Discorda (D) / Discorda totalmente (DT)

CT C N D DT
1. É importante a Autoridade Tributária e Aduaneira receber as
declarações de rendimento dentro dos prazos estabelecidos
2. É importante a Autoridade Tributária e Aduaneira receber uma
Página 93
declaração de rendimentos o mais exata possível da parte dos
contribuintes
3. É importante que no caso de ter de pagar imposto após a entrega da
declaração de rendimentos a Autoridade Tributária e Aduaneira receba o
pagamento dentro do prazo estabelecido
4. Podem existir circunstâncias em que possa introduzir deduções
inexistentes (de forma a ser beneficiado) na minha declaração de
rendimentos
5. Podem existir circunstâncias em que possa não declarar todos os
rendimentos na minha declaração de rendimentos

3.2. Em que medida concorda ou discorda com as seguintes afirmações? Para cada uma das
seguintes afirmações por favor seleccione se: Concorda totalmente (CT)/ Concorda (C)/ Nem
concorda nem discorda (N)/ Discorda (D) / Discorda totalmente (DT)

CT C N D DT
1. A Autoridade Tributária e Aduaneira trata os contribuintes de forma
respeitosa.
2. A Autoridade Tributária e Aduaneira é justa ao arrecadar os impostos.
3. A Autoridade Tributária e Aduaneira inspira confiança.
4. A Autoridade Tributária e Aduaneira tem amplos poderes para forçar os
cidadãos a serem honestos em relação aos impostos que devem pagar.
5. A Autoridade Tributária e Aduaneira é capaz de descobrir praticamente
qualquer ato de evasão fiscal que ocorra devido ao seu conhecimento
especializado.
6. A Autoridade Tributária e Aduaneira combate a criminalidade fiscal em
Portugal de forma eficiente.

4 – Motivação e cumprimento fiscal

4.1. Em que medida concorda ou discorda com as seguintes afirmações? Para cada uma das
seguintes afirmações por favor seleccione se: Concorda totalmente (CT)/ Concorda (C)/ Nem
concorda nem discorda (N)/ Discorda (D) / Discorda totalmente (DT)

CT C N D DT
1. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o por preocupação de
que a Autoridade Tributária entre em contacto comigo relativamente à
minha situação tributária.
2. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o por sentir que a
Autoridade Tributária trata todos os contribuintes de forma justa.
3. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o porque os impostos
são utilizados para o pagamento de serviços públicos.
4. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o por receio de que o
meu nome seja publicado na Lista de Devedores publicada no Portal das
Finanças.
5. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o porque é a Lei.
6. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o por preocupação de
que alguém me possa denunciar.
7. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o por ter a crença de
que os outros contribuintes declaram os seus rendimentos e pagam os seus
impostos de forma honesta.
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8. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o pelo receio de pagar
coimas caso pague tardiamente os impostos devidos.
9. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o por saber que a
Autoridade Tributária pode receber informação sobre mim a partir de outras
entidades.
10. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o por receio de que
venha a ser julgado.
11. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o por receio de ser
auditado pela Autoridade Tributária.
12. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o porque a Autoridade
Tributária faz com que seja fácil pagar os impostos.
13. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o porque não tenho
oportunidade de “fugir” dos impostos sobre o meu salário.

4.2. Em que medida concorda ou discorda com as seguintes afirmações? Para cada uma das
seguintes afirmações por favor seleccione se: Concorda totalmente (CT)/ Concorda (C)/ Nem
concorda nem discorda (N)/ Discorda (D) / Discorda totalmente (DT)

CT C N D DT
1. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o porque são realizadas
muitas auditorias fiscais.
2. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o porque sei que serei
auditado pela Autoridade Tributária e Aduaneira.
3. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o porque sei que a
Autoridade Tributária e Aduaneira realiza auditorias frequentemente.
4. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais faço-o porque me sinto
forçado a pagar os meus impostos.
5. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais sinto que a autoridade fiscal
provavelmente retribuirá a minha cooperação.
6. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais sinto que a Autoridade
Tributária e Aduaneira me trata correctamente desde que eu assuma os
meus eventuais erros.
7. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais sinto que a Autoridade
Tributária e Aduaneira apoia os contribuintes que errem de forma não
intencional.
8. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais sinto que é mais fácil fazê-lo
do que enganar a Autoridade Tributária e Aduaneira.
9. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais sinto que é a coisa certa a
fazer.
10. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais sinto que o faço em prol do
bem comum.
11. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais sinto que tenho uma
obrigação moral em os pagar.
12. Quando cumpro as minhas obrigações fiscais sinto que é um importante
dever cívico.

4.3. Qual das seguintes frases caracteriza melhor o que sente quanto ao pagamento de impostos?

Algo que é meu é-me retirado


Eu abdico de algo
Eu contribuo com algo

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4.4. Alguma vez pensou em preencher incorrectamente a sua declaração de rendimentos de forma a
pagar menos imposto ou receber mais reembolso?

Sim
Não
4.5. Alguma vez preencheu incorrectamente a sua declaração de rendimentos de forma a pagar
menos imposto ou receber mais reembolso?

Sim
Não

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