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aluno a aprender''
Psicomotricista argentino sugere que os movimentos corporais sejam incluídos
nas atividades de todas as disciplinas
LEVIN: O corpo e os gestos são fundamentais para a formação geral do ser humano. Desde que
nasce, a criança usa a linguagem corporal para conhecer a si mesma, para relacionar-se com
seus pais, para movimentar-se e descobrir o mundo. Essas descobertas feitas com o corpo
deixam marcas, são aprendizados efetivos, incorporados. Na verdade, são tesouros que
guardamos e usamos como referência quando precisamos ser criativos em nossa profissão e
resolver problemas cotidianos. Os movimentos são saberes que adquirimos sem saber, mas que
também ficam à nossa disposição para serem colocados em uso.
ESCOLA: O que pode acontecer a uma criança que é obrigada a ficar sentada muito
tempo?
LEVIN: A obrigação de deixar o corpo estático, sem movimento, pode ser uma das causas da
hiperatividade -- um dos distúrbios de aprendizagem mais comuns hoje em dia --, de manias e
de comportamentos repetitivos sem significado. Pode ser também um dos componentes de
quadros de anorexia, de bulimia e de depressão infantil. Isso sem falar das dores corporais que a
falta de atividade às vezes traz.
LEVIN: É muito mais fácil para os pequenos aprender, por exemplo, as letras A, B ou C
brincando com o corpo, representando-as deitados no chão em grupos de dois ou três, do que
sentados em frente ao quadro-negro. E isso é possível acontecer com palavras, conceitos,
teorias... Em Matemática, por que o professor não propõe brincadeiras do tipo caça ao tesouro
ou esconde-esconde de folhas? Com elas, a criança vai ter de encontrar as plantas escondidas na
escola, enumerá-las, manipulá-las e classificá-las. Se a turma gosta de futebol, por que não
formar times para disputar um torneio, fazer tabelas, calcular resultados, ler e escrever histórias
interessantes sobre esse esporte?
LEVIN: Incentivar uma relação saudável com o próprio corpo e o uso dele na aprendizagem são
práticas que deveriam ser cultivadas por toda a escolaridade. Mas até o início da puberdade, por
volta dos 12 ou 13 anos, elas são determinantes. Até essa fase a criança vive pela primeira vez as
mais diversas experiências: ela vai conhecer os números, a regra de três, a leitura, a escrita, o
ensino de História... Quando alguma coisa acontece pela primeira vez, precisa ser marcante e
positiva, para deixar boas recordações, ainda que inconscientes. O uso do corpo permitirá que
essas lembranças sejam prazerosas e a pessoa vai associar o aprendizado a sensações gostosas.
ESCOLA: O que os professores de todas as disciplinas podem fazer para ajudar no bom
desenvolvimento psicomotor?
LEVIN: Como não existe apenas uma forma de aprender, é obrigação dos educadores oferecer
várias opções para a criança adquirir conhecimento. Por isso, eles devem abrir-se para o uso do
movimento corporal como um recurso eu diria muito eficiente de ensino e de aprendizagem. O
melhor seria que o docente de Matemática, por exemplo, pudesse trocar experiências com o
colega de Educação Física: tanto o primeiro aprenderia sobre o corpo quanto o outro sobre
números e raciocínio matemático. Tenho certeza de que ambos teriam idéias fantásticas e
desenvolveriam exercícios e materiais reunindo as duas áreas do conhecimento.
LEVIN: Portadores de deficiência constroem a imagem do próprio corpo como qualquer outra
pessoa. Eles têm dificuldades em usar o corpo, mas, se tiverem consciência disso, conseguem
superá-las e aprender com as restrições. O que não pode é fingir que o problema não existe. O
ideal seria conversar sobre as limitações e que juntos, aluno e professor, criassem atividades
inclusivas.
LEVIN: A experiência da infância mudou. Hoje existem esses novos brinquedos, que estão à
disposição 24 horas. No meu país, a Argentina, calcula-se que as crianças fiquem entre cinco e
oito horas por dia na frente da televisão ou na internet, em chats ou em jogos eletrônicos. E se
freqüentarem uma escola que as obriguem a ficar sentadas em carteiras mais quatro ou cinco
horas? Quando vão usar o corpo? O problema é que a televisão e o computador não propiciam a
interação física nem com pessoas nem com objetos. Uma coisa é reconhecer um cachorro,
pesquisar sobre sua espécie etc. Outra é brincar com o animal. No primeiro caso pode até existir
um certo conhecimento, mas não há experiência corporal. O contato direto com os objetos e a
interação com o outro promovem brincadeiras que geram curiosidade, inquietação, necessidade
de movimentar-se e, no final, um aprendizado mais efetivo.
LEVIN: Há quem defenda esse ponto de vista afirmando que cada vez mais as crianças estão
tendo preocupações que deveriam ser dos mais velhos, como ter sucesso e bom desempenho.
Pessoalmente, acredito que a infância não acabou, mas está mudando radicalmente. As crianças
de hoje não são as mesmas estudadas por Jean Piaget ou qualquer outro teórico da educação ou
da pediatria.
LEVIN: É necessário repensar teorias e práticas, sim. Um bebê que com 10 meses mexe com
controle remoto e, quando mais velho, passa horas na frente da televisão certamente vai ser um
adulto com características bem diferentes daquele que cresceu brincando com amigos e
manipulando objetos. Como será esse adulto sem a experiência do brincar corporal? Ainda não
sabemos, mas precisamos começar a nos preocupar com isso.
LEVIN: Tanto valoriza que os próprios pais exigem da escola atividades de gente grande.
Crianças de 2 anos têm aulas de língua estrangeira e de computação. É um absurdo!
ESCOLA: Que tipo de conhecimento o professor precisa ter para unir com eficiência o
uso do corpo ao processo de aprendizagem?
LEVIN: Basta colocar a busca pelo saber acompanhada de movimento. É importante também
que o docente recupere a sua história, os seus desejos infantis. Ele pode perguntar-se, por
exemplo, qual o motivo que o levou a querer dedicar sua vida ao trabalho com crianças. Com
certeza algo de sua infância foi marcante para ele optar por ensinar os pequenos. Assim, resgata
alguns de seus desejos infantis, e isso vai ajudá-lo a compreender muito melhor as necessidades
da turma.
Fonte: www.revistaescola.abril.com.br
COM BASE NA ENTREVISTA, RESPONDA:
3- QUE AÇÕES PODEM SER DESENVOLVIDAS PARA QUE SEJA AMPLIADA A VISÃO EM
RELAÇÃO AO TRABALHO CORPORAL NAS ESCOLAS?