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Escola Portuguesa de Luanda

Centro de Ensino de Língua Portuguesa


Português- 9.º ano

Ficha informativa - A Crónica

A crónica é um comentário noticioso de factos, que vive do quotidiano, mas não


visa a informação. Pode ser uma espécie de narração de acontecimentos, uma
apreciação de situações ou, na definição tradicional, assumir-se como relato histórico.
Antigamente, crónica era um relato histórico ou uma narração de factos
históricos redigida segundo a ordem do tempo (a palavra grega cronos significa tempo;
e em latim chronica dizia-se da narrativa de factos de acordo com o decorrer dos
tempos), daí a atribuição na época medieval da designação 'crónica' à narração de factos
históricos de uma determinada época ou reinado, sendo que o sentido de crónica
equivale, pois, nesta época, ao de história ou relato historiográfico.
Até Fernão Lopes, a crónica não vai muito além da recompilação de registos
anteriores que remetem muitas das vezes para um antepassado comum, a Crónica Geral
de Espanha de Alfonso X, composta por volta de 1270, onde o compilador fizera
concorrer todo o material que permitisse reconstituir a história peninsular desde as
origens, independentemente da sua proveniência: textos de autores latinos clássicos,
historiadores e geógrafos árabes, cantares de gesta, cantares jogralescos, cronicões,
lendas, registos genealógicos, etc. Esta obra fundadora da historiografia peninsular seria
o ponto de referência de numerosas refundições, adaptações e continuações, entre as
quais se inscreve a Crónica Geral de Espanha de 1344, a mais antiga compilação histórica
em língua portuguesa.
A partir de Fernão Lopes, com as crónicas de D. Pedro, D. Fernando e D. João I, o registo
cronístico decorre menos de uma refundição do que de uma investigação original e crítica, que
seleciona e revê os documentos que deverão concorrer para o relato histórico, que reconstitui
a sociedade portuguesa num panorama mais amplo e dinâmico.

Fernão Lopes, Crónica de D. João I (Adaptado)

CAPÍTULO XI - Do alvoroço que houve na cidade cuidando que matavam o mestre e como lá
foi Álvaro Pais e muitas gentes com ele.
"O pagem do Mestre começou a ir a galope em cima do cavalo em que estava,
dizendo a altas vozes, bradando pela rua: - Matam o Mestre! Matam o mestre nos paços da
rainha. Acudi ao Mestre que o matam!
[...] As gentes que isto ouviam, saíam à rua a ver que cousa era. E, começando a falar
uns com os outros, alvoroçava-se-lhes o coração, e começavam a tomar armas cada um
como melhor e mais depressa podia.
A gente começou a juntar-se a ele, e era tanta que era estranha cousa de ver. Não
cabiam pelas ruas principais e atravessavam lugares escusos, desejando cada um ser o
primeiro. E perguntando uns aos outros quem matava o Mestre [...] Unidos num só desejo
foram às portas do paço que estavam já fechadas e começaram a dizer:
- Onde mataram o Mestre? Que é do Mestre? Quem fechou estas portas?
De cima não faltava quem dissesse que o Mestre era vivo e o conde de Andeiro
morto. Mas isto não queria nenhum crer, dizendo:
- Pois se é vivo, mostrai-no-lo e vê-lo-emos!
[...] Ali se mostrou o Mestre a uma grande janela que vinha sobre a rua e disse:
- Amigos: pacificai-vos, porque eu vivo e são estou, graças a Deus!
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A crónica moderna (crónica de imprensa) é, muitas vezes, uma apreciação crítica, um
comentário ou uma narração de acontecimentos reais ou imaginários, a que se exige
oportunidade e carácter pessoal; alterna a subjetividade literária com o relato dos factos.

Na crónica, há uma história sobre factos do quotidiano, que servem de motivo para a
construção do texto criativo, onde se permitem liberdades literárias, com o recurso às
potencialidades estéticas da linguagem.

Atualmente, a crónica é redigida para ser publicada num órgão de comunicação social,
o que condiciona as suas propriedades. Deve, por isso, ser curta e leve para não agredir o
descanso do leitor; deve evitar os raciocínios e análises complicadas; deve ser lúdica, capaz de
seduzir e deleitar o leitor, fazendo-o relaxar depois de ler os problemas que afligem o mundo;
e deve incidir em temáticas atuais.

Quanto a aspetos como personagens, tempo e espaço, as personagens apresentadas


nas crónicas são em número reduzido e não têm, geralmente, uma descrição psicológica
profunda e correspondem, muitas vezes, a pessoas reais. A tendência do tratamento do espaço
e do tempo segue a lógica de breves instantes e num único lugar.

Dado que o objetivo de uma crónica é analisar as circunstâncias de um facto, o desfecho


é praticamente inexistente.

A linguagem deve ser simples e clara. É utilizada frequentemente uma linguagem


coloquial, que permite aproximar o leitor do facto quotidiano que está a ser relatado, analisado.

Características da crónica (síntese:

- abordagem de temas do quotidiano numa perspetiva pessoal;

- crítica sobre a vida e comportamentos humanos;

- coloquialidade da linguagem (simples e clara), como se estivesse a falar com o leitor.

A professora,

Ana Quelhas Rodrigues

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