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Será que as crenças religiosas e as práticas culturais enraizadas em algumas

comunidades justificam a prática da Mutilação Genital Feminina?

Introdução
A mutilação genital feminina (MGF) consiste em “todas as intervenções que envolvam
a remoção, total ou parcial, dos órgãos genitais externos das mulheres ou provoquem quaisquer
danos aos mesmos, seja por razões culturais ou não terapêuticas”.
Neste ensaio iremos abordar o tema da MGF, tentando perceber o que está na sua
origem, as suas consequências, e as razões pelas quais se torna importante combater
eficazmente esta prática que já é executada há milhares de anos, mas que só recentemente
adquiriu visibilidade.
Ela é claramente um problema social que assenta em questões de descriminação com
base no género e é uma forma de violência contra as mulheres.
Sobre este tema, há quem defenda a sua prática por questões religiosas e culturais, não
reconhecendo o caráter nefasto e até criminoso da mesma, julgando-a socialmente adequada.
Mas há também quem defenda a tese oposta, ou seja que a mesma dever ser abolida, uma vez
que estes procedimentos violam os direitos e a dignidade da pessoa e colocam em risco a vida
de milhares de raparigas e mulheres submetidas a ela.
Em defesa da segunda tese, proponho-me demonstrar as implicações e malefícios desta
prática para a saúde de milhares de mulheres, e justificar as razões pelas quais defendo que a
mesma deve ser abolida, justificando-se neste caso uma restrição do direito fundamental à
cultura e liberdade religiosa.

Desenvolvimento
Sobre esta questão, há duas posições opostas: os que defendem a sua prática e que
entendem que a mesma deve ser preservada, e os que defendem a tese oposta e que se propõem
combatê-la.
Em defesa da primeira tese, começo por chamar a atenção para a longa tradição desta
prática, que tem sido executada um pouco por todo o mundo há milhares de anos.
Alguns argumentos a favor da prática da MGF estão associados a fatores socioculturais,
que se prendem com as tradições e costumes de algumas comunidades, sendo as mais comuns:
as crenças religiosas, aceitação social, a preservação da castidade, da moralidade e da
virgindade das raparigas. Em algumas culturas ela é também considerada como um ritual de
passagem à vida adulta e um pré-requisito para o casamento.
Ela é vista também como uma prática cultural que deve ser preservada.
Importa ainda salientar que nas comunidades onde é praticada, a mulher que não é
submetida ao corte é considerada impura e vítima de exclusão social.
A favor da tese oposta, defendo a eliminação da MGF, na medida em esta prática
constitui uma violação grave dos direitos humanos e reflete a desigualdade entre os sexos,
evidenciando a discriminação contra as mulheres.
Outro argumento a favor é que ela não traz qualquer vantagem para a mulher que é
sujeita a esta prática, mas resulta em consequências físicas e danos psicológicos que perduram
ao longo de toda a vida, e em severas limitações sua à sexualidade e saúde.
Para além do impacto físico e psicológico, argumento ainda que a MGF manifesta-se
também ao nível da consciência social, o que leva a que muitas meninas e mulheres só aceitem
submeter-se a esta prática por temerem a rejeição por parte da comunidade onde estão inseridas
e até mesmo da sua família.

Conclusão
Pesando os argumentos a favor e contra a MGF, não temos dúvidas de estamos perante
uma tradição cultural, mas não é por isso que deixa de representar, simultaneamente, uma forma
de violência contra as mulheres e uma grave violação aos direitos humanos.
Não há dúvidas de que as crenças religiosas e o direito à cultura devem ser respeitados,
no entanto, entendo que é inaceitável que os direitos da mulher à integridade física e mental, à
liberdade, à não discriminação e à saúde sejam afetados em nome de razões meramente
religiosas e culturais.
Dito isto, não defendo a supressão do direito fundamental à cultura, entendo apenas que
não pode, nem deve ser admitida esta forma de expressão cultural, que põe em causa a
dignidade humana.
Concluo, tendo em conta os argumentos que apresentei, que apesar de se tratar de uma
tradição cultural generalizada em muitas comunidades, esta prática vai contra os direitos e a
dignidade da pessoa humana, deixando marcas nas suas vítimas para toda a vida. Por esses
motivos defendo que a MGF deve ser abolida, tratando-se de uma violação dos direitos da
mulher.

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