Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Parte Um
A oração
1 Constituência
(figura)
frase
palavra
letra
(figura)
frase
palavra
1
letra
(figura)
frase
palavra
letra
Não é uma frase muito comum, em inglês moderno; mas é reconhecível como a
resposta para “Who killed Cock Robin?” (“Quem matou Cock Robin?”).
frase
sub-frase
palavra
letra
2
simples e funcional de todos, para parágrafo – frase – unidade com dois pontos –
unidade com vírgula – palavra – letra, que é mais complexo mas também dá conta
de mais fatos. Todos eles seriam possíveis representações da ESTRUTURA
CONSTITUINTE de um texto escrito.
Esse tipo de análise de constituintes é geralmente conhecido como
PARENTETIZAÇÃO; e a estrutura constituinte pode ser mostrada de forma
igualmente eficiente através do uso de parênteses, colchetes e chaves:
frase
unidade com dois pontos
unidade com vírgula
palavra
letra
Mesmo um sistema escrito que não seja alfabético exibirá uma estrutura
constituinte definida, embora as unidades sejam diferentes daquelas do inglês ou
do russo. Na Figura 1-8 há caracteres, mas não há letras nem palavras.
Quando a escrita surgiu, através do mapeamento gradual de pictogramas
sobre palavras, tomou a forma de cadeias simples de símbolos. Mas em seus
estágios iniciais, todos os sistemas de escrita desenvolveram algum tipo de
estrutura constituinte; e isso nos diz algo sobre a natureza da própria linguagem.
3
Se o discurso pode ser representado adequadamente por seqüências de símbolos
escritos organizados dessa forma em hierarquias de constituintes, é razoável
assumir que a linguagem é inerentemente organizada dessa maneira. Isso não
quer dizer, é claro, que essa é a única forma de organização na linguagem, ou
que seja necessariamente a mais fundamental; poderia ser meramente o modo de
organização que é mais imediatamente observável, ou aquele que é mais
facilmente adaptado a outros sistemas simbólicos. Mas é provável que a idéia de
constituência exerça algum papel em qualquer interpretação geral dos padrões da
linguagem.
frase
unidade com vírgula
palavra
letra
frase
unidade com dois pontos
unidade com vírgula
caractere
(The North Wind is blowing, snow fills the sky; where can I go, where can I fly?)
[O vento norte sopra, a neve enche o céu; para onde posso ir, para onde posso
voar?]
4
Na linguagem escrita, pudemos observar a estrutura constituinte apresentada
no próprio sistema escrito: no modo através do qual a ortografia é organizada em
hierarquias de unidades escritas. A organização é apresentada visualmente por
uma estrutura de sinais; em inglês [português], eles assumem a forma de sinais
de pontuação, caixa alta (uso de maiúsculas) e espaçamento. Poderíamos
esperar, dessa forma, que na linguagem oral, o sistema de sons apresente algum
tipo semelhante de estrutura constituinte; e isso realmente ocorre.
Você está, é claro, lendo esses versos; eles estão em um livro, e eu tenho de
apresentá-los aqui por escrito. Os versos mostram todas as características da
estrutura constituinte escrita que já observamos – além disso, com outra forma de
constituência superposta, a do poema escrito: ele é organizado em versos. Mas
leia-o em voz alta; ou, melhor ainda, peça a uma criança ainda não alfabetizada
que o declame para você, para evitar a imposição de quaisquer convenções
artificiais na leitura dos versos escritos. Você ouvirá o ritmo e a linha melódica.
1.3 Ritmo: o pé
5
If I put it in my batter,
It will make the batter bitter...
6
Retomaremos esse assunto no capítulo 8. O ponto relevante aqui é que essa
progressão rítmica representa uma forma de constituência. O pé é um constituinte
do sistema de sons do inglês [português] – um constituinte da FONOLOGIA da
língua inglesa [portuguesa], em termos técnicos. O pé, na poesia, tem sua origem
no pé da língua falada. Mas há três fatores que devem ser levados em conta
quando comparamos os dois.
(1) Na fala natural, o número de sílabas no pé varia continuamente; pode haver
apenas uma (a sílaba tônica), ou pode haver duas, três, quatro, ou mesmo cinco
ou seis na fala com tempo rápido. Esse era, na verdade, o padrão adotado na
poesia em inglês antigo e no início do inglês médio (?); o verso possuía um
número definido de pés (tipicamente quatro), mas o número de sílabas no pé
poderia variar livremente. O pé métrico? fixo (rima fixa?) – isto é, o pé com um
número fixo de sílabas – estabeleceu-se na época de Chaucer, em vasta medida
através da influência do próprio Chaucer, e permaneceu como norma para a
poesia inglesa durante os cinco séculos seguintes. No século vinte, seu domínio
diminuiu, e a poesia começou a absorver uma nova tendência advinda da língua
falada - incluindo, nas últimas décadas, a influência de falantes de novas
variedades do inglês, cujos ritmos são bem diferentes daqueles dos falantes
nativos originais da língua inglesa .
(2) Parte da tradição da poesia métrica foi a análise das formas da poesia em
termos de MÉTRICA: a análise baseada no número de pés por verso, e no
número e na distribuição das sílabas no pé. Um verso poderia ter dois, três,
quatro, cinco ou seis (ocasionalmente sete ou oito) pés; o verso favorito, aquele
escolhido por Chaucer, Shakespeare, Milton, Pope e Keats, era o pentâmetro
(cinco pés). Um pé poderia ter duas, três ou quatro sílabas, mas, além disso,
poderia ser tanto ‘descendente’ como ‘ascendente’ – isto é, a sílaba tônica poderia
ocorrer tanto no início quanto no fim. Por exemplo, um pé de duas sílabas poderia
ser trocaico (forte + fraco) ou iâmbico (fraco + forte). Dos versos citados
anteriormente, Betty Botter é trocaico, ao passo que the world of apple pie and
ink é iâmbico.
Essa última distinção, entre ritmo descendente e ascendente, é um artefato do
verso métrico, explicando como o verso é organizado em pés; não é relevante
para o sistema de sons da língua inglesa. No inglês falado, a sílaba tônica sempre
ocorre no início do pé – o princípio por trás disso será explicado no capítulo 8; um
pé é, assim, como um travessão na música, definido como sendo iniciado pela
batida. O pé fonológico, portanto, diferentemente do pé métrico, constitui-se de
uma sílaba forte opcionalmente seguida de uma ou mais sílabas fracas. A
interpretação funcional dessa estrutura é:
Icto ( ^ Remiss)
7
silêncio é uma característica sistemática do ritmo do inglês falado; há muitas
ocorrências do que é geralmente chamado de ‘BATIDA SILENCIOSA’, na qual o
Icto está claramente presente no padrão de som (isto é, há uma batida), mas é
realizado na forma de silêncio – assim como um travessão poderia iniciar-se com
uma batida silenciosa na música. Assim, podemos ter um pé completamente
silencioso, e muitos dos metros padrão da poesia inglesa dependem disso; há,
na verdade, um pé silencioso no final do segundo e quarto versos de If all the
world was apple pie, como você pode confirmar batendo o tempo enquanto recita
o poema. No diálogo espontâneo, os falantes e ouvintes podem manter o tempo
durante pelo menos dois pés de silêncio total; e a batida silenciosa também exerce
um papel na gramática, ao marcar o contraste entre diferentes significados.
8
não há fronteiras claras entre seus constituintes. Sabemos quantos grupos tonais
e quantos pés existem em um determinado trecho de fala, e podemos dizer,
dentro de certos limites, onde cada um está localizado, mas não conseguimos
identificar um início e um fim exatos.
Podemos, a essa altura, perceber onde o ‘verso’ da poesia tem origem: é o
análogo métrico do grupo tonal. Em sua origem, um verso correspondia a um
grupo tonal de fala espontânea. Nas rimas infantis, essa correspondência é
geralmente mantida intacta; mas na poesia adulta é claro que isso não ocorre – ao
invés disso, serve como um motivo idealizado a partir do qual variações infinitas
podem ser feitas. Entretanto, vale a pena chamar a atenção para esse fato porque
ilustra a principal estratégia através da qual uma língua aumenta seu potencial de
significados. Primeiro, uma norma é estabelecida, pela qual duas características
são associadas; depois disso, elas se dissociam, para que cada uma possa variar
de maneira independente. Depois que o ‘verso’ da poesia se desenvolveu a partir
do grupo tonal, ele pôde adquirir vida própria, e novos significados puderam ser
construídos; por exemplo, através da divisão do verso em mais de um grupo tonal,
ou having the padrões de entoação cut right across aqueles estabelecidos pela
forma poética. Nos capítulos subseqüentes, apontarei outros exemplos desse tipo
de evolução semântica na gramática.
A questão sobre a existência de uma unidade de organização acima do grupo
tonal na fonologia da língua inglesa não é fácil de ser respondida. Podemos
analisá-la do ponto de vista da linguagem escrita. O constituinte escrito que deriva
do grupo tonal é o que chamamos de ‘sub-frase’, delimitada por vírgula ou dois
pontos. Será que o fato de elas poderem combinar-se para formar uma frase
escrita também deriva de algum padrão de organização mais alto no sistema de
sons? Se pensarmos novamente a respeito dos quatro versos da rima infantil,
veremos que realmente formam uma seqüência de grupos tonais relacionados,
iniciando com três que são semelhantes e finalizando com um cuja função é
claramente culminativa, com seu pitch final descendente recaindo sobre drink.
Tais grupos tonais formam uma espécie de ‘complexo de grupos tonais’, que é o
que está por trás da estrofe como um padrão mais alto de organização na poesia.
A importância dessa noção geral de ‘complexo’, como um tipo especial de
constituinte, será revelada ao longo da Parte II do livro. Nesse meio tempo, antes
que deixemos essas breves observações sobre fonologia para tratar de outro
assunto, abordaremos os constituintes fonológicos que ficam na outra ponta da
escala: aqueles que são menores do que o pé.
9
sílabas de palavras como colour ou basket, e as pessoas freqüentemente
discutem se palavras como chasm possuem uma sílaba ou duas (uma vez, assisti
a um jogo de charadas transformar-se em caos quando os jogadores começaram
a discutir se a palavra comfortable possuía três ou quatro sílabas). Mas o fato de
que a poesia inglesa acabou dependendo da contagem de sílabas significa que as
sílabas obviamente eram sentidas como coisas que podiam ser contadas; e,
novamente, a poesia infantil pode dar dicas: a palavra little em Little Bo-peep tem
de ter duas sílabas, por exemplo (ao passo que na canção Full fathom five thy
father lies (Teu pai está a cinco braças), da obra de Shakespeare A Tempestade,
a única coisa a fazer é considerar que fathom tenha apenas uma sílaba). Poemas
transformados em músicas também impõem um padrão silábico, embora não seja
sempre o mesmo que é exigido pelo metro.
Mas, apesar dessas incertezas, relacionadas a quantas sílabas há em uma
dada palavra, ou onde exatamente fica a fronteira, os falantes de inglês realmente
têm uma forte sensação de que a fala é formada por uma sucessão ininterrupta de
unidades silábicas. Podemos reconhecer em inglês uma série de constituintes
fonológicos: grupo tonal, pé e sílaba. O que pode ser encontrado, então – se é que
há alguma coisa – abaixo da sílaba?
Há muita controvérsia sobre isso na teoria fonológica, o que parece
relativamente estranho, considerando-se que, se há um fato óbvio sobre o sistema
escrito da língua inglesa é que ele consiste de letras, e as letras certamente
significam alguma coisa. Essa ‘coisa’ é chamada de FONEMA. O sistema escrito
do inglês não é ‘fonêmico’ se entendemos o termo como correspondência um-
para-um entre fonemas e letras; nunca poderia ser fonêmico nesse sentido,
porque os critérios para a identificação dos fonemas em inglês são contraditórios
internamente – o que é um único fonema de um ponto de vista pode ser dois
fonemas diferentes de outro. Mas tal sistema é claramente fonêmico em seu
princípio geral: os símbolos representam constituintes de sílabas, os quais
contrastam sistematicamente uns com os outros e formam estruturas com base na
distinção funcional entre consoante e vogal. Muitos de seus símbolos possuem
mais do que um valor fonêmico; alguns pares de letras devem ser tratados como
um só símbolo (como o th em thin, o sh em shin); e há vários outros desvios em
relação a um suposto ideal fonêmico, alguns deles sistemáticos, outros, aleatórios.
No entanto, a forma do sistema de escrita da língua inglesa revela
inequivocamente que os falantes de inglês reconhecem intuitivamente um
constituinte fonológico mínimo dessa natureza. O fato de não haver apenas uma
resposta correta para a pergunta “Quantos fonemas existem em inglês?”, e de não
haver certeza em relação a onde os fonemas começam e terminam, apenas os
coloca na mesma situação de todos os outros constituintes do sistema fonológico
– sílabas, pés e grupos tonais – e, pode-se acrescentar a isso, na mesma situação
da maioria dos outros fenômenos das línguas naturais.
Assim, é possível estabelecer uma hierarquia para os constituintes do
sistema de sons da língua inglesa (a fonologia) da mesma forma que isso é
possível para o sistema da escrita (a ortografia – ou ‘grafologia’, como tem sido
chamada com freqüência cada vez maior, substituindo o significado anterior do
termo). Minha intenção, aqui, não é propor uma análise de sílabas e fonemas;
levaria tempo demais, e não é necessária para os propósitos deste livro. Mas,
10
apenas para fins ilustrativos, apresento uma análise dos constituintes dos últimos
dois versos da estrofe da Betty Botter (Figura 1-9); em comparação a um pequeno
segmento extraído de fala adulta espontânea (Figura 1-10) – o falante disse: ‘Now
I’m a journalist, so I tend to take rather a different view’ (Agora sou jornalista, então
minha tendência é assumir uma posição diferente). No Capítulo 8, apresentarei
uma forma de transcrição que mostra a entonação e o ritmo da fala, mas usa a
ortografia comum para a grafia.
11
altas da frase e da sub-frase, há uma organização paralela em termos de estrofes
e versos.
Mas, em segundo lugar, como a escrita surgiu a partir do mapeamento de
símbolos visuais sobre um sistema preexistente de símbolos falados, é provável
que a estrutura constituinte que evoluiu na escrita foi um reflexo, ou uma
reconstrução, de padrões fonológicos generalizados. Assim, não causa surpresa
descobrir que o sistema de sons também é expresso como uma hierarquia de
constituintes – em inglês, grupo tonal, pé, sílaba e fonema; e que a mesma
relação geral que se aplica entre as unidades da grafologia, aplica-se entre essas
unidades. A construção gráfica da poesia, por sua vez, é um reflexo dos padrões
de sons que são superimpostosà fonologia da fala espontânea – regularidades na
construção das seqüências de grupos tonais, de grupos tonais e de pés.
Em terceiro lugar, contudo, tanto a escrita como a fala são modos de
EXPRESSÃO na linguagem. A escrita é, de certa maneira, uma parasita da fala;
mas ambas funcionam como a REALIZAÇÃO de padrões lingüísticos de um nível
mais alto: os padrões da GRAMÁTICA. Se as estruturas que encontramos no som
e na escrita são organizadas como hierarquias constituintes, é provável que isso,
por sua vez, reflita uma propriedade geral da gramática. A gramática é a unidade
processadora central da língua, a fonte de energia em que os significados são
criados; é praticamente inconcebível que os sistemas pelos quais esses
significados são expressos tenham evoluído de maneira diferente da própria
gramática. E, na verdade, a razão para começar, neste livro, com esses construtos
mais visíveis e audíveis é que eles servem como porta de entrada para o princípio
da constituência na gramática.
Em quarto lugar, as hierarquias de constituintes da fonologia e da grafologia
não apenas servem como analogias gerais para a gramática, mas também
ilustram um aspecto específico que se torna fundamental quando começamos a
investigar como a gramática cria significado. Esse é o princípio segundo o qual
unidades de diferentes categorias constroem padrões de tipos diferentes. Na
fonologia do inglês, por exemplo, o pé é a unidade do ritmo; é o constituinte que
regula o pulso da língua falada. Sua função é distinta da função das outras
unidades tanto abaixo como acima dele: da sílaba, que organiza as seqüências
articulatórias de vogais e consoantes, e do grupo tonal, que organiza o movimento
do pitch em padrões de entonação. Esse princípio – a especialização funcional de
unidades de categorias diferentes – também é um princípio básico de organização
da gramática.
Uma língua é um sistema semiótico complexo composto de múltiplos
NÍVEIS, ou CAMADAS (esses dois termos são freqüentemente usados como
sinônimos para esse conceito). A camada central, a essência interna da língua, é
a gramática. Para sermos precisos, entretanto, devemos chamá-la de
lexicogramática, pois ela inclui tanto a gramática como o vocabulário. A gramática
e o vocabulário são apenas pontas diferentes do mesmo contínuo – são o mesmo
fenômeno visto de perspectivas opostas. A gramática, nesse sentido mais amplo
de lexicogramática, é o nível do ‘fraseado’ em uma língua. O fraseado é expresso,
ou REALIZADO, na forma de som ou por escrito; portanto, os níveis da fonologia e
da grafologia servem como modos alternativos de expressão. Geralmente,
utilizamos a metáfora do espaço vertical e dizemos que a fonologia e a grafologia
12
são as camadas ‘abaixo’ da gramática. Ao mesmo tempo, o fraseado REALIZA
padrões de outro nível mais alto do que ele – mas ainda dentro do sistema da
língua: a camada da SEMÂNTICA. (Freqüentemente, referimo-nos a isso como
‘semântica do discurso’, para explicitar que é nesse nível que investigamos como
as unidades gramaticais formam o discurso.) Uma maneira de pensar em uma
gramática ‘funcional’, como é o caso da presente gramática, é que ela é uma
teoria da gramática orientada para a semântica do discurso. Em outras palavras,
quando dizemos que estamos interpretando a gramática funcionalmente, significa
que estamos colocando em primeiro plano seu papel como um recurso para
construir significados.
Conforme mencionado na Introdução, há várias versões diferentes da
gramática funcional – vários ‘modelos’ funcionais para explicar como a gramática
trabalha. O modelo utilizado neste livro é o da gramática SISTÊMICA
(freqüentemente referida como GSF – gramática sistêmico-funcional). Uma das
coisas que distingue a gramática sistêmica é que ela dá prioridade a relações
paradigmáticas: interpreta a língua não como um conjunto de estruturas, mas
como uma rede de SISTEMAS, ou conjuntos inter-relacionados de opções para
construir significados. Tais opções não são definidas com referência à estrutura;
são aspectos puramente abstratos, e a estrutura é o meio pelo qual elas são
concretizadas, ou ‘realizadas’. Quando apresentamos a gramática, portanto,
temos de tomar uma decisão: apresentamos primeiro as estruturas, que são mais
acessíveis – mais próximas da ‘superfície’ da língua – ou apresentamos primeiro
os sistemas, que são mais significativos, mas também mais ocultos? Neste livro,
escolhi o caminho via estrutura, e essa é a razão pela qual o termo ‘sistêmico’ não
foi incluído no título. Para uma explicação complementar do inglês em termos
sistêmicos, mas partindo da categoria do sistema, cf. Lexicogrammatical
Cartography, de Christian Matthiessen.
A constituência é uma forma de organização estrutural; em outras palavras,
é parte do mecanismo pelo qual os significados são concretizados. É um
dispositivo extremamente simples e ao mesmo tempo poderoso, pelo qual partes
formam todos, e estes, por sua vez, como partes, formam todos maiores, mas com
configurações orgânicas diferentes a cada passo. Sistemas de todos os tipos,
físicos, biológicos e sociais, assim como semióticos, utilizam a constituência como
recurso construcional. Mas, precisamente porque é um dispositivo tão poderoso, é
importante deixar claro que não é suficiente em si mesmo. Veremos, nos capítulos
3-5, quando considerarmos os diferentes tipos de significados que são construídos
na língua, que estes fazem uso da constituência para sua expressão de diferentes
maneiras e em graus diferentes. Quando se explora a língua de modo profundo, a
constituência gradualmente passa para o segundo plano, e as explicações
passam cada vez mais a envolver outros tipos mais abstratos de relações. Por
esse motivo, é essencial não conceber a língua como um estoque de estruturas,
cada uma organizada como um todo consistindo de algum arranjo ordenado de
partes. Uma língua é um recurso para criar significados, uma fonte de potencial de
significado que pode ser expandida indefinidamente; estrutura constituinte é um
dispositivo para mapear diferentes tipos de significado uns sobre os outros, e
codificá-los de forma concreta.
13
Mas usar metáforas como ‘mecanismo’ e ‘dispositivo’ para fazer referência
ao aspecto estrutural da língua não significa dizer que suas propriedades
estruturais são arbitrárias. Se descobri, como professor, ao longo dos anos, que
estrutura é um bom caminho para iniciar o estudo da gramática, é porque ela não
é arbitrária; existem razões que explicam por que tais hierarquias de constituintes
se desenvolveram. Elas evoluíram, como vimos, para formar o sistema da escrita,
o sistema de sons e a gramática. Tais sistemas estão todos inter-relacionados: a
sub-frase na escrita (e, como decorrência, o verso na poesia) relaciona-se ao
grupo tonal no sistema de sons, e ambos relacionam-se a uma unidade
constituinte na gramática, a ORAÇÃO. Ao mesmo tempo, cada um é independente
de todos os outros, já que está relacionado diretamente a algum aspecto do
processo semiótico; portanto, podem ser desconstruídos, deslocados e
realinhados de maneiras significativas. Pelo fato de a estrutura estar, por assim
dizer, na superfície da língua, pode ser manipulada com ótimos efeitos; mas pelo
fato de não ser arbitrária, essa manipulação contribui para a criação total de
sentido. De todos os sistemas humanos, a língua provavelmente é o que mais
possui espaço para manipulação. O problema que se coloca para o estudioso da
gramática é como descrever uma língua sem perder essa elasticidade na
descrição.
No Capítulo 2, passarei a tratar da gramática, utilizando a estrutura
constituinte como a porta de entrada. Isso levará ao conceito geral de funções na
gramática, e fará com que eu consiga começar especificando os domínios
particulares, as unidades estruturais, aos quais as configurações funcionais
podem ser atribuídas.
14
1
kind ness
A figura nos mostra que kindness [bondade = bom + dade] consiste de duas partes, kind
+ ness; e que, da mesma forma, oysters (ostras = ostra+s) consiste de duas partes, oyster
+ s.
Não teríamos chegado a esses resultados se tivéssemos analisado esses itens como
EXPRESSÕES escritas ou faladas. Se consideradas como expressões escritas, como
estávamos fazendo na Seção 1.1, kindness é uma palavra formada por oito letras, e
oysters é uma palavra formada por sete letras. Se consideradas como expressões faladas,
tanto kindness como oysters são formadas por duas sílabas; porém, kindness seria
analisada do ponto de vista silábico como kind + ness, que corresponde à sua análise
gramatical, enquanto que oysters certamente não seria analisada do ponto de vista
1
2
silábico como oyster + s. Sua composição silábica seria oys + ters, ou possivelmente oy
+ sters.
A análise gramatical trata os itens lingüísticos não como expressões, mas sim como
FORMAS. Simplificando: em termos gramaticais, estamos explorando a linguagem não
como som ou escrita, mas como fraseado. O sentido comum e habitual do termo
‘fraseado’, como em ‘Could you help me with the wording of this notice?’ (A tradução
desta frase para o português não incluiria a palavra ‘fraseado’! O que fazer?), refere-se
às palavras e estruturas que são usadas (em contraposição a pronúncia e ortografia);
assim, corresponde muito bem à GRAMÁTICA – que é mais precisamente chamada
‘léxicogramática’: ou seja, inclui tanto gramática, quanto vocabulário. Na verdade, as
denominações técnicas para as várias partes ou ‘níveis’ de linguagem correspondem
bem de perto àquelas reconhecidas na terminologia habitual da ‘lingüística
popular/folclórica’ (´folk linguistic´):
P18
fonologia
ortografia
ortografia)
gramática (‘léxicogramática’) “
semântica (‘semântica do discurso) “
Quando dizemos que gramaticalmente oysters é formada por oyster + s, queremos dizer
que é dessa maneira que suas partes são combinadas como um pedaço de fraseado. Da
mesma forma, kindness é formada por kind + ness, shining por shine + ing, largest por
large + est, wheelbarrow por wheel + barrow. Não há nada na escrita que mostre essa
estrutura; mas nós sabemos – porque entendemos inglês – que é dessa maneira que
essas palavras são construídas a partir de partes menores. Essas unidades menores são
denominadas MORFEMAS. Ver Quadro 2(1).
2
3
As formas separadas pela barra (por exemplo, y/i) são alternativas regulares (esse
morfema é grafado como y quando aparece no final da palavra; do contrário, como i).
Tais alternativas, em quaisquer dos níveis, são conhecidas como VARIANTES.
O grupo the eldest oyster é formado de três palavras; duas dessas palavras, the e oyster,
são formadas cada uma por um morfema, ao passo que a terceira, eldest, é formada por
dois, old/eld- e –est. A mesma informação é dada através da parentetização, na Figura
2-5.
P19
[inserir Fig. 2-3 Grupo e palavra]
3
4
P20
2.2 Parentetização máxima e mínima
[inserir Fig. 2-7 (a), (b), (c) Análises alternativas de constituintes gramaticais]
4
5
CONTITUINTE IMEDIATO (‘Análise CI’). Levada ao seu limite lógico, isso significa nunca
permitir mais do que dois elementos em um mesmo parêntese; análises semelhantes às
da Figura 2-7 (a) e (b), nas quais três ou mais elementos são parentetizados juntos,
seriam rejeitadas. A idéia por trás da análise CI é que existe sempre uma ordem lógica
na qual os elementos de qualquer fileira de palavras estão combinados, de maneira que,
por exemplo, the two queens deve ser interpretada ou como na Figura 2-8 (b) ou como
em (c), mas de maneira alguma como em 2-8 (a).
Uma abordagem mínima de parentetização, que pode ser referida como ANÁLISE DO
Com estruturas bem simples, a diferença entre as duas é relativamente sutil, como na
Figura 2-8; e cf. Figura 2-9.
P21
[inserir Fig. 2-8 Três versões de the two queens]
Mesmo aqui, como ficará evidente mais adiante, os diferentes tipos de parentetização
são sugestivos. Se pensamos nessa oração como uma informação, então a versão (b),
tigers climb + trees, sugere uma resposta à pergunta ‘What do tigers climb?’ ; ao passo
que a versão (c), tigers + climb trees sugere uma resposta a ‘What do tigers do?’ ou,
talvez, a ‘What climbs trees?’ A versão (a), tigers + climb + trees é mais neutra; ela
apenas sugere uma resposta a ‘What have you to tell me?’. Com itens mais longos, a
5
6
P22
veja o Capítulo 6, Seção 6.2 adiante) possui uma grande quantidade de estrutura interna
em si.
Na prática, isso significa que uma interpretação baseada na parentetização mínima, dado
um exemplo mais complexo, como na Figura 2-11, pareceria com a versão (a) dessa
figura; a versão (b), novamente, é um exemplo de parentetização máxima.
[inserir Fig. 2-11 parentetização mínima (a) e máxima (b): um exemplo mais complexo]
6
7
Em todo este livro, estaremos utilizando a parentetização mínima, uma vez que
adotamos uma orientação funcional. Os princípios detalhados tornar-se-ão explícitos
conforme a discussão for sendo desenvolvida. Mas já está claro que a diferença entre as
duas é uma diferença de tipo, e não apenas de grau. Se usamos parentetização máxima,
estamos assumindo que o conceito de parentetização é um recurso explanatório
poderoso; em outras palavras, estamos tentando explicar a gramática ao máximo em
termos de estrutura constituinte. Estamos fazendo o conceito de constituência trabalhar
bastante. Se usamos parentetização mínima, estamos relegando o conceito de
parentetização a um papel menos importante, fazendo com que a noção de constituência
nos leve apenas até um certo ponto na explicação da gramática, e nada além disso.
Obviamente, isso significa
P23
que temos de trazer outros conceitos para assumir a responsabilidade pelo fardo da
interpretação, nos momentos em que a estrutura constituinte não é mais relevante. Os
conceitos em questão são, em primeira instância, funcionais.
7
8
Isso define uma escala de NÍVEL para a gramática, semelhante às escalas de nível usadas
para a linguagem escrita e para a fala no Capítulo 1. A escala de nível proporciona a
base para a análise de constituintes do tipo ‘parentetização mínima’, em que cada
nódulo corresponde a uma unidade na escala de nível; essa é a razão pela qual nos
referimos a ela como análise de constituintes ‘em níveis’. As unidades de cada nível são
mostradas na Figura 2-12.
Agora podemos ver mais claramente a diferença entre os dois modos de parentetização.
A parentetização máxima diz respeito à ordem da composição das partes constituintes.
Expressa a idéia de que algumas construções são mais intimamente ligadas do que
outras, no sentido de que, dada uma estrutura gramatical, é possível especificar a ordem
na qual todas as partes se juntam, duas a duas. Assim, por exemplo, em 2-9 (c), o
significado é: ‘para formar a construção tigers climb trees, primeiro junte climb + trees
e depois tigers + climb trees.’
P24
8
9
Isso não diz nada a respeito da função que qualquer dos pedaços apresenta em qualquer
construção; na verdade, não implica que eles desempenham alguma função. Se
voltarmos à Figura 2-11 (b), nela encontramos nódulos (i.e. parênteses) representando
seqüências como been tying, ou two tall trees, ou has been tying his two tubs; mas essas
são fileiras de palavras que não figuram como unidades estruturais na estrutura dessa
frase em particular – sejamos ou não capazes de construir alguma outra frase na qual
isso aconteça. Isso se opõe ao princípio da parentetização mínima, que significa agrupar
como constituintes apenas as seqüências que realmente funcionam como unidades
estruturais no item em questão.
2.3 Rotulação
Isso é feito através da rotulação das partes - rotulação dos nódulos, caso queiramos
continuar com a metáfora da árvore. A estrutura é um todo orgânico, no qual os
diferentes elementos desempenham diferentes papéis. A rotulação é uma maneira de
indicar que papéis são esses. Por exemplo, em tall trees, tall funciona como um
Modificador e trees como Núcleo, como mostra a Figura 2-13.
9
10
P25
A parentetização indica que esses dois elementos formam uma estrutura; a rotulação
indica qual configuração de funções constitui a estrutura. Ao associarmos cada parte a
um rótulo funcional, explicamos seu valor em relação ao todo.
A parentetização é uma maneira de mostrar o quê se agrupa com quê: em que ordem
lógica (em oposição a seqüencial) os elementos de uma estrutura lingüística se
combinam. Não diz nada sobre a natureza ou a função dos elementos propriamente
ditos.
Rotular significa dar nome às coisas; assim, é uma maneira de se especificar o que esses
elementos são. O rótulo fornece algum tipo de definição das unidades que foram
identificadas como partes de um todo maior.
Como apontado no final da última seção, os rótulos usados na Figura 2-13 eram rótulos
que expressavam funções. Eles significam que tall está funcionando como Modificador
e trees está funcionando como Núcleo, na estrutura desse grupo em particular.
Ao invés de usar esses rótulos funcionais, poderíamos ter rotulado esse mesmo item em
termos de classes, como na Figura 2-14.
10
11
Muitos dos termos técnicos em lingüística que se tornaram familiares no uso diário são
rótulos gramaticais de um ou outro destes dois tipos: nomes de classes ou nomes de
funções. Termos como verbo, substantivo, adjetivo, advérbio, sintagma preposicional,
oração nominal, são nomes de classes. Termos como
Sujeito, Objeto, Complemento, Modificador, Auxiliar, são nomes de funções. Sempre
que possível, fizemos uso de termos gramaticais familiares – embora sempre se deva ter
em mente que eles podem ter sido redefinidos, em parte, para que se adequassem à
abordagem funcional. Além disso, nos capítulos seguintes, apresentaremos vários
termos que não são tão familiares e que serão definidos conforme formos prosseguindo.
A maioria desses novos termos, novamente, serão rótulos de funções gramaticais.
Se todos os membros de uma classe tivessem sempre uma e apenas uma função, o
conjunto de rótulos que usássemos não importaria. Poderíamos adotar a convenção de
sempre usar
P26
rótulos de apenas um tipo, sabendo que poderíamos derivar os outros a partir desses.
Mas não é assim que acontece. Para citar o que talvez seja o exemplo mais óbvio da
gramática diária, um membro da classe ‘substantivo’ pode funcionar tanto como Sujeito
quanto como Objeto, como na Figura 2-15. (Note-se que, na verdade, o termo ‘objeto’
não será usado nesta gramática em hipótese alguma. Trouxemo-lo aqui para fornecer
uma ilustração a partir de uma terminologia familiar.)
11
12
ou outro. A palavra tigers, por exemplo, é Sujeito na Figura 2-15 (a) e Objeto na 2-15
(b).
Esse descompasso entre classe e função às vezes causa ambigüidade. Considere, por
exemplo, Mary got the first prize: significa o prêmio que foi dado primeiro, ou o prêmio
mais importante? Em ambos os casos, a palavra first (primeiro) é membro da classe
‘numeral ordinal’, que também inclui second, third, fourth, etc. Mas sua função é
diferente nos dois casos. (i) No sentido ‘prêmio que foi dado primeiro’, first está
funcionando como um Numerativo, e contrasta não apenas com second, third, fourth,
fifth, etc., mas também com next e last. Nesse sentido, ele poderia vir precedido por
very, e.g. Mary got the very first prize that was ever awarded (very next, very last);
poderia vir seguido de uma expressão de tempo, e.g. Mary got the first prize of the day.
(ii) No sentido de ‘prêmio mais importante’, first está funcionando como um
Classificador, e o conjunto de possíveis itens com os quais ele está em contraste inclui
second e third; raramente inclui fourth, fifth etc., ou next ou last; mas inclui alguns
outros, como consolation e booby. First nesse sentido não pode ser precedido por very;
mas pode ser precedido por uma palavra indicando o escopo, como house; ou por uma
expressão de atitude, como coveted ou dreaded. (Ver Capítulo 6 para detalhes).
P27
parentetização usada – máxima ou mínima – e o tipo de rotulação usado – classes ou
funções. Isso pode ser explicado do seguinte modo: rótulos de classes são, por assim
12
13
dizer, parte do dicionário; eles indicam o potencial que a palavra, ou item, tem na
gramática da língua. Rótulos de funções são uma interpretação do texto; eles indicam o
papel que o item está desempenhando na estrutura que está sendo analisada. Assim, a
parentetização máxima gera um número grande de nódulos que podem ser rotulados
com base na classe, pois o item em questão poderia ocorrer como um elemento em
alguma construção, mas nenhuma função pode ser atribuída a ele no exemplo dado,
como na Figura 2-16.
[inserir Fig. 2-16 – Constituintes imediatos aos quais nenhuma função pode ser atribuída [(b) e (c)]]
O rótulo de classe ‘grupo nominal’ pode ser apropriadamente atribuído a todos os três
nódulos (a), (b) e (c): those two tall trees, two tall tress, e tall trees são membros típicos
da classe ‘grupo nominal’ em inglês. Mas (b) e (c) não apresentam função nesse
exemplo em particular; não podemos atribuir nenhuma função a tall trees quando esse
grupo faz parte da seqüência those two tall trees. Assim, rótulos funcionais implicam
em parentetização mínima, como representado na Figura 2-17, na qual apenas (a)
aparece como um nódulo, enquanto que (b) e (c) não.
Para resumir:
13
14
Uma classe é um conjunto de itens que guardam alguma semelhança. Não precisam ser
palavras; há classes de grupos e sintagmas, classes de orações, e também, na outra ponta
da escala, classes de morfemas.
O rótulo de classe indica que aquilo que ocorre naquele nódulo em particular é membro
da classe em questão.
Isso poderia ter sido levado adiante, incluindo a flexão de voz e aspecto dos verbos, e
comparação em adjetivos e advérbios. Mas o critério de flexão não servirá para definir
todas as classes de palavras relevantes, mesmo em uma língua altamente flexionada
como o grego ou o latim; e em línguas com pouca ou nenhum flexão, como o inglês e o
14
15
chinês, outros princípios devem ser trazidos. Tais princípios podem ser tanto
gramaticais como semânticos, ou alguma combinação de ambos.
Uma palavra pode ser parecida com outra de várias maneiras, e os agrupamentos
resultantes nem sempre coincidem; uma palavra será tipicamente parecida com uma
palavra sob um aspecto, e com outra palavra diferente sob outro. Por exemplo, upper e
lower (que podem ter a mesma função, como em upper case e lower case) pertencem à
classe dos adjetivos; mas lower é um adjetivo comparativo que contrasta com low, ao
passo que upper não é – não podemos dizer this roof is upper than that one. Nesse
sentido, lower é como higher; mas lower é também um verbo, enquanto que higher não
é – não podemos dizer that roof needs highering. Às vezes, critérios bastante claros e
definidos se apresentam, como flexões gramaticais com significados razoavelmente
consistentes; mas freqüentemente isso não ocorre e, nesses casos, os critérios utilizados
para definir essas classes tendem a ser um tanto quanto misturados, e os requisitos para
fazer parte dessas classes quase que indeterminados, com alguns itens claramente
pertencendo a uma classe e outros cujo status é duvidoso.
Considere, por exemplo, a classe dos ‘substantivos’ em inglês. Uma definição geral
P29
envolveria considerações tanto gramaticais como semânticas, com algumas das
características gramaticais apresentando uma manifestação explícita e outras não:
(gramatical): pode ser contável ou incontável; caso
seja contável, pode ser singular ou
plural, o plural geralmente flexionado
com –s; pode tomar a forma de
possessivo, adicionando-se –‘s/ -s’;
pode ser precedido por the; pode ser
Sujeito em uma oração, etc.
(semântica:) expressa uma pessoa, outro ser animado,
objeto inanimado ou abstração, bounded
ou unbounded, etc.
15
16
Quando dizemos que algo é um substantivo, em inglês, queremos dizer que apresenta
essas características, ou a maioria delas, em comum com algumas (mas não todas)
outras palavras da língua.
O rótulo ‘substantivo’ atribui a palavra boys a uma classe, significando que essa palavra
é como todas as outras palavras que carregam o rótulo ‘substantivo’ em termos de seu
potencial gramatical. O rótulo ‘Ator’ descreve a função da palavra boys em boys throw
stones. Embora boys e stones pertençam à mesma classe – substantivos -, nessa oração
em particular servem a diferentes funções; assim, têm diferentes rótulos funcionais,
boys sendo rotulado como ‘Ator’ e stones como ‘Meta’. Cf. Figura 2-15, acima.
P30
incorporadas na gramática e, de outro lado, todas as diferentes configurações através
das quais essas funções são definidas – ou seja, todas as possíveis estruturas que servem
16
17
para expressar algum significado em uma língua. Uma ESTRUTURA pode ser definida
como qualquer configuração viável de funções, como por exemplo, Ator – Processo –
Meta na Figura 2-18, acima.
17
18
É possível concluir a partir desses exemplos que ‘Sujeito’ é o rótulo de uma função
gramatical de alguma espécie. Parece haver algo em comum, relacionado ao seu status
na oração, a todos os elementos que rotulamos como tal. Mas não é tão fácil dizer
exatamente o que seja; e é difícil encontrar na tradição gramatical uma explicação
definitiva sobre o que significa o papel do Sujeito.
P31
Essa três definições obviamente não são sinônimas; estão definindo conceitos distintos.
Assim, a questão que surge é: é possível que a categoria ‘Sujeito’ abrace ao mesmo
tempo todos esses significados distintos?
Em the duke gave my aunt this teapot, é razoável afirmar que the duke é, na verdade, o
Sujeito nesses três sentidos. Ele é o assunto da mensagem; a verdade ou falsidade dessa
afirmação reside nele; e foi ele quem desempenhou a ação de dar.
Se todas as orações fossem como essa, tendo um elemento servindo às três funções, não
haveria problemas na identificação e explicação do Sujeito. Poderíamos usar o termo
para nos referirmos à soma dessas três definições, e atribuir o rótulo a qualquer
elemento que desempenhasse todas as funções em questão. Mas isso pressupõe que em
toda oração existe apenas um elemento no qual as três funções estão combinadas; e esse
18
19
não é o caso. Muitas orações não contêm um elemento que incorpore as três funções.
Por exemplo, suponhamos que se diga
Não há mais uma única resposta óbvia. O que aconteceu nesse exemplo é que as
diferentes funções que compõem o conceito tradicional de Sujeito foram distribuídas
nos três diferentes constituintes da oração. O duque (duke) continua sendo o autor da
ação, mas o assunto da mensagem agora é a chaleira (teapot), e sua afirmação de
verdade reside na minha tia (my aunt).
Quando essas diferentes funções foram reconhecidas pelos gramáticos como distintas,
elas foram, inicialmente, rotuladas como se fossem três tipos diferentes de Sujeito.
Ainda estava implícito que havia algum tipo de conceito superordenado cobrindo as
três, uma noção geral de Sujeito do qual elas eram as variedades específicas.
Os termos que vieram a ser usados na segunda metade do século dezenove, quando
houve uma renovação do interesse pela teoria gramatical, foram ‘Sujeito psicológico’,
‘Sujeito gramatical’, e ‘Sujeito lógico’.
19
20
No primeiro exemplo, essas três funções estão combinadas ou ‘mapeadas’ umas sobre
as outras, como mostra a Figura 2-19.
No segundo exemplo, por outro lado, as três estão separadas (Figura 2-20).
P32
[inserir Fig. 2-19 – Um mesmo item funcionando como Sujeito psicológico, gramatical e lógico]
[inserir Fig. 2-20 – Sujeito psicológico, gramatical e lógico realizados por itens diferentes]
Em this teapot my aunt was given by the duke, o sujeito psicológico é this teapot. Isto é,
‘this teapot’ é o assunto da mensagem – que o falante tomou como o ponto de embarque
da oração. Mas o sujeito gramatical é my aunt: ‘my aunt’ é a pessoa sobre a qual a
afirmação é predicada – a respeito de quem a oração é declarada válida e, portanto, pode
ser questionada como verdadeira ou falsa. Apenas o Sujeito lógico continua sendo the
duke: ‘the duke’ é o autor da ação – aquele a respeito de quem se diz que realizou o
processo que a oração representa.
20
21
diferentes. Elas não são três tipos de qualquer coisa; são três coisas bastante diferentes.
Para levar isso em consideração, substituiremos os rótulos iniciais por rótulos
separados, que estão relacionados mais especificamente às funções em questão:
Agora podemos re-rotular a oração da Figura 2-20, como demonstrado na Figura 2-21.
Em the duke gave my aunt this teapot, os papéis de Tema, Sujeito e Ator estão todos
combinados no elemento the duke. Em this teapot my aunt was given by the duke, os
três estão separados. Todas as demais combinações também são possíveis: quaisquer
dois papéis podem ser combinados, com o terceiro mantido separado. Por exemplo, se
mantivermos
P33
the duke como Ator, podemos ter Tema = Sujeito com o Ator separado, como na Figura
2-22(a); Sujeito = Ator com o Tema separado, como em 2-22(b); ou Tema = Ator com o
Sujeito separado, como em 2-22(c).
21
22
2.23(a)-(d) forma uma seqüência totalmente natural que um falante poderia usar em
uma narrativa pessoal desse tipo.
MARCADA, em uma oração declarativa em inglês (do tipo afirmativa), é aquela em que
Tema, Sujeito e Ator estão combinados em um único elemento. Essa é a forma que
tendemos a usar caso não haja nenhum contexto anterior/mais importante levando a
isso, e nenhuma razão definitiva para escolhermos outra possibilidade.
Qual é a importância de se ter essas três funções distintas na oração: Sujeito, Ator e
Tema?
P34
[inserir Fig. 2-23 – Narrativa incorporando diferentes combinações de Sujeito, Ator e Tema]
Cada uma das três faz parte de uma configuração funcional diferente, formando uma
camada separada do significado total da oração. As a working approximation, podemos
definir essas três camadas diferentes de significado como:
(i) O Tema atua na estrutura da ORAÇÃO COMO MENSAGEM. Uma oração tem
significado como mensagem, uma quantidade de informação; o Tema é o
ponto de partida da mensagem. É o elemento que o falante seleciona para
‘embasar’ aquilo que irá falar.
(ii) O Sujeito atua na estrutura da ORAÇÃO COMO TROCA. Uma oração tem
significado como troca, uma transação entre falante e ouvinte; o Sujeito é a
garantia da troca. É o elemento que o falante responsabiliza pela validade
daquilo que está dizendo.
22
23
Esses três títulos - oração como mensagem, oração como troca, oração como
representação – referem-se aos três tipos distintos de significados que estão
incorporados na estrutura da oração. Cada uma dessas três camadas de significado é
construída por configurações de certas funções particulares. Tema, Sujeito e Ator não
ocorrem isoladamente; cada um ocorre em associação com outras funções advindas da
mesma camada de significado. Ainda não apresentamos essas outras funções; isso será
feito nos Capítulos 3-5. Mas um exemplo foi dado na Figura 2-18(b), acima: aquela do
Ator + Processo + Meta. Uma configuração desse tipo é o que as gramáticas funcionais
chamam de ESTRUTURA.
A importância de qualquer rótulo funcional está na sua relação com as outras funções
com as quais está associado de maneira estrutural. É a estrutura como um todo, a
configuração total das funções, que constrói ou realiza o significado. A função
P35
Ator, por exemplo, é interpretável apenas na sua relação com outras funções do mesmo
tipo – outras funções representacionais como Processo e Meta. Assim, se interpretarmos
I como Ator em I caught the first ball, isso é significativo apenas porque, ao mesmo
tempo, interpretamos caught como Processo e the first ball como Meta. É a relação
entre todas elas que constitui a estrutura. Da mesma maneira, o Sujeito entra em
configurações com outros elementos funcionais na realização da oração como troca;
assim como o Tema, na realização da oração como mensagem.
23
24
oração; esses três tipos de significado correm através da linguagem como um todo, e de
maneira fundamental, determinam o modo pelo qual a linguagem evoluiu. Na gramática
sistêmica, são chamados de METAFUNÇÕES, e o conceito de ‘metafunção’ é um dos
conceitos básicos ao redor do qual a teoria foi construída.
24
25
Ainda não está claro o quanto o inglês é típico nesses pontos específicos; mas é
certamente verdade que os tipos de estrutura encontrados na língua são bastante
variados, e diferentes tipos de significado tendem a ser realizados de maneiras
sistematicamente diferentes. Talvez seja útil tentar resumir a imagem da língua inglesa;
assim (com um pedido de desculpas
P36
Tabela 2(3) As metafunções e seus reflexos na gramática
tipo mais simples de estrutura, a partir da qual outros tipos mais complexos podem ser
derivados; ela é o tipo natural que se toma como prototípico – da mesma maneira que os
sistemas digitais são tomados como a norma a partir da qual sistemas analógicos podem
ser derivados, ao invés do contrário.
Por essas razões, nos capítulos restantes da Parte Um (Capítulos 3-5), usarei descrições
de estruturas do tipo constituinte, apenas apontando, de vez em quando, onde elas não
contam a história inteira. Tanto quanto possível, cada camada de significado na oração
será descrita independentemente em seus próprios termos. Isso envolverá o uso de
alguns truques, pois embora haja claramente esses três temas correndo lado a lado em
cada oração, uma oração ainda é uma oração – e não três. Um problema familiar para as
gramáticas funcionais é que tudo deve ser descrito antes de qualquer outra coisa; não há
uma progressão natural de uma característica na língua para outra (quando as crianças
aprendem a língua materna, não aprendem uma característica de cada vez!)
Escolhi começar pela oração como mensagem, porque acho que é o aspecto da oração
que pode ser mais facilmente discutido em seus próprios termos; mas mesmo aqui será
necessário fazer referência a outras partes do livro. Mas essas referências serão no
menor número possível; de maneira geral, tentei transformar a exploração da gramática
em uma progressão linear. Cada capítulo pressupõe os capítulos que vieram antes, e
apenas raramente recorrerá a assuntos que ainda estão por vir.
26
HALLIDAY, M.A.K. 1994. An Introduction to Functional Grammar. London: Edward Arnold.
Na seção 2.6, introduzimos a noção de oração como uma unidade em que se combinam
três tipos de significados. Três estruturas distintas, cada uma expressando um tipo de
organização semântica mapeadas umas sobre as outras para produzir uma oração.
Das várias estruturas que, quando mapeadas em sobreposição, constroem uma oração,
consideraremos primeiro aquela que lhe dá o caráter de mensagem. Esta é conhecida
como estrutura TEMÁTICA.
Vamos supor que em todas as línguas a oração tenha caráter de mensagem: ela tem uma
forma de organização que lhe dá o status de um evento comunicativo, que pode ser
atingido através de diferentes modos. Em inglês e em muitas outras línguas, a oração é
organizada como uma mensagem porque tem um status especial atribuído a uma de suas
partes: um elemento da oração é enunciado como tema; este então combina-se com o
resto da oração de tal modo que as duas partes juntas constituem uma mensagem.
Em línguas que têm este tipo de padrão, o tema é anunciado através de uma partícula:
no japonês, por exemplo, há uma posposição especial –wa, que significa que o que o
preceder imediatamente será temático. Em outras línguas, entre as quais o inglês, o tema
é indicado pela posição na oração. Quando falamos ou escrevemos em inglês,
sinalizamos que um item tem status temático, colocando-o em primeiro lugar. Nenhum
outro sinal é necessário, embora não seja incomum em inglês falado o tema ser marcado
também através do padrão entoacional (veja abaixo).
Seguindo a terminologia dos lingüistas da escola de Praga, usaremos o termo Tema
como rótulo para essa função. (Como para todas as outras funções será escrito com inicial
maiúscula.) Tema é o elemento que serve como ponto de partida da mensagem; é aquilo
de que trata a oração. O resto da mensagem, a parte na qual o Tema é desenvolvido, é
chamado, na terminologia da escola de Praga, de Rema. Como estrutura de mensagem,
portanto, a oração consiste de um Tema acompanhado de um Rema; e a estrutura é
expressa pela ordem – o que quer que seja escolhido como Tema será colocado
primeiro. Para exemplos dessa estrutura Tema + Rema, veja a Figura 3-11.
Tema Rema
Fig.3-1 Estrutura Tema-Rema
1
'Tópico' refere-se em geral a um tipo especial de Tema (veja Seção 3.5 abaixo); e tende
a ser usado como um termo que abrange dois conceitos distintos do ponto de vista
funcional, um que é o de Tema e o outro que é o de Dado (veja Capítulo 8). Por isso os
termos Tema-Rema são considerados mais apropriados, dentro do presente quadro.
Como um guia geral, o Tema pode ser identificado como o elemento que vem em
primeiro lugar na oração. Já indicamos que este fato não é como a categoria de Tema é
definida. A definição é funcional assim como acontece com todos os elementos nesta
interpretação da estrutura gramatical. O Tema é um elemento em uma configuração
estrutural que, tomado como um todo, organiza a oração como uma mensagem; essa é a
configuração Tema + Rema. Uma mensagem consiste de um Tema combinado com um
Rema.
Nessa configuração, o Tema é o ponto-de-partida para a mensagem; é o solo de
onde a oração decola. Assim, parte do significado de qualquer oração depende do
elemento que é escolhido como Tema. Há uma diferença de significado entre meio pêni
é a menor moeda inglesa em que meio pêni é o Tema ('Vou lhe falar a respeito de um
meio pêni'), e a menor moeda Inglesa é um meio pêni, em que a menor moeda é o Tema
('Vou lhe falar a respeito da menor moeda inglesa'). A diferença pode ser caracterizada
como 'temática'; as duas orações diferem na escolha do tema. Glosando-as assim, como
'Vou lhe falar a respeito de...', podemos sentir que elas são mensagens diferentes.
A primeira posição na oração não é o que define o Tema; é o meio pelo qual a
função de Tema é realizada, na gramática do inglês. Não há um motivo automático
pelo qual a função de Tema seja realizada desse modo; como já dissemos, há línguas
que têm uma categoria de Tema funcionalmente semelhante ao do inglês, mas que o
expressa de maneira diferente. Mas se numa dada língua a mensagem for organizada
como uma estrutura Tema-Rema, e se essa estrutura for expressa pela seqüência na qual
os elementos ocorrem na oração, então parece ser natural que a posição para o Tema
seja no início, e não no fim ou em algum outro ponto específico.
O Tema não é necessariamente um GRUPO NOMINAL, como aqueles acima.
Pode ser também um GRUPO ADVERBIAL ou uma FRASE PREPOSICIONAL, como
os exemplos da Figura 3-2.
Tema Rema
Fig. 3-2 Temas que não são grupos nominais
Uma vez na vida, outra na morte aparece um homem acompanha que compreende a
relação entre os acontecimentos que até pareciam bem diferentes um do outro e dá à
humanidade uma nova dimensão de conhecimento.
2
Em relação a minha tia, o duque deu a ela esse bule de chá.
Sobre esse bule de chá – à minha tinha ele foi dado pelo duque.
Essa 'retomada' do Tema através de um pronome pode ocorrer mesmo quando o Tema
não é explicitamente introduzido, e mesmo se o Tema for também o Sujeito,
especialmente no inglês falado; cf. A dama de copas, ela fez algumas tortas.
O Tema de uma oração é freqüentemente marcado na fala pela entoação, sendo dito em
um grupo tonal separado; isso ocorre especialmente quanto o Tema for: (i) um grupo
adverbial ou uma frase preposicional ou (ii) um grupo nominal que não funcione como
Sujeito – em outras palavras, onde o Tema seja qualquer coisa que não o mais esperado
(veja Seção 3.3. abaixo). Mas mesmo os Temas Sujeito recebem freqüentemente um
grupo tonal próprio na fala do dia-a-dia. Um grupo tonal expressa uma unidade de
informação (veja descrição no Capítulo 8); e se a oração estiver organizada em duas
unidades de informação, o limite entre as duas cairá em geral na junção do Tema e do
Rema. Este fato é uma peça de evidência importante para a compreensão da estrutura
Tema + Rema.
Como um primeiro passo, aceitamos os seguintes fatos: que o Tema de uma oração
consiste em apenas um elemento estrutural, e que esse elemento é representado por
apenas uma unidade – um grupo nominal, um grupo adverbial ou uma frase
preposicional. Esses dois fatos valem para os exemplos dados acima; na primeira
sentença do prefácio para o livro, de J.R. Firth, Trabalhos em Lingüística, 1934-1951, o
Tema é a primeira cátedra de Lingüística Geral neste país, que é ainda um grupo
nominal único:
Em cada um desses exemplos, o Tema é um único elemento, que por seu turno é um
grupo nominal ou uma frase preposicional.
Uma variante comum desse padrão elementar é aquele em que o Tema consiste em
dois ou mais grupos ou frases, formando um único elemento estrutural. Qualquer
elemento da estrutura oracional pode ser representado por um COMPLEXO de dois ou
mais grupos ou frases (veja Capítulo 7 Adicional abaixo). Tal complexo de grupo ou
frase funciona como um Tema de modo normal. Esse fato é ilustrado na Figura 3-3.
Tema Rema
Fig. 3-3 Grupo complexo ou frase complexa como Tema
3
produzem um grupo nominal complexo. Este é apenas um elemento na oração e por isso
constitui um Tema simples. As duas frases preposicionais de casa em casa também
produzem uma frase preposicional complexa, e este é também um Tema simples. Os
diferentes tipos de relação que podem ser expressos nessas estruturas 'complexas' são
discutidos no Capítulo 7 abaixo.
A primeira sentença do livro, de Hjelmslev, Introdução à Teoria da Linguagem, na
tradução de Whitfield, tem como Tema um grupo nominal complexo linguagem –
discurso humano, composto de dois grupos nominais em aposição:
O que o duque deu para minha tia foi essa bule de chá.
Aqui o tema é o que o duque deu para minha tia. Tecnicamente, este é ainda um Tema
'simples', porque ele agora se tornou um único constituinte, em uma oração de um tipo
especial.
Esse tipo de oração é conhecido como EQUATIVA TEMÁTICA, porque ele estabelece
a estrutura Tema + Rema em uma forma de equação, em que 'Tema = Rema'. O tipo
particular de oração que está sendo utilizado para formar a equativa temática é a oração
'identificadora'; esta será descrita no Capítulo 5, Seção 5.4 abaixo; mas alguma coisa
será dita aqui para explicar por que ela representa uma parte importante na construção
da oração como mensagem.
Numa equativa temática, todos os elementos da oração são organizados em dois
constituintes; estes são então unidos através de uma relação de identidade, um tipo de
'sinal de igualdade', expresso por alguma forma do verbo ser. Os exemplos estão na
Figura 3-4.
O que (a coisa) o duque deu para minha tia foi este bule de chá
O único que deu para minha tia este bule de foi o duque
chá
A quem o duque deu este bule de chá foi minha tia
O que o duque fez com este bule de chá foi dá-lo a minha tia
Como minha tia adquiriu este bule de chá foi ganhando do ( given it ) duque
Tema Rema
4
Fig. 3-4 Equativas temáticas
em que o Tema é O modo como Dinah lavou o rosto de seus filhos. Rigorosamente
falando, o foi, ou outra forma de ser /estar, serve para ligar o Rema ao Tema; mas em
nome de uma análise mais simples, pode-se considerá-lo parte do Rema.
Uma forma como o que duque deu para minha tia é uma característica estrutural
conhecida como NOMINALIZAÇÃO, em que qualquer elemento ou grupo de
elementos funciona como um grupo nominal na oração. Qualquer nominalização,
portanto, constitui um elemento simples na estrutura da mensagem.
Nesse caso, a nominalização tem finalidade temática. O equativo temático permite todas
as possíveis distribuições de partes da oração no Tema e no Rema, como na Figura 3-4.
Ele inclui mesmo um exemplo como:
O que aconteceu foi que o duque deu para minha tia esse bule de chá.
em que o Tema é simplesmente o que aconteceu, significando 'Eu quero lhe falar sobre
o que aconteceu', e os componentes do acontecido são colocados no Rema.
Em exemplo típico, a nominalização funciona como Tema, porque na estrutura Tema-
Rema é o Tema que é o elemento proeminente. Todos os exemplos acima foram desse
tipo. Mas – como muitas vezes acontece na língua – em contraste com o padrão típico
há uma alternativa excepcional ou MARCADA, exemplificada por você é o único que
eu culpo por isto, com você como Tema, em que a relação usual é invertida e a
nominalização se torna o Rema. Assim são os exemplos da Figura 3-5:
5
Assim quando o Tema não se estende além de outro elemento, essa estrutura
identificadora ainda contribui para o significado da mensagem: ela serve para expressar
essa característica de exclusividade. Se eu digo o que o duque fez foi dar para minha tia
esse bule de chá, a nominalização o que o duque fez carrega o significado 'e isso é tudo
o que ele fez, no contexto de que falamos'. Essa é também a explicação para a forma
marcada, que tem uma nominalização como Rema, como em esse é o único que eu
gosto. Aqui o Tema é simplesmente esse, exatamente o mesmo no equivalente sem-
nominalização que eu gosto; mas o equativo temático ainda acrescenta algo ao
significado, sinalizando que a relação é de exclusividade. Compare a um pão nós
precisamos com um pão é o que nós precisamos. Ambas têm um pão como Tema; mas
enquanto a primeira implica 'entre outras coisas', a segunda implica 'e nada mais'. Note
que algumas expressões bem comuns têm essa estrutura equativa marcada, incluindo
todas aquelas iniciadas por isso é o que, é por isso que etc.; e.g. isso é o que eu quero
dizer, é por isso que não é permitido.
A Figura 3-6 dá alguns exemplos que ajudam a perceber a diferença entre um equativo
temático e uma oração com a estrutura Tema-Rema comum.
a) equativo temático
Além disso, ela indica, pela escolha do pro-verbo fez , algo sobre o papel do duque: que ele fez algo –
ele foi um participante ativo no processo. Contraste-a com o que aconteceu com esse bule de chá..., em
que o papel do bule de chá é mostrado como sendo passivo. Veja Capitulo 5.2.
6
Qual é o elemento que é em geral escolhido para Tema na oração inglesa? A resposta
depende da escolha do modo.
O modo será discutido no Capítulo 4. Aqui precisamos antecipar os primeiros passos
dessa discussão, e apresentar as categorias primárias do sistema de modo.
Vamo-nos restringir a orações independentes, aquelas que se sustentam como períodos
completos.
Toda oração independente seleciona o modo. Algumas, como João! e boa noite! , são
orações MENORES; elas não possuem estrutura temática, e assim serão deixadas de
lado. Outras são orações MAIORES. Uma oração MAIOR independente é ou indicativo
ou imperativo quanto ao modo; se indicativo, é declarativo ou interrogativo; se
interrogativo, é ou interrogativo polar (tipo ‘sim/não’) ou interrogativo de conteúdo
(tipo ‘QU-‘). Exemplos:
Vamos considerar cada um desses modos, do ponto de vista da sua estrutura temática.
7
Quadro 3(1) Exemplos de Tema em oração declarativa. O limite entre Tema-Rema será
mostrado por #.
Função* Classe Exemplo de oração
Sujeito grupo nominal: Eu # tinha uma pequena nogueira
pronome como núcleo Ela # foi ao padeiro
Havia # três jovens galêses
Tema
não-marcado Sujeito grupo nominal: nome Uma coruja sábia e velha # vivia em um
comum ou próprio carvalho
como núcleo Maria # tinha um carneirinho
A ponte de Londres # está caindo
Sujeito nominalização
O que eu quero # é uma xícara de café natural
Aqui o Tema esta responsabilidade está colocado em primeiro plano; ele resume todo o
peso do prefácio – a responsabilidade enfrentada pelos estudiosos para reconstruir
através das notas de aulas de outros a trabalho de um notável colega para publicação
póstuma – e enuncia esse fato como ponto de partida, como aquilo de que trata a obra.
Às vezes mesmo o Complemento dentro de uma frase preposicional (ver Capítulo 6,
Seção 6.5) funciona como Tema, em geral em combinações idiomáticas de preposição e
verbo: por exemplo, disso em disso eu não preciso, duas coisas em duas coisas nós
precisamos comentar Talvez o tipo de Complemento/Tema que aparece como o 'mais
marcado', seja o pronome, tal como a mim em a mim eles culparam por isso. Este é,
como se fosse, o final oposto de uma escala de tendência temática do Sujeito/Tema não-
marcado Eu, com o qual iniciamos.
Há uma subcategoria da oração declarativa que tem uma estrutura temática especial, a
exclamativa. Esta tem um elemento QU-exclamativo como Tema, como na Figura 3-7.
8
Tema Rema
Figura 3-8 Tema em orações exclamativas
Parei aqui (2) Tema em orações interrogativas. A função típica de uma oração
interrogativa é fazer pergunta; e do ponto de vista do falante fazer uma pergunta é uma
indicação de que ele quer que lhe digam algo. O fato de que, na vida real, as pessoas
fazem perguntas por vários motivos não põe em discussão a observação de que o
significado básico de uma pergunta seja um pedido de uma resposta. O tema natural de
uma pergunta, pois, é 'o que eu quero saber'.
Há dois tipos de pergunta: uma em que o que o falante quer saber é a polaridade
'sim' ou 'não', e.g. Você pode manter um segredo? John Smith está por dentro?; a outra
em que o que o falante quer saber é a identidade de algum elemento do conteúdo, e.g.
Quem você mandará procurá-la? Onde meu cachorrinho foi? Em ambos os tipos, a
palavra que indica o que o falante quer saber vem primeiro.
No inglês, em uma pergunta sim/não, que é uma pergunta sobre polaridade, o
elemento que funciona como Tema é o elemento que incorpora a expressão de
polaridade, ou seja, o OPERADOR VERBAL FINITO. É o operador finito em inglês
que expressa positivo ou negativo: é, não é; do, don't; pode, não pode; etc. Assim na
interrogativa sim/não o verbo finito é colocado primeiro, antes do Sujeito. O significado
é 'eu quero que você me diga se sim ou se não'.
Numa pergunta QU-, que é a procura de uma informação ausente, o elemento que
funciona como Tema é o elemento que requer essa informação, ou seja, o elemento QU-
. É o elemento QU- que expressa a natureza da informação ausente: quem, o que, onde,
como, etc. Assim na interrogativa QU- o elemento QU- é colocado primeiro, não
interessando que outra função ele tenha na estrutura de modo da oração, se Sujeito,
Adjunto ou Complemento. O significado é "eu quero que você me diga a pessoa, coisa,
tempo, modo, etc.'.
Orações interrogativas, portanto, incorporam o princípio temático na sua
construção estrutural.
É característica da oração interrogativa em inglês que um elemento venha primeiro; isso
por que o elemento, devido à própria natureza da pergunta, tem status de Tema. O
falante não escolhe a cada vez que coloca esse elemento em primeiro lugar; sua
ocorrência em primeiro lugar constitui o padrão pelo qual a interrogativa é expressa. Ele
se tornou parte do sistema da língua, e a explicação para isso está no significado
temático que se atribui à primeira posição da oração inglesa. Interrogativas expressam
perguntas. O tema natural da pergunta é 'quero que me digam algo'; a resposta requerida
será ou uma informação ou a indicação da polaridade. Assim a realização do modo
interrogativo envolve a seleção de um elemento que indica o tipo de pergunta requerida,
colocando-o no início da oração.
Na pergunta QU-, o Tema é constituído somente pelo elemento QU-: isto é, o grupo ou
a frase em que QU- ocorre . Exemplos na Figura 3-8.
Se a palavra QU- é, ou é parte de, um grupo nominal que funciona como Complemento
na frase preposicional, esse grupo nominal pode funcionar como um Tema por ele
mesmo, e.g. o que em com o que eu o consertarei? , em que casa em em que casa eles
moram?
9
Numa interrogativa sim/não, o Tema inclui o verbo finito; mas ele se estende sobre o
Sujeito também. O verbo finito mais o Sujeito formam o Tema em duas partes, cujo
princípio será explicado na Seção 3.5 abaixo. Exemplos na Figura 3-9.
(3) Tema nas orações interrogativas. A mensagem básica de uma oração imperativa
é ou 'quero que você faça algo' ou "queremos (você e eu) fazer algo'. O segundo tipo
começa em geral por vamos, como em vamos para casa agora; aqui vamos é claramente
a escolha não-marcada de Tema. Mas com o primeiro tipo, embora 'você' possa ser
explícito como um Tema (e.g. você fique quieto!, significando 'quanto a você ...'), esta é
claramente a escolha marcada; a forma mais típica é simplesmente fique quieto, com o
verbo na posição temática. A função do verbo, na estrutura de modo verbal (oração
como troca), é o de PREDICADOR; aqui, portanto, o Predicador é o Tema não-
marcado.
Nas imperativas negativas, tais como não discuta comigo, em que o Tema é não +
você. Há também uma forma positiva contrastiva marcada, tal como realmente tome
cuidado, em que o Tema é realmente mais o Predicador tomar. Exemplos na Figura 3-
11.
Tema Rema
Fig. 3-11 Tema nas orações imperativas
10
imperativo: 'você' grupo verbal funcionando como Predicador + o não
precedente, se negativo
imperativo: 'você e eu' vamos, mais não precedente, se negativo
exclamativo: grupo nominal ou grupo adverbial funcionando como
elemento exclamativo (QU-)
Quando algum outro elemento vem primeiro, ele constitui a escolha 'marcada' de Tema;
tais Temas marcados expressam em geral algum tipo de localização ou expressa uma
feição de contraste. Note que nesses exemplos o elemento que teria sido a escolha não-
marcada é agora parte do Rema.
A seguinte passagem de David Copperfield mostra um contexto típico para a
escolha do Tema marcado em orações declarativas (Figura 3-12):
'Nós viemos, ‘repetiu o senhor Micawber, 'e vimos o Medway. Minha opinião
sobre o comércio de carvão naquele rio é, que pode requerer talento, mas com certeza
requer capital. Talento, o senhor Micawber tem; capital, o senhor Micawber não tem...
Nós estamos no momento esperando por uma remessa de Londres, para cumprir nossas
obrigações pecuniárias neste hotel. Até a chegada da remessa, ... Eu estou afastado da
minha casa..., do meu menino e menina, e dos gêmeos..'
Tema Rema
11
Tabela 3(2) Adjuntos conjuntivos
Tipo Significado Exemplos
I apositivo 'ex.' isto é, em outras palavras, por exemplo
corretivo 'melhor' ou melhor, pelo menos, para ser preciso
rejeitativo 'de qualquer de qualquer modo, de qualquer maneira, deixando
modo' isso de lado
conclusivo 'resumindo' brevemente, resumindo, para concluir
verificativo 'na realidade' na realidade, de fato, o fato é que
II aditivo 'e’ também, mais que isso, além do que, além disso
adversativo 'mas' por outro lado, entretanto, contrariamente
variativo(co 'ao invés de' ao invés de, alternativamente
ntrastivo)
III temporal 'então' enquanto isso, antes disso, mais tarde, próximo,
logo, finalmente
comparativo 'do mesmo do mesmo modo, da mesma maneira
modo'
causal 'então' deste modo, por esta razão, como resultado, com
isto em mente
condicional '(se...) então' por isso, sob a circunstância, de outro modo
concessivo 'ainda' não obstante, apesar disso
respectivo ‘sobre isso' sobre este respeito, até aonde é da minha conta
12
(i) ADJUNTOS (DISCURSIVOS) CONJUNTIVOS são aqueles que ligam a
oração ao contexto precedente. Os principais tipos estão na Tabela 3(2); para maiores
detalhes veja Capítulo 9, Seção 9.4 abaixo.
(ii) ADJUNTOS MODAIS são aqueles que expressam o julgamento do falante a
respeito da relevância da mensagem. Os principais tipos estão na Tabela 3(3).
Não é difícil ver por que os Adjuntos conjuntivos e modais tendem a vir no
começo da oração: se um deles estiver presente, será em um sentido o tema natural. Se o
falante inclui na mensagem algum elemento que apresente sua posição sobre o assunto,
é natural fazer dele o ponto de partida. 'vou lhe dizer o que eu penso'. Assim também, se
houver algum elemento que expresse a relação com o que já se foi, colocando-o
primeiro estaremos tematizando o significado do que estamos dizendo: 'vou-lhe dizer
como isto cabe aqui'. Assim dizemos provavelmente eles não entenderam, por isso o
esquema foi abandonado, com provavelmente, por isso em posição temática. Mas este é
ainda uma questão de escolha; podemos colocar essas expressões no Rema, não as
considerando pontos de partida: eles provavelmente não entenderam, o esquema foi por
isso abandonado. Note como os conceitos de Tema e Rema nos possibilitam explicar a
diferença sistemática entre pares de expressões como essas.
subordinativas Quando, enquanto, antes, depois, até, porque, se, apesar de, a menos que, desde
que, que, se, em razão de
Mesmo se, no caso de, supondo que, assumindo que, vendo que, dado que, uma
vez que, apesar do fato de que, no evento que, desde que
(ii) RELATIVOS são também itens que ligam a oração na qual ocorrem à outra oração,
numa relação estrutural (veja Capítulo 6, Seção 6.2.2 (2); e Capítulo 7, Seção 7.4.1 (2),
7.4.3., 7.4.5 e 7.5.6). Mas ao contrário das conjunções, os relativos não formam uma
classe de palavras separada; eles são ou nomes ou advérbios. Por isso eles funcionam
como Sujeito, Adjunto ou Complemento – sozinhos ou dentro de uma estrutura de
grupo ou de frase. Os relativos estão exemplificados na Tabela 3(5).
13
Um grupo ou frase relativa funciona como um todo como Tema da oração em que
ocorrem; por exemplo, (grupo nominal) cuja casa, qualquer objeções; (grupo adverbial)
entretanto impropriamente; (frase preposicional) em qual, com quem; em cuja defesa,
por qualquer razão. Os relativos são portanto como as interrogativas QU-, pois têm
função dual: de um lado como Sujeito, Adjunto ou Complemento, e de outro com valor
próprio especial – ou perguntando (interrogativa) ou criando alguma forma de
dependência (relativo). Esses dois valores são relacionados na estrutura profunda,
através de um sentido geral de 'identidade a ser recuperada em algum lugar'; os relativos
definidos qualquer que, onde quer que, etc. são intermediários entre os relativos
definidos e os interrogativos:
14
provável que o falante escolha um Tema marcado; é como se muito da energia da
primeira posição da oração tivesse já sido usada. Mas certamente ele não é impossível.
É difícil demonstrar esses efeitos, porque os padrões que estamos vendo depende do
desenrolar do discurso; mas podemos construir um paradigma como o seguinte:
15
Podemos ver agora porque, como foi apontado na Seção 3.4 acima, um Sujeito
Adjunto ou Complemento seguindo um dos 'Temas característicos' é ainda parte do
Tema. Os elementos conjuntivos e modais estão fora da estrutura experiencial da
oração; eles não têm status como participante, circunstância ou processo. Até que um
desses apareça, a oração não pode se ancorar no reino da experiência. Não iremos entrar
aqui nos papéis estruturais assumidos pelos participantes, circunstâncias ou processos
(funções da transitividade como Ator, Meta, Tempo), nem sua relação com as funções
do modo de Sujeito, Adjunto e Complemento; estes serão examinados nos seguintes
dois capítulos. Mas tornaremos mais precisa a organização do Tema 'múltiplo', e sugerir
por ilustrações como o Tema topical pode ser identificado.
Dissemos que uma oração, no seu aspecto como mensagem, é uma estrutura de
duas partes consistindo de Tema + Rema; o Tema sempre vem primeiro – 'Tema' é
simplesmente o rótulo que usamos para sugerir que significado é atribuído à primeira
posição na oração. Mas a aproximação inicial, de que é o primeiro constituinte que
constitui o Tema, ficou agora mais precisa: o Tema se estende do começo da oração até
(e incluindo) o primeiro elemento que tenha uma função na transitividade. Esse
elemento é chamado 'Tema topical'; assim podemos dizer que o Tema de uma oração
consiste de Tema topical juntamente com qualquer coisa que venha antes dele.
Falta especificar exatamente o que vem antes do Tema topical. Já anotamos as
conjunções, os Adjuntos conjuntivos e modais. Também anotamos, na Seção 3.3, o
operador Finito, o elemento que expressa finitude no grupo verbal. Itens QU-
(interrogativos e relativos) não estão neste conjunto, porque uma expressão que
contenha item QU- é sempre um participante ou uma circunstância, e por isso já é um
Tema topical. Atrás dessa complexidade está um princípio geral, que pode ser expresso
em termos de metafunções introduzidas no fim do Capítulo 2. O Tema sempre inclui
um, e apenas um, elemento experiencial. Este pode ser precedido por elementos que são
textuais e/ou interpessoais em função; se assim for, estes também serão partes do Tema.
A ordem típica é textual^interpessoal^experiencial; em qualquer caso, o elemento
experiencial (o Tema topical) vem no fim – e qualquer coisa que o siga será parte do
Rema.
Falta especificar os detalhes dos componentes textual e interpessoal do Tema.
16
do resto, pois, em vez de precederem o Tema topical, eles se combinam com este num
único constituinte.
interpessoal vocativo
modal (Adjunto)
finito (operador)
QU- (interrogativo)
experiencial topical (participante, circunstância, processo)
Talvez a estrutura temática mais estendida que poderíamos achar seja algo como o da
Figura 3-13. Não é preciso dizer que devemos esperar muito antes de ouvir algo tão
complexo como esse. Mas os Temas múltiplos de dimensões mais modestas são
regularmente encontrados na maioria dos discursos. Uma seleção de exemplos é dada na
Figura 3-14.
Well but then Ann surely wouldn’t the best be to join the
bem mas então Ana certamen Não –ria idea group
te a melhor se- juntar ao
idéia grupo
continuativ estrutural conjuntiv vocativ modal finito topical
o o o
textual interpessoal experiencia
l
Tema Rema
Fig. 3-13 Tema maximamente estendido
(a)
oh soldier, soldier won’t you marry me
oh soldado, soldado Futuro- neg. você se casar comigo
continuativo vocativo finito topical
textual interpessoal experiencial
Tema Rema
(b)
por favor doutor don’t dê para mim mais daquele remédio
não desagradável
modal vocativo finito topical
interpessoal experiencial
Tema Rema
(c)
17
por outro lado talvez num dia de ele estivesse menos cheio
semana
conjuntivo modal topical
textual interpessoal experiencial
Tema Rema
(d)
então por que Se preocupar
estrutural QU- = topical
textual interpessoal experiencial experiencial
Tema Rema
Fig. 3-14 Exemplos de Tema múltiplo
18
Tema Rema
Fig. 3-15 Tema da oração hipotática comparado ao equativo temático
Outros exemplos desse tipo, com vírgula separando o Tema do Rema, são os
seguintes:
Quando Colombo começou sua jornada para alcançar as Índias, velejando para
oeste, e descobriu a costa da América, ele avistou uma nova raça de homens, diferente
tipos, diferentes em cultura, diferentes línguas, daqueles até então conhecidas.
Há uma circunstância especial que leva a uma situação em que uma oração
funciona como um Tema, e esse é o fenômeno da metáfora gramatical que é discutida
no Capítulo 10. O que acontece aqui é que um tipo de oração é expresso
metaforicamente como outro; ou antes, para dizer mais precisamente, uma configuração
19
semântica que seria representada congruentemente (não-metaforicamente) por um tipo
de oração é representada metaforicamente por outra.
20
Para explicar a função dessas predicações precisamos antecipar a discussão do
Capítulo 8. Já foi mencionado que a fala no inglês progride como uma sucessão de
unidades melódicas chamadas 'grupos tonais'; e que cada grupo tonal constitui ('realiza')
uma unidade de informação. Uma unidade de informação pode ser mais que uma
oração, ou menos; mas no caso não-marcado as duas coincidem – cada oração é
organizada como um grupo tonal, e podemos considerar esse caso como a norma para
os propósitos de explicação.
A unidade de informação serve para estruturar o discurso em dois componentes, de
acordo com o status que o falante quer que o ouvinte atribua em termos de informação.
Uma parte é nova; o que o ouvinte está convidado a tratar como novo, inesperado ou
importante. A outra parte é velha: o que é apresentando como já conhecido para o
ouvinte, aquilo que ele pode tomar como 'dado'. O 'novo' é sinalizado pelo acento
tônico, uma queda ou uma elevação (ou movimento mais complexo) do tom.
Em geral o 'novo' vem no final da unidade informacional, e assim forma parte do
Rema da oração, enquanto o 'dado' o precede (e portanto inclui o Tema). Assim por
exemplo (usando negrito para indicar o acento tônico:
O pai de John queria que ele desistisse do violino. Seu professor o persuadiu a
continuar.
Na segunda sentença, o lugar natural para o acento tônico é em continue, que faz o
contraste efetivo entre giving up e continuing. Se o falante o substituir por :
O pai de John queria que ele desistisse do violino. Foi o seu professor que o
persuadiu a continuar
o acento tônico agora cai em teacher; o fato de que John continuou é tomado como
dado, e o contraste se faz entre a atitude de seu professor e a de seu pai. A análise
temática está na
Figura 3-18.
21
A versão (a) mostra a estrutura temática local; aqui tanto os Temas são não-marcados (it
e who são ambos Sujeitos). A versão (b) mostra a estrutura temática da oração inteira
como sendo de Tema predicado. Note que aqui o Tema é marcado; o Sujeito é it ... que
o persuadiu a continuar (veja Capítulo 4, Seção 4.7, especialmente Figura 4-23).
A estrutura do Tema predicado é freqüentemente associada com uma formulação
explícita de contraste: não foi ..., foi..., que/qual ....; por exemplo (do relato do
correspondente londrino do Sydney Morning Herald sobre a publicação de O sangue
sagrado e o Graal sagrado, 21 de janeiro de 1982):
E dizem os autores, foi Maria Madalena e não Maria mãe de Jesus, que foi a
verdadeira, se secreta, objeto de cultos Mariolátricos nesses anos.
Aqui o Tema é e ... (foi) Maria Madalena, não Maria mãe de Jesus, (que).
Uma estrutura que pode parecer superficialmente como Tema predicado, mas
não é, é a que envolve a posposição, em que um elemento nominal da oração – em geral
o Sujeito, embora nem sempre – é retardado até o fim e um pronome apropriado é
inserido como um substituto no seu lugar original. Por exemplo:
Um tipo muito comum dessa construção é aquela na qual o Sujeito posposto é uma
oração 'fato'(veja Capítulo 5, Seção 5.3, e Capítulo 7, Seção 7.5.7). Aqui o pronome
substituto é sempre it:
Se a oração fato é introduzida por que , e o verbo na primeira parte é ser, o resultado
parece algo como um Tema predicado; por exemplo:
Mas esses não Temas predicados; o Sujeito posposto não é uma oração relativa, e não
há uma forma agnate com o predicado removido, proporcional a foi o professor dele
que o persuadiu a continuar: o professor dele o persuadiu a continuar. A posposição
não é, de fato, um instrumento temático; o Tema nessas orações é simplesmente um
item que vem primeiro – que pode ser o pronome substituto, mas pode não ser.
Até aqui não consideramos explicitamente o Tema em orações que não fossem
independentes,
embora, ao nos referirmos a conjunções e relativos como Temas estruturais, tivéssemos
sugerido que outras orações apresentassem estrutura temática. Figura 3-16 e 3-17
22
incluíram exemplos de orações dependentes: se o inverno chegar e aquele pudim jamais
será cozido.
Há estrutura temática, de fato, em todos os tipos de orações maiores: isto é, todas
as orações que expressem modo e transitividade, independentes ou não. Mas, como
vimos, há uma espécie de escala de liberdade temática: enquanto em oração declarativa
independente o falante tem uma escolha livre de Tema – outros fatores sendo iguais, ele
o mapeará no Sujeito (mas esta é meramente a opção não-marcada) – a outra distancia-
se dessa forma de oração com final aberto, na medida em que as opções temáticas forem
restringidas através de pressões estruturais por outras partes da gramática, pressões que
são elas mesmas temáticas na origem. Interrogativas e imperativas, e principalmente em
orações dependentes, o princípio temático determina o que será o Tema da oração,
deixando apenas a opção mais marcada como alternativa (como na interrogativa) ou não
deixando nenhuma.
Contudo, vimos também que há um princípio compensatório pelo qual, se o que
vem primeiro é 'fixo' (no sentido de que, sendo primeiro, é essencial ou pelo menos
característica típica), então o que vier a seguir pode reter algo do sabor temático. Se o
elemento inicial está lá como expressão não da escolha temática, mas de algum outro
requisito da gramática, então o que o segue será parte também do Tema. Incorporamos
esse fato num princípio geral de interpretação pelo qual o Tema de uma oração se
estende até o primeiro elemento que tenha função representacional (o Tema 'topical').
Portanto numa oração dependente como se o inverno chegar, uma parte do Tema é se,
expressando a natureza da relação da oração com alguma oração na vizinhança, e a
outra parte é inverno, que tem uma função tanto na transitividade (como Ator) e no
modo (como Sujeito).
O significado desses padrões fica claro quando consideramos a importância do
Tema da oração no desenvolvimento do texto. Por si a escolha do Tema em cada
instância, oração por oração, pode parecer um assunto confuso; mas não o é. A escolha
do Tema da oração é parte fundamental no modo como o discurso é organizado; é ela
que de fato constitui o que tem sido chamado de 'método de desenvolvimento' do texto.
Nesse processo, a contribuição principal vem da estrutura temática das orações
independentes. Mas outras orações também participam nessa contribuição, e devem ser
consideradas na análise Tema-Rema, o que pode ser visto no texto analisado na Seção
3.9 abaixo.
Não vamos aqui examinar detalhadamente outros tipos de oração, parte porque a
estrutura temática é menos variável e parte porque dependeríamos de referência
freqüente a capítulos vindouros. Contudo aqui está um resumo da organização temática
de orações diferentes das orações independentes, maiores ou explícitas.
(1) Orações dependentes (Capítulo 7). (i) Se finitas, elas têm a conjunção como
Tema estrutural, e.g. porque, que, se, seguidas do Tema topical; por exemplo Figura 3-
19.
23
A razão para isso, como vimos, é que o elemento QU- também tem uma função na
estrutura de transitividade da oração.
(ii) Se não-finita, deverá haver uma conjunção ou uma preposição como Tema
estrutural, que pode ser seguido por um Sujeito como Tema topical; mas muitas orações
não-finitas não têm nem uma nem outra , caso em que terão apenas o Rema. Veja
Figura 3-21.
(2) Orações encaixadas (embedded) (Capítulos 6 e 7). Estas são oraçoes que
funcionam no interior da estrutura de um grupo nominal, como as orações 'defining
relative'2, e.g. que veio para jantar, a represa quebrou, viagem pedida requer, em o
homem que veio para jantar, o dia que a represa quebrou, todo o pedido pessoal de
viagem permite. A estrutura temática de tais orações é a mesma das orações
dependentes. Contudo, por causa de sua down-ranking, o fato de elas não funcionarem
como constituintes de uma sentença, sua contribuição temática ao discurso é mínima, e
por razões práticas podem ser ignoradas.
(3) Orações menores (Capítulo 4). Estas são orações sem modo ou estrutura
transitiva, tipicamente funcionando como chamados, cumprimentos e exclamações,
como Mary!, boa noite!, excelente! Elas também não têm estrutura temática. (Nisso elas
se parecem com uma classe importante de itens tais como títulos e rótulos – não
consideradas como orações porque não têm função de fala independente.)
(4) Orações elípticas (Capítulo 4). (i) Elipse anafórica. Aqui alguma parte da
oração é pressuposta pela parte já ocorrida antes, como por exemplo, em resposta a uma
questão. As formas resultantes são variadas. Algumas não se distinguem das orações
menores, e.g. Sim. Não. Tudo certo. Claro.; estas não possuem estrutura temática; os
detalhes dependem do que for pressuposto. Figura 3-22 dá alguns exemplos.
(ii) Elipse exofórica. Neste tipo de elipse a oração não pressupõe nada da parte que
já ocorreu antes, mas simplesmente toma vantagem da estrutura retórica da situação,
especialmente os papéis de falante e ouvinte (Capítulo 4, Seção 4.6). Portanto, o
sujeito, e freqüentemente também o verbo finito, é 'entendido' a partir do contexto; e.g.
Com sede! ('você está com sede?'), Sem idéia. (Eu não faço idéia'). Uma música!
(vamos ter uma música!'), Sentindo-se melhor? ('você está se sentindo melhor?'). Tais
exemplos têm, de fato, uma estrutura temática; mas apresentam apenas o Rema. O
Tema é (parte de) o que omitido na elipse.
Para o significado do termo 'anafórico' e 'exofórico' , veja Capítulo 9 abaixo.
24
"Fogo, fogo!" gritou o gritador da cidade
Rema
'There is a fire'
tópico
deve ter sentido || que ele estava sendo forçado a entrar numa esquina. || esta foi, por
muito, uma ocupação
texto tópico. tópico
de vida. || E seria melhor ele ser grato pelo || o que seu pai e os amigos dele estavam
fazendo por ele ┤||
texto tópico ------
Pela sua alta integridade e princípios, Roberto puxava levemente a seu pai seus
negócios, || Ele eventualmente
top . *
tópico
consegue permissão, « no entanto relutantemente era dado, » de seu pai e seus sócios
para ter que deixar a falta
tópico .
de Newcastle ao trabalho, || dizendo-lhes || que ele assinaria um contrato por somente
um ano.
25
texto tópico
|| Foi somente após sua partida que eles descobriram || que de fato ele tinha assinado por
3 anos.
tópico .
|| sem dúvida que ele nunca escaparia, a menos que por engano, o qual os fez corroê-los.
int . tópico .
|| Um leve sentimento de medo do seu pai, misturado com pavor, vindo de muitas de
suas cartas. ||
tópico .
George finalmente entendeu || que seu filho queria sair e esticar asas em um país
novo. || e não havia
tópico texto tópico
texto tópico
mais nada que ele pudesse fazer sobre isto, não mais persuasão ele poderia oferecer. ||
Como era só por um ano,
.β
.
texto tópico
|| então ele pensou, ||ele poderia bem fazer o melhor disto, || embora isso não pudesse ter
vindo em hora pior ||
texto tópico tópico texto tópico
agora com as linhas de Darlington e Liverpool ambas em baixa || e embora ele tivesse
ficado pessoalmente
texto tópico . texto . tópico
machucado e entristecido com a decisão de seu filho ||
numa carta ├ escrita a Longridge ┤ em 7 de junho, 11 dias antes da saída de Robert.
George parecia
tópico .
*
distintamente miserável, até amargo, « embora tentando duramente esconder isso, » no
pospecto de viajar a Liverpool em tempo de ver a partida de Robert || ‘Eu estou um
pouco mais alegre a noite || como eu tenho
tópico
texto tópico
chegado a conclusão || que não há nada para mim mas duro trabalho neste mundo,
conseqüentemente eu posso
texto tópico texto
. tópico
ou não estar alegre’ || Depois ele chegou a Liverpool para se encontrar com Robert para
desejar adeus || George
gβ
. tópico
texto tópico
escreveu a Longbridge, dessa vez 15 de junho, || dizendo || que prazer foi ver Robert
novamente || ele descreve
int/top .
tópico
as festas espertas ├ que ele e Robert estiveram juntos ┤ || .
------
26
Convenções notacionais:
27
Parágrafo Tema (da oração complexa) Depois de chegar em Liverpool e encontrar
Robert
Orações temáticas:
Oração dependente Depois + ele
Oração independente George
Oração dependente Que prazer [ver Robert]
Oração independente ele
* O tema mostrado é um elemento tópico o qual seria tema não marcado (na oração
subseqüente) se a marca existente no tema tópico for repetido fielmente com a oração
dependente. No 1º exemplo aqui, se nós repetirmos mais congruentemente com o Além de criar
sua própria identidade, Robert...), então na oração seguinte Robert vem com o tema não
marcado..
Comentário:
28
4 ORAÇÃO COMO TROCA
Produto
trocado (a) bens e serviços (b) informação
Papel na
troca
(i) dar “oferta” “declaração”
você quer este bule? Ele está dando o bule a ela
(a) pedir “ordem” “pergunta”
Me dá aquele bule! O que ele está dando a ela?
Fig. 4-1 Dar e pedir, bens e serviços ou informação
Ligada a esta distinção básica entre dar e pedir há uma outra distinção, igualmente
fundamental, relacionada à natureza daquilo que está sendo trocado, que pode ser (a) bens e
serviços ou (b) informação. Os exemplos estão apresentados na Figura 4-1. Se você me diz algo
com a finalidade de conseguir que eu lhe faça algo, tal como “beija-me” ou “saia da minha frente!” ,
1 Agradeço a colaboração de Jacinta de Souza Fernandes na revisão na tradução.
1
ou que eu lhe dê algum objeto, como em “passa-me o sal!”, o que está sendo trocado é estritamente
não-verbal: o que está sendo pedido é um objeto ou uma ação, e a linguagem está sendo chamada
para ajudar no processo. Esta é uma troca de bens e serviços. Mas se você me diz algo com a
finalidade de conseguir que eu lhe diga algo, como em “é terça-feira?” ou “quando foi a última vez
que você viu seu pai?”, o que está sendo solicitado é uma informação: a linguagem é tanto o fim
quanto o meio, e a única resposta que se espera é verbal. Esta é uma troca de informação; os
exemplos estão apresentados na Figura 4-1. Essas duas variáveis, quando consideradas em
conjunto, definem as quatro funções da fala, de OFERTA, ORDEM, DECLARAÇÃO E
PERGUNTA. Estas, por sua vez, encontram um correspondente num conjunto de respostas
desejadas: aceitação da oferta, realização da ordem, compreensão de uma declaração e resposta a
uma pergunta. Ver o Quadro 4 (1).
Destas, apenas a última é essencialmente uma resposta verbal; as outras podem ser não-verbais.
Mas em geral, em situações da vida real, as quatro respostas são verbalizadas, com ou sem
acompanhamento de alguma ação não-verbal. Exemplos:
Ao assumir o papel de falante, o ouvinte tem uma considerável liberdade. Não somente pode
dar qualquer uma de uma ampla gama de possíveis respostas a uma pergunta, como também
executar uma ordem de diversas maneiras; ele pode se recusar a responder à pergunta, ou a fornecer
os bens e serviços solicitados. O falante, por sua vez, tem um modo de antecipar essas situações: ele
pode acrescentar uma pergunta de confirmação (TAG), como um lembrete de o que é esperado, e.g.
dá? não está?, como em:
2
Esta é a função da pergunta de confirmação no final da oração. Ele serve para sinalizar
explicitamente que se requer uma resposta, e que tipo de resposta se espera.
Desde que o que está sendo trocado seja bens e serviços, as escolhas à disposição do ouvinte
são relativamente limitadas: aceita ou rejeita a oferta, obedece ou não à ordem. Ele pode ser
evasivo, é claro; mas esse será apenas um meio de temporariamente evitar a escolha. Ora, no
desenvolvimento de uma criança, a troca de bens e serviços, usando a língua como meio, surge
muito antes da troca de informação: geralmente as crianças começam a usar símbolos lingüísticos
para dar ordens e fazer ofertas com a idade de mais ou menos nove meses, enquanto que para que
elas comecem a fazer declarações e perguntas depois disso, através de inúmeros passos
intermediários, pode ter que decorrer mais ou menos nove meses a um ano. É bem provável que a
mesma seqüência de desenvolvimento tenha ocorrido nas etapas iniciais da evolução da linguagem
humana, embora nunca venhamos a ter certeza a esse respeito. Não é difícil ver por que oferecer e
pedir precedem dizer e perguntar, quando a criança está começando a aprender a significar. A troca
de informação é mais complicada do que a troca de bens e serviços, porque no primeiro caso ao
ouvinte está sendo solicitado que não somente ouça e faça algo, mas também que desempenhe um
papel verbal – afirmar ou negar, fornecer uma informação que falta, como em:
É terça-feira. – Ah, é?
É terça-feira? - Sim.
Que dia é hoje?- Terça-feira.
O que é mais significante, contudo, é que o conceito de troca de informação é difícil para a criança
apreender. Bens e serviços são suficientemente óbvios: eu quero que você pegue o que eu tenho nas
mãos, ou continue me carregando, ou pegue o que eu deixei cair; e embora eu possa usar a
linguagem como meio de conseguir o que quero, a minha necessidade em si não é um produto
lingüístico – é algo que surge independentemente da linguagem. Tal não acontece com a
informação; ela não tem existência a não ser por meio da língua. Em declarações e perguntas, é a
própria linguagem que está sendo trocada; e não é de todo simples para uma criança interiorizar o
princípio de que a língua é usada para a troca de linguagem. Ela não tem a experiência de
“informação”, a não ser a sua manifestação por meio de palavras.
Quando a língua é usada para troca de informação, a oração toma a forma de uma
PROPOSIÇÃO. Ela se torna algo que pode ser contra-argumentado – algo que pode ser afirmado
ou negado, e também duvidado, contradito, reforçado, aceito com restrições, qualificado,
amenizado, lamentado e assim por diante. Mas não podemos usar o termo “proposição” para nos
referirmos a todas as funções da oração como um evento interativo, porque assim excluiríamos a
troca de bens e serviços, a série inteira de ofertas e ordens. Diferentemente de declarações e
perguntas, elas não são proposições; não podem ser afirmadas ou negadas. Porém, elas não são
menos significativas que declarações e perguntas; e, como já notamos, elas têm prioridade no
desenvolvimento ontogenético da linguagem.
Contudo, quando consideramos a oração como troca, há um motivo importante pelo qual é útil
olhar primeiro as proposições. Isto porque as proposições têm uma gramática claramente definida.
Como regra geral, as línguas não desenvolvem recursos especiais para ofertas e ordens, porque em
tais contextos a linguagem está funcionando simplesmente como um meio para a obtenção daquilo
que são essencialmente fins não-lingüísticos. Mas as línguas desenvolvem recursos gramaticais para
declarações e perguntas, que não só constituem fins em si mesmos, mas também servem como
ponto de entrada para uma grande variedade de funções retóricas. Assim, ao interpretarmos a
3
estrutura de declarações e perguntas, podemos chegar a um entendimento geral da oração na sua
função de troca.
Continuaremos usando o termo “proposição” no seu sentido comum para nos referirmos a uma
declaração ou pergunta. Mas será útil introduzir um termo paralelo para nos referirmos a ofertas e
ordens, pelo que nos referiremos a elas com o termo PROPOSTA. A função semântica da oração
como troca de informação é uma proposição; a função semântica da oração como troca de bens e
serviços é uma proposta.
The duke's given away that teapot, hasn't he? O duque deu aquele bule, não deu?
- Oh, has he? - Ah, ele [deu]?
- Yes, he has. - Sim, ele [deu].
- No he hasn't! - Não, ele não [deu]!
- I wish he had. - Eu queria que ele tivesse [dado].
- He hasn't; but he will. - Ele não [deu]; mas ele [dará].
- Will he? - Ele dará?
- He might. - Ele poderia [dar].
4
O que acontece nesses discursos é que um componente da oração está como que sendo lançado para
trás e para frente numa série de trocas retóricas; esse componente leva o argumento para diante,
enquanto o resto, (give(n) away that teapot/deu aquele bule, no diálogo), é deixado de lado, sendo
considerado como subentendido até que o discurso o requeira. Da mesma forma, na rima, love(s)
me/Ele me ama e have me/me terá são “entendidos” de uma linha para outra, com apenas uma parte
mínima da oração sendo usados para levar os sentimentos adiante.
Qual é o componente que está sendo relacionado dessa forma? É o chamado MODO (MOOD),
que consiste em duas partes: (1) o Sujeito, que é o grupo nominal, e (2) o operador Finito, que é
parte do grupo verbal. (Ver capítulo 6 adiante para uma discussão detalhada desses dois tipos de
grupo.) Assim em he might/Ele poderia, he/ele é o Sujeito e might/poderia é o Finito.
O Sujeito, quando aparece pela primeira vez, pode ser qualquer grupo nominal. Se for um
pronome pessoal como he/ele na rima, é simplesmente repetido a cada vez. Se for outra coisa, como
the duke/o duque , então, depois da primeira ocorrência, será substituído pelo pronome pessoal que
lhe corresponde. Assim, the duke/o duque torna-se he/ele, my aunt/minha tia torna-se she/ela, the
teapot/o bule torna-se it/ele.
O elemento Finito pertence a um pequeno número de operadores verbais que expressam tempo
(e.g. is/é, has/tem) ou modalidade (e.g. can/pode, must/deve); esses operadores estão apresentados
no Quadro 4(3) adiante. Note, contudo, que em algumas ocorrências o elemento Finito e o verbo
lexical estão “fundidos” numa única palavra, e.g. loves/ama. Isso ocorre quando o verbo é passado
simples ou presente simples (tempo), ativo (voz), positivo (polaridade) e neutro (contraste): em
inglês, dizemos gave, não did give; give(s) não do(es) give2. Ver Quadro 4(2).
Onde houver uma transformação para além da mudança do modo verbal ou polaridade, o verbo substituto do pode ser
usado para substituir o resto da oração, como em he might do, I wish he had done. Ver Capítulo 9 abaixo.
2 O verbo do, além do seu uso como verbo lexical, é também usado na língua inglesa como auxiliar verbal. Nesses
casos, a sua ocorrência realiza o finito. Porém, em construções como as referidas no texto (passado simples ou presente
simples, voz ativa, polaridade positiva e contraste neutro), o auxiliar não é usado, pelo que o finito surge fundido com o
verbo lexical (gave). Daí que em tais construções se diga gave e não did give, mas se possa dizer didn’t give (polaridade
negativa). Did give é apenas usado para realçar algo, isto é, é usado com valor enfático. Assim, optamos por manter o
original inglês, sem qualquer tradução para português, em virtude de na língua portuguesa esta particularidade do inglês
não encontrar correspondente.
5
negativa (polaridade) (he) didn't give did (he)?
(ele) não deu [passado + dar] deu?
contrastiva (contraste) (he) did give didn't (he)?
(ele) deu [passado + dar] não deu?
passado simples passiva (voz) (it) was given wasn't (it)?
foi dado não foi?
nenhuma das anteriores, i.e. (he) gave [passado + give] didn't (he)?
positiva, neutra, ativa
(ele) deu [passado + dar] não deu?
As formas do tempo 'fundido' são de fato as duas formas mais comuns do verbo em inglês. Quando
uma delas ocorre, o Finito did, do(es) aparecerá nas perguntas de confirmação e nas respostas
subseqüentes, e. g. He gave it away, didn't he? Yes, he did. Mas está já subjacente no verbo como
um traço sistemático “passado” ou “presente”, e está explícito nas formas negativas e contrastivas.
Exemplos de Sujeito e de Finito, no interior das orações e na pergunta de confirmação, estão na
Figura 4-2. Note-se a análise da forma do tempo simples, no exemplo final.
Deve ou não incluir-se na tag question em português o elemento sujeito (ele), entendendo-se que
ele está expresso na morfologia verbal? Tem também a questão do Predicador... (Mauro)
Como foi apontado no Capítulo 2, o termo 'Sujeito' como o estamos usando corresponde ao
'Sujeito gramatical' de terminologia do passado; mas ele está sendo reinterpretado aqui em termos
funcionais. O rótulo 'Sujeito gramatical' parece implicar a função gramatical cuja única função é ser
uma função gramatical, enquanto que o elemento em questão é semântico na origem, como os
demais elementos da oração. O Sujeito não é categoria gramatical arbitrária; ser o Sujeito da oração
significa algo.
Antes de dizer o que significa, vamos esclarecer como o Sujeito em inglês pode ser
reconhecido. O sujeito, numa oração declarativa, é o elemento que é retomado pelo pronome no
6
tag (cf. Figura 4-2 acima). Assim para localizar o Sujeito, acrescente um tag (caso não haja
nenhum) e veja o elemento que é escolhido. Por exemplo, that teapot was given to your aunt: aqui o
tag seria wasn't it? – não podemos acrescentar wasn't she? . Por outro lado com that pot your aunt
got from the duke o tag seria didn't she?; não podemos dizer didn't he? ou wasn't it?.
Esta não é a definição funcional do Sujeito; é a forma de identificá-lo. Note que a categoria que
é identificada desse modo concordará de fato com a concepção clássica de Sujeito, de 'aquele nome
ou pronome que concorda em pessoa e número com o verbo': Sujeitos he, she, it concorda com has,
e I, you, we, they com have. Essa formulação, contudo, tem uma aplicação um tanto restrita no
inglês moderno, porque com exceção do verbo to be , a única manifestação de pessoa e número do
verbo é o –s da terceira pessoa singular do tempo presente. A outra parte da definição clássica do
Sujeito, 'o nome ou o pronome que está no caso nominativo', é mais restrita ainda, já que as únicas
palavras em inglês que apresentam caso são I, we, he, she e they (e na linguagem formal também
who). O critério para reconhecimento do Sujeito que estamos usando aqui – 'o grupo nominal que é
repetido pelo pronome no tag'- pode ser seguido na oração declarativa. Note que esse fato envolve
coisas que não são tradicionalmente consideradas Sujeito: não apenas it em it's raining , mas
também there em there's trouble in the shed, ambos com função de Sujeito no inglês moderno.
Alguns outros exemplos são dados na Figura 4-3.
Sujeito e Finito estão intimamente ligados, e se combinam para formar um constituinte que
chamamos Modo. (Para a outra função que pode ocorrer no Modo veja Seção 4.3 abaixo.) O Modo é
o elemento que realiza a seleção do modo da oração. Ele tem sido chamado também de elemento
'Modal'; mas a dificuldade com esse termo é que modal é ambíguo, já que corresponde tanto a modo
quanto a modalidade.
O restante da oração é chamado Resíduo. Ele tem sido também rotulado de 'Proposição', mas
este termo também não é apropriado; em parte porque, como já mencionamos, o conceito de
proposição se aplica apenas à troca de informação, e não à troca de bens e serviços, e em parte
porque, mesmo na troca de informação, é o elemento Modo que incorpora a proposição e não o
resto da oração. Voltaremos à estrutura do Resíduo mais abaixo.
O princípio geral subjacente à expressão do modo da oração é o seguinte. A categoria
gramatical que é caracteristicamente usada para troca de informação é o indicativo; dentro da
categoria do indicativo, a expressão característica da declaração é a declarativa; da pergunta é a
7
interrogativa; e dentro da categoria do interrogativo, há ainda uma distinção entre interrogativa
sim/não, para perguntas polares, e interrogativa WH-, para perguntas de conteúdo. (Estas foram
descritas no Capítulo 3, Seção 3.3.) Essas características são em geral expressas como mostrado
abaixo:
(1) A presença do elemento Modo, formada por Sujeito + Finito, realiza a característica 'indicativo'.
(a) declarativa
the duke has given that pot away
Sujeito Finito
Modo
Resíduo
Para a análise da interrogativa WH-, que envolve a consideração do Resíduo, ver a Seção 4.4,
Figuras 4-10 a 4-12.
8
Por que o Sujeito e o Finito têm este significado especial em inglês? Precisamos considerar cada um
desses elementos, já que, embora ambos sejam semanticamente motivados, sua contribuição na
oração não é a mesma. Vamos examinar o Finito primeiro.
(1) O elemento Finito, como diz o nome, tem a função de tornar finita a proposição. Isto é, ele
a circunscreve; ele traz a proposição para a realidade, de forma que ela possa ser objeto de
discussão. Uma boa maneira de tornar algo discutível é dar-lhe um ponto de referência no aqui e
agora; e isso é o que o Finito faz. Ele liga a proposição ao seu contexto no evento da fala.
Isto pode ser feito de duas formas. Uma é pela referência ao tempo da fala; a outra pela
referência ao julgamento do falante. Um exemplo da primeira é was em an old man was crossing
the road; a segunda, can't em it can't be true. Em termos gramaticais, a primeira é o TEMPO
PRIMÁRIO, a segunda é a MODALIDADE.
(i) Tempo primário significa passado, presente ou futuro do momento da fala; é o tempo
relativo ao 'agora'. Uma proposição pode se tornar objeto de discussão ao ter sua relevância no
evento da fala especificado nesses termos temporais. (ii) Modalidade significa o julgamento do
falante sobre as probabilidades, ou as obrigações, envolvidas no que ele está dizendo. Uma
proposição pode se tornar objeto de discussão ao ser apresentada como provável ou não, desejável
ou não – em outras palavras, sua relevância especificada em termos modais. (Veja Seção 4.5
abaixo, e também o Capítulo 10.)
A finitude é pois expressa por meio de um operador verbal que é temporal ou modal. Mas há
uma outra característica que é um concomitante essencial da finitude, e esta é a POLARIDADE,
que é a escolha entre positivo e negativo. Para algo ser objeto de discussão, precisa ser especificado
em termos de polaridade: ou ele é assim, ou não é assim. Assim, além de expressar tempo primário
ou modalidade, o elemento Finito também realiza a feição da polaridade. Cada um dos operadores
aparece tanto na forma positiva quanto na negativa: did/didn't, can/can't e assim por diante.
A Tabela 4(3) lista os operadores verbais do Finito, positivo e negativo. Note que algumas das
formas negativas, tais como mayn't, são pouco freqüentes, pois em geral ocorrem em separado (may
not, used not to). Nesses casos, o not pode ser analisado como parte do Resíduo; mas é importante
notar que esta é uma simplificação – às vezes ele pertence funcionalmente ao Finito, por exemplo
you may not leave before the end ('are not allowed to'): not parte do Finito
you may not stay right to the end ('are allowed not to'): not parte do Resíduo
9
positivo did, was, had, used to does, is, has will, shall, would, should
negativo didn't, wasn't, hadn't, didn't doesn't, isn't, hasn't won't, shan't, wouldn't, shouldn't
+ used to
Operadores
modais
baixo médio alto
positivo can, may, could, might, will, would, should, is/was must, ought to, need, has/had to
(dare) to
negativo needn't, doesn't/didn't + won't, wouldn't, shouldn't, mustn't, oughtn't to,can't, couldn't,
need to, have to (isn't/wasn't to) (mayn't, mightn't, hasn't'hadn't to)
Aqui o Sujeito está dissociado do Ator, mas o Sujeito ainda especifica aquele que é o responsável
pelo sucesso da proposta. Este papel pode ser reconhecido facilmente no caso de ofertas e ordens;
mas é o mesmo princípio que está em ação em afirmações e perguntas. Aqui também o Sujeito
especifica o elemento 'responsável'; mas numa proposição isso significa aquele sobre o qual repousa
a validade da informação feita. (É importante expressá-lo nesses termos do que em termos de
10
verdadeiro e falso. O conceito relevante é o da trocabilidade, estabelecendo algo tal que este possa
ser pego, devolvido, amassado, rebatido etc. A semântica nada tem a ver com a verdade.)
Note os diferentes Sujeitos nos exemplos da Figura 4-5.
Assim se quisermos saber por que o falante escolhe este ou aquele item como Sujeito de uma
proposição, há dois fatores que devemos ter em mente. Um é que, mantidos outros fatores, o mesmo
item funcionará tanto como Sujeito quanto como Tema. Vimos no Capítulo 3 que o Tema não-
marcado de uma oração declarativa é o Sujeito; assim se o falante quiser fazer de teapot o Tema,
mas sem a implicação de contraste que se faria presente caso ele escolhesse o Tema marcado (i.e.
um Tema que não fosse também o Sujeito, como em that teapot the duke gave to my aunt), ele
escolherá uma opção com that teapot como Sujeito, ou seja that teapot was given by the duke to my
aunt. Aqui há uma escolha integrada de um item realizando duas funções simultaneamente: Sujeito
na proposição e Tema na mensagem.
Ao mesmo tempo, contudo, a seleção deste item como Sujeito tem um significado próprio: o
falante está atribuindo ao teapot não somente a função de ponto de partida da mensagem, mas
também o de 'resting point' do argumento. Este fato é verificado dissociando-se um do outro,
selecionando itens diferentes como Sujeito e como Tema. Por exemplo:
Aqui o the teapot é Tema ('agora sobre a chaleira:'), mas the duke é Sujeito; cabe a ele sustentar a
validade da afirmação. Portanto, apenas he, não she ou it, pode figurar no tag e na resposta. No
seguinte the teapot é ainda o Tema, mas o Sujeito agora mudou para aunt:
That teapot your aunt was given the duke, wasn't she?
11
- No she wasn't. She bought it at an auction.
Finalmente vamos inverter esses dois papéis, para termos aunt como Tema e the teapot como
Sujeito:
To your aunt that teapot came as a gift from the duke, didn't it?
- No it didn't. It was the first prize in a Christmas raffle.
Portanto, o elemento Mood tem uma função semântica claramente definida: ele carrega o peso
da oração como um evento interativo. Assim ele permanece constante, um ponto fixo da
proposição, a menos que algum passo seja dado para mudá-lo.
The duke has given your aunt a new teapot, hasn't he?
Aqui a proposição é abandonada, sendo rejeitada, em (i); o que permite uma nova proposição,
com mudança de Sujeito, como em (ii), ou mudança de Finito, como em (b). Cada um desses dois
constituintes, o Sujeito e o Finito, desempenham seu próprio papel específico e significativo na
estrutura da proposição.
Na seção seguinte, vamos discutir a estrutura do Resíduo. Voltaremos então a considerar o
elemento Mood, com uma análise do mood em orações interrogativas com WH-, imperativas e
exclamativas. Aqui está um exemplo de texto curto tirado da conversa de Alice com Humpty
Dumpty:
(1) Predicador. O Predicador está presente na maioria das orações, exceto quando está oculto
por elipse. Ele é realizado por um grupo verbal menos o operador temporal ou modal, que, como
vimos, funciona como Finito no elemento de Modo; por exemplo, nos grupos verbais was shining,
have been working, may be going to be replaced as partes que funcionam como Predicador são
shining, been working, going to be replaced. O Predicador é, portanto, não-finito; e há orações não-
finitas que contêm um Predicador, mas não o elemento Finito, por exemplo: eating her curds and
whey (seguindo Little Miss Muffet sat on a tuffet). Para discussão das orações não-finitas, ver o
Capítulo 7, Seção 7.4.
13
São quatro as funções do Predicador. (i) Especifica a referência de tempo além da referência
de tempo do evento da fala, i.e. um tempo 'secundário': passado, presente ou futuro relativos ao
tempo primário (veja Capítulo 6). (ii) Especifica vários outros aspectos e fases como parecer,
tentar, esperar (veja Capítulo 7 Adicional, Seção 7.A.4-6). (iii) Especifica a voz: ativa ou passiva
(veja Capítulo 6, Seção 6.3.2). (iv) Especifica o processo (ação, evento, processo mental, relação)
que é predicado a respeito do Sujeito (veja Capítulo 5). O que foi dito pode ser exemplificado
através do grupo verbal has been trying to be heard, em que o Predicador, been trying to be heard,
expressa (i) um tempo secundário complexo, been + ing; (ii) uma fase conativa, try + to; (iii) voz
passiva, be + d; (iv) o processo mental hear.
Há dois verbos em inglês, be e have, em que rigorosamente falando, as formas do passado
simples e as do presente simples consistem em elemento Finito apenas, em vez da fusão do Finito
com o Predicador, o que se verifica através das negativas: o negativo de is, was é isn't, wasn't – e
não doesn't be, didn't be. Da mesma forma com have (no sentido de 'possuir', e não no sentido de
'take'): as formas negativas são hasn't, hadn't, como na Tabela 4(4). O padrão com have varia com o
dialeto: alguns falantes tratam have 'possuir' como have 'take', com a negativa doesn't have; outros
expandem-no para have + got (cf. I haven't a clue/ I don't have a clue/ I haven't got a clue). Mas
desde que em outros tempos be e have funcionam como Predicadores normalmente, parece mais
simples analisá-los como '(passado/presente) + be/have'. Um exemplo é dado na Figura 4-7 (na
qual, rigorosamente, em (a) não haveria Predicador). Note que na análise do texto da Seção 4.8 uma
versão reduzida é adotada para economizar espaço.
Tabela 4(4) Formas do passado e presente simples de be e have
passado positivo passado negativo presente positivo presente negativo
be was, were wasn't, weren't am, is, are isn't, aren't (ain't)
have had hadn't have, has haven't, hasn't
'para o jantar'
Mary had a little lamb didn't she
Sujeito '(passado) have'
Finito Predicador Complemento Finito Sujeito
Mood Resíduo Mood tag
Fig. 4-7 Análise de orações com have
14
(2) Complemento. O Complemento é um elemento do Resíduo que tem o potencial de ser
Sujeito, mas não é. Normalmente, é realizado por um grupo nominal. Assim, em the duke gave my
aunt that teapot há dois Complementos, my aunt e that teapot. Qualquer um deles poderia funcionar
como Sujeito em uma oração a ela relacionada.
Há uma exceção a esse princípio geral: é o caso do Complemento atributivo, como em King
Alfred was a noble king, ou its fleece was white as snow (veja Capítulo 5, Seção 5.4). Não há
nenhuma oração relacionada a elas que tenha a noble king ou white as snow como Sujeito. (Formas
como white as snow was its fleece aparecem apenas como variantes literárias arcaicas; elas não são
alternativas sistemáticas.)
(3) Adjunto. O Adjunto é um elemento que não tem o potencial de ser Sujeito. É em geral
realizado por um grupo adverbial ou uma frase preposicional. Em my aunt was given that teapot
yesterday by the duke há dois Adjuntos: o grupo adverbial yesterday e a frase preposicional by the
duke.
Uma frase preposicional, contudo, tem sua própria estrutura interna, que contém um
Complemento (veja Capítulo 6, Seção 6.5 abaixo). Em by the duke, the duke é Complemento em
relação à preposição by. Assim, embora by the duke seja um Adjunto, e não possa se tornar Sujeito,
tem como um dos seus constituintes the duke, que é um Complemento em um outro nível, e poderia
tornar-se Sujeito.
No caso de by the duke, se the duke vier a funcionar como Sujeito, então a preposição
simplesmente desaparecerá: that teapot was presented by the duke, the duke presented that teapot.
Da mesma forma com o Adjunto to my aunt; se my aunt se tornar Sujeito, o to desaparece: that
teapot was given to my aunt, my aunt was given that teapot. (O princípio subjacente a esse fato é
explicado no Capítulo 5, Seção 5.8.) Mas cada vez mais em inglês moderno o Complemento de
qualquer preposição tem o potencial de se tornar Sujeito, mesmo quando a preposição tenha de ser
retida e, assim, funcione como um Adjunto. Por exemplo, em that paper's already been written on,
that paper funciona como Sujeito, deixando on no final como um Adjunto truncado (Figura 4-8).
(a)
that paper 's already been written on
Sujeito Finito Adjunto Predicador Adjunto
Mood Resíduo
(b)
somebody 's already written on that paper
15
A ordem típica dos elementos no Resíduo é: Predicador ^Complemento(s)^Adjunto(s), como
em the duke gave my aunt that teapot last year for her birthday. Mas, como vimos, um Adjunto ou
um Complemento podem ocorrer como Tema, como um elemento WH- em interrogativa ou como
um Tema marcado em uma oração declarativa. Isso não significa que eles se tornem parte do
elemento Mood; eles continuam no Resíduo. Como resultado, portanto, o Resíduo é partido em
dois: torna-se descontínuo. Em that teapot the duke had given to my aunt last year, em que that
teapot é o Complemento temático marcado, o Resíduo é that teapot ... given to my aunt last year.
Constituintes descontínuos podem ser representados no diagrama de caixa e de árvore, como na
Figura 4-9.
16
subcategorias que funcionam como Tema. Aqui precisamos considerar toda a série dos Adjuntos
Modais, e por isso é melhor listá-los novamente.
(1) Adjuntos de Modo. São assim chamados porque estão mais intimamente associados aos
significados construídos no sistema de modo: de polaridade, modalidade, temporalidade e modo.
Pela mesma razão, eles tendem a ocorrer na oração perto do operador verbal Finito, por exemplo,
just em we have (we've) just arrived. Contudo, como vimos no Capítulo 3, com muitos tipos há uma
forte tendência a não serem temáticos, caso em que ocorrem no início da oração antes do Tema
topical, e.g. usually em usually they don't open before ten; além disso, eles podem ser incluídos no
fim da oração como um comentário tardio. Isso resulta em três posições: inicial (temático), medial
(neutro) e final (comentário tardio). Na posição medial, muitos deles têm ainda uma outra opção de
preceder ou seguir o Finito, e então na realidade temos quatro possibilidades, como as seguintes:
A diferença entre (b) e (c) é de fato sistemático, como aparecerá em muitos casos quando a
polaridade é negativa: compare they always don't open, com always no elemento Mood ('always
not' = 'never'), com they don't always open, em que always é o Resíduo ('not always' = 'sometimes').
Onde houver diferença, o significado de (a) corresponde ao de (b) não de (c); por exemplo, (a)
possibly he can't decide é equivalente a he possibly can't decide, não a he can't possibly decide.
Mas no positivo, e no negativo em alguns subtipos (ver Capítulo 10, Seção 10.4.2), a diferença é
em grande parte neutralizada; compare you soon will see/ will soon see a big change.
Há um grande número de pequenas variações entre diferentes subconjuntos e mesmo entre
itens individuais; não vamos nos estender nesse assunto. Os principais itens que funcionam como
Adjunto Modal incluem:
Adjuntos de temporalidade:
(f) tempo: yet, still, already, once, soon, just
(g) tipicalidade: occasionally, generally, regularly, mainly, for the most part
17
Adjuntos de mood:
(h) obviedade: of course, surely, obviously, clearly
(i) intensidade: just, simply, merely, only, even, actually, really, in fact
(j) grau: quite, almost, nearly, scarcely, hardly, absolutely, totally, utterly, entirely,
completely
(2) Adjuntos de Comentário. Não há uma distinção clara entre estes e os Adjuntos de Modo: a
categoria de 'presunção' coincide com a de 'obviedade', a categoria de 'opinião' é bem semelhante à
de 'probabilidade'. A diferença está em que os Adjuntos de Comentário estão menos
intrinsecamente ligados à gramática de modo; eles expressam a atitude do falante em relação à
proposição como um todo. Assim, embora ambos tendam a aparecer nos mesmos lugares na oração,
os motivos são um pouco diferentes: os Adjuntos de Comentário estão menos integrados à estrutura
de modo da oração. Porém, mais à semelhança dos Adjuntos Conjuntivos, eles ocorrem em pontos
da oração significativos para a organização textual. Em especial, estão fortemente associados com a
fronteira entre unidades informacionais, realizadas como uma fronteira entre grupos tonais; esse
fato é sinalizado pela vírgula que em geral acompanha os Adjuntos de Comentário na escrita. Eles,
em geral, ocorrem em posição inicial, como Tema, com proeminência tônica própria; podem
também ocorrer em posição medial, seguindo o item proeminente, entre o Tema e o Rema ou entre
o Modo e o Resíduo – ou em posição final, como comentário tardio.
Por exemplo:
Os principais itens que funcionam como Adjuntos de Comentário foram dados na Tabela 3(3) e não
precisam ser repetidos aqui (ver Capítulo 3, Seção 3.4).
Assim, os Adjuntos de Modo ocorrem em lugares variados, mas funcionalmente significativos,
ao longo da oração. Eles se relacionam intimamente com o sistema de modo; obviamente, isso é
muito mais verdadeiro no que diz respeito aos Adjuntos de Modo do que aos Adjuntos de
Comentário, mas como os dois tipos formam um contínuo, nós os analisaremos como parte do
constituinte Modo da oração. A Figura 4-10 dá um exemplo.
18
Mood Resíduo Mood
Fig. 4-10 Oração com Adjunto Mood e Adjunto de Comentário
Enquanto todos eles podem ocorrer tematicamente, apenas os Adjuntos Circunstanciais podem
ocorrer normalmente como Tema Predicado: podemos dizer it's on the hill that it rains more
heavily, mas não it's on the whole that it rains more heavily.
O que é comum para os Adjuntos Modais e Conjuntivos, diferentemente dos circunstanciais, é
que ambos estão construindo um contexto para a oração. Assim, mesmo que o mesmo traço
semântico possa estar envolvido, por exemplo, tempo, este terá um significado diferente em cada
caso. Um Adjunto modal de tempo, como just, yet, already, relaciona-se intimamente com o tempo
primário, que é o 'tempo partilhado' entre falante e ouvinte; um Adjunto conjuntivo de tempo como
next, meanwhile, localiza a oração no tempo com respeito ao ambiente texto precedente; e ambos
são diferentes do tempo como uma circunstância, como in the afternoon. E o mesmo item pode
funcionar às vezes circunstancialmente, e às vezes conjuntivamente; por exemplo then, at that
moment, later on, again.
19
Assim para propósitos da análise, podemos incluir os Adjuntos conjuntivos no arcabouço desta
parte da descrição. Mas note que eles formam por si só um constituinte; eles não são parte nem do
Mood nem do Resíduo. Exemplos na Figura 4-11.
20
'(passado) kill'
Sujeito WH- Finito Predicador Complemento
Mood Resíduo
Fig. 4-12 Elemento WH- coincidindo com o Sujeito
Se, por outro lado, o elemento WH- coincidir com o Complemento ou com o Adjunto, será parte do
Resíduo; e nesse caso, em inglês, a ordem típica da interrogativa dentro do elemento Mood se
reafirma e temos o Finito precedendo o Sujeito, como na Figura 4-13.
(a)
whose little boy are you
Complemento/WH- Finito Sujeito
Resíduo Mood
(b)
para onde (passado) todas as flores foram
where have all the flowers gone
Adjunto/WH- Finito Sujeito Predicador
Resíduo Mood Resíduo
Fig. 4-13 elemento WH- coincidindo com (a) Complemento, (b) Adjunto
21
Este é um tipo de Adjunto que quase nunca é temático, pelas razões óbvias – não somente ele teria
de passar por cima de um elemento WH-, mas também não funcionaria como uma expressão
circunstancial.
(2) Exclamativas. Estas orações têm como elemento WH- que (what) ou quão/como ( how),
em grupo nominal ou adverbial. What coincide com o Complemento, como em what tremendously
easy riddles you ask; este é em geral um Complemento atributivo, como em what a fool he is. How
coincide com um Adjunto, como em how fast we're going, how he stares; ou com um Complemento
atributivo, como em how foolish he is. No inglês antigo o Finito nessas orações precedia o Sujeito,
como em how are the mighty fallen; mas uma vez que a seqüência Finito^Sujeito ficou
especificamente associada ao mood interrogativo, a ordem normal em exclamativas ficou sendo
Sujeito^Finito. Um exemplo é dado na Figura 4-15.
(3) Imperativas. O imperativo tem um sistema de PESSOA diferente do indicativo. Uma vez
que o imperativo é o modo para troca de bens e serviços, seu Sujeito é 'you' ou 'me' ou 'you and me'.
Se tomarmos a 'segunda pessoa', 'you' , como a forma-base, uma oração imperativa apresenta o
seguinte paradigma:
As letras maiúsculas indicam saliência: essas sílabas, em inglês, precisam estar ritmicamente
proeminentes (elas podem ser, mas não necessariamente, tonicamente proeminentes). Assim há um
contraste entre o imperativo /you/ look, com you como Ictus, e a declarativa típica / ^ you/ look,
com you como Remiss e em geral reduzida foneticamente. (Onde as duas são em maiúscula, uma
pelo menos é saliente.)
Ao analisar o inglês, vemos que a positiva não-marcada não possui o elemento Mood, e a
forma verbal (e.g. look) é apenas o Predicador, sem incluir o finito. As demais formas possuem o
elemento Mood; este consiste em Sujeito apenas (you), Finito apenas (do, don't), ou Finito seguido
de Sujeito (don't you). Qualquer um deles pode ser seguido pelo tag do Modo: won't you? , will
you? – mostrando que a oração é finita, mesmo que o verbo seja não-finito (o imperativo de be é be,
como em Be quiet!, não a forma finita are). Historicamente as formas do, don't são derivadas das
formas não-finitas do verbo do, mas elas agora funcionam analogamente ao operador Finito na
oração indicativa; compare a seqüência dialógica Look! – Shall I? – Yes, do! ou No, don't, com a
resposta consistindo apenas no elemento do Modo.
22
As formas correspondentes ao imperativo com você e eu (you e me) são:
O tag é shall we?, e a forma da resposta é Yes, let's (do let's); No, don't let's (let's not). Note
que o significado de let's inclui sempre 'you'; é diferente de we/us do indicativo, que podem incluir
ou excluir o ouvinte. Portanto, uma seqüência como let's go; you stay here é contraditória, a menos
que haja mudança de destinatário; um oferecimento que seja não-inclusivo é realizado ou como
declarativa we'll go, ou como let us go, com o imperativo do verbo let.
Como é a análise de vamos (let's)? Dado o seu lugar no paradigma, é mais bem interpretado
como uma forma peculiar do Sujeito 'you and I' (note que a pessoa marcada é realizada pelo Ictus
no let's, paralelo ao de you). A única forma anômala então é a resposta Yes, let's!, No, let's not!, que
nesta análise tem sujeito e não finito; mas em cada caso há uma forma alternativa com o elemento
finito, Yes, do let’s! No, don’t let’s!, que também sugere que let's seja percebido como Sujeito. (A
ordem do let's corresponde à ordem antiga da segunda pessoa como em Do you look!.)
Os tipos de imperativo acima pertencem ao subtipo JUSSIVO, que significa 'ordenar'. Em
contraste com esta há o OPTATIVO, ou o subtipo 'desejar' . Essas são formas da 3a. pessoa do
imperativo, como Lord save us!, raras exceto em exclamações e na fala de crianças pequenas (e.g.
Daddy carry me!); aqui também há um Sujeito, mas não operador Finito. Intermediárias entre
jussivo e optativo estão as formas da 1a. e 3a. pessoas com let: let me look, let them beware; estas
são mais bem analisadas como causativas (veja Capítulo 7, Seção 7A.5 (2) ). Note que não há
optativas com pronome Sujeito, tal como They (ou Them) beware!; todos os imperativos
pronominais exigem um let- incluindo a forma completa let us ..., da qual deriva, naturalmente, o
let's moderno. (A variante mais antiga let you ... não ocorre mais.) Exemplos de orações imperativas
são dados na Figura 4-16.
(a)
come into my parlor will you
Predicador Adjunto Finito Sujeito
Resíduo Mood tag
(b)
do take care won't you
Finito Predicador Complemento Finito Sujeito
23
Mood Resíduo Mood tag
(c)
let's go home shall we
Finito Predicador Adjunto Finito Sujeito
Mood Resíduo Mood tag
(d)
don't you believe it
Finito Sujeito Predicador Complemento
Mood Resíduo
Fig. 4-16 Orações imperativas
POLARIDADE é a escolha entre positivo e negativo, como em is/isn't (ser/não ser), do/don't
(fazer/não fazer). Em geral, tanto no inglês quanto no português, a polaridade é expressa no
elemento Finito; cada operador verbal Finito tem duas formas, uma positiva, is, was, has, can (é,
era, tem, pode), etc., e uma negativa, isn't, wasn't, hasn't, can't (não é, não era, não tem, não pode)
(ou as contrações is not, cannot ...), etc. Como já mencionado (Capitulo 3), essa é a razão pela qual
o elemento Finito é temático em uma oração interrogativa do tipo sim/não: essas orações são
justamente um pedido de informação sobre a polaridade.
O elemento Finito é inerentemente positivo ou negativo: sua polaridade não figura como um
constituinte separado. É verdade que o negativo é realizado como um morfema distinto não (n't ou
not, em inglês); mas esse é um elemento da estrutura do grupo verbal, não da estrutura da oração.
Contudo, as possibilidades não estão limitadas à escolha entre sim e não. Há graus
intermediários, vários tipos de indeterminação, como 'às vezes' ou 'talvez'. Esses graus
intermediários entre os pólos positivo e negativo são conhecidos coletivamente como
MODALIDADE.
Mas há mais de uma maneira de ir de 'sim' a 'não'. Para entendermos isso, precisamos voltar à
distinção entre proposição ('informação' i.e., afirmações e perguntas) e propostas ('bens e serviços',
i.e., ofertas e ordens).
(1) Proposições. Numa proposição, o significado dos pólos positivo e negativo é afirmação e
negação, respectivamente: positivo 'é assim', negativo 'não é assim'. Há dois tipos de possibilidades
intermediárias: (i) graus de probabilidade: 'possivelmente/provavelmente/certamente'; (ii) graus de
freqüência: 'às vezes/geralmente/sempre'. Os primeiros são equivalentes a 'ou sim ou não', i.e. pode
ser sim, pode ser não, com diferentes graus de possibilidade. Os últimos são equivalentes a 'tanto
sim quanto não', i.e. às vezes sim, às vezes não, com graus diferentes de freqüência. É a essas
24
escalas de probabilidade e freqüência que o termo 'modalidade' pertence. Para diferenciá-las, vamos
nos referir a elas como MODALIZAÇÃO.
Tanto a probabilidade quanto a freqüência podem ser expressas das mesmas três maneiras: (a)
por um operador modal finito no grupo verbal (ver Tabela 4(3», e.g. that will be John, he'll sit there
all day (deve ser John, ele ficará sentado lá o dia inteiro); (b) por um Adjunto modal de (i)
probabilidade ou (ii) freqüência (ver Tabela 3(3)), e.g. that's probably John, he usually sits there all
day, (provavelmente é John, normalmente ele fica sentado lá o dia inteiro). (c) pelos dois juntos,
e.g. that'll probably be John, he’ll usually sit there all day (provavelmente deve ser John,
normalmente ele ficará sentado lá o dia inteiro).
Note que, numa declaração, a modalidade é uma expressão da opinião do falante: that will be
John (deve ser John); enquanto que, numa pergunta, é um pedido de opinião do ouvinte: will that be
John? (será John?) Note também que mesmo um valor modal alto ('certainly' (certamente),
'always' (sempre)) é menos determinado do que uma forma polar: that's certainly John (certamente
é John) é menos certo que that's John (é John); it always rain in summer (sempre chove no verão) é
menos invariável que it rains in summer (chove no verão). Em outras palavras, você só diz que tem
certeza quando não tem.
(2) Propostas. Em uma proposta, o significado dos pólos positivo e negativo é ordenar ou
proibir: positivo: 'faça isso', negativo: 'não faça isso'. Aqui também há dois tipos de possibilidades
intermediárias, neste caso dependendo da função da fala, se comando ou se oferta. (i) Em um
comando, os pontos intermediários representam graus de obrigação: 'allowed to/supposed to/
required to'; (ii) em uma oferta, elas representam graus de inclinação: 'willing to'/anxious to/
determined to'. Referir-nos-emos a essas escalas de obrigação e inclinação como MODULAÇÃO,
para distingui-las do outro sentido de modalidade, que estamos chamando de modalização.
Novamente, tanto a obrigação quanto a inclinação podem ser expressas de duas maneiras,
embora, nesse caso, não por ambas: (a) por um operador modal finito, e.g. you should know that, I'll
help them; (b) por uma expansão do Predicador (ver Capítulo 7 Adicional, Seção 7.A.5), (i)
tipicamente por um verbo passivo, e.g. you're supposed to know that, (ii) tipicamente, por um
adjetivo, e.g. I'm anxious to help them.
As propostas que são claramente positivas ou negativas, como vimos, são trocas de bens e
serviços entre falante e ouvinte, nas quais o falante está ou (i) oferecendo-se para fazer algo, e.g.
shall I go home?, ou (ii) pedindo ao falante que faça algo, e.g. go home!, ou (iii) sugerindo que
ambos façam algo, e.g. let’s go home! Elas raramente têm Sujeito de 3a. pessoa, exceto preces ou
juramentos. Orações moduladas, por outro lado, embora também ocorram freqüentemente como
ofertas, comandos e sugestões (l’ll be going, you should be going, we ought to be going),
normalmente implicam uma 3a. pessoa; são declarações de obrigação e inclinação feitas pelo
falante a respeito de outros, e.g. John's supposed to know that, Mary will help. Neste caso, elas
funcionam como proposições, já que, para a pessoa a quem estão dirigidas, soam mais como
informação do que bens e serviços. Mas nem por isso perdem sua força retórica: se Mary estiver
ouvindo, ela dificilmente poderá recusar.
25
(90)
A Tabela 4(5) resume as categorias principais da modalidade e da modulação, e as suas
realizações típicas na oração. O que apresentamos aqui é um esboço de descrição de uma área muito
rica e complexa da gramática (que retomaremos em um diferente contexto no Capítulo 10). Há
outras nuances na modalização e na modulação, exemplificadas por formas como it must hurt (alta
probabilidade; cf. it obviously hurts), must you do that? (alta inclinação; cf. you insist on doing
that). Demos exemplos apenas do ponto de vista do pólo positivo; mas é igualmente possível
modalizar orações negativas, expressando, por assim dizer, graus de negatividade em vez de graus
de positividade: por exemplo, that can't be true, that certainly isn't true; you needn't stay, you're not
expected to stay. Na categoria de freqüência há Adjuntos especiais que incorporam a negatividade,
como: seldom (ele raramente vem ‘ele quase sempre não vem’ - he seldom comes ‘he almost always
doesn’t come’), never (ele nunca vem ‘ele quase sempre não vem’ he never comes ‘he always
doesn’t come’); compare, em outras escalas, palavras como improvável ('provável + não'), relutante
('quase determinado + não'), proibido ('solicitação + não’).
No que diz respeito à análise estrutural, os operadores modais finitos e os Adjuntos modais
foram tratados nas seções anteriores. A palavra negativa not ocorre em duas funções: simplesmente
como variante formal ou escrita do elemento negativo finito n't, sendo nesse caso parte do Finito, ou
como Adjunto modal diferente em Modo e Resíduo. Neste caso, é fonologicamente saliente, e
também pode se tônico, e.g.
// I will / not al/low it // (Eu não per/mitirei isso)
// we were / not im/pressed // (nós / não fi/camos impressionados)
Em orações não-finitas esta é a única forma do negativo, como em not having been told about it,
not to allow it; aqui não há Finito, mas o Adjunto modal pode constituir um elemento de Modo por
si só ou junto com o Sujeito, se houver. A Figura 4-17 apresenta algumas análises. As formas
expandidas da modulação tais como expected to, allowed to, keen to, podem ser interpretadas
estruturalmente como Predicadores complexos. Para outras análises, ver Capítulo 7 Adicional,
Seção 7A.5(1).
she couldn't possibly not have known about it
Sujeito Finito Adjunto Modal Adjunto Modal Predicador Adjunto
Mood Resíduo
26
Fig. 4-17 Adjunto Modal de polaridade em orações finitas e não finitas.
(c) no it isn't
27
4.6 Ausência de elementos da estrutura modal
4.6.1 Elipse
Notamos na Seção 4.2 que o padrão típico do diálogo em inglês é aquele em que o diálogo é levado
adiante pelo elemento Mood da oração. Uma troca centrada na validade de uma declaração - a
identidade do Sujeito, a escolha e o grau de polaridade - podem ser realizada por orações formadas
apenas pelo Mood, sendo o Resíduo estabelecido no início, e depois pressuposto através de elipse
ou através de substituição pelo do.
(a)They´re late – [novo falante]
yes they usually are
Sujeito Adjunto Modal ´(presente) Be´
Finito ´Predicador.
Mood Residuo
Cont. Top. Rema
Tema
Trocas que envolvem não a variável sim/não, mas a variável WH-, nas quais apenas um
elemento está em discussão, leva a uma forma diferente de elipse, na qual tudo é omitido exceto
esse elemento. Sua função na oração é pressuposta a partir do discurso precedente.
Exemplos dos dois tipos de elipse são dados na Figura 4-20. A questão da elipse é retomada no
Capítulo 9.
Há também uma forma de elipse do Sujeito. Em geral, toda oração independente em inglês
requer um Sujeito, porque sem o Sujeito é impossível expressar o mood da oração, pelo menos na
maneira normal. Já notamos que a diferença entre a declarativa e a interrogativa sim/não é realizada
pela ordem dos elementos Sujeito e Finito; sendo impossível ordenar dois elementos se um deles
não estiver lá. Assim enquanto que o it em it's raining, e o there em there was a crash, não
representam nenhuma entidade participante no processo do chover e do bater, eles são necessários
para distingui-los de is it raining, was there a crash
28
Contudo, há ainda um outro aspecto associado à realização dessas duas estruturas, e este é a
entoação: nas declarativas, normalmente o tom desce no final, enquanto na interrogativa sim/não ele
normalmente sobe (ver Capítulo 8). Assim, é possível sinalizar o modo pela entoação, sem depender
da presença de Sujeito; e por isso é possível uma oração sem Sujeito. Há, de fato, uma condição na
qual orações em inglês ocorrem sistematicamente sem Sujeito, uma condição que depende da noção
de dar a pedir, que foram discutidos logo no início deste capítulo.
Para qualquer oração, há uma escolha de Sujeito que é 'não marcada' - que é suposta, na
ausência de evidência em contrário. Em oração de dar (oferta ou declaração), o Sujeito não marcado
é 'eu' ; enquanto em oração de pedir (pergunta ou comando), o sujeito não marcado é 'você'. Isto
significa que, se uma oração que em outras bases pode ser interpretada como oferta ou declaração
ocorrer sem um Sujeito, o ouvinte entenderá o Sujeito 'eu' - isto é, o Sujeito se iguala ao falante, por
exemplo:
a) (Will you join the dance?)
I might Do I won 't
Predica Sujeito Finito
Sujeito Finito
dor
Mood Resíduo Mood
Sujeito Adjunto
29
Como todos esses exemplos mostram, tipicamente é todo o elemento Mood que é deixado
implícito em tais instâncias: (shall I) carry your bag?, (will you) play us a tune! Numa oração de
informação, contudo, o elemento Finito pode estar presente, ou porque ele é necessário para
expressar tempo verbal ou modalidade, como em might see you this evening ('I...'), ou porque ele se
funde com o Predicador como em (b) acima. Nesses exemplos, apenas o Sujeito sofre elipse.
O princípio de que o Sujeito precisa ser recuperado em caso de elipse é sempre o modalmente
não marcado, eu ou você de acordo com o mood, pode também perder a sua prioridade para o
contexto; por exemplo em:
(e) Seen Fred?( 'Have you ...? ')
– No; must be away. ('He ...')
o Sujeito na resposta é entendido como 'ele (Fred)' por pressuposição através da pergunta
precedente ('elipse anafórica'; ver Capítulo 9, Seção 9.3).
Chamamos a atenção em 4.2 para a relação entre categorias semânticas de declaração,
pergunta, oferta e comando de um lado e de categorias gramaticais do sistema de modo de outro. A
relação é bastante complexa. Para declarações e perguntas há um padrão claro de congruência: em
geral, uma declaração é realizada por uma afirmação/negação e a pergunta por uma interrogação -
mas ao mesmo tempo, há alternativas para ambos. No caso de ofertas e comandos, o quadro é ainda
menos determinado. Um comando é geralmente citado, em exemplos gramaticais, como imperativo,
mas é bem possível que seja modulado através de interrogativas e declarativas, como em Will you
be quiet?, You must keep quiet!; enquanto que para ofertas, não há uma categoria distinta de mood ,
mas apenas uma forma interrogativa especial shall I...?, shall we...? que, outra vez, é simplesmente
uma possível realização entre muitas. Isso parece complicar a questão em foco, como por exemplo
que o Sujeito deverá ser entendido quando não houver nenhum presente. Mas em geral nesses casos
segue-se a gramática; por exemplo, em Have an orange! (imperativo 'will you'), Like an orange?
(interrogativa 'would you'), o ouvinte suprirá o Sujeito com 'você' e, ao mesmo tempo, interpretará a
oração como oferta. Raramente isso será entendido incorretamente, já que o ouvinte operará
baseando-se em um princípio válido para qualquer interação lingüística - o princípio de que o que o
falante diz faz sentido no contexto em que é dito.
4.6.2. Orações menores
Uma outra circunstância em que a oração não apresenta uma estrutura de Mood + Resíduo é quando
ela realiza uma função de fala menor (minor speech). Funções de fala menor são exclamações,
chamados, cumprimentos e alarmes.
Essas funções de fala podem ser realizadas por oração maior; por exemplo, exclamações
através de um tipo de declarativa (a exclamativa tratada na Seção 4.4(2)) ou cumprimentos através
de interrogativa ou imperativa. Mas há outras formas usadas nessas funções de fala que não são
construídas como proposições ou propostas. Muitas delas nem possuem estrutura interna própria.
Exclamações são o caso limite de troca; são gestos verbais do falante destinados a ninguém em
particular. Algumas delas não são linguagem, na verdade, mas protolinguagem, tal como Wow!,
Yuck!, Aha! e Ouch!. Outras são feitas de linguagem, com palavras reconhecíveis e, às vezes, com
traços de estrutura; por exemplo Terrific!, You sod!, God's boots!, Bugger you!, Bullshit!. Elas
podem ser analisadas como grupos nominais (Capítulo 6, Seção 6.2), ou como orações em termos
de transitividade (Capítulo 5).
Chamados ocorrem quando o falante chama a atenção de outra pessoa ou outra entidade tratada
como capaz de ser destinatário: divindade, espírito, animal ou objeto inanimado. Elas se relacionam
30
com a oração como troca; a função estrutural é a de Vocativo, como em Charlie!, You there!,
Madam President, Oh Lord our Heavenly Father. Nessa categoria, podemos incluir a resposta ao
chamado, quando relevante; tipicamente as palavras yes em tom crescente (Seção 4.5).
Cumprimentos incluem saudações, e.g. Hullo!, Good morning!. Welcome!, Hi!, e despedidas,
tais como Goodbye!, See you!, juntamente com as respostas, em geral o mesmo conjunto de formas.
Nessa categoria, podemos incluir votos de sucesso, como Your very good health!, Cheers!, Good
Shot!, Congratulations!. Tanto o chamado quanto o cumprimento incluem elementos que são
estruturados como oração ou grupo nominal.
31
(96)
Alarmes têm algumas semelhanças com as exclamativas, mesmo que apenas na qualidade de
voz; mas eles são dirigidos a outra parte, e derivam em geral da gramática da oração - são
intermediários entre orações maiores e menores. Alarmes incluem (a) avisos, como Look out!,
Quick!, Careful!, Keep off!; (b) apelos, como Help!, Fire!, Mercy!, A drink!. Muitos destes são,
claramente, formas imperativas, podendo ser analisadas como tal: Resíduo apenas, consistindo de
Predicador (help) , Predicador + Adjunto (keep off), Predicador opcional + Complemento ([be]
careful), etc. Outros são grupos nominais; estes podem em princípio estar funcionando como
Sujeito ou como Complemento, mas em geral é impossível decidir entre esses dois: Fire! seria, por
exemplo, 'preenchido' como there's a fire, ou como fire's broken out, ou mesmo como The house is
on fire? Este é um lugar em que é útil reconhecer uma função estrutural distinta; um grupo nominal
que pode tanto ser Sujeito quanto Complemento numa oração agnata maior é considerado como
tendo função ABSOLUTA. Esta não é atribuída nem a Mood nem a Resíduo. O conceito de função
'Absoluta' é também relevante em títulos, rótulos, listas e similares; ver abaixo, Apêndice 2, a
gramática de textos curtos.
Até aqui, em nossa discussão de oração como troca, temos ilustrado direta e simplesmente o Sujeito
como grupo nominal: I, Mary, this teapot, the man in the moon etc. Isso foi feito para evitar a
complicação do assunto com exemplos mais longos e estruturalmente complexos.
Num discurso real, é claro, há um escopo e variação muitíssimo maior na escolha do Sujeito de
uma oração. Dependendo do registro, encontraremos regularmente exemplos tais como (o Sujeito
está sublinhado):
(a) The scientific treatment of music had been popular ever since the days of Pythagoras, but most
theorists, like the famous Greek, lei their passion for numerical order override practical
considerations. Thus even so outstanding a scientist as Kepler held fast, in his De harmonice
mundi (1619), to the old astrological belief, the association between interval ratios and the
structure of the universe, even of human society. The same delight in a neatly arranged system
can be seen in the Gradus ad Parnassum (1725) of the Austrian composer Fux, ...
(b) An all-purpose calculator for business or personal use, the 8-digit display will handle lengthy
calculations.
(c) A system that just keeps you warm in winter isn't a very good idea.
(d) Somehow this sort of traditional Hamlet aspect in the untraditional character he was
playing didn't seem to fit together.
( e) The people who wants to play with the cards that have goods trains on have to sit here.
32
(97)
Exceto em (b), que é um GRUPO NOMINAL COMPLEXO (formado de dois grupos nominais
em relação paratática; ver Capítulo 7 Adicional, Seção 7.A.l), cada um desses Sujeitos é um único
grupo nominal. Todos eles, contudo, exceto most theorists em (a), contêm algum material
encaixado (embedded): uma frase preposicional, uma oração, ou ambas. Assim, em (a) of music, as
Kepler, in a neatly arranged system são frases preposicionais que funcionam como
Qualificador/Pós-modificador num grupo nominal, e por isso formam parte do Sujeito de uma
oração, da mesma forma que a frase for business or personal use no primeiro grupo nominal em (b).
O Pós-modificador num grupo nominal que funciona como Sujeito em (c) é uma oração
encaixada: that just keeps you warm in winter. É uma ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA
RESTRITIVA, como descrito no Capítulo 6, Seção 6.2.2. Esta também se inclui no Sujeito.
Em (d) e (e), extraídos de fala espontânea, os grupos nominais Sujeito são mais complexos, já
que contêm orações e frases no Pós-modificador. O exemplo (d) contém uma oração he was playing
encaixada na frase in the untraditional character he was playing, que por sua vez está encaixada no
grupo nominal tendo aspect como seu Head noun (núcleo). Em (e), que foi dita a uma criança de
quatro anos, a oração that have goods trains on está encaixada na frase with the cards that have
goods trains, que está encaixada na oração who want to play with the cards that have good trains
on; tudo isso é um único Sujeito, com o substantivo people como Núcleo (Head).
Não é difícil reconhecer e identificar tais itens como Sujeitos. Há um outro tipo de oração
encaixada que não está representada entre os exemplos acima, que é a oração que funciona não
como Pós-modificador num grupo nominal, mas como Núcleo: em outras palavras, funciona como
se constituísse um grupo nominal por si. Alguns exemplos:
(f) To argue with the captain was asking for trouble.
(g) Ignoring the problem won't make it go away.
(h) That all this wealth might some day be hers had simply never occurred to her.
A análise é mostrada na Figura 4-21:
Mood Resíduo
Mood Resíduo
33
(98)
Note que, neste exemplo, o Complemento é também uma oração encaixada.
Em muitos casos, uma oração encaixada que funciona como Sujeito aparece no fim da oração
na qual está encaixada, com um it antecipatório ocorrendo na posição normal do Sujeito, como em
it's no use crying over spilt milk. Em tais casos, haverá uma variante marcada com a oração sujeito
no começo: crying over spilt milk is no use. Aqui estão alguns exemplos:
(j) It was fortunate for me that lhe captain was no naturalist,
(k) It is impossible to protect individuaIs against the ills of poverty, sickness and decrepitude
without some recourse to the machinery of the state.
(l) Doesn't it worry you that you might get stung?
O mesmo padrão ocorre numa oração com Tema predicado (ver Capítulo 3, Seção 3.7), como nos
exemplos abaixo:
(m) Pensioner Cecil Burns thought he had broken the slot machine; but it was not the machine he
had broken - it was the bank.
(n) It was not until fairly recently that this problem was solved.
(o) The dog it was that died.
Pode ser útil mostrar as duas análises aqui: a temática e a modal; ver a Figura 4-23.
It was not the machine he had broken
'(passado) be'
Su- Finito Predicador Complemento -jeito
Mood Resíduo Mood
Mas, como foi apontado na Seção 3.7, embora a oração com Tema predicado, exemplos (m)-(o),
seja similar nesse respeito (i.e. tendo um Sujeito descontínuo) à que tem uma oração Sujeito
posposta, exemplos (j)-(i), elas não são orações do mesmo tipo. Uma oração com Tema predicado
tem sempre o verbo be , e tem uma oração agnata não-predicada:
it was last year that he feel ill, he fell ill last year
Uma oração com Sujeito posposto não possui tal forma agnata; além disso, essas orações não estão
restritas ao verbo be (cf. exemplo (1) acima).
34
35
(99)
4.8 Textos
36
5 Oração como representação
Traduzido por Sumiko Nishitani Ikeda
1
processos VERBAIS: relações simbólicas construídas na consciência humana e efetivadas na
forma de língua como: dizer e significar. No limite entre relacional e material, estão os processos
que se referem à existência, os EXISTENCIAIS, pelos quais fenômenos de todos os tipos são
reconhecidos como 'ser' – existir, ou acontecer. Isso fecha o círculo.
Obviamente não importa por onde comecemos: eu comecei pelos materiais, em parte porque eles
são os mais acessíveis à nossa reflexão consciente, mas também porque (e por isso mesmo) através da
maior parte da história da lingüística eles foram o centro das atenções. Não há prioridade de um tipo de
processo sobre o outro. Mas eles são ordenados; e o que é importante é que, em nossa metáfora visual
concreta, eles formam um círculo, não uma linha. (Mais exatamente ainda, eles poderiam ser mostrados
como formando uma esfera; mas esta seria uma metáfora complexa demais para se lidar). Isto é, nosso
modelo de experiência, tal qual é interpretado pelo sistema gramatical da transitividade, é de regiões
num espaço contínuo; mas a continuidade não ocorre entre pólos, e sim dentro de um circulo. Para usar
a analogia das cores: a gramática constrói a experiência como um diagrama de cores, com vermelho,
azul e amarelo como cores primárias e violeta, verde e laranja ao longo das fronteiras; não como um
espectro físico, com o vermelho de um lado e o violeta do outro. Temos um resumo em forma de
diagrama na Figura 5-0.
Qual é o status de um processo, tal como o estabelecido pela gramática da oração? O quadro é bem
simples; faz sentido para crianças pequenas que estão aprendendo a língua materna. Um processo
consiste, em princípio, de três componentes:
Estes fornecem o quadro de referência para a interpretação da nossa experiência em relação ao que
acontece.
Imagine que estamos ao ar livre e que há movimento sobre nossas cabeças. Perceptualmente o
fenômeno é um todo; mas quando falamos sobre ele nós o analisamos como uma configuração
semântica – algo que expressamos com, digamos, pássaros estão voando no céu . Este não é o único
modo possível de organizar esse fragmento de experiência; poderíamos tê-lo tornado uma estrutura de
significado – tê-lo 'semantizado', digamos assim – de modo diferente. Poderíamos ter dito algo como
está planando; pois falamos está chovendo, sem analisar o processo em componentes embora
pudéssemos fazê-lo – há de fato um dialeto do chinês que representa o fenômeno da chuva como 'o céu
esta caindo água'. Em português, há poucos processos, como chover, que são deixados não analisados;
mas em geral a língua portuguesa estrutura cada experiência como uma configuração semântica
segundo o princípio ilustrado acima, constituído de processo, participantes e (opcionalmente)
elementos circunstanciais. Assim nesse exemplo temos um processo estão voando, um participante
pássaros, e um elemento circunstancial no céu. Nessa interpretação do que está acontecendo, há um
fazer, um fazedor, e um local onde o fazer aconteceu.
Essa interpretação tripartite de processos é o que subjaz à distinção gramatical das classes de
palavras em verbos, substantivos e o resto, um padrão que de uma forma ou outra é provavelmente
universal entre as línguas humanas. Isso pode ser expresso no Quadro 5(1).
2
Um exemplo é dado na Figura 5-1.
(a)
O leão Saltou
Ator Processo
(b)
O leão pegou o turista
Ator Processo Meta
Fig. 5-2 Orações com um e dois participantes
A implicação é que em ambos os casos o leão fez algo; mas em (a) o fazer está confinado no leão,
enquanto que em (b), ele está dirigido ao, ou estendido, ao turista. O termo Meta implica 'dirigido a';
3
outro termo que tem sido usado para essa função é Paciente, significando aquele que 'sofre' ou
“suporta” o processo. Conservaremos o termo Meta na presente análise, embora nenhum dos dois seja
satisfatório; o conceito adequado seria mais 'aquele ao qual o processo é estendido'. O conceito de
extensão é de fato aquele que incorporaria a terminologia clássica de 'transitivo' e 'intransitivo', da qual
o termo 'transitividade' foi derivado. De acordo com essa teoria, o verbo saltar é dito intransitivo ('não
passa') e o verbo pegar é dito transitivo ('que passa' – isto é, se estende a alguma outra entidade). Essa
é uma interpretação precisa da diferença; mas o fato é, que esses conceitos se relacionam muito mais
apropriadamente `a oração do que ao verbo.
Notemos que o termo Ator é usado na interpretação dos dois tipos de oração; e isso incorpora mais
uma pressuposição, ou seja, a de que o leão tem a mesma função em ambos. Nos dois casos, o leão está
'fazendo' algo. Essa premissa está associada ao fato de que, nas línguas indo-européias nas quais os
substantivos têm marca de caso, como o grego e o latim, e o russo moderno, o leão estaria no caso
nominativo tanto em (a) quanto em (b), enquanto que o turista estaria no caso oblíquo, o acusativo; isso
sugere que a função de o leão é a mesma nos dois tipos. O mesmo pode ser dito sobre o português;
embora os substantivos não tenham caso, os pronomes pessoais têm; assim se substituirmos os
substantivos leão e turista por pronomes pessoais teremos ele saltou, ele o pegou. Isso é altamente
sugestivo; há sem dúvida razão para os casos serem assim distribuídos. Mas isso não conta toda a
história. Primeiro, pois nem todos os processos têm necessariamente a mesma gramática; e também
porque, mesmo que eles tivessem, poderia haver mais de um princípio em ação ao mesmo tempo.
Examinaremos o primeiro ponto na Seção 5.2-5.4, e o segundo na Seção 5.8.
As premissas que subjazem à noção de Ator são válidas dentro de certos limites. Há uma ampla
classe de orações que podem ser interpretadas dessa maneira, como consistindo de um processo e com
esses participantes – um Ator obrigatório, e opcionalmente uma Meta. Esta é a classe que chamaremos
de PROCESSO MATERIAL.
Processos materiais são processos de 'fazer'. Eles expressam a noção de que alguma entidade 'faz'
algo – que pode ser feito 'para' alguma outra entidade. Assim podemos perguntar sobre tais processos,
ou 'testá-los’ do seguinte modo: O que o leão fez? O que o leão fez ao turista? Do ponto de vista do
turista, por outro lado, o processo não é o de 'fazer', mas o de 'acontecer'; assim podemos dizer também
O que aconteceu ao turista? Conseqüentemente se houver uma Meta e um Ator, a representação pode
vir nas duas formas: na ativa, o leão pegou o turista; na passiva, o turista foi pego pelo leão. Note a
análise na Figura 5-3 (para o significado de por ver Seção 5.8).
Como alternativa, a outra entidade pode ser aquela trazida à existência pelo processo, portanto,
não preexistindo a ele; como uma construção de uma casa, a escrita de uma carta ou o início de uma
discussão. Podemos então distinguir entre um 'fazer para' ou tipo DISPOSITIVO e um 'trazendo para'
ou um tipo CRIATIVO de processo material. Continua se chamando o participante que resulta do
processo criativo de Meta; tais orações também têm opções ativa e passiva.
Os processos materiais não são necessariamente eventos físicos, concretos; eles podem ser ações
ou acontecimentos abstratos, como na Figura 5-4.
4
O prefeito renunciou
Ator Processo
Esses são ainda tratados gramaticalmente na língua como tipos de ação; os testes adequados seriam O
que o prefeito fez?, O que o prefeito fez ao comitê?
Mas a medida que o processo se torna mais abstrato, também a distinção entre Ator e Meta se
torna mais difícil de se delinear. Num processo concreto, o papel que um participante está
desempenhando costuma ser claro: há uma nítida distinção entre o menino chutou, em que o menino é
Ator, e o menino foi chutado em que o menino é Meta. Porém, mesmo em processos concretos, temos
de reconhecer que há alguns em que o Ator é involuntário, sendo, assim, de certo modo uma Meta; por
exemplo o turista desmaiou. Apesar do verbo ser ativo, este é um acontecer e não um fazer: o teste não
é o que o turista fez? mas o que aconteceu ao turista? Com processos mais abstratos, costumamos
encontrar as formas ativa e passiva lado a lado com poucas diferenças entre elas: por exemplo a escola
das meninas e as escola dos meninos sa garotas colathe girls' school and the boys' school
combined/were combined; a new approach is evolving/is being evolved. Há ainda uma diferença: se a
forma passiva for usada, podemos testar para um Ator explícito – podemos perguntar who by?,
enquanto com a forma ativa não. E isso que justifica o fato de ainda atribuirmos status funcional
diferente para o participante nos dois casos, como na Figura 5-5, em que the two schools é um Ator em
um caso e Meta no outro.
Mas isso claramente exagera a diferença, e assim voltaremos ao ponto com uma interpretação
alternativa abaixo (Seção 5.8).
Enquanto isso precisamos tomar conhecimento do fato de que na maioria das vezes as pessoas não
estão falando sobre processos concretos como pular ou caçar, ou mesmo abstratos como dissolver e
resignar. Estamos falando de fenômenos como os que pensamos ou sentimos, o que Maria disse para o
João, o que é bom ou mau, aqui ou lá, meu ou teu; esses são os fatos comuns do cotidiano. Em ditos
desse tipo, contudo, os conceitos de Ator e Meta não fazem muito sentido. Se eu digo
é difícil dizer que Maria seja o Ator e que ela está 'fazendo algo para' o presente. E não é por que seja
casual ou coloquial; e isso acontece para uma grande maioria de expressões em modos de discurso mais
elevados. Seria difícil, por exemplo, identificar um Ator em qualquer uma das seguintes:
5
We hold these truths to be self-evident.
The squere on the hypotenuse of a right-angled triangle equals the suum of the squares on
the other two sides.
Psychology as an empirically based study has had mixed origins in every country where it
has developed.
Para entender expressões como essas, precisamos ampliar nossa visão a respeito do que constitui os
'goings-on' (eventos). E importante reconhecer que pode haver mais de um tipo de processo na
gramática de uma língua; e que as funções assumidas pelos participantes em qualquer oração são
determinadas pelo tipo de processo que estiverem envolvidos. Para um texto inteiramente constituído
por processos materiais, veja Figura 5-6.
Poder-se-ia argumentar que termos como Ator e Meta são apenas rótulos convencionais; e desde que as
categoriais gramatical e semântica não estão em correspondência um-por-um, então se usamos termos
gramaticais que são semânticos em significado (como todos os termos gramaticais) não podemos
esperar que eles sejam apropriados para todos os exemplos. O raciocínio é bem válido; rótulos
gramaticais são muito raramente apropriados para todos os exemplos de uma categoria – eles são
escolhidos para refletir o significado central ou 'nuclear'. Nesse caso, como de fato acontece, a série de
tipos diferentes de oração aos quais os rótulos Ator e Meta são aplicáveis seria pequena. Mas há uma
razão mais séria no questionamento de sua relevância na análise de orações como Mary liked the
present.
Considere o par de orações (i) Mary liked the gift, (ii) the gift pleased Mary. Elas não são
sinônimas; elas diferem na escolha do Tema e do Sujeito, rótulos esses atribuídos a Mary em (i) e a gift
em (ii). Mas elas estão intimamente relacionadas; consideradas do ponto de vista deste capítulo, elas
podem ser representações do mesmo estado de coisas. E se aplicarmos uma análise Ator-Processo-Meta
estaremos dizendo que em (i) Mary é Ator e the gift é Meta, enquanto em (ii) ocorre o inverso. Isso
parece um tanto artificial.
Poder-se-ia interpretar uma delas como sendo a passiva da outra? Supondo que pudéssemos
encontrar um critério para decidir o que é o quê, teríamos a proposição da Figura 5-7.
Mary liked the gift é uma realização da configuração semântica que seria realizada como Mary was
pleased by the gift se tal oração existisse. a questão é que Mary was pleased by the gift existe; é um tipo
de oração normal e na verdade muito freqüente em inglês. Além disso a outra oração tem sua passiva
própria: the gift was liked by Mary, que, embora um tipo muito menos comum, existe. Assim não
podemos explicar nenhuma das formas ativas dizendo que uma é um tipo especial de 'passiva' da outra;
cada uma tem a sua própria passiva. Este não é um caso isolado; pares desse tipo são típicos em oração
de sentir, pensar e perceber, por exemplo
6
no-one believed his story his story convinced no-one
I hadn't noticed that that hadn't struck me
children fear ghosts ghosts frighten childre
(Para uma lista mais completa veja sob ponto (4) abaixo). A língua contemporânea continua criando
esses pares: as expressões da gíria I dig it e it sends me surgiram ao mesmo tempo. Contudo os falantes
do inglês parecem não sentir que duplas como believe e convince, ou notice e strike, embora
semanticamente relacionadas, sejam tão próximas que deveriam ser interpretadas como diferentes
formas da mesma palavra (como, por exemplo, go e went são diferentes formas do mesmo verbo go).
Parece que deveremos abandonar a trilha Ator-Meta neste ponto e reconhecer que há orações que
não são orações de processos materiais e que requerem interpretação funcional diferente. Vamos
agrupar orações de sentir, pensar e perceber sob o título geral de PROCESSOS MENTAIS, e ver se
essa categoria mostrará outras características significativas. É claro que orações que expressam
processos materiais e mentais são diferentes em significado, mas isso não é suficiente para que
constituam categorias gramaticais distintas; há infinitos modos de traçar uma linha em termos
puramente semânticos, enquanto que a questão de que tratamos é saber qual delas tem uma repercussão
sistemática na gramática. A categoria de 'orações de processo mental' aparece como diferente
gramaticalmente de orações de processos materiais na base de cinco critérios, que são estabelecidos nos
parágrafos seguintes.
(1) Na oração de processo mental, há sempre um participante que é humano: aquele que sente,
pensa ou percebe, por exemplo Mary em Mary liked the gift. Mais precisamente, deveríamos dizer
como um-ser-humano; a feição significante em tal participante é o de ser 'dotado de consciência'.
Expresso em termos gramaticais, o participante que está engajado num processo mental é aquele que é
referido pronominalmente por he ou she e não it.
Que criaturas dotamos com uma consciência quando delas falamos depende de quem somos, o que
estamos fazendo e como nos sentimos. Animais de estimação, animais domésticos e outros mamíferos
superiores são freqüentemente tratados conscientes; o dono diz da gata que she doesn't like milk,
enquanto que a pessoa que não gosta de gatos, ou que está aborrecida com algum desses espécimes,
dirá it. Mas qualquer objeto, animado ou não, pode ser tratado como consciente; e já que as orações de
processo mental têm essa propriedade, ou seja, que apenas aquele a quem creditamos consciência pode
funcionar na oração como aquele que sente, pensa ou percebe, é só atribuirmos esse papel a algo para
que se torne um ser consciente, por exemplo the empty house was longing for the children to return.
Apenas por colocarmos the empty house nesse ambiente gramatical, como algo que sente saudade, faz
com que ele seja entendido como dotado de consciência. Isso explica o caráter anômalo de orações
como it really likes me, it knows what it thinks, em que há uma tensão entre it e o significado do verbo.
Não que essas orações sejam agramaticais; longe disso. Mas o status ambíguo do participante
'consciente', que de um lado é capaz de gostar, saber ou pensar, e por isso é '+ consciência', mas por
outro lado é tratado como it, e portanto é '- consciência', dá-lhes um quê um tanto humorístico ou
singular.
Não há traço desse padrão nas orações de processo material. No processo material nenhum
participante precisa ser humano, e a distinção entre ser consciente e inconsciente não vem ao caso.
(2) Com referência ao outro elemento principal da oração de processo mental, isto é, aquele que
sente, pensa ou percebe, a posição é de certa maneira inversa. Isto é, o conjunto de coisas que pode se
revestir desse papel na oração é não somente irrestrito a qualquer categoria semântica ou gramatical,
mas é mais amplo do que o conjunto de participantes no processo material. Pode ser não somente uma
'coisa' como também um 'fato'.
7
Esse não é um conceito simples; mas é fundamental para a natureza da língua. No processo
material, todo participante é uma COISA: isto é, é um fenômeno da nossa experiência, incluindo
experiências internas ou a imaginação – alguma entidade (pessoa, criatura, objeto, instituição ou
abstração), ou algum processo (ação, evento, qualidade, estado ou relação). Qualquer uma dessas
'coisas' pode também naturalmente ser objeto da consciência num processo mental; podemos dizer
Mary liked the gift, Tim knows the city, Jane saw the stars em que the gift, the city, the stars são 'coisas'
que poderiam aparecer num processo material também. Mas também podemos dizer:
Nesses exemplos, o que está sendo 'conscientizado' não é uma coisa, mas um fato.
O termo 'fato' está sendo usado aqui, não no seu sentido técnico exato (que veremos no Capítulo
7), mas como um equivalente informal ao termo METAFENÔMENO. Um metafenômeno é algo que é
construído como um participante por projeção – isto é, como um discurso indireto ou 'relatado', em
geral na forma de oração that (que), se o mood subjacente for declarativo. Para uma exploração
detalhada desse conceito veja Capítulo 7, Seção 7.5 abaixo. É mais simples usar o termo 'fato' no
presente contexto; note que esse status é freqúentemente sinalizado pela palavra fact, como em Mary
was pleased by the fact that she's got a present.
Um fato nesse sentido nunca pode ser um participante na oração de processo material. Falando
gramaticalmente, fatos podem ser sentidos, visto ou pensados; mas não podem fazer nada, nem podem
ter nada feito a eles. Quando encontramos expressões como the fact that his father was ill upset him,
sabemos que upset está sendo usado no sentido de processo mental; de um certo modo era
originalmente metafórico, como o coloquial moderno threw him, mas essa é agora a sua interpretação
mais usual.
(3) Uma terceira distinção entre processo material e mental é o tempo verbal. Qual é a forma
básica do presente no inglês moderno? No ensino de inglês como língua estrangeira tem havido
controvérsia a respeito do que ensinar primeiro, o presente simples takes ou o chamado 'presente
contínuo' (que caracterizaremos como 'presente no presente; veja Capítulo 6 abaixo) is taking; e há
motivos apoiando ambos os lados. Há uma razão para essa controvérsia; de fato os dois tempos podem
ser básicos, forma não-marcada dependendo do tipo de processo expresso pela oração. Num processo
mental, o presente não-marcado é o PRESENTE SIMPLES; dizemos
Não estamos dizendo que o outro tempo não possa ocorrer; ambos são usados com os dois
processos. Mas o outro é a opção marcada em cada caso; e isso significa que ele carrega uma
interpretação especial. O presente simples com o processo material é geral ou habitual, e.g. they build a
house for every employee. O presente no presente com o processo mental é o tipo altamente
8
condicionado do aspecto inceptivo, como em I feel I'm knowing the city for the first time ('I'm getting to
know'); isso é um tanto difícil de contextualizar, com o resultado de que, fora de contexto, é bem
possível que seja entendido como outra coisa (e.g. I'm seeing the stars como um processo material 'I'm
interviewing the leading performers'). Esses padrões de tempo estão na Tabela 5(2).
processo
material [marcado] [não-marcado]
they build a house (for every employees) they're building a house
Deve ser salientado que esse não é um traço arbitrário; ele surge da diferença de significado entre
os dois tempos. Infelizmente essa diferença é mal entendida, como se nota pelo uso do rótulo 'contínuo'
para a forma be + ing. De fato (como será explicado no Capítulo 6), o 'presente no presente' está mais
focado no tempo, daí porque ele vai com processos que têm inícios e fins bem delineados, como um
típico processo material. Processos mentais, que em geral não estão delimitados no tempo, estão
associados com a forma menos focada no tempo, o presente simples.
(4) Dissemos que processos mentais são representados na língua como processos de duas vias; isto
é, podemos tanto dizer Mary liked the gift como the gift pleased Mary. Não é que todo verbo de
processo mental to tipo like tenha um equivalente semântico exato do tipo please; mas é um traço geral
dos processos mentais de que eles podem ser realizados em duas direções – tanto o senser como o
fenômeno que está sendo experienciado podem ser Sujeito, com a oração mantendo a voz ativa. Há
verbos que se emparelham intimamente em significado; cf. Tabela 5(3).
De um lado é difícil encontrar paralelos para I suspect it, I guess it, I welcome it; ou para it worries
me, it thrills me. Os campos semânticos como um todo são equivalentes; mas os termos individuais
não.
Vimos no Capítulo 3 e 4 que o inglês têm uma forte tendência a fazer coincidir Tema e Sujeito; e
também uma preferência por Sujeitos que seja pronomes pessoais. Isso explica um dos traços salientes
dos processos mentais, de que as orações do tipo please são particularmente freqüentes na passiva; por
exemplo
9
We were thrilled by the sound of your voice
I wasn't impressed by what I saw
Não há paralelo para essa bidirecionalidade em orações de processos materiais. É difícil encontrar
um par convincente desse tipo. Um exemplo possível seria I take the train, the train conveys me; mas
esta não parece ser um exemplo de um padrão geral. Note que pares de palavras como buy/sell,
give/receive, borrow/lend não são desse tipo; eles não produzem pares de orações relacionadas com I
buy it/ it sells me ou I borrow it/ it lends me.
(5) Referimo-nos também ao fato de que processos materiais são processos de 'fazer', que podem
ser testados, e substituídos, pelo verbo do; por exemplo
What did John do? – He ran away. What John did was run away.
What did Mary dowith the gift? – She sold it.
Processos mentais, por outro lado, são processo de sentir, pensar e ver. Eles não são tipos de fazer, e
não podem ser testados ou substituídos por do. Não podemos dizer What John did was know the
answer; ou What did Mary do with the gift? – She liked it.
Levanto em conta esses cinco critérios, podemos reconhecer uma distinção sistemática na
gramática do inglês entre processos materiais e mentais. Para os propósitos da nossa análise estrutural,
os primeiros dois critérios são especialmente significativos porque eles afetam as funções participantes
da oração. Está claro que os participantes no processo mental não podem ser igualados a Ator e Meta
do processo material. Não é simplesmente uma questão de encontrar um rótulo mais geral para cobrir
os dois conjuntos de conceitos. As categorias são diferentes, e os conjuntos dos possíveis ocupantes
não coincidem.
Para os dois participantes do processo mental, vamos usar os termos SENSER e FENÔMENO. O
senser é o ser consciente que sente, pensa e vê. O fenômeno é aquilo que é sentido, pensado ou visto.
Dentro da categoria geral do processo mental, esses três – sentir, pensar e ver – constituem os
principais sub-tipos; vamos rotulá-los em termos mais gerais como (1) PERCEPÇÃO (ver, ouvir, etc.),
(2) AFEIÇÃO (gostar, temer etc.) e (3) COGNIÇÃO (pensar, saber, entender etc.). A base gramatical
para essa subcategorização se tornará clara no Capítulo 7, Seção 7.5 abaixo.
A Figura 5-8 dá um exemplo de um texto com processos mentais de vários tipos.
Uma outra distinção entre processos mentais e materiais surge neste ponto, e tem a ver com a
variação no número de participantes. Como vimos, os processos materiais dividem-se em dois grupos,
aqueles com um participante e aqueles com dois ('transitivo'). Com processos mentais não há essa
distinção; todos os processos mentais envolvem potencialmente Senser e Fenômeno.
Isso não quer dizer que os dois devam estar sempre presentes na oração. (1) Pode haver o Senser
mas não o Fenômeno, como em Jill can't see, Tim knows. Na realidade, há algo que Jill não pode ver –
a tela, talvez, ou ela perdeu a visão e não pode ver nada; e assim também há algo que Tim sabe. Mas
eles estão implícitos. O mais comum dentre essas orações com o Fenômeno implícito são as passivas
do tipo please, tal como she was pleased/delighted/worried/puzzled /impressed, que se aproximam de
simples atributos (veja Seção 5.4 abaixo) sem a implicação de que um fenômeno específico seja a
origem da preocupação ou da satisfação.
10
(ii) He only does it to annoy
Because he knows it teases
Se processos materiais são os de fazer, e os processos mentais são os de sentir, o terceiro tipo principal
de processo, o processo relacional, pode ser dito como aquele de ser. Exemplos: Sarah is wise, Tom is
the leader.
Como o termo 'relacional' sugere, este não é o 'ser' no sentido de existir. Há uma categoria
relacionada, mas distinta, de orações existenciais, tal como there was a storm, que são discutidas na
Seção 5.5. abaixo. Nas orações relacionais, há duas partes para o 'ser': algo é dito como 'sendo'
outra coisa. Em outras palavras, uma relação está sendo estabelecida entre duas entidades
separadas.
Toda língua acomoda, em sua gramática, alguma construção sistemática de processos relacionais.
O sistema do inglês opera com três tipos principais:
O que totaliza seis categorias de processo relacional, como está na Tabela 5(4).
Os exemplos dados nesta Tabela mostram uma importante diferença entre os modos atributivo e
identificador. Os identificadores são reversíveis, tanto que x e a podem ser trocados: Tom is the
11
leader/the leader is Tom. Os atributivos não são reversíveis: não há a forma wise is Sarah que seja
agnata (sistematicamente relacionada) a Sarah is wise. Esta é uma das várias diferenças entre os dois
modos, que serão trazidos na discussão a seguir.
Para explicar os conceitos de 'atributivo' e 'identificador', vamos nos concentrar primeiramente no
tipo intensivo, 'x é a'. Nesse tipo de oração relacional, o verbo mais típico é o be, e x e a são grupos
nominais. Ao mesmo tempo, muitos outros verbos podem ocorrer, e este é outro traço diferenciador: os
verbos usados nas orações identificadoras e atributivas pertencem a duas classes diferentes. Há também
diferenças no tipo do elemento nominal que ocorre como atributo ou como identificador.
No modo atributivo, uma entidade tem algumas qualidades atribuídas a ela. Estruturalmente, rotulamos
essa qualidade de ATRIBUTO, e a entidade à qual se atribui a qualidade é o PORTADOR. Exemplos
na Figura 5-9. Podemos interpretá-lo como 'x é um membro da classe de a'. Assim em Paula is a poet,
poet é o nome de uma classe (um substantivo comum); a significa um exemplo ou um membro;
portanto um membro da classe dos poetas. Em Sarah is wise, o significado é semelhante a 'um membro
da classe dos sábios'. Ratos entram na classe das criaturas, e dentro desta na classe dos tímidos; e assim
por diante.
(i) O grupo nominal que funciona como Atributo é em geral indefinido: tem um adjetivo ou
um substantivo comum como Head e, se for o caso, um artigo indefinido (e.g. is/are
wise, is a poet, are poets). Não pode ser substantivo próprio ou pronome.
12
Há uma variedade de oração atributiva na qual o Atributo denota uma qualidade equivalente ao
processo mental, e pode ser formada como um particípio de um verbo de processo mental; por exemplo
I'm sorry, it's puzzling. Elas podem ser de dois tipos: aquelas do tipo like da oração de processo mental,
com Portador equivalente ao Sensers; e aquelas do tipo please, com o Portador equivalente ao
Fenômeno. No primeiro, um Portador típico é I em declarativa, you em interrogativa; Atributos comuns
incluem glad, sorry, afraid, doubtful, upset, pleased, worried, aware, sad, happy, e.g. I'm very worried,
aren't you glad that's over? No segundo, o Portador comum é that ou this , ou it + oração posposta, e o
Atributo pode ter adjetivo/particípio ou substantivo como Head, incluindo worrying, frightening, odd,
puzzling, curious, dreadful, encouraging, shameful, lovely; a shame, a pit, a nuisance, a good thing, no
wonder, a relief, e.g. that's encouragging, isn't it a pity that photograph got spoilt?
Há uma sobreposição entre processos mentais e relacionais, e algumas orações como I was scared,
poderiam ser interpretadas das duas maneiras. Há quatro principais indicadores: 1) submodificação; (2)
fase marcada; (3) tempo; e (4) estrutura oracional.
(1) Submodificadores como so, very, too (veja Capítulo 6, Seção 6.2.5 abaixo) combina com
grupos nominais mas não com grupos verbais.: podemos dizer I was very afraid of it mas não I very
feared it; you're not too keen on it mas não you don't too want it. Todas as palavras alistadas acima
como 'adjetivo/particípio', glad, sorry, worrying, frightening, etc., aceitam esses itens
submodificadores; portanto uma oração apresentando be + worrying, frightening etc. tem mais
possibilidade de ser relacional do que mental.
(2) Como notamos acima, verbos ascritivos além de be, por exemplo aqueles da fase marcada,
ocorrem em orações atributivas; e.g. it seems encouraging, you look pleased. Eles não ocorreriam desse
modo em uma oração de processo mental; não poderíamos dizer look enjoying (it), it seems delighting.
(3) Com relação ao tempo, já que uma qualidade é em geral o resultado de um evento precedente,
o mesmo fenômeno aparecerá no tempo presente se representado por um Atributo, mas no passado se
representado por um Processo mental: por exemplo, he's frightened (presente) tende a ser atributivo
relacional, sendo a oração de processo mental agnata (passado no presente) he's been frightened.
(4) Na estrutura oracional, a oração de processo mental tem em geral (e sempre pode ter) tanto o
Senser quanto o Fenômeno; enquanto que no atributivo, essas outras entidades podem aparecer apenas
circunstancialmente. Por exemplo,
Mas esses quatro critérios nem sempre coincidem, e nem todas as instâncias podem ser atribuídas a
uma ou outra categoria.
Sem dúvida por causa dessa sobreposição, a situação referente ao status do que foi referido acima
(Seção 5.3) como 'fatos' é também difusa. Em princípio, se um segundo processo surge em cena
representando a origem da condição mental, ele parece ser um 'fato' com o processo mental, mas como
'causa' com o relacional; por exemplo
13
Mas orações relacionais atributivas como Atributos desse tipo, agnata ao processo menal, tem
geralmente 'fato' como orações:
O Atributo tornou-se, de fato, uma expressão metafórica de um processo mental, e pode ser
acompanhado de uma oração que é projetada (veja Capítulo 7, Seção 7.5 abaixo).
No modo identificador, algo tem uma identidade atribuída a ele. O que isso significa é que uma
entidade está sendo usada para identificar outra: 'x é identificado por a', ou 'a serve para definir a
identidade de x'. Estruturalmente, rotulamos o elemento x, o que vai ser identificado como
IDENTIFICADO, e o elemento a, o que serve de identidade, como IDENTIFICADOR. Exemplos na
Figura 5-10.
Aqui evidentemente não estamos falando de membros de uma classe. Ser membro de uma classe
não serve para identificar; em Sarah is wise, admite-se a existência de outras pessoas sábias além de
Sarah – o que não dá a ela uma identidade. Uma maneira de olhar para a oração identificadora seria
dizer que aqui estamos estreitando a questão de classe para a classe de um só. Se dizemos Alice is the
clever one, ou Alice is the cleverest, identificamos Alice, porque especificamos que há apenas um
membro da classe, uma única instância. (Não se diz, é claro, que não há outras pessoas inteligentes no
mundo; apenas que não há outros na população previamente especificada, e.g. There are three children
in the family; ....) Este fato funciona como uma possível resposta para a pergunta sobre a identidade de
Alice: 'which is Alice' - Alice is the clever one.
Antes de prosseguirmos, vamos enumerar as características das orações identificadoras que
contrastam com as das orações atributivas, listadas abaixo. Vou colocá-las na mesma ordem.
(i) O grupo nominal realizando a função de Identificador é em geral definido: ele tem um nome
comum como Head, com the ou outro determinador específico (veja Capítulo 6, Tabela 6(1), ou um
nome próprio ou pronome. A única forma com adjetivo como Head é o superlativo.
(ii) O verbo realizando o Processo é da classe dos 'equativos':
[papel] play, act as, function as, serve as
[sinal] mean, indicate, suggest, imply, show, betoken, mark, reflect
[equação] equal, add up to, make
[tipo/parte] comprise, feature, include
[significado] represent, constitute, form
[exemplo] exemplify, illustrate
14
[symbol] express, signify, realize. spell, stand for, mean
[neutro] be, become, remain
(iii) O teste para essas orações é which?, who?, which/who ... as? (ou what? se a escolha for
aberta); por exemplo, who is the one in the back row?, which are the deadliest spiders?,
who/what did Mr Garrick play?
(iv) Essas orações são reversíveis. Todos os verbos exceto os neutros be, become, remain (e aqueles
que preposição posposta como act as) têm formas passivas, e.g. Hamlet was played by Mr
Garrick, cat is spelt c-a-t. Orações com be revertem sem mudar a forma do verbo, e.g.
funnelwebs are the deadliest spiders in Australia.
Vamos retornar à Alice is the clever one. Note que esta também serve como resposta a diferentes
perguntas, como 'which is the clever one one?'. Já que cada uma das duas entidades Alice e clever one
são únicas no contexto, as duas podem ser usadas para identificar a outra. Mas isso significa que em
vez de uma possível análise temos duas (Figura 5-11).
(which is Alice)
Alice is the clever one
Identificado Identificador
Em outras palavras, Identificado e Identificador podem vir nas duas ordens. Mas uma vez que eles
podem vir em qualquer uma das ordens, e um dos elementos pode tomar uma das duas funções, então
isso significa que há quatro possibilidades aqui, e não duas:
Para esta discussão, direi que o Identificador carrega sempre a proeminência tônica. O que não é
verdade; é o padrão típico, já que a identidade é que tende a ser a informação nova, mas há uma opção
marcada pela qual o Identificado é construído como Novo. (Note contudo que Identificado-
Identificador não pode simplesmente ser explicado como Dado-Novo numa oração identificadora; o
que não surpreende já que os primeiros são funções representacionais enquanto que os demais são
textuais. Veja Capítulo 8, Seção 8.6 abaixo.).
Mas com que exatidão são essas identidades estabelecidas? Qual é a natureza da relação entre as
duas partes? Vamos construir um contexto esquemático, mas razoável. Suponha que você esteja
participando de uma peça teatral; mas eu não sei se você é o herói ou o vilão. Aqui está a nossa
conversa:
15
A seguir você me mostra uma foto do elenco já caracterizado; o diálogo agora será:
Note como o Sujeito e o Objeto foram trocados; podemos verificar isso substituindo por outro verbo,
digamos represent (Figura 5-12).
(which is you?)
which is me the ugly one represents me
Sujeito Complemento Sujeito Identificador Comp/Identificado
Fig. 5-12 Sujeito-Complemento e Identificado-Identificador
O que está acontecendo é o seguinte. Em qualquer oração identificadora, as duas metades referem-se à
mesma coisa; mas a oração não é uma tautologia, e assim deve haver alguma diferença entre elas. Essa
diferença é de forma e de função; ou, em termos de rótulos generalizados na gramática, de TOKEN e
VALOR – e qualquer um pode ser usado para identificar o outro. Se dissermos Tom is the treasurer,
estamos identificando 'Tom', atribuindo a ele um Valor; se dissermos Tom is the tall one, estamos
identificando 'Tom', atribuindo-lhe um Token. Toda oração identificadora envolve um ou outro modo.
É essa direcionalidade que determina a voz da oração – se é ativa ou passiva; e para explicar essa
questão precisamos operar com Token e Valor como funções estruturais. Vamos preencher as possíveis
respostas para as perguntas do exemplo anterior (Figura 5-13).
Em outras palavras, as orações identificadoras selecionam para voz; elas têm formas ativa e
passiva. A diferença é inteiramente sistemática, uma vez reconhecida a estrutura de Token e Valor: a
voz ativa é aquela na qual o Sujeito é também o Token (justamente como, no processo material, a ativa
é a forma na qual o Sujeito é também o Ator). A diferença mais importante é que o verbo típico de
processos identificadores, como o be, não possui forma passiva; assim orações como the villain is me e
I am the ugly one não parecem passivas. Mas elas são. Esse fato aparece claramente quando usamos um
verbo diferente, como em the villain is played by me. Há uma proporcionalidade rigorosa, tal como a
mostrada na Figura 5-14. Essa proporção é tão clara como se a segunda oração fosse the villain is been
by Henry - clara o suficiente para uma criança construir formas passivas de be (Tenho ouvido been e
be'd nesse contexto, e.g. enquanto brincava no hospital, well then the doctor wont'be been by anyone!).
16
Há pois uma distinção sistemática entre which am I?, com I como Sujeito ('which do I
represent?'), e which is me?, com which como Sujeito ('which represents me?'). No segundo, a forma
do pronome pessoal é me – naturalmente, já que aqui é Complemento, e não Sujeito, e Complementos
em inglês têm caso oblíquo. A forma que seria possível é which is I?, com uma colisão entre caso
nominativo e função de Complemento. Igualmente anômalas, pela mesma razão, é it is I, que foi
construída em falsa analogia com o latim (com a qual insistem os professores de inglês, embora eles
mesmos raramente a usem). A oração It is I é simplesmente 'má gramática', no sentido de que ela entra
em conflito com aos princípios gerais que se aplicam a esse tipo de oração. A forma 'correta'
correspondente – isto é, aquela consistente com o resto da gramática – ou é (1) I'm it, com I Sujeito, ou
(2) a forma comumente usada, it's me. (Já que a proeminência tônica se coloca mal sobre it, a variante
comum de (1) é I'm the one, embora as crianças usem I'm it quando it é o nome de um papel, como no
jogo de tig. Em inglês Late Middle a forma era it am I; que desapareceu sob o princípio moderno da
ordem de palavras em que todos os Sujeitos não-WH vêm primeiro.)
Podemos agora ver uma explicação para a preferência que as pessoas mostram por certas
combinações e não por outras. Vamos acrescentar mais um componente ao paradigma. Se estivermos
procurando por Fred numa fotografia, identificando-o por meio de um Token, as duas orações the tall
one is red e Fred is the tall one são possíveis. Mas se estivermos procurando seu papel na organização,
identificando-o por meio de um Valor, a forma preferida será Fred is the treasurer; aqui the treasurer
is Fred é um tanto rara. A análise mostra por quê (Figura 5-15).
A variável relevante é a extensão da marcação envolvida. Aqui 1) é não-marcada para voz (ativa),
mas marcada para infomação (com Novo precedendo Dado); cf. Capítulo 3, Seção 3 acima). 2) por
outro lado é marcada para voz (passiva) mas não marcada para informação. Em outras palavras, cada
uma é marcada com respeito a uma variável. Mas 3) não é marcada nem para voz nem para informação,
enquanto que 4) é não-motivada. Escolhe-se a passiva em inglês para conseguir a desejada textura, em
termos de Tema-Rema e Dado-Novo; em especial ela evita o foco da informação marcada (que carrega
um traço semântico adicional de contraste). Aqui, contudo, a passiva tem um efeito oposto; ela leva a
um foco marcado de informação (Novo antes de Dado); portanto, a forma resultante é duplamente
marcada, tanto para informação quanto para voz. Tal forma não é impossível; mas o significado é tal
que ela exige um contexto altamente específico.
A estrutura Token-Valor é provavelmente a mais difícil para explicar no sistema da transitividade.
É também a mais importante, já que tende a dominar em certos registros altamente considerados (como
no discurso científico, comercial, político e burocrático) em que os significados construídos são
inerentemente simbólicos. Aqui estão alguns exemplos:
17
You will be our primary interface with clients [Tk ^ Vl]
One creiterion is that of generic diversity [Vl ^ Tk]
The fuels of the body are carbohydrates, fats and proteins [Vl ^Tk]
This offer is your best chance to win a prize [Tk ^Vl]
The aim of developmental research is to discover fundamental principles [Vl ^Tk]
Is mathematics one kind of language? [Tk ^Vl]
Dissemos no Capítulo 3, Seção 3.2, que o equativo temático é um tipo de oração identificadora. Note
que no equativo temático, a nominalização é sempre o Valor;
This outline represents my first attempt at a plan for the course [Tk ^V1]
Her work forms the link between the earlier period and the modre moderns [Tk ^V1]
These people constitute a reservoir for the transmission of the virus [Tk ^V1]
The experience of a visual phenomenon is characterizaed by a
'scintillating scotoma' [V1 ^Tk]
A solid phase could be represented by a condensates of the nuclear fluid [V1 ^Tk]
Such energies correspond to nearly 95% of the speed of light [Tk ^V1]
Heinz means beans [Tk ^V1]
Com verbos que não o be fica claro o que é Token e o que é Valor, já que como foi dito acima a
diferença pode ser determinada pela voz: se a oração é ativa, o Sujeito é Token, se for passiva, o
Sujeito é Valor. (Para verbos como consist of, comprise, veja sob 'Possessivo' na subseção 6 abaixo.)
Com o verbo be não se pode dizer se a oração é ativa ou passiva; a melhor estratégia para sua análise é
a substituição por outro verbo, tal como represent, e ver que voz será escolhida. Por exemplo, this offer
is/represents your vest change towin a prize; one criterion is/is represented by generic diversity.
Qualquer oração identificadora com be, como Tom is the leader, se construída fora de contexto e
apresentada na forma escrita, será obviamente ambígua. Na vida real, haverá sempre um contexto, e
mal entendidos raramente ocorrem. Em diálogos, o contexto geralmente é suficiente; e alguns
exemplos fornecem boa intravisão sobre o significado de Token e de Valor. Aqui está um exemplo de
uma conversa entre duas professoras:
O falante A quer dizer 'the best students worry most', i.e. por que eles são bons, eles se preocupam.
Aqui the best students é Token e the greatest worriest é Valor. B interpretou mal como sendo 'the
greatest worriers study best', i.e. porque eles se preocupam eles são bons; em outras palavras, ela
tomou the best students como Valor e the greatest worriers como Token.
18
Outro modo de nos sensibilizarmos com a relação Token-Valor é observar quando nossa
expectativa se mostra errada. Por exemplo, em um artigo sobre esportes de inverno há uma oração que
começa com but the most important piece of equipment is... Eu li isso como sendo Valor
(inconscientemente, é claro!) e assim predisse que seria seguido de Token, algo como ... safety helmet.
O que seguiu foi ... the one uou can least afford. Eu tive de voltar e reinterpretar a primeira parte do
Token, para construir o todo Token-Valor. Note que os dois não podem ser coordenados, o que é uma
evidência clara de que eles têm funções estruturais diferentes; não se pode ter the most important piece
of equipment are the one you can least afford and a safety helmet.
Vamos voltar para a distinção entre atributivos e identificadores, e tentar vê-los como algo contínuo.
Na atribuição, alguma entidade tem um atributo. Isso significa que ela está sendo inserida numa
classe; e os dois elementos que entram nessa relação, o atributo e a entidade que o 'carrega', diferem
em generalidade (uma inclui a outra), mas estão no mesmo nível de abstração. Assim por exemplo
'my brother belongs to the class of people whom are tall'. Isso especifica um de seus atributos; mas não
serve para identificá-lo – há outras pessoas altas. O único meio de identificar algo, inserindo-o em um
classe, é torná-la uma classe de um membro só. Mas se a classe de um-membro-só
for do mesmo nível de abstração do seu membro, teremos uma tautologia: my brother is my brother.
Mas a relação não será tautológica, de um lado, se os dois diferirem em abstração; então a classe de
um-membro-só se torna um valor ao qual o membro é inserido como um token:
Em vez de descrever meu irmão, em que is emparelha-se com looks, grows, stays,etc., nós o definimos;
is significa 'has the status of' e vai com equals (como em x igual a 2), acts as ou represents. A
conseqüência, contudo, é que agora a relação pode se inverter; em vez de usar o valor para identificar o
token, podemos usar o token para identificar o valor:
O elemento de ordem inferior de abstração agora se torna Identificador; e como resultado da ainversão,
o verbo se torna passivo. Em vez de my brother represents the tallest one in the family, teremos my
brother is represented by the tallest one in the picture. É claro que, num contexto como esse, usaremos
provavelmente be em ambos, e o verbo be não tem passiva; mas o contraste pode ser verificado com
pares de orações como:
19
Vimos como esses papéis são mapeados sobre o Sujeito: o Sujeito é sempre Token na ativa, e Valor na
passiva.
O que isso significa é que o tipo de oração identificadora em que o Identificador é Valor (isto é, a
identidade dada pela função) é intermediário entre o atributivo e o outro tipo de identificação, aquele
em que o Identificador é Token (a identidade dada pela forma):
Nomear e definir são exercícios lingüísticos, em que a palavra é Token e seu significado é o Valor. Em
'chamar' , por outro lado, o nome é que é o Valor. Contraste o seguinte par:
a 'gazebo' is a pavillion on an eminence (= 'the word gazebo means [name, is defined as] a
Token Valor pavillion on an eminence')
a poet is an artist in words (= 'one who makes verbal art has the standing of [is
Value Token called] apoet')
A mesma distinção entre modos atributivos e identificadores é encontrada em outros dois tipos de
processos relacionais, o circunstancial e o possessivo. Mas há algumas subdivisões maiores, como
mostramos na Figura 5-16 acima.
20
(2) Circunstancial. No tipo circunstancial, a relação entre os dois termos é de tempo, lugar, modo,
causa, companhia, papel, assunto ou ângulo. Esses são os elementos circunstanciais na oração inglesa,
e eles são discutidos com maior detalhe na Seção 5.7 abaixo.
(i) Atributivo. No modo atributivo, o elemento circunstancial é um atributo que está sendo
atribuído a alguma entidade; por exemplo my story is about a poor shepherd boy. Ela toma duas
formas: (a) uma em que a circunstância é expressa na forma de Atributo (about a poor shepherd boy);
(b) outra em que a circunstância é expressa na forma de Processo, e.g. my story concerns a poor
shepherd boy.
(a) Circunstância como atributo. Aqui o Atributo é uma frase preposicional e a relação
circunstancial é expressa pela preposição, e.g. about, in, like, with em my story is about a poor
shepherd boy, Pussy’s in the well, my love is like a red red rose, Fred is with the doctor. (Orações com
verbos ascritivos1 de fase marcada, como turn e look, foram tratadas como intensivas quando eram
seguidas por uma frase preposicional: e.g. caterpillars turn into butterflies, Penelope looked like an
angel, o que reflete a sua estrutura constituinte; cf. what they turn into are butterflies (não where they
turn is into butterflies), Penelope looked angelic. Mas há uma sobreposição aqui, e elas podem também
ser interpretadas como circunstanciais).
Note que orações como on the wall is/hangs a picture, through all his work runs a strong vein of
cynicism, não são atributivas, mas existenciais (veja Seção 5.5 abaixo). A forma tematicamente não-
marcada dessas orações é a que começa com o existencial there: there is (hangs) a picture on the wall.
A frase preposicional então aparece inicialmente como um Tema marcado; nesse caso, o traço
existencial pode ser deixado explícito, embora o there possa ainda estar presente e aparecer no tag : on
the wall (there) is a picture, isn't there?
(b) Circunstância como processo. Aqui o Atributo é um grupo nominal e a circunstância é expressa
por um verbo, e.g. concerns, lasted, weigs, cost em my story concerns a poor shepherd boy, the fair
lasted all night, the fish weighs five pounds, your ticket cost fifty dollars. O verbo expressa uma relação
circunstancial como 'be + assunto', 'be + extensão de tempo', 'be + medida de peso', 'be + preço'. Sendo
atributivas, elas são não-reversíveis; não há equivalentes passivas como a poor shepherd boy is
concerned by my story, all night was lasted by the fair, five pounds is weighed by the fish, fifty dollars
was cost by your ticket.
Em (b), portanto, o Processo é circunstancial; enquanto que em (a) é o Atributo que é a
circunstância, sendo o Processo o mesmo do tipo intensivo. Exemplos na Figura 5-17.
(a)
my story is about a poor shepherd boy
Portador Processo: Atributo circunstancial
intensivo
(b)
my story concerns a poor shepherd boy
Portador Processo: Atributo
circunstancial
Fig. 5-17 Orações atributivas circunstanciais
(ii) Identificando. No modo identificador, a circunstância toma a forma de uma relação entre duas
entidades: uma entidade é relacionada a outra por um traço de tempo, lugar ou modo, etc. Como com o
atributivo circunstancial, este padrão pode ser organizado semanticamente de duas maneiras. A relação
1 Verbos de ligação?
21
é expressa: (a) como um traço dos participantes, como em tomorrow is the tenth, ou (b) como um traço
do processo, como em the fair takes up the whole day.
(a) Circunstância como participantes. Aqui são os participantes – Identificado e Identificador – que
são elementos circunstanciais de tempo, lugar etc. Por exemplo, em tomorrow is the tenth, tomorrow e
the tenth são elementos de tempo. Da mesma forma em the best way to get there is by train, tanto the
best way quanto by train expressam modo; em the real reason is that you're scared, Identificado e
Identificador são expressões de causa. Como outras orações identificadoras, elas são reversíveis: scared
is the real reason. A relação entre os participantes é simplesmente de igualdade; essas orações são
nesse aspecto como as intensivas, sendo a única diferença o fato de que as duas metades da equação –
os dois 'participantes'- são, digamos assim, elementos circunstancias disfarçados.
(b) Circunstância como processo. Aqui não são os participantes que são expressões de tempo,
lugar ou outro traço circunstancial, mas o Processo. Em exemplos como the fair takes up the whole
day, applause folowwed her act, a bridge crosses/spans the river, Fred accompanied his wife, the
daughter resembles the mother, os verbos take up, follow, cross (ou span), accompany, resemble são
digamos 'verbos circunstanciais' : eles codificam a circunstância de tempo, lugar, companhia, modo etc.
como uma relação entre participantes. Assim take up significa 'be + for (extensão de tempo)'; follow
significa 'be + depois (locação no tempo)'; cross, span significa 'be + através (extensão de lugar)';
accompany significa 'be + com'; resemble significa 'be + como'. Isso significa em termos do conceito
de metáfora gramatical discutido abaixo no Capítulo 10 todas as orações desse tipo são metafóricas.
Como aquelas do parágrafo anterior, essas orações são reversíveis em voz. Nesse caso, contudo,
não somente os participantes são invertidos, mas também o verbo aparece na passiva: the whole day is
taken up by the fair, her act was followed by applause, the river is spanned by a bridgee, Fred's wife
was accompanied by hhim (ou mais apropriadamente Jane was accompanied by her husband), the
mother is resembled by her daughter. Não há dificuldade em reconhecê-las como passivas.
A linha entre os modos atributivo e identificador é menos clara no tipo circunstancial do que no
intensivo na oração relacional. Isso é natural, já que é menos óbvio se uma expressão como on the mat
designa uma classe (que tem membros – a classe de coisas que estão sobre o capacho) ou uma
identidade (a coisa que é identificada por estar sobre o capacho). Contudo há uma diferença, que
podemos reconhecer se colocarmos os exemplos lado a lado:
atributivo identificador
(a) the cat is on the mat the best palce is on the mat
on the mat is the best place
(b) the fair lasts all day the fair takes up the whole day
the whole day is taken up byy the fair
No modo identificador, podemos reconhecer Token e Valor, com exatamente a mesma aplicação da
que ocorre na intensiva. Veja Figura 5-18.
(3) Possessivo. No tipo possessivo, a relação entre os dois termos é de propriedade; uma entidade
possui a outra.
(i) No modo atributivo, a relação possessiva pode novamente ser expressa como atributo, e.g.
Peter's em the piano is Peter's, ou como processo, e.g. has, belongs to em Peter has a piano, the piano
belongs to Peter.
22
(a) Se a relação de posse é codificada como Atributo, então ela toma a forma de grupo nominal
possessivo, e.g. Peter's; a coisa possuída é o Portador e o Possuidor é o Atributo. Estas não são, de
fato, diferentes das orações identificadoras; a oração the piano is Peter's pode ser atibutiva, 'o piano é
um membro da classe das posses de Pedro' ou identicadora, 'o piano é identificado como pertencente a
Pedro'. (Note que a forma inversa Peter's is the piano só pode ser identificadora.)
(b) Se a relação de posse é codificada como Processo, então ocorrem mais duas possibilidades. Ou
(1) o possuidor é o Portador e o possuído é o Atributo (vamos chamar a coisa possuída de 'possuído' em
vez de 'posse', para evitar ambigüidade; 'posse' refere-se à relação), como em Peter has a piano. Aqui a
propriedade-do-piano é um atributo sendo atribuído a Pedro. Ou (2) o possuído é o Portador e o
possuidor é o Atributo, como em the piano belongs to Peter. Aqui a propriedade-de-Pedro é um
atributo sendo atribuído ao piano. Nenhuma das duas, é claro, é reversível; não dizemos a piano is had
by Peter, ou Peter is belonged to by the piano. Exemplos na Figura 5-19.
(a)
the piano is Peter's
Portador Processo: Atributo:
intensivo posse
(b) (1)
Peter has a piano
Portador: Processo: Atributo:
possuidor posse possuído
(b) (2)
the piano belongs to Peter
Portador: Processo: Atributo:
possuído posse possuidor
Fig. 5-19 Orações atributivas possessivas
(ii) No modo identificador, a posse toma a forma de uma relação entre duas entidades; e
novamente pode ser organizada de dois modos, com a relação sendo expressa: (a) como um traço dos
participantes, como em the piano is Peter's ou (b) como traço do processo, como em Peter owns the
piano.
(a) Posse como participante. Aqui os participantes incorporam a noção de posse, um significando
propriedade do possuidor, e.g. Peter's, o outro significando a coisa possuída, e.g. the piano. Assim em
the piano is Peter's, the piano e Peter's expressam 'aquilo que Pedro possui', e a relação entre eles é de
identidade. Note que aqui the piano é Token e Peter's é Valor.
(b) Posse como processo. Aqui a posse é codificada como um processo, em geral realizada pelo
verbo own como em Peter owns the piano. (Note que não dizemos Peter has the piano, no sentido de
propriedade; have não é usado como um verbo identificador de posse.) Os participantes são possuidor
Peter e possuído the piano; neste caso Peter é Token e the piano é Valor.
Além da posse no sentido de 'owing' , essa categoria inclui relações abstratas de conter,
envolver e outros. Entre os verbos que ocorrem com essa função estão include, contain, comprise,
consist of, provide. Alguns verbos dessa classe combina o traço de posse com outros traços semânticos;
por exemplo exclude '[negativo] + have' owe 'have on behalf of another possessor', deserve 'ought to
have' . A maioria dos verbos significando 'come to have', de outro lado, funciona como processos
materiais; por exemplo get, receive, acquire – compare as formas de tempo em You deserve a medal. –
I'm getting one.)
23
Como é de se esperar, os tipos (a) e (b) são reversíveis, o ultimo com verbo na passiva: (a) Peter's
is the piano, (b) the piano is owned by Peter. Exemplos na Figura 5-20.
(a) (ativa)
the piano is Peter's
Identificado/Token Processo: Identificador/Valor
possuído Intensivo Possuidor
(passiva)
Peter's is the piano
Identificado/Valor Processo: Identificador/Token
possuidor Intensivo Possuído
(b) (ativa)
Peter owns the piano
Identificado/Token Processo: Identificador/Valor
posse
(passiva)
the piano is owned by Peter
Identificado/Valor Processo: Identificador/Valor
posse
Fig. 5-20...
Em princípio a posse pode ser pensada como um outro tipo de relação circunstancial, que pode ser
incorporada em expressões como 'at Peter is a piano', 'the piano is with Peter'. Muitas línguas em geral
indicam posse por circunstâncias desse tipo. O mais próximo no inglês é o verbo belong; compare com
a forma do dialeto is along o'me.
A Tabela 5(55) traz juntas numa única disposição todas as categorias do processo relacional que
foram apresentadas nesta Seção. Inclui (i) o tipo de relação: intensivo/circunstancial/possessivo, com
suas subcategorias; (ii) o modo-relação: atributivo/identificador: e dentro deste último, (a) a voz:
ativa/passiva e (b) o foco da informação: marcada/não-marcada.
O critério para trazer todas essas categorias juntas como um tipo distinto de processo, o de
processos relacionais, é (como tudo na gramática) uma combinação de três perspectivas: (a) do mesmo
nível, relação com outras partes do sistema léxico-gramático; (b) de cima, os significados que eles
realizam na semântica-discursiva; e (c) de baixo, as formas de sua realização na estrutura e na
fonologia. Entre esses critérios estão os seguintes:
(a) O tempo presente não-marcado é o presente simples, como o mental e o não como o material;
não há bidirecionalidade, ao contrário do mental e do material; os participantes podem ser coisas ou
fatos, mas (onde houver dois) eles precisam ter o mesmo status.
(b) Essas orações constroem relações de atribuição e identidade, médio e efetivo em voz, com
continuidade semântica entre as duas; o efetivo (aqueles com ativa/passiva) são únicos por combinarem
dois motivos, de identificação (Idenficador-Identificado) e de codificação (Token-Valor).
(c) Diferentemente dos processos materiais e mentais, o verbo em todos os subtipos pode ser be : e
todos os verbos são em geral não-salientes, enquanto o verbo no processo material ou mental é saliente
24
na sua sílaba acentuada: compare material //Herbert / Smith / stood for / parliant // ('contested'; cf. is
standing for) com relacional //Mary / Jones stood for / women's / rights // ('represented'; cf. stands
for).
O quadro parece complexo parte porque é uma área pouco familiar, que foi pouco explorada na
gramática tradicional. Mas esses processos são críticos em muitos tipos de texto; os 'identificador
circunstancial', por exemplo, figura centralmente no tipo de metáfora gramatical que é característica do
discurso científico (veja Capítulo 10 abaixo). Mais do que outros tipos de processos, os relacionais têm
um rico potencial para ambigüidade, que é explorada em muitos registros desde a tecnologia e retórica
política até o discurso da poesia e ditos populares. Aqui está um exemplo do Congresso americano,
citado pela revista Times:
The loopholes that should be jettisoned first are the ones least likely to go.
À parte o jogo lexical de como jettison a loophole, está o Token ^ Valor ('because they are least likely
to go they should be jettisoned first'), ou seria Valor ^ Token ('although they ought to be jettisoned first
they are likely to be around the longest')? Compare os versos do Choric Song, de Tennyson, do Lotos-
Eaters: Death is the end of life. – Ah, why Should life all labour be? Aqui why should life all labour
be? é claramente uma oração atributiva. Por outro lado, death is the end of life é identificadora; mas
qual é o Token e qual é o Valor? a oração significa 'uma vez que morremos, a vida acaba (é isso que a
vida significa)' , como em (a), ou 'morremos quando a vida acaba (é assim que a morte deve ser
reconhecida'), como em (b)?
(a) death is the end of life (b) death is the end of life
Id/Tk Ir/Vl Id/Vl Ir/Tk
Parece que construímos essas interpretações no decorrer da compreensão do texto. Se dermos a ela um
foco informacional marcado, como em (c) e (d), teremos mais dois sentidos com os papéis
recombinados:
(a) death is the end of life (b) death is the end of life
Ir/Tk Id/Vl Ir/Vl Id/Tk
- em que (c) significa 'a vida acaba quando morremos (é desse modo que sabemos que a vida termina'),
e (d) significa 'uma vez que a vida termina, nós morremos (isso é o que quer dizer a vida terminar)'.
precisamente a mesma ambigüidade múltipla está presente em ditos como home is where your heart is
(Token ^Valor 'porque você vive num lugar é que você o ama', ou Valor ^Token 'porque você ama o
lugar é que lá você se sente em casa' , an Englishman's home is his castle, e outras distilações da
sabedoria da velhice.
Voltaremos para mais uma olhada nos principais tipos de processo na Seção 5.8 abaixo. Enquanto
isso há outros aspectos da transitividade para cobrir. Na próxima Seção vamos estudar brevemente
outros três tipos que ficam nos seus limites.
25
Nas três últimas seções (5.2 – 5.4), estivemos discutindo os três tipos principais de processos da oração
inglesa: material, mental e relacional. Eles são os tipos 'principais' no sentido de serem o fundamento
da gramática como uma teoria da experiência, apresentam três tipos diferentes de configuração
estrutural, e dão conta da maioria das orações de um texto (os três parecem ser mais ou menos
equilibrados em freqüência na língua como um todo, embora isso não tenha sido testado. Podemos
então continuar para reconhecer três tipos de processos subsidiários, localizados nos limites de cada um
daqueles:
São processos de (em geral humanos) comportamento fisiológico e psicológico, como respirar, tossir,
sorrir, sonhar e encarar. Eles são o menos distintos de todos os seis tipos de processo porque não
possuem características próprias definidas; ao contrário, são parcialmente como material e parcialmente
como mental. O participante que está 'se comportando', rotulado BEHAVER, é em geral um ser
consciente, como o Senser; mas o Processo é gramaticalmente mais como um 'fazer'. O tempo presente
não-marcado para processos comportamentais é o presente no presente, como no material (e.g. you're
dreaming!); contudo, também encontramos o presente simples no sentido não-marcado (i.e. why do
you laugh?, ao lado de why are you laughing? (com praticamente nenhuma diferença entre eles), o que
sugere uma afiliação com o mental.
Os limites dos processos comportamentais são indeterminados; mas podemos reconhecer os casos
típicos:
(i) [próximo do mental] processos da consciência representados como formas de comportamento, e;g.
look, watch, stare, listen, think, worry, dream;
(ii) [perto do verbal] processos verbais como comportamento, e.g. chatter, grumble, talk;
(iii) processos fisiológicos manifestando estados de consciência, e.g. cry, laugh, smile, frown, sigh,
snarl, whine;
(iv) outros processos fisiológicos, e.g. breathe, cough, faint, shit, yawn, sleep;
(v) [próximo do material] posturas corporais e passatempo, e.g. sing, dance, lie(down), sit, (up, down).
Muitos desses verbos também ocorrem não comportamentalmente; contraste think como processo
comportamental, em Be quiet! I'm thinking, com o processo mental, em They think we're stupid.
Os processos comportamentais são quase sempre médios: o padrão mais típico é a oração com
Behaver e Processo apenas, como Don't breathe!, No-one's listening, He's always grumbling. Uma
variante comum é aquela em que o comportamento é tratado como um participante, como em she sang
a song, he gave a great yawn; para a função do nome nessas expressões veja Seção 5.6 abaixo, sobre
Alcance. Certos tipos de circunstância estão associados com processos comportamentais: os de Assunto
com grupos (i) e (ii), e.g. dreaming of you, grumbled about the food; Modo com o resto, e.g. breathe
deeply, sit up straight. Alguns desses grupos (i) – (iii) também atuam regularmente como uma frase
preposicional com to, at ou on: I'm talking to you, don't look atme, fortune is smiling on us. Esses são
na origem circunstância de Lugar; no contexto comportamental, eles expressam orientação. (O verbo
watch é anômalo: em I'm watching you, o tempo sugere um processo comportamental, mas o you
aparece como um participante, como o Fenômeno do processo mental.) Note finalmente que, enquanto
26
os processos comportamentais não 'projetam' discurso indireto ou pensamento, eles freqüentemente
aparecem em narrativas introduzindo discurso direto, como um meio de anexar um traço
comportamental ao processo verbal de 'dizer'; e.g. 'Kiss me!' she breathed (veja Capítulo 7, Seção 7.5.1
abaixo). Figura 5-21 mostra um processo comportamental com um Adjunto-WH como circunstância de
Assunto.
Esses são processos de dizer, como em What did you say? – I said it's noisy inhere. Mas 'dizer' tem de
ser interpretado em um sentido mais amplo; ele cobre qualquer tipo de troca de significado simbólico,
como the notice tells you to keep quiet, ou my watch says it's half past ten. A função gramatical de you,
I, the notice, my watch é de SAYER.
E qual seria a função de it's noisy here, to keep quiet, it's half past tem? Na gramática formal, o
que é dito é tratado como 'oração substantiva objetiva do verbo dizer', significando uma oração que é
rankshifted pela nominalização (veja Capítulo 6 abaixo). Mas funcionalmente essa oração não é
rankshifted; sua função como uma oração secundária numa 'clause complex' (veja Capítulo 7 abaixo),
sendo (a) discurso direto, como em (he said) 'I'm hungry', ou (b) discurso indireto, como em (he said)
he was hungry. Isso significa que tais seqüências consistem em duas orações, como na Figura 5-22.
(Apenas a oração primária é um processo verbal, é claro; a outra pode ser de qualquer processo.) Para a
função de what, em what did you say?, veja Seção 5.6 abaixo).
Segue-se que , diferentemente dos processos mentais, os processos verbais não requerem um
participante consciente. O Sayer pode ser qualquer coisa que produza sinal, como the notice ou my
watch; cf. the light em the light says stop, the guidebooks em the guidebook tells you where everything
is. Tais entidades não poderiam figurar naturalmente como Senser num processo mental: my watch
thinks it's half past tem é decididamente incongruente. Mas my watch says it's half past tem não levanta
nenhum comentário; um Sayer pode ser it como she ou he. Por isso os processos verbais poderiam ser
chamados mais apropriadamente de processos 'simbólicos'.
A oração projetada pode ser (a) uma proposition, como em (he told me) it was Tuesday, (she asked
me) whether it was Tuesday, 'why are you late?'(he demanded); ou (b) uma proposal, como em (she
27
told him) to mend his ways, (he promised) to go home. O proposal pode ser exprresso por uma oração
declarativa modulada (veja Capítulo 4 acima, Seção 4.5): (she told him) that he should/must mend his
ways, (he promised her) that he could go home. Para maiores detalhes veja Capítulo 7, Seção 7.5
abaixo.
Enquanto os processos verbais não são um tipo distinto de processo, mas um amontoado de
pequenos subtipos que misturam o material e o mental em um contínuo, os processos verbais
apresentam um padrão próprio. Além de serem capazes de projetar, num modo único como
descrevemos, eles acomodam mais três funções de participantes além do Sayer: (1) Receiver, (2)
Verbiage, (3) Target. Os dois primeiros são participantes 'oblíquos', como foi descrito em 5.6.1 e 5.6.2
abaixo.
(1) O RECEIVER é aquele para quem o dizer é direcionado; e.g. me, your parents, the court em
tell me the whole truth, did you repeat to your parents?, dscribe to the court the scene of the accident.
O RECEIVER pode ser sujeito em orações com passiva; e.g. I em I wasn't told the whole truth.
(2) O VERBIAGE é a função que corresponde àquilo que é dito. Pode ser um dos dois:
(a) Pode ser o conteúdo do que é dito ; e.g. the apartment em can you describe thee apartment for
me? (cf. the scene of the accident acima), his plan of campaign em the manager will outline his plan of
campaign, the mystery em the mystery's never been explained. Se o processo verbal projeta bens e
serviços e não informação, como order ou promise, o Verbiage refere-se a elas: e.g. a steak em I
ordered a steak, those earrings em those earrings were promised to another customer.
(b) Pode ser o nome do dito; por exemplo a question em let me ask you a question, another word
em now don't you say another word! Esse tipo também ocorre com verbos 'vazios' give e make, e.g.
give the order, make astatement. O nome de uma língua é Verbiage, e.g. they werre speaking arabic.
Os dois tipos de Verbiage não muito distintos; entre (a) tell me your experience e (b) tell me story
é algo como tell me the truth, em que the truth poderia ser interpretado como (a) 'os eventos como eles
ocorreram' ou como (b) 'uma narrativa que é fatual'.
Note que 'o que é dito' no sentido das palavras de um discurso direto ou indireto não é Verbiage.
Essa matéria projetada não é constituinte da oração do processo verbal projetador (cf. Figura 5-21
acima). Na forma de teste what did you say?, what está funcionando como Verbiage.
(3) O TARGET é a entidade que é focalizada pelo processo de dizer; e.g. him em she always
praised him to her friends, my intelligence em please don't insult my intelligence. Aqui o Sayer é como
se estivesse agindo verbalmente sobre o ouro. Verbos que aceitam o Target, como praise, insult,
abuse, slander, flatter, blame, criticize, não projetam facilmente o discurso indireto; esse tipo de oração
é mais próxima da estrutura de Ator + Meta do processo material.
Finalmente, na margem oposta , os processos verbais misturam-se com o tipo 'simbólico' do
processo relacional. Considere um paradigma como o seguinte:
(i) Responding, the minister implied that the policy had been changed.
(ii) Responding, the minister implied a change of policy.
(iii) The minister's response implied that the policy had been changed.
(iv) The minister's response implied a change of policy
Em (i), the minister implied é um processo verbal, e o que segue e uma oração 'projetada' de discurso
indireto. Na outra ponta, em (iv) há apenas uma oração, que é um processo relacional estruturada como
Token ^Valor (veja Capítulo 10 para a metáfora gramatical envolvida aqui). Verbos como imply,
indicate, show, demonstrate, signify, suggest têm essa propriedade dual; eles pode funcionar como
'dizer'ou como 'ser (um sinal de)'. Talvez o melhor lugar para traçar a linha seja entre (iii) e (iv): se o
Sujeito (na voz ativa) é um ser consciente, ou a oração na qual se encontra está projetando, é um Sayer;
28
caso contrário é um Token. Assim the minister implied a change of policy será um processo verbal,
com a change of policy como Assunto, mantendo-se metaforicamente como uma projeção,
Esses significam que algo existe ou acontece, como em there was a little guinea-pig, there seems to be
a problem, has there been a phone call?, there isn't enough time. A palavra there nessas orações não
tem função representacional; mas é necessária como um Sujeito (veja Capítulo 4, Seção 4.6. acima).
Fonologicamente não é saliente, e a vogal é freqüentemente reduzida a um schwa (portanto idêntico ao
the); é portanto distinto do Adjunto there que é elemento circunstancial. Contraste (i) existencial there's
your father on the line, com there reduzido como Sujeito, e resposta Oh, is there?, e (ii) relacional
circunstancial there's your father, com there saliente como Adjunto, e resposta Oh, is he? where? Em
(ii), mas não em (i), there's contrasta com here's.
As orações existenciais em geral têm o verbo be; nesse respeito também elas se assemelham aos
processos relacionais. Mas os outros verbos que comumente ocorrem são principalmente diferentes de
atributivos ou identificadores. Um grupo é um pequeno conjunto de verbos intimamente relacionados
significando 'existir' ou 'acontecer': exist, remain, arise; occur, come about, happen, take place. O outro
grupo incorpora algum traço circunstancial; e.g. de tempo (follow, ensue), lugar (sit, stand, lie; hand,
rise, stretch, emerge, grow). Mas um bom número de verbos pode também ser usado nas orações
existenciais abstratas; e.g. erupt, flourish, prevail.
Freqüentemente uma oração existencial contém um elemento circunstancial distinto de tempo ou
de lugar, como em there was a picture on the wall; se o elemento cicunstancial for temático, o Sujeito
there pode ser omitido – mas ele surgirá se houve um tag: on the wall (there) was a Picasso painting,
wasn't there?, all around (there) grew a thick hedge. Um outro modo muito comum de 'localizar' o
processo no tempo-espaço é segui-lo com uma oração não-finita, e.g. there was an old woman tossed
up in a basker, there's someone waiting at the door, there's a patient to see you; os dois juntos formam
uma oração complexa (cf. Capítulo 7, Seção 7.4.2 (2) (ii)).
O objeto ou o evento que está sendo dito existir é rotulado, simplesmente, EXISTENTE. Em
princípio, pode 'existir' qualquer tipo de fenômeno que possa ser construído como uma 'coisa': pessoa,
objeto, instituição, abstração; mas também qualquer ação ou evento, como em is there going to be a
storm?, there was another robbery in the street. E aqui o existencial se funde com o tipo material do
processo: há pequena diferença de significado entre o existencial there was a robbery e o material a
robbery took place. Os existenciais são ilustrados na Figura 5-23.
29
Fig. 5-23 Processos existenciais
relacional: ‘ser’
atribuição ‘atribuir’ Portador, Atributo
identificação ‘identificar’ Identificado, Identificador; Token, Valor
No limite entre o existencial e o material há uma categoria especial de processos que tratam do
tempo: processos METEOROLÓGICOS, como: está chovendo, o vento está soprando, vai haver uma
tempestade. Alguns são costruídos existencialmente, e.g. there was a storm/hurricane/wind/breeze/
gale/shower/blizzard. Alguns são construídos como eventos materiais, e.g. the wind is blowing, the sun
is shining, the clouds are coming down. Alguns são construídos como atributos relacionais: it’s
foggy/cloudy/misty/hot/humid/sunny/cold/frosty; aqui o it pode ser interpretado como um Portador, já
que é possível substituir o tempo, o céu ou (a hora) do dia. Finalmente, alguns são construídos como it
+ um verbo no tempo ‘presente do presente’: it’s raining/hailing/snowing/freezing /pouring/drizzling
/lightning/thundering.
Este último tipo é único em inglês, pois não há participante. O it funciona como Sujeito, como o
there no processo existencial, mas não tem função na transitividade – se alguém lhe diz que está
chovendo, você não pode perguntar O que é? Por outro lado, o tempo é nitidamente o de um processo
material. Essas orações podem ser analisadas como consistindo de um único elemento, o Processo; são
casos limítrofes da oração de processo material. Com eventos meteorológicos a gramática completa o
círculo da experiência, unindo-os com os acontecimentos concretos com os quais começamos.
A Tabela 5(6) dá um resumo dos tipos de processo que identificamos na gramática do inglês, junto com
o significado geral da categoria e as funções dos participantes principais que estão associados com cada
um.
30
As Seções 5.6 e 5.7 descrevem as funções dos participantes restantes, e as funções circunstanciais.
O conjunto total das funções usadas para interpretar a oração como representação, com os critérios para
reconhecimento dos vários tipos de processo, está no final do capítulo, nas Tabelas 5(18) e (20).
As funções de participantes listadas na Tabela 5(6) são aquelas que estão diretamente envolvidas no
processo: aquele que faz, se comporta, sente, diz, é ou existe, juntamente com a função complementar
onde há um – aquele para quem é feito, sentido etc. Gramaticalmente estes são os elementos que
tipicamente se relacionam diretamente com o verbo, sem ter uma preposição como intermediária.
Há outras funções de participantes na oração inglesa, também específicas para cada tipo de
processo. É possível reuni-las em duas funções comuns a todas as orações: o Beneficiário e o Alcance,
que são discutidos na presente seção.
Beneficiário e Alcance são participantes 'oblíquos' ou 'indiretos' , que nos estágios iniciais da
língua requereram um caso oblíquo ou uma preposição. Também, ao contrário dos participantes diretos,
eles não podem exercer a função de Sujeito no sistema de mood.
No inglês moderno, a distinção entre participantes diretos e indiretos tende a desaparecer. Todos
os participantes podem ser Sujeitos; não existem mais casos; e a presença ou a ausência de uma
preposição é determinada através de outros critérios (veja Seção 5.8 abaixo). Mas semanticamente o
Beneficiário e o Alcance não são elementos muito inerentes do processo; eles são em geral (embora
nem sempre) extras opcionais.
Na terminologia 'lógica' citada no Capítulo 2, em que o Ator é o 'sujeito lógico' e a Meta, o 'objeto
direto lógico', o Beneficiário é o 'objeto indireto lógico' e o Alcance seria o 'objeto cognato lógico'.
5.6.1 Beneficiário
O Beneficiário é aquele a quem ou para quem o processo ocorre. Aparece nos processos material e
verbal, e ocasionalmente no relacional.
(a) No processo material, o Beneficiário é Recipiente ou Cliente. O Recipiente é aquele para quem
se dá os bens; o Cliente é aquele para quem os serviços são feitos. Ambos podem aparecer com ou sem
preposição, dependendo da sua posição na oração (gave John the parcel, gave the parcel to John); a
preposição é to para Recipiente, for para Cliente. Para descobrir se a frase preposicional com to ou for
é Beneficiário ou não, veja se ele pode ocorrer naturalmente sem a preposição. Assim em she sent her
best wishes to John, to John é Beneficiário (she sent John her best wishes); em she sent her luggage to
Los Angeles, to Los Angeles, não é o Beneficiário (não dizemos she sent Los Angeles her luggage). Os
Clientes tendem a ser mais restritos do que os Recipientes; em I'm doing all this for Mary, for Mary
não é o Cliente mas um tipo de Causa (Interesse; veja Seção 5.7 abaixo). Um exemplo de Cliente seria
(for) his wife em Fred bought a present for his wife/bought his wife a present.
Normalmente o Recipiente ocorre apenas em oração 'efetiva' (tem dois participantes diretos; veja
Seção 5.8 abaixo). No processo material isso significa oração com Meta; a Meta representa os 'bens',
como na Figura 5-24.
31
Com o Cliente, o 'serviço pode ser também expresso através da Meta, especialmente uma Meta do tipo
'criado' distinto do 'disposto', aquela que é trazida à existência pelo processo; e.g. a picture, this house
em he painted a picture, build Mary this house. Mas é o processo que realmente constitui o serviço;
portanto um Cliente pode também aparecer na oração 'média' – aquela sem Meta, mas que tem ou
Processo + Alcance, como a descrita na sub-seção (2) abaixo, e.g. played Mary a tune, ou somente
Processo, como em play for me. Estes últimos não podem aparecer sem for (play me); a fim de mostrar
que eles são Beneficiário é necessário acrescentar um elemento Alcance em posição final (play for me
– play a tune for me – play me a tune).
Em geral o Beneficiário é humano; especialmente um pronome pessoal, e mais comumente um
papel de fala (me, you, us), e.g. me no famoso verso de Mae West Peel me a grape! Mas não é
necessariamente assim; o Beneficiário é uma planta em did you give the philodendron some water? , e
uma entidade abstrata loyalty em loyalty is owed some recognition. Nem, é claro, o 'benefício' é
necessariamente um benefício: Claudis é o Beneficiário em Locusta gave Claudius a dose of poison.
(b) No processo verbal, o Beneficiário é aquele a quem se dirige; e.g. Mary em John said to
Mary/told Mary (a story)/asked Mary (a question)/notificed Mary of the decison/imparted the news to
Mary. Referimo-nos a esse papel como Recipiente. Aqui a preposição é to , e novamente a frase
preposicional está associada à posição final da oração.
O Recipiente está freqüentemente presente em orações de processo verbal em que o sentido é o de
um processo mental causativo, e.g. convince 'fazer acreditar', tell 'fazer saber', explain 'fazer entender',
show 'fazer ver'. Exemplos na Tabela 5(7).
Pode estar presente também com verbos promise, undertake: she promised John/vowed to John
that she would stay at home'/to stay at home. (Note que este não é o papel de Fred em he
told/ordered/presuaded/wanted Fred to do it. Veja Capítulo 7 Adicional, Seção 7.A 6 abaixo.)
(c) Há também alguns processos relacionais (atributivos) contendo um Beneficiário, e.g. him em
she made him a good wife, it cost him a prettu penny. Referir-nos-emos a estes como Beneficiário, sem
introduzir um termo mais específico, já que eles não constituem um papel reconhecidamente distinto na
oração.
O Beneficiário funciona regularmente como Sujeito da oração; nesse caso o verbo fica na voz
passiva. Exemplo na Figura 5-25:
5.6.2 Alcance
32
O Alcance é o elemento que especifica o escopo do processo. Exemplos são a song em sing a song
of sixpence, croquet em do you play croquet with the Queen today?, an awful blunder em Big Bird's
made an awful blunder. Este é o significado subjacente à categoria clássica do objeto cognato, assim
chamado porque em exemplos examinados pelos gramáticos ele era de fato um cognato do verbo, como
song é de sing. A 'cognatividade' não é um traço necessário; muitos elementos do Alcance em inglês
não são cognatos do verbo mesmo que sejam próximos em significado como, por exemplo, game e
play. Mas eles mantêm uma relação semântica com o Processo, como é sugerido pelo termo Alcance:
eles definem sues coordenados, digamos assim.
Um Alcance pode ocorrer em processos: material, comportamental, mental ou verbal.
(a) Nos processos material e comportamental, o Alcance ou (i) expressa o domínio em que o
processo ocorre ou (ii) expressa o próprio processo, em termos gerais ou específicos. Não há, de fato,
uma linha nítida entre esses dois, pois pertencem a um único contínuo.
(i) O Alcance pode ser uma entidade que existe independentemente do processo, mas indica o
domínio em que ocorre o processo. Um exemplo é the mountain em Mary climbed the mountain. A
montanha existe independentemente de alguém escalá-la ou não; mas the mountain especifica o alcance
da escalada de Mary. Note que a relação não é de 'fazer'; não se pode dizer what Mary did to the
mountain was climb it . Da mesma forma em John played the piano, em que piano é o Alcance; pianos
existem também independentemente da ação de tocar piano. Há uma diferença entre tocar piano e
escalar montanhas – pianos existem para o propósito de serem tocados, caso contrário não haveria
razão de existirem. Mas nos dois casos o Alcance é o domínio do processo e não um outro nome para o
próprio processo. Para the boys were playing football, contudo, embora exista um objeto chamado
football, football é realmente o nome do jogo; é duvidoso se ele se refere à bola como uma entidade. E
isso nos leva para o segundo tipo.
(ii) O Alcance pode não ser uma entidade mas sim um outro nome para o processo. Considere John and
Mary were playing tennis, em que tennis é o Alcance. O tênis não é uma entidade; não há uma coisa
que seja tênis e outra que seja o ato de jogar tênis. Como com sing a song, se procurarmos song no
dicionário vamos encontrá-la definida como 'ato de cantar' , justamente como game é 'ato de jogar'.
Por que esses processos são expressos como se eles fossem um tipo de participante da oração? Em
outras palavras, por que dizemos sing a song, play games, em vez de simplesmente sing, play? A
resposta é que essas estruturas nos capacitam a especificar o número ou o tipo de processo que ocorre.
Os principais tipos de 'processo Alcance' são os seguintes:
Todos eles podem ser combinados, como em they played five good games of tennis.
Esse padrão deu origem a uma forma de expressão que é muito comum no inglês moderno,
exemplificado por have a bath, do some work, make a mistake, take a rest, give a smile. Aqui o verbo
é lexicalmente vazio; o processo da oração é expresso apenas pelo nome funcionando como Alcance.
Esta estrutura é típica de processos comportamentais na linguagem falada cotidiana.
Há vários motivos na gramática inglesa pelos quais esse padrão tenha se tornado a construção
preferida. A principal razão para sua prevalência é o potencial maior que se abre para nomes, em
contraste com os verbos, por serem modificados de diferentes maneiras: seria difícil substituir nomes
por verbos em exemplos como have a hot bath, do a little dance, made three serious mistakes, take
another quick look, gave her usual welcoming smile. Os grupos nominais resultantes podem então
33
funcionar como Temas e também como participantes em outros tipos de oração; por exemplo three
serious mistakes is three too many, her usual welcoming smile was missing that day.
É útil rotular o Alcance nos processos material ou comportamental mais especificamente como
'Alcance: entidade' ou 'Alcance: processo' . Exemplos de Alcance são dados na Figura 5-26.
O Alcance num processo material ocorre em geral em orações 'médias', aquelas em que há apenas
um participante direto – portanto em que há apenas o Ator, e não há Meta. Como resultado, nem
sempre é fácil distinguir o Alcance da Meta. Semanticamente, o elemento Alcance não é, em nenhum
sentido óbvio, um participante do processo; mas gramaticalmente é tratado como se o fosse. Assim o
Alcance pode tornar-se Sujeito da oração, como em five games were played before tea. Contudo, há
algumas distinções gramaticais entre o Alcance e a Meta.
Como já notamos, o Alcance não pode se testado por do to ou do with, enquanto a Meta sim. Já
que nada está sendo 'feito a' ele, o elemento Alcance nunca pode ter um Atributo resultativo
acrescentado dentro da oração, enquanto a Meta pode: podemos dizer they trampled the field flat
significando 'com o resultado de que ele se tornou chato', em que the field é Meta, mas não podemos
dizer they crossed the field flat, em que the field é o Alcance, mesmo embora o achatamento possa ter
resultado do contínuo cruzar sobre ele (para Atributo resultativo veja sob Papel na Seção 5.7 abaixo).
O Alcance não pode ser um pronome pessoal, e ele não pode normalmente ser modificado por um
possessivo. Mais ainda, embora ele possa tornar-se Sujeito, essa possibilidade é mais restrita do que
para a Meta; enquanto Alcance-passivo generalizado como this mountain has never been climbed seja
bem comum. Alcance-passivo com Ator específico é raro. Assim enquanto a Meta torna-se facilmente
Sujeito em orações como This teapot wasn't left here by your aunt, was it?, e pouco comum fazer o
elemento Alcance 'modalmente responsável' desse modo: This mountain wasn't climbed by your aunt,
was it? , em que a validade da proposição está sendo afirmada com respeito à montanha, o que soa
decididamente estranho.
(b) Num processo mental, o conceito de Alcance ajuda a entender a estrutura que já identificamos,
aquele do Senser e do Fenômeno. Não é um elemento adicional, mas uma interpretação do Fenômeno
em uma das suas configurações estruturais.
Vimos que os processos mentais são distinguidos por serem bi-direcionais: dizemos it pleases me
e I like it. O primeiro partilha certos traços de um processo material efetivo: ocorre livremente em
passiva (I'm pleased with it), e pode ser generalizado como um tipo de 'fazer para' (What does it do to
you?) – It pleases me). Aqui o Fenômeno mostra alguma semelhança com o Ator (veja mais na Seção
5.8. abaixo). O tipo like , por outro lado, não apresenta nenhuma dessas propriedades; nesse tipo, o
Fenômeno não tem nenhuma semelhança com a Meta. Mas ele mostra certas afinidades com o Alcance.
Figura como Sujeito, na passiva, sob condições igualmente restritas; aparece em expressões como
enjoy the pleasure, saw a sight, have an undertanding of, que são expressões análogas de Alcance
material do tipo 'processo' como play the game, have a game. Assim podemos interpretar o papel do
Fenômeno no tipo like do processo mental como uma contrapartida daquele do Alcance no material; é o
elemento que delimita as extremidades do sentir.
(c) Da mesma forma, o conceito de Alcance torna-se aplicável a um processo verbal, no caso para
a função a que nos referimos acima como Verbiage (sem conotação pejorativa!). Os dois tipos de
34
Verbiage, que se referem ao conteúdo, como em describe the apartment, e aquele que especifica a
natureza do processo verbal, como tell a story, são análogos respectivamente ao 'Alcance entidade'
material e 'Alcance processo'.
O que é comum a todas essas funções – Alcance nos processos material e comportamental,
Fenômeno no tipo like do processo mental e Verbiage nos processos verbais – é algo como o seguinte.
Pode haver em cada tipo de oração um elemento que não seja tanto uma entidade participante de um
processo, mas um refinamento do processo em si. Este pode ser o nome de uma variedade de processo,
que, sendo um nome, pode então ser modificado por quantidade e qualidade: (material) play another
round of golf, (mental) enjoy the pleasure of your company, see an amazing sight, think independent
thoughts, (verbal) tell those tales of woe. Já que aqui o tipo de ação, evento, comportamento, sensação
ou de dizer está especificado pelo nome, como uma função de participante, o verbo pode ser
inteiramente geral em significado, como em have a game of, have an idea about, have a word with. Ou,
secundariamente, este elemento pode ser uma entidade, mas que toma parte no processo não por ação,
ou recipiente de ação, mas por marcar o escopo, e.g. play the piano, enjoy the scenery, recount the
events. Voltaremos ao assunto no fim da Seção 5.7 abaixo.
Alguns exemplos de elementos Alcance em processos de diferentes tipos são dados na Tabela
5(8).
Começamos este capítulo com o conceito de tipos de processo, considerando a função Processo,
juntamente com aquelas funções de participantes que eram importantes para a distinção entre um tipo
de processo e outro (Seções 5.1 – 5.5). Nas seções anteriores introduzimos dois outros papéis de
participante, Beneficiário e Alcance, que podem ser encontrados associados a muitos tipos de processo,
embora tendo implicações diferentes em cada um. Agora chegamos aos elementos circunstanciais, que
se encontram no outro lado do contínuo: em geral, eles ocorrem livremente em todos os tipos de
processo, essencialmente com o mesmo significado onde quer que ocorram. Há, naturalmente, algumas
combinações que são menos possíveis e algumas interpretações especiais; para dar um exemplo, numa
oração atributiva, as circunstâncias de Modo são pouco usuais, e as circunstâncias de Lugar carregam
em geral um traço de tempo também, e.g. I get hungry on the beach 'quando eu estou na praia'. Mas
esses casos tendem a ser bem específicos, e não vamos tratar deles aqui.
35
Há assim uma continuidade entre as categorias de participante e circunstância; e a mesma
continuidade pode ser vista nas formas pelas quais elas se realizam. A distinção entre participante e
circunstância é provavelmente relevante em todas as línguas; em algumas é bem nítida, enquanto em
outras é indefinida. Veremos na próxima seção (5.8) que a circunstância se tornou indefinida no inglês,
e por uma razão interessante: ela foi superada por outro fator.
Vamos examinar a noção de 'circunstância' sob as nossas três perspectivas. Com relação ao
significado, usei a expressão 'circunstância associada a' ou 'attendant no processo', referindo-me a
exemplos como a localização de um evento no tempo e no espaço, seu modo ou sua causa; e essas
noções de 'quando, onde, como e por quê' a coisa acontece forneceram as explicações tradicionais,
ligando as circunstâncias às quatro formas de QU- que eram advérbios e não nomes. Esse fato se liga à
segunda perspectiva, da própria oração: enquanto os participantes funcionam na gramática do mood
como Sujeito ou Complemento, as circunstâncias se realizam como Adjuntos; em outras palavras, não
conseguiram o potencial de se tornarem Sujeitos, de assumir a responsabilidade modal para a oração
como permuta. Em terceiro lugar, olhando de baixo, elas são em geral expressas não como grupos
nominais, mas ou como grupos adverbiais ou frases preposicionais – em geral frases preposicionais, já
que grupos adverbiais são amplamente confinados a um tipo, o de Modo.
Mas a frase preposicional é um tipo de construção híbrida estranha. Tem um grupo nominal em
seu interior, como um constituinte, e assim parece maior que um grupo; mas nem por isso chega a ser
uma oração. Em inglês, esse grupo nominal dentro de uma frase preposicional não difere de um grupo
nominal funcionando diretamente como participante de uma oração, e em princípio todo grupo nominal
pode ocorrer em ambos os contextos; e.g. participante em little drops of water make the mighty ocean,
circunstância em I'll sail across the mighty ocean. E se focarmos nossa atenção no grupo nominal em
sua relação com o processo todo, ele ainda parece ser algum tipo de participante: mesmo no velejar, o
oceano poderoso participa de algum modo. Isso lhe é permitido apenas indiretamente – através da
preposição intermediária, como dissemos acima.
Podemos fazer um contraste, então, entre PARTICIPANTES DIRETOS e INDIRETOS, usando
'participante indireto' para nos referirmos ao grupo nominal dentro de uma frase preposicional. (Para a
estrutura do grupo nominal veja Capítulo 6, Seção 6.5 abaixo.) Já vimos que os papéis de participantes
de Beneficiário e Alcance são às vezes expressos 'indiretamente' nesse sentido, como em gave the
money to the cashier, plays beautifully on the piano. Os elementos que estamos tratando como
'circunstanciais' são aqueles em que o participante em geral – e em muitos casos como
obrigatoriamente – é indireto, sendo ligado ao processo via alguma preposição.
Qual seria, então, o conjunto de funções que é construído como circunstancial na gramática da
oração como representação? Podemos começar com tempo, lugar e modo; mas precisamos realinhá-los
de algum modo, acrescentar a eles, e interpretá-los em relação ao tipo de processo como um todo. A
lista dos elementos circunstâncias será como a da Tabela 5(9). Colocados assim parece uma lista um
tanto arbitrária. Mas se pensarmos as 'circunstâncias' como um conceito geral, no contexto da
interpretação total da transitividade na gramática da experiência, podemos obter um sentido de espaço
semântico que está sendo construído por esses elementos circunstanciais. Para isso, pode-se relacioná-
los aos vários tipos de processo que descrevemos acima.
36
1 Extensão distância, duração
2 Localização lugar, tempo
3 Modo modo, qualidade, comparação
4 Causa razão, propósito, interesse
5 Contingência condição, concessão, ausência
6 Companhia comitação, adição
7 Papel forma, produto
8 Assunto
9 Ângulo
Podemos assim fazer porque o elemento circunstancial em si é, desse ponto de vista, um processo
que se tornou parasítico de outro processo. Em vez de se sustentar por si, ele serve como uma expansão
de algo. A maioria dos circunstanciais pode ser derivada dos três tipos de processo relacional; o grupo
maior, não surpreendentemente, pertence ao tipo de processo relacional para o qual usamos o rótulo
'circunstancial' . Poderíamos ilustrar os principais como:
Veremos depois que os dois padrões – os dois tipos de processo e os tipos do elemento
circunstancial – são por sua vez parte de um quadro mais geral que poderemos estabelecer depois que
tivermos explorado a oração complexa (veja Capítulo 9, especialmente Tabela 9(3)). Para a discussão
presente, o que é importante é a noção de 'circunstância' como tipo de um processo adicional menor,
subsidiário ao principal, mas que incorpora alguns traços de um processo relacional ou verbal, e assim
introduz mais uma entidade como participante indireto da oração.
37
Espacial Temporal
Extensão (incl. intervalo) Distância Duração
caminhar (por) sete milhas ficar (por) duas horas
parar a cada dez jardas dar pausa a cada dez minutos
Freqüência
bater três vezes
Localização Lugar Tempo
trabalhar na cozinha acordar às 6 horas
38
Remota lá, longe então, há tempos
Tabela 5(2)
Espacial Temporal
Descanso em Sidney, na terça-feira
Localização no aeroporto ao meio dia
Movimento em direção para Sidney até terça-feira
afastamento de Sidney desde terça-feira
Contudo, esse paralelismo espaço-temporal está longe de ser completo; e em séculos recentes a
língua parece ter se distanciado dele. O tempo é unidimensional; nós o vemos movendo-se, e
carregando o observador ao longo da corrente, enquanto o espaço é tridimensional e estático, com o
observador movendo-se livremente dentro dele. Isto se reflete no fato de as preposições de movimento
não serem em geral os mesmos para tempo e para espaço; till Tuesday, since Tuesday sugere que terça-
feira vai e vem, em contrate com to Sydney, from Sydney, com Sydney permanecendo onde está. Além
disso, antes e depois não são mais identificados, como eram nos estágios iniciais da língua, com em
frente e atrás; o tempo não é mais equacionado com o espaço horizontal centrado-no-observador, ou
com qualquer dimensão espacial. A categoria de Extensão temporal inclui não apenas a duração, mas
também a freqüência (três vezes, etc. ), para a qual não há paralelo espacial. Finalmente, há um
conceito bem desenvolvido de espaço abstrato, como se vê em expressões como condemned them to
poverty, saved them from extinction, my own views would be somewhere in between, que não tem
paralelo na função Tempo; enquanto por outro lado há uma conexão semântica próxima entre tempo
como elemento circunstancial e tempo incorporado no sistema de tempo verbal, para o qual não existe
correspondente na função Lugar (compare 5.7.2 (v) abaixo).
(3) Modo. O elemento circunstancial de Modo envolve três sub-categorias: Meio, Qualidade e
Comparação.
(a) O Meio refere-se aos meios pelos quais um processo acontece; é em geral expresso por uma
frase preposicional com a preposição por ou com. As formas interrogativas são: como? e com o quê?
Além das expressões generalizadas de meio como by train, by chance, a categoria inclui, em
princípio, os conceitos de agência e instrumentalidade. O instrumento não é uma categoria distinta na
gramática inglesa; é simplesmente um tipo de meio. Assim dado the pig was beaten with the stick, a
forma ativa correspondente será she beat the pig with the stick; em ambos, the stick é uma expressão
circunstancial de Modo.
O agente, contudo, embora seja expresso por uma frase preposicional, em geral funciona como um
participante da oração; dado the pig was beaten by the stick, o correspondente ativo será the stick beat
the pig (e não she beat the poig by the stick), em que the stick tem função de Ator.
A linha entre agente e instrumento nem sempre é nítida. Numa oração de processo mental
podemos ter she was pleased by the gift ou she was pleased with the gift. Contudo há uma distinção
significativa na gramática entre modo e agência, tal que a frase passiva by, se não puder permanecer na
oração ativa correspondente, é interpretada como um participante e não como circunstância de Modo.
Isso reflete o fato de que semanticamente, enquanto o instrumento não é em geral um elemento inerente
do processo, o agente o é em geral – embora menos claramente quando o processo é expresso na
passiva. Para mais informação sobre o conceito de agência, veja Seção 5.8 abaixo.
(b) A Qualidade é em geral expressa por um grupo adverbial, com –ly advérbio como Núcleo; a
interrogativa é how? or how ... ? mais um advérbio apropriado. Expressões de qualidade caracterizam o
processo a respeito de qualquer variável que faça sentido; por exemplo heavily em it was snowing
39
heavily, in a calmer tone em Humpty Dumpty said in a calmer tone, too much em it puzzled her too
much.
(c) A Comparação é em geral expressa por frase preposicional com like ou unlike ou um grupo
adverbial de semelhança ou diferença; por exemplo like an earthquake em it went through my head like
an earthquake. A interrogativa é what ... like?
Alguns exemplos de circunstâncias de Modo são dados na Tabela 5(14).
(4) Causa. O elemento circunstancial de causa também envolve três subcategorias: Razão,
Finalidade e Interesse.
(a) A expressão circunstancial da Razão representa uma razão pela qual o processo acontece – o
que o causa. É em geral expressa por frase preposicional com through ou uma preposição complexa
como because of, as a result of, thanks to; também o negativo for want of, como em for want a nail the
shoe was lost. Há também uma classe de expressões com of , um dos poucos lugares em que of
funciona como uma preposição completa (i.e. representando um processo menor) e não meramente
como um marcador de estrutura; por exemplo die of starvation. As formas WH- correspondentes são
why? ou how?
(b) Circunstâncias de Finalidade representam a finalidade para a qual uma ação acontece – a
intenção subjacente. São em geral expressas por frase preposicional com for ou uma preposição
complexa como in the hope of, for the purpose of; por exemplo for lunch in gone for lunch, for the sake
of em for the sake of peace and quiet. A interrogativa correspondente é what for?.
As relações semânticas da razão e do modo tendem a ser realizadas como orações separadas e não
como frase dentro de oração; por exemplo I did it to get my own back (cf. for (the sake of) revenge),
because he's ardent em I love my love with an A because he's ardent, to watch them em she went
nearer to watch them. Essas estruturas de 'oração complexa' são aprofundadas no Capítulo 7.
(c) Expressões de Interesse representam a entidade, em geral uma pessoa, em cujo interesse ou
para quem uma ação é realizada – aquela para quem é. São expressas por frase preposicional com for
ou com uma preposição complexa tal como for the sake of, in favour of, on behalf of; por exemplo pray
for me, I'm writing on behalf of Aunt Jane, he did it for the sake of our friendship. A interrogativa usual
é who for?
Esta categoria inclui em princípio o conceito de Beneficiário, a pessoa para quem algo é dado ou
para quem algo é realizado. Mas o Beneficiário é tratado na gramática como um tipo de participante:
ocorre sem preposição, exceto quando em posição proeminente, e pode tornar-se Sujeito na passiva.
Portanto temos de distinguir entre she gave up her job for her children ('em favor de': Interesse), em
que não podemos dizer she gave her children up her job, e she built a new house for her children
('para uso de: Beneficiário), em que podemos dizer she built her children a new house .
Semanticamente, o primeiro não é inerentemente um serviço, enquanto o segundo sim; aqui o processo
por si tem uma implicação benefactiva, neste caso porque cria um produto usável. Compare a distinção
apresentada acima entre Agente e Meios; e veja também a Seção imediatamente seguinte, 5.8.
Alguns exemplos de circunstâncias de Causa são dados na Tabela 5(15).
40
Razão por quê? como? (they left) because of the drought
Finalidade para quê? (it's all done) with a view to promotion
Interesse para quem? (put in a wrod) on my behalf
(6) Companhia. Este elemento representa os significados 'e', 'ou' , 'não' como circunstanciais;
corresponde aos interrogativos and who/ what else?, but not who/what?. É expresso por frase
preposicional com preposições como with, without, besides, instead of. Podemos distinguir duas sub-
categorias, comitativo e aditivo; cada um tem um aspecto positivo e negativo. Eles estão na Tabela
5(16).
Companhia é uma forma de participação conjunta no processo.
comitativo, negativo: but not who/ what? Fred came without Tom
não acompanhado por I came without my key
(a) O comitativo representa o processo como um exemplo único de um processo, embora seja um
processo em que duas entidades estejam envolvidas. Abrange desde alguns casos em que as duas
entidades poderiam ser unidas num elemento único, como em Fred and Tom foram juntos, a outros em
que eles não poderiam, como Jane e seu guarda-chuva foram juntos. Às vezes o elemento comitativo é
na verdade um processo de acompanhamento, como em Dormouse woke up with a shriek 'acordou e
gritou ao mesmo tempo'; veja Capítulo 10 para uma princípio geral de metáfora gramatical.
41
(b) O aditivo representa o processo como duas instâncias; aqui as duas entidades claramente
partilham a mesma função participante, mas uma delas é apresentada circunstancialmente para fins de
contraste. Poderíamos dizer Fred and Tom both came; mas Fred came as well as Tom distingue os dois
com referência ao seus valores de novo ('não apenas Tom mas também Fred veio'). Da mesma forma
poderíamos dizer Fred came and Tom did not; mas Fred came instead of Tom deixa claro qual era
inesperado ('não Tom, mas Fred veio').
O limite é indeterminado; mas sugere-se a segunda análise em que o verbo não poderia facilmente
ocorrer sem a frase preposicional, ou é separada da preposição tematicamente – aqui grow pode ocorrer
sozinho (how you're growing!), enquanto turn não pode (cf. I don't know what you're turning into!.
Como já foi apontado, a diferença é também realizada fonologicamente; se grow é um processo
material será saliente, mas turn into é tipicamente não saliente.
Há um padrão correspondente na oração que poderia ser considerado como um Papel
circunstancial, com a ressalva de que não envolve frase preposicional. É a estrutura em que um
Atributo é acrescentado ao processo material: (i) como DEPICTIVO, correspondendo à Forma, ou (ii)
como RESULTATIVO, correspondendo ao Produto; e.g. (i) he came back rich, (ii) bend that rod
straight. Em geral esse Atributo aparece como adjetivo; o padrão pode ocorrer com um nome geral (he
came back a rich man/a millionaire), mas o atributo nominal correspondente é em geral construído
circunstancialmente, com as: he came back as a millionaire, it's frozen into a solid mass (cf. it's frozen
solid). Analisá-los-emos como:
Retornaremos ao assunto para considerar a relação entre Papel e Atributo na Seção 5.8 abaixo.
42
(8) Assunto. O Assunto está relacionado a processos verbais; é a circunstância equivalente ao
Verbiage, 'aquele que é descrito, referido, narrado, etc.'. A interrogativa é what about?. O assunto é
expresso por preposições como about, concerning, with reference to e às vezes simplesmente of: I
worry about her health, the company kept quiet on the subject of compensation, they talked of many
things. É freqüente com processos verbais e cognitivos mentais.
Um modo de dar proeminência ao Tema é construí-lo como uma circunstância de Assunto; e.g. as
for the ghost, it hasn't been seen since. Por ser o primeiro a ser introduzido circunstancialmente, o
fantasma se torna o Tema marcado (cf. Capítulo 3, Seção 3.3 acima). Compare as expressões
matemáticas de Assunto tais como para todo x tal que x >5, ...
(9) Ângulo. O Ângulo relaciona-se também com processos verbais, mas neste caso ao Sayer; é
como 'conforme ... diz'. A proposição simples usada nesta função é to; mas, como no caso do Assunto,
é expresso por formas mais complexas como according to, in the view/opinion of, from the standpoint
of; por exemplo to Mary it seemed unlikely, according to a government spokesman order has now
restored, they're guilty in the eyes of the law.
(1) Circunstância como processo menor. A maior parte das circunstâncias são frases preposicionais.
Referimo-nos acima a uma frase preposicional como algo que expressa um 'processo menor',
interpretando a preposição como um tipo de mini-verbo. Este ponto precisa de esclarecimento.
A preposição – foi assim sugerido – age como um tipo intermediário em que um elemento nominal
pode ser introduzido como um participante 'indireto' no processo principal. Vimos também que em
processos circunstanciais e possessivo-relacionais há muitas vezes um paralelo estreito entre be +
preposição e um verbo, e.g.
Esta semelhança entre verbo e preposição pode também ser vista em casos em que há uma relação
próxima entre uma frase preposicional e uma oração dependente não-finita (Capítulo 7, Seção 7.4
abaixo):
Desse modo, certas preposições são elas mesmas derivadas de verbos não-finitos; e.g. concerning,
according to, given, excepting. Essas considerações sugerem que o grupo nominal relaciona-se com a
preposição num tipo de relação de transitividade, e também em uma relação como a do Complemento
em relação ao Predicador na estrutura mood (mais discussão no Capítulo 6, Seção 6.5 abaixo).
Ao mesmo tempo, há muitos casos em que o grupo nominal parece ter mais ou menos a mesma
função seja trazido para a oração diretamente, seja indiretamente através de uma frase preposicional:
por exemplo, John em sent John a message/sent a message to John. Interpretamo-las como funções
participantes, em vez de elementos circunstanciais, por razões que serão dadas na Seção 5.8 abaixo.
43
Mas elas também sugerem que a linha entre participantes e circunstâncias não é muito nítida, e que a
preposição funciona como um tipo de processo altamente generalizado, pelo qual o grupo nominal que
é anexado a ele adquire um status de participante. Esses exemplos estão resumidos na Tabela 5(17).
(b) what were you waiting for? – I was waiting for the boat
(i) it was the boat that I was waiting for
não it was for the boat that I was waiting
(ii) the boat I was waiting for all day
não for the boat I was waiting all day
(iii) what I was waiting for was the boat
não what I was waiting was for the boat
44
Os exemplos sugerem que (a) consiste no processo wait mais circunstância on the shore, enquanto (b)
consiste no processo wait for mais o participante the boat. Se as variantes temáticas do padrão (a)
parecem mais naturais, a frase preposicional pode ser interpretada como uma circunstância; se as de (b)
parecem mais naturais, a preposição pode ser considerada como parte do Processo.
(iii) Frase preposicional (como Quantificador) dentro de um grupo nominal. As frases
preposicionais também funcionam na estrutura do grupo nominal, seguindo o nome, como in in the
wall em the hole in the wall. Em algumas variedades do inglês, especialmente nos registros mais
elaborados da escrita adulta, esta é a função predominante da frase preposicional, e elas podem se
aninhar umas dentro de outras até um comprimento consideravelmente longo, como em:
a reduction [in the level [of support [among members] [for changes [to the regulations
[concerning assistance [to people [on fixed incomes]]]]]]]
Em geral não há dúvida quanto ao fato de uma dada frase preposicional ser circunstância na oração ou
Qualificador no grupo nominal; onde houver dúvida, haverá sempre uma variação temática que pode
ser usada para questionar o texto. Por exemplo,
The report favours the introduction of water spray systems in aircraft cabins.
Semanticamente, parece claro que in aircraft cabins pertence ao grupo nominal the introduction ..., e
não à oração the report favours ...; isso pode ser verificado pela passiva:
The introduction of wate spray systems in aircraft cabins is favoured by the report.
- e não the introduction of water spray systems is favoured in aircraft cabins by the report. (Para
Qualificador , veja Capítulo 6, Seções 6.2.2 abaixo.)
(iv) Frase preposicional como Adjunto Modal ou Adjunto Conjuntivo. No Capítulo 4,
introduzimos a distinção entre Adjuntos Modal, Conjuntivo e Circunstancial, mostrando que enquanto
todos os três eram semelhantes na sua construção (como grupo adverbial ou frase prepositiva), eles
diferiam em função. Adjuntos Modais e Conjuntivos estão fora do sistema da transitividade; portanto,
enquanto tipicamente temáticos, eles não são Tema topical e por isso em geral não podem ter
proeminência temática especial; nem portam o único foco de informação da oração. Contraste o Modal
in principle com o circunstancial (Causa) on principle:
mas não how I disagree is in principle. Da mesma forma, contraste o Conjuntivo in that case com o
circunstancial (Assunto) in your case:
That might be true in your case. (Where that might be true is in your case.)
That might be true, in that case. In that case that might be true.
45
conjuntivo numa narrativa pessoal vívida ('e justamente naquele momento'). O que a gramática oferece
aqui, digamos assim, são três planos de realidade, de modo que para tempo, ela constrói tempo
experiencial, tempo interpessoal e tempo textual. O tempo experiencial é o tempo como traço de um
processo: sua localização, sua duração ou sua repetição em alguma história real ou imaginária. O tempo
interpessoal é tempo construído entre falante e ouvinte: temporalidade relativa ao falante-agora, ou
freqüência como faixa de espaço discutível entre pólos positivo e negativo. Tempo textual é tempo
relativo ao estado corrente do discurso: 'então' na construção da realidade externa do texto, ou na ordem
interna do próprio texto. Em geral o contexto sugere qual dos três está sendo enfocado numa
construção preposicional.
(v) Expressões de circunstância abstrata e metafórica. Nos registros elaborados modernos da fala
adulta e (especialmente) da escrita, os elementos circunstanciais evoluíram distanciando-se das origens
concretas – especialmente as espaciais. Está fora do nosso escopo tratar dessas evoluções
sistematicamente; aqui estão alguns exemplos, com sugestões de interpretação:
they closed down with the loss of 100 jobs [Add: adição]
the directive was now with the Council of Ministers [Acc: companhia]
we have now been introduced to a new topic [Loc: lugar]
we learn from this experiment [Manner: meios]
the committee decided against their use [Causa: interesse 'não + em favor de']
the problem lies in our own attitudes [Loc: lugar]
the group will work through all these materials [Ext: distância]
the venture would have failed without the bank's support [Cont: ausência]
my colleague works for the transport section [Causa: interesse]
these products are made to a very high standard [Modo: qualidade]
we have been asked to assist in a further project [Assunto]
consult the chart for the full operational details [Causa: finalidade]
the two has been jumping about like mad things all this time
Ator Processo: material Modo: comparação Extensão: temporal
46
5.8. Transitividade e voz: outra interpretação
______________________________________________________________________
Neste capítulo distinguimos os tipos de processo representados pela oração inglesa e as várias funções
participantes associadas a cada um. Os elementos circunstanciais puderam ser tratados
independentemente, sem distingui-los conforme o tipo de processo; isso porque, embora haja restrições
naturais no modo como os circunstanciais se combinam com outros elementos, estes freqüentemente
combinam-se com poucas classes e em qualquer caso não afetam nem a estrutura nem o significado.
Cada tipo de processo, por outro lado, é caracterizado pelas configurações do participante-do-processo
em que as funções são específicas para aquele tipo.
Para finalidades de análise podemos deixar esse assunto por aqui. Mas não é tudo; assim vamos
prosseguir com a investigação um passo adiante, embora de maneira superficial.
É verdade que, de um ponto de vista, todos esses tipos de processo são diferentes. Processos
material, comportamental, mental, verbal, relacional e existencial, cada um tem uma gramática própria.
Ao mesmo tempo, se encarados sob outro ponto de vista, eles são semelhantes. Em outro nível de
interpretação, eles têm a mesma gramática: pois há apenas uma estrutura representacional generalizada
comum a toda oração inglesa.
Os argumentos para essa interpretação são longos e técnicos. Mas como vimos, enquanto há clara
evidência na gramática para distinguir um tipo de processo de outro, há também clara evidência para
dizer que, num sentido mais abstrato, todo processo é estruturado da mesma forma, com base numa só
variável. Esta variável se relaciona com a origem do processo: aquilo que o causou. A questão em foco
é: o processo foi causado de dentro ou de fora?
A questão não é a mesma da distinção intransitivo/transitivo. Lá, como vimos, a variável é de
extensão. O Ator está engajado num processo; o processo se estende ou não para além do Ator, para
alguma outra entidade? Assim the lion chased the tourist relaciona-se com the lion ran: 'o leão deu
uma corrida: ou a corrida parou lá (intransitivo, the lion ran), ou ela se estendeu a outro participante
(transitivo, the lion chased the tourist)'.
Na segunda interpretação, a questão é novamente o número de participantes, um ou dois; mas a
relação entre as duas possíveis respostas é bem diferente. Para entender a questão, precisamos
reestruturar nosso pensamento, como quando reestruturamos nossa percepção ao olharmos uma figura
que pode ser vista como côncava ou convexa.
Considerado sob esse ponto de vista, a variável não é de extensão, mas sim de causa. Algum
participante está engajado no processo; o processo foi causado pelo participante? ou por outra
entidade? Nessa perspectiva, the lion chased the tourist relaciona-se não com the lion ran mas com the
tourist ran: 'o turista deu uma corrida; ou a corrida foi instigada pelo próprio turista (intransitivo the
tourist ran), ou por alguma agência externa (transitivo the lion chased the tourist)'. Note contudo que
os termos 'transitivo' e 'intransitivo' não são apropriados aqui, já que implicam o modelo de extensão. O
padrão produzido por esta segunda interpretação é conhecido como padrão 'ergativo'. As orações the
lion chased the tourist/the tourist ran formam um par ERGATIVO/NÃO- ERGATIVO.
Se examinarmos o léxico do inglês moderno, e procurarmos amostras de verbos em um bom
dicionário, vamos verificar que muitos deles, incluindo a maioria de uso comum, trazem o rótulo
'transitivo e intransitivo'. Se investigarmos melhor, veremos que, onde o mesmo verbo ocorre com cada
um desses valores, os pares de orações formados dessa maneira, com o verbo como Processo, não são
em geral pares intransitivo/transitivo, mas pares não-ergativo/ergativo. Há pares intransitivo/transitivo,
como the tourist hunted/the tourist hunted thelion, em que the tourist é Ator em ambos. Mas a maioria
de verbos de alta freqüência na língua produz pares de outro tipo, como the tourist woke/the lion woke
the tourist, em que a relação é ergativa. Se expressarmos essa estrutura em termos de transitividade, o
47
turista é Ator em uma e Meta em outra; ainda é o turista que pára de dormir, em ambos os casos.
Compare the boat sailed/Mary sailed the boat, the cloth tore/the nail tore the cloth, Tom/s eyes
closed/Tom closed his eyes, the rice cooked/Pat cooked the rice, my resolve weakened/the news
weakened my resolve.
A predominância desse padrão no inglês moderno liga-se a uma série de desenvolvimentos que
ocorreram na língua através de 500 anos mais ou menos, juntamente com um processo complexo de
mudança semântica. Essas mudanças tenderam, como um todo, a enfatizar a função textual, na
organização do discurso inglês, em detrimento da função experiencial; e, dentro da função experiencial,
a enfatizar o aspecto cause-&-efeito de processos em detrimento do aspecto 'deed-&-extension'. Não
há, é claro, algo como uma mudança 'completa' da língua; ondas de mudança passam pelo sistema em
todos os tempos. Mas esse aspecto do inglês – o sistema da transitividade – é especialmente instável na
língua contemporânea, devido à grande pressão exercida pela necessidade de a língua em adaptar-se
continuamente às rápidas mudanças do ambiente, e pela crescentes demanda funcional que tem
ocorrido desde os tempos de Chaucer. Vamos fazer um rápido esboço da oração em sua função
experiencial como ela aparece na língua contemporânea, considerando-a como um modo de fazer
generalizações sobre processos do mundo real.
Todo processo tem associado a ele um participante que é a figura-chave desse processo; é aquele
através do qual o processo se realiza, e sem o qual não o processo não existiria. Vamos chamar esse
elemento de MEIO, já que é a entidade por meio do qual o processo vem à existência. Nos exemplos
acima, o Meio é the boat, the cloth, his (Tom's) eyes, the rice, my resolve. Portanto, num processo
material, o Meio equivale ao Ator em uma oração intransitiva e Meta na oração transitiva. Veja a
Figura 5-28.
Exceto no caso especial da voz médio-passiva (veja Figura 5-30 abaixo), o Meio é obrigatório em
todos os processos; é o único elemento além do próprio processo. (Em nome da simplicidade,
representaremos os processos meteorológicos como it's raining como não tendo Meio; mas seria mais
acertado dizer que aqui o Meio está coincidindo com o Processo.) O Meio é também o único elemento
que nunca é introduzido na oração através de preposição (novamente com a mesma exceção para os
médio-passivas); é tratado como algo que sempre participa diretamente do processo. (Note que a
estrutura de the cooking of the rice, em que o Meio segue of, não é uma exceção; of está funcionando
48
aqui, como ele tipicamente faz, não como preposição mas como um marcador de estrutura – cf. o
genitivo 's em the rice's cooking.)
O Processo e o Meio juntos formam o núcleo da oração inglesa; e este núcleo então determina o
alcance de opções possíveis para o resto da oração. Assim o núcleo 'tear + cloth' representa um
pequeno campo semântico, que pode ser realizado como uma oração, ou sozinho, ou em combinação
com outras funções participantes ou circunstanciais. (A amplitude lexical desse campo semântico é
mais ou menos o de um parágrafo no Roget's Thesaurus.
O mais geral dessas opções adicionais, 'mais geral' porque aparece em todos os tipos de processos,
é o ergativo pelo qual, em adição ao Meio, pode haver um outro participante funcionando como uma
causa externa. A esse participante chamaremos AGENTE. Ou o processo é representando como auto-
gerado, caso em que não há um Agente separado; ou é representado como gerado de fora, caso em que
há um outro participante funcionando como Agente. Assim as orações the glass broke, the baby sat up,
the boy ran são todas estruturadas como Meio + Processo. No mundo real, pode ter havido um agente
externo envolvido na quebra do copo; mas na semântica do inglês é representado como tendo sido auto-
causado. Assim também pode ter havido um agente externo no caso do bebê que se senta, e mesmo na
corrida do menino (como o leão antes mencionado). Podemos escolher acrescentar o Agente, como em
the heat broke the glass, Jane sat the baby up, the lion chased the boy; note que se a passiva for usada,
e.g. the glass got broken, é sempre possível perguntar por quem? por o quê? Muitos processos podem
ser representados das duas maneiras: ou envolvendo o Meio apenas, ou envolvendo o Meio mais o
Agente.
Usando o ponto de vista ergativo para complementar o transitivo em nossa interpretação do inglês,
podemos juntar as funções de vários tipos de processos. A relação de equivalentes está na Tabela 5(18).
49
Nessa tabela, as funções ergativas generalizadas estão listadas numa única coluna; e então seus
equivalentes em termos transitivos são mostrados para cada tipo de processo. Por exemplo, a função
ergativa do Meio é equivalente:
Assim o Meio é o participante nodal através do sistema. Não é o doer, nem o causador, mas aquele que
está envolvido, de uma maneira ou outra, de acordo com a natureza do processo.
O Agente é o agente externo onde houver. No processo material, é o Ator – desde que o processo
tenha uma Meta; em caso contrário, pode estar presente como o Iniciador do processo. No processo
mental, é o Fenômeno – desde que o processo esteja codificado em uma direção, do fenômeno para a
consciência e não ao contrário. O Agente pode também estar presente no processo relacional. No tipo
atributivo, é uma função distinta análoga ao Iniciador material: aquele que causa a atribuição, e.g. the
heat em the heat turned the milk sour. Vamos chamá-lo simplesmente Atribuidor. No tipo
identificador, é normalmente possível acrescentar um traço de agência desde que a oração seja ativa
(Token como Sujeito); assim, para ('which is Tom?'- ) Tom is (serve as) the leader corresponde o
agentivo como they elected Tom the leader (cf. Fig. 5-33); e com Agente de segunda ordem, they got
Tom elected the leader (cf. Fig. 5-33. Vimos que, com orações 'de codificadora' (aquelas em que Token
= Identificado/Meio) a passiva é rara (Seção 5.4.4 acima). Por contraste, numa oração identificadora
'codificadora', em que o Token é Identificador/Sujeito e o Valor é o Meio, a passiva é mais ou menos
tão freqüente quanto a ativa, e.g. ('which is the leader'- ) ativa Tom is the leader, passiva the leader is
Tom; mas apenas a ativa acomodará um agente adicional – não dizemos they elected the leader Tom.
Portanto no par ativo/passivo como ('who are now the main suppliers?'- ) ativo our company are now
the main suppliers, passivo the main suppliers are now our company, a forma agentiva é this decision
leaves our company the main suppliers; a passiva não se expande para this decision leaves the main
suppliers our company. Veja também a Tabela 5(19).
50
(which is Tom?) Tom is/plays the leader the leader is (played by) Tom
transitivo: Tk/Id Ir/Vl ir/Vl Id/Tk
ergativo: Meio Alcance Alcance Meio
(who's the Tom is/plays the leader the leader is (played by) Tom
leader?) tk/Ir Id/Vl Id/Vl Ir/Tk
Agente Meio Meio Agente
Nota: Os da fileira do topo são orações 'decodificadoras'; a passiva é médio-passiva e portanto rara. Os
de baixo são 'codificadoras'; aqui a passiva é a passiva 'verdadeira'.
51
a proeminência se deve ao fato de ocorrer antes ou depois do esperado na oração; e é isso que está
sendo reforçado pela presença da preposição. A preposição tornou-se um sinal de status especial da
mensagem. Exemplos na Tabela 5(20).
Alcance John wins the high at the high jump John John wins every time at
(the high jump every time wins every time the high jump
jump)
Os outros elementos da oração são representados claramente como circunstâncias; são grupos
adverbiais ou frases preposicionais. Mas mesmo aqui há alguma indeterminação; em outras palavras,
justamente como aqueles elementos, tratados essencialmente como participantes, podem ocorrer às
vezes com preposição, assim pelo menos alguns elementos que são tratados essencialmente como
circunstâncias podem às vezes ocorrer sem ela. Em geral, com expressões de Extensão e Localização
não há preposição, como em they started two days, they left last Wednesday. Além disso, como
apontamos na Seção 4.3 acima, o Complemento de preposição pode muitas vezes emergir para
funcionar como Sujeito, como em the bed had not been slept in, she hasn't been heard from since, I
always get talked to by srangers, e um exemplo entreouvido numa fila de cinema look at all these
people we've been come after by. Este padrão sugere que os Complementos de preposições, apesar de
estarem ligados a um elemento que tem função circunstancial, ainda são sentidos como participantes,
embora à distância, no processo expresso pela oração.
A mesma tendência fora do tipo puramente transitivo das organizações semânticas pode ser vista
no sistema de voz. No padrão transitivo, os participantes são Ator obrigatório e Meta opcional; se
houver apenas Ator, o verbo será intransitivo e ativo na voz, enquanto se os dois estiverem presentes o
verbo será transitivo e a voz poderá ser ativa ou passiva. Esta é ainda a base do sistema inglês; mas há
um pequeno traço de transitividade deixada no verbo, e a voz é agora mais um traço da oração.
O modo como o sistema de voz atua é o seguinte. Uma oração sem traço 'agente' não é ativa nem
passiva, mas MÉDIA. A oração sem agente é não-média, ou EFETIVA, em voz. Uma oração efetiva é
então ou ativa ou passiva: ativa se Agente/Sujeito, passiva se Meio/Sujeito. O sistema básico é
mostrado na Figura 5-29.
médio Chave:
Oração como Processo: ativo +x 'x está inserido'
representação the glass broke a/b 'a e b coincidem'
m:n 'm é especificado como n'
52
ativa
Agente/Sujeito; Processo: ativo
+ Processo the cat broke the glass
+ Meio efetivo
+ Agente passiva
Meio/Sujeito, Agente/Adjunto
by ; Processo: passivo
the glass was broken by the cat
Figura 5-29 O sistema de voz
Rigorosamente falando uma oração efetiva tem um traço de 'agente' em vez de função estrutural
Agente, porque este pode ser deixado implícito, como em the glass was broken. A presença de um
traço 'agente' é de fato a diferença entre um par de orações como the glass broke was (or got) broken: o
último incorpora o traço de agência, de modo que podemos perguntar 'por quem? , enquanto o primeiro
permite apenas um participante.
Se a oração for efetiva, já que um participante pode tornar-se Sujeito, haverá uma escolha entre
passiva e ativa. As razões para escolher a passiva são as seguintes: (1) para ter o Meio como Sujeito, e
portanto como Tema não-marcado ('Estou falando para você sobre o copo'); e (2) para tornar o Agente:
ou (i) novo atrasado, pondo-o em último ('culpado: o gato'), ou (ii) implícito, deixando-o fora. No
inglês falado, a maioria das orações passivas não tem Agente; the glass was broken é mais comum que
the glass was broken by the cat. O falante deixa o ouvinte localizar a causa.
Mas, como vimos, há outros Sujeitos potenciais além do Agente e do Meio. Há outros
participantes, o Beneficiário e o Alcance, que podem ser selecionados como Sujeito da oração; o verbo
ficará na passiva. Exemplos são dados na Figura 5-30. Há os participantes 'indiretos' funcionando como
Complementos de preposições, alguns dos quais (como dissemos acima) são Sujeitos potenciais; estes
fornecem vários outros tipos de passiva como a 'passiva-Localização', e.g. the bed hadn't been slept in,
'passiva-Modo', e.g. this pen's never been put in for, são freqüentes passivas 'verdadeiras' no sentido de
que a frase preposicional realmente representa um participante, como nos exemplos look at the sky,
wait for the boat discutidas acima. Análise na Figura 5-31.
53
A interpretação ergativa e transitiva do processo nos faz compreender muitos traços da gramática
inglesa que de outro modo permaneceriam arbitrárias ou obscuras. Tomemos um desses exemplos, the
police exploded the bomb, the sergeant marched the prisoners, em que – como é sugerido pelas orações
agnatas the bom explodes, the prisoners marched – o significado não é tanto 'to do' mas 'make to do' (o
que o sargento fez os prisioneiros fazer foi marchar). Ergativamente, não há diferença entre essas e
orações como the lion chases the tourist. Transitivamente, elas aparecem em configurações diferentes;
temos de introduzir a função de INICIADOR para explicar o papel executivo. Mas no inglês moderno
elas são parecidas; a análise ergativa expressa essa semelhança – as duas consistem em Meio e Agente.
Em termos ergativos, 'a faz algo para x' e 'a faz x fazer algo' são casos de 'x está envolvido em algo,
causado por a' . A análise está na Figura 5-32.
Juntando as duas análises, esperaríamos verificar que esses dois tipos de oração não seriam
idênticos, mas não há uma linha nítida entre elas; e este é precisamente o caso. Uma diferença consiste
na possibilidade de haver ou não uma 'causativa analítica' com make; podemos dizer the police made
the bomb explode, mas não the lion made the tourist chase. Mas isso deixa muitos outros incertos:
54
como ficariam Mary made the boa sail, the nail made the cloth tear? – e, com um verbo diferente, the
lion made the tourist run? A distinção se torna um pouco mais clara com a verificação de que em
alguns casos se o segundo participante for removido, o papel do primeiro participante muda. Em the
sergeant marched the prisoners/the sergeant marched, há claramente a mudança; agora é o sargento
que está marchando (cf. the police explode, que agora precisamos interpretar num sentido transferido) –
enquanto em the lion chased essa interpretação não é possível. Aquelas em que o papel muda terão
Iniciador + Ator e não Ator + Meta. Há uma grande classe de processos materiais desse tipo em que os
causativos agnatos são, ou podem ser, atributos: the sun ripened the fruit/made the fruit ripen, her voice
calmed the audience/made the audience calm; estes pertencerão ao tipo 'iniciativo'- se dissermos the
sun ripened, her voice calmed, o significado muda de 'fazer (maduro, calmo)' para 'tornar-se (maduro,
calmo)'.
Do ponto de vista da transitividade, há nessas estruturas iniciativas um acréscimo do traço de
'causa'. Como vimos, isso é também possível com processos relacionais, em que para a análise
transitiva temos de reconhecer as funções adicionais de ATTRIBUTOR e ASSIGNER, como na Figura
5-33.
(a) atributivo
the news made Bill happy
the result provess you right
transitivo Atribuidor Portador Atributo
ergativo Agente Meio Alcance
(a) atributivo
the mother called the baby Amanda
the team voted Tom captain
transitivo assigner Identificado/Token Identificador/Valor
ergativo Agente Meio Alcance
Fig. 5-33 Análises transitiva ergativa em processos relacionais
55
Do ponto de vista ergativo, essas orações simplesmente acrescentam um traço de agentividade. Se a
oração já tem um Agente na estrutura, só se pode acrescentar esse traço através de um causativo
analítico; o que torna possível incluir um Agente de segunda ordem, como na Figura 5-34. A Figura 5-
35 mostra como essas orações aparecem na voz passiva.
A estrutura ergativa tem final-aberto, e outros agentes podem ser acrescentados:
the ball rolled: Fred rolled the ball: Mary made Fred Fred roll the ball: John got Mary to
make Fred roll the ball: ...
A estrutura transitiva, por outro lado, é configuracional; não pode ser estendido desse modo. Assim, do
ponto de vista da transitividade, Mary made Fred roll the ball não é um processo único; são dois
processos formando um complexo – e, portanto, em termos gramaticais, uma 'oração complexa' e não
uma única oração. Mas neste ponto, para tratarmos da noção de complexo, temos de entrar na discussão
da Parte II. Para a análise dessas estruturas, veja Capítulo 7 Adicional, Seção 7.A.5 abaixo.
A Tabela 5(21) estabelece os critérios principais para distinção de tipos de processo discutidos
neste capítulo, levando em conta o número e o tipo de participantes, a direcionalidade e voz, o pro-
verbo, a forma não-marcada do tempo presente, e as propriedades fonológicas do verbo.
Para finalizar este capítulo, aqui estão alguns exemplos cuja interpretação em transitividade pode
não ser imediatamente óbvia. A análise é dada em termos transitivos e ergativos.
56
Capítulo 6
(179)
Abaixo da oração
grupos e sintagmas
Vimos nos Capítulos 3-5 que a oração no idioma inglês é um evento composto, uma
combinação de três estruturas diferentes que são obtidas a partir de componentes funcionais
distintos. Esses componentes (denominados "metafunções" na teoria sistêmica) são o
ideacional (oração como representação), o interpessoal (oração como troca) e o textual
(oração como mensagem). O que isso significa é que as três estruturas servem para expressar
três conjuntos altamente independentes de escolha semântica. (1) As estruturas de
Transitividade expressam significados representacionais: sobre o que é a oração, que
tipicamente é algum processo, com participantes e circunstâncias associados; (2) As estruturas
de Modo expressam significados interacionais: o que a oração está fazendo como uma troca
verbal entre o falante-escritor e a audiência; (3) As estruturas de Tema expressam a
organização da mensagem: como a oração se relaciona com o discurso ao seu redor, e ao
contexto de situação no qual está sendo produzido. Esses três conjuntos de opções juntos
determinam a forma estrutural da oração.
Neste capítulo, iremos examinar a estrutura das três principais classes de grupos: grupo
nominal, grupo verbal e grupo adverbial, juntamente com uma rápida referência aos grupos de
preposições e conjunções. A seção final tratará do sintagma preposicional. A diferença entre o
SINTAGMA e o grupo é que enquanto um grupo é uma expansão de uma palavra, um
sintagma é uma contração da oração. Partindo de extremidades opostas, os dois chegam
aproximadamente ao mesmo nível, como unidades que estão em algum ponto intermediário
entre o nível da oração e o da palavra.
Essa é uma estrutura experiencial que, tomada como um todo, tem a função de especificar (i)
uma classe de coisas, trens, e (ii) alguma categoria de associação dentro dessa classe. Iremos
nos referir ao elemento que expressa a classe pelo rótulo funcional de Coisa.
(181)
(1) Dêitico. O elemento dêitico indica se algum subconjunto específico da Coisa é destacado
ou não; em caso positivo, qual é esse subconjunto. Pode ser (i) específico ou (ii) não
específico. Veja maiores discussões sobre essa questão no Capítulo 9, Seção 9.2.
Determinativo Interrogativo
Muitas línguas incorporam essas duas formas de díxis na estrutura do grupo nominal. As duas
são proximamente relacionadas, ambas sendo (como indicado pelo termo “díxis”) uma forma
de orientação que tem como referência o falante - ou mais precisamente, ao “falante-agora”, o
complexo temporal-modal que constitui o ponto de referência do evento de fala. Em algumas
línguas, essas formas são relacionadas uma com a outra de maneira mais sistemática, tendo
três termos em vez de dois: “próximo de mim”, “próximo de você” e “não próximo nem de
mim nem de você”. (Observe que “próximo” não está restrito a uma interpretação local; o
significado é “associado a” em algum sentido.) Alguns dialetos de inglês têm um sistema
desse tipo, sendo os três termos this, that e yon, e os advérbios locativos here, there e yonder.
Há mais um item nessa classe, o artigo definido (em inglês, the). O artigo definido é um
Dêitico determinativo especial: ele significa “o subconjunto em questão é identificável, mas
isso não irá dizer como você irá identificá-lo - a informação está em algum lugar, onde você
poderá recuperá-la.
(182)
Assim, enquanto que o trem significa “você sabe qual trem – o que está perto de mim” e meu
trem significa “você sabe que trem – o que é meu”, o trem significa simplesmente “você sabe
qual trem”. Assim, o artigo definido é normalmente acompanhado por algum outro elemento
que fornece a informação necessária: por exemplo, o trem longo significa “você sabe qual o
trem: você pode dizê-lo por seu comprimento”. Compare com o trem noturno, o trem com um
pantógrafo, o próximo trem. Se esse tipo de informação não for fornecido, o subconjunto em
questão estará óbvio a partir da situação ou foi mencionado em alguma outra parte do
discurso: por exemplo, se você estiver na plataforma, poderá dizer chegou o trem!, tendo o
trem estava se aproximando como uma possível parte em uma narrativa.
dual massa/plural
não seletivo um
Esses itens carregam o sentido de todos, ou nenhum ou algum subconjunto não especificado;
por exemplo, ambos os trens partiram, há algum trem partindo logo?, há alguns trens nos
trilhos, alguns trens são bastante confortáveis, não vi nenhum trem passar.
Deve ser destacado aqui que há dois sistemas diferentes de NÚMERO no grupo nominal em
inglês, cada um desses associado a um dos dois tipos de Dêiticos.
(i)Com Dêiticos específicos, o sistema de número é “não plural/plural”. Assim, este, este vai
com não plural (singular ou massa), estes, esses com o plural, como no Quadro 6(3).
singular massa
massa plural
Se não houver um elemento Dêitico, o grupo nominal serão não específico e, dentro disso,
será não singular *. Em outras palavras, um grupo nominal pode não ter nenhum elemento
Dêitico em sua estrutura, mas isso não significa que não terá valor no sistema Dêitico –
simplesmente é que o valor selecionado está sendo realizado por uma forma que não tem um
Dêitico na expressão.
Pode haver um segundo elemento Dêitico no grupo nominal, um que aumente a identificação
do subconjunto em questão. Iremos nos referir a este como PÓS-DÊITICO ou DÊITICO2.
outro, mesmo, diferente, idêntico, completo, inteiro, todo, acima, mencionado acima, certo,
costumeiro, esperado, famoso, dado, habitual, necessário, normal, notório, óbvio, estranho,
ordinário, original, particular, possível, provável, regular, respectivo, especial, típico, usual,
diverso, conhecido
Por exemplo, os mesmos dois trens, o conhecido Sr. John Smith, a sua tola individualidade
usual, uma certa inquietação vaga.
definido indefinido
quantitativo um, dois, três, etc. alguns poucos [um pouquinho], etc.
[um par de], etc. vários [alguns], etc.
[um quarto de], etc. muito [um monte de], etc.
(b) Os Numerativos de ordenação (ou “ordinativos”) especificam uma posição exata em uma
seqüência (numerais ordinais, e.g. o segundo trem) ou uma posição inexata (e.g. um próximo
trem).
Uma expressão Numerativa inexata pode ser exata no contexto; por exemplo: exatamente o
mesmo número de trens (“mencionado antes”), o próximo trem (“a partir de agora”). Por outro
lado, uma expressão Numerativa exata pode ser tornada inexata por SUBMODIFICAÇÃO,
como em cerca de dez trens, quase o último trem.
(3) Epíteto. O Epíteto indica alguma qualidade do subconjunto, e.g. antigo, longo, azul,
rápido. Ele pode ser uma propriedade objetiva da coisa ou pode ser uma expressão da atitude
subjetiva do falante com relação a ela, e.g. esplêndido, tolo, fantástico. Não há uma distinção
rígida e rápida entre essas duas, mas a primeira é de função experiencial, enquanto que a
última, que expressa a atitude do falante, representa um elemento interpessoal no significado
do grupo nominal. Essa distinção se manifesta na gramática de várias maneiras.
A principal diferença entre os dois tipos de Epítetos é que os experienciais são potencialmente
definidores e os interpessoais não. Veja o exemplo de longo em um trem longo. Se eu falar
um trem longo, você não poderá me dizer de que trem exatamente que eu estou falando,
porque o Dêitico é não específico; mas se eu disser o trem longo, o Dêitico específico o indica
que você pode dizer qual é o trem, e que as informações necessárias estão contidas no Epíteto
experiencial longo. Esse trem em especial, em outras palavras, é definido por seu
comprimento, com relação a alguma norma - talvez algum outro trem ou trens que estejam
presentes no contexto. Se eu usar um Epíteto atitudinal, por outro lado, como poderoso em
chegou um poderoso trem, este Epíteto não será definidor e não irá se tornar definidor, mesmo
após o Dêitico específico o. Em o poderoso trem veio trovejando pelos trilhos, a palavra
poderoso não identifica este trem pelo contraste com algum outro trem que não seja poderoso.
Mesmo no caso do superlativo, que com Epítetos experienciais é quase sempre usado para
definir (e.g. o nosso trem era o mais longo), um Epíteto atitudinal também não é definidor.
Por exemplo, ele disse as coisas mais tolas é normalmente equvalente a ele disse algumas
coisas bem tolas. Uma expressão como as coisas mais tolas pode ser usada para definir, como
em as coisas mais tolas de todas foram ditas pelo diretor-presidente; mas nesse caso, ela tem
uma função experiencial. Observe que, em geral, uma mesma palavra pode atuar como
Epíteto experiencial ou interpessoal; a maior parte dos últimos são adjetivos de tamanho,
qualidade ou idade, e.g. adorável, pequeno, antigo. Como expressões de atitude tendem a ser
distribuídas por toda a oração, e não associadas a uma posição em especial, há muito poucas
palavras que servem somente a uma função atitudinal.
Os Epítetos atitudinais tendem a preceder os experienciais. Eles podem até mesmo preceder
os Numerativos, dando a eles um toque pós-Dêitico, como em aqueles adoráveis dois
entardeceres em Bali. Eles também tendem a ser reforçados por outras palavras, ou outras
características, que contribuem para o mesmo significado: sinônimos (e.g. uma horrível
protuberância grande e feia), intensificadores, palavrões, determinados contornos
intonacionais, traços de qualidade de voz, e semelhantes.
(4) Classificador. O Classificador indica uma determinada subclasse da coisa em questão, e.g.
trens elétricos, trens de passageiros, trens de madeira, trens de brinquedo. Às vezes, uma
mesma palavra pode funcionar como Epíteto ou Classificador, com uma diferença de
significado: e.g. trens rápidos pode significar “trens que andam rápido” (rápido = Epíteto) ou
“trens classificados
(185)
como expressos” (rápido = Classificador). A linha que separa Epítetos de Classificadores não
é muito nítida, mas há diferenças significativas entre eles. Os Classificadores não aceitam
graus de comparação ou intensidade – não podemos ter um trem mais elétrico ou um trem
bastante elétrico; e eles tendem a ser organizados em conjuntos mutuamente exclusivos e
exaustivos – um trem é elétrico, a vapor ou a diesel. A gama de relações semânticas que
podem ser incorporadas em um conjunto de itens que funcionem como Classificadores é
bastante ampla; inclui material, escala e escopo, propósito e função, status e nível, origem,
modo de operação – mais ou menos qualquer característica que possa ser usada para se
classificar um conjunto de coisas em um sistema de conjuntos menores.
Uma seqüência de Coisa + Classificador (em inglês, Classificador + Coisa) pode ser associada
tão fortemente que chegue a ser parecida com um substantivo composto simples,
especialmente quando a Coisa for um substantivo de uma classe razoavelmente geral, e.g.
composição de trens (cf. conjunto de química, bloco de prédios). Neste tipo de seqüências, o
Classificador pode soar como o segundo elemento de um substantivo composto. A
composição de substantivos está fora do escopo deste livro; mas a linha divisória entre um
substantivo composto e um grupo nominal formado por Coisa + Classificador é bastante
indistinta e móvel, esse é o motivo pelo qual às vezes ficamos em dúvida ao escrever essas
seqüências, se em uma palavra, duas palavras ou duas palavras ligadas por um hífen (e.g.
walkingstick, walking-stick, walking stick)
acontece muito menos em português (cascagrossa, casca-grossa, casca grossa) podemos tirar
essa parte???
Mas há outras possibilidades: por exemplo, numerais que ocorram como Classificador, como
em primeiro prêmio, ou um grupos nominais encaixados como Dêiticos possessivos, e.g. o
trabalho de anteontem.
(i) particípio presente (ativo), V-or, e.g. perdedor, como em um time perdedor;
(ii) passado (passivo ou ativo intransitivo), V-ida, como perdida em uma causa perdida;
Funcionando como Epíteto, essas formas normalmente têm o sentido do tempo verbal finito
ao qual são mais diretamente relacionadas: o particípio presente significa “que está”
(esteve/estará) ... [gerúndio]; o particípio passado sigifica “que tem (teve/terá) sido ...
[passado]. Funcionando como Classificador, eles tipicamente têm o sentido de um presente
simples, ativo ou passivo: presente (= ativo) “que ...[presente]”; passado (= passivo) “que...
[passado].
Exemplos
Verbo como Epíteto
(i) uma inflação galopante (“uma inflação que está galopando”)
(ii) comitê constituinte (“um comitê que está constituindo”)
(186)
Entretanto, se o verbo é um dos que não usa o tempo “presente no presente” estar ...
[gerúndio] (i.e., um verbo que expressa um processo mental ou relacional), a distinção entre
“que ... [presente] e “ está ... [gerúndio] é neutralizada; o próximo par de exemplos também é
de Epítetos:
É natural que o atributo mais permanente tenda a ter uma função classificatória. Mas, o
gerúndio como Classificador não exclui o significado de ‘quele que está... –ndo, como em o
sol nascendo/se pondo; e, por outro lado, o particípio passado, como Epíteto nem sempre
carrega o significado de ‘aquele que estava....-ndo’, pois muitas dessas formas são, na
realidade, adjetivos, como em casa mal assobrada ou trem abarrotado. Uma mesma palavra
pode ser ora um ora outro: como em Você quer um ovo cozido? Cozido é um classificador,
que fica cozido’, contrastando com frito, pochê ou mechido; enquqanto em ‘Você só deve
beber água fervida aqui’, fervida é Epíteto ‘que foi fervida’.
Em “Ele ficou preso numa porta giratória”, ambas interpretações são possíveis: Classificador
‘do tipo que gira?’ Epíteto ‘o qual estava girando’ (cf “trens rápido” acima). Observe
finalmente que o fato de uma expressão em particular é um clichê não implica que o elemento
modificado seja necessariamente uma característica da palavra! Então em uma opinião
considerada, um forte argumento, a terra prometida, uma preocupação em andamento, os
verbos são todos Epítetos: ‘o qual foi considerado’, ‘o qual foi aquecido’, ‘o qual foi
prometido’, ‘o qual está indo [bem]!’
Freqüentemente a participio é frequentemente modificado por ele mesma, como em um trem
movendo-se rápido, um ovo cozido. O resultado composto pode incorporar qualquer um dos
números de diferentes relações experimentais, pó ex.: formação de hábito, levantamento de
fundos, angulado á direita, sabor de fruta, forma de pera,desenhado por arquiteto, mente
simplificada, ???,??, berada dupla. O que está acontecendo aqui é que alguma parte da
estrutura experiencial da oração está sendo declinada para funcionar com o Epíteto ou
Classificador; é uma forma reduzida de uma oração não finita e portanto agnada para um
(finito ou não finito) Qualificador (veja próxima secção). Nós já explicamos que ‘água
fervida’, como ‘água a qual foi fervida’; mas o último também é uma forma possível de
palavra, sistematicamente relacionada a 1ª:um trem o qual estava se movendo rápido, ovos sos
quais são (Classificador) foram (Epíteto) cozidos, uma casa desenhada por um arquiteto,
atividades as quais (são pretendidas) levantar fundos, e etc.
6. 2. 2 Estrutura experiencial do grupo nominal: interpretação de pedido/ordem; o
Qualificador
(1) Pedindo. Nós podemos agora seguir o padrão experiencial que está incorporado na
estrutura do grupo nominal. Procedendo da esquerda para a direita, nós começamos com o
contexto imediato, a identificação do item em termos de aqui e agora, por ex. aqueles trens ‘os
trens que você pode ver daí’. Claro esta identificação é freqüente em termos ao redor do texto
preferívelmente do que a situação, por ex. aqueles trens ‘os trens que você acabou de falar’;
mas o ponto de referência ainda está no evento do discurso. Daí, nós continuamos com
características quantitativas; local em ordem, e número meu ou ser, mas mais do que
meramente em atributo qualitativo; e os ordinais, sendo que o mais definido dos 2, vem
primeiro. Um ordinal é um tipo de cardinal superlativo: terceiro = ‘três mais’; i.i. identificado
por ser o número 3. Em seguida vem as características qualitativas, de novo com superlativos
precedendo outros: os trens mais velhos ‘trens para os quais a velhice é a característica
identificadora’. Freqüentemente há um intensificador, como muito, ou um elemento atitudinal
como bom, terrível, como um marcador da qualidade. Finamente vem a classe de membros;
isto reduz o tamanho do conjunto total referindo-se a um pronome especificando um sub-
grupo, por exemplo “trem passageiro” tipo de trem que carrega passageiro. Estamos falando
aqui, isto deveria ficar claro, do potencial identificador desses elementos. Em qualquer
momento atual, o item em questão pode ou não ser identificado; e esta é a força da palavra
“o” no início do grupo — para sinalizar que algo que é capaz de identificação está realmente
funcionando desta forma.
Assim há uma progressão no grupo nominal do tipo de elemento que tem o maior potencial
especificativo para aquele que tem o menos; e esse é um princípio de ordenamento que nós já
reconhecemos na oração. Na oração, o Tema vem primeiro. Nós começamos estabelecendo
relevância?: relatando o que é que nós estamos usando para introduzir essa oração no
discurso, como “isso é de onde eu estou começando” – tipicamente, embora por nenhum
meio? necessariamente, algo que já está “dado” no contexto. No grupo nominal, nós
começamos com o deitico: ‘primeiro eu lhe contarei o que eu quero dizer’, seu, esse qualquer,
um, etc. Então o princípio que põe o Tema primeiro na oração é o mesmo que põe o dêitico
primeiro no grupo nominal: começa relatando o dizente o contexto do evento do discurso.
Daí nós derivamos para elementos que têm sucessivamente menos potencial identificante –
que, pela mesma característica, são gradativamente permanentes como atributos. Em geral, o
atributo mais permanente de uma Coisa, o menos provável é identifica-la num contexto
particular. Então nós procedemos com a caracterização muito efêmera e quantitativa, que é
mais próxima do deitico, por ex.: três em três bolas; através de várias características
qualitativas como nova em bola nova; e termina com a mais permanente, a tarefa para uma
classe, por ex.:. bola de tênis. Com as características qualitativas, se mais de uma é específica
há novamente uma tendência de mover da menos permanente para a mais permanente; por
ex.: uma bola nova vermelha preferível a uma bola vermelha nova.
(2) Qualificador. Qual o elemento que segue a Coisa? O exemplo original termina com a
frase? com pantografias; esse também é parte do grupo nominal, tendo a função a qual
preferimos nos referir como Qualificador.
Diferente dos elementos que precedem a Coisa, que são palavras (ou algumas vezes conjuntos
de palavras, como dois mil, muito grande; ver subseção 3 abaixo), o que segue a Coisa é
também uma frase ou oração. Com apenas duas raras exceções, todos os Qualificadores estão
MUDADOS DE NÍVEL. O que importa é que a posição seguindo a Coisa é reservada para
aqueles itens que, em sua própria estrutura, são de um nível mais alto que ou ao menos
equivalente ao do grupo nominal; nesses por estas razões, no entanto, eles não seriam
esperados para serem constituintes de um grupo nominal. Esses itens são ditos para serem
‘mudados de nível’, em contraste com itens NIVELADOS que funcionam prototipicamente
como constituintes de uma unidade mais alta. Nós podemos também usar o termo encaixada,
tirado de gramáticas formais, mas com a clausula que esse termo é freqüentemente usado
para cobrir ambas mudanças de níveis (onde o item é rebaixado como um constituinte) e a
hipotaxi (onde o item é dependente de outro mais não é constituinte dele; veja capítulo 7,
seções 7.4 e 7.5 abaixo). Aqui nós podemos usar encaixada somente como um termo
alternativo sinônimo de ‘mudado de nível’. Exemplos:
That has been entered In the plea [[that has been entered]]
Being handed down In the judgment [[being handed down]]
Before the court In the matter [before the court]
Note que [[ ]] significa uma oração mudada de nível, finita ou infinita; [ ] uma frase (ou
grupo) mudada de nível.
Como o outro, ‘nivelando’ (i.e. não mudados de nível) elementos de um grupo nominal, o
Qualificador também tem a função de caracterizar a Coisa; e novamente o deitico o serve para
sinalizar que a característica em questão é definir. Mas a caracterização aqui é em termos de
alguns processos nos quais a Coisa é, diretamente ou indiretamente, participante. Pode ser um
processo maior, i.e. uma oração relativa; ou um processo menor - uma frase preposicional
(veja seção 6.5 abaixo). Análises desses dois está dado na Figura 6-2.
(a)
The Pobble [[who Had No toes]]
Dêitico Coisa Qualificador
Possuidor Processo: Possuído
Relacional
(b)
The Dong [with The Luminous Nose]]
Dêitico Coisa Qualificador
‘Processo’ ‘Range’
Dêitico Epíteto Coisa
Figura 6-2 Grupo nominal com (a) oração e (b) frase como qualificador
Uma oração relativa desse tipo, como em (um) quem não tem dedos nos pés, é referida como
uma ORAÇÃO MARCADA RELATIVA . Todas as orações relativas marcadas são mudadas
de nível e funcionam como Qualificadoras tanto em grupos nominais como em grupos
adverbiais. Elas contrastam com ORAÇÕES RELATIVAS NÃO MARCADAS, que não
funcionam como Qualificadoras e não são mudadas de nível. Ambos os tipos são discutidos
no capítulo 7, seção 7.4. abaixo.
Ouvinte(s) você
Um feminino
ela
Não consciente it
Generalizado um
O elemento que estamos chamando “Coisa” é o núcleo semântico do grupo nominal. Pode ser
um substantivo comum, um substantivo próprio ou um pronome (pessoal).
O pronome pessoal representa o mundo de acordo com o dizente, no contexto de uma troca de
falas?. A distinção básica está dentro dos papéis da fala (eu, você) e outros papéis (ele, ela,
eles, elas); há também o pronome pessoal generalizado (???). Essas categorias são mostradas
na Figura 6-3.
Nomes próprios são nomes de pessoas particulares, individualmente ou como um grupo;
instituições de todos os tipos; e lugares. Eles podem consistir em uma palavra ou várias;
aquelas constituídas por duas ou mais palavras, como Polly Perkins, AyersRock ou Cathay
Pacific Airlines, obviamente têm sua própria estrutura interna, mas podemos tratar todas
instancias simplesmente como Coisa, desde que pertença a nosso alcance aqui entrar na
análise funcional de composições nominais.
Pronomes pessoais e nomes próprios são semelhantes nisso , para ambos, a referência é
tipicamente única. Com pronomes, a referência é definida interpessoalmente, pela situação da
fala. Com nomes próprios é definido experiencialmente: lá existe apenas um, ao menos no
corpo relevante da experiência. Em ambos os casos, isso significa que tipicamente não há
nenhuma maior especificação; pronomes e nomes próprios geralmente ocorrem sem quaisquer
outros elementos do grupo nominal. Algumas vezes eles precisam de definições maiores,
como você na fila de trás, Henrique Oitavo (foi assim que sobrenomes começavam, como
Qualificadores de nome pessoais); e eles podem carregar epípetos atitudinais, como Tom
pobre – cf. pequena bela Polly Perkins de Paddington Green, que tem ambos.
Nomes comuns, por outro lado, são precisamente o que seus nomes implicam, comuns a uma
classe de referentes; daqui eles são tipicamente acompanhados por um dêitico e geralmente
outros elementos. Eles nomeiam classes de pessoas, outras coisas viventes, objetos, coletivos,
e instituições; assim como, por metáfora gramatical, fenômenos, que apareceria tipicamente
como adjetivos (qualidades) ou como verbos (processos e relações). Essas ‘coisas’
metafóricas geralmente ocorrem sem maior especificação, desde que suas referências não
possam ser consideradas terem membros no senso usual.
Inglês reconhece a distinção básica de coisas dentro de duas categorias semânticas: (1)
distinto, e por isso contável, entendidos como ‘substantivos contáveis’; (2) contínuo, e por
isso incontável, entendidos como ‘substantivos de grandeza’. Como apontado acima
(subseção 1), ‘substantivos de grandeza’ são agrupados com nomes contáveis singulares se
específico, e.g. você gosta dessa poesia/desse poema?; e com nomes contáveis plurais se não
específico, e.g. eu escrevi algumas poesias/alguns poemas.
Tipicamente o que a distinção importa não é que o substantivo de grandeza é algo que não
pode ser enumerado, mas que se é enumerado o é pelo tipo e não pela quantidade; por
exemplo, eu tenho um novo polimento aqui ‘um novo tipo de polimento’.
Por outro lado, se um substantivo ‘ de grandeza’ é para ser relacionado, tem que ser medido:
um acre de chão, uma lata de cerveja. (A forma simples uma cerveja é então usada com a
suposição de uma medida padrão.) Mais será dito sobre essas expressões de medida abaixo,
depois de discussão sobre a estrutura lógica do grupo nominal.
Nós anotamos no início do capítulo que em se analisando estruturas grupais não é necessário
configurar? três ‘linhas’ distintas correspondentes às metafunções experiencial, interpessoal e
textual. Uma simples representação estrutural bastará. Nós temos podido expressar isto em
termos experienciais, porque é um princípio geral da estrutura lingüística que é o significado
experiencial que define constituintes mais claramente. Significados interpessoais tendem a
ser espalhados prosódicamente ao longo da unidade; enquanto significados textuais tendem a
ser reconhecidos pela ordem em que as coisas ocorrem, e especialmente por colocar limites.
Essas são tendências muito gerais, funcionam diferentemente em toda língua mas
provavelmente visível em todas. Na Parte I nós vimos esse padrão na oração, e ele tornar-se-á
mais claro no final da Parte II. O significado textual da oração é expresso pelo que é colocado
primeiro (o Tema), pelo que é fonologicamente proeminente (e tende a ser colocado por
último – o Novo, sinalizado pelo foco da informação), e por conjunções e relativos que se
presentes devem ocorrer em posição inicial. Então forma um padrão como onda de
periodicidade que é configurada por picos de proeminência e marcadores . Os significados
interpessoais são expressados pelo contorno da entonação; pelo bloco ‘do Modo’, que pode
ser repetido como uma etiqueta no final; e por expressões de modalidade que podem recuar
através da oração. O padrão aqui é prosódico, tipo campo preferível a como onda. Para
completar a tríade, primeiro proposto por Pike, de ‘língua como partícula, onda e campo’, o
tipo de significado que é expresso em uma maneira como partícula é o experiencial; é isso que
nos da nosso senso de construir blocos da língua. Desde que nós estejamos usando teoria
particular (eleitorado) como a fundação da analise presente – tende a ser conceituavelmente e
operacionalmente mais simples que modelos de onda ou campo - é natural representar a
estrutura do grupo nominal, em que os componentes funcionais são (em Inglês) melhor
definidos claramente, em termos experienciais em retas.
Nós podemos dizer pouco mais sobre outros componentes, além de reconhecer sua presença
no que já foi discutido. (1) Significados interpessoais são incorporados? (a) no sistema da
pessoa, ambos como pronome (pessoa como Coisa, e.g. ela, você) e como possessivo (pessoa
como dêitico, por ex.: dela, seu); (b) no tipo atitudinal de epípeto,por ex.: esplêndido no nosso
exemplo mais recente; (c) em significados conotativos de qualidade de voz e palavras. (2)
Significado textual é incorporado através de toda a estrutura, desde que determine a ordem na
qual os elementos são arranjados, bem como padrões de estrutura de informação apenas como
na oração (nota para o exemplo no qual o foco não marcado da informação é a palavra que
vem por último, não a palavra que funciona como a Coisa: nas pantografias, não nos trens).
A figura 6-4 mostra a estrutura desde exemplo, como interpretada até aqui:
Aqueles Dois Esplendidos Velhos Trens Elétricos Com pantographs
Dêitico Numerativo Epíteto Coisa Classificador Qualificador
Atitude Qualidade
‘Processo’ ‘Range’
coisa
Fig 6-4 Grupo nominal, mostrando estrutura experiencial multivariada
Com a relação geral que dirige toda a pré-modificação do núcleo do grupo nominal, qualquer
que seja a força experiencial dos elementos tais. Fig 6-6 dá outro exemplo:
η ζ ε δ Γ β α
Fig 6-6 – Modificação: um ex maior
Dentro desta estrutura lógica, pode haver a ‘sub modificação’: que é, suporte interno, como
em numa figura um pouco mais impressiva (fig 6-7)
Βγ Ββ βα
Fig 6-7 Submodificação
Submodificação pode ter o efeito de perturbar a ordem natural dos elementos no grupo, isto
considera por itens adicionais ocorrendo antes do Dêitico, como em quase a última
manteigueira, tal lua brilhante, em também por mostrar elementos, como em não muito difícil
uma tarefa.
O mesmo fenômeno de suporte interno é também encontrado em exemplos como pijamas
maçã verde, vendedor de carro de 2ª mão, compromisso integral, todos os quais são BB^Ba^ª
Formalmente isto é identificado como sub-modificação, embora isto normalmente não se
refere a tal, o termo sendo mantido por gramatical mais do que expansão lexical.
Como também há casos fronteiriços, por ex. escuro/profundo ou claro/pálido com palavras
que representam cores (é vermelho profundo ao invés de muito vermelho ou mais como
vermelho-sangue?) Mas contanto que a representação estrutural é clara e realmente
desnecessária para apresentar termos distintos.
O elemento que acompanha o Núcleo é também o elemento modificador; nós podemos
distinguir duas posições isando os termos premodificador e posmodificador, a distinção não é
funcional, mas depende, como percebido acima, na ordem dos modificadores; compare
‘__________’1. Às vezes é possível nomear uma simples ordem de modificação para ambos
pré-núcleo e pós núcleo; em velhos trens elétricos com pantografia, por ex., nós poderíamos
reconhecer a seqüência γ^β^α^y, desde que trens com pantografias são um subconjunto de
trens elétricos mas não de velhos trens elétricos). Se as pantografias pudessem entrar no
Premodificador, nós teríamos presumivelmente aqueles 2 esplêndidos velhos pantografados
trens elétricos
Nós deveríamos ter certeza, contudo, de assumir que a ordem taxonômica da modificação
sempre corresponde a algo no universo extralingüístico; pode ou não fazer. O teste mais
válido é o 2º, que reformula-se com tudo no pré-modificador e vê qual a provável ordem; mas
não é sempre possível faze isto de forma natural, e conseqüentemente confiável.Uma
alternativa mais simples, conseqüentemente, é tratar estas duas cadeiras distintas de
modificação, uma pré e outra pós, cada depende do núcleo mas não apoiado um dentro do
outro, como na Fig 6-8
Aqueles elétricos... Trens Com pantographs That are resting on the platfor,
premodificador núcleo Posmodificador
γ β α β Γ
Fig 6-8 Pré modificador e pós modificador
Isto tem que ser distinguido, claro, de ‘aqueles trens elétricos com pantografias que estão
descansando nos trilhos, onde ‘que está descansando no trilho’ modifica pantografia não trem.
(Fig 6-9)
1Observe que aqueles dois não são sinônimos – Mas diferem em estrutura de informação (significado textual),
não no significado lógico ou experiencial
Aqueles Trens Com Pantograms that are resting on the wires
elétricos
premodificador núcleo posmodificador
γ β α Β
‘processo’ ‘range’
núcleo Posmodificador
α β
Fig 6-9 Mais encaixada dentro do Pos- Modificador
O que a análise lógica faz é trazer aspectos recursivos da relação do modificador, mostrando
grupo nominal como um apoio regressivo. Esta é a propriedade que genera longas linhas de
substantivos tais como encontrados em manchetes e nomes de partes de máquinas, por ex:
__________________________
(veja Apendix 2). Nos referimos a isso como uma estrutura INVARIÁVEL, uma estrutura
gerada pelo retorno da mesma função α é modificada por β, o qual é modificado por γ, o qual
é.... O tipo de estrutura exemplificada por Dêitico + Numerativo + Epípeto + Classificador +
Coisa + Qualificador que chamamos estrutura multivariável: uma constelação de elementos
como um tendo funções distintas com respeito ao todo. Não é que uma análise é melhor que a
outra, mas que a fim de conseguir uma adequada do grupo nominal, e um conceito do que
significa ‘grupo’ como fonte gramatical para representar coisas, nós precisamos interpreta-los
de ambos os pontos de vistas.
(a) (olhar para) aqueles Dois (b) (olhar para) aqueles (c) quais?
Dêitico Numerativo Dêitico Dêitico
Modificador Núcleo Núcleo Núcleo
β α α α
Fig 6-10 grupos nominais com um Numerativo com o Núcleo (b) e (c) Dêitico como Núcleo.
Δ γ β α
Submodificador Subnúcleo
γβ γα
Fig 6-11 grupo nominal como substituto.
Há um tipo comum de grupo nominal onde Núcleo e Coisa não coincide, a saber aqueles
envolvendo medida de algo. Estas medidas nominais incluem coletivos, por ex. um pacote de
cartas, partitivos, por ex. uma fatia de pão; e quantitativos, por ex. uma jarda de
fazenda|tecido.
Na estrutura lógica, a palavra medida (pacote, fatia, jarda) é Núcleo, como o de frase como
Pós-modificador. A Coisa, no entanto, não é a palavra de medida, mas a Coisa a ser medida:
aqui cartas, pão, tecido. A expressão de medida funciona como um complexo Numerativo,
como na fig 6-12:
um pacote de cartas
numerativo coisa
premodificador coisa posmodificador
β α Β
Fig 6-12 Grupo nominal como expressão de medida
Freqüentemente acontece que o Epípeto é transferido ao Núcleo, como em uma forte xícara de
chá, embora claramente seja chá que é forte, não a xícara. É parcialmente de natureza um
tanto ambivalente esta estrutura, na qual Núcleo e Coisa são separados, o que faz isto
acontecer, também levanta porque em muitas instâncias o Epípeto poderá aplicar bem também
em, uma nuvem de grossa fumaça, uma grossa nuvem de fumaça que fornece o modelo de
uma xícara forte de chá. (Classificadores, por outro lado, não se transferem; não dizem um
pedaço marrom de pão.) Às vezes o Epípeto pertence mais naturalmente como o Numerativo,
como em um gole, xícara de chá, mas mesma aqui; ninguém pode ter Epípeto que caracteriza
o item em questão de nenhuma forma a não ser com a função de Numerativo, ninguém pode
dizer uma xícara azul de chá porque significa uma xícara de chá numa xícara azul.
Finalmente, não é incomum ter um Epípeto em ambas posições, como em camada grossa de
neve friável.
Em alguns casos similares a ‘tipos de medidas’ são grupos nominais expressando a faceta de
algo; o fundo da casa, meu lado da cama a face norte do Eiger A palavra faceta ( fundos, lado,
face) é o Núcleo, seria possível interpretar estes.
(205)
(b) modalizada
α mod β- γ+ δØ Є pass
Os tempos do Sistema III são mostrados na coluna da direita do Quadro 6(7). Note que, para
evitar duplicação, o enunciado dos tempos para ambos os sistemas é mostrado à esquerda. A
forma da classe I do Sistema III é sem tempo: isto é levando, levar, deve (ou outros modais) +
leva.
É possível, obviamente, pensar nesta lista de tempos como uma lista e representá-las todas
como estruturas experienciais. Contudo, isto falharia em expressar a regularidade no
significado, que é baseada numa série de escolhas de tempos: e.g. – futuro (farei) > passado
em relação a aquele futuro (terá feito) > presente em relação à aquele passado em relação a
aquele futuro (terá tido feito), e assim por diante.Também sugeriria uma distinção clara de
corte entre aqueles tempos que existem e outros que não existem, enquanto que o sistema
varia para falantes diferentes; ainda mais que tende a se expandir todo o tempo, apesar de já
ter provavelmente atingido o seu limite. O que aconteceu é que o tempo relativo – antes,
durante e depois do tempo de referência definido – voltou a ser interpretado, na semântica do
inglês, como um tipo de relação lógica; um modo de subcategorizar eventos similares à uma
subcategoria de coisas, com exceção daquela que posteriormente é multidimensional (e por
isso lexicalizada) enquanto o formador é baseado na dimensão semântica simples e pode com
isso ser expressa inteiramente por meios gramaticais.
O Quadro 6(10) dá um arranjo alternativo dos tempos do Sistema I, ordenado a partir do final
“Finito”. Isto é o oposto do que está usado no Quadro 6(7). A coluna 1 mostra o passado, o
presente e o futuro relativo ao tempo do falante: dizer no tempo ¹. Na coluna 2 mostra o
passado , o presente e o futuro no tempo ² - que é, o tempo relativo ao tempo escolhido no
tempo ¹. A coluna 3 mostra o passado, o presente e o futuro no tempo ³ - novamente, tempo
relativo ao tempo escolhido no tempo ²; e assim por diante. Isto corresponde à maneira como
os mais complexos tempos tendem a se construir no curso do diálogo; por exemplo,
estará trabalhando quando da próxima vez você precisar dela. presente no futuro
t4 t3 t2 t1
+-+ will have been going to work +0- will be having worked
+-0 will have been working +-- will have had worked
(206)
-+- was going to have worked -0+ was being about to work
Não é impossível construir contextos nos quais haverá forte pressão para um ou outro dos
últimos exemplos aparecerem. Infelizmente isto não pode ser testado experimentalmente,
porque estas formas complexas são quase sempre espontâneas; as pessoas não podem
produzi-las sob condições experimentais. Contudo, o sistema propriamente dito tem um
potencial para ser expandido futuramente nesta direção; não há limite claro entre o que está
dentro e o que está fora.
A classe de palavra funcionando com um Evento numa estrutura de grupo verbal é o verbo.
Nós podemos nos referir a isto mais especificamente com um “verbo lexical” para distinguí-lo
dos finitos e auxiliares.*
Verbos Frasais são verbos lexicais que consistem de mais do que somente uma palavra verbal
propriamente. Eles são de dois tipos, mais um terceiro que é a combinação dos outros dois:
(iii) verbo + advérbio + preposição, e.g. look out for ‘olhar a presença de’
Exemplos:
(i) Você poderia look out uma boa receita para mim?
(ii) Eu estou procurando por uma agulha. Você poderia me ajudar a achar uma?
* O ponto principal de diferença entre o grupo verbal e o grupo nominal é que o Evento
(diferentemente da Coisa) não é o ponto de partida para a modificação recursiva da relação.
Uma vez que ele não figura com um elemento digno de nota. Poderá ser questionado que o
verbo frasal representa uma expansão do Evento, dando alguma coisa do tipo
α β γ δ Є ζ
(ou, mais seriamente, a parte adverbial dele, até a palavra out). Contudo, nós não exploramos
esta linha de abordagem aqui.
(208)
Expressões deste tipo são itens lexicais; look out, look for e look out for pertencem a
entradas separadas no dicionário de sinônimos ou no léxico. Eles estão assim tendendo cada
vez mais para a função como constituintes gramaticais; mas esta tendência está longe de ser
completa, e gramaticalmente elas são mais instáveis.
O mesmo padrão está refletido na variação temática. Se a frase preposicional de uma agulha
era um elemento circunstancial ele deveria estar apto a ser tematizado; mas nós não dizemos
por aquele que eu procurarei; a forma mais provável é que eu procurarei. Similarmente, com
as adverbiais: assistir a é um processo simples, então enquanto que posso dizer lá eu verei
John (= Eu verei John lá, mas com o lá ao invés do Eu como Tema), não há a forma a eu
assistirei John tematicamente relacionada com Eu assistirei a John.
Suponhamos que nós tenhamos uma oração com dois participantes, na voz ativa, na
qual o item principal da mensagem é a Meta. A Meta vem no final, e isto é onde o
proeminente – foco de informação – tipicamente cai. Nós podemos expressar o processo ou
frasalmente ou não frasalmente – não há muito que escolher entre os dois:
Suponha, entretanto que eu queira que o foco da informação seja o Processo mais do
que a Meta. Neste ponto diferenças significativas aparecem. Se eu disser
acontece com o verbo frasal: ele divide o Processo em duas partes, uma funcionando com
Predicador e outra como Adjunto, com o Adjunto vindo no seu lugar normal no final:
Isto também explica alguma coisa que está freqüentemente apresentada como uma regra
arbitrária do inglês, mas que é na realidade qualquer coisa, menos arbitrária: que se a Meta é
um pronome ele quase sempre ocorre dentro do verbo frasal (eles called it off mais do que
eles called off it). Esta é parte da mesma estória; um pronome é raramente alguma vez
notável, desde que ele se refere a alguma coisa que aconteceu antes, então se a Meta é um
pronome é virtualmente certo que o Processo estará sob o foco. (Mas nem sempre; o pronome
pode ser contrastivo, e se isso ocorrer ele pode vir no final, e.g. eles telefonaram para mim,
mas aparentemente para ninguém mais).
Figura 6-21 dá a análise da oração com um verbo frasal do tipo adverbial (i) nela, em
termos de (a) transitividade e (b) modo:
Modo Resíduo
Similarmente com o tipo preposicional (ii): em Eu estou procurando por uma agulha, os
constituintes do modo são procurando Predicador, por uma agulha Adjunto, e isto é levado
em conta para ordenar relativamente os outros Adjuntos, e.g. Eu tinha procurado por todos os
lugares a agulha. O terceiro tipo inclui alguns onde ambos advérbios e preposições são (ou
podem ser) parte do Processo, e.g. look out for, put up with, put in for; e outros onde somente
o advérbio está dentro do Processo, e.g. let in for, put up to, como em ele let me in for it, ele
put me up to it. Analisado como na Figura 6-22.
Existe freqüentemente dúvida se estes complexos itens lexicais podem ser interpretados
gramaticalmente como um Processo simples ou não. Em tais casos é importante considerar a
transitividade da oração como um todo, para ver se ele aparece estar estruturado como um
processo mais participante ou um processo mais circunstância. A variação Temática
freqüentemente mostra uma preferência por um modo ou outro (cf. Capítulo 5, Seção 5.7
acima).
O grupo adverbial tem um advérbio como núcleo, que pode ou não ser acompanhado de
elementos modificadores. Pré-modificadores são itens gramaticais como o não, mais e tão;
não há nenhuma pré-modificação lexical no grupo adverbial. O que existe é por isso mais o
que nós chamamos de ‘sub-modificação’ no grupo nominal, com Sub-Modificadores se
relacionando com um adjetivo como seu Sub-Núcleo.
Nós podemos representar o grupo adverbial como uma estrutura lógica como na
Figura 6-23.
←-------------------- ←-----------------------------------------------
β α ζ Є δ γ β α
Existe também um tipo de favorecimento nos testes gramaticais, tal como John corre mais
rápido que Jim, onde o elemento encaixado é dito ser uma oração com o Finito e o Resíduo
pré-supostamente elíptico: ‘do que Jim corre’. Parece, entretanto, que estes são agora encaixes
de frases preposicionais, desde que a forma normal do pronome pessoal seguida do mais que
ou como é oblíqua/absoluta mais do que nominativa: John corre mais rápido do que eu (não
do que mim). O mesmo se aplica no grupo nominal quando o Núcleo é um adjetivo: John não
é tão alto quanto eu.
Isto é somente uma instância do encaixamento mais do que num grupo nominal. Todos
os outros encaixes em inglês são uma forma de nominalização, aonde o grupo, o sintagma ou
a oração vem funcionar como uma parte do ou em lugar de (i.e. como um todo de), um grupo
nominal. Veja mais adiante no Capítulo 7, Seções 7.4 e 7.5 abaixo.
(211)
←―――――――――――――――――――――――――→
γ β α
Sub-Núcleo Sub-modificador
―――――----------------------------------------―――→
βα ββ
←――――――――――――――――――――――――――――→
γ β α β
Dentro das palavras ‘primárias’ das classes adverbiais, existe uma outra classe além dos
advérbios, nomeada conjunções. O papel delas na gramática é descrito no Capítulo 7; elas
formam três sub-classes, nomeadas de ligação, de aglutinação e de continuidade.
As conjunções também formam grupos de palavras por modificação, por exemplo, mesmo se,
somente como, ainda não, se somente. Estas podem ser representadas da mesma maneira,
como estruturas βˆα (ou αˆβ no caso do se somente). Note, entretanto, que muitas expressões
conjuntivas tem expandido de estruturas mais complexas, e.g. tão logo quanto, no caso, na
hora que, todavia, à medida que. Estas podem ser tratadas como elementos únicos sem
futuras análises. Elas estão por si mesmas, claro, sujeitas a modificação, e.g. só no caso de,
quase tão logo quanto.
* Cf. a mais brilhante estrela no céu, onde no céu modificaria a mais brilhante.
(212)
Preposições não são uma sub-classe de advérbios; funcionalmente elas estão relacionadas aos
verbos. Mas elas formam grupos de modificação, da mesma maneira que as conjunções; e.g.
logo atrás, não sem, ao longo, muito longe como em logo atrás da porta, não sem algum
receio, ao longo da praia, muito longe da marca.
Novamente existem mais formas complexas, tais como em frente a, por causa de, que
podem ser deixadas sem análise. Estas estão também sujeitas a modificação, como em
somente por causa de, imediatamente em frente a. É importante fazer a distinção entre um
GRUPO PREPOSICIONAL, tais como logo atrás ou imediatamente em frente a, que é uma
estrutura expandida de Modificador-Núcleo e que funcionalmente equivale a uma preposição,
e um SINTAGMA PREPOSICIONAL, que não é uma expansão de nada, a não ser uma
estrutura como de uma oração em que a função do Processo/Predicador é representada por
uma preposição e não por um verbo. Sintagmas preposicionais são discutidos no final da sub-
seção deste capítulo (6.5).
Complexos preposicionais tais como em frente (a), por causa (de) tem se expandido
dos sintagmas preposicionais, com frente, causa como ‘Complemento’. Muitas expressões
são indeterminadas entre as duas, por exemplo, ao lado de, com uma alternativa a, pela razão
de; expressões como estas estão de uma maneira se tornando preposicionais mas não tem
quase nada a ver. Geralmente, entretanto, existe uma diferença; aquelas que se tornaram
preposições tipicamente ocorrem sem um Dêitico precedendo o nome (em frente a, e não na
frente de), e o nome ocorre somente no singular (em frente a, e não em frentes a). Em algumas
instâncias a duplicidade ocorre: ao lado se tornou uma preposição completa, mas porque ela é
freqüentemente usada no sentido abstrato ou metafórico uma moderna versão do complexo
original formou ao lado de reaparecendo com ela, e isto por sua vez está agora começando a
seguir a mesma rota na direção do status preposicional.
Nós explicamos uma preposição como um verbo menor. Na dimensão interpessoal ela
funciona como um Predicador menor tendo um grupo nominal como seu Complemento; e
como nós vimos acima na Seção 4.3 e 5.8, isto é tido como essencialmente não fazendo
diferença entre o Complemento de um Predicador ‘completo’ – Complementos preposicionais
aumentadamente tendem a ter o mesmo potencial de se tornar Sujeito, como em este chão não
deveria ser pisado por alguns dias. Sem dúvida uma razão para esta tendência tem relação
unidade lexical dos verbos frasais, referidos na Seção 6.3; porque look up to é um item lexical
simples, com uma única palavra como quase um sinônimo admirar, que é um paralelo natural
as pessoas têm sempre admirado ela com ela tem sido sempre admirada.
ser interpretadas como ou, e algumas formas de verbos não-finito podem ser classificadas
como preposições, e.g. com respeito a, considerando, incluindo. A principio, as orações não-
finitas implicam num Sujeito potencial, enquanto que o sintagma preposicional não; mas a
prevalência dos então chamados ‘particípios suspensos’ mostra que esta repressão não é
sempre levada muito seriamente (e.g. Está frio para não usar um chapéu). Mais significante
de fato que as orações não-finitas são as orações; isto é, que podem ser expandidas para
incluir outros elementos da estrutura oracional, enquanto os sintagmas preposionais não
podem. Alguém pode dizer tanto ele deixou a cidade com o carro de sua esposa ou ele deixou
a cidade levando o carro da sua esposa, mas somente a última pode ser expandida para ele
deixou a cidade levando o carro da sua esposa calmamente para fora da via de acesso.
Processo Extensão
Finito) Predicador
Mas note que os sintagmas preposicionais são sintagmas, não grupos; eles não têm estrutura
lógica como Núcleo e Modificador, e não podem ser reduzidos a um único elemento. A este
respeito, eles são como oração mais do que como grupo oracional; assim quando nós
interpretamos a preposição com um ‘Predicado menor’ e um ‘Processo menor’ nós estamos
interpretando o sintagma preposicional como um tipo de ‘oração menor’ – o que é o que ela é.
Com relação a sua própria função, um sintagma preposicional corre tanto (i) como um
Adjunto em uma oração, ou (ii) como um Qualificador num grupo nominal, por exemplo no
rádio em (i) Eu ouvi boas notícias no rádio, (ii) as notícias no rádio eram boas. Com
Adjunto, ele pode ocorrer inicialmente, com Tema marcado; e.g. no rádio eu ouvi boas
notícias. A exceção é o sintagma preposicional com de, que normalmente ocorre somente na
função (ii); a razão é que eles não são sintagmas preposicionais típicos, por que na maioria
dos seus contextos de uso o de não é funcionalmente tão menor quanto Processo/Predicador
mas sim como um marcador de estrutura no grupo nominal (cf. assim como o para é um
marcador estrutural no grupo verbal). Portanto, os sintagmas de ocorrem como elementos das
orações somente em dois casos: (1) como circunstância de Assunto, e.g. De George
Washington é dito que ele nunca disse uma mentira, (2) como um dos grupos de circunstância
expressando um senso de ‘fonte’, tudo ultimamente derivando do resumo Locativo ‘de’:
morreu/foi curado de câncer, acusado/declarado/absolvido do assassinato, e assim por
diante.
(214)
A Figura 6-26 mostra as classes das palavras que podem ser reconhecidas como funcionando
em inglês nos grupos ou nos sintagmas. Elas são a ‘parte do discurso’ da gramática funcional.
comum
nomes próprio
pronome
nominais adjetivos
numerais
determinador
auxiliar
finito
preposição
adverbiais advérbio
conjunção ligação
aglutinação
continuidade
Núcleo Modificador
(224)
Este exemplo pode ser representado a partir do início da árvore:
(fórmula)
ou, usando parênteses (e mostrando o tipo de interdependência), como:
(fórmula)
A notação usada aqui expressa ao mesmo tempo a constituência e a dependência: a
constituência, pelo uso dos parênteses (com o uso de parênteses ou repetindo os símbolos),
e a dependência, pelas letras do alfabeto grego. Uma forma de representação por diagrama
é ilustrada na figura 7-7:
Nossa professora disse (que)
se o seu vizinho tiver um bebê
e você não sabe
se é ele
ou ela
o seu vizinho ficará bastante ofendido
se você chamá-lo de “isso”
linha de dependência
linha de constituência
Fig. 7-7 Diagrama alternativo para um complexo oracional
Há um motivo para que exploremos esses diferentes tipos de notação. O complexo
oracional é de particular interesse na linguagem falada, porque representa o potencial
dinâmico do sistema – a capacidade de “coreografar” padrões muito longos e intrincados de
movimentos semânticos enquanto é mantido um fluxo contínuo de discurso, que é coerente,
sem ser construcional. Este tipo de fluxo não é uma característica da linguagem escrita.
Como a teoria gramatical foi desenvolvida para ser o estudo da linguagem escrita, ela é boa
em representações sinópticas de “produto”, que tem a constituência como conceito
organizador, mas ruim em representações dinâmicas de “processo”, que é o que é
necessário para a interpretação da fala. Um diagrama de elementos interligados deste tipo é
um pequeno experimento dentro da notação coreográfica – algo que infelizmente não pode
ser desenvolvido melhor neste livro.
A parataxe e a hipotaxe são as duas formas básicas assumidas pelas relações lógicas na
linguagem natural. Os termos, em uma relação lógico-semântica, são ordenados por estas
formas como sendo iguais (paratáticos) ou desiguais (hipotáticos).
As relações lógico-semânticas propriamente ditas, no complexo oracional na língua inglesa
e da portuguesa, são as cinco relacionadas na Seção 7.2: “isto é”, “e”, “assim”, “disse” e
“pensou”. Estas são categorias generalizadas, obviamente, reunidas para sugerir o
significado central da categoria, não devendo ser tomadas como definições. Veremos mais
à frente (no Capítulo 7 Adicional) que estas categorias não se limitam ao complexo
oracional, representando idéias semânticas básicas que percorrem toda a linguagem.
(225)
Estas relações, que (quando combinadas com a parataxe e hipotaxe) constituem o
componente “lógico” de uma linguagem natural, não são reduzíveis às relações lógicas
elementares de um tipo não lingüístico. Como exemplo, considere a relação de “e” e o seu
ambiente paratático. Foi observado acima que “pimenta e sal” implica em “sal e pimenta”,
mas isto não quer dizer que as palavras pimenta e sal e sal e pimenta sejam sinônimos –
obviamente não o são. Há uma prioridade óbvia sobre o que vem primeiro, como mostrado
pelo fato que não dizemos manteiga com pão; ou melhor, o que dizemos é pão com
manteiga – como uma forma de censurarmos alguém que passa uma camada grossa demais
de manteiga: ei, isto não é manteiga com pão, é pão com manteiga! Desta forma, embora
um implique no outro, eles não têm um significado idêntico, porque a parataxe é uma
relação simétrica, diferentemente da expansão. Em um ambiente hipotático, nem mesmo
essa implicação não será mantida, porque a própria hipotaxe não é simétrica; assim, há uma
distância semântica considerável entre os exemplos citados anteriormente (além de
executar a operação ele também teve de pagar por ela / além de pagar pela operação ele
ainda teve de executá-la), apesar do fato de que uma das características semânticas que esta
estrutura realiza ainda é a de “e”.
É importante interpretar essas relações “lógicas” em seus próprios termos, como parte da
semântica da linguagem, e não esperar que eles se encaixem perfeitamente em categorias
lógicas formais – entretanto, como essas relações foram inicialmente obtidas a partir da
linguagem natural, haverá obviamente uma relação próxima entre eles.
Na Seção 7.2, apresentamos a noção de expansão: uma oração, em sua múltipla função de
processo, troca e mensagem, pode entrar em uma construção com outra oração que seja
uma sua expansão, e as duas formarão um complexo oracional.
7.4.1 Elaboração
(i) Exposição. A oração secundária, nesse caso, refraseia a tese da oração primária
usando palavras diferentes, para apresentá-la de outro ponto de vista, ou talvez apenas para
reforçar a mensagem; por exemplo:
A relação pode ser explicitada pelas expressões conjuntivas, tais como ou (ou melhor), em
outras palavras ou isso quer dizer que; ou na escrita, por i.e.
(ii) Exemplificação. A oração secundária, nesse caso, desenvolve a tese da oração
primária, tornando-a mais específica e muitas vezes citando um exemplo real; por exemplo:
(iii) Elucidação. A oração secundária, nesse caso, elucida a tese da oração primária,
reforçando-a com alguma forma de explicação ou comentário explicativo.
Expressões como de fato, realmente, pelo menos são comuns nesse tipo de elucidação. Na
escrita, a abreviação mais próxima é novamente i.e. ou, às vezes, viz.
(i) Finita. Se a oração secundária for finita, ela tem a mesma forma da definição de
uma oração subordinada adjetiva do tipo QU- (ver Capítulo 6, Seção 6.2.2). Entretanto,
difere da definição de uma oração subordinada adjetiva em duas maneiras: há uma
distinção no significado e há uma distinção equivalente na expressão oral e escrita.
No que se refere ao significado, essas orações não definem subconjuntos da maneira
que uma oração subordinada adjetiva restritiva os define. Em o único plano que poderia ter
conseguido, a oração subordinada adjetiva restritiva que poderia ter conseguido especifica
um subgrupo particular da classe geral dos planos. Uma oração subordinada adjetiva
explicativa, por outro lado, acrescenta uma nova caracterização de algo possível de ser
considerado bem específico. Esse 'algo', portanto, não é necessariamente apenas um
substantivo. O domínio de uma subordinada adjetiva explicativa pode ser uma oração
inteira, como no exemplo acima, ou quaisquer de seus componentes. O tratamento das
orações é auxiliado por três núcleos, embora não sejam subtipos, apenas grupos
convenientes:
(a) Orações com que cujo o domínio refere-se também à oração primária inteira ou
alguma parte sua que seja mais do que um grupo nominal; e.g.:
Ela fez um bom trabalho no gatinho branco que estava mentindo bem imóvel. (deitado
quieto).
Isto significou permitir que a Comissão aumentasse as tarifas destas linhas até a um nível
em que elas pudessem se pagar por si mesmas; de qualquer forma, tarifas que provavelmente seriam
maiores do que os usuários poderiam suportar.
Quando o grupo nominal é não-final na oração primária, a oração secundária, muitas vezes,
está inclusa e, portanto, aparece logo em seguida, como em:
O Parlamento, cujo o papel histórico era o de fazer leis, votar tributos e fazer
justiça, permitiu que os assuntos sobre injustiças industriais fossem discutidos e
contestados em outra repartição.
O tímido, que parecia ser uma pessoa de autoridade entre eles, saiu.
A estrutura, aqui, é α << = β>>; o que está compreendido entre os ângulos indica inclusão,
duplicação, onde sempre o elemento delimitado é uma oração.
(c) Orações com quando ou onde, cujo o domínio refere-se a alguma expressão de
tempo ou lugar, e.g.
O significado é 'que é quando...', 'que é onde...'. Aquelas orações com onde, muitas vezes,
refere-se ao espaço abstrato, como em:
//4 ˆ in/flação //4 ˆ que foi / necessária para o sistema //1 ˆ tornou-se / também / fatídica //
A coerência, aqui, está entre a oração secundária e seu antecedente inflação, ambos com
tom 4. Esse tom sugere que eles não são não-final e a seqüência, portanto, é completada
com um tom 1. Contudo, qualquer tom que for usado será o mesmo em ambas as partes; o
tom selecionado para a (a parte relevante da) oração primária é repetido na oração
secundária. Esta harmonia de tom é indicação principal da relação de aposição em inglês e
aplica-se, também, aos complexos oracionais paratáticos de exposição e exemplificação
acima referidos.
Há um grupo de orações subordinadas adjetivas explicativas que, para sermos
exatos, pertenceria à extensão, e não à elaboração; por exemplo:
O que, aqui, refere-se a 'e ela' e a oração é semanticamente uma aditiva. Compare também
(em que o sentido é 'e nesse caso'):
*
No inglês britânico seria como a variante 'descida-subida rápida', tom 2, indicando Wensleydale como o
Novo (ver Capítulo 8).
Poderia estar com fome, nesse caso ele provavelmente a comeria. *
Observe que tais exemplos não são caracterizados pela coerência. Além disso, extensões e
não elaborações são possessivos com cujo ou seus variantes (de quem/que), que não
caracterizam o nome, seu domínio, mas acrescentam um novo nome relacionado pela
posse. Ao comparar elaboração e extensão temos: elaboração venha e encontre Mary, cujo
o aniversário nós estamos comemorando ('a garota cujo...') e extensão o controle da loja foi
assumido por um indiano, cuja a família associou a ele. Para a maior parte dos propósitos
dessas orações e de todas as outras subordinadas adjetivas explicativas, elas podem ser
tratadas como orações de elaboração.
(ii) Não-finita. Obtém-se a mesma relação semântica como com as orações finitas e,
novamente, o domínio pode ser um grupo nominal ou algum segmento maior da oração
primária, até mesmo a oração inteira. Por exemplo:
O casaco felpudo possui uma camada de ar próximo à pele que protege isolando o corpo das
mudanças de temperatura.
*
It might be hungry, in which case it would be very likely to eat her up. Trata-se de uma sentença oral,
produzida em inglês, em que a entoação supre a ausência do "e". Haveria uma pausa grande que, na
escrita, em português, deveria ser assinalda pelo menos com ponto-e-vírgula. Pela ausência do "e" acredita
ser 'elaboração', quando na verdade é 'extensão'.
Na maioria dos exemplos, o Sujeito está implícito, é pressuposto da oração primária e é
muito difícil indentificá-lo com precisão - e.g. o casaco felpudo é que isola o corpo ou é o
fato de ter uma camada de ar próximo à pele? A pergunta é irrelevante. A decisão é
desnecessária justamente por causa da função da oração não-finita.
7.4.2 Extensão
Na EXTENSÃO, uma oração amplia o significado da outra pelo acréscimo de algo novo. O
que é acrescentado pode ser apenas uma adição ou uma substituição ou uma alternativa. As
principais categorias estão no Quadro 7(3).
Categoria Significado
(i) adição
'e', aditiva: positiva XeY
'nem', aditiva: negativa não X e não Y
'mas', adversativa X e de modo oposto Y
(ii) variação
'em vez de', substitutivo não X mas Y
'exceto', subtrativo X mas não todos os Y
'ou', alternativo X ou Y
Os referentes dos dois processos podem estar relacionados com o mundo da experiência. Se
eles compartilham o mesmo plano semiótico, então eles devem estar relacionados, pelo
menos, pela simultaneidade ou sucessão, mas não se trata de uma característica semântica.
Um exemplo de uma adversativa seria:
Nós gostamos daquele adestramento de cachorro, mas sentimos que não estávamos
no momento e local adequados.*
*
Observe que mas possui a característica semântica 'e', portanto não dizemos e mas. Pela mesma razão, não
dizemos embora...mas porque seria uma mistura de hipotaxe e parataxe; enquanto embora...ainda é muito
normal - não há 'e' em ainda.
Adições paratáticas são, muitas vezes, acompanhadas por expressões coesivas, tais como
também, além disso, por outro lado.
(ii) Variação. A oração é apresentada como um substituto total ou parcial da outra:
Não fique resmungando sozinho dessa maneira, mas diga-me seu nome e sua ocupação.
Eu queria que você soubesse, mas não encontrei o número do seu telefone.
O significado é 'em lugar de' ou 'exceto para'. Observe que o mas não é adversativo e
também não é substituível por ainda; tampouco é concessivo - não corresponde ao
hipotático embora (ver subseção 3). As expressões coesivas usadas com substituição total
incluem em vez de, ao contrário.
Uma oração apresenta-se como alternativa a outra:
Quer você prossiga para enfrentar um obstáculo, quer você espere até achar que
você tem meios para enfrentá-lo, você nunca o deseja.
Enquanto o desaparecimento dele era um indício que ele não a queria, as quinhentas
libras gastas no anel indicava que ele queria alguma coisa a mais.
Broad Chalke (Wilts), com uma mera população de 560 pessoas, possui um médico
e realiza cirurgias na cidade, enquanto muitos lugares com o dobro daquele
contingente populacional têm a sorte de, às vezes, ter uma cirurgia semanal
realizada pelo médico visitante.
Não há um limite evidente entre a aditiva e a adversativa. Essas orações, muitas vezes, têm
um componente adversativo; às vezes, não.
Não há uma forma finita para a substituição. Para a subtração, a oração finita é
introduzida por exceto que, mas (pelo fato) que; e.g.
Ele continua muito elegante, exceto o costume que ele tem, de vez em quando, de
cair para o lado.
As orações finitas com visto que, enquanto, exceto que, se elas acompanharem a
oração primária, há uma forte tendência paratática (cf. em porque, ainda que na subseção 3
abaixo). O limite entre a parataxe e hipotaxe não é muito sutil para funcionar como regra.
Se a oração estendida precedesse (desse modo torna-se temática no complexo oracional), a
relação seria hipotática. Um exemplo em que a oração estendida não pode preceder é:
Ele alegava saber tudo sobre isso - enquanto que, de fato, ele não tinha idéia do que
estava acontecendo.
Isso poderia ser interpretado como paratática. Nesses exemplos, a conjunção é sempre
inacentuada.
A forma hipotática da relação alternativa é se...não (i.e. 'se não a, então b', na qual a
oração dependente tipicamente vem antes). Por exemplo:
'você o perdeu ou, senão, estaria naquele armário'. A oração pode ser interpretada como a
condição negativa. Nós podemos dizer se não está naquele armário, então você o perdeu.
A única diferença está na escolha do Tema.
(ii) Não-finita. A forma não-finita da extensão hipotática é uma oração imperfeita;
por exemplo (estrutura α +β):
A oração não-finita, muitas vezes, é introduzida por uma preposição ou pelo grupo
preposicional que funciona de modo conjuntivo, e.g. além de, separadamente de, em lugar
de, de outra maneira, sem; por exemplo:
(aditiva)
Sem mencionar o negócio atrativo, empreender-se-á à pesquisa e ao desenvolvimento
nas duas companhias.
Além de perder o casamento, ela passou a semana inteira no hospital
(adversativa)
Mantenha adequado o impulso para frente, sem deixar as rodas girarem.
Todos jogaram ao mesmo tempo, sem esperar a vez.
(substitutivo)
Em vez de reler minhas anotações para a prova, eu me deitei e dormi.
(subtrativo)
Você não ficará livre disso; de outra maneira, deixe isso para lá.
Contudo, com a aditiva e adversativa não pode haver expressão conjuntiva; tais orações
são, portanto, idênticas às orações de elaboração não-finitas, exceto na linguagem oral em
que elas não são identificadas pela concordância de tom. Exemplos:
(aditiva)
Então ela saiu andando sem rumo, falando sozinha (enquanto andava)
(adversativa)
Difícil saber o que ela fazia; ela pegou um punhado de pau e ofereceu ao
cachorrinho. ('ela dificilmente sabia..., mas ela pegou...').
Mas, onde a seqüência for β ^ α, tal nexo não é elaboração, tampouco extensão, mas
intensificação; ver 7.4.3.
O Quadro 7(4) mostra um resumo dos principais marcadores dos nexos oracionais
de extensão.
7.4.3 Intensificação
(i) temporal
ao mesmo tempo A enquanto isso B
tempo diferente: depois A subseqüentemente B
tempo diferente: antes A previamente B
(ii) espacial
mesmo lugar C eis D
(iii) modo
meio N por/por meio de M
comparação N é como M
(iv) causal-condicional
causa: razão por causa de P, resulta em Q
causa: motivo por causa da intenção de Q, ação P
condição: positiva se ocorre P, ocorre Q
condição: negativa se não ocorre P, ocorre Q
condição: concessiva por mais que ocorra P, a expectativa era Q
_______________________________________________________________________
(i) temporal
ao mesmo tempo
mais tarde
(ii) espacial
mesmo lugar
(iii) modo
meio
comparação
Alice não quis iniciar outro assunto, por isso ela não disse nada.
Alice estava em pé, com suas mãos inclinadas porque ela esperava-o aparecer a
qualquer momento.
condição: positiva
(ele riu tanto que) os cantos de sua boca encontraram-se atrás de sua cabeça, e então eu não
sei o que aconteceria com a sua cabeça.
condição: negativa
condição: concessiva
(a) concessão ˆ conseqüência
Pareceu ter bom caráter, ainda que tivesse unhas compridas e muitos dentes.
Inegavelmente Humpty Dumpty estava muito zangado, embora ele não dissesse
nada por alguns instantes.
Uma seqüência de orações paratáticas desse tipo, cada uma indicada com uma conjunção
'intensa' específica, é a seguinte:
Eu tinha de escrever esta peça para a Sra. Grundie, mas fiz errado, então tive de reescrevê-
la por inteiro para que ela realmente se interessasse.
(ii) espacial
mesmo lugar e lá
(iii) modo
meio e + daquela maneira; (e) assim
comparação: positiva e + semelhantemente; (e) realmente, por conseguinte
(iv) causal-condicional
causa ˆ efeito (e) de fato; e + então
efeito ˆ causa pois; (porque)
condição: positiva (e) portanto; e + naquele caso
condição: negativa ou senão; (ou) de outro modo
concessão ˆ conseqüência mas; (e) todavia, contudo; mas + mesmo assim
conseqüência ˆ concessão ainda que*
Igualmente com as parataxes, há orações de tempo, lugar, modo, causa e condição que
podem ser finitas ou não-finitas.
As orações finitas são introduzidas por uma conjunção hipotática ('conjunção de
subordinação'). As não-finitas são introduzidas ou (a) por uma preposição tal como sobre,
com, por funcionando de modo conjuntivo - observe que algumas vezes a mesma palavra
funciona como conjunção e preposição conjuntiva, e.g. antes, depois; ou (b) por um
subconjunto das conjunções hipotáticas - há algumas dessas, tal como quando, que também
*
Há, portanto, três significados distintos para mas: (i) adversativo, como em eles são bonitos, mas não posso
criá-los ('por outro lado'); (ii) substitutivo, como em não os destrua, mas dê-lhes apenas o suficiente ('em
vez de'); (iii) concessivo, como em eu não cuido deles, mas eles continuam crescendo ('mesmo assim').
Apenas o último apresenta uma oposição lógica entre os dois termos.
pode funcionar com uma oração não-finita. Essas conjunções e preposições conjuntivas
mais usadas estão no Quadro 7(7).
(i) Finita. Alguns exemplos de orações de intensificação hipotática finitas estão a
seguir:
Com uma oração finita, a conjunção serve para expressar a dependência (o status
hipotático) e a relação circunstancial. Assim como as conjunções simples, tais como
porque, quando, se, e os grupos de conjunção como como se, mesmo que, pouco depois, de
modo que, há três tipos de conjunção complexa: um derivado de verbos, um de substantivos
e o terceiro de advérbios.
(a) Conjunções verbais são derivadas do imperativo ou do particípio presente/ativo
ou particípio passado/passivo + (facultativo) que: desde (que), visto (que/como),
supor/suponhamos (que), admitir (que), dizer (que). Originalmente, essas são projeções.
Sua função de conjunção de expansão reflete a superposição semântica entre expansão e
projeção no domínio das 'irrealis' (ver subseção 4): 'deixe-nos dizer/achar que...' = 'se...',
como em diga que eles não podem consertá-lo, eu simplesmente jogarei fora?
(b) Conjunções nominais incluem no caso de, na medida em que e o (a, os, as) +
vários substantivos de tempo ou modo, e.g. o dia, o momento, a maneira. Essas últimas
desenvolveram-se de sintagmas preposicionais com o encaixe da oração de intensificação,
e.g. no dia em que chegamos, mas elas, agora, servem para introduzir as orações hipotáticas
como outras conjunções, e.g. a filha deles nasceu no dia em que chegamos - da maneira
como eles estão trabalhando, o serviço acabará em uma semana.
(c) Conjunções adverbiais são já que/contanto que, até/até o ponto em que, tanto
quanto, e.g. já que você está aqui..., até onde sei..., tanto quanto eu gostaria de... (compara
com a não-finita tanto como que é extensão e não intensificação). Originalmente, essas
conjunções expressam limitação, até o ponto em que uma certa circunstância for válida.
(ii) Não-finita. Alguns exemplos de orações de intensificação não-finitas:
Para que ele tenha tempo livre, todos têm de trabalhar muito.
Por causa de seu tempo livre, todos têm de trabalhar muito.
Como ambas as formas são possíveis (i.e. no aspecto imperfeito), a regra recomenda
a forma possessiva que reflete, antecipadamente, o status destas orações não-finitas como
deslocadas em nível, mas a forma designada no uso corrente é o caso 'oblíquo' (diferente do
'nominativo' apenas nos pronomes ele, ela, mim, nós, eles) mostrando que na língua
moderna estas orações não são deslocadas em nível, mas são dependentes.
Se a oração dependente for não-finita, a relação circunstancial é declarada pela
conjunção ou pela preposição conjuntiva. As conjunções são um subgrupo daquelas que
ocorrem nas orações finitas e o significado delas é, essencialmente, o mesmo. As
preposições tendem a ser um pouco menos específicas, e.g. virando a esquina - refletir
sobre isso - você estando fora - sem John saber e o significado da oração introduzida por
uma preposição pode variar de acordo com o sentido da oração primária:
Mas o princípio subjacente a esta representação hipotática de um evento verbal é que este
não está, na verdade, sendo apresentado como verdadeiro quanto ao fraseado; o falante está
informando a essência do que foi dito, e o fraseado pode ser bastante diferente do original,
como no exemplo a seguir (no qual A é o lojista, B é um cliente com problemas auditivos e
C é o seu neto):
A. Não funciona; está quebrado. Você terá que mandá-lo para o conserto.
B. O que ele disse?
C. Que precisa ser arrumado.
(255)
Não está sendo sugerido, obviamente, que quando um falante usa uma forma paratática
“direta” ele está sempre repetindo as palavras exatas; longe disso. Mas a função idealizada
da estrutura paratática é representar o fraseado, enquanto que na hipotaxe a função
idealizada é representar o sentido, ou a essência.
Os verbos usados para relatar afirmações ou perguntas são freqüentemente os mesmos que
os usados nas citações; mas há uma diferença significativa. Na citação, o status
independente da proposição, incluindo o seu modo oracional, é preservado; assim, a função
de fala é tão explícita como na “original”. No discurso indireto, por outro lado, a função de
fala é, ou pode ser, obscurecida, sendo portanto tornada explícita no verbo que indica o
relato. Daí decorrem três implicações. (1) Na citação, a palavra disse pode projetar ditos de
qualquer um dos modos oracionais, enquanto no discurso indireto podemos encontrar disse,
perguntou e contou:
Henrique disse: “Maria está aqui” Henrique disse que Maria estava lá.
Henrique disse: “Maria está aqui?” Henrique perguntou se Maria estava lá.
Henrique disse: “Quem está aqui?” Henrique perguntou quem estava lá.
Henrique disse: “Esteja aqui!” Henrique mandou [Frederico] ficar lá.
Observe também que a forma indireta “Henrique disse a Janete quem estava lá.” responde
a pergunta de Janete “quem estava aqui?”, à qual não há uma citação equivalente. (2)
Muitos verbos semanticamente complexos para funções de fala elaboradas são usados
somente no discurso indireto, como por exemplo: insinuar, implicar, lembrar, hipotetizar,
negar, concluir, alegar, sustentar. Estes verbos raramente são usados na citação; há uma
distância experiencial grande demais entre eles e o evento de fala. (3) Por outro lado,
muitos verbos que atribuem características interpessoais e/ou comportamentais ao evento
de fala, e que são usados em citações especialmente em contextos narrativos, nunca são
utilizados no discurso indireto, porque não contêm a característica de “dizer”. Desta forma,
provavelmente não encontraremos o correspondente ao exemplo mostrado na subseção
anterior, Poirot refletiu que a discrição era algo ótimo.
Esta combinação de um processo verbal com o “relatar”, embora tratado como uma
seqüência lógica da citação a partir de uma analogia com o discurso indireto de um
processo mental, é a maneira normal de se representar o que as pessoas dizem, na maior
parte dos registros da língua inglesa [portuguesa] de hoje. A combinação oposta, de um
processo mental com “citação”, também é encontrada, embora de forma bem mais restrita.
Aqui, um pensamento é representado como se fosse um fraseado, por exemplo
Eu vi um anúncio no jornal oferecendo dachshunds e pensei “Vou só perguntar o preço” –
sem a intenção de comprar um, claro.
||| pensei || “Vou só perguntar o preço” |||
1 ‘2
A implicação é “Disse a mim mesmo ...”, uma expressão usada freqüentemente e que
reconhece o fato de que alguém pode pensar em palavras. Somente determinados verbos de
processos mentais são usados desta forma regularmente na citação, como pensar, imaginar,
refletir, supor.
Nós podemos agora rever a Tabela 7(9) e montar a Tabela 7(10). Em primeiro lugar,
entretanto, para fazer isto vamos estabelecer os termos abaixo:
projeção paratática: citação
projeção hipotática relato
o que está sendo projetado verbalmente: locução
o que está sendo projetado mentalmente: idéia
(256)
Tabela 7(10) Quatro tipos de nexo de projeção
(tabela)
Tipo de processo Taxis: Citação Relato
de projeção: paratática hipotática
Locução Fraseado Fraseado representado como
verbal Ela disse, “Eu posso” significado
Ela disse que poderia
Idéia Significado representado Significado
mental como fraseado Ela pensou que poderia
Ela pensou, “Eu posso”
Citação e discurso indireto não são simplesmente variantes formais; elas têm significados
diferentes. A diferença entre elas é resultante da distinção semântica geral entre a parataxe
e a hipotaxe, como esta se aplica no contexto particular da projeção. Na citação, o elemento
projetado tem um status independente; ele é assim mais imediato e próximo da situação
real, e este efeito é intensificado pela orientação da dêixis, que é a de drama, e não de
narrativa. A citação é particularmente associada a determinados registros narrativos,
ficcionais e pessoais, sendo usada não somente em dizeres, mas também em pensamentos,
incluindo pensamentos de terceiros projetados por um narrador onisciente, como em:
“E esta é a bancada dos jurados”, pensou Alice
O discurso indireto, por outro lado, apresenta o elemento projetado como sendo
dependente. Ele apresenta ainda algumas indicações do modo oracional, mas em uma forma
que o impede de funcionar como um movimento na troca. Além disso, o falante não afirma
que está citando o fraseado exato.
Exercícios escolares tradicionais do tipo “transforme em discurso direto/indireto” sugere
que há sempre uma correspondência entre eles. Isto é verdadeiro em termos léxico-
gramaticais, no sentido de que sempre é possível encontrar um equivalente – embora nem
sempre um único: para Maria disse que o havia visto, a citação equivalente poderia ser: Eu
o havia visto, Eu o vi ou Eu o via. ou ela (outra pessoa) o havia visto, etc. (como mostrado
no Capítulo 6, Seção 6.3, acima). Mas isto não é verdadeiro como uma afirmação geral
sobre o uso. Semanticamente, não há uma correspondência exata entre estes dois modos e
há muitos exemplos em que não há sentido em substituir um pelo outro. Observe, por
exemplo: Alice pensou que esta era a banca de jurados, onde precisemos trocar Alice
pensou por Alice disse a si mesma para evitar o sentido de “ter a opinião”, que é a
interpretação natural de um verbo de pensar quando este está projetando por hipotaxe.
Há diferentes maneiras de se referir ao que está sendo citado e o que está sendo relatado.
Tipicamente, um item de referência, normalmente isso, é usado para indicar uma passagem
citada, enquanto que um substituto, assim/não, é usado em um discurso indireto. Por
exemplo:
Ela disse: “Não posso fazer isto.” – Ela realmente disso isso?
Ela disse que não podia fazer isso. – Ela realmente falou assim?
(257)
(Veja a diferença entre referência e substituição no Capítulo 9, mais adiante.) Isto ocorre
porque o ato da citação implica em um referente anterior, alguma ocasião real à qual
podemos fazer referência, enquanto no discurso indireto não há nada além do texto
relatado. Isto explica a diferença de significado entre Eu não acredito nisto “Não aceito
esta afirmação como válida” e Não acredito que seja assim “em minha opinião, não é esse
o caso”. Compare:
O céu está para cair. (i) – Quem disse isso?
(ii) Quem disse estas palavras?
É claro que isto e assim indicam algo que é projetado, como mostrado pelo verbo disse. Em
(i), esse elemento projetado está sendo tratado como uma citação: “quem produziu este ato
verbal?” – desta forma, podemos perguntar quem disse isto? se quisermos identificar um
falante dentre muitas pessoas, como um professor falando em uma sala de aula. Em (ii), por
outro lado, a expressão o céu está para cair está sendo tratada não como um ato verbal de
alguém, mas sim como um texto; o significado é “quem afirmou que este era o caso?”, com
a implicação de que o contrário é concebível.
Em processos verbais, portanto, ele disse que simplesmente atesta a produção do fraseado,
enquanto que ele disse assim levanta a questão de se o que ele disse é realmente verdadeiro.
Em processos mentais, o quadro é mais complexo, pois a forma de referência que tende a
ser associada à certeza, e o substituto assim à incerteza; o princípio é na verdade o mesmo,
mas operando em um ambiente diferente (veja os diferentes sentidos de pensar na citação e
no discurso indireto, citados acima). O princípio é que um substituto não traz algo novo,
somente retoma o que foi dito. Ele tem, desta forma, a propriedade semântica geral de
implicar, assim excluindo as possíveis alternativas, como o substituto nominal coisa em a
coisa grande, o que significa que “há coisas pequenas e eu não estou falando delas”. Este é
o motivo pelo qual assim, que é um substituto da oração, tem o sentido de “não real”, em
contraste com o que é “real”; ao lado da (i) projeção, onde significa o que está sendo
afirmado ou postulado, é usado em dois outros contextos; (ii) hipotético, em oposição ao
existente, e (iii) possível, em oposição ao certo. Desta forma:
(i) Eu concordo mas Eu sei que não Eu sei que é assim
(ii) se é assim “ por causa disso “ porque é assim
(iii) talvez seja isso mesmo “ certamente “ certamente é assim
Veja maiores comentários no Capítulo 9.
7.5.4 Projeção de ofertas e comandos
Até aqui, nós consideramos somente a projeção das proposições; isto é, afirmações e
perguntas. Agora, devemos nos voltar à projeção de orações do tipo “bens e serviços”,
ofertas e comandos, às quais damos o nome geral de “propostas”.
Ofertas e comandos, e também as sugestões, que são simplesmente a combinação das duas
(oferta “Eu farei isso”, comando “faça isso”, sugestão “vamos fazer isso”) podem ser
projetadas parataticamente (citadas) da mesma forma que as proposições, por meio de uma
oração de processo verbal que tenha uma função de citação. Por exemplo (usando um ponto
de exclamação como uma variante notacional opcional),
Se falarmos quando ela estiver escrevendo na lousa, ela não mais que de repente ela irá
virar e dizer: “fiquem quietos!”
||| ela irá dizer || fiquem quietos |||
1 “2!
Aqui, o verbo dizer é o verbo de citação.
(258)
Assim como ocorre com as preposições, há um grande grupo de verbos usados para fazer a
citação de propostas, especialmente na ficção narrativa:
(1) o verbo geral dizer
(2) verbos específicos das ofertas e comandos, p.ex. sugerir, oferecer, chamar, mandar,
requisitar, dizer, propor, decidir.
(3) verbos que contenham uma ou mais características circunstanciais ou semânticas,
como ameaçar (oferta: indesejado), jurar (oferecer: sagrado), apressar (comando:
persuasivo), suplicar (comando: desespero), advertir (comandos: evitar conseqüências
desagradáveis), prometer (oferecer: desejável), concordar (oferecer em resposta);
(4) verbos que envolvam alguma conotação adicional (bastante idênticos aos usados
para fazer citações de propostas), p.ex. clamar, bradar (“ordenar imperiosamente”),
choramingar (“suplicar com lamúrias”), vociferar (“comandar com cólera”), protestar
(“ordenar oficialmente”), como em:
“Calma, velhão, calma”, tranqüilizou-o seu motorista
“Cortem-lhe a cabeça,” guinchou a Rainha
Estes são os “comandos diretos” da gramática tradicional, aos quais precisamos incluir
“ofertas (e sugestões) diretas”; ou seja, todas aquelas propostas projetadas como “discurso
direto”. Assim como as proposições, as propostas também podem ser relatadas; projetadas
hipotaticamente como “discurso indireto” – comandos indiretos, etc. Mas o paralelo entre a
citação e o discurso indireto não é tão próximo como no caso das proposições, porque as
propostas relatadas são fundidas gradualmente em causativas, sem qualquer fronteira clara
entre elas. Assim, não somente há muitos verbos usados na citação que não são usados no
discurso indireto – novamente os complexos: não escrevemos o seu motorista tranqüilizou-
o para ficar calmo – mas há muitos verbos usados no discurso indireto que não são usados
na citação, verbos que exprimem uma ampla variedade de processos retóricos, como
persuadir, proibir, assumir, incentivar e recomendar.
No caso das propostas, a oração relatada é finita.* No caso das propostas, estas orações
podem ser finitas ou não finitas. As orações não finitas são tipicamente perfectivas, por
exemplo, Eu disse-lhe para manter a sua cabeça no lugar, embora alguns poucos verbos
fazem projeções imperfectivas, por exemplo, ela sugeriu discutir. As finitas são
declarativas, normalmente moduladas com deveria, ser obrigado, deve, precisa, poderia,
seria, por exemplo Eu disse que você deveria manter a sua cabeça no lugar, ela sugeriu
que eles poderiam discutir.
Como decidimos onde está a linha entre estas e causativas como ela fez ele discutir? Em
uma primeira etapa, se houver uma citação equivalente com o mesmo verbo, a estrutura
será claramente uma projeção; por exemplo, a forma
||| ele ameaçou || destruir a cidade |||
“!
poderia ser colocada em paralelo com “Vou destruir a cidade!” ele ameaçou. Tipicamente,
se uma proposta for projetada, ela pode, na verdade, não acontecer; desta forma, podemos
dizer, sem contradição, ele ameaçou destruir a cidade, mas não o fez, ou a Rainha ordenou
que o carrasco cortasse a cabeça de Alice, mas ele não o fez – enquanto que é uma
contradição dizer a Rainha fez o carrasco cortar a cabeça de Alice, mas ele não o fez.
(259)
De forma mais geral, podemos assumir que qualquer verbo que denote um ato de fala pode
ser em princípio usado para a projeção. Assim, um processo verbal com uma oração
dependente não finita poderá normalmente ser interpretado como uma projeção e se uma
oração dependente não finita puder ser substituída por uma finita com modulação, isso
aumentará o seu grau de certeza, pois a distinguirá das orações de propósito:
||| ele prometeu || fazê-la feliz |||
||| ele prometeu || que iria fazê-la feliz |||
“!
é diferente de ele prometeu (para) fazê-la feliz, que é uma expansão com a estrutura ^.
As causativas estão excluídas porque não são processos verbais; elas também não têm
equivalentes finitos – nós não dizemos Eu vou fazer que você deveria se arrepender disso!.
Ver o Capítulo 7 Adicional, Seção 5.
Pode parecer que as ofertas e os comandos somente podem ser projetados de uma forma
verbal; não há equivalente, no caso das propostas, à projeção de uma proposição por um
processo mental. Não pensamos para fazer algo acontecer. Mas nós desejamos que algo
aconteça; e esta é o mesmo que uma forma de projeção. As propostas são projetadas por
processos mentais; mas neste contexto há uma distinção importante entre proposições e
propostas, decorrente da natureza fundamental destas como formas diferentes de trocas
semióticas. Enquanto que as proposições, que são trocas de informações, são projetadas
mentalmente por processos de cognição – pensar, conhecer, compreender, imaginar, etc –
as propostas, que são trocas de bens e serviços, são projetadas mentalmente por processos
afetivos de reação: desejar, gostar, esperar, temer e assim por diante. Por exemplo:
Maria espera ir à Suécia no ano que vem
Eu desejo que eles fiquem quietos
O guarda quis que as crianças ficassem longe da jaula
Eu não gosto que você vá longe demais
Desta forma, enquanto que as proposições são pensadas, as propostas são esperadas. Assim
como ocorre no caso das orações projetadas verbalmente, as projetadas mentalmente têm
fronteiras indistintas; eles se confundem com as causativas e com diversas categorias de
aspectos verbais. Os critérios relevantes são similares aos estabelecidos para as
proposições, com a exceção de que não podemos fazer um teste realista para citações, pois
as propostas mentais raramente são citadas.* No caso do discurso indireto, entretanto, se o
processo na oração dominante for de afeto e a oração dependente for uma declarativa no
futuro, ou se puder ser substituída por uma declarativa no futuro, então a estrutura poderá
ser interpretada como uma projeção; por exemplo esperamos que você não esqueça. Na
próxima seção, sugerimos uma interpretação alternativa para os casos em que uma oração
dependente é não finita e o seu Sujeito é pressuposto com base na oração dominante, por
exemplo, ele queria ir para casa (onde é difícil encontrar uma forma finita equivalente que
lhe seja próxima); mas haverá sempre um certo grau de arbitrariedade com relação ao ponto
no qual a linha é estabelecida.
(rodapé)
* Observe que “Eu gostaria que ele se fosse,” pensou Maria é uma proposta citada que
incorpora uma proposta relatada, e não uma proposta citada, que seria “Deixe-o ir” desejou
Maria. No caso das propostas mentais, ocorre o mesmo que nas propostas mentais: a noção
que está por trás da citação geralmente é “dizer a si mesmo”, ou conversar em silêncio com
uma divindade, como em uma oração.
(260)
Observe, portanto, que há uma proporção, tal que:
ela queria que ele fosse (mental) proposta
está para ela disse-lhe que ele fosse
assim como
ela sabia que ele estava indo (mental) proposição
está para ela disse que ele estava indo (verbal)
Nós podemos agora expandir a Tabela 7(10) para a Tabela 7(11):
Tabela 7(11) Projeção de proposições e propostas
Tipo de processo Táxis: Citação paratática Relato hipotático
de projeção; função
de fala projetada
1 2
Para sermos mais exatos, esta categoria seria mais anômala que intermediária, tendo
algumas das características dos outros dois tipos. A estrutura é paratática, assim a oração
projetada tem a forma de uma oração independente que mantém o modo oracional da forma
citada; mas ela é um relato, e não uma citação, assim as referências de tempo e pessoa são
deslocadas – estava e não estou. Este é um outro exemplo do princípio semonogênico pelo
qual o sistema preenche uma lacuna que criou para si mesmo. A nossa tabela agora fica
parecida com 7(12).
Como mostrado nesta tabela, o discurso livre indireto pode ser projetado verbal e
mentalmente, incluindo proposições e propostas – qualquer coisa, na verdade, que possa ser
citada e relatada.
O padrão de entonação do discurso livre indireto é ainda mais anômalo, pois segue o padrão
da citação, e não do discurso indireto: a oração projetada assume a entonação que teria se
fosse citada (isto é, idêntica à forma não projetada), e a oração projetante a segue como
“rabo”. Isto ocorre porque a oração projetada ainda tem o status de um ato de fala
independente.
* “Discurso livre indireto” compreende uma gama de diferentes combinações de recursos; é
mais um “espaço” de projeção que um padrão único univariável. A descrição apresentada
aqui representa esta categoria em sua forma prototípica.
(262)
(tabela)
Tabela 7(12) Fala direta, indireta livre e indireta
Tipo de processo de projeção
LOCUÇÃO
verbal
IDÉIA
mental
Orientação: Citação Comunicado
Táxis Paratática 12 Hipotática
Função de fala
Em todos esses casos, o substantivo é o nome de uma locução ou idéia, e a oração que ele
projeta serve para defini-lo, exatamente da mesma forma que uma oração subordinada
"restritiva" define o substantivo que é expandido por ela. Assim, qualquer substantivo que
pertença a uma oração projetante pode ser definido (restrito) por uma dessas duas maneiras,
por projeção (por exemplo, ele pensou que ela poderia um dia ser uma rainha) ou por
expansão (por exemplo, o pensamento que veio à sua mente). Isso leva a ambigüidades,
como: o relatório que ele estava apresentando, citado na Seção 7.5.8 abaixo.
Onde a oração projetada é não finita, o Sujeito pode ser pressuposto a partir da oração
primária, desde que este seja o participante que realmente esteja fazendo a projeção -
Sensor ou (mais raramente) Dizente. Assim, o pensamento de ser uma rainha (a
incentivava), o seu desejo de ser uma rainha..., a sua afirmação de ser uma rainha..., onde
"ela" está "fazendo" o pensamento, etc.; mas a notícia de que ela era a rainha (proclamada
por alguma outra pessoa), o pensamento de ela ser uma rainha (na mente de alguma outra
pessoa) e assim por diante. Esses exemplos correspondem a formas não finitas com
hipotaxe, mencionadas na subseção 4 acima: ela queria ser uma rainha ou eles queriam
que ela fosse a rainha. Nas formas finitas, obviamente, o Sujeito sempre está explícito.
A Tabela 7(13) é a versão atual de nossa tabela, um pouco reduzida para economizar
espaço.
7.5.7 Fatos
Assim, os processos verbais e os processos mentais:cognitivos são projetados no modo
indicativo (proposições), enquanto que os processos verbais e os processos mentais:afetivos
são projetados no modo imperativo (propostas). O ambiente da projeção pode ser uma
oração com um processo verbal ou mental, ou um grupo nominal com um substantivo de
um processo verbal ou mental (locução ou idéia) como o seu Núcleo.
Há um outro tipo de projeção, no qual a oração projetada não está sendo projetada por um
processo verbal ou mental com Dizente ou Sensor, ou por um substantivo de um processo
verbal ou mental, mas como se tivesse sido criada na forma projetada. Nós nos referimos a
esse tipo como um FATO.
(265)
Tabela 7 (13) Projeções paratáticas, hipotáticas e encaixadas
Nível: Complexo oracional Grupo nominal
Orientação Citação Relato
Tipo de processo de projeção:
Locução
verbal
Idéia
mental
Função de fala Paratática 12 Hipotática Encaixada [[ ]]
Táxis:
Proposição 1 "2 1 "2 " " [[
A enfermeira A enfermeira A enfermeira a pergunta da
perguntou: perguntou, dói? perguntou se enfermeira
"Dói?" doía
Proposta A enfermeira A enfermeira A enfermeira A ordem da
disse: "Não se disse, não se disse para ele enfermeira para
preocupe!" preocupe. não se que ele não se
preocupar. preocupasse.
Proposição '1 2 '1 2 ' ' [[
"Eu devo Ele falharia, ele Ele temia que o seu medo de
falhar", ele temeu iria falhar que iria falhar
pensou
Proposta "Você Ele conseguiria, Ela determinou a determinação
conseguirá", ela ela decidiu. que ele dela de que ele
decidiu conseguiria. conseguisse.
"direta" "indireta livre" "indireta" "indireta
qualificadora"
(266)
Veja "Que César estava morto era óbvio a todos. Aqui, que César estava morto,
certamente é uma projeção; entretanto, não há um processo de dizer ou pensar que o
projete. O seu status simplesmente é o de um fato; e ele pode na verdade funcionar como
Qualificador para o substantivo fato, por exemplo, o fato de que César estava morto era
óbvio a todos.
Nos dois casos, essa oração é encaixada. Como não um processo de projeção envolvido ao
qual ela possa estar parataticamente ou hipotaticamente relacionada, um fato pode aparecer
somente na forma encaixada: como Qualificador de um substantivo "fato", ou como uma
nominalização por si só (Figura 7-14).
que César estava morto era óbvio a todos
Portador Processo: relacional Atributo Receptor
Fig. 7-14 Oração atributiva com fato projetado
Embora não haja um participante fazendo a projeção - nenhum Dizente ou Sensor - um fato
pode ser projetado impessoalmente, seja por um processo relacional (esse é o caso de
que...") ou por um processo mental ou verbal impessoal, como em:
é/pode ser/não é (o caso) que ...
acontece (ser o caso) que ...
parece/é tido (ser o caso) que ...
é dito (ser o caso) que ...
foi mostrado/pode ser provado (ser o caso) que ...
Aqui, o it não e o participante de um processo projetante, mas simplesmente um lugar
reservado ao Sujeito (cf. o fato é que ...); assim, a oração fato pode ocupar a sua posição na
frente que César era ambicioso é certamente o caso / é amplamente aceito / acredita-se
geralmente, etc. Para fazer uma comparação, normalmente não dizemos que César era
ambicioso foi pensado/dito por Brutus - pelo menos não em um contexto de relato, somente
no sentido especial de "essas linhas foram faladas por..."; e isso ocorre porque, como
vimos, onde há um processo projetante pessoal, seja mental ou verbal; a oração que é
projetada por ele não é encaixada, e sim hipotática.
Diferentemente de quando há impessoais, como it is said, it seems, o ambiente típico de um
fato é um processo relacional, por exemplo (atributivo) é uma pena/óbvio/significativo que
César era ambicioso (identificativo) o motivo pelo qual César foi assassinado é que ele era
ambicioso, etc. Aqui, o fato é uma oração encaixada que permanece como uma
nominalização por si só, funcionando como a realização de um elemento na oração do
processo relacional (Portador ou Identificador/Característica), nesses exemplos.)* Como é
encaixada, ela sempre pode ser transformada em Qualificador pela inclusão do substantivo
que indica a sua classe, "fato", como em: o fato de que César era ambicioso.
Há quatro classes do substantivo fato: (1) casos, (2) chances, (3) provas e (4) necessidades.
Essa última é discutida mais adiante.
(rodapé)
* Estritamente falando, a oração "fato" encaixada funciona como Núcleo de um grupo
nominal, que por sua vez funciona como um elemento da oração que estabelece o nível.
Entretanto, como isso toma todo o grupo nominal, podemos da mesma forma deixar esse
estágio na análise estrutural e mostrá-la como diretamente encaixada na oração, como na
Figura 7-14 . Ver a nota de rodapé 7.4.5, na página 242.
(267)
(1) "casos" (nomes de fatos simples), por exemplo: fato, caso, ponto, regra, princípio,
acidente, lição, bases.
(2) "chances" (nomes de modalidade), por exemplo: chance, possibilidade,
plausibilidade, probabilidade, certeza, improbabilidade, impossibilidade.
(3) "provas" (nomes de indicação), por exemplo: prova, indicação, implicação,
confirmação, demonstração, evidência, refutação.
A primeira classe é relacionada a proposições comuns não modalizadas "é (o caso) que...";
a segunda, a proposições modalizadas "pode ser (o caso) que..." e a terceira é relacionada a
proposições com indicações, que são equivalente a modalidades de causa: "isso
prova/implica (isso é, torna certo/provável) que...".
Não há um processo mental correspondente ao fato ou chance, nenhuma implicação de um
participante consciente que esteja fazendo a projeção. Um fato, como já mostrado, é uma
projeção impessoal. Entretanto, é possível que um fato entre em um processo mental sem
ser projetado por este. Nesse caso, ele funciona como um Fenômeno dentro da oração do
processo mental. Observe o par abaixo (Figura 7-15):
(a) Marco Antônio pensou que César estava morto
Sensor Processo
(b) Marco Antônio lamentou ' [[(o fato) que César estivesse morto ]]
Sensor Processo fato Fenômeno
Fig. 7-15 Processo mental com (a) idéia e (b) fato
Em (a), a oração que César estava morto é projetada como uma "idéia" pelo pensamento de
Marco Antônio. Esta é, dessa forma, uma operação hipotática separada e, assim (i) não
pode ser precedida pelo fato; (ii) não pode ser substituída por a morte de César; (iii) pode
ser citada como: "César está morto" pensou Marco Antônio. Em (b), entretanto, a oração
que César estivesse morto, embora seja uma projeção, não é projetada por Marco Antônio
lamentou, que é uma oração de afeição, e não de cognição. Essa não é uma idéia, e sim um
fato; dessa forma é encaixada e, assim: (i) pode ser precedida por um substantivo "fato", (ii)
pode ser substituída pelo grupo nominal a morte de César, (iii) não pode ser citada
facilmente como: Marco Antônio lamentou: "César está morto", que é muito forçado. A
forma Marco Antônio temeu que César estivesse morto é um exemplo de um tipo que
permite as duas interpretações, sendo dessa forma, ambíguo: como idéia (hipotática) "ele
pensou” (e desejou que fosse diferente), ou como um fato (encaixado): "ele teve medo
porque".
Essas mesmas duas probabilidades ocorrem com os processos mentais do tipo "agradar"
(Capítulo 5), por exemplo.
(a) impressiona-me que não haja ninguém aqui
(b) preocupa-me ' [que não haja ninguém aqui]]
O primeiro significa: "em minha opinião, não há ninguém aqui', onde não há ninguém aqui
é uma idéia. O segundo significa: "não há ninguém aqui, e isso me preocupa", onde não há
ninguém aqui é um fato. As duas orações são muito distintas na fala, graças ao padrão de
entonação (veja abaixo); as diferentes análises são mostradas na Figura 7-16.
(268)
(figura)
impressiona- me que não haja ninguém aqui
Processo mental cognição Sensor
Preocupa-me que não haja ninguém aqui
Processo mental: afeição Sensor Fato Fenômeno
Fig. 7-16 Projeção hipotática, comparada com fato como sujeito posposto
É importante reforçar que as citações, relatos e fatos são categorias da linguagem, não do
mundo real. Não está implicado que o fato seja algo real. Qualquer coisa que possa ser dita
na linguagem pode ter o status de fato. O que distingue as idéias e locuções dos outros
elementos da linguagem é que os seus referentes são fenômenos lingüísticos: uma idéia
representa um fenômeno semântico, uma locução representa um fenômeno léxico-
gramatical. Dos dois, o fenômeno semântico é mais próximo do "mundo real", o mundo da
experiência não lingüística. Uma locução, como comentamos anteriormente, foi processada
duas vezes - com a conseqüência de que ela agora pode ser uma réplica exata do fenômeno
que está representando; em outras palavras, uma citação. Uma idéia foi processada somente
uma vez, como significado. Um fato é um tipo de idéia; uma que foi totalmente
"semantizada" e que não é mais explicitamente projetada, mas já embrulhada e empacotada
para tomar o seu lugar na estrutura lingüística. Ela é, assim, capaz de participar de
processos, mas não dos que não sejam processos materiais.
Assim, há uma relação natural entre os tipos de fenômenos, os processos com os quais eles
estão associados e as estruturas gramaticais. As Coisas são associadas diretamente, sem
projeção, a processos materiais. Os fatos são associados a processos relacionais;
indiretamente (sendo projeções), mas ainda como constituintes (pois o processo não é o que
os projeta). Os relatos são associados aos processos mentais; não como constituintes (o
processo é o que determina o seu status como projeções, assim dificilmente eles podem ser
participantes neste), mas de forma dependente (pois não são representações diretas de um
evento). As citações são associadas aos processos verbais; novamente não como
constituintes (pelo mesmo motivo), mas de forma independente (pois são representações
diretas de eventos verbais). Em seguida, pelo mais fundamental de todos os processos
semogênicos, os fatores associados desenvolvem-se em variáveis independentes e são
recombinados de diferentes maneiras. Dessa forma, o potencial de significado do sistema
está em constante renovação e expansão.
Análise de complexo oracional: texto 1 [Alice no país das maravilhas]
(ver que versão vai usar, ou mesmo se um outro texto)
Análise de complexo oracional: texto 2 [criança, 7 anos e mãe]
Como você vê o que aconteceu há muito tempo antes de você ter nascido?
'? x
Você lê isso nos livros?
Não, use um microscópio para olhar o que aconteceu
x
Como você faz isso?
Bom, se você está em um carro ou em um posto de observação você olha para trás
1x1 1 +2 1 1
e então vê o que aconteceu antes mas você precisa de um microscópio para ver o que
1 x 2 1 2 ' ? +2 2 x
acontece há muito tempo porque está muito longe.
2 ' 2x
(fim do capítulo 7)
08
Além da oração
Entoação e ritmo
pag.292
8.2 Ritmo
A fala natural em todas as línguas é altamente rítmica e tende a ter uma batida
regular. Mas, ela pode ser rítmica de maneiras diferentes dependendo da língua.
pag.293
Há uma divisão clara em dois tipos de ritmos em línguas, apesar de que algumas
se enquadram mais claramente em um tipo ou em outro, enquanto outras são mais uma
mistura das duas. (i) Ritmo silábico, ou TEMPO-SILABICO (SYLLABLE-TIMING):
neste tipo de ritmo o tempo depende da silaba (ou da unidade sub-silabica,the mora) , de
tal forma que todas as silabas tendem a ter basicamente o mesmo comprimento. As
línguas que cabem claramente neste tipo costumam ser aquelas que tem estrutura silábica
razoavelmente simples, como japonês e francês (N.T. e o português. Neste capítulo as
analise será mantida apenas sobre o inglês uma vez que português exigiria uma análise
muito diferente. Quando elas puderem ser bem rápidas introduziremos pequenas
observações a reespeito do portuques.). (ii) ritmo Pedaliam ou FOOT-TIMING
(comumente chamadas stress-timing): neste tipo de ritmo,o tempo depende do pé (a
unidade consistindo de uma ou mais silabas, de tal forma que todos os pés tendem a ser
mais ou menos do mesmo comprimento – isto significa, naturalmente, que as silabas
precisam varias de comprimento, pois um pé pode consistir de um numero variado de
silabas. Por exemplo se um pé com quatro silabas tiver mais ou menos o mesmo
comprimento que um pé com uma silaba, então cada uma das quatro obviamente tem que
ser mais curta que aquela do pé de uma só. Inglês é uma língua que é claramente deste
segundo tipo, ela é claramente foot-timed e não syllable-timed.
As vezes a batida será completamente regular ou tão regular quanto possível; por
exemplo em versos escritos para crianças, como
Aqui cada pé ocupa exatamente a mesma quantidade de tempo, quer tinha três silabas,
duas ou uma. Da mesma maneira ao contarmos:
... twenty / seven twenty / eight twenty / nine / thirty thirty / one thirty / two...
(silabas:) 2 4 3 1 4 3
Os pés são marcados com barra inclinada; a silaba que segue imediatamente a barra
inclinada é a silaba SALIENTE, aquela que carrega a batida (o “ictus” em terminologia
métrica).
Em fala natural, o tempo não é tão regular como estamos contando em versos
infantis. No entanto há uma grande tendência em inglês das silabas salientes ocorrerem
em intervalos regulares; falantes de inglês gostam que os seus pés sejam razoavelmente
do mesmo tamanho. É preciso enfatizar que, como as outras generalizações feitas neste
livro, esta é uma declaração sobre o que efetivamente acontece, subconscientemente, na
fala natural; não é uma regra seguir-se gramática popular ou escolar rigorosamente – nem
fugir delas como sinal de independência. A tendência de seguir uma batida regular é
muito mais marcada em fala casual, espontânea, do que em fala consciente, monitorada,
como dando uma palestra ou lendo alto; também parece mais marcada em fala britânica e
australiana que em americana ou canadense. É surpreendente que muito pouca análise
instrumental tenha sido feita a respeito até o momento; mas resultados preliminares
indicam que, em média, em conversa espontânea desenvolvida em velocidade constante,
um pé de duas sílabas terá um quinto a mais de comprimento do que um de uma sílaba
(i.e. levemente mais longo, mas nem perto de o dobro); um pé de três sílabas será
também um pouco mais longo que um quinto e assim por diante. A proposição seria mais
ou menos como:
no. de sílabas no pé 1 2 3 4
Duração relativa dos pés 1 1.2 1.4 1.6
Esta regularidade se baseia em pé ‘descendente’: ou seja, um pé com batida no
início. Teoricamente, poder-se-ia muito bem analisar uma porção de fala em pé
‘ascendente’, com a batida no final; mas isso não funciona para o inglês, porque é
impossível prever a duração relativa de sílabas dessa forma. Além disso, isso não
pag.294
corresponde aos fatos fisiológicos. Inglês é falado em uma sucessão de impulsos com a
pressão do ar diminuindo em cada um:
copiar p. 294
Aqui novamente inglês contrasta com francês, onde não o pulso corresponde a silaba (não
o pé), mas também cada pulso é caracterizado pelo aumento (não a diminuição) da
pressão do ar.
O principio do pé descendente também torna possível prever a duração relativa da
silaba dentro do pé, quando houver mais de uma. Isto nos levaria alem do escopo do
presente trabalho; encontraremos detalhes em David Abercrombie, “Syllable quantity and
enclitics in English”. Mas pode-se ouvir claramente que a silaba de dois pés não está
dividida simplesmente em duas partes iguais; no exemplo acima, o sexto pé said, said é
longo + curto, enquanto o quarto pé mother é curto + longo:
Não é preciso muito tempo para se ser capaz de reconhecer o ritmo da fala em
inglês, desde que se tenha acesso a gravações de diálogos espontâneos razoavelmente
rápidos onde haja “turnos” mantidos pelo falante. A principal dificuldade tem a ver com
trechos que poderiam ser analisados tanto como, digamos, tendo três pés longos ou seis
pés curtos, como
(por o exemplo)
Não importa qual é o preferido; aqui como um pronome como them num contexto
comum não contrastivo tende a não ser saliente, a analise em três pés é mais satisfatória -
se o mesmo fraseado for dito devagar ou enfaticamente o ritmo provavelmente teria sido
por exemplo .
Mas em geral, o ritmo será aquele que se adapte melhor ao tempo do discurso que o
rodeia.
pag.295
8.3 Tonicidade
Pág 296
uma única oração pode ser mapeada em duas ou mais unidade informacionais ou; uma
única unidade de informação em duas ou mais orações. Alem disso as fronteiras podem
coincidir, com uma unidade informacional cobrindo, por assim dizer, uma oração e a
metade da próxima. Portanto, uma unidade informacional é por si só um constituinte (ou
um constituinte autônomo). Ao mesmo tempo sua relação com os constituintes
gramaticais não é de maneira nenhuma aleatória e ocorrências de fronteiras coincidentes
são claramente “marcadas”; portanto, as duas estruturas de constituintes, a gramatical e
informacional, estão intrinsecamente relacionadas.
A unidade informacional é o que o seu nome implica: uma unidade de
informação. Informação nesse sentido gramatical técnico, é a tensão entre o que já é
conhecido ou previsível ou o que é novo e imprevisível. Isso é diferente do conceito
matemático de informação, que é a medida de imprevisibilidade. E é o jogo do novo e do
não-novo que gera informação no sentido lingüístico. Portanto, a unidade informacional é
a estrutura constituído de duas funções: o Novo e o Dado.
De foram idealizada cada unidade informacional consiste de um elemento dado
acompanhado de um elemento Novo. Mas há duas condições que fogem a esse principio.
Uma é que o discurso tem que começar em algum lugar, portanto, pode haver unidades
iniciadores de discurso consistido somente de um elemento novo. A outra é que por sua
própria natureza o elemento Dado tende a ser “fórico” – referindo-se a uma coisa já
presente no contexto verbal ou não verbal; e uma forma de alcançar foricidade é através
de elipse, uma forma gramatical na qual certas características não se realizam na estrutura
(ver capitulo 9). Estruturalmente, portanto, diremos que uma unidade informacional
consiste de um elemento obrigatório Novo mais um opcional Dado.
A maneira como essa estrutura se realiza é essencialmente “natural” (não-
arbitrária), em dois aspectos: (i) o Novo é marcado por proeminência; (ii) o Dado
tipicamente precede o Novo. Examinaremos cada uma dessas características de uma vez.
(i) Cada unidade informacional é realizada como um contorno pitch, ou TOM,
que pode ser descendente, ascendente ou misto (descendente-ascendente, ascendente-
descendente) (para detalhes dos tons veja seção sete deste capítulo). Esse pitch control
abarca todo grupo tonal. Dentro do grupo tonal, um pé (e em particular sua primeira
silaba) carrega seu principal pitch movement: a principal queda ou subida, ou mudança
de direção. Esta característica é conhecida como PROEMINENCIA TONICA, e o
elemento que tem essa proeminência é o elemento TONICO (pé tônico, silaba tônica).
Indicaremos proeminência tônica por meio de um gráfico de proeminência: impressão
com letras em negrito, sublinhado ondulado para manuscrito e impresso. Do elemento
que tem essa proeminência diz-se que carrega o FOCO INFORMACIONAL.
(ii) O pé tônico define o cume do que é Novo: ele marca onde o elemento Novo
termina. Nos casos típicos este será o último elemento funcional da estrutura oracional na
unidade informacional. Como está implícito, a seqüência típica dos elementos
informacionais é ,portanto, Dado seguido pelo Novo. Mas enquanto o final do elemento
Novo é marcado pela proeminência tônica, não há nada que marca onde ele começa;
portanto, já uma indeterminação na estrutura. Se pegarmos uma ocorrência fora de
contexto, podemos dizer que ela culmina com o Novo; mas não podemos dizer com base
na fonologia, onde há um elemento Dado primeiro, ou onde seria a fronteira entre Dado e
Novo. (Isto nem sempre é verdade; ver abaixo.) Por exemplo, na Figura 8.1 sabemos que
on the burning deck é Novo, porque esse é o elemento onde a proeminência cai; mas não
sabemos se o novo se estende também a stood e the boy.
pág. 297
Figura 8.1 Unidade com apenas o elemento Novo
Exemplo
Exemplo
Isoladamente também não dá para decidir aqui; tudo que sabemos é que pelo menos love
é Novo. Mas dada a oração precedente sabemos que silver é na realidade Dado; o
elemento Novo começa em needs:
Exemplo e figura
Figura 8-3. Indicações rítmicas da estrutura informacional
(Como mencionado acima não é bem verdade dizer que não há indicações
fonológicas de estrutura de Dado e Novo antes da proeminência tônica; essa é uma das
funções da variação no ritmo. Compare as duas versões abaixo:
figura
em (a) needs é saliente, o que indica que é o começo do Novo, enquanto em (b) é parte do
pé proclítico inicial, refletindo o fato que nesse caso é o Dado, sendo mencionado na
oração anterior, mas nem todos os elementos Dado se caracterizam por essa ausência de
saliência.
A posição não-marcada para Novo é no final da unidade informacional. Mas é
possível ter material Dado seguindo o Novo;e qualquer material acentuado que siga o pé
tônico é ,portanto, assinalado como sendo Dado. Por exemplo:
Pág.298
Ex
Agora já podemos ver mais claramente qual o significado real dos termos Dado e
Novo. A variável significativa é: informação que é apresentada pelo falante como
recuperável (Dado) ou informação que não é recuperável (Novo) pelo ouvinte. O que é
tratado como recuperável pode sê-lo porque foi mencionado antes; mas essa não é a única
possibilidade. Pode ser algo que está na situação como eu e você; ou algo que está no ar,
por assim dizer; ou algo que não está nos arredores mas que o falante quer apresentar
como Dado por propósitos retóricos.O significado é: isto não é novidade. Do mesmo
modo, o que é tratado como não recuperável pode ser alguma coisa que não foi
mencionada, mas também pode ser alguma coisa inesperada, quer mencionada
anteriormente quer não. O significado é: preste atenção nisto: isto é novidade. Uma forma
de “novidade” que é freqüente em diálogo é a ênfase contrastiva, como aquela em you
(você) e I (eu) (N.T. A esse respeito português funciona da mesma forma).
colocarex
Pág. 299
A criança começa com uma oferta de informação na qual tudo é novidade; o foco está em
seu lugar não-marcado, no final. A oferta é aceita e ele continua com explicação. A
estrutura esta agora na tabela 8.1:
Tabela 8(1) Elementos Dado e Novo no texto “North Star”
(note em relação a discussão no capitulo a seguir, o capitulo 09, que todos os itens Dado
e também os itens Novo que são contrastivos, são também coesivos no discurso.) Na
explicação cada uma das quatro orações está estruturada em duas unidades
informacionais: o foco é (i) em itens contendo informação nova (the magnet, gets
atracted, by the earth); e (ii) itens contrastivos ( that (= the North Star), the other
(estrelas, isto é, não a estrela do norte) don´t (ser atraído) they (de novo em contraste com
a estrela no norte) move around (também em contraste com stay still). Note em relaçãoi a
seçao sete dess capitulo que todos os itens novos tem tom 1 e todos os itens contrastivos
tem tom 4. Os itens Dado são as referencias anafóricas ao item it; a palavra stars (pós-
tônica seguindo other), e os conjuntivos because... and... but... so... (voltando a why do
primeiro turno.)
Exemplo
Tradução assim ou literal?Você está voltando pro pedaço? Você ressuscitou?
- eu não sabia que estava fora.
- eu não te vejo há séculos.
O falante 1 inicia o diálogo: (i) Tema are you ´Eu quero saber algo sobre você; conte-me
sobre você – sim ou não?´; (ii) into circulation tratado como Dado, ´essa é a norma´, com
o Novo composto do back contrastivo ´mas você esteve fora´ mais o novo are you
coming ´portanto eu preciso uma explicação´.
Figura
Fig 8-6 Tema e informação (2)
O falante 2 reconhece o ataque e se defende com uma ironia leve: (i) Tema: `from my
angle`, com I did´t know como uma metáfora interpessoal par ìn my estimation`mais a
negativa (ver Capítulo 10); (ii) Informação: Nova = o out contrastivo (contrastivo com
back)e se extendendo para todo o segmento anterior exceto, talvez, o I inicial: as I see it I
was not away, so you are wrong´.
301
Fig 8-7 Tema e informação (3)
O falante 1 volta ao ataque de uma forma que um autor de ficção ´acusador`: (i) Tema: I,
isto é, ´I stick to my perspective (a única que interessa)`; (ii)Informação: Nova = seen
contrastivo (daí o elemento oracional haven´t seen) ´so you were out of circulation´; for
ages tratado como Dado por referencia ao elemento anterior into circulation com
implicação de regularidade por um longo período de tempo. A mensagem geral é: ´você
não estava onde eu estava para estar a par de tudo: portanto, é problema seu`. Não é
difícil fazer um esboço das características dos dois falantes com base nesse pequeno
diálogo. Note que não é porque algo não é fonologicamente proeminente que não é
importante para a mensagem!
A entoação e o ritmo mostrados aqui são como eram na ocasião observada. Pode-se
pensar em várias variantes na semântica do texto. O falante 1, por exemplo, poderia ter
colocado outro foco em I na última linha:
Ex
Fazendo assim com que sua característica auto centrada ficasse um pouco mais explícita.
Um exercício útil é pegar uma passagem de diálogo espontâneo e variar a textura de
Tema + Rema e Dado + Novo, observando os efeitos. Pode-se, assim, ver claramente
como esse jogo entre a estrutura temática e informacional carrega o significado/gist
retórico da oração.
Vejamos mais um exemplo de estrutura informacional marcada e não-marcada,
mostrando como o que é marcado em um contexto pode ser não-marcado em outro. No
Capítulo 3 nos referimos aos sistemas de nominalização na oraçãoem inglês, sistemas
cuja função é distribuir os elementos da oração em estruturas alternativas de Tema e
Rema. Há dois tipos principais: IDENTIFICAÇÃO TEMÁTICA, como em what Little
Miss Muffet sat on was a tuffet, ou the one who sat on a tuffet was Little Miss Muffet; e
PREDICAÇÃO TEMÁTICA: como em it was Little Miss Muffet who sat in the tuffet , ou
it was a tuffet that Little Miss Muffet sat on. Agora, foi dito acima que o local nã-marcado
do foco da informação é no final da oração (no final do elemento lexical, para sermos
precisos); e isso é geralmente verdadeiro. Mas, em condições especiais de predicação
temática, há uma inversão de marca: nesse caso, o foco da informação não-marcada está
localizado no Tema. Poe exemplo:
Tabela 8(2) Foco de Informação marcada e não-marcada, combinado com tema marcado
e não marcado
quadro pg301
pg 302
É função específica deste sistema relacionar Tema + Rema com Dado + Novo de tal
forma que o foco caia no Tema; Isto faz com que Tema seja Novo e Rema seja Dado.
Mas, esta, por sua vez, é a condição não-marcada, de tal forma que, novamente, haverá
uma variante marcada em contraste com ela. Poderíamos construir um contexto para a
variante marcada como o seguinte:
8.7 TOM
Tons compostos. Como o tom 3 é usado para informação contingente, ele frequentemente
ocorre preso ao final de outro tom, e preso a ele tão firmemente que a combinação
constitui um único grupo tonal. Isso acontece particularmente (i) com adjuntos em final
da oração, e (ii) com outros elementos que ocorrem em posição final na oração e são, por
assim dizer, semi-Novos – ou seja, mencionados anteriormente, mas ainda com status de
notícia. Eis abaixo um exemplo de cada tipo (inventado):
(i)
(ii)
Eles não são tratados como grupos tonais compostos porque se vai de um ao outro sem
interrupção – isso acontece em qualquer sucessão de grupos tonais - mas porque nesses
casos não há opções pré-tônicas disponíveis com o tom 3 (ver abaixo a respeito de
tônicas e pré-tônicas). Vai daí a interpretação como um único grupo tonal, TOM 13 (um
três’e não ‘treze’). O outro tom composto que ocorre é o TOM 53 (‘cinco três) Não há
um tom ‘dois três’ ou ‘quatro três’ porque os tons 2 e 3 já terminam em subida. Portanto,
a adição de uma subida final é fonologicamente distintiva nesses dois tons.
304
Ex
Pq 305
8.9. Chave
Em uma oração declarativa o tom não marcado é o tom 1 (descendente); ele expressa
uma declaração sem outros traços concomitantes. Outros tons expressam uma declaração
com outras características semânticas adicionais, como:
tom 2: declaração + contradição, protesto
exs
exs
Exemplo
Em cada caso the one with the little feathers ecoa exatamente o tom de of my green hat,
ao qual está em aposição.O mesmo princípio se estende à oração relativa não definida,
que é seu equivalente hipotático; o exemplo acima poderia ser substituído por my green
hat, which I had on yesterday, e o mesmo tom de concordância tonal funcionaria como
sua realização (ver Capítulo 7, Sessão 7.4.1).
(2) SEQUÊNCIAS TONAIS: seqüências tonais 1-1, 3-1 e 4-1. Uma sequencia
de duas orações semanticamente relacionadas podem estar relacionadas na
gramática (a) coesivamente, (b) parataticamente, (c) hipotaticamente. Eis um
grupo de exemplos típicos:
Exs pg 306
As seqüências tonais 1-1, 3-1 3 4-1são as realizações não-marcadas dessas três relações
respectivamente.
No entanto, como é típico das associações entrevasriantes gramaticais e
vonológicas, as características tonais e estruturais podem ser combinadas de qualquer
forma. Aqui, da forma como representamos, há nove possibilidades; e cada uma tem
aspectos particulares. Se, por exemplo, o falante disser:
Exemplo pg 307
Há uma tensão entre a estrutura lexico-gramatical, que trata as duas partes como coesivas
mas não relacionadas estruturalmente, e a estrutura prosódica, que trata a primeira oração
não só como incompleta mas como dependente da segunda para ser interpretada.
Teremos efeito contrário em
Ex
Ex
Obviamente, o problema é que, como essas formas são marcadas, o sistema de escrita não
tem maneiras claras de indicá-las. Na melhor das hipóteses pode assinalas que está
acontecendo algo diferente, e deixar para o leitor a descoberta do que é esse algo.
O esboço de ritmo e entoação dado neste capítulo tem por finalidade atender as
necessidades de entendimento de texto em um nível compatível o grau de delicadeza
alcançado no restante do livro – que, podemos dizer, é um esboço. A notação, mostrando
estrutura rítmica e entoacional, proeminência tônica e tom representa o que precisa ser
explicado por uma gramática funcional afim de tornaR explícitas as contribuições dessas
características para o significado geral de um texto.
Traduzido por: Rodrigo Esteves de Lima Lopes
Todos os exemplos retirados do banco de português.
Termos de sistêmico em português retirado da lista do projeto DIRECT.
Ao redor da Oração
Coesão e discurso
Nos próximos 2 capítulos nós trabalharemos com a organização textual da oração. No capítulo 3,
descrevemos a estrutura temática, baseados nas funções do Tema e do Rema; ao passo que no
capítulo anterior nós trabalhamos com a estrutura da informação, baseados nas funções Novo e
Dado.
Tamto o tema como a informação são realizados como configurações da estrutura de funções,
apesar de possuirem importantes diferenças. O tema é um sistema da oração, e é realizado pela
sequência na qual os elementos da oração são ordenados - o Tema está em primeiro lugar. A
informação não é um sistema da oração: ela tem um domínio próprio, a unidade de informação, a
qual tipicamente corresponde à oração, mas não necessariamente. Ela tem sua própria realização na
forma de proeminência tônica - que normalmente assinala o final de uma unidade de informação, o
que, contudo, pode não ocorrer necessariamente. São essas diferenças que tornam possível a várias
combinações entre os padrões informacional e temático. Em teoria, não há razão para que a
informação Nova e a informação Dada também não sejam organizadas como um sistema oracional,
realizada por uma seqüência de elementos , como o Tema e o Rema, baseado apenas na posição
final, ao invés da inicial, sendo a nova findo sempre por último. Observe-se, contudo, que uma
configuração como esta teria diminuído o potencial desses dois systemas, uma vez que eles seriam
combináveis apenas de uma forma, que estaria no Rema. Da forma como é, Tema+Rema e
Dado+Novo são tipicamente combinados dessa forma, ao mesmo tempo que são independentes um
do outro: é possível que um elemento seja Tema e Novo, o que seria uma escolha significativa. Em
outras palavras, tema e informação são relacionados por um “princípio da razão”: sendo as coisas
iguais, a unidade de informação também é uma oração, e, portanto, uma unidade temática; a
informação Nova segue a Dada, e logo o foco da informação o qual culmina com a informação nova,
também culmina com o aparecimento do Rema.
Tema e informação juntos constituem os recursos internos para para estruturar a oração como
mensagem, para dar a ela um estatus específico em relação ao discurso que está a sua volta.
Contudo, para que uma seqüência de orações, ou orações complexas, constitua um texto, é
necessário fazer mais do que dar uma estrutura interna para cada. è necessário tornar explícita a
relação externa entre as orações, ou orações complexas, fazendo-o de uma forma que não seja
dependente da estrutura gramatical.
Nós já descrevemos os padrões de relação estrutural entre as orações (capitulo 7), sendo que são
essas relações que produzem os complexos oracionais. Um complexo oracional corresponde, de
forma bem próxima, a uma oração na linguagem escrita; de fato, é a existência do complexo
oracional na gramática que leva a evolução da oração dentro do sistema de escrita. Contudo, o
complexo oracional tem algumas limitações no que tange à sua contribuição para a textura do
discurso. Os elementos que são combinados nele devem ser frases, as quais devem ocorrer próximas
umas as outras no texto, o que é inerente a estrutura gramatical do discurso.
Como vimos, um grande número de relações semânticas estão representadas nas ligações entre os
termos de um complexo oracional. Contudo, de forma a a construir um discurso, precisamos ser
capazes de estabelecer outras relações dentro do texto, as quais não estão sujeitas as mesmas
limitações.. Essas relações devem envolver elementos de qualquer extensão, maiores ou menores que
uma oração, partindo de palavras isoladas até passagens mais longas. Essas relações devem se
preservar dentro de lacunas de qualquer tamanho, tanto dentro da oração como além dela, sem
desvio, seja qual for a causa. Isso não pode ser conseguido pela estrutura gramatical, isso, de fato,
depende de um recurso de natureza diferente. Esses recursos não-estruturais são quais nos referimos
pelo nome de coesão.
Há quatro formas pelas quais a coesão pode ser criada: através da referência, elipse, sequencial e
organização lexical, os quais podem ser ilustrados pelo texto a seguir:
O Cavalinho Branco
(Cecília Meireles)
À tarde, o cavalinho branco
está muito cansado:
O uso de ele... seus... sua... é uma forma de referência ao cavalinho branco. Elementos como
Descansa... trabalhou são exemplos de elipse, uma vez que o sujeito da frase, que é o “cavalinho
branco”, não está presente. Já palavras como campo, vento , flores, raízes são exemplos de coesão
lexical, por retomarem elementos que designam um determinado ambiente. Por fim o uso de mas
está relacionado a coesão sequencial, uma vez que estabelece uma relação lógica entre as duas
orações.
Vamos agora apenas resumir, em linhas gerais, cada um desses elementos e, posteriormente, dedicar
um capítulo para cada.
(1) Referência. Um participante ou elemento circunstancial pode ser usado como referência. A
grosso modo, isso significa que o mesmo elemento ocorreria de novo, como O cavalo sacode a
crina ... Seu relincho estremece. Mas isso significa que essa forma de coesão também pode ser
usado como comparação, como é o caso de alguém em Se fosse roubar alguém, roubaria alguém
bom ou seja robaria alguém que não fosse mal.
(2) Elipse. Uma oração, ou parte dela, ou uma parte (incluindo o elemento lexical) de um sintagma
verbal ou nominal pode ser pressuposto no texto graças ao recurso da omissão, que significa dizer
nada no lugar em que algo deviria estar presente para que o sentido pudesse existir. Nesse contexto,
ou a estrutura é simplesmente deixada em branco, como em Eu não me mexi, ao invés de Eu não me
mexi ai. No caso específico da língua inglesa, alguns elementos podem ser inseridos para sinalizar a
omissão, como é o caso do verbo auxiliar do em I do, oração que chamamos de substituição.
(3) Coesão sequencial. Uma oração, um complexo oracional ou ainda uma porção maior de texto,
pode estar relacionada ao que se segue por algum elemento pertencente a um conjunto de relações
semânticas específicas. Essas relações são, basicamente, do mesmo tipo daquelas utilizadas entre
orações em um complexo oracional expandido, como descrito no capítulo 7, chamadas elaboração,
extensão e intensificação. As categorias mais gerais são aquelas de explicação, adição, espaço-
temporal, modo, causal-condicional e assunto.
(4) Coesão lexical. Continuidade pode ser estabelecida em um texto através da escolha de palavras.
Isso pode ser alcançado pela repetição de palavras; ou pela escolha de um vocábulo que esteja
relacionado ao anterior, seja semanticamente, o que significaria, a grosso modo, que eles poderiam
ser sinônimos, seja colocacionalmente, ou seja uma tendência bastante forte de co-ocorrência. A
coesão lexical pode ser mantida em passagens longas graças a presença de palavras-chave, palavras
que tem um significado para o especial significado de um texto.
Estes recursos, quando encarados em conjunto, formam os recursos para formação textual, aos quais
me referi anteriormente. Eles tornam possível ligar elementos de qualquer tamanho, estejam eles
acima ou abaixo do nível oracional, bem como em qualquer distância, estejam esses elementos
relacionados estruturalmente ou não. Note-se, contudo, que esses recursos possuem características
diversas. A referência é um relacionamento entre coisas, ou fatos (fenômenos ou metafenômenos);
podendo ser estabelecida em distâncias variáveis. Apesar dela normalmente servir para para
relacionar elementos simples, os quais tem uma função na oração (como processos, participantes e
circunstâncias), ela pode dar a qualquer passagem de um texto o estatus de fato, e, dessa forma,
transformá-lo em um participante. Por exemplo, o que em:
Até hoje, apenas 2 grande acidentes ocorreram, o que o torna, estatisticamente, o meio de transporte
mais seguro do mundo. (carta de venda de assinaturas)
Elipse, incluindo a substituição, é um relacionamento que envolve uma forma específica de fraseado,
podendo ser tanto uma uma oração como um item menor. Ela normalmente ocorre em a passagens
de texto próximas ou contíguas, ocorrendo como uma característica comum de diversos 'pares
adjacentes' utilizados em diálogos, como é o caso de perguntas e respostas:
FALTA EXEMPLO
As relações de coesão seqüencial tipicamente envolvem elementos contíguos que podem ter até o
tamanho de um parágrafo, ou seu equivalente em linguagem falada. Nesse sentido, a coesão
seqüencial é uma forma de estabelecer as relações lógicas que caracterizam as orações complexas na
ausência de relações estruturais pelas quais tais complexos se definem. Por exemplo:
Sabemos que seu tempo é curto, e que certamente vocês irão dedicar parte desse tempo na leitura de
nossa revista, portanto vamos ao que interessa. (carta que vende anúncios publicitários)
Finalmente, a reiteração e a colocação são relações entre elementos lexicais, mais comumente entre
elementos simples, como palavras ou grupos maiores, por exemplo, locomotiva (palavra), Maria
fumaça (grupo), motor a vapor (frase nominal), fumaçar (processo). Todavia, esse recurso pode ser
usado também na retomada de grupos que são maiores que um item lexical, como ponha o navio a
todo o vapor. “Lexical ties” são independentes da estrutura, e podem ligar grandes passagens de
discurso. Um exemplo seria o excerto a seguir, no qual a pesca ocorre no começo e no final do
período:
A opção pela pesca é quase que natural, tendo em vista nossos objetivos de sem perder o que já
conquistamos, ampliar os horizontes de negócios para novos anunciantes agregando uma
significativa e heterogênea massa de consumidores que tem em comum com os produtores rurais, a
paixão pela pesca. (carta que vende anúncios em programa de TV)
Várias instanciações da coesão envolvem dois ou três “ties” de diferentes tipos, ocorrendo de forma
combinada. Por exemplo:
9.2 Referência
(1) Parece bastante possível que a referência tenha surgido, inicialmente, como uma relação
“exofórica”, ou seja, como uma forma de ligação com o que é externo, com alguma pessoa ou objeto
no ambiente. Por exemplo, o conceito de “ele” provavelmente originou-se de “Aquele homem ali”.
A primeira e a segunda pessoas, como eu e você(s)1, naturalmente mantém esse sentido dêitico, pois
seu significado é definido no ato de fala. As formas de terceira pessoa ele(s), ela(s) podem ser
utilizados exoforicamente; sendo, contudo, mas comumente, pelo menos nas línguas que
conhecemos, utilizado anaforicamente. Em outras palavras, eles não apontam “para o lado de fora”,
para o ambiente, mas sim “para trás”, para o texto que o precede. A seguir temos um típico exemplo,
no qual ele e sua são anáforas, “apontando” ambas para Mozart:
Mozart deslumbrava platéias por toda a Europa com as suas belíssimas composições para cravo.
tocava como um anjo. Compunha sem esforço. Aos 10 anos ele era uma sensação.(carta de venda de
1Em português poderíamos acrescentar também tu e vós, utilizados em algumas regiões do Brasil e previstos no dialeto
padrão, ou norma culta. (N. do T.)
CDs)
Uma relação anafórica dessa natureza cria aquilo que chamamos de coesão. Ao ouvir uma dessas
palavras, o ouvinte deve procurar seu significado em algum lugar; olhar para trás, para algo que
tenha sido dito anteriormente. Isso cria um efeito de ligação entre duas passagens em uma unidade
coerente, tornando-se parte de um texto.
A qualidade de textura depende parte da coesão e parte da estrutura. Se o pronome e seu referente
estão no mesmo complexo oracional, elas já serão um texto por virtude de seu relacionamento
estrutural entre as orações; a coesão adiciona apenas mais uma dimensão a textura. Se por outro
lado não houver uma relação estrutural, a coesão se torna o único fator de ligação,e, portanto,
crítico para a criação do texto. A relação coesiva em si não é afetado por questões de estrutura, por
exemplo em “Os Conjuntos Belmódulo passaram a ter Gaveteiros Multi-uso Cia. Eles recebem
novos rótulos...”, Gaveteiros...eles foram um padrão idêntico, estejam , ou não, no mesmo
complexo oracional, com uma função importante no discurso caso não estejam.
Tabela 9(1)
(1) Pessoais Head Dêiticos
Classe/função Determinantivos Possessivos
Singular Masculino ele/-o/-lhe dele/seu dele/seu
Feminino ela/-a/lhe dela/sua dela/sua
Plural Masculino eles/-os/-lhes dela/sua deles/suas
Feminino elas/-as/lhes delas/suas delas/suas
(2) Demonstrativos
Classe/função Head Dêiticos Adjuntos
Específicos Próximo este/estes este/estes aqui(agora)
Intermediário esse/esses esse/esses lá, ali
Remoto aquele/aqueles/aqu aquele/aqueles/aquelas/ acolá(então)
elas/aquela/acolá aquela
(3) Comparativos
Classe/função Dêitico/ Epiteto Adjunto/submodificado
numerativo r
Geral Identidade mesmo, igual, identicamente,
idêntico igualmente etc.
(1) Pessoais Head Dêiticos
Similaridade similar, parecido tal (qual) similarmente, da mesma
forma etc.
Diferença diferente, diferentemente, a
insemelhante despeito
Particular mais que, menos Maior que, mais ou Melhor &c, mais,
que, como, &c+ menos, &c+ adj. menos &c + adv.
numeral
(2) O segundo tipo de item referêncial é o demonstrativo, esse/essa, aquele/aquela (cf.: breve
descrição dada no capítulo 6). Demonstrativos podem também ser tanto anafóricos como exofóricos.
Originalmente eles deveriam ser muito similares às formas em terceira pessoa, mantendo, entretanto,
uma grande força dêitica, além de terem desenvolvido algumas funções anafóricas próprias.
No caso específico da língua inglesa, o significado básico de “this” (este) e “that” (aquele) é o da
proximidade; this refere-se a algo que está perto, ao passo que o that significa “não perto”, sendo
que that tende a ser mais inclusivo. Proximidade é tipicamente algo relacionado com o ponto de vista
do falante; logo this (este) significa “perto de mim”. Em algumas línguas, como apontado
anteriormente, há uma forte relação entre demonstrativos e pessoais, a tal ponto que há três
demonstrativos. Assim teríamos, no caso do inglês, a referência seria perto de mim (this), perto de
você (that) e perto de nós (yon). Este padrão foi comum em inglês e pode ainda ser encontrado em
algumas variedades rurais, como no norte da Inglaterra e o escocês. No inglês padrão e moderno yon
não mais existe, apesar de nós, às vezes, encontrarmos a palavra yonder retirado do conjunto: here
(aqui) there (lá) e younder; sendo que um outro desenvolvimento ocorreu nesse tempo. Vale a pena
ressaltar que em línguas como o português e o espanhol, a presença de três pronomes está ligada a
existência de diferentes níveis de proximidade presentes nos demonstrativos: este refere-se a algo
que está perto, esse a algo “menos perto”, ao passo que “aquele” a algo “mais distante”; o mesmo
poderia se dizer em relação a aqui (cá), mais perto, lá, menos perto, e acolá, mais distante.
Observando-se que em inglês há apenas dois demonstrativos, “this” (este) e “that” (aquele), é
esperado que o segundo seja mais inclusivo que o primeiro; tendendo ser o elemento não marcado
do par. Isto aconteceu em inglês; e o adicionando ao processo novo demonstrativo, tomando e
estendendo o sentido não marcado de that – deixando this e that um par ainda mais relacionado.
Esse seria, em língua inglesa o “chamado” artigo definido the (o, a, os, as). A palavra the é ainda um
demonstrativo, mesmo que seja de um tipo bem particular:
(a) As viagens para pesca em outras regiões específicas - como o Pantanal e as praias do litoral
(b)Este suplemento REFORMAS & CONSTRUÇÃO circulará toda última quinta-feira de cada mês
com informações e serviços...
(c) Vai conhecer um Blackbird , o avião mais rápido do mundo
Em (a) nós sabemos qual “pantanal” e quais “praias” estamos estamos falando, mesmo que não
estejamos em nenhum desses locais; existe apenas um pantanal e, por motivos práticos, apenas um
conjunto de praias. Pode haver outras praias em diferentes locais do mundo, e até mesmo outras
regiões com biodiversidade e condições ambientais similares a um pantanal, mas isso é irrelevante.
Em (b) sabemos qual “suplemento” estemos no referindo, uma vez que isso nos é dito --- sabemos
que é o REFORMAS & CONSTRUÇÃO. Já em (c) sabemos qual é o avião, é o Blackbird; contudo
aqui a informação foi dada antes da ocorrência do artigo. Apenas em (c), portanto, o artigo é
anafórico.
Como os pessoais, e outros demonstrativos, o artigo definido tem uma função específica; é o sinal de
que “você conhece aquele(s) de que estou falando”. Entretanto, há uma importante diferença: outros
elementos apontam não somente que a identidade é conhecida, ou conhecível, mas também
explicitam como a identidade é estabelecida. Então:
Contudo:
Em outras palavras, o artigo definido meramente anuncia que a identidade é específica, ele não a
especifica, pois a informação está disponível em algum lugar. Ela pode estar no texto que a precede
(anafórica), como o item (c) acima, no texto que se segue (CATAFÓRICA), como (b); ou soltas no
ar, como em (a). A referência feita em (a) é auto-especificada; há apenas um, ou pelo menos um que
faz sentido no contexto, algo como: Você deu comida para o gato? (Homofórica)
Logo, o artigo definido é um demonstrativo não marcado, enquanto this (este/esse) e that (aquele)
são ambos termos marcados, não se incluindo. Seus sentidos dêiticos básico são “próximo” e “não-
próximo” a partir do ponto de vista do falante. Mas eles são também usados para referir-se ao texto.
O termo “perto” representado por this (este/esse) comumente se refere a algo tanto de forma
anafórica, algo que acabou de ser mencionado, como em (a) a seguir, ou pelo falante ou outro ser
considerado “perto”, como catafóricamente, algo que está por vir, como em (b):
(a) ...a newsletter semanal que será dedicada a gestão de marcas, incluindo artigos, teses e cases
nacionais e internacionais. Este serviço será exclusivo dos assinantes de ACME...
(b)Uma amiga traduziu esta canção, que é uma "carpe diem" que descende diretamente daquele
velho bon vivant romano, Horácio:...
O pronome singular this (este) também é usado para para se referir a passagens inteiras, como em
(c):
(c) ...bebês brasileiros passaram a ser judeus porque sua conversão foi registrada em Nova York.
Mesmo esta brecha, porém, será fechada com uma lei a ser submetida ao Parlamento em breve por ...
No caso do português, o isto (isso) pode se referir a algo que tenha sido mencionado pelo primeiro
falante, agora ouvinte, como em (d):
Já no inglês, that (aquele) é tratado como um elemento mais distante, a partir do ponto de vista do
falante, podendo inclusive, substituir passagens textuais. Isso não ocorre em português, onde aquele
é utilizado para a referência de distância, ao passo que esse(a)(s), isso, isto são os elementos
utilizados na substituição de trechos discursivos, o que seria, muitas vezes, equivalente, também ao it
em língua inglesa:
... nesse mercado de exibicionismo e oportunismo selvagem da música popular brasileira. São
tempos mortos aqueles do show dos anos 80.
That (aquele) pode assim se referir a uma passagem integral de texto, como em (f)
(f)”if that's all you know about it, you may stand down”, continued the King.
Nesse caso, that (aquele) se refere a toda a interrogação que precedeu, duas páginas de história. No
caso específico do português, esse tipo de função seria realizado por um outro demonstrativo, como
é o caso de isso:
Ele faz seu serviço. Se não estudou mais, isso se deveu ao fato de ter corrido ainda jovem em busca
do prato de comida.
Note-se que no inglês it tem um função similar, sendo usado para referência a porções do texto:
“So here is a question for you. How old did you say you where?”
Alice made a short claculation, and said “Seven years and six months”
“Wrong!Humpt Dumpt exclaimed trinumphantily. “You never said a word like it”
Os locativos here (aqui) e there (lá,ali) também são usados como elementos de referência; here
(aqui) pode ser catafórico, como em (g) acima, ou anafórico e “próximo” como em (h), there (lá, ali)
é anafórico, mas não significa perto, como em (j), “naquilo que você disse”:
Vamos analisar aqui [nesta secção] somente um ponto nas leituras da fábula, ou seja, a parte final
correspondente a uma...
O problema da Votorantim é mais complicado, porque ali não haverá uma sucessão de chefes mas
uma separação de corpos.
Os elementos temporais como now (agora, já) ou then (então) também funcionam como itens
coesivos, mas sua função é preferencialmente conjuntiva e não referencial.
(3) Há um terceiro tipo de referência que contribui para a coesão textual, a referância
COMPARATIVA. Seja com elementos pessoais ou demonstrativos, quando usada anaforicamente,
estabelece uma relação de co-referência, na qual a mesma entidade é referida mais de uma vez;
comparativos estabelecem uma relação de contraste. Na referência comparativa, o item referencial
sinaliza “você sabe qual”; não devido ao fato da mesma entidade está sendo referida continuamente
mas porque há um padrão de referência – alguma coisa a qual me refiro é a mesma coisa ou não,
como similar e não-similar, igual e diferente, mais ou menos.
Qualquer expressão do tipo o mesmo, outro, similar, diferente, grande como, maior que, menor
que, e seus advérbios, como igualmente, diferentemente, igualmente, pressupõe algum padrão de
referncia no texto que o precede. Por exemplo tal, outro e mais:
Mamma Mia" (Abba) e a impagável "I've Never Been to Me" (Charlene) fizeram sucesso tal e qual
duas décadas antes, na era mais divertida da história da música baba para...
Mercado Egípcio, onde também é possível comprar plantas medicinais; além desse, há um outro
mercado popular no charmoso bairro ''fin-de-siècle'' de Galata
A farinha mais barata, matéria-prima de massas, pão e biscoitos, é consequência da queda para US$
150...
A exemplo dos pessoais e dos demonstrativos, os comparativos referenciam itens que que podem
também ser usados cataforicamente, dentro de um grupo nominal; for exemplo, É mais fácil fazer
uma menina do que consertar uma mulher (dito popular), onde a referência do mais está no texto
que se segue.
9.3. Elipse
Outra forma de coesão anafórica é a elipse, que pressupõe algo por meio da sua ausência. Como
todos os agentes coesivos, ela contribui para a estrutura semântica o discurso. Entretanto,
diferentemente de outros elementos de referência que são em si uma relação semântica, a elipse
estabelece uma relação que não é semântica, mas léxico-gramatical – um relacionamento no fraseado
e não diretamente no significado. Por exemplo em:
Que políticas para o Banco Central existem à direita e à esquerda do governo? O governo não
chegou a apresentar uma.
Nesse caso o falante suprimiu a expressão “políticas para o Banco Central” de forma a trazer sentido
para a resposta.
Legenda
Anáfora=Azul
Catáfora=vinho
Exofórica/homofórica=highlight amarelo
RD=Referência:demonstrativa
RP=Referência:pessoal
O elemento que o substitui “segura” o seu lugar, mostrando o local em que o elemento omitido
deveria estar além de dizer qual seria sua classe gramatical. Logo o “um” funciona como o Head de
um grupo nominal e toma o lugar da coisa (com o qual o Head está tipicamente relacionado). Elipse
e substituição são variantes do mesmo tipo de relação coesiva. Há algumas situações nas quais a
elipse é é possível, algumas nas quais apenas a substituição é possível, e algumas, tal qual Eu prefiro
[uma]outra, que permitem ambas.
Há três contextos principais para a elipse e para a substituição. Estes são (1) a oração, (2) o grupo
verbal e (3) o grupo nominal. Agora vamos observar cada um deles.
(1) A oração. A elipse na oração está relacionada ao modo, e é bem ilustrada no capítulo 4. Ela está
ligada especialmente ao processo de pergunta-resposta no diálogo; determinando a existência de dois
tipos:: (a) elipse sim/não, e (b) elipse QU-. Eles também permitem substituição, mas não em todos os
contextos. Trabalharemos inicialmente com o tipo “sim/não”.
(a) Elipse “sim/não” (i) de toda a sentença. Em uma sequência pergunta-resposta do tipo sim/não
pode haver a elipse de toda a sentença, por exemplo:
Já acabou?
– Não [Isso ainda não acabou]
A primeira questão em um par não precisa ser, necessariamente uma pergunta, ela pode estar apenas
cumprindo uma função discursiva:
Mais um cafezinho?
– Obrigado {Não, eu não quero outro café]
-- enquanto pintor, para que ele surja como uma das últimas florações luxuriantes da pintura de
cavalete. Se isto for verdade, esta operação foi conduzida com plena consciência. [Isto=para que ele
surja...]
--Você acha que o filme-denúncia pode ajudar os países envolvidos?
Boorman -Eu acho que sim [o filme ajudou os países...}.
O princípio geral é que o substituto é necessário caso caso a oração seja projetada, como o discurso
relatado; com elementos de modalidade (acho, talvez) ou de hipótese (se,caso) sendo interpretados
como tipos de projeção:
Ele disse isso – Eu penso também --- pode-se dizer isso – vamos
dizer isso
Além disso, o substituto não é usado quando a resposta é qualificada como negativa:
contexto em que uma resposta positiva poderia ser sinalizada pela elipse:
(a) Elipse “sim/não” (ii) parte da sentença. Como uma alternativa para a elipse de toda a oração,
pode haver a elipse de apenas uma parte dela, o Resíduo:
No caso do inglês, em uma resposta declarativa, se há alguma mudança de Sujeito apenas, nós
podemos substituílo por so, nor, em posição inicia (=”and so”, “and not”) seguido pelo elemento do
Modo:
A ordem seria Finito^Sujeito (para que o Sujeito esteja em uma posição não marcada):
No caso da língua inglesa, o resíduo pode ser substituído pela forma verbal do. No caso do
português, a substituição pode ocorrer pela repetição do verbo que traz a noção de modo e tempo,
que pode ser o verbo principal:
Ainda em inglês, se o foco está no resíduo (e portanto recaindo sobre o do), o substituito passaria a
ser do so. No caso do português, usaríamos o verbo fazer como forma verbal deslexicalizada,
seguida de isso, que faria referência ao resíduo:
“Parto para Salzburgo, Veneza, Roma e Genebra. Depois, volto ao Brasil.'' Para conseguir fazer
tudo isso com o mínimo de dinheiro possível, a estudante estabeleceu um gasto máximo de US$ 60
por dia.
(b) Elipse QU--: (i) toda a oração. Em uma sequência QU-- toda a oração é normalmente omitida, a
exceção do elemento QU-- ou do elemento que serve como resposta:
O elemento de substituição não também pode aparecer em uma QU-- negativa, como “--Você não
pode ir! --Porque não?”. A substituição é algo menos comum em orações positivas, sendo, em
inglês, realizadas por expressões como: how so? Why so?, em português: Porque? e Como?.
(b) Elipse QU--. (ii) parte da sentença. As vezes tanto em uma oração QU--, quanto em sua
resposta, o elemento do Modo não é apagado, sendo que apenas o resíduo sofre elipse. Por
exemplo:
Essa elipse e substituição oracionais ocorrem tipicamente em seqüência no diálogo, no qual omite-se
tudo no turno de resposta, exceto o cerne da informação:
Uma oração que consista apenas de Modo, como Eu vou, poderia, da mesma forma, ocorrer em
qualquer ambiente; tipicamente, em um ambiente sim/não, o foco estaria no vou, que seria
responsável pela polaridade ('você vai?' -- Eu Vou), ao passo que em um ambiente QU- o focus
seria no Eu, que carrega a informação (Quem vai...? Eu)
A oração elíptica ou substituta requer que o ouvinte “complete a informação faltante”; e, uma vez
que ela está presente na informação dita anteriormente, o efeito é coesivo. Sempre é possível
“reconstituir” o item que sofreu elipse, de tal forma, que ele se torna totalmente explícito. Uma vez
que a elipse é um recurso léxico gramatical, retira-se apenas o fraseado exato, sujeito apenas a uma
reversão dêitica falante-ouvinte (Eu por você e assim por diante), bem como a mudança do modo
quando isso se fizer apropriado.
(2)O grupo verbal. Uma vez que o grupo verbal consiste do Finito mais o Predicado, ele segue,
automaticamente, segue qualquer qualquer elipse oracional na qual o Modo está presente, mas o
Resíduo causará elipse do grupo verbal. Não há mais necessidade de repetirmos a discussão sobre
esse fenômeno.
Em inglês, a substituição do grupo verbal se dá pela repetição do verbo do, o qual pode substituir
qualquer verbo na forma ativa e não passiva, excetuando-se be, ou em alguns contextos, have. Esse
verbo tende a substituir formas não finitas (como do, doing, done). No caso do português, esse tipo
de repetição se dá pela repetição do verbo auxilar:
--Uma ligeira sensação de missão cumprida, que incentiva o resgate da imensa tarefa social que tem
sempre estado diante de todos nós.
--Tem mesmo.
Como temos visto, esse verbo, normalmente, substitui todo o resíduo (ou, algo que equivalha a
mesma coisa, quando o verbo é substituido, o resto do resíduo sofre elipse)
Uma vez que não há verbos demonstrativos -- não podemos falar coisas como Ele quesou? ou ele
issoou? -- suprimos essa necessidade combinando o verbo fazer com um elemento demonstrativo.
Por exemplo:
A forma não faço funciona como um único item de referência. (Para a diferença entre referência e
elipse-substituição, veja a nota no fim desta seção).
(3) O grupo nominal. A elipse do grupo nominal foi tratado no capítulo 6, onde discutimos que um
elemento diferente de uma Thing poderia funcionar como um Head, por exemplo em:
--Você está vendo alguma coisa?
-- Não vejo nada, não.
Em inglês, existe um substituto one,plural ones, que funciona como um Head; podendo substituir
qualquer substantivo contável. Em português nosso equivalente seriam o(s), a(s) um(a)(s):
Faltra exemplo
Como a substituição do grupo verbal, o(s), a(s), um(a)(s) é derivado de um item da estrutura como
um todo, um grupo não elípitico – nesse caso o numeral indefinido uma funciona como o Head de
um grupo, como podemos ver em:
O desenvolvimento paralelo dos dois tipos de elementos de substituição, tanto do elemento verbal
como de o(s), a(s), um(a)(s) está presente na tabela 9(2) a seguir:
Precisamos estudar essa tabela com calma, muitas adaptações precisarão ser feitas aqui...
Esse pode ser analisado como um típico elemento de elipse, os elementos como meu, seu, nenhum
etc. Em uma forma especial quando funcionam como Head
Contudo, a discussão mais importante, que novamente recai sobre a natureza diferente dos dois
relacionamentos, é o fato na elipse-substituição a significado típico não é de co-referência. Há uma
diferença significativa entre a primeira e a segunda instanciação (entre o item que pressupõem e o
que é pressuposto) . Se queremos nos referir a mesma coisa, nós usamos a referência; se queremos
nos referir a uma coisa diferente, utilizamos a elipse-substituição: Onde está seu chapéu? -- Não o
estou achando – Pegue este. Cada pode ter o singificado do outro, mas apenas se o fizermos de
forma explícita: outro chapéu (referência, mas diferente), o mesmo (substituição, mas não diferente).
Logo, a referncia sinaliza “o mesmo membro” (a não ser que seja marcado como diferente pelo uso
da comparação); e a elipse-substituição sinaliza “um outro membro da mesma classe (a não ser que
seja marcado como idêntico, mesmo etc.). A diferença é mais clara no grupo nominal, uma vez que
os substantivos, especialmente os contáveis, tendem a ter elementos claramente referidos.
Falta texto para a análise de elipse, deve ser uma interação oral, de acordo com o modelo do livro
Dentro do grupo nominal, “outro membro” significa uma nova modificação da Thing ; Deitico (este,
um outro, meu), Numerais (three, o primeiro), ou epitetos (O maior (de todos), um grande). No
grupo verbal isso significa que uma nova especificação de polaridade, tempo ou modalidade através
do elemento finito (fiz, posso fazer, não fiz), havendo uma pequena tendência da elipse ser associada
com a mudança de polaridade e substituição do que com a modalidade. Essa tendncia Sé mais
claramente marcada na oração, onde a elipse com certeza acrescenta incerteza (se, talvez, alguém
disse algo); esta é a razão pela qual, em uma oração onde tudo é omitido a exceção da modalidade, é
muito comum usar um substituto (possivelmente, talvez) a não ser que a modalidade esteja
relacionada a certeza --- Não traduzi o fim da frase, Precisamos discutir esse pedaço
A figura 9-2 é um pequeno texto, marcado pela elipse e pela substituição. Para faciliar a exposição,
os elementos omitidos são colocados ao lado da página, apesar de não serem um elemento essencial
para a análise.
Aqui o relacionamento de causa constitui uma ligação coesiva entre as duas orações; e isso é
expressado por meio das partículas consequentemente e Porquê.
Esse tipo de coesão é chamado de coesão seqüencial. Um série de possíveis significados dentro dos
domínios da elaboração, extensão e intensificação é expressada pela escolha de um Adjunto (um
grupo adverbial ou frase preposicional), ou por uma conjunção portanto, porque, mas, todavia;
esses elementos tipicamente (e no caso das conjunções obrigatoriamente) estão em posição temática,
no começo da oração.
(1) Elaboração. Há duas categorias de elaboração, (a) apositivos e (b) clarificação. Iniciaremos nossa
discussão pela primeira.
(a) aposição. Nesse primeiro tipo de elaboração algum elemento é re-presentado, ou reafirmado ou
pelo (i) exposição, uma relação do tipo i.e., ou (ii) pela exemplificação, uma relação do tipo e.g. Um
elemento de coesão seqüencial típico desse dois tipo de relação são dados a seguir:
(b) clarificação. Aqui o elemento elaborado não é simplesmente retomado, ele é resumido,
reelaborado de forma mais precisa ou, de forma forma, clarificado de forma a facilitado
discursivamente.
(i)Corretiva: mais especificamente, ou melhor
(ii)Distrativa: a propósito
(iii)Dispensativa: de qualquer forma, deixando isso de lado, mudando de assunto]
(iv)Particularizadora: mais especificamente, em particular
(v)Rotomadora: retomando o que foi dito, como dito anteriormente
(vi)Sumarizante: em resumo, em conclusão, resumindo
(vii)verificativa: na verdade, de fato
(2) Extensão: a extensão envolve tanto a adição como a variação. Adição é tanto positiva “e” como
negativa nem ou daversativa mas; contudo desde que a relação adversativa tenha um importância
especial no discurso, é melhor que ela seja encarado de forma separada. A variação inclui a replace,
subtrativa exceto e alternativa ou, ora.
(a) adição:
Positiva: e, também, além do mais, além disso,
Negativa: nem, nem... tampouco, nem mesmo, não só ... mas
também
(b)Adversativa: mas, por um lado ... por outro lado, entretanto, contudo, não obstante
(c)variação
Substituidora: pelo contrário, ao invés de, no lugar de
Subtrativa: a exceção de, excetuando-se, excluindo-se
Alternativa: ou ... ou, ora ... ora.
(3) Intensificação . Os vários tipos de intensificação que levam a coesão são: (a)espaço-temporal, (b)
modo, (c) causal-condicional e (d) assunto. Cada um deles será brevemente discutido a seguir.
(a) Espaço-temporal. A referência de lugar pode ser usada na coesão seqüencial de um texto,
exemplos são aqui e ali, advébios de tempo, atrás e próximo de, e expressões contendo um
substantivo locativo ou um advérbio de lugar: no mesmo lugar, qualquer lugar. Aqui relações
espaciais estão sendo usadas como elementos responsáveis pela criação de elementos coesivos.
Observe-se, entretanto, que a que a coesão espacial está relacionada a um lugar metafórico; por
exemplo nesse ponto em Há uma divergência sobre esse ponto; cf. Expressões como aqui, nesses
perspectiva, lá. Há, de fato, expressões de Modo. Muitos elementos conjuntivos de expanxão
também tem suas origens em expressões metafóricas de lugar; por exemplo: em primeiro lugar, por
outro lado.
Conjunções temporais cobrem uma grande variedades de situações, as categorias mais comuns são:
(i) Simples
(a) Seqüência: então, a seguir, dedepois de (incluindo os pares
correlativos primeiro ... então etc.)
(b) Simultaneidade: ao mesmo tempo, no inteirim.
(c) Precedência: antes de, préviamente, anteriormente.
(d) Conclusiva: finalmente.
(ii) Complexas
(e) imediativas: de uma vez, desde então, diretamente
(f) interrupção: já-já, em alguns minutos
(g) repetição: na próxima vez, em outra ocasião.
(h) especificadoras: uma hora depos, logo depois, outro dia.
(i) durativas: no inteirim, o tempo todo.
(j) terminativas: até então, até aquele monento
(k) pontual: nesse momento, agora.
Os elementos complexos são os simples, mas com algumas elementos características semânticas
diferentes presentes ao mesmo tempo.
Muitas conjunções temporais possuem tanto uma interpretação “interna” como uma interpretação
“externa”; ou seja, no momento em que elas se referem é o desenvolvimento temporal do discurso,
não a seqüência a que o processo se refere. Em termos de componentes semântico-funcionais, é um
tempo interpessoal e não experiencial. Em paralelo a categoria “simples”, acima, podemos observar:
(iii)Simples interna:
(m)Seqüência: próximo(a), em segundo lugar incluindo os pares correlativos primeiro
... então etc.)
(n) Simultaniedade: aqui, agora
(o) Precedência: até agora.
(p) Conclusiva: finalmente
Isso se confunde com metáforas temporais de um tipo expansivo, tais como, no ínterim, ao mesmo
tempo.
(b) modo. Conjunções de modo possibilitam a coesão através: (i) pela comparação, (ii) pela
referência a um meio. A comparação pode ser (a) positiva (é como), ou negativa (é diferente).
(i) comparação
(a)positiva: como, similarmente, da mesma formas
(b)negativa: de forma diferente
(ii) meio: dessa forma, por esse caminho.
Expressões de meio não estão sempre relacionadas a coesão seqüencial; elas podem ser muitas vezes
comparativas, da mesma forma, igualmente.
(c) causal-condicional. Em vários tipos de discurso a relação de causa desfila como um agente
coesivo. Alguns expressões são gerais, aos passo que outras se relacionam mais especificamente com
o resultado, razão ou propósito:
Em segundo lugar, o papel da coesão seqüencial como um todo confunde-se com a referência.
Muitos elementos conjuntivos possuem elementos de referência encaixados, entre eles este ou isso:
apresar disso, nesse caso, doravante etc. Nesses casos a relação conjuntiva pode ser encarrada
como predominante, uma vez que ele carrega mais significado 0-- mais elementos semânticos;
qualquer instanciação que puder ser classificada em uma categoria conjuntiva pode ser interpretada
com tal, ignorando-se seu significado referencial.
Uma questão que surge na interpretação de um texto é o que fazer com a relação seqüencial
implícita. Isso ocorre especialmente em seqüências temporais e causal, nelas o relacionamento
semântico tem presença claramente sentida; apesar de não esperada;por exemplo:
Em 1945, pelos acordos de Bretton Woods, prometeram ouro para os bancos centrais que
acumulassem dólares.
Onde visivelmente há uma relação temporal entre as duas partes; cf. no excerto a seguir, o
relacionamento é causa:
Está claro que a textura é conseguida através das relações conjuntivas, deste tipo, e não há razões
para não levarmos isso em conta. Por outro lado, a tentativa de incluir isso na análise cria um grande
grau de indeterminação, tanto em relação ao fato dessa relação estar ou não, bem como de que tipo
ela é. Observemos o excerto a seguir:
Brasil e Itália se enfrentaram na segunda rodada da primeira fase da competição, há dez dias. E as
duas equipes fizeram uma exibição de gala. Em quase duas horas, os dois times criaram
oportunidades para vencer. No final, o Brasil se deu melhor, com um impressionante 33 a 31 no tie-
break.
Este é um trecho com várias marcas de coesão; mas é difícil dizer quais relacionamentos conjuntivos
implícitos estariam presentes entre pares de sentenças adjacentes, ou entre cada sentença e aquilo
que a preceda.
Talvez essa seja a razão pela qual temos que ser cuidadosos ao assinalar relacionamentos coesivos
implícitos em um texto. É possível que sempre exista outras formas de coesão presente, e que elas
são a maior fonte de intuições, além da presença de um padrão de relacionamentos conjuntivos.
Além do mais, a presença ou ausência de relações conjuntivas explícitas é uma das principais
variáveis no discurso, tanto entre registros como entre textos do mesmo registro; esta variação é
obscurecida se nós assumirmos que essas relações não são expressas. É importante, então, observar
essas instanciações nas quais a coesão seqüencial é reconhecida como implícita; e caracterizá-las sem
ela, de forma a observar a quantidade de informação que nós ainda não levamos em conta.
O último tipo de padrão com o qual o falante ou ouvinte cria a coesão no discurso é a escolha de
item lexicais.
A coesão lexical está relacionada com a seleção de itens que são relacionados com outros que já
ocorreram antes.
(1) repetição. A forma mais direta de coesão lexical é a repetição de um item, como por exemplo o
nome do computador nesse trecho de anúncio:
O iMac de 15 polegadas vem com processador PowerPC G4 de 1GHz, Combo drive (DVD-
ROM/CD-RW) e gráficos NVIDIA GeForce4 MX com 32MB de DDR SDRAM. Além disso, o
iMac 15 polegadas oferece as mesmas funções dos modelos de 20 e de 17 polegadas. . .
Nessa instanciação, há também um item de referência o, sinalizando que o ouvinte sabe qual
computador é a referência; e, uma vez que não existem mais nada para se relacionar com o o, nós
concluímos que é o mesmo computador. Mas essa ligação lexical não é necessariamente uma item de
coesão lexical, se nós tivessemos algo do tipo O computador de 15 polegadas.... os computadores
de 15 polegadas, no qual computadores significa “todos os computadores” ainda haveria a coesão
lexical de compudador com computadores. Nesse caso, contudo, haveria apenas um tie, ainda que
no exemplo inicialmente citado há dois: um referencial (o) e outro lexical (iMac)
Como o último exemplo nos mostra, para que um item lexical seja reconhecido como repetido, ele
não precisa estar na mesma forma morfológica. Por exemplo almoçar, almoçando, almocei, almoço
são todos o mesmo item, e a ocorrência de qualquer um deles constituem uma repetição de todos
eles. Variantes inflexionais sempre pertencem a um único item; variantes derivadas também, quando
elas são baseadas em um processo de derivação ativo, apesar dessas serem menos previsíveis. (Por
exemplo, racional e racionalizar são provavélmente o mesmo item lexical, apesar do relacionamento
entre eles ter se tonado bastante tnue; contudo nenhum deles está próximo de razão, pelo menos não
o bastante para considerá-los o mesmo item. )
(...)
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
(...)
há um forte conexão entre contentamento e descontente, assim como entre dor e doer, sugerindo
que cada par, por seu turno, está relacionado a um mesmo item lexical.
(2) Sinonímia. Em segundo lugar, a coesão lexical resulta da escolha de um item lexical que seja, de
alguma forma, sinônimo do primeiro. Por exemplo, no excerto a seguir os itens índios e seringueiros
são substituídos por comunidades:
A lei brasileira determina que parcerias entre instituições e empresas com índios e seringueiros
sejam sacramentadas previamente pelos donos do conhecimento (. . .) Muitas vezes, o uso popular
de uma espécie é generalizado numa região inteira, às vezes atravessando fronteiras entre países.
Como garantir que, depois de tudo assinado, não aparecerá uma comunidade reivindicando sua
parte nos lucros?
Aqui, novamente, a coesão não depende da identidade da referência. Mas, uma vez nós partamos de
uma repetição direta, e leve em conta a coesão entre itens relacionados , é útil distinguir se a
referência é idêntica ou não, uma vez que padrões diferentes podem surgir.
(a) com identidade da referência. Aqui o espectro de itens coesivos potenciais inclue sinônimos do
mesmo, ou um pouco maior, nível de generalidade: sinônimos no sentido mais específico, assim
como os SUPERORDENADOS. Por exemplo em:
. . . ele recarregou a pistola e deu mais sete tiros. A arma foi encontrada ao lado de seu corpo,
contendo ainda oito balas. Boa pontaria Pela descrição. . .
. . . ele recarregou a pistola e deu mais sete tiros (...) A pistola foi encontrada(...)
. . . ele recarregou a pistola e deu mais sete tiros.(...) A arma de fogo foi encontrada(...)
. . . ele recarregou a pistola e deu mais sete tiros.(...) A arma foi encontrada (...)
. . . ele recarregou a pistola e deu mais sete tiros.(...) Ela arma foi encontrada (...)
O item referencial ela é simplesmente o mais geral de todos. Compare (aqui temos que saber qual o
texto teremos no anexo para melhor fazer a referência) Observe os itens pata e criatura no excerto a
seguir:
...pois estava com a cabeça na água. Detalhe: enquanto a pata é a criatura mais infeliz, cinzenta e
sem graça do parque, o pato tem o pescoço verde e...
Tais instanciações são tipicamente companhadas pelo item referêncial the. Esta interação entre a
coesão lexical e a referencial (a pistola...a arma...ela) é o principal meio de recuperar um
participante através do discurso.
Relacionado a isso estão os exemplos a seguir, nos quais ainda há uma identidade de referência,
apesar não de um participante, não estando o sinônimo na mesma classe (lágrimas...choro, aplauso
... palmas)
(...) Pouco a pouco, tudo é abandonado: esperanças, desejos, lágrimas e, finalmente, palavras. "Sem,
ti, diz ela, escrevo num livro em branco, choro num quarto vazio". Depois é só música. (...)
(...) Não existe mais um aplauso para o conjunto. A sensibilidade da platéia está tão fragmentada e
distanciada que ela corta com palmas críticas um trabalho em equipe. (...)
(b) sem que necessariamente haja identidade do referente. A ocorrência de um sinônimo, mesmo que
não haja relação referencial específica, ainda é coesiva, por exemplo abaixo:
Amiga
(Florbela Espanca)
Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.
Que só, de ti, me venha magoa e dor
O que me importa a mim? O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!
Beijá-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascessemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...
Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...
onde a palavra amiga e irmãos, apesar de não serem a mesma entidade, ainda possibilitam a coesão,
entre os aqui sinônimos amiga e amor.
Nesse tipo de coesão, nós encontramos outros tipos de relacionamento semântico, variantes da
sinonímia: (geral-específico) e meronímia (parte-todo). Dado um conjunto lexical consistindo tanto
de hipônimos, onde x, y e z são todos “tipos de” a, ou meronímeas, onde p, q e r são todos “parte
de” b, como na figura 9-4: a ocorrência de qualquer um desses elementos será coesiva; por exemplo
(...)
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
(...)
trecho no qual pernas é uma meronímia das de pessoas, ao passo que, temos como
exemplo de hiperonímia:
Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada
(João de Barros)
I.
Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos,
retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.
(...)
no qual as palavras são um hipônimo de frases. Não há uma linha divisória clara entre a meronímia e
a hiperonímia, especialmente em termos abstratos; e um dado conjunto de itens podem ser hipônimos
de um termo e meronímias de outros. - por exemplo cadeira, mesa são “tipos” (hipônimos) de
móveis mas partes de uma mobilia, ao passo que meia-direita, meia-esquerda são “tipos” de
jogadores, mas “partes” de um time, e assim por diante. Mas uma vez que esse relacionamento é
uma fonte de coesão lexical, não é necessário decidir entre eles.
Finalmente, um caso especial de sinonímia é o seu contrário, os antônimos. Itens lexicais que são
opostos em relação a seu significado, também possuem um efeito coesivo no texto. Por exemplo,
Glória e tormento e firmamento e descida no poema abaixo:
Um Beijo
(Olavo Bilac)
(...)
Foste o beijo melhor da minha vida,
Ou talvez o pior...Glória e tormento,
Contigo à luz subi do firmamento,
Contigo fui pela infernal descida!
(...)
(3) Colocação. Ao mesmo tempo, há outras instanciações da coesão lexical que não dependem de
nenhum relacionamento semântico dos tipos acima discutidos, mas estão relacionadas a uma
associação entre itens, uma tendência em co-ocorrer. Essa tendência de co-ocorrência é conhecida
como colocação. Por exemplo:
No restante desta seção, tentaremos resumir rapidamente o papel desempenhado pelos recursos
relacionados acima na criação do texto. Iremos agrupá-los sob quatro tópicos: (1) tema e foco; (2)
coesão lexical e referência; (3) elipse e substituição e (4) conjunção. Ao final, incluiremos uma
observação sobre a estrutura do texto.
(1) Tema e foco. Essas são as manifestações no inglês do que os lingüistas de Praga dos anos 30,
que foram os primeiros a explorar sistematicamente essa área da gramática, chamaram de
“perspectiva funcional da frase (functional sentence perspective – FSP)”.
(a) A escolha do Tema. A escolha do Tema, em cada oração, é o que leva à frente o
desenvolvimento do texto como um todo. Essa afirmação foi feita no Capítulo 3, sendo ilustrada
pelos textos mostrados neste Capítulo e no Apêndice 1.
O padrão dos Temas das orações por todo um texto tende a diferir de um registro a outro. Em
textos narrativos e expositórios, é bastante provável que um mesmo participante (cuja “mesmice” é
expressa por referência lexical; ver (2) abaixo) continue como Tema topical em um determinado
trecho do discurso; pode ser um protagonista de um conto, se for uma narrativa, ou o que esta sendo
exposto, em um contexto expositório. Em textos com uma estrutura com passos mais distintos, que
envolvam seqüências de instruções ou uma argumentação lógica, será mais provável encontrar o
Tema de uma oração selecionado de dentro do Rema da oração precedente, sendo provável que
hajam Temas conjuntivos. No diálogo, pode haver a alternação de Temas, especialmente entre eu e
você, que representam o falante e o ouvinte, além de Temas Finitos e QU-, nas orações
interrogativas.
(b) A escolha do foco. A escolha do foco da informação, em contraste, expressa o ponto principal da
unidade de informação, que é o que o falante está apresentando como novidade; o padrão do foco
por todo o texto expressa, da mesma forma, o ponto principal do discurso. Na fala, o foco é
realizado pela proeminência tônica; tipicamente ele cai no elemento lexical final, na oração ou na
unidade que coincida com o foco da informação, embora possa ser “marcado” e colocado em
qualquer lugar. Na escrita, o princípio é que (i) a unidade de informação é uma oração, a menos que
alguma outra unidade esteja sendo claramente designada pela pontuação; e (ii) o foco cai no final da
unidade, a menos que seja dado algum sinal positivo em contrário, seja por coesão lexical (sem foco
em palavra repetida) ou pela estrutura gramatical (predicação: é isso ... que...).
(c) A combinação de Tema e foco. Como a posição não marcada do foco é no final da unidade de
informação, e como a estrutura de informação não marcada é “uma unidade de informação em uma
oração”, isso resulta em um tipo de movimento diminuendo-crescendo na oração típica do inglês: o
movimento de descida a partir do início, a proeminência temática sendo pega no movimento de
subida em direção ao final, prominência informacional, como mostrado na Figura 9-6. Observe como
isso dá a cada mensagem (Capítulo 3) o caráter de um movimento em uma troca (Capítulo 4).
Os dois tipos de proeminência são complementares. O Tema, como mostrado no Capítulo 8, é uma
proeminência orientada ao falante, sendo “do que estou começando. O Novo, que culmina no foco, é
uma proeminência orientada ao ouvinte, sendo “o que estou pedindo que você preste atenção”. À
medida que a oração se afasta do primeiro pico, ela vai em direção do segundo, e isso confere um
movimento periódico em pequena escala, ou ondulatório, ao discurso. A periodicidade em escala
mais ampla pode então ser superposto a esse movimento, por exemplo, por um padrão geral similar
no parágrafo.
(337)
(figura)
(Dado) Novo
diminuendo crescendo
Tema ( Rema) foco
(2) Coesão lexical e referência. Uma característica importante de muitas variedades de textos é a
cadeia referêncial, produzida por uma combinação de coesão lexical (repetição e sinonímia) e
referência. Uma cadeia típica de uma narrativa seria:
Estas são às vezes chamadas de “cadeias de participante”, mas elas não se restringem aos
participantes no sentido de serem pessoas – eles podem ser objetos, instituições, abstrações,
passagens de texto; qualquer coisa que possa ter um papel de participante em uma estrutura de
transitividade. Cadeias similares, embora menos freqüentes e menos extensas, podem ser formadas
com elementos circunstanciais e até mesmo com o próprio processo, e.g. fugir...fazer aquilo... fazer
isso... cair fora... escapar.
O que dá ao texto a sua coerência, entretanto, não é simplesmente a presença de uma dessas cadeias,
mas a interação de uma com a outra. Se os tokens (ocorrências individuais) de uma cadeia se
relacionarem a algum tipo de relação que possa ser definida gramaticalmente (mais tipicamente,
talvez, uma relação na transitividade, porque é aí que as configurações mais altamente estruturadas
são encontradas), isso será fortemente coesivo; por exemplo, o Processo drown + Meio fish...
deadly stonefish... it no texto 1 do Capítulo 4, Seção 4.8. Tipicamente, essas cadeias entrelaçadas
irão se sobrepor entre si, uma se tornando dominante sobre a outra, como drown + mermaid - drown
+ fish – fish +eat em um mesmo texto, sendo essa uma das fontes do fluxo dinâmico do discurso.
Como outros padrões formadores do texto, essas cadeias referenciais e os seus complexos de
entrelaçamento de cadeias variam em tipo e extensão de um registro a outro. Eles têm sido mais
estudados na narrativa, mas eles aparecem também em outros tipos de texto.
(3) Elipse e substituição. Se a referência, e as cadeias referenciais, são mais típicas da narrativa, a
elipse e a substituição são mais caracteristicamente encontradas no diálogo, onde a seqüência típica é
baseada em pares, ou tríades, ou estruturas mais longas, que são relacionadas nem tanto por
significados ideacionais quanto pelos interpessoais: pedido – assentimento, pergunta – resposta –
reconhecimento, afirmação – desafio – justificativa – aceitação da justificativa, e assim por diante.
Em seqüências deste tipo, a dinâmica vem do deslocamento constante nas relações entre os papéis
dos interactantes. Isso significa que, em vez da (ou pelo menos, além da) persistência de referentes
idênticos, provavelmente há um tipo de relação semântica “similar mas diferente” que é tipicamente
mantida pela elipse ou substituição: o mesmo processo mas diferente polaridade ou modalidade, a
mesma classe de entidade mas diferentes membros, diferentes dêixis, etc.
Tipicamente, esse tipo de coesão é também acompanhado pela coesão entre itens lexicais; isso pode
talvez depender, relativamente, mais da colocação e menos das relações semânticas estruturais como
a sinonímia, estando a força coesiva da colocação muito mais localizada. Da mesma forma, o
“alcance” textual da elipse e substituição é consideravelmente mais curto do que o da referência. No
todo, os tipos de coesão com um efeito mais local, elipse/substituição e colocação, tendem a ser
associados ao diálogo; os que têm um efeito mais global, a referência e a sinonímia, ao monólogo;
embora não haja mais do que tendência bastante gerais.
(4) Conjunção. A diferença entre a conjunção e os outros recursos formadores do texto é que as
relações conjuntivas são essencialmente relações entre mensagens ou entre complexos maiores que
são eles mesmos construídos por mensagens. Como já mostrado, as relações lógico-semânticas que
estão codificadas na forma de conjunção são também manifestadas em muitas outras maneiras (ver
também o Apêndice 3).
(a)
Capítulo 10_ 1
Traduzido por Maria Cecília Lopes
Além da oração
Modos metafóricos de expressão
(1) Metáfora. Uma palavra é usada numa determinada situação e assemelha-se com
sua referência usual; por exemplo flood....poured in, oozes, stem the tide em
(2) Metonímia. Uma palavra é usada numa determinada situação que está relacionada
com aquilo que, normalmente, se refere. Por exemplo, eye, skirt, breathe em
Keep your eye on the ball [gaze]
He's always chasing skirts [girls]
It won't happen while I still breathe [live]
(3) Sinédoque. Uma palavra é usada para designar algo maior que o todo a que se
refere e faz parte; por exemplo string, roof, bite em
At this point the strings take over [ stringed instruments]
They all live under one roof [ in one house ]
Let's go and have a bite [ have a meal ]
* A maior parte do vocabulário abstrato tinha origem concreta, mas isto não é claro para os falantes de
inglês porque os termos abstratos são normalmente emprestados do Latim ou Grego, e não sabemos
mais seus significados concretos: por exemplo depise, do Latim despicere, de de ' down' e specere ' to
look'. Sabemos disto quando o mesmo ocorre com palavras nativas, por exemplo look down on.
Estes casos são geralmente explicados como processos lexicais ou
lexicosemânticos em que a sinédoque baseia-se na meronímia ( parte-todo), e a
Capítulo 10_ 2
Traduzido por Maria Cecília Lopes
Quando é dito que algo é metafórico, deve ser com relação a alguma outra coisa.
Isto é normalmente apresentado com uma relação de mão única, para que alguns
Capítulo 10_ 3
Traduzido por Maria Cecília Lopes
Isto não quer dizer que a realização metafórica é melhor, ou que é mais
freqüente, ou mesmo que funciona como uma norma. Há muitos casos em que a
representação metafórica tornou-se a norma, e isto, na verdade, é um processo natural
de mudança lingüística. Também não se pretende sugerir que um grupo de variantes
deste tipo será totalmente sinônimo; a própria seleção da metáfora é uma escolha com
significado e, especificamente a metáfora selecionada adiciona características
semânticas. Mas, as variantes estarão sistematicamente relacionadas quanto ao
significado e, portanto, serão sinônimos em alguns casos.
Modos metafóricos de expressão são característicos do discurso adulto. Há uma
grande variação entre os diferentes registros tanto no grau quanto no tipo de metáfora
encontrada, mas não há um discurso sem alguma metáfora. Os únicos exemplos de
discursos sem metáfora que normalmente encontramos estão na fala de crianças e nas
tradicionais músicas e rimas infantis que parecem sobreviver pelo seguinte motivo: não
apresentam metáforas gramaticais. Por outro lado, qualquer texto, por menor que seja,
quase sempre apresenta casos em que algum elemento metafórico deve ser levado em
conta.
Há dois tipos principais de metáfora gramatical na oração: metáforas de modo
verbal ( incluindo modalização), e metáforas de transitividade. Nos termos do nosso
modelo de funções semânticas, os tipos são, respectivamente, metáforas interpessoais
e ideacionais. Comentaremos sobre isto mais adiante.
(i) a seleção do tipo do processo: material, mental e relacional com seus diversos
tipos intermediários e secundários; realizados como
(ii) a configuração das funções de transitividade: Ator, Meta, Experienciador,
Manner, etc. representando o processo, seus participantes e quaisquer
elementos circunstanciais; realizados como
(iii) a seqüência de classe de grupos-frasais: grupos verbal, nominal e adverbial,
frase preposicionada e suas diversas subclasses.
Por exemplo, ao invés de dizer Mary saw something wonderful, posso escolher
Mary came upon a wonderful sight, em que o processo came upon é representado
como material e a percepção transformou-se em ' participante' com a sight. Ou, posso
Capítulo 10_ 5
Traduzido por Maria Cecília Lopes
dizer a wonderful sight met Mary's eyes, em que o processo de percepção dividiu-se
entre Ator a sight, Processo Material meet e Meta eyes; e Mary representou apenas
aquela que possui the eyes. Todas estas representações são plausíveis de um e do
mesmo 'state of affairs' não lingüístico. Definitivamente não são sinônimos; todos os
códigos diferentes contribuem de alguma forma diferente para o significado total. Mas
eles são co-representativos em potencial e, assim sendo, formam um conjunto de
variantes metafóricos do tipo ideacional.
Um outro exemplo seria se eu relatasse o bom desempenho de uma expedição
de alpinismo e, ao invés de escrever they arrived at the summit on the fifth day
escolhesse uma expressão como the fifth day saw them at the summit. Neste caso, ' the
fifth day' foi usado como um participante, um observador " vendo" a chegada dos
alpinistas.
Pode haver um exemplo muito absurdo e inventado para ilustrar os tipos de
variação. Dentre os eventos sociais encontrados no jornal local, podemos ter the
guests' supper of ice cream was followed by a gentle swim. Ao ' reorganizar' este
exemplo teríamos in the evening the guests ate ice cream and then swam gently. A
versão reordenada não é melhor nem pior do que a primeira, mas obviamente é
diferente. As duas versões são analisadas na Figura 10-2.
Na segunda versão:
(i) o processo ' eating ' e a circunstância ' in the evening' foram unidas nos
substantivo ' supper ' que funciona como Núcleo / Thing num grupo nominal cuja
função é de Identificado;
(ii) os participantes 'the guests' e 'ice cream' foram colocados como (a) Modificador /
Dêitico: Possessivo e (b) Modificador/Qualificador: Aposto neste grupo nominal;
(iii) o processo ' swimming' foi codificado como o substantivo swim que funciona
como Núcleo / Thing num grupo nominal com função de Identificador;
(iv) a circunstância 'gently' foi codificada como Modificador/Epíteto dentro deste
grupo nominal; e
(v) a circunstância 'then' foi codificada como um grupo verbal was followed by, que
funciona como um processo Relacional do tipo Circunstancial/Identificador.
Nenhuma destas são satisfatórias. A primeira ignora o fato de que the fifth day
saw them é realmente incongruente; não é uma oração comum de processo mental
como Mary saw something, e a day não é um ser consciente. A segunda ignora o fato
de que o que está sendo analisado não é o que o falante ou escritor disse. Na verdade,
ele não disse they arrived at the summit on the fifth day que poderia ter escolhido dizer
se quisesse.
É possível combinar as duas numa única representação como na Figura 10-4:
'on the fifth day' 'they' 'at the summit' 'arrived'
circunstância: participante: circunstância: processo: Material
Tempo Ator Lugar
the fifth day saw them at the summit
Sensor processo Mental: Fenômeno Lugar circunstância
participante percepção participante
implícitos pela descrição das funções; se fizéssemos isto, seria simplesmente para
salientar mais explicitamente um aspecto particular da metáfora. Usando-se a mesma
técnica, mas desta vez omitindo-se tais rótulos gerais, poderíamos representar a oração
da Figura 10-2 num único diagrama como na Figura 10-5.
'the guests' 'ate in the 'ice cream' 'and then' 'gently' 'swam'
evening'
Ator Material Tempo Meta Tempo Manner Material
the guests' supper of ice cream was followed by a gentle swim
Identificado Relacional: ( Circ.: Identificador
Tempo /
Identificado
grupo nominal grupo verbal grupo nominal
Modificador Núcleo/ Thing Modificador/ Modificador/ Núcleo/
/Dêitico: Qualificador: Epípeto Thing
Possessivo Apositivo
Fig. 10-5 Combinação das análises da Figura 10-2.
Não há um caminho muito claro que possa mostrar o que é congruente ou não.
Grande parte da história de todas as línguas remete a desmetaforização, ou seja,
expressões que inicialmente são metáforas e que, gradualmente, perdem suas
características metafóricas. Novamente isto ocorre mais claramente com as metáforas
lexicais: atualmente ninguém pensa em source como metáfora em the source of the
trouble; ou dream em I woudn't dream of telling him; ou barrier em there is no barrier to
our mutual understanding. Mas há também exemplos semelhantes na gramática.
No capítulo 5, seção 5.6.2, nos referimos ao conjunto de expressões como have a
bath,do a dance, make a mistake, em que o verbo expressa simplesmente o fato de que
alguns processos ocorrem e levam as categorias verbais de tempo, polaridade e, assim
por diante, enquanto que o processo é codificado como um grupo nominal que funciona
como Extensão. Todo este grupo de expressões é realmente incongruente. Bem como,
outra classe de expressões não mencionadas anteriormente e exemplificadas por she
has brown eyes, he has a broken wrist, cujas formas congruentes seriam her eyes are
brown, his wrist is broken. É possível representa-las como metafóricas na forma usual,
como na Figura 10-6. Outros exemplos desta classe geral são she enjoys excellent
health, he writes good books ( ' the books he writes are good', ou ' he writes books
which are good'), we sell bargains ( ' the things we sell are cheap').
Estas ' metáforas', contudo, tornaram-se parte do sistema da língua inglesa; elas
são atualmente consideradas como a forma não marcada codificada para estes tipos
de processos em particular. Na maioria das vezes é improvável que alguém precise
levar em conta suas características metafóricas na análise de um texto específico.
(a) Two pupils used their access to the school's computer to probe its secrets.
(b) Two pupils were able to reach the school's computer and managed in this way to probe its secrets.
complexidade é mais estática_ talvez cristalina. Entenda que estas são tendências
gerais; nem toda ocorrência será assim. Mas elas trazem a característica essencial da
relação entre as duas formas. E é a forma escrita de complexidade que envolve a
metáfora.
The argument to the contrary is basically an appeal to the lack of synonymy in mental language.
In order to argue that [this] is not so [he] simply points out that there are no synonyms in mental language.
Esta é uma estrutura de quatro orações x βα β‛β αα α' β, contendo seis itens
lexicais; densidade lexical 1.5.
A versão original tem dois grupos nominais: the argument to the contrary e an appeal to
the lack of synonyms e an appeal to the lack of synonymy in mental language; e ambos
envolvem a metáfora gramatical. A oração existencial negativa there are no synonyms
está nominalizada como the lack of synonymy; o complexo oracional projetado [he]
points out that there are no synonyms está nominalizada ( por [he] appeals to the lack
of...) como an appeal to the lack of synonyms; a oração [this] is not so está
nominalizada como the contrary, e o complexo oracional projetado to argue that está
nominalizado ( por to argue to the contrary) como the argument to the contrary.
Como sempre, haveria outras formas de ' descompactar' estas metáforas; mas
qualquer fraseamento mais congruente que seja construído, quando é refraseado
voltando-se a forma metafórica original envolverá principalmente a transformação de
padrões oracionais em padrões nominais.
A nominalização é o único recurso mais poderoso para criar-se a metáfora
gramatical. Por meio deste artifício, os processos ( fraseamentos de formas
congruentes como verbos) e propriedades ( fraseamentos de formas congruentes como
adjetivos) são refraseados metaforicamente como substantivos; ao invés de funcionar
na oração, como Processo ou Atributo, eles funcionam como Thing no grupo nominal.
Portanto, dos exemplos mencionado na Seção 2 acima,
O que ocorre com as ' things' originais? Elas ficam deslocadas por aquela que
são metafóricas e, então, são reduzidas para modifica-las assim: alcohol torna-se um
Classificador de impairment; the computer, one extra packer e technology vão para
frases preposicionadas funcionando como Qualificadores para access, allocation e
advances respectivamente.
Este tipo de metáfora nominalizada provavelmente primeiro desenvolveu-se em
registros científicos e técnicos, nos quais faz um papel duplo. Por um lado foi possível
construir hierarquias de termos técnicos e, por outro, desenvolver um argumento passo
a passo usando passagens complexas ' compactadas' numa forma nominal como
Temas. Gradualmente percorreu um caminho pela maioria de outras variedades do
discurso adulto no qual, contudo, perde-se sua raison d'être e tende a tornar-se
meramente uma marca de prestígio e poder. Observe que, quando padrões oracionais
são substituídos por padrões nominais, parte da informação é perdida. Por exemplo, a
construção Classificador + Thing alcohol impairment não indica a relação semântica
entre os dois e poderia ser proveniente de alcohol impairs (alcohol como Ator), alcohol
is impaired (alcohol como Meta) e , talvez, também com outras configurações de
transitividade. O escritor supostamente sabe exatamente o que significa, mas o leitor
não e, conseqüentemente, este tipo de discurso altamente metafórico tende a separar o
especialista daqueles sem conhecimento.
Até onde alguém deveria prosseguir com a análise de metáforas ideacionais?
Pode não haver uma única resposta plausível; depende do que se quer alcançar. No
exemplo inicial, the fifth day saw them at the summit, há uma tensão clara entre day
como Sensor e saw como Processo mental que precisa ser explicado. Mas, na maioria
das ocorrências do discurso contemporâneo, apenas quando começamos a analisar é
que atentamos para as metáforas gramaticais envolvidas. O importante é que aquele
fraseamento que é metafórico possui uma dimensão adicional ao significado: ' significa'
tanto de forma metafórica como congruente. Portanto, voltando a alcohol impairment:
aqui impairment é um substantivo que funciona como Thing e, portanto, possui o status
de uma entidade que participa de algum outro processo. Não perde seu caráter
semântico próprio como um processo que tem pelo fato de ser congruentemente
realizado como um verbo. Porém, assume uma característica semântica adicional ao
transformar-se em substantivo. Compare failure em
Engines of the 36 class only appeared on this train intimes of reduced loading, or engine failure.
_cuja versão mais congruente seria whenever an engine failed. Portanto, por mais
longe que alguém decida ir ao descompactar a metáfora ideacional, é importante
também analisar cada ocorrência como é. Uma característica importante e atual é que
há muitas entidades construídas metaforicamente, como access, advances , allocation,
impairment e appeal.
estrutura temática. Vamos representar agora a mesma oração de forma que o elemento
metafórico em sua estrutura modal seja realçado ( Figura 10-10):
e não I think it's going to rain, don't I?. Ou seja, a oração é uma variante de it's
probably going to rain (isn't it?) e não o equivalente em primeira pessoa de John thinks
it's going to rain, que não representa a proposição 'John thinks' (tag doesn't he?)
Na verdade, há uma série de variantes para a expressão de modalidade na oração, e
algumas têm a forma de um complexo oracional. Se nos limitarmos primeiramente ao
significado de ' probabilidade' as categorias são as que estão na Tabela 10(1):
Tabela 10(1) Expressões de probabilidade
Categoria Tipo de relização Exemplo
(1) Subjetivo
(a) ( explícito ) I think, I'm certain I think mary knows
(b) ( implícito) will, must Mary'll know
(2) Objetivo
(a) ( implícito ) probably, certainly Mary probably knows
(b) ( explícito ) it's likely, it's certain It's likely mary knows
(1) Subjetiva
I think Mary doesn't know / I don't think Mary knows
(2) Objetiva
It's likely Mary doesn't know / it isn't likely Mary knows
TIPO
( 2 ) modulação (i) obrigação ( ' is wanted to' )
( tipo ' imperativo') (ii) inclinação ( ' wants to ')
Capítulo 10_ 16
Traduzido por Maria Cecília Lopes
Modalização Modulação
tipo 'indicativo' tipo 'imperativo'
subjetivo
objetivo
ORIENTAÇÃO
Capítulo 10_ 17
Traduzido por Maria Cecília Lopes
explícito
implícito
Modalização: Fred'll sit quite Fred usally sits It's usual for Fred to
habitualidade quiet. quite quiet. sit quite quiet.
Modulação: I want John to go. John should go. John's supposed to It's expected that
obrigação go. John goes.
Por outro lado, com os valores externos, se o negativo for transferido o valor
muda ( de alto para baixo, ou de baixo par alto):
Tabela 10(3) Três 'valores' de modalidade
Estas ilustrações apresentam uma orientação ' implícita objetiva', exceto aquelas
de probabilidade que são ' objetiva/explicita' _ o propósito é escolher aquelas em que o
sistema é mostrado da forma mais óbvia e clara possível. Na verdade, a possibilidade
de transferir o negativo da proposição para modalidade é completamente aplicável,
sempre com a mesma mudança entre alto e baixo; por exemplo ( probabilidade /
subjetividade / explicita):
possible (for...) to. Neste último caso, o significado típico é ' potencialidade', como em it
was possible for a layer of ice to form. O caso subjetivo está mais próximo da
inclinação; podemos reconhecer uma categoria geral de ' estar pronto a', ter 'inclinação
a' e ' habilidade para' como subcategorias num dos finais da escala ( can / is able to
como variantes de ' baixo' valor para will / is willing to). De qualquer forma, can neste
caso não é típico dos operadores modais: é o único caso em que a forma oblíqua
funciona como pretérito perfeito como em I coudn't read that before; now with my new
glasses I can.
modalização probabilidade
habitualidade
TIPO
(4)
modulação obrigação
inclinação
subjetiva
objetiva
modalidade ORIENTAÇÃO
(4)
explícita
implícita
VALOR médio
(3)
externo alto
baixo
POLARIDADE positiva
(3)
negativa direta
transferida
3 that will be John 10 that won't be John 18 you should do that 25 you shoudn't do that
4 that probably is John 11 that probably isn't John médio 19 you're supposed to do that 26 you're supposed not to do that
12 it isn't probable that's John 27 you're not supposed to do that
5 that may be John 13 that needn't be John 20 you can do that 28 you needn't do that
6 that possibly is John 14 that possibly isn't John 21 you're allowed to do that 29 you're allowed not to do that
15 it's certain that's John baixo 30 you're not required to do that
Figura 10-16 Probabilidade e obrigação com proposições e propostas positivas e negativas ( Obs.: No.
número 22 é mais comum atualmente mustn't, do negativo direto de must not)
Aqui a resposta do vendedor significa ' I think it likely she likes fairy tales; is that
the case?'_ enquanto que she'll like fairy tales, will she? significaria ' do you agree that
is likely?' Ou seja, o falante assume que o cliente sabe a preferência da criança; não
haveria motivo para trocar simplesmente opiniões sobre o assunto.
As formas de modalidade subjetivas explícitas e objetivas implícitas são
estritamente metafóricas, uma vez que todas representam a modalidade como a
proposição substantiva. A modalidade representa o ângulo do falante, tanto na validade
da asserção, quanto nos acertos e erros da proposta; a forma congruente é mais um
adjunto à proposição do que uma proposição propriamente dita. Contudo, nós como
falantes gostamos de dar proeminência ao nosso próprio ponto de vista; e a forma mais
eficaz é usando-o como se isto fosse parte constituinte da asserção ( ' explícita' I
think....) _ com uma maior possibilidade de fazer parecer como se não fosse realmente
nossa opinião ( ' objetiva explícita ' it's likely that...) Os exemplos no início desta seção
mostram algumas das formas altamente elaboradas que tal iniciativa pode presumir.
A importância das características modais na gramática de trocas interpessoais reside
no fato de haver um aparente paradoxo no qual todo o sistema se estabelece_ o fato de
que apenas dizemos que temos certeza quando não temos. Quando, de maneira
consciente, eu considero que Mary has left, digo simplesmente Mary's left. Se adicionar
um alto valor de probabilidade de qualquer orientação, tal como Mary has certanly left,
I'm certain Mary's left, Mary must have left, significa que estou admitindo um elemento
de dúvida que posso tentar ocultar ao objetivar a expressão de certeza. Enquanto as
metáforas subjetivas claramente determinam ' como eu vejo isto' com todos os valores
(I'm sure, I think, I don't believe, I doubt, etc.), a maioria das metáforas objetivas
expressam um 'alto' valor de probabilidade ou obrigação_ isto é, são formas diferentes
de alegar a certeza ou necessidade objetiva para algo que, na verdade, é uma questão
de opinião. A maioria dos ' jogos que as pessoas praticam' diariamente no conflito
interpessoal envolvem metáforas do tipo objetivo. A Figura 10-17 traz um exemplo que
apresenta tanto uma metáfora interpessoal como outra ideacional.
'surely' 'it is required that' 'money shouldn't go on being invested
Capítulo 10_ 22
Traduzido por Maria Cecília Lopes
α =β
Meta Aspecto: Imperativo Processo:material
Surely commonsense dictates that there should be a limit to the money invested
α "β
Modali Sujeito Finito Predr Sujeito Modalidade Predr Complemento
dade: (operador dictate :
prob/o/ verbal) obr/s:
:im/alta 'presente' im/med
Modo Verbal Resíduo Modo Verbal Resíduo
Então, ' ameaçar' indica ' dar' ( oposto a 'exigir') ' bens & serviços ( oposto a '
informação') orientado ao 'destinatário' ( oposto ao ' orientado ao falante' ou ' neutro' ) e
' indesejável' ( oposto ao ' desejável'), por exemplo I'll shoot the pianist, relatado como
he threatened to shoot the pianist. Se substituirmos " desejável", mantendo o restante
constante obteremos ' promessa'. Então, se substituirmos ' orientado ao falante' ao
invés de ' desejável/indesejável' chegaremos a 'sagrado' ( ' juramento' ) versus '
profano' ( subjacente); e, assim por diante. Porém, a oração I'll shoot the pianist ! por si
só poderia representar qualquer um destes ; he threatened/promised/vowed/undertook
to shoot the pianist); todas estas funções de fala contém a combinação característica '
dar + bens & serviços', isto é' oferta', e o fraseamento da oração não especifica mais do
que isto.
Ou seja, todas estas categorias retóricas podem ser reconhecidas pelos falantes
da língua e ter nomes que as representam, tanto como ' things ' ( substantivo uma
ameaça ' ato de ameaçar') e os processos ( verbo ameaçar). Os verbos expressam
processos verbais (simbólicos) e, portanto, a maioria deles podem projetar algum ato de
fala como um relato ou citação, como por exemplo he threatened to shoot/that he would
should the pianist; 'I'll shoot the pianist,' he threatend. Mas este fraseamento por si só
não apresenta um sinal explícito como uma ocorrência desta ou daquela categoria
específica. Ele seleciona o modo verbal realizando as funções básicas de fala de oferta,
comando, declaração ou pergunta como descritos no Capítulo 4; observe que são
apenas padrões congruentes. Porém, além disso, sua função retórica específica
manifesta-se por quaisquer ou todas as variedades de outros fatores que, na verdade,
são cinco tipos diferentes:
' 1 +' significa a grande variedade de tone 1, caindo de alto para baixo que implíca ' key:
forte'.
alguma, fácil decidir quais formas são metafóricas e congruentes. Algumas fórmulas
funcionais de fala tem origem clara na metáfora, por exemplo (i) I wouldn't..if i was you:
comando, congruentemente don't....! funcionando como aviso; (ii) I've a good mind
to....: oferta modalizada, congruentemente maybe I'll...., funcionado tipicamente como
conselho ameaça; (iii) she'd better....: comando modulado, congruentemente she
should...., tipicamente funcionando como conselho. Algumas palavras como mind,
parecem particularmente serem emprestadas a este tipo de transferência: would you
mind...?, mind you!, I don't mind....( incluindo I don't mind if I do, resposta positiva
quando uma bebida é oferecida num ambiente como de um bar) e assim por diante.
Metáforas deste tipo têm sido estudadas intensamente pela teoria dos atos de fala,
originalmente chamados de atos ' percolucionários'. Do ponto de vista lingüístico, elas
não são um fenômeno separado, mas um outro aspecto do fenômeno geral da
metáfora, como as ideacionais discutidas na primeira parte deste capítulo. Elas podem
ser representadas da mesma forma, ao postular-se algumas formas congruentes e,
então, analisando-se as duas em relação a cada uma. Alguns exemplos estão na
Figura 10-18.
Observe que o último deles, Figura 10-18(d), absorve tanto a metáfora ideacional
como interpessoal; neste caso é interpretado como uma declaração realizada na forma
imperativa. Porém, isto também implica em interpretá-la como uma oração
identificadora ' the evidence is....' relacionando com ' look at the way...' por meio de '
consider ( the fact) ....'. Dependendo do contexto, pode funcionar de forma congruente
como uma solicitação. Neste caso apenas a metáfora ideacional deve ser reconhecida
com consider the fact that they cheated before entendida como a forma congruente.
O conceito da metáfora gramatical talvez, por si só, seja uma extensão
metafórica do termo a partir do seu sentido retórico como uma figura de fala, o que nos
permite unir uma série de características do discurso que, num primeiro momento,
parecem bem distintos. Contudo, ao reconhecemos os diferentes tipos de significados
apresentados em conjunto na léxico-gramática e, especialmente a distinção básica
entre o significado ideacional e interpessoal, podemos observar que aparentemente
são dois conjuntos diferentes de fenômenos originando-se nestes dois contextos
diferentes. Em todas as ocorrências que tratamos como metáfora gramatical algum
aspecto da configuração da oração, se na sua função ideacional, interpessoal, ou em
ambas, é de alguma forma diferente daquela que se chegaria ao tomar-se o caminho
mais curto_ não é, ou não foi originalmente o código selecionado de significados mais
direto. Esta característica não deve ser interpretada como algo negativo ou fora dos
padrões. É para evitar quaisquer destas conotações que usamos o termo ' metafórico'
ao invés de ' incongruente'. Mas isto é algo que precisa ser levado em conta numa
interpretação de um texto.
Até onde iremos ao buscar formas metafóricas do discurso em qualquer
ocorrência apresentada dependerá daquilo que tentamos alcançar. Em linhas gerais, o
propósito de se analisar um texto é o de explicar o impacto que ele provoca: a razão de
significar aquilo e o porque de dar a impressão que dá. Mas, considerando-se o objetivo
geral, podemos ter vários tipos e graus de interesse em explorar esta ou aquela
ocorrência específica; as vezes é suficiente fazer uma observação sobre o efeito de
uma expressão é metafórica, enquanto que em outras situações talvez seja necessário
traçarmos uma série de passos ligando a oração a uma forma postulada como ' a mais
congruente'. Estes passos não implicam em pensar-se na ' história da oração'. Como
vimos, em algumas áreas a forma metafórica tornou-se a forma típica codificada de
Capítulo 10_ 25
Traduzido por Maria Cecília Lopes
expressões na língua e, mesmo se isto não ocorreu, não há como seguir-se o processo
em que o falante ou escritor chegou a um modo de expressão particular no discurso. O
que a interpretação metafórica faz é sugerir como uma ocorrência no texto pode referir-
se ao sistema da língua como um todo. Portanto, é uma ligação importante na soma da
cadeia de explicações em que relacionamos o texto ao sistema. Um texto tem
significado porque é uma realização do potencial que constitui o sistema lingüístico; é
por esta razão que o estudo do discurso ( ' texto lingüístico' ) não pode estar separado
do estudo da gramática encontrada por trás deste discurso.
(a)
'tentatively is the position still available?'
Adjunto Interpessoal Finito Sujeito Adjunto Complemento
(operador
verbal)
Modo Verbal Resíduo
I was wondering if the is still available
position
Lógico α 'β
Sujeito Finito Predicador Sujeito Finito Adjunto Complemento
Interpessoal (operador (operador
verbal) verbal)
Modo Verbal Resíduo Modo Verbal Resíduo
(b)
if you move I 'll shoot
Lógico xβ α
Interpessoal Sujeito'do move' Sujeito Finito Predicador
Finito Predicador (operador
(operador verbal)
verbal)
Modo Verbal Resíduo Modo Verbal Resíduo
don't move or I 'll shoot
Lógico 1 +2
Inter- Finito Predicador Sujeito Finito Predicador
pessoal (operador (operador
verbal) verbal)
Modo Verbal Resíduo Modo Verbal Resíduo
(c)
'you shouldn't say such a thing'
Sujeito Finito (operador Predicador Complemento
verbal)
Modo Verbal Resíduo
how could you say such a thing
WH/Adjunto Finito (operador Sujeito Predicador Complemento
verbal)
Resíduo Modo Verbal
Capítulo 10_ 26
Traduzido por Maria Cecília Lopes
(d)
'the evidence is (the fact) that they cheated before'