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Apostila 1 – Pré-Vestibular; Curso Vida, Ap.

GO – 2003

SUMÁRIO

HISTÓRIA GERAL
Idade Antiga
As civilizações Orientais
Antiguidade Clássica
A Grécia Antiga, Esparta e Atenas
Período Clássico, Helenístico e a Cultura Grega
Roma
A República, A Crise da República e O Alto Império
O Baixo Império
Idade Média
O Feudalismo, Economia, Política e A Sociedade Feudal
Baixa Idade Média
As Cruzadas
O Renascimento Comercial e Urbano
Idade Moderna
O Renascimento
A Reforma Religiosa
O Absolutismo e O Iluminismo
Os Déspotas Esclarecidos

HISTÓRIA DO BRASIL
Origens de Portugal
A formação do Reino de Portugal, As Grandes Navegações
O Período Pré-Colonial
A Colonização
O Açúcar, A Economia Açucareira e A Sociedade Açucareira
Invasões Holandesas
As causas e As conseqüências das Invasões
Período de Mineração
Crise do Sistema Colonial
A Independência
O Primeiro Império

I IDADE ANTIGA
Denomina-se Idade Antiga o período histórico compreendido entre a invenção da escrita, por volta
de 4 000 aC., e a conquista de Roma pelos povos bárbaros, ocorrida no ano 476.

1 AS CIVILIZAÇÕES ORIENTAIS
As primeiras civilizações que diretamente influenciaram na formação da cultura ocidental desenvol-
veram-se na região denominada “Crescente Fértil”, que se estende das margens do rio Nilo, no norte da Áfri-

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ca, às margens do dos rios Tigre e Eufrates, no Oriente Médio. Nessa região semi-arida, a agricultura depen-
dia da realização de grandes obras hidráulicas pois a produção de alimentos necessitava de um planejamento
de acordo com a época das cheias. As sobras precisavam ser estocadas, e o esforço coletivo, aproveitado. Des-
se processo surgiu o modo de produção asiático.
No modo de produção asiático o estado controla a produção agrícola sendo o dono absoluto das ter-
ras e do excedente de produção. As terras são usadas pelas comunidades agrícolas, sob o controle do Estado
que dirige o trabalho e ao qual devem obediência e tributos.
De uma forma geral, a sociedade estava dividida em uma classe dominante: formada pelos governan-
tes, sacerdotes, militares e comerciantes e uma classe dominada: formada por camponeses, pequenos artesãos
e escravos (geralmente prisioneiros de guerra).

1.1 O Egito
O Egito compreendia a região do nordeste da África, banhada pelo Nilo, cujo vale forma um estreita
faixa que se estende por cerca de mil km de comprimento por dez de largura. No delta, o rio se abre em vários
braços, com a forma de um triângulo, com aproximadamente 200 km de lado.
Durante as inundações periódicas do Nilo, as terras inundadas eram enriquecidas com o húmus, ele-
mento fertilizante natural. Depois das inundações, quando o rio voltava ao seu normal, o solo estava pronto
para a lavoura. O Nilo fez do Egito um oásis em pleno deserto. Daí a célebre frase do historiador grego, Heró-
doto afirmou que “O Egito é uma dádiva do Nilo”.
A unificação do Egito é atribuída a Menes que, por volta de 3 200 aC., unificou os dois reinos exis-
tentes e tornou-se o primeiro faraó, governante absoluto do Egito, dando início à primeira dinastia.
Com a unificação promovida por Menés, inicia-se o denominado Antigo Império. O faraó passa a
ser considerado um deus vivo, dando ao governo egípcio uma característica teocrática. Durante a 4ª dinastia
foram construídas as grandes pirâmides, monumentos funerários destinados aos faraós. A maiores pirâmides
são as de Queóps, Quéfren e Miquerinos.
Ao final da 6ª dinastia, o poder real enfraquece e os nomarcas, administradores locais passam a com-
trolar o Egito. Tem início um período conturbado que dura até cerca de 2 000 aC., quando o país se reunifica,
tendo início o Médio Império.
Durante o Médio Império o Egito conquistou a Núbia, país situado ao sul, região rica em ouro. Am-
pliou suas trocas comerciais com os povos vizinhos das margens do Mediterrâneo. A cidade de Tebas torna-se
a nova capital do país.
Por volta de 1750 aC., o país foi invadido pelos hicsos, povo originário da Ásia Central e que, utili-
zando carros de combate puxados por cavalos e armas de bronze, desconhecidos pelos egípcios, dominaram o
Egito por mais de um século e meio.
Em cerca de 1 580 aC., os egípcios uniram-se sob liderança da cidade de Tebas expulsando os hicsos
e restabeleceram a unidade política do Egito. Iniciou-se o Novo Império, sob o comando do faraó Amosis,
período de grande expansão militar do país. Usando técnicas e táticas militares aprendidas com os hicsos, os
egípcios organizaram exércitos permanentes e iniciaram um processo de expansão, cujo auge se deu durante a
18ª dinastia, dominando as cidades de Jerusalém, Damasco, Assur e Babilônia, e assumindo o controle de im-
portantes rotas comerciais.
Para manter os gastos com o exército usado nas conquistas, o Estado aumentava os impostos, o que
sobrecarregava os camponeses. Além disso, durante as campanhas militares, os camponeses eram obrigados a
abandonar o cultivo das terras para servir ao exército. O resultado foi o empobrecimento da população, que
trouxe de volta as revoltas sociais e o enfraquecimento do poder dos faraós.
Enfraquecido, o Egito foi invadido sucessivamente pelos assírios, em 670 aC., persas, em 525 aC.,
macedônios em 333 aC., e finalmente, no ano 30 aC., foi dominado pelos romanos.
Um dos elementos mais marcantes da civilização egípcia era a religião. Os egípcios eram politeístas,
e seus deuses possuíam características antropozoomorfas. Amon-Rá era o deus principal, seguido de Osíris,
deus dos mortos; Ísis, esposa e irmã de Osíris; o Hórus, filho de Osíris e Ísis, com corpo humano e cabeça de
falcão.
Durante o Novo Império, o faraó Amenófis IV implementou uma fracassada reforma religiosa, tem-
tando impor à população o culto de Aton, uma religião monoteísta.
Os egípcios acreditavam na vida após a morte, diziam que todos os mortos seriam julgados pelo tri-
bunal de Osíris, podendo retornar a seus corpos se fossem absorvidos. Essa crença levou-os a desenvolver a

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mumificação dos corpos dos mortos que eram enterrados com objetos pessoais que seriam utilizados na outra
vida.

1.2 A Mesopotâmia
A Mesopotâmia está localizada no Oriente Médio, entre os rios Tigre e Eufrates, que, tal como o Ni-
lo, no Egito, adubam o vale durante as inundações, levando os habitantes da região também a construírem
obras hidráulicas como dique, barragens e canais para controlar as águas dos rios.
A história da Mesopotâmia é marcada por uma sucessão de guerras e invasões, que, de modo geral,
disputavam as melhores terras junto à rica planície.
Entre os principais povos que se desenvolveram na Mesopotâmia destacaram-se: os sumérios, os acá-
dios, os amoritas (antigos babilônios), os assírios e os caldeus (novos babilônios).
Os sumérios são os criadores da mais antiga das grandes civilizações da Mesopotâmia, tendo funda-
do as cidades-Estado de Ur, Uruk, Nippur, Lagash e Eridu. Essas cidades sumerianas tinham governo inde-
pendente e, muitas vezes, guerreavam entre si em função de disputas comerciais e políticas.
Nas cidades, o templo era, ao mesmo tempo, um centro político, religioso e econômico. O rei, cha-
mado patesi era o chefe absoluto do templo e da cidade. Atribui-se aos sumérios ai invenção da roda, da es-
crita cuneiforme e dos fundamentos da matemática e da astronomia.
A região por sua fertilidade, era disputada por vários povos. Por volta de 2 000 aC., os acádios, povo
semita que havia fundado a cidade de Acad, comandados pelo rei Sargão I, conquistam e unificam as cidades
sumerianas, dando início ao primeiro império mesopotâmico. Contudo, a unidade do Império Acádio não so-
breviveu após a morte de Sargão I, e as cidades mesopotâmicas recuperaram sua autonomia.
Por volta de 2 000 aC., o povo amorita chegou à Mesopotâmia e estabeleceu-se na Babilônia.
O mais importante rei babilônico foi Hamurabi (1726-1686 aC.), que estendeu sua hegemonia por
toda a Mesopotâmia e determinou a elaboração do Código de Hamurabi, um dos mais antigo conjunto de
leis escritas conhecido. O código define os crimes e as leis a serem aplicadas, adotando o princípio do Talião:
“olho por olho, dente por dente”.
Outro importante povo foi os assírios que habitavam o norte da Mesopotâmia. Os assírios organiza-
ram um dos primeiros exércitos permanentes do mundo. Comandados por Sargão II, os assírios fizeram gran-
des conquistas militares e construíram um dos maiores impérios da Antiguidade. Nos séculos VIII e VII aC.,
dominaram uma extensa região que incluía toda a Mesopotâmia, o Egito e a Síria, até que, em 612 aC., o im-
perio assírio foi destruído pelos caldeus, habitantes da Babilônia.
Nabucodonosor, rei da Babilônia estendeu os domínios de seu império até a Palestina, onde con-
quistou o reino de Judá, impondo aos judeus o denominado Cativeiro da Babilônia, e construiu os Jardins
Suspensos da Babilônia, considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. O domínio caldeu sobre a
região, porém, não durou muito. Em 539 aC., a Babilônia foi conquistada por Ciro, rei dos persas.

1.3 Os persas

Os persas fundaram um dos maiores impérios da Antiguidade, abrangendo desde o rio Indo, na Índia,
até o Egito e o norte da Grécia, tendo seu apogeu no reinado de Dario I (521-485 aC.)
Para administrar seus domínios, Dario I criou uma organização administrativa dividindo o império
em satrapias, províncias dirigidas pelos sátrapas. Várias cidades possuíam status de capital, como Susa, Per-
sépolis, entre as quais freqüentemente se deslocava. Estadas ligavam as principais cidades, como a estrada
que ligava Sardes a Susa, com 2 400 km de extensão.
Dario I criou, ainda, um sistema de correios a cavalo, com postos espalhados em todas as estradas,
uma moeda única, o dárico, a primeira unidade monetária internacional. O Império adotou uma só língua, o
aramaico.
As tentativas de dominar as colônias gregas da Ásia Menor deram origem às Guerras Médicas, entre
a Grécia e a Pérsia. A vitória grega assinalou o começo do declínio do Império Persa que, em 330 aC., foi
conquistado por Alexandre da Macedônia.
A religião persa, cuja origem é atribuída a Zoroastro (ou Zaratrusta). O zoroatrismo, pregava a exis-
tência de dois deuses, Ormuz-Mazda (o bem) e Arimã (o mal). Sua doutrina, contida no livro Zend-Avesta,
influenciou o judaísmo e o cristianismo.

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1.4 Os hebreus
Os hebreus são um povo de origem semita, que, segundo a Bíblia, teriam abandonado a cidade de Ur,
na Caldéia em direção à Palestina, estreita faixa de terras, situada entre o mar Mediterrâneo, a Fenícia, a Síria
e o deserto da Arábia, por volta do século XVIII aC., chefiados por um patriarca, de nome Abraão.
Posteriormente, os hebreus imigraram para o Egito, então domindo pelo hicsos, onde viveram até o
ano 1 250 aC., quando, liderados por Moisés, retornaram a Palestiana no denominado Êxodo. Durante a jor-
nada, Moisés teria recebido de Deus as tábuas da lei, contendo os Dez Mandamentos.
No retorno do Egito, os hebreus encontraram a Palestina ocupada pelos cananeus e filisteus, com
quem tiveram de lutar durante quase dois séculos. Nessa fase, eles foram governados por juízes, chefes mili-
tares, políticos e religiosos, que a população considerava enviados por Deus para guiá-la. Após dominarem a
região, Saul, torna-se o 1º rei de Israel.
Salomão, filho de Davi, estruturou o reino dos hebreus e conquistou o Templo de Jerusalém para
guardar a Arca da Aliança. Estabeleceu relações comerciais como outros países e manteve uma corte luxuosa
às custas de impostos, o que provocou revoltas que desestruturaram o reino. Após a morte de Salomão, ocor-
reu uma divisão (cisma) entre as 12 tribos. As dez tribos do norte formaram o reino de Israel, com capital em
Samaria, e as duas tribos do sul o reino de Judá, mantendo como capital Jerusalém.
A partir de então, a região foi sucessivamente invadida pelos assírios, babilônios, persas, macedônios
e romanos. No ano 70 dC., durante o governo do imperador romano Tito, a cidade de Jerusalém foi destruída
e os hebreus (já chamados judeus), foram expulsos da Palestina. Essa dispersão dos judeus recebeu o nome de
Diáspora quando os judeus se espalharam pelo mundo, até 1948 quando, com apoio da ONU, recriaram o Es-
tado de Israel.
A criação da primeira religião monoteísta conhecida foi a maior contribuição cultural dos hebreus ao
mundo ocidental. O judaísmo, religião hebraica, que continua a ser praticada, está contido no Velho Testa-
mento da Bíblia e influenciou não só a religião cristã, que também tem suas origens na Bíblia, bem como a re-
ligião islâmica.

1.5 Os Fenícios
Os fenícos, de origem semita, como os hebreus, que estabeleceram-se na região do atual Líbano, uma
estreita faixa de terra entre as montanhas e o Mar Mediterrâneo. A terra era pouco fértil, mas com muitos por-
tos naturais, fez com que os fenícios estabelecessem como sua principal atividade econômica o comércio ma-
rítimo, estabelecendo uma talassocracia.
Não existia unidade política na região, mas sim um conjunto de cidades-Estado independentes, cada
uma delas possuindo seu próprio governo e leis, sendo a mais importantes Biblos, Tiro, Sidon e Ugarit.
As cidades eram governadas por um rei auxiliado pelos sacerdotes, comerciantes e pelos membros do
conselho de anciãos, no qual se destacavam os magistrados denominados sufetas.
Era comum as cidades fenícias brigarem entre si pela disputa dos mercados comerciais e, embora ne-
nhuma tenha sido suficientemente forte para impor completo domínio sobre as demais, de tempos em tempos,
uma cidade se destacava.
Entre os séculos X e VIII aC., Tiro tornou-se a cidade mais importante pelo sucesso de sua vida co-
mercial e marítima e pólo acúmulo de grandes riquezas, como ouro, marfim, pedras preciosas, perfumes, ta-
petes etc. Foi nesse período que a Fenícia viveu seu maior desenvolvimento econômico.
A partir do século VII aC., a Fenícia foi sucessivamente dominada pelos assírios, babilônios e persas,
até que, em 332 aC., Alexandre o Grande, anexou a Fenícia ao Império Macedônio.
A necessidade de facilitar o comércio estimulou os fenícios a criarem o alfabeto. O alfabeto fenício
possuía 22 letras e era mais simples que a escrita cuneiforme dos sumérios ou a hieróglifa egípcia, e serviu de
base para o alfabeto grego, que, por sua vez originou o latino, que gerou o alfabeto usado no Brasil.

EXERCÍCIOS
01 (UFG2001)
Apoiado num oráculo favorável dado por Ashur, meu senhor, eu lutei contra eles e infrigi-lhes uma derrota.
No calor da batalha, eu pessoalmente capturei vivos os aurigas da Etiópia. Ataquei Ekron e matei os oficiais

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e patrícios que haviam cometido o crime e pendurei seus corpos em estacas circundando a cidade. (Do Pris-
ma de Sanaqueribe)
Jaime Pisnky, 100 Textos de História Antiga, São Paulo: Global, 1980. P.125.
Sobre as guerras que envolveram as civilizações do mundo antigo, pode-se afirmar que
( ) 1 por vontade 1750 aC., o Egito foi dominado pelos hicsos, povo asiático de origem semita que conse-
guiu impor-se por causa de novas técnicas guerreiras, como o carro de guerra e as armas de bronze.
( ) 2 os hebreus consolidaram-se como povo comerciante e navegador: fundaram colônias em todo o Medi-
terrâneo e sua política expansionista foi denominada talassocracia .
( ) 3 sumérios, babilônios e assírios sucederam-se como povos hegemônicos na Mesopotâmia; posterior-
mente, a região caiu sob domínio persa e macedônio.
( ) 4 as guerras Médicas, Púnicas e do Peloponese são indícios das tensões e dos conflitos que dividiam as
civilizações da Antiguidade.

02 (UnB-1/83) Com relação a história do povo hebreu, pode-se afirmar que:


( ) 1 a sociedade hebraica primitiva tinha como base a família patriarcal, sendo os mais velhos respeitados
pela sua sabedorias e conhecimento da lei.
( ) 2 grande parte da história do povo hebreu está contida na Bíblia, ou melhor, no Antigo Testamento.
( ) 3 o processo de aglutinação política dos judeus permitiu o surgimento de doze tribos, dirigidas por che-
fes poderosos, os juízes.
( ) 4 o Cristianismo e o Islamismo são religiões originárias do judaísmo.
( ) 5 Jeová é a denominação de Deus, institucionalizada através de leis de conduta, escritas por Moisés no
Pentateuco, ressaltando-se os Dez Mandamentos, como norma de vida.
( ) 6 Cartago sobreviveu como cidade mais importante, até que foi destruída no século I aC., pelos romanos,
nas Guerras Púnicas.

03 (UFSC) Sobre os egípcios é correto afirmar que:


(a) A religião era do tipo politeísta, marcando profundamente a cultura.
(b) As mastabas eram templo em honra ao deus Osíris.
(c) Os egípcios acreditavam na imortalidade da alma.
(d) O faro exercia um poder meramente decorativo.
(e) O governo egípcio era fortemente influenciado pelos trabalhadores livres.

04 (UFPE) A arquitetura, no sentido de arte, técnica, foi regulamentada e conhecida primeiramente no


Egito.
Assinale a alternativa correta sobre a arte no Egito.
(a) As construções das pirâmides no Egito têm início com as pirâmides de Keóps, Kéfren e Miquerinos.
(b) A arquitetura egípcia antiga se caracterizava por seu sentido monumental e de imobilidade com vis-
tas ao ritual religioso-funerário.
(c) Os faraós egípcios do Antigo Império determinaram as construções de mastabas e menhires no Vale
dos Reis.
(d) A idéias religiosa egípcia de vida após a morte foi comum àquela sociedade apenas depois da inva-
sões dos hicsos.
(e) A construção das pirâmides e de outros edifícios no Egito antigo teve uma função econômica: a
guarda dos grãos para os anos de escassez.

05 (UPE-PE) A cultura do Egito antigo influenciou muitos povos, inclusive os gregos. Foi realização
notável
dos egípcios:
(a) a invenção da escrita cuneiforme, muito usada nas transações comerciais.
(b) o conhecimento sobre as técnicas de mumificação controladas por sacerdotes.
(c) a invenção da álgebra utilizada nos cálculos fundamentais na construção de monumentos.
(d) a construção de templos luxuosos, os zigurates, onde faziam cerimônias de oferendas aos deuses.
(e) a criação da religião dualista que via, na luta entre o bem e o mal, a base da existência moral dos
homens.

06 (UNEB/ICSA-DF) Sobre a economia do Egito antigo, podemos afirmar que:

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(a) foi organizada a partir da existência da propriedade privada.
(b) a criação do gado e a mineração eram as principais atividades econômicas egípcias.
(c) havia profunda intervenção do Estado na organização da produção.
(d) o comércio era altamente desenvolvido, devido à facilidade de comunicação com o exterior.
(e) a proximidade com o mar Mediterrâneo permitiu aos egípcios desenvolverem o comércio marítimo.

II ANTIGUIDADE CLÁSSICA

1. A GRÉCIA ANTIGA

O Período Pré-Homérico (séc. XX-XII aC.)


No início do II milênio aC., sucessivas ondas de invasões de tribos indo-européias, aqueus, jônios e
eólios, oriundas da Ásia Central, chegaram à bacia do mar Egeu e miscigenaram-se com os pelágios, povos
que viviam na península Balcânica, e nas ilhas vizinhas, dando origem à civilização creto-micênica (a ilha de
Creta e a cidade de Micenas eram os principais centros dessa civilização).
A península Balcânica apresenta um relevo acidentado, onde quase inexistem as planícies. Mas o
mar Egeu, que banha a parte leste da península, é calmo, o que facilita, em muito, a navegação. De certa for-
ma, a natureza determinou o destino dos gregos: o comércio marítimo.
No século XII aC., os dórios, guerreiros violentos, destruíram as cidades que encontraram pela fren-
te, inclusive Micenas. Para se livrar dos dórios, a população fugiu para o exterior, construindo colônias em vá-
rios pontos do mar Mediterrâneo. A esta dispersão deu-se o nome de primeira diáspora grega.

O Período Homérico (século XII-VIII aC.)


Os estudos sobre o período que sucede à invasão dórica foram, em muito facilitados pela leitura de
duas obras atribuídas a um poeta chamado Homero: Ilíada e Odisséia. Com base nessas obras, podemos ter
uma idéia de como se funcionavam os genos, forma de organização social dos gregos neste período.
Os genos eram grupos consangüíneos, que explorava coletivamente a terra. O pater famílias, chefe
político e religioso, organizava a produção e distribuía a justiça, baseando-se nas tradições.
Os genos raramente faziam comércio, produzindo, em regra, tudo o que fosse necessário para seu
sustenteo, e vivendo de maneira auto-suficiente. Porém, à medida que a população aumenta, a produção agrí-
cola não consegue acompanhá-la. Este problema econômico provocou um descontentamento que levou ao in-
dividualismo e ao afrouxamento dos laços familiares, completando a desintegração do genos. As terras torna-
ram-se propriedade privada, e seus proprietários monopolizaram o poder político, formando uma aristocracia
agrícola, os eupátridas.
Com desaparecimento da unidade familiar criou condições para a formação de uma nova unidade po-
lítica, através da aglutinação dos eupátriada em frátrias e tribos, surgindo, posteriormente as cidades-Estado.

O Período Arcaico (século VIII-VI aC.)


No início do período arcaico, o excesso populacional obrigou com que grande parte da população
grega emigra-se em busca de terras férteis. Iniciou-se então, o processo conhecido como a segunda diáspora
grega, que se caracterizou pelas ocupação de várias regiões da bacia do Mar Mediterrâneo.
Ao mesmo tempo, se consolidavam as cidades-Estado, dentre estas, duas que são fundamentais para
o entendimento da história grega: Esparta e Atenas.

Esparta
Esparta foi fundada por volta do século IX aC., pelos dórios, que conquistaram e escravizaram os an-
tigos moradores da região da planície da Lacônia.

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A sociedade espartana estava dividida em três camadas: esparciatas, periécos e hilotas.
Os esparciatas, descendentes dos dórios, dominavam a cidade e eram guerreiros, utilizando as terras
apenas para manutenção pessoal, sem se preocupar com a produção de excedentes. Os periécos dedicavam-se
ao artesanato e ao comércio. Não tinham direitos políticos, mas estavam isentos das obrigações militares. Os
hilotas descendiam dos antigos moradores da região que se tornaram escravos do estado.
A organização política de Esparta era atribuída a Licurgo, um legislador lendário. A cidade era go-
vernada por uma Diárquia, que possuía, na verdade apenas as funções religiosas e militares, e pela Gerúsia,
conselho dos anciões escolhidos pela Apela (assembléia dos cidadãos maiores de 30 anos). Os Gerontes em-
carregavam-se de nomear os reais chefes do poder executivo, os Éforos, em número de cinco e com mandato
anual.
A sociedade espartana era extremamente conservadora e militarista. Os esparciatas, ao nascerem,
eram avaliados fisicamente e os que não pudessem se tornar bons soldados eram imediatamente eliminados.
Aos sete anos passavam a ser educado pelo Estado, iniciando um rígido treinamento que se estendia até aos
30 anos.
As mulheres, que também recebiam treinamento militar gozavam de liberdade e respeito. Afinal,
eram elas que cuidavam das atividades econômicas quando seus maridos estavam em guerra. Ou seja, quase
sempre.

Atenas
Fundada pelos jônios, na região da Ática, às margens do mar Egeu, Atenas era no início governada
por um rei, denominado basileu, assessorado por um Conselho de aristocratas: o areópago. Com o tempo, o
areópago absorveu as funções do rei, sendo estabelecido o Arcontado, um governo oligárquico, monopoliza-
do pela aristocracia eupátrida. Periodicamente os arcontes eram substituídos.
O desenvolvimento econômico de Atenas provocou a ascensão social dos comerciantes e artesãos,
mas tornou mais grave a situação dos pequenos proprietários e marginais.
Tentando conter a tensão social, os aristocratas foram obrigados a fazer concessões políticas. Sur-
gem, assim, os legisladores, que fizeram alguma reformas: Drácon codificou as leis, até então orais; Sólon
estabeleceu um critério econômico de participação política e aboliu a escravidão por dívidas.
Os legisladores, porém, não conseguiram estancar as tensões sociais e, aproveitando-se destas, sur-
giram os tiranos, que assumiram o poder através de golpes.
Clístenes, o último tirano, realizou as reformas que implantaram a democracia em Atenas. O direito
à participação política foi estendido a todos os cidadãos, que o exerciam diretamente através da Eclésia (as-
sembléia popular); todos, através de sorteio, poderiam ocupar os cargos públicos, que passam a ser remune-
rados; os suspeitos de prejudicarem a ordem democrática seriam afastados através do ostracismo.
Contudo, se todos os cidadãos participavam da democracia, nem todos os habitantes de Atenas eram
cidadãos. Estamos diante de uma democracia escravista, onde estrangeiros, mulheres e escravos estavam pri-
vados do direito de cidadania.

O Período Clássico (século V-IV aC.)


O fortalecimento econômico de Atenas fez crescer o interesse imperialista por outras regiões do Me-
diterrâneo Oriental, gerando tensões com o Império Persa, que também cobiçava as mesmas regiões. A guerra
tornou-se inevitável. As lutas entre gregos e persas ficaram conhecidas como Guerras Médicas.
Com o objetivo de infligir aos persas uma derrota contundente, os gregos uniram-se num liga guer-
reira, a Liga de Delos. Atenas tem a liderança e os aliados contribuíram com navios, equipamentos, soldados
ou dinheiro para financiar a guerra. Contudo, após a derrota persa, Péricles, governante de Atenas, aprovei-
tou-se dos tesouros e impostos da Liga de Delos para financiar várias obras públicas, o que provocou a ira de
várias cidades-Estado.
Esparta, Corinto, Tebas e Megara aliaram-se contra Atenas, dando início à Guerra do Peloponeso. A
luta arrasta-se por 27 anos e Atenas acaba derrotada. Na verdade, a Guerra do Peloponeso não teve vencedo-
res, pois as cidades-Estado grega viram-se tremendamente enfraquecidas.

O Período Helenístico (século IV aC.)

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Enquanto os gregos lutam entre si, Felipe II, rei da Macedônia, grande admirador da cultura helênica
e conhecedor dos problemas do mundo grego, dos seus conflitos e das rivalidades internas, jogas as cidades
gregas umas contra as outras, enfraquecendo-as e submetendo-as ao seu domínio.
Alexandre, filho e sucessor de Felipe, educado pelo filósofo grego Aristóteles, considerava-se pre-
destinado a governar o planeta. Tratou, de imediato, de tentar cumprir o que considerava ser seu destino: em
incursões fulminantes, dominou toda a península Balcânica, norte da África, península Arábica, a Pérsia, che-
gando às fronteiras da Índia. Soube unificar os territórios conquistados, fazendo aliança com os reis derrota-
dos, casando-se com suas filhas. Difundiu a cultura helênica, criando inúmeras cidades nos moldes gregos, às
quais deu sempre o mesmo nome: Alexandria.
Como seu pai, porém, não pode gozar da glória de ter construído um grande império: vítima de febre
dos pântanos, morreu aos 33 anos de idade, sem ter deixado um único herdeiro, apesar das inúmeras esposas.
Os generais de Alexandre brigaram entre si, com o objetivo de dominar o Império; conseguiram ape-
nas enfraquecê-lo, toranando-o presa fácil de um povo que estava em ascensão: o povo romano.

A Cultura Grega
A cultura grega alcançou um notável nível de desenvolvimento, especialmente no Período Clássico
(séculos V aC.), durante o governo de Péricles, em Atenas. Era uma cultura profundamente humanística, cu-
jos conceitos e realizações tornaram-se a base da cultura ocidental contemporânea.
Os antigos gregos eram politeístas, sendo seus deuses representados de forma antropomórfica (com
figuras humans).
No campo das artes plásticas, os gregos desenvolveram, principalmente, a arquitetura e a escultura.
As estátuas gregas reproduziam com perfeição os corpos humanos, destacando a beleza de suas formas.
Na literatura destacaram-se pela criação do teatro onde eram representadas peçasl de dois estilos: as
tragédias e as comédias.
Dentre todas as criações gregas, porém, merece profundo destaque a filosofia, com ênfase ao pensa-
mento de Sócrates, Platão e Aristóteles.

Exercícios
07 (Unesp) A história política da Grécia, na Antiguidade Clássica, caracterizou-se:
(a) por uma organização teocrática.
(b) por uma organização imperial.
(c) pelas existência de cidades-Estado que atuavam, politicamente, como unidades autônomas.
(d) pela alternância de dinastias hegemônicas.
(e) por uma federação estável, regida de forma ditatorial.

08 (Vunesp) Com referência à Grécia e sua civilização, assinale a alternativa incorreta:


(a) Um fato físico - relevo montanhoso - dificultou a unificação e a integração das tribos gregas em
uma só nação.
(b) Os invasores aqueus e dórios dominaram as populações gregas sem, contudo, assimilar sua cultura.
(c) A base de toda a organização política do povo grego era representada pela cidade-Estado.
(d) Em Atenas, todos os direitos políticos eram assegurados aos seus cidadãos livres e não-estrangeiros.
(e) Em Esparta, a educação destinava-se, exclusivamente, ao preparo de excelentes soldados e cidadãos
fiéis.

09 (UEL-PR) “Com a nova divisão da sociedade, qualquer cidadão poderia participar das decisões do poder.
Apenas os escravos e os metecos (estrangeiros) não participavam das decisões políticas, pois não tinham dir-
eito de cidadania”
Ao texto pode-se associar:
(a) Dracon e a expansão colonial em direção ao Mediterrâneo.
(b) Sólon e a militarização da política espartana.
(c) Pisístrato e a helenização da Península Balcânica.
(d) Péricles e a hegemonis cultural grega no Peloponeso.

8
(e) Clíestenes e a democracia escravista ateniense.

10 (UM-SP) No processo histórico da Grécia antiga, a Confederação de Delos, organizada no século V aC.,e
que chegou a reunir 400 cidades, esta associada:
(a) ao fracasso grego nas Guerras Médicas.
(b) à extinção da democracia escravista grega.
(c) à ascensão persa em função do controle sobre todo o Mediterrâneo ocidental.
(d) ao imperialismo ateniense, fortalecido na luta contra os persas.
(e) à unificação política das cidades gregas para enfrentar a invasão Macedônia.

11 (UFG/2002)
A migração é uma forma de escapar às questões complicadas que dizem respeito à propriedade das
terras, ao perdão das dívidas e às partilhas; porém, quando uma cidade antiga tem que legislar sobre esses
assuntos, deve fazê-lo a longo prazo e de maneira cautelosa, para não provocar conflitos.
Adaptado de Platão, As Leis, In ACKER, Tereza Van. Grécia. A vida cotidiana na Cidade-Estado, São Paulo; atual, p.63.

O estudo dos movimentos populacionais revela bem mais que o mero deslocamento de povos em um
território. Há uma lógica política que procura responder aos conflitos inerentes à vida social.
Acerca dos embates políticos e dos movimentos migratórios na Grécia Antiga (VI aC.-IV aC.) julgue
os itens:
01. ( ) Em Atenas, os conflitos políticos deixaram de ser uma mera questão privada. A formação da polis de-
finiu um conjunto de regras e leis escritas que deveriam ser aceitas e obedeciadas pelo conjunto dos
cidadãos.
02. ( ) Em Atenas, as migrações representaram uma estratégia de resolução das tensões sociais, possibilitan-
do a distriabuição de terras e a resolução dos conflitos por meio de concessões feitas ao povo.
03. ( ) O expansionismo de Atenas teve como resultado a formação de um império centralizado, rompendo
com a fragmentação política que marcava a organização das cidades-estado.
04. ( ) A propriedade da terra era considerada o fundamento do regime democrático e a distribuição de terras
nas colônias rompeu com o regime escravista, que, gradualmente, foi substituído pelo trabalho de pe-
quenos proprietários.

12 (CEFET/2002)
“Atenas, Esparta, Mileto, Siracusa e Roma eram cidades com uma quantidade maior ou menor de
territórios, do qual tiravam seus meios de subsistência. Este território era, sem dúvida, um elemento essencial,
mas não constituía o coração e a vida do Estado. Era na cidade que o coração e a vida se concentravam, e o
território era somente o apêndice.”
FOWLER, W.WARDE. The City-State of the greeks and Ronans.
O texto acima demonstra a importância das cidades-estado clássicas, e, por isso mesmo, a necessida-
de de se reconhecer suas características fundamentais, até mesmo para se compreender a organização política
e social atual. Constituem características das cidades-estado:
01. ( ) A tripartição do governo em assembléia(s), conselho(s) e magistraturas, composto por homens elegí-
veis.
02. ( ) A participação direta dos cidadãos no processo político das cidades-estado demonstrava a importância
das decisões coletivas (via conselhos e/ou assembléias), que eram discutidas, votadas e deveriam ser
acatadas por toda a comunidade.
03. ( ) Não existia uma separação entre órgãos de governo e justiça e os sacerdotes integravam o Estado.
04. ( ) Como “coração e vida” do Estado, as cidades-estado clássicas não admitiam a exclusão das mulheres
do debate e da participação política, diferentemente de outras cidades e comunidades.

13 (UnB 2001/2) Os macedônios marcharam de vitória em vitória, até os confins do mundo, suplantando to-
dos os rivais ao longo do caminho nas inúmeras batalhas que tiveram que travar. Além de sua derrocada cora-
gem, desfrutavam sobre o inimigo de uma superioridade tática decisiva. Foi a extraordinária falange modifi-
cada, parente da velha formação dos hoplitas helênicos, que deu sustento à construção da duradoura marca da
legenda de audácia de Alexandre.
Inteligência. jan./fev./mar./2001.

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A partir do fragmento do texto acima, julgue os seguintes itens, relativos à Antiguidade Clássica.
01. ( ) Os atenienses, apesar de terem se destacado pela habilidade militar, foram incapazes de estabelecer
um vínculo mercantil e colonial com as conquistas obtidas na bacia mediterrânea.
02. ( ) Os helênicos construíram uma civilização na qual prevalecia unidades políticas independentes, cuja
formação sóciopolítica contribuiu para que ocorressem dissidências internas que fragilizaram o pode-
rio da península balcânica.
03. ( ) Os macedônios foram vitoriosos no seu combate aos gregos e souberam impor sua cultura política,
sua língua e suas bases filosóficas, que nortearam o pensamento ocidental.
04. ( ) Os exércitos, na Antiguidade Clássica, foram instrumento eficaz na reprodução de unidades produti-
vas e conferiam àqueles que se incorporavam a suas fileiras um status de homens livres e portadores
de privilégios sociais.

14 (Unicamp) Para a historiadora francesa J. Romilly, a Guerra do Peloponeso foi o “suicídio profundo da
Grécia das cidades”.
a) O que foi a Guerra do Peloponeso ?
b) Por que a autora afirma que a guerra foi o “suicídio” das cidades-Estado gregas ?

15 (Fuvest)
“Mirem-se no espelho daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
Os seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas
(Chico Buarque de Holanda e Augusto Boal)

A letra da música “Mulheres de Atenas” esboça o papel da mulher na sociedade ateniense. Que papel
é esse e no que se diferencia do exercido pela mulher espartana ?

16 (UFG/2002 – 2ª fase)
“... os fatos da antiguidade foram muito próximos de como escrevi, não dando muito crédito, de um
lado, às versões que os poetas cantaram, adornando e amplificando seus temas, ou de outro considerando-se
que os legófragos (os primeiros escritores gregos) compuseram as suas obras mais com a intenção de agradar
os ouvidos que de dizer a verdade (...) deve-se olhar os fatos como estabelecidos com precisão suficiente, à
base de informações mais nítidas”.
Tucídides I, 21. História da Guerra do Peloponeso. Brasília, Ed. Da UnB. 1999, p.25.

O desenvolvimento do pensamento filosófico e o nascimento da História (a investigação que localiza


as “informações mais nítidas”), como atividade que distingue mito e verdade, foram concomitantemente ao
nascimento da polis e conheceram um período de florescência no denominado “Século de Péricles”.

Discorra sobre os aspectos culturais e políticos desse período da história da Grécia Antiga.

2 ROMA

O Período Monárquico
Proprietários de conhecimentos tecnológicos superiores, tribos indo-européias, invadiram a península
Itálica, no século XII aC., derrotando os seus primitivos ocupantes. Etruscos e latinos, entre outras tribos, do-
minaram o centro e o norte da península. Pouco tempo depois, os gregos fundam núcleos povoadores no sul;

10
esta região passa a ser chamada “Magna Grécia”. No século VIII aC., surge Roma, cidade construída pelos la-
tinos.
O pequeno povoado de Roma, nos primeiros tempos, era monárquico. O rei era assessorado por uma
assembléia de anciões, denominada Senado, e pela Assembléia Curiata (que possuía claras características re-
ligiosas).
A terra era propriedade dos genos, e a agricultura era a principal atividade econômica. Não havia, no
início da história romana, muitas possibilidades de mobilidade social. A sociedade romana era basicamente
composta de três grupos: patrícios (proprietários de terras), clientes (que dependiam dos favores dos patrícios)
e plebeus (trabalhadores).
O último rei de Roma, Tarquínio, o Soberbo, tendia a defender interesses populares, o que provocou
uma enorme insatisfação do grupo patrício. Em resposta, no ano 509 aC., os aristocratas patrícios derrubaram
o rei, implantando uma república claramente oligárquica.

A República

A República romana tinha as seguintes instituições políticas: as Magistraturas (que exerciam o poder
executivo), o Senado (aristocrático e poderoso, que fazia as leis) e as “Comicias” (ou assembléias, que permi-
tiam a participação dos cidadãos comuns).
O crescimento da cidade acabou por determinar o fortalecimento das atividades comerciais. E como
os comerciantes eram todos plebeus, surgiu um novo problema: estes plebeus enriquecidos (também chama-
dos “homens novos” ou, ainda, eqüestres) se sentiam no direito de intervir nas decisões políticas, entrando
em conflito com os patrícios, que monopolizavam o poder. Os comerciantes dispostos a forçar esta participa-
ção, lideraram revoltas populares que tiveram como resultado o reconhecimento de direitos políticos aos ple-
beus tais como a eleição dos Tribunos da Plebe e o surgimento de uma legislação escrita, a Lei das XII Tá-
buas.

O imperialismo republicano

No início do século IV aC., Roma inicia sua expansão territorial. Em 264 aC., Roma começa a mais
difícil de todas as suas lutas: as Guerras Púnicas, contra a cidade de Cartago. A disputa pelo domínio da
ilha da Sicília, estrategicamente situada no centro do mar Mediterrâneo, provocou a luta, vencida pelos roma-
nos. Vencida as Guerras Púnicas, Roma inicia um processo avassalador de anexação territorial, em todo o li-
toral do mar Mediterrâneo. Em pouco tempo, o Mediterrâneo transformou-se em propriedade romana, pas-
sando a ser chamado mare nostrum, o “nosso mar”.
Essas conquistas territoriais alteraram muito as condições econômicas, sociais e políticas de Roma.
Na economia, ocorreu um aumento dos desníveis sociais. O desenvolvimento comercial provocou a entrada
de produtos importados na península Itálica, o que determinou uma crise violenta na agricultura italiana. Os
pequenos proprietários arruinaram-se, enquanto a mão-de-obra escrava se tornou a base da produção econô-
mica.
No plano social, amplia-se o enriquecimento da classe dos comerciantes de origem plebéia, que ago-
ra se sentiam em condições de peitear o poder político. Os plebeus pobres migram do campo para a cidade,
aumentando o número de clientes e de marginalizados, uma vez que não havia possibilidade para o trabalho
livre; tal a quantidade de escravos capturados nas guerras.
Na política, grandes embates aproximam-se: os nobres, beneficiados pelas instituições existentes,
tentarão preservá-las; os “homens novos”, ou comerciantes, querem, obviamente alterar as instituições. A
grande massa urbana acabará sendo instrumento ora dos nobres, ora dos comerciantes, sem consciência dos
seus interesses políticos.

A crise da República

Um tribuno da plebe, Tibério Graco, sabia que as injustiças sociais e a impossibilidade de trabalhar
transformaram os plebeus em marginais facilmente manipuláveis. A solução seria a concessão de terras atra-
vés da implementação de uma reforma agrária. Ao levar adiante suas propostas Tibério Graco atraiu contra si
a ira do Senado e dos Latifundiários. Aproveitando-se dessas circunstâncias, os inimigos de Tibério assassi-

11
naram-no, bem como seus partidários. Seu irmão, Caio tentou seguir as propostas, contudo também foi elimi-
nado pelos aristocratas.
As tensões sociais, que os irmãos Graco tentaram reduzir, começaram a avolumar-se. Alguns comer-
ciantes espertos se aproveitaram da insatisfação popular para galgar o poder. Surgiram os ditadores.
Mário, um comerciante que se tornou general, criou o Partido Popular e reelegeu-se seis vezes segui-
da ao cargo de Cônsul, o que era ilegal. Por isso, pode ser considerado um ditador, ao estilo moderno, embora
gozasse de inegável apoio popular.
Com a morte de Mário, chegou ao poder um general que possuía vínculos fortes com a aristocracia
patrícia. Trata-se de Sila que, ao se tornar governante, perseguiu e matou a grande maioria dos seguidores de
Mário. Apesar de governar de maneira muito violenta, é inegável que Sila realizou uma administração com-
petente. Sila renunciou à vida política em 79 aC., e morreu logo a seguir.
A morte de Sila serviu como uma espécie de sinal para o início de uma grande disputa pelo poder.
Em 60 aC., não havendo vencedores nessa luta política, resolveu-se dividir Roma entre César, Pompeu e
Crasso. Surgia o Primeiro Triunvirato.
César, após eliminar Pompeu e Crasso, reduziu a influência do senado e acumulou uma grande quan-
tidade de títulos e poderes. Foi um administrador competente e reformador. Contudo, ao tentar se tornar rei
trouxe contra si a ira do senado, sendo assassinado por um grupo de senadores.
Um Segundo Triunvirato foi organizado, com a participação de Otávio, Marco Antônio e Lépido.
Da mesma forma que aconteceu com o Primeiro Triunvirato, ocorreu o rompimento político entre os triúnvi-
ros. Venceu Otávio. Estava surgindo o Império.

O Alto Império
Durante o seu governo (27 aC.-14 dC.), Otávio acumulou poderes, recebendo, dentre outros, o título
de Augusto. Ocorreram importantes alterações administrativas, com uma diminuição substancial do poder do
senado.
No plano das obras de governo, são fundamentais a conclusão da construção de um eficiente sistema
de esgotos, na cidade de Roma (o nome desse sistema era perfeito: Cloaca Máxima!).
Augusto realizou uma reforma cultural. Nessa cruzada cultural, foi importante a ajuda de um amigo
pessoal de Augusto, Mecenas, que financiava os artistas que realizassem obras afinadas com a visão recatada
e moralista do imperador.
Preocupado com as turbulências provocadas pelas guerras, Augusto decide evitá-las: decreta a Pax
Romana. encerrando o ciclo de expansão territorial de Roma.
No período do Alto Império foi o crescimento econômico e tranqüilidade política, em que pesem os
desatinos políticos cometidos durante os governos dos imperadores Tibério, Calígula e Nero.
No governo de Nero inicia-se a violenta perseguição ao cristianismo, religião que se expandia entre
as camadas mais pobres do império. A causa dessa perseguição deveu-se ao fato dos cristãos se recusarem a
aceitar a divindade do imperador, tal como fora estabelecida no governo de Calígula. Dessa forma passam a
serem considerados inimigos do Estado.
O apogeu imperial ocorreu na chamada dinastia dos Antoninos. Trajano, Adriano e Marco Aurélio (o
imperador-filósofo) foram os nomes mais importantes desse período.

O Baixo Império

A partir do início do século III, um violenta crise econômica abalou o Império Romano. Sua causa
básicas foi a crise do sistema escravista, provocada pela diminuição do número de escravos, ocorrida em vir-
tude da suspensão das guerras de conquista.
Como os escravos produziam quase tudo, a diminuição da oferta de mão-de-obra cativa provocou um
encarecimento geral no preço de todos os produtos.
A inflação decorrente provocou o aumento na cobrança dos impostos, para que o Estado romano pu-
desse fazer frente as suas despesas. A reação inevitável foi uma diminuição das atividades comerciais, em fa-
vor do aumento do número de vilas romanas. Esta ruralização econômica atraiu mão-de-obra que vivia nas ci-
dades: ocorre um êxodo urbano, com os antigos assalariados se transformando em colonos, que trabalhavam
nas vilas romanas em troca de parte do que produziam.

12
A queda da produção diminuiu os recursos arrecadados pelo Estado, que precisou cortar as despesas
para equilibrar o orçamento. No exército, para diminuir os gastos, varias legiões foram dispensadas e merce-
nários bárbaros foram contratados.
Do ponto de vista ideológico, um grande problema contribuiu para a ampliação da crise do Império:
a difusão do cristianismo.
Tentando contornar a crise, o imperador Diocleciano fez uma reforma administrativa, dividindo o
império em dois: o Império Romano do Ocidente, cuja capital seria Roma, e o Império Romano do Orien-
te que teria como sede na cidade de Constantinopla.
Era tarde demais para salvar o Império. As invasões bárbaras ocuparam a parte ocidental da Europa.
muito menos pela força dos invasores do que pela fraqueza daquele que foi o mais poderoso Estado da histó-
ria da humanidade. Em 476, o medíocre Odoacro, rei dos hérulos, derruba Rômulo Agustulo, O Império Ro-
mano do Ocidente é destruído.
O Império Romano do Oriente mantém-se, passando a ser considerado como Império Bizantino.

Exercícios

17 (Puc-SP) Após a revolta dos plebeus em 493 aC., os patrícios concederam-lhes, como defensores espe-
ciais, os tribunos da plebe, cuja força e influência decorriam:
(a) do direito de veto a qualquer medida governamental que prejudicasse a plebe.
(b) do direito de voto na escolha dos pretores, que administravam a justiça.
(c) da importância econômica da classe da qual eram representantes.
(d) do exército do qual eram comandantes-em-chefe.
(e) do controle do abastecimento da cidade, policiamento e organização dos espetáculos.

18 (Fuvest) A expansão de Roma durante a República, com o conseqüente domínio da bacia do Mediterrâ-
neo provocou transformações sociais e econômicas, dentre as quais:
(a) marcado processo de industrialização, êxodo urbano, endividamento do Estado.
(b) fortalecimento da classe plebéia, expansão da pequena propriedade, propagação do cristianismo.
(c) crescimento da economia agro-pastoril, intensificação das exportações, aumento do trabalho livre.
(d) enriquecimento do Estado romano, aparecimento de uma poderosa classe de comerciantes, aumento
do número de escravos.
(e) diminuição da produção dos latifúndios, acentuado processo inflacionário, escassez de mão-de-obra
escrava.

19 (Fuvest) Várias razões explicam as perseguições sofridas pelos cristãos no Império Romano, entre elas:
(a) a oposição á religião do Estado romano e a negação da origem divina do imperador pelos cristãos.
(b) a publicação do Edito de Milão, que impediu a legalização do cristianismo e alimentou a repressão.
(c) a formação de heresias como a do arianismo, de autoria do bispo Ário, que negava a natureza divina
de Cristo.
(d) a organização dos Concílios Ecumênicos, que visavam a promover a definição da doutrina cristã.
(e) o fortalecimento do paganismo sob o imperador Teodósio, que mandou martirizar milhares de cris-
tãos.

20 (Mackenzie) Dentre as várias guerras enfrentadas pelos romanos, destacaram-se as efetuadas contra os
cartagineses, cujo principal fator causador foi:
(a) a intenção romana de fundar colônias agrícolas em solo cartaginês.
(b) a luta pela posse da Grécia.
(c) a necessidade de escravos para abastecer o setor manufatureiro.
(d) o choque de imperialismos na luta pela dominação da Sicília.
(e) a defesa das fronteiras romanas, já que Cartago, situada ao norte da Península Itálica, ameaçava se
expandir.

21 (FGV-SP) Segundo estudiosos da História do Mundo Antigo, a causa essencial que determinou a dissolu-
ção do Império Romano (27 aC.-476 dC.) pode ser localizada:

13
(a) nas sucessivas guerras defensivas contra os espartanos, interessados em apoderar-se das suas rique-
zas minerais e nos efeitos nefastos dos grandes surtos epidêmicos, responsáveis pela morte da quarta
parte de suas populações.
(b) nas sucessivas guerras imperialistas, para onde eram canalizados todos os recursos existentes, embo-
ra o Império estivesse em plenas condições de satisfazer as necessidades materiais da população.
(c) na estagnação das formas primitivas de produção, baseadas no trabalho assalariado e na conseqüente
incapacidade para satisfazer às necessidades materiais de uma numerosa população.
(d) na estagnação das formas primitivas de produção, baseadas principalmente no trabalho escravo e na
conseqüente incapacidade para satisfazer às necessidades materiais de uma numerosa população.
(e) na estagnação de formas primitivas de produção, baseadas no trabalho semi-assalariado, e nas conse-
qüentes interrupções nas jornadas de trabalho, motivadas pelas constantes greves dos operários que
pleiteavam melhor remuneração.

22 (UEG-2002/02) A descentralização política, a pequena circulação monetária decorrente do processo in-


flacionário e a insegurança foram características do mundo romano em crise (século V) que, fundidos aos va-
lores dos povos germânicos (bárbaros), constituíam um novo sistema de produção: o feudalismo.
Acerca desse processo é INCORRETO afirmar que:
(a) as reformas políticas de Diocleciano sinalizaram a fragmentação do Império Romano (tetrarquia), o
que ensejou a regionalização do poder político e propiciou, no governo de Constantino, a fixação da
sede do Império Romano no Oriente (Constantinopla).
(b) o fim das guerras de expansão restringiu o acesso dos romanos às novas fontes de riqueza como as
advindas do trabalho dos escravos obtidos nos processos de conquista, o que resultou no enfraqueci-
mento das bases econômicas do Império Romano.
(c) a queda de Roma, em 476, deve ser entendida como uma reação à perseguição aos cristãos. As inú-
meras perseguições acarretaram a revolta social da população contra o governo do Imperador Teodó-
sio.
(d) a presença dos povos germanos (bárbaros) ameaçou as fronteiras do Império. A guerra disseminou a
insegurança e exigiu a formação de laços de proteção que se constituíram nas relações predominan-
tes no mundo feudal.
(e) as constantes guerras e o clima de insegurança no Império Romano se transformaram em obstáculos
ao desenvolvimento do grande comércio. No feudalismo (Europa Ocidental), as grandes rotas comer-
ciais, exceto nas cidades próximas ao mediterrâneo, como Veneza, perderam o seu significado ecnô-
mico.

23 (UFG-2000) Na Antiguidade, havia diversos padrões de apropriação dos bens e recursos necessários à
sobrevivência, entre os quais se destacava a terra.
Sobre tais padrões, julgue os itens abaixo.
01. ( ) Na Mesopotâmia, os camponeses trabalhavam terras que eram consideradas propriedade dos deuses.
Corporações de sacerdotes administravam a produção, a partir de cada uma das cidades-estado que
disputavam entre si as terras cultiváveis.
02. ( ) Durante a expansão romana, os soldados (advindos do campesinato) e a elite (tanto a aristocracia co-
mo os novos ricos) disputavam a propriedade das terras conquistadas. Tais conflitos ficam evidencia-
dos nas tentativas de reforma dos irmãos Gracos e nas disputas de poder nos dois triunviratos.
03. ( ) Em Atenas, a aristocracia de origem dórica mantinha o monopólio da propriedade territorial, o que
exigia uma política de expansão, como o atestam a fundação de colônias (Tarento) e a conquista do
Peloponeso (seus habitantes foram transformados em escravos do Estado).
04. ( ) A mudança na estrutura da propriedade fundiária (a transformação do camponês romano em escravo)
é o principal indício da crise que abalou o Baixo Império Romano (séculos III, IV e V da nossa era).

24 (UnB2001/1)
“Reconduzi a Atenas, pátria fundada pelos deuses, muitos que haviam sido vendidos, com justiça ou
sem ela, e outros que tinham sido forçados pela penúria, que já nem falam ático, de tanto andarem errantes
por todo o lado. A outros que aqui mesmo suportam ignóbil escravidão, trêmulos à vista dos seus senhores,
tornei-os livres, dos hoplitas helênicos, que deu sustento à construção da duradoura marca da legenda de au-
dácia de Alexandre”.
Solon, Século V aC.

14
Considerando a afirmativa acima, pronunciada por Solon, legislador ateniense do século V aC., jul-
gue os itens a seguir, relativos aos aspectos políticos da Antiguidade Clássica.
01. ( ) A Atenas do século de ouro aboliu, com base na legislação de Solon, o escravismo, porque a existên-
dessa força de trabalho contrariava o cânones da justiça civil e, principalmente, os preceitos das dou-
trinas da democracia ateniense.
02. ( ) Roma, seguindo o exemplo grego, aboliu o instituto da escravidão ainda no período imperial, por or-
dem dos cônsules, que entendiam ser melhor libertar cativos que demonstravam habilidades intelec-
tuais especiais.
03. ( ) Na Roma do período republicano, no momento que as reivindicações camponesas restringiram as
áreas de interesse à agricultura de exportação, acentuaram-se os expedientes para se obter escravos
nas províncias.
04. ( ) A fusão da política com as armas levou o Estado espartano a dar prioridade à preparação intelectual e
cívica dos seus cidadãos.

25 (UFCE)
“cerca de 40 anos após a condenação de Jesus, o governo imperial romano adquiriu consciência de
que o cristianismo era algo mais do que uma nova seita do judaismo. Tão logo se convence disso, poibiu-o e
fez sua prática um crime”.
“No ano 313, o governo imperial não tinha justificativa moral nem legal para proibir uma religião à
qual mais de um terço de seus súditos haviam aderido. O Estado e a sociedade mundial não mais ocorriam pe-
perigo e o culto a César já não era a religião oficial.”
Considerando as afirmações acima, explique as condições históricas que propiciam o reconhecimen-
to do cristianismo como religião oficial.

26 (UFG-2ªfase)
(...) Criadas antes para proteger do para isolar, elas ligam à necessidade primitiva do homem em en-
contrar abrigo para suas manifestações coletivas, entre as quais pode-se incluir certamente, o desejo de saber
o que se passa e o que existe do outro lado da fronteira ...
O trecho citado constitui o encerramento do livro “Fronteiras e Nações, 1997”, de André Roberto
Martin. O autor reflete sobre o fenômeno das fronteiras, com base em um balanço da história das civilizações.
Conforme o mapa abaixo (retirado do livro Caminho das civilizações - História integrada geral e Brasil, de
José Geraldo V. de Moraes, 1968), explique a importância do estabelecimento de fronteiras (expansão e de-
fesa) na sociedade romana, nas fases republicana e imperial.

27 (UFG-2ªfase)
Ao nos referirmos às sociedades da Antiguidade, muitas vezes nos confundimos, atribuindo siganifi-
cado de atraso ao que é antigo. Através da história podemos desfazer esse equívoco ao encontrarmos nesses
sociedades, realizações e feitos nos vários campos da ciência e/ou das realizações humanas. Com base nessa
reflexão, indique:
a) duas contribuições, uma na área política e outra na cultural, que a Grécia legou ao Ocidente;
b) a maior contribuição cultural da sociedade romana para as sociedades ocidentais, justificando sua resposta.

III IDADE MÉDIA


A Idade Média é o período histórico compreendido entre os séculos V e XV, sendo sua principal ca-
racterística a formação, consolidação e declínio do Modo de Produção Feudal ou Feudalismo, na Europa Oci-
dental.

O FEUDALISMO

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O feudalismo, síntese de elementos culturais, sociais e políticos de origem romana e germânica, co-
meçou a se formar no período denominado Alta Idade Média (séculos V ao X). A ruralização da economia e o
declínio do comércio, provocado pelas invasões bárbaras, somam-se a práticas políticas germânicas, como a
economia agro-pastoril e a privatização das atividades militares, dando origem a esta nova estrutura sócio-
eco-nômica, cujas principais características vamos analisar.

1 Economia

A economia feudal pode ser definida como fechada e descentralizada. Fechada porque a produção é
para a subsistência: não há necessidade de trocas comerciais, e um feudo não precisa de nada que um outro
feudo produza. Descentralizada, pois não há autoridades econômicas que determinem o comportamento pro-
dutivo ou definam algum tipo de moeda que deva ser utilizada pelos feudos.
Evidentemente, nessas condições as moedas quase não circulam, nem possuem muita utilidade. E se
as moedas não são úteis, não podem ser consideradas como sinal indicativo de riqueza. Rico é quem possui
terras, quem é proprietário de um feudo, onde se produzem os alimentos necessários à sobrevivência, numa
sociedade que se preocupa apenas com a subsistência.
O feudo era a unidade básica de produção. Nele existia o castelo, onde moravam o senhor feudal e
sua família; a vila ou aldeia, onde moravam os servos; e as terras onde se trabalhavam. O manso senhorial, ou
reserva, era destinado exclusivamente à produção para o senhor feudal, enquanto que o manso servil era de
posse legal do senhor feudal, mas era arrendado ao servo que, em troca, assumia diversas obrigações em rela-
ção ao dono da terra.
Os campos e os bosques do feudo eram propriedade coletiva: de lá, os servos poderiam tirar mate-
rias-primas para a sua sobrevivência e alimentação de seu gado.

2 Política

As características econômicas do feudalismo influenciaram fortemente a política. A quase inexistên-


cia do comércio e o fato de as moedas não circularem impediram que o rei, ou qualquer outro tipo de gover-
nante, arrecadasse impostos. E, se não há arrecadação de impostos, é impossível construir um exército; se não
existe exército, não há poder coercitivo que faça alguém se sentir obrigado a obedecer ao rei.
Os senhores feudais, que podiam ser laicos ou eclesiásticos, detinham o monopólio da força em suas
propriedades, administrando a justiça, e significavam, para o servo, a emanação de todo o poder temporal.
As relações de poder entre os senhores feudais se estabeleciam através de laços diretos, denominados
laços de vassalagem. Um senhor feudal, possuidor de grandes porções de terra, para obter os serviços de ou-
tro nobre, doava-lhe uma parcela de território. O doador tornava-se suserano, e o recebedor, vassalo. Estabele-
ciam-se, entre os dois, relações de direitos e deveres. O vassalo ficava obrigado, através do “juramento”, a
realizar serviços militares, hospedagem, contribuir para dote e armação dos filhos do suserano etc. Por seu la-
do, o suserano devia ao vassalo proteção militar, justiça, garantia da posse do feudo doado, totoria sobre os
herdeiros e a viúva do vassalo morto.

3 A sociedade feudal

Eram muito reduzidas as possibilidades de alguém, na Idade Média, mudar de grupo social. Por cau-
as dessa falta de mobilidade, chamamos a sociedade feudal de estamentada. Os estamentos feudais eram os
seguintes:

A. Nobres (os que lutam)


No topo da sociedade feudal encontramos os senhores feudais (ou nobres), que viviam guerreando e
eram os detentores, pelo direito de primogenitura, da possa das terras.

B. Padres (os que rezam)


O clero também estava numa posição de domínio, na sociedade feudal. Isso ocorria porque a cultura
feudal era, em grande parte, caracterizada por uma visão do homem voltado para Deus e para a vida após a
morte. Essa visão do mundo se chama teocentrismo. A Igreja foi a principal divulgadora da cultura teocêntri-
ca. E será ela, o “cimento ideológico”, que unirá todas as relações típicas do feudalismo, justificando-as e

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dando-lhes legitimidade. A Igreja possuía, ao mesmo tempo, ascendência econômica e moral. Seus domínios
territoriais suplantavam os da nobreza, ao mesmo tempo que sua cultura era incomparavelmente superior.

C. Servos (os que trabalhavam)


A maior parte da sociedade feudal era formada pelos servos, que não tinham a propriedade das terras
e estavam presos a ela. Eram trabalhadores semi-livres, pois, se por um lado não podiam ser vendidos fora de
sua terra, como se fazia com o escravo, por outro, não tinham liberdade para abandonar o feudo.
A vida do servo era marcada por uma série de obrigações para com o senhor feudal. No manso se-
nhoril, o servo devia trabalhar graciosamente dois ou três dias por semana; essa obrigação dava-se o nome de
corvéia. Além disso, o servo era obrigado a ceder ao senhor feudal uma parte do que conseguia a produzir no
manso servil: era a talha.
Existiam ainda impostos diversos, que recebiam o nome genérico de banalidades: o servo era obri-
gado a fazer serviços de manutenção nas dependências do castelo feudal; tinha que proteger a lavoura reserva-
da ao senhor feudal; pagava para utilizar o moinho de trigo que, aliás, era o próprio servo quem construía. Co-
mo se as obrigações para com o nobre não bastassem, o servo era obrigado a entregar um décimo do que pro-
duzia para a Igreja, Esta contribuição se chamava dízimo.

Exercícios

28 (UEG2002/01)
Um sistema de organização econômica, social e política baseado nos vínculos de homem a homem,
no qual uma classe de guerreiros especializados - os senhores - subordinados uns aos outros por uma hierar-
quia de vínculos de dependência, domina uma massa campesina que explora a terra e lhes fornece com que vi-
ver.
LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média. Lisboa: Estampa, 1980.

Sobre o feudalismo, assinale a alternativa INCORRETA:


(a) O feudalismo herdou da civilização romana o colonato, o latifúndio e as vilas; da civilização germâ-
nica, as relações baseadas na honra, na fidelidade, na suserania e vassalagem.
(b) Encontra-se entre as origens do feudalismo um quadro de insegurança política e econômica em de-
corrência do enfraquecimento da autoridade do poder central e da retração do comércio e da vida
urbana.
(c) Nos feudos, a relação entre os senhores e seus vassalos era de subordinação e dependência. Eram im-
postos aos servos deveres morais, militares e econômicos.
(d) No sistema feudal, senhores e camponeses formavam uma comunidade política e social fundada no
trabalho coletivo e na repartição justa dos bens ali produzidos.
(e) A forma de servidão feudal foi denominada servidão de gleba e permitia que o camponês reservasse
para si e sua família um pedaço de terra, possuísse algumas ferramentas e tivesse direito ao próprio
corpo, não podendo ser vendido.

29 (UFG2002) No contexto da passagem do mundo antigo para o mundo medieval, duas ondas migratórias,
cada uma com suas especificidades, caracterizaram o movimento das populações a que denominamos “inva-
sões germânicas” ou “invasões bárbaras”. A primeira instalou visigodos na Espanha, ostrogodos na Itália,
vândalos na Tunísia, borgúndios no norte da Itália.
A segunda vaga é a da conquista da Gália (pelos francos) e da Inglaterra (pelos Anglo-Saxões).
Sobre estes deslocamentos populacionais, suas características e relevância, julgue os itens:
01. ( ) Algumas tribos germânicas foram pressionadas pelo avanço dos hunos e uma forma de negociação (a
federação) permitiu a instalação pacífica de ostrogodos e visigodos no interior das fronteiras do im-
pério.
02. ( ) Os germânicos eram originários da península Escandinávia, falavam uma língua indo-européia, prati-
cavam agricultura, a pecuária, a pilhagem e tinham uma organização social baseada no clã.
03. ( ) O fortalecimento da civilização urbana, o progresso das relações comerciais e o crescimento das
villas (centros de produção agrícola auto-suficientes e voltadas para o mercado) são as características
da primeira onda migratória.
04. ( ) A Alta Idade Média é um exemplo de período histórico em que a síntese cultural esteve impossibili-

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tada devido à segregação espacial (o afastamento físico entre as populações etnicamente distintas).

30 (UnB2001/2) Julgue os seguintes itens a seguir, relativos à Igreja Católica, da época medieval aos dias
atuais.
01. ( ) A Igreja de Roma, na época medieval, serviu-se do celibato para conseguir manter a unidade do seu
patrimônio, apesar da percepção de existência de práticas de transgressão a essa norma.
02. ( ) A transgressão ao celibato conviveu, durante a Alta Idade Média, com outras transgressões, como o
fato de alguns membros do clero venderem perdões e imagens religiosas.
03. ( ) O alto clero tratou com rigor o desrespeito ao celibato e, igualmente, as doutrinas que se indispunham
com os preceitos estabelecidos por Roma como, por exemplo, no episódios da heresia, em que mui-
tos crentes foram punidos com a morte.
04. ( ) A intransigência da Igreja Católica passou intocável ao longo dos séculos, demonstrando esta institui-
ção grande dificuldade de adaptabilidade aos novos tempos e às transformações no processo histó-
rico.

31 (UnB2002/2) Acredita-se residir na sofisticação tecnológica um dos esteios fundamentais do atual está-
gio da economia mundial, permitindo sua globalização em uma dimensão até então desconhecida. Situação
distinta, por exemplo, daquela vivida pela Europa Feudal, a respeito da qual o medievalista Jacques Le Goff
afirmou: “O Ocidente medieval é um mundo mal apetrechado ... mas, repitamos, falar de subdesenvolvimento
seria inadmissível. A fraqueza do apetrechamento medieval manifesta-se na insuficiência das técnicas rurais,
que dão rendimentos muito baixos, na indigência do apetrechamento energético, dos transportes e das técnicas
financeiras comerciais”.
Julgue os seguintes itens, referentes ao período da História mencionado no texto.
01. ( ) No feudalismo, os diversos tributos e obrigações servis - como a corvéia - contribuíram para manter
um baixo padrão técnico, pois dificultavam a formação de um excedente econômico que permitisse o
investimento na melhorias dos instrumentos de trabalho.
02. ( ) A nobreza senhorial, embora aplicasse elevadas somas para a ampliação das áreas de cultivo, era cer-
ceado financeiramente pelas obrigações pecuniárias devidas ao seu suserano.
03. ( ) A fragilidade técnica acabou por expor a sociedade medieval aos limites da fome, favorecendo a inci-
dência de epidemias em largas proporções, a quais contribuíram para a derrocada do sistema feudal.
04. ( ) A indigência dos transportes e das técnicas financeiras impossibilitou, mesmo na Baixa Idade Média,
o desenvolvimento das práticas comerciais e da vida urbana, contrariando a doutrina cristã, que esti-
mulava o empréstimo a juros como expediente para acumulação de riqueza.

32 (CEFET 2002)
“A expressão Idade Média surgiu no século XV, sendo utilizada pelos humanistas italianos para de-
signar o período da história européia intermediário entre a Antiguidade Clássica e os tempos novos do renas-
cimento. Até o século passado, Idade Média era sinônimo de idade das trevas, identificada com o atraso inte-
lectual e com o poder da Igreja. De lá para cá, o período tem sido mais bem estudado, de modo que velhos
preconceitos têm sida superados.”
(MACEDO, José Rivair. Movimentos Populares na Idade Média).

Sobre esse período, marque V para as afirmativas Verdadeiras e F para as Falsas.


01. ( ) Feudo, termo que começa a ser utilizado no vocabulário jurídico medieval a partir do século XI, com-
preendia, de maneira geral, a concessão de um bem por alguém em troca de prestação de serviço. As-
sim, constituíam-se feudos as terras, os castelos, o direito de receber impostos, de cunhar moedas e
de ocupar cargos.
02. ( ) Diferente de hoje, tradição e costume fundamentavam a atuação das pessoas nesse período.
03. ( ) Dado o principio da fragmentação política, nem mesmo a Igreja católica conseguiu manter-se unida,
necessitando submeter-se aos reis.
04. ( ) A partir do século XI, na Europa, há o renascimento da vida urbana e, neste movimento, uma grande
parcela da população desloca-se para as cidades, que ganham importância por representarem, muitas
vezes, a possibilidade de libertação dos servos que viviam no núcleo rural. O mundo urbano começa,
então, a fazer reivindicações para diminuir os poderes senhoriais. Assim, as comunidades lutaram pa-
ra obter isenção de impostos e liberdade político-administrativa.

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33 (UCG2001/1) Assim como a Idade Antiga foi exaltada pelos renascentistas, a Idade Média foi, conforme
a expressão do historiador Roberto Lopes, “a grande caluniada”, pois foi chamada de “idade das trevas”, “lon-
ga noite de mil anos”, dentre outros adjetivos pejorativos. Essa visão, hoje, é contestada por muitos historia-
dores que afirmam ser o feudalismo e outras instituições medievais a resposta mais adequada que a sociedade
daquele período encontrou para enfrentar seus problemas. Sobre a Idade Antiga e Medieval, analise as alter-
nativas abaixo:
01. ( ) as guerras romanas não tinham apenas um caráter político-militar, mas também um caráter econômi-
co, porque eram a principal fonte de fornecimento de escravos. No entanto, a busca incessante por
colônias e escravos foi o motivo da fraqueza do Império Romano, pois tornou extremamente difícil o
controle das fronteiras, que passaram as ser invadidas pelos bárbaros;
02. ( ) na Idade Média, em razão da fraqueza do poder real, os laços de dependência (como os que uniam os
suseranos e vassalos e os senhores e servos) foram um importante cimento da sociedade européia,
que se contrapunha às várias forças desagregadoras, como a economia praticamente auto-suficiente ,
as guerras e a dificuldade de comunicações;
03. ( ) assim como o pensamento de Platão e Aristóteles são uma forte referência à filosofia política até os
dias de hoje, a democracia grega representou a forma mais apurada de igualdade de participação
polí-
tica das classes sociais, não conseguindo ser superada pela democracia moderna.
04. ( ) o cristianismo, tão forte na Idade Média, teve sua origem no Império Romano. Nascido no período de
Augusto, foi perseguido violentamente por Constantino, por meio do Edito de Milão, e por Teodósio,
para ser posteriormente aceito e oficializado por Diocleciano.
05. ( ) a perseguição aos cristãos decorria do fato de que estes se opunham à religião oficial de Roma, a vá-
rias instituições romanas e ao culto do imperador. Séculos depois, a Igreja Católica recorreria às mes-
mas práticas para enfrentar as heresias, as religiões nascentes ou mesmo pessoas que detinham co-
nhecimentos que fugiam do saber oficial monopolizado pelo clero. Por isso, várias parteiras e curan-
deiros foram queimados como bruxas;
06. ( ) dentre as importantes contribuições culturais desses dois períodos, podemos citar: as instituições júri-
dicas e a arquitetura grandiosa e funcional de Roma; o teatro grego (de onde se originaram termos
como: personagem, tragédia e comédia); os estilos arquitetônicos românico e gótico da Europa me-
dieval e, na música, os cantos gregorianos; na literatura, obras grandiosas como A Divina Comédia,
de Dante Alighieri.

34 (Fuvest) O feudalimo, que marcou a Europa Ocidental durante a Idade Média, resultou de duas heranças
distintas, a romana e a germânica. Comente cada uma delas.

35 (UFG2001-2ªfase)
“A casa de Deus, que cremos ser uma, está, pois, dividida em três: uns oram, outros combatem, e ou-
tros, enfim, trabalham”.
Bispo Adalbéron de Laon, século XVI, apud Jacques Le Goff. A civilização do Occidente Medieval. Ed. Estampa. 1984, v. II. p. 45-6

Caracaterize a sociedade feudal, destacando a relação entre os que “combatem” (nobreza) e os que
“trabalham” (servos).

IV BAIXA IDADE MÉDIA

AS CRUZADAS

A Europa tornou-se uma região relativamente tranqüila a partir do século IX: os normandos reduzem
sua violentas incursões marítimo-fluviais; o hunos não mais fazem tropelias na Europa centro-oriental; os ára-
bes, enfrentando problemas políticos internos, não renovam seus ataques sobre a Europa meridional.

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Nessa situação calma, a população européia começa a crescer numericamente. Surge aí um grande
problema: as técnicas de produção e a maneira pela qual a mão-de-obra é usada no Feudalismo não são muito
eficientes. Nos feudos há mais servos do que comida para alimentá-los.
Os servos considerados excessivos eram expulsos do feudo. Não raro, tornavam-se marginais. Com
isso, as péssimas estradas medievais tornaram-se também inseguras. Por causa da ineficiência do sistema pro-
dutivo, a Europa vê-se próxima de uma grande crise social.
Os nobres também se multiplicavam. E como a herança era indivisível e vinculada ao direito de pri-
mogenitura, havia muito nobre sem domínio sobre um feudo. O resultado era o aumento do número de bata-
lhas entre os nobres, com o objetivo de conquistar um feudo.
Para a Igreja surgiam, ainda, outros problemas, além daqueles que a crise social e economia lhe im-
pigia, enquanto grande proprietária de terras: os árabes levantavam empecilhos aos cristãos que desejavam pe-
regrinar a Jerusalém; a Igreja de Constantinopla separou-se, no Grande Cisma de 1054; os turcos pressiona-
vam a Constantinopla. tentando dominá-la.
As pessoas daquela época, dentro da mentalidade religiosa que imperava, esperavam que a Igreja fi-
zesse algo para acabar com tantos contratempos. A solução foi o movimento das Cruzadas, expedições mili-
tares que objetivavam reconquistar, para os cristãos, a “Terra Santa”.
Os excedentes populacionais marginalizados, de todas as classes sociais, transformaram-se, então,
em mão-de-obra militar para as Cruzadas. Estas também poderiam ajudar na reunificação da cristandade, ao
atender aos reclamos de todos cristãos, que queriam realizar peregrinações à cidade-santa.
Infelizmente, para a Igreja e para os nobres, as Cruzadas foram um fracasso. Apenas a primeira das
oito expedições chegou a Jerusalém, mas a conquista foi temporária; as demais ou foram derrotadas ou torna-
ram-se meras expedições de pilhagem.
Contudo, se as Cruzadas fracassaram em seu aspecto militar, no campo econômico, trouxeram im-
portantes mudanças, ao reabrirem o Mediterrâneo ao comércio europeu, enquanto que, no aspecto político, fo-
ram responsáveis pelo enfraquecimento ainda maior da nobreza européia, permitindo, de conseqüência, um
fortalecimento do poder real.

O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO

A partir do século XI, o comércio, que durante a Alta Idade Média foi muito restrito, cresceu em vá-
rias regiões européias, principalmente na região que vai do mar do Norte à península Itálica. Cidades portuá-
rias como Veneza, Gênova e Pisa mantinham contato com os muçulmanos e obtinham lucros bem razoáveis,
nas suas transações. Próximas ao mar do Norte, as cidades de Bremem, Bruges e Lübeck criaram uma corpo-
ração fortíssima de comerciantes, à qual se deu o nome de Liga Hanseática. Essa liga estabeleceu contatos
comerciais com a Inglaterra, Alemanha, Bélgica e Holanda, conseguindo ligações até com a cidade russa de
Novgorod.
Algumas cidades italianas chegaram a conquistar entrepostos comerciais no Oriente Próximo e, não
raro, faziam comércio com os muçulmanos, já que não estavam preocupadas com a diferença religiosa, nem
tinham problemas de consciência em vender-lhes escravos, armas, que poderiam mesmo ser utilizadas contra
os próprios cristãos, e madeiras, que eram utilizadas para a construção de barcos.
Além das cidades, onde eram desenvolvidas as atividades comerciais, surgiram também mercados
temporais - as feiras - na zona de contato entre o comércio do Mediterrâneo e o mar do Norte. A mais fa-
mosa foi a de Champagne, no nordeste da França.
Essas feiras, que se iniciaram no século XII, atraíram mercadores internacionais, constituindo tam-
bém centros de atividades de crédito e de câmbio.
O comércio deu um novo vigor à economia européia, alterando profundamente toda a sociedade, seja
na cidade, onde era desenvolvida a maioria das atividades mercantis, seja no campo, que passou a produzir
um excedente agrícola.
A economia monetária tornou-se então dominante, dando fim a uma época em que grande parte das
transações era realizada pela troca de produtos.

O CRESCIMENTO DAS CIDADES

No decorrer das Cruzadas, alguns marginalizados do sistema feudal passaram a se dedicar ao comér-
cio. Para se defenderem dos ataques dos salteadores e das pilhagens, muito comuns nesse época, os comerci-

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antes procuravam se agregar e se proteger atrás das fortificações de castelos situados na passagem das rotas
comerciais mais comuns. Essas fortificações eram os burgos e os comerciantes que se alojavam sob a prote-
ção dessas muralhas acabaram sendo conhecidos como burgueses.
Os burgos tornaram-se centros produtivos: algumas manufaturas se estabeleceram sob a proteção de
suas muralhas e as corporações de ofício surgiram para estabelecer um equilíbrio entre a oferta e a procura e
para regulamentar a qualidade do que estava sendo produzido. As unidades produtivas que ficavam sob a fis-
calização corporativa eram as oficinas. O mestre-artesão era o proprietário, mas trabalhava lado a lado com os
seus assalariados (chamados oficiais). Enquanto se trabalhava, os mais velhos preocupavam-se, também em
ensinar o ofício para os aprendizes, quase sempre crianças ainda.
Para fugir às imposições dos nobres, os comerciantes decidiram comprar o direito de se autogover-
nar. Dessa forma surgiram as cartas de franquia. Em muitos casos, porém, a independência dos burgos so-
mente era obtida através de revoltas promovidas pelos burgueses contra os nobres.

Exercícios

36 (UFPI) As Cruzadas influíram decisivamente na história da Europa na Baixa Idade Média. A mais signi-
ficativa de suas conseqüências foi:
(a) a reunificação das Igrejas Católica e Ortodoxa, separadas desde 1054 pelo cisma do Oriente.
(b) um novo cisma no cristianismo como o início da Reforma Protestante no século XVI.
(c) a conquista dos lugares sagrados do cristianismo situados na Ásia ocidental.
(d) a “reabertura” do Mediterrâneo, que, possibilitando a reativação dos contatos entre Ocidente e Orien-
te, intensificou o renascimento comercial e urbano na Europa.
(e) o declínio do comércio, o desaparecimento da vida urbana e a descentralização política no ocidente
da Europa.

37 (PUC-SP) Não pode ser considerado como um fator gerador do renascimento comercial que ocorre na
Europa, a partir do século XI:
(a) a crise do modo de produção feudal provocada pela superexploração da mão-de-obra, através das
relações servis de produção.
(b) a disponibilidade de mão-de-obra provocada, entre outros fatores, pelo crescimento demográfico a
partir do século X.
(c) a predominância cultural e ideológica da Igreja, com a valorização da vida extraterrena, a condena-
ção à usura e sua posição em relação ao “justo preço” das mercadorias.
(d) a aquisição das “cartas de franquias”, que fortalecia e libertava a nascente burguesia das obrigações
tributárias dos senhores feudais.
(e) o movimento cruzadista, que, retratando a estrutura mental e religiosa do homem medieval se esten-
deu entre os séculos XI e XIII.

38 (UCG2002/1) A civilização cristã ocidental, tão decantada no século XIX e tão questionada neste início
de século XXI da Idade Contemporânea, encontra suas bases, sobretudo, nas Idades Antiga e Medieval.
01. ( ) quando se fala na civilização grega, pensamos na democracia e nas grandes obras filosóficas de Só-
crates, Platão e Aristóteles. No entanto, essas conquistas foram restritas a um tempo (período clássi-
co) e, praticamente, a um espaço (Atenas), pois não dizem respeito a toda a história grega, uma vez
que no período helenístico, por exemplo, a polis grega já estava em declinio.
02. ( ) nas sociedades greco-romanas, a propriedade da terra era condição essencial para que o cidadão ti-
vesse poder e prestígio, pois as cidades, mais importantes do que o campo em termos políticos e cul-
turais, dependiam economicamente do meio rural. Dessa forma, as classes dominantes eram forma-
das por latifundiários, como os patrícios em Roma.
03. ( ) o trabalho predominante no período de apogeu das sociedades greco-romanas foi o dos escravos, ob-
tidos principalmente nas guerras. A decadência do Império Romano levou à transição das relações
escravistas para as relações servis, sendo que estas resultaram da interação do regime de colonato
(romano) com as instituições germânicas.
04. ( ) as invasões germânicas quebraram a unidade política do ocidente e acentuaram as tendências centrí-
fugas que viriam a prevalecer no medievo. Essas tendências decorriam da economia voltada para o

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mercado interno, da atuação dos reis carolíngios e da instituição de forças militares permanentes em
cada reino europeu.
05. ( ) a crise do sistema feudal, na Baixa Idade Média, manifestou-se por vários aspectos, por exemplo, a
fragmentação do poder militar, a crise do comércio e o encastelamento da Igreja nas questões espiri-
tuais, deixando de lado as questões mundanas, como a situação social e econômica dos seu fiéis.
06. ( ) Na Baixa Idade Média surge uma concepção filosófica destinada a combater o que o clero chamava
de corrupção dos valores espirituais. Essa concepção, denominada Escolástica, combatia toda forma
de valorização do homem (antropocentrismo, humanismo), reforçava a submissão do homem a Deus,
o fatalismo e a resignação diante dos desígnios divinos.

39 (UCG2002/2) Os períodos históricos denominados de Idade Antiga e de Idade Média guardam importan-
tes fundamentos para se compreender a evolução da “civilização cristã ocidental”. A esse respeito, analise as
proposições a seguir:
01. ( ) as chamadas civilizações clássicas, grega e romana, originaram-se, respectivamente, dos cretenses e
dos latinos, sendo que os romanos, politicamente mais centralizados, dominaram militarmente os
gregos, sem, contudo, dominá-los culturalmente.
02. ( ) na primeira fase da história romana - monarquia - a sociedade era dividida em patrícios (proprietá-
rios de terras), plebeus (homens livres), clientes (cativos de guerra). Na segunda fase - República -
agravavam-se as lutas sociais, tendo como resultado a criação dos Tribunos da Plebe (representação
política dos plebeus).
03. ( ) dentre as causas da consolidação e do esplendor do império romano podemos citar: a expansão do
imperialista - que trouxe mais tributos ao Estado - o crescimento do cristianismo - que reforçou a
identidade dos romanos - e a ruralização da sociedade - que reforçou a economia de exportação de
trigo, vinho e azeite.
04. ( ) a era medieval caracterizou-se, na Europa ocidental, pela preponderância de relações escravistas de
produção, sendo o escravo considerado propriedade do senhor e devendo pagar-lhe a maior parte da
produção, denominada corvéia.
05. ( ) as corporações de ofício foram, na Idade Média, as associações de artesãos que tinham como uma das
finalidades controlar o exercício de cada profissão. A posterior - expansão das manufaturas, caracte-
rizada pela divisão e especialização do trabalho e atendendo a um mercado bem mais dinâmico, en-
controu nas corporações de ofício um forte obstáculo.
06. ( ) a Igreja Católica manteve o domínio sobre a cultura e as mentalidades na Europa Ocidental, no perío-
do medieval. No entanto, sofreu contestações, como as heresias, sendo que algumas delas (o monofi-
sismo e a iconoclastia) provocaram, no século XI, uma grande divisão entre a Igreja Católica Aposto-
liça Romana, liderada pelo Papa, e a Igreja Ortodoxa, liderada pelo Patriarca, divisão denominada
Grande Cisma do Oriente.

40 (Fuvest) Qual o papel das cidades na transição da Idade Média para a Idade Moderna ?

41 (Fuvest) A partir do século XI, difundiram-se as Corporações de Ofícios nas sociedades medievais: O
que eram essas Corporações e como estavam organizadas ?

42 (FM-SP) O surgimento das universidades medievais ocorre simultaneamente ao expansionismo europeu


por meio das cruzadas, com o surgimento das cidades e com a expansão comercial. Como se explica essa cor-
relação cronológica ?

V - A IDADE MODERNA
A Idade Moderna, compreendida entre os séculos XV e XVIII, caracterizou-se por ser uma fase de
transição entre o feudalismo medieval e o capitalismo contemporâneo. Nesse período histórico tem início um
intenso processo de desenvolvimento das atividades comerciais que serão a base do estabelecimento de uma
sociedade capitalista no século XVIII.

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Ocorrem, ainda, intensas mudanças na mentalidade do homem europeu, reflexo das transformações
econômicas, bem como a burguesia passa a reivindicar um maior espaço político, tendo origem o Estado Na-
cional.
A seguir, vamos analisar algumas dessas mudanças.

1. O RENASCIMENTO

Os intelectuais medievais utilizam toda a sua enorme sabedoria para tentar ampliar o vínculo entre o
homem e Deus. Preocupava-se em associar o universo à harmonia divina, fazendo de Deus o centro de todos
os acontecimentos. A isto chamamos teocentrismo (teo = deus).
Os intelectuais renascentistas acreditam em Deus, mas são apaixonados pela razão humana, que con-
sideram ser a suprema obra divina. Orgulham-se de fazer parte do gênero humano e audaciosamente propõem
que a humanidade é senhora de seus destinos. Nesse sentido, negam o teocentrismo, propondo que o homem
seja usado como medida de todas as coisas e centro de todas as preocupações intelectuais. Esse antropocen-
trismo (antropos = homem) promove o rompimento do pensamento renascentista com a cultura medieval.
Os pensadores renascentistas tinham a convicção de que tudo poderia ser explicado pela razão do ho-
mem e pela ciência. A essa característica damos o nome de racionalismo que, certamente, explica o desenvol-
vimento, na época, dos métodos experimentais e da observação científica.
Outras características renascentistas se confundem com as de um bom comerciante. Uma delas é o
individualismo, essa enorme fé em si próprio, que permitiu audaciosos vôos intelectuais. A fé no progresso,
na melhoria ilimitada das condições de vida, era típica dos renascentistas.
Com essas mudanças intelectuais, surge uma figura nova: o humanista, herdeiro direto do filósofo
medieval, porém com comportamento diferente. Na Idade Média, os filósofos eram professores que se dedi-
cavam a reproduzir o pensamento de autores mais antigos. No Renascimento, o humanista prefere dialogar
com os autores da Antiguidade, não raro chegando a conclusões diferentes. Os humanistas queriam conhecer
homens que pensavam os mesmos temas que os inquietavam. Respeitavam Platão, Aristóteles, Sêneca e ou-
tros, mas não os consideravam infalíveis.

Panorama do Renascimento

No início do século XIV encontramos as primeiras obras que podem ser consideradas renascentistas.
A maior parte delas ainda possui temática religiosa, mas traz duas novidades importantes: serem redigidas em
língua nacional, e não mais em o latim, e a abordagem ser antropocêntrica.
O século XV é o de grades pintores e escultores. Ocorrem grandes desenvolvimentos técnicos na
área da pintura, como a utilização das noções de perspectiva, da tinta a óleo e de novos conceitos para a repro-
dução de paisagens. No final desse século, encontraremos dois artistas que servem como síntese descritiva do
homem renascentista: Michelangelo e Leonardo da Vinci.
O século SVI trouxe, ainda, o interessante trabalho de análise política de Nicolau Maquiavel. Seu li-
vro mais conhecido, “O Príncipe”, será uma das bases teóricas do Estado Absolutista moderno.
As cidades italianas perdem o domínio sobre o mercado de especiarias, após as descobertas de Co-
lombo,Vasco da Gama e Cabral. O eixo comercial transfere-se do mar Mediterrâneo para o oceano Atlântico,
enfraquecendo a economia comercial da península Itálica. Isso refletiu sobre o movimento renascentista itália-
no, pois os artistas perdem o financiamento dos mecenas que, praticamente, deixam de existir. Nenhuma ou-
tra região européia conheceu uma explosão cultural tão intensa quanto a das cidades italianas. Provavelmente
porque o renascimento italiano estava diretamente ligado aos interesses da alta burguesia e de uma nobreza
também ligada ao comércio, enquanto no resto da Europa o renascimento guardava algo de cortesão, envol-
vendo príncipes autoritários e cultos e suas cortes de nobres. Só nos Países Baixos as relações econômicas
aproximavam-se às das cidades italianas e talvez por isso, tivemos uma fase renascentista um pouco mais
criativa.
As descobertas científicas, por sua vez, foram tão expressivas quanto as realizações artísticas.
Curioso e inteligente, Leonardo da Vinci aventurou-se nas áreas da anatomia, deixando-nos esboços
e descrições interessantes sobre nossas estruturas musculares; da engenharia, preocupando-se com transporte
de água, pontes e construções militares; na matemática, com excelentes estudos de geometria.

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No campo da astronomia, são fundamentais as contribuições de Kepler, Copérnico, Bruno, Galileu e
Brahe, demonstrando que o planeta Terra não se encontrava no centro do universo e, sim, girando em torno do
sol.
Na medicina, destacam-se Miguel Servet, com seus estudos de microcirculação sanguínea; Falópio,
que descreveu os órgãos genitais internos femininos; Paracelso, com seus estudos sobre drogas medicinais.

2. A REFORMA RELIGIOSA

As causas da reforma religiosa

Os humildes procuravam um apoio para conseguir enfrentar as ansiedades causadas pela crise do sis-
tema feudal. Buscam algo imutável, firme, confiável. Procuram os padres e a Igreja. Muitos padres, naquele
momento, não viam os humildes como pessoas a serem ajudadas, mas como trouxas que poderiam ser extor-
quidos. A Igreja Católica, porém, não soube aplacar as ansiedades geradas pelas transformações sociais e eco-
nômicas que ocorriam, quase acabou atropelada por essas transformações.
Vamos olhar mais de perto o comportamento dos padres que agiam de maneira incompatível com os
votos sacerdotais. Esses homens utilizavam os bens da Igreja, vendendo objetos sacros como se fossem pro-
priedade particular, atitude chamada simonia. Justificava-se a venda de objetos sacros utilizando a teoria de
São Tomás de Aquino, que considerava que os homens se salvavam pela fé e pelas obras caridosas que reali-
zassem. Além disso, muitos membros do clero viviam como se fossem homens comuns, rendendo-se aos cla-
mores carnais, como se não tivessem feito o voto de castidade sacerdotal (este comportamento era chamado
de nicolaismo).
O historiador inglês Edward Burns compilou dados tenebrosos sobre o comportamento de alguns pa-
pas que pontificaram naquele período: Alexandre VI tinha oito filhos ilegítimos; Leão X vendeu mil cargos
eclesiásticos, auferindo um renda anual equivalente a cinco milhões de dólares.
Mas há algo ainda mais escandaloso: a venda de indulgências. Em 1517, o papa Leão X, sob pretexto
de arrecadar dinheiro para concluir as obras da catedral de São Pedro em Roma, intensificou suas vendas.
Uma indulgência é o perdão concebido pelo papa, na totalidade ou em parte, ao castigo devido, nesta vida ou
no purgatório, por um pecado cometido pelo indivíduo.
Intelectuais humanistas, como Erasmo de Roterdã e Thomas Morus, propõem reformas dentro da
própria Igreja Católica. Mas as disputas políticas, no seio da hierarquia religiosa, impediam o encontro de so-
luções para o problema. Por isso, as contestações começam a acontecer.

A Reforma Religiosa e sua difusão

Em 1517, um padre agostiniano, Martinho Lutero, publicava suas 95 Teses, condenando com viru-
lência a venda de indulgências: era o início da Reforma, na Alemanha.
Partindo de Santo Agostinho, Lutero constrói uma doutrina religiosa própria. O homem justifica-se
pela fé, está só perante Deus. Assim Lutero rejeita a hierarquia religiosa, a maior parte dos sacramentos, o ce-
libato, o culto em latim e a transubstanciação. Acredita que a Bíblia é a única fonte da verdade divina e que
cada homem deve interpreta-la de acordo com suas próprias luzes.
A reforma protestante ocorre na Suíça, dirigida por João Calvino. Vindo da França, escreve em
1536 o livro Instituições Cristã onde insiste na idéia agostiniana da predestinação. Com todo seu rigor lógico,
Calvino desenvolve-a até suas últimas conseqüências: estando nas mãos de um Deus todo poderoso; o ho-
mem, maculado pelo pecado original, nada pode fazer pela sua salvação, não é sequer responsável pelos seus
atos. Mas a vontade de Deus, a “graça divina”, pode redimir as míseras criaturas humanas.
A fé, que salva e justifica, é o sinal da graça divina que reside no eleito e deverá ser acompanhada de
uma vida piedosa e austera, atenta a cada instante às mínimas manifestações do pecado.
Se Deus, na opinião de Calvino, arranjou todas as coisas por determinação de sua vontade, então o
capital, os créditos, os bancos, as finanças, o grande comércio são desejados por Deus e tão respeitáveis quan-
to o salário de um operário, o aluguel de uma propriedade ou o pagamento de juros por um empréstimo. As-
sim, o acúmulo de capitais, a realização profissional são indícios da graça. Portanto, a ética calvinista predis-

24
põe ao trabalho e ao lucro, repudia os prazeres e a dissipação da riqueza com uma moral muito rígida e santi-
fica a ascensão da burguesia e o capitalismo.

A Contra-Reforma Católica

A cúpula hierárquica da Igreja católica notou rapidamente que Lutero, Calvino e seus seguidores ha-
viam conseguido converter grande número de pessoas às convicções protestantes. O catolicismo precisava se
adaptar à nova situação, senão desapareceria.
Para reagir de maneira organizada ao crescimento do protestantismo, o Papa Paulo III convocou o
Concílio de Trento. A primeira preocupação do Concílio foi a de descobrir onde estavam os pontos fracos da
Igreja Católica, chegando à convicção de que os dogmas, os sacramentos e o corpo teórico eram corretos e
não podiam ser alterados; o problema era o clero. Assim, ao mesmo tempo que se reafirmavam todos os dog-
mas e sacramentos, iniciou-se um processo de purificação da estrutura hierárquica. Restaura-se a disciplina na
Igreja, fixa-se condições e idade mínima para se exercer a funções, proíbe-se a acumulação de paróquias e
bispados pelo mesmo eclesiástico e torna-se obrigatória a formação de padres em seminários.
Para se evitar o crescimento do protestantismo, cria-se o Index dos livros proibidos, censurando os
livros contrários à doutrina católica. Além disso, restaura-se a Inquisição, que julga, em tribunais próprios, os
acusados de não seguirem a doutrina católica.
A Igreja Católica procurou, ainda, reconquistar as regiões dominadas pelo protestantismo, por meio
da educação, e difundir a sua fé no resto do mundo, enviando missionários aos continentes recém-descober-
tos. Essa função ficou a cargo da Companhia de Jesus. Graças a essas providências, em pouco tempo a Igre-
já católica recuperou parte da sua punjança, contudo a cristandade européia estava agora dividida.

Exercícios

43 (UEG2002/1) A transição do mundo medieval para a era moderna foi marcada por movimentos de cunho
artístico e religioso, evidenciando um repensar da cultura da época. O Renascimento cultural, a Reforma pro-
testante e a Contra-Reforma católica foram movimentos que marcaram o período de transição.
Sobre os fenômenos mencionados acima, é INCORRETO afirmar que:
(a) O Renascimento, ao lançar novas bases para a interpretação dos textos sagrados relativos ao catoli-
cismo, abriu caminho para a formação de uma nova religião, o protestantismo.
(b) O desenvolvimento da arte renascentista fundamentou-se no estudo e na valorização do ser humano e
da natureza, tal como ocorreu com as ciências como a medicina, a física e a biologia, que ampliaram
significativamente seus conhecimentos.
(c) No Renascimento, as críticas à instituição clerical tornaram-se intensas e comuns. Os críticos do ca-
tolicismo pregavam mudanças estruturais da Igreja, visando combater a desmoralização do clero e
buscar a adaptação da instituição aos novos tempos.
(d) A Contra-Reforma reforçou o catolicismo na Europa, que se expandiu para outros continentes. Na A-
mérica, principalmente com o trabalho dos padres jesuítas na catequese dos gentios em diversas regi-
ões do novo mundo, a religião católica aumentou significativamente o número de fiéis.
(e) A Contra-Reforma representou a continuidade do movimento renascentista, uma vez que procurou
corrigir os desvios e abusos praticados pelo clero e incentivou a livre interpretação da Bíblia como
forma de disseminar o catolicismo no mundo.

44 (CEFET2002/2) Ao final da transição do feudalismo para o capitalismo, consolidam-se novas formas de


organização da vida social. Assim é possível afirmar que:
01. ( ) A sociedade de ordens, cuja estrutura se fundamentava no nascimento e no sangue, deu lugar a uma
sociedade de classes, cuja estrutura se fundamentava na propriedade privada e na riqueza.
02. ( ) O Estado feudal, centralizado e intervencionista nos assuntos econômicos, deu lugar a um Estado ca-
pitalista descentralizado e distante dos assuntos econômicos.
03. ( ) A ideologia valorizadora da pobreza e da comunidade ordenada pelo projeto divino deu lugar a uma
ideologia valorizadora da riqueza e do indivíduo, que se afirmou na sociedade por meio da compe-
tição.
04. ( ) O capital, que no feudalismo europeu dominava a produção e os trabalhadores, passou a dominar, no

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capitalismo, apenas a esfera do comércio (circulação de mercadorias).

45 (UFG2002) A consciência da oposição entre “antigo” e “moderno” e, com ela, a formação de um concei-
to de modernidade surgiram durante o século XVI, com o Renascimento. A visão religiosa do mundo feudal
começa a contrapor-se uma outra - secular, laica. Tal mudança coloca o homem no centro do universo (antro-
pocentrismo), abrindo novas perspectivas para o pensamento político e religioso, assim como para o desen-
volvimento das ciências.
Assinale, a seguir, os fatos que caracterizam a Idade Moderna.
01. ( ) Os dogmas religiosos do catolicismo perdem o monopólio da explicação do mundo, e o método expe-
rimental passa a ser valorizado como meio de acesso ao conhecimento da realidade.
02. ( ) O Renascimento europeu corresponde à era das grandes navegações e das conquistas, contudo tem
como contrapartida, no processo de colonização do Novo Mundo, o massacre de civilizações avan-
çadas (inca, asteca, etc).
03. ( ) A formação do Estado Moderno está relacionada com o fortalecimento da nobreza feudal que, aliada
à Igreja, funda uma nova ordem política, baseada na centralização do poder.
04. ( ) A Reforma promove uma profunda revisão religiosa e política na sociedade européia do século XVI,
marcando a passagem do mundo feudal para o mundo moderno.

46 (Unicamp)
“Renascimento é o nome dado a um movimento cultural italiano e às suas repercussões em outros
países. Caracterizou-se pela busca da harmonia e do equilíbrio nas artes e na arquitetura acrescentando aos te-
mas cristãos medievais outros temas inspirados na mitologia e na vida cotidiana.”
(Dicionário do Renascimento Italiano. Zahar Editores, 1988)

Em que momento da história européia se situa esse movimento e qual a principal fonte de inspiração
para os intelectuais e artistas renascentistas ?

47 (Unicamp) Segundo Calvino, o homem já nasce predestinado à salvação ou condenação eterna, e um dos
sinais da salvação é a riqueza acumulada através do trabalho. Estabeleça a relação entre a expansão do doutri-
na calvinista e o fortalecimento do capitalismo no século XVI.

48 (Unicamp) Em um dicionário histórico, encontramos a seguinte definição:


“Contra-Reforma - o termo abrange tanto a ofensiva ideológica contra o protestantismo quanto aos
movimentos de Reforma e reorganização da Igreja Católica, a partir de meados do século XVI.”
(Dicionário do Renascimento italiano, Zahar Editores, 1988)

De as principais características da Contra-Reforma e analise duas delas.

49 (UFMG) Estabeleça a conexão entre o movimento renascentista e a realidade histórica vivida pela Itália.

50 (UFG1996-2ªfase) A Idade Moderna congregou um longo período, de quase quatro séculos, onde se
formou o moderno em oposição aos princípios e práticas do mundo medieval. A idéia de passagem, de transi-
ção, é uma das principais chaves para a compreensão de tão rico período. A partir do exposto, cite e justifique
duas (2) transformações econômicas e duas (2) transformações culturais ocorridas na Europa Ocidental, no re-
ferido período.

3. O ABSOLUTISMO

Ideologia absolutista

O Absolutismo existe de duas maneiras: de fato e de direito, e tem como limites algumas leis funda-
mentais, os costumes e a religião. O rei encarna o ideal nacional, tanto nas guerras externas com na disputa
pelos mercados coloniais, de interesse não apenas real, mas também social. Muitos teóricos tentaram justificar
o poder absolutista. Vamos conhecer as principais idéias de alguns deles.

26
Maquiavel (1469-1527)
E começamos por um autor que, de certa forma, é uma exceção entre os teóricos absolutistas: ao pas-
so que a preocupação em legitimar o poder real é fundamental para os outros teóricos, Maquiavel prefere des-
crever os mecanismos de poder, procurando auxiliar o monarca na tarefa de ampliara sua força política.
Em sua obra mais conhecida, O Príncipe, Maquiavel pondera que a política é amoral e o que interes-
sa são os resultados. Ou seja, em política, “os fins justificam os meios”.

Thomas Hobbes (1558-1679)


Esse escritor britânico parte do pressuposto de que os homens, quando não estão tolhidos por leis e
obrigações sociais, tendem a lutar uns contra os outros (homo hominis lupus), o que provocaria o caos.
Surge a pergunta: “Quem possuirá força para garantir a tranqüilidade social ?” Hobbes responde di-
zendo que o soberano deverá receber poderes totais, dirigindo um Estado-Leviatã (aliás, Leviatã, um monstro
bíblico, é o nome do livro no qual Hobbes expõe suas teses). Estabelece-se, assim, um contrato entre os cida-
dãos, que declinam da liberdade, e o soberano, que terá poderes totais enquanto garantir a tranquilidade so-
cial.

Jacques Bossuet (1627-1704)


Seu livro principal é Política tirada das próprias palavras da Sagrada Escritura. O título do livro
explica claramente o seu conteúdo: considera-se que a autoridade do soberano é sagrada, pois ele age como
ministro de Deus na Terra. O monarca governa por vontade de Deus; quem desobedece ao rei comete pecado
capital, porque está desobedecendo ao todo-poderoso.

4. O ILUMINISMO

Características do Iluminismo
As transformações culturais e científicas do século XVIII, o “Século das Luzes”, foram incrivelmen-
te numerosas. Elas demonstram, numa primeira aproximação teórica, o amadurecimento econômico e social
da burguesia capitalista. Do ponto de vista econômico o capital subordinou o trabalho, ou seja, o empresário
passa a interferir no próprio processo de produção de mercadorias e não apenas na sua comercialização, como
acontecia no período mercantilista. Do ponto de vista social, burguesia assumiu o lugar de classe dominante,
contestando a nobreza.
O Iluminismo foi um grande desenvolvimento verificado no domínio das idéias, do pensamento. Ca-
rácterizou-se pelo que se poderia chamar de uso da razão como princípio fundamental para a compreensão de
todos os fenômenos. A razão seria a luz que iluminaria o pensamento humano, possibilitando-lhe a elaboração
de idéias que explicariam e impulsionariam as ações humanas.
Embora tenha se manifestado em todos os setores do conhecimento, o Iluminismo afetou mais pode-
rosamente o pensamento político. A filosofia das luzes constituiu um processo de critica ao absolutismo mo-
nárquico. Se a ração deve guiar o pensamento e a ação dos homens, há que se ter uma postura crítica em rela-
ção ao dogmatismo religioso, que fere o princípio de liberdade do individuo, um dos mais importantes do ilu-
minismo. Os pensadores do século XVIII questionavam a validade dos princípios religiosos que atribuíam ao
pode dos monarcas uma origem divina. Dederot foi radical nesse questionamento, ao proclamar: “O mundo só
será inteiramente livre no dia em que o último rei morrer enforcado nas tripas do último padre”!
A base para a organização política, para os filósofos iluministas, assentava-se no individualismo. A
liberdade, característica essencial e natural do homem, é a base na qual a sociedade deveria organizar-se. O
princípio da liberdade individual tornava-se, por extensão, inerente aos povos, que são, ao final das contas,
homens reunidos.
Ressalva as contribuições particulares de alguns filósofos, podemos agrupar alguns pressupostos, ge-
rais do pensamento iluminista: a busca da felicidade como meta para a organização das sociedades; a legitimi-
dade da busca do prazer, o respeito aos direitos naturais, a tolerância e a filantropia como essenciais para a vi-
da em sociedade; o reconhecimento do direito à revolta em caso de violação dos direitos naturais pelos gover-

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nantes; exigência da supressão da servidão; estabelecimento da liberdade econômica e da tolerância religiosa;
finalmente, a abolição dos privilégios de nascimento.
Outra característica interessante do Iluminismo foi a construção da Enciclopédia. Ela foi o mais im-
portante veículo de idéias iluministas na França.

O liberalismo econômico
O papel pioneiro desempenhado pela Inglaterra no processo de industrialização fez dela o berço do
liberalismo econômico. Observe: assim como na época da Revolução Comercial os interesses dos grandes co-
merciantes foram defendidos pelos pensadores mercantilistas, durante a Revolução Industrial os interesses dos
grandes fabricantes foram defendidos pelos economistas liberais clássicos. Desses economistas, o mais impor-
tante foi, indiscutivelmente, Adam Smith, seus princípios econômicos foram formulados no livro A riqueza
das nações, publicado em 1776 e podem ser considerados como característicos do liberalismo econômico:
. Inviolabilidade da propriedade privada e do individualismo econômico: a propriedade privada era um direi-
to natural do ser humano, sagrado e inviolável. Dentro dos limites estabelecidos pela lei, ele tinha plena líber-
dade de fazer o que melhor lhe aprouvesse com aquilo que era de sua propriedade.
. Laissez-faire: o indivíduo era o agente econômico por excelência, cabendo a ele exercer o principal papel
nos negócios e empreendimentos. O Estado não deveria interferir nas atividades econômicas. A função do go-
verno deveria ser a manutenção da ordem e a proteção da propriedade privada.
. Liberdade de contrato: o salário e a extensão da jornada de trabalho devem ser fixados livremente por nego-
ciação direta, empregador e empregado, sem nenhuma intervenção do governo, legislação ou sindicatos.
. Livre concorrência: a não-intervenção governamental e a liberdade de comércio obrigam o empresário a
produzir melhor, por preços menores. A livre-concorrência beneficia que é empreendedor e competente, eli-
minando dos mercados os ineptos e sem iniciativas.
. Livre-câmbio: sem tarifas alfandegárias protecionistas, cada país se especializa em produzir os artigos que
podem ser fabricados em melhores condições do que os outros países.

Os Déspotas Esclarecidos
Em alguns países europeus, no século XVIII, a economia se encontrava mais atrasada, para os pa-
drões capitalistas. Neles era impossível a industrialização com o apoio burguês, pois não havia burguesia.
Nesses países, monarcas absolutistas deixaram-se influenciar pelas idéias iluministas, principalmente pelas
teses da economia liberal. Assim, tentaram modernizar economicamente os seus países, sem realizar qual-
quer tipo de abertura política.
Essa situação dos reis absolutistas era contraditória: como aceitar os princípios econômicos liberais
se o rei não abandonava o Absolutismo, que lhe permitiu intervir fortemente na economia ? Por isso, não deu
certo. Foram déspotas esclarecidos reis de Portugal, Espanha, Áustria e Rússia.

Exercícios

51 (FGV) A filosofia iluminista erigiu-se sobre certo número de conceitos fundamentais. Das afirmações
abaixo, indique a única que claramente não faz parte daquela corrente.
(a) A razão é o único guia intelectual da sabedoria.
(b) Somente através da visão metafísica do mundo, da dedicação aos ideais do Estado e do contínuo
aperfeiçoamento da alma é que o ser humano pode chegar a verdade absoluta.
(c) O Universo é uma máquina governada por leis inflexíveis que o homem não pode destruir.
(d) A melhor estrutura de sociedade é a mais simples e natural. A vida do “bom selvagem” é preferível à
do homem civilizado com suas convenções obsoletas.
(e) Nada há que possa ser considerado como pecado original. O homem não é inatamente depravado,
mas levado a atos de crueldade e de baixeza por lideranças intrigantes e belicosas.

52 (UFG2001)
(...) O príncipe que baseia seu poder inteiramente na sorte se arruína quando esta muda. Acredito
também que é feliz que age de acordo com as necessidades do seu tempo, e da mesma forma é infeliz que age
opondo-se ao que o seu tempo exige.
Maquiavel. O Príncipe. Brasília: Ed. UnB. 1976. p.90.

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Acerca do processo de formação dos Estados modernos na Europa Ocidental foi fruto de um comple-
xo processo de alianças entre setores da nobreza e da nascente burguesia. O rei encarnava essa tensa aliança
que expressava as lutas políticas próprias ao período de formação do capitalismo.
Acerca do processo de formação dos Estados modernos, é possível afirmar que:
01. ( ) Maquiavel elabora uma reflexão realista sobre o poder e o homem; portanto, aconselha o príncipe a
governar em nome e uma razão destinada, primordialmente, ao fortalecimento do poder do soberano.
02. ( ) os princípios disseminados na obra de Nicolau Maquiavel, O Príncipe, são condizentes com a morali-
dade medieval, que defendia a origem divina do poder real; portanto, ao príncipe caberia aceitar os
desígnios divinos e governar para o bem da coletividade.
03. ( ) a imagem do rei estava associada, desde a formação dos Estados feudais, a princípios religiosos. Os
rituais da corporação, mediados pela Igreja Católica, sacralizavam o poder real.
04. ( ) o tumultuado processo revolucionário francês disseminou um medo profundo nos Estados monárqui-
cos, que, posteriormente, formaram a Santa Aliança, para combater o avanço dos movimentos revo-
lucionários.

53 (UCG1999-1)
“O período histórico que vai do século XV as fim do século XVIII, é conhecido, tradicionalmente,
como Idade Moderna. Trata-se de um período de grandes transformações em termos sociais, econômicos e
políticos”.
(Cotrim, Gilberto. História e consciência do mundo. São Paulo: Saraiva, 1994.p.184)

01. ( ) No aspecto político houve a centralização do poder e a formação das monarquias nacionais. Para a
manutenção da paz européia, o Estado Moderno manteve o regionalismo dos feudos e o universalis-
mo da Igreja Católica.
02. ( ) O Estado Moderno adotou uma política econômica conhecida como mercantilismo. Suas prática eco-
nômicas, apesar de variadas, tinham em comum o objetivo de fortalecer o Estado e a Burguesia na
fase de transição do feudalismo para o capitalismo.
03. ( ) Em substituição aos valores dominantes na Idade Média, a mentalidade moderna formulou novos
princípios: o Humanismo (mundo centrado no homem), o Racionalismo (explicação do mundo pela
razão) e o Individualismo (reconhecimento e respeito às diferenças individuais).
04. ( ) O Renascimento, movimento cultural ocorrido em várias regiões da Europa Ocidental, teve como ca-
racterísticas a uniformização e a coerência em suas manifestações: nas artes, priorizou temas religio-
sos, eliminando as temáticas mitológicas, as cenas do cotidiano e a exploração do corpo humano.
05. ( ) A Contra-Reforma contribuiu para reafirmar a doutrina católica, renovar os costumes eclesiásticos e
fortalecer o poder da Igreja nas áreas atingidas pela Reforma Protestante.
06. ( ) “Ó mar, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal
Por te cruzarmos, quantas mães choraram
Quantos filhos em vão rezaram
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosse nosso, ó mar !”
(Fernando Pessoa)
Portugal foi o primeiro país europeu a iniciar a exploração ultramarina. Este pioneirismo foi dificul-
tado, entretanto, pela tardia centralização monárquica, pelo precário conhecimento náutico e pela ine-
xistência de uma classe burguesa que assumisse, junto com o Estado, a empresa de navegação.

54 (Fuvest) “O Estado sou eu”. Esta frase do rei francês Luís XIV indicava uma particular organização do
Estado moderno. Qual era essa particular organização ? Dê duas de suas características.

55 (Fuvest) A expressão “laissez-faire, laissez-passer” traduz dois princípios do liberalismo econômico.


Quais eram esses princípios ?

56 (Fuvest) “Quando na mesma pessoa, ou no mesmo corpo de magistrados, o Poder Legislativo se junta ao
Executivo, desaparece a liberdade ... Não há liberdade se o Poder Judiciário não está separado do Legislativo
e do Executivo ... Se o Judiciário se unisse com o Executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. E tudo

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estaria perdido se a mesma pessoa ou o mesmo corpo de nobres, de notáveis, ou de populares, exercesse os
três poderes: o de fazer leis, o de ordenar a execução das resoluções públicas e o de julgar os crimes e os com-
flitos dos cidadãos”.
(Montesquieu, Do espírito das leis, 1784)

a) Qual foi o tema do texto ?


b) Explique o contexto histórico em que foi produzido.

I ORIGENS DE PORTUGAL
1. A formação do Reino de Portugal
Os árabes haviam ocupado a península Ibérica no início do século VIII. A partir do século XI, po-
rém, a população européia passou a se multiplicar. Houve a necessidade de transferir o excesso de população
européia para algum outro ponto do planeta: isso ajuda a explicar o movimento de Cruzadas.
Em 1094, durante as denominadas “Guerras de Reconquista”, que tinham por objetivo a expulsão
dos muçulmanos da península Ibérica, um nobre francês, D. Henrique de Borgonha, recebeu em troca dos
serviços militares prestados ao Rei de Castela, uma das áreas libertadas, o Condado Portucalense. Mais tar-
de, em 1139, seu filho D. Afonso Henrique proclamou a independência de Portugal, tornando-o seu primei-
ro rei, iniciando a dinastia de Borgonha, que governou Portugal de 1139 a 1383.
Os primeiros reis portugueses dedicaram-se a povoar o país, incentivando as atividades agrícolas.
Contudo, o litoral português ficava no meio do caminho entre as regiões européias com maior dinamismo co-
mercial que eram as do litoral norte da Itália e a região de Flandres. Com isso, barcos passaram habitualmente
a transitar pelo porto de Lisboa. Assim, enquanto o interior português se constrói dentro de relações feudais, o
litoral tornava-se economicamente mercantil.
Dois grupos passam, então, a disputar o controle de Portugal: de um lado a burguesia comercial, do
outro, a nobreza feudal. Aproveitando-se de uma luta sucessória para disputar uma parcela do poder político
português. Na Revolução de Avis (1383-1385), a burguesia venceu.

2. As grandes navegações

Portugal foi o Estado pioneiro nas grandes navegações. Os motivos: havia em seu território, uma
burguesia comercial interessada em encontrar um caminho alternativo para as Índias; a monarquia portuguesa,
consolidada e centralizada, transformava o rei em um líder nato para dirigir o processo de descobrimentos; a
posição geográfica portuguesa facilitava as aventuras marítimas e, por último, os conhecimentos náuticos e
técnicas eram aperfeiçoados e difundidos pela “Escola de Sagres”.
A estratégia seguida pelos portugueses, na pesquisa de um caminho alternativo para as Índias, rece-
beu o nome de Périplo Africano: tentar chegar às Índias, contornando o continente africano.
Em 1498, Vasco da Gama finalmente conseguiu realizar a tão sonhada viagem entre Portugal e a In-
dia. Dois anos depois, em 1500, uma nova esquadra, comandada por Pedro Álvares Cabral, tinha por objetivo
fundar um posto comercial na cidade de Calicute, na Índia, desviou-se intencionalmente de sua rota, chegan-
do às terras brasileiras.

3. O Período Pré-Colonial (1500-1530)


Os portugueses queriam encontrar especiarias, para revendê-las com lucro na Europa; queriam ouro.
Mas, para seu azar, a esquadra de Cabral não encontrou nem especiarias, nem ouro, nas terras descobertas.
O Brasil foi então, arrendado a um comerciante cristão-novo chamado Fernão de Noronha que rece-
beu o monopólio da extração e revenda de pau-brasil. Através de feitorias e escambo, esse empresário foi o
único português com interesses comerciais em nosso país, por duas décadas.
O interesse português em relação ao Brasil começaria, porém, a mudar perto do ano de 1520. Os
franceses, que não aceitavam o Tratado de Tordesilhas e consideravam-se no direito de possuir parte do con-
tinenete americano, passaram a fazer contrabando no litoral brasileiro. Ao mesmo tempo, a descoberta do ou-
ro na América Espanhola faz que se vislumbrasse a possibilidade de também haver ouro no Brasil. Dessa for-
ma D. João III decidiu iniciar a colonização das terras descobertas, em 1530.

30
Exercícios

01 (Unesp-SP) Portugal, reino cristão da Península Ibérica, nasceu diretamente relacionado com a:
(a) tomada de Constantinopla pelos turcos.
(b) fundação da Universidade de Lisboa.
(c) rebeldia do povo de um condado, em luta contra os mouros e os castelhanoa.
(d) expulsão dos fenícios dos árabes da cidade de Granada.

02 Entre 1383 ocorreu em Portugal a Revolução de Avis. Entres suas conseqüências, podemos citar:
(a) a descentralização do poder político e o incentivo as instituições feudais.
(b) descentralização do poder político e o incentivo às Grandes Navegações.
(c) a descentralização do poder político e o incentivo ao comércio interno.
(d) a descentralização do poder político e a criação de empecilhos a expansão comercial.
(e) a conclusão do processo de centralização do poder político e a criação de condições para as Grandes
Navegações.

03 (Faap) Baseada no escambo e nas feitorias, e essencialmente predatória, foi:


(a) a economia extrativa do pau-brasil no período pré-colonial brasileiro.
(b) a caça ao braço escravo indígena, nos fins do século XVI.
(c) a estrutura escravista do Brasil.
(d) o ciclo da cana-de-açúcar em São Vicente, no século XVII.
(e) e início do plantio de café, no litoral fluminense.

04 (FGV) O pioneirismo português nas navegações encontra explicações na posição geográfica de Portugal,
na sua tradição pesqueira, na Escola de Sagres etc. Salienta-se, entretanto, como fundamental, a existências de
condições políticas e institucionais, tais como:
(a) um Estado feudal, onde os senhores de terra buscavam no comércio sua fortuna.
(b) o estabelecimento de uma nova dinastia, a Casa de Bragança, ávida de lucros no comércio exterior.
(c) o início, em Portugal, de sua revolução industrial, que desmandava capitais para se expandir.
(d) um Estado liberal, descentralizado, voltado para a propagação da fé cristã entre os povos pagãos.
(e) um Estado centralizado, forte e bastante voltado para o comércio.

05 (FES-RJ) Durante o período pré-colonizador da colonização portuguesa, a atividade econômica básica e


a mão-de-obra nela empregada ficaram caracterizadas, respectivamente:
(a) pelas feitorias, exploração do pau-brasil e a mão-de-obra indígena sob a forma de escambo.
(b) pelas capitanias hereditárias, cultivo da cana e pelo índio sob o regime de escravidão.
(c) pelas feitorias, exploração de pau-brasil e pela mão-de-obra escrava.
(d) pelas capitanias hereditárias, pela exploração de pau-brasil e pela mão-de-obra indígena submetida à
orientação dos jesuítas.
(e) pelas feitorias, pelo cultivo de cana e pelo indígena pacificado.

II. A COLONIZAÇÃO
1. O Açúcar

Devemos lembrar, em primeiro lugar, que o rei D. João III decidiu colonizar produtivamente o Bra-
sil, para evitar perdê-lo para as nações invasoras, como França. Na ânsia de encontrar um produto que pudes-
se servir para essa colonização produtiva, a escolha foi iniciada com os seguintes critérios: o produto deveria
ser uma especiaria e Portugal deveria saber produzi-lo. A cana-de-açúcar atendia a esses dois requisitos.

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Nas não foi só isso que impulsionou a produção açucareira no Brasil. O açúcar exige muito espaço
para ser produzido e a disponibilidade de solos que no Brasil, era quase infinita. O solo de massapé, encontra-
do no litoral nordestino, mostrou-se excelente para a cana-de-açúcar. O clima quente e úmido, encontrado em
quase todo nosso litoral, também favoreceu a produção. Rios encachoeirados ajudavam na construção de
moenda; as florestas forneciam madeira que serviria como fonte de energia e material para encaixotar a pro-
dução.
Dois problemas, entretanto, precisavam ser enfrentados pelos portugueses, para organizar a produção
açucareira em nosso país: como conseguir capital inicial para a implantação do sistema e como arregimentar
mão-de-obra para o trabalho nas lavouras.
A fim de realizar os investimentos para implantar o sistema açucareiro, os holandeses exigiram duas
coisas: os monopólios da revenda e do refino do açúcar. Portugal concordou e o problema do capital inicial
foi resolvido. A solução para o problema da mão-de-obra acabou sendo a utilização do escravo africano.

2. A Economia Açucareira

Como toda a produção brasileira deveria ser comercializada por Portugal, não havia interesse em se
estabelecer, aqui, um mercado interno poderoso. Por isso, a distribuição de terras entre muitos pequenos pro-
prietários foi evitada, estabelecendo-se uma estrutura agrária baseada no latifúndio. A produção em grande es-
cala era interessante para se conseguir amplos excedentes exportáveis a um preço competitivo, daí a ênfase
na monocultura, o preço competitivo implicava também a utilização de mão-de-obra barata, o que se conse-
guiu com o uso do escravo africano.
A essa estrutura de produção, baseada no latifúndio, na monocultura, na mão-de-obra escrava negra,
voltada para o mercado externo, deu-se o nome de plantation.

3. A sociedade açucareira

No topo da sociedade, temos os senhores de engenho. Eles receberam as terras dos donatários ou dos
governadores-gerais, sem tê-las comprado. A base da sociedade era formada por escravos. Como os escravos
não recebiam salários, não podiam acumular riquezas que pudessem, por exemplo, ser revertidas em compra
de terras.
A ausência de mercado interno inviabilizava o desenvolvimento das classes médias. Os raros assala-
riados eram marceneiros, barbeiros, alfaiates, que quase sempre dependiam dos favores e humores dos gran-
des proprietários de terra. Não é à toa que estes funcionários tinham o apelido de “agregados”.
A sociedade montada em torno do açúcar não oferecia, portanto, possibilidades de mobilidade social,
girando em torno da oposição entre a “Casa Grande” e a “Senzala”, como magistralmente definiu Gilberto
Freire.

Exercícios

06 (PUCCAMP) “A Agricultura comercial é a solução. Produzem-se gêneros tropicais de acordo com as


necessidades do mercado externo: o que determina o empreendimento produtivo é a circulação, o comércio ..”
Tendo em vista as características da ocupação portuguesa no Brasil, pode-se afirmar, a partir do tex-
to, que a colônia era uma nova área:
(a) fornecedora de gêneros de primeira necessidade;
(b) produtora de artigos manufaturados de luxo;
(c) vinculada a demanda de bens de capital;
(d) complementar da economia metropolitana;
(e) sem importância para a economia européia.

07 (Nackenzie-SP) A forma encontrada por Portugal para superar a crise econômica provocada pela deca-
dência do império português nas Índias foi a instalação de um sistema colonial no Brasil. Este se caracterizou:
(a) pela utilização de mão-de-obra livre e pela instalação de minifúndios como unidades produtoras;
(b) pelo pioneirismo português na exploração agrícola da América;
(c) pela ocupação rápida do território, facilitada pela existência de grandes excedentes demográficos na
metrópole;

32
(d) pelos fartos recursos econômicos de que dispunha o governo português na época, afastando a Holan-
da da sociedade no comércio açucareiro no Nordeste;
(e) pelo incentivo à mineração, como atividade econômica prioritária na colônia.

08 (Fuvest) Na engrenagem do sistema mercantilista de colonização do Brasil, fez-se opção pela mão-de-
obra africana porque o tráfico negreiro:
(a) contribuía para o apresamento indígena como negócio interno da Colônia.
(b) estimulava a utilização de mão-de-obra de fácil acesso e baixa rentabilidade econômica.
(c) atendia às pressões exercidas pelos ingleses em relação à troca da produção açucareira pelo forneci-
mento de negros.
(d) abria novo e importante setor do comércio para os mercadores metropolitanos.
(e) era o elemento fundamental no processo de expansão econômica do mercado interno brasileiro.

09 (UnB2001/1) O Brasil colonial conheceu um forte e aberto conflito social entre os senhores de terras e a
classe mercantil, a classe que ascendia graças a atividade comercial. Nessa perspectiva, julgue os itens abaixo,
relativos ao peso econômico e político dos senhores de terras, da nova classe comercial, bem como de escra-
vos e outros estratos sociais existentes no Brasil colonial.
01. ( ) Embora a aquisição de terras exigisse grandes somas de recursos, a produção agrícola do Brasil com-
pensava os investimentos, pois os produtos, durante aquele período, tinham preços sempre crescen-
tes, devido a sua raridade para o consumidor europeu.
02. ( ) A hostilidade mencionada acima diz respeito à penetração de mercadores franceses que se estabelece-
ram no Rio de Janeiro e monopolizaram o comércio de exportação da produção açucareira.
03. ( ) Em razão, principalmente, da inadequação de sua cultura, o grande contingente de escravos de ori-
gem africana não tinham condições de atuar nas atividades econômicas manufatureiras do Brasil co-
lonial.
04. ( ) a importância do segmento médio no Brasil colonial explica-se pela alta diversificação da economia e
pela existência de um corpo político-burocrático estabelecido na colônia.

III. INVASÕES HOLANDESAS


1 As causas das invasões holandesas
No ano de 1578, o rei português D. Sebastião, morre na batalha de Alcácer Quibir, em território mar-
roquino, num luta contra muçulmanos. Este fato provoca dificuldades sucessórias, uma vez que o jovem rei
morto não deixava herdeiros. Em 1580, o rei Felipe II, da Espanha, assume o trono português, pois era neto
do velho rei D. Manuel, de Portugal: surge a União Ibérica (1580-1640) e o Brasil passa a ser uma colônia es-
panhola nesse período.
A Espanha proíbe os brasileiros de fazerem comércio com a Holanda. Felipe II pretendia dessa forma
prejudicar o comércio holandês.
Os holandeses reagem. Organizam uma esquadra invasora e atacam a capital brasileira, visando a
reaver o comércio açucareiro, que representava uma parcela importante dos lucros mercantilistas holandeses.
Assim se explicam as invasões holandesas sobre o território brasileiro.

2 As invasões sobre Salvador (1624-1625) e Pernambuco (1630-1654)

Salvador era, em 1624, um vilarejo de 3 300 habitantes. Foi atacado por uma esquadra de 26 navios
holandeses, com 450 canhões e não conseguiu esboçar qualquer defesa contra os invasores. Só que os invaso-
res não puderam tirar partido de sua vitória. Foram cercados por guerrilheiros dirigidos pelo bispo D. Marcos
Teixeira, no episódio conhecido com o nome de Campanhia das Emboscada. Com isso, desconhecendo o
território brasileiro, inabituados à floresta tropical e vítimas incessantes dos ataques guerrilheiros, os holande-
ses ficaram limitados ao domínio de Salvador. No ano seguinte, foram atacados por uma esquadra ibérica, e
tiveram que abandonar Salvador.

33
O segundo ataque holandês, sobre Pernambuco, foi muito melhor planejado. Inciando-se em 1630.
Sem forças suficientes para enfrentar os holandeses, Matias de Albuquerque, governador de Pernambuco, re-
fugiou-se no interior do território, onde fundou o Arraial do Bom Jesus. O arraial tornou-se o principal foco
de resistência contra os holandeses. A tática empregada por Matias de Albuquerque também foi a guerrilha. A
invasão realizou-se com o objetivo de conquistar o apoio dos grandes proprietários de terra do Nordeste. A
técnica adotada foi a de demonstrar que a Holanda não estava interessada em tirar as propriedades dos donos
de engenho. Na verdade, o que se queria era retomar o comércio açucareiro. Os preços de compra do açúcrar
seriam os mesmos oferecidos por espanhóis e portugueses, mas não se cobrariam impostos, caso os donos do
engenho decidissem negociar com a Holanda.
Para administrar a região, é trazido o conde João Maurício de Nassau, que realizou muito bem as
suas funções, ao menos do ponto de vista dos proprietários rurais pernambucanos. A produção açucareira de-
cuplica em apenas seis anos. Contudo, acusado de planejar um golpe para tornar Pernambuco independente e
coroar-se rei do novo país, Maurício de Nassau é demitido do seu cargo em 1644. Nesse mesmo ano, se incia
o processo conhecido como Insurreição Pernambucana, que culminaria com a expulsão dos holandeses do
Brasil. Portugal, novamente independente (A União Ibérica termina em 1640), quer retomar a sua posse colo-
nial mais lucrativa. Como a luta pela independência, contra a Espanha, exauriu os portugueses, eles não pu-
deram tentar retomar Pernambuco imediatamente. Mesmo mais tarde, Portugal precisaria de um aliado pode-
roso, para fazer frente aos holandeses. Quem se dispôs a ajudar foi a Inglaterra, que queria prejudicar o co-
mércio holandês. Portanto, as armas que expulsaram os holandeses foram compradas com dinheiro inglês.

3 Conseqüências das invasões


Os holandeses saíram do Brasil, mas isso não quer dizer que eles desistiram de fazer comércio açuca-
reiro.
Após abandonarem o território brasileiro, dominaram algumas ilhas antilhanas e deslocaram para lá
seus investimentos e o conhecimento adquirido pela administração da produção em Pernambuco.
A produção antilhana fez os preços despencarem no mercado internacional. A única esperança de lu-
cro português residia na venda de açúcar para a Inglaterra, que logicamente não comprava açúcar dos seus ini-
migos comerciais. Acontece que os ingleses desenvolveram a produção do açúcar de beterraba e deixaram de
fazer compras do produto brasileiro.
A queda dos preços, a concorrência internacional e a perda da maior cliente somam-se para dar fim
ao ciclo do açúcar no Brasil.

Exercícios

10 (Fuvest) O domínio holandês no Nordeste brasileiro foi conseqüência da:


(a) união das coroas ibéricas e da política comercial da Espanha.
(b) política de intolerância religiosa na Europa.
(c) crise da agricultura européia.
(d) política desenvolvida por Nassau para atender às exigências das províncias unidas.
(e) necessidade de fazer frente ao comércio de açúcar das Antilhas.

11 (Fatec) As invasões holandesas (primeira metade do século XVII) tinham por objetivo principal:
(a) organizar colônias de povoamento no litoral brasileiro.
(b) criar nas áreas despovoadas do litoral brasileiro grandes centros de produção de tabaco e açúcar.
(c) colocar na costa brasileira refugiados protestantes.
(d) a reapropriação dos lucros na distribuição e vendado açúcar brasileiro, ocupando inicialmente a
Bahia e logo mais, Pernambuco.
(e) organização no Nordeste brasileiro, portos militares que serviriam de bases para atacar os navios
espanhóis que atravessavam o Mar das Antilhas.

12 (FCC) As invasões sofridas pelo Brasil no Século XVII, primeiro na Bahia (1624-1625) e depois em
Pernambuco (1630-1654), devem ser entendidas como:
(a) um reflexo direto da crise européia motivada pela ocorrência de conflitos religiosos gerados pela
Reforma.

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(b) uma tentativa de manutenção dos interesses açucareiros pela Holanda, depois da União das Coroas
Ibéricas.
(c) uma disputa entre imperialismos - inglês e batavo - a fim de controlar o transporte marítimo no
Atlântico.
(d) um reflexo da Guerra Civil das colônias americanas, o que determinou um grande afluxo de imi-
grantes estrangeiros.
(e) um conflito para superar a crise comercial gerada pelo colapso da produção de açúcar nas Antilhas.

13 (Puc-RJ) O declínio da agroindústria do açúcar da região nordestina, durante a segunda metade do


século XVII é explicado:
(a) pelas devastações provocadas durante as lutas contra os invasores holandeses.
(b) pela dificuldade de obtenção de mão-de-obra escrava desde que os portos africanos foram conquis-
tados pela Companhia das Índias Ocidentais.
(c) pela organização de uma área produtora nas Antilhas, sob o controle de mercadores flamengos.
(d) pelo esgotamento progressivo das terras de massapé.
(e) pelo deslocamento da mão-de-obra para a região das minas.

V. CRISE DO SISTEMA COLONIAL


O sistema colonial é regido por uma máxima bastante irônica: “Quando dá certo se rompe!” !
Portugal coloniza o Brasil; implanta um sistema agrícola açucareiro, que consolida o povoamento;
organiza uma administração colonial; monta uma estrutura arrecadatória; quando se inicia a mineração, gran-
des contingentes populacionais se mudam para o Brasil, em busca de ouro. Qual é o resultado disso tudo ?
Chega o momento em que a economia da colônia é maior que a da metrópole; os cidadãos que vivem na colô-
nia é maior que a da metrópole; os cidadãos que vivem na colônia nasceram nela, perdendo os vínculos cultu-
rais com o reino que a dirige; alguns proprietários coloniais se sentem lesados ao pagar impostos que serão
tansferidos em benefícios num outro país. Em suma, a colônia sente-se madura para seguir seus próprios des-
tinos, lutando pela liberdade.
Além disso, a conjuntura internacional também é favorável à revolta: a partir da Revolução Indus-
trial, o liberalismo burguês prega contra os monopólios, inclusive o monopólio comercial que a metrópole
exerce sobre a colônia e que é conhecido como pacto colonial; o absolutismo monárquico é questionado;
considera-se fundamental que os cidadãos sejam representados em assembléias legislativas.
O crescimento da economia, em nível interno, e o liberalismo, em nível internacional, provocam a
crise do sistema colonial.

1 As rebeliões nativistas
No princípio, as elites proprietárias fazem suas revoltas tentando resolver problemas meramente re-
gionais, não propunham independência, nem sequer sabiam direito o que queiram construir institucionalmen-
te, caso vencessem. Essas rebeliões começaram a ocorrer na metade do século XVII, prolongando-se até o
início do século XVIII.
As principais rebeliões nativistas foram a Aclamação de Amador Bueno (São Paulo, 1641); Revolta
de Beckman (Maranhão, 1884); Guerra dos Emboabas (Minas Gerais, 1707); Guerra dos Mascates (Pernam-
buco, 1710); e Revolta de Felipe dos Santos (Minas Gerais, 1720).

2 Os movimentos de Emancipação

Com o passar do tempo, forjou-se em nossas elites uma ideologia liberal, dando origem, a partir da
segunda metade do século XVIII, a movimentos que buscavam a emancipação política do Brasil. Dentre este,
podemos citar a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana e a Conjuração Pernambucana.
A Inconfidência Mineira (1789) carregava algumas curiosas contradições. Liderada pela elite econô-
mica de Vila Rica, um dos principais pólos mineradores do século XVIII, os inconfidentes, inspirados na in-
dependêncai das 13 colônias inglesas, se colocavam contra o absolutismo, porém não aceita a participação da

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grande maioria dos cidadãos no processo político; que libertar o país, mas não aceita o fim da escravidão. En-
fim, foi um movimento em que a participação popular foi mínima, apesar do mito criado em torno da figura
de Tiradentes.
Parte dessas incongruências deixa de ocorrer nas Conjurações Baiana (1798) e Pernambucana
(1817), em grande parte por causa do exemplo representado pela Revolução Francesa e pela grande participa-
ção popular.
Nos três movimentos deve-se, contudo, destacar a participação da maçonaria (organização secreta,
com grande participação de comerciantes e profissionais liberais, que dá grande importância ao preparo cul-
tural de seus participantes).

3 A vinda da família real portuguesa


Em 1806, Napoleão Bonaparte decide asfixiar a economia britânica, antes de tentar nova invasão mi-
litar. Por isso, decreta o Bloqueio Continental, utilizando os seus exércitos para forçar as demais nações eu-
ropéias a se absterem de realizar negócios com os ingleses. A Inglaterra reage, também utilizando armas eco-
nômicas: decreta um bloqueio marítimo, impedindo que a França receba matérias-primas vindas por mar, não
importa de quais países esses artigos venham.
Nessa briga do rochedo (França) com o mar (Inglaterra), sofrem as ostras. Nesse caso, Portugal, que,
devido às intensas relações comerciais com a Inglaterra se reluta em obedecer as ordens de Napoleão. Assim,
ao ver o país ser invadido pelas tropas francesas, D.João, príncipe regente de Portugal, procurou a saída que
lhe parecia menos desastrosa: aceitou a “proteção inglesa” para evacuar a corte portuguesa, transferindo-a pa-
ra o Brasil.
Quando chegou ao Brasil em 1808, o Príncipe Regente D. João, promoveu a “Abertura dos portos às
nações amigas”, eliminando, assim, o monopólio comercial português sobre a Colônia. Além disso, criou a
Imprensa Régia, o Banco do Brasil e a Casa da Moeda. Autoriza-se a criação de nossos primeiros cursos su-
periores, dá-se permissão para a construção de indústrias, revogando o Alvará de 1785 (Alvará de Liberdade
Industrial foi assinado, muito apropriadamente, num 1º de abril !). Em 1809, funda os correios no Brasil.
D. João, contudo, teve que ceder às pressões britânicas, assinando uma série de acordos, conhecidos
pelo nome genérico de Tratados de 1810. Neles, estipulava-se um imposto alfandegário de 15% sobre os pro-
dutos importados da Inglaterra. Os demais países, aliados de Portugal, pagavam impostos de 24%. O mais in-
crível é que os produtos vindos de Portugal pagavam taxa alfandegária de 16%. Assim, embora teoricamente
Portugal fosse “dono” do Brasil, os produtos ingleses pagavam menos impostos para entrar no Brasil. Os Tra-
tados de 1810 marcam o início do domínio britânico sobre a economia brasileira.
Após a derrota de Napoleão, os países absolutistas europeus decidiram tentar fazer com que a histó-
ria européia recuasse 25 anos. Para isso, convocou-se o Congresso de Viena (1815), e o rei de Portugal foi
convidade. D. João decide elevar o Brasil à categoria de Reino Unido. Assim, o Brasil também poderia man-
dar um delegado ao Congresso de Viena, representando os interesses da dinastia de Bragança. E D. João não
precisaria sair do Brasil.
Em 1816 morre, no Rio de Janeiro, D. Maria I, rainha de Portugal, carinhosamente conhecida como
“A Louca”. Seu filho agora é oficialmente rei de Portugal, com o título de D. João VI.
Por sugestão de sua esposa, Carlota Joaquina, D. João VI ordenou que forças brasileiras invadissem
o território da Banda Oriental do Uruguai, pertencente à Espanha. Em 1820, essa região foi anexada ao terri-
tório brasileiro, com o nome de Província Cisplatina.
O ano de 1820 trouxe, também, grandes transformações para o reino de Portugal. Comerciantes da
cidade do Porto, dizendo-se imbuídos de idéias liberais, desencadeiam uma revolução. A Revolução Liberal
do Porto era liberal em relação a Portugal, mas recolonizadora em relação ao Brasil.
Pressionado pelos portugueses, D. João VI anunciou sua partida e, através de um decreto, entregou a
seu filho D. Pedro a regência do Brasil. Sentindo que a independência era inevitável, teve o cuidado de reco-
mendar ao regente: “Pedro, se o Brasil se separar, seja antes para ti, que me hás de respeitar, do que para al-
gum desses aventureiros”.

VI A Independência

Tínhamos três grupos da elite disputando o poder nesse momento. Os aristocratas rurais queriam a
independência, mas temia que uma guerra de libertação acabasse por armar a população, o que provocaria
mudanças sociais desagradáveis. Por isso, nossos grandes fazendeiros preferiam manter o Brasil na situação

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de Reino Unido a Portugal: não havia soberania, mas poder-se-ia manter os portos abertos às nações amigas
(leia-se: Inglaterra) e teríamos algumas autonomia local.
O segundo grupo era dos profissionais liberais e comerciantes brasileiros. Estes lutavam pela inde-
pendência e sonhavam com a república. Por último, temos os comerciantes de origem portuguesa, que torciam
pela imediata recolonização do Brasil, interessados nas vantagens econômicas que lhes eram proporcionadas
pela existência do pacto-colonial.
O príncipe Regente D. Pedro tornou-se, contudo, o elemento perfeito para unir as três facções e pro-
clamar a independência. Poderia garantir a estabilidade política sem a necessidade de guerras de independên-
cia, que tanto assustavam a aristocracia fundiária. Embora sem a república, o regente realizaria o sonho de so-
berania política acalentado pelos nossos intelectuais e comerciantes. Por último, mantinha-se a esperança dos
comerciantes de origem portuguesa de que, quando D. João VI morresse, D. Pedro se tornaria rei de Portugal,
o que provavelmente faria com que o Brasil voltasse a ser colônia.
Enquanto os setores de elite, no Brasil, conciliavam os seus interesses, as cortes portuguesas tanta-
vam recolonizar o Brasil e limitar o poder do nosso príncipe regente. A estratégia inicial era fazer com que D.
Pedro retornasse a Portugal, sob a desculpa de que ele necessitava completar os seus estudos na Europa. Era 9
de janeiro de 1822, o Regente recebeu uma petição com 8 000 assinaturas, solicitando-lhe a permanência no
Brasil. D. Pedro decidiu ficar.
Como o Príncipe não voltava a Portugal, as cortes decidiram legislar sobre assuntos brasileiros, inter-
ferindo na administração do regente. A alternativa foi o Decreto do Cumpra-se, segundo o qual as leis das
cortes portuguesas só vigorariam, no Brasil após receber a aprovação de D. Pedro.
Não se podia mais estancar a vigorosa torrente que nos levava à independência. Finalmente D. Pedro
faz a proclamação, em 7 de setembro de 1822.
Nossa independência, no entanto, conheceu muitas limitações. Não foi uma independência econômi-
ca, pois saímos da influência portuguesa para orbitar em torno da economia inglesa. Nossa sociedade não se
transformou, pois o povo não foi chamado a participar dos acontecimentos de 7 de setembro. A mão-de-obra
continuou vinculada ao trabalho escravo; mantivemo-nos como uma nação agro-exportadora. Enfim, nem se-
quer trocamos de governante nesse processo; D. Pedro continuou no poder, agora com o título de Imperador.

Exercícios

20 (PUC) Na história brasileira, a independência, em 1822, não significou alteração qualitativa do sistema
social. Isso porque:
(a) apesar do rompimento com Portugal, não foi proibida a vinda de imigrantes;
(b) as relações comerciais com a Inglaterra permitiram a substituição de importações;
(c) a exploração dos escravos não foi reconhecida como crime contra as pessoas;
(d) o rompimento como a Metrópole permitiu a legislação favorável à distribuição de terras;
(e) a organização do trabalho persistiu baseada no braço escravo.

21 (Cesgranrio) A Revolução do Porto, em 1820, pode ser considerada decisiva para a independência do
Brasil porque:
(a) grantia a autonomia da Colônia implementada durante a permanência do governo português no
Brasil.
(b) fortalecia os grupos liberais radicais, cada vez mais ativos na Colônia e articulados com os grandes
proprietários.
(c) impunha à Colônia um programa de reformas liberais, com a proibição do tráfico negreiro.
(d) transferia à Colônia o caráter reformista do capitalismo industrial e do liberalismo.
(e) ameaçava os interesses dos grupos brasileiros, tentando reverter várias medidas tomadas por D. João
no Brasil.

22 (UEG 2002/2) A comparação do desenvolvimento econômico e social de distintos continentes resulta, na


maioria das vezes, na afirmação da supremacia dos valores ocidentais sobre as demais culturas. Nessa concep-
ção, reduz-se a história latino-americana a um experiência de desencontros e da malogro.
Com base na afirmação, julgue as assertivas a seguir:

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I. No século XIX, a nação brasileira se constituiu em modelo político para a América
Latina com o reconhecimento do direito à terra para índios e mestiços, que estiveram à
frente das tropas que lutaram contra as forças colonizadoras.
II. A sociedade colonial hispano-americana foi marcada pela miscigenação, apesar do
sentimento de superioridade do europeu nascido na Espanha em relação aos nativos e
aos “criollos”.
III. A formação do Estado nacional do Brasil, sob a forma monárquica e a manutenção do
vasto território, evidenciam um projeto de nação que conseguiu articular sua unidade
por meio de um Estado capaz de controlar as tensões oriundas de uma sociedade escra-
vista.
Marque a alternativa correta:
(a) Somente a assertiva I é verdadeira.
(b) Somente a assertiva II é verdadeira.
(c) As assertivas I e II são verdadeiras.
(d) As assertivas I e III são verdadeiras.
(e) As assertivas II e III são verdadeiras.

23 (Faap-SP) A Revolta de Beckman, a Guerra dos Mascates, a Guerra dos Emboabas e a Revolta de Felipe
dos Santos são movimentos denominados nativistas. Cite duas características básicas desses movimentos.

24 (UFMG) Analise as seguintes citações:


“(O juiz Vasconcelos Coutinho ...) acusou os prisioneiros por sua ‘abominável ingratidão’, tendo a
maior parte deles, principalmente os chefes, conseguido o benefício e a honra de empregos no Real serviço da
mesma senhora (a rainha)”.
(Kenneth Maxwell, A devassa da devassa. A inconfidência Mineira: Brasil e Portugal, 1750-1808, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978,
p.221)

“Uma das novidades inesperadas que aqui achei foi a do perigo em que estiveram os habitantes desta
cidade com uma associação de mulatos, que não podia deixar de ter perniciosas conseqüências, sem embargo
de ser projetado por pessoas insignificantes”.
(Luís H. Dias Tavares, História da sedição intentada na Bahia em 1978: A Conspiração dos Alfaiates, São Paulo: Pioneira, Brasília,
INL, 1975; p. 74)

Estas citações se referem á Inconfidência Mineira e à Inconfidência Baiana.


(a) Cite uma reivindicação de cada um dos dois movimentos.
(b) Caracterize os dois movimentos, tendo em vista a composição social dos seus integrantes.
(c) Descreva a ação das autoridades metropolitanas em relação aos dois movimentos.

25 (Fuvest)
“Atrás de portas fechadas
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.”
(Cecília Meireles, Romanceiro da inconfidência)

Explique:
(a) Por que a Inconfidência acima evocada não obteve êxito ?
(b) Por que, não obstante o seu fracasso, tornou-se o movimento emancipacionista mais conhecido da
história brasileira ?

26 (Fuvest) Nos movimentos denominados Inconfidência Mineira, de 1789, a Conjuração Baiana, de 1798,
e Revolução Pernambucana, de 1817, identifique:
(a) os setores sociais neles envolvidos;
(b) os objetivos que possuíam em comum.

27 (Fuvest)

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“As ruas estão, em geral, repletas de mercadorias inglesas. À porta da casa as palavras ‘superfino de
Londres’ saltam os olhos; algodão estampado, panos largos, louça de barro, mas, acima de tudo, ferragens de
Birmingham podem ser obtidas nas lojas do Brasil a um preço um pouco mais alto do que em nossa terra.”
Essa descrição das lojas do Rio de Janeiro foi feita por Mary Graham, uma inglesa que veio ao Brasil
em 1821.
(a) Como se explica a grande quantidade de produtos ingleses à venda no Brasil desde 1808, e
sobretudo depois de 1810 ?
(b) Quais os privilégios que os produtos ingleses tinham nas alfândegas brasileiras ?

VII. O Primeiro Império


1 O Rompimento com a Elite Agrária
Assim que assumiu o governo, D.Pedro I convocou um ministério formado por aristocratas rurais e
profissionais liberais. E a briga, dentro do ministério, começou imediatamente: os aristocratas rurais não
queriam alterações sociais, econômicas ou políticas, mantendo-se na posição de grupo social dominante; os
profissionais liberais eram assumidamente liberais e lutavam pela abolição da escravidão, pela proclamação
da república e por uma política econômica que favorecia a industrialização do país. Só numa coisa os aristo-
cratas e liberais concordavam: eles queriam impedir a concentração de poderes nas mãos do imperador.
O projeto constitucional, apresentado pelo deputado constituinte Antônio Carlos de Andrada, em se-
tembro de 1823, previa a inelegibilidade de estrangeiros, restringia os poderes do imperador e mantinha a es-
cravidão.
O voto seria censitário, ou seja, só votaria que possuísse riquezas. Para que a aristocracia rural deti-
vesse a maioria dos cargos políticos, seria interessante encontrar um critério para que o censo favorecesse os
fazendeiros. O critério foi encontrado: como os fazendeiros possuíam a quase totalidade dos escravos existen-
tes no Brasil, e como a alimentação dos escravos era baseada no consumo de mandioca, estabeleceu-se que
esse tubérculo definiria quem poderia votar. Isso fez com que nossa primeira constituição ganhasse o apelido
de “Constituição da Mandioca”.
Quando os deputados decidiram negar o poder de veto imperial sobre as leis criadas pela Assembléia
D. Pedro I decidiu dissolve-la. Tentando evitar sua dissolução, a Assembléia Constituinte manteve-se reuinida
na madrugada de 11 a 12 de novembro de 1823. Esse episódio, conhecido como Noite da Agonia, não conse-
guiu impedir o fechamento da Constituinte. Os deputados que reagiram foram presos.
Um conselho de Estado, sob a supervisão direta do imperador, finalizou a Constituição, que foi ou-
torgada em 1824. A 1ª Constituição Brasileira possibilitou uma rígida concentração de poderes nas mãos do
Imperador, através da criação do Poder Moderador. Estabeleceu, ainda o voto censitário e a religião católica
como religião oficial do Brasil.

2 A consolidação da independência

Logo após a independência, administradores portugueses que dirigiam algumas províncias nordesti-
nas e comerciantes lusos que se beneficiariam do retorno do pacto colonial uniram-se militarmente. D. Pedro
precisava enfrenta-los, mas, embora contasse com um grande número de voluntários, que se ofereceram como
soldados para as lutas, não haviam oficiais militares para dirigi-los. A alternativa foi a contratação de oficiais
mercenários estrangeiros.
Cochrane, Labatut, Greenfell e Taylor não possuíam muita simpatia pelos brasileiros, mas deram
uma fisionomia ao nosso exército que, por ter sido constituído por estrangeiros, tinha, nos seus primeiros
anos, uma postura apolítica e de total respeito às determinações imperiais.
Outro problema enfrentado pela nossa jovem nação foi o de receber reconhecimento internacional.
Precisávamos nos integrar aos fluxos econômicos internacionais e receber o amparo da legislação que ordena
as relações entre as nações.
Os EUA reconheceram imediatamente a nossa independência, devido a Doutrina Monroe. Contudo,
as jovens nações latino-americanas não viam o Brasil com igual simpatia: ao contrário do que ocorreu no res-

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to do continente, o Brasil mantinha o regime monárquico; além disso, temiam um eventual expansionismo
brasileiro. Só muitos anos depois, teriam o reconhecimento latino-americano.
A maior dificuldade foi buscar o reconhecimento das nações européias. A Europa tinha acabado de
sair do período das guerras napoleônicas que se encerrou com a surpreendente vitória do velho regime abso-
lutista. No Congresso de Viena (1815), que consolidou o momentâneo domínio dos governos autocráticos,
estipulou-se que uma nação européia só reconheceria a independência de uma ex-colônia se antes esse reco-
nhecimento tivesse sido feito pela ex-metrópole. Portanto, o Brasil só teria sua independência reconhecida
pelos países europeus após o reconhecimento por Portugal.
Para que Portugal aceitasse, tivemos o apoio inglês. Como Portugal devia muito dinheiro à Inglater-
ra, estava suscetível de sofrer pressões. D.João VI acabou reconhecendo a independência brasileira em troca
de uma indenização de 2 milhões de libras.
Por último, recebemos o reconhecimento inglês, em troca da renovação, por mais 14 anos, das esti-
pulações dos Tratados de 1810. Também foi exigido que o Brasil se comprometesse a acabar com o tráfico
negreiro até 1831.

3 O declínio do Primeiro Império

Para governar de maneira absolutista, D. Pedro I ficou perigosamente sem sustentação política, le-
vando a aristocracia rural e as camadas urbanas para a oposição. Restava ao Imperador o apoio dos comer-
ciantes de origem portuguesa. Os lusos ficaram ao lado de D. Pedro I, pois acreditavam que o conflito com as
elites brasileiras acabaria por levá-lo a destruir nossa soberania. A inabilidade política fez com que D. Pedro I
desse munição aos oposicionistas.
O primeiro erro ocorreu por ocasião da repressão à Confederação do Equador (1824). Tratava-se de
mais uma revolta regional. D.Pedro I, pois acreditavam que o conflito com as elites brasileiras acabaria por le-
vá-lo a destruir nossa soberania. A inabilidade política fez com que D. Pedro I desse munição aos oposicionis-
tas.
O primeiro erro ocorreu por ocasião da repressão à Confederação do Equador (1824). Tratava-se de
mais uma revolta regional. D. Pedro reprimiu-a com muita violência, que era necessário, se levarmos em con-
ta que o Brasil estava nascendo e havia o perigo da fragmentação territorial. Imperdoável foi a execução de
Frei Caneca, figura extremamente popular em todo o Nordeste.
Outro erro foi o de atolar o Brasil na Guerra da Cisplatina (1825-1828). Um líder uruguaio, chamado
Lavalleja, decidiu lutar pela separação da Província Cisplatina (naquele momento, pertencente ao Brasil) para
uni-la à Argentina. O Brasil entra em guerra contra a Argentina para impedir a perda desse território. A Ingla-
terra foi chamada para servir de mediadora. O interesse inglês era o de impedir que algum país sul-americano,
Brasil ou Argentina, dominasse o estuário da bacia do Prata. Assim, propuseram a independência da Província
Cisplatina que, a partir de então, seria chamada de Uruguai.
A oposição ao governo crescia e ganhava a contribuição jornalística de Líbero Badaró. Esse jornalis-
ta acaba assassinado e desconfianças recaíam sobre D.Pedro I.

4 Abdicação

Os erros imperiais sucedem-se D.Pedro I viaja para Minas Gerais, tentando conciliar-se, com a opo-
sição que, naquela província, era muito forte: foi mal recebido.
Para compensar o insucesso da visita imperial, em Minas, comerciantes portugueses, no Rio de Já-
neiro, resolveram organizar uma bela recepção, na volta de D. Pedro I. Os brasileiros irritados com as honra-
rias dispensadas ao soberano, saíram para as ruas e entram em choque com os portugueses. Esse episódio fi-
cou conhecido como a Noite das Garrafadas (12 de março de 1831).
Era tarde para tentar uma reconciliação. De qualquer forma, D. Pedro I tentou, montando um minis-
tério mais liberal, chamado de “ministério dos brasileiros”. Uma semana após ter sido nomeado, esse ministé-
rio foi dissolvido por ter se recusado a reprimir novas manifestações contra o imperador.
D. Pedro I decide montar um novo ministério formado apenas por portugueses de nascimento. Foi a
gota d’água: o exército (que a Guerra da Cisplatina transformou numa instituição politizada e dirigida por ofi-
ciais brasileiros) decidiu derrubar o imperador. Para evitar a proclamação da república, D. Pedro I decide ab-
dicar em favor de seu filho, Pedro de Alcântara, e retira-se do Brasil, em 7 de abril de 1831. Terminaa o Pri-
meiro Império.

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Exercícios
28 (UFRS) O anteprojeto que deveria servir de base para a primeira Constituição do Brasil, em discussão na
Assembléia Constituinte em setembro de 1823, tinha como uma de suas características:
(a) o espírito liberal de seus artigos, permitindo às camadas populares o direito de elegerem os seus
representantes.
(b) a tentativa de limitar a influência da aristocracia rural nas decisões políticas.
(c) a possibilidade de os portugueses, desde que dispusessem de uma determinada renda, exercerem
cargos públicos.
(d) a limitação ao máximo do poder de D. Pedro I, com a valorização do poder da representação na-
cional.
(e) a completa eliminação de fatores econômicos na organização do eleitorado brasileiro.

29 (UFG2001) O processo de formação do Estado brasileiro encontra várias possibilidades de leitura, dada
a diversidade de projetos políticos existentes no Brasil, nas primeiras décadas do século XIX. Entre as conjun-
turas da independência (1822) e da abdicação (1831), o país conviveu com projetos diferentes de gestão polí-
tica.
Sobre as conjunturas mencionadas anteriormente e seus desdobramentos, julgue os itens.

01. ( ) Ao proclamar a independência, o príncipe D. Pedro rompeu com a comunidade portuguesa, que
insistia em ocupar cargos públicos. A direção política do País foi entregue aos homens aqui nascidos,
condição essencial para ser considerado cidadão no novo Império.
02. ( ) O acordo em torno do príncipe D. Pedro foi uma decorrência do receio que a independência se trans-
figura em aberta luta política entre os diversos segmentos da sociedade brasileira. A monarquia era a
garantia da ordem escravista.
03. ( ) Em 1831, as elites políticas brasileiras entraram em desacordo com o Imperador, que insistia em des-
considerar o legislativo, preocupando-se, exclusivamente, em defender os interesses dinásticos de
sua filha em Portugal, o que irritava as elites políticas locais.
04. ( ) Com a abdicação, iniciou-se um período marcado pelo crescimento econômico decorrente da produ-
ção de café, o que possibilitou a execução de uma reforma política, o Ato Adicional (1834), que deu
estabilidade ao Império.

30 (UFU) em 3/5/1823 instalou-se no Brasil a Assembléia Constituinte, que contava com uma maioria liga-
da aos interesses da aristocracia rural.
Essa Assembléia designou uma comissão de seis deputados para redigir o anteprojeto constitucional,
que ficou conhecido como “Constituição da Mandioca”.

- FIM -

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