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Casais ricos do Amapá driblam Lei da Adoção e tiram crianças de famílias pobres com apoio do
judiciário
Nayara Felizardo
No início de março, eles levaram a filha de Jéssica para casa por meio
do programa de apadrinhamento. Ela deveria voltar para o abrigo no
dia 6, mas, já no dia 7, o casal pediu a guarda da menina. Eles alega-
ram que ela estava doente e precisava ser incluída no convênio médi-
co da família. Ainda tentaram culpar Jéssica pelos problemas que a
bebê apresentou no pulmão – mas ela já estava no abrigo há seis me-
ses e havia sido apadrinhada por outra família nesse período.
Ao pedir a guarda, o casal disse estar ciente de que a menina não esta-
va disponível para adoção, mas que isso não importava, “pois tudo o
que querem é proporcionar ao infante tudo o que puderem de me-
lhor, além de amor e cuidados incondicionais”. O argumento foi sufi-
ciente para convencer o juiz Roberval Pantoja Pacheco, que deu a
guarda da criança ao casal no mesmo dia.
O irmão de Jéssica, de 10
anos, que foi levado para o
abrigo com os filhos da dia-
‘Perder as esperanças
rista e as irmãs dela de 13 e e esquecer minha
14 anos, já estava com uma própria filha porque as
tia desde fevereiro de 2019.
A mãe dele havia concorda-
pessoas que estavam
do em entregar a guarda do com ela tinham mais
menino à irmã, pois assim dinheiro que eu’.
Quando conversei com Jéssica por telefone sobre o caso, ela me con-
tou que, em uma das vezes em que foi ao abrigo, uma funcionária lhe
disse para “perder as esperanças e esquecer minha própria filha por-
que as pessoas que estavam com ela tinham mais dinheiro que eu”.
Como assessora de gabinete de um desembargador, Adriana ganha
cerca de R$ 10 mil por mês. Muito diferente da situação financeira de
Jéssica, que sustentava os filhos com cerca de R$ 400 que ganhava
como diarista, mais a renda do companheiro, de R$ 2 mil.
Ilustração: Matheus Santa Cruz para o The Intercept Brasil
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