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Resumo:O presente trabalho realizou uma revisão bibliográfica sobre os conceitos de Natureza, Meio
Ambiente e Sustentabilidade, tendo em vista a relevância destas categorias para o debate ambiental e para a
Geografia. Buscou-se uma reflexão teórica sobre estes conceitos, correlacionando-os e conectando-os a seus
respectivos contextos históricos. Natureza, concebida inicialmente numa visão cosmológica, converteu-se em
recurso e separada do homem. A noção de Meio Ambiente surgiu num contexto marcado pela fragmentação
entre sociedade e natureza, tornando-se um conceito ambíguo e impreciso. Sustentabilidade esteve, desde
sempre, ligado ao processo de desenvolvimento econômico. Por fim, procurou-se demonstrar de que forma a
Geografia se apropriou destas categorias em seus esforços de interpretação sobre a relação entre Sociedade e
Natureza.
Palavras-chave:natureza; meio ambiente; sustentabilidade; conceito; geografia.
Resumen:El presente trabajo pretendió realizar un rescate conceptual de Naturaleza, Medio Ambiente y
Sostenibilidad, teniendo en vista la relevancia de estas categorías para el debate ambiental y para la propia
Geografía. Se buscó una reflexión teórica sobre estos conceptos, correlacionándolos y conectándolos a sus
respectivos contextos históricos. La naturaleza, concebida inicialmente en una visión cosmológica, se convirtió
en recurso y separada del hombre. La noción de Medio Ambiente surgió en un contexto marcado por la
fragmentación entre sociedad y naturaleza, convirtiéndose en un concepto ambiguo e impreciso. La
sostenibilidad ha estado, desde siempre, vinculada al proceso de desarrollo económico. Por último, se buscó
demostrar de qué forma la Geografía se apropió de estas categorías en sus esfuerzos de interpretación sobre la
relación entre Sociedad y Naturaleza.
Palabras Claves:naturaleza; medio ambiente; sostenibilidad; concepto; geografía.
Introdução
O texto, apresentado em forma de revisão bibliográfica,aborda o processo de
construção dos conceitos de Natureza, Meio Ambiente e Sustentabilidade, entendidos ora
como sinônimos, ora como dotados de certa especificidade, de acordo com o contexto
histórico e as matrizes teóricas e metodológicas de cada fonte consultada. Salientamos que
não foi nossa intenção esgotar a revisão bibliográfica sobre o assunto, obviamente, dado o
volume e abrangência de estudos sobre o tema e sua complexidade. O propósito do artigo foi
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contribuir com o debate sobre a construção do conhecimento com base nestas categorias tão
caras à questão ambiental e à ciência geográfica.
Metodologia
O método, envolvendo pesquisa e revisão bibliográfica, iniciou-se com a etimologia
das palavras natureza, meio ambiente e sustentabilidade. Posteriormente, procedemos ao
resgate da construção destes conceitos historicamente, consultando autores de matrizes
teóricas e/ou metodológicas distintas. Num terceiro momento, voltamos nossa atenção para a
história do pensamento geográfico e procuramos explicitar, em algumas notas, de que forma a
Geografia se apropriou destas categorias em seus esforços de interpretação sobre a relação
entre Sociedade e Natureza.
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Quadro 1 – Princípios e concepções de Natureza em diferentes períodos históricos
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sujeito as influências do meio em que vive, lutando para sobreviver ao mesmo tempo que
depende das condições em que está, uma mescla de adversidades e possibilidades.
• O ambiente dos humanos: destaca-se a capacidade simbólica do ser humano. "A
instauração do módulo simbólico não só modificou nossa relação com o entorno, mas
também implicou mudanças radicais no próprio processo da evolução natural"
(GERALDINO, 2014, p. 408).
Portanto, ―O conceito de ambiente é flexível. [...]. Todavia, tais observações remetem
à possibilidade de múltiplas articulações teórico-metodológicas que podem nos aproximar da
complexidade organizacional do espaço geográfico‖ (REHBEIN, 2010, p. 172).
Bertrand e Bertrand (2007) destacam que o conceito de Meio Ambiente,
historicamente, evoluiu de uma concepção naturalista da flora e da fauna para uma visão de
comunidade (biocenose) e, posteriormente, para uma concepção ecologicamente mais
elaborada, em parte inspirada pelo conceito de Ecossistema.
Na atualidade, o conceito de Meio Ambiente encontra-se mais robusto e tem situado o
homem não mais como agente externo, mas como elemento integrante e ativo no meio. A
conceituação trazida por Troppmair (1992, p. 1) já demonstrava a ruptura com a concepção
puramente naturalista ao incorporar os aspectos nóoticos, sendo, portanto, o meio ambiente
―um complexo de elementos abióticos, bióticos e noóticos que interagem entre si com
reflexos recíprocos afetando de forma direta todos os seres vivos, inclusive o homem‖.
A noção de Meio Ambiente viu-se ampliada também na doutrina jurídica brasileira.
Conforme destacou Sirvinskas (2018), embora a Política Nacional de Meio Ambiente tenha
definido Meio Ambiente como ―o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas‖
(BRASIL, 1981), a doutrina, ciente das limitações desse conceito, ampliou-o para abranger
também as esferas cultural, artificial e do trabalho. Diante disso, a interpretação de meio
ambiente ecologicamente equilibrado, dada pela Constituição Federal de 1988, concilia
desenvolvimento e meio ambiente, compatibilizando-os de forma a considerar as suas inter-
relações particulares a cada contexto sociocultural, político, econômico e ecológico, dentro de
uma dimensão tempo/espaço no processo contínuo de planejamento (BRASIL, 1988).
Mesmo diante de sua evolução conceitual, a concepção naturalista de Meio Ambiente
ainda persiste, o que faz parecer um desafio para a nova geração de cientistas e ambientalistas
incorporarem na abordagem ambiental a perspectiva humana (social, econômica, política e
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cultural), enxergando o homem não como um fator, mas como elemento constituinte do
ambiente (MENDONÇA, 2001).
Neste sentido, o termo sustentabilidade tem ganhado, há algumas décadas, notoriedade
no discurso ambientalista e econômico, apostando numa relação harmoniosa entre Sociedade
e Natureza.
Boff (2017, n.p), em consulta aos dicionários atuais e clássicos1, esclarece que na "raiz
de sustentabilidade e de sustentar está a palavra latina sustentare com o mesmo sentido que
possui em português". O autor argumenta que há dois significados para o conceito de
Sustentabilidade: um ativo e outro passivo.
A acepção ativa de sustentar "enfatiza a ação feita de fora para conservar, manter,
proteger, nutrir, alimentar, fazer prosperar, substituir, viver"(BOFF, 2017, n.p). Desta forma,
"sustentabilidade representa os procedimentos que tomamos para permitir que a Terra e seus
biomas se mantenham vivos, protegidos, alimentados de nutrientes a ponto de estarem sempre
bem conservados e à altura dos riscos que possam advir‖ (BOFF, 2017, n.p).
Já o significado passivo de sustentar remete à ideia de "equilibrar-se, manter-se,
conservar-se sempre à mesma altura, conservar-se sempre bem" (BOFF, 2017, n.p). Nesta
perspectiva, sustentabilidade é definido por "tudo o que a Terra faz para que um ecossistema
não decaia e se arruíne"(BOFF, 2017, n.p). Assim, a Terra é responsável por manter
condições para que ela e seus biomas se conservem como são, mas também coevoluam,
fortaleçam-se e prosperem.
Contudo, Boff (2017) adverte que o conceito de Sustentabilidade tem uma história
bastante antiga, com mais de 400 anos.
Na época do mercantilismo,o uso intensivo de madeira pela sociedade europeia, como
matéria prima para suas atividades - por exemplo a construção de barcos e edificações, e
sendo a principal fonte de combustível –fez surgir uma preocupação com o uso racional das
florestas. Boff (2017) assinala que foi na Alemanha, em 1560, na Província da Saxônia,
através dos escritos sobre silvicultura (produção e manejo de florestas), que surgiu a palavra
Nachhaltigkeit, que significa Sustentabilidade. Porém, já naquela época, a preocupação com
a manutenção da exploração econômica de recursos naturais motivava o emprego do conceito
de sustentabilidade: "devemos tratar a madeira com cuidado (...), caso contrário, acabar-se-á o
negócio e cessará o lucro" (BOFF, 2017, n.p). Estas foram as palavras do capitão Hans Carl
1
Novo Dicionário Aurélio e Dicionário de Verbos e Regimes, de Francisco Fernandez (1942).
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von Carlowitz que, em 1713, na Saxônia (Alemanha), "escreveu um verdadeiro tratado na
língua científica da época, o latim, sobre a sustentabilidade (...) das florestas com o título de
Sylviculturaoeconomica." (BOFF, 2017, n.p).
Foi então, no contexto da silvicultura, que o conceito de Sustentabilidade nasceu e se
manteve vivo até o início do século passado.
Um bom número de autores concordam que o termo sustentabilidade ganhou
notoriedade mundial enquanto adjetivo ao conceito de Desenvolvimento, na década de 1970, a
partir das reuniões organizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), "quando surgiu
forte a consciência dos limites do crescimento que punha em crise o modelo (de
desenvolvimento) vigente praticado em quase todas as sociedades mundiais"(BOFF, 2017,
n.p).
A definição clássica do conceito de Desenvolvimento Sustentável provém do relatório
da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento2 (CMMAD), publicado em
1987, denominado Our Common Future: ―Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento
que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras
em satisfazer suas próprias necessidades‖ (NASCIMENTO, 2012, p.54).
Para Nascimento (2012, p. 51), a partir da publicação do citado relatório, abriu-se "um
imenso debate na academia sobre o significado de desenvolvimento sustentável". Para este
autor, o conceito de desenvolvimento sustentável "se tornou um campo de disputa, no sentido
utilizado por Bordieu, com múltiplos discursos que ora se opõem, ora se complementam".
Dessa forma, a polissemia do conceito é a maior representação de um campo de forças que
envolve desde governos, empresariado, representantes políticos, até os movimentos sociais e
organismo multilaterais.
Não obstante, Boff (2017) registra que a definição clássica do Desenvolvimento
Sustentável carrega consigo a busca pela satisfação das necessidades humanas em três
dimensões: a econômica, a ambiental e a social. O modelo-padrão de desenvolvimento
sustentável que aparece nos discursos oficiais de governos e conceitualmente adotado por
empresas se resume na frase: "Para ser sustentável o desenvolvimento deve ser
economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto"3 (BOFF, 2017, n.p).
2
Comissão dirigida pela ex-primeira ministra da Noruega, Gro Harlen Brundtland. O relatório publicado pela
comissão também é conhecido como Relatório Brundtland.
3
É o famoso tripé chamado de Triple Botton Line (a linha das três pilastras) que deveriam garantir a
sustentabilidade. O conceito foi criado em 1990 pelo britânico John Elkington, fundador da ONG SustainAbility,
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Nascimento (2012) ressalta que, apesar de haver um consenso de que o
desenvolvimento sustentável se concentra nas três dimensões citadas, há alguns autores,
inclusive o próprio, que consideram a relevância de outras dimensões da sustentabilidade,
como o poder e a cultura. Segundo o mesmo, não dar o devido destaque à dimensão política
do desenvolvimento sustentável é escamotear a "assimetria de poder no âmbito da sociedade"
(NASCIMENTO, 2012, p.56)
Boff (2017) argumenta que o discurso de sustentabilidade de empresas e governos, em
geral, é retórico e vazio, pois
Tudo é realizado desde que não se afetem os lucros, não se enfraqueça a
competição e não se prejudiquem as inovações tecnológicas. Aqui, a
utilização da expressão "desenvolvimento sustentável" possui uma
significação política importante: representa uma maneira hábil de desviar a
atenção para os reais problemas, que são a injustiça social nacional e
mundial, o aquecimento global crescente e as ameaças que pairam sobre a
sobrevivência de nossa civilização e da espécie humana (BOFF, 2017, n.p).
Sachs (2000), ao desvelar os fatos históricos que abriram caminho para o casamento
entre desenvolvimento e meio ambiente, mostra como a ideologia desenvolvimentista evocou
a erradicação da pobreza, em nível de discurso, como meta principal para a manutenção dos
programas desenvolvimento pelo mundo.
Citando o Relatório Brundtland: "Pobreza reduz a capacidade das pessoas de
usar recursos de uma maneira sustentável; ela intensifica a pressão sobre o
meio ambiente... Uma condição necessária, mas não suficiente, para a
erradicação da pobreza absoluta é um crescimento relativamente rápido nas
rendas per capita no Terceiro Mundo". O caminho assim estava livre para o
casamento entre "meio ambiente" e "desenvolvimento"(SACHS, 2000,
p.121).
que se propõe exatamente a divulgar estes três momentos como necessários a todo desenvolvimento
sustentável. (BOFF, 2017)
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Humboldt (1769-1859), Carl Ritter (1779-1859) e Friedrich Ratzel (1844-1904), e a escola
francesa de Geografia, que teve como principal expoente Paul Vidal de La Blache (1845-
1918).
As escolas alemã e francesa de Geografia pautaram-se no princípio baconiano de
conhecimento da natureza e no seu domínio pelo ser humano, predominando uma definição
de Natureza e Meio Ambiente ainda bastante naturalista e utilitarista, que ainda se sobressai
nos dias atuais (BISPO, 2012).
O surgimento da Geografia Quantitativa (ou Teorética), caracterizada pela vinculação
à filosofia neopositivista, pela adoção do raciocínio hipotético-dedutivo, pelo embasamento
em leis e teorias emprestadas das ciências naturais e por uma renovação em termos de
linguagem (matemática), trouxe certo vigor a Geografia Física, nos quesitos planejamento e
organização do espaço, bem como na exploração de recursos naturais. Essa renovação no
processo de investigação e análise da Geografia se deu através do uso de técnicas estatísticas,
da análise fatorial, dos modelos preditivos e diagramas, entre outros (ANDRADE, 2004;
MENDES, 2010 apud GAMA, MELO, MORAIS, 2015).
Dessa forma, observamos que, "[...] Este paradigma procura leis ou regularidades
empíricas sob a forma de padrões espaciais" (SOUZA, MARIANO, 2008, p.83), notando-se a
consideração da natureza como recurso, o que, por sua vez, influiu no uso da Teoria Geral dos
Sistemas, com a relação ao organismo-meio (GAMA, MELO, MORAIS, 2015). Na Geografia
Física, temos a proposição de Viktor Sotchava com o ―geossistema‖ como abordagem
metodológica marcante. Utilizando-se de análise integrada, ou seja, uma conexão natureza-
sociedade, tem-se que ―Os Geossistemas são fenômenos naturais, porém seu estudo engloba
os fatores econômicos e sociais das paisagens modificadas pelo homem‖ (SOUZA,
MARIANO, 2008, p.87).
Nas décadas de 1970 e 1980, a corrente de pensamento geográfico com abordagem
crítica deixa de ver o homem com um ser passivo em relação à natureza e entende-o ―como
principal atuante sobre o meio, produzindo seu espaço‖ (SOUZA, MARIANO, 2008, p.83).
Assim, o materialismo histórico e a dialética, enquanto método, passam a ser incorporados
pelos geógrafos desta corrente.
Conforme destaca Casseti (1991) apud Bispo (2012), a concepção de Natureza para a
corrente crítica do pensamento geográfico diferencia-se em dois momentos. No primeiro, a
natureza é incorporada ao homem e este a utiliza como valor de uso, ao passo que no segundo
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momento a natureza é caracterizada pelo valor de troca. Desse modo, Karl Marx concebe a
natureza como produto social, em que a relação homem-meio é mediada pelo trabalho.
Conforme apresentam Moraes e Costa (1984, p.54), Engels ―[...] foi o único autor
clássico do marxismo a tentar desenvolver uma reflexão sistemática no domínio das ciências
naturais.‖ Esse autor escreveu a obra intitulada Dialética da Natureza, porém foram tecidas
críticas severas a mesma, como concessões ao positivismo e darwinismo. Dessa forma, ―A
natureza apresenta formas de causalidade distintas dos processos sociais. A dialética deve ser
concebida, então, como o modo específico de captar o movimento do ser social‖ (MORAES;
COSTA, 1984, p.55).
Na Geografia Humanista, temos que o indivíduo vincula-se ao lugar, ao ambiente em
que vive. Tuan (1980) expõe que as pessoas podem desenvolver uma capacidade excepcional
de adaptação frente um meio ambiente hostil.
No Ártico, por exemplo, há épocas em que nenhum horizonte separa o céu
da terra, quando a cena é visualmente indiferenciada. No entanto, o esquimó
é capaz de viajar cento e cinquenta quilômetros, ou mais, através dessas
terras desoladas(TUAN, 1980, p. 89).
Tuan (1980) destaca ainda a integração entre o meio ambiente e a visão de mundo dos
povos: ―Como meio de vida, a visão do mundo reflete os ritmos e as limitações do meio
ambiente natural‖ (TUAN, 1980, p. 91).
No final do século XX entram em discussão metodologias que tentam reaproximar a
Geografia e a Ecologia, como a Ecogeografia, apresentada por Jean Tricart e Jean Killian,
cujo objetivo é estudar como o homem se integra aos ecossistemas, ou melhor,
[...] como esta integração é diversificada em função do espaço terrestre,
envolvendo dois aspectos principais: a dependência natural dos homens ao
ecossistema e as modificações voluntárias ou não que o homem provoca nos
ecossistemas (SOUZA, MARIANO, 2008, p.87).
Na atualidade, ganha espaço na Geografia uma abordagem socioambiental, em que
prevalece a visão holística dos fenômenos, apoiando-se, segundo Bispo (2012), no princípio
da ética e na concepção de sociedade enquanto sujeito, ou seja, não apenas como agente, mas
tendo sua dimensão social incorporada aos problemas ambientais.
Nos estudos sobre as cidades sustentáveis ou o desenvolvimento urbano sustentável
destacam-se trabalhos de autores que não necessariamente adotam uma abordagem geográfica
para explicação dos fenômenos socioambientais. Exemplos são os trabalhos de
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Haughton&Hunter (2004)4, Acselrad (1999) e Jacobi (1997)5. Já em relação a pesquisas sobre
qualidade de vida em ambientes urbanos e planejamento urbano, com uma visão geográfica
do fenômeno, sobretudo por um viés crítico, é notável a contribuição de geógrafos, por
exemplo os trabalhos de Silva, De Souza & Leal (2012) e Souza (2001)6.
Já autores da Geografia Agrária nacional tem pensado a questão do desenvolvimento
rural sustentável também por um viés crítico e de desconstrução. Montenegro Gómez (2012) é
radical ao evocar o conceito de decolonialidade para exaltar povos e comunidades tradicionais
na América Latina que realmente praticam uma racionalidade e relação com a natureza que se
sustentam ao longo de sua existência. Júnior (2010) denuncia as condições nada sustentáveis
de trabalho que se submetem um número cada vez maior de trabalhadores do chamado
complexo do agrohidronegócio que, em nome da sustentabilidade da atividade primária
nacional, promovem grandes obras estruturais para escoamento da produção e acumulação de
capital.
Considerações Finais
Pode-se observar que as questões e os conceitos relativos a Natureza, Meio Ambiente
e Sustentabilidade estão dentro de um contexto multidisciplinar. Ao longo da trajetória
histórica, diferentes métodos de interpretação foram utilizados nos estudos científicos, o que
igualmente influenciou a Geografia.
As relações Sociedade x Natureza e Homem x Ambiente foram tratadas ao longo da
história sob diversas abordagens e campos de estudo, inclusive na Geografia, a qual teve, e
continua tendo, contribuições essenciais para o debate sobre a natureza. Conforme
demonstrou Bertrand e Bertrand (2007), a natureza é primeiramente espaço dentro da
concepção geográfica, espaço este cada vez menos natural e cada vez mais antropizado.
Por fim, importa ressaltar que determinados conceitos, como Natureza, Meio
Ambiente e Sustentabilidade, são utilizados conforme a visão de mundo de quem os emprega
e atendem a objetivos específicos, dotados de intencionalidade, o que obriga o pesquisador a
observar cuidadosamente o discurso construído, o método adotado e os verdadeiros interesses.
4
HAUGHTON, Graham; HUNTER, Colin. Sustainable Cities. Routledge, 2003. 368p.
5
JACOBI, Pedro. Meio ambiente urbano e sustentabilidade: alguns elementos para a reflexão. In:
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6
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