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Consumismo: um caminho para a felicidade ou um paliativo para angústia

A busca pelo consumo consciente na sociedade deveria constituir um dos pilares para o exercício da
cidadania pautada no bem-estar coletivo. Entretanto, a supervalorização do modelo econômico oligarquico
e concentrado, que subemerge os cidadãos em um ideal irreal de felicidade, transverte o consumo
equilibrado em consumismo exacerbado na sociedade. Essa conjuntura alienante é perpetuada pelo falho
sistema educacional brasileiro, que negligencia a formação ampla dos estudantes, formando consumidores
desvairados em dretimento de cidadãos conscientes.
Primeiramente, é preciso analisar o modelo econômico elitista enquanto fator que aliena os cidadãos e
estimula o consumo demasiado. Segundo o geógrafo Milton Santos, as oligarquias brasileiras dominam o
modelo econômico do país que, por sua vez, dita regras e modifica a cidadania, pregando o consumismo
como uma forma de prosperidade social, em prol de legitimar o beneficiamento dos grupos dominantes.
Nessa perspectiva, a fim de satisfazer as elites econômicas do país, é pregado, seja por meio da mídia, das
redes sociais ou no dia-a-dia do cidadão, a ideia de que as angústias, frustrações e necessidades das pessoas
só serão sanadas por meio da compra de bens materiais e de consumo, manipulando os cidadãos para que
eles enxergem o alcance da felicidade a partir do véu do consumismo e condicionando-os à ideia de que o
bem-estar social está atrelado unicamente à prosperidade material e aquisitiva. Essa alienação é tão
marcante na atualidade que, segundo a Folha de São Paulo, cerca de 450 mil pessoas entrevistadas alegam
que para ser feliz basta apenas não ser pobre.
Além dessa conjuntura alheia, o sistema educacional pouco contribui para a desconstrução dessa busca
interminante pela felicidade e pela cura da angústia através do consumismo exagerado. Imbuída e
subordinada pelos ditames do modelo econômico oligarquico, a escola não promove a formação integral
dos estudantes, buscando ensiná-los a lidar com seus frustrações por meio de atividades psicoterápicas e
que vizem equilíbrio emocional, e não buscando resolvê-los por meio de compras exageradas ou
depositando a sua felicidade no prazer do “ter” objetos e bens de consumo. Sendo assim, ao não educar e
ensinar os estudantes acerca de formas de consumo consciente, o sistema educacional forma consumidores
alienados e emocionalmente desequilibrados no lugar de cidadãos ativos e plenos, perpetuando e
naturalizando o modelo de consumo demasiado na sociedade.
Portanto, para promover o consumo consciente na sociedade e desconstruir a ideia de consumismo
como remédio para a angústia e ferramenta para o alcance da felicidade, é preciso que o sistema
educacional – enquanto resposável por formar cidadãos integrais – proporcione uma educação voltada para
o consumo racional. Esse processo formativo deve acontecer por meio da implantação de atividades –
palestras, projetos de pesquisa e extenção, oficinas – que ensinem mecanismos de controle emocional aos
estudantes buscando educá-los para que não procurem amparo psicológico no ato de comprar e consumir.
Ademais, é preciso que a escola desconstrua, no dia-a-dia dos alunos, por meio de aulas e debates, a ideia
de que a prosperidade e o sucesso estão atrelados apenas ao ato de comprar, de possuir objetos e de poder
aquisitivo. Dessa forma, será possível promover o consumo consciente e desestruturar os ditames de que o
consumismo é uma ferramenta para o alcance do bem-estar social e emocional.

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