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Formação da Lateralidade

Etapas do desenvolvimento neurológico nos sete primeiros anos da criança.


(Texto baseado no resumo das aulas do curso Extra Lesson, ministradas por
Rachel Ross, em janeiro de 2014, SP). Pilar Tetilla Manzano Borba

1) Estágio dos Reflexos


2) Estágio da Simetria
3) Estágio da Integração Homolateral
4) Estágio da Integração Bilateral
5) Estágio da Integração Cruzada Lateral
6) Estágio da Dominância
7) Lateralidade

Lateralidade ou lateralização é um processo do desenvolvimento neurológico


que vai culminar com a aquisição da dominância. O coroamento da finalização
desse processo de lateralidade é a escolha da dominância de um dos lados do
corpo.

Esse processo vem a partir de um todo, de uma unidade, não só do cérebro,


mas do corpo todo até chegar nesse mínimo detalhe que é a dominância. Esse
processo é o de acordar a consciência. É o movimento dos membros que
‘acorda a cabeça’.

Assim como o bebê se move globalmente e depois seus movimentos se


dissociam, e a medida que cresce cada parte de corpo vai se diferenciando,
assim também acontece no processo de dominância.

No início do desenvolvimento os dois hemisférios funcionam juntos, depois se


diferenciam e surge a dominância.

1) Estágio dos Reflexos


Os reflexos são importantes e necessários para a sobrevivência; para o
processo do parto; para se sentir seguro, abrigado, cuidado.
São fundamentais como processos do movimento, da relação neuro-
motora, viso-manual e viso-motora.

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Exemplos de alguns reflexos: de sucção, de piscadela, de deglutição, de
susto, tônico cervical assimétrico, tônico cervical simétrico, de Landau,
de Galant, tônico labiríntico.
Os reflexos são fundamentais no processo dos três primeiros anos de
vida da criança para se verticalizar, ficar em pé, caminhar e falar. Passar
da posição bidimensional à tridimensional (de deitada para em pé,
primeiro rolando, se arrastando, se sentando, se colocando de joelhos e
levantando). Os movimentos vão acordando a cabeça e o
desenvolvimento acontece da cabeça para os pés isto é, céfalo-caudal.
É pela repetição dos movimentos que vai superando e suprimindo os
movimentos reflexos. (Daí a importância de se deixar a criança pequena
deitada num plano horizontal e livre para poder realizar todos os
movimentos que os reflexos primitivos promovem).

2) Estágio da Simetria

Neste estágio da simetria os dois hemisférios cerebrais são iguais, ainda


não se diferenciaram, portanto os dois lados do corpo se movimentam
simultaneamente e do mesmo jeito. Como se arrastar, por exemplo,
quando a criança se puxa pelas duas mãos ou pelos antebraços ao
mesmo tempo; quando as duas pernas se arrastam ao mesmo tempo.

Se não houve movimentos suficientes para integrar essa fase (no caso
das criancinhas que ficaram muito tempo presas em cadeirinhas,
cangurus), mais tarde, quando forem fazer um movimento com um lado
do corpo, o outro lado também irá fazê-lo.

No Jardim de Infância atividades que requeiram o uso simultâneo dos


membros como lavar roupa na tábua ou no tanque ajuda a trabalhar e
integrar essa fase de simetria. Colocar a roupa no varal também. Dobrar
os panos na sala, carregar coisas com as duas mãos simetricamente,
como levar o prato da mesa para a pia segurando-o com as duas mãos.

3) Estágio da Integração Homolateral

Neste estágio um lado do corpo faz um tipo de movimento e o outro


lado do corpo faz depois o mesmo movimento. Exemplo: na primeira

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fase do aprendizado do andar a criancinha leva um lado do corpo para
frente com a mesma perna e o mesmo braço e depois leva o outro lado.
Outro exemplo é quando a criança começa a subir escada: leva uma
mão no degrau e a mesma perna, depois outra mão e a perna
correspondente.
Na presença do reflexo tônico cervical assimétrico se vê bem essa
homolateralização: a cabeça vira para a direita e o braço direito se
estende assim como a perna direita também e quando a cabeça se vira
para a esquerda todo lado esquerdo se estende.
No arrastar a criança também começa se arrastando
homolateralmente.
No estágio de homolateralidade os hemisférios cerebrais começam a se
diferenciar.

4) Estágio da Integração Bilateral (entre 4 e 6 anos)

Neste estágio da integração bilateral um lado do corpo dá o apoio e o


outro lado do corpo realiza a ação. Exemplos: uma mão segura a escova
de dente e a outra mão coloca a pasta; uma mão segura a cenoura
enquanto a outra a corta; uma mão segura a louça enquanto a outra a
ensaboa. Ao estender roupa no varal uma mão segura a roupa
enquanto a outra prende com o prendedor. Ao fechar o zíper da calça
uma mão segura a calça enquanto a outra puxa o zíper.
Sugestão: no Jardim de Infância faxinar a sala todas as sextas-feiras (dia
de Vênus, da beleza) para fazerem atividades de simetria e de
integração bilateral: limpar as mesas, simetria se usarem as duas mãos,
as janelas, lavar os paninhos, pendurá-los, esfregar o chão etc. brincar
de cabelereira, descascar frutas, martelar pregos, bater clara em neve
etc.

5) Estágio da Integração Cruzada Lateral (Crosslateral Integration)


Neste estágio as duas partes do corpo estão trabalhando em coisas
diferentes.

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Tem a ver com a musculatura cruzada. Cruzamento dos músculos
anteriores para dar suporte aos lados do corpo. Não é o cruzamento da
linha média.
(No desenho infantil espontâneo é a fase quando a criança desenha
tapetes coloridos em linhas diagonais começando da periferia da folha
indo para o centro da mesma).

6) Estágio da Dominância
Não se ensina dominância. A criança passa por todos os estágios de
desenvolvimento: dos reflexos, da homolateralidade, da simetria até
chegar ao estabelecimento da dominância. Processo este que deve
culminar entre os 7 e 8 anos. Daí podemos falar em lateralidade que é
o lado dominante no indivíduo. Fruto de todo processo anterior.

7) Lateralidade
Aos 6 anos ainda não dá para avaliar se o processo neurológico para o
amadurecimento da dominância está acabado. Dá para se observar a
tendência da criança em preferir um lado ao outro, mas o processo
neurológico de desenvolvimento para a lateralidade ainda não acabou.
Entre os 7 e 8 anos ocorre um processo de consciência maior do corpo.
Consciência de si mesmo.
O pensamento se apoia no pleno desenvolvimento do processo de
lateralização. Pular etapas ocasionará problemas na organização do
pensamento (tão necessário para a aprendizagem escolar).

PS1: Todas as atividades da vida diária como se despir/vestir; se


lavar/enxugar; se alimentar etc. ajudam na aquisição da lateralidade,
pois em todas essas atividades a criança passa pelos estágios acima
descritos.
PS2: Numa escolarização precoce, onde se exige da criança habilidades
finas como escrever por exemplo, etapas do desenvolvimento são
puladas podendo acarretar sérios prejuízos na aprendizagem escolar.

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