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1. A ARTE deve ser livre porque o ato de criação é em si um ato de liberdade. Mas
não é só a liberdade individual do artista que importa. Sabemos que quando a
Arte não é livre o povo também não é livre. Há sempre uma profunda e
estrutural unidade na liberdade. Onde o artista começa a não ser livre o povo
começa a ser colonizado e a justiça torna-se parcial, unidimensional e abstrata.
Se o ataque à liberdade cultural me preocupa tanto é porque a falta de liberdade
cultural é um sintoma e significa sempre opressão para um povo inteiro.
2. NÃO PENSO que exista uma arte para o povo. Existe sim uma arte para todos à
qual o povo deve ter acesso porque esse acesso lhe deve ser possibilitado através
dos meios de comunicação. Primeiro os "aedos" cantaram no palácio dos reis
gregos "o canto venerável e antigo". Era uma arte profundamente aristocrática.
Depois os rapsodos cantaram esse mesmo canto na praça pública. E Homero,
foi, como se disse, o educador da Grécia. Isto é: a cultura foi posta em comum. E
por isso os gregos inventaram a democracia. A política começa muito antes da
política.
Penso que nenhum socialismo real será possível se a cultura não foi posta em
comum. Quando o aedo, ou poeta medieval cantavam na praça o seu poema era
ouvido por todos, mesmo pelo analfabeto. E viajava por todo o país e de país em
país: por isso o mirandês canta Mirandolim-Marlbourg.
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enorme paciente e múltiplo e obcecado esforço para construir o mundo de outra
maneira. E é preciso que nenhum dirigismo esmague esse esforço.
Creio que o "poema para todos" é, dentro da cultura em que estamos, o poema
mais difícil de escrever. Creio que esse poema é necessário e por isso tenho
procurado encontrar um caminho para ele. Por isso em "Livro Sexto" invoquei
Mas sei que esse poema não se programa. E por isso, já depois do 25 de abril
escrevi:
Porém a disciplina
O acompanha
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Vivemos no pluralismo. Mas não queremos viver na ambiguidade. Queremos
que o pluralismo seja nítido e declarado com clareza. Que todo aquele que
exerce uma atividade de doutrinamento político diga aos outros o partido a que
pertence ou que apoia.
Sabemos muito claramente o que não queremos. Não queremos a violência, não
queremos que a liberdade seja sofismada. Não queremos nem inquisições nem
perseguições. Não queremos política da terra queimada. Não queremos política
imposta. E no plano da cultura queremos acima de tudo que a política não seja
anti-cultura.