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Será a ética de Stuart Mill a mais viável?

Este ensaio discute o problema de perceber se a ética defendida por John Stuart Mill, o
utilitarismo, é correta. Sendo “Será a ética de Stuart Mill a mais viável?” uma questão crucial
para este ensaio, explorarei a mesma.
O utilitarismo é um tipo de ética conseconsequencialista. Este argumenta que a ação
moralmente certa é aquela que potencializa a felicidade para a maioria (e deve fazê-lo de uma
forma imparcial). Pela primeira vez, filósofos defendiam que a moralidade não dependia de
Deus nem de regras morais. A felicidade corrente é tudo o que importa.
Para Stuart Mill, a felicidade consiste no prazer e na ausência de dor. O prazer pode ter maior
ou menos intensidade e pode ser mais ou menos duradouro. Os prazeres dividem-se em
inferiores (ligados às necessidades físicas) e superiores (apreciar o amor à beleza, a liberdade, a
criação artística, etc). Então, segundo o utilitarismo, qualquer prazer superior terá mais valor e
fará as pessoas mais felizes do que a maior quantidade imaginável de prazeres inferiores. Mill
acredita que os prazeres inferiores produzem o máximo de satisfação, mas não de felicidade.
Se pensarmos assim, quando Stuart Mill considera que o Homem não pode ser feliz sem ter a
experiência do prazer intelectual, ele parece distanciar-se da concepção hedonista do prazer e
substitui-la por uma concepção eudemonista.
Mill oferece os seguintes argumentos em defesa do utilitarismo:
1. Ver uma coisa prova que ela é visível.
2. Logo, desejar uma coisa prova que ela é desejável.
A seguir a esta conclusão, afirma-se que:
3. A única coisa que cada pessoa deseja como fim último é a sua própria felicidade.
4. Logo, a única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a sua própria
felicidade.
Desta conclusão resulta uma outra:
5. Logo, cada pessoa deve realizar as ações que promovem a maior felicidade.
O que podemos retirar deste argumento? Primeiramente, 1 não é uma razão para aceitar 2, já
que se podemos ver uma coisa, quer dizer que essa coisa é visível, porém, se podemos desejar
algo, não significa que esse algo deva ser desejado.
A permissão 3 trata-se de uma permissão bastante duvidosa, visto que desejar a felicidade como
fim último significa que tudo o que as pessoas desejam é um meio para garantir esse fim. De
facto, se desejares como fim último a tua própria felicidade, a coisa que mais desejas não é que
os teus desejos sejam satisfeitos. 3 também exprime um egoísmo psicológico, visto que o ser
humano apenas pode desejar a sua própria felicidade e não a felicidade geral (o que contradiz a
premissa 5). Logo, se não se pode ter como fim a felicidade geral, é absurdo dizer que o fim
último é maximizar a felicidade geral.
Para exemplificar (e analisar melhor o assunto) temos o exemplo da objecção da integridade:
George fez doutoramento em química, contudo é desempregado devido à sua frágil saúde. Tem
dois filhos e é o trabalho da sua esposa que assegura a sobrevivência da família. Os filhos
ressentem-se de tudo o que vivem e cuidar deles tornou-se um problema. Um dia, um químico
mais velho oferecer-lhe um emprego num laboratório que faz investigação em guerra química e
biológica. George é contra esse tipo de guerra. De qualquer modo, quer aceite quer não, a
investigação continuará, isto é, George não é realmente necessário.
Segundo a teoria de Mill, George devia aceitar o emprego. Neste caso, não se trata de dizer que
não há nada de errado, mas sim de afirmar que a opção correta é que George aceite o emprego e
contribua para ferir, incapacitar ou até mesmo matar pessoas. Por outro lado, temos a família de
George a passar por inúmeras dificuldades.
Eu, não aceitaria o emprego. Se pensar que, não só a minha família mas também outras
passariam dificuldades e tudo isso com a minha contribuição, seria difícil de carregar esse peso.
Concluo que, na minha opinião, a ética de Mill não é a mais viável pois acarreta em si muitos
problemas. A objecção que apresentei acima, assim como outras, obrigaram o utilitarismo a
modificações significativas. Depois de século e meio de debate, o utilitarismo é hoje uma teoria
mais sofisticada. Apesar das objecções que apresentei, a teoria tem também as suas vantagens
como a sua importância nas disputas morais.

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