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Após a leitura do caso clínico proposto o que me fica é a sensação de não ter elementos

suficientes para fazer afirmações, seja por falta de conhecimento ou por falta de dados no caso
clínico propriamente dito. O que passo a fazer a seguir é o levantamento de hipóteses.

Considerando a importância em psicopatologia das alterações qualitativas da sensopercepção


consigo identificar a Alucinação (o objeto inexiste, ainda assim o sujeito o vê ou ouve ou
sente.)

No presente caso A ALUCINAÇÃO É VISUAL E COMPLEXA, o sujeito vê os diabos pequenos e


várias cenas se desenrolam ali naquele cenário cujos objetos existem, mas o que o sujeito vê
são adições de outros conteúdos pela alucinação visual complexa.

Pude identificar:

1) Alucinação liliputiana onde vê os personagens diminutos ( diabos pequenos, horríveis)


em meio a objetos existentes ao seu redor( as barricas de cal, o caramanchão, a
lavanderia etc) mais freqüentes na síndrome de Charles Bonnet
2) Alucinação cenográfica que lhe permite ver a cena completa se desenrolando ato após
ato: os diabos estavam a princípio no caramanchão, mas ao tentar esconderem-se
acessaram outros espaços e as cenas seguiam uma após a outra.
3) A alucinação visual liliputiana e a cenográfica são raras. podendo ser observadas nas
diversas psicoses.
4) Pela modalidade perceptiva envolvida, visual e complexa, deve estar associada a
algum quadro clínico neurológico 1 ( o mais comum é que as alucinações auditivas não
estejam relacionadas com doenças neurológicas)

Um fato que necessita destaque é que a narrativa do caso em destaque não é suficiente para
fechar qualquer diagnóstico. Outras muitas perguntas precisam ser respondidas para um
posicionamento mais acertado.2
1
As condições neurológicas que mais comumente podem estar associadas a alucinações ou delírios são
doença de Alzheimer, doença de Parkinson, doença de Huntington, doença de Pick, doença de Wilson,
epilepsias (sobretudo as do lobo temporal), esclerose múltipla, hidrocefalia e outros (tabela 1).
As condições médicas gerais que mais comumente podem estar associadas são neoplásicas (tumores no
sistema nervoso central – SNC, síndrome paraneoplásica), intoxicação externa por metais (mercúrio,
arsênico, manganês, tálio), nutrometabólicas (deficiência de tiamina, deficiência de niacina, deficiência
de B12), endocrinológicas (hipertiroidismo, hipotiroidismo, hiperparatiroidismo, hipoparatiroidismo,
síndrome de Cushing, doença de Addison, hipoglicemia, feocromocitoma), infecciosas (encefalite viral
por herpes ou HIV, sífilis, malária, tripanossomíase, mononucleose, meningites, abscesso cerebral e
outros) (tabela 2).
Além das condições clínico-neurológicas associadas, existe uma longa lista de medicações, bem como
algumas drogas, que podem estar implicadas em quadros alucinatórios, delirantes, agitação e mesmo
delirium (tabelas 3 e 4).
A pronta identificação e reversão de tais fatores associados é de fundamental importância. Algumas
vezes, a otimização dessas terapêuticas tem um impacto maior sobre o quadro alucinatório e/ou
delirante do que os fármacos antipsicóticos (o que não significa que não devam ser usados).
Sabe-se também que pacientes com história de retardo mental têm maior predisposição a desenvolver
sintomas psicóticos que a população em geral. Trata-se, portanto, de um dado relevante a ser
pesquisado na história clínica.
2
No contexto de Alucinação, delírio, desorganização de comportamento ou do discurso, toda a
investigação de história clínica, exame físico e psíquico deve buscar diagnósticos diferenciais, contando
com auxílio de acompanhantes. Descartados quadros clínicos, deve-se considerar como manifestação de
transtornos psiquiátricos. A partir de então, é necessário saber se o paciente tem histórico de condição
Alucinações visuais complexas se manifestam na seguinte ordem de freqüência:

1. Narcolepsia com cataplexia (transtorno do sono em que a atividade REM invade a


consciência vígil)

2. Demência por corpos de Lewy (DCL)

3. Doença de Parkinson com demência3

4. Delirium (sobretudo no delirium tremens dos alcoolistas)

5. Esquizofrenia

6. Demência vascular

7. Doença de Alzheimer

8. Doenças oftalmológicas

9. Intoxicação por alucinógenos(Collerton; Perry; McKeith, 2005)

A DCL4 é uma condição caracterizada pela ocorrência, em idosos, de alucinações visuais


proeminentes, declínio cognitivo, flutuação do nível de consciência e sintomas extrapiramidais.
As alucinações ocorrem tipicamente no final do dia, associadas com alteração da consciência,
transtornos do sono e sonhos vívidos. 5

psiquiátrica prévia. Cumpre perguntar:


O paciente apresenta uma condição neurológica ou clínica geral que pode estar associada à
Alucinação ou delírio?
O paciente está em uso atual ou recente de medicamento que pode estar associado a quadro
alucinatório ou delirante?
O paciente estava em uso recente de substância psicoativa que poderia estar associada a
Alucinação ou delírio ?
Há história de alteração cognitiva ou mnéstica prévia à Alucinação e/ou delírio? Há histórico de
oscilação atual do nível da consciência?
O paciente tinha histórico anterior de diagnóstico psiquiátrico, acompanhamento psiquiátrico, uso
de medicação psiquiátrica ou internação psiquiátrica?
Alucinação e/ou delírio constitui(em) o primeiro episódio? Houve episódios semelhantes antes?
Houve Alucinação e/ou delírio anterior(es) sob outra apresentação, diferente da atual ?
Qual a duração do quadro alucinatório e/ou delirante atual? E dos anteriores (se existirem)?
3
A demência por corpos de Lewy é a perda progressiva da função mental, caracterizada pelo
desenvolvimento de corpos de Lewy nas células nervosas. A demência da doença de Parkinson é a perda
da função mental caracterizada pelo desenvolvimento de corpos de Lewy em pessoas que têm a doença
de Parkinson
4
O que causa a demência por corpos de Lewy?
A demência com corpos de Lewy, é uma doença degenerativa do cérebro, que compromete regiões
responsáveis por funções como a memória, o pensamento e o movimento, e é causada pelo acúmulo de
proteínas, conhecidas como corpos de Lewy, no tecido cerebral.
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Disponível em https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1286/alucinacao_e_delirio.htm
acesso em 12 de outubro de 2022.

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