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27 de Setembro de 2011
1.
O conceito de Hipergamia não é facilmente encontrado na Biologia, mas sim na
Sociologia. O Dicionário de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas o define
exclusivamente centrado em casamentos no sistema de castas indiano, admitindo a baixa
precisão do conceito ao afirmar:
A. Hipergamia designa a forma de matrimônio em que uma
mulher de status inferior se casa com um homem de status mais elevado. Não se deve entender
hipergamia como categoria sociológica fundamental em si mesma, nem como simples forma de
matrimônio, mas em relação a uma teoria de estratificação social.
Mais adiante, no entanto,
após discorrer sobre o sistema de castas indiano, explica:
C. A instituição da hipergamia deu
origem a uma série de especulações e explicações, mas não surgiu nenhuma teoria coerente e
autorizada. Em primeiro lugar, parece não haver nenhuma explicação estrutural satisfatória
para o fato de serem as uniões hipergâmicas encorajadas e aprovadas, enquanto as uniões
hipogâmicas são condenadas quase universalmente na Índia. Dicionário de Ciências Sociais.
FGV. Rio de Janeiro, 1987.
Como frequentemente ocorre, a Psicologia explica com facilidade o
mesmo conceito quando este é trazido a luz da Biologia Evolutiva.
2.
Desses alarmes, chamou-me atenção o de uma blogueira americana que tem sido
bastante repetido, dizendo:
A vida não é justa. Estar vivo não te qualifica a fazer qualquer
coisa. As mulheres estão promovendo sua própria queda com comportamentos egoístas e visão
de curto prazo. O homens são maiores, mais fortes e mais violentos que elas. No último meio
século nosso sistema legal agiu por fora de seus interesses, e eles sofreram a maior parte do
choque econômico na mais recente "recessão". Uma "contra revolução" (backlash) está
chegando. O pêndulo está começando a voltar. O que você está fazendo para se preparar para
isso? grerp The Lost Art of Self-Preservation (for Women) Embora eu não concorde com parte do
enunciado, perturbou-me a parte grifada. Esse backlash poderá mesmo acontecer? Ou já está
acontecendo? A julgar pelo recrudescimento de posições conservadoras e reacionárias em boa
parte do mundo ocidental, parece haver motivos para preocupação.
3.
E até difícil achar abordagens acadêmicas, principalmente feministas, sobre o tema,
exceto no sentido sociológico tradicional. Mas os anti-feministas tem feito largo uso do conceito,
e devido à grande capacidade do termo expandido em sintetizar diversas idéias, inclusive
algumas de puro senso comum, num denominador único, sugerem que essa palavra tem
potencial para constituir noções e memes cognitivamente poderosos.
4.
Tem havido uma notável dicotomia entre Feminismo e Anti-Feminismo, o primeiro
influenciado pelo Determinismo Cultural,
o segundo pelo Biológico ou por tradições teológicas
conservadoras, que têm a notável convergência de sustentar uma
natureza humana inata,
negada pelos culturalistas. Isso tem gerado tremendo desentendimento, e também uma
situação
inusitada entre os anti-feministas. Como a maior parte da reação conservadora é de
origem religiosa, esta oscila entre
abraçar ou rejeitar a Psicologia Evolucionista. Hora a
incorporando para justificar posturas androcentristas, hora a
rejeitando para não entrar em
conflito com o viés Criacionista da tradição conservadora. O exemplo mais dramático que
conheço é o de um certo site lusitano que, ferrenhamente anti-feminista e anti-esquerdista,
sendo vítima da incrível confusão histórica entre darwinismo e marxismo, acaba flertando com
o anti-darwinismo. Porém é entusiasta do conceito de Hipergamia, quase impossível de ser
desassociado do darwinismo. (O
link comenta um post de uma blogueira que, confessando sua
preferência pelos Alfas Tipo 2, confirma praticamente tudo o que eu digo em Hipergamia II -
Atração Imoral, mas sem usar o termo Hipergamia, que é, porém, usado pelo anti-feminista que
faz a crítica.)
5.
Há tentativas de diálogo entre Psicologia Evolutiva e Feminismo, apesar do patológico
ódio que muitas feministas nutrem
por qualquer conhecimento advindo da Biologia. Ótimos
exemplos são
Feminists And Darwin: Scientists Try Closing the Gap, matéria de 1994, faz um
resumo sobre uma conferência
na Universidade Norte Americana da Georgia. Apesar da boa
intenção e disposição, há que se notar nesse texto uma
aparente e absoluta ausência de
prevenção contra a confusão entre Descrição e Prescrição, o que pode muito tem ter
efeito
absolutamente oposto ao pretendido. Por outro lado
EVOLUTIONARY FEMINIST THEORY -
Female Intrasexual Competition: Toward an Evolutionary Feminist Theory
talvez seja o mais
conciso texto na web sobre o assunto, de 2007. Aborda praticamente todos os pontos chaves,
desde a denúnca da falácia naturalista, cujo uso irresponsável culminou na rejeição feminista
precipitada à
Psicologia Evolutiva, até a exortação de que uma melhor abordagem da
superação da desigualdade entre os sexos deve
levar em conta suas causas fundamentais, que
estão impressas geneticamente em nossa espécie.
Também esboça os critérios avaliativos para
testar a eficiência de teorias, apontando devidamente as falhas do ponto
de partida
essencialmente sociológico do feminismo, e suas referências são as mais competentes possíveis.
Porém, por ser um tanto introdutório, acaba sendo um pouco resumido em alguns pontos
importantes, e penso que poderia
se apresentar de um modo mais adequado para quem
pretende conquistar um público ferozmente avesso à suas características
essenciais, visto que
só explicita sua propensão a edificiar uma nova frente sexualmente equalitária mais adiante,
após expor pontos que frequentemente fazem leituras feministas evadirem-se. É altamente
recomendável também o livro
de
Griet Vandermassen, filósofa que escreveu
Who's Afraid of
Charles Darwin? - Debating Feminism and Evolutionary Theory, possivelmente a mais
proeminente obra sobre o assunto.
Hipergamia I
ENSAIOS
Atração Fatal