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1ª A acção didáctica e a situação de aula

Segundo Mazza (1993, p. 308), a acção didáctica é um “conjunto de factores ou elementos


presentes no espaço e no tempo da situação de aula” (p. 308), constituindo- se por estruturas
situacionais que direccionam o pensamento e as actividades de professores e alunos. O que
seriam estas estruturas situacionais? Estamos considerando estruturas situacionais na medida
em que delimitam um tipo singular de contexto, ao mesmo tempo, como diria Bourdieu
(1998a), tornam possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas (estruturas
estruturantes). No nosso caso, definimos alguns elementos das estruturas situacionais que
constituem a acção didáctica, destacando:

a) a intenção – que constitui por si, citando Bourdieu (1998b, p. 165), um ato de instituição e
representa, por isso, uma forma de oficialização, de legitimação das acções propostas. Para a
acção didáctica, esta intenção significaria a meta a ser atingida, ou seja, o sentido do processo
e dos produtos que desejamos alcançar para a realização de um projecto. Seria, também, a
proposta didáctica apresentada como um programa de acção. A intenção poderia ser ainda,
segundo Morin (1999), uma estratégia, indo além de um simples programa de acção, na
medida em que é predeterminada em suas finalidades;

b) a operação – que é utilizada para gerar o processo e seus produtos. A acção didáctica é
definida, também, por um conjunto de operações, também estratégias, diria Morin (1999, p.
78), que se produzem durante a situação didáctica. Segundo o autor (p. 80), as estratégias
baseiam-se em decisões sucessivas, tomadas em função da evolução da acção, levando em
conta a aptidão do sujeito para alcançar os fins, ampliando, assim, os limites e as
possibilidades de acção no enfrentamento das incertezas e dos acasos. A acção didáctica
exercida (ou a ser exercida) pelo professor pressupõe o domínio das regras dos jogos
enfrentados em situações de aula, tanto no nível da intenção, quanto da operação. Estes dois
movimentos – a intenção e a operação –, unidos no percurso da acção didáctica, estabelecem
uma relação de sentido para o domínio prático de um conjunto de esquemas de pensamento e
de acção;

c) a regulação – é uma das funções do professor, tendo em vista a sua acção didáctica. Diria
que é ela que reinterpreta os movimentos anteriores: a intenção e a operação. Em outros
termos, quanto mais o professor estiver em condições de regular, acompanhar e avaliar as
acções desenvolvidas por ele e por seus alunos, tanto mais terá autonomia em suas escolhas e
decisões. Os depoimentos, a seguir, mostram como estes elementos – a intenção, a operação
e a regulação – encontram-se interligados: Tenho por objectivo acompanhar todo esse
movimento que é essencial: manter o aluno conectado com a proposta do componente
curricular, esse componente curricular conectado com os demais, com os objectivos do curso,
de modo que ele consiga fazer links sem que esse desgaste se dê a cada encontro. Ou seja, as
questões que a gente cansa de ouvir: ah, professora, o que é isso? Para que é isso? Onde usa
isso? Quando eu vou usar isso? Enquanto mundo adulto, eles perguntam mesmo. Então, acho
que o objectivo maior de formar um outro professor é o de avaliar constantemente, é este
questionamento diário, esta revisão da própria bibliografia escolhida, pensar, por exemplo, se
ela atende à realidade. (Entrevista, Profa. A2, Pedagogia, in ABDALLA, 2008, p. 72) A
primeira coisa que faço quando encontro meus alunos é saber um pouco sobre as suas
necessidades e problemas, e, a partir daí, replaneio as actividades de sala de aula. Reinvento
estratégias de modo a pensar caminhos novos de intervenção na realidade de formação destes
alunos. (Grupo Focal, Profa. C1, Ciências Biológicas, in ABDALLA, 2008, p. 74) Uma coisa
é essencial: a pessoa dominar a área de conhecimento em que ela trabalha. Uma outra coisa é
que existe uma área específica do conhecimento do que é ser professor, que não é só o
conhecimento da disciplina, da questão pedagógica, mas do que é ser professor em sua
integralidade, o professor precisaria estar estudando isso. Eu entendo que por um caminho ou
outro tem um outro viés que eu acho importantíssimo, que é ter sensibilidade diante daquilo
que está à sua frente, que são situações educacionais, situações de avaliação, a relação aluno-
aluno, aluno-professor, professor-professor. E eu “seguro” essa sensibilidade com meus
alunos... (Entrevista, Prof. D2, Matemática, in ABDALLA, 2008, p. 75)

Em vista desses elementos, a acção didáctica, então, estaria se definindo dentro de uma
perspectiva situacional, que não é meramente técnica, mas imbuída de sentido (direcção), o
que lhe impõe uma forma complexa, reclamando, assim, aprendizagens específicas, como
assinala a segunda categoria.

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