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Os 4 Princípios do Método

Brincadeira de Angola
Princípio da Naturalidade
Os dois tipos de educação
O uso da Capoeira para estimular as crianças a manter, bancária
aprimorar e, em muitos casos, recuperar movimentos
pró prios do corpo humano é ponto essencial do trabalho
Em Educaçã o muito se fala no ensino bancá rio, conceito
de corpo e movimento no Mé todo Brincadeira de Angola.
utilizado por Paulo Freire para de inir a simples
O Princıp
́ io da Naturalidade é baseado no uso intencional transferê ncia de informaçõ es por parte do professor,
de movimentos especı́ icos que favoreçam essas sem que haja conhecimento signi icativo por parte do

?
habilidades. aluno. Poré m, outra “educaçã o bancá ria” tã o perniciosa
quanto a primeira e muitıśsimo menos debatida é aquela
que acorrenta os alunos ao “banco” escolar por horas e
Apó s o parto, para atingir a postura ereta, passamos por
horas a io, diariamente, durante anos.
diversos está gios, nos arrastando pelo chã o,
Ensinamos o
experimentando rolamentos e explorando o mundo com o
sedentarismo?
corpo. Com o passar dos anos, a criança tende a imitar os
padrõ es corporais adultos, passando a abandonar
gradativamente algumas habilidades motoras. O sofá , as
cadeiras, as carteiras escolares, a televisã o, os jogos
eletrô nicos, as restriçõ es sociais ao movimento (“Pare de
rastejar, vai sujar sua roupa!”) e até o excesso de deveres
escolares a levam a permanecer por longos perıo
́ dos do dia
em posiçõ es está ticas. O resultado disso sã o adultos
A Capoeira aparece nesse cenário como uma
sedentá rios, com inú meros encurtamentos musculares
alternativa para a prevenção de doenças e para a
resultantes de longos anos de inatividade. Na escolas para
manutenção do bom funcionamento corporal,
crianças de 1 a 6 anos, a cada movimento mais ousado de
possibilitando às crianças um reencontro com
um aluno, nã o raro se ouvem os avisos de “Você vai cair! Vai
quebrar a perna! Pare de correr!”. Nas escolas de Ensino posições corporais recém-utilizadas no seu

Fundamental, onde gradativamente a arte e a desenvolvimento: contrair-expandir, rastejar,

movimentaçã o fıśica vã o perdendo espaço para a leitura, engatinhar, andar em 4 apoios, acocorar e opor

para a escrita e para as atividades preparató rias dos braços e pernas a partir do desequilíbrio,

futuros exames de rendimento, o problema é ainda maior. A preparando o corpo de modo orgânico para novas

escola termina por ser, muitas vezes, um local de incentivo experiências corporais.

ao sedentarismo.
As 5 fases do Princípio da Naturalidade: Tabela Naturalidade x Técnica
a) Naturalidade: aquilo que o corpo humano foi moldado para fazer,
sem a necessidade de treinamento especı́ ico. Ex: contrair e expandir,
1a fase: anfıb
́ io (CONTRAÇAO E EXPANSAO)
rastejar, acocorar e engatinhar.
2a fase: ré ptil (ARRASTAR)
b) Té cnica: aquilo que o corpo humano é capaz de fazer, mediado por
3a fase: quadrú pede (ENGATINHAR COM E SEM OS JOELHOS) um processo de ensino-aprendizagem especı́ ico. Ex: gingar com
4a fase: Sım
́ io (ACOCORAR) oposiçã o entre pernas e braços, inverter o corpo sobre a cabeça, dar

5a fase: Homo (OPOSIÇAO/DESEQUILIBRIO) um salto mortal.

A tabela sugere quanto de té cnica utilizar em cada idade.

Técnica Naturalidade

1 ANO

1a fase 2a fase 3a fase 4a fase 5a fase


3 ANOS

Execução das atividades: história corporal 5 ANOS

Os movimentos da Capoeira fascinam as crianças por sua semelhança com o


mundo animal. Nomes como “coice do cavalo”, “rabo de arraia” e “caranguejo” 7 ANOS

tê m apelo forte para a imaginaçã o infantil.

O professor tem a possibilidade de trabalhar a naturalidade do movimento 12 ANOS

infantil utilizando uma gama de animais, que vai de caracó is a gaviõ es, de
gorilas a sapos, de ursos a leõ es, proporcionando um ambiente de descoberta 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

corporal para as crianças.

Um jogo simbó lico de fá cil execuçã o é a “histó ria musicada”: o professor inicia Desenvolvimento Motor
cantando uma histó ria e pedindo à s crianças que interpretem corporalmente o A aquisiçã o de habilidades fıśicas especı́ icas da Capoeira acompanha
que está sendo dito. Por exemplo, cantam-se mú sicas do cancioneiro clá ssico: o desenvolvimento motor infantil. E importante que o professor saiba
“Jacaré tá na lagoa, com preguiça de acordar”, “Atirei o pau no gato”, “Jaula do o que deve esperar de uma criança de determinada faixa etá ria, para
leã o”, “Sapo nã o lava o pé ”, e as crianças imitam os bichos. que nã o queime etapas no processo. O vıd
́ eo exempli ica uma
evoluçã o geral por idades, dando uma referê ncia, mas cada criança irá
evoluir em seu pró prio tempo, por isso é necessá rio um olhar atento
https://youtu.be/sKOwyxHAib4 sobre as especi icidades de cada um, evitando generalizaçõ es.
Tabela das diferenças do mesmo movimento entre as idades
https://www.youtube.com/watch?v=EkIW3hy1xBc
O que esperar, em mé dia, que um grupo de determinada idade consiga realizar:

1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos

Ginga ser capaz de movimentar- ser capaz de colocar o pé ser capaz de alternar os ser capaz de gingar botando ser capaz de gingar opondo
se equilibradamente dominante para frente e dois pés para frente e para os pés somente para trás mãos e pés
para trás trás

Rabo-de-arraia ser capaz de equilibrar-se ser capaz de levantar um ser capaz de levantar o pé ser capaz de passar o pé ser capaz de passar o pé
com as mãos no chão pé do chão, ficando em três e inverter para o com rotação interna do com rotação externa do
apoios caranguejo quadril quadril

Aú ser capaz de equilibrar-se ser capaz de tirar ser capaz de girar para o ser capaz de girar para os ser capaz de fazer uma
com as mãos no chão simultaneamente os dois lado dominante dois lados "estrela" esticada para o
pés do solo lado dominante

Bananeira ser capaz de tentar escalar ser capaz de equilibrar-se ser capaz de equilibrar-se ser capaz de equilibrar-se ser capaz de lançar o
a parede com os pés com as mãos no chão e os na parede e cair na parede somente com corpo de forma
dois pés na parede equilibradamente com os um pé no alto e o outro autônoma, dominando o
dois pés no solo no ar lançamento e a queda da
parada de mãos na parede

NATURALIDADE
Movimentar o corpo com 6 tipos de padrã o, relacionado à s 6 FASES
O que é?
ANTERIORES à condiçã o bıp
́ ede: contrair-expandir, arrastar, engatinhar, 4
apoios, có coras, oposiçã o a partir do desequilıb
́ rio (corridas com mudança
de direçã o, dança, ginga).

Como trabalhar? Imitando ANIMAIS. Crianças amam animais, lembre-se disto!

Por quê? O objetivo é a MANUTENÇAO do movimento inato.


Princípio da Criatividade As 3 formas podem ser mescladas em uma mesma aula, mas temos sempre
com a CRIAÇAO um cuidado especial.
Na é poca em que nã o havia academias de Capoeira cada jogador desenvolvia
seu pró prio estilo dentro das suas capacidades fıśicas. A Capoeira era jogada
por poucos e os mais talentosos ganhavam fama como artistas do improviso
corporal.
? Como funciona na prá tica?

Partindo do paradigma de descoberta criativa, no ensino de movimentos é


priorizado o falar o que fazer, em vez de mostrar como fazer. Em lugar de
Com a difusã o dos mé todos de ensino e a consequente popularizaçã o da
ensinar sequê ncias e movimentos ixos, o professor de Capoeira se até m a
Capoeira, as escolas gradualmente moldaram “estilos de grupo” no lugar do
fornecer modelos e regras gerais a partir dos quais cada criança pode
estilo individual, a ponto de atualmente ser comum sabermos de qual escola
desenvolver, de forma autô noma, sua pró pria Capoeira. Mensagens amplas
um capoeirista faz parte a partir de sua movimentaçã o corporal. Ganhou-se
como “passar o pé ”, “passar por baixo” e “rodar” sã o interpretadas de maneira
em difusã o e organizaçã o, perdeu-se em criatividade e espontaneidade.
muito pessoal, auxiliando no desenvolvimento de um repertó rio corporal

? Qual tipo de educaçã o estamos buscando?

Nossos pressupostos metodoló gicos vã o in luenciar diretamente nossa prá tica
de ensino e a expressã o corporal de nossos alunos, pois eles se relacionam
individual. Dessa forma, a cada aula um golpe pode ser “inventado” ou
“descoberto” por uma criança. Seguindo esse pensamento, o professor pode
facilitar a aprendizagem incentivando cada uma a expressar sua pró pria
versã o da Capoeira, facilitando o surgimento de sua dança individual,
autô noma.
com o mundo primordialmente atravé s do corpo.
Se a autonomia é um dos objetivos principais de um trabalho educativo, por
Vamos buscar movimentaçõ es estereotipadas, baseadas em padrõ es externos,
que nã o incentivá -la atravé s da livre expressã o artıśtica, tendo o corpo e a
ou vamos buscar a descoberta e o desenvolvimento da criatividade?
mú sica como veıćulos?

Cada pessoa tem o potencial de ter um estilo de Capoeira pró prio, desde que
O Mé todo BRINCADEIRA DE ANGOLA utiliza basicamente 3 FORMAS DE
nã o seja formatada por um sistema de treinamento puramente mecâ nico.
APRENDIZAGEM:
Mestre Pastinha dizia: “A Capoeira Angola só pode ser ensinada sem forçar a
IMITAÇAO – SEGUIR UM MODELO naturalidade da pessoa. O negó cio é aproveitar os gestos livres e pró prios de
A imitaçã o é utilizada quando desejamos que as crianças nos seguiam e cada um”. A Capoeira Regional original, por sua vez, era em termos de
apreendam nossos padrõ es. E excelente para a transferê ncia de conteú dos e movimento quase idê ntica à Angola, com cada praticante se movimentando
té cnicas, seja corporais ou musicais. de um jeito particular.

INTERPRETAÇAO – OBSERVAR UM MODELO

A interpretaçã o é utilizada, por exemplo, na oitiva, quando a criança ica “Quais são os dois tipos de Capoeira?”
observando e depois tenta fazer igual, mas acaba fazendo parecido. O objetivo
é ver como a criança interpreta o que acabou de ver. “A minha e a sua”.
CRIAÇAO – INVENTAR UM MODELO

A criaçã o entra no campo da dramatizaçã o, do improviso, do mundo onde nã o


existe erro ou acerto. Nó s a utilizamos para estimular a criatividade e a
autonomia.
Execução das atividades: jogos dramáticos
CRIATIVIDADE
O jogo da Capoeira pode servir como mola mestra para um jogo dramá tico
representativo do mundo da criança. Para isso, os professores devem utilizar E a CRIAÇAO DE CONDIÇOES para o exercıćio da
O que é?
elementos que trabalhem a espontaneidade, a improvisaçã o, o fazer coletivo e o imaginaçã o.
prazer imediato,criando o sentido de aqui-e-agora que realmente interessa aos
jogadores numa roda de Capoeira e à s crianças em sua vida cotidiana.
Por meio de jogos dramá ticos ou situaçõ es-problema
Como trabalhar?
Apresentamos agora dois jogos que facilitam a compreensã o desses conceitos: estimula-se a criança a buscar soluçõ es,
CONSTRUINDO SEU PROPRIO CONHECIMENTO a
partir da mediaçã o. Criaçã o vem de restriçã o, de
A) Jogo dramático
instabilidade, de sair da zona de conforto.

https://www.youtube.com/watch?v=Fjd-ipYhRMY Dê somente instruçõ es ORAIS, falando O QUE fazer,


mas nã o COMO fazer e aceite todas as movimentaçõ es
B) Criação guiada: falar o que fazer, mas não mostrar como fazer. ou expressõ es como corretas.

Lembre-se de inserir a Capoeira em sua proposta! Por


https://www.youtube.com/watch?v=el1jXloOtZ8
exemplo, se a criança resolveu ser uma bacté ria, diga-
lhe: “agora a bacté ria vai mostrar como se joga
Capoeira. Bota a mã o no chã o, bacté ria!”. A forma como
ela vai botar a mã o no chã o ou jogar Capoeira ica a
cargo da criaçã o individual.

Por quê? O objetivo é o desenvolvimento da AUTONOMIA, da


capacidade de fazer sozinho, de criar, de sugerir, de
inovar, de deixar uma assinatura no mundo.

Trabalhando Criatividade
Princípio da Cooperatividade

A cooperaçã o foi o que permitiu ao Homo Sapiens construir redes de Treinar por prazer
proteçã o social para atuar no mundo como um coletivo, seja caçando, seja
Quando o assunto é treinar por prazer, podemos aprender mais com
plantando, seja cuidando da prole. A Teoria da Evoluçã o darwinista prega
uma criança de 3 anos do que com um mestre de Capoeira. As
a sobrevivê ncia dos mais aptos, e os mais aptos, em nossa espé cie, sã o
crianças só brincam por prazer. Quando o “treino”, a brincadeira,
aqueles que cooperam melhor, garantindo sua reproduçã o e a
começa a icar maçante, elas imediatamente param e começam com
transmissã o dos seus genes. O ú ltimo macho alfa que inventou de
as frases temidas por todo professor: “Já está acabando?”, “Tô
enfrentar sozinho um tigre-dentes-de-sabre nã o deixou herdeiros.
cansado”, “Nã o quero mais brincar”. Imagine se nos treinos de
O mundo competitivo adultos fosse igual e a cada treino maçante todos parassem e
reivindicassem seu direito ao prazer! Estarıámos mais em
Já no mundo moderno, a competiçã o desenfreada leva à uma ideia de que
consonâ ncia com os princıp
́ ios da vadiagem!
somente os mais fortes vencerã o, e por isso o treinamento para a
competiçã o torna-se parte estruturante das funçõ es assumidas pelas
instituiçõ es educativas.
Você nã o tem que treinar para ser melhor do que ningué m, você nã o
E a Capoeira com isso? tem que treinar para ser melhor do que você mesmo. Treine por

A Capoeira se baseia em outro paradigma, irmando a ideia de que o jogo, prazer, treine para descobrir novas possibilidades, treine porque

o prazer e a aprendizagem devem nascer em um ambiente de harmonia e gosta da sensaçã o. Aproveite cada minuto de um treino prazeroso e

cooperaçã o. certi ique-se de que saiu mais feliz do que quando entrou.

Tomemos como cená rio a cidade de Salvador na dé cada de 1940.


Estivadores, carregadores e demais trabalhadores braçais, que
Execução das atividades: roda cooperativa
trabalhavam cooperativamente para cumprir suas funçõ es, fazem pausas
no trabalho e se põ em a brincar de Capoeira. Esses homens buscavam
Na roda de Capoeira os jogadores, os mú sicos, os componentes da roda
relaxamento, diversã o, prazer. Hoje nã o é incomum vermos professores
e o pú blico sã o todos atores sociais ativos.
de Capoeira estimulando a competitividade entre seus alunos com a
justi icativa de que a “competiçã o traz resultados”. E a mesma ideia de ter As crianças, nas aulas, se alternam em todos esses papé is,
que treinar “para chegar ao nıv́el de fulano” ou da versã o light “você nã o interpretando em grupo um pequeno teatro social. Podemos estimular
tem que competir com ningué m, somente com você mesmo!”. Mas por uma “roda cooperativa”, onde cada um se responsabilize pelo todo:
que deverıámos almejar estes resultados? Por que deverıámos ter que
competir com nó s mesmos? “Para icarmos melhores!” Mas icar melhor
signi ica o quê ? Qual a de iniçã o de “melhor”? Qual o limite desse
https://www.youtube.com/watch?v=nkOUvs9EdXE
pensamento? A ideia da Capoeira é o lazer, o prazer pelo prazer de fazer.
O treinar pelo prazer de treinar.
Execução das atividades: nã o conseguiram sentar, seja liberando um lado da cadeira, seja

dança das cadeiras inclusiva e cooperativa convidando-os para icar no colo dos que conseguiram.
A cada rodada, uma cadeira é retirada, até que sobre somente uma,
onde todos devem sentar juntos, organizando-se para nã o caıŕem.

Tomemos como exemplo o jogo da “dança das cadeiras”: o


objetivo é sentar-se na pausa de uma mú sica, retirando as
cadeiras e diminuindo o nú mero de jogadores sucessivamente.
Esse jogo, aparentemente inocente e muitıśsimo difundido,
esconde em sua essê ncia agudos questionamentos. Senã o,
vejamos: como se sente a criança que perde primeiro e tem que
esperar sentada o resto do jogo? E se essa criança for desatenta
e for sempre uma das primeiras a perder? E se tiver TDAH ou
surdez parcial? A necessidade de perder e se frustrar é Dança das cadeiras
essencial para a criança, mas o que acontece com aquela que
nunca sabe o que é ganhar? a) Inclusão:

O objetivo da aula é apresentar à s crianças uma nova forma de https://youtu.be/1s89LjWh7AA

jogar um jogo já conhecido por elas, baseada no paradigma da


cooperaçã o. Ao iniciar uma atividade com conhecimentos b) Cooperação:
pré vios dos alunos, modi icados por uma nova ó tica, facilitamos
a aquisiçã o de conhecimentos signi icativos e promovemos a https://www.youtube.com/watch?v=8galqSZ_KXQ
re lexã o sobre o modo de vida moderno, baseado na
competiçã o desenfreada.

COOPERATIVIDADE
Os jogos que propomos consistem em fazer exatamente a
mesma coisa que na dança das cadeiras tradicional, entretanto Um paradigma que prega que todos tê m que ganhar
O que é?
seguimos dois paradigmas diferentes: no primeiro jogo, o para ser BOM PARA TODOS.
objetivo é a inclusã o de todos, para a sensaçã o do
empoderamento. No segundo, é pedido aos alunos que rodem
em volta das cadeiras utilizando movimentos da Capoeira e que, Como trabalhar? Fazer jogos que tenham OBJETIVOS COMUNS a todos
ao se retirar uma cadeira, todos, sem exceçã o, tenham que os jogadores.
conseguir sentar nas restantes. Nada mais deve ser dito, para
que os pró prios jogadores descubram como realizar tal tarefa,
O objetivo é a formaçã o de indivıd
́ uos que colaborem
que consiste em ceder um espaço para os companheiros que Por quê?
entre si, que enxerguem objetivos comuns e façam
planos conjuntos para o BENEFICIO GERAL.
Princípio da Historicidade A Histó ria brasileira é geralmente contada a partir do ponto de vista
do colonizador europeu, introjetando noçõ es no senso comum e
naturalizando conceitos como “descobrimento do Brasil” ou
Lei 10639
LEI N° 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008 “democracia racial” no discurso do cidadã o escolarizado. Como
acreditamos na Capoeira como ferramenta social de transformaçã o,
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada
precisamos de professores que pensem criticamente o mundo e que
pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as
tenham conhecimento de quanto o conhecimento histó rico in luencia
diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo
nas relaçõ es de desigualdade na sociedade atual.
oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História
e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. A lei 11.645 foi um avanço neste sentido e o capoeirista deve estar
apto para colocá -la em prá tica, criando referê ncias positivas para
O PRESIDENTE DA REPUBLICA Faço saber que o Congresso Nacional personagens relegados pela mıd
́ ia, de forma a facilitar uma

decreta e eu sanciono a seguinte Lei: identi icaçã o com nossa cultura.

Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, As mú sicas da Capoeira sã o uma verdadeira biblioteca oral,
perpetuando saberes, mitos, ritos e valores histó ricos caros à cultura
passa a vigorar com a seguinte redaçã o:
popular, podendo levar o educando a perceber que ele pró prio é um
“Art. 26-A. Nos estabelecimientos de ensino fundamental e de ensino novo elo numa corrente histó rica que envolve personagens como
mé dio, publicos e privados, torna-se obrigató rio o estudo da histó ria Zumbi dos Palmares e Besouro Cordã o de Ouro.
e cultura afro-brasilera e indıǵena.
A possibilidade de vivenciar dramaticamente os personagens que se
§ 1o O conteú do programá tico a que se refere este artigo incluirá interpretam pode auxiliar na aprendizagem e na capacidade de
diversos aspectos da histó ria e da cultura que caracterizam a re lexã o, criando as condiçõ es para a apariçã o do pensamento crıt́ico.
formaçã o da populaçã o brasileira, a partir desses dois grupos A forma como a Capoeira conta essas histó rias é sempre em
é tnicos, tais como o estudo da histó ria da Africa e dos africanos, a narraçõ es mıt́icas, geralmente musicais, que ao serem dramatizadas,
luta dos negros e dos povos indıǵenas no Brasil, a cultura negra e permitem ao educando vivenciar no seu pró prio corpo a sensaçã o de

indıǵena brasileira e o negro e o ın


́ dio na formaçã o da sociedade “ser” um quilombola, um mestre do passado ou outro personagem
histó rico.
nacional, resgatando as suas contribuiçõ es nas á reas social,
econô mica e polıt́ica, pertinentes à histó ria do Brasil. Num paıś desigual como o nosso, onde a populaçã o negra sofre
contın
́ ua exploraçã o e onde polıt́icas de açã o a irmativa ou
§ 2o Os conteú dos referentes à histó ria e cultura afro-brasileira e
compensaçã o social, como as cotas raciais, sã o sempre atacadas por
dos povos indıǵenas brasileiros serã o ministrados no â mbito de todo
quem deté m privilé gios, é essencial a construçã o de uma valorizaçã o
o currıćulo escolar, em especial nas á reas de educaçã o artıśtica e de
dos personagens negros dentro das aulas de Capoeira. Alé m desses
literatura e histó ria brasileiras.” (NR)
personagens, toda a Histó ria do Brasil pode ser pensada criticamente
Execuçã o das atividades:
dentro das aulas, trazendo personagens como Lampiã o, a caçador africano
histó ria das maltas, da Revolta da Chibata ou da Guerra do
Paraguai, alé m das pró prias narrativas de vida dos mestres de
Capoeira do passado, como Bimba ou Pastinha, até os atuais, seja Partindo dos conhecimentos pré vios das crianças e de seu
antigos ou mais novos. O importante é manter a vinculaçã o interesse por animais e lorestas, fazemos o jogo do “caçador
histó rica, fazendo com que a criança sinta que é um elo entre o africano”, que consegue pegar os bichos até de olhos fechados,
passado e o futuro. como na conhecida brincadeira de “cabra-cega”: o pegador ica
de olhos vendados enquanto todos cantam uma mú sica
O Mé todo BRINCADEIRA DE ANGOLA propõ e uma estrutura de
relacionada a Angola, terra do caçador. Quando a mú sica para,
aula baseada nas mú sicas de Capoeira para a formaçã o desse elo:
todos se transformam em animais e o pegador deve encontrá -
uma cançã o ou um ritmo sã o utilizados como mola mestra para o
los somente pelos sons emitidos.
desenvolvimento do tema histó rico. Depois de escolhidos a
cançã o ou o ritmo, de inimos um movimento corporal a ser
trabalhado e montamos um jogo lú dico para uni icar
Tabela da estrutura de aula:
tema+mú sica+movimento. Por exemplo, apó s contextualizar a Personagem+música+movimento+brincadeira
importâ ncia de Zumbi e a histó ria dos quilombos, o professor
propõ e uma atividade corporal e canta uma mú sica enfatizando o
MÚSICA MOVIMENTO
papel de Zumbi. O jogo consiste num pega-pega: numa á rea PERSONAGEM OU RELACIONADA AO RELACIONADO AO BRINCADEIRA
FATO HISTÓRICO PERSONAGEM OU PERSONAGEM OU RELACIONADA
determinada para ser o quilombo, uma criança é escolhida para
FATO FATO
ser Zumbi dos Palmares, tendo que salvar os companheiros
CAÇADOR
quilombolas que serã o perseguidos pelos invasores. O invasor ANGOLA-E-E ANIMAIS CABRA-CEGA
ANGOLANO
deve encostar em qualquer criança para que ela ique congelada
com as pernas abertas. Para salvá -la, Zumbi tem que passar por
baixo de suas pernas. Zumbi nã o pode ser pego, pois é um
Vídeo da atividade:
guerreiro “má gico”. A estrutura metodoló gica foi:

https://www.youtube.com/watch?v=H1lz9Z7o9Ek

tema: Zumbi
mú sica: uma mú sica que fale de Zumbi
movimento: passar por baixo
jogo: pega-pega
MATERIAL DE APOIO
Ensinar somente UM conceito ou personagem histó rico a
Como trabalhar?
Filmes como Kirikou e Maré Capoeira, e histó rias de heró is negros como cada aula e construir lentamente os novos conceitos,
Besouro Preto, Zumbi ou Mestre Bimba fazem uma representaçã o imagé tica baseando-sesempre nos já ensinados. Ex: falar do seu
positiva da Africa e da cultura negra. Mestre em uma aula e fazer um jogo baseado nele. Na aula
seguinte, falar do Mestre do seu Mestre. Na seguinte, do
Mestre do Mestre do Mestre até chegar aos antigos (Bimba,
http://educacaopublica.cederj.edu.br/revista/artigos/ideologia-racial
-brasileira-o-racismo-subjacente-nas-historias-em-quadrinhos Pastinha etc.) e à Africa.

O objetivo é a criaçã o da consciê ncia de que a criança


Por quê?
capoeirista é um ELO HISTORICO entre o passado e o futuro
e que a Capoeira nã o é só uma atividade fıśica, mas també m
um arte cultural, com uma histó ria pró pria.

https://www.youtube.com/playlist?list=
PLIM2LV6NOahyb7S1KY3NLTMcldNWLgK3u

Tabela resumida:
HISTORICIDADE
Naturalidade Utilize movimentos que favoreçam o contrair-
O que é? Trabalhar com personagens ou fatos da Histó ria e da expandir, o arrastar, o engatinhar, o andar em
cultura do Brasil nã o é contaçã o de histó rias aleató rias, 4 apoios, o icar de có coras eo conquistar a
como a da “borboletinha que tá na cozinha” ou contos do oposiçã o de membros a partir do

folclore, como o Saci ou o Curupira. E contaçã o de histó rias desequilıb


́ rio.

baseadas em personagens ou FATOS HISTORICOS Criatividade Dar somente instruçõ es orais, falando o que
relacionados à CAPOEIRA: maltas, Guerra do Paraguai, fazer, mas nã o como fazer, aceitando todas as
Mestre Bimba ou até mesmo a histó ria do seu pró prio movimentaçõ es ou expressõ es como corretas.
Mestre.
Historicidade Trabalhar com personagens ou fatos da
“Mas eu nã o posso dar uma aula sobre o Saci ou a Mula- Histó ria e da cultura do Brasil, desde o seu
Sem-Cabeça?” Mestre até os mais diversos mitos de nossos
sım
́ bolos culturais.
Claro que pode! E deve! Uma coisa nã o exclui a outra. Use
tanto uma quanto a outra. Misture. Transforme e crie! Cooperatividade Fazer atividades em que todos tê m que
ganhar para que cada um seja vencedor.
O importante no eixo da Historicidade é entender que
estamos falando de uma aproximaçã o com a ancestralidade
especı́ ica da Capoeira.
Os eixos são transversais e complementares.
Em momento algum um exclui o outro.

Naturalidade Criatividade Cooperatividade Historicidade

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