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UNIP – Universidade Paulista

Yasmin Michelino Fontes N678178

PRÁTICAS SOCIAIS E SUBJETIVAS


Diferenciação social, cultural e exclusão social na divisão de tarefas de
responsabilidades entre cuidadores e crianças
4º Relatório

Orientador: Eunice

São Paulo
2022
RESUMO
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Neste presente relatório de observação em grupo realizado como Práticas
Sociais Supervisionadas tem como intuito apresentar as diversas observações que
foram realizadas em campo, dentro de um tema determinado, junto aos aspectos
individuais de cada integrante e como estes aspectos são determinantes para realizar
uma observação social, uma vez que os aspectos pessoais se somam à sua trajetória
de vida, levando a percepções diferentes da mesma observação. Foram realizadas
observações por 5 horas consecutivas em um Shopping elitizado de São Paulo, à
respeito da relação entre mães e pais junto às crianças, e a temática da divisão de
tarefas, e como isso reflete na sociedade, em diversos cenários e perspectivas. Ainda,
foi levantado a questão da diversidade social, cultural e exclusão social dentro da
realidade de observação dentro de um local mais voltado para elite, com ações que
divergem a realidade que foi vista em outros locais fora da elite.

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SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO 4
2.0 PROCEDIMENTOS 5
3.0 DISCUSSÃO 6
5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 9
6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 10

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INTRODUÇÃO

O presente relatório trata-se da experiência de observação em campo, voltado


ao tema de diferenciação social, cultural e exclusão social. Nesta observação,
utilizamos como critério a observação em grupo com diversas perspectivas diferentes.
De um modo geral, nossa observação foi voltada para famílias de casais com
seus filhos, ou cuidadores, especificamente o tema de divisão de tarefas e como isso
reflete na sociedade e em diversos cenários, no cenário elitizado e no cenário mais
suburbano. A observação foi realizada em um Shopping num bairro de elite em São
Paulo, localizado na Bela Vista, um dos locais mais caros de se viver.
Nesse sentido, observa-se situações em que a divisão de tarefas foi bem
elaborada, em outros cenários pouco elaborada, e até em cenários que não houve
divisão com grande ausência da mesma.
É possível observar pelas discussões em grupo como cada
observador/integrante possui suas próprias características e métricas pessoais para
realizar as observações em base em suas próprias vivências e formas de olhar a
situação.
Bauman (2001) cita sobre o termo “Modernidade Líquida” e como se dão as
relações em geral, atualmente, à medida em que cada pessoa cria em si uma
subjetividade tão própria, não baseada em alguma norma, valor ou cultura imposta, e
sim no que pensa ser bom à si, no que o satisfaz, independente do outro e como isso
pode afetá-lo. Bauman (2001) destaca como essa experiência pode transformar as
conexões e relações cada vez “mais frias” ou ainda, distantes, passíveis à mudanças
de forma tão fluida, que se compara à liquidez. Referimos esse pensamento em nosso
trabalho, observando como as relações podem ser passíveis a mudanças de forma
rápida e ainda, como as famílias estão cada vez mais individuais em seus “próprios
mundos”.
Dessa forma notamos no trabalho uma grande demanda de diferenciação social,
cultural e exclusão social dentro de duas realidades totalmente diferentes, bem como a
intensidade das relações dentro dos dois contextos. Foi visto também, através da
observação, como as culturas mais fortes predominaram mesmo com o passar dos
anos, e outras culturas, não mantiveram.

PROCEDIMENTOS

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Referente aos procedimentos que foram usados para realizar as observações,
apontamos os seguintes: Tema (que nos norteou), Bibliografia (que nos embasou),
Local e Horário (escolhidos estrategicamente), Contexto (cenário para base) e
Discussão em grupo (troca de subjetividade). Sem esses procedimentos, o trabalho
não ocorreria com fluidez.
O tema base foi escolhido através de um material previamente disponibilizado
pela orientadora do curso e do atual trabalho, no intuito de abranger diversos cenários,
como subtemas. Foi escolhido o tema base de Diferenciação Social, Cultural e
Exclusão Social e como subtema, uma pauta voltada para A importância da divisão de
responsabilidades entre os pais da criança e seus reflexos na sociedade.
A bibliografia deu-se em base ao teórico Zygmunt Bauman, autor que oferece
uma demanda de estudos voltado às relações, à modernidade e à estrutura de nova
sociedade, com suas particularidades, novidades e envolvimentos.
O local foi estrategicamente escolhido em base ao tema definido, uma vez que
foi necessário escolher um ambiente onde houvesse situações, cenários, em diferentes
contextos e em diferentes abordagens, à respeito da divisão de tarefas e no
relacionamento desta com a sociedade. O horário foi escolhido para alcançar diversos
cenários, num horário comercial e voltado ao lazer, contando com um ambiente
familiar.
As observações em grupo foram acordadas para ocorrerem de forma conjunta,
no entanto, com o olhar pessoal e subjetivo de cada integrante do grupo, conforme dito
antes, utilizando suas próprias vivências e métricas pessoais.
Após as diversas observações, debatemos sobre os aspectos observados e
pudemos, através do debate, entender como cada integrante do grupo, apesar de ter
visto a mesma situação, possuem visões diferentes à respeito da mesma observação.
A discussão foi realizada logo após as observações, quase que de imediato,
levantando em grupo as diversas formas de como cada um, com suas perspectivas
particulares e subjetivas, observam o mesmo fenômeno.

DISCUSSÃO

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Bauman (2001) reflete que, atualmente, a Modernidade é Liquida, ou seja, tudo
é passível à mudanças, alterações, nada foi feito exatamente para durar, há muita
insegurança nas relações uma vez que não são sólidas. Bauman (2001) reflete que
nesta época atual foram retirados todos os referenciais morais da época anterior,
denominado por ele como Modernidade Sólida (vigente até meados da década de
1960), onde havia costumes, tradições e valores morais rigidamente seguidos.
Atualmente dá-se importante a lógica do agora, do consumo, do gozo infinito e da
artificialidade, onde todas as relações são passíveis a mudanças, baseadas em suas
próprias perspectivas pessoais.
Zygmunt Bauman traz a reflexão sobre a proposta para questionar cada ponto
de vista sobre a vida, descartando o irracional, considerando todas as visões, mesmo
que há a falta da justificativa plausível para algumas delas. Não havendo nesse
cenário, um referencial para que a vida possa ser entendida, com certas métricas,
certas doutrinas, costumes ou religião, utiliza-se às próprias métricas, ou as métricas
que “melhores lhe cabem”.
Nesse contexto, é possível considera as observações feitas como um cenário
onde utilizamos métricas dos nossos próprios pensamentos e achismos, não utilizando
a religião, cultura, aspectos esperados socialmente como métricas, mas sim como base
para realizar as observações a partir da visão individual de cada um. Ou seja, cada
integrante utilizou suas próprias métricas para observar, uma vez que atualmente, não
nos baseamos em um referencial só, domado como “correto”, mas sim o que é o
correto para cada um, e desta vez sim, voltado à um contexto familiar, de vivências
individuais onde pode conter aspectos culturais, religiosos, sociais e familiares de cada
integrante num processo evolutivo comum, mas apenas ressaltando que isso não
serviu de base para observação.
Como dito anteriormente, essa observação foi realizada em um cenário elitizado,
ou seja, com mais demanda de pessoas monetariamente mais faturadas. Com isso, é
visível que as pessoas possuem maior poder aquisitivo, uma vez que são vistas, em
sua maioria com vestimentas aparentemente de marcas ou caras e com muitas sacolas
de compras em lojas conceituais. Claro que não é possível classifica-las apenas por
suas vestimentas ou compras, no entanto, é visível que naquele momento, o sujeito
estava dentro de um shopping elitizado, levando a crer que essa pessoa possui maior
valor financeiro.
Nessa ideia, foi observado diversos cenários, com diferentes famílias. Um ponto
importante que foi observado, é a grande demanda de população oriental que havia no
shopping, uma vez que a observação foi feita num dia fora do pico de circulação, em
uma terça-feira, horário das 17h às 22h, havia de fato, muita população oriental. Foi
visto diversos casais juntos, com os filhos, e também grupos de famílias, onde não se
pode entender qual a relação parental de todos, mas foi visível que se tratava de várias

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famílias diferentes. Dessa forma, nota-se que a relação parental entre os orientais
ainda é bem forte na cultura, uma vez que a maior responsabilidade dos cuidados com
o filho, é entregue à mulher, onde o pai fica responsável por comprar alimentos à todos,
bem como as mães ficam com as crianças na mesa, aguardando. Foi possível também
observar como os grupos de orientais normalmente andam juntos apenas entre eles,
sem outras pessoas de outros grupos étnicos, o que ressalta a exclusão social que
muitos possam vivenciar.
Um caso diferente, em outra observação, foi o ato de ver uma mulher
aparentemente muçulmana devido ao véu/hijab que utilizava, passeando sozinha e
carregando uma criança no colo. Com essa observação foi possível entender como
algumas culturas prevaleceram mesmo ao longo dos anos, onde ainda sim, uma
mulher muçulmana é vista sozinha com a criança. Foi possível notar nas discussões
em grupo como poucas vezes é visto uma família de muçulmanos, com pais, mães e
filhos, ou uma família maior, mas sim onde geralmente ao observar, a mulher fica mais
responsável pelos cuidados com os filhos, e o homem muitas vezes aparece mais na
família no ato financeiro. Essa forte cultura ainda prevalece na atual sociedade, o que
foi um ponto alto à ser considerado, uma vez que Bauman (2001) reflete que a cultura
está quase que escassa ou ainda, pouco acessada, no entanto, nesse cenário, a
cultura forte dos mulçumanos e orientais prevalece em muitas famílias atuais,
evidenciando a diferenciação cultural e social.
Em outro momento, foi notado a pouca presença de pessoas etnicamente pretas
no shopping, onde isso foi quase que cem por cento relativo ao clima elitizado do
shopping, onde está localizado numa das regiões mais caras de São Paulo, e ainda,
com lojas de valor ainda mais alto. Numa observação, uma família estava jantando no
shopping, e dessa forma, tanto a mãe, quanto o pai, cuidavam da criança, no entanto a
responsabilidade ainda estava um pouco mais voltada à mãe, onde ela “prestava mais
atenção” à criança. No resumo, as pessoas pretas vistas, foram: ou entregadores
motoboy; ou seguranças; ou passeadores que, por estarem cheios de sacolas, pode-se
notar que eram pessoas com maior valor aquisitivo e uma ou outra família. Ou seja,
quase não vimos pessoas pretas, e quando vimos, tratavam-se, na maioria, de
trabalhadores motoboy e seguranças, e em sua minoria, compradores de fato do
shopping, onde também eram pessoas com grande valor aquisitivo. Dessa forma, é
possível novamente notar a diferenciação social e exclusão social em cenários
elitizados, onde vimos muito mais pessoas brancas e orientais, que no Brasil possuem
maior capital, e poucas pessoas pretas, que no Brasil, são a maioria de nossa
população, evidenciando a exclusão social.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como dito anteriormente, é curioso notar como as percepções de cada um


favorece para uma observação detalhada e sinuosa uma vez que todas os achismos
estão passíveis a mudanças.
Partindo do ponto onde o próprio intelecto e percepções internas foram
fundamentas para realizar a observação, pode-se perceber que alguns integrantes do
grupo se evidenciaram por serem mais “empáticos” e “compreensíveis” à situação, sem
julgamentos, identificando com um olhar crítico que aquela observação, naquele
momento, está passível à mudanças, onde cada olhar pode variar dependendo até
mesmo do mínimo tempo em que é observado. Ex. algo que está ocorrendo agora,
pode deixar um pensamento em minha mente onde pode estar passível à mudanças
caso eu olhe por uma segunda vez, por um curso período de tempo diferente. O que
antes era um achismo, agora pode ser outro. Isso foi fundamental para entender onde
nossas observações se encaixam como “verdade” real, ou verdade em nossas próprias
percepções, achismos, pensamentos e reflexões internas, sendo não a verdade real,
mas a nossa própria verdade.

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REFERÊNCIAS

Bauman, Z. (1998). O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar. 


Bauman, Z. (2001). Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar.

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