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DEFINIÇÃO
A Doença de Chagas é uma antropozoonose causada pelo Trypanosoma cruzi, protozoário flagelado que pode causar
doença aguda ou crônica com reativação em função de condições de imunodepressão. Essa infecção é adquirida pelo
homem por meio do vetor triatomíneo hematófogo, também conhecido como barbeiro, tendo muita relevância os
encontrados no meio domiciliar.
A forma crônica da doença é uma miocardiopatia dilatada em que a inflamação causa destruição tissular e fibrose
extensa no coração.
EPIDEMIOLOGIA
Segundo a OMS, existem cerca de 6 a 7 milhões de pessoas infectadas por esse protozoário, sendo endêmica em 22
países da América Latina devido às condições favoráveis encontradas. Dessa estimativa, cerca de 1 milhão dos casos Comentado [ABPM1]: Na América Latina encontra-se
são brasileiros. o vetor, nos outros continentes não.
Dentre os países da iniciativa Países do Cone do Sul, os que mais se destacam em número de infectados são,
respectivamente, Argentina, Brasil, México e Bolívia.
Apesar de ser típico de zona rural, tem se tornado comum no âmbito urbano em razão de fatores como desmatamento
e êxodo rural.
FISIOPATOLOGIA
TRANSMISSÃO
A transmissão vetorial que se dá pelas fezes do barbeiro e podem infectar pela picada, coceira ou pela boca. O que
contribui para que essa forma de transmissão seja a principal são as casas de pau a pique ou de taipa que são mal
iluminadas e possuem rachaduras que favorecem a reprodução dos triatomíneos.
Na transmissão oral, exemplos clássico ocorrem quando o barbeiro contaminado é encontrado junto ao açaí e à cana
de açúcar no momento da sua preparação. Esse fato tornou a transmissão oral numa das principais formas de
contaminação.
A transmissão congênita, também chama de vertical, é a que se dá entre a mãe e o feto que pode ocorrer durante o
parto ou na gestação
As tripomastigotas invadem
inicialmente os fagócitos,
sendo, sofrendo um
processo semelhante à
fagocitose e depois viram
amastigotas quando estão
dentro do vacúolo
parasitóforo (fagossomo).
Antes de serem digeridas
pelas enzimas dos
lisossomos, elas liberam
substâncias que rompem o
vacúlo parasitóforo.
QUADRO CLÍNICO
A doença possui 2 fases:
Alterações reversíveis de origem inflamatória que acometem os 3 folhetos do coração. Infiltrado mononuclear em
múltiplos focos, sendo constituídos em geral por linfócitos T, macrófagos e alguns neutrófilos, além disso, pode
encontrar ninhos de amastigotas entre as fibras do miocárdio.
Fase crônica:
• A forma indeterminada é aquela que se segue à fase aguda, aparente ou não, em que o indivíduo permanece
assintomático. Retrata 70% dos casos, tendo uma duração variável que pode estender-se por alguns meses
ou muitos anos, até o final da vida do paciente.
• A indeterminada pode evoluir (o que ocorre em geral 10 a 20 anos após a aguda) para a formas sintomáticas,
as quais são a cardíaca, digestiva ou mista/cardiodigestiva.
Forma cardíaca:
A perda dos cardiomiócitos e a sua substituição por tecido fibrótico altera a estrutura e função do miocárdio, Comentado [ABPM4]: microcirculação
resultando em mau funcionamento do sincício eletrofisiológico e predispondo:
✓ Insuficiência cardíaca congestiva
✓ Alterações eletrocardiográficas típicas como o bloqueio completo do ramo direito e, frequentemente, o
hemibloqueio anterior esquerdo
✓ Taquiarritmias ventriculares Comentado [ABPM5]: Relacionadas com os distúrbios
✓ Cardiomegalia no SNA
✓ Trombos
Forma digestiva
Destruição dos plexos nervosos ao longo do trato digestivo produz alterações funcionais e morfológicas
principalmente no esôfago, no cólon ou ambos. As manifestações clínicas mais comuns são aquelas Comentado [ABPM6]: Afeta o peristaltismo, havendo
associadas ao megaesôfago (disfagia, regurgitação, dor epigástrica) e o megacólon (constipação intestinal acúmulo de fezes e levando a megacólon e
crônica, distensão abdominal). mesaesôfago
Comentado [ABPM7]: Aumento do risco de câncer de
Nos pacientes imunossuprimidos, pode desenvolver a forma cerebral, que é caracterizada pelo acometimento esôfago, disfagia progressiva, dificuldade na aspiração
do SNC, observa-se meningoencefalite que pode se assemelhar a um quadro de toxoplasmose. pulmonar, odinofagia, hipersalivação
Cardiomiopatia chagásica: ECG alterado, função ventricular normal, área cardíaca normal ao exame por raio-
x, exame físico normal e assintomático.
Na fase crônica, o diagnóstico laboratorial se dá por testes de alta sensibilidade (ELISA com antígeno total ou frações
semipurificadas ou IFI) e outro de alta especificidade (ELISA, utilizando antígenos recombinantes específicos do T.
cruzi).
Xenodiagnóstico:
basicamente, o
inseto modificado é
colocado em
contado com o
paciente para que
haja a picada. A
partir disso, faz-se
uma análise das
fezes do
triatomíneo em
busca do
protozoário.
Nos exames
sorológicos busca-
se avaliar o
quantitativo de
anticorpos.
• ECG
As alterações são marcadas por retardos transitórios ou fixos da condução atrioventricular, da condução no
ramo direito, alterações da repolarização ventricular e ectopias ventriculares. Comentado [ABPM8]: Batimentos que ocorrem fora do
Típico: BRD e BDA ritmo sinusal (fora do ritmo normal).
• Radiografia
Cardiomegalia, acompanhada de congestão venosa sistêmica, derrame pleural e pericárdico. Essas
características contrastam com a não congestão pulmonar.
• Ecocardiograma
Dilatação das cavidades atriais e ventriculares
Hipocinesia (diminuição da contratilidade cardíaca) difusa e biventricular
Lesão apical do VE que é caracterizada por destruição do miocárdio na região afetada e a sua substituição por
trombo, o que torna a parede cardíaca mais delgada.
• Exames sorológicos
Ensaio imunoenzimático (ELISA), imunofluorescência indireta (IFI) e hemaglutinação indireta (HAI). O
diagnóstico é feito com pelo menos 2 desses testes.
TRATAMENTO
Principal droga parasiticida é o Benzonidazol, sendo usada na fase aguda assim que identificada a doença e na fase Comentado [ABPM9]: 5 mg/kg/ dia divididos em duas
crônica quando o paciente é assintomático e com exames sem alterações ou em formas clínicas iniciais. Entretanto, ou três doses) por 60 dias
na fase crônica, é necessário associar a outros medicamentos, como antifúngicos e alopurinal, para tratamento dos
sintomas.
O nifurtimox, que pode ser utilizado na dose de 8 a 10 mg/kg/dia (adultos) ou 15 mg/kg/dia (crianças) por 60 a 90 dias,
encontra-se atualmente fora do mercado nacional.
O tratamento medicamentoso específico da cardiopatia chagásica deve seguir as diretrizes para o tratamento da IC,
quando há fração de ejeção reduzida, com o uso de IECAs, espironolactona, betabloqueador e diuréticos. O tratamento
cirúrgico é indicado para pacientes com IC congestiva refratária, para implante de aparelhos de estimulação ventricular
multissítio, transplante cardíaco e terapia celular – células tronco (ainda em perspectiva).
PREVENÇÃO
A eliminação dos vetores é feita com a borrifação regular de domicílios sabidamente infestados por triatomíneos. Os
ciclos de borrifação são feitos a cada 12 meses até a completa erradicação de colônias intradomiciliares de
triatomíneos.
A prevenção da transmissão transfusional requer a triagem sorológica dos doadores de sangue na rede de
hemocentros e bancos de sangue, diretamente fiscalizados pelo Ministério da Saúde. O sangue de doadores com
resultado positivo ou duvidoso deve ser descartado.
A prevenção oral deve ser feita por meio de educação em saúde pública sobre a higiene com os alimentos.
http://www.rbac.org.br/artigos/doenca-de-chagas-uma-atualizacao-bibliografica/