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Marcela Vianna *
Abstract: The proposed work is the result of completion of course work for bachelor's degree in
social science at the state university of Londrina, and a proposal for the monograph to be developed
during the current year for expertise in teaching of sociology at the same university. Its purpose is
conducting an analysis of some elements in the material and subjective field of this toyotista model
of management of the workforce. We consider the changes in the means of production, which have
been given a new dynamic, much more accelerated, requiring the worker to be in constant search
for courses of professional and technical training. Therefore, we seek to understand in our exposure,
mainly, what changes suffered the training and qualification of workers after the introduction of
microelectronics technology and toyotista management in the production process.
*
Especialização em Ensino de Sociologia pela UEL. End. eletrônico: marcelavcs@hotmail.com
Em certo sentido, esconder do capitalista as melhorias possíveis que poderiam ser
introduzidas no processo produtivo, advindas do conhecimento empírico, era uma das
formas de resistência dos trabalhadores ao controle rígido da produção. Ou seja, no
fordismo existiu uma espécie de “racionalização inconclusa”, pois todo âmbito da produção
se modificara a partir dos princípios racionais, mas estes lograram um controle não-
totalizante das variáveis psicológicas do comportamento operário. Segundo Leite (1994, pp.
55-56):
É preciso lembrar, no entanto, que esse modelo que exige dos trabalhadores a
energia mental, e não apenas a força física, limita sua participação ao mundo
concreto da atividade produtiva. Estão fora de seu alcance, o planejamento
estratégico e os rumos da empresa, de seus lucros e de suas decisões, entregues a
um núcleo dirigente, representante de acionistas. Um muro de informações,
decisões privilegiadas e de processos que se realizam a partir de seu trabalho,
quando retornam a eles, vêm totalmente filtrados, codificados e mascarados,
apresentando apenas os frágeis vínculos de algum interesse tido como comum e que
possa mantê-los ideologicamente motivados (MINAYO, 2004, p. 37).
Ou seja, é essencial ter em conta que o controle da produção por parte dos
trabalhadores, no toyotismo, é um engodo, já que possui a finalidade exclusiva de aumento
da produtividade, sem romper com princípio de separação entre quem concebe e quem
realiza o trabalho, uma vez que o planejamento das atividades continua a estar centrado,
fundamentalmente, na gerência. Portanto, a polivalência proposta pelo toyotismo está
distante de representar a constituição do ser social omnilateral, tal como pensado por Marx.
Por outras palavras, não apenas persiste a separação de concepção e execução do trabalho,
como também a separação dentro da própria concepção, onde a administração estabelece as
metas e os operários apenas sugerem melhorias no processo produtivo, logrando atingi-las
com mais facilidade e menos gastos.
Com a simples separação entre concepção e execução do trabalho, os trabalhadores
enxergavam sua condição como um mero meio de produção, sua criatividade e
subjetividade estavam excluídas do processo produtivo. Quando, através dos CCQ´s,
passam a fazer uso de sua criatividade através de sugestões refletidas de sua prática, o
trabalho deixa de ter como característica apenas o “fazer”' e incorpora novamente um
“saber”, o que acaba por modificar toda a estrutura das relações fabris.
Com a introdução de valores de “autonomia” dos trabalhadores, e com estímulos
como bonificações por produtividade, participação coletiva na gestão, incentiva-se a
concepção de que o trabalhador é parte viva da empresa, ele sente-se como realmente
pertencendo a esta: assim, quanto mais esforçado o trabalhador, melhor seria, segundo a
proposta toyotista, o desempenho da empresa, e, conseqüentemente, melhor seria a sua
condição de vida.
Essa motivação certamente traz aumentos de produtividade, e, se não resolve, ao
menos atenua uma das contradições internas do capitalismo. Sobretudo ao gerar, no
trabalhador, o sentimento de pertencimento à empresa, de modo a conceber o desempenho
desta como atrelado a suas condições de existência. Torna comum entre trabalho e capital o
objetivo que sempre foi deste último, ou seja, a necessidade de acumulação, o que
representa uma nova forma de controle do capital sobre a força de trabalho,
Tais mudanças são freqüentemente explicadas por seus defensores como mero
reflexo do avanço da ciência, dando uma aparência mais coerente e lógica ao processo.
Contudo, essa interpretação mascara os verdadeiros motivos, pois naturaliza a inserção da
ciência e tecnologia no universo do trabalho e as colocam de forma fetichizada como
elementos determinantes da superação da sociedade de classes. Além disso, as estratégias
utilizadas para persuadir os trabalhadores sobre a coerência e integridade da empresa são
evidentemente mais sofisticadas, pois recorrem a descobertas da psicologia e sociologia, o
que Lima considera como a união de duas escolas rivais: a “escola das relações humanas”
com a “escola clássica”. Segundo Tragtenberg (apud GOMES E SILVA, 2004, p. 77):
No plano metodológico, a Escola das Relações Humanas é behaviorista, procura
por intermédio de estímulos adaptar o indivíduo ao meio sem transformar o meio.
Há ênfase, nos testes psicológicos aplicados pelos conselheiros, na adaptabilidade
como categoria básica para medir o comportamento operário. [...] Essa escola
procura acentuar a participação do operário no processo decisório, quando a decisão
já é tomada de cima, na qual ele apenas reforça.
Para isso, muito dos investimentos são feitos nos recursos humanos (RH) da
empresa. Esses investimentos servem para valorizar tanto as exigências materiais, como a
bonificação salarial, quanto às de ordem psicológica, como o incentivo à tomada de
iniciativa. Tem-se, como exemplo, a conciliação de recompensas econômicas com aquelas
de ordem simbólica. Um dos aspectos importantes é a consideração do trabalhador como
“capital humano”1, e, portanto, sua conversão em uma espécie de bem que merece
investimento. Tratado enquanto capital humano, o trabalhador passa a significar um dos
determinantes básicos para o aumento da produtividade e um dos elementos essenciais para
a superação do atraso econômico. Portanto, com o advento do toyotismo, as empresas
passam a investir muito mais na formação dos trabalhadores, porém não para melhorar suas
condições de existência e sim para elevar os lucros da própria empresa. Segundo Souza
(2003, p. 185):
1
“[...] de acordo com os teóricos do capital humano, a formação ou qualificação da força de trabalho constitui
um dos fatores fundamentais para explicar economicamente as diferenças de capacidade de trabalho e,
conseqüentemente, as diferenças de produtividade e renda. Se, do ponto de vista macroeconômico, o
investimento no “fator humano” passa a significar um dos determinantes básicos para o aumento da
produtividade e elemento de superação do atraso econômico, do ponto de vista microeconômico, tal
investimento constitui o fator explicativo das diferenças individuais de produtividade e de renda e,
conseqüentemente, de mobilidade social” (FRIGOTTO apud SOUZA 2003, p. 181).
a formação humana passam a ter as necessidades e as demandas do processo de acumulação
do capital, como sujeito definidor, ou seja, passam a ser subordinadas e reguladas pela
esfera privada e à sua reprodução. (FRIGOTTO, 1996)
Segundo Júlio (2003), as novas máquinas de base tecnológica microeletrônica
possibilitam que o tempo de treinamento necessário para operá-las seja reduzido
drasticamente, já que exige muito menos da destreza do trabalhador. Assim, o trabalhador
de oficio se torna cada vez mais supérfluo para a empresa, que, agora, pode substituí-los
por outros operários sem tantos gastos com treinamento, diminuindo em grande proporção
a capacidade de barganha do operariado em geral.
Com a extinção dos antigos ofícios, os conhecimentos da produção são substituídos
por novos conhecimentos que, no entanto, são formais e voláteis, possibilitando a
transformação do trabalhador em um indivíduo polivalente, capaz de operar máquinas com
diferentes funções, mas perdendo, na realidade, o conhecimento da realização da produção.
As transformações nos meios de produção passaram a ter uma nova dinâmica, muito mais
acelerada, que exigem do trabalhador a constante busca por cursos de qualificação
profissional e formação técnica. Esses conhecimentos adquiridos são voláteis, pois, na
mesma velocidade em que se transformam os meios de produção, eles devem ser
renovados. Assim, se inserem na mesma “lógica de produção destrutiva”, analisada por
Mészáros (2002), onde as máquinas, os valores-de-uso e também o conhecimento dos
trabalhadores se tornam descartáveis, sendo substituídos constantemente pelo acelerado
desenvolvimento tecnológico.
Desta forma, o trabalhador, além de ter uma jornada de trabalho estafante, busca no
seu tempo livre a constante requalificação, para não ser substituído por um trabalhador mais
“atualizado”. Ou seja, o desenvolvimento da tecnologia, sob o domínio do capital, não
apenas não possibilita mais tempo livre, como na verdade, aumenta a carga de trabalho
necessária para que o trabalhador se mantenha qualificado e, conseqüentemente, tenha
menos chances de perder seu posto de trabalho. Assim, o potencial da informática passa a
significar uma exploração extrema do trabalho vivo, sem que para isso haja necessidade de
uma coerção explícita por parte da empresa. Esta é substituída pela concorrência dos
próprios trabalhadores entre si, ou seja, a coerção da livre concorrência do mercado. Pode-
se afirmar que nessa nova etapa na qual o trabalhador corre atrás de sua “qualificação”, em
nome da “empregabilidade”, mais uma vez estão presentes os impactos provocados pelos
pressupostos do toyotismo sobre a força de trabalho. Assim,
(...) podemos observar (...) novas formas de exploração que combina mais-valia
absoluta e mais-valia relativa. A primeira – mais-valia absoluta – se manifesta na
extensão da jornada de trabalho via treinamento de qualificação, visto que essa
qualificação é volátil e não traz nenhum retorno ao trabalhador a não ser sua
conservação em seu posto de trabalho, o produto desenvolvido no interior da
atividade de treinamento se caracteriza por um produto abstrato e pode ser
transportado para o interior da jornada formal de trabalho. Uma forma inédita de
recriação de formas passadas de exploração do trabalho que vem (mais-valia
absoluta subsumida à mais-valia relativa) alimentar o processo de exploração sob a
forma predominante de mais-valia relativa no interior da jornada formal de
trabalho. (JÚLIO, 2003, p. 135).
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